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DESAFIOS E PERSPECTIVAS DO PROFESSOR/PSICOPEDAGOGO FRENTE AO CONTEXTO DA EDUCAÇAO INCLUSIVA: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO
Isene de Oliveira Souza1
Profa MsC Rita de Cássia A. F. Morais (orientadora)2
RESUMO
Este estudo teve como objetivo analisar o papel do professor/psicopedagogo na educação inclusiva, enfatizando os desafios e perspectivas deste profissional em sua práxis pedagógica. Tratou-se de um estudo bibliográfico, descritivo e de abordagem qualitativa feito após análise da produção cientifica da temática proposta junto a base dados Scielo, além de livros e periódicos. Os resultados revelaram que os autores acreditam que a Política Nacional de Educação Especial publicada em 1994, foi decisiva para consolidação do processo de implementação das políticas públicas vinculadas a educação especial. E quanto ao psicopedagogo, seu papel é analisar e assinalar os fatores que favorecem, intervém ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição.
Palavras - Chave: Educação Especial; Inclusão Social; Docência.
ABSTRACT
This aimed to analyze the role of the teacher/psychopedagogists inclusive education, emphasizing the challenges and perspectives of these professionals in their pedagogical praxis. It was a bibliographical study, descriptive and qualitative analysis done after the scientific theme of the proposal together with the Scielo database, as well as books and periodicals. The results revealed that the authors believe that the National Policy on Special Education published in 1994, was crucial to consolidate the process of implementation of public policies related to special education. What about psychopedagogists, its role is to analyze and highlight the factors that favor, interfere or harm the learning process in an institution.
Keywords: Special Education, Social Inclusion, Teaching.
1 Professora do Ensino Fundamental da Rede Pública de Ensino de Feira de Santana, graduada em Pedagogia (UEFS), e cursando Psicopedagogia Institucional e Clínica da Unidade Nacional de Ensino Superior Integrado – UNESI - Parceria Educacional FACULDADE BATISTA BRASILEIRA.
2 Professora da Educação Básica da Rede Pública de Ensino do Estado da Bahia, Professora do Programa Plataforma Freire no curso de Artes da UEFS, Mestre em Família na Sociedade Contemporânea, Especialista em Supervisão Escolar, Pedagoga e Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Pedagogia Universitária (NEPPU).
1 INTRODUÇÃO
A educação, em um sentido amplo, pode ser entendida como um processo de
construção da pessoa humana, na medida em que é por meio dela que o indivíduo
consegue estabelecer relações consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Tais
relações devem ser construídas sob o prisma do conhecimento sistematizado, como
também a partir da socialização e interação das pessoas nos diferentes espaços
sociais e educativos em que estão inseridos (BARBOSA, 2006).
Dessa forma, observa-se que o professor, como condutor do processo de
ensino e aprendizagem, tem um papel importante na formação de valores individuais
e coletivos para convivência humana no processo escolar, não apenas como mero
reprodutor de estruturas e ideologias em atendimento a determinadas perspectivas
do ambiente sócio-econômico mas, sobretudo, como um auxiliar do aluno na busca
pela construção de saberes éticos e sociais.
Nessa visão, a utilização do lúdico proporciona à criança experiências novas,
na medida em que esta erra, acerta, reconhecendo-se como capaz; desenvolvendo
sua organização espacial e ampliando seu raciocínio lógico na medida em que exige
estratégias de planejamento e estimula a criatividade. Desta forma é necessário o
processo de intervenção psicopedagógica a fim de que o jogo possa ser útil à
aprendizagem. Sendo assim, a prática de inclusão envolve uma pedagogia
diferenciada de ensino e aprendizagem, formação continuada dos professores,
adequação do ambiente escolar e utilização de materiais didáticos específicos para
atender essa diversidade.
Esse estudo analisa o processo de ensino e aprendizagem sob uma
perspectiva psicoeducativa da educação inclusiva, refletindo sobre o papel do
professor na efetivação de uma práxis pedagógica que esteja a serviço da
diversidade. Visa responder ao seguinte questionamento: Quais os desafios e
perspectivas que o professor/psicopedagogo enfrenta para realizar uma
prática pedagógica que valorize a educação inclusiva?
Para realizar essa análise fizemos uma pesquisa da produção bibliográfica
existente sobre o papel do psicopedagogo no processo de educação inclusiva,
abordando a utilização da ludicidade. Tem como objetivos específicos: refletir sobre
a história da educação especial e relatar as formas de atuação do professor no
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processo de ensino e aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais
especiais.
