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A TRAGETÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PESPRCTIVA INCLUSIVA: CADEE /AEE EM MARACANAÚ. Maria Eudes Zeferino de Melo [email protected] Resumo A história da Educação Especial no Brasil e no mundo foi impulsionada por uma série de fatores que, cada vez mais, evidenciam que a inclusão é um dos caminhos para garantir a igualdade da educação para todos. No município de Maracanaú não foi diferente. A inclusão dos estudantes com deficiência na rede de ensino passou por um processo de adaptação e muitos desafios. Os vieses empregados nesta exposição para a discussão do referido tema são baseados em documentos legais, que explicitam compromisso político do governo brasileiro com a educação da pessoa com deficiência, tais como a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação inclusiva (2008), e as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica e teóricos como: Mazzotta (2005), Porto (2009) Figueiredo (2010) e Oliveira (2010) . Este artigo tem como objetivo relatar a trajetória da Educação Especial na Perspectiva inclusiva nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRM), no Atendimento Educacional Especializado (AEE) e na rede de ensino do Município de Maracanaú, e descrever algumas considerações sobre à prática docente. Foi realizado uma pesquisa de campo, em conversa informal com 15 (quinze) professores que eram do Centro de Apoio e Desenvolvimento em Educação Especial – CADEE, para obter

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Breve trajetória da educação inclusiva em Maracanaú

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Page 1: Artigo Eudes Aee Correção Final 2015 o

A TRAGETÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PESPRCTIVA INCLUSIVA:

CADEE /AEE EM MARACANAÚ.

Maria Eudes Zeferino de [email protected]

Resumo

A história da Educação Especial no Brasil e no mundo foi impulsionada

por uma série de fatores que, cada vez mais, evidenciam que a inclusão é um dos

caminhos para garantir a igualdade da educação para todos. No município de

Maracanaú não foi diferente. A inclusão dos estudantes com deficiência na rede de

ensino passou por um processo de adaptação e muitos desafios. Os vieses empregados

nesta exposição para a discussão do referido tema são baseados em documentos legais,

que explicitam compromisso político do governo brasileiro com a educação da pessoa

com deficiência, tais como a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação inclusiva (2008), e as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na

Educação Básica e teóricos como: Mazzotta (2005), Porto (2009) Figueiredo (2010) e

Oliveira (2010) . Este artigo tem como objetivo relatar a trajetória da Educação Especial

na Perspectiva inclusiva nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRM), no Atendimento

Educacional Especializado (AEE) e na rede de ensino do Município de Maracanaú, e

descrever algumas considerações sobre à prática docente. Foi realizado uma pesquisa de

campo, em conversa informal com 15 (quinze) professores que eram do Centro de

Apoio e Desenvolvimento em Educação Especial – CADEE, para obter informações da

trajetória do ensino da pessoa com deficiência da escola especializada para a escola

regular.

Palavras-chave: Educação Especial, inclusão, Atendimento Educacional Especializado

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INTRODUÇÃO

A Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

(BRASIL,2008) assegura o direito de toda criança frequentar a escola comum,

esclarecendo ações que são de competência do ensino. A luta de pessoas com

deficiência, vem ganhando espaço na sociedade, com a proposta de romper com os

tradicionais paradigmas segregativos e a adoção de procedimentos que contribuam para

garantir a essas pessoas as condições necessárias a sua participação como sujeitos

sociais.

O artigo relata a história e as conquistas da educação especial no atendimento

educacional a pessoa com deficiência, explicitando a trajetória da inclusão na rede

publica de Maracanaú, da primeira escola com atendimento isolado ao processo e

implantação e atuação das Salas de Recurso Multifuncionais com o serviço do

Atendimento Educacional Especializado.

Após longo período de isolamento, a educação especial vem tomando novos

rumos, permitindo que as pessoas com alguma deficiência deixem a posição de

segregados e passem a ser integrantes da sociedade. Quebrando as barreras

principalmente as atitudinais, teve início com a Declaração de Salamanca (1994),

documento norteador das ações em prol da inclusão social, que passou a influenciar a

formulação das políticas públicas da educação inclusiva. Conforme este documento,

[...] todas as escolas devem acolher a todas as crianças, independen-temente de suas condições pessoais, culturais ou sociais; crianças de-ficientes e superdotadas/altas habilidades, crianças de rua, minorias étnicas, linguísticas ou culturais, de zonas desfavorecidas ou margi-nalizadas. ( BRASIL,1994)

Com a publicação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva (2008), cujo preceito é de que todas as crianças e adolescentes

devem ser matriculados no ensino comum, independentemente de suas necessidades

educacionais específicas, intensificou-se o movimento de inclusão, que, por sua vez, é

responsável pela escolarização de todos os estudantes indistintamente.

