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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
AS CONTRIBUIÇÕES DE BOFF NO ENSINO DE CIÊNCIAS:
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NOS ANOS INICIAIS
Tamara Santos de SANTANA- UESB1
Júlio César Castilho RAZERA- UESB2
RESUMO
Este artigo apresenta um estudo teórico prévio que integra uma pesquisa de
mestrado sobre a Educação Socioambiental na perspectiva de Boff, voltada
para o Ensino de Ciências nos Anos Iniciais. Neste ensaio teórico, temos como
objetivo buscar fundamentos que orientem e demonstrem a possibilidade de
trabalhar a perspectiva de Boff no Ensino de Ciências com crianças. A literatura
vem apontando uma educação científica com práticas e conteúdos
fragmentados. Com a urgência de se promover uma Educação Socioambiental
pautada na mudança de olhar sobre o meio ambiente, torna-se imprescindível
uma formação ativa e integrada do indivíduo, com embasamentos que
potencializam a tomada de decisões, e que pode ser iniciada já com crianças.
Neste ensaio delineamos e defendemos possibilidades de uma formação, já
nos anos iniciais do ensino fundamental, embasada nas dimensões politica,
econômica, social, ética, mental, ambiental e integradora de Boff.
1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Formação de Professores na
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Campus Jequié. Bolsista PPG/UESB.
2 Orientador-Professor no Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Formação de
Professores na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Campus Jequié.
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Palavras-chaves: Dimensões de Boff; Ensino de Ciências; Anos Iniciais;
Educação Socioambiental.
INTRODUÇÃO
Observando alguns noticiários apresentados pela mídia têm reportado
as contradições e conflitos sobre a questão socioambiental que por sua vez
está direcionada ao futuro do nosso planeta e dos seres vivo existente nela,
tendo em vista uma suposição de promover um consenso preconizando um
desenvolvimento sustentável. Por inúmeras vezes, diante de discursos políticos
e até de filmes americanos a seguinte frase “a criança é o futuro da nossa
humanidade” pode-se questionar como esta sendo a formação dessas crianças
com o Ensino de Ciências, num sistema de ensino denominado Ciclo criado em
prol da cultura de não reprovação, sendo que serão os adultos de amanhã.
Perante a recente trajetória acadêmica da autora principal deste trabalho,
percebeu-se em suas leituras e atividades uma necessidade de desenvolver
como às pesquisas de Iniciação Científica, do Programa de Iniciação á
docência (PIBID), o Programa Todos pela Alfabetização (TOPA) a importância
da formação do indivíduo não restrita a alfabetização (ler e escrever), mas no
saber e fazer pertença da sociedade, ou seja, do meio ambiente o qual está
inserido.
O Ensino de Ciências mesmo não tendo as dificuldades apresentadas
em outras disciplinas tem se configurado numa cultura do fracasso escolar.
Acreditamos que isso decorre de vários aspectos. Dentre eles, podemos citar
os materiais didáticos fragmentados, com conceitos científicos distorcidos,
dando uma impressão de fácil compreensão. E ao mesmo tempo de práticas e
referenciais não articulados que impossibilita uma mudança no olhar sobre o
meio social e ambiental por serem transmitidas de forma simples e sem
conhecimentos aperfeiçoados. No dia 10 de Abril de 2013, o portal do MEC
divulgou que a Prova Brasil que é aplicada nas unidades públicas de ensino
passará a avaliar o desempenho em ciências, considerando português,
matemática e ciências como os eixos importantes no processo da busca da
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qualidade, no entanto o IDEB (Índice de Desenvolvimento das Escolas
Básicas) continuará a avaliar apenas português e matemática.
Torna-se necessário incorporar aspectos que dêem conta de uma
educação denominada socioambiental que consiste no indivíduo ou o grupo a
responsabilidade da gestão social e do meio ambiente contribuindo num
desenvolvimento responsável para qualidade de vida de todos os seres
existentes. E neste momento a educação deve admitir, segundo Layrargues
(2006), a função "moral da socialização humana" e "ideológica de reprodução
das condições sociais".
