artigo sobre dados epidemiologicos animais peçonhentos

Upload: joelma-gomes

Post on 18-Jan-2016

220 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

epidemilogia

TRANSCRIPT

Epidemiologia dos acidentes ofdicos notificados pelo Centro de Assistncia e Informao Toxicolgica de Campina Grande (Ceatox-CG), ParabaEpidemiologic profile of snakebites reported by the Poison Information Center of Campina Grande, ParabaJosiverton de Carvalho LemosI; Thaise Dantas de AlmeidaII; Sayonara Maria Lia FookIII; Adriana de Azevedo PaivaIV; Mnica Oliveira da Silva SimesVICentro de Atendimento Toxicolgico de Campina Grande (Ceatox-CG). Departamento de Farmcia da Universidade Estadual da Paraba, Campina Grande, PBIIDepartamento de Sade Coletiva da Universidade Estadual da Paraba, Campina Grande, PBIIIDepartamento de Farmcia da Universidade Estadual da Paraba, Campina Grande, PB. Centro de Atendimento Toxicolgico de Campina Grande, PBIVNcleo de Estudos e Pesquisas Epidemiolgicas - NEPE. Universidade Estadual da Paraba, Campina Grande, PBVDepartamento de Farmcia da Universidade Estadual da Paraba, Campina Grande, PB

RESUMOOs acidentes causados por animais peonhentos ainda constituem problema de Sade Pblica no Brasil. Embora a produo e a distribuio dos soros no pas encontrem-se estabilizadas, h problemas relacionados notificao de acidentes deste tipo em vrias regies. Considerando esta realidade, foi realizado um estudo transversal entre janeiro e dezembro de 2005, utilizando documentao indireta sobre os acidentes ofdicos ocorridos em Campina Grande e 80 municpios adjacentes regio, com o objetivo de conhecer o perfil epidemiolgico e clnico deste tipo de caso. Todos os pacientes atendidos tiveram diagnstico mdico de acidente por serpentes realizado pelo Centro de Atendimento Toxicolgico de Campina Grande (Ceatox-CG). Os dados foram coletados atravs da ficha de notificao do Sinan (Sistema Nacional de Notificao de Agravo do Ministrio da Sade). Para anlise dos dados, foi utilizada estatstica descritiva e os dados foram tabulados no programa Microsoft Excel 2003. Dos 1.443 atendimentos no Centro, 737 foram causados por animais peonhentos e, destes, 277 foram provocados por serpentes peonhentas e no peonhentas. Os acidentes predominaram no sexo masculino, na faixa etria de 10 a 29 anos, principalmente em agricultores na zona rural, entre maio e novembro de 2005. O gneroBothropsfoi responsvel pelo maior nmero de casos (71,5%), e as extremidades superior e inferior do corpo foram os locais de maior predominncia de ataques. Na extremidade inferior, foi atingido principalmente o p. Em relao gravidade, foram mais frequentes os acidentes classificados como leves causados pelo gneroBothropse apenas um paciente evoluiu para bito. A mdia do tempo de atendimento, em horas, foi superior a 12 horas nos acidentes considerados graves, causados pelos gnerosBothropseCrotalus. Nossos resultados concordam com o perfil epidemiolgico nacional dos acidentes ofdicos, atingindo com maior frequncia o sexo masculino - trabalhadores rurais, na faixa etria produtiva de 10 a 49 anos - atingindo, sobretudo, os membros inferiores, e a maioria desses acidentes foi atribuda ao gneroBothrops.Palavras-chave:Picada de Cobra. Epidemiologia. Paraba. Brasil. Cobras (BVS: Scielo).

