as desigualdades socioespaciais urbanas numa metrópole interiorana: uma análise da região...
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Esta tese apresenta uma análise da estruturação socioespacial urbana da Região Metropolitana de Campinas, no Estado de São Paulo, à luz do processo de exclusão/inclusão social. Parte-se do pressuposto de que o espaço urbano-metropolitano é configurado, em relação à sua organização interna e ao seu conteúdo social, em áreas sociais segregadas, as quais resultam de (e implicam em) graus diferenciados de inclusão ou exclusão social de sua população. Examina-se a evolução dos processos de urbanização e de expansão das áreas urbanizadas na região, e realiza-se uma caracterização dos espaços intraurbanos sob as perspectivas funcional e social. Elabora-se também, com base em variáveis censitárias intraurbanas, um sistema de indicadores sociais de exclusão/inclusão social, visando mensurar e representar espacialmente a dinâmica das desigualdades socioespaciais no espaço urbano-metropolitano entre 1991 e 2010, através de índices calculados em relação a quatro dimensões de análise do processo de exclusão/inclusão social: autonomia de renda, desenvolvimento humano, equidade e qualidade domiciliar. Os resultados da pesquisa caracterizam a estrutura socioespacial desigual urbana, a qual é marcada por grandes diferenciais de condições de vida (sobretudo na cidade de Campinas) e pela segregação das populações em arranjos espaciais setorizados, configurados em escalas regional e intraurbanas.TRANSCRIPT
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCINCIAS
EDERSON NASCIMENTO
AS DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS URBANAS NUMA METRPOLE INTERIORANA:
UMA ANLISE DA REGIO METROPOLITANA DE CAMPINAS (SP) A PARTIR DE INDICADORES
DE EXCLUSO/INCLUSO SOCIAL
CAMPINAS
2013
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCINCIAS
EDERSON NASCIMENTO
S DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS URBANAS NUMA METRPOLE INTERIORANA:
UMA ANLISE DA REGIO METROPOLITANA DE CAMPINAS (SP) A PARTIR DE INDICADORES
DE EXCLUSO/INCLUSO SOCIAL
Orientador: Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias
TESE DE DOUTORADO APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCINCIAS DA UNICAMP NO
PROGRAMA DE GEOGRAFIA, PARA OBTENO DO TTULO DE DOUTOR EM GEOGRAFIA NA
REA DE CONCENTRAO ANLISE AMBIENTAL E DINMICA TERRITORIAL
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE VERSO FINAL DA TESE DEFENDIDA
PELO ALUNO EDERSON NASCIMENTO E ORIENTADA PELO PROF. DR.
LINDON FONSECA MATIAS.
CAMPINAS
2013
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCINCIAS
PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA
ANLISE AMBIENTAL E DINMICA TERRITORIAL
AUTOR: Ederson Nascimento
As desigualdades socioespaciais urbanas numa metrpole interiorana:
uma anlise da Regio Metropolitana de Campinas (SP)
a partir de indicadores de excluso/incluso social
ORIENTADOR: Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias
Aprovada em: 08/08/2013
EXAMINADORES:
Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias _____________________________- Presidente
Profa. Dra. Claudete de Castro Silva Vitte _____________________________
Prof. Dr. Gustavo de O. Coelho de Souza _____________________________
Prof. Dr. Paulo Roberto Rodrigues Soares _____________________________
Profa. Dra. Rosana Aparecida Baeninger _____________________________
Campinas, 8 de agosto de 2013
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minha famlia:
incio, meio(s) e fim de tudo isso...
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AGRADECIMENTOS
sempre um risco listar pessoas e instituies para agradecimentos ao final de um
trabalho de tal magnitude como o uma tese. So longos o tempo decorrido e o percurso
trilhado, e numerosas as pessoas com quem convivemos e contamos, portanto, a possibilidade
de esquecer-
Aos meus pais, Jos e Janete, pelo amor e carinho a mim sempre dedicados, e por
valorizarem e me mostrarem, desde a mais tenra idade, a importncia da educao e do
conhecimento.
Luana, a Luh, irm de sangue e corao, minha grande amiga que, perto ou longe,
est comigo em todas as horas.
