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musica de Capo Verde

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Artigos sobre a msica de Cabo VerdeOrlando Barretto Pantera Orlando Pantera: Foi Um Cometa Orlando Pantera - Um mito em construo Funana Cabo Verde, a ferro e gaita Julinho da Concertina Kod, o patriarca -Entrevista com Kod di Dona Histoire d'un accordon Le Funana des Badiu : Kod di Dona A.T.A. Djudja in the us with benny as a holiday gift Musica Cabo-verdiana: o bilhete de identidade do arquiplago Chando Graciosa An Artist and a Phenomenon Chando Graciosa: Voz, coros e ferrinho BAU Msica sem fronteiras TITO PARIS Sonho com um disco de morna sinfnica Tito Paris: uma voz rara de sucesso Tera, 2 de Abril de 2002 A nova gerao Tito Paris - Kapverdianische Musik in Lissabon Maria Alice E a chuva cai Lura Cabo Verde a rimar com Brasil Ana Firmino A dama do Mindelo Cesria vora Oceanos no ciclo da Terra Ildo Lobo Meno Pecha em Cabo Verde Paulino Vieira (www.paulinovieira.com) Lus Morais reinventa percurso a formar novos msicos Mais de 30 anos depois "Voz de Cabo Verde" volta a juntar-se Dudu Arajo Elogio da voz universal Tt Alhinho gravou um disco com o qual no nos atrevamos sequer a sonhar A tabanca de Santiago, Cabo Verde, num filme de Carlos Brando Lucas Banderona (Fogo) A dana do landu 1 Introduo 2 Breves consideraes terico-descritivas 3 Algumas definio do lundu (m) 4 Origem e irradiao do lundu 5 O landu em Cabo Verde Vasco Martins, The "ten stars fallen from heaven" Breves Apontamentos sobre as Formas Musicais existentes em Cabo Verde [1] Tabanka Djaz; "Na Guin-Bissau, a Cultura Morreu a Partir de 1980" Raiz di Djarfogo - Cap-Vert Breves Apontamentos sobre as Formas Musicais existentes em Cabo Verde ALVENO FIGUEIREDO CELEBRA REGRESSO COM OBRA MONUMENTAL Lista de literatura

Orlando Barretto Pantera Orlando Pantera: Foi Um CometaExpresso, 17 de Agosto de 2001

Morreu aos 33 anos, mas em Cabo Verde j era um mito. H quem fale em Orlando Pantera como a maior descoberta musical da dcada. Agora em Portugal registos precrios das suas msicas passam de mo em mo por aqueles que se descobriram fs. H projectos de edies pstumas. Joana Gorjo Henriques Quando se fala com quem o conheceu vrias ideias se repetem. A de que nele as pulsaes nasciam da msica e batiam ao ritmo de uma criatividade generosa. A de que a naturalidade com que musicava a vida era uma dvida (talvez ele, catlico, pensasse que de Deus) a partilhar com os outros. Assim ficou espalhada a msica de Orlando Pantera. No gravou nenhum lbum - morreu antes disso - e neste momento a nica maneira de ouvir uma obra que todos dizem ser de grande qualidade copiando-a a partir do material disperso que deixou. Considerado percursor de um novo estilo na msica cabo-verdiana, foi letrista (poeta, diriam alguns), compositor, multinstrumentista e s nos ltimos anos de vida que cantou em pblico. Musicava os homens e mulheres do campo, o amor e suas desiluses - "sou cabo-verdiano", lembrava. Desenterrou gneros tradicionais da ilha de Santiago esquecidos pelas geraes ps-independncia e, sem os reproduzir mas respeitando-os, criou o seu estilo, admirado por consagrados e jovens. No gravou nenhum disco, mas o espanto multiplica-se: gnio de sensibilidade extrema e fora criativa intensa; inovador e autntico; criador de um mundo potico belssimo; excelente compositor de canes. Um artista que iria ser uma "revelao", impulsionador de uma msica aberta a influncias com potencialidades para correr o mundo. Quando, h algumas semanas, foi exibido no B. Leza, em Lisboa, o documentrio "Mais Alma", de Catarina Alves Costa - sobre a situao dos artistas cabo-verdianos, e onde Pantera tem forte presena ao longo de uma hora - o espao estava a transbordar de gente. Foi exibido segunda vez e voltou a esgotar. Claro que a euforia - a "mitificao"? - vem do f lacto de Pantera ter morrido jovem, vtima de pancreatite aguda, a 1 de Maro de 2001, no dia em que ia comear a gravar em Frana o primeiro lbum, "Lapidu na B"/ "Colado a Ti". O determinismo fatalista fez ainda notar: desapareceu com a idade de Cristo, 33 anos. "Tenho a certeza que no vou ver mais nenhum gnio como ele. S h dois ou trs num sculo. Foi um cometa: passou para dar luz. Comparo-o a Jim Morisson. Acho que vai inspirar muitos jovens. A sua maneira de ser, de estar, de viver, a sua gentileza... Era quase pattico, o talento dele era to imenso... Cabo Verde no vai ter um artista assim nos prximos 50 anos. Como Pel, no futebol, ainda andmos procura de um...", diz, emocionado, Elsio Lopes, da editora francesa Morabeza Records, onde Pantera iria gravar duas msicas de "Lapidu na B", o disco em que apresentaria ao mundo o projecto "Racodja"/ "Recolha", resultado de uma pesquisa dos gneros tradicionais desenvolvida ao longo de mais de 10 anos na ilha de Santiago. Patrimnio. No h disco, mas circulam registos vrios pelos que, de repente, se tornaram fs. S que, em breve, Pantera poder ser ouvido sem ser por portas travessas. A Morabeza Records vai editar um lbum pstumo - sem data marcada; quer faz-lo "sem pressa, para produzir um disco de qualidade", tal como o tinha pensado o msico -, recolhendo as suas msicas, sobretudo aquelas em que Pantera era protagonista. Clara Andermatt, com os co-produtores Teatro Nacional So Joo, Ministrio da Cultura e Montepio Geral editar a banda sonora de "Dan Dau", espectculo da coregrafa com quem Pantera trabalhou de 1998 a 1999, altura em que viveu em Portugal. Ser uma edio limitada de dois mil discos (o objectivo acompanhar a digresso da coreografia em Setembro), susceptvel de aumentar se o mercado o exigir. A

coregrafa dedica o CD memria de Pantera, que participa em cinco das oito msicas. Entrar no circuito comercial em Novembro. Mas onde que est este patrimnio musical? Ao que tudo indica, a maioria do material gravado em estdio est nas mos do compositor Joo Lucas, um dos scios do estdio lisboeta Luminria, onde Pantera chegou a agendar, para Fevereiro, a gravao de algumas msicas do primeiro disco (nem a mulher de Pantera, Carla Garcia, nem Lucas sabem porque que desistiu da ideia). Foi no Luminria que, em 1998, Pantera fez experincias a pensar nesse disco que no finalizaria: cinco msicas a solo, entre as quais "Batuko", includa no CD de "Histria da Dvida" (outro espectculo de Andermatt), para o qual comps ainda, com Joo Lucas, "I am a professional", integrada tambm em "Dan Dau". A gravou ainda cinco msicas para "Ptu", espectculo do Raz de Plon (grupo ao qual esteve ligado desde 1997). Existem tambm compilaes com msicas de Pantera: "Vero 2000" e "Filhos do Funan"; sete composies em discos de outros intrpretes, Mrio Rui, Djudja, Grace vora, Pentagono, Filipe e Tubares. Para alm disso, Carla Garcia, com quem Pantera viveu durante oito anos e de quem teve uma filha (Darlene, com seis anos), j reuniu cerca de 34 temas dispersos de um artista "que dava as msicas a toda a gente". Garante: "h muitos mais". Por agora desconhece a qualidade do material que tem em mos, e a sua extenso, at porque em Cabo Verde no existe uma instituio que proteja os direitos de autor - o msico registou as suas obras em Frana. Juntamente com um advogado, Carla est a registar o patrimnio que Pantera deixou por registar: as msicas de que apenas existem as letras que Pantera ia anotando em papis; as que se encontram nas mos de msicos com quem gravou e tocou; as que gravou em ensaios e as que nunca foram escritas, porque ele e os outros as sabiam de cor; as msicas infantis que comps com as crianas a quem ensinava msica... "Existe um aproveitamento da obra do Pantera porque ele confiava em toda a gente, era muito espontneo, dizia s pessoas que podiam gravar as msicas dele e, que eu saiba, nem recebia contrapartidas financeiras. Nunca o ouvi falar em dinheiro", conta Raul Ribeiro, dos Arkor, grupo com quem Pantera ia gravar em Portugal, no Praa das Flores, algumas msicas do seu disco. "O disco iria criar um espao prprio. Daqui a cinco anos teramos os frutos disso", a convico de Ildo Lobo (ex-Tubares). Tambm a cantora Celina Pereira, a residir em Portugal h 31 anos, v em Pantera uma revelao. Que a morte est a transformar em mito. "Quando conheci Pantera tinha o violo nas mos e dedilhou uma coisa que parecia o 'Summertime'. Comecei a cantar... Foi logo uma empatia que se criou ali...Ele tinha uma enorme preocupao com uma lacuna que existia, com a relao dos cabo-verdianos da dispora com a msica tradicional, de eles s ouvirem o zouk [gnero comercial, de dana]". O que foi e o que poderia ter sido. Mesmo com o material disperso, mesmo que a fraca qualidade tcnica justifique que se retire a sua voz de algumas gravaes para a colocar por cima de temas recriados, h vontade de que a obra seja editada. A ideia, explica Carla, editar o disco que Pantera tinha previsto e depois, se houver material suficiente, um outro. Elsio Lopes, da Morabeza Records, ir a Itlia e vir a Portugal, talvez ainda a outros pases por onde Pantera passou, reunir-se com aqueles que tm composies do msico. Porqu tanto interesse em lanar um disco de algum que nunca chegou a ter carreira internacional e que s pouco tempo antes de morrer comeou a cantar em pblico, depois de Manu Preto, do Raz de Plon, ter insistido para que ele subisse ao palco e mostrar que, ao contrrio do que dizia, sabia cantar? Joo Lucas responde: "uma das coisas mais chocantes" para quem conheceu Pantera foi a sua morte ter acontecido "num momento em que ele iria ser uma revelao. fcil imagin-lo a disputar o mercado da 'world music'... A msica, inspirada em folclore e nas tradies, tinha um grande trunfo: a vontade de encontrar uma originalidade sem prejuzo da autenticidade".

