artigo etica oberis

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 ANÁLISE BIOÉTICA DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA APLICÁVEL AO USO DE ANIMAIS EM EXPERIMENTOS CIENTÍFICOS. Resumo Com a crescente descobertas nas áreas cientificas surge a necessidade cada mais maior da utilização de animais como cobaias para a realização de experimentos científicos. O objetivo do presente artigo é fazer uma análise da legislação em relação ao uso de animais em experimentos científicos. A experimentação animal, que implica um sofrimento físico, é incompatível com os direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer outra. O projeto foi desenvolvido a partir de análise da legislação brasileira no que diz respeito ao uso de animais em experimentos científicos, e confrontando com a opinião de alguns pesquisadores. Foi possível perceber que em relação ao não uso de animais para experimentos científicos a legislação não deixa isso claro, no entanto defende que a crueldade com animais é considerada crime e não deve ser praticada. Palavra-chave: ética, legislação, sofrimento, crueldade. Abstract With the increasing discoveries in scientific areas arises increasingly greater need for using animals as guinea pigs for conducting scientific experiments. The purpose of this article is to review the legislation regarding the use of animals in scientific experiments. Animal experimentation, which involves physical pain, are incompatible with animal rights, whether a medical experiment, scientific, commercial or otherwise. The project was developed from analysis of Brazilian law with respect to the use of animals in scientific experiments, and confronting with the opinion of some researchers. It could be observed that for the non-use of animals for scientific experiments legislation leaves it clear, however argues that cruelty to animals is a crime and should not be practiced. Key-word: ethics, law, suffering, cruelty. Oberis dos Santos NASCIMENTO i ; João Batista FARIAS ii . i  Graduando do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental; ii  Prof. Msc. Instituto Federal do Piauí, Campus Corrente 

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  • ANLISE BIOTICA DA LEGISLAO BRASILEIRA APLICVEL AO USO DE ANIMAIS EM EXPERIMENTOS CIENTFICOS.

    Resumo

    Com a crescente descobertas nas reas cientificas surge a necessidade cada mais maior da utilizao de animais como cobaias para a realizao de experimentos cientficos. O objetivo do presente artigo fazer uma anlise da legislao em relao ao uso de animais em experimentos cientficos. A experimentao animal, que implica um sofrimento fsico, incompatvel com os direitos do animal, quer seja uma experincia mdica, cientfica, comercial ou qualquer outra. O projeto foi desenvolvido a partir de anlise da legislao brasileira no que diz respeito ao uso de animais em experimentos cientficos, e confrontando com a opinio de alguns pesquisadores. Foi possvel perceber que em relao ao no uso de animais para experimentos cientficos a legislao no deixa isso claro, no entanto defende que a crueldade com animais considerada crime e no deve ser praticada.

    Palavra-chave: tica, legislao, sofrimento, crueldade.

    Abstract

    With the increasing discoveries in scientific areas arises increasingly greater need for using animals as guinea pigs for conducting scientific experiments. The purpose of this article is to review the legislation regarding the use of animals in scientific experiments. Animal experimentation, which involves physical pain, are incompatible with animal rights, whether a medical experiment, scientific, commercial or otherwise. The project was developed from analysis of Brazilian law with respect to the use of animals in scientific experiments, and confronting with the opinion of some researchers. It could be observed that for the non-use of animals for scientific experiments legislation leaves it clear, however argues that cruelty to animals is a crime and should not be practiced.

    Key-word: ethics, law, suffering, cruelty.

    Oberis dos Santos NASCIMENTOi; Joo Batista FARIASii.

    i Graduando do Curso de Tecnologia em Gesto Ambiental; ii Prof. Msc. Instituto Federal do Piau,

    Campus Corrente

  • 1. INTRODUO

    Os animais sempre foram utilizados pela Medicina como nico meio capaz de conhecer o ser humano, e a maneira de combater as doenas. No entanto mesmo com a evoluo cientifica e tecnolgica os animais ainda so utilizados como cobaias em laboratrios.

    Devido o interesse entre as formas de relao do ser humano com os animas, surge a necessidade de investigao mais profunda, na qual mesmo essa relao ser de cunho investigativo relevante, ainda algo no muito novo entre as Cincias Sociais. As grandes manifestaes humanitrias tm mobilizados indivduos, grupos e organizaes, voltadas para a defesa dos animas, na qual hoje engloba vrios setores da sociedade brasileira1. Segundo RezendeI, et al, (2008), a utilizao de animais em pesquisa alvo de debates duros entre cientistas que conduzem experimentos com animais e grupos de ativistas de proteo aos direitos dos animais.

    Mesmo que os benefcios com a utilizao de animais em experimentos cientficos seja evidente necessrio definir medidas para que os mesmos no sejam tratados de forma to brutal, como se nem ao menos pudesse sentir dor.