Nos Anos Iniciais, a autora principal deste trabalho percebeu durante
suas experiências no período de estágio, que a prática pedagógica deixa de
lado a possibilidade da criança já começar a adquirir um conhecimento que
colabore para a compreensão mais integral do mundo e de suas constantes
transformações, porque privilegia apenas o desenvolvimento da leitura e da
escrita.
Para uma compreensão mais integral desse mundo poderíamos, por
exemplo, utilizar estratégias que contemplassem os conflitos socioambientais,
que segundo Nicolai-Hernández e Carvalho (2006) não são consideradas na
escola. Para fazer frente aos conflitos socioambientais é fundamental que os
exercícios, a compreensão e a construção de significado estejam relacionados
à temática, para a busca de soluções. E a educação por sua vez, é constitutiva
desse processo, sendo que além do saber ler, escrever e calcular o indivíduo
tem que compreender o mundo em que vive em suas constantes
transformações.
Com preocupações sobre esse panorama lacunar na formação restritiva
da educação ambiental que ainda persiste em nossas escolas e, ao mesmo
tempo, com o entendimento de que há possibilidades de uma formação voltada
a aspectos socioambientais já para crianças, a autora principal deste trabalho
está a desenvolver uma pesquisa de intervenção para avaliar os limites e
possibilidades dessa proposta em situação real, com crianças de faixa etária de
7-9 anos, utilizando-se estratégias didáticas que envolvam os Conflitos
Socioambientais de acordo com Milaré; Little apud SARTORI (2011, p.92)
esses conflitos gira em torno da consequência da apropriação dos recursos
3
limitados para atender as necessidades ilimitadas que estabelece no meio da
sociedade, que para entender a sua dinâmica basta identificar o foco central do
conflito. Neste ensaio, apresentamos argumentos teóricos que nos permitem
entender e dar o norte didático-pedagógico sobre essas possibilidades de
trabalhar as dimensões da perspectiva de Boff no Ensino de Ciências em Anos
Iniciais. Ressaltando-se que toda essa construção teórica que aqui fazemos
em prol dessas possibilidades será investigada empiricamente com a
intervenção realizada numa unidade pública de ensino e que tenha o perfil dos
alunos que queremos trabalhar.
CONTEXTUALIZANDO: TRANSFORMAÇÕES POR DIREITOS
A princípio é relevante ressaltar um pouco da história para se situar o
contexto do presente ensaio. O século XX é marcado por transformações
sociais, politicas e econômicas, especificadamente no Brasil, que através das
constantes transformações e lutas reivindicando um novo direito a nova
cidadania que se erguer, a partir de um caráter emergencial e motivada pela
carência. Bobbio (1992); Brandão (2000 apud VIEIRA, 2007) salienta que isso
deriva de lutas cuja necessidade de atender a constante transformação devido
a um progresso de limitações de domínio.
Vieira (2007) ressalta que as constantes reivindicações no aparecimento
desses novos direitos os quais compreendem:
Direito Civis que está relacionado à liberdade individual, considerando
como fundamental a ação dos indivíduos circunscritos ao direito à vida,
a liberdade, a propriedade e a igualdade perante a lei.
Direitos políticos relativos ao direito de votar e ser votado e o direito de
participação em organizações, de se organizar por afinidade de
interesses e opinião.
Direitos sociais, ligado ao bem social, tidos como modernos são os
direitos trabalhistas, greves, á um salário que assegure uma dada renda
real, a educação pública, laica e gratuita, a saúde, a habitação, a
previdência, a assistência.
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Esses novos direitos abrem caminhos para uma participação cidadão
que ainda é um desafio para a nossa sociedade que se diz democrática.
Koepsel (2003) aborda em sua dissertação que os indivíduos/ população tem
tido um maior acesso as informações, que por sua vez não consegue
interpretar ou não consegue se posicionar por falta de esclarecimentos,
consequentemente, por não conhecer ou não entender, e por conta disso
delega a sua oportunidade de decisão para outros que conhecem. Isso é
consequência de uma educação fragmentada de uma abordagem que não
estimula individuo no “querer saber mais”.