Quando tocava a solo - voz e guitarra - revelava "qualquer coisa de ancestral, e ao mesmo tempo um virtuosismo e uma grande autencidade", descreve Lucas. Quem conheceu Pantera, acrescenta ainda, "fala dele com o respeito por um artista cosmopolita", to grande como os grandes - "como o senegals Youssou N'Dour" - que tm discos no mercado. Vladimir Monteiro, jornalista e autor do livro "La Musique de Cabo Verde" (editado em Frana pela Chandaigne), inequvoco ao enquadrar Orlando Pantera no contexto cabo-verdiano: "Um dos melhores compositores e intrpretes da ltima dcada". "Coloc-lo-ia na categoria dos novos estilos, ao lado de pessoas como Vasco Martins ou Mrio Lcio (dos Simenteira). Em termos de texto tinha tudo para vir a ser um novo Manuel d'Novas [msico intrprete de coladeras], porque so textos ricos, bem pensados onde h uma certa filosofia e preocupao em introduzir a palavra certa, no momento certo", define. Teresa Cascudo, crtica de msica clssica do PBLICO, ressalva a dificuldade em falar de algum que nunca gravou um disco - "a que est o drama: o que ele foi e o que podia ter sido" - e de uma msica que conheceu sobretudo "pelos olhos" de quem a faz. Mas, ainda assim, destaca um repertrio que investe na identidade e segue uma via "que tem a ver com a atitude que existe na msica erudita ou no jazz, onde h lugar para a pesquisa, e em que o objectivo a fuso, aproveitando diversas tradies, incluindo a prpria." Pantera tinha "o sentido de dramaturgia, a capacidade de criar uma histria do princpio ao fim e um mundo potico muito belo", qualidades que o tornariam "num maravilhoso criador de canes". Recorda a "vitalidade intensa e o optimismo militante" de algum que "fazia msica por uma questo de vida ou morte: como respirar". Para Elsio Lopes, Pantera corresponde a uma evoluo da msica cabo-verdiana: "Tem uma abertura extraordinria ao mundo e ao mesmo tempo aproxima-se da raiz de Cabo Verde e do continente africano. A dor da realidade da vida, to difcil para seres humanos sensveis como ele, est presente na sua msica e na sua interpretao." H ainda, para Clara Andermatt, uma componente cultural decisiva: a msica de Pantera tem mais "alma cabo-verdiana" do que influncias internacionais. "A musicalidade a da alma dos cabo-verdianos: uma mistura de aceitao das condies em que vivem e uma paz nessa tristeza." Cantava com o corpo todo. Quem viu Pantera em concertos descreve a metamorfose, nos palcos, de um homem tmido. Ningum diria que desde mido ele pedia a outros para cantar as suas msicas, "porque de cada vez que cantava ficava rouco", achava que no tinha voz. Segundo conta a me, tudo comeou com Mrio Rui, o amigo cantor, numa altura em que nem ela nem o pai tinham dado conta que o filho se tornaria msico - mas ele j rondava o av materno para lhe ensinar a tocar gaita e acordeo, e contava me que se deitava a pensar em msicas que ia escrever a meio da noite. Mrio Rui tinha a viola em que Pantera tocou as primeiras notas e foi com ele que experimentou o cavaquinho, a flauta, depois de fazer msica com as latas que punha entre as pernas, diz a me. Na altura em que comeou a cantar em pblico, a maioria dos espectadores talvez ainda no associasse o seu nome ao do compositor que havia criado uma cano para Grace vora e trs temas para o lbum dos Tubares, "Porton di Ns Ilha". Foi com estes que foi galardoado com o Prmio Compositor do Ano, em 1993, e foram essas msicas que o tornaram estrela, segundo Vladimir Monteiro. Apesar de ainda no terem "traos do que viria fazer" - dois funans e uma coladera -, introduzem "uma lufada de ar fresco no disco dos Tubures, dando mais nfase ao trabalho" do grupo. "Nasceu para o palco, para a msica. Mas quando parava e tinha que falar ao pblico, voltava ser o homem tmido. Quando estava a tocar com outros no procurava colocar-se em evidncia", descreve Vladimir Monteiro. Talvez tambm por isso nem todos os que assistiram a "Histria da Dvida", em 1998, no CCB, tenham reparado que entre os msicos no palco l estava Pantera. Talvez isso

explique ainda a sensao com que Andermatt ficou da sua presena: "uma cara muito aberta, que tinha a ver com a entrega s pessoas, vida; um corpo fechado, com os ombros virados para dentro" pela "timidez latente" de algum "extremamente inseguro, sem razo para o ser". Quando Andermatt e Joo Lucas se encontraram com ele em 1998 - os dois viajaram at Cabo Verde para fazer audies para "Histria da Dvida" - a coregrafa j havia reparado na "luz e brilho" do msico que tocara no Trindade, em Lisboa, durante "At ao Fim", coreografia que Manu Preto, director da Raz de Plon, trouxe a Portugal em 1997. Nesse encontro, em que foram ouvidos 20 msicos, Joo Lucas lembra-se que Pantera tocou trs minutos. "Havia algo que transcendia a performance, a relao dele com a msica, a forma como o corpo vibrava, as expresses fsicas de quem tem um grau de musicalidade elevado. Todo ele vibrava, no era capaz de cantar sem ser com o corpo todo". Numa entrevista cedida ao Y por Catarina Alves Costa (material que no chegou a usar no seu documentrio) Pantera descreve o seu trabalho com teatro e dana: "No se reproduz s o que se ouve, mas tambm a pessoa, o homem ou a mulher do interior de Santiago; enquanto se toca tem que se olhar a sua boca, o seu cabelo, a sua raiva, se salta de alegria... Tem que se fazer igual, est-se a imit-lo, reproduz-se o que se ouve, o que se olha, o que se sente." E acrescentaria sobre a sua experincia de pesquisa na aldeia de Mato Sanches: "Fiquei muito surpreendido com o comportamento das pessoas, a maneira como vivem, como recebem, o modo que consideram a religio, a simplicidade. So pobres e miserveis, mas alegres e sinceros. Isto so tudo coisas que aproveito no meu trabalho: esta sinceridade, esta alegria, esta tristeza, esta espontaneidade e fora volta de msica." " preciso observar, viver e guardar na alma". maneira do homem do campo. Na altura em que comeou a dar espectculos, levava as camisas e calas boca de sino " maneira do homem do campo", pormenores que ia anotando nos seus papis - muitos deles a mulher no consegue decifrar, da que tenha o projecto de reunir tudo para algum escrever um livro sobre o msico cujas expresses a cantar reproduziam "os homens e as mulheres caboverdianas do campo", como descreve Daniel Ribeiro (Nhelas), amigo de Pantera. Eram estas expresses, o trabalho com o corpo e a recriao do ambiente onde nasceu e cresceu, que Pantera levava para o palco. "Tocava de forma moderna, batia nas cordas como os msicos de rock. Na sua tcnica no havia nada de tradicional e era isso que fazia a diferena. J a cantar, havia semelhana com as cantadeiras de finaon, na forma como entoava uma frase, outras, como os rappers, ia non stop", define Vladimir Monteiro. O que que era inovador? "O facto de Pantera juntar as duas partes que compem o batuque - o finaon (textos) e a sambua (ritmo) - com o violo e a voz, fundindo ainda vrios estilos (jazz, rock, pop, msica africana, brasileira...)." Raul conta que Pantera escrevia tudo o que pensava e anotava at "os passos que dava no palco". "Escrevia sobre os rituais de morte, a alimentao, a forma de vestir das mulheres e dos homens, o casamento, o nascimento, o baptismo...". Segundo contou Pantera a Catarina Alves Costa: "Com oito anos j tinha uma certa apreciao da arte e msica, influncias de ter crescido em Angola e de ter ouvido gneros afro, ritmos que interiorizei. Com 15/16 anos comecei procura do que tradicional em Cabo Verde, a ter curiosidade em explorar os gneros que considero um pouco rudes em termos de trabalho tcnico, que muito bonito, mas que em termos meldicos repetitivo e montono. Por isso criei um novo rosto e um novo ambiente no batuque e na tabanca. Na tabanca utilizo bzios, que considero um instrumento sublime, utilizo tambores que acho que combinam muito bem com os bzios, e tento explorar ao mximo a voz e o feeling do msico". Pantera "queria ideias mil", conta Raul Ribeiro. ngelo, tambm dos Arkor, recorda que com ele ouvia do jazz americano ao afro-cubano, da msica clssica coral,

discos que trazia de cada stio por onde viajava - Charlie Parker, Louis Armstrong, Pat Metheny, George Benson, Caeteno Veloso, Djavan, Gilberto Gil, Tom Jobim, Paco de Lucia... De Portugal levou Mrio Laginha e Maria Joo, tambm Bernardo Sassetti e outros - Djudja, que chegou a partilhar casa com ele em Portugal, diz ainda que Pantera gostava do fado. Nunca se vai saber como seria o primeiro disco de Pantera. Nem ele prprio o havia definido. "Eram vrias as ideias que surgiam de dia para dia", diz Carla. Joo Lucas notou em Pantera, nos ltimos meses de 2000, "ansiedade e ao mesmo tempo uma grande indefinio esttica". "Havia sinais de sucesso - foi convidado para o Festival da Baa das Gatas [homenageado no Festival da Gamboa], para compr a msica para o filme de Flora Gomes ['Nha Fala']...". Ficou com a sensao que Pantera "tinha conscincia das suas capacidades, mas no era empreendedor". Quando conversou com o produtor, Elsio Lopes, Pantera disse-lhe que no queria entrar no 'star system', que queria liberdade, "mais em termos artsticos do que financeiros". "No tnhamos fixado tempo, nem oramento", conta. "Falei-lhe em gravar o disco sozinho - nem sabia que tambm ia gravar em Portugal e noutros stios -, mas dei-lhe carta branca para o fazer como quisesse. Ningum sabe como seria o disco". No dia em que morreu, Orlando Pantera tinha o estdio marcado com Elsio Lopes, em Frana. Seguiria depois para Portugal e da para o Brasil e Holanda. O produtor caboverdiano radicado em Frana desde os 13 anos tinha-o ouvido pela primeira vez em Janeiro, em casa do msico Geraldo Mendes. No teve dvidas de que queria produzir o seu disco; no tem dvidas de que ainda o quer fazer, a ttulo pstumo. "Tive um choque artstico. A maneira dele tocar viola, de cantar e interpretar... Chorei quando o vi, cheguei a pedir desculpa de estar to emocionado, de ter a honra de o ouvir. Pela primeira vez na minha vida escrevi uns versos. Eram sobre a luz." Carla sempre gostou de uma msica que vrias vezes pedia ao companheiro para ouvir. Chamava-se "Dispidida". "Agora vejo que teve algum sentido ele morrer. Nessa msica ele fala da 'dor que passou e ele prprio procurou', de no ter feito nada do que queria, de no estar bem em lado nenhum - 'deitado no sabe o que fazer, de p no sabe o que fazer'". Orlando Pantera - Um mito em construo Por JOS VICENTE LOPESExpresso 17 de Agosto de 2001 Chamava-se Orlando Monteiro Barreto, mas todos o conheciam por Orlando Pantera. Pantera, porque quando criana adorava revistas da Pantera Cor-de-Rosa, hbito contrado em Angola, para onde os pais o levaram com um ano (regressou a Cabo Verde em 1976, aos nove). Como andava sempre com as revistas, os amigos, num subrbio da Praia, passaram a cham-lo "Orlando Pantera". O nome ficou e hoje est fadado a ser um dos mitos musicais de Cabo Verde. Como que a prever a sua morte, um dia escreveu numa composio: " ki'm morr antes tempo ressuscitan sem licena"/"A quem morre antes do tempo ressuscitam sem pedir licena". Esta a biografia. Considerado a mais importante revelao musical de Cabo Verde da ltima dcada, morreu jovem, a 1 de Maro deste ano, depois de uma indisposio repentina que todos julgavam ser passageira. Um ou dois dias antes tinha actuado no Quintal da Msica, espao cultural criado na Cidade da Praia h um ano, em que fazia as honras da casa s quintas-feiras. Horas antes de ser internado, tinha estado com os amigos num "hora di bai", convvio de despedida em homenagem a quem ia viajar. Quem ouviu as suas actuaes nos ltimos tempos, no Quintal da Msica, no Pub Cruzero, no Parque 5 de Julho, nos festivais da Gmboa (Praia), Baa das Gatas (Mindelo) ou Sete Luas Sete Sis (Santo Anto) sabia que o trabalho que iria gravar seria um dos momentos marcantes da msica cabo-verdiana. Antes de estar pronto, "Lapidu na B" j era um sucesso entre admiradores. Hoje, alguns amigos procuram levar avante o projecto, como cumprimento de promessa ao msico morto, mas todos

