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  • 7/23/2019 Artigo o Midrash Como Formao e Exegese Do Novo Testamento

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    O MIDRASH COMO FORMAO E EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO

    Raimundo Pereira de Sousa1

    CCEJ - SP

    Resumo

    O autor tem como objetivo apresentar um estudo sobre o midrash como formao e

    exegese do Novo Testamento. Destacando o midrash enquanto mtodo de leitura e exegese

    utilizado pelos hagigrafos neotestamentrios, para proclamar e confirmar o cumprimento da

    Escritura na pessoa do Cristo morto e ressuscitado e sua atualizao teolgica e moral, bemcomo sua contribuio na formao do Novo Testamento, uma vez que o mesmo nasce e se

    configura no seio do judasmo. Na verdade, os primeiros cristos, como cultura judaica, no

    criaram um modo prprio de leitura e interpretao das Escrituras, mas fizeram uso do

    mtodo existente nas sinagogas para difundir a proclamao crist. A diferena est na chave

    interpretativa. Para o judasmo, a Escritura (Torah Oral e Torah Escrita) a Palavra de Deus,

    que, lida, relida e atualizada, o principio normativo e jurdico que conduz a vida do povo. O

    midrash a prpria Escritura revelada que, atravs da cadeia de transmisso, ser atualizada

    de gerao em gerao como resposta aos acontecimentos presentes. Para os cristos, o que

    ocupa o centro de sua ateno o acontecimento: Jesus Cristo. Nele e por ele a Torah obteve

    o seu cumprimento. Por isso, o midrash cristo caracterizado como o midrash de

    cumprimento: parte do dito frontal de Cristo e recorre ao Primeiro Testamento para explic-lo

    e confirm-lo. Nesse sentido, podemos dizer que o Novo Testamento uma releitura do

    Primeiro Testamento a partir da f em Jesus Cristo, morto e ressuscitado.

    Palavras-chave:Midrash, exegese, Escritura, judasmo, cristianismo, Novo Testamento.

    1Professor de Filosofia do Estado de So Paulo.

    Ps-graduao em Ensino Religioso, Prticas Pedaggicas em Ensino das Religies pelo Centro Cristo deEstudos Judaicos.

    Ps-graduao em Cultura Judaico-Crist, Histria e Teologia pelo Centro Cristo de Estudos Judaicos (CCEJ)UNIFAI. Graduao em Filosofia - Centro Universitrio Assuno [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    1 Introduo

    Ao falar do midrash e seu desenvolvimento no processo de formao do Novo

    Testamento, faz-se necessrio compreender e conhecer o judasmo, seus mtodos exegticos

    de ler e interpretar as Escrituras, bem como seu critrio hermenutico como condio

    indispensvel para obter um bom resultado da leitura e interpretao dos textos no Novo

    Testamento. Todavia a formao dos textos neotestamentrios e a interpretao que fazem

    do Primeiro Testamento somente so compreensveis a partir de um conhecimento prvio dos

    procedimentos e das tradies exegticas da hermenutica judaica.(BARRERA,1996, p. 20).

    Muitas abordagens do texto bblico, atravs do procedimento midrshico, j foram e

    esto sendo desenvolvidas. O reconhecimento da Pontifcia Comisso Bblica (PCB, 2002),das razes judaicas do qual nasceu o cristianismo, a publicao da Revista de Interpretao

    Bblica latino-americana, com o tema Leitura Judaica e Releitura Crist da Bblia (Revista de

    Interpretao Bblica Latino-Americana, n 40), e do livro de Marie Vidal (VIDAL, 2000), e

    outros, tm nos mostrado o quanto importante conhecer o judasmo, seu mtodo prprio de

    ler a Escritura, para melhor compreender o cristianismo, uma vez que o mesmo nasce e se

    configura no seio do judasmo.

    Este conhecimento se faz necessrio pelo fato de que o Evangelho, antes de serconsignado por escrito, foi anunciado e pregado (1Cor 15,1-3), acolhido pelos ouvintes como

    Palavra de Deus (1Tm 2,13), inicialmente como Tradio Oral, e, mais tarde, como Tradio

    Escrita .

    Portanto, o cristianismo possui uma relao com o judasmo de dependncia e no de

    comparao. A percepo dessa relao se faz necessria, uma vez que os prprios conceitos

    cristos, para expressar a f em Jesus Cristo, so elementos tpicos do Judasmo, do qual

    descende o Cristianismo. O prprio Jesus de Nazar ensinava segundo as Escrituras, e asprimeiras comunidades exprimiram sua f no Cristo que morreu segundo as Escrituras,

    ressuscitou ao terceiro dia segundo as Escrituras (1 Cor 15,3-5.11). Na verdade, a Igreja

    nascente no cessa de afirmar que Jesus de Nazar veio para cumprir as Escrituras.

    Para o escritor Elio Passeto, h uma perda dessa relao, e a perda da conscincia dessa

    relao se deve, muito provavelmente, a dois motivos histricos: O primeiro reside no fato

    de que o cristianismo conheceu sua expanso e desenvolvimento no mundo grego-romano, de

    cultura helenstica; o segundo consequncia do primeiro. O Novo Testamento foi fixado

    como tradio escrita na lngua grega(PASSETO, 1995, pp. 8-20).