2 QUADRO TEÓRICO
2.1 Educação especial: contextualização histórica
Tomando como base a História da Educação pode – se afirmar que até o
século XVIII a ciência médica não tinha uma explicação para as causas das
deficiências e “as noções a esse respeito eram basicamente ligadas a misticismo e
ocultismo”. (RODRIGUEZ, 2006, p. 11). Devido à falta de informação da sociedade
no século passado devido à influência da religião, as pessoas com necessidades
educativas especiais eram discriminadas e, portanto, excluídas do convívio social.
Durante toda a história da humanidade esses indivíduos sofreram várias formas de
exclusão e afastamento por grande parte da sociedade dita “normal”. Isso acontecia
devido ao fator religioso característico dessa época, pois o homem era considerado
a imagem e semelhança de Deus, portanto, as pessoas que apresentavam algum
tipo de deficiência eram consideradas seres imperfeitos.
No entanto, foi nos séculos XVI e XVII que começaram a surgir as primeiras
contribuições teóricas quebrando o paradigma da discriminação e exclusão das
pessoas com necessidade educacional especial. Um destaque nesse processo pôde
ser observado na Espanha, onde no Mosteiro de Ona, sob a orientação do frade
Pedro Ponce de Leon (1509-1584) doze crianças surdas foram educadas com o
auxílio da linguagem dos sinais.
A partir de então, outros acontecimentos históricos foram contribuindo para
acelerar esse processo de compreensão de uma nova perspectiva de uma educação
inclusiva que respeite a diversidade e inclua no processo sócio-educacional os
indivíduos anteriormente excluídos das práticas escolares. Essa situação é citada
por Reilly (2007) quando ele cita a publicação do primeiro alfabeto manual, na
Espanha, em 1620 por Juan Pablo Bonet; a fundação, em 1770, por Charles M.
Epper, da primeira escola para surdos-mudos; a criação, em 1784 na cidade de
Paris, do Instituto Nacional de Jovens Cegos; a criação em 1801, pelo médico Jean
Meac Itard, do método de ensino para doentes mentais ou retardados e a fundação
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em 1917, nos Estados Unidos,da primeira escola pública para surdos, pelo
reverendo Thomas Gaulladet.
Conforme relata Reily (2007) o processo de inclusão defendido na educação
especial iniciou-se, primeiramente, com as crianças surdas, cegas e mudas, em que
houve uma preocupação pelos estudiosos da educação especial com o
estabelecimento de uma linguagem adaptativa para possibilitar a comunicação mais
efetiva entre o professor e o aluno. Esse procedimento teórico-metodológico foi a
primeira tentativa para garantir a inclusão dessas crianças na escola, com o apoio
da igreja católica, no período em que esta realizava as missões.
Contudo, a evolução e sistematização da educação especial acontece inicialmente na Europa com o surgimento dos primeiros movimentos de atendimento aos portadores de deficiência, esses foram se expandindo a países como Estados Unidos e Canadá e mais tarde vindo para o Brasil. Até o final do século XIX diversas eram as expressões utilizadas para referir-se ao atendimento educacional ao portador de deficiência: “Pedagogia de anormais, Pedagogia curativa ou terapêutica, Pedagogia de Assistência social, Pedagogia Emendativa”. (QUEIROZ e SILVA, 2001, p.58).
Conforme Queiroz e Silva (2001), era necessário a adoção de uma pedagogia
diferenciada para atender as demandas da educação especial, embora essas
medidas educativas na prática tenha significado um avanço no reconhecimento da
igualdade e no resgate da valorização do individuo com necessidades especiais.
Nessa época houve uma abertura conceitual e procedimental dos profissionais
envolvidos na educação especial servindo de aporte teórico na pesquisa acadêmica
dessa temática. A discussão dos comportamentos, valores e processos cognitivos e
mentais característicos das crianças com necessidades educacionais especiais
passou a fazer parte dos estudos da medicina, da psicopedagogia, da psicologia e
da neurologia entre outras.
A partir do século XX indivíduos que apresentavam algumas deficiências
passaram a ser vistos como cidadãos com direitos e deveres e partícipes da
sociedade, mas sob uma ótica assistencial. No Brasil, a partir do inicio do século XX,
a sociedade passou a aceitar melhor os sujeitos com necessidades especiais devido
às contribuições dos estudos sobre a educação especial. É de suma importância
compreender o histórico da educação especial no país, relatado por Lima (2011),
quando afirma que: em 1854 foi criado no Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dos
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Meninos Cegos, atual Instituto Benjamim Constant; em1856, foi criado no Rio de
Janeiro, o Instituto dos Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educação de
Surdos quando em 1860 a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo passou a dar
aulas de educação especial; em 1932 foi fundada a Sociedade Pestalozzi, destinada
a educação de crianças excepcionais, que três anos mais tarde acabou se tornando
uma escola modelo de educação especial, no país.
