as aventuras de karl marx contra o barão de münchhausen

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  • 7/28/2019 As aventuras de Karl Marx contra o Baro de Mnchhausen

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    CENTRO DE CINCIAS JURDICAS

    CURSO DE DIREITO

    Fichamento: As Aventuras de Karl Marx contra o Baro de Mnchhausen, MichaelLowy.

    DISCIPLINA: Sociologia do Direito.

    PROFESSOR: Edmundo Lima de Arruda Junior.

    MATEUS STALLIVIERI DA COSTA

    12200076

    FLORIANPOLIS

    2012

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    Introduo:

    A obra As aventuras de Karl Marx contra o Baro de Mnchhausen trata da

    ideologia, revelando a polissemia dos termos ideologia e cincia, uma ambivalncia de

    significados, sendo tratadas em diferentes correntes do pensamento, e at dentro de uma

    mesma tradio terica e no interior de uma mesma obra, de forma confusa. A mesmapalavra encontrada, no apenas com as mais diferentes significaes, mas, algumas

    vezes, com significaes diretamente contraditrias.

    A questo principal que o livro examina , portanto, a relao entre as vises

    sociais de mundo (ideolgicas ou utpicas) e conhecimento, no domnio das cincias

    sociais, a partir de uma discusso crtica das principais tentativas de elaborao de

    modelo de objetividade cientfica que surgiram no seio do positivismo, do historicismo

    e do marxismo, a fim de elaborar uma sociologia crtica do conhecimento.

    1. O positivismo ou o princpio do Baro de Mnchhausen

    - O positivismo moderno nasceu como um legtimo descende da filosofia do

    Iluminismo.

    - Combate intelectual do Terceiro Estado contra a ordem feudal-absolutista.

    - Instrumento de luta contra o obscurantismo clerical, as doutrinas teolgicas, os

    argumentos de autoridades, os axiomas a priori da Igreja, os dogmas imutveis da

    doutrina social e poltica feudal.

    - Contra a ideologia tradicionalista (principalmente clerical) do Antigo Regime.

    - Naturalizao da sociedade e da cincia social.

    - Augusto Comte: fundador do positivismo.

    - A cincia da sociedade pertence ao sistema das cincias naturais, no qual as cincias

    do homem e as da natureza no passam de ramos de um mesmo tronco. (A. Comte)

    - O conceito de lei natural sofre uma profunda transformao medida que a

    burguesia deixa de ser uma classe revolucionria para tornar-se cada vez mais uma

    fora social associada ao exerccio do poder.

    - Ele (o positivismo ML) tende poderosamente, por sua natureza, a consolidar a ordem

    pblica, atravs do desenvolvimento de uma sbia resignao... Evidentemente, s

    possvel haver uma verdadeira resignao, isto , uma permanente disposio para

    suportar com constncia e sem nenhuma esperana de compensao, qualquer que seja,

    os males inevitveis que regem os diversos gneros de fenmenos naturais, a partir de

    uma profunda convico da invariabilidade das leis. (A. Comte)

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    - Comte inventou o termo sociologia, embora Durkheim deva ser considerado o pai

    da sociologia positivista enquanto disciplina cientfica.

    - Segundo Durkheim, a primeira regra do mtodo sociolgico e a mais fundamental a

    de considerar os fatos sociais como coisas.

    - Para Durkheim, a sociedade , da mesma forma que um ser vivo, um sistema dergos diferentes no qual cada um tem um papel particular.

    - Nosso mtodo no tem nada de revolucionrio. Ele at, em um sentido,

    essencialmente conservador, j que considera os fatos sociais como coisas cuja

    natureza, por mais flexvel e mais malevel que seja, no , porm, modificvel pela

    vontade. (Durkheim)

    - O socilogo deve ignorar os conflitos ideolgicos, fazer calar as paixes e os

    preconceitos e afastar sistematicamente todas as prenoes.- Comparao com a histria do Baro de Mnchhausen, um heri que consegue,

    atravs de um golpe genial, escapar do pntano onde ele e seu cavalo estavam sendo

    tragados, ao puxar a si prprio pelos cabelos.