PERSPECTIVA DE BOFF: CONHECIMENTO DE FORMA INDISSOCIÁVEL
Boff (2009) traz em seu livro a opção-Terra: a solução para a terra não
cai do céu, através da compreensão de Ernst Haeckel (1834-1919), Jeans
Baggesen (1800), Jakob von Uexküll (1864-1944) sobre pensar á ecologia
numa vertente inter-retrorelacionamento dos seres vivos (bióticos) e não vivos
(abióticos) com o meio ambiente. E pensando nessa ecologia como um saber
das relações (p.101) acredito a relevância do ensino de ciências como um
saber de saberes entre si, holismo, ou seja, em sua totalidade.
Aspectos antes estudados separados, hoje são indissociáveis. Não
podemos olhar a sociedade de forma a não interagir com o meio ambiente, eles
estão intrínsecos e englobam aspectos inerentes ao desenvolvimento
sustentável. E aí vem uma questão a tona será que o cidadão em sua fase
escolar está sendo capacitados a lidar com essas dimensões. Boff (2009) na
vertente da urgência ecológica e os Parâmetros Curriculares Nacionais na
formação nos Anos Iniciais, afirmam propondo como meta “compreender a
ciência como um processo de produção de conhecimento e uma atividade
humana histórica associada a aspectos de ordem social, econômica, politica e
cultural” (MEC/SEF, 1998, p.33). O qual Boff (2009) traz correspondendo nas
dimensões:
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Ambiental: pretende superar a visão reducionista do meio ambiente.
Social: apresentar as formas diferentes de relacionar com a natureza.
Politico: a participação dos indivíduos.
Econômico: na vertente de um desenvolvimento sustentável.
Mental: como a sociedade projeta entre valores e visões sobre o mundo.
Integral: assemelha com o ambiente, porém, procura acostumar o ser
humano com uma visão holística (total) onde tudo esta articulado.
Ético: reconhecer o caráter de autonomia dos seres, potencializando o
respeito ao futuro, procurando assim, limitar, cooperar, cuidar e
responsabilidade.
Com as dimensões de Boff, mencionada acima, observa-se numa
atividade exploratória sobre Educação Socioambiental na disciplina Introdução
e Metodologia do Ensino de Ciências, as respostas de três graduandos sobre
alguns itens relacionados á abordagem. Por meio da análise do discurso que
Orlandi (2002) concebe a linguagem como mediação necessária entre o
homem e a realidade natural e social (p.15). Almeja-se entender através das
perguntas o conhecimento dos termos e a visão sobre o que entende por meio
ambiente, social, e a junção delas, socioambiental em suas respostas. Trago-
as para percebermos a importância de um ensino de ciências, o qual permita
que o indivíduo avance em seus conceitos com uma interconexão,
considerando a partir das perspectivas de Boff para preencher essa lacuna da
fragmentação dos conteúdos e conhecimentos restringidos.
1. O que é meio ambiente? (pergunta)
-É o local onde tem árvores e animais diversificados. (graduando A)
-É tudo aquilo natural, o que o homem ainda não modificou e o qual não
pode viver sem. (graduando B).
2. O que é social?(pergunta)
-É o convívio com outras pessoas na sociedade (graduando B)
-É um conjunto de ações realizadas por um conjunto de pessoas.
(graduando C)
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3. E o que significa a junção socioambiental?(pergunta)
-É a sociedade vivendo no ambiente. (graduando A)
-Uma ação que a sociedade faz para cuida dos aspectos ambientais
como o desmatamento, a extinção. (graduando B)
-É o estudo social com o meio ambiente. (graduando C)
Analisando as respostas desses graduandos, percebem-se mesmo com
o nível superior eles não se veem pertencentes ao meio, destacando as
respostas das perguntas 1 e 3, sua visão ainda é compreendida ao aspecto
naturalista, o ambiente restrito a animais e plantas, a sociedade como algo
distante do meio ambiente, ou como apenas o convívio em um grupo. Neste
caso, podemos então desmistificar a concepção de que o não conhecimento
restringe apenas pessoas não escolarizadas, pois aqui esta um pequeno
incipiente resultados dentro da própria universidade.
Ponte (2010) salienta que o currículo planejado e desenvolvido em sala
de aula vem pecando por uma grande parcialidade no momento de definir a
cultura legitima e os conteúdos que valem a apena. O Ensino de Ciências, por
exemplo, tem se configurado numa “cultura” como admite BIZZO (2009) do
fracasso escolar.
