artigo pde 2010 - operação de migração para o novo ... · travessão e pontuação, ......
TRANSCRIPT
ARTIGO PDE 2010
UMA PROPOSTA METODOLÓGICA DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA A
PARTIR DO GÊNERO DISCURSIVO “PIADA”
Autora: Rozelaine Palmira Costa1
Orientador: João Carlos Cattelan2
Resumo
Este artigo apresenta o projeto produzido para o Programa PDE 2010, bem como
faz um relato de sua implementação. A proposta foi desenvolvida na oitava série
do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva, na
cidade de Terra Roxa, Paraná, pela professora Marli Almeida de Jesus. O trabalho
contemplou o gênero discursivo “piada”, prevendo que despertaria mais o interesse
dos alunos pelo conteúdo, propiciando um desenvolvimento maior da oralidade, da
interpretação, da produção escrita (pontuação para produzir sentidos), bem como da
utilização dos recursos tecnológicos por parte do professor. Durante a aplicação do
projeto, observou-se um interesse maior por parte dos alunos. Houve uma
aprendizagem significativa quanto à interpretação, bem como à percepção da
pontuação e para o desenvolvimento da oralidade.
Palavras-chave: gênero discursivo; piada; interpretação; produção.
1 Introdução
Professora licenciada em Letras/Português e Literaturas; Especialista em Processo de Ensino-Aprendizagem da Língua Portuguesa e em Gestão Escolar e Supervisão de Ensino, atuando no Colégio Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva. Prof. Dr. do Curso de Letras da Unioeste do Câmpus de Marechal Cândido Rondon e do Mestrado/doutorado em Letras do Câmpus de Cascavel.
2
Os gêneros discursivos estão presentes nas situações cotidianas do
convívio social, pois, ao se observar, sem eles, não pode haver interação. O homem,
como ser social, necessita desenvolver certas habilidades para interagir com o outro
no convívio social. É papel da escola desenvolver essas habilidades por meio de um
trabalho acerca dos conhecimentos linguísticos e discursivos, envolvendo a
problemática dos gêneros, para que o aluno possa se apropriar do discurso como
prática social.
Partindo desse pressuposto, o trabalho a ser desenvolvido em sala de aula
contemplou o gênero discursivo piada, porque os textos desse gênero são propícios
por suas características particulares e pelo efeito causado por elas como
descontração e divertimento, pois o homem é um incansável buscador de prazer
(FREUD, 1905, p. 123). Por meio dele, o professor pode aliar o prazer ao trabalho,
favorecendo o desenvolvimento das habilidades de leitura, interpretação e produção
de textos narrativos, bem como o desenvolvimento da oralidade.
Considerando essa forma de pensar e tendo em vista que os alunos
apresentam dificuldade de compreensão e de produção de textos de diferentes
gêneros discursivos, este projeto pretendeu contribuir para minimizar essa
deficiência, com a perspectiva de propiciar aos alunos a possibilidade de ler e
produzir textos narrativos, observando os recursos gráficos utilizados, como aspas,
travessão e pontuação, como também os efeitos de sentido, a intencionalidade e os
objetivos do texto que ele lê e produz, dando ênfase às marcas linguísticas
presentes nas piadas e à ideologia veiculada por elas.
2 Diálogo com os teóricos
O uso da linguagem se manifesta por meio de ouvir, ler, falar e escrever.
Tanto a verbal como a não-verbal servem para a interação entre as pessoas. A
linguagem verbal é de domínio apenas do ser humano, pois a função social dela é
que distingue o homem dos outros animais. O domínio da linguagem nas esferas
sociais é necessário para o exercício da cidadania: para a possibilidade de plena
participação social. Por meio dela, o indivíduo constrói, compreende e representa
novos modos de compreensão do mundo. Por isso, cabe à escola a função de levar
os alunos ao acesso à linguagem, para compreendê-la e usá-la de forma adequada:
O domínio da linguagem, como atividade discursiva e cognitiva, e o domínio da língua, como sistema simbólico utilizado por uma comunidade linguística,
3
são condições de possibilidade de plena participação social. Pela linguagem os homens e as mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam e defendem pontos de vista, partilham ou constroem visões de mundo, produzem cultura. Assim, um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de contribuir para garantir a todos os alunos o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania. (PCN – 5ª a 8ª séries, p. 19, 1998).
