artigo eudes aee correção final 2015 o
DESCRIPTION
Breve trajetória da educação inclusiva em MaracanaúTRANSCRIPT
A TRAGETÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PESPRCTIVA INCLUSIVA:
CADEE /AEE EM MARACANAÚ.
Maria Eudes Zeferino de [email protected]
Resumo
A história da Educação Especial no Brasil e no mundo foi impulsionada
por uma série de fatores que, cada vez mais, evidenciam que a inclusão é um dos
caminhos para garantir a igualdade da educação para todos. No município de
Maracanaú não foi diferente. A inclusão dos estudantes com deficiência na rede de
ensino passou por um processo de adaptação e muitos desafios. Os vieses empregados
nesta exposição para a discussão do referido tema são baseados em documentos legais,
que explicitam compromisso político do governo brasileiro com a educação da pessoa
com deficiência, tais como a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação inclusiva (2008), e as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
Educação Básica e teóricos como: Mazzotta (2005), Porto (2009) Figueiredo (2010) e
Oliveira (2010) . Este artigo tem como objetivo relatar a trajetória da Educação Especial
na Perspectiva inclusiva nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRM), no Atendimento
Educacional Especializado (AEE) e na rede de ensino do Município de Maracanaú, e
descrever algumas considerações sobre à prática docente. Foi realizado uma pesquisa de
campo, em conversa informal com 15 (quinze) professores que eram do Centro de
Apoio e Desenvolvimento em Educação Especial – CADEE, para obter informações da
trajetória do ensino da pessoa com deficiência da escola especializada para a escola
regular.
Palavras-chave: Educação Especial, inclusão, Atendimento Educacional Especializado
INTRODUÇÃO
A Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(BRASIL,2008) assegura o direito de toda criança frequentar a escola comum,
esclarecendo ações que são de competência do ensino. A luta de pessoas com
deficiência, vem ganhando espaço na sociedade, com a proposta de romper com os
tradicionais paradigmas segregativos e a adoção de procedimentos que contribuam para
garantir a essas pessoas as condições necessárias a sua participação como sujeitos
sociais.
O artigo relata a história e as conquistas da educação especial no atendimento
educacional a pessoa com deficiência, explicitando a trajetória da inclusão na rede
publica de Maracanaú, da primeira escola com atendimento isolado ao processo e
implantação e atuação das Salas de Recurso Multifuncionais com o serviço do
Atendimento Educacional Especializado.
Após longo período de isolamento, a educação especial vem tomando novos
rumos, permitindo que as pessoas com alguma deficiência deixem a posição de
segregados e passem a ser integrantes da sociedade. Quebrando as barreras
principalmente as atitudinais, teve início com a Declaração de Salamanca (1994),
documento norteador das ações em prol da inclusão social, que passou a influenciar a
formulação das políticas públicas da educação inclusiva. Conforme este documento,
[...] todas as escolas devem acolher a todas as crianças, independen-temente de suas condições pessoais, culturais ou sociais; crianças de-ficientes e superdotadas/altas habilidades, crianças de rua, minorias étnicas, linguísticas ou culturais, de zonas desfavorecidas ou margi-nalizadas. ( BRASIL,1994)
Com a publicação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (2008), cujo preceito é de que todas as crianças e adolescentes
devem ser matriculados no ensino comum, independentemente de suas necessidades
educacionais específicas, intensificou-se o movimento de inclusão, que, por sua vez, é
responsável pela escolarização de todos os estudantes indistintamente.
Desta forma, os municípios brasileiros começaram a entender que o direito de
inclusão é obrigatório. Na Secretaria de Educação de Maracanaú já existia deste de
1990, uma escola especializada para atender as crianças, jovens com necessidades
especificas, o Centro de Assistência ao Deficiente (CAD), que, mais tarde, a fim de
adequar-se à demanda educacional do município, passou a ser o Centro de
Desenvolvimento Educação Especial (CADEE). Em 2010 o CADEE foi restruturado
para atender o que é preconizado no Plano Nacional de Educação Especial (PNEE) na
perspectiva da educação inclusiva e o prédio passou a denomina-se Centro Integrado
de Educação e Saúde e Assistência Social de Maracanaú – CIES. Sua infraestrutura
física realiza o atendimento escolar e o outro terapêutico.
O objetivo primordial deste trabalho, em consonância com o que foi
exposto, é relatar a trajetória da Educação Especial na Perspectiva inclusiva nas Salas
de Recursos Multifuncionais (SRM), no Atendimento Educacional Especializado (AEE)
e na rede de ensino do Município de Maracanaú, e descrever algumas considerações
sobre à prática docente.