ABSTRACTAccidents caused by venomous animals are still a public health problem in Brazil. Although the production and distribution of antivenom is controlled, several regions have difficulties in reporting this type of accident. Considering such fact, a cross-sectional study was carried out using indirect files on venom accidents that occurred in Campina Grande, along with 80 small towns comprising the region, from January to December 2005. The main objective was to outline a better epidemiological and clinical profile of these cases. All patients admitted to the Poisoning Information Center of Campina Grande (CEATOX-CG) had their injuries medically diagnosed as injuries caused by venomous snakes. Data collection was based on the use of a reporting form by the National Reporting System - SINAN (Sistema Nacional de Notificao de Agravo do Ministrio da Sade). Data analysis consisted of descriptive statistics using Microsoft Excel 2003. A number of 737 out of 1,443 patients who received care at the medical center had their cases related to venomous animals, and 277 of the accidents had been caused by venomous and non- venomous snakes. Most accidents involved men, from 10 to 29 years of age, including peasants in rural areas, from May to November 2005. Most of the cases (71.5%) involved theBothropsgenus and upper and lower limbs, especially feet. As to severity, most of the cases were classified as mild, caused by theBothropsgenus, and only one patient died. The average length of time spent in providing care to the victims was over 12 hours in severe cases caused byBothropsandCrotalus.Our results agree with the national epidemiological profile of snakebites, which are more frequent amongst male peasants aged from 10 to 49, affecting especially lower limbs, caused most often by theBothropsgenus.Keywords:Snake Bite. Epidemiology. Paraba. Brazil. Snakes. (BVS: Scielo).