Para o aluno aprender a ler e a escrever, há necessidade da construção de
uma concepção de linguagem, pois ele precisa compreender como a linguagem se
manifesta e de que forma ela é representada graficamente, pois,
língua é um sistema de signos específico, histórico e social, que possibilita a homens e mulheres significar o mundo e a sociedade. Aprendê-la é aprender não somente as palavras e saber combiná-las em expressões complexas, mas apreender pragmaticamente seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas entendem e interpretam a realidade e a si mesmas. (PCN – 5ª a 8ª séries, p 20, 1998).
Segundo Bakhtin (1997, p. 279), os gêneros do discurso fazem parte do
cotidiano e são resultado de formas padrão mais ou menos estáveis determinada
sócio-historicamente. A interação ocorre por meio de gêneros, pois, quando se
produz linguagem, está-se produzindo discursos:
A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa.
O ensino da Língua Portuguesa por meio dos gêneros pode levar os alunos
a perceber a variedade de textos e discursos que permeiam a interação com a
escola e com o meio social. Sabe-se que não é tarefa simples ensinar a ler e a
produzir textos na escola. Para isso, é indispensável certa habilidade por parte do
professor em sala de aula para cativar e despertar o interesse dos alunos para
essas atividades.
3 Sobre o objeto de estudo
4
É importante, na escola, um trabalho que contemple os gêneros presentes
na sociedade. Por isso, a principal finalidade deste trabalho é fazer uma abordagem
do gênero “piada”, que ainda é pouco explorado na sala de aula. Os textos
humorísticos servem de ponto de partida para o desenvolvimento da competência
linguística do aluno, dentre outras habilidades que também podem ser exploradas.
As piadas permitem, segundo Freud, dizer aquilo que não se teria coragem
de dizê-lo, não o fosse por meio da piada. Por isso, elas podem ser vistas como uma
forma de libertar certas inibições para expressar instintos cínicos, agressivos,
sexuais, etc., como também manifestar certos preconceitos disfarçados por outros
discursos.
A sala de aula é um espaço em que se deve privilegiar um trabalho que
propicie um ensino-aprendizagem cada vez mais produtivo e também prazeroso e
agradável. Para isso, o professor pode se valer de recursos que despertem a
atenção dos alunos, por exemplo, o trabalho com o gênero “piada”, que pode ser
explorado pelo professor, despertando o interesse em aprimorar a oralidade
(contação de piadas), a interpretação (ler as entrelinhas), a percepção das marcas
discursivas e a produção de outros textos:
Além de serem bons exemplos para explicar princípios de análise linguística, as piadas fornecem excelentes argumentos para várias teses ligadas às teorias textuais e discursivas. (...) A propósito de sentidos, as piadas ilustram de forma brutalmente clara a tese da ambiguidade, ou, ainda melhor, do equívoco que a linguagem pode produzir. (POSSENTI, p. 37, 2008).
A piada não pode ser comparada a outros gêneros codificados, pois ela
apresenta características peculiares como parecer que está falando de uma coisa e
de fato estar falando de outra. Por isso, para entender a piada, é necessário ter
outros conhecimentos que vão além de meramente decodificar signos:
Para quem quer defender a hipótese de que o leitor é um elemento crucial no processo da leitura, as piadas fornecem argumentos dos mais poderosos. De fato, nenhuma piada pode ser comparada a um texto “codificado”, com um sentido que a língua forneceria por “convenção”. Tipicamente, uma piada contém algum elemento linguístico com pelo menos dois sentidos possíveis. E o leitor não tem apenas que verificar quais são esses sentidos. Mais que isso, cabe-lhe descobrir que, havendo dois, o mais óbvio deles deve de alguma forma ser posto de lado, e o outro, o
5
menos óbvio, é aquele que, em um sentido muito relevante, se torna dominante. (...) O texto comanda a leitura, isto é, demanda e limita a atividade do leitor (em poucos casos é preciso ser tão atento a detalhes linguísticos como nas piadas). Mas o texto, apesar de dominante, não é suficiente. (...) a piada frequentemente está relacionada com outro texto, ou com alguma informação... (POSSENTI, p. 39, 2008).