Verifica-se que houve um avanço significativo nas diretrizes educativas e
legais relativas a educação inclusiva no Brasil, foi na década de 30 que esta toma
impulsos mais decisivos e passa a ser palco de conflito conceitual, político e
ideológico entre os princípios da Escola Tradicional e os postulados da Escola Nova.
Educadores como Montessori, Decroly, Dewey, Fernando de Azevedo, Lourenço
Filho, Francisco de Campos, Cousinet, Anísio Teixeira incorporaram novos
princípios políticos e educacionais adotando um novo conceito de educação, em que
valores e cidadania fossem impressos no diálogo pedagógico estabelecido na
relação aluno e professor (RODRIGUEZ, 2006).
Embora seja possível visualizar esforços no país na realização de ações de
suporte legal e político ao ensino da educação inclusiva, esta só foi legalizada a
partir de 1961 com a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Nesta lei a
educação especial foi reconhecida como “educação dos “excepcionais” e
considerou esta como um direito, a matrícula de crianças e jovens com
necessidades educacionais especiais dentro da rede regular de ensino (MAZZOTTA,
1996).
Em 1994 foi publicada a Política Nacional de Educação Especial que defendia
o acesso igualitário ao ensino regular àqueles que possuem necessidades
educacionais especiais. Já em 1996 com a criação da lei das Diretrizes e Bases da
Educação, essa modalidade de ensino passou a ser denominada como Educação
especial (BRASIL, Lei 9324/96).
Para garantir o acesso adequado e atender às demandas e perspectivas do
contexto formativo do educando com necessidades educacionais especiais, a nova
redação da Lei das Diretrizes da Educação trazia consigo determinações relativas
aos sistemas de ensino no atendimento a essas crianças. Essa lei aborda a
educação inclusiva enfatizando a importância de a escola promover mudanças no
currículo, nos métodos e técnicas, nos processos educativos e na capacitação
técnica dos professores. Estes deveriam atuar de forma integrada com o poder
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publico e a sociedade no sentido de promover a socialização dos educandos com
necessidades especiais, garantindo entre outros aspectos o seu acesso a
programas e benefícios específicos.
O Governo de Luiz Inácio Lula da Silva continuou a difusão dos princípios da
inclusão, adotando o termo em seus Planos Plurianuais (Plano Brasil de Todos:
participação e inclusão - 2004-2007), que atualmente seguem no decurso do
governo da atual presidenta Dilma, em que o Plano de Desenvolvimento envolve no
campo educacional a inclusão digital, a qualidade de ensino e a busca por um
processo de implementação educativa que tem como prerrogativas promover a
equidade e a diversidade (LIMA, 2011).
2.2 O papel do professor na educação inclusiva e o uso da ludicidade
O processo construtivo do saber dentro do procedimento de educação
especial, envolve métodos, técnicas e processos diferenciados da educação regular,
isso porque, a interação educativa dependerá do nível de qualidade do processo
comunicativo e de evolução biopsicosensoriais do educando.
Na visão de Bueno (1999) para que o processo de ensino especial venha
atender as perspectivas necessárias para possibilitar uma formação multidisciplinar
e inclusiva aos educandos especiais, pois é muito importante manter uma qualidade
dos níveis de capacitação e conhecimento docente. È fundamental que o professor
esteja apto tanto para lidar com o educando e isso envolve entender o que o aluno
sente, como vê o mundo e as condições de interagir no processo de ensino e
aprendizagem.
Cabe a ele, a partir de observações criteriosas, ajustar suas intervenções pedagógicas ao processo de aprendizagem dos diferentes alunos, de modo que lhes possibilite um ganho significativo do ponto de vista educacional, afetivo e sociocultural (PRADO; FREIRE, 2001, p.5).
O psicopedagogo deve oferecer formas didáticas diferenciadas, como
atividades lúdicas para que a criança sinta o desejo de pensar. Isto significa que ela
pode não apresentar predisposição para gostar de uma disciplina e por isso não se
interessa por ela. Daí, a necessidade de programar atividades lúdicas na escola.
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Nesse sentido, o professor/psicopedagogo pode utilizar a ludicidade como
instrumento de intensificação do ensino aprendizagem. Os jogos lúdicos oferecem
condições do educando vivenciar situações-problemas, a partir do desenvolvimento
de jogos planejados e livres que permitam à criança uma vivência no tocante às
experiências com a lógica e o raciocínio e permitindo atividades físicas e mentais
que favorecem a sociabilidade e estimulando as reações afetivas, cognitivas,
sociais, morais, culturais e linguísticas (VYGOTSKY, 1984).