Ao Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias, pelo modo rigoroso, seguro e competente com
que orientou a realizao desta pesquisa, bem como pela ateno e pacincia nos
momentos mais difceis e, sobretudo, pelo grande aprendizado que me proporcionou
em quase onze anos de trabalho conjunto.
Aos professores Dr. Roberto Braga e Dra. Rosana Baeninger, pela participao na
banca do exame de qualificao, momento em que realizaram importantes
contribuies para o desenvolvimento desta pesquisa.
Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo FAPESP, pela
concesso de bolsa de pesquisa no perodo de dezembro de 2009 a janeiro de 2011,
recursos estes que muito contriburam para a realizao deste estudo;
Ao Ncleo de Estudos de Populao NEPO, da UNICAMP, pela cesso da malha
digital de setores censitrios urbanos da RMC de 1991;
EMPLASA, pela disponibilizao de dados georreferenciados sobre uso da terra
urbana na RMC, de fundamental importncia para a pesquisa;
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Universidade Federal da Fronteira Sul UFFS, na figura da Pr-reitoria de
Pesquisa e Ps-graduao (PROPEPG), pela contribuio por meio da institucionalizao
da presente pesquisa e consequente atribuio de carga horria semanal especfica para
a sua realizao.
Aos companheiros da UNICAMP, em especial Marcelo, Danbia, Tati Geller, Joseane
e Valderson, pelo intercmbio de ideias e conhecimentos, pelas contribuies
fornecidas e pelos bons momentos compartilhados no perodo em que residi em
Campinas.
Aos amigos da UFFS, especialmente Andrey, Marlon, Ricardo, Camila e Irene, pela
parceria na universidade e fora dela, em bons bares, cafeterias e demais lugares onde
continuamente tecemos juntos as nossas geografias.
Aos acadmicos do curso de graduao em Geografia da UFFS Eduardo, lida,
Flvia Carla e Mayling, alunos e amigos com quem dialogo, compartilho ideias e que
me ajudam, direta ou indiretamente, nas empreitadas da Geografia.
s secretrias de ps-graduao do Instituto de Geocincias da UNICAMP, Gorete e
Valdirene (Val) -graduandos do IG , pelo
modo prestativo e atencioso com que sempre me atenderam.
Aline, por compartilhar comigo a geografia da vida...
E ainda, a todos aqueles que, direta ou indiretamente, sabendo ou no, construram
comigo este trabalho, ou que simplesmente torceram por mim.
Muito obrigado!
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icar a realidade consiste em conhec-
(Eduardo Galeano)
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCINCIAS
AS DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS URBANAS NUMA METRPOLE INTERIORANA:
UMA ANLISE DA REGIO METROPOLITANA DE CAMPINAS (SP) A PARTIR DE INDICADORES
DE EXCLUSO/INCLUSO SOCIAL
RESUMO
Tese de Doutorado
Ederson Nascimento
Esta tese apresenta uma anlise da estruturao socioespacial urbana da Regio Metropolitana de
Campinas, no Estado de So Paulo, luz do processo de excluso/incluso social. Parte-se do
pressuposto de que o espao urbano-metropolitano configurado, em relao sua organizao interna
e ao seu contedo social, em reas sociais segregadas, as quais resultam de (e implicam em) graus
diferenciados de incluso ou excluso social de sua populao. Examina-se a evoluo dos processos
de urbanizao e de expanso das reas urbanizadas na regio, e realiza-se uma caracterizao dos
espaos intraurbanos sob as perspectivas funcional e social. Elabora-se tambm, com base em variveis
censitrias intraurbanas, um sistema de indicadores sociais de excluso/incluso social, visando
mensurar e representar espacialmente a dinmica das desigualdades socioespaciais no espao urbano-
metropolitano entre 1991 e 2010, atravs de ndices calculados em relao a quatro dimenses de
anlise do processo de excluso/incluso social: autonomia de renda, desenvolvimento humano,
equidade e qualidade domiciliar. Os resultados da pesquisa caracterizam a estrutura socioespacial
desigual urbana, a qual marcada por grandes diferenciais de condies de vida (sobretudo na cidade
de Campinas) e pela segregao das populaes em arranjos espaciais setorizados, configurados em
escalas regional e intraurbanas.
Palavras-chave: desigualdade socioespacial urbana, excluso/incluso social, indicadores sociais.