Para interpretar uma piada, o leitor deverá assimilar o conteúdo dentro de
um contexto em relação com outros textos que tratam do mesmo discurso com o
mesmo ponto de vista e, a partir disso, presumir a ideologia por ela (piada)
veiculada.
Para Freud, chiste é um juízo que produz contraste cômico; participa já,
tacitamente, da caricatura, mas apenas no juízo assume sua forma peculiar e a livre
esfera de seu desdobramento. (FREUD, p. 18, 1905).
Ele afirma também que
“A liberdade produz chistes e os chistes produzem liberdade’, escreveu Jean Paul. ‘Fazer chistes é simplesmente jogar com as idéias’ (...) outras idéias, mais ou menos inter-relacionadas, que têm emergido para a definição ou a descrição dos chistes, são as seguintes:’um contraste de ideias’, ‘sentido no nonense’, ‘desconcerto e esclarecimento’.(...) Um chiste é ‘a conexão ou a ligação arbitrária, através de uma associação verbal, de duas ideias, que de algum modo contrastam entre si”. (FREUD, p. 19, 1905).
A brevidade também faz parte das características do chiste de acordo com a
abordagem feita por Lipps (1898,90) e retomada por Freud:
a brevidade dos chistes é significativa: ‘Um chiste diz o que tem a dizer, nem sempre em poucas palavras, mas sempre em palavras poucas demais, isto é, em palavras que são insuficientes do ponto de vista da estrita lógica ou dos modos usuais de pensamento e de expressão. Pode-se mesmo dizer tudo o que se tem a dizer nada dizendo’. (FREUD, p. 21, 1905).
Uma piada não é constituída apenas de elementos verbais; não se pode
ignorar a técnica utilizada para interagir com o leitor:
o que faz com que uma piada seja uma piada não é seu tema, sua conclusão sobe o tema, mas uma certa maneira de apresentar tal tema ou
6
uma tese sobre tal tema. Assim, uma piada de humor negro, uma de loira burra e uma de papagaio podem ter, eventualmente, a mesma técnica. Se é certo que necessita de um tema, e, de alguma forma, de um tema proibido ou controlado por regras sociais de bom comportamento (evitar o preconceito, reprimir desejos sexuais ou a eliminação do diferente etc), a menção do tema não é necessariamente uma piada. Se alguém disser que as loira são burras, isso não é engraçado. Mas, se alguém disser que se sabe que foi uma loira que trabalhou no computador porque a tela do monitor está cheia de marcas de Errorex, então temos uma piada. (POSSENTI, p. 46, 2008).
Mas, afinal, quais são os objetivos das piadas? Por que se produz piadas?
Por que elas produzem o riso? Freud analisa as piadas, separando-as em dois tipos:
inócuas e tendenciosas. As inócuas são aquelas que proporcionam prazer devido às
técnicas utilizadas para formá-las, enquanto as tendenciosas têm alguma finalidade,
apresentam alguma tendência que acaba gerando a satisfação dos desejos
inconscientes. Por isso, não se pode precisar se o riso é devido à técnica utilizada,
ou devido ao pensamento expresso por ela ou, ainda, pela junção desses dois
elementos:
O riso está entre as expressões de estados psíquicos mais altamente contagiosas. Quando faço alguma pessoa rir, contando-lhe meu chiste, estou de fato utilizando-a para suscitar meu próprio riso e é possível, de fato, observar que a pessoa que começou a contar o chiste, com a face séria, reúne-se depois à gargalhada do outro com um riso moderado. (FREUD, p. 149, 1905).
