artigo - mensuração do retorno social de organizações sem fins lucrativos por meio do sroi

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  • 7/23/2019 Artigo - Mensurao Do Retorno Social de Organizaes Sem Fins Lucrativos Por Meio Do SROI

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    Mensurao do Retorno Social de Organizaessem Fins Lucrativos por meio do SROI

    Social Return On InvestimentCleberson Luiz Santos de Paula 1

    Haroldo Guimares Brasil 2

    Poueri do Carmo Mrio 3

    ResumoEste estudo avaliou a capacidade de mensurao do resultado social com base em

    demonstraes financeiras de organizaes sem fins lucrativos, considerando a importnciade mensurar e evidenciar esse resultado, sob vrios aspectos, especialmente em relao captao de recursos. Devido falta de indicadores que possibilitem a mensurao doretorno social para cada recurso arrecadado e gerido pelas organizaes sem fins lucrativos,utilizou-se a metodologia SROI como instrumento de avaliao e mensurao dodesempenho da gesto dessas organizaes. Foram analisadas as DemonstraesFinanceiras de duas organizaes sem fins lucrativos, atuantes na rea hospitalar. Aps apesquisa, foi possvel identificar vantagens e limitaes dessa metodologia (SROI). Entreas vantagens, destaca-se a identificao do valor da causa social, ou, o valor do benefciogerado sociedade por meio da prestao de servios gratuitos, e a separao entre valor

    econmico e valor social. Dentre as limitaes, destaca-se a no considerao pelametodologia dos recursos arrecadados de doaes e a no utilizao do valor da imunidadetributria em comparao aos benefcios gerados sociedade.

    Palavras-chave: Terceiro Setor; Resultado Social; SROI.

    1 Mestre em Administrao de Empresas. Mestrando em Cincias Contbeis UFMG. Professor da Univer-sidade Salgado de Oliveira. Tel: (31) 9814.2538. E-mail: [email protected]

    2 Doutor em Economia. Professor da Faculdade de Cincias Humanas de Pedro Leopoldo e do Ibmec MG.E-mail: [email protected]

    3 Doutor em Cincias Contbeis. Professor Adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais.Tel: (31)3409.7267. E-mail: [email protected]

    Nota: este artigo foi aceito pela Editora Cientfica Jacqueline Veneroso Alves Cunha e passou por uma

    avaliao double blind review.

    Revista Contabilidade Vista & Revista, ISSN 0103-734X, Universidade Federal deMinas Gerais, Belo Horizonte, v. 20, n. 3, p. 127-155, jul./set. 2009.

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    Artigo recebido em: 12/03/2009 Artigo aceito em: 20/06/2009 Segunda verso aceita em: 08/07/2009

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    1. IntroduoSegundo Olak e Nascimento (2008), as organizaes sem fins lucrativos

    vm desempenhando funes cada vez mais amplas e relevantes na sociedademoderna. O crescimento desse setor torna-se mais perceptvel e pode serexplicado pela deficincia do setor pblico, gerando uma crise que reduz a

    destinao de recursos para diversas reas sociais, pela conscientizao dapopulao quanto a esta deficincia e crise, fazendo com que o trabalho vo-luntrio evolua-se, e pela conscientizao do setor privado com a responsa-

    bilidade social, fazendo com que muitas empresas desse setor destinem re-cursos para as organizaes sem fins lucrativos, em forma de doao eexecuo de projetos sociais.

    As organizaes sem fins lucrativos desenvolvem diversas atividades,como as beneficentes, filantrpicas, culturais, educacionais, cientficas, etc.,

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    AbstractThis study assessment the measurement capacity of social return in the financial statementof non-profitable organizations, can be consider as an important factor of grasping financialresources. Due to the lack of indicators that enable the measurement of social return to eachresource collected and managed by non-profitable organizations, used of the methodology

    SROI as an instrument of evaluation and measurement of the performance of managementon these organizations. Were analyzed the financial statements of two non-profitableorganizations, acting in the medical area. After the study it was possible to identifyadvantages and limitations of the methodology (SROI). Among the advantages can benoticed the identification of the value of the social cause, or, the value of the benefitgenerated to the society through free services and the separation between economical andsocial values. Among the limitations can be noticed the non-consideration on themethodology from resources collected through donations and the no use of the tax exemptin comparison to the benefits generated to the society.

    Keywords: Third Sector; Social Return; SROI.

    Measurement the Social Return of Non-ProfitableOrganization`s through SROI

    Social Return On Investiment

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    alm de outros servios, objetivando sempre a consecuo de fins sociais.De um extremo ao outro do mundo, so inegveis as aes voluntriasorganizadas via associaes, fundaes e instituies similares, contribuindo

    para o desenvolvimento econmico, social e poltico das naes, realizandoinmeras atividades deixadas sob a responsabilidade do Estado, ainda noatendidas por ele.

    Como consequncia do crescimento das organizaes sem fins lucrativose do grande nmero de projetos na rea assistencial, essas organizaesnecessitam de recursos financeiros que so aportados tanto por entidadesfinanciadoras como doaes voluntrias. Em ambos os casos, visando transparncia das atividades geridas por estas organizaes, necessrio que

    estas divulguem seus nmeros de desempenho.Devido falta de indicadores que possibilitem a mensurao do

    retorno social para cada recurso arrecadado e gerido pelas organizaes semfins lucrativos, o estudo da aplicao da metodologia SROI Social ReturnOn Investiment nessas organizaes presume que este seria um dos meiosde evidenciar e compreender o seu resultado dessa metotologia.

    Nesse sentido, o presente estudo visa demonstrar como a metodologia

    SROI Social Return On Investiment pode contribuir na avaliao emensurao do desempenho da gesto das organizaes sem fins lucrativos.Especificamente, pretendeu-se identificar a formao de resultados das orga-nizaes estudadas buscando a segregao em: Econmico, Social e Socio-econmico; identificar as vantagens e limitaes da metodologia SROI;sugerir um conjunto de informaes em relatrios que seja, efetivamente,aplicvel e necessrio a organizaes sem fins lucrativos, para uma melhormensurao e evidenciao do desempenho da gesto.

    Primeiramente, sero abordadas as definies e contextualizao doTerceiro Setor, bem como suas reas e atuao. Posteriormente, ser abordadoo Resultado Econmico e a descrio da Metodologia SROI. Desta forma,ser possvel apresentar a metodologia do trabalho, analisar e discutir osresultados encontrados e apresentar as consideraes finais.

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    2. Referencial Terico

    2.1. Terceiro Setor e seu Contexto

    Analisando como se organiza a sociedade, v-se que existe uma infi-nidade de organizaes diferentes, com diferentes objetivos e diferentes

    pessoas. So organizaes to diversas quanto um rgo pblico, uma em-presa transnacional e uma pequena empresa. Apesar desta grande diversi-dade, as organizaes podem ser classificadas segundo a natureza de suasatividades, em um modelo de trs setores. Coelho (2000) descreve os trssetores da seguinte forma: (1) Governo ou Primeiro Setor; (2) Mercado ou

    Segundo Setor; e (3) Terceiro Setor; este ltimo formado por instituiescujas atividades no so coercitivas, ou seja, possuem toda liberdade deatuao, porm seu objetivo no est ligado ao lucro, mas sim ao atendi-mento das necessidades coletivas.