Para Prado e Freire (2001) a qualidade do processo de ensino e
aprendizagem na educação especial só irá ocorrer quando for possível ao educando
e o educador estabelecerem na construção de conhecimento uma interrelação com
as reais necessidades cognitivas dos alunos. O aluno deve estar preparado para
assumir seu papel na sociedade, contudo, é algo complexo, pois cada um deles tem
uma particularidade diferente e não apreende do mesmo modo, mesmo os
considerados “normais”. Por esse motivo o professor/psicopedadogo precisa
considerar o nível de apreensão, sensibilidade, conhecimento, práticas, técnicas e
metodologias próprias que estabelecem os diferenciais de qualidade na educação
inclusiva.
O Psicopedagogo é o profissional indicado para assessorar e esclarecer a
escola a respeito de diversos aspectos do processo de ensino-aprendizagem e tem
uma atuação preventiva. Na escola, o psicopedagogo poderá contribuir no
esclarecimento de dificuldades de aprendizagem que não têm como causa apenas
deficiências do aluno, mas que são consequências de problemas escolares, tais
como: organização da instituição, métodos de ensino, relação professor/aluno,
linguagem do professor, dentre outros (BEAUCLAIR, 2007).
Apesar da grande responsabilidade pelo processo de formação e construção
do conhecimento do educando com necessidade educacional especial ser atribuída
ao professor é fundamental ressalvar ao papel das instituições de ensino; pois é
imprescindível que estejam dispostas a atender a legislação e construam dentro de
seu ambiente uma cultura que respeite a diversidade, envolvendo toda a
comunidade escolar no processo de socialização desses educandos. Para tanto é
necessário garantir uma estrutura, políticas e meios de assistir o docente e o aluno
no processo de ensino e aprendizagem.
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3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Este estudo teórico-metodológico classifica-se como descritivo com a
finalidade de analisar os desafios e perspectivas do psicopedagogo frente a
educação inclusiva.
[...] a pesquisa descritiva procura descobrir, com a precisão possível, a frequência com um fenômeno ocorre, sua relação e conexão, com os outros, sua natureza e características, correlacionando fatos ou fenômenos sem manipulá-lo. (CERVO; BERVIAN, 2006, p. 49).
A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou
fenômenos sem interferência do pesquisador. Também analisa a frequência com
que um fenômeno ocorre, as suas dependências e características no mundo físico
ou humano. É utilizada em todos os ramos da Ciência, mas principalmente em
Ciências Sociais e Humanas, investigando as relações que ocorrem na vida social,
política, econômica e demais aspectos do comportamento humano (GIL, 2002).
A coleta de dados se processou a partir do levantamento bibliográfico
realizado por meio das pesquisas feitas das produções cientificas sobre a temática
proposta, com bases nos dados da SCIELO. Foram utilizados como descritores:
Educação Inclusiva, Docente; Aluno Especial.
A abordagem metodológica foi de natureza qualitativa. Para Minayo (1999), a
pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa nas
ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantitativo, ou seja,
ela trabalha com o universo dos significados, motivos, aspirações, crenças e
atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos
e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalidade de variáveis.
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Em relação ao conceito de Educação Especial, pode-se dizer que esta foi
caracterizada como:
Um processo educacional definido em uma proposta pedagógica, que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em
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todas as etapas e modalidades da educação básica (BRASIL, 2001 apud MELO; MARTINS, 2007, p. 112).
Nota-se que a educação inclusiva enfatiza em sua prática pedagógica uma
educação escolar que valorize e atenda a diversidade e promova o desenvolvimento
dos alunos com necessidades especiais de forma integrada, durante seu processo
de formação acadêmica. Tal prática, no entanto, apesar de advir de ações que se
desencadearam no país desde o inicio do século XIX, só toma corpo e forma a partir
da Constituição Federal de 1988, que define a educação como um direito social. As
ações nessa área no campo das políticas públicas, motivo pelo qual as principais
mudanças no sistema de ensino vieram a se desencadear a partir da década de 90
(SEKEL, ZANELATO, BRANDAO, 2010; CAVALARI, 2010).
Mendes (2006) e Abe; Araujo (2010), enfatizam que a evolução de uma
educação de qualidade que promova a inclusão de educandos especiais, não deve
apenas possuir argumentos ideológicos, teorias ou basear-se em fundamentos e
práticas vivenciadas por pessoas de culturas diferentes. A promoção de um diálogo
mais atuante e inclusivo deve ser indolor, ou seja, deve estar cristalizado em uma
prática que respeite a diversidade, não apenas no contexto da visão de limitações
físicas, como sociais, econômicas, regionais, etc. Há vários elementos que podem
tornar a implementação da educação inclusiva na cultura da diversidade.