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    Sabemos que, sem este conhecimento profundo do Judasmo, o cho do qual nasceu e

    se desenvolveu o cristianismo, a exegese dos textos neotestamentrios se torna incompleta.

    Isto porque o cristianismo no pode ser pensado como a realidade paralela em relao ao

    Judasmo, mas sim como a relao de dependncia. Porque Somos distintos um do outro,

    mas no independentes. (PASSETO, 1995, p. 9). Por isso, ao buscarmos as origens do

    cristianismo, devemos aplic-las em primeiro lugar, no interior do Judasmo, do qual a

    proclamao crist conheceu sua expanso no interior das sinagogas, na terra de Israel e na

    dispora.

    1 Midrash

    Midrash vem da raiz hebraica v (darash) que significa buscar, investigar, estudar,

    examinar, explicar, interpretar a Escritura. frequente sua ocorrncia na Bblia enquanto

    significado de busca, investigao. (Dt 13,15; Esd 7,10; Is 55,6; Am 5,4; 6; 14; Sl 34,6 etc.).

    Mas, Midrash, enquanto substantivo, encontra-se, pela primeira vez, em 2Cr 13,22 e 24,27.

    Contudo, o sentido nos dois textos incerto. O sentido geral do termo busca-procura, com

    o duplo matriz de estudo.O midrash, no sentido de busca e procura utilizado, quando

    a Escritura se refere procura ou busca do Senhor: Procurai o Senhor enquanto pode serencontrado; e procurei o Senhor, e Ele me respondeu(Is 55,6; Am 5,4; 5,6; 14; Sl 34,6).

    O verbo darash implica numa pesquisa intensa e num esforo inerente vontade de

    encontrar o procurado. Aplicado Escritura, significa pesquisar o sentido da Palavra de Deus

    quanto teologia e quanto a pratica e, em ultima analise, procurar o prprio Deus em sua

    Palavra.

    Obviamente esta busca precisa de um espao concreto para ser realizada. no textode Ben Sirac (Eclo 51,23) que o midrashaparece como uma atividade realizada na Casa de

    Estudo vrdmh tiyb>. por isso que encontramos na literatura rabnica o estudo da Torahe

    da exegese como uma das principais atividades desenvolvidas na casa de estudo (PREZ,

    MARTINZ, FERNDEZ, 2000, p. 429).

    NaMishn,2o termo midrashaparece como estudo e interpretao do texto e estudo

    e exposio da Bblia, ou explicao e aplicao de um determinado texto. Na antiga

    2Mishnah (hebr. Repetio): Corpo da legislao oral judaica, compilada at o ano 200 d.C e estruturado pormatrias em 62 tratados, classificados em 6 ordens, referentes agricultura, festas, mulheres e famlias, danos

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    literatura rabnica o termo designa tanto o resultado do estudo quanto uma obra literria que

    resulta do estudo interpretativo de um texto da Escritura (PREZ, FERNDEZ, 2000, p.

    430).

    Esse minucioso trabalho se deve aos Mestres da Mishnahe do Talmud3que durante os

    cinco primeiros sculos de nossa era se dedicaram exclusivamente ao estudo e interpretao

    da Torah (RATHAUS, p. 1).Afirma Renne Bloch:

    este estudo da Torah, cuja finalidade era compreender o sentido de cadatermo, de penetrar no esprito do texto a fim de tirar a significao profundapara a aplicao prtica, que se designaria pelo nome de midrash ou, maisexatamente, midrash Torah, que se traduziu livremente por estudo daTorah(BLOCH, p. 6)

    Segundo Agustn Del gua Perz, a literatura tradicional utiliza o conceito de midrash

    com trs sentidos tcnicos distintos: primeiro o da Investigao que, semanticamente,

    incorpora o sentido de buscar, investigar e estudar, se refere, ao processo da atividade pelo

    qual se determina a interpretao do texto bblico. Segundo, osResultadosdesta investigao:

    o indagado, o investigado, o compreendido. Em terceiro lugar indica as Colees do material

    midrshico, obtido atravs das investigaes bblicas (Midrash Gnesis Rabbah, Sifr

    Nmeros, Levtico Rabb).4

    No judasmo antigo, o midrash apreendido como Exegese e Hermenutica. Para Dez

    Macho, o midrash Exegese, enquanto busca o sentido da Bblia, e Hermenutica,

    enquanto utiliza tcnicas e procedimentos determinados.5 Partindo do principio de que a

    Torah ensinamento e pratica, o trabalho dos intrpretes, ao perscrutar a Escritura,

    buscando nela o ensinamento atualizado para a vida da comunidade, desenvolveu-se dois

    tipos de midrash: midrash halakah6

    e o midrash haggadah. 7

    Na verdade, o sentido de

    legislao civil, objetos sagrados e normas rituais. (TREBLLE BARRERA, Julio.A Bblia Judaica e a BbliaCrist. Introduo histria da Bblia. P. 697)3Talmud: ensinamento: Comentrio sistemtico da Mishnah, compilado entre 200 e 600 d.C. O mesmo termo

    refere-se s duas colees diferentes. O Talmud de Jerusalm (Yrushalmi), composto at o ano 400 d.C e oTalmud da Babilnia (Babli), composto at o ano 600 d.C. (TREBLLE BARRERA, Julio.A Bblia Judaica ea Bblia Crist..., p. 699).4O autor afirma que a exegese Midrshica aplicada aos diversosgneros literrioscomo:gneros haggdicoscomo Targum (comentrio); Homilias Sinagogas; Midrashim Rabbot e outros, bem como os gneros Halhicos,os Midrashim: Mekilta (s/ xodo), Sifr (Levtico), Sifr (Nmeros e Deuteronmio), como o Mishn, Tosefta ena poca mais tardia os Talmudim. (Cf. GUA PREZ.El mtodo midrsico..., p.35).5