Muitas vezes, professor e aluno não entendem afirmações, mesmo algumas que aparecem impressas em seus livros didáticos, pela simples razão de que elas são uma síntese de várias explicações e conceitos e que não podem mesmo fazer sentido sozinhas, como afirmações isoladas. (p.12)
E segue ainda acrescentando:
Para tentar simplificá-las, os materiais didáticos acabam distorcendo os conceitos científicos, algumas dando a impressão de que podem ser facilmente compreensíveis, outras aumentando as dificuldades de professores e alunos. Por exemplo, durante décadas muitos livros didáticos afirmaram que o verão ocorreria quando a Terra se aproximava do Sol. Mas ao ligar a televisão e ver o noticiário, professor e alunos se deparam com as praias lotadas do nosso litoral e nevascas terríveis no hemisfério Norte. Onde estaria a Terra: perto ou longe do Sol?(p.13)
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Para Morin (2000) o conhecimento fragmentado das disciplinas impede
de operar o vínculo entre partes e a totalidade, o qual deve ser substituído por
um modo de conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto,
sua complexidade, seu conjunto. Gil-Pérez (2003) salienta que ainda sobre a
ruptura no ensino de ciências a qual tem sido praticada de forma simples e sem
conhecimentos aprimorados e que Sangari (2008) por sua vez, diz que não
possibilita uma mudança no olhar da criança sobre o meio ambiente, o qual
pode perceber nas respostas acima que restrição.
Atualmente os municípios estão lidando com um novo sistema de ensino
denominado Ciclo de Formação Humana. Segundo Mainardes (2010) o termo
“ciclos” designa uma forma de organização da escolaridade que pretende
superar o modelo da escola graduada, organizada em séries anuais e que
classifica os estudantes durante todo o processo de escolarização. Na
realidade o ciclo é uma realidade da politica de não reprovação.
O ciclo pretende segundo a Proposta Curricular Grapiúna (2010):
Conhecer e respeitar as fases de desenvolvimento, um tipo de ensino que procura privilegiar o que é mais significativo em cada período de formação considerando material escolar aqueles saberes e valores que fazem parte do dia-a-dia de cada um preocupando-se com a formação de sua identidade social, procurando reconhecer o aluno àquilo que lhe é particular e único no processo contínuo de avaliação em que só o sujeito é o parâmetro de si mesmo. (p. 03).
E diante do referido acima da Proposta Curricular Grapiúna acredito que
a perspectiva de Boff possa suprir essa necessidade de formar esse novo
cidadão, respeitando e privilegiando o seu cotidiano, possibilitando uma
Educação Socioambiental significativa, por meio de um ensino o qual concordo
com Veiga (s.a.) por ser uma “construção do saber e da prática comunicativa,
com a realidade multidimensional das relações sociais e de um mundo de
informação em emergência” (p. 17). E ao considerar o trabalho nos Anos
Iniciais, embasando em Vygotsky quanto ao processo de aprendizagem se
constitui através da interação que FONTANA e CRUZ (1997) em sua
abordagem entre linguagem e pensamento, refletem que as crianças nascem
num universos de signos e símbolos sociais e por conta disso:
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O desenvolvimento não depende apenas dos fatores intrínsecos à criança ou dos modos de ação sobre o objeto, depende sim das possibilidades que essa criança tem ou não, nas suas relações sociais, de se aproximar, de compartilhar e de elaborar os conteúdos e as formas de organização do conhecimento histórico e culturalmente desenvolvido e materializado nas palavras. (p.85).
Análise de uma atividade tradicional de ciências nos Anos
Iniciais
Veja a seguir um exemplo de atividade típica, onde podemos perceber
fragmentações do conteúdo, restringindo apenas utilização e funcionalidade.
Procedendo a análise de conteúdo baseado em Franco (2008) as mensagens
expressam as representações sociais na qualidade constituídas socialmente,
numa dinâmica estabelecida pelo sujeito cognitivo e o objeto do conhecimento
sendo constituídas por processos sociocognitivos, tem implicações na vida
cotidiana, influenciando não apenas a comunidade e a expressão das
mensagens (neste caso na atividade), mas também os comportamentos
(posterior às atividades).