Quanto aos desafios do professor/psicopedagogo na Educação Inclusiva,
percebeu-se que o contexto da assistência educativa especial assumiu duas formas
de atuação profissional que podem ser assim percebidas: o capacitado que contribui
de modo somático para o processo de ensino e o especialista que, além de poder
lidar com o educando com necessidades educacionais especiais está apto para dar
o direcionamento que este necessita em seus aspectos individuais.
Quanto a essa dualidade formativa, Santos (2002) enfatiza que o foco central
da perspectiva de formação na educação especial deverá ser direcionado para a
preparação de especialista, instrumentalizando-os para a “correção” ou
compensação dos desvios. É fundamental que domine ferramentas e meios próprios
de intervenção na área onde se localiza o aspecto especial do sujeito da
aprendizagem.
Corroborando com estes aspectos Xavier e Canen (2008) sinalizam que os
caminhos formativos em educação especial se direcionam para um nicho de
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mercado amplo e diversificado, onde cada profissional delimita sua área de atuação:
surdos, mudos, deficientes visuais, deficientes mentais, superdotados, etc.
Responder às necessidades educacionais de cada aluno é uma condição
essencial para uma prática educacional inclusiva e cabe ao docente se adequar aos
diferentes elementos curriculares, de forma a atender as peculiaridades de cada um
e de todos os alunos. Há que se flexibilizar o ensino, adotando-se estratégias
diferenciadas e adequando a ação educativa às maneiras peculiares dos alunos
aprenderem, sempre considerando que o processo de ensino e de aprendizagem
pressupõe atender à diversificação de necessidades dos alunos na escola
(ARANHA, 2000; FREITAS, 2008).
Sendo assim,
O atual e grande desafio posto para os cursos de formação de professores é o de produzir conhecimentos que possam desencadear novas atitudes que permitam a compreensão de situações complexas de ensino, para que os professores possam desempenhar de maneira responsável e satisfatória seu papel de ensinar e aprender para a diversidade. Para tanto, faz-se necessário elaborar políticas públicas educacionais voltadas para práticas mais inclusivas, adequar a formação de professores às novas exigências educacionais e definir um perfil profissional do professor, ou seja, habilidades e competências necessárias aos professores de acordo com a realidade brasileira. Essas parecem ser, hoje, medidas urgentes a serem adotadas para que ocorra uma mudança no status da educação inclusiva (PLETSH, 2009, p. 142).
Mas apesar dessas questões, nota-se que a área da educação inclusiva é
uma área em expansão, com um amplo e pleno campo aberto para novas
possibilidades para os profissionais de educação, inclusive vinculadas não apenas
ao processo de ensino, como também, no processo de gestão.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo fez uma análise sobre a produção científica relativa ao papel do
professor/psicopedagogo na educação inclusiva, enfatizando os desafios e
perspectivas deste profissional.
No que se refere aos resultados da pesquisa realizada, notou-se os seguintes
aspectos: os autores acreditam que a Constituição Federal de 1988, foi decisiva
para consolidação do processo de implementação das políticas educativas
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vinculadas a educação especial e vêem a educação especial como algo necessário
e de importante valor na valorização dos indivíduos e no respeito a diversidade.
No campo profissional, a educação inclusiva é uma área de grande valor
agregado para o campo educacional, tendo em vista o leque de possibilidades
formativas na educação especial. No entanto, o principal desafio ainda emerge na
construção de uma prática educativa que assuma o compromisso real com a
educação inclusiva.
A ludicidade tem-se apresentado como uma ferramenta pedagógica
fundamental a ser incluída nos currículos escolares, tendo em vista que a atividade
lúdica representa a possibilidade da criança externar seus sentimentos, externar
suas representações acerca da realidade vivida, ajuda na capacidade de criação e
no estabelecimento e assimilação de valores.
No cenário atual em que a humanidade está inserida, não há mais espaços
para se pensar no processo educativo como algo coadjuvante de políticas elitistas, e
muito menos, acreditar no desenvolvimento das nações sem repensar os valores e o
respeito à diversidade. Nesse sentido, é preciso repensar e analisar se realmente
nossas bases de educação formativa estão adequadas para atender o contexto da
pluralidade de signos, significados, condições, culturas, estados sociais,
econômicos, físicos e de valores humanos.
Promover a educação inclusiva é, portanto, respeitar acima de tudo, a
dignidade humana!
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