artigo curso de atualização psicanálise, direito e literatura
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7/24/2019 Artigo Curso de Atualizao Psicanlise, Direito e Literatura
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Nas correntezas da escrita:
divagaes ao redor da letra
Buscar atingir uma linguagem sem impostura, um mundo semmetforas onde as coisas so o que so e a palavra no mais que a
pele, a delicada pelcula que as recore: !ode a linguagem sair de si
mesma"#$
% processo da escrita pode ser escavado ao sofrer uma gradao ao
ponto potico da palavra, ao ponto de letra e aoseu provvelencol&imento m'imo, ponto de p( )alvez se*a nesse
esmiuamentoda narrativa que se torne vivel encontrar mais indcios
sore o transcurso da escrita( +o investigarmos a criao do texto
devemos antes nos ater as palavras que compe esse ato( riar
sugere algo de tom divino, convidar alguma coisa a e'istir( - te'to
nos sumete ao concreto, o material( .tilizando essas duas palavras
para designar a tarefa da escrita, criamos uma atmosfera entre osagrado e o profano, dicotomia nascida na cultura ocidental moderna,
que propicia uma vasta e oposta rea de atuao(
/estrinc&ando agora a palavra letra# podemos principiar pela sua
origem, do latim Littera,que se refere tanto a letra como a carta,
signi0cado que permaneceu em alguns idiomas, e que * nos diz
astante sore uma plausvel e'presso presente no g1nero carta e
que se e'pande para a letra( 2egundo o +urlio a carta umescrito fec&ado em envelopeque se dirige a algum(#3, o que nos
remeteao carter asorto da escrita e sore o su*eito da enunciao,
quem escreve, que imerso no discurso do %utro(
4ste reducionismo entrava5se numa via em que letra e palavra seriam
antag6nicas: a letra seria o m'imo de signi0cado e palavra seria o
diminuto do signi0cado, signi0car7 reduz novos son&os7 para as
palavras#8( 4ncontrar5se5ia na letra, talvez, a maior insero do
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su*eito no sim9lico( + letra como um ponto mnimo da escrita( + letra
como o m'imo de signi0cado( 4sta construo de corporeidade em
volta da letra talvez possiilite tril&ar uma materializao do su*eito
fronte a escrita( o &omem no se trans0gura seno pelas palavras#
disse o &omem que tentou c&egar ao caroo da palavra# em
diversos escritos em torno do rduo traal&o de escrever( + letra
como o concreto da palavra, pronunciar os nomes7 era toc5las(#;
+ literatura muitas vezes descrita como produto de um desconforto
perante o mundo, todos estvamos arigados pela palavra#do sim9lico da linguagem( + literatura empreende suprir a
falta por um sistema que funciona em falta, em falso: esse sistema
a linguagem(#? .ma ine'ist1ncia em n9s na tentativa de ser
transposta para o papel pode ser ostruda pela linguagem, mas no
pela letra( + escrita foi, em sua origem, a voz de uma pessoa
ausente(#@(
.ma das maiores evid1ncias dessa contrao da letra pode ser em
*ogos com a palavra, em sua maioria realizados por crianas, que
privilegiam o Ano5sentido das palavras( 2e a palavra perde sua
ess1ncia, a letra pode guard5la( + gente gostava das palavras
quando elas perturavam o sentido normal das ideias(# CD/esvariar a
palavra, permitir com que ela incorpore delrio( Eepetir e repetir F at
0car diferente#CCrepetir at que a palavra se desprenda de si( 4m
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duas &oras escrevo uma palavra: Garina( /epois, aproveitando letras
deste nome, arran*o coisas asurdas: ar, mar, rima, arma, ira, amar(
.ns vinte nomes( Huando no consigo formar cominaes novas,
trao raiscos que representam uma espada, uma lira, uma caea
de mul&er e outros disparates( !enso em indivduos e em o*etos que
no t1m relao com os desen&os I(((J#CK+ quera de Garina, a mul&er
amada, em vrias outras palavras, a formao de traos quando no
se possvel formar novas palavras e a dissociao dos desen&os
podem ser vestgios de um incio de uma escavao em usca do
desnude da palavra( /esenlear a palavra nos propicia encontrar uma
signi0cao no presente nela por inteiro, que s9 est disponvel no
seu despedaamento, um ponto de aLu1ncia da su*etividade do
escritor( )oda essa procura pela nudez da palavra parte porque a
escrita geralmente no literal, escreve5se na superfcie( #a escrita ,
no real, o ravinamento do signi0cado#( CM
No caso da psicose a palavra a coisa, no & simolizao( /a
e'trai que o investimento das representaes de palavra retido na
psicose, * que ele no faz parte da operao de re*eio( 4lerepresenta na verdade, a primeira das tentativas de
restaelecimento, dirigidas recuperao do o*eto perdido( 4, pode
ser que, para alcanar esse prop9sito enveredem por um camin&o
que conduz ao o*eto atravs de sua parte veral, contentando5se
com as palavras em vez de coisas(# C( 4'iste signi0cao completa
na palavra logo no & necessidade de decomposio para encontrar
resqucios do su*eito na sua escrita( !or isso & um grande interesseno interl>dio entre a psicose e a palavra, pela sutileza, facilidade e
literalidade com elas surgem no papel de um psic9tico( + palavra
literal e palpvel, !ara ser um &omem direito, ele precisa cursar
direito#C;( Hui encontremos na escrita do psic9tico encalos que
conduzam o camin&o a ser tril&ado na pesquisa da letra e dos efeitos
da escrita no su*eito( 4 se nos enveredarmos na &ip9tese da literatura
como ordem do enigmtico, todo esse no5sentido seria aertamenteemasado pela psicose(
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4screver o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra
pescando o que no palavra( .ma vez que se pescou a entrelin&a,
podia5se com alvio *ogar a palavra fora(#Ccia( !alavra em ponto de p, pgina M;(
3 /icionrio +urlio online(
8 Barros, Ganoel( + turma in !oesia ompleta, pgina M(
Barros, Ganoel(;/rummond, arlos( )erras in Pio das oisas, pgina C=(
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CDBarros, Ganoel( Genino do mato in !oesia ompleta, pgina C?(
CCBarros, Ganoel( % livro das ignoras in !oesia ompleta, pgina
K=stia, pgina ?(
CMPacan, -acques( Pituraterra in %utros 4scritos , pgina KK(
CG((Ruerra, +ndra( + psicose, 4ditora Sa&ar KDCD, pginaC(
C;G(( Ruerra, +ndra( + !sicose, 4ditora Sa&ar KDCD, pgina C(
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