    - De acordo com Lwy, para se libertar desses preconceitos necessrio, antes de

    tudo, reconhec-los como tais. Sem ter a inteno de buscar a verdade, o discurso no

    tem contedo cientfico: ele se torna simples instrumento a servio de objetivos

    extracientficos.

    - O ponto de convergncia entre a teoria da cincia de Max Weber e a teoria dos

    positivistas est no postulado da neutralidade axiolgica das cincias sociais, muito

    embora suas concepes metodolgicas sejam bastante distantes e, em certos aspectos,

    diretamente contraditrias.

    - Para Rickert, a existncia de valores universais (a verdade, a liberdade, etc.) aceitos

    por todos que fundamenta a universalidade e, portanto, a objetividade das cincias

    histricas. J para Weber, no existe anlise cientfica diretamente objetiva da vida

    cultural ou... dos fenmenos sociais, que seja independente de pontos de vista

    especficos e unilaterais....

    - a partir da no deduo dos fatos a partir dos valores que Weber formula sua

    doutrina da cincia social livre de julgamentos de valor (ou axiologicamente neutra),

    isso significa dizer que, o interesse do objeto de estudo pode mudar de um cientista para

    outro, mas as concluses da investigao emprico-causal deveriam ser aceitveis e,

    nesse sentido, objetivas.

    - A carga valorativa ou ideolgica da problemtica repercute necessariamente sobre o

    conjunto da pesquisa. Sendo a realidade social uma totalidade dialtica, a escolha do

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    essencial no pode ser neutra; um dos principais problemas da cincia social

    precisamente a determinao dos aspectos essenciais do fenmeno.

    - Apesar de seu soberbo rigor e inteligncia, a dmarche de Weber chegou, em ltima

    anlise, aos mesmos impasses que o positivismo mais limitado.

    - Karl Popper se distingue em vrios aspectos dos lugares-comuns do positivismoclssico, introduzindo um ponto de vista novo da problemtica positivista. Ele

    reconhece, assim como Max Weber (e contrariamente tradio de Comte e de

    Durkheim), o carter necessrio, inevitvel e cientificamente indispensvel dos

    pressupostos ou pontos de vista preliminares: uma cincia no simplesmente um

    conjunto de fatos..

    - O pensamento de Popper tem uma dimenso original que lhe d uma superioridade

    indiscutvel sobre os outros positivistas: o reconhecimento lcido de que a objetividadecientfica no poderia ser o resultado de qualquer boa vontade individual do homem

    da cincia, de sua pretensa capacidade de se liberar de seus prprios preconceitos.

    - Popper chama a ateno sobre dois aspectos do mtodo das cincias naturais: 1) a

    liberdade de crtica; 2) a existncia de uma linguagem comum, criando uma nova teoria

    da objetividade cientfica a objetividade institucional. No entanto, ignora que esse

    mtodo s possvel no domnio das cincias naturais porque as vises sociais do

    mundo, as ideologias e os pontos de vista de classe no desempenham nelas um papel

    to decisivo como nas cincias da sociedade.

    2. O historicismo ou a luz prismada

    - O historicismo moderno surgiu no fim do sculo XVIII-incio do sculo XIX,

    sobretudo na Alemanha, como uma reao conservadora filosofia do Iluminismo,

    Revoluo Francesa e ocupao napolenica.

    - Ope-se abstrao racionalista, a-histrica, do sculo XVIII na Frana, e ruptura

    revolucionria com o passado.

    - , portanto, na sua origem, uma corrente em geral conservadora e, s vezes,

    francamente reacionria (no sentido estrito do termo).

    - Desenvolve um estilo de pensamento que visa apreender a totalidade e o qualitativo.

    - Historicismo e conservadorismo so to identificados que o prprio ponto de vista

    conservador percebido como decorrente da histria.

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    - A ordem tradicional estabelecida resulta do crescimento histrico orgnico; o

    produto de sculos de acumulao histrica e as tentativas artificiais de derrub-la pela

    revoluo esto inevitavelmente condenadas ao fracasso.

    - No o historiador que avalia, a prpria histria que carregada de valores; o

    historiador, escreve Ranke, no seno um rgo de um esprito geral que fala atravsdele: ele no julga, a histria que julga.

