artigo leitura

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FACULDADE DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E TEOLOGIA DO NORTE DO BRASIL - FACETEN PÓS - GRADUAÇÃO LATU SENSO JANIRES DA SILVA PEREIRA MARIA EDILENE COSTA DA SILVA A LEITURA PROPICIANDO O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO NAS SÉRIES INICIAIS.

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Page 1: Artigo   leitura

FACULDADE DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E TEOLOGIA DO NORTE DO BRASIL - FACETENPÓS - GRADUAÇÃO LATU SENSO

JANIRES DA SILVA PEREIRA

MARIA EDILENE COSTA DA SILVA

A LEITURA PROPICIANDO O

DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO NAS SÉRIES

INICIAIS.

BOA VISTA/RROUTUBRO/2012

Page 2: Artigo   leitura

JANIRES DA SILVA PEREIRA1

MARIA EDILENE COSTA DA SILVA2

A LEITURA PROPICIANDO O

DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO NAS SÉRIES

INICIAIS.

.

Artigo apresentado ao Centro de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil - FACETEN, como requisito para obtenção do Título de Especialista Lato Senso.

Boa Vista2012

A LEITURA PROPICIANDO O 1 Graduada em Pedagogia pela Faculdade Roraimense de Educação Superior – FARES/RR2 Graduada em Pedagogia pela Faculdade Roraimense de Educação Superior – FARES/RR

Page 3: Artigo   leitura

DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO NAS SÉRIES INICIAIS.3.

RESUMO

Reconhecer a importância da leitura e incentivar a formação do hábito de ler na idade em que

todos os hábitos se formam, isto é, na infância, é o que este artigo vem propor. Neste sentido,

o incentivo ao hábito de ler na infância através da leitura de histórias é um caminho que leva a

criança a desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa e

significativa. O presente estudo inicia com um breve histórico da leitura e suas concepções e

apresenta conceitos de linguagem e leitura, enfoca a importância de ouvir histórias e do

contato da criança desde cedo com o livro e finalmente esboça algumas estratégias para

desenvolver o hábito de ler.

Palavras-chave: Leitura, Desenvolvimento da criança, Hábito de leitura.

3 Artigo apresentado ao Centro de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil - FACETEN, como requisito para obtenção do Título de Especialista Lato Senso.

Page 4: Artigo   leitura

ABSTRACT

Recognizing the importance of reading and encouraging the formation of the habit of reading

at an age when all habits are formed, in the childhood, is what this article proposes. In this

sense, encouraging reading habit in children by reading stories is a path that leads the child to

develop imagination, emotions and feelings so pleasurable and meaningful. These studies

begins with a brief history of reading and introduces concepts and their conceptions of

language and reading, focuses on the importance of listening to stories and contact the child

early on with the book and finally outlines some strategies to develop the habit of reading.

Keywords: Reading, Child Development, Reading Habit.

.

INTRODUÇÃO 

Page 5: Artigo   leitura

Muito se tem discutido a respeito do processo de leitura e escrita. Na tentativa de

explicar como se constitui sua aquisição na escola, o que pensam os educadores e a criança

sobre esse objeto e quais os fatores que contribuem para o fracasso na e da escola, muitos

autores têm elaborado questões que tornam possível repensar a prática escolar.

Uma das formas de recreação mais importante para a criança, principalmente no que

se refere ao seu desenvolvimento e crescimento intelectual, psicológico, afetivo e espiritual é

a leitura.

A literatura infantil, como meio de comunicação e modalidade da leitura, também é

um dos mais eficientes mecanismos de recreação e lazer, servindo como um método prático

de terapia educacional.

Vivemos em uma sociedade altamente letrada, onde o domínio da leitura é uma

atividade de vital importância para o sucesso na vida de qualquer pessoa. É por meio dela que

conseguimos compreender e interagir com o mundo a nossa volta. O bom domínio da leitura

nos permite realizar com desenvoltura as atividades que colaboraram para o nosso

crescimento pessoal e intelectual e ainda capacita-nos a agir de forma ativa e critica na

sociedade em que vivemos.

A leitura infantil é um dos fatores básicos para a criança buscar a sua realização

como pessoa humana, incumbindo às novas gerações uma grande responsabilidade quanto à

mudança de concepção ideológica, de maneira a que o hábito da leitura seja propugnado

desde a mais tenra idade, contribuindo em sua formação sob todos os aspectos.

