as construÇÕes de gÊneros e os jogos infantis · cultura atual dentro da educação formal...
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AS CONSTRUÇÕES DE GÊNEROS E OS JOGOS INFANTIS
Carla Ramalho – Lapeade – PPGE – UFRJ José Jairo Vieira – Lapeade – PPGE - UFRJ
Eixo Temático: Culturas de inclusão/exclusão em educação Categoria: Pôster
e-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO:
O presente projeto busca construir um olhar crítico sobre questões consideradas pré-
determinadas e determinantes, para desvendar e compreender como os gêneros e a
sexualidade são produzidos e reproduzidos nos jogos infantis fortalecendo o
androcentrismo. Para conseguir obter este resultado, o trabalho há de se comprometer com
pesquisas que visam compreender os processos de produção e naturalização das diferenças
de gênero, através dos jogos infantis em ambiente escolar. Podendo embasar políticas
públicas que tenham o intuito de minimizar estigmas, o que seria importante dentro de uma
sociedade onde pessoas ainda sofrem (moral e fisicamente) por não seguirem as normas
sociais desejadas.
2. Referencial teórico
Entender qual a importância da cultura na formação do gênero e da sexualidade, e como
essas construções podem vir a se espelhar em políticas públicas é de grande valia neste
trabalho investigativo.
O gênero, segundo Scott (1995), “é uma categoria social imposta sobre um corpo
sexuado.” (p.75), estabelecendo relações sociais e sendo responsável por construções
culturais. O gênero cria as identidades, aceitáveis na sociedade, para homens e mulheres,
sendo uma forma de organização social estipulada pelo sexo biológico. Então, o gênero
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aponta relações de poderes, concebe significados e “[...] não apenas faz referência ao
significado homem/mulher; ele também o estabelece” (Gagnon, 1995, p.92)
A sexualidade é “a forma cultural pela qual vivemos nossos desejos e prazeres corporais”
(Weeks, 1993, p.96), por isso é habitualmente resumida pela prática sexual, o que traz
consigo uma marca social acentuada, se torna um forte classificador social, dimensionando
e valorizando o que é adequado ou não na expressão da sexualidade, o que é variável
atentando o contexto e o período.
O gênero e a sexualidade se entrelaçam no momento das expectativas sociais, como por
exemplo: uma pessoa do sexo feminino deve ter trejeitos suaves e delicados e se relacionar
sexualmente com uma pessoa do sexo masculino. Essas representações são reforçadas em
vários ambientes e de várias formas, um olhar panóptico (Foucault, 2007) serve como
árbitro desse jogo social. O corpo, o gênero e a sexualidade são observados, classificados e
após, essas características, indicam uma posição destes indivíduos dentro do padrão de
uma determinada sociedade. Assim, temos em questão um dos mais influentes campos de
poder, a sexualidade e o gênero.
Pela relação existente entre controle social, poder, sexualidade e gênero, a forma de
compreensão destas, é alvo de disputa entre diversos atores. A racionalidade médica e
biológica produziu e produz grande parte da “explicação” sobre a sexualidade e o gênero.
Destaca-se a pesquisa realizada pelo biólogo Alfred Kinsey (1948), o referido autor
procurou apontar as diversas possibilidades da sexualidade que poderiam caber ao longo da
vida. Essas reflexões inspiram novas questões dentro da dinâmica dos jogos: - se há várias
formas de expressão da sexualidade (como mostra Kinsey), qual o espaço para elas nos
jogos infantis? Como são classificadas na escala de valores sociais? São incorporadas e/ou
adaptadas?
A relação lúdica que os jogos proporcionam auxilia a incorporar nos indivíduos
determinadas formas de convívios sociais. Os roteiros de gênero e sexualidade são
vislumbrados, as relações de poder são estabelecidas e continuamente são cobradas as
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performances adequadas para cada personagem, ajudando a modelar identidades
masculinas ou femininas e heterossexuais.
A ideia de roteiros sexuais foi formulada originalmente por Gagnon e Simon (1973), e
após refinada por Gagnon (2006), servindo de explicação para alguns processos de
construções sociais das identidades sexuais e de gênero. Os roteiros evidenciam o
aprendizado constante das práticas e significados sexuais exercidas na sociedade,
apontando para a forma distinta que é trabalhada com cada gênero, são esquemas
cognitivos organizados que sinalizam desempenhos relacionados à sexualidade e ao
gênero. O que pode ser analisado durante as atividades recreativas das crianças, como:
quais brincadeiras são escolhidas por cada gênero e as maneiras de expressão do corpo no
jogo.