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UNIVERSITY OF CAMPINAS
INSTITUTE OF GEOSCIENCE
URBAN SOCIO-SPATIAL INEQUALITIES IN AN INLAND METROPOLIS:
AN ANALYSIS OF THE METROPOLITAN REGION OF CAMPINAS, STATE OF SO PAULO,
BRAZIL, BASED ON SOCIAL EXCLUSION/INCLUSION INDICATORS
ABSTRACT
PhD Thesis
Ederson Nascimento
This thesis presents an analysis of the socio-urban structuring of the Metropolitan Region of Campinas,
State of So Paulo, Brazil, based on the social inclusion/exclusion process. It starts from the
presupposition that the urban-metropolitan space is configured, in relation to its internal organization
and its social content, in segregated social areas, which result from (and imply) different degrees of
social inclusion or exclusion of its population. It analyzes the evolution of the processes of
urbanization and expansion of urban areas in the region, as well as a characterization of the intra-urban
spaces under the functional and social perspectives. It also elaborates, based on intra-urban census data,
a system of social indicators of social exclusion/inclusion, aiming to measure and represent through the
space the dynamics of socio-spatial inequalities in the urban-metropolitan space between 1991 and
2010, using indexes calculated in relation to four dimensions of analysis of the social
inclusion/exclusion process: income autonomy, human development, equity and home quality. The
research results characterize urban unequal socio-spatial structure, which is marked by big differences
of living conditions (especially in the city of Campinas) and segregation of populations in sectored
spatial arrangements sectors, configured in regional and intra-urban scales.
Keywords: urban socio-spatial inequality, social exclusion/inclusion, social indicators.
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SUMRIO
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................... xix
LISTA DE FOTOS ...................................................................................................................... xxi
LISTA DE MAPAS ................................................................................................................... xxiii
LISTA DE TABELAS ................................................................................................................. xxv
LISTA DE QUADROS .............................................................................................................. xxvii
SIGLAS E ABREVIATURAS ...................................................................................................... xxix
INTRODUO .............................................................................................................................. 1
CAPTULO 1 O PROCESSO DE EXCLUSO/INCLUSO SOCIAL: REFLEXES TERICO-
CONCEITUAIS ............................................................................................................................ 11
1.1 EXCLUSO SOCIAL: PRINCIPAIS CONDICIONANTES E PERSPECTIVAS DE ANLISE ................ 13
1.1.1 A excluso social e suas abordagens: contextualizao histrico-geogrfica ................. 14
1.1.2 O conceito de excluso social: perspectivas analticas .................................................... 18
1.2 EXCLUSO/INCLUSO SOCIAL: PARA UMA ABORDAGEM GEOGRFICA DAS DESIGUALDADES
SOCIOESPACIAIS ......................................................................................................................... 25
CAPTULO 2 O PROCESSO DE EXCLUSO/INCLUSO SOCIAL E A (RE)PRODUO DO ESPAO
URBANO .................................................................................................................................... 31
2.1 A (RE)PRODUO DESIGUAL DO ESPAO URBANO .............................................................. 32
2.2 SEGREGAO SOCIOESPACIAL: UMA DIMENSO FUNDAMENTAL DO PROCESSO DE
EXCLUSO/INCLUSO SOCIAL .................................................................................................... 36
2.3 PADRES DE DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS URBANAS ................................................... 41
CAPTULO 3 - OS PROCESSOS DE URBANIZAO E DE EXCLUSO/INCLUSO SOCIAL:
REFLEXES SOBRE OS CASOS BRASILEIRO E PAULISTA ......................................................... 51
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CAPTULO 4 - REGIO METROPOLITANA DE CAMPINAS: A PRODUO DAS DESIGUALDADES
SOCIOESPACIAIS URBANAS ...................................................................................................... 61
4.1 A URBANIZAO NA REGIO DE CAMPINAS: BASES HISTRICO-GEOGRFICAS ................... 61
4.2 EXPANSO URBANA E ESTRUTURA SOCIOESPACIAL DA RMC: A PRODUO DESIGUAL DO
ESPAO URBANO-METROPOLITANO ........................................................................................... 75
4.2.1 A expanso horizontal e a dinmica de ocupao do espao urbano-metropolitano....... 76
4.2.2 A estrutura socioespacial urbana da RMC e a formao de reas de incluso e excluso
social ......................................................................................................................................... 90
CAPTULO 5 - INDICADORES SOCIAIS PARA MENSURAO DAS CONDIES DE VIDA:
REFLEXES A PARTIR DA REGIO METROPOLITANA DE CAMPINAS .................................. 131
CAPTULO 6 - MAPEANDO A DINMICA DE EXCLUSO/INCLUSO SOCIAL NA REGIO
METROPOLITANA DE CAMPINAS ........................................................................................... 145