sabem que no ser a mesma coisa. No mximo, ser um esboo do sonho de seu criador, j que o estilo de msica por que vinha enveredando era absolutamente pessoal. Revoluo. Depois do fenmeno Carlos Alberto Martins (Catchs), o homem que no final dos anos 70 "transportou" a msica rural da ilha de Santiago para os centros urbanos, depois de electrific-la, morrendo tambm prematuramente em 1988, aos 36 anos, Pantera vinha operando outra revoluo. Diferente daquela realizada pelo seu dolo Catchs e os Bulimundo nos anos 70 e 80, diferente da que vem sendo realizado pelo grupo Ferro Gaita desde que h trs anos despontou com fora, dando um novo impulso ao funan, batuque e outros ritmos de Santiago. A revoluo de Pantera era mais discreta. A dele era uma msica acstica e experimentalista, com influncias afro-americanas, mas tambm profundamente caboverdiana. Pantera era uma sntese de Catchs, Antoni Denti D'Oro, Codi di Dona, Ano Nobo, Sema Lopi... Como esses trovadores, mergulhou nas razes do mundo rural da ilha de Santiago, transformando cada composio numa crnica musical, revestida com ritmos que fogem aos gneros tradicionais. Como disse algum, andava a criar o seu prprio gnero musical. O lbum a ser gravado seria o resultado desse experimentalismo. Seria o sinal de que tinha chegado a sua vez, depois de vrias das suas composies terem sido gravadas por diversos cantores e grupos cabo-verdianos. visvel o sentimento de perda profunda que deixou entre os amantes da msica cabo-verdiana: a morte levou Pantera quando ele apenas comeava a esboar as suas potencialidades. As colaboraes profissionais nos ltimos cinco anos de vida tero valido, talvez, toda a vida (breve) deste jovem nascido no interior da ilha de Santiago, em Novembro de 1967. Esteve em Portugal, Frana, Holanda, Brasil, EUA e outros pases, em digresses, at que a saudade da famlia falou mais alto, regressando a Cabo Verde, sem deixar de continuar a assumir a msica a tempo inteiro. Para atrs tinham ficado experincias musicais, numa espcie de rito de passagem, at chegar aos Arkor, banda formada por jovens e talentosos msicos. Nos anos 80, integrara vrios grupos, dentre eles o Pentgono e o Quinteto Capaverdeans Jazz Band. Mas, mais importante, o seu nome passou a ser uma referncia musical a partir do momento que Os Tubares gravaram, em 1993, algumas das suas composies, nomeadamente "Tunuca", no CD "Porton di Ns Ilha". A descoberta, ao que parece, pertence ao vocalista desse grupo hoje extinto, Ildo Lobo, que incluiu no ltimo lbum de Os Tubares trs peas do jovem msico. Bastava dizer que Orlando Pantera era o criador de "Tunuca" para logo se saber de quem se estava a falar. No entanto, entre "Tunuca" e as suas composies mais recentes existe uma enorme distncia: tornaram-se mais complexas, sendo patente ressonncias do jazz e de ritmos afro-americanos. Guitarrista e baixista, Pantera mergulhou tambm na percusso, retirando sons dos objectos mais inimaginveis. Aprendeu os primeiros acordes, em Luanda, numa viola construda a partir de uma lata de azeite (h, em Cabo Verde, quem faa assim violinos). Mais tarde, j de volta ao pas natal, aprofundou os seus conhecimentos com o professor de msica Kubala. Em 1993 conheceu um msico cabo-verdiano, com formao em jazz, Ney de Belinda, com quem privou e que o introduziu nesse gnero durante um ano. "Claro que o tempo foi insuficiente", confessou Pantera, "j que tentou transmitir-me em um ano o que devia estudar em cinco anos num conservatrio. Uma das coisas que sempre me recomendava a de que, para sermos bons msicos, temos que aprender a ouvir. E isso verdade." Aberto que lhe foi o caminho, Pantera escolheu os seus dolos (Catchs, Kak Barbosa, Ano Nobo, Manuel d' Novas...), foi-lhes descobrindo os segredos e inventando os seus. Fez-se adulto, msico estimado, mas nunca perdeu o ar de criana, com um sorriso largo e inocente, sempre acompanhado com o violo. Conta Glria Martins, antiga presidente do Instituto Cabo-Verdiano de Menores, que um dia um jovem lhe apareceu no gabinete procura de trabalho. Ela perguntou-lhe pelas habilitaes literrias e ele respondeu que no tinha terminado o 9 ano, no

sabia fazer nada, mas que gostava de crianas... Martins deixou-se render e decidiu dar ao estranho a oportunidade que ele lhe pedia, contratando-o como animador social. Foi o primeiro emprego de Orlando Pantera. Trabalhou na recuperao de crianas, palmilhou a ilha de Santiago, captando o linguajar e a filosofia de vida das pessoas. Alm de procurar mostrar o caminho da vida aos seus alunos da Aldeia S.O.S. da Assomada, ensinava-lhes os segredos da msica. Era adorado. Desse contacto com a realidade resultou um conhecimento mais profundo da ilha maior de Cabo Verde, fonte principal das composies deste msico que escrevia msicas como quem faz "leads". "Quando componho, as primeiras exigncias so a de ter presente os seguintes elementos: quem, quando, como, porqu e onde", disse um dia. Seis meses aps a morte, a msica e a imagem jovial, simptica e alegre de Orlando Pantera continuam por a, "lapidu" (colado) naqueles que conheciam o seu valor e sabiam o que ele ainda tinha a dar a Cabo Verde. Funana Cabo Verde, a ferro e gaita O funan ter vindo para ficar? Em Cabo Verde, como em metrpoles europeias, este som rural de acordes repetitivos genunos ganha espao e do melhor para danar, na frmula original, com sanfona e ferrinho, ou tocado por grupos elctricos. Kod di Dona e o filho Zezinho: com gaita e ferro se constroem os sons do funan. Depois, s danar pela noite fora, enquanto o grogue vai escorrendo... A MUSICALIDADE do cabo-verdiano, o seu apego msica e as suas capacidades de criao atravs dela so dados j adquiridos fora das ilhas crioulas, a ocidente do Cabo Verde senegals. Se extraordinrios cantores como Bana e Cesria vora, Titina ou Celina Pereira, ou os mais novos Ildo Lobo, Tito Paris e Alcides, e exmios msicos como Paulino Vieira ou Armando Tito (ambos na dispora), o malogrado Catchass, o Bau ou o Zez di nha Reinalda so j realidades incontornveis com uma aceitao internacional irreversvel, a verdade que no universo real dos sons cabo-verdianos h muito por descobrir. O arquiplago de Cabo Verde um local nico de interligaes culturais entre a raiz africana, que comanda, e a raiz europeia, que tempera. Durante muito tempo se falou da morna e da coladeira, e por a ficou o conhecimento dos portugueses sobre os ritmos destes trpicos. Foi natural: estas eram duas expresses musicais urbanas, uma espcie de concesso feita por uma moral repressiva que recusava intempestivamente todo o ritmo que lembrasse remotamente o calor do sangue africano e as relaes sensuais dos trpicos. A morna dolente e a coladeira mais tonicamente ousada e agressiva no plano sensual escaparam s censuras - uma represso tem de deixar sempre qualquer vlvula de escape. J se sabe que os povos tm a magnfica capacidade de saber reagir ao interdito, preservando o mais das vezes as frmulas culturais populares perseguidas. Em Cabo Verde, nas ignotas plagas de ilhas pouco atendidas pela corte lusada ou pela repblica colonial sua herdeira, nos desfiladeiros abertos abruptamente por repentinas quanto raras guas em fria durante as aluvies apocalpticas, foram-se criando focos de resistncia onde se resguardou o lundum transposto dos escravos brasileiros, em torna-viagem, a mazurca popularizada e batida a p descalo, a contradana roubada aos sales dos senhores. O funan um desses gneros proscritos que a sanha dos cabos policiais e das batinas dos cnegos e priores aparentou ao diabo e perdio. Acusao curiosa, para uma msica que, tudo indica, ter as suas origens exactamente no seio das igrejas, quando os pequenos rgos portteis e os harmnios que acompanhavam os coros das missas cantadas em latinrio tiveram de ser substitudos por instrumentos mais modestos e baratos, os acordees. Tero estes sido introduzidos no arquiplago

atravs de mos geis de marinheiros de barco com paragem em portos brasileiros ou caribenhos? Vieram de Portugal? A incgnita manter-se- por muito tempo, talvez para sempre, pois no parece que seja fcil aparecerem agora documentos elucidativos. Tambm aqui se nos deparam as malhas que o imprio teceu, na riqueza da simbiose de culturas e na pobreza de documentao escrita que apoie a investigao. Cu honra, mi badio A msica parte intrnseca deste povo, e se o funan ritmo nascido no interior campons ele hoje assumido pelas populaes urbanas como uma das expresses maiores da alma e do corpo de todos e de cada um Era assim que rematava uma coladeira marota que punha a dialogar um caboverdiano de S. Vicente, ocidental mais aculturado e mundano da urbe mindelense do Porto Grande, a outro, badio, um rural do interior de Santiago, ilha maior do grupo oriental. O termo vem de vadio, vagabundo, como se referiam os escravocratas aos negros que ousavam fugir das grilhetas e trabalhos de subjugao e se estabeleciam nas recnditas paragens dos vales quase inacessveis do interior da primeira ilha a ser povoada, a maior e a que preserva mais populao: Santiago. Os badio tm uma cultura muito prpria no seio da ambincia cabo-verdiana. Por mais matizes que apresente, por mais captaes urbanas que sofra, nela est patente a saga da ruralidade num espao em que a gua escasseia, contada gota e nem sempre aparece quando deve para salvar o plantio. A msica chega, assim, de mansinho, como uma prece, um queixume, uma necessidade da alma. Mas um pouco de companhia e solidariedade, uma garrafa de grogue de cana, uma vontade frrea de sobrevivncia compem logo de seguida o ritmo mais pujante, a que se vem ligar uma linguagem nova, uma lngua de aquisio entre palavras europeias, onomatopeias e construes gramaticais e fraseologias de entendimento filosfico africano: o crioulo. Tambm ele essencial para a tonalidade musical do funan, da msica local em geral. Ora, tentando extirpar todo o contedo africano na cultura das ilhas, o colono europeu recusou-lhes, aos de sangue africano nas veias, os tambores ancestrais. As mulheres reagiram desfazendo as suas faixas de pano, embrulhando-as bem embrulhadas e batendo-as como em barrela, entre as coxas fortes. Este som possante, tamborilado, formou o batuque, esse que hoje faz furor em seres lusitanos atravs dos grupos formados pelas mulheres de Cova da Moura (da Associao Moinho da Juventude) ou do bairro da Pedreira dos Hngaros (esse microcosmo vivificante que autoridades e jornalistas na moda insistem em apresentar como um buraco infecto de droga e prostituio, um antema dos mais injustos da nossa actualidade). Assim se foram forjando os diversos ritmos e expresses musicais dos cabo-verdianos. J se vislumbra o que h por escutar ao ouvido europeu agora acordado para estas coisas dos outros sons, dos sons do mundo. Msica do diabo O mar foi o caminho de regresso desta herana No dealbar do sculo XX, o acordeo era introduzido em Cabo Verde. Rapidamente passou da rbita religiosa a mos profanas, que o despem da sotaina, lhe do cartas de alforria e o trajam civil. No se tratou de nenhuma heresia, seno de coisa banal: a quem tem o ritmo no corpo, um instrumento de tal sonoridade no de desprezar. Por outro lado, a verdade que essa caminhada comea exactamente em festas de casamento e baptizado, extenses normais do ritual catlico agora exposto, nos terreiros de terra batida, s intempries da aguardente e dos corpos escaldantes. Que a msica no se fez s para louvar a Deus, e este sabe-o bem. Pelos vistos, condescendeu.