Desta forma, os municípios brasileiros começaram a entender que o direito de

inclusão é obrigatório. Na Secretaria de Educação de Maracanaú já existia deste de

1990, uma escola especializada para atender as crianças, jovens com necessidades

especificas, o Centro de Assistência ao Deficiente (CAD), que, mais tarde, a fim de

adequar-se à demanda educacional do município, passou a ser o Centro de

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Desenvolvimento Educação Especial (CADEE). Em 2010 o CADEE foi restruturado

para atender o que é preconizado no Plano Nacional de Educação Especial (PNEE) na

perspectiva da educação inclusiva e o prédio passou a denomina-se Centro Integrado

de Educação e Saúde e Assistência Social de Maracanaú – CIES. Sua infraestrutura

física realiza o atendimento escolar e o outro terapêutico.

O objetivo primordial deste trabalho, em consonância com o que foi

exposto, é relatar a trajetória da Educação Especial na Perspectiva inclusiva nas Salas

de Recursos Multifuncionais (SRM), no Atendimento Educacional Especializado (AEE)

e na rede de ensino do Município de Maracanaú, e descrever algumas considerações

sobre à prática docente.

Para isso, foram utilizados documentos legais, como a Política Nacional de

Educação Especial na Perspectiva da Educação inclusiva (2008) e relatados da política

de Educação Especial do município de Maracanaú. Recorreu-se ha autores, Figueiredo,

Mazzotta, Oliveira e Porto, que desenvolveram estudos na área sentindo, mais próximo

da realidade educacional da pessoa com deficiência no Brasil.

Utilizou-se ainda relatos de professores que trabalharam na antiga instituição

educacional CADEE e que hoje desenvolvem suas atividades em Educação Especial na

Sala de Recurso Multifuncional (SRM) através do AEE.

Além desta introdução o artigo está dividido em 4 seções. A primeira traz uma

Fundamentação legal sobre o assunto discutido. Em seguida apresenta-se a trajetória da

educação especial em Maracanaú focando o trabalho desenvolvido por uma antiga

escola especializada para o atendimento a pessoa com deficiência até a inclusão dessas

pessoas no ensino regula. Posteriormente, aborda-se sobre o funcionamento das Salas

de Recursos Multifuncionais, oferecido pelo AEE. E por fim apresenta-se as

considerações finais.

FUNDAMENTAÇÃO LEGAL

Para explanar melhor este estudo, faz-se necessário discorrer um pouco sobre as

Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação

Básica, modalidade Educação Especial, instituída pela Resolução nº4, de 2 outubro de

2009 e seu percurso.

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A educação das pessoas com deficiência teve seu início, no Brasil, no ano 1850.

Segue-se a partir daí a história e política que delineia a Educação Especial em nosso

país, tendo seus precedentes pautados em caráter assistencialista e terapêutico, que

segregava as pessoas com deficiência em instituições especializadas, desvalorizando os

aspectos educacionais.

A fundação do Imperial Instituto deveu-se em grande parte, a um cego brasileiro, José Álvares de Azevedo, que estudara no Instituto dos Jovens Cegos de Paris, fundado por Valentin Haüy no século XVIII. [...]Sob a influência de Couto Ferraz, D. Pedro criou tal Instituto que foi inaugurado dia 17 de setembro de 1854, cinco dias após a sua criação. (MAZZOTTA, 2005, p. 28).

A educação especial se organizou tradicionalmente com o atendimento

educacional especializado em substituição ao ensino comum, o que se configurou pela

criação de instituições especializadas, escolas especiais e classes especiais.

Conforme relata este autor

“[...] até a década de 1950 do século XX, as iniciativas voltadas ao

atendimento de deficientes eram isoladas, refletindo o interesse de

alguns educadores pelo atendimento educacional de pessoas com

deficiência.”( Mazzotta, 2005, p 30)

A Constituição Federal de 1988 define a educação como um direito de todos,

no art. 205 garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a

qualificação para o trabalho.

No art. 206 estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na

escola” como um dos princípios para o ensino e garante, no art. 208, inciso III como

dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, ás pessoas com

deficiência preferencialmente na rede regular de ensino.