    DEZ Macho, A. Deras y exgesis del Nuevo Testamento, pp. 37-41.6Halakah: da raiz - halak, ir, caminhar, andar. Gnero da interpretao midrshica que consiste em extrair umanorma legal a partir de uma citao da Escritura. Encontra-se desenvolvido nas obras de Sifr de Lv, Sifr de Nme Sifr de Dt. (TREBOLLE,A Bblia Judaica e a Bblia Crist...p. 125).

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    halakahvem do radical $lh, andar, caminhar. Da resulta o sentido de preceito, lei ou

    norma de conduta, que implica sempre numa maneira de andar, segundo os caminhos do

    Senhor e os preceitos da Torah. Haggadah, por sua vez, vem do radical dgn (narrar, contar,

    relatar) diz respeito a tudo o que, na rea da interpretao, no visa norma de conduta, mas

    sim as crenas, teologia.

    Na verdade, de acordo com a ndole desses tipos de midrash, a halakahse referia quase

    que exclusivamente ao Pentateuco,8enquanto que a haggadahse estendia a qualquer livro da

    Bblia hebraica. Com o passar a se chamar midrash.9

    Para o autor Domingo Munz, alm desses dois tipos: midrashhalakahe haggadah, o

    midrashtambm aparece na literatura rabnica classificado de acordo com suas categorias e

    funes tais como:10

    a) Midrash-Ders Explicativo: trata-se da interpretao do texto. Em grande parte

    o Targum, pelo seu carter homiltico, se apresenta com uma forma de midrash

    explicativo.

    b) Midrash-Ders Exegtico: uma forma de midrash explicativo que consiste no

    comentrio do texto bblico em forma continuada, dos versculos selecionados.

    c) Midrash-Ders Confirmativo: o recurso Escritura com finalidades de

    confirmar um acontecimento. O midrash neotestamentrio, o midrash

    confirmativo, pois ele trata de recorrer s Escrituras para confirmar a

    proclamao do seu Krigma.

    d) Midrash-Ders Justificativo: embora possua pontos comuns com o

    confirmativo, seu interesse maior se concentra na busca de um texto bblico

    que justifique a posio de um determinado comportamento.

    e)

    Midrash-Ders Apologtico: trata-se do emprego do texto bblico para

    defender uma opinio.

    f) Midrash-Ders catequtico: emprega o texto bblico com a inteno de extrair

    os ensinamentos essenciais para a f e o comportamento humano.

    7Haggadah (plural Haggadot). Vem do verbo Lehaguid narrar, contar, referir. Gnero da interpretaomidrshica realizada sobre narraes bblicas. Aparece desenvolvida nas obras de Gnesis Rabbah e Levtico

    Rabbah. (TREBOLLE,A Bblia Judaica e a Bblia Crist...p. 696).8Pela simples razo que no Pentateuco que se encontram os mandamentos.9VARQUEZ, Bernardino V.El Midrash em la historia de la exgesis hebbrea, (Cf. Kairs n 16, p. 47).10MUNZ, Len.Deras, los caminos y sentido de la palabra..., pp. 28-30.

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    g) Midrash-Ders ilustrativo: pretende buscar na Escritura exemplos de

    comportamento ou de ilustrao de um ensinamento, segundo a finalidade

    aplicada.

    h)

    Midrash-Ders Homiltico-Exortativo: trata-se do emprego das Escrituras

    indicando a relao com a situao presente, tanto no aspecto litrgico

    (Memorial), como na exortao aos ouvintes para a compreenso e adeso aos

    ensinamentos da palavra divina. O targum participa do carter homiltico pelo

    seu aspecto de leitura litrgica e pela sua permanente instruo, edificao e

    exortao.

    nesse sentido de busca, investigao, exposio e aplicao da Bblia na vida do povoque compreendemos as formas ou categorias do midrash como leitura e interpretao

    hermenutica na formao das Escrituras.

    2 O Midrash na formao do Novo Testamento

    sabido, pela escritura e tradio, que desde o incio da poca apostlica, os adeptos do

    caminho (At 9, 2; 16 17; 18,25. 26; 19,9. 23; 22,4; 24,14. 22) ou os chamados cristo nacidade de Antioquia (At 11,26), sistematizam sua teologia a partir da frmula teolgica.