No trabalho em sala de aula com o gênero chiste, além de outras
observações, o professor pode fazer que se perceba a ideologia subjacente ao
conteúdo, sobretudo o teor preconceituoso que muitas revelam:
Provavelmente todas as piadas veiculam, além do sentido mais apreensível , uma ideologia, isto é, um discurso de mais difícil acesso ao leitor. Mas, há até mesmo as piadas que tematizam explicitamente a questão. Por exemplo: Perguntaram a um fulano se ele era racista. Ele disse que não, só não gostava muito de alemão. Mas logo de alemão? Por quê? E Ele respondeu: É que eles poderiam ter acabado com os judeus e fizeram um serviço de preto. (POSSENTI, p. 38, 2008).
7
A piada é lida, ouvida, recontada oralmente e, na maioria das vezes, não se
sabe a sua origem, quem as criou, quem são os autores. Alguém foi responsável por
sua criação e divulgação; além do mais, as piadas veiculam ideologias. Possenti (p.
37, 2008) afirma que “as piadas, tipicamente, não têm autor”:
as piadas não têm autor (como alguns outros tipos de textos: receitas, provérbios etc). Portanto, elas devem ser interpretadas sem a invocação de tal critério. Por outro lado, e por essa razão, elas são uma evidência de que existem discursos que se dizem – que são ditos por todos -, dadas certas condições, sem que sua origem esteja relacionada a um indivíduo de forma relevante.
As piadas são culturais; precisa-se ter um mínimo de conhecimento sobre os
traços característicos da cultura do povo a que se refere a piada, para que ela
funcione, assim como o exigem outros tipos de textos. Por outro lado, muitas são
transculturais, ou seja, as marcas culturais apresentadas para um determinado povo
também o são de outros povos; mudam-se as personagens, mas o conteúdo é o
mesmo. Daí, a afirmar que o número de piadas que circulam não é grande:
uma pesquisa em coletâneas mostra o quanto as piadas são relativamente poucas. Em outras palavras, frequentemente são as mesmas que são repetidas com pequenas variações, muito frequentemente trocando-se apenas as personagens. Só há, aparentemente, um tipo de piada que não pode ser repetida, ou que não é transcultural: as que dependem estritamente de fatores linguísticos e, portanto, só podem funcionar no interior de uma língua ou de línguas estritamente aparentadas. (...) Outras, no entanto, encontram-se em todos manuais. (POSSENTI, p. 43, 2008).
Vive-se numa sociedade que se conecta cada vez mais, pois a evolução da
tecnologia caminha a passos largos e as novas invenções técnicas modificam o
ambiente em que se vive e também modifica os hábitos do próprio homem:
Educar é colaborar para que professores e alunos - nas escolas e organizações - transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. (MORAN, p.13, 2009)
8
Essa mudança na sociedade exige repensar da educação diante das novas
tecnologias. Para isso, é necessário deixar de lado alguns conceitos tradicionais e
ousar implantar novos modos de ensinar e aprender, superando certos “medos” ou
sair do comodismo, porque os alunos, lá fora, têm contato com as tecnologias
digitais e nem sempre o mesmo ocorre no espaço escolar.
A sala de aula é o espaço propício de promoção do aprimoramento do
conhecimento. As aulas de Língua Portuguesa, por meio de um trabalho com
gêneros discursivos, podem favorecer o desenvolvimento das competências
linguísticas dos educandos, garantindo a possibilidade de exercício da cidadania,
bem como a capacidade de intervir de forma produtiva no meio em que vivem.
4 Relato da elaboração das atividades produzidas
A produção-didático pedagógica, Unidade Didática, foi pensada e planejada
para dez aulas. Essas aulas contemplaram uma pequena abordagem sobre o que é
gênero discursivo “piada”, como ele se organiza, que temas geralmente são tratados
e como se produz o humor por meio das piadas. A primeira aula foi subdividida em
três partes. A primeira parte para fazer uma sondagem do que os alunos sabiam ou
conheciam sobre o gênero discursivo “piada”; a segunda parte para um pouco de
aprofundamento teórico; e a terceira parte para observar se houve entendimento do
conteúdo abordado.