    Coelho (2000, p. 40) torna clara a compreenso da diferena de escopoentre o Governo e o Terceiro Setor, que a distino entre o interesse pblicoe coletivo. Os interesses coletivos referem-se a um determinado grupo, ao

    passo que os interesses pblicos necessariamente dizem respeito a toda

    sociedade. Enquanto o Primeiro Setor representa os interesses de toda a so-ciedade, uma organizao do Terceiro Setor pode buscar atender s neces-sidades de um pequeno grupo, dentro de uma regio restrita.

    O Terceiro Setor vem ganhando cada vez mais importncia na so-ciedade, a partir da atuao das chamadas Organizaes No Governamen-tais (ONG`s). Trata-se de um conceito pouco preciso, porm amplamenteusado na sociedade. Landim (1993, p. 24) afirma que as ONGs situam-se

    justamente num ponto do caminho que vai da caridade personalizada aopblica governamental, no se confundindo com nenhuma das duas. OliveiraNeto (1992, apud LANDIM, 1993) mostra a importncia dessas organi-zaes como canais da classe mdia na esfera pblica, exercendo formas detraduo e rearticulao dos interesses e demandas populares nas arenasinstitucionais de confronto e negociaes sociais.

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    2.2. Conceituao do Terceiro Setor

    O termo Terceiro Setor diferencia as organizaes dos setores privadoe pblico. As organizaes do Terceiro Setor tratam de problemas sociais,

    buscando discuti-los ou resolv-los, ou seja, prestam servios de carterpblico, voltados para o interesse da sociedade (VILANOVA, 2004). SegundoFernandes (1997, p. 27),

    (...) o Terceiro Setor composto de organizaes semfins lucrativos, criadas e mantidas principalmente pelaparticipao voluntria, em um mbito no gover-namental, dando continuidade s prticas tradicionaisda caridade, da filantropia e do mecenato e expandindo

    o seu sentido para outros domnios, graas, sobre-tudo, incorporao do conceito de cidadania e de suasmltiplas manifestaes na sociedade civil. (...).

    De acordo com Marcovitch (1997, p. 121),

    (...) por desempenhar funo de interesse pblico,espera-se que a organizao do Terceiro Setor cultivea transparncia quanto ao seu portflio de projetos e,tambm, quanto aos resultados obtidos e os recursosalocados. O Diagnstico ex-ante e a avaliao ex-postconstituem instrumentos determinantes para o xito eo apoio a ser obtido em iniciativas futuras. Nessesentido, a preparao de relatrios de avaliao, e asua disseminao constituem importantes instrumen-tos de comunicao com a sociedade (...).

    Percebe-se nessa citao de Marcovitch a essncia da accountability.Conforme Nakagawa (1993), accountability a obrigao de prestar contasdos resultados obtidos, em funo das responsabilidades que decorrem deuma delegao de poderes.

    Salamon (1997, p. 106) diz que um dos maiores desafios das enti-dades do Terceiro Setor diz respeito sua sustentabilidade, principalmenteem termos financeiros, posto que muitas dessas organizaes foram criadascomo esforos pessoais e, medida que foram crescendo em escala ecomplexidade, deparou-se com vrios problemas de sobrevivncia, sobre-

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    tudo considerando-se que um maior nmero de organizaes tem que competirpara obter recursos cada vez mais escassos.

    No entanto, a finalidade principal de uma organizao sem fins lucrativos

    no o desenvolvimento de fundos, mas essa ao administrativa (desen-volvimento de fundos) deve ser considerada, pois dela depende sua susten-tabilidade, no podendo, no entanto, seus gestores preocuparem-se, exclu-sivamente, com a falta de recursos, pois poderia pr em risco a consecuode seus objetivos sociais.

    Em virtude do crescimento desse setor em nosso pas e de dificuldadespara a sua gesto, combinando com a cultura predominante de no se efe-tuarem doaes, por no se ter a dimenso exata do setor e por no ser

    verificvel (por potenciais doadores) a forma como os recursos aportadosnessas organizaes sero utilizados, que se afirma que a gesto dessasorganizaes deve estar baseada nas informaes preparadas pela contabili-dade, para que a mesma seja eficaz e sustente sua continuidade. Evidenciaras informaes pode ser ponto da maior relevncia para a obteno derecursos, novos ou renovados.

    2.3. reas de Atuao do Terceiro SetorHudson (1999, apudOLAK; NASCIMENTO, 2008) apresenta uma

    classificao para as organizaes do Terceiro Setor por tipo de atividade, aqual denominadaInternational Classification of Nonprofit Organizations- ICNPO. Esta classificao apresenta 12 grupos que dimensiona suas reasde atuao. Os grupos so: Grupo 1 Cultura e Recreao, Grupo 2 Educao e Pesquisa, Grupo 3 Sade, Grupo 4 Servios Sociais, Grupo5 Meio Ambiente, Grupo 6 Desenvolvimento e Habitao, Grupo 7

    Lei, Direito e Poltica, Grupo 8 Intermedirios Filantrpicos e Promoodo Voluntariado, Grupo 9 Atividades Internacionais, Grupo 10 Religio,Grupo 11 Associaes Profissionais e Sindicatos, Grupo 12 No seclassificam em outros grupos.

    Cada uma dessas reas possui caractersticas muito diferentes, de talforma que no possa existir forma de avaliao que no leve em conta essefato.

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    So entidades dos mais diversos tipos e realizam variados servios,sempre voltados para a sociedade, agindo, inclusive, em defesa do meioambiente.

    Szazi (2001) apresenta as formas jurdicas que devem seguir as orga-nizaes do Terceiro Setor no Brasil.

    Associao uma pessoa jurdica criada a partir da unio de ideiae esforos de pessoas em torno de um propsito que no tenhafinalidade lucrativa.

    Sociedade Civil sem Fins Lucrativos da mesma forma que asassociaes, so pessoas jurdicas formadas a partir da unio dosesforos de pessoas em prol de algum objetivo comum.

    Fundaes um conjunto de bens, com um fim determinado, quea lei d a condio de pessoa.

    A grande diferena, portanto, entre as associaes, sociedades civis eas fundaes o objeto cerca do qual elas se constituem, e quem respon-svel pela elaborao dos objetivos. Para as associaes/sociedades civis,trata-se da conjugao de vontades autnomas para chegar ao fim, em outras

    palavras, o meio so as pessoas e o fim por elas concebido. No caso das

    fundaes, a conjugao de bens para alcanar o fim. Nesse caso, o meioso os bens e o fim concebido pelo instituidor. O patrimnio no a pessoa

    jurdica em si, mas o objeto da organizao que se instituiu e constituiu (DINIZ,2000, p. 144).

    Outra denominao encontrada no Brasil, como os institutos, no possuiuma forma jurdica prevista em lei. Trata-se, apenas, de nomes que se uti-lizam sem grande diferenciao, para formas jurdicas que, obrigatoriamente,so de associao, de fundao ou de sociedade civil sem fins lucrativos.

    A distino entre as formas jurdicas importante porque elas possuemobrigaes diferentes perante a lei. Por exemplo, as fundaes so obrigadasa prestar contas sociedade de maneira muito mais detalhada que as asso-ciaes. Alm disso, essas prestaes de contas incluem verificar se os obje-tivos da organizao esto sendo cumpridos, tarefa que exige uma avaliaodo resultado social dessas organizaes.

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    2.4. Resultado Econmico Versus Resultado Social

    Quando se depara com a palavra resultado em uma anlise econ-mico-financeira, o foco volta-se para uma das demonstraes contbeis que

    a Demonstrao de Resultados do Exerccio, conhecida como DRE, a qualmede o resultado de uma empresa com fins lucrativos e, tambm, sem finslucrativos.