    Segundo as Escrituras(Mt 1,22; 2,15. 17. 23; 4,14; 8,17;12,39; 13,18; 14,35; 21,4; 27,9; Lc

    18,31; 24,32.45; Jo 5,39; 12,38; At 13,14.15; 17,11; 1Cor 15,3-4; 2Pd 3,16) cujo

    cumprimento o Cristo morto e ressuscitado.

    da necessidade de fundamentar a proclamao da f crist na Palavra de Deus, isto ,

    a Revelao do Sinai, que surge o midrash cristo como mtodo de interpretao e atualizao

    das Escrituras, segundo as circunstncias presentes. Contudo,

    nesse movimento de expresso da f crist e de sua relao com o texto daEscritura, que uma parte se constitui em um corpo escrito e outra parte setransformou em Tradio Oral crist. Este corpus propriamente crist no autnomo, a linguagem, o mtodo, os elementos para expressar oscontedos cristos so fundamentalmente extrados da tradio judaica.(PASSETO, 1995,p.12)

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    Nesse sentido que a Pontifcia Comisso Bblica afirma que sem o Antigo

    Testamento, o Novo Testamento seria um livro indecifrvel, uma planta privada de suas razes

    e destinada a secar. (PCB, 2002, pp. 235)

    Para Renne Bloch, o modo rabnico de conceber e compreender os textos sagrados,

    bem como suas tcnicas midrshicas, esto presentes tanto nos evangelhos como nos outros

    escritos neotestamentrios. (BLOCH, p. 18) Vejamos alguns dos inmeros exemplos:

    A visita dos magos (Mt 2,1-12) reflete o astro que procede de Jac (Nm 24, 17); Lc 22,

    20 retomado por 1 Cor 11, 25, a Instituio da Eucaristia como a Nova Aliana que, luz

    xodo (12,15), ressalta a questo do memorial; Marcos 15,24 reflete o Salmo 22,19,

    referindo-se sorte lanada sobre a veste; Joo 3,14-15 refere-se serpente de bronze elevadapor Moiss no deserto em Nm 21,4-9; At 2,1-13, a festa de Pentecostes remonta

    comunidade do Sinai (Ex 19); A multiplicao dos pes (Mt 14,13-21; Mc 6,32-44; Lc 9,10-

    17; Jo 6,1-15) retoma a profecia do milagre de Elias (1 Rs 17,7ss; 2Rs 4,42-44); o encontro de

    Jesus com os samaritanos em Jo 4 remonta a Gn 24,10ss; 29,1s; Ex 2,15s.

    E assim, sucessivamente, vamos percebendo que a literatura neotestamentria nasce e se

    configura a luz da Escritura e da literatura rabnica. por isso que a autora Renne Bloch

    afirma que todas as formas do midrash utilizadas na literatura rabnica so encontradas no

    Novo Testamento: Tanto a busca midrshica sobre uma figura, um evento ou um conjunto de

    textos da bblia; como o desenvolvimento midrshico a partir de um texto; a atualizao

    midrshica dos textos antigos para aplic-los ao presente; o midrash homiltico e o midrash

    halahah.(BLOCH, p. 19)

    nesse contexto que podemos afirmar o papel fundamental do midrashna formao do

    Novo Testamento: relendo e reinterpretando a Torahdentro de uma nova realidade, buscando

    respostas para compreender o momento presente. Essa interpretao foi sendo amadurecida

    aos poucos, tornando-se progressivamente, as Tradies orais crists, que posteriormente

    deram origens s Tradies escritas que formam o Novo Testamento.

    Na verdade, os primeiros cristos, judeus que eram, no criaram um modo prprio de

    leitura e interpretao das Escrituras, mas fizeram uso do mtodo existente nas sinagogas para

    difundir a proclamao crist.

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    3 O Midrash como exegese do Novo Testamento

    sabido que a leitura exegtica rabnica das Escrituras possui suas razes e fontes no

    perodo do final do I e incio do II sculo de nossa era. Segundo Barrera Era costume ler a

    Torah na manh de sbado, no I sculo, era comum, tanto em Israel (At 15,21) como na

    dispora (Filon, de Somniis 2,127)(BARRERA, 1996, p.141). O prprio texto do evangelho

    de So Lucas (4,14-22) ressalta este costume de ler a Escritura aos sbados nas Sinagogas.

    Jesus ensina nas sinagogas ao modo da cultura do mundo circundante . (PCB, 2002, p.53)

    Este procedimento muito claro em Lucas 4,14-22, mostrando que Jesus entrou, em dia de

    sbado na Sinagoga, onde lhe foi entregue o livro da Torah, com a profecia de Isaas (Is 61,1-

    2). Jesus faz a releitura do texto e, atravs do midrash, afirma que hoje essa profecia se

    cumpriu. Na verdade, o especfico desta releitura que ela feita luz de Cristo . (PCB,

    2002, p.53)

    O midrash como exegese crist, segundo Agustn Del gua Prez encontrado na

    passagem de Lucas 24 (os discpulos de Emas) sob trs aspectos fundamentais: destaca por

    primeiro a palavra hermenutica aplicada claramente a interpretao midrshica crist da

    Escritura hebraica. Em segundo lugar, confirma a pessoa de Cristo como centro do

    acontecimento, compreenso que se verifica com a ajuda do Primeiro Testamento. O terceiro

    aspecto se refere Escritura como um todo; todo o Primeiro Testamento faz referncia e

    converge, como uma grande corrente, em Cristo. (PREZ, 1985, pp. 86-87)

    Faz-se necessrio salientar que o modo deste procedimento midrshicoutilizado pelos

    hagigrafos neotestamentrios difere do modo rabnico no seguinte aspecto:

    Para o judasmo, a Torah a revelao por excelncia e a forma de

    compreender, isto , perscrutar o prprio texto e, atravs do midrash,atualiz-lo enquanto que, para o cristo, o foco de sua ateno oacontecimento na Pessoa de Jesus de Nazar. (PREZ, 1985, p. 85)

    Nele se d o cumprimento de toda a Torah. Pra Munz Leon, a caracterstica principal

    do midrash cristo parte da proclamao deste cumprimento, buscando a confirmao na

    Escritura. (MUNZ, 1987, p. 55)

    A diferena entre o midrash cristo e o midrash judeu reside no fato de que, para o

    judasmo, a Escritura (Torah Escrita e Torah Oral) a Palavra de Deus que lida, relida e

    atualizada, o princpio normativo e jurdico que conduz a vida do povo. O midrash a

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    prpria Escritura revelada que, atravs da cadeia de transmisso, ser atualizada de gerao

    em gerao como resposta aos acontecimentos presentes.

