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XIV Jornada de Estudos Antigos e Medievais – Maringá-PR, 18 a 20/11/2015 1
AS CARTAS DE SÃO JERÓNIMO À LUZ DA FORMAÇÃO SOCIAL
Lorena Melissa dos Santos
Terezinha Oliveira Universidade Estadual de Maringá- UEM
Resumo
A pesquisa tem como objetivo, analisar os princípios norteadores que Sofrónio Eusébio Jerônimo (347a.C- 419 d.C.) projetava para o período do século IV. Por meio do Epistolário de San Jerônimo, analisaremos algumas cartas, nas quais, aponta questões fundamentais para tornar-se cristãos, ou seja, virtudes e princípios educativos que os indivíduos necessitariam viver. A maioria de suas cartas foram enviadas as mulheres. São Jerônimo estabeleceu princípios norteadores a figura feminina, aliás o projeto social e a construção da formação que autor escreveu, acontecia justamente porque a sociedade romana era dissoluta, portanto o fato de nascer no Império Romano não lhes dava o direito de ser cristão. Era necessário tornar-se cristão e ser pertencente daquele grupo.
Palavras-Chave: Formação. Jerônimo. A mulher na Alta Idade Média.
Introdução
A pesquisa tem como objetivo principal analisar um conjunto de cartas, escritas por
Jerônimo que aponta questões fundamentais para as mulheres educarem seus filhos, ou seja,
virtudes e princípios educativos que necessitariam seguir para tornarem-se cristãos na
sociedade. Assim, apresentaremos o contexto educativo que percorreu durante a Idade Média
no período do século IV e V, ressaltando acontecimentos do medievo que foram essenciais ao
processo educacional.
O Epistolário trata-se de cartas que Jerônimo escreve para seus amigos de infância,
para as mulheres, para as pessoas que gostava, escreveu também biografias de monges,
ilustrando ao lado de outros percursos espirituais também o ideal monástico, traduziu também
várias obras de autores gregos. Por fim, no importante Epistolário, uma obra-prima da
literatura latina, Jerônimo, dizia: “Por ahora, lo único que puedo hacer es mandarte uma carta
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que, em el lugar de mil persona, me represente ante ti”. Porque nada hace tan presentes a los
ausentes como hablar y oír hablar por médio de cartas a los que amamos”1.
Jerônimo no século IV acreditava que a mulher poderia ser formadora de seus próprios
filhos, pois para ele, a mulher era vista como a força divina semelhante a força do Filho de
Deus, e sendo assim, deveria assumir este papel de educadora. Conforme a educação cristã,
Jerônimo orientava a renúncia dos próprios desejos para uma vida de exemplo,
principalmente aos seus filhos, e na preservação de valores.
Certamente o mestre Jerônimo pensava na educação feminina dentro da perspectiva do
papel social, ou seja, a mulher seguindo os valores e princípios sociais torna-se exemplo de
educação que possibilita transformar o outro. Um aspecto considerado vital para o autor,
estava na imagem da mulher, a quem reconhece o direito a uma formação humana, acadêmica
e religiosa.
É necessário compreendermos que antes de Jêronimo escrever suas cartas, percorreu
por inúmeros lugares até sua produção literária. Jerônimo nasceu em Estridão por volta de
347 a.C. Recebeu o nome de Hieronymus, ao qual juntava, às vezes, o de seu pai Eusebius.
Estudou humanidades na terra natal e depois em Roma. Mesmo tendo nascido numa família
católica, só foi batizado aos 20 anos. Impressionado com a vida monástica, decidiu renunciar
ao mundo e começou a iniciar-se na literatura cristã.
Saiu de Roma em 367 d.C., Dirige-se a Estridon e permanece naquela região até 374
aproximadamente, quando decide viajar pelas Gálias. “Após o período em Estridon, deslocou-
se com seu amigo Nicetas para a Trácia, Ponto, Capadócia, Bitinia, Galácia, Cilicia e
finalmente a Antioquia da Síria, para posteriormente, cerca de seis anos mais tarde, se dirigir
ao deserto de Cálcis”. ( PENNA, p. 14 ). Em Antioquia esteve sobre a proteção e
hospitalidade de seu amigo Evrágio, da companhia de Inocêncio e Ilas. Foi em Antioquia que,
o jovem Jerônimo, começara a escrever suas correspondências, sendo a primeira endereçada
ao presbítero Inocêncio, uma espécie de agradecimento pela hospitalidade desfrutada.
Em 382, foi convidado, como intérprete, para ir ao Concílio em Roma. O Papa
Dâmaso, nomeou-o seu secretário e consulta-o nas passagens obscuras das Escrituras.