Quem no foi pelos ajustes foi o clero, receoso de perder o rebanho, desejoso de cortar o pouco que restava aos pobres deserdados das boas terras: a cupidez, a viagem de uma noite atravs dos sons do baile. Temos, portanto, o funan assenhoreando-se do acordeo, da concertina diatnica. falta do tambor, proibidssimo, arrasta-se a marcao da melodia com um ferrinho (alguns teimam em grafar ferrino, depois de uma gralha tipogrfica dada por divulgador francs!): uma calha de ferro, com pouco mais de meio metro (de aresta lisa e no com serra, qual reco-reco, como muitos estudos srios insistem em definir), arranhada e batida com uma simples faca de cozinha. Situemo-nos: estamos nas primeiras duas dcadas do nosso sculo XX, chegam as cordionas para os louvores ao Altssimo, os tocadores tomam de emprstimo para alegrar uns festejos e dar uns pezinhos de dana. Sob a batuta dos padres e das autoridades devotas, eis a perseguio. Admita-se que, inicialmente, o que os sanfoneiros tocavam nessas farras estava distante do funan. Repetiriam os sons dos sambas recambiados, a valsa, a contradana, a mazurca, roubadas de ouvido ao que escutavam nas festanas dos senhores dos sobrados ou dos casares citadinos e que desejavam imitar nos seus divertimentos. Depois, o usufruto do instrumento e a capacidade criativa ditaram desvios, inovaes. H um leit motiv: a sua condio de vida, o desespero provocado pelas secas, a misria a que eram relegados, a vontade de criar o seu prprio fundo moral autnomo precipitaram o uso instrumental na senda de uma nova frmula musical, to montona por repetitiva como remexida por arrebatada. Nascia o funan, e o som rural nunca mais foi o mesmo, nas serranias de Santiago. Apesar de tudo, a represso dita as suas leis, e os tocadores do funan so sobretudo chamados a actuar nas festas de casamento e de baptizado e nas funes, celebraes dos dias dos santos padroeiros. O padre cerrava as portas do baptistrio, os plebeus davam azo alegria, que para os choros da vida j bastavam os dias comuns, santo Deus! P na tchon Muitos dos sons do universo musical das ilhas crioulas tm origem nos sales da fidalguia - como os desta primeira Cidade Velha, ora arruinada -, depois transferidos para os mocambos e a que se juntaram novos ritmos africanos Dana-se com os ps quase arrastando no cho, pouco erguidos em cada passo da revoluo, cada um domando o requebro dengoso do seu corpo como o da pessoa com quem dana, as ancas dos dois competindo e criando uma unidade cimentada no revirar ertico que tanto irritava o poder colonial. um regalo para os olhos ver evoluir os pares assim to chegados, automaticamente irmanados (palavra pouco adequada para estas circunstncias particulares do relacionamento entre sexos, que aqui quase cheira a incesto...). A verdade que era fcil perder a cabea e as estribeiras do corpo quando as menininhas mais atrevidas ou os rapazes mais afoitos insistiam no jogo e o puxavam a extremos quase insuportveis. P na tchon!, insistiam os msicos, pedindo que se guardasse o arrasto, tanto dos descalos como dos calados, que as regras cumpriam-nas todos, como se se tratasse da conquista de um diploma de bem danar, aprimorando os bailes nos terreiros de terra bem batida pelas dcadas de fainas agrcolas e afazeres quotidianos da lida da casa. O anfitrio regava tudo com o bom grogue, preferencialmente oriundo da ilha de Santo Anto, o mais puro de todos. E alimentava as gentes a cachupa e belos bolos, em especial os de coco com mel, e a pastis do diabo, saborida mistura rural de carne e picante.

Depois da independncia, o funan, com o seu som trepidante que convidava a danar, foi levado para a cidade que crescia e divulgado em novos bailes de subrbio, os grupos de instrumentais elctricos fazendo misria. Passou a ser uma instituio musical insubstituvel nas urbes insulares como nas ilhas de c, nos agregados africanos dos emigrantes nos arredores lisboetas ou nos dormitrios do outro lado do Tejo, entre Barreiro e Almada. Porque, aqui em Portugal, quem deseja ver como se dana isto, tem de saber penetrar naturalmente alguns dos stios da noite dessa periferia muito especial, franqueando a porta de uma das colectividades de cultura e recreio ou das botes improvisadas nos aglomerados clandestinos dos casarios de tijolo, tbuas e zinco. Ningum interfere, basta que o interessado ou interessada ultrapasse os receios criados, tantas vezes injustamente, por reportagens imbecis ou relatrios de rusgas policiais que misturam justos com pecadores... Quanto ao Julinho da Concertina, por mais espantoso que possa parecer, no tem poiso certo. Umas vezes correspondendo a pedido de amigo, outras de uma Cmara ou de um grupo poltico em mar de festa, agora contactado amide por uma empresa de intermedirios que pouco lhe paga e o vai transportando a uma cidade ou outra e at ao estrangeiro. Funan elctrico invade as cidades Cabo Verde: uma miscigenao nica fez nascer uma sociedade sui generis, em que a lngua crioula, os hbitos sociais, o mar e a terra agreste, o xodo ancestral e as mil e uma disporas compuseram uma musicalidade que encruzilhada de culturas Para os menos afoitos, h uma ou duas catedrais lisboetas da noite africana j nas zonas habituais das farras febris das sextas-feiras noite, como o B.Leza, onde frequentemente o som resvala para este de razes campesinas, amado por jovens urbanos trajando de negro e prateado, esquecidas as camisas brancas e as saias negras plissadas do interior das ilhas. Mas o funan nunca deixar de manter o seu carcter regional: foi nado, criado e sobrevivo no interior da ilha de Santiago. Por isso traz consigo esse sabor rural, uma condio intransponvel mesmo quando se apossaram dele jovens investigadores e musiclogos logo a seguir independncia. Ao contrrio do que escrevem alguns investigadores que, desenraizados, no entenderam como andam dezenas de quilmetros a p os cabo-verdianos desfavorecidos para se deslocarem - no conseguindo decifrar a explicao de andar de um lado para o outro ou de irem ao outro lado da ilha que davam os msicos mais antigos contando as suas respostas a chamamentos distantes -, os msicos de funan no so nmadas. um disparate que redunda numa deturpao da prpria condio da criao e desenvolvimento do funan: tocado, composto, cantado, escrito por camponeses, homens que trabalham o seu torro de terra ou amargam a vida lutando contra secas e pragas de gafanhotos em terra alheia arrendada ao senhor. Ele vai para a funo e regressa a casa, terra, enxada. E se mesmo uma pessoa como Kod di Dona - o patriarca entre os patriarcas do funan rural - tem uns bigrafos que lhe colocam outras profisses, isso porque desconhecem Cabo Verde. Ele foi britador de pedra como tantos camponeses caboverdianos o foram durante as secas, transferidos para as obras de Estado como frmula engendrada pelo poder colonial de superar o desgaste das fomes, enquadrando os potenciais retirantes em bandos de construtores de estradas, algumas das vezes sem se saber para que destinos. E se foi pescador foi porque um homem, se a terra madrasta e est numa ilha, volta-se para o mar e cultiva os peixes. O que ele campons, como a maioria esmagadora dos continuadores do funan desde as origens, ao longo dos tempos.

mistura com as maarocas de milho e o feijo bongolon, quando os havia por mor de um ano bom de chuvas, se quedou esta expresso musical at independncia. Longe das vistas dos citadinos, longe do corao, ao contrrio das mornas e das coladeiras.

Julinho da Concertina Julinho, emigrado h dcadas em Portugal, mestre de concertina, instrumento que conhece e arranja como poucos no mundo, e senhor na arte de tocar o funan e animar gentes em festas de crioulos ou portugas NO preciso ir a Cabo Verde para encontrar algum com carisma e gnio, arte e sentimento profundo no tocar do funan. Julinho da Concertina j c est imigrado h um ror de anos, mas a cano rural da sua terra tem-na to enraizada que se tornou num dos melhores tocadores em todo o espao da cabo-verdianidade. Um sorriso que s mais pequeno que o enorme corao, recebe-nos numa casa de tijolo e cimento num pequeno aglomerado clandestino de casinhotos encostados uns aos outros, para os lados da Falagueira. Quando lhe vou tirar o retrato, est na horta incrustada num cabeo vizinho, o seu desvelo, a comprovar que isto de o funan ser atributo recorrente da mentalidade rural um dado adquirido, mesmo num recanto da Damaia sobrelotada, pejada de prdios e de urbanizaes cogumelares. Mas o Julinho no s um exmio tocador: ele o que mais sabe de concertinas, que conserta e desconserta. Sim, que esta coisa de se imaginar que um bom acordeo o que vem novo de fbrica uma iluso. D-se-lhe um novinho em folha, que o Julinho abre-o de imediato, faz sair a ferramenta, corta palheta aqui, lima palheta ali, e a sanfona passa a ter um som escalavrado, prprio para funcionar nas suas mos como o grito de um povo, estridente e compassado, persistente e irregular, puxando tristezas e alegrias, que assim se tece a teia da vida. Julinho s tem pena de ainda no ser devidamente conhecido. No por vaidades, que no homem para isso, mas por justia. Sonha com o disco que, juro eu, alguma vez h-de ter. E pergunta-me se no est a ser explorado por uma agncia que o vem contactando, entre outras. Eu acho que est. Ele sorri com o toque de dignidade que tm os coraes puros e livres de manhas, e parte para outra: Vamos tomar um copinho. E matar um coelho para minha mulher refugar, que hoje vamos ter farra. Uma farra familiar, sombra do alpendre que se ergue num lado do terreno de cultivo: em frente a batata, ao lado uma estufa improvisada com batata doce, mais alm o renque dos alhos e o de feijo bogolon. A gua que ele no tinha em Cabo Verde e o fez emigrar gorgoleja aqui pacientemente, escorrendo de uma mina natural. Os olhos de Julinho tm um brilho feliz, uma pontinha de sorriso malicioso sobressai dos lbios na cara cheia. E o funan comea a fazer ouvir-se, forte, pungente, para a famlia e amigos, com o mesmo arrebatamento de sempre, mesmo quando est em rcita. No preciso atravessar oceanos para ouvir um vero funan. Temos c, por muitos anos e bons meu augrio, o Julinho da Concertina. Kod, o patriarca -Entrevista com Kod di Dona Kod di Dona, o Mais Velho: a lida da terra e a roda da vida inspiram os temas com que faz danar os outros NASCEU a poucos quilmetros da Cidade da Praia, na ilha de Santiago. Nesse tempo, ainda os portugueses no usavam os Dez de Junho para arvorar fantasmas de mortos em terras longnquas ou gritar canes em que Angola era nossa. Nas ilhas, a dcada de 40 seria uma das mais fustigadas pelo flagelo das secas engendrando fomes imensas, com os mais fracos a morrer pelos caminhos, na retirada para as cidades. Gregrio era o cod, o menino mais novo de sua av (errata: de seu pai, e, tambem, o unico filho dele!), da o nominho de Kod di Dona. Uma vida de trabalho interdito

pelas estiagens, sempre aguardando melhor dia. Agora veio a Portugal pela segunda vez, para um recital no Institut Franco-Portugais, integrado numa semana sobre Cabo Verde e a sua cultura, com mesas-redondas, exposies, cinema e livros. Em tempos foi cod, hoje o patriarca do funan rural. A paixo pela msica, vai ele cont-la como foi. EXPRESSO - Voc o cod. Da Dona, mas esta dona sua me ou sua av? KOD DI DONA - minha av (Kod explicou-me (Olav Aalberg) que isto no e assim , ele e kod de seu pai, que morre cedo, e a mae tinha mais um filho depois(?)), me de pai. Fui criado por ela, eu era o menininho mais novo que estava l em casa, de todos os netos. Minha me morreu eu era pequininote. E do meu pai no me lembro, no viveu na casa, foi embora a minha me estava grvida. EXP. - E a av deixava-o tocar a msica do diabo? K.D. - Ela j tinha morrido quando eu toquei. EXP. - Ento o Kod j era independente, nessa altura. K.D. - Sim, era. Era um homem particular. EXP. - Mas h uma contradio: por um lado o povo gosta de funan, por outro h as proibies. Como reagiam as pessoas diante da recusa dos poderosos? K.D. - Quando havia festa, as pessoas danavam. E os catequistas iam dizer ao padre, fazer queixa da gente... A gente no se importava, mas uma vez o cabo-chefe veio buscar e levou-me a tribunal, por tocar concertina em festa de funan. EXP. - Como que nasce em si a vontade de tocar? K.D. - Foi nas danas, nas funes. Ouvia os tocadores e gostava. Achei que havia de tocar um dia. Ento havia uma mulher cujo filho tinha vindo de S. Tom, tinha estado l como contratado. Ele trouxe uma gaita \[acordeo que estava l para a casa da mulher. Era uma riqueza. EXP. - Uma gaita custa dinheiro. O Kod trabalhava muito e ganhava pouco... K.D. - Eu gostava muito e no tinha dinheiro para comprar. Guardei muito e troquei a gaita da mulher por um tambor de milho: vinte e duas quartas de milho. Um dinheiro de sementeiras de milho! EXP. - Nessa altura tinha 19 anos. Como aprendeu a tocar? K.D. - Aprendi s. Sentava-me noitinha porta de casa e descobria o som da gaita e aprendi assim. EXP. - Mas h quem diga que o ensinou nhu Anton Barretu (Anto Barreto), que vivia em Achada Ponta. K.D. - No senhor. O que aprendi dele foi ver tocar, estar com ateno quando ele tocava em festa de funan. Nessa altura no tinha gaita de minha pertena e pedia emprestado para ver como era. EXP. - Trabalhava no campo, como todos os outros.