A segunda aula foi planejada para trabalhar com a interpretação de duas
piadas, observando o humor criado pela variação linguística e o tema abordado por
elas, levando os alunos a refletirem um pouco sobre o tema “racismo”.
O objetivo principal da terceira aula era chamar a atenção dos alunos para a
pontuação dos textos narrativos. Ao ouvir uma piada, observa-se a entonação da
voz, que, ao ser reescrito, deve ser marcada adequadamente pela pontuação. Para
essa aula, foram gravadas várias piadas para os alunos ouvirem e, depois,
escolhem uma para registrá-la, podendo, assim, observar a pontuação na escrita.
A quarta aula foi preparada com certa antecedência, para que cada aluno
recebesse uma piada diferente, digitada e sem pontuação. Essa aula proporcionaria
aos alunos analisar como ela deveria ser pontuada de forma que fosse entendida.
Também foi sugerido aos alunos que pesquisassem na internet algumas piadas que
veiculassem algum preconceito ou estereótipo. Essas piadas deveriam ser copiadas
9
no caderno, observando a grafia correta e pontuação. Foi pedido que os alunos
observassem as inadequações de escrita que aparecem na internet.
Na quinta aula, a professora reforçaria a importância do como contar uma
piada, pois ela não deverá ser meramente lida, mas se valer dos recursos da
oralidade: ênfase, entonação, expressividade, gestos... Paralelamente, também foi
feita uma análise e reflexão crítica dos assuntos das piadas e dos preconceitos
veiculados por elas. O objetivo desta aula era trabalhar com a oralidade, levantando
uma reflexão sobre os preconceitos presentes em nosso meio.
Na sexta aula, foi retomado o conteúdo da aula anterior sendo relembradas
as piadas que foram apresentadas (contadas) e algumas foram escolhidas para
serem registradas no caderno. Foi reforçada a importância do registro da pontuação,
para dar expressividade ao diálogo. Essas piadas foram lidas novamente por alguns
alunos e, em seguida, anotadas no quadro ou no data show. O objetivo desta aula
foi verificar se a pontuação estava marcada corretamente e se houve o
entendimento (domínio) por parte do aluno.
A sétima aula foi planejada para ser trabalhada no laboratório de informática.
Após serem instruídos pela professora, os alunos acessaram os sites de piadas
indicados e, depois da leitura de diversas piadas, deveriam registrar duas para,
posteriormente, com base nessas, elaborarem outra que deveria ser entregue como
trabalho escrito e também apresentada, com criatividade, para a sala na aula
seguinte.
A oitava aula se destinou para as apresentações das piadas elaboradas
como base, ou juntando as duas piadas escolhidas da aula anterior. Os trabalhos
escritos foram expostos num mural na sala de aula.
A nona aula foi uma revisão dos temas abordados nas piadas que foram
apresentadas na aula anterior e foi feito um estudo sobre os temas. Foi analisado
também o que cria o humor e a ideologia veiculada nas piadas que foram
apresentadas. A professora retomou o conteúdo da primeira aula. Os alunos
escolheram um dos temas discutidos em sala para produzir um texto para próxima
aula e também trouxe uma nova piada que abordasse o tema.
A décima e última aula foi um espaço para os alunos apresentarem os textos
produzidos bem como as novas piadas pesquisadas, analisando-as quanto ao tema,
à ideologia e ao humor. Com base na exposição oral e por meio dos trabalhos
escritos, a professora fez a avaliação do trabalho, verificando se os objetivos foram
alcançados.
5 As atividades desenvolvidas durante a implementação:
10
Todas as atividades planejadas foram realizadas durante a implementação
que ocorreu de julho a novembro de 2011.