Encarrega-o da revisão da Bíblia dos Setenta e da tradução para o latim, a Vulgata. Depois da
1 Id. Introdução, versão e notas por: Juan Bautista Valero, Madrid: La Editorial Católica S.A 1962, v.1
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morte do Papa Dâmaso, decidiu se instalar nos Lugares Santos. Paula e sua filha Eustáquia e
numerosas mulheres tomavam o mesmo destino. Morreu em 30 de setembro de 419.
Jerônimo tratou de inúmeros assuntos, escreveu no epistolário sobre relações com a
prática da vida diária, os hábitos, de comer, vestir, beber, de trabalhar, sobre as boas e más
companhias e dentre outras orientações.
O epistolário de Jerônimo, que foi editado pela Biblioteca de Autores Cristãos, com
introdução, versão e notas por, Juan Bautista Valerio2 uma edição bilingue de 1962, foi
escrito durante um período de aproximadamente 45 anos, isto é, de 374/75 d.C., até a morte
de Jerônimo em 419 d. C.
Nas cartas para as mulheres, Jerônimo, escrevia sobre seus comportamentos e
exemplos, ou seja, Jerônimo percebia que a criança não aprenderia somente aquilo que era
intencionalmente ensinado a ela, mas, também aquilo que visse os adultos fazerem. Jerônimo
tinha a proposta de que as crianças se formassem e seguissem os princípios como cristãos.
Jerônimo foi um dos grandes mestres da fé cristã, sobretudo entre a aristocracia
romana de seu tempo. Das cento e vinte e cinco cartas que escreve, cinquenta são endereçadas
à elite romana. Isso demonstra, em grande medida, o quanto esse autor esteve ligado a
aristocracia romana. “Além disso, se preocupou com a instrução as mulheres no intuito de
formar seus filhos para a sociedade em que viviam”. (VALERO, 1962, p.4)
Contudo, não há possibilidade de examinarmos as cartas, sem compreendermos
acontecimentos que perpassaram pela Idade Média. São fatores que nos ajudam a
compreender a preocupação com a educação e a formação do homem. Entre um estado histórico novo e o que o antecedeu, não há um vazio, mas sim um estreito laço de parentesco, pois, num certo sentido, o primeiro nasceu do segundo (DURKHEIM, 2002, p. 24).
Desse modo, estudar o contexto histórico, compreender os movimentos da História e
da Filosofia da educação, implica analisar os aspectos sociais e políticos de uma época.
Referencial Teórico
2 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Epistolário de San Jerônimo. Introdução, versão e notas por: Juan Bautista Valero.Madrid: La Editorial Católica S.A., 1962, v.1. p.59.
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Nota-se que Jerônimo, prezava o comportamento exemplar dos adultos, é importante
para uma formação que envolva hábitos, valores e conteúdo. Dessa maneira, podemos nos
referenciar tanto a Aristóteles no século IV a.C., quanto são Jerônimo no século IV d.C. e
Tomás de Aquino no século XIII, indicam que a formação de hábitos é essencial para a
educação do ser humano.
A percepção indicada, também, por Tomás de Aquino (1224 – 1274), no século XIII, a
mente humana possui naturalmente o intelecto, porém, ele só é ativado e utilizado com a
educação e com a aquisição de conhecimentos.
Na realidade, as formas naturais, sim, são preexistentes na matéria, não em ato (como pretendiam alguns), mas somente em potência, e são conduzidas ao ato por um agente extrínseco próximo (e não só pelo primeiro agente, como pretendiam outros). E algo de semelhante, segundo Aristóteles em VI Ethicoru , ocorre com os hábitos das virtudes antes de seu pleno aperfeiçoamento: preexistem em nós em certas inclinações naturais que são como que incoações das virtudes, mas só pelo posterior exercício das obras da virtude são levadas à devida consumação (TOMÁS DE AQUINO, De magistro, art. 1, Solução § 5).
Tomás de Aquino aponta que a seres cuja natureza possui potência e ato, como é o
caso do homem, que nasce com potencialidades que se tornarão ou não atos, ou seja, realizar-
se-ão ou não. Desse modo, este pensamento se assemelha a percepção aristotélica, na medida
em que a instrução de virtude intelectual se adquire pelo ensino, e a virtude moral pelo hábito.