    - Tanto para o positivismo quanto para o historicismo a ideologia faz parte do campo-

    do-percebido-como-evidente e no so considerados tendenciosos ou axiologicamente

    engajados. Para os dois, sua perspectiva decorre da ordem natural das coisas, natural

    significando para os positivistas a harmonia das leis naturais eternas da vida social e,

    para os historicistas conservadores, o crescimento histrico orgnico das instituies.

    - Perto do fim do sculo comea o processo de mutao do historicismo conservador emrelativista.

    - Droysen reconhece que esta dmarche conduz a resultados unilaterais e limitados, mas

    insiste em que necessrio ter a coragem de reconhecer esta limitao, e se consolar

    com o fato de que o limitado e o particular so mais ricos que o comum e o geral.

    - O historicismo tende, portanto, a se redefinir e a se transformar em um questionamento

    de todas as instituies sociais e formas de pensamento como historicamente relativas.

    - O primeiro representante e talvez o mais importante e mais coerente desta

    tendncia Wilhelm Dilthey. Sua obra constitui umas das primeiras tentativas

    sistemticas e profundas da crtica historicista do positivismo e de seu mtodo

    cientfico-naturalista.

    - A distino que Dilthey estabeleceu entre as cincias do esprito e as cincias da

    natureza se tornou clssica e um ponto de referncia obrigatrio para as cincias sociais

    nos pases de cultura alem. Ela se baseia em trs caractersticas particulares das

    cincias do esprito: a) a identificao do sujeito e do objeto (todos os dois pertencem ao

    universo cultural e histrico); b) a unidade inseparvel dos julgamentos de fato e de

    valor; c) a necessidade de compreender a significao vivenciada dos fatos sociais

    enquanto a cincia natural pode se limitar a uma explicao exterior dos fenmenos.

    - Cada viso de mundo historicamente condicionada, portanto, limitada, relativa...

    Cada uma exprime, nos limites de nosso pensamento, uma dimenso do universo. Cada

    uma , consequentemente, verdadeira. Mas cada uma delas unilateral.. (Dilthey)

    - Georg Simmel critica com lucidez as limitaes do positivismo: o conhecimento nas

    cincias histricas no pode ser, como o julga o naturalismo, o reflexo da realidade em

    um espelho; o produto da cincia histrica parece mais um retrato ou uma paisagem

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    pintados por um artista, sendo, portanto, o resultado de um ponto de vista determinado,

    de uma perspectiva necessariamente unilateral.

    - A obra de Ernest Troeltsch outra variante da soluo ecltica no quadro do

    historicismo. Ele mostra como o avano da conscincia histrica produziu no sculo

    XIX uma historicizao fundamental de nosso pensamento sobre o homem, sua culturae seus valores, tendo como resultado uma dificuldade crescente de encontrar pontos

    de apoio neste oceano em movimento. Ele parece, como Simmel, inclinar-se para a

    soluo ecltica: a superao do relativismo seria possvel graas a uma grande sntese

    cultural da civilizao ocidental, anloga quelas que produziram, no passado, os

    profetas, os gnios polticos e os grandes historiadores.

    - Com a obra de Karl Mannheim, o historicismo relativista se desenvolve e se

    metamorfoseia mais uma vez: sua nova imagem a de uma sociologia histrica doconhecimento (tingida de marxismo), procura de um fundamento social para a soluo

    ecltica tradicional.

    - Sua ideia principal a dependncia situacional de todo conhecimento histrico: no

    existe nenhuma afirmao sobre a histria na qual no penetre a posio filosfico-

    histrico do sujeito observador. Esta posio, por sua vez, depende de (ou est

    vinculada a) certas camadas sociais e sua dinmica.

    - Todavia, aps ter seguido de perto o marxismo na definio da sociologia do

    conhecimento, Mannheim se separou dele em um certo momento, para empreender uma

    dmarche relativista-ecltica inspirada na viso historicista. Pode-se se situar o ponto

    exato dessa separao/ruptura com o marxismo a partir do qual vai se redirecionar o seu

    itinerrio: o princpio da carruagem de Max Weber (a interpretao materialista no

    uma carruagem sobre a qual se pode montar vontade e que se deteria diante dos

    agentes da revoluo). Critica o marxismo por no ter observado a ideologia seno em

    seus adversrios, enquanto se concebia a si prprio como no-ideolgico.