Descrevendo:
Em dado momento é trabalhado em sala de aula a temática Água, e a
professora distribuiu para cada aluno, um ofício sobre o conteúdo.
Neste oficio destrincha a Água em frases constando de sua importância
para os seres vivos. A visibilidade da água como sem cor. Os sentidos, sem
cheiro e sem sabor.
A água é muito importante para todos os seres vivos.
A água não tem cheiro, nem gosto, nem sabor. Sem ela não há vida
9
Em um quadro exemplifica com imagens a utilização da água
restringindo apena para beber, tomar banho e cozinhar.
Figura 1
Para que serve a água:
Fonte: Google
Em seguida, com outro quadro exemplificando também com figuras
como devemos consumir a água.
Figura 2
Como devemos tomar a água:
FONTE: Google
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E por fim, prossegue com um informativo sobre os cuidados referidos ao
quadro acima, sobre a contaminação por alguns microrganismos e conceitua
como o modelo abaixo:
MICRORGANISMO: são seres vivos, só visíveis ao microscópio, que
podem causar doenças e prejudicar saúde.
E observando a atividade descrita acima, percebe-se a relevância do
fator biológico ligado á saúde, e o objeto em si – A ÁGUA, sempre é delineada
com a utilização e função vital para os seres vivos. E Quadro 1 abaixo, dos
Indicadores do Ciclo das Ciências da Natureza e Matemática, á temática –
ÁGUA tem como objetivo de apenas de:
“Compreender a importância da água (seu destino, uso adequado,
tratamento para promover a manutenção da saúde)”.
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QUADRO 1: INDICADORES DO CICLO
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1. Percepção de si mesmo como parte integrante de um ecossistema, onde interagem seres vivos e não vivos, colocando-se como defensor do mesmo, percebendo que sua conservação é fundamental para as espécies vivas.
- Seres vivos e sua relação com o homem e com o meio ambiente; - Seres vivos, suas características e necessidades vitais;
- Cuidados básicos de pequenos animais e vegetais: criação e cultivo; - Espécies de fauna e flora brasileiras e mundiais;
- População, comunidade, habitat, espécies, nicho e ecossistema. - Meio ambientes ecossistemas e conservação;
Compreender o corpo humano como um todo, integrando a saúde com bem estar físico, social e psíquico do indivíduo; Compreender a importância da água (seu destino, uso adequado, tratamento para promover a manutenção da saúde); - Estabelecer relações entre a falta de asseio corporal, a higiene ambiental e a ocorrência de doenças; - Caracterizar o corpo humano como receptor de toda uma estrutura de saúde, respeitando as diferenças das etapas da vida.
- Corpo humano; - Hábitos saudáveis e higiene;
- Reprodução humana; - Floresta Amazônica: seres vivos da Floresta Amazônica;
- Ecossistemas na: caatinga, cerrado, pantanal, campos sulinos.
1.1. Atua no cuidado com o meio ambiente, tendo consciência de que a conservação do mesmo é fundamental para as espécies vivas, compreendendo que os ambientes natural e cultural influenciam nossos hábitos de higiene, alimentação e habitação.
- Tipos de degradação ambiental causadas pelo homem e prejuízos ao planeta; Cuidados com o corpo e prevenção de acidentes;
Hábitos de higiene; Sentidos e evolução; diversidade dos seres vivos;
Biomas do Brasil; Desenvolvimento sustentável; Ecossistemas; Conservação; Meio ambiente: natural e cultural
Estrutura do Planeta Terra, corpos celestes... Ser humano e ambiente: ações responsáveis sobre o planeta.
- Saúde alimentar: pirâmide alimentar;
FONTE: Indicadores para o acompanhamento da aprendizagem de Ciclo.
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Contudo, a atividade aplicada não esta errônea em seu enfoque, pois,
condiz com os Indicados do Ciclo. Mas sua proposta não dá conta de uma
formação do indivíduo voltada para uma Educação Socioambiental.
Acreditamos que a temática em consonância com as dimensões dos
pressupostos de Boff, seja uma possibilidade formadora de um indivíduo
conhecedor das dimensões consolidada em dado elemento. Logo abaixo, o
Quadro 2 é um diagrama das dimensões atribuições ao elemento Água.