    Em relao ao uso da DRE, nas entidades do Terceiro Setor, BettiolJnior, Barbieri e Martins (2005, p. 5) concluem que: (...) no adequada

    para refletir a realidade fsico-operacional das instituies sem finslucrativos, consequentemente, dificultando o processo de transparncia e

    prestao de contas sociedade.

    Em nosso Pas, a estrutura da DRE a mesma tanto para entidadescom e sem fins lucrativos, tornando, assim, uma anlise e avaliao

    prejudicada para aquelas sem fins lucrativos, visto que o objetivo destas noest ligado, somente, ao desempenho econmico-financeiro, mas tambm,

    principalmente, aos benefcios sociais que foram gerados a partir dosrecursos captados.

    No caso especfico das entidades do Terceiro Setor, Olak e

    Nascimento (2008) mostram que a contabilidade ainda no consegueexplicar alguns fenmenos que ocorrem no patrimnio e nos resultadosdessas instituies. Um deles a mensurao e o reconhecimento das re-ceitas que, diferentemente do que ocorre nas empresas com fins lucrativos,no guardam proporo direta com o volume de servios prestados,

    principalmente, em funo do trabalho voluntrio e das doaes e sub-venes recebidas.

    Segundo Olak e Nascimento (2000), resultado econmico corresponde

    variao patrimonial em determinado perodo e a avaliao dodesempenho econmico da entidade pode ser expressa pela diferena entreos valores de seus patrimnios inicial e final. Para Catelli (2001, p. 72), oresultado econmico de uma empresa pode ser entendido como a variao

    positiva de sua riqueza entre dois momentos. Isto , refere-se ao incrementode sua riqueza e espelha, portanto, o aumento do seu patrimnio, emdeterminado perodo. Slomski (2005, p. 99) define resultado econmicocomo a

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    diferena entre a receita econmica e a soma dos custosdiretos/variveis e indiretos identificveis entidadepblica que a produziu. Neste caso, o conceito de re-ceita econmica definido pelo mesmo autor comosendo a receita no explicita na prestao de serviospblicos, e sua mensurao decorre da multiplicaodo custo de oportunidade que o cidado desprezou aoutilizar o servio pblico, pelos servios que a entidadetenha efetivamente executado.

    No caso especfico das entidades sem fins lucrativos, deve-se considerarque a misso da entidade a prestao de servios para o desenvolvimento

    do bem-estar social da coletividade e que se no existisse esse servio ocidado buscaria o menor preo de mercado para a contratao dos servios.

    Este custo de oportunidade pode ser conceituado, segundo Catelli (2001,p. 389), como sendo ao valor de determinado recurso em seu melhor usoalternativo. Representa o custo da escolha de uma alternativa em detrimentode outra capaz de proporcionar um maior benefcio, ou seja, o custo damelhor oportunidade a que se renuncia quando da escolha de umaalternativa.

    2.5. Metodologia SROI - Social Return On Investiment

    A metodologia SROI, que ser apresentada a seguir, foi desenvolvidapor uma fundao americana, The Roberts Enterprise Development Fund -REDF), com o objetivo de quantificar o valor econmico e social criadocom o investimento em organizaes sem fins lucrativos (REDF, 1996).

    Todo o trabalho desenvolvido por esta fundao teve, como princpio

    bsico, a tentativa de responder s seguintes perguntas: Como se mede o sucesso dos esforos de uma organizao sem finslucrativos?

    Para cada recurso investido, o que o benefcio resultante aos indi-vduos e sociedade?

    Como o investidor pode estar seguro que o recurso que ser inves-tido ser maximizado possibilitando a criao de valor?

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    Como se pode calcular o retorno social desses investimentos?

    De acordo com Arajo et al. (2005), o sucesso de uma entidade filan-trpica poderia ser medido por sua capacidade de arrecadar doaes ou pelo

    tamanho de seu ativo, no entanto, no existe relao direta entre a arrecadaoe o valor social gerado. importante ver a filantropia como um valor eco-nmico adicionado sociedade como resultado dos investimentos por caridade(doaes). Sob esta perspectiva, o benefcio gerado para a sociedade por uminvestimento filantrpico a medida de sucesso de tal investimento. Noentanto, o grande desafio comparar o valor monetrio investido com ovalor social gerado, devido dificuldade de tal valor social ser transfor-mado em unidades monetrias.

    O trabalho desenvolvido pela REDF teve seu incio com a discussodos conceitos bsicos de valor. Criao de valor para organizaes sem finslucrativos foi apresentada como uma ferramenta que deve ser analisada emtrs perspectivas: social, socioeconmico e econmico.

    O valor econmico criado a partir do retorno financeiro sobre uminvestimento. E quando se cita a expresso retorno financeiro, tem-se queconsiderar a remunerao do capital investido, ou seja, custo do capital

    prprio e de terceiros. A expresso criao de valor econmico muitoutilizada nas organizaes com fins lucrativos.

    O valor social criado quando a combinao entre recursos, insumos,processos ou polticas estratgicas possibilitam a gerao de melhorias navida dos indivduos e da sociedade. E quando se trata de organizaes semfins lucrativos, o valor social a misso e a razo de sua existncia. Masesta mensurao do valor social criado na gesto dos recursos eficientes amaior dificuldade dessas entidades, pois sua misso ou a razo de sua

    existncia est ligada e totalmente dependente do valor humano intrnseco.E desta forma, existem alguns fatores que no podem ser mensurados emvalores monetrios e que tm total relevncia no benefcio social gerado.

    O valor socioeconmico est situado entre os valores econmicos e osocial, ou seja, a criao do valor socioeconmico obtida na transfor-mao de recursos, insumos e/ou processos em produtos passveis de vendae pela gerao de receitas ou reduo de custos para o setor pblico.

    Mesmo com a definio dos valores explicitados antes, a REDF parte

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    do princpio que os benefcios auferidos pelo investimento social sempreincluiro impactos sociais que so impossveis de serem mensurados mone-tariamente ou de difcil quantificao.

    Buscando a identificao do valor criado pelos benefcios passveisde mensurao, a metodologia SROI fundamenta-se, principalmente, nadeterminao de um grupo de seis indicadores: valor econmico do negcio,valor econmico da causa social, valor da entidade (negcio com causasocial), ndice de retorno do negcio, ndice de retorno da causa social endice de retorno da entidade. Assim, SROI uma avaliao econmica deorganizaes sem fins lucrativos, ou seja, uma forma de avaliar o desem-

    penho, em termos de valor econmico gerado sociedade por estas organi-

    zaes; ela no tem uma frmula nica, mas sim um conjunto de indica-dores que possibilitam, a princpio, a mensurao do retorno social dosinvestimentos geridos por essas organizaes.

    Alm dos indicadores citados acima, a REDF sugere a publicao derelatrios com detalhamento do negcio, sua misso, seus projetos eabordagens do impacto gerado pelos investimentos efetuados, ou seja, pormeio desse relatrio possvel demonstrar os itens de difcil mensuraoeconmica. O relatrio, juntamente com os indicadores e os demonstrativos

    contbeis, completam-se, possibilitando aos usurios e interessados teremuma viso ampla do negcio, e consequentemente, dos benefcios geradoscom os recursos investidos.

    Para o clculo dos indicadores citados, so utilizados dados e ferramentastradicionais da contabilidade e de finanas.