IntroduoO estudo do ofidismo no Brasil teve incio com os trabalhos desenvolvidos nos primrdios do sculo XX por Vital Brazil no Instituto Serumterpico, hoje Instituto Butantan. Ao iniciar a produo de soros, este pesquisador introduziu os "Boletins para Observao dos Acidentes Ofdicos", porm at a dcada de 80 os estudos de notificao eram localizados, sendo realizado principalmente na regio Sudeste. Por outro lado, havia deficincia na produo do soro. Em maio de 1986, vrias medidas foram institudas pelo Ministrio da Sade, dentre as quais podemos citar a criao do Programa Nacional de Ofidismo, na antiga Secretria de Aes Bsicas da Sade (SNABS/MS). Os acidentes ofdicos passaram ento a ser de notificao obrigatria no pas, permitindo uma relao de troca de informaes epidemiolgicas por soro entre as Secretarias Estaduais e o Ministrio da Sade. Com a implantao deste sistema aprimoraram-se os dados sobre ofidismo, mostrando caractersticas epidemiolgicas e clnicas que permitiram o planejamento de aes de controle.O Brasil apresenta diversas famlias de serpentes. Dentre estas, somente duas abrangem as serpentes consideradas peonhentas: a famliaViperidae, destacando-se a subfamliaCrotalinae, qual pertencem os gnerosCrotalus(Cascavel),Bothrops(Jararaca) eLachesis(Surucucu); e a famliaElapidae,que engloba o gneroMicrurus,cujas espcies so conhecidas popularmente por corais verdadeiras1. de grande relevncia que se conhea o gnero a que pertence a serpente para que se possa tomar medidas teraputicas fundamentais em caso de acidente. Contudo, o diagnstico feito, em geral, atravs dos sinais e sintomas apresentados pelo paciente, em consequncia das atividades txicas causadas pela inoculao da peonha2.Dentre os animais peonhentos, as peonhas das serpentes so, provavelmente, as mais complexas, pois contm vinte ou mais componentes diferentes, sendo mais de 90% de seu peso seco constitudo por enzimas, toxinas no enzimticas, protenas e protenas no txicas. As fraes no proticas so representadas por carboidratos, lipdios, aminas biognicas, nucleotdeos e aminocidos livres3.O conhecimento da composio dos venenos e seus principais efeitos sobre o organismo humano permitem ao mdico reconhecer o gnero da serpente responsvel pelo acidente e selecionar a soroterapia adequada, mesmo na ausncia da serpente2.A letalidade dos acidentados varia em diferentes regies do mundo. Na Europa, Estados Unidos e Canad, os acidentes ofdicos so relativamente raros. Cerca de 90% dos 8.000 envenenamentos ocorridos por ano so hospitalizados, resultando entre 15 a 30 casos fatais. Na frica, a frequncia dos acidentes ofdicos precariamente documentada. Dos 500.000 casos de acidentes ofdicos, 40% so hospitalizados, resultando em 20.000 bitos por ano. Na sia, principalmente no Paquisto, na ndia e na Birmnia, os acidentes ofdicos provocam de 25.000 a 35.000 bitos por ano, sendo causados por uma das serpentes mais importantes do mundo: aVipera russelli. No Japo a incidncia geral de aproximadamente 1/100.000 habitantes e a letalidade inferior a 1%4.Entre os pases sul-americanos, o Brasil o que apresenta maior nmero de acidentes/ano5. O territrio brasileiro conta com 250 espcies de serpentes, sendo 70 delas consideradas peonhentas6. Somente no ano de 2005 foram notificados pelo Sistema de Informao de Agravos de Notificao (Sinan) 97.244 envenenamentos por animais peonhentos, dentre os quais as serpentes contriburam com 28.702 casos (29,52%)7.No Brasil os dados sobre acidentes por animais peonhentos so coletados atravs de sistemas de notificao como: Sistema de Informao de Agravos de Notificao (Sinan/MS), Sistema de Nacional de Informaes Txico-Farmacolgicas (Sinitox/Fiocruz/MS), Sistema de Informaes Hospitalares do Sistema nico de Sade/MS e o SIM (Sistema de Informaes sobre Mortalidade/MS). Apesar de todos estes sistemas, os dados epidemiolgicos disponveis no retratam a real magnitude do problema, provavelmente devido subnotificao dos casos, tendo em vista, entre outros fatores, as dificuldades de acesso aos servios de sade de muitos municpios brasileiros.O presente estudo pretende contribuir para a caracterizao do perfil epidemiolgico e clnico dos acidentes ofdicos no municpio de Campina Grande e cidades circunvizinhas.MetodologiaLocal do estudoO municpio de Campina Grande est localizado no Agreste Paraibano, distante 120 km de Joo Pessoa, capital do Estado da Paraba. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatstica - IBGE, este possui uma rea territorial de 671 Km2e uma populao constituda de 379.871 habitantes, sendo que 46,87% so homens e 53,2% so mulheres8. Por dispor de uma posio geogrfica privilegiada, Campina Grande um polo de convergncia, com aproximadamente 232 municpios, tanto da Paraba, quanto de estados vizinhos, cujos habitantes se deslocam para o municpio em busca dos servios oferecidos, entre os quais os de sade.Esta pesquisa foi realizada no Centro de Assistncia e Informao Toxicolgica (Ceatox), servio oferecido pelo Departamento de Farmcia da Universidade Estadual da Paraba - UEPB em parceria com o Hospital Regional de Urgncia e Emergncia de Campina Grande (HRUECG). Este servio, que considerado de referncia para o Municpio de Campina Grande e o Estado da Paraba, dirigido populao em geral, funcionando em regime de planto permanente.Desenho e populao de estudoTrata-se de um estudo transversal, utilizando documentao indireta, sobre os acidentes ofdicos ocorridos em Campina Grande e cidades circunvizinhas, entre janeiro e dezembro de 2005. Todos os pacientes includos no estudo apresentavam diagnstico mdico de acidentes por serpentes no Ceatox-CG. Os dados foram coletados atravs das fichas de notificao do Sinan para Animais Peonhentos, do Ministrio da Sade.Variveis de estudoForam analisadas as seguintes variveis: demogrficas, socioeconmicas, e as relativas ao acidente, ao gnero da serpente; e as clnicas.A gravidade do envenenamento foi classificada conforme recomendao do Ministrio da Sade: leve, moderado ou grave, nos acidentes botrpicos e crotlicos, e grave no acidente elapdico9.Anlise dos dadosOs dados foram tabulados e analisados atravs de estatstica descritiva no Microsoft Excel, verso 2003.ResultadosNo perodo estudado foram atendidos e notificados 1.443 casos de intoxicaes por biocidas, medicamentos, animais peonhentos, plantas txicas, drogas de abuso e produtos qumicos. Destes, 737 casos foram causados por animais peonhentos, sendo que 277 foram causados por serpentes (Tabela 1).NaTabela 2observa-se a caracterizao dos acidentes ofdicos atendidos e notificados no Ceatox-CG, segundo as variveis sociodemogrficas. Os acidentes foram mais frequentes no sexo masculino, com 199 casos (71,8%). Atravs da anlise de Correlao dePearson, avaliamos a relao existente entre os grupos, que apresentou correlao positiva (r=0,883). Com relao faixa etria, observou-se maior frequncia de acidentes entre 10 e 19 anos, para ambos os sexos, contribuindo para 22,8% das ocorrncias. Observa-se, tambm, que para a varivel grau de instruo, prevaleceu o nmero de casos ignorados: 154 (55,6%).