Porto e Oliveira, (2010 p 09): “Ao garantir a todos o direito à educação e ao

acesso à escola, a Constituição Federal deixa claro que desenvolvimento e

aprendizagem são específicos de cada pessoa e que todos têm direitos iguais perante a

lei”. Até hoje é possível constatar debates calorosos nas escolas sobre alguns desses

temas: igualdade versus desigualdade; as pessoas são diferentes quando? Como tratar

igualmente as pessoas com deficiência?

O que deu significado ao avanço da educação, preferencialmente dentro do

sistema de ensino em referência às pessoas “excepcionais” no Brasil, foi a Lei de

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Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 4.024/61. Uma década depois, a

LDB nº 5.692/71 foi promulgada e alterou a LDBEN, ao definir “tratamento especial”,

reforçando o encaminhamento dos estudantes para as classes e escolas especiais.

Em 1973, o MEC criou o Centro Nacional de Educação Especial – CENESP e

impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência e às pessoas com

superdotação.

Outros dois documentos alavancaram o atendimento em Educação Especial na

perspectiva inclusiva, a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a

Declaração de Salamanca (1994), que passaram a influenciar a formulação das políticas

públicas na área da educação inclusiva.

Percebe-se assim um novo olhar para a pessoa com deficiência, com discussões

mais voltadas para a inclusão, assim pensam as autoras Silveira e Figueiredo:

O discurso da Educação Inclusiva teve início no Brasil na década de 1980. Entretanto, somente nos anos 90 foi amplamente discutido nos diversos espaços em que são travados debates relativos à educação. Nessa ocasião lançou-se como proposta “[...] a modificação da sociedade para torná-la capaz de acolher a todas as pessoas” ( FIGUEREDO & SILVEIRA 2010.p 29 .Apud LIMA, 2006.)

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, no art.

59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos,

recursos e organização específicos para atender às suas necessidades.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, trata a

educação especial como modalidade de ensino, que atende às necessidades e

expectativas da sociedade em transformação, através da implementação de políticas

educacionais inclusivas, e pela promoção do desenvolvimento das potencialidades

dos estudantes com deficiência em todas as etapas e níveis da educação básica.

Destacamos aqui a Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no art. 2º, determinando que:

“os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo

às escolas organizarem-se para o atendimento aos educandos com

necessidades educacionais especiais, assegurando as condições

necessárias para uma educação de qualidade para todos”.

(MEC/SEESP, 2001)

O Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001, destaca que “o

grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma

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escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana”. Ao estabelecer

objetivos e metas para que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento às

necessidades educacionais especificas dos educandos, observa-se um déficit referente

à oferta de matrículas para educandos com deficiência nas classes comuns do ensino

regular, bem como quanto à formação docente, à acessibilidade física das escolas e ao

atendimento educacional especializado.

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização

dos Profissionais da Educação– FUNDEB, de acordo com o Decreto Nº. 6.571 (2008),

foi incorporado no Decreto nº 7.611/2011, destina recursos para o AEE dos alunos com

deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades / superdotação,

matriculados na rede pública de ensino regular. Reconhece como matrícula dupla desses

educando em classes comuns de ensino regular e no AEE, conforme é registrado no

Censo Escolar.

Vale ressaltar que a construção de uma escola inclusiva seria um grande

avanço da educação (PNE, Lei nº 10.172/ 2001). Uma escola que garanta o

atendimento à diversidade humana, estabelecendo objetivos e metas para que os

sistemas de ensino proporcionem o atendimento específico aos alunos com

deficiência, através da oferta de matrículas nas classes comuns do ensino regular, de

formação para os professores que atuam com este público da acessibilidade aos

espaços escolar garanta ao Atendimento Educacional Especializado - AEE.

O atual PNE Lei 13.005 de 25/06/2014, esclarece os desafios para a educação brasileira

para a educação brasileira nos próximos dez anos evidência a procura por educação de qualidade,

enfatizados no inciso III, parágrafo 1º, do artigo 8º, garantindo o AEE nas salas de

recursos multifuncionais nas escolas públicas ou conveniadas aos educandos com

transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,

matriculados na rede pública de educação básica.

“[...]com base neste pressuposto, a meta 4 e respectivas estratégias objetivam universalizar, para as pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, na faixa etária de 04 a 17 anos, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado. O AEE é ofertado preferencialmente na rede regular de ensino, podendo ser realizado por meio de convênios com instituições especializadas, sem prejuízo do sistema educacional inclusivo.”