6.1 O MAPA DE EXCLUSO/INCLUSO SOCIAL: INSTRUMENTOS E ETAPAS DE ELABORAO ... 146
6.2 CARTOGRAFIAS DAS DESIGUALDADES: A DINMICA ESPACIAL DA EXCLUSO/INCLUSO
SOCIAL NO ESPAO URBANO-METROPOLITANO DA RMC ........................................................ 161
6.2.1 A excluso-incluso social na escala metropolitana: principais indicadores ................ 161
6.2.2 A desigualdade socioespacial na autonomia de renda ................................................... 167
6.2.3 A desigualdade socioespacial no desenvolvimento humano ......................................... 191
6.2.4 A desigualdade socioespacial na equidade e na qualidade domiciliar .......................... 200
6.2.5 A desigualdade socioespacial na sobreposio de vantagens e carncias: o mapa de
excluso/incluso social ......................................................................................................... 208
CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................................ 229
REFERNCIAS ......................................................................................................................... 233
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Modelo socioespacial de Kohl (simplificado) .......................................................... 42
Figura 2: Modelo socioespacial de Burgess (simplificado)...................................................... 44
Figura 3: Modelo socioespacial de Hoyt (simplificado) .......................................................... 45
Figura 4: Distribuio percentual das famlias, segundo tipo de edificao da moradia Estado
de So Paulo e RMC (2006) ................................................................................................... 115
Figura 5: Regio Metropolitana de Campinas: ndices de desenvolvimento humano municipal
(1991/2000) ............................................................................................................................ 138
Figura 6: Componentes do IPVS, com respectivas variveis ................................................. 140
Figura 7: Grupos de vulnerabilidade do IPVS ....................................................................... 141
Figura 8: Frmulas utilizadas para o clculo dos ndices de excluso e incluso social ........ 156
Figura 9: Exemplos de converso de dados percentuais para a escala de representao da
excluso/incluso .................................................................................................................... 157
Figura 10: Exemplos de clculo dos ndices compostos de excluso/incluso social ............ 157
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LISTA DE FOTOS
Foto 1 Grande, sudoeste de Campinas .................... 113
Foto 2: Condomnio horizontal voltado a segmentos de alta renda, situado no bairro Alto
Taquaral (poro norte do centro metropolitano), em Campinas .......................................... .118
Foto 3: Condomnio horizontal voltado a segmentos de baixa renda, localizado na vila Padre
Anchieta, poro oeste de Campinas ...................................................................................... 119
Foto 4 vel
socioeconmico superior ........................................................................................................ 124
Foto 5: rea favelada localizada margem sul da rodovia Dom Pedro I (SP-065)............... 127
Foto 6: Favela instalada na faixa de domnio da estrada de ferro, localizada em Hortolndia,
prximo divisa com Campinas ............................................................................................ 128
Foto 7: Vista de parte do centro principal de Pedreira e de um bairro residencial
adjacente ................................................................................................................................. 182
Foto 8: Vista de uma das principais vias de concentrao comercial de Engenheiro
Coelho ..................................................................................................................................... 183
Foto 9: Loteamento fechado em Paulnia (vista parcial da rea interna) ............................... 184
Foto 10: Loteamentos fechados implantados em reas de chcaras na cidade de Vinhedo ... 216
Foto 11: Loteamentos fechados recm-implantados em processo de ocupao, no distrito de
Sousas, Campinas ................................................................................................................... 217
Foto 12: Localidade com mdia-baixa excluso social (2010) situada em Sumar
(distrito de Nova Veneza) ....................................................................................................... 225
Foto 13: Localidade com mdia-baixa excluso social (2010), localizada na cidade de Monte
Mor ......................................................................................................................................... 225
Foto 14: Vista geral de favela localizada em Paulnia............................................................ 226
Foto 15: Vista geral da favela Parque Oziel (Campinas) ....................................................... 227
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LISTA DE MAPAS
Mapa 1 Localizao da RMC no Estado de So Paulo ........................................................... 5
Mapa 2 Carta-imagem da Regio Metropolitana de Campinas ............................................. 73
Mapa 3 Regio Metropolitana de Campinas: evoluo das reas urbanizadas (1965-2010) 81