    De acordo com Arajo et al. (2005), a metodologia SROI transformaa tradicional Demonstrao de Resultados do Exerccio em The True Cost

    Accounting Analysis - TCAA, ou seja, o verdadeiro valor para anlisecontbil. A diferena que esta ltima divide o resultado em atividade eco-nmica e atividade social, considerando o suporte ou subsdio conseguidocomo receita da atividade social. Assim, existe um resultado operacionalsem receitas ou custos sociais e um resultado completo com o subsdio e oscustos sociais. importante observar que tal adaptao vlida para asentidades que possuem receitas operacionais no provenientes do serviosocial, fim da sua atividade.

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    No universo das organizaes sem fins lucrativos pode-se identificaraquelas que tm apenas atividade social, ou outras que possuem tantoatividade social quanto econmica.

    Outra ferramenta utilizada o fluxo de caixa livre descontado. Umadas formas de avaliar uma empresa por meio de seu excedente de caixa,ou seja, do fluxo de caixa livre esperado para um determinado intervalo detempo ao seu valor presente. A maior parte dos modelos propostos paraavaliao de empresas, essencialmente, baseada em valores de fluxo decaixa ou no conceito de lucro econmico.

    Alguns autores defendem fortemente o uso do fluxo de caixa descon-tado, outros preferem os modelos baseados no lucro econmico, como o

    Economic Value Added- EVA. A REDF adota o modelo de fluxo de caixadescontado afirmando: valor baseado em caixa, preferivelmente a lucro,

    porque s o caixa pode ser reinvestido no negcio ou devolvido aos acionistas.

    Assim, o fluxo de caixa descontado um processo pelo qual um fluxode caixa projetado para perodos futuros descontado por uma taxaapropriada. Logo, o valor do negcio depende do fluxo em si projetado e dataxa de desconto, que por sua vez, depende do custo de oportunidade do

    capital e do risco associado ao negcio, predominantemente. Na metodologiaSROI, esta ferramenta ser utilizada, tanto no clculo do valor do negcioquanto no valor da causa social. Podendo a taxa de desconto ser a mesmaou diferente para cada clculo.

    De acordo com os dados publicados pela REDF e o artigo publicadopor Arajo et al. (2005), que referncia sobre o assunto no Brasil, os seisindicadores que possibilitam a identificao do valor criado pelo investimentosocial so descritos da seguinte forma:

    O primeiro valor a ser calculado o valor do negcio. Conforme j foiexposto, a REDF aconselha o uso do fluxo de caixa livre descontado paraclculo do valor do negcio. A metodologia SROI prope a previso de dezanos de fluxo de caixa livre. Para tanto, seria necessria a projeo de receitase despesas, bem como investimentos em ativos permanentes e capital de giro,

    para este prazo estipulado.

    A projeo destes valores pode ser subjetiva se analisado o fato do

    crescimento ou variao dos valores serem escolhidos, e no universo de dez

    Revista Contabilidade Vista & Revista, ISSN 0103-734X, Universidade Federal deMinas Gerais, Belo Horizonte, v. 20, n. 3, p. 127-155, jul./set. 2009.

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    anos muitas vezes esses valores podem ser mensurados com um alto graude distoro. Desta forma, Arajo et al. (2005), seguindo a defesa de algunsautores, propem uma alterao na metodologia, alterando o fluxo de caixadescontado para o lucro econmico ou Market Value Added - MVA, econsequentemente, calcular o valor do negcio.

    Assim, o clculo do valor do negcio dar-se- utilizando o MVA,definido como o EVA descontado pelo custo mdio ponderado de capital(CMPC), que por sua vez, representa a soma do custo de capital prpriocom o custo de capital de terceiros, ponderados pela estrutura de capital.

    De acordo com Arajo et al. (2005), este ndice representa o valor daempresa deduzido do montante necessrio para repor todos os seus ativos.

    Aqui, reflete-se o valor futuro da empresa, ou ainda, uma expectativa domercado para os retornos a serem oferecidos por ela, conceito amparado pelo

    princpio contbil da continuidade, ou seja, pressupe-se que o empreendi-mento estar funcionando nos prximos exerccios. Assim, o valor do negcioser o MVA acrescido do investimento (capital oneroso total disposio daempresa).

    Para clculo do valor do negcio a frmula do MVA citada acima

    pode ser adaptada e tem-se: Valor do Negcio = LOP / CMPC, onde LOP o lucro operacional ajustado para clculo do EVA, ou seja, lucro operacionalcontbil sem os efeitos de despesas financeiras, ou ainda, o resultado ope-racional de uma empresa, independentemente da forma como ela estfinanciada. O clculo do EVA exige algumas adaptaes nos demonstrativosde resultados, procurando, entre outras medidas, evidenciar sua parte opera-cional legtima, a segmentao do Imposto de Renda sobre os resultados daatividade e os benefcios fiscais provenientes do uso de capital de terceiros.

    Portanto, utilizando a adaptao proposta por Arajo et al. (2005), ovalor do negcio ser a diviso entre o lucro operacional ajustado sem asdespesas financeiras dividido pelo custo mdio ponderado do capital.

    Para se obter o custo mdio ponderado do capital (CMPC) precisoconhecer a estrutura de capital da empresa, o custo do capital de terceiros eo custo de oportunidade do capital prprio. O primeiro pode ser at simplesna sua identificao, pois se obtm por meio de uma anlise do BalanoPatrimonial e Notas Explicativas e o segundo, via os contratos de emprs-

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    timos. O terceiro torna o trabalho um pouco mais difcil de identificao,pois nas organizaes sem fins lucrativos o Patrimnio Social, que se igualaao Patrimnio Lquido nas organizaes lucrativas, formado pelo FundoPatrimonial, que composto pelas doaes e investimentos em ativo

    permanente somado aos resultados obtidos na operao da empresa, quecorresponde conta de Supervit ou Dficit Acumulado.

    Logo, o capital prprio oriundo de doaes mais resultado daprpria operao. Mesmo no havendo distribuio dos resultados, pode-seafirmar que existe o custo de oportunidade do capital prprio, devido necessidade de atrair investidores para a organizao. Ou seja, existe umcusto de captao de recursos de doao.

    Desta forma, como se pode calcular o Custo Mdio Ponderado doCapital em uma organizao sem fins lucrativos?

    De acordo com Arajo et al. (2005), baseado no conceito de custo deoportunidade, so propostas trs alternativas, sendo a terceira a utilizada

    pela REDF para desconto do fluxo de caixa projetado. A primeira utilizaro custo do capital de terceiros, visto que, caso no haja doaes, a empresater que recorrer a este capital para sustentar suas operaes. A segunda

    usar o maior retorno do investimento (ROI) das empresas concorrentespor este tipo de recurso, ou seja, usar a melhor rentabilidade das organi-zaes de Terceiro Setor que concorrem por doaes. Neste caso, tambmdevem ser considerados os benefcios oferecidos ao doador de recursos,como o benefcio fiscal, j que o imposto de renda permite a deduo dogasto em casos e em instituies especficas. Por fim, a terceira calcular ocapital prprio pelo modelo Capital Asset Pricing Model - CAPM, como feito para as empresas lucrativas. A REDF chegou a desenvolver estudos

    neste sentido, inclusive com a tentativa de desenvolvimento de um fator derisco denominado Beta () para determinada categoria de organizaesfilantrpicas.