Impulsionando a inclusão educacional e social, o Decreto nº 5.296/04

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regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios

para a promoção da acessibilidade para pessoas com deficiência ou com mobilidade

reduzida.

A Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva

(2008) estabelece como diretrizes para a construção dos sistemas educacionais

inclusivos, a garantia do direito de todos à educação, ao acesso e às condições de

permanência e continuidade de estudos no ensino regular, para pessoas com deficiência,

Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) e Altas Habilidades/Superdotação

(AH/S).

O Município de Maracanaú, já atendia os estudantes com necessidades

especificas deste 1990 em uma escola com ensino especializado. Entretanto as

discussões do processo de inclusão na rede de ensino era tema central dos técnicos da

Secretaria de Educação, bem como da comunidade escolar.

A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL: ESCOLA ESPECIALIZADA PARA A

ESCOLA COMUM.

A primeira escola educacional no município de Maracanaú que fazia o

atendimento das crianças e jovens com deficiências era Centro de Assistência ao

Deficiente (CAD), O prédio oferecia uma infraestrutura inadequada para o ensino

especializado, que era oferecido em pequenos grupos de acordo com a deficiência e o

atendimento terapêutico individualizado. Em 2004, depois de muitas lutas e atendendo a

demanda, o CAD foi transferido para um prédio de bom funcionamento quanto à

estrutura física. A instituição passou a usar uma nova nomenclatura Centro de

Desenvolvimento Educação Especial (CADEE).

Houve um momento de conversa informal com 15 professores da antiga

instituição, com o objetivo de resgatar a história da educação especial da época do

CADEE até a SRM, elas responderam que, na época, a procura na escola especializada

para “crianças especiais” era grande e as condições de trabalho eram precárias.

Neste período, só quem trabalhavam com as crianças com deficiência era os

professores do CADEE, que desenvolviam as atividades de acordo com a necessidade

da criança. Os profissionais eram graduados e alguns destes eram especialistas em uma

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deficiência especifica, que realizavam esse trabalho pioneiro no atendimento

educacional deste publico.

Vale ressaltar que a valorização do ser humano, sem discriminação ou

preconceito, independentemente de sua classe social fazia parte do atendimento dos

professores, que tratavam a todos com respeito e igualdade. Alguns pais das crianças

chamavam os professores do CADEE carinhosamente de “anjos protetores”.

Com a nova política de inclusão, todos os estudantes deveriam ser matriculados

no sistema de ensino regular em sala de aula comum.

Todavia, 70% relataram não acreditar na referida inclusão, surgindo rejeição às

mudanças educacionais. Havia uma preocupação mútua de todos os envolvidos pois,

temiam o destino dos estudantes do CADEE. Como seria a adaptação deles no novo

contexto escolar?

Em relatos os pais não acreditavam na inclusão, esperavam que seus filhos

fossem ser discriminados na escola comum e muitas crianças não permitiam cortar os

laços afetivos com o Centro, uma vez que, consideravam ser uma extensão de sua casa.

Segundo os professores que participaram da pesquisa, o atendimento no CADEE

era feito em salas de aula separadas por deficiência, com um professor formado na área

específica da deficiência. Como expressa o comentário a seguir:

Participávamos dos planejamentos com os técnicos da Secretaria municipal de Educação (SME) de Maracanaú e com outros professores do ensino comum. Recebíamos o material e fazíamos as adaptações necessárias para trabalhar com os nossos alunos e muitos destes não eram aproveitados na nossa realidade. (Porfª S)

A realidade de ensino dos professores era diferente da escola regular. O

atendimento das crianças era realizado com determinado número de educando com a

mesma deficiência, uma vez que não era permitido agrupar as crianças com e sem

deficiência com as especiais no mesmo espaço físico.

Como mencionado, muitos não acreditavam na inclusão, ainda hoje encontramos

resistência do poder da igualdade para todos. Para as professoras do CADEE foi difícil

aceitar as mudanças, fizeram vários projetos, na tentativa de não “acabar” com a

instituição sem sucesso.

Com o advento da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva de

Educação Inclusiva (2008), o município acolheu uma demanda já existente da Educação

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Especial no novo contexto educacional, incluindo todas as crianças com deficiência nas

escolas municipais do ensino comum.