K.D. - Trabalhava terra de proprietrio. Eu tinha muito trabalho e ele tinha muita terra. A terra era boa, naquela altura. Mas quando que divide com morgado, fica pouco, j no d. E tinha que ir muito longe. EXP. - Onde que viviam esses morgados? K.D. - Na Senhora da Luz, e na Praia. Era nh Chiquinho Costa, primeiro. Depois nh Oliveira, de Portugal. Eu no o conheci em Cabo Verde, ele tornou a Portugal. EXP. - E as vossas festas eram s com funan? K.D. - Funan e batuque. Nas festas de casamento e de baptizado. E fins-de-semana, sbados, na funo. EXP. - Que funes? K.D. - As festas de Santiago, do Divino Senhor, de So Domingos, de Salvador do Mundo, Santa Catarina. Tudo festa religiosa. EXP. - Havia muitos tocadores? K.D. - Havia sim. Eu at tocava com outras pessoas, ainda no tinha nenhum filho. Mas de cada vez era s dois. EXP. - O ferro e a gaita... K.D. - Gaita e ferro! Numa festa tocava um par de cada vez. EXP. - E nos dias da funo de santo, tocavam nos terreiros, nos adros das igrejas? K.D. - No, nunca. Naquele tempo era proibido, era mesmo o senhor padre que se zangava. Se numa festa de casamento ele sabia que tinha havido bailo, era castigo no casar naquele dia, sim. Mas as festas havia sempre. Comeava na tarde de sbado e ia sempre sempre, mesmo depois de caf de manh, sem parar at s oito horas da noite. Sem dormir. A tinha de descansar porque o mundo trabalha na segunda-feira. EXP. - O Kod toca, canta, e so canes de sua inveno. Como que as faz? K.D. - Da histria da vida. Estou lembrar de uma coisa antiga, ou de uma coisa que se passa agora, fao a cantiga. Depois s tocar e agradar o povo. Ele gosta. Fala de amor, de namoro, fala da fome, das brincadeira, de pessoas da terra, da saudade, do grogue. Sade, alegria. Canes de tristeza tambm... EXP. - De quais que gosta mais? K.D. - Gosto de tudo. s vezes tenho de ir mais lento, s vezes mais aproximado, rpido. O lento mais compositado para danar, para aquecer par. Mais rpido para gente nova, passo mexido. EXP. - O Kod, aos 19 anos ainda no era casado? K.D. - No, t ento. At agora. Nunca fui casado. Mas no tinha mulher nem filhos. Tinha namoradas. Muito. Muito.

EXP. - Um tocador tem muitas namoradas... K.D. - . Tinha menininas de caras bonitas, de saias pretas e blusas brancas, cabelo frisado! E tambm tinha as de caras ms, estava tudo. EXP. - Agora h menos festas, tudo com discos, no ? K.D. - Pois, s com disco. J no pede muito a gente. Mas tem o Governo e entidades. E a gente nova est outra vez a gostar de funan. EXP. - funan mais elctrico, com outros instrumentos. K.D. - Verdade. Agora j h clarinete, caixa... Eu tambm uso guitarra e tambor no ltimo disco. O primeiro s gaita e ferro. So dois sons diferentes, mas tudo festa, tudo funan. EXP. - Aqui, no IFP, foi mais difcil tocar, com aquele povo todo sentado, sem danar, dando s palmas no fim. K.D. - Foi. No terreiro muito mais bom. Ningum est a olhar, todo o mundo dana; quanto mais toca, mais aquece. Dos seis filhos, muito ligados terra, trs do-se msica. O Zzito est na casa dos vinte e acompanha o pai. o imprescindvel homem do ferro, perfaz o duo. E deita olhares atentos ao futuro. EXP. - A danar, a ouvir o pai... como entrou no funan? ZZITO VAZ - De pequenino que ouvia o pai a tocar e havia o homem do ferrinho. Da a algum tempo comecei a acompanhar ao ferrinho. Tambm gostava muito de tocar acordeo, tinha uns 15 anos. Hoje j toco em festas com gaita e componho coisas minhas. EXP. - Como que um jovem de 22 anos olha para o funan, coisa antiga? Z.V. - Eu gosto muito. a minha cultura, desde que nasci. E quero dar o meu contributo para no desaparecer. to importante como um bom prato de cachupa, faz parte da gente. EXP. - Qual a situao do funan, hoje, em Cabo Verde? Z.V. - Toda a gente nova s quer o funan. J roubou o primeiro lugar morna e coladeira: o elctrico, que o que eu toco em muitos lugares: eu na gaita, um irmo toca ferro, uns amigos viola e bateria. EXP. - E assim o funan no bem diferente do trabalho que fazes com o pai, com o som original? Z.V. - Claro que , mas a minha gerao gosta mais, mais moderno e tem mais ritmo, agarra melhor as pessoas. A moda antiga mais sentimental. Gosto de tocar tudo. A.L.N.

Histoire d'un accordon J'ai lu avec attention l'article que vous consacrez l'accordoniste Capverdien Kod di Dona dans votre journal d'avril/mai/juin 97. Dans cet interview Jean-Yves Loude, son &laqno; guide lyonnais et europen fait tat de l'accordon Maugein de ce musicien, accordon que l'on voit sur une photo illustrant cet article. Sur l'histoire de cet accordon plusieurs inexactitudes. Ainsi, pour ce qui est de sa livraison Kod di Dona, c'est moi-mme qui ait effectu le voyage et lui ai remis le bijou lors d'une petite crmonie intime que nous avons film et ft au grogue de sa production. C'est la suite de ce voyage que j'ai crit un petit article devant paratre dans Trad'Magazine de dcembre 94, article rest au marbre faute de place. Je me permets donc de l'envoyer tel qu'il fut rdig l'poque. Pour tre tout--fait complet, j'ai t l'origine avec Romain Louvet (directeur du CCF de Praa) et Jean-Luc Larguier (du Jardin des Poiriers) de la premire venue en France de Kod di Dona, dans le cadre de l'inauguration de l'auditorium Stravinsky Montreux, le 28 mai 1993, cration qui rassemblait aussi Augusto da Pina, le groupe Pai e filhos, Mino de Mama et... Cesaria Evora. Et c'est grce Catherine Michel, attache de presse au Festival de Tulle et Richard Galliano que s'est organis le retour de Kod di Dona en France une seconde fois. Lors du voyage suisse de Kod di Dona, j'ai fait dposer la Socit des droits d'auteurs nationale des morceaux qu'il interprtait, dont nous avons choisi les titres ensemble. Maigre protection d'un patrimoine quelquefois plagi par des musiciens plus contemporains. F. T.

Kod di Dona, photo : Viviane Lelivre En septembre 1993, Kod di Dona et son fils font le voyage jusqu'au festival "Nuits de Nacre" de Tulle, alors dirig par Richard Galliano. Kod di Dona n'est pas n'importe qui. Il est une des pres de cette funana cap-verdienne, qui raconte en filigrane l'histoire de l'esclavage et du commerce triangulaire qui un temps prit le Cap Vert comme comptoir. Son mtier, garde-forestier de ces hectares de petits pins amricains plants dans des cratres de cailloux qu'il faut protger des chvres. Son dcor : un paysage basaltique lunaire. Grgorio Vaz dit "Kod di Dona", 54 ans, habite une petite maison de pierre d'une frugalit abrupte. Seules touches de couleurs intrieures, des fleurs en plastique, les seules que permet cet univers aride et sec. Rentr pieds-nus de son travail par des sentiers de poussire rouge, Kod di Dona la tombe du jour joue de l'accordon. ct de lui, raclant d'un couteau son "reco-reco" (une armature metallique de clture), Jos Ferreira Vaz, dit "Zezito", 18 ans, l'accompagne. Entre deux pinces de tabac priser, Kod di Dona, le regard absent, interprte des morceaux d'une rude beaut, forts comme le grogue (alcool de canne) de sa

fabrication, dont il gratifie le visiteur. Des morceaux qui chantent l'amour, l'exil, l'attente. Natif de San Nicolau, c'est sous l'influence du musicien Atao Barreto, qu'il s'est converti l'intrument. Par la suite, il s'est mis composer, tant qu' l'heure actuelle des dizaines de "classiques" circulent travers le pays, lui-mme facilitant les "emprunts", dans la mesure o il ne lui est jamais venu l'ide d'attribuer un titre aux fruits de son inspiration. Pour le moins, l'tude des filiations musicales de l'archipel, prouve bien qu'il est l'un des protagonistes essentiels de cette funana de l'le de Santiago sur laquelle les groupes modernes ont bti leur travail de rnovation, l'instar du dfunt Katchass, musicien-cl des annes soixante-dix, leader de l'emblmatique groupe Bulimundo, qui lui-mme donnera naissance Finaon, par le biais des frres Zca et Nha Reinalda. L'accordon avec lequel Kod di Dona fait le voyage est un Honher diatonique huit basses, dont certaines basses usages ont t remplaces par des morceaux de pellicule photo ou d'intrieurs de rveil. Un accordon au Cap-Vert cote une fortune. Beaucoup datent de l'poque des baleiniers de Boston, qui venaient enrler des quipages du ct de Fogo ou Brava. Tulle, Kod di Dona arrive au paradis de l'accordon. Il en dcouvre des dizaines, et autant d'instrumentistes. Bien plus, on lui fait visiter l'usine Maugein, o en catimini, dcision est prise de lui offrir un nouvel instrument. Ayant repr les caractristiques de son accordon on lui fait essayer des instruments dans la salle d'exposition de l'usine. Son fils et un interprte brsilien (Kod parle en Crole) traduisent de la manire la plus fidle possible ses sentiments de rserve ou de flicit. Et l'on obtient la configuration de l'accordon de rve. Reste trouver l'argent. Le patron de l'usine Maugein s'engage vendre l'instrument prix de fabrication : c'est une premire participation de plusieurs milliers de francs. La ville, le festival (c'est la premire fois qu'une telle initiative est prise) suivront le mouvement. Tant et si bien qu'au dbut du printemps, l'accordon ne demande plus qu' tre livr. C'est un journaliste qui l'emporte avec lui lors d'un reportage au Cap-Vert. Le 27 juin 94, l'accordon Maugein est offert solennellement Kod di Dona dans sa petite maison. L'vnement est film pour la tlvision cap-verdienne. Ds qu'il se met jouer de l'instrument, les yeux de Kod di Dona racontent : il apprcie soudain ce qui lui arrive. On lui avait bien parl Tulle d'un accordon qui lui serait offert, mais pour quelqu'un qui gagne un salaire de quelques dizaines de francs par mois, la chose est assez nigmatique. Et l, il sent le bijou sous ses doigts, ajust son jeu, son style, comme si depuis des annes ils taient insparables ! Fraternit autour d'un accordon : une belle histoire rendue possible par une chane de gnrosit. Kod di Dona nous a demand d'tre les avocats de sa gratitude auprs de tous ceux qui des degrs divers participrent l'aventure : Ren Lachze (tablissements Maugein), l'quipe du Centre Corrzien de Dveloppement Culturel, la Ville de Tulle, Elina Milhau (France Culture), Catherine Michel (Attache de presse), Jean-Luc et Chantal Larguier (qui invitrent Kod di Dona pour son premier concert l'tranger Montreux, Suisse), Romain Louvet. Et la sant de tous il a lev un verre de son grogue fatal, avant d'offrir un rcital aux enfants, cochons noirs et amis venus de loin, devant les marches de sa maison. Franck Tenaille: http://www.cmtra.org/entretiens/archivenrtetiens/lettre28/Tenaille.ht ml