Para isso, foram utilizados documentos legais, como a Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação inclusiva (2008) e relatados da política
de Educação Especial do município de Maracanaú. Recorreu-se ha autores, Figueiredo,
Mazzotta, Oliveira e Porto, que desenvolveram estudos na área sentindo, mais próximo
da realidade educacional da pessoa com deficiência no Brasil.
Utilizou-se ainda relatos de professores que trabalharam na antiga instituição
educacional CADEE e que hoje desenvolvem suas atividades em Educação Especial na
Sala de Recurso Multifuncional (SRM) através do AEE.
Além desta introdução o artigo está dividido em 4 seções. A primeira traz uma
Fundamentação legal sobre o assunto discutido. Em seguida apresenta-se a trajetória da
educação especial em Maracanaú focando o trabalho desenvolvido por uma antiga
escola especializada para o atendimento a pessoa com deficiência até a inclusão dessas
pessoas no ensino regula. Posteriormente, aborda-se sobre o funcionamento das Salas
de Recursos Multifuncionais, oferecido pelo AEE. E por fim apresenta-se as
considerações finais.
FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
Para explanar melhor este estudo, faz-se necessário discorrer um pouco sobre as
Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação
Básica, modalidade Educação Especial, instituída pela Resolução nº4, de 2 outubro de
2009 e seu percurso.
A educação das pessoas com deficiência teve seu início, no Brasil, no ano 1850.
Segue-se a partir daí a história e política que delineia a Educação Especial em nosso
país, tendo seus precedentes pautados em caráter assistencialista e terapêutico, que
segregava as pessoas com deficiência em instituições especializadas, desvalorizando os
aspectos educacionais.
A fundação do Imperial Instituto deveu-se em grande parte, a um cego brasileiro, José Álvares de Azevedo, que estudara no Instituto dos Jovens Cegos de Paris, fundado por Valentin Haüy no século XVIII. [...]Sob a influência de Couto Ferraz, D. Pedro criou tal Instituto que foi inaugurado dia 17 de setembro de 1854, cinco dias após a sua criação. (MAZZOTTA, 2005, p. 28).
A educação especial se organizou tradicionalmente com o atendimento
educacional especializado em substituição ao ensino comum, o que se configurou pela
criação de instituições especializadas, escolas especiais e classes especiais.
Conforme relata este autor
“[...] até a década de 1950 do século XX, as iniciativas voltadas ao
atendimento de deficientes eram isoladas, refletindo o interesse de
alguns educadores pelo atendimento educacional de pessoas com
deficiência.”( Mazzotta, 2005, p 30)
A Constituição Federal de 1988 define a educação como um direito de todos,
no art. 205 garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a
qualificação para o trabalho.
No art. 206 estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na
escola” como um dos princípios para o ensino e garante, no art. 208, inciso III como
dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, ás pessoas com
deficiência preferencialmente na rede regular de ensino.
Porto e Oliveira, (2010 p 09): “Ao garantir a todos o direito à educação e ao
acesso à escola, a Constituição Federal deixa claro que desenvolvimento e
aprendizagem são específicos de cada pessoa e que todos têm direitos iguais perante a
lei”. Até hoje é possível constatar debates calorosos nas escolas sobre alguns desses
temas: igualdade versus desigualdade; as pessoas são diferentes quando? Como tratar
igualmente as pessoas com deficiência?
O que deu significado ao avanço da educação, preferencialmente dentro do
sistema de ensino em referência às pessoas “excepcionais” no Brasil, foi a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 4.024/61. Uma década depois, a
LDB nº 5.692/71 foi promulgada e alterou a LDBEN, ao definir “tratamento especial”,
reforçando o encaminhamento dos estudantes para as classes e escolas especiais.
Em 1973, o MEC criou o Centro Nacional de Educação Especial – CENESP e
impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência e às pessoas com
superdotação.
Outros dois documentos alavancaram o atendimento em Educação Especial na
perspectiva inclusiva, a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a
Declaração de Salamanca (1994), que passaram a influenciar a formulação das políticas
públicas na área da educação inclusiva.