Sendo a virtude, como vimos, de dois tipos, nomeadamente, intelectual e moral, a intelectual é majoritariamente tanto produzida quanto ampliada pela instrução[...] E, portanto, fica evidente que nenhuma das virtudes morais é em nós engendrada pela natureza, uma vez que nenhuma propriedade natural é passível de ser alterada pelo hábito. Por exemplo, é da natureza da pedra mover-se para baixo, sendo impossível treiná-la para que se mova para cima, [...]. As virtudes, portanto, não são geradas em nós nem através da natureza nem contra a natureza. A natureza nos confere a capacidade de recebê-las, e essa capacidade é aprimorada e amadurecida pelo hábito (ARISTÓTELES, 2009, p. 67).
Como vemos, Aristóteles (384 – 322 a.C.), expressava que a virtude moral não nos é
concedida pela natureza. Recebemos a formação para desenvolver as virtudes morais, mas a
capacidade de agir de acordo com elas só pode ser adquirida pelo hábito, pelos exemplos, de
quem os ensina.
Jerônimo se preocupou com os exemplos de quem ensinava, desse modo, orientava as
mulheres a leitura com muita frequência as divinas escrituras e mais, “que o livro não caia
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nunca de tuas mãos, aprende nele o que tens de ensinar” (epístola, 78). Quando escreveu à
matrona romana, Leta, ele dava estes conselhos para a educação cristã de sua filha:
“Assegura-te de que estude todos os dias alguma passagem da escritura, que ame os livros
divinos em vez das joias e os vestidos de seda” ( Ep.107).
A conduta cristã, é exemplo, atribuída a uma sã e integral educação desde a primeira
infância: (Epístola 107, 4 e 8-9) “Com profunda intuição, aconselha preservá-la do mal e das
ocasiões de pecado, evitar as amizades equívocas ou que dissipam”. Também na (Epístola
128, 3-4), exorta sobretudo aos pais a “criar um ambiente de serenidade e de alegria ao redor
dos filhos, para que lhes estimulem no estudo e no trabalho, e lhes ajudem com o elogio a
superar as dificuldades, favorecendo neles os bons costumes e preservando-lhes dos maus
porque diz, citando uma frase importante “dificilmente conseguirás corrigir-te das coisas às
que te vais acostumando tranquilamente” (Epístola 107, 8).
No que diz respeito à conduta dos cristãos lembremos da Regra de São Bento escrita
por Bento de Núrsia (480 d.C - 547 d.C) no século VI na qual determina a conduta humana
dos cristãos, evidencia-se uma passagem importante com a preocupação da obediência no
quinto capítulo:
Mas essa mesma obediência somente será digna da aceitação de Deus e doce aos homens, se o que é ordenado for executado sem tremor, sem delongas, não mornamente, não com murmuração, nem com resposta de quem não quer. Porque a obediência prestada aos superiores é tributada a Deus. Ele próprio disse: "Quem vos ouve, a mim me ouve". E convém que seja prestada de boa vontade pelos discípulos, porque "Deus ama aquele que dá com alegria". Pois, se o discípulo obedecer de má vontade e se murmurar, mesmo que não com a boca, mas só no coração, ainda que cumpra a ordem, não será mais o seu ato aceito por Deus que vê seu coração a murmurar; e por tal ação não consegue graça alguma, e, ainda mais, incorre no castigo dos murmuradores se não se emendar pela satisfação (SÃÓ BENTO, 1993, cap. V).
Refletimos que a regra cumpria seu papel de orientação aos homens para o processo de
civilização. Portanto os homens tornariam cristãos, em relação à sociedade que viviam, como
membros da "família de Deus". A regra instruía a obediência e a uniformidade de princípios
para a garantia da vida beneditina.
É relevante mencionar que vários mestres medievais buscaram ensinar a educação
pelo exemplo. Todavia, no século XVIII, Kant (1724 – 1804) apresenta uma concepção
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semelhante, ao indicar a necessidade de que o homem aprenda tanto a virtude intelectual,
quanto a moral.
Vivemos em uma época de disciplina, de cultura e de civilização, mas ela ainda não é a da verdadeira moralidade. Nas condições atuais pode dizer-se que a felicidade dos Estados cresce na mesma medida que a infelicidade dos homens. E não se trata ainda de saber se seríamos mais felizes no estado de barbárie, no qual não existiria toda essa nossa cultura, do que no atual estado. De fato, como poderíamos tornar os homens felizes, se não os tornamos morais e sábios? Desse modo, a maldade não será diminuída (KANT, 2004, p. 28).
Conforme Kant (2004), a disciplina é essencial para a aprendizagem. O ser humano
que, desde cedo, aprende a ser disciplinado tem melhores condições de ser educado para o
convívio social. Kant indica que o desenvolvimento moral e intelectual do ser humano
existir, em sociedade, torna-o ser autônomo e livre.