Le Funana des Badiu : Kod di Dona L'Accordoniste du Cap-Vert KOD DI DONA sera prsent cet t en Beaujolais : L'occasion d'une rencontre avec son guide lyonnais et europen, l'crivain Jean-Yves Loude. CMTRA : Jean-Yves Loude, racontez-nous comment un accordon diatonique "Maugein Frres Tulle" s'est retrouv dans l'une des les perdues de l'Atlantique. Jean-Yves Loude : Kod di Dona est venu en France en 1994 aux "Nuits de Nacre" Tulle. L'anecdote est belle: Quand il est arriv Tulle, Kod di Dona s'est produit avec

un accordon diatonique tout rafistol, avec des touches moiti enfonces... mais sa musique a normment plu aux gens, il a fait un tabac ; personne n'avait entendu le "Funana" : il a beaucoup mu. On lui a fait visiter l'usine Maugein Frres. Il y avait l une productrice de France Culture, qui s'tait mis en tte de lui offrir un accordon, de crer une chane d'amiti, de solidarit : Ainsi pendant toute la visite de Kod di Dona l'usine, des ingnieurs prenaient des notes en douce. Ils l'ont fait jouer avec des accordons pour qu'il explique o il posait les doigts, quelles taient ses techniques... Ils notaient tout pour lui faire un instrument sur mesure. La firme Maugein a donc ralis l'accordon et quand il a t prt et pay, la productrice de France Culture est alle le porter Kod di Dona sur l'le de Santiago. Je pense que l'histoire est assez belle ! Cependant, il garde aussi son vieil accordon. Il a commenc jouer de l'accordon vers 17-18 ans. Son premier accordon, il le tient d'une femme qui tait rentre de So Tom. Elle avait immigr dans les plantations cacaoyres cause de la famine et elle revenait avec un tout petit peu de biens... et un accordon. Kod di Dona l'a chang, dit-il, contre un ft de mas. l'poque, dans les annes 40, un ft de mas reprsentait beaucoup d'argent, cause de la scheresse. CMTRA : Pouvez-vous situer le Cap-Vert ? Que reprsente la diaspora CapVerdienne dans le monde ? J.Y.L. : Il y a un million de cap-verdiens dans le monde dont 350 000 au pays. Le CapVert est un archipel dcouvert en 1460 par des marins portugais. Le Cap-Vert est constitu de dix les situes 500 kms l'Ouest de la cte sngalaise, de Dakar. En fait ce n'est pas vert du tout! Le Cap-Vert se situe exactement dans cette bande de scheresse qui va du Mali jusqu'au nord-est du Brsil. Souvent, quand il pleut sur le continent, il ne pleut pas au Cap-Vert parce qu'il y a un jeu contraire des vents. Les portugais se sont installs ds 1462 et ils se sont aperus que l'exploitation de la canne sucre allait tre difficile : la terre tait beaucoup moins disponible et complaisante qu'au Nord, aux Aores. Ils se sont tourns naturellement vers l'Afrique pour demander des "bras". Dans l'histoire de l'Humanit, le Cap-Vert est un exemple part. C'est une des rares terres o la rencontre entre l'Europe et l'Afrique s'est faite sur une le dserte. Le principe de l'esclavage va se dvelopper et le Cap-Vert va devenir la plaque tournante des esclaves dans le Triangle Ngre Piastre. De plus, les Portugais qui arrivaient au Cap-Vert, n'taient pas de "premier carat" comme on dit: des militaires, des aventuriers, des bagnards, des proscrits et quelques femmes blanches qui n'taient pas de premire vertu. Trs vite, profitant de la faiblesse du pouvoir blanc, des scheresses, des famines et des pirates, va se dvelopper le "marronnage", notamment Santiago. L'le de Santiago, o vit Kod di Dona, est la plus grande : elle couvre elle seule la moiti de l'archipel, c'est une grosse le agricole avec un relief convulsif de volcans, de cordillres, de canyons... Un relief qui permet effectivement des chancrures, des ribeiras, des chappes donc un marronnage. CMTRA : Qu'est-ce exactement que le marronnage ? J.Y.L. : "Marronnage" vient du terme "marron", "qui reprend sa libert". On parle d'un cheval "marron" quand il a t domestiqu et qu'il reprend sa libert. Le marronnage est connu avec les Noirs d'Hati et de Saint-Domingue, on les appelle les "Ng' maons", comme ce groupe de marro qui vient de se crer, les "Ng' maons", un groupe de marro. Le marronnage, c'est le fait de s'chapper de la plantation, d'aller se rfugier dans des reliefs inaccessibles et d'y dvelopper une sorte d'indpendance, loin de la pression des matres. Le pouvoir blanc va tellement s'affaiblir pendant deux sicles qu'une vritable culture va s'instaurer dans ces fonds de "ribeiras". Les Portugais ont vraiment radiqu l'me et l'hritage africains. Les africains qui taient dports et qui arrivaient au Cap-Vert devaient communiquer: or le matre parlait portugais et les autres africains parlaient des langues trs peu comprhensibles entre elles. Ainsi est ne une langue, le crole, qui est une sorte d'acquisition des mots de passe du portugais simplifi, et d'une conception de la vie et des grammaires

africaines. Le crole est le vhicule d'une posie et d'un tat d'esprit allgorique. Le crole va servir effectivement s'exprimer aux dpends du matre, de la police et plus tard de toutes les formes rpressives. Dans les chancrures du relief de Santiago, vont se dvelopper une potique et un genre musical spcifiques. CMTRA : Quelles sont les sources les plus anciennes sur les musiques du Cap Vert ? J.Y.L : Nous n'avons pratiquement rien, parce que l encore, le pouvoir portugais interdisait ces expressions africaines. Eradiquer l'Afrique, c'tait baptiser les Africains, leur imposer une langue, le portugais. Brler les tambours, les interdire, christianiser, dmoniser toute l'Afrique et le corps africain, enlever les vtements africains (il n'y a plus de "boubous"), mme si au dbut du sicle les femmes taient encore en pagne. Les cap-verdiens n'ont plus le sentiment de lien ombilical avec l'Afrique, mais celui qui vient d'Afrique et qui la connat, la voit partout dans l'le de Santiago. Il voit la faon dont les femmes portent les bbs dans le dos avec le pagne, il voit les femmes piler le mas et ds qu'il voit des femmes danser, c'est le "saba" du Sngal... Les percussions tant interdites, l'interdiction dveloppe des expressions, C'est cela qui est merveilleux, les cultures naissent ainsi. Certains chants de femmes appellent aussi la venue d'une "prophtesse" : Elle se lve et va improviser des chants moraux inspirs par Dieu, des chants de dnonciation des comportements malsains au sein de la socit, des personnes trop orgueilleuses, des rapports amoureux anormaux, du vice de certains hommes, des tendances alcooliques des autres, des abus du pouvoir... C'est le "Finaon", qui est chant par des hommes mais la plupart du temps par des femmes, et qui va tre la musique de fte, la musique sociale des baptmes, des mariages puis des ftes populaires, des Saints.. Evidemment, l'Eglise "hurle" contre ce moyen d'expression, fait tout pour l'interdire. En effet, un mariage, avant la nuit de noce, de voir cette exaltation du corps, des femmes qui tapent entre leurs cuisses largement ouvertes, et qui tapent avec beaucoup d'humour et de moquerie en faisant l'ducation amoureuse de la jeune fiance, tout cela n'est pas trs bien vu avant le sacrement ! Jusqu'en 1975, date de l'indpendance de l'archipel, tout sera fait pour interdire le "Finaon". Il garde un peu du griotisme africain. La prophtesse de "Finaon" connat ce que l'on appelle une "lection par Dieu". Elle entend des voix presque mystiques, sacres qui lui disent "C'est toi, ton devoir sera de faire cela".Les prophtesses de "Finaon" se crent leur rputation, elles se font concurrence. Nacia Gomi qui est la plus grande prophtesse de "Finaon" aujourd'hui, raconte toujours qu' l'ge de 14 ans elle avait t appele un mariage parce qu'elle avait des prdispositions, et qu' cette poque-l, elle avait trs peur de rencontrer la "championne" : elle avait donc demand Dieu de tomber malade. Dieu l'a exauce puisqu'elle a t malade...mais elle a guri la veille, et sa mre lui a dit d'y aller ! Au mariage, elle a chant, elle a fait une allgorie sur l'amour et le mariage et tout le monde s'est cri : "Credo, cette fille-l ne sera plus jamais malade, elle va avoir un grand destin". Elle est devenue maintenant 76 ans la plus grande chanteuse du sicle, de "Finaon". CMTRA : Vous l'avez rencontre ? J.Y.L. : Je l'ai rencontre longtemps pour le livre que je viens de publier. Je dirais sans vouloir faire de la provocation que Nacia Gom est aussi importante que Cesaria Evora. S'il y a deux grandes figures de la musique au Cap-Vert, ce sont ces deux femmes. CMTRA : Du Finaon l'accordon diatonique et au Funana, quelle relation ? J.Y.L. : Au dbut du XXme sicle est arriv l'accordon. On dit qu'il est venu du Portugal, ou par des marins du Brsil, pour remplacer l'harmonium dans les glises... Comme dans beaucoup de cas, les Noirs se sont empars de cet instrument et l'ont pass par le crible de leur gnie propre. Pour le "Funana", on ne connat pas trop l'tymologie. Il y a des tymologies comiques : On dit qu'il y avait une paire de