Percebe-se assim um novo olhar para a pessoa com deficiência, com discussões
mais voltadas para a inclusão, assim pensam as autoras Silveira e Figueiredo:
O discurso da Educação Inclusiva teve início no Brasil na década de 1980. Entretanto, somente nos anos 90 foi amplamente discutido nos diversos espaços em que são travados debates relativos à educação. Nessa ocasião lançou-se como proposta “[...] a modificação da sociedade para torná-la capaz de acolher a todas as pessoas” ( FIGUEREDO & SILVEIRA 2010.p 29 .Apud LIMA, 2006.)
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, no art.
59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos,
recursos e organização específicos para atender às suas necessidades.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, trata a
educação especial como modalidade de ensino, que atende às necessidades e
expectativas da sociedade em transformação, através da implementação de políticas
educacionais inclusivas, e pela promoção do desenvolvimento das potencialidades
dos estudantes com deficiência em todas as etapas e níveis da educação básica.
Destacamos aqui a Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no art. 2º, determinando que:
“os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo
às escolas organizarem-se para o atendimento aos educandos com
necessidades educacionais especiais, assegurando as condições
necessárias para uma educação de qualidade para todos”.
(MEC/SEESP, 2001)
O Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001, destaca que “o
grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma
escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana”. Ao estabelecer
objetivos e metas para que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento às
necessidades educacionais especificas dos educandos, observa-se um déficit referente
à oferta de matrículas para educandos com deficiência nas classes comuns do ensino
regular, bem como quanto à formação docente, à acessibilidade física das escolas e ao
atendimento educacional especializado.
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação– FUNDEB, de acordo com o Decreto Nº. 6.571 (2008),
foi incorporado no Decreto nº 7.611/2011, destina recursos para o AEE dos alunos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades / superdotação,
matriculados na rede pública de ensino regular. Reconhece como matrícula dupla desses
educando em classes comuns de ensino regular e no AEE, conforme é registrado no
Censo Escolar.
Vale ressaltar que a construção de uma escola inclusiva seria um grande
avanço da educação (PNE, Lei nº 10.172/ 2001). Uma escola que garanta o
atendimento à diversidade humana, estabelecendo objetivos e metas para que os
sistemas de ensino proporcionem o atendimento específico aos alunos com
deficiência, através da oferta de matrículas nas classes comuns do ensino regular, de
formação para os professores que atuam com este público da acessibilidade aos
espaços escolar garanta ao Atendimento Educacional Especializado - AEE.
O atual PNE Lei 13.005 de 25/06/2014, esclarece os desafios para a educação brasileira
para a educação brasileira nos próximos dez anos evidência a procura por educação de qualidade,
enfatizados no inciso III, parágrafo 1º, do artigo 8º, garantindo o AEE nas salas de
recursos multifuncionais nas escolas públicas ou conveniadas aos educandos com
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
matriculados na rede pública de educação básica.
“[...]com base neste pressuposto, a meta 4 e respectivas estratégias objetivam universalizar, para as pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, na faixa etária de 04 a 17 anos, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado. O AEE é ofertado preferencialmente na rede regular de ensino, podendo ser realizado por meio de convênios com instituições especializadas, sem prejuízo do sistema educacional inclusivo.”
Impulsionando a inclusão educacional e social, o Decreto nº 5.296/04
regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios
para a promoção da acessibilidade para pessoas com deficiência ou com mobilidade
reduzida.
A Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva
(2008) estabelece como diretrizes para a construção dos sistemas educacionais
inclusivos, a garantia do direito de todos à educação, ao acesso e às condições de
permanência e continuidade de estudos no ensino regular, para pessoas com deficiência,
Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) e Altas Habilidades/Superdotação
(AH/S).
O Município de Maracanaú, já atendia os estudantes com necessidades
especificas deste 1990 em uma escola com ensino especializado. Entretanto as
discussões do processo de inclusão na rede de ensino era tema central dos técnicos da
Secretaria de Educação, bem como da comunidade escolar.
A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL: ESCOLA ESPECIALIZADA PARA A
ESCOLA COMUM.
A primeira escola educacional no município de Maracanaú que fazia o
atendimento das crianças e jovens com deficiências era Centro de Assistência ao
Deficiente (CAD), O prédio oferecia uma infraestrutura inadequada para o ensino
especializado, que era oferecido em pequenos grupos de acordo com a deficiência e o
atendimento terapêutico individualizado. Em 2004, depois de muitas lutas e atendendo a
demanda, o CAD foi transferido para um prédio de bom funcionamento quanto à
estrutura física. A instituição passou a usar uma nova nomenclatura Centro de
Desenvolvimento Educação Especial (CADEE).