Desse modo, vemos que a preservação que Jerônimo escreveu sobre a formação para
as mulheres com o propósito do exemplo, tornou-se fator primeiro para refletirmos ao longo
da história.
Portanto retomemos Aristóteles, quando decorre sobre a prática das virtudes. Um
homem é considerado honesto se pratica a honestidade, é considerado prudente se age de
acordo com a justa razão. É através da participação em transações com nossos semelhantes que alguns de nós se tornam justos e outros, injustos; através da ação em situações arriscadas e ao formar o hábito do [sentimento] do medo ou [aquele] da autoconfiança que nos tornamos corajosos ou covardes. [...] Em síntese, nossas disposições morais são formadas como produto das atividades correspondentes. Consequentemente, nos compete controlar o caráter de nossas atividades, já que a qualidade destas determina a qualidade de nossas disposições. Não é, portanto, de pouca monta se somos educados desde a infância dentro de um conjunto de hábitos ou outro; é, ao contrário, de imensa, ou melhor, de suprema importância. (ARISTÓTELES, 2009).
Nesse sentido, essa passagem é fundamental para compreendermos quando Jerônimo
propôs o comportamento exemplar perante as crianças, ( Ep. 30) “O bom exemplo é a melhor
escola para formar filhos exemplares”. Soltar as “rédeas” dos filhos deixando-
os “galoparem” pela estrada do vício não é prova de amor; mas sim, de fraqueza, covardia e
irresponsabilidade. Quem ama corrige! “Não vos lisonjeies pelo fato de amar vossos filhos, se
acaso não sabeis repreendê-los nem corrigi-los”.
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OBJETIVOS
Geral:
- Analisar por meio do Epistolário de San Jerônimo as cartas que escreve diretamente as
mulheres no intuito de orientá-las sobre como educar suas filhas e filhos a partir de seu
exemplo.
Específicos: -
-Estudar por meio das cartas, o processo de educação durante a Idade Média no período do
século IV e V, ressaltando acontecimentos do medievo que foram essenciais ao processo
educacional.
- Analisar de que forma a educação pelo exemplo transformaria a formação que Jerônimo
escrevia para as mulheres ao praticarem os valores e princípios sociais.
Metodologia
Nas epistolas3 deixadas por Jerônimo, percebemos como ele mostra um amor
extraordinário à Palavra de Deus e uma grande riqueza de informações sobre tempos, usos e
lugares relativos à Bíblia Sagrada. O Papa Clemente VIII afirmou que São Jerônimo, nesse
trabalho de suma importância, foi assistido e inspirado pelo Espírito Santo4.
Jerônimo se dedicou na tradução das Escrituras Sagradas, é o que se confirma ao ver
as explicações que ele mesmo deu ao justificar seu empenho nesse importante trabalho:
"Cumpro o meu dever, obedecendo aos preceitos de Cristo que diz: ‘Examinai as Escrituras e
procurai e encontrareis' para que não tenhais de ouvir o que foi dito aos judeus: ‘Estais
enganados, porque não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus'. Se, de fato, como diz o
Apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, aquele que não conhece as
Escrituras não conhece o poder de Deus nem a sua sabedoria. Ignorar as Escrituras é ignorar
Cristo". (Pe. José Leite, op. Cit., p. 106.).
3 Epístolas: uma das cartas ou lições dos apóstolos dirigidas às primeiras comunidades cristãs (Valero, 1962). Epistolas analisadas Ep. 128; Ep.107; Ep. 30; Ep. 78; 4 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Epistolário de San Jerônimo. Introdução, versão e notas por: Juan Bautista Valero. Madrid: La Editorial Católica S.A., 1962, v.1. p.66
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As preocupações de Jerônimo e sua forte participação na educação cristã, preservava a
consagrada obediência religiosa, que naquele momento exercia um importante papel na
sociedade. Para entendermos como as propostas de Jerônimo ganharam força percorreremos
alguns acontecimentos que levou a igreja a tomar poderes de organização social.
Os primeiros movimentos migratórios, conforme Pierini (1997), ocorreram nos quatro
cantos da Europa entre os séculos IV e V, desencadeando uma série de ondas migratórias que
se estenderam até o século X. “A primeira onda justamente nos séculos IV-V – compreende
um combate oriental constituído por hunos, godos e alanos, e uma vanguarda ocidental
composta por vândalos, suevos e burgúndios (PIERINI, 1997, p. 30)”.
Pode-se supor, com grande probabilidade de acerto, que a história está mudando quando as populações (pequenas ou grandes) colocam-se em movimento. E se o número dessas populações em movimento é muito maior do que o esperado e os seus deslocamentos se sucedem e se sobrepõem no curso de vários séculos, abrangendo áreas de quase todo o mundo conhecido, deve-se supor que estamos diante de um período histórico caracterizado por grandes e profundas mudanças (PIERINI, 1997, p. 29).