No tocante ocupao, constatou-se que a maioria dos acidentes ocorreu em agricultores, 127 casos (45,8%), e na zona rural, 205 casos (74%).Os acidentes ofdicos ocorreram durante todos os meses, ainda que de forma irregular. Observou-se um pequeno aumento nas notificaes no perodo de maio a novembro, e um declnio de casos nos meses de dezembro a abril. Contudo, a maior incidncia de acidentes ofdicos ocorreu no ms de agosto, com 37 casos (13,4%), seguidos dos meses de julho, com 34 (12,3%), e de setembro e novembro, 33 (12,0%) (Figura 1).

Os municpios com maior ocorrncia de acidentes foram: Campina Grande, representando 10,8%, Tapero (6,8%), Soledade (6,4%), Boa Vista (4,3%) e Barra de Santana (4,1%); os demais municpios apresentaram ndice menor que 4% (Figura 2).Com relao regio anatmica, na qual ocorrem as picadas das serpentes, as extremidades foram os locais de maior predominncia, com 246 casos (88,8%), sendo 65 deles (26,4%) na extremidade superior e 181 (73,6%) na extremidade inferior. Na extremidade superior, o dedo da mo foi o local mais acometido, 37 ocorrncias (56,9%); na extremidade inferior foi o p, com 134 casos (74,0%) (Tabela 3).

Com base no diagnstico e/ou identificao das serpentes, os gneros responsveis pelos acidentes foram:Bothrops(198 casos - 71,3 %), serpentes no peonhentas (69 casos - 24,9 %),Crotalus(7 casos - 2,5 %) eMicrurus(3 casos - 1,1%) (Tabela 4).