    Para os cristos, o que ocupa o centro de sua ateno o acontecimento Jesus Cristo.Nele e por ele a Torahobteve o seu cumprimento. Por isso, o midrashcristo caracterizado

    como o midrash de cumprimento: parte do dito frontal de Cristo e recorre ao Antigo

    Testamento para explic-lo e confirm-lo. O texto a Palavra de Deus que explica o dito

    tirado de seu contexto para ser referido ao ministrio de Jesus(PREZ, 1985, pp. 84-85). A

    natureza especfica do midrash neotestamentrio reside no fato de ser um midrash do

    Cumprimento Messinico. Para essa afirmao que se buscam na Escritura (Primeiro

    Testamento) a explicao e a confirmao. Contudo, os autores Lenhardt e Collin, afirmam

    que Jesus aquele que transmite a tradio, e , ao mesmo tempo, essa Tradio(COLLIN;

    LENHARDT, p. 48). Nele a Torahganha seu cumprimento definitivo. Todavia, o midrash

    tanto no judasmo como no cristianismo, sempre uma leitura atualizante do texto no seu

    contexto.

    Porm, preciso lembrar que, embora haja diferenas entre os modelos, como veremos

    a seguir, todos tm como fundamento: o cumprimento das Escrituras. Assim sendo, o autor

    identifica trs esquemas distintos de midrash nos escritos neotestamentrios. (COLLIN;LENHARDT, pp. 89-96).

    a. Modelo promessacumprimento;

    b. Inserosubstituio;

    c. Oposio/ contraposio.

    a) Modelo promessa cumprimento

    O modelo promessa cumprimento trata do recurso midrshico do Primeiro Testamento,

    frequentemente utilizado e difundido no do Segundo Testamento. Consiste em considerar as

    Escrituras como anncio, prefigurao, profecia e/ou promessa da pessoa e figura de Cristo.

    Para tal afirmao que os hagigrafos recorrem tradio, buscando nos textos a iluminao

    que sirva de anncio ou prefigurao do acontecimento escatolgico cumprido em Jesus de

    Nazar. Trata-se de uma autntica releitura do Primeiro Testamento verificada do ponto de

    vista da f em Jesus. Vejamos alguns exemplos dos textos do Segundo Testamento nos quais

    se atribuem a Jesus as tradies messinicas do Primeiro Testamento. comum encontrarmosnos escritos neotestamentrios o ttulo de Filho do Homem (Mt 13,36-43; 24,30; 25,31; Mc

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    8,38; 13,26-27; Atos 7,56; Ap 1,13), aplicado por Jesus mesmo, tirado da tradio

    apocalptica por meio de um procedimento Psher.11 Igualmente em outros textos, Jesus

    proclamado o Messias segundo o messianismo davdico (2 Sm7; Is 6-12; 7,10-16; 9,1-7 ;

    11,1-9; Mq 5,1-4; Lc 1,32-33; Mt 21,9) eFilho de Abrao(Mt 1,1), bem como, os textos que

    afirmam a prefigurao de Cristo na figura do Servo Sofredor do Dutero-Isaas (Is 42,1-7;

    49,1-6; 50,4-9; 52,13; 53,12). Na mesma linha de pensamento, a tradio do melquisedec,

    Sumo Sacerdote, usado como tipologia da carta aos hebreus para expor o sacerdcio de

    Cristo (Hb 7; remonta o Targum Neophyth I Gn 14,18 e a serpente de bronze elevada por

    Moiss no deserto, como prefigurao da elevao de Cristo na Cruz (Nm 21,4-9; Jn 3,14-15,

    8,28ss; 12,32-24; 19,37).

    Uma outra frmula de interpretao do procedimento Psher se d na afirmao: isso

    ocorreu para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas(Mt 1,22; 2,5b-6.15b.17-18.23b;

    3,3; 4,14-16; 8,17; 12,17-21; 13,14-15.35; 21,4; 27,9; Lc 18,31; Jo 12,38.), ou ainda,para que

    se cumprisse a Escritura(Jo 12,38-40; 15,25; 17,12; 18,9; 19,24. 28.36; Lc 4,21; 22,23).

    b) O segundo modelo, inserosubstituio.

    Este modelo insero substituio parte do contedo e componentes da Escritura que

    constituem a Aliana Antiga, utilizada midrashicamente para definir a Nova Aliana. Atravsdo esprito da aliana, a histria dos atos salvficos de Deus recebe sua culminncia na

    Pessoa do Cristo morto e ressuscitado, reconhecido agora pela comunidade crist como a

    Nova Aliana.