1 O ATO DE LER X FAZER LEITURA

Page 6: Artigo   leitura

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, afirmou Paulo Freire, na obra

intitulada A Importância do Ato de Ler (1988). Com essa afirmação, Freire revela que o

mundo que se movimenta para o sujeito em seu contexto pode ser diferente do mundo da

escolarização. Dessa forma, a leitura das palavras na escolarização, ou de sua escrita, de nada

implicaria na leitura da realidade.

Fazer os alunos lerem com eficiência sempre foi um desafio para pais e professores.

Muitas pessoas encaram a leitura como simples decodificação de palavras. Muitos professores

reclamam da dificuldade que seus alunos apresentam na hora de se trabalhar a leitura, mas

este problema é mais comum e corriqueiro do que se imagina. Muitas crianças tem verdadeira

aversão à leitura por não conseguirem depreender o sentido do texto e acabam por ficarem

cada dia mais desmotivadas em relação ao ato de ler, principalmente a leitura que é imposta

pela escola.

Freire se preocupava com os “textos”, as “palavras” e as “letras” daquele contexto

em que a percepção era experimentada pelo aluno. E notou que quanto mais “codificava” a

leitura dessa realidade, mais aumentava a capacidade do indivíduo de perceber e aprender. O

que resultava em uma série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão acontecia por

meio da relação com o concreto e com os pares.

Esse processo de leitura organizado por Freire, denominado como o “ato de ler”,

busca a percepção crítica, a interpretação e a “reescrita” do lido pelo indivíduo. Tal

abordagem nos mostra que, o que antes era tratado e realizado de forma autoritária, agora é

concebido como “ato de conhecimento”.

O papel do educador nessa proposta é de suma importância, bem como a coerência

entre o que o educador proclama e sua prática. Pois “não é o discurso que ajuíza a prática,

mas a prática que ajuíza o discurso”, afirma Freire.

Contudo, podemos observar os desafios do texto sem contexto, e dos esforços que

levam ao sentido de uma correta compreensão do que é a palavra escrita, a linguagem, as

relações com o contexto de quem fala, de quem lê e escreve e, portanto, da relação entre

“leitura” do mundo e leitura da palavra.

Todavia, para que isso seja entendido, deve-se, primeiro, entender o processo de

leitura em seu íntimo; como ele se desenvolve; os caminhos que podem tomar e sua relação

com o leitor, que irá determinar como essa ideia será entendida e transmitida a outrem.

"fazer a leitura" de um gesto, de uma situação; "ler a mão", "ler o olhar de alguém", "ler o tempo", "ler o espaço", indicando que o ato de ler vai além da escrita (MARTINS, 2007, p.7)

Page 7: Artigo   leitura

Partindo dessa reflexão, tem-se uma visão de leitura em dois caminhos: o primeiro

seria a visão do leitor como um decodificador dos códigos linguísticos, ou seja, o indivíduo

que é capaz de decifrar o que está no papel na forma de códigos linguísticos, sendo isso o que

bastaria para se fazer a leitura. O segundo ponto de vista seria o da leitura global: o indivíduo

capaz de ler não só os códigos da língua, mas também de identificar as nuances e alterações

que acontecem a sua volta.

2 ORIGEM E IMPORTÂNCIA DA LEITURA

Desde os primórdios da civilização o homem busca habilidades que lhe tornem mais

útil à vida em sociedade e que lhe possam tornar mais feliz. A criação de mecanismos que

possibilitassem a disseminação de seu conhecimento tornava-se um imperativo de

saber/poder, que ensejava respeito e admiração pelos companheiros de tribo.

Daí o surgimento das inscrições rupestres, simbologia, posteriormente e num estágio

mais avançado das civilizações, os hieróglifos e as esculturas que denotavam sua própria e

mais nobre conquista: a conquista de ser.

Nesse contexto surge a escrita e a leitura como imanentes à própria história da

civilização.