    - Para Mannheim, toda forma de pensamento necessariamente vinculada a uma

    posio social. O que Mannheim parece ignorar que, carregado pelo vento da

    histria, o intelectual pode flutuar de uma posio a outra no campo da luta de classes,

    mas este movimento no constitui uma base social estvel, um ponto de vista prprio: a

    fora da gravidade das classes sociais a faz cair, cedo ou tarde, de um lado ou de

    outro.

    - Cada classe social se situa em um observatrio determinado, mas certos observadores

    esto mais elevados e tm acesso a uma viso mais ampla. (Mannheim)

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    3. O marxismo ou o desafio do princpio da carruagem:

    - O marxismo foi a primeira corrente a colocar o problema do condicionamento

    histrico e social do pensamento e a desmascarar as ideologias de classe por detrs do

    discurso pretensamente neutro e objetivo dos economistas e outros cientistas sociais.

    - Enquanto viso de mundo, o marxismo uma utopia revolucionria, visto que aspira aum estado de coisas ainda inexistente, mas nos Estados ps-capitalistas ele assume um

    carterideolgico.

    3.1 Ideologia e cincia segundo Marx:

    - A oposio entre cincia imparcial, desinteressada e cincia (ou pseudocincia)

    submissa a interesses exteriores tambm bastante prxima da concepo positivistade objetividade cientfica.

    - A histria da cincia no pode ser separada da histria em geral, da histria da luta de

    classes em particular.

    - A pesquisa metodolgica, a forma rigorosa e ousada de ligar o desenvolvimento da

    economia poltica marcha da histria social, fundamental para dar conta da

    concepo marxista da dialtica cincia/ideologia e de sua relao com a luta de classes.

    - Para Marx, os economistas so os representantes cientficos da classe burguesa.

    Apenas de sua boa-f, de sua imparcialidade, de sua honestidade, de seu amor

    verdade, a economia poltica clssica burguesa, e sua ideologia de classes impe

    limites cientificidade.

    - A economia poltica clssica/cientfica burguesa sobretudo porque para ela a

    produo burguesa a produo em geral. Uma forma especfica, historicamente dada,

    da produo o capitalismo considerada por ela como absoluta, eterna, a-histrica,

    natural e as contradies do modo de produo capitalista so explicadas como

    contradies naturais da produo enquanto tal. (Marx)

    - Isso no impede que sua busca possa produzir conhecimentos cientficos importantes:

    a ideologia burguesa no implica a negao de toda cincia, mas a existncia de

    barreiras que restringem o campo de visibilidade cognitiva.

    - Horizonte, perspectiva, ponto de vista, campo de visibilidade, so metforas que no

    devem ser compreendidas em um sentido literal, mas permitem colocar em evidncia

    que o conhecimento, o saber (a viso) esto estreitamente ligados posio social

    (altura) do observador cientfico.

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    - Da mesma forma que os economistas so os representantes cientficos da classe

    burguesa, ossocialistas e comunistas so os tericos da classe proletria. (Marx)

    - Marx considerava a sua prpria obra e a de Engels como pertencentes cincia

    revolucionria que se associa s lutas do proletariado com plena conscincia de causa.

    - Concluindo:

    a) a classe que cria e forma as vises sociais de mundo (superestruturas), mas

    estas so sistematizadas e desenvolvidas por seus representantes polticos e literrios.

    A viso social de mundo no corresponde somente aos interesses materiais de classe

    mais tambm suasituao social.

    b) Os intelectuais so relativamente autnomos com relao classe. O que os fazrepresentantes de uma classe a ideologia (ou utopia) que produzem.

    c) O que define uma ideologia (ou utopia) uma certa forma de pensar, uma certa

    problemtica, um certo horizonte intelectual (limites da razo).

    3.2 Marxismo e positivismo no pensamento da Segunda Internacional:

    - O poder da ideologia positivista era tal, no fim do sculo XIX e incio do sculo XX,

    que acabou por penetrar tambm, e muito profundamente, na doutrina do movimento

    operrio socialista.

    - Bernstein afirma que o socialismo uma tendncia, enquanto a cincia livre de toda

    tendncia; enquanto conhecimento dos fatos no pertence a nenhum partido ou classe.