Nos acidentes por serpentes do gneroBothrops,os casos leves prevaleceram, com 140 registrados (70,7%), seguidos de 46 moderados (23,3%) e 12 graves (6,0%); nos acidentes por serpentes do gneroCrotalus,ocorreram 2 casos moderados (28,7%) e 5 graves (71,4%). Os acidentes por serpentesMicrurusforam classificados como graves. A evoluo para cura predominou, havendo apenas um bito, causado por serpente do gneroBothrops, com um coeficiente de letalidade de 0,5%. Observa-se, ainda, naTabela 4, que 24,9% dos casos atendidos foram causados por serpentes no peonhentas ou por serpentes peonhentas que no causaram envenenamento (picada seca), ou seja, os pacientes no apresentaram qualquer anormalidade. Quanto s espcies das serpentes consideradas no peonhentas, predominaram acidentes com corre-campo (Philodryas nattereri) e cobra verde (Philodryas olfersii), ambas pertencentes famliaColubridae.A mdia geral do tempo, em horas, decorrido entre o acidente e o atendimento, baseado na gravidade foi de 4,3 (2,4), 5,3 (3,7) e 26,5 (29,9) nos casos leves, moderados e graves, respectivamente.DiscussoNo municpio de Campina Grande, o Centro de Assistncia e Informao Toxicolgica constitui a unidade de referncia para o atendimento de acidentes ofdicos. Sua relevncia fica demonstrada pelo nmero de casos atendidos nesta unidade.O predomnio de acidentes entre o sexo masculino, na faixa etria entre 10 a 19 anos, pode ser devido precoce insero no trabalho agrcola das pessoas nesta faixa etria, muito provavelmente com vistas a contribuir para o aumento da renda familiar10. No estado do Cear, Feitosa et al.11, no Amazonas, Borges et al.12e, na regio do Noroeste de So Paulo, Rojas et al.13encontraram dados semelhantes. Fonte do Ministrio da Sade de 200514mostra que, quanto ao grau de instruo, predominaram os casos ignorados (213), o que se assemelha aos nossos resultados.Nesta pesquisa observou-se a prevalncia da atividade agropecuria e da zona rural. Na regio Nordeste, principalmente no interior, na poca de plantio e colheita, observa-se uma maior movimentao de trabalhadores rurais. Assim, provavelmente pode haver uma relao direta entre o aumento de acidentes por serpentes e a poca destinada ao plantio e colheita da safra agrcola. Estas informaes reforam a conotao do acidente ofdico como acidente de trabalho, uma vez que o seu incremento coincide com o deslocamento do trabalhador rural para as atividades do campo11,15.Os resultados confirmam a observao feita por Theakston e Griffiths16, que relatam que no mundo inteiro a atividade agrcola se apresenta como um fator de risco para a ocorrncia de acidentes ofdicos.Albuquerque15e Swaroop e Grab17justificam o fato afirmando que os ndices de acidentes por serpentes obedecem a uma variao regional considervel, ou seja, estudos regionalizados podem demonstrar diferenas marcantes como as que ocorrem entre a regio Sul/Sudeste e a regio Nordeste. No Sul/Sudeste os acidentes predominam nos meses de outubro a abril, caracterizados por um perodo chuvoso e quente, com um recesso no inverno, enquanto na regio Nordeste h um aumento nos meses de maio a setembro, seguido de decrscimo a partir de outubro.Em Gois, Pinho et al.18relataram que entre os meses de abril e outubro, os acidentes foram mais frequentes (entre 1998 e 2000), coincidindo com o perodo de maior pluviosidade e temperatura, bem como de maior atividade agropecuria nesta regio.As vtimas foram picadas mais frequentemente nos membros inferiores, com maior frequncia nos ps. Em So Paulo, Ribeiro et al.19, e no Acre, Moreno et. al.20relataram, tambm, que a regio anatmica mais frequentemente atingida foi a do p (43,1%), seguindo-se a perna (25,7%) e a mo (16,5%).Portanto, o uso de equipamentos