joueurs, que l'un s'appelait Funa et l'autre Nana, mais personne n'y croit ! On pense plutt que cela vient du portugais "Funanga" qui veut dire "lieu malsain o l'on joue mal de l'accordon", dj un terme pjoratif. On pense que le "Funana" est n au dbut du sicle, vers 1910-1920. Ce que jouent les musiciens de "Funana", ce sont des choses reconnaissables. C'est ce qu'ils appellent samba pour les influences brsiliennes, c'est la mazurka, la contredanse, la valse : ils content l'hritage qui est venu d'Europe ou du Brsil et partir de l, ils "trafiquent" toute la musique. N'ayant pas droit aux percussions, ils prennent ce qu'ils ont sous la main : Kod di Dona explique qu'il a trouv une cornire, un jour, sur un chantier. Cet objet en mtal, bien brch, est racl avec un couteau de cuisine que l'on appelle "reco-reco" ou "ferrino". Le "Funana" se joue exactement comme le "Finaon", dans les mmes lieux. On jouait le "Funana" pour les baptmes, les mariages, la fte des Saints dans la mesure o l'Ordre portugais le permettait parce que, comme le "Finaon" jusqu'en 1975, le "Funana" est dnigr et trait de musique de "sauvages", et officiellement interdit. CMTRA : S'agit-il d'une forme de chant improvise, ou au contraire le chanteur s'appuie-t-il sur des formes fixes ? J.Y.L. : C'est un chant qui n'est pas tout fait improvis, les musiciens y rflchissent avant de partir au bal, pour avoir une nouveaut prsenter. Le bal est aussi trs important, c'est un bal de pure distraction o le joueur est appel traverser l'le pied pour rejoindre un village et jouer toute la nuit. C'est ce qu'expliquait Kod di Dona : il n'tait pay que quelques pices de monnaie, mais il avait le "grog" (le rhum), le prestige et "les relations sexuelles" parce que le musicien de "Funana" est rput avoir une vie sexuelle trs accomplie. C'est une musique rurale et cela dfinit galement un genre de vie. "Funana" devient synonyme de la vie que mne le joueur d'accordon. On dit "joueur de Funana" pour quelqu'un qui mne une vie dissolue et qui a des matresses partout...Dans la chanson "Amizadi la korason" (Amiti au fond du coeur), il va passer son temps dire : "J'aime bien tel homme parce qu'il a deux jolies colombes (qui sont deux filles !) et ces deux colombes, je vais les dguster dans telle valle "... Dans "Titina Lopi bu ka ten kabelu" (Titina Lopes tu n'as pas de cheveux), il va dnoncer Titina Lopi qui est une jeune fille qui a commenc ses relations sexuelles trop tt donc qui a perdu toute chance du mariage parce qu'elle passe son temps aller de l'un l'autre (sans doute est-ce un amoureux un peu du qui le dit !) La sexualit fait partie de la musique mais elle gne l'glise et l'Ordre portugais. CMTRA : Aujourd'hui sur cette le de Santiago, cette musique survit-elle sous une forme folklorise, ou au contraire se dirige-t-elle vers une nouvelle destine ? J.Y : En 1975, date de l'Indpendance, toutes ces expressions authentiques de l'me .L. cap-verdienne, qui viennent de la profondeur, de la souffrance, du ventre de l'le de Santiago, sont considres comme l'hritage, la culture du Cap-Vert ; Et pendant quelques annes, des gens comme Kod di Dona deviennent des hros nationaux. Mais trs vite l'intelligentsia n'a pas support de se faire reprsenter par des paysans. En 1975, les jeunes qui n'avaient pas chapp aux Beatles, Aretha Franklin, la musique lectrique, ont voulu galement avoir une expression qui soit la leur: il y a eu un mouvement de retour aux sources. Ils sont alls trouver des gens comme Kod di Dona. C'est ainsi qu'est n le "Funana" lectrique. CMTRA : Quelle place tient rellement Cesaria Evora dans ce paysage musical ? J.Y.L. : La "morna" que chante Cesaria reste un mystre au niveau de l'origine pour les musicologues. On dit au Cap-Vert que la morna est ne Boa Vista, le la plus proche du continent africain. La "morna" est ne peu prs en mme temps que le fado mais personne ne veut assimiler les deux. Le grand compositeur de "morna", Eugnio Tavars, originaire de l'le "De Brava", a compos un plus grand nombre de "mornas". Il datait la naissance de la "morna" vers 1830. La "morna" s'est nourrie du "lundum" (musique d'expression des esclaves d'Angola partis au Brsil, et revisite par le gnie

brsilien), avec un ct trs sensuel, trs sexuel et trs provocateur au niveau des paroles. Le "lundum" est aussi arriv au Portugal o il a t assagi ; l il a rencontr "les modinh" et l'influence de l'expression espagnole, le "fandango". Tout cela va donner naissance au "fado". A Boa Vista l'insolence et la moquerie du lundum ont cr une proto-"morna" rapide, trs swinguante chante par les femmes, reprise par le peuple, joue aussi dans les salons vers 1830. Le nom "morna" apparat Boa Vista, l fin du XIXme sicle. Puis la "morna" arrive dans l'le de Brava, l o nat Eugnio Tavars la fin du XIX sicle, fils d'une mre espagnole et d'un pre portugais. C'est un intellectuel, form par des instituteurs locaux, brillant, pote...le premier journaliste avoir crit "L'Afrique aux Africains" alors qu'il tait blanc. Il a t oblig de s'enfuir aux Etats-Unis poursuivi par l'arme portugaise. Une canonnire a t envoye pour le cueillir, alors il a fui habill en femme! Quand il rentre au Cap-Vert, il se met composer beaucoup de "mornas" romantiques, dans un climat plus doux, o l'on retrouve la notion de dpart pour l'Amrique, le "choro", la "saudade" portugaise. Puis la "morna" va repartir So Vicente, la ville de Cesaria Evora : c'est la troisime tape. Les coles de "morna" se dveloppent aprs Eugnio Tavars. On la ralentit encore. Il ne faut pas oublier que la "morna" est une musique de danse. D'autres influences arrivent: Cuba, les marins, l'Angleterre, le Brsil... On parle de la fragilit de l'existence, de la prcarit. On ralentit pour que la danse devienne un corps corps langoureux: on danse mais on fait du sur place. Des compositeurs trs importants apparaissent, comme Beleza qui sera l'oncle de Cesaria Evora. La dernire tape est So Nicolau, avec une "morna" de la mort, et des thmes qui rappellent les famines... L' une des plus belles "mornas" que chantera Cesaria Evora s'appelle "Rotcha' Scribida", ne des lamentations funbres. CMTRA : Il y aurait donc d'un ct une musique rurale de danse lie aux prophtesses d'origine africaine, le "Funana" de Kod di Dona, et de l'autre une musique plus littraire, plus inspire par le voyage romantique du XIXe sicle, la "morna" ? J.Y : La "morna" est trs crite. Sa posie transcrite : Le "Funana" est une musique .L. de l'intrieur de Santiago, que l'on ne connat pas dans les autres les du Cap-Vert : ainsi quand j'ai prsent Kod di Dona la FNAC, la communaut cap-verdienne de Lyon a rpondu prsente, mais des dames originaires de So Vicente sont venues et m'on dit qu'elles n'en avaient jamais entendu parler ! Cap-Vert Kod di Dona Producteur artistique : Jean-Yves Loude Disque OCORA A.T.A. Djudja in the us with benny as a holiday gift By Herminio Furtado cvmusicworld.com Chief Editor Monday, December 30, 2002 Still on tour, presenting his latest solo, Nu Ta Prova (We will Prove), a.t.a Djudja lands for the second time this year on US soil for a series of concerts including one on New Years Eve at Fidjos Djabraba in Pawtucket. This time he brings his fans a Holiday gift: his most recent hit Benny from the first volume of the album Projecto Bale Pena (Project Worth it). CVMusicWorld.com took the chance to talk to Djudja about his relationship with the CV community in the US, his latest musical involvement with Cat Disc in the Project Bale Pena (Project Worthy It) and Joias DAfrica (African Jewels). Djudja, who currently resides in Lisbon, Portugal, was last in the US in May of this year. We asked him if there is anything special about his fans in the US that makes him come back: I carry good memories from the last time I was here. The fans here are very warm; so I like coming back to the US. Of course the warm reception he got from the fans is due to the success of his only solo album Nu Ta Prova. This album came out towards the end of the 2001 and features the great hit Nu Ta Prova. Other great hits are Nha Dor (My Pain), Volta Pa Casa, (Come Back Home), Nu Ta Completa (We Complement) and Padaz DMi (A Piece of Me). The album was a dedication to his deceased friend Panthera who died in March of 2001. The song Padaz DMi describes the relationship between the two artists and tells Djudjas hardship in coping with this loss of what was the most revolutionary CV

musician of our time. A strophe of the song says: Dja bu dexan na fim di mundo/Sen sol, sen lua, sen horizonte/Kel peso li nka speraba, (You left me at the end of the world/Without sun, without moon, without horizon/This weight I wasnt expecting). (Soon to be posted: Djudja Talks About Panthera and his Problem With his Widow Over Authors Rights). The album Projecto Bale Pena, by Cat Disc Productions, is a compilation of great singers and musical producers. In the vocals, besides Djudja, this album features popular names such as Philippe Monteiro, Gama, Jorge Neto, T Semedo and Dabs Lopes. In musical production, three pillar producers of CV music gathered their talents in this album: Kim Alves, Philippe Monteiro and Dabs Lopes. Djudja sings in track 4 (Benny), which is one of the greatest hits in the album together with Inseparavel (Unbreakable) by Philippe Monteiro and Bu Finge (You Faked It) by Gama. Djudja is one of the founders of the Project Bale Pena, which is one (if not the) best CV pop albums of the year. This project was planned even before the release of my solo (Nu Ta Prova). In fact the song Benny, I wrote in a hotel room in Dakar when I was working with Philippe Monteiro on my album, he stated the origin of the project. Explaining the principles of this initiative, he said, we want to give younger artists an opportunity to record; you know how difficult it is for a younger artist to record in CV. Besides Projecto Bale Pena, Djudja is also involved with Cat Disc Productions in the project Joias DAfrica, (Africas Jewels), whose first volume was just released in December featuring 8 sensational female artists such as Bela, from Vero 2002, Zohra and Penda, both from the album Good Fellas. Djudja was in charge of finding singers, musical producers and composing songs for the two projects. The shows in the US are promising moments of great music and excitement. The last show will be on the 4th of January (See our list of events for more info). The artist will be accompanied by the Excess Band with bass player Felicianu (FeelBass) from Kola Band. Felicianu and Djudja have played together on some bands in CV, such as the famous Pentagono where the former only stayed for a short period of time. http://cvmusicworld.com/articles/news/2002/djudja.asp Musica Cabo-verdiana: o bilhete de identidade do arquiplago Vladimir Monteiro Os repetidos sucessos alm-fronteira de Cesria vora e das suas mornas nos anos 90 permitiu a descoberta, pelo mundo, dos diversos estilos musicais de Cabo Verde. O acontecimento passou praticamente despercebido na Praia. Um msico berbere, acompanhado por um tcnico belga, percorreu a ilha de Santiago no inicio do ano durante duas semanas onde gravou os msicos representativos de todos os estilos musicais do arquiplago. Objectivo dessa viagem? Editar um disco misturando os ritmos cabo-verdianos musica daquele grupo tnico da Arglia. Meses antes, um escritor francs tambm acompanhado por um tcnico, conclura um projecto de dez semanas em Cabo Verde onde gravou cerca de 60 artistas e grupos, com o intuito de editar quatro lbuns at ao ano 2000. Dois projectos diferentes mas com uma mesma finalidade: a edio de pelo menos cinco lbuns. Uma prova do actual bom estado de sade da musica cabo-verdiana embora, Cesria vora, apesar da sua terceira nomeao, no tenha conquistado o "grammy" 1998 na categoria "world music", da academia norte-americana. Sim, pouco importa pois, alm dos repetidos sucessos dos seus discos e espectculos, a sua maior vitoria da cantora sem duvida ter aberto o mundo msica cabo-verdiana. Falar de Cize, a cantora outrora de ps descalos, significa evocar temas como "Sodade", "Papa Joaquim Paris" ou "Miss perfumado", mornas que a artista interpreta como ningum ao ponto de muitos considerarem a artista como o rosto de um dos principais gneros musicais de Cabo Verde. Um dos mais antigos tambm, no obstante a falta de informaes fidedignas quer em relao as datas quer em relao as origens. O fado, o lundum (ritmo nascido em Angola), a msica argelina so tidos como os ritmos que deram origem a morna. Mas nada de concreto, embora certo