    Definido o clculo do valor do negcio e voltando metodologiaSROI, deve-se calcular o segundo indicador, o valor da causa social. Assim,como no clculo do valor do negcio, a REDF prope que o valor da causasocial seja baseado em seus fluxos de caixa futuros trazidos a valor presente.O esforo para calcular o valor da causa social tentar capturar o benefcio

    gerado na vida dos indivduos e na comunidade em que eles vivem. De

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    acordo com a REDF e Arajo et al. (2005), o fluxo de caixa da causa social calculado com base em quatro elementos: o nmero projetado de pessoasatendidas, a reduo de custo mdia para o governo por pessoa, a mdia deaumento na receita do governo (IR, por exemplo) por pessoa, e os gastosoperacionais projetados com a causa social da empresa. O fluxo de caixano necessariamente o valor monetrio real, mas uma boa aproximaodo valor adicionado para o Estado pelo trabalho desenvolvido pela entidade.Futuramente ser possvel, provavelmente, avaliar precisamente o valor dacausa pela economia gerada para a o governo. Assim, o valor da causa socialcalculado um valor imputado.

    Os quatro elementos acima devem ser projetados para dez anos como

    o fluxo de caixa do valor da empresa. O segundo elemento, reduo dosgastos pblicos, um dos maiores desafios desta etapa, ou at de toda ametodologia SROI. Para fazer tal previso, preciso analisar todos osimpactos da causa social na comunidade e verificar quais deles acarretameconomias para o governo e podem ser traduzidos em valores monetrios.Vale ressaltar, e este um ponto muito destacado pela REDF, que diversosimpactos no podem ser computados no clculo da causa social, da a ideiado Relatrio SROI, cujo objetivo a evidenciao dos benefcios de forma

    qualitativa.Entre as dificuldades encontradas na determinao do valor da causa

    social podemos destacar a identificao de quais informaes so realmenterelevantes. A grande quantidade de informaes passveis de anlise podelevar ao uso de dados no relevantes. A REDF fez uma srie de grupos dediscusso com entidades relacionadas para levantar os maiores impactos dasrespectivas causas sociais na sociedade. Alguns impactos so pertinentes adiversas causas sociais, como a mudana no uso do servio social e no uso

    do suporte e assistncia pblica.

    Por fim, para terminar a primeira etapa, deve ser calculado o valor daentidade ou valor do conjunto. Este indicador representa o valor que aentidade sem fins lucrativos em anlise tem para a sociedade. Para calcul-lo deve-se somar o valor do negcio com o valor da causa social e subtrairas dvidas de longo prazo existentes na entidade. Fazendo uma analogiacom as empresas lucrativas, est sendo mensurado, aqui, o tamanho do

    patrimnio lquido, ou capital dos scios, o valor de mercado.

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    Aps a descrio do valor do negcio, da causa social e o da entidadeou conjunto, o quadro a seguir demonstra uma viso geral desses indicadoresque podem ser considerados como a primeira etapa desta metodologia.

    Diante do que foi mencionado anteriormente, pode-se fazer umasumarizao dos indicadores da primeira etapa, conforme demonstrado noQuadro 1.

    Fonte: REDF (2001) apudARAJO et al.(2005) (com adaptaes).

    MEDIDAS DE VALORTIPO DE VALOR CRIADO

    Econmico

    Social

    Socioeconmico

    MEDIDA

    Valor do Negcio

    Valor da CausaSocial

    Valor do Conjunto

    DEFINIOValor presente dos excedentes de caixagerados pela atividade de negcio da

    entidade (exclui os custos pela causasocial e os subsdios e doaes).Valor presente da receita adicional e dareduo de custos para o governo,gerados pela atividade social reduzidosdos custos desta atividade.Valor do Negcio + Valor da CausaSocial Dvida de Longo Prazo.

    Quadro 1 - Medidas de valor da Metodologia SROI

    Fonte: REDF (2001) apud ARAJO et al., 2005.

    ndices de Retornondice de Retorno do Negciondice de Retorno da Causa Socialndice de Retorno da Entidade

    Valor do Negcio / Valor Presente do InvestimentoValor da Causa Social / Valor Presente do InvestimentoValor da Entidade / Valor Presente do Investimento

    Quadro 2 - Frmulas dos ndices de Retorno da Metodologia SROI

    A segunda etapa do clculo dos indicadores apurar os ndices deretorno. Essas trs medidas comparam o valor gerado com o investimentorequerido para ger-lo. O valor do investimento um s para os trs ndicese ser calculado com base em valores histricos. A REDF considera comoinvestimento todo o recurso aplicado antes do perodo de projeo nos fluxosde caixa ao seu valor presente (desde o surgimento da entidade). A taxa dedesconto do investimento (T) sugerida uma mdia das taxas usadas noclculo do valor do negcio e no clculo do valor da causa social ponderada

    pela participao de cada valor no valor da entidade. O resumo dos indica-dores apurados na segunda etapa pode ser visualizado no Quadro 2.

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    3. Procedimentos MetodolgicosO presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa exploratria, pois

    tem como objetivo proporcionar maiores informaes sobre determinado

    assunto, facilitar a delimitao de um tema de trabalho, definir objetivos ouformular hipteses de uma pesquisa ou descobrir um novo tipo de enfoque

    para o trabalho que se tem em mente (MARTINS; THEPHILO, 2007).Pode-se, tambm, adequ-la como uma pesquisa descritiva, uma vez que osachados se tornam meio de comunicao da realidade observada e analisada.

    Segundo Gil (2008), para analisar os fatos do ponto de vista empricoe confrontar a viso terica com dados da realidade, torna-se necessriotraar um modelo conceitual e operativo da pesquisa.

    Desse modo, inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliogrfica edocumental. A seleo das empresas foi intencional e decorrente de disponi-

    bilidade e acesso aos dados pblicos. Visando o desenvolvimento da parteemprica, foi consultado o material publicado pelas organizaes sem finslucrativos Fundao Mrio Penna e Santa Casa de Misericrdia, de BeloHorizonte, as quais so dedicadas ao atendimento e prestao de serviosmdicos-hospitalares para todo o estado de Minas Gerais. Aps a consulta e

    coleta dos dados publicados nos stios eletrnicos das organizaes (De-monstraes Financeiras e o Balano Social), foi possvel identificar os dados(valores e informaes) necessrios aos clculos dos indicadores da ferramentautilizada neste estudo.

    As informaes coletadas da Fundao Mrio Penna referem-se ao anode 2006 e da Santa Casa de Misericrdia de Belo Horizonte ao ano de 2007.Com elas foi possvel o clculo de todas as variveis que compem o modeloSROI, que so: Valor do Negcio, Valor da Causa Social, Valor do Conjunto

    (Entidade) e respectivos Retornos. O modelo original do SROI, da FundaoREDF, foi adaptado em alguns pontos conforme sugestes de Arajo et al.(2005), e sua operacionalizao (das variveis) est descrita no tpico seguinte.

    4. Aplicao do Modelo SROINeste tpico, demonstra-se a aplicao da metodologia SROI nas

    organizaes sem fins lucrativos selecionadas. A metodologia SROI ser

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    aplicada de acordo com a estrutura proposta por REDF e as adaptaespropostas por Arajo et al. (2005).

    A partir das informaes constantes na Demonstrao de Dficit ou

    Supervit do Exerccio, Balano Social e nas Notas Explicativas apresentadaspelas organizaes, foi possvel efetuar a segregao das receitas em atividadeeconmica e social, conforme Quadros 3 e 4.

    Fonte: Elaborao dos autores.

    AtividadeReceitas operacionais

    Pacientes do SUSPacientes de Outros ConvniosPacientes ParticularesDoaes - TelemarketingSubvenes/DoaesReceitas FinanceirasReverso de ProvisesOutras Receitas

    EconmicaXXX

    X

    Social

    XX

    XX

    Quadro 3 - Classificao receita Fundao Mrio Pennaem atividade econmica e social

    Fonte: Elaborao dos autores.