Houve um momento de conversa informal com 15 professores da antiga
instituição, com o objetivo de resgatar a história da educação especial da época do
CADEE até a SRM, elas responderam que, na época, a procura na escola especializada
para “crianças especiais” era grande e as condições de trabalho eram precárias.
Neste período, só quem trabalhavam com as crianças com deficiência era os
professores do CADEE, que desenvolviam as atividades de acordo com a necessidade
da criança. Os profissionais eram graduados e alguns destes eram especialistas em uma
deficiência especifica, que realizavam esse trabalho pioneiro no atendimento
educacional deste publico.
Vale ressaltar que a valorização do ser humano, sem discriminação ou
preconceito, independentemente de sua classe social fazia parte do atendimento dos
professores, que tratavam a todos com respeito e igualdade. Alguns pais das crianças
chamavam os professores do CADEE carinhosamente de “anjos protetores”.
Com a nova política de inclusão, todos os estudantes deveriam ser matriculados
no sistema de ensino regular em sala de aula comum.
Todavia, 70% relataram não acreditar na referida inclusão, surgindo rejeição às
mudanças educacionais. Havia uma preocupação mútua de todos os envolvidos pois,
temiam o destino dos estudantes do CADEE. Como seria a adaptação deles no novo
contexto escolar?
Em relatos os pais não acreditavam na inclusão, esperavam que seus filhos
fossem ser discriminados na escola comum e muitas crianças não permitiam cortar os
laços afetivos com o Centro, uma vez que, consideravam ser uma extensão de sua casa.
Segundo os professores que participaram da pesquisa, o atendimento no CADEE
era feito em salas de aula separadas por deficiência, com um professor formado na área
específica da deficiência. Como expressa o comentário a seguir:
Participávamos dos planejamentos com os técnicos da Secretaria municipal de Educação (SME) de Maracanaú e com outros professores do ensino comum. Recebíamos o material e fazíamos as adaptações necessárias para trabalhar com os nossos alunos e muitos destes não eram aproveitados na nossa realidade. (Porfª S)
A realidade de ensino dos professores era diferente da escola regular. O
atendimento das crianças era realizado com determinado número de educando com a
mesma deficiência, uma vez que não era permitido agrupar as crianças com e sem
deficiência com as especiais no mesmo espaço físico.
Como mencionado, muitos não acreditavam na inclusão, ainda hoje encontramos
resistência do poder da igualdade para todos. Para as professoras do CADEE foi difícil
aceitar as mudanças, fizeram vários projetos, na tentativa de não “acabar” com a
instituição sem sucesso.
Com o advento da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva de
Educação Inclusiva (2008), o município acolheu uma demanda já existente da Educação
Especial no novo contexto educacional, incluindo todas as crianças com deficiência nas
escolas municipais do ensino comum.
Em concomitância com os fatos ocorridos, a Secretaria de Educação de
Maracanaú em 2005, criou o Núcleo de Educação Especial/Inclusão (NEE/I), com uma
equipe multidisciplinar com o objetivo de propor e implementar as políticas de
Educação Especial/Inclusiva no Município. No final de 2010, foi ofertado a todos os
professores do CADEE curso de preparação para o Atendimento Educacional
Especializado - AEE por técnicos especialistas da Universidade Federal do Ceará, que
faziam parte do NEE/I e do CADEE.
Nesse mesmo ano o CADEE foi reestruturado. Alguns professores foram lotados
nas escolas da rede municipal para realizarem o Atendimento Educacional
Especializado -AEE, outros que não acreditavam em hipótese alguma na inclusão foram
lotados em salas de aula do ensino comum. As crianças foram matriculadas nas escolas
próximas de sua residência. Dentro deste novo contexto, muitos desafios foram
enfrentados na escola e na Secretaria de Educação.
A falta de credibilidade do trabalho docente, não se limitava somente à Sala de
Recursos Multifuncionais - SRM, mas à toda comunidade escolar, havia cobrança dos
pais das crianças com e sem deficiência que compartilhavam o mesmo espaço Para os
professores, uma das grandes dificuldades ao assumir a SRM era atender diversas
deficiências, Transtorno Global do Desenvolvimento TGD e Altas
Habilidades/Surperdotação AH/S nas escolas.
Para enfrentar as dificuldades e se adaptar ao novo contexto os professores do
CADEE fizeram cursos de aprofundamento em outras deficiências, pesquisas na
internet, ler livros e artigos, trocar ideias com outros colegas que trabalhavam em áreas
distintas. A Secretaria Municipal de Educação o Núcleo de Educação Especial/Inclusiva,
trabalhavam com estes professores e colaborava com orientações, acompanhando e
avaliando o AEE nas salas multifuncionais.