que a morna, a semelhana da maior parte das musicas de Cabo Verde, nasceu do casamento entre musicas da Europa e da frica. As diversas fontes estimam que a morna nasceu no sculo 19 na ilha da Boavista -"Brada Maria", composta em 1870, tida como uma das primeiras composies desse estilo. No inicio, essa musica no cantava a tristeza, a separao, a dor, o amor ou a morte, como acontece actualmente. Na Boavista, ento um centro comercial importante, dominado pelas exportaes de carne, cabras e couro, os msicos cantavam a vida, os abusos de um comerciante ou a atitude de uma esposa. A sua popularizao muito deve a guitarra embora esse gnero tenha nascido nos pianos da burguesia local. Graas s ligaes martimas, a morna acaba por tocar as outras ilhas e conhecer as primeiras evolues na primeira metade do sculo 20. Na Brava, o poeta Eugnio Tavares, o romntico e observador da emigrao dos homens para a Amrica, comea a escrever sobre o seu mundo feito de dor, flores e mulheres. Em So Vicente, a evoluo faz-se ao nvel do ritmo com msicos como o compositor B. Leza e o guitarrista Lus Rendall. Alm dessas figuras, os outros nomes da morna so Jotamont, Lela dManinha, Olavo Bilac, o italiano Srgio Frusoni, Tefilo Chantre, Paulino Vieira ou Beto, no que diz respeito aos compositores. Em relao aos cantores, destacam-se Adriano Gonalves, mais conhecido por Bana, que se notabilizou no conjunto Voz de Cabo Verde, e Ildo Lobo, do grupo Os Tubares. Em relao as mulheres, as mais conhecidas actualmente so Titina, Celina Pereira e Maria Alice -todas residentes em Portugal onde continuam a frequentar o mundo da musica. Paralelamente morna, o Barlavento deu um outro gnero bastante importante ao pais, a coladeira, nascida em So Vicente. A morna e a coladeira tem dois pontos em comum: a sua origem deveu-se bastante ao peso econmico da ilha e partilharam textos com base em criticas sociais (a morna na sua primeira fase). Segundo o compositor Jotamont, a coladeira nasceu da morna. A dada altura da festa, os casais, cansados de danar mornas, pediam aos msicos que tocassem mais depressa, precisa. Assim nasceu esse ritmo, nos anos 20, embora a sua verdadeira fase de desenvolvimento tenha ocorrido entre 1940 e 1960. Nessa primeira metade do sculo 20, So Vicente e o seu Porto Grande ainda conseguiam atrair as companhias inglesas de carvo, que faziam a ligao entre a Europa e a Amrica Latina, e os marinheiros brasileiros. "Os primeiros traziam dinheiro, os segundos faziam a festa", lembra um ancio. Desse ambiente, em que no faltava nada, a coladeira pde nascer. Por detrs desse estilo, esto os msicos Gregrio Gonalves -Ti Goy para o povo-, Djsa Marques, do grupo Ritmos de Cabo Verde, e Antnio Tchitche. Porm, foi com o trompetista e clarinetista Lus Morais e os compositores Manuel DNovas e Frank Cavaquim que a coladeira adopta a sua forma definitiva, isto um estilo quente, inspirado da musica latino americana que estes trs msicos conheceram aquando de uma passagem por Dacar, no Senegal. Frank e Manuel daro a coladeira as suas mais lindas canes, o primeiro denunciando o comportamento das mulheres de So Vicente que gastam o dinheiro enviado pelo marido emigrado, enquanto o segundo apresenta-se como o advogado do sexo feminino. No incio dos anos 80, a coladeira entra numa fase de declnio que contrasta com o aparecimento, na cena nacional, do funan. At ento, esse ritmo nascido do casamento entre uma "gaita" e um "ferrinho" era apenas tocado e danado nos casamentos e festas no interior da ilha de Santiago (Sotavento). Tanto a igreja catlica, por considera-la um produto africano, como a populao da capital Praia, por estimar que era uma dana de camponeses, eram opostos a este ritmo. Em 1978, um emigrante chamado Carlos Alberto Martins "Katchass" regressa a sua ilha e, com um grupo de amigos, cria o conjunto Bulimundo. O objectivo declarado

investigar os ritmos tradicionais da ilha e grava-los. Deste modo, Katchass escuta as figuras tradicionais dessa musica como Sma Lpi, Kod di Dna, Tchta Suari e recolhe muitas gravaes. Uma vez de regresso a cidade, Katchass e os seus companheiros do Bulimundo retomam essas musicas, no utilizando a gaita e o ferrinho, que so abandonados, mas introduzindo as violas elctricas, a bateria e os teclados. A cidade da Praia e o pas inteiro encantam-se com essa msica e no mais pararam de dana-la. Alm do Bulimundo, os outros nomes do funan so o conjunto Finaon enquanto a nvel individual as figuras so os irmos Zz e Zca di nha Reinalda, interpretes e compositores. Hoje, o funan o ritmo mais popular entre os msicos da comunidade cabo-verdiana radicada em Portugal, Holanda ou Estados Unidos. Nos ltimos tempos, essa msica vai sofrer uma pequena revoluo com o grupo Ferro Gaita, um trio de jovens praienses que decide regressar aos dois instrumentos de origem, conservando apenas a viola baixo da revoluo de Katchass. Uma aposta que d os seus frutos pois o seu primeiro lbum -"Fundu Baxu", gravado em 1997- um sucesso comercial. Outro resultado dessa aposta, muitos grupos decidem adoptar a formula Ferro Gaita. O funan no o nico ritmo de Santiago marcado pela influncia africana. O batuque constitui a outra grande riqueza musical desta ilha e tambm alvo de um grande interesse por parte dos produtores a procura de ritmos tradicionais. Deste modo, Antni Denti dOru pode gravar o seu primeiro disco aos 70 anos passados. Nha Mita Pereira e provavelmente Ncia Gomi tero tambm esta oportunidade. O batuque divide-se em duas partes: a sambuna, a parte danante, e o finaon, a componente potica. Parece um ritmo reservado s mulheres: elas cantam, elas batem em panos colocados entre as suas pernas, elas danam. No final, cantadeira de finaon entra em aco. Os textos so conselhos s pessoas, atitudes a ter na sociedade... Alm de Denti dOru (o nico homem nesse meio), Ncia e Nha Mita, as outras figuras so as falecidas Gida Mendi, Bibinha Kabral, Xinta Barros. No seio da nova gerao, os compositores Orlando Pantera (que trabalho no projecto "Uma historia da duvida", de Clara Andermatt) e Carlos Alberto Sousa tm feito algum trabalho nesse domnio. Morna, coladeira, batuque e funan... Os principais ritmos musicais do arquiplago. Existem outros gneros como as cantigas de trabalho nas ilhas agrcolas, as musicas religiosas como as devinas, as canes infantis da Boavista, mas esto em vias de desaparecer do panorama musical cabo-verdiano. Felizmente, assiste-se a um desenvolvimento de alguns projectos musicais com o Vasco Martins, o grupo Simentera, um dos precursores do regresso aos instrumentos acsticos, Ramiro Mendes, cujas investigaes permitiram um melhor conhecimento dos ritmos do Fogo. De igual modo, os cabo-verdianos tm vindo a investir no domnio musical e o primeiro estdio, embora modesto, iniciou as primeiras gravaes na Praia. J vai longe o tempo em que a nica sada era o estrangeiro muito embora os procedimentos tcnicos mais avanados continuaro a ser feitos em Lisboa, Paris ou Boston. Finalmente, os msicos cabo-verdianos comearam a ganhar algum dinheiro com a sua arte. As entrevistas, os espectculos... longe vai o tempo em que bastava um copo de grogue para agradecer o msico pela sua actuao. Chando Graciosa An Artist and a Phenomenon When we first heard him perform the original music in his own paticular style, we were immediatly attracted. Chando was born in 1965, in Sao Tome, Principe, where not so long before, many Cape Verdeans had immigrated to, in order to live and work there on contract basis. A few months after his birth his parents took him back to Cape Verde to live on the island Santiago. There he grew up into a man that expresses his ideas and directions through his music.

At the age of fourteen Chando had his first public performance with the famous group ABEL-DJASSI. With this band he performed in many countries. In the month of august 1979 they played in Paris on three occasion, bringing a one-ofa-kind and warm blooded spectacle. In 1982 and 1985 he performed in Dakar, Senegal in the Coraduru festival. Even Moskou was visited, to perform in the International Youth festival in 1985. He held a concert in Geneve in 1987 as well as two more in Sao Tome that same year. He performed in 1988 during a meeting of diplomatic organizations from Portuguese Speaking Countries in the hotel Presidente in Luanda, Angola. Shortly after their performance in Luanda the band signed a contract with a south African company and went on tour in Sao Tome with the peak of the tour on New Years Eve in hotel MiraMar. In 1990 the band recorded their first album in the United States with the title Cabeca em Movimento. Following that the band performed in 1996 in the famous festival Baias das Gatas and in 1997 in the festival Lusofonia Praia in Cape Verde and Figueira de Voz in Portugal. Chando Graciosa is a singer composer and guitar player whom feels a strong solidarity with the traditional instruments. His music is at the top of the Cape Verdean music scene and is therefore a strong example for the new generation who are aware of the "roots" of Cape Verde. After his huge success with ABEL-DJASSI, Chando decided to start a solo career. With strong convictions he recorded his first solo album in 1997, Nacia Gomi. The next year he presented a second album Bitori nha Bibinha. Both albums were successful. Chando was received with open arms by a fast growing number of fans. This Young talented artist is bursting with ideas and you can be sure to experience and enjoy these in the future. We expect many more wild dances to his Funana music. With all of our enthousiasm we encourage this singer and performer of the heart. Chando Graciosa: Voz, coros e ferrinho Chando Graciosa, nasceu aos 17 de Agosto de 1965, na ilha do S.Tom. Filho de pais caboverdeanos, que durante a fome e a seca de 47 que na altura abrangia as ilhas de Cabo Verde, se viram obrigados a seguir o destino da emigrao para as terras de S.Tom e Principe. Porm, com alguns meses de idade regressa a Cabo Verde na companhia dos pais, que fixam a residncia na vila do Tarrafal, ilha de Santiago. Uma vez radicado na ilha do funan e do batuco, as melodias da Gaita, o som do ferrinho e as cantarelas de finaon, comearam a percorrer as veias daquele que, mais tarde, viria a ser uma grande revelao do funan. Aos 14 anos, entra para o grupo Abel Djassi e em 1990 grava o seu primeiro LP, intitulado "Cabea em Movimento". Alguns anos mais tarde, Chando emigra para a Holanda; pas onde vive actualmente. Em 1997 grava o seu segundo album intulado "Ncia Gomi". Um ano depois ao lado de Bitori nha Bibinha lana o seu terceiro album. Pela contribuo que tem dado a msica tradicional caboverdeana, Chando tem sido sempre convidado para participar em trabalhos de artistas da nova gerao, contribundo com o seu dote de mister funan, nunca esquecendo a raiz e a identidade da musica quente do povo de Santiago. Recentemente gravou alguns sucessos como, Mosca Bitcho, Baca Brabu e Grogu Nho Lela. Neste novo lanamento, Chando oferece a todos os apreciadores do bom funan, a oportunidade de apreciar as belas e penetrantes melodias do Sr. "Tchota Suari", um dos mais conceituados tocadores de Gaita de Cabo Verde, como fica desmonstrado com este trabalho. BAU Msica sem fronteiras Bau: Procuro fazer evoluir a msica de Cabo Verde minha maneira

CHAMA-SE Inspirao o terceiro disco em nome prprio de Bau, guitarrista caboverdiano de 36 anos que o actual lder da banda que acompanha Cesria vora. Com a ajuda de msicos como Tey (bateria e percusses), Lus Ramos (guitarra), Z Paris (guitarras acsticas e elctricas), Jacinto Pereira (cavaquinho), Nando Andrade (piano, teclas)