A criação dessa disponibilidade que chamamos escrita e leitura criam outras

disponibilidades, pois ela é a básica, dela provêm as demais. Através da leitura e da escrita o

homem conseguiu estreitar os laços de afetividade com seus semelhantes, harmonizar os

interesses, resolver os seus conflitos e se organizar num estágio atual da civilização, com a

abstração a que nominamos “Estado”. O homem se organizou politicamente.

Mas voltando-nos ao campo do conhecimento humano, que é o que por ora nos

interessa, o mito poético que sempre embalou o homem, a fantasia dos deuses, descortinaram

as portas do saber, originando a busca da informação, do saber humano, do seu prazer.

Com o desenvolvimento da linguagem, a força das mensagens humanas aperfeiçoou-

se a tal ponto ser imprescindível à sua própria existência. A busca do conhecimento tornou-se

imperativa para novas conquistas e para o estabelecimento do homem como ser social, como

centro de convergência de todos os outros interesses.

Na busca desse conhecimento, que se perpetua ao longo da história da civilização,

percebe-se que quanto mais cedo o homem iniciar, mais cedo germinarão bons resultados. Ou

Page 8: Artigo   leitura

seja, a infância como uma fase especial de evolução e formação do ser, deve despertar-lhe

para este mundo, o mundo da simbologia, o mundo da leitura.

3 A ESCOLA E A LEITURA

3.1 Os Objetivos da Leitura na Escola

No que se refere à Escola e aos objetivos da leitura ou ao “Para que ler na escola?”,

pode-se afirmar que ainda não existe nos currículos conhecidos e analisados, uma

concretização de um pressuposto geral básico, qual seja o da articulação entre a função social

da leitura e o papel da escola na formação do leitor.

“A escola precisa ser um espaço mais amplamente aberto a todos os

aspectos culturais do povo, e ir além do ensinar a ler e a fazer as

quatro operações. Precisa investir em bons livros, considerando que a

cultura de um povo se fortalece muito pelo prazer da leitura; e a escola

representa a única oportunidade de ler que muitas crianças têm”.

(BRAGA, 1985, P.7)

O conceito básico de leitura, nesse contexto, passa ser então a “produção de sentido”.

Essa produção de sentido, por conseguinte, é determinada pelas condições socioculturais do

leitor, com os seus objetivos, seus conhecimentos de mundo e de língua, que lhe possibilitarão

a leitura.

“É necessário propiciar nas salas de aula e na biblioteca a dinamização

da cultura viva, diversificada e criativa, que representa o conjunto de

formas de pensar, agir e sentir do povo brasileiro.”

(BRAGA, 1985, P.7)

Nesse sentido, a construção do conhecimento, segundo entendimento de alguns

autores como elemento principal, se efetivará pelo hábito da leitura, uma vez inserida e

enfatizada no contexto escolar. Afinal, é principalmente através da leitura que os alunos

poderão encontrar respostas aos seus questionamentos, dúvidas e indagações, mormente no

que concerne aos caminhos por onde permeiam na construção do seu conhecimento, e não

apenas vinculados e adstritos a uma metodologia tradicional.

3.2 A Importância da Escola na Formação de Leitores

Page 9: Artigo   leitura

Numerosos estudos nos fazem supor que os livros preparados para a infância

remontam ao final do século XVII. Antes disso, as crianças, vistas como adultos em

miniatura, participavam desde a mais tenra idade, da vida adulta.

Naqueles tempos não havia histórias dirigidas especificamente ao público infantil,

pois a infância, enquanto período de desenvolvimento humano, com particularidades que

deveriam ser respeitadas, inexistia.

As profundas transformações ocorridas no âmbito social e econômico,

principalmente com o advento do Capitalismo e da Supremacia burguesa, fizeram com que

surgisse uma nova organização familiar e educacional, na qual a criança passou a ocupar um

espaço privilegiado. Com intuito de capacitar cidadãos a fim de enfrentar um mercado de

trabalho tão competitivo já naquela época, tornava-se imperioso o preparo eficiente das

crianças para o trabalho e, consequentemente, para um desenvolvimento social sustentável.

Nesse sentido, reorganiza-se a Escola para que a atenda às novas exigências,

repensando-se todos os produtos culturais destinados a infância e, dentre eles, especialmente o

livro.

A Escola há que estar atenta para a formação do leitor, conforme Eriche Fromm “o

elemento básico da cultura, a linguagem, é a precondição de qualquer realização humana”.