Foi relatado que os professores que trabalhavam em classe de ensino comum, se
achavam despreparados para a inclusão, não sabiam quais métodos deveriam empregar
no ensino de crianças com deficiência. Duas professoras do antigo CADEE relataram:
Trabalhamos no CADEE durante 19 anos na área de deficiência auditiva e também realizávamos atividades de dança com alunos de deficiência intelectual e auditiva. Quando saímos de lá, parecia que chão havia subido. Hoje estamos há 4 anos no Atendimento Educacional Especializado e estamos adorando. Constatamos que a inclusão é possível (profª M )
Começamos a atuar no Atendimento Educacional Especializado AEE em 2011, exatamente no dia 14 de março do mesmo ano, tendo uma preparação para atuar na sala de recurso do ano letivo de 2010. Foi uma fase bastante difícil, não só pela situação em si, tudo ocorreu muito bruscamente, dizem que houve uma preparação, eu discordo, se realmente isso tivesse acontecido não tinha gerado tantos problemas (profª Y)
Os técnicos do NEE/I assessoravam as ações dos professores das Salas de
Recursos Multifuncionais. Os docentes conseguiram sensibilizar a comunidade escolar a
trabalha com os educandos com deficiência. Alguns relataram, durante a pesquisa, que a
formação continuada deveria ser estendida aos planejamentos.
O AEE na Sala de Recursos Multifuncionais
As Salas de Recursos Multifuncionais são espaços físicos localizados nas
escolas da rede pública municipal, dotadas de mobiliário, materiais didáticos e
pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos específicos para o Atendimento
Educacional Especializado(AEE).
Esse serviço tem por finalidade identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras que impedem a plena participação dos alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, considerando suas necessidades específicas (BRASIL,2008).
No Atendimento Educacional Especializado a aprendizagem do educando ocorre
de maneira interativa e em cooperação entre o educando e o professor da sala comum,
com a contribuição do professor da sala do AEE, através da interlocução feita a partir da
especificidade de cada um.
Em relação aos objetivos do AEE o Decreto Nº 7.611/2011 dispõe em seu artigo
3ª os seguintes objetivos para o atendimento educacional especializado:
I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e garantir serviços de apoio especializados de acordo com as necessidades individuais dos estudantes; II - garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; III - fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e IV - assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino (BRASIL, 2011, p.2).
O AEE deverá ser realizado, prioritariamente, nas Salas de Recursos
Multifuncionais – SRM, da própria escola ou em outra do entorno, no turno inverso ao
da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado
também no Centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de
instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos conveniados
com a Secretaria de Educação e/ou órgãos equivalentes.
Sobre a responsabilidade da escola na instalação de práticas inclusivas Porto
(2009, p.21) esclarece:
O atendimento de que o conhecimento é, simultaneamente,
processo e produto de uma construção cognitiva, social e
emocional nos possibilita entender a importância do ambiente
escolar, já que o mesmo pode favorecer ou desencorajar,
dependendo dos pressupostos sócio-pedagógicos adotados no
próprio projeto pedagógico da instituição escolar e a forma
como são postos em prática pelos profissionais competentes.
O AEE deve acontecer em um espaço organizado com materiais didáticos,
pedagógicos, equipamentos e profissionais com formação para o atendimento às
necessidades educacionais especiais, projetado para oferecer suporte necessário aos
alunos, favorecendo seu acesso ao conhecimento em salas de recursos multifuncionais.
(BRASIL, 2008).
Através do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) acessibilidade, possibilita
as escolas investimento na acessibilidade do espaço físico, na compra de novos
recursos de tecnologia assistida e qualquer outra necessidade para a organização e oferta
do AEE nas salas de recursos multifuncionais.