    Faz-se necessrio destacar que h uma pequena diferena entre o midrash da promessa e

    cumprimento, para o midrash modelo de inserosubstituio. O primeiro trata da busca no

    texto, de imagem que pode servir de promessa anncio ou prefigurao na Pessoa de Jesus,

    enquanto que, o segundo tem a funo de expressar o conjunto do acontecimento: JesusCristo, a partir dos componentes da Antiga Aliana (PREZ, 1985, pp. 92-94). Portanto, o

    modelo inserosubstituio expresso midrashicamente atravs da categoria cristolgica e

    eclesiolgica.

    A Igreja apresentada como Povo de Deus, o Novo Israelbaseado na transposio

    midrshica dos conceitos prprios do antigo Israel: Povo, Reino, Aliana e Lei (Torah). O

    grupo dos doze, representando a totalidade da comunidade, transposto das doze tribos de

    11Pesher (hebr. Plural pesharim): interpretao de uma passagem do AT, dos livros profticos ou Salmos,relacionando-o com acontecimentos ou personagens da poca escatolgica que o intrprete cr estar vivendo.TREBOLLE BARRERA.A Bblia Judaica e a Bblia Crist. p. 697.

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    Israel. A instituio da Aliana com o novo povo de Deus se confirma na ltima ceia como o

    banquete da Nova Aliana (Lc 22,20; Mc 14,24; Mt 26,28; 1Cor 11,25). A comunidade de

    Pentecostes forma o Novo Povo, em paralelismo midrshico com a comunidade do Sinai

    (Atos 2,1-12; Ex 19).

    O tema da Nova Aliana, reconhecido como o Novo Povo, e a Nova lei, se encontram

    desenvolvidos midrashicamante pela teologia de Joo nos discursos da Hora (Jo 2,5; 7,30;

    8,20; 12,23.27; 13,1; 17,1). A carta de Pedro e o Apocalipse mencionam a Igreja a partir da

    Tradio do xodo, reinode sacerdotes e nao santa(Ex 19-24). Finalmente, a Carta aos

    Hebreus (Hb 7-8) dedica uma larga haggadah Nova Aliana (contedo de Jeremias e

    Ezequiel) na pessoa de Cristo, o Sumo Sacerdote, por meio de seu prprio sangue, o Sangue

    da Nova Aliana.J o midrashcristolgico se caracteriza por apresentar de modo geral a pessoa de Jesus de

    Nazar como o Cristo. Contudo, o fato de Jesus de Nazar ser apresentado como o Cristo

    ( constitui-se num aspecto importantssimo do midrash cristolgico. Foi

    precisamente para interpretar a pessoa de Jesus de Nazar, como o Cristo encarnado, que os

    cristos recorreram Escritura, buscando os atributos, nomes e aes aplicados ao Deus de

    Israel.

    Estes atributos, transportados ao Novo Testamento, afirmam e confirmam a divindade deJesus atravs do ttulo: o Senhor.12

    Este recurso midrshico de atualizao por substituio possibilitou comunidade primitiva

    a confisso de sua f em AdonaiIahweh para o Cristo Senhor. Segundo Agustn Del

    Prez o Sitz im Leben, de substituio midrshica, ser com toda probabilidade o culto

    (PREZ, 1985, p. 236). Outra transferncia midrashicamente do nome de Deus encontramos

    na teologia do Quarto Evangelho com a expressoEu Sou. 13

    Segundo Charles Harold Dodd, o sentido de ( ) nos faz perceber que Deus deu seuprprio nome ao Cristo. Recorda, tambm, que o nome no Primeiro Testamento est

    12Do grego . No Primeiro Testamento se invocava a Iahweh com o ttulo de `Adon (meu Senhor) queadota habitualmente a forma de `Adona (y) (plural de intensidade) pronunciado por Abrao em Gn 15, 2-8.Convertendo-se no prprio nome de Deus. Com respeito a pronncia ao tetragrama (YHVH se l substituindo

    por). `Adonai. Esta a razo em que os LXX, numa primeira interpretao dersica-midrshica, traduzemYHVH por atribuindo a Jesus um ttulo de soberania divina (GUA PREZ.El mtodo Midrshico...,

    p. 236).13

    Do grego Jo 8. 24. 28. 58. A expresso grega procede da tradio hebraica `ani h. (Is 28, 12: Eusou, eu sou oprimeiro e sou tambm o ltimo e Is 43, 10: ...., para que conheais e creiais em mim, e entendaisque eu sou. Assim tambm: You soy, you soy o que mostra vossas iniquilidades (Is 51, 12; 42, 6; e Yo soyYahveh (`ani YahvehLXX ). (Cf. GUA PREZ.El Mtodo Midrshico..., p. 237).

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    associado com a glria eterna de Deus. Assim sendo, a glria eterna de Deus,14na teologia do

    Quarto Evangelho, atribuda ao Cristo.

    Na perspectiva deste esquema, h ainda muitos outros elementos midrshicos, tanto

    implcitos como explcitos, atribudos a Jesus por toda a literatura neotestamentria. Vejamos,

    por ora, alguns exemplos na literatura de So Joo.