    - Para Enrico Ferri, a evoluo humana obedece a leis estabelecidas e confirmadas pela

    cincia social positiva, que nos permitem afirmar que a trajetria da evoluo aquela

    indicada e prevista pelo socialismo.

    - Kautsky declara que descobrir e difundir conhecimentos cientficos que so

    contraditrios com os interesses das classes dominantes significa declarar a guerra.

    - Max Adler acreditava que o proletariado mais receptivo que qualquer outra classe ao

    materialismo histrico.

    - De acordo com Lenin, em uma sociedade fundada na luta de classes, no poderia

    haver cincia imparcial. Toda cincia oficial e liberal defende, de uma forma ou de

    outra, a escravido assalariada, enquanto o marxismo declara uma guerra implacvel a

    esta escravido..

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    3.3 O marxismo historicista (Lukcs, Korsch, Gramsci, Goldmann):

    - Marxismo historicista uma corrente metodolgica no seio do pensamento marxista

    que se distingue pela importncia central atribuda historicidade dos fatos sociais e

    pela disposio em aplicar o materialismo histrico a si mesma.

    - Lukcs entende que a essncia da histria reside justamente na modificao destasformas estruturais por intermdio das quais tem lugar a cada momento a confrontao

    do homem com o seu meio....

    - Para Lukcs, todo conhecimento da sociedade est intimamente ligado conscincia

    de classe de uma camada social determinada.

    - Austromarxismo: separao metodolgica entre a cincia pura do marxismo e o

    socialismo.

    - Conscincia de classe, de acordo com Lukcs, no se trata nem da soma nem da mdiado que os indivduos que compem a classe, somados um a um, pensam; ela no a

    conscincia emprica, psicologicamente descritvel, dos membros da classe, mas o

    sentido, tornado consciente, da situao histrica da classe.

    - O ponto de vista do proletariado representa, para Lukcs, um nvel cognitivo mais

    elevado porque para o proletariado o conhecimento mais perfeitamente objetivo de sua

    situao de classe uma necessidade vital, uma questo de vida ou de morte.

    - O ponto de vista do proletariado visa a transformao revolucionria da realidade

    social: o proletariado ao mesmo tempo sujeito e objeto do conhecimento e da histria.

    - Korsch, que se situa numa perspectiva histrica muito prxima de Lukcs, mostra que

    o marxismo uma cincia nova que exprime, ao nvel terico, o movimento

    revolucionrio do proletariado, e ao mesmo tempoprxis revolucionria.

    - A contribuio do pensamento de Gramsci diz respeito historicidade radical das

    ideologias e da cincia.

    - Toda viso de mundo histrica, toda verdade pretensamente eterna e absoluta tem

    uma origem prtica histrica e tem uma validade provisria.

    - De acordo com Goldmann, a tese central e constitutiva da sociologia do conhecimento

    que a estrutura categorial da conscincia do pesquisador um fato social que se

    relaciona com as aspiraes e interesses dos diferentes grupos sociais.

    - A interveno dos interesses e valores das classes sociais na prpria estrutura da teoria

    , ao mesmo tempo, geral e inevitvel.

    - O lao entre julgamento de fato e de valor no lgico, mas psicolgico (e social).

    - Goldmann considera a conscincia possvel do proletariado como aquela capaz de

    atingir, em nossa poca, o grau relativamente mais elevado de objetividade e de

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    verdade. E isso essencialmente porque o proletariado uma classe universal, que tende

    a se identificar com o conjunto da humanidade.

    - A principal fraqueza do marxismo historicista, na opinio de Lwy, a tentao

    reducionista, ou ao menos a ausncia de articulao precisa e sem equvoco entre o

    condicionamento social do pensamento e a autonomia da prtica cientfica.

    3.4 O marxismo racionalista da Escola de Frankfurt (Horkheimer e Marcuse):

    - Teoria Crtica (ou Materialista).

    - Negao irreconcilivel da ordem estabelecida e antipositivismo apaixonado.

    - No pretende ser axiologicamente neutra. Para Horkheimer, a apologia contempornea

    de uma cincia livre de julgamentos de valor no seno uma tentativa de reduzir a

    reflexo terica a um humilde criado completamente a servio dos objetivosinstitucionais da sociedade industrial.