QUADRO 2 - Diagrama de abordagem
Fonte: Autora
O diagrama de abordagem, ao ver, possa representar algo complexo,
mas acreditamos na possibilidade de trabalhar essas dimensões da
perspectiva de Boff com as crianças. Na teoria de Vygotsky, o aprendizado dá
a partir do momento em que a criança começa a interagir com o meio, o qual
através dos meios de comunicação tem retratado fatores decorrentes aos
conflitos socioambientais de uma realidade muito próxima das crianças, como
as consequências das famílias em períodos de chuva com alagamento devido
ao acúmulo de lixo, a evolução da dengue em um período curto de tempo, os
“apagões” e o aumento nas contas de energias, são alguns exemplos.
Interagindo a Educação Socioambiental com os conflitos que estão no contexto
dessas crianças, acreditamos na possibilidade de um aprendizado significativo
que permeia a formação do individuo que tanto preconizamos. A atividade da
TEMA
AMBIENTAL
POLÍTICO
ECONÔMICO
SOCIAL INTEGRADOR
MENTAL
ÉTICO
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Agua é possível perceber a ausência das dimensões da perspectiva de Boff
que estão intrínsecas na abordagem que não foi feita, como o trajeto da Água
até chegar a nossas residências, é extraída do meio ambiente, são armazenas
em usinas hidrelétricas para gerar energia, é um recurso vital ao ser humano,
temos que ter consciência de como a consumismo e isso não restringi apenas
ao beber, tomar banho e cozinhar, as contas que recebemos mensalmente
com valores variáveis, o que ela representa para cada individuo. Nicolai-
Hernández e Carvalho (2006) acrescenta que a incorporação de temas
controversos em atividades de ensino tem sido considerada com um caminho
de grande significado, não pelos conhecimentos que promove acerca dos
conteúdos, mas, também pelas potencialidades educativas para o
desenvolvimento cognitivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo é um ensaio teórico que apesar de breve já traz
demonstrativos para o leitor sobre a necessidade formativa de um cidadão
mais ativo frentes os problemas e possíveis soluções aos conflitos
socioambientais que se estendem. Mas para que isso aconteça torna-se
preciso que ele tenha conhecimento das dimensões que trago no presente
artigo na perspectiva de Boff (ambiental, politico, social, econômico, ético,
mental, integrador) que estão intrínsecos nas abordagens dos conflitos
socioambientais no ensino de ciências.
Inserir os Conflitos Socioambientais nos Anos Iniciais é um desafio. Não
quero formar as crianças em pequenos adultos, pretendo é que em sua
formação ele tenha a capacidade de poder interagir socialmente. Acreditamos
que uma das falhas dessa passividade do indivíduo é consequência de
assuntos complexos serem trabalhados apenas nos anos finais, que são
transmitidos de forma distorcida e fragmentada. Não quero elevar o ensino de
ciências, mais dá a importância precisa dessa disciplina que também possibilita
desenvolver as atividades potencializando a leitura e escrita como também a
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formação de um cidadão consciente e integrado numa realidade
socioambiental.
Durante a verificação nos bancos de dissertações da CAPES, não
encontramos nenhum trabalho realizado nos Anos Iniciais que envolvesse a
Educação Socioambiental no Ensino de Ciências com os conflitos. As
pesquisas encontradas restringem a formação de professores, o processo de
ensino e aprendizagem com as dificuldades de leitura e escrita ou então os
benefícios de trabalhar com a ludicidade. E essa brecha foi determinante para
prosseguir com a temática na pesquisa, com o intuito de tentar preencher essa
lacuna. Com isso, estou propondo uma pesquisa titulada “Os conflitos
socioambientais: entre os limites e as possibilidades de uma abordagem
sociocientífica no Ensino de Ciências nos Anos Iniciais”, que estarão
embasadas na evocação de palavras das Representações Sociais e na
metodologia da aprendizagem por projeto que possibilitará avaliar a defesa que
delineie no processo prático das contribuições da perspectiva de Boff na
formação das crianças, pois considero a educação assim como ORDOÑEZ
(2005, p. 155) “a chave do progresso em todos os âmbitos”.
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