Observa-se que tais mudanças produzida pelo movimento das populações não ocorreu
de forma pacífica, antes provocou destruição acentuando a desarticulação do sistema imperial.
Anderson (1982), afirma que, “Na primeira metade do século V, a ordem imperial fora
devastada pelo fluxo de bárbaros através de todo o Ocidente (p. 122)”. As invasões germânicas que varreram o Império do Ocidente
desenvolveram-se em duas fases sucessivas, cada uma delas com sua forma e dinâmica próprias. A primeira grande vaga começou com a momentosa travessia do Reno gelado, na noite de inverno de 31 de Dezembro de 406, por uma confederação informal dos Suevos, Vândalos e Alanos. [...] em 410, os Visigodos, comandados por Alarico, tinham saqueado Roma. Duas décadas mais tarde, em 439, os Vândalos haviam tomado Cartago (ANDERSON, 1982, p. 122).
Mediante as invasões que então se apresentavam, o referido autor afirma que, apesar
da força com que as tribos adentraram o Império do Ocidente, os invasores “[...] não eram por
si capazes de substituí-lo por um universo político novo ou coerente (ANDERSON, 1982, p.
123)”.
Segundo Pierini (1997), em 378, os visigodos invadiram a península balcânica,
infligindo aos romanos a primeira derrota militar no próprio território do Império, embora não
se possa afirmar que tenham sido a única causa, contribuíram em grande medida para a
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transformação na organização da sociedade, para a reestruturação social. É evidente nos
autores dessa época a preocupação em orientar as novas formas de convivência que se
construíam em meio aos conflitos, em identificar alternativas para as relações de trabalho,
educação, relações políticas e religiosas.
Em meio ao enfraquecimento do Império Romano, decorrente, em grande parte, das
invasões germânicas, a Igreja católica conseguiu manter-se como instituição social mais
organizada. Ela consolidou sua estrutura religiosa e difundiu o cristianismo entre os povos
bárbaros, preservando muitos elementos da cultura pagã greco-romana. Apoiada em sua
crescente influência religiosa, a Igreja passou a exercer importante papel político na sociedade
medieval.
Guizot (1843), faz menção ao longo amadurecimento das relações medievais, que
principiaram por volta do século V, quando da dissolução das relações romanas e do
recrudescimento das incursões dos povos francos, germânicos, godos, celtas, entre outros.
Nesse período, a Igreja, lentamente, foi ganhando força política e econômica, consolidando-se
como importante núcleo de formação cultural e educacional.
Os mosteiros5 e a Igreja necessitaram conviver com as diferença de costumes, de
etnias. Para que os ensinamentos bíblicos fossem ouvidos pelo povo, os homens da Igreja
precisavam se aproximar dele. Precisava dizer aquilo que o povo entendia e aceitava ouvir.
Nesse sentido, quanto maior a aproximação, maior a conversão, a aceitação do cristianismo.
Esse aspecto de aproximação e de aceitação das diferenças foi um elemento fundamental no processo de construção do pensamento Escolástico/filosofia cristã. A Igreja deu aos homens uma possibilidade de convivência baseada nas diferenças e é isso que dá a ela o papel civilizatório; que permite a criação de uma filosofia explicativa das relações humanas. Se assim podemos nos expressar, foi esse caráter democrático da Igreja que a tornou a grande norteadora da sociedade (Oliveira, 2005, p. 19).
Podemos perceber, que a Igreja, com sua filosofia cristã, desempenhou importante
papel para a formação educacional.
5 O mosteiro não é apenas um local de preservação da cultura. Acima de tudo, nele preserva-se a vida a partir de uma nova perspectiva, a do cristianismo. Assim, não é só o local, o espaço que é novo. Também o que será ensinado e vivido é novo. Trata-se de uma nova filosofia, imbuída antes de tudo pelo princípio da conversão (OLIVEIRA, 2005, p. 18)
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O período entre os séculos V e VII foi marcado pelo que Le Goff chama de
“regressão” (1995, v. 1, p. 58), quando a Europa sofre com a ocupação dos bárbaros, que “sob
o ímpeto das invasões, destruíram vidas humanas, monumentos e equipamentos econômicos”
(1995, v. 1, p. 58), além das sucessivas epidemias, em particular, a peste bubônica.