    A experimentao animal, que implica em sofrimento fsico, incompativel com os direitos do animal, que seja uma experincia mdica, cientfica, comercial ou qualquer outra. As tcnicas substitutivas, devem ser utilizadas e desenvolvidas (STEFANELLI, 2011, p.190).

    A discusso tica que envolve a utilizao de animais em experimentos cientficos a cada ano vem crescendo, a populao passou a ver os animais no humanos como sendo ser dotado de sentimento, logo capaz de sentir dor2.

    A experimentao animal tem sido utilizada em duas vertentes bsicas, em que uma delas servem como uma forma de conhecimento dos animais e aplicao desse em sua prpria sade e bem-estar e, a outra forma sendo a mais frequente, a utilizao de animais como modelos e posterior aplicao dos conhecimentos gerados para a espcie humana. Esse ltimo tipo de pesquisa o principal foco de crticas, tanto em seus aspectos morais quanto cientficos, (AZEVDO, 2008).

    Para Guimares (2006), o ser humano antropocntrico e atribui maior valor a vida humana do que a vida de animais, no estando disposto a abrir mos de

    1 Cf. CAMPHORA, 2012. 2 Cf. AZEVDO, 2008.

  • utilizar animal para uso cientifico, uma vez que a vida do ser humano que ser beneficiada, e a cincia ainda no dispe de avano cientfico economicamente vivel para utilizar outros meios.

    Singer (1993), faz uma relao ao tratamento destinado aos animais em todos os seus aspectos, e questiona como seria possvel que algum destinasse seu tempo defesa da igualdade dos animais quando a verdadeira igualdade ainda negada a tantos seres humanos? A dor e o sofrimento so coisas ms e, independente da raa, do sexo ou da espcie de quem as sofre, devem ser evitadas ou mitigadas.

    A maioria das vezes os experimentos realizados em animais no humanos os resultados obtidos so insignificantes, pois no traz nenhum benefcio prtico que justifique a crueldade cometida. Para poder submeter animais em experimentos cientficos deve classificar a relevncia dos resultados que pode vim a obter, e no somente repetir os mesmos experimentos que j tem conhecimento dos resultados3. Contudo o trabalho objetivou em fazer uma anlise da legislao brasileira em relao ao uso de animais para fins cientficos.

    Legislao Brasileira sobre o uso de animais em laboratrio

    Ao fazer um levantamento das leis que defende o direito dos animas foi possvel encontrar um Decreto-Lei n 24.645, de 10 de julho de 1934, sendo a primeira a tratar do assunto, porm nunca foi regulamentada. O decreto em questo no seu Art. 2 expressa que aquele que, em lugar pblico ou privado, aplicar maus tratos aos animais, incorrer em priso e multa, quer o delinquentes seja ou no o respectivo proprietrio, sem prejuzo da ao civil que possa caber.

    Para Singer (1993), a exposio de animais a atos de crueldade extremos, sob a desculpa de que esto sendo realizadas experincias que seriam teis para os humanos, considerado ato de crueldade. Assim, tal prtica no deveria ser mais aplicada, uma vez que existem alternativas para a realizao desses estudos sem a necessidade de dispor, muitas vezes, da vida de animais no-humanos.

    3 Cf. SINGER, 1993.

  • Cabe ressaltar que foram obtidos muitos avanos no conhecimento com o uso de animais no-humanos em experimentos, tendo as pesquisas cientficas contribudo de forma significativa nas conquistas destinadas ao bem-estar da humanidade. Todavia, para que o uso de cobaias animais para fins cientficos seja moralmente aceitvel, essencial que o animal seja visto como um ser vivo, com hbitos, instintos e memria prprias e independentes, inclusive com aguada suscetibilidade angstia e dor4.

    A Constituio Federal de 1988 em seu artigo 225, distribuir a responsabilidade em relao preservao da biodiversidade, onde diz que no s o poder pblico como toda a coletividade dever zelar e cuidar dos animais, e em seu inciso VII pargrafo 1 probe a submisso de animais a atos de crueldade.

    Regulamentando o citado artigo 225 da Constituio Federal 1988, sancionou-se em 1998 a Lei n 9.605, a Lei de Crimes Ambientais. Prevendo, sanes penais e administrativas em resposta s violaes ao meio ambiente. Assim, os maus tratos praticados contra a fauna, que anteriormente eram considerados contraveno penal, passaram a ser considerados como crimes ambientais, nos seguintes termos:

    Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domsticos ou domesticados, nativos ou exticos.

    Podem-se encontrar na literatura mdica, pelo curso da histria, exemplos terrveis do que j ocorreu e do que ainda ocorre, pelo mundo, no campo da experimentao animal. Cenas chocantes de animais mutilados, escalpelados, destroados, queimados, perfurados, costurados, inchados, drogados, ligados a eletrodos, submetidos a testes toxicolgicos e psicolgicos, dentre outras tantas registradas em dolorosas descries doutrinrias e em imagens fotogrficas. (...) Os animais, acabam sendo mortos aps uma considervel inflio de medo, dor e sofrimento (LEVAI, 2004, p. 04).