Em concomitância com os fatos ocorridos, a Secretaria de Educação de

Maracanaú em 2005, criou o Núcleo de Educação Especial/Inclusão (NEE/I), com uma

equipe multidisciplinar com o objetivo de propor e implementar as políticas de

Educação Especial/Inclusiva no Município. No final de 2010, foi ofertado a todos os

professores do CADEE curso de preparação para o Atendimento Educacional

Especializado - AEE por técnicos especialistas da Universidade Federal do Ceará, que

faziam parte do NEE/I e do CADEE.

Nesse mesmo ano o CADEE foi reestruturado. Alguns professores foram lotados

nas escolas da rede municipal para realizarem o Atendimento Educacional

Especializado -AEE, outros que não acreditavam em hipótese alguma na inclusão foram

lotados em salas de aula do ensino comum. As crianças foram matriculadas nas escolas

próximas de sua residência. Dentro deste novo contexto, muitos desafios foram

enfrentados na escola e na Secretaria de Educação.

A falta de credibilidade do trabalho docente, não se limitava somente à Sala de

Recursos Multifuncionais - SRM, mas à toda comunidade escolar, havia cobrança dos

pais das crianças com e sem deficiência que compartilhavam o mesmo espaço Para os

professores, uma das grandes dificuldades ao assumir a SRM era atender diversas

deficiências, Transtorno Global do Desenvolvimento TGD e Altas

Habilidades/Surperdotação AH/S nas escolas.

Para enfrentar as dificuldades e se adaptar ao novo contexto os professores do

CADEE fizeram cursos de aprofundamento em outras deficiências, pesquisas na

internet, ler livros e artigos, trocar ideias com outros colegas que trabalhavam em áreas

distintas. A Secretaria Municipal de Educação o Núcleo de Educação Especial/Inclusiva,

trabalhavam com estes professores e colaborava com orientações, acompanhando e

avaliando o AEE nas salas multifuncionais.

Foi relatado que os professores que trabalhavam em classe de ensino comum, se

achavam despreparados para a inclusão, não sabiam quais métodos deveriam empregar

no ensino de crianças com deficiência. Duas professoras do antigo CADEE relataram:

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Trabalhamos no CADEE durante 19 anos na área de deficiência auditiva e também realizávamos atividades de dança com alunos de deficiência intelectual e auditiva. Quando saímos de lá, parecia que chão havia subido. Hoje estamos há 4 anos no Atendimento Educacional Especializado e estamos adorando. Constatamos que a inclusão é possível (profª M )

Começamos a atuar no Atendimento Educacional Especializado AEE em 2011, exatamente no dia 14 de março do mesmo ano, tendo uma preparação para atuar na sala de recurso do ano letivo de 2010. Foi uma fase bastante difícil, não só pela situação em si, tudo ocorreu muito bruscamente, dizem que houve uma preparação, eu discordo, se realmente isso tivesse acontecido não tinha gerado tantos problemas (profª Y)

Os técnicos do NEE/I assessoravam as ações dos professores das Salas de

Recursos Multifuncionais. Os docentes conseguiram sensibilizar a comunidade escolar a

trabalha com os educandos com deficiência. Alguns relataram, durante a pesquisa, que a

formação continuada deveria ser estendida aos planejamentos.

O AEE na Sala de Recursos Multifuncionais

As Salas de Recursos Multifuncionais são espaços físicos localizados nas

escolas da rede pública municipal, dotadas de mobiliário, materiais didáticos e

pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos específicos para o Atendimento

Educacional Especializado(AEE).

Esse serviço tem por finalidade identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras que impedem a plena participação dos alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, considerando suas necessidades específicas (BRASIL,2008).

No Atendimento Educacional Especializado a aprendizagem do educando ocorre

de maneira interativa e em cooperação entre o educando e o professor da sala comum,

com a contribuição do professor da sala do AEE, através da interlocução feita a partir da

especificidade de cada um.

Em relação aos objetivos do AEE o Decreto Nº 7.611/2011 dispõe em seu artigo

3ª os seguintes objetivos para o atendimento educacional especializado:

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I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e garantir serviços de apoio especializados de acordo com as necessidades individuais dos estudantes; II - garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; III - fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e IV - assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino (BRASIL, 2011, p.2).

O AEE deverá ser realizado, prioritariamente, nas Salas de Recursos

Multifuncionais – SRM, da própria escola ou em outra do entorno, no turno inverso ao

da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado

também no Centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de

instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos conveniados

com a Secretaria de Educação e/ou órgãos equivalentes.