1 – Apresentação para comunidade escolar (semana pedagógica);
2 – apresentação da proposta para os alunos e levantamentos dos
conhecimentos prévios sobre o gênero discursivo “piada”;
3 – preparação do material teórico para os alunos;
4 – elaboração da reflexão sobre o conteúdo teórico;
5 – gravação em pendrive do conteúdo para projetor multimídia;
6 – pesquisa no youtube e seleção de piadas em áudio;
7 – elaboração e preparação de material escrito (seleção de diversas
piadas);
8 – pesquisa de sites de piadas para serem indicados aos alunos;
9 – pesquisa por parte dos alunos de piadas nos sites indicados;
10 – estudo sobre os temas mais abordados nas piadas;
11 – elaboração de novas piadas;
12 – análise dos temas observando seu conteúdo e sua construção;
13 – exposição das produções;
14 – avaliação dos resultados obtidos: oralidade, interpretação e produção
escrita.
6 Resultados da implementação
No decorrer do desenvolvimento das atividades propostas, durante as aulas,
observou-se que o gênero discursivo “piada” atraiu a atenção dos alunos,
favorecendo, com isso, o aprendizado do que foi proposto no projeto.
Houve um envolvimento maior da turma durante as atividades do projeto,
principalmente daqueles alunos que, até então, não tinham uma participação mais
ativa durante as aulas.
Ao final da implementação, observou-se que os alunos passaram a perceber
a importância de se pontuar um texto corretamente, principalmente, no caso do texto
discursivo “piada”, tanto para a apresentação oral como para a escrita. Também
pode ser observado um progresso significativo no desenvolvimento para a
habilidade de interpretação, visto que o projeto também enfocava a questão de
analisar a ideologia existente nas piadas, já que elas são interessantes, porque são
11
quase sempre veículo de um discurso proibido, subterrâneo, não oficial, que não se
manifestaria, talvez, por meio de outras formas de coletas de dados, como
entrevistas. As piadas veiculam discursos não explicitados correntemente (ou, pelo
menos, discursos poucos oficiais) e, talvez, por isso, acabam atraindo a atenção dos
alunos, tornando o aprendizado um pouco mais agradável e interessante em sala de
aula.
7 Análise crítica da proposta
Analisando os resultados da implementação do projeto na escola e a
interação dos professores no GTR, pode-se perceber que o trabalho apresentado,
“Uma proposta metodológica de ensino de Língua Portuguesa a partir do gênero
discursivo “piada””, buscou trabalhar com os alunos de uma forma dinâmica e
prazerosa, atingindo, assim os objetivos que eram: ler e interpretar piadas; usar
sinais de pontuação para produzir sentidos; refletir sobre a contribuição dos recursos
tecnológicos na melhoria da qualidade das aulas de língua portuguesa.
Observou-se, também, uma maior participação dos alunos, principalmente
dos considerados “tímidos”. Isso demonstra a viabilidade de o professor inserir em
seu planejamento o trabalho com o gênero discursivo “piada”, atraindo, desse modo,
a atenção dos alunos, pois os textos de humor (piadas) são uma forma divertida de
refletir sobre a língua.
O gênero discursivo "piada", além de ser atrativo, é de fácil acesso, pois
pode ser encontrado em várias revistas, jornais, internet, almanaques, propagandas
televisivas, etc. Por meio deste gênero, o professor pode explorar as variedades
linguísticas, a ortografia, a pontuação, a interpretação, dentre outras atividades
como foi proposto e desenvolvido na implementação do projeto.
As atividades propostas, de uma forma geral, procuram refletir sobre os
juízos de valor, os preconceitos, enfim, os problemas da sociedade, que, muitas
vezes, servem de base para a construção desses textos, bem como chamar a
atenção para os aspectos linguísticos que ajudam a provocar o efeito de humor.
Baseando-se neste discurso, pode-se dizer que é possível fazer um trabalho
diferenciado que pode levar os alunos a pensar, analisar, interpretar e produzir de
uma forma divertida e dinâmica.
12
8 Alguns relatos dos professores participantes do GTR 2010 sobre o projeto
“Uma proposta metodológica de ensino de Língua Portuguesa a partir do
gênero discursivo “piada””:
“Eu não só acredito que dá certo, como já trabalhei com o gênero "piada". É
um gênero que distrai e contribui para que o humor seja despertado nos alunos.