    - Proclama aberta e orgulhosamente seu engajamento em defesa de certos valores, e

    pensa escapar assim aos dilemas do relativismo.

    - Marcuse apresenta a doutrina marxista como a teoria concreta da prxis proletria e

    a forma atravs da qual o proletariado como classe, a partir da sua situao social, deve

    viver, entender e transformar a realidade.

    - A base ontolgica ou epistemolgica da Teoria Crtica no o proletariado (como

    Lukcs) mas a essncia humana, negada e oprimida pelo capitalismo.

    - A histria nos ensina que tais grupos, ignorados ou hostilizados pela parcela

    oposicionista da sociedade podem, graas sua compreenso mais profunda se colocar

    na vanguarda no momento decisivo. (Horkheimer)

    - De acordo com Horkheimer, a Teoria Crtica est fundamentada na ideia de uma

    organizao racionalda sociedade, correspondente universalidade.

    - Marcuse define a diferena entre o racionalismo tradicional (idealista) e o

    racionalismo crtico (materialista): enquanto o primeiro se satisfazia com a realizao da

    razo no pensamento puro, o segundo aspira organizao racional da sociedade.

    - Horkheimer enfatiza que a filosofia a tentativa metdica e persistente de levar a

    Razo ao mundo.

    - Cada classe tem sua prpria ideia do que uma organizao racional da sociedade.

    - Para Marx e Engels, a Razo no pode ser dissociada da luta de classes; em cada

    perodo histrico ela assume a figura concreta de uma classe social concreta.

    3.5 Ideologia estalinista e cincia:

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    - A doutrina estalinista no constitui uma classe social, assim, no capaz de criar uma

    nova viso social de mundo: ela se contenta com a deformao/mascaramento do

    marxismo e sua transformao em ideologia conservadora de um poder, de um sistema

    social e poltico estabelecido, da dominao de um Standsocial privilegiado.

    - A burocracia produz assim um marxismo vulgar anlogo economia polticavulgar do pensamento burgus, isto , diretamente subordinada a seus interesses

    polticos e sociais, devendo, ao mesmo tempo, apresentar seu ponto de vista como

    sendo, na realidade, do proletariado.

    - Ideologizao total da cincia e abolio de sua autonomia relativa.

    - Ideia de que as cincias naturais teriam um carter burgus.

    - Lyssenkismo Positivismo ao inverso: enquanto o positivismo quer naturalizar as

    cincias sociais e polticas, o socialismo pretende politizar as cincias da natureza. Ocontrrio dessa inverso d por resultado o neopositivismo.

    - Doutrina das duas cincias: a cincia do mundo capitalista e a cincia do mundo

    socialista. As condies sociais e polticas determinam a orientao da pesquisa

    cientfica e a aplicao de seus resultados.

    Concluso:

    O modelo cientfico-natural de objetividade tem por ideal epistemolgico uma

    cincia livre de ideologias, julgamentos de valor ou pressuposies polticas, isto , uma

    cincia axiologicamente neutra. Entretanto, no s a seleo do objeto da pesquisa como

    tambm a aplicao tcnica das descobertas cientficas dependem dos interesses e

    concepes de classes e de grupos sociais que financiam, controlam e orientam a

    produo cientfico-natural, assim como da ideologia ou viso social de mundo dos

    prprios pesquisadores.

    J nas cincias da sociedade, as opes ideolgicas (ou utpicas) condicionam

    no somente a escolha do objeto mas tambm a prpria argumentao cientfica, a

    pesquisa emprica e o valor cognitivo do discurso; elas conformam no somente os

    quadros exteriores da pesquisa mas tambm sua estrutura interna, sua veracidade, seu

    valor enquanto conhecimento objetivo da realidade.

    Verifica-se, portanto, que existe uma diferena qualitativa quanto ao papel, a

    importncia e a significao das vises de mundo nas cincias humanas e nas cincias

    naturais que analisada de maneira diversa pelas trs correntes do pensamento

    estudadas (positivismo, historicismo e marxismo). Assim, a sociologia crtica do

    conhecimento se prope a fornecer a orientao necessria para explicar as condies de

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    possibilidade de um conhecimento objetivo dos fatos sociais, histricos e culturais, a

    fim de explicar as relaes entre as classes ou categorias sociais e as cincias da

    sociedade.