Nesse desiderato a Escola deve estar atenta à esta concepção da leitura como fonte do

conhecimento e de sua responsabilidade na formação do leitor.

Surge assim a Literatura Infantil, criada com uma concepção ideológica compro

metida com um destinatário específico: a criança, embora persistissem resquícios ideológicos

amalgamados à transmissão de valores da sociedade então vigente.

Com o passar dos tempos e com o surgimento de novos autores, os livro infantis vão

gradativamente sofrendo transformações e promovendo, através da disseminação de uma

leitura prazerosa e ao mesmo tempo vinculada à construção do conhecimento, um

alargamento vivencial para as crianças.

Nesta direção, a Escola, como espaço socializador do conhecimento, fica com a

tarefa primordial de assegurar aos seus alunos o aprendizado da leitura, devendo fazer

circular em seu meio uma diversidade de materiais, com conteúdos ricos e variados, que

promovam a formação de leitores livres. Concebe-se assim, a prática da leitura, não como

habilidades linguísticas, mas como um processo de descoberta e de atribuição de sentidos que

venha possibilitar a interação leitor-mundo. Conforme FREIRE (1996): “(...) O ato de ler não

se esgota na decodificação pura da palavra escrita (...). A leitura do mundo precede a leitura

da palavra.”.

Page 10: Artigo   leitura

Por esta perspectiva, é oportuno reforçar a assertiva de que o professor deve

selecionar diferentes tipos de textos, literários ou não, que projetem a vida contemporânea do

local onde os alunos estão inseridos, bem como de outros lugares e tempos, os diversos pontos

de vistas, estimulando discussões, reflexões e confrontos entre os alunos.

“Se educar é preparar para a vida, despertar a consciência,

compreender e transformar a realidade, então a leitura só pode ser

compreendida numa perspectiva crítica. Ler criticamente é admitir

pluralidade de interpretação, desvelar significados ocultos, resgatar a

consciência do mundo, estabelecendo, por meio dela, uma relação

dialética com o texto.” (INDURSKY e ZINN. 1985. p. 23)

Tornar o ambiente escolar e o livro objetos “amigos” do aluno, oportunizando o

contato com o belo, com o imaginário e com a arte da palavra, são condições que reforçarão o

estabelecimento do hábito de ler por prazer e entretenimento. Alcançados tais objetivos, os

demais propósitos referentes a relevância da leitura, virão como consequência.

4 NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE LEITURA

Um problema apontado por Daniel Pennac (1993: p. 13) é a forma como a leitura é

imposta aos alunos, segundo ele "o verbo ler não suporta o imperativo", ou seja, ler só porque

se é obrigado não garantirá que o leitor irá realizar a leitura com eficiência, o mais provável é

que a criança crie aversão ao ato de ler. Outro entrave à leitura apontado por Pennac é a

concorrência com os meios de comunicação em massa, sobretudo a televisão.

Muitos autores tentam conceituar o que é leitura, Leffa (1996, p. 17-18), por

exemplo, ao indicar uma definição do que seja a leitura, afirma que a leitura é um processo

feito de múltiplos processos, que ocorrem tanto simultânea como sequencialmente; esses

processos incluem desde habilidades de baixo nível, executadas de modo automático na

leitura proficiente, até estratégias de alto nível, executadas de modo consciente.

Diante do exposto percebemos que a leitura envolve múltiplos processos que vai

desde a decodificação das letras e palavras até a escolha de estratégias de leitura. Além disso,

a atividade leitora vai além da percepção da página impressa pelos olhos, ela deve ativar o

conhecimento prévio do aluno em relação a determinado assunto.

Page 11: Artigo   leitura

“A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela

utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele

já sabe o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a

interação de diversos níveis de conhecimento como o conhecimento

lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue

construir o sentido do texto..” (KLEIMAN, 1993 p. 13)

Nem todos os profissionais conhecem as teorias a respeito da leitura e acabam por

trabalhar de forma inadequada repetindo antigas fórmulas e velhos "erros", escolhendo textos

inadequados para seus leitores. Antunes (2007, p.157) afirma que (...) aceitar as concepções

da linguagem – como atividade funcional, interativa, discursiva e interdiscursiva, como

prática social situada e imersa na realidade cultural e histórica da comunidade – acarreta

visíveis diferenças na vida da escola, conseqüentemente, no desempenho de professores e

alunos.