Sobre a responsabilidade da escola na instalação de práticas inclusivas Porto

(2009, p.21) esclarece:

O atendimento de que o conhecimento é, simultaneamente,

processo e produto de uma construção cognitiva, social e

emocional nos possibilita entender a importância do ambiente

escolar, já que o mesmo pode favorecer ou desencorajar,

dependendo dos pressupostos sócio-pedagógicos adotados no

próprio projeto pedagógico da instituição escolar e a forma

como são postos em prática pelos profissionais competentes.

O AEE deve acontecer em um espaço organizado com materiais didáticos,

pedagógicos, equipamentos e profissionais com formação para o atendimento às

necessidades educacionais especiais, projetado para oferecer suporte necessário aos

alunos, favorecendo seu acesso ao conhecimento em salas de recursos multifuncionais.

(BRASIL, 2008).

Através do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) acessibilidade, possibilita

as escolas investimento na acessibilidade do espaço físico, na compra de novos

recursos de tecnologia assistida e qualquer outra necessidade para a organização e oferta

do AEE nas salas de recursos multifuncionais.

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Segundo o Setor de Estatística da Secretaria de Educação do Município, a rede de

ensino dispõe de 89 (oitenta e nove) escolas. Destas em 2010, 12(doze) foram

beneficiadas com SRM, de acordo com a necessidade, a cada ano novas salas foram

implementadas. Hoje contamos com 46(quarenta e seis) escolas na rede municipal com

SRM e 61 (sessenta e um) professores, lotadas nas referidas salas. Em 2014 foram

matriculas 1.334 crianças e adolescente com deficiência e TGD, sendo que muitas

destas são beneficiadas com os serviços AEE.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao investigar sobre a trajetória e a prática docente da Educação Especial na

perspectiva inclusiva nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRM), no Atendimento

Educacional Especializado (AEE), na rede de ensino do Município, se pretendeu

compreender como foi desenvolvendo o atendimento as pessoas com deficiências em

Maracanaú. O trabalho desenvolvido pelos professores do AEE vem sendo construído

em parceria com os pais, os professores do ensino regular, a fim de se buscar uma

sintonia com o desenvolvimento da aprendizagem dos educandos.

Os pais já acreditam mais na inclusão, uma vez que acompanham todo o

processo, além de verem os resultados positivos com seus filhos que estão estudando

com outras crianças sem deficiência. Eles veem os professores das Salas de Recursos

Multifuncionais (SRMs) como profissionais habilitados para desenvolvimento de seus

filhos e demostram confiança no trabalho realizado na SRM. Neste olhar Porto e

Oliveira (2010, p.28) afirma que:

O princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, e independentemente de qualquer dificuldade ou diferença que possa ter. Na inclusão é a escola que deve estar [...] apresentando meios para lidar e distinguir qualquer tipo de discriminação que possa existir.

Ainda encontramos algumas barreiras atitudinais, mas com o tempo a muralha

do preconceito será derrubada. Para isso faz-se necessário atender a essa diversidade e

elaborar propostas pedagógicas focadas nos educandos, desde a concepção dos

objetivos; reconhecer todos os tipos de possibilidades e limitações presentes na escola;

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sequenciar os conteúdos e adequá-los aos diferentes ritmos de aprendizagem dos

educandos; adotar metodologias diversas e motivadoras; avaliar os educandos numa

abordagem processual e emancipadora em função do seu progresso e conquistas.

Sabemos que o caminho é longo e que precisamos avançar. Os profissionais que

fazem a Secretaria de Educação continuam acreditando em uma escola para todos, sem

distinção. Mais ainda existe muito trabalho a ser realizado em prol da pessoa com

deficiência.

Referências

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MAZZOTTA, M. J. S. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2005.

OLIVEIRA M. D. M; PORTO, M.D. Educação Inclusiva: Concepções e Práticas na Perspectiva de Professores- Brasília: Ed. Aplicada, 2010.

PORTO, Olivia: Psicopedagogia Institucional: teoria, prática e assessoramento psicopedagógico, 3. ed – Rio de Janeiro: Wak Ed; 2009.

Sites consultados:

http://www.bancodeescola.com/a-escola-de-atencao-as-diferencas.htm.Acesso: 08/02/2015 20:00http://peei.mec.gov.br/arquivos/politica_nacional_educacao_especial.pdf. Acesso: 08/02/2015 19: 15http://www.portaleducacao.com.br/Artigo/Imprimir/54129 .Acesso :24/01/2015 19:49:00