Segundo o Setor de Estatística da Secretaria de Educação do Município, a rede de
ensino dispõe de 89 (oitenta e nove) escolas. Destas em 2010, 12(doze) foram
beneficiadas com SRM, de acordo com a necessidade, a cada ano novas salas foram
implementadas. Hoje contamos com 46(quarenta e seis) escolas na rede municipal com
SRM e 61 (sessenta e um) professores, lotadas nas referidas salas. Em 2014 foram
matriculas 1.334 crianças e adolescente com deficiência e TGD, sendo que muitas
destas são beneficiadas com os serviços AEE.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao investigar sobre a trajetória e a prática docente da Educação Especial na
perspectiva inclusiva nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRM), no Atendimento
Educacional Especializado (AEE), na rede de ensino do Município, se pretendeu
compreender como foi desenvolvendo o atendimento as pessoas com deficiências em
Maracanaú. O trabalho desenvolvido pelos professores do AEE vem sendo construído
em parceria com os pais, os professores do ensino regular, a fim de se buscar uma
sintonia com o desenvolvimento da aprendizagem dos educandos.
Os pais já acreditam mais na inclusão, uma vez que acompanham todo o
processo, além de verem os resultados positivos com seus filhos que estão estudando
com outras crianças sem deficiência. Eles veem os professores das Salas de Recursos
Multifuncionais (SRMs) como profissionais habilitados para desenvolvimento de seus
filhos e demostram confiança no trabalho realizado na SRM. Neste olhar Porto e
Oliveira (2010, p.28) afirma que:
O princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, e independentemente de qualquer dificuldade ou diferença que possa ter. Na inclusão é a escola que deve estar [...] apresentando meios para lidar e distinguir qualquer tipo de discriminação que possa existir.
Ainda encontramos algumas barreiras atitudinais, mas com o tempo a muralha
do preconceito será derrubada. Para isso faz-se necessário atender a essa diversidade e
elaborar propostas pedagógicas focadas nos educandos, desde a concepção dos
objetivos; reconhecer todos os tipos de possibilidades e limitações presentes na escola;
sequenciar os conteúdos e adequá-los aos diferentes ritmos de aprendizagem dos
educandos; adotar metodologias diversas e motivadoras; avaliar os educandos numa
abordagem processual e emancipadora em função do seu progresso e conquistas.
Sabemos que o caminho é longo e que precisamos avançar. Os profissionais que
fazem a Secretaria de Educação continuam acreditando em uma escola para todos, sem
distinção. Mais ainda existe muito trabalho a ser realizado em prol da pessoa com
deficiência.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Brasília: Gráfica do Senado, 1961.
_______Conferência Mundial de Educação para Todos. Ministério da Educação e Cultura. Brasília: Gráfica do Senado, 1990.________ Constituição (1988). República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 16. ed. atual. ampl. São Paulo: Saraiva, 1997.
________Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990_______Educação Inclusiva. Atendimento Educacional Especializado para Deficiência
Mental. Brasília: Ideal, 2005
________Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-Disponível:
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf.Acesso em 10/01/2015
________.Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília: MEC, 1961.
________. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Lei Educacional. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1971.
________. Lei n o 10.172, de 9 de janeiro de 2001 . Lei Educacional. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm acesso: 10/01/2015
________.Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica. Secretaria de Educação Especial - MEC/SEESP, 2001.
_______.Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Salas de Recursos
Multifuncionais: espaço para atendimento educação especializado. Brasília: 2006.
______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: MEC/SEESP,
2001.Disponivel http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf: Acesso em
10/02/2015
_____. Lei 13.005 de 25/06/2014 . Plano Nacional de Educação - PNE Brasília, DF.
Disponível:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/
L13005.htm.acesso em: 03/03/2015
______. Ministério de Educação e Cultura. Política Nacional de Educação Especial.Brasília: MEC/ SEESP, 2008.
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Declaração Mundial sobre Necessidades
Educativas Especiais: Acesso e qualidade. Trad. Edílson Alkmim da Cunha. 2. ed.
Brasília: CORDE,1994.
FIGUEIREDO, Eliene Vieira. Escola, diferencia e Inclusão (Organizadora).
Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2010.
MAZZOTTA, M. J. S. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2005.
OLIVEIRA M. D. M; PORTO, M.D. Educação Inclusiva: Concepções e Práticas na Perspectiva de Professores- Brasília: Ed. Aplicada, 2010.
PORTO, Olivia: Psicopedagogia Institucional: teoria, prática e assessoramento psicopedagógico, 3. ed – Rio de Janeiro: Wak Ed; 2009.
Sites consultados:
http://www.bancodeescola.com/a-escola-de-atencao-as-diferencas.htm.Acesso: 08/02/2015 20:00http://peei.mec.gov.br/arquivos/politica_nacional_educacao_especial.pdf. Acesso: 08/02/2015 19: 15http://www.portaleducacao.com.br/Artigo/Imprimir/54129 .Acesso :24/01/2015 19:49:00