    A utilizao de animais em pesquisas cientficas deve ocorrer somente aps ser provada a sua relevncia para o avano do conhecimento cientfico, considerando-se a impossibilidade de utilizao de mtodos alternativos (BRASIL, 1997).

    A RESOLUO NORMATIVA N 3, DE 14 DE DEZEMBRO DE 2011 no seu Art. 3 diz que as instituies que queiram realizar atividades e projetos que envolvam a criao, a manuteno e a utilizao de animais exceto humanos que englobam, no mbito experimental, para uso com finalidade de ensino ou pesquisa

    4 Cf. GOLDMIN, 2009.

  • cientfica, devero requerer o CIAEP junto ao CONCEA, por meio do Cadastro de Instituies de Uso Cientfico de Animais - CIUCA.

    Devido semelhana biolgica entre os animais e os seres humanos, a utilizao destes para fins cientficos poder vim a contribuir com a descoberta de vrias curas para diversas doenas, o que justifica a sua utilizao como cobaias para obter resultados benficos na qual pode contribuir com os seres humanos (AZEVDO, 2008).

    A lei 6905 de 1998 dispe sobre os crimes cometidos conta o meio ambiente, e em seu artigo 32, pargrafo 1 diz que a realizao de experincia dolorosa ou a prtica de atos cruel, proibida, sendo o infrator podendo ser penalizado. Porm a mesma lei diz que permitido submeter animais a tamanha crueldade somente quando no existir nenhum mtodo alternativo.

    CONSIDERAES FINAIS

    A questo da tica na experimentao animal continua sendo um tema discutido no meio didtico-cientfico. A legislao hoje j aponta os meios legais ao qual possvel utilizar animais em experimentos cientficos. O Cdigo Brasileiro de Experimentao Animal COBEA, por meio dos princpios ticos norteia a conduta dos professores e pesquisadores na prtica do uso de animais em experimentos.

    A sociedade como todo deve ser mais informada sobre as prticas de crueldade com os animais, pois tudo somente acontece dentro dos laboratrios, ficado obscuro para a sociedade em geral. Com a participao de todos seria mais fcil lutar contra os atos to cruis praticado contra animais to indefesos, dessa forma poderia discutir eticamente a melhor maneira que no retardasse os avanos cientficos e no praticasse tantos atos cruis contra os animais.

    O progresso cientfico ainda pode demorar at que possa substituir totalmente os experimentos em animais, por mtodos alternativos, porm no dever desconsiderar os direitos dos animais, que aparentemente so indefesos, no entanto so capazes de sentir dor.

    Sem dvida, a educao nesse campo o que se pode esperar de mais adequado para a adoo de princpios ticos, podendo contribuir com a reduo do sofrimento dos animais, e as diversas formas de crueldades que ainda so prticas contra esses seres inocentes.

  • REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    AZEVDO. Danielle Maria Machado R. Experimentao animal: aspectos bioticos e normativos. Embrapa Meio Norte, 2008. BRASIL, Resoluo Normativa Abril de 1997. Estabelecer normas para a utilizao de animais em projetos de pesquisa. Disponvel em: Acessado em: 23 de out. de 2014. BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil 1988. So Paulo: Saraiva, 2013. BRASIL. DECRETO N. 24.645 DE 10 DE JULHO DE 1934. Estabelece medidas de proteo aos animais. Disponvel em: http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=39567 BRASIL. LEI N 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998. Dispe sobre as sanes penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e d outras providncias. Disponvel em: . Acessado em: 10 de nov. 2014. CAMPHORA. Ana Lucia. O Desempenho Das Mdias Na Consolidao Das Bases Socioambientais Orientadas Para O Direito Animal No Brasil. VI Encontro Nacional da Anppas. Setembro de 2012, Belm - PA Brasil. GOLDIM, J. R. Biotica complexa: uma abordagem abrangente para o processo de tomada de deciso. ln: Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 53 (1): 58-63, jan.-mar. 2009 LEVAI, Laerte Fernando. Direito dos Animais. Campos de Jordo: Matiqueira, 2004. 160p. RESOLUO NORMATIVA N 3, DE 14 DE DEZEMBRO DE 2011. Institui o Credenciamento Institucional para Atividades com Animais em Ensino ou Pesquisa CIAEP. REZENDE, Anglica Heringer de; PELUZIO, Maria do Carmo Gouveia; SABARENSE, Cphora Maria. Experimentao animal: tica e legislao Brasileira. Rev. Nutr. vol.21 no. 2 Campinas Mar./Apr. 2008. SINGER, Peter. Igualdade para os Animais? In: tica Prtica. So Paulo: Martins Fontes, 1993. STEFANELLI, Lcia Cristiane Juliato. Experimentao Animal: Consideraes ticas, cientficas e jurdicas. Ensaios e Cincia: ln: Cincias Biolgicas, Agrrias e da Sade. Vol. 15, n. 1, ano 2011. p. 187-206.