Nestas novas concepções a língua deixa então de ser vista como mero depositário de

regras para se tornar como instrumento de interação e comunicação. Escolher um texto

aleatoriamente sem considerar o conhecimento de mundo dos leitores pode não só tornar a

leitura mais difícil como também não imprimir nenhum sentido na mente daquele que ler. Isso

não significa que se deve limitar o conteúdo lido ao conhecimento prévio do aluno, uma

interessante alternativa seria antes de uma leitura mais complexa fornecer aos alunos o

conhecimento necessário para a compreensão de determinado texto. Pode-se começar a aula

questionando o que os alunos sabem sobre o assunto que será tratado no texto. Esse tipo de

abordagem serve não só para o educador conhecer o que os leitores já sabem sobre

determinado assunto como também permitir uma interação entre o conhecimento de vários

indivíduos; essa troca de embromações com certeza será de vital importância para a execução

da leitura que poderá ser feita em seguida à discussão ou noutra ocasião, ou ainda ser

descartado o texto escolhido caso os alunos não tenham nenhum conhecimento ou interesse

sobre o assunto escolhido pelo professor.

5 A LEITURA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO E PRAZER

A escola, espaço que convencionamos como sendo específico e privilegiado do

saber, no que concerne à leitura, precisa rever suas práticas, mormente diante de leituras

impostas em salas de aulas onde faz imperar um dualismo: de um lado algumas escolas que,

ao pretenderem uma rápida atualização com o presente, assimilam o novo sem a devida

Page 12: Artigo   leitura

reflexão utilizando inadequadamente instrumentos modernos de ensino e tornando seus

leitores passivos diante de imagens efêmeras. Em contraposição, outras escolas utilizam

textos fragmentados de manuais didáticos como único meio auxiliar para a leitura,

objetivando o trabalho de unidades curriculares como mera fixação e memorização de

conteúdos, quase sempre aleatórias à realidade dos alunos.

Esta antinomia existente em tais práticas de leitura estão longe de resgatar a história

do conhecimento humano, de estimular o pensamento ou induzir o aluno ao prazer em ler.

Neste sentido, esta ambiguidade da prática educativa tornam os alunos alheios a

realidade que os circundam, tornando-os vulneráveis a dominação de uma minoria que pensa

e se mantêm bem informados. Parte-se então do pressuposto que a prática da leitura significa

a possibilidade de domínio através de um instrumento de poder, chamado linguagem formal,

pois é desta forma que estão escritas as leis que regem nosso país, e assim perceber os direitos

que se tem, o direito das elites que, com um discurso ideológico em prol da liberdade e da

justiça, os mantêm na condição de detentores do Poder

Manter grande parte da população escolar perto do alcance desta linguagem formal,

este é o grande desafio, a fim de que, com uma visão crítica e reflexiva e através do

discernimento, não se permita a perpetuação de sua condição de dominados.

“(...) a leitura aparece também como um instrumento de conquista de

poder por outros atores, antes de ser meio de lazer ou evasão. O

“acesso a leitura” de novas camadas sociais implica que leitura e

produção de texto se tornem ferramentas de pensamento de uma

experiência social renovada; ela supõe a busca de novos pontos de

vista sobre uma realidade mais ampla, que a escrita ajuda a conceber e

a mudar, a invenção simultânea e recíproca de novas relações, novos

escritos e novos leitores. Nesse sentido torna-se leitor pela

transformação da situação que faz que não se o seja.”.

(FOUCAMBERT 1994, p. 121)

Faz-se necessário que as escolas revejam as condições restritas impostas ao ensino da

leitura. Entretanto mudar as condições de produção da leitura na escola não significa apenas

alterar os instrumentos de sua codificação e decodificação, vai muito mais além:

“(...) o ato de ler não se esgota da decodificação pura da palavra

escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na

inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da

Page 13: Artigo   leitura

palavra (...) linguagem e realidade se prendem dinamicamente.”

(FREIRE, 1997, p. 11):

Exige-se da escola, principalmente, o redimensionamento de todo o trabalho

educativo que engloba: ousadia, seleção de materiais variados, espaço para socialização,

respeito a opiniões divergentes, enfim novas propostas de trabalhos pedagógicos com leituras

críticas e variadas.