    AtividadeReceitas operacionais

    SUS Sistema nico de SadeConvniosFunerriaParticulares

    SubvenesSanta Casa SadeDoaes (a)Servios Administrativos e AssistenciaisEscola de Enfermagem e Ps-GraduaoOutras

    EconmicaXXXX

    X

    XXX

    Social

    XX

    Quadro 4 -Classificao receita Santa Casa de Misericrdiade Belo Horizonte em atividade econmica e social

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    Na Fundao Mrio Penna, das contas apresentadas como despesasoperacionais na Demonstrao de Supervit/Dficit do Exerccio, a segre-gao em atividade econmica e social no foi efetuada analisando conta aconta. A segregao em atividade social obedeceu ao critrio de valoresgastos com atividades gratuitas apresentados no Balano Social e os valoresconstantes da conta de despesas com Telemarketing (servios/comisso).

    Na Santa Casa de Misericrdia, das contas apresentadas como despesasoperacionais, a segregao no foi efetuada analisando conta a conta. Asegregao em atividade social obedeceu ao critrio de valores gastos comatividades gratuitas apresentados no Balano Social.

    Desta forma, os Quadros 5 e 6 apresentam a demonstrao de dficit

    ou supervit do exerccio segregada em atividade econmica e social, deacordo com os critrios de segregao apresentados anteriormente para asduas organizaes.

    Fonte: Elaborao dos autores.

    AtividadeReceitas operacionais

    Pacientes do SUSPacientes de Outros ConvniosPacientes ParticularesDoaes - TelemarketingSubvenes/DoaesReceitas FinanceirasReverso de ProvisesDescontos Obtidos - FinanciamentosOutras Receitas

    Despesas operacionaisSupervit (dficit) do exerccio

    Econmica

    14.166.78225.347.4731.222.055

    1.883.933

    0

    42.620.243

    (56.790.912)(14.170.669)

    Social

    20.980.9271.671.804

    692.873

    576.40423.922.008

    (5.291.105)18.630.903

    Quadro 5 - Demonstrao supervit/dficit do exerccio Fundao MrioPenna segregada em atividade econmica e social em R$

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    Analisando os valores da Fundao Mrio Penna, do montante apre-sentado como custos e despesas operacionais, que foi de R$62.082.017,considerou-se como atividade social o valor de R$5.291.105, que com-

    posto pelo custo dos servios ofertados de forma gratuita mais as despesas

    de Telemarketing (servios/comisso). Consequentemente, os custos e despesasrelativas s atividades econmicas somaram a quantia de R$56.790.912.

    Na Santa Casa de Misericrdia de Belo Horizonte, o montante dasdes-pesas e custos operacionais apresentados na Demonstrao doSupervit ou Dficit do Exerccio foi de R$144.878.270, considerando queo custo e a despesa com servios oferecidos de forma gratuita foram deR$1.038.000, conforme demonstrado no Quadro 6. O valor dos custos edespesas com a atividade econmica foi apurado pela diferena e somou a

    quantia de R$143.840.270.O clculo do valor do negcio leva em considerao o lucro operacional

    apresentado pela atividade econmica dividido pelo custo mdio ponderadodo capital, que aqui ser tratado como taxa de desconto. O lucro operacionaldeve ser ajustado para clculo do EVA; desta forma, do montante apuradocomo resultado da atividade econmica deve ser subtrado das despesasfinanceiras totalizando um resultado operacional ajustado.

    A taxa de desconto a ser utilizada nesta pesquisa foi baseada no

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    PAULA, Cleberson Luiz Santos de; BRASIL, Haroldo Guimares; MRIO, Poueri do Carmo

    Fonte: Elaborao dos autores.

    AtividadeReceitas operacionais

    SUS Sistema nico de SadeConvniosFunerriaParticularesSubvenesDoaes (a)Servios Administrativos e AssistenciaisEscola de Enfermagem e Ps-GraduaoOutras

    Despesas operacionaisSupervit (dficit) do exerccio

    Econmica39.906.60749.757.42812.903.3661.532.870

    7.583.8851.959.957827.223

    114.471.336(143.840.270)(29.368.934)

    Social

    20.208.4821.205.375

    21.413.857(1.038.000)20.375.857

    Quadro 6 - Demonstrao supervit/dficit do exerccio Santa Casa deMisericrdia segregada em atividade econmica e social em R$

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    Mensurao do Retorno Social de Organizaes sem Fins Lucrativos por meio do SROI Social Return On Investiment

    critrio utilizado por Arajo et al. (2005), que, diante ausncia de informaesestruturadas das diversas instituies e o pouco conhecimento cientfico quantoao risco de investimento nas organizaes sem fins lucrativos, a alternativamais vivel a utilizao da taxa de juros livre de risco no Brasil (Selic),lquida de impostos e efeito inflacionrio. Levando em considerao que osdados das organizaes so em perodos diferentes utilizou-se a Taxa Selicem dezembro de 2006 e em dezembro de 2007.

    A Taxa Selic para o perodo de 30/11/2006 a 24/01/2007 foi de 13,25%,conforme consulta ao site do Banco Central. Para se obter a Taxa SelicLquida, considera-se uma alquota de imposto de renda de 15%, uma alquotade contribuio social sobre o lucro de 9% e uma inflao projetada de 4,5%

    a.a. Desta forma, a taxa de desconto ser de 5,33% a.a. Para o perodo de06/12/2007 a 23/01/2008 a taxa de desconto de 3,88% a.a. (original de11,25%).

    Desta forma, os Quadros 7 e 8 a seguir demonstram o valor do negciode cada organizao.

    Fonte: Elaborao dos autores.

    Clculo do Valor do Negcio

    Supervit / Dficit atividade Econmica(-) Despesas FinanceirasSupervit / Dficit AjustadoTaxa de Desconto (Selic)Valor do Negcio

    (14.170.669)(2.545.611)

    (11.625.058)5,33%

    (218.100.280)

    Quadro 7 - Clculo valor do negcio Fundao Mrio Penna em R$

    Fonte: Elaborao dos autores.

    Clculo do Valor do NegcioSupervit / Dficit atividade Econmica(-) Despesas FinanceirasSupervit / Dficit AjustadoTaxa de Desconto (Selic)Valor doNegcio

    (29.368.934)(5.786.942)

    (23.581.992)3,88%

    (757.791.013)

    Quadro 8 - Clculo valor do negcio Santa Casa de Misericrdiade Belo Horizonte em R$

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    De acordo com os Quadros 7 e 8, o valor do negcio no ano de 2006foi negativo nas duas organizaes, ou seja, elas precisaram das doaes

    para prestar servios sociedade. A receita com sua atividade econmica nopossibilita a manuteno dos custos e despesas necessrias para o atendi-mento tanto pelo SUS, quanto por convnios e particulares. Ainda de acordocom o conceito de criao de valor, identifica-se que as organizaes, dianteda gesto dos recursos econmicos, destruram valor nos respectivos perodos.Portanto, no seria correto avaliar somente esse estgio, sob o prisma econmico.

    O clculo do valor da causa social fundamenta-se nos servios oferecidosde forma gratuita sociedade, seja ele custeado pelo Estado, ou at mesmo

    pela organizao sem fins lucrativos, sem nenhum repasse pelo Estado.