Mapa 4 Regio Metropolitana de Campinas: reas urbanizadas e permetros urbanos
municipais ................................................................................................................................. 87
Mapa 5 Regio Metropolitana de Campinas: densidade demogrfica urbana em 1991 ....... 97
Mapa 6 Regio Metropolitana de Campinas: densidade demogrfica urbana em 2000 ....... 99
Mapa 7 Regio Metropolitana de Campinas: densidade demogrfica urbana em 2010 ..... 101
Mapa 8 Regio Metropolitana de Campinas: localizao industrial ................................... 105
Mapa 9 Regio Metropolitana de Campinas: reas de atividades comerciais e de prestao de
servios no espao urbano-metropolitano .............................................................................. 109
Mapa 10 Regio Metropolitana de Campinas: localizao das reas residenciais no espao
urbano-metropolitano ............................................................................................................. 111
Mapa 11 Regio Metropolitana de Campinas: localizao de condomnios e loteamentos
residenciais fechados .............................................................................................................. 121
Mapa 12 Ocupaes residenciais irregulares no espao urbano-metropolitano .................. 125
Mapa 13 Regio Metropolitana de Campinas: ndice Paulista de Vulnerabilidade Social
(2010) ..................................................................................................................................... 143
Mapa 14 Regio Metropolitana de Campinas: mapa base .................................................. 149
Mapa 15 Regio Metropolitana de Campinas: responsveis por domiclios rendimento
mensal superior a dez salrios mnimos (1991)...................................................................... 169
Mapa 16 Regio Metropolitana de Campinas: regio Metropolitana de Campinas:
responsveis por domiclios rendimento mensal superior a dez salrios mnimos (2000) .. 171
Mapa 17 Regio Metropolitana de Campinas: responsveis por domiclios rendimento
mensal superior a dez salrios mnimos (2010)...................................................................... 173
Mapa 18 Regio Metropolitana de Campinas: responsveis por domiclios rendimento
mensal de at dois salrios mnimos (1991) ........................................................................... 175
Mapa 19 Regio Metropolitana de Campinas: responsveis por domiclios rendimento
mensal de at dois salrios mnimos (2000) ........................................................................... 177
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xxiv
Mapa 20 Regio Metropolitana de Campinas: responsveis por domiclios rendimento
mensal de at dois salrios mnimos (2010) ........................................................................... 179
Mapa 21 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso/ incluso por autonomia de
renda (1991) ............................................................................................................................ 185
Mapa 22 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso/ incluso por autonomia de
renda (2000) ............................................................................................................................ 187
Mapa 23 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso/ incluso por autonomia de
renda (2010) ............................................................................................................................ 189
Mapa 24 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso/ incluso por
desenvolvimento humano (1991) ........................................................................................... 193
Mapa 25 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso/ incluso por
desenvolvimento humano (2000) ........................................................................................... 195
Mapa 26 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso/ incluso por
desenvolvimento humano (2010) ........................................................................................... 197
Mapa 27 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso por equidade (1991) .... 201
Mapa 28 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso por equidade (2000) .... 203
Mapa 29 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso por equidade (2010) .... 205
Mapa 30 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso/ incluso por qualidade
domiciliar (1991) .................................................................................................................... 209
Mapa 31 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso/ incluso por qualidade
domiciliar (2000) .................................................................................................................... 211
Mapa 32 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso/ incluso por qualidade
domiciliar (2010) .................................................................................................................... 213
Mapa 33 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso/incluso social
(1991) ..................................................................................................................................... 219
Mapa 34 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso/incluso social