Dentre um momento de caos, a Igreja, como última referência da organização social
herdada dos romanos, age no sentido de garantir alguma ordem em meio à desordem. A
respeito da ingerência do clero nas questões temporais, Le Goff escreve:
Entende-se aqui por minoria o grupo de intelectuais que compunham o quadro dirigente da Igreja, por conseguinte, os notáveis da Educação. Na desordem causada pelas invasões, os bispos e os monges – como São Severino – tinham passado a ser os chefes polivalentes de um mundo desorganizado: juntavam à sua função religiosa uma função política, negociando com os Bárbaros; uma função social, protegendo pobres contra poderosos; e até uma função militar, organizando a resistência ou lutando com as “armas espirituais”, onde já não houvesse armas materiais. Tinham feito, por força das coisas, a aprendizagem do clericalismo e da confusão dos poderes. Tentaram lutar contra a violência e morigerar os costumes com a disciplina penitencial e a aplicação da lei canônica (o início do século VI é, paralelamente à codificação civil, a época dos concílios e dos sínodos) (Le Goff, 1992, p. 60).
A Igreja assumirá a organização desta “nova” sociedade e, para isso, usará dos
instrumentos que conhecia e os quais apoiava.
Cambi (1999) quando se refere a igreja, ressalta a importante tarefa que lhe foi
atribuída, a de instruir os homens desde os segmentos de leitura e escrita às mínimas
condições necessárias ao convívio e à organização social.
A Igreja, porém, desenvolve uma ação educativa sobre toda a comunidade, substituindo cada vez mais o poder civil, primeiro ligando-se a ele, depois tomando o seu lugar e fazendo o papel de reguladora formativa e administrativa. É esse aspecto que leva também a Igreja de Roma a delinear sua própria supremacia sobre as outras igrejas, enquanto ligada ao centro do Império e ao local de coordenação de seus intercâmbios, de todo tipo. Tudo isso estimula também a Igreja a adotar para si uma cultura de governo, religioso e civil, acolhendo para si os modelos da administração e do direito romano, sobre os quais vai organizando sua própria função (CAMBI, 1999, p. 126).
É nesse aspecto que a Igreja encontra-se a frente para ser reguladora e fazer o papel da
formação e organizar as questões social e política na sociedade.
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Jerônimo tinha esta proposta, por meio da igreja iria com suas cartas orientar as
mulheres para educar seus filhos sobre os preceitos cristãos. As mulheres tinham esse papel
principal, formá-los segundo seu exemplo.
Desenvolvimento
Quando Jerônimo escrevia para as mulheres, instruía-as para serem exemplo de seus
filhos, ou seja, Jerônimo percebia que a criança não aprenderia somente aquilo que era
intencionalmente ensinado a ela, mas, também aquilo que visse os adultos fazerem.
Dessa maneira, numa das cartas (Epistola 107,9) ‘Carta a Leta’: Do casamento de
Toxótio e Leta nasceu a jovem Paula Leta, então viúva, recebeu de Jerônimo uma carta com
instruções sobre a maneira de educar cristãmente a filha. Jerônimo orienta, por ter sido
consagrada a Cristo, deveria receber uma educação adequada para que sua alma se tornasse
templo do Senhor. Jerônimo, dirigindo-se à mãe e depois ao pai, adverte, que sejam a
semelhança, por isso o exemplo. “[...] Que ela encontre em ti a sua mestra e que sua
adolescência se oriente para ti maravilhada. Que nunca veja em ti nem em seu pai atitudes que
a levem ao pecado. Recordai que podeis educá-la mais com o exemplo que com a palavra
[...]” (Epístola 107, 9).
A proposta envolve desde a alfabetização e instrução, até a formação de hábitos e a
educação espiritual. O modo de vestir, diz ele, [...] “deve recordar-lhe para quem está
prometida. Por isso, nada de furar as orelhas para os brincos, nada de alvaiade e carmim no
rosto. Ela também não deve usar pedras preciosas ou ouro no pescoço nem joias na cabeça,
nem pintura nos cabelos. “[...] Que ela encontre em ti a sua mestra e que sua adolescência se
oriente para ti maravilhada. Que nunca veja em ti nem em seu pai atitudes que a levem ao
pecado. Recordai que podeis educá-la mais com o exemplo que com a palavra [...]” (Epístola
107, 9).
Para Jerônimo a mulher desempenhou um importante papel como educadora,
divulgadora de costumes, crenças, valores e normas de comportamento. Tanto as damas
quanto as religiosas, ao mesmo tempo que sofriam as influências das mesmas questões que
permeavam a vida dos homens e principalmente de seus filhos naqueles séculos, por seu
modo de ser, também influenciavam o comportamento dos mesmos.