Acho que a partir daí facilita o entendimento do texto.
Ao começar por uma boa leitura, respeitando a pontuação, perceber o
travessão nas falas das personagens, compreendendo bem a piada como "texto",
minimiza os problemas de compreensão por parte de alguns alunos e a
compreensão, enquanto o humor fica melhor.
Nas séries iniciais, pode-se começar com piadas mais curtas, usando o
lúdico (vídeos e outros recursos); isso facilita o entendimento e é possível ler,
analisar e interpretar textos que são interessantes, descontraídos e divertidos.
Os alunos gostam e se sentem atraídos por gêneros que realmente chamem
a atenção deles. O lúdico, o colorido. Trabalhar com piadas, com desenhos e até
mesmo com quadrinhos facilita a interpretação, já que eles se sentem mais
motivados.” (Professora Lorena Raatz Soares, 19 de outubro de 2011).
“Sabe-se que um dos papéis da escola é o de formar leitores e produtores
de textos, por isso é preciso que os professores tenham claro que, quanto maior o
contato com a linguagem, nas mais diferentes esferas sociais, mais facilidade os
alunos terão de entender o texto, seus sentidos, as intenções do autor e em que
situação ele foi produzido.
Diante disso, é possível, sim, trabalhar com o gênero discursivo "piada", uma
vez que o professor poderá explorar a ortografia, as variedades linguísticas, a
pontuação, dentre outros mecanismos. Outro fator relevante, também, é que esse
gênero pode ser encontrado em jornais, revistas, internet, programas televisivos,
etc.” (Professora Marli Ameida de Jesus, 15 de outubro de 2011).
9 Considerações finais
Constatou-se que é viável o trabalho com o projeto “Uma proposta
metodológica de ensino de Língua Portuguesa a partir do gênero discursivo “piada”,
tal qual foi planejado, pois todas as atividades elaboradas para a implementação
13
ocorreram conforme o previsto. As atividades elaboradas foram desenvolvidas sem
nenhum grau de dificuldade. Percebe-se, com isso, que a descrição das atividades
foram claras e precisas o que, de certa forma, facilitou a aplicação em sala de aula.
Esta proposta não se encerra aqui; ela pode ser ampliada com outras
atividades, dependendo dos objetivos que o professor de língua portuguesa quer
atingir, utilizando o gênero discursivo “piada”.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mirkhail, Os gêneros do discurso. In: Bakhtin, M. Estética da criação verbal, Editora Martins Fontes, São Paulo, 1997, p 277- 358.
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa, Ensino de Primeira a quarta série, PCN, Secretaria de Educação Fundamental, Volume 2, Brasília, 1997.
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Língua Portuguesa, PCN, Secretaria de Educação Fundamental, Brasília, 1998.
DOLZ, J.;SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização: Roxane rojo e Glaís Sales Cordeiro. 2ª Edição, Campinas, SP, 2010. FREUD, Sigmund, Os Chistes e a sua Relação com o Inconsciente (1905) Volume VIII, Imago Editora, Rio de Janeiro,
KOCH, Ingedore Villaça, A inter-ação pela linguagem, Editora Contexto, São Paulo, SP, 2000.
MORAN, José Manuel, (Marcos T.Masetto, Marilda Aparecida Behrens) Novas tecnologias e mediação pedagógica, Editora Papirus, Campinas São Paulo, 15ª edição 2009.
PARANÁ, Secretaria de Estado de Educação do Paraná. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Língua Portuguesa, SEED, Paraná, 2008.
PETRONI, Maria Rosa(org), Gêneros do discurso, leitura e escrita: experiências de sala de aula, São Carlos: Pedro & João Editores, Cuiabá: edUFMT, 2008.
POSSENTI, Sírio, Os humores da Língua – Análises Linguísticas de Piadas, Editora Mercado da Letras, Campinas, São Paulo, novembro 2008
14
VYGOTSKY L.S. Pensamento e linguagem, Editora Martins Fontes,São Paulo 1993.