    1. Eu sou o bom Pastor.15

    2. Eu sou o po da vida... Eu sou o po descido do cu.16

    3. Eu sou a videira verdadeira.17

    4. Eu sou o caminho, a verdade e a vida.18

    c)

    O terceiro modelo oposio/contraposioEste modelo se fundamenta na radicalizao das exigncias evanglicas em sua

    interpretao das prescries da Torah, as quais so retomadas pelos hagigrafos

    neotestamentrios como contraposio ou oposio frente s realidades da Nova Aliana

    prefiguradas em Cristo.

    So consideradas modelo oposio/contraposio aquelas formulaes que proclamam o

    cumprimento como marca de contraposio entre a realidade cumprida em Cristo e a

    realidade citada do Primeiro Testamento. Esta contraposio considerada tambm comoaquela que reala o carter da novidade do Evangelho (MUNHZ, 1987, p. 240). O

    procedimento midrshico deste modelo para expressar o cumprimento abordado por meio de

    antteses. Eis alguns exemplos das principais formulaes de contraposio que encontramos

    no Segundo Testamento:

    1. No o Man, mas sim Cristo (Jo 6,27.32-33.38);

    2. No aos descendentesem pluralmas sim, tua descendnciaem singular (Gl

    3,19);

    14DODD, Charles Harold.A interpretao do Quarto Evangelho, pp. 129-133.15Em Jo 10, 11-18 o evangelista realiza o midrash de Ez 34, 1-16 e Jr 23, 1-4 (Cf. MUNZ Leon.Ders, loscaminos e sentidos..., pp...419 e 474).16Jo 6, 30-51 interpretado sob a luz de xodo 16 o Dom do Man reflete a prefigurao da Eucaristia e domesmo Cristo como o po descido do cu. A interpretao e a atualizao do texto consiste em mostrar Jesuscomo o Novo xodo. Neste sentido, o xodo uma etapa da histria da salvao que culmina no Evangelho.(Cf. MUNZ Leon.Ders, lo caminos e sentidos..., pp. 434-436.17Jo 15, 1-8, o texto reflete midrashicamente a percope de Isaas 5, 1-6, que mostra a designao de Jud eIsrael como a Vinha do Senhor. (Cf. MUNZ Leon.Ders, los caminos e sentidos..., p. 465).18Jo 14, 16, interpretado sob a luz de toda a Torah, as categorias: Caminho, Verdade e Vida , so assumidas

    pela comunidade de Israel como verdadeira realidade que conduz ao Senhor. A Torah concebida por Israelcomo Caminho da Verdade que orienta a vida para o Senhor. nesta perspectiva que Joo afirma ser Jesus aTorahPalavra encarnada e revelada plenamente para aqueles (as) que queiram andar nos caminhos da verdadee da vida. (Cf. MUNZ Len.Ders, los caminos e sentidos..., p. 225; e p. 500).

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    3. No em tbuas de pedra, mas sim em tbuas de carne do corao (2 Cor 3,3);

    4. No obras e sim a f (Rm 3-4; Gl 2-3)

    5. No o Monte Sinai, mas sim, A Jerusalm Celeste (Hb 12,18-34).

    Em todas essas frmulas, e em muitas outras que poderamos examinar, se percebem

    que a contraposio/oposio aparece numa realidade ou situao prevista no Antigo

    Testamento, indicando sua incompatibilidade com a nova realizao na situao crist.

    Tambm na teologia de Mateus se percebe que, atravs da frmula: Ouvistes o que foi dito,

    eu, porm vos digo(Mt 5,21-48), a contraposio aparece atravs de antteses, onde palavras

    de Jesus se contrapem em relao ao ensinamento que as precede.

    Para Lenhardt e Collin, o radicalmente novo, com base na continuidade, consiste no

    seguinte: Jesus, difere do homiliasta judeu, ele no fala de si com a expresso o Santobendito seja ele, mas apresenta-se a si mesmo, como aquele que ensina na primeira pessoa

    Eu, porm vos digo.(COLLIN; LENHARDT, p. 34). Ele fala como homem que reivindica

    a prpria autoridade de Deus.

    Sem dvida, o princpio que postula o recurso ao Primeiro Testamento emprega os trs

    modelos ou esquemas do midrash cristo. Contudo, os trs so aspectos de uma mesma e

    nica realidade: afirmar que toda Tradio veterotestamentria converge para Cristo, em

    funo do qual devem ser estudadas e investigadas as Escrituras. Para gua Prez AgustnDel, a sistematizao a que se referem os trs modelos propostos, no significa que se trate

    de estabelecer categorias puras. Pois nas composies ou unidades midrshicas, o recurso ao

    Antigo Testamento se verifica em ocasio segundo vrios modelos(PREZ, 1985, p. 95).

    Consideraes finais

    Diante das variedades de formas de leitura das Escrituras j realizadas, e no desejo deconhecer e descobrir novas possibilidades de leituras das Escrituras o autor buscou por meio

    deste texto, um estudo sobre o midrashcomo formao e exegese do Novo Testamento, a fim

    de descobrir a importncia e a relevncia da Tradio hermenutica judaica, buscando

    compreender como e porque os hagigrafos neotestamentrios recorrerem a ela para a

    sistematizao e elaborao teolgica dos ditos de Jesus.

    Na verdade, o caminho percorrido, por meio do midrash, nos fez perceber que o

    midrash(darash) todo um conjunto de passos que proporciona ao exegeta o meio para que

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    possa entender, com maior clareza, o modo e a forma com que os hagigrafos

    neotestamentrios leram e compreenderam as Escrituras.