Buscando relacionar as teorias já citadas com o ambiente escolar formal, temos os textos
de Guacira Louro. A autora busca questionar as expressões de gêneros e sexualidade
impostas, mesmo de forma subjetiva, pelas escolas. “É indispensável que reconheçamos
que a escola não apenas reproduz ou reflete as concepções de gênero e sexualidade que
circulam a sociedade, mas que ela própria a produz.” (Louro, 2011, p.84)
Uma forma efetiva de trazer para a discussão social sobre o gênero e a sexualidade é
através das políticas públicas, que é definida “[...] como um curso de ação do Estado,
orientado por objetivos, refletindo ou traduzindo um jogo de interesses.” (Farah, 2004,
p.47). Este interesse do Estado dentro da escola é direcionado como políticas públicas
educacionais e podem transparecer as desigualdades da sociedade como também fomentar
sua redução, auxiliando assim uma cultura a favor da equidade, mas, no entanto ainda falta
muito a trilhar para chegar a tal ponto.
Como ferramenta importante de análise do gênero e da sexualidade no contexto da escola,
o jogo na interpretação de Huizinga (2010), sendo encarado como influente instrumento
socializante, pois é uma expressão cultural, e por si só já é significativo. “Todo jogo
significa alguma coisa.” (Huizinga, 2010, p.5). Como o objetivo é interpretar as atividades
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culturais, nada é mais adequado do que utilizar uma atividade lúdica, que deixe extravasar
concepções enraizadas em seus praticantes para análise da observadora. O jogo, dessa
forma, é um bom laboratório de observação para as ações que se quer questionar.
3. Objetivos
Objetivo Geral
Analisar como as construções de gêneros estão presentes nas instituições educacionais
através dos jogos infantis realizados no tempo livre da educação formal.
Objetivos específicos
* Observar a dinâmica de gênero nos jogos, como quais são os jogos mais
requisitados, de livre escolha, por crianças entre 6 e 7 anos, na cidade do Rio de Janeiro, na
hora do recreio nas escolas selecionadas.
* Examinar as personagens montadas, baseadas nos gêneros, durante as atividades
lúdicas, comparando as personagens e escolhas lúdicas entre os meninos e as meninas.
4. Metodologia
Esta pesquisa será embasada pela etnografia pois, buscará analisar alguns significados da
cultura atual dentro da educação formal (Spradley, 1979), as questões norteadoras serão
como as distinções de gênero e sexualidade ocorrem e são reforçadas no convívio social
infantil. Será realizada a técnica da observação participante pela compreensão de que o
pesquisador e os pesquisados sempre são expostos a uma influência recíproca (André,
1995).
Serão observadas e analisadas crianças entre 6 e 7 anos de ambos os sexos que estejam
devidamente matriculadas na educação formal a ser pesquisada.
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Os locais de observação serão três escolas que tenham perfis socioeconômicos diferentes.
Uma será voltada para discente de baixa renda, a outra escola terá a característica de
possuir um público bastante heterogêneo (em relação à renda familiar) e por fim uma
escola privada que tenha como público alvo crianças com um alto nível financeiro. Tendo
o intuito de entrelaçar como as questões de gênero e sexualidade podem ou não ser
interferidas pela classe social das crianças.
Cada escola receberá visita da observadora durante duas vezes por semana no período de
dois meses. A observação ocorrerá na hora do recreio das instituições e pretende-se realizá-
la da seguinte forma: no início do recreio a observadora já se encontrará localizado em um
ponto de observação que facilite a visualização geral da área e dos(as) educandos(as) em
tempo livre, o intuito desta prática é analisar os jogos que serão escolhidos e a forma de
aplicação das atividades, se atentando para atividades que a observadora relacione com as
questões de gênero e sexualidade. Se ocorrer alguma dúvida pertinente a observadora, de
forma participativa, poderá interagir com as crianças em questão. Tudo que for julgado
importante será redigido no diário de campo.
Após, os dados encontrados serão interpretados à luz do referencial teórico discutido no
capítulo da fundamentação teórica e também a partir de outros autores que se fizerem
necessários considerando a imprevisibilidade das observações no trabalho de campo. E,
também serão analisados os conteúdos apreendidos nas observações, identificando os
termos, as expressões captadas pela pesquisadora.
5. Considerações
Serão feitas as considerações e sugestões finais do trabalho na busca de trazer e reforçar
possibilidades sociais em direção à equidade dentro das instituições escolares, trazendo
como alternativa a aplicação de algumas políticas públicas.
Para além disto, tem-se como expectativa demonstrar como a educação diferenciada
vivenciada por meninos e meninas e como estas formas diferenciadas de socialização vão
transformar e diferenciar estas práticas lúdica durante o “recreio”.
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Outro aspecto a ser apontado é a possibilidade de uma ressignificação dos valores de
gênero, no momento em que as crianças passam a brincar juntas (meninos e meninas), e
mesmo com esta aparente atividade conjunta, teríamos os papéis e representações de
meninos e meninas caminhando para a diferença, desigualdade, classificação e submissão,
persistindo assim através de uma nova roupagem a subordinação feminina.
7. Referências bibliográficas.
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