(2000) .................................................................................................................................... 221
Mapa 35 Regio Metropolitana de Campinas: ndice de excluso/incluso social
(2010) ..................................................................................................................................... 223
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Variveis, indicadores compostos e ndices utilizados na elaborao do mapa de
excluso/incluso social (1991) .............................................................................................. 153
Quadro 2: Variveis, indicadores compostos e ndices utilizados na elaborao do mapa de
excluso/incluso social (2000) .............................................................................................. 154
Quadro 3: Variveis, indicadores compostos e ndices utilizados na elaborao do mapa de
excluso/incluso social (2010) .............................................................................................. 155
Quadro 4: Classificao dos nveis de excluso/incluso ...................................................... 162
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xxvi
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Criao dos municpios da RMC .............................................................................. 66
Tabela 2: Taxas de crescimento demogrfico mdio anual (%) da populao absoluta
(1970-2010) .............................................................................................................................. 69
Tabela 3: Evoluo da populao urbana da RMC (1970-2010) ............................................. 71
Tabela 4: reas urbanizadas nos municpios da RMC (1965-2010) ........................................ 79
Tabela 5: Relao entre dficit habitacional e lotes urbanizados produzidos na RMC
(2000-2007) ............................................................................................................................ 116
Tabela 6: Condomnios e loteamentos fechados aprovados na RMC (2000-2007) ............... 117
Tabela 7: ndices de Desenvolvimento Humano Municipal na RMC (1991-2000) ............... 137
Tabela 8: Distribuio absoluta e percentual da populao urbana, por nveis de
excluso/incluso Social ......................................................................................................... 163
Tabela 9: Distribuio absoluta e percentual da populao urbana, por nveis de excluso
Social, segundo municpios da RMC (1991, 2000 e 2010) .................................................... 165
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xxix
SIGLAS E ABREVIATURAS
ABRASCE: Associao Brasileira de Shoppings Centers
AGEMCAMP: Agncia Metropolitana de Campinas
CDHU: Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de So Paulo
CDRMC: Conselho de Desenvolvimento da Regio Metropolitana de Campinas
CEBRAP: Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento
CEM: Centro de Estudos da Metrpole
CPqD: Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicaes
DSG: Diretoria de Servio Geogrfico do Exrcito
EMPLASA: Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano
GLCF: Global Land Cover Facility University of Maryland (EUA)
GRAPROHAB: Grupo de Anlise e Aprovao de Projetos Habitacionais do Estado de So
Paulo
IAC: Instituto Agronmico de Campinas
IGC: Instituto Geogrfico e Cartogrfico do Estado de So Paulo
IDH: ndice de Desenvolvimento Humano
IDHM: ndice de Desenvolvimento Humano Municipal
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IPARDES: Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico e Social
IPEA: Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada
IPVS: ndice Paulista de Vulnerabilidade Social
INPE: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
NEPO: Ncleo de Estudos de Populao
NESUR: Ncleo de Economia Social, Urbana e Regional
PEA: Populao Economicamente Ativa
PIB: Produto Interno Bruto
PIS: Padro de Incluso Social
PNUD: Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
PUC-Campinas: Pontifcia Universidade Catlica de Campinas
REPLAN: Refinaria de Petrleo do Planalto Paulista, ou Refinaria de Paulnia Petrobrs
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RMC: Regio Metropolitana de Campinas
RMSP: Regio Metropolitana de So Paulo
SEADE: Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados
UNICAMP: Universidade Estadual de Campinas
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1
INTRODUO
O foco principal desta tese so as desigualdades socioespaciais: as disparidades na
distribuio dos frutos da riqueza gerada no processo geral de produo da sociedade
capitalista, que resultam em diferentes possibilidades de apropriao, organizao e uso do
espao e dos bens e servios produzidos pelo trabalho social. Esta dessemelhana ocasiona um
desequilbrio, por vezes bastante grave, entre as condies de vida dos indivduos em uma
determinada localidade1, dando origem a segmentos sociais excludos do acesso s principais
fontes de renda e de importantes meios de desenvolvimento das capacidades humanas, como a
educao, bem como de condies bsicas de moradia e de vida, ao mesmo tempo em que
outras parcelas da populao conseguem concentrar para si o usufruto de tais benefcios. Isso
configura, portanto, um processo social de desigualdade no qual a excluso e a incluso
sociais se fundem dialeticamente, de modo que o entendimento ampliado de uma das
condies sociais implica em considerar, tambm de maneira aprofundada, a outra.