    Percebemos que o midrash, enquanto mtodo exegtico, caracteriza-se por duas

    palavras chaves: atualizar e cumprir. Foi a partir destas palavras que os hagigrafos

    neotestamentrios sistematizaram o seuKrigma, a proclamao de sua f.

    O midrash, enquanto mtodo exegtico deve grande importncia na formao e

    transmisso das Escrituras: primeiro no interior do Judasmo que, atravs da leitura

    midrshica, desenvolveu toda uma tcnica de interpretao, atualizao e aplicao da Torah

    na vida cotidiana; segundo, no cristianismo que, atravs de seus leitores no contato com a

    Literatura Rabnica, procuraram apresentar a pessoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado

    como o midrashpor excelncia. Ele o princpio hermenutico para a compreenso de toda aEscritura.

    Referncias

    I - SAGRADA ESCRITURA:

    BIBLIA DE JERUSALEM. Nova edio, revista ampliada, So Paulo: Paulus, 2002.

    BIBLIA DO PEREGRINO. So Paulo: Paulus, 2002.

    BIBLIATRADUO ECUMNICA. (TEB). So Paulo: Loyola, 1994.

    BIBLIA SACRA HEBRAICA ET GRAECA. Deutiche Bibelgesellschoft, Stutgart, 1994.

    BIBLE WORKS for Windows, na verso 6, em CD-ROM.

    II - DICIONRIOS:

    DICIONRIO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO. Harris,R. Laird: Areher, Gleason L. Jr; Waltke, Bruce K. So Paulo: Vida Nova, 1998. 1989p.

    DICIONRIO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO. Coere,Lothar, Brown, Colin. So Paulo: Vida Nova 2000, 1v, 1360 p.

    DICONRIO BBLICO. Mckenzie, John L. So Paulo: Paulus, 9ed, 2005. 979p.

    LXICO DO NOVO TESTAMENTO. GregoPortugus. Gingrich, F. Wilbur; Frederick W.Danker (rev). So Paulo: Vida Nova, 2007. 228p.

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    III - OBRAS:

    GUA PEREZ, Agustn del. El mtodo midrasico y la exegesis del Nuevo Testamento.Valencia: San Jernimo, 1985. 337p.

    AMNICO, Moacir. O talmud. So Paulo: 1995, 90p.

    BEAUDE, M P. De acordo com as Escrituras. So Paulo: Paulinas, 1980. 76p. (CadernosBblicos)

    BERGER, KLAUS. As formas literrias do Novo Testamento. So Paulo: Loyola, 1998.363p.

    BLOCH.Escritura e Tradio

    COLLIN; LENHARDT.Evangelho e Tradio. So Paulo: Paulus

    DOCUMENTOS SOBRE A BBLIA E SUA INTERPRETAO. (1893-1993). So Paulo:Paulus, 2004. 286p.

    EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo Testamento: Introduo aos mtodos lingsticoshistricoscrticos. So Paulo: Loyola, 1944.

    KETTERER, Eliane e Renand, Michel. O midraxe. So Paulo, 1996. 126p.

    LIMENTANI, Giacoma. O midraxe: como os mestres judeus liam e viviam a Bblia.Traduo por Bertilo Brod. So Paulo: Paulinas. 1998. 145p.

    MUOS LEN, Domingo. Ders: los Caminos y Sentidos de la Palabra Divina em laEscritura. Madrid, 1987.

    PREZ, Aranda G., MARTINEZ, Garcia F. FERNNDEZ., Prez M. Literatura JudaicaIntertestamentria. Traduo por Mario Gonalves. So Paulo: Ave-Maria, 2000.

    PONTIFCIA COMISSO BBLICA. O povo judeu e suas Sagradas Escrituras na BbliaCrist.So Paulo: Paulinas, 2002. 239p.

    RATHAUS, Ariel. O Midrash. Uma Filologia e uma Historiografia Criadoras, (traduoportuguesa: Vitrio M. Cipriani)

    SILVA, Cssio Murilo dias da. Metodologia de Exegese Bblica. So Paulo: Paulinas, 2000.515p.

    TREBOLLE BARRERA, Julio.A Bblia Judaica e a Bblia Crist: introduo histria daBblia.Petrpolis: Vozes, 1996. 741p.

    VADEMECUM, PARA O ESTUDO DA BBLIA. Associao laical de cultura bblica. So

    Paulo: Paulinas, 2000. 349p.

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    VIDAL, Marie. Um judeu chamado Jesus: uma leitura do evangelho luz da tor. So Paulo:Vozes, 2000. 236p.

    IV - ARTIGO

    CIPRIANI, Vittorio M. Escritura e Tradio no Judasmo. So Paulo: Seminrio de Sion,1983, 26p, verso portuguesa de: BLOCH, Renne. (criture et Tradition dans Judaisme,Cahiers Siniens, Paris: v, 8, n. 1, 1954).

    MUOZ LEON Domingo.Princpios bsicos de le exgesis rabnica. Revista Bblica, BuenoAires: v. 60, n.2, 1998.

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    PASSETO, Elio. La influencia de la tradicin oral de Israel em la tradicion cristiana. ElOlivo Madrid: v. 19, n. 42, 1955.

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