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Em outra passagem na (Epistola 128) A Pacátula sobre la educación de uma niña)
orienta para educação de sua filha, que sua companhia seja do mesmo sexo. ‘Que la ame
como su madre, la obedezca como a senhora y la respete como a maestra’.
Atento a tudo isso na educação da filha, percebemos a responsabilidade de todo
encargo da educação, entre as principais instruções de Jerônimo a primeira infância, a peculiar
responsabilidade atribuída aos pais, à urgência responsabilidade de uma formação moral
religiosa, a exigência do estudo para conseguir uma formação humana mais completa. Na
(Ep.78), o autor escreve: “que o livro não caia nunca de tuas mãos, aprende nele o que tens
de ensinar”
A orientação do exemplo, a valorização do mandamento do amor ao próximo, no
entanto, correspondia à necessidade de reorganizar a convivência entre os homens, ou seja, de
estabelecer relações sociais pautadas na filosofia cristã.
Segundo Nunes (1978), São Jerônimo sabia por experiência que as mulheres são tão
capazes quanto os homens para os estudos, e indicava para elas uma serie de leituras. Nesse
caso retomemos a (Ep.) de Paula:
Paula deve brincar com as letras, de modo que o jogo se lhe torne instrução. [...]. Paulinha também devem ter companheiras de estudo que lhe sirvam de emulação. Se ela tiver dificuldade para aprender, mais vale animá-la com louvores do que censurá-la. É preciso muito cuidado para que não se aborreça com os estudos, a fim de que essa repugnância não estenda a sua sombra comprida através dos anos. Por outro lado, é preciso cuidar da boa escolha dos nomes que servirão para a junção das sílabas. Eles deverão ser escolhidos com esmero e tirados dos profetas, apóstolos, e dos patriarcas, desde Abraão, conforme as listas apresentadas por Mateus e Lucas. Assim, ela já vai preparando-se para o que irá aprender mais tarde (NUNES, 1978, p. 180-181).
Aprender a escrever deveria fazer parte de uma educação que se realizasse de maneira
agradável, por meio de estímulos, a fim de que Paula tivesse prazer no aprendizado.
Podemos dizer que, Jerônimo representa os Santos Padres e suas considerações sobre
educação à perspectiva da Antiguidade, propôs uma formação que delinearia a educação do
período de transição e mais especialmente a educação medieval. Do ponto de vista Jeroniano:
“O casal deve se preocupar, em primeiro lugar, com a salvação eterna dos filhos… perdida a
alma, tudo está perdido: “Salvação dos filhos, lucro dos pais”( Ep. 30).
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A partir desta passagem de Jêronimo, é interessante citarmos a carta de São Paulo, na
qual, se assemelha ao que o mestre Jeroniano escreve. “Feliz da criança que nasce e cresce
num lar luzidio, resplandecente e polido… que ouve e vê somente o que edifica: “Que as
crianças não ouçam nem vejam em volta delas, nada que não seja verdadeiro, nada que não
seja puro, nada que não seja justo, nada que não seja santo, nada que não seja amável, nada
que não seja honroso, nada que não seja virtuoso, nada que não seja louvável” (São Paulo,
Epístola aos Filipenses 4, 8;)
Assim como São Paulo, propôs o comportamento exemplar perante as crianças,
Jerônimo acrescenta na (Ep. 30 ) “O bom exemplo é a melhor escola para formar filhos
exemplares”. Soltar as “rédeas” dos filhos deixando-os “galoparem” pela estrada do vício
não é prova de amor; mas sim, de fraqueza, covardia e irresponsabilidade. Quem ama
corrige! “Não vos lisonjeies pelo fato de amar vossos filhos, se acaso não sabeis repreendê-
los nem corrigi-los”.
A preservação que Jerônimo escreve sobre a formação para as mulheres com o
propósito do exemplo, fator este, primeiro para a educação dos filhos, permite refletirmos ao
longo da história, que outros autores, em um outro momento, também, se preocuparam com a
formação recorrente ao exemplo.
É pertinente ficar claro, que, além dos autores que citamos advindo do tema, outros
autores de obras clássicas que estudamos contribuíram extremamente para nossa formação,
foram importantes pois, não há como pensar em educação se não nos voltarmos entorno de
sua infância, ensinando- lhes, as noções de justiça, de compromisso e de respeito, porque é o
melhor caminho para proporcionarmos abertura para a sabedoria, ou seja, para a apropriação
do conhecimento.
Por esse motivo, destacamos, Sêneca (04 a.C. - 65) foi um importante filósofo,
escritor, mestre da arte da retórica. Na obra Sobre a Tranquilidade da Alma, a proposta de
Sêneca não se relacionava ao fenômeno escolar e tinha como pretensão a formação moral do
homem. Argumentava suas ideias com o uso da razão e demonstrava-se preocupado em
formar o homem sábio, agente social o homem com sabedoria de vida. Era este o ideal de
homem romano que Sêneca idealizava para Roma nos primeiros séculos da era cristã.
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O filósofo sempre evidenciou sua vocação pedagógica. Ensinou por intermédio de
suas obras e de seu exemplo, caracterizando uma proposta potencialmente capaz de
transformar o homem e a sociedade do seu tempo.
A grande importância sobre este aspecto, faz destacar a figura do bispo de Hipona
santo Agostinho (354–430). O objetivo de Agostinho em sua obra De Magistro era de
cristianizar e convencer o ouvinte, de forma que influencie e norteie a vida das pessoas de
acordo com a moral cristã. Agostinho não tinha pretensão de realizar nada original, mas
transmitir os ensinamentos tão necessários aos homens do período.
Entretanto assim como os autores mencionados, lembremos de Aristóteles (384 – 322
a.C.) que chamou atenção, na obra Ética a Nicômaco quando comenta a respeito, dos homens
que deveriam ser formados para agir conforme a virtude, pois bem, encontramos semelhança
na educação recebida pelos monges, que de acordo com os princípios cristãos desenvolvia a
ação virtuosa por meio de muito esforço e disciplina.
Pudemos notar que, os autores e obras clássicas que realizamos leituras durante a
disciplina, foram significativos para nossa formação. Desse modo, entendemos quantos
mestres se preocuparam com o caráter civilizador, pautado nos princípios cristãos e para
possibilitar a consolidação da nova organização social que principiava.
Conclusões
A reflexão pautada no objetivo proposto foi realizada com base nos estudos e
conhecimentos que adquirimos ao longo da disciplina de Fundamentos Históricos e
Filosóficos da Educação I. Desse modo, todos ensinamentos que nos foi apresentado,
consequentes das leituras realizadas durante a disciplina possibilitaram o entendimento de que
o passado é indispensável no processo de compreensão das realidades educacionais assim
como de toda a realidade presente na qual estamos imersos.
Estudar como os homens de outros tempos se preocupavam com a educação e
formação do sujeito, nos permite uma compreensão mais ampla de um contexto histórico
atual.
É importante ressaltar, que Jerônimo não, faz juízo apenas a conteúdos religiosos, mas,
apresenta uma proposta educativa para a vida em sociedade. Os ensinamentos para as
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mulheres, permitia a construção de importantes valores a serem seguidos para a preservação
de uma perspectiva social que se formava a partir da educação cristã.
Todo o contexto na qual percorremos sobre os mestres medievais, a leitura das obras
clássicas, possibilitou-nos o enriquecimento de nossa capacidade de pensar e refletir.
Entendemos por clássicos, de acordo com Oliveira e Mendes (2010), aqueles que souberam
captar as questões da sua época e as responderam com profundidade. Vemos que, Jerônimo é
um clássico, pois contribui para reflexões pertinentes à formação docente na medida em que
suas reflexões possibilitam responder questões atuais da educação, como a formação de
atitudes e valores.
Refletir sobre a idade Média, nos impulsiona pensar, que os autores buscaram
organizar a sociedade e formar os sujeitos de alguma forma. No entanto, fundamentalmente
defenderam as virtudes, os valores sociais e morais.
Frente aos conhecimentos que cada mestre nos deixou séculos antes que o XXI, é
importante pensarmos, quais os valores que se mantêm em nossa sociedade? O que são
virtudes para cada um de nós? Certamente acima de qualquer passado, modernidade ou
contemporaneidade, os autores com ressalvas deixavam claro, as propostas na ordem do dia, a
formação do homem, e mais, o adulto no seu real papel de exemplo, de formador. E se
pensarmos hoje? Qual compromisso que eu tenho em ser “adulto”? Portanto, Jerônimo no
século V tendo como proposta de orientar as mulheres para que fossem exemplo de formação,
não ficou apenas no século V, mas, faz parte do nosso atual cenário, escolar, social e político.
Todavia, a história se consolida fonte primordial para nosso entendimento.
Lembremos sempre das palavras de Bloch (1965, p. 42), a história é nosso alicerce para e do
conhecimento. “Já não pensamos hoje, realmente, como o escrevia Maquiavel, como o
pensava Hume ou Bonald, que há no tempo “uma coisa, pelo menos, que é imutável: o
homem”.
Referências:
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 4. ed. São Paulo: Martin Claret, 2001. 241p.
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