O cenrio de desigualdade ao qual se est referindo tem na produo da cidade
capitalista uma de suas expresses mais concretas. O processo de produo e reproduo do
espao urbano envolve, antes de tudo, uma sociedade fragmentada e hierarquizada,
estratificada em classes, produzindo de forma socializada para consumidores privados. Por
isto, uma cidade um local onde diversas pessoas se organizam, interagem, constituem
alianas e entram em conflito na defesa de interesses os mais diversos, que venham assegurar
a apropriao e o controle do espao para dele fazer o uso mais adequado a seus propsitos,
seja este destinado a viabilizar a reproduo do capital, ou para a constituio de suas
condies gerais de vida.
No Brasil, as desigualdades socioespaciais so um trao marcante na produo e
estruturao social do espao urbano, sobretudo a partir de meados do sculo XX. O processo
de urbanizao desencadeado no pas, impulsionado por um modelo de desenvolvimento
econmico excludente, levou conformao de cidades e aglomeraes urbanas com
acentuadas assimetrias sociais e espaciais. As enormes disparidades na distribuio de renda e
1 No decorrer deste trabalho, o termo localidade ser empregado para se referir a qualquer parcela do
espao urbano distinguvel das demais por suas caractersticas socioespaciais, podendo se referir a zonas ou
grandes reas das cidades, bairros, conjuntos residenciais ou simplesmente a setores censitrios urbanos.
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2
poder, especialmente nos centros urbanos de maior porte econmico e populacional, somadas
estrutura fundiria permanentemente concentrada, tm cada vez mais diferenciado as
possibilidades de apropriao, organizao e usufruto do espao pelos diversos segmentos da
sociedade.
Neste sentido, a desigualdade engendrada no processo de produo capitalista,
decorrente do papel ocupado pelos indivduos na diviso social do trabalho, materializa-se no
espao urbano atravs de reas que propiciam melhor ou pior qualidade de vida, ao mesmo
tempo em que tendem a favorecer ou a restringir a busca por condies de vida mais
satisfatrias. Assim, o espao urbano tende a ser estruturado de modo dspar em reas que
renem diferentes condies e nveis de incluso ou de excluso social.
Por outro lado, esta concretizao espacial das assimetrias sociais condiciona a
continuidade do processo de produo do espao urbano e de reproduo dos grupos sociais,
tanto por meio da substituio de usos da terra por outros mais adequados aos interesses dos
detentores da propriedade fundiria e imobiliria, como atravs da incorporao de novas
terras com usos rurais ou esterilizadas espera de valorizao s reas j urbanizadas,
ampliando e, por vezes, dispersando a ocupao urbana do solo. Do ponto de vista social,
tanto num como noutro caso, a evoluo dos usos urbanos da terra tem tendido a promover
uma ampliao das desigualdades por meio da segregao espacial dos segmentos sociais.
Nas aglomeraes urbanas de porte mais elevado, esta dinmica de segregao tem se
materializado em escalas espaciais diferenciadas. De um lado, pode-se observar a aproximao
ou, numa acepo mais ampla e de acordo
com a perspectiva desenvolvida neste trabalho, entre grupos marcados por processos sociais
includentes ou excludentes , desencadeada pelo surgimento de favelas e ncleos de sub-
habitaes, resultando, por vezes, em verdadeiros enclaves
valorizadas da cidade. De outro, observa-se a emergncia de novas e amplas reas residenciais
voltadas a segmentos de mdio e alto status social, cujas localizaes, afastadas dos centros
tradicionais das cidades e at mesmo do tecido urbano consolidado, eixos ou
setores espaciais de concentrao de riqueza e bem estar, em detrimento das demais
localidades do espao urbano.
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3
Em tal contexto, a disposio das classes no espao sofre alteraes, tendendo para
um padro setorial que reflete a segregao entre as mesmas e a diferenciao entre os nveis
de incluso e de excluso social de cada segmento social. Em aglomeraes urbanas com
ncleos integrados entre si, tal setorizao, no raro, extrapola os limites internos de uma
cidade, ampliando a estruturao socioespacial para a escala regional.
A Regio Metropolitana de Campinas (RMC) um importante centro demogrfico e
econmico do Estado de So Paulo onde a referida dinmica de desigualdades est presente.