    Diante das informaes publicadas pelas organizaes, h um alto custopara a manuteno e cumprimento do seu papel na sociedade e fazer jus aosbenefcios que lhe so concedidos como organizaes sem fins lucrativos.

    Na Fundao Mrio Penna, conforme matria publicada pela instituio,o montante da gratuidade em 2006 foi de R$13.112.334; j na Santa Casade Misericrdia, conforme informaes publicadas em seu Balano Social,o montante da gratuidade em 2007 foi de R$39.906.607.

    Utilizando estes valores e a taxa de desconto, tem-se o clculo dovalor da causa social, como demonstrado nos Quadros 9 e 10.

    Revista Contabilidade Vista & Revista, ISSN 0103-734X, Universidade Federal deMinas Gerais, Belo Horizonte, v. 20, n. 3, p. 127-155, jul./set. 2009.

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    PAULA, Cleberson Luiz Santos de; BRASIL, Haroldo Guimares; MRIO, Poueri do Carmo

    Fonte: Elaborao dos autores.

    Clculo do Valor da Causa SocialResultado da Prestao de Servios Sociais em R$Taxa de Desconto (SELIC)Valor da Causa Social em R$

    13.112.3345,33%

    246.003.394

    Quadro 9 - Clculo do valor da causa social Fundao Mrio Penna

    Fonte: Elaborao dos autores.

    Clculo do Valor da Causa SocialResultado da Prestao de Servios Sociais em R$Taxa de Desconto (SELIC)Valor da Causa Social em R$

    39.906.6073,88%

    1.029.688.995

    Quadro 10 - Clculo do valor da causa social Santa Casade Misericrdia de Belo Horizonte

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    Aps a demonstrao do clculo do valor do negcio e do valor dacausa social, chega-se ao clculo do valor da entidade (Quadros 11 e 12),que, conforme definido, a soma do valor do negcio mais o valor da causasocial, adicionadas s dvidas de longo prazo, apresentadas pelas organizaese evidenciadas nos respectivos Balanos Patrimoniais.

    Portanto, esse valor da entidade representa o conjunto entre a criao devalor da sua atividade econmica, da sua causa social e os recursos captadosao longo prazo para financiamento dos seus investimentos, ou at mesmo doseu negcio. Esse valor, para ambas as organizaes, positivo, demonstrandoque como um todo, no conjunto, elas criam valor para a sociedade.

    A segunda etapa da metodologia SROI o clculo dos ndices deretorno. Conforme citado, calcular-se- o ndice de retorno do negcio, dacausa social e da entidade.

    Para o clculo dos ndices de retorno neste trabalho, foi utilizada aadaptao proposta por Arajo et al. (2005), qual seja, o valor consideradode investimento ser o valor do patrimnio social apresentado pelas organi-zaes nos respectivos perodos. O que h de novo que, pela metodologia

    originalmente proposta, o valor do investimento leva em considerao o

    Revista Contabilidade Vista & Revista, ISSN 0103-734X, Universidade Federal deMinas Gerais, Belo Horizonte, v. 20, n. 3, p. 127-155, jul./set. 2009.

    149

    Mensurao do Retorno Social de Organizaes sem Fins Lucrativos por meio do SROI Social Return On Investiment

    Fonte: Elaborao dos autores.

    Clculo do Valor da EntidadeValor do NegcioValor da Causa SocialDvidas de Longo Prazo

    Valor da Entidade

    (218.100.280)246.003.394(12.052.264)

    15.850.849

    Quadro 11 - Clculo do valor da entidade Fundao Mrio Penna em R$

    Fonte: Elaborao dos autores.

    Clculo do Valor da EntidadeValor do NegcioValor da Causa SocialDvidas de Longo Prazo

    Valor da Entidade

    (757.791.013)1.029.688.995

    (64.305.709)

    207.592.273

    Quadro 12 - Clculo do valor da entidade Santa Casa de Misericrdiade Belo Horizonte em R$

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    valor de todo o investimento j efetuado na entidade, em valor presente. Naimpossibilidade da apurao deste valor, optou-se por esse ajuste, levandoem considerao que o valor apresentado como patrimnio social composto

    pelas doaes e subvenes efetuadas e incorporadas ao patrimnio daorganizao pelos resultados da administrao dos recursos.

    Revista Contabilidade Vista & Revista, ISSN 0103-734X, Universidade Federal deMinas Gerais, Belo Horizonte, v. 20, n. 3, p. 127-155, jul./set. 2009.

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    PAULA, Cleberson Luiz Santos de; BRASIL, Haroldo Guimares; MRIO, Poueri do Carmo

    Fonte: Elaborao dos autores.

    ndice de Retorno do NegcioValor do Negcio em R$Investimento em R$ndice de Retorno do Negcio

    (218.100.280)25.046.697

    -870,77%

    Quadro 13 - Clculo ndice de retorno do negcio Fundao Mrio Penna

    Fonte: Elaborao dos autores.

    ndice de Retorno do NegcioValor do Negcio em R$Investimento em R$ndice de Retorno do Negcio

    (757.791.013)22.072.602-3433,17%

    Quadro 14 - Clculo ndice de retorno do negcio Santa Casade Misericrdia de Belo Horizonte

    Fonte: Elaborao dos autores.

    ndice de Retorno da Causa SocialValor da Causa Social em R$Investimento em R$ndice de Retorno da Causa Social

    246.003.39425.046.697

    982,18%

    Quadro 15 - Clculo ndice de retorno da causa social FundaoMrio Penna

    Devido ao valor negativo do valor do negcio nas duas organizaes,o retorno tambm refletir um ndice negativo, demonstrando que o resul-tado auferido com as atividades econmicas, desprezando os valores rece-

    bidos de doaes, totalmente insuficiente e no remunera o patrimnioinvestido pela sociedade nas organizaes (Quadros 13 e 14).

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    Conforme mencionado no clculo do valor da entidade, o percentual de

    retorno da entidade como um todo (econmico, social e dvidas), conforme demonstrado nos Quadros 17 e 18, remunera de forma positiva os investimentossociais. E esta remunerao positiva pode ser explicada pelo fato de o retornoda causa social ser superior ao retorno do negcio menos s dvidas de longo

    prazo. No geral, pode-se analisar que as organizaes tm um retornopositivo e como demonstrado pelo valor da entidade, a mesmas criaram valor.

    Considerando que as organizaes analisadas neste estudo pertencemao mesmo segmento de atuao, possvel uma anlise conjunta dos valores

    Revista Contabilidade Vista & Revista, ISSN 0103-734X, Universidade Federal deMinas Gerais, Belo Horizonte, v. 20, n. 3, p. 127-155, jul./set. 2009.

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    Mensurao do Retorno Social de Organizaes sem Fins Lucrativos por meio do SROI Social Return On Investiment

    Fonte: Elaborao dos autores.

    ndice de Retorno da EntidadeValor da Entidade em R$Investimento em R$ndice de Retorno da Entidade

    15.850.84925.046.697

    63,29%

    Quadro 17 - Clculo ndice de retorno da entidade Fundao Mrio Penna

    Fonte: Elaborao dos autores.

    ndice de Retorno da EntidadeValor da Entidade em R$Investimento em R$ndice de Retorno da Entidade

    207.592.27322.072.602

    940,50%

    Quadro 18 - Clculo ndice de retorno da entidade Santa Casa deMisericrdia de Belo Horizonte

    Fonte: Elaborao dos autores.

    ndice de Retorno da Causa Social

    Valor da Causa Social em R$Investimento em R$ndice de Retorno da Causa Social

    1.029.688.99522.072.6024665,01%

    Quadro 16 - Clculo ndice de retorno da causa social Santa Casade Misericrdia de Belo Horizonte

    Ao contrrio do ndice anterior, pode-se identificar no clculo dondice de retorno da causa social (Quadros 15 e 16) que o investimento efe-tuado pela sociedade nestas organizaes contribui para a criao do valorsocial, ou seja, mantm a prestao dos servios oferecidos de forma gratuita

    ou a valores menores que o repasse efetuado pelo Estado.

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    encontrados pela aplicao da metodologia SROI e adaptaes sugeridaspor Arajo et al. (2005).

    Nas duas organizaes, o valor do negcio foi negativo, demonstrando

    que os valores arrecadados pela prestao de servios no so suficientespara a manuteno dos custos e despesas relativas a esses servios prestados.

    Diante da leitura dos documentos publicados pelas organizaes, possvel verificar que os atendimentos executados pela rede SUS tm umcusto maior do que o valor de repasse ou at mesmo nem remunerado.

    Em todos os clculos efetuados no foram consideradas as doaes esubvenes recebidas pelas organizaes. Se considerarmos estes valorescomo receita econmica, a Fundao Mrio Penna apresentaria um valor donegcio positivo, pois demonstra um supervit no exerccio de 2006. J aSanta Casa de Misericrdia de Belo Horizonte, mesmo com as doaes esubvenes, teria ainda um valor do negcio negativo, devido ao dficit doexerccio em 2007.

    Outro ponto importante que merece destaque nesta anlise a noconsiderao em nenhum momento do benefcio fiscal auferido pelasorganizaes. Considerando que o SUS repassa um valor, s vezes inferior

    ao custo dos servios prestados, este dficit poderia ser compensado pelaiseno tributria.

    No caso da Fundao Mrio Penna, o valor dos impostos no recolhidosem 2006 foi de R$ 9.621.581, devido imunidade tributria. J para a SantaCasa de Misericrdia de Belo Horizonte, o valor da imunidade tributria,em 2007, foi de R$10.540.997.

    Considerando que os valores da gratuidade apurados e apresentadospelas duas organizaes so superiores aos valores da imunidade tributrianos respectivos perodos, possvel identificar que o benefcio concedidotrouxe um resultado favorvel ao Estado, e consequentemente, um benefciofavorvel tambm sociedade, nesse contexto.

    Analisando as entidades em conjunto, ou seja, a soma do valor donegcio, valor da causa social e s dvidas de longo prazo, as duas organi-zaes apresentam um valor positivo. Isso se deve ao fato de o montante dasgratuidades serem superiores ao dficit econmico e aos financiamentos de

    terceiros a longo prazo.

    Revista Contabilidade Vista & Revista, ISSN 0103-734X, Universidade Federal deMinas Gerais, Belo Horizonte, v. 20, n. 3, p. 127-155, jul./set. 2009.

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    5. Consideraes FinaisA relevncia das funes desempenhadas pelas organizaes sem fins

    lucrativos est em pleno crescimento. Ele sinaliza a necessidade de recursos

    financeiros visando concretizao da misso dessas organizaes. Dianteda responsabilidade social destas instituies, necessrio que as mesmasapresentem sociedade demonstraes ou relatrios evidenciando o resultadoe os benefcios gerados para cada recurso arrecadado.

    Devido falta de indicadores que possibilitem a mensurao do retornosocial destas organizaes, foi aplicada a metodologia SROI em duasorganizaes sem fins lucrativos: Fundao Mrio Penna e Santa Casa deMisericrdia, com o intuito de avaliar se esta metodologia contribui namensurao do desempenho da gesto nessas organizaes sem fins lucrativos.

    Aps a aplicao da metodologia SROI nas duas organizaes pode-se observar que o resultado alcanado contribui na avaliao e mensuraodo desempenho das organizaes. Considerando que a metodologia segregaas atividades em econmicas e sociais, possvel identificar o valor socioe-conmico da causa social que est ligada misso dessas organizaes. Poreste resultado, tem-se uma noo da criao ou destruio de valor diante

    dos servios prestados sociedade.A aplicao dos seis indicadores, mesmo levando em considerao

    que os mesmos so extremamente inter-relacionados, de extrema importnciaconsiderando que por eles possvel identificar a criao ou destruio devalor em trs dimenses: econmica, social e combinada. Dessa forma,tem-se uma contribuio para os gestores e usurios da informao, vistoque possvel identificar a maneira como os recursos foram (esto sendo)geridos. Outra importncia ou vantagem a possibilidade de identificar

    pelo item Resultado da Prestao de Servios Sociais, que compem oclculo do valor da causa social, o valor de contribuio da organizao

    para a sociedade, ou seja, devido ineficincia ou falta de recursos finan-ceiros do Estado, qual a contribuio financeira oferecida pelos serviosoferecidos de forma gratuita sociedade.

    Entre as limitaes da metodologia, pode-se destacar a no conside-rao das doaes recebidas pelas organizaes em nenhum indicador. Acaptao de recursos por meio de doaes de extrema importncia para as

    Revista Contabilidade Vista & Revista, ISSN 0103-734X, Universidade Federal deMinas Gerais, Belo Horizonte, v. 20, n. 3, p. 127-155, jul./set. 2009.

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    organizaes sem fins lucrativos, visto que a principal ou nica fonte derecursos para custear os servios oferecidos de forma gratuita. Outralimitao o fato de o valor da causa social ter como objetivo a tentativa decapturar o benefcio gerado na vida dos indivduos e na comunidade em queeles vivem. Muitos destes impactos so de natureza intangvel e de difcilmensurao, portanto, no so computados no clculo da causa social. A

    partir desta limitao, a prpria proponente da metodologia (REDF) sugereque, alm dos indicadores um relatrio, seja utilizado o processo deevidenciao, no qual seria possvel sinalizar os projetos ou benefcios ofe-recidos sociedade e que no foram computados na avaliao e mensuraodo resultado social. Este relatrio poderia ser identificado como o prprio

    Balano Social.A no considerao da tributao tambm pode ser identificada comouma limitao desta metodologia, pois a imunidade e a iseno concedidasa estas organizaes diminuem a arrecadao do Estado. Desta forma, acomparao entre o benefcio concedido pelo Estado e o benefcio gerado

    pelas gratuidades dos servios oferecidos contribui para a avaliao e men-surao do desempenho da gesto destas organizaes. Assim, estudossobre a questo tributria e sobre as doaes permitiriam uma anlise de seu

    impacto por essa metodologia.Finalmente, importante ressaltar que os resultados aqui obtidos em

    termos de suas limitaes metodolgicas no podem ser generalizados paratodas as organizaes sem fins lucrativos. Por isso, incentiva-se que novas

    pesquisas em amostras maiores e setores diferentes sejam conduzidas, a fimde auxiliar no conhecimento e demonstrao do resultado social do TerceiroSetor.

    RefernciasARAJO, A. M. P. et al. Metodologia SROI: uma proposta para clculo do valorscio-econmico das organizaes do Terceiro Setor. In: ANAIS DO XXIXENANPAD, 2005, Braslia/DF, 2005. CD-ROM

    BETTIOL JNIOR, Alcides; BARBIERI, Geraldo; MARTINS, Gilberto de Andrade.Formao e evidenciao do resultado de entidades do Terceiro Setor: um estudo decaso. In: ANAIS DO XXIX ENANPAD, 2005, Braslia/DF, 2005. CD-ROM

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