de proteo especficos, como perneiras, botas de cano alto, luvas ou instrumentos para retirar entulhos e remover o mato, como enxadas e ps, poderiam evitar cerca de 50 a 75% dos casos21,22.Nesta pesquisa verificou-se que o gneroBothropsfoi responsvel pela maioria dos acidentes envolvendo serpentes peonhentas. Devido capacidade de se adaptar a diferentes tipos de ambientes23, as serpentes desse gnero podem ser encontradas nos mais diversos ecossistemas.Dentre os estudos epidemiolgicos realizados em alguns estados do Brasil, podemos citar o de Moreno et al.20, realizado no Acre no ano de 2002. Neste, o gneroBothropsfoi responsvel pelo maior nmero de acidentes, com 109 casos (75,7%), seguido pelo gneroLachesiscom 3 (2,1%) e o gneroMicruruscom 1 (0,7%). Bochner e Struchiner10, num trabalho de reviso da literatura sobre a epidemiologia dos acidentes ofdicos no Brasil nos ltimos cem anos, concluram que a maioria desses acidentes causada por serpentes do gneroBothrops.Os casos classificados como grave foram atendidos, em mdia, mais tardiamente do que os demais, o que sugere que o tratamento tardio seja fator de mau prognstico, o que plenamente explicvel, pois o soro deve ser administrado o mais precocemente possvel, com o intuito de neutralizar as atividades do veneno15.De acordo com o Ministrio da Sade9, uma vez indicada a quantidade de soro a ser administrada, esta deve ser aplicada em dose nica.Alm disso, na regio Nordeste h pacientes que demoram vrias horas para procurar atendimento na unidade de sade do seu municpio, como tambm podem no receber o tratamento adequado e acabam sendo transferidos para unidades mais complexas de outra cidade. O extenso lapso temporal entre o acidente e o atendimento pode determinar a evoluo para um quadro mais grave.No Cear, diferentemente dos nossos resultados, Feitosa et al.11, avaliando aspectos epidemiolgicos dos acidentes ofdicos entre 1992 e 1995, relatam que os bitos foram mais frequentes nos acidentes por serpentes do gneroCrotalus. Alm disso, nos anos de 2005 e 2006, dados do Ministrio da Sade notificaram 75 e 50 bitos por serpentes do gneroBothrops, e para o gneroCrotalus20 e 12 bitos, respectivamente. Contudo, o coeficiente de letalidade maior para os acidentes Crotlicos do que para os acidentes Botrpicos7,14.ConclusoConclui-se que os acidentes envolvendo animais peonhentos, notificados no Ceatox-CG, apresentaram elevada prevalncia em relao a outros agentes. A epidemiologia dos acidentes ofdicos corrobora para um perfil no Brasil que evidencia maior frequncia em trabalhadores rurais do sexo masculino na faixa etria produtiva de 10 a 49 anos; atingem, sobretudo, os membros inferiores; e a maioria desses acidentes atribuda ao gneroBothrops. Vale ressaltar a importncia do correto preenchimento da ficha de notificao e a necessidade de um tratamento precoce para as vtimas de acidentes ofdicos, utilizando, sempre que possvel, a via endovenosa para administrao do soro especfico com o menor tempo possvel entre o acidente e o atendimento. A incluso de acidente ofdico na lista de doenas ocupacionais e a sua adequada vigilncia poderiam representar um avano em Sade Pblica, no somente por determinar menor incidncia, mas tambm porque o precoce e correto encaminhamento dos que se acidentam pode diminuir a limitao temporria e s vezes definitiva na capacidade de trabalho, eventualmente causada por essa condio, assim como sua mortalidade e letalidade.Referncias1. Melgarejo, AR. Serpentes Peonhentas do Brasil. In: Cardoso, LC et al.Animais Peonhentos no Brasil: biologia, clnica e teraputica dos acidentes.So Paulo: Savier; 2003, p. 33-61. [Links]2. Azevedo-Marques M, Cupo P, Hering SE. Acidentes por animais peonhentos: Serpentes peonhentas.Medicina2003; 36: 480-9. [Links]3. Frana, FO DE S, Mlaque, CMS. Acidente botrpico. In: Cardoso, LC et al.Animais Peonhentos no Brasil: biologia, clnica e teraputica dos acidentes. So Paulo: Savier; 2003, p. 72-86. [Links]4. Chippaux JP. Snakebites: appraisal of the global situation.Bull World Health Organ1998; 76(5): 515-24. [Links]5. World Health Organization.Progress in the characterization of venoms and standardization of antivenoms. Geneva; 1981. (WHO offset Publication, 58). [Links]6. Pinho, FMO, Pereira, I. D. Ofidismo.Rev Assoc Med Bras2001; 47(1): 24-9. [Links]7. SINAN-Sistema Nacional de Agravos de Notificao. Estatstica 2006. Ministrio da Sade. Disponvel emhttp://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb. [Acessado em 20 de maro de 2008] [Links].8. IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Ministrio do Planejamento Oramento e Gesto [On-line]. Braslia, Brasil; 2007. Disponvel emhttp//www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php. [Acessado em 20 de maro de 2008] [Links].9. BRASIL. Ministrio da Sade.Manual de diagnstico e tratamento de acidentes por animais peonhentos. 2 edio; [on-line]. Braslia: Fundao Nacional de Sade; 2001. Disponvel emhttp://www.funasa.gov.br/pub/pub00.htm. [Acessado em 10 de junho de 2007] [Links].10. Bochner R, Struchiner CJ. Aspectos ambientais e scio-econmicos relacionados incidncia de acidentes ofdicos no Estado do Rio de Janeiro de 1990 a 1996: uma anlise exploratria.Cad Sade Pblica2004; 20(4): 976-85. [Links]11. Feitosa RFG, Melo IMLA, Monteiro HSA. Epidemiologia dos acidentes por serpentes peonhentas do Estado do Cear - Brasil.Rev Soc Bras Med Trop1997; 30(4): 295-301. [Links]12. Borges, CC, Sadahiro M, Santos M C DOS. Aspectos epidemiolgicos e clnicos dos acidentes ofdicos ocorridos nos municpios do Estado do Amazonas.Rev Soc Bras Med Trop1999; 32(6): 637-46. [Links]13. Rojas, C A, Gonalves, MR, Almeida, Santos, SM. Epidemiologia dos acidentes ofdicos na regio noroeste do estado de So Paulo, Brasil.Rev Bras Sade Prod An2007; 8(3): 193-204. [Links]14. SINAN - Sistema Nacional de Agravos de Notificao. Estatstica 2005. Ministrio da Sade. Disponvel emhttp://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb. [Acessado em 20 de maro de 2008] [Links].15. Albuquerque HN.Perfil clnico e epidemiolgico dos acidentes ofdicos notificados no estado da Paraba[dissertao de mestrado]. Campina Grande: Universidade Estadual da Paraba; 2002. [Links]16. Theakston, RDG, Warrell, DAB, Griffiths E. Report of a WHO workshop on the standardization and control of antivenoms.Tox2003; 41: 541-57. [Links]17. Swarrop S, Grad B. Snakebite mortality in the world.Bull World Health Organ1954; 10: 35-76. [Links]18. Pinho FMO, Oliveira ES, Faleiros F. Acidente ofdico no estado de Gois.Rev Assoc Med Bras2004; 50(1): 93-9. [Links]19. Ribeiro, LA, Jorge, MT, Iversson, LB. Epidemiologia do acidente por serpentes peonhentas: estudo de casos atendidos em 1988.Rev Sade Publica1995; 29(5): 380-8. [Links]20. Moreno E, Queiroz-Andrade M, Silva, RM, Neto JT. Caractersticas clnico-epidemiologicas dos acidentes ofdicos em Rio Branco, Acre.Rev Soc Bras Med Trop2005; 38(1): 15-21. [Links]21. Brazil V.A defesa contra o ophidismo. So Paulo: Editora Pocai & Weiss, 1911. [Links]22. Campbell JA, Lamar WW.The venomous reptiles of Latin America. New York: Cornell University Press; 1989. [Links]23. Barravieira B.Venenos: aspectos clnicos e teraputicos dos acidentes por animais peonhentos.Rio de Janeiro: EPUD; 1999. [Links]24. Fan, HW. Soroterapia. In. Cardoso, Luiz da Costa et al.Animais Peonhentos do Brasil: biologia, clnica e teraputica dos acidentes. So Paulo: Editora Sarvier; 2003. p. 381-93. [Links]