Reafirmamos que o exercício e prática da leitura transcendem ao uso de materiais

como meios auxiliares de ensino, empregados como modismos em sala de aula ou como

atividades ligadas a lição e a intenção didática instrucional.

Além da leitura como informação e, consequentemente, como fonte de acesso ao

conhecimento e ao poder, o mais importante é a capacidade de se aliar isso ao prazer e

entretenimento, pois é de se deduzir, por essa linha de pensamento que, a contrária sensu, o

prazer na prática da leitura levará automaticamente o leitor ao conhecimento.

Assim, a leitura singular dos livros didáticos deve ceder espaço aos livros de

literatura infantil, jornais, revistas, gibis, bulas de remédios, receitas caseiras, etc., que fazem

parte dos objetos de uso cotidiano, articulado a uma leitura significativa e, portanto,

compreensiva e mais agradável como processo pedagógico.

A realização destas propostas pedagógicas, como alternativas e complementares,

poderá estimular nos alunos a vontade e o prazer da leitura.

Há muito a se discutir, refletir e pesquisar para que se consiga concretizar de maneira

efetiva, nas salas de aula, esta audaciosa proposta. Para isso, se faz necessária uma mudança

na postura dos educadores e também da consciência de que, como enfatizamos nos capítulos

iniciais, exigirá a quebra de alguns paradigmas no processo educativo.

Trata-se de um primeiro passo e de um grande desafio: romper barreiras para melhor

ensinar, visando, sobretudo, uma educação que permita ao aluno o exercício pleno de sua

cidadania e o seu desenvolvimento como pessoa humana através do hábito de ler, não apenas

como fonte de conhecimento, mas também como informação e prazer!

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Page 14: Artigo   leitura

Falar sobre a leitura sempre será um desafio, muita coisa já foi dita e muita coisa

ainda há por se dizer. Mas não se pode deixar de dizer que muitos avanços há na área, cabe,

porém aos futuros professores e os já atuantes tomarem posse desses conhecimentos e por em

prática, na sala de aula o que as novas concepções de leitura e educação sugerem.

O trabalho contextualizado e eficaz nas séries iniciais e principalmente na educação

infantl são importantes, mas não se pode esquecer que muitos dos problemas enfrentados no

início da escolarização acabam se perpetuando até o final do Ensino Médio. Ao repensar o

ensino de leitura, deve-se ir além dos problemas enfrentados no Ensino Fundamental I e

entender que, principalmente, o professor de português, mas não apenas ele deve estar atento

à importância e relevância da leitura na sala de aula, e que a mesma deve exceder e muito aos

textos do livro didático, frente à infinidade de gêneros existentes do cotidiano da sociedade

Letrada.

REFERÊNCIAS

Page 15: Artigo   leitura

ANTUNES, Irandé. Muito Além da gramática. Por um ensino de línguas sem pedras

no caminho. São Paulo. Parábola. 2007.

BRAGA, Maria Lucia; SILVEIRA, Maria Helena. Revista de Estudos Regionais e

Urbanos. Vol. III, Rio de Janeiro, 1985.

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa /Secretaria de

Educação Fundamental. Brasília, 1997. Disponível em:

< http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf >Brasília:144p. acesso em:

09/12/2012.

FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22

ed. São Paulo: Cortez, 1988.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.

Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.

Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

FOUCAMBERT, Jean (1994). A Leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas

INDURSKY, F. e ZINN, M.A.K (1985). Leitura como suporte para produção

textual. In: Trabalhos em Linguística Aplicada. KOCH, I.G.V. (1997).

KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura. Campinas, SP: Pontes, 1993.

KLEIMAN, Ângela. TEXTO E LEITOR: Aspectos cognitivos da leitura. Campinas,

SP: Pontes, 2000

LEFFA. Vilson. Aspectos da leitura. Porto Alegre: Sangra – Luzzatto, 1996.

MARTINS, Maria Helena: O que é leitura. Revista Educar. Rio de Janeiro, 1º de

março de 2007.

PENNAC, Daniel. Como um romance. Trad. Leny Werneck. Rio de Janeiro: Rocco,

1993.