Com uma populao de 2,799 milhes de habitantes e taxa de urbanizao de 97,4%2, esta
regio, institucionalizada em 20003, constituda por Campinas e outros dezoito municpios
de seu entorno: Americana, Artur Nogueira, Cosmpolis, Engenheiro Coelho, Holambra,
Hortolndia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguarina, Monte Mor, Nova Odessa, Paulnia, Pedreira,
Nos
referidos municpios, conforma-se um espao urbano disperso constitudo por ncleos urbanos
mais antigos e densamente ocupados, ligados entre si por um amplo e moderno sistema de
rodovias e avenidas, e, em parte, conurbados em padres de usos urbanos da terra com baixas
densidades loteamentos abertos, reas empresariais e institucionais e reas residenciais
fechadas, entremeados por vazios urbanos , alocados nas proximidades das referidas vias de
trfego.
Nesse conjunto das reas urbanizadas municipais, que ser chamado de espao
urbano-metropolitano, nota-se, portanto, uma diversidade expressiva nos modos de ocupao
do espao e em seu contedo social observveis, em vrios locais, atravs de uma simples
observao da paisagem , diferenas estas que vo alm de um padro espacial metropolitano
do tipo centro x -
que resultam de (e provavelmente implicam em) nveis diferenciados de incluso e excluso
social, sendo tais diferenciaes visveis na comparao entre as diferentes reas urbanas dos
municpios que a constituem, como tambm internamente a cada uma delas.
2 Conforme o censo demogrfico de 2010, do IBGE.
3 Instituda pela Lei complementar estadual n 870, de 24/05/2000.
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Assim, o principal esforo empreendido na presente pesquisa reside em analisar essas
desigualdades socioespaciais articulando as escalas geogrficas regional e intraurbana4, pois
quando o tamanho [do espao
apreendido] muda, as coisas mudam, o que no pouco, pois to importante quanto saber que
as coisas mudam com o tamanho, saber como elas mudam, qual o novo contedo das novas
No caso da anlise socioespacial urbana, uma incurso da escala regional para o
nvel intraurbano representa a possibilidade de uma anlise mais prxima das condies
concretas que caracterizam a organizao espacial e o perfil socioeconmico das populaes,
Por outro lado, essa anlise intraurbana no deve perder de vista o contexto socioespacial
regional no qual as localizaes intraurbanas esto inscritas.
Nesse sentido, a pesquisa teve como principal objetivo compreender o processo de
estruturao socioespacial desigual do espao urbano na RMC nas escalas da regio e das
diferentes cidades que a conformam, concebendo tais desigualdades a partir de localidades
marcadas por nveis distintos de incluso e excluso social. Para tanto, so investigadas as
principais condicionantes histrico-geogrficas que contribuem para o surgimento e
consolidao, nos dezenove municpios que constituem a regio metropolitana, de espaos
urbanos discrepantes no tocante ao contedo social e organizao espacial. Procura-se
tambm elaborar um marco conceitual que fornea subsdios para o entendimento da estrutura
socioespacial de uma regio metropolitana situada no interior paulista, cuja evoluo urbana
relativamente nova (se comparada com a RMSP, por exemplo) e marcada, desde o seu
princpio, pela lgica da ocupao dispersa.
Finalmente, um ltimo objetivo perseguido pela pesquisa consistiu em elaborar um
encaminhamento metodolgico que possibilitasse, concomitantemente, conceber
conceitualmente a excluso social em sua relao dialtica com o seu contraponto a incluso
social , entendendo ambos os processos como multidimensionais, inter-relacionados entre si
4
(1998), para quem o espao intraurbano (poder-se-ia dizer, o espao interno da cidade, em nossa acepo) surge
da aglomerao estruturada a partir das condies de deslocamento dos indivduos, diferentemente do espao
regional, em que a localizao dos meios de produo e a diviso territorial do trabalho so as principais
condicionantes. Nesse sentido, para fins analticos e de identificao no texto, empregar-se- a expresso escala
intraurbana para se referir escala do interior de uma cidade ou rea urbana municipal, embora se tenha
conscincia de que em vrias das reas conurbadas da RMC, as condies de deslocamento e as centralidades de
determinados objetos espaciais existentes extrapolam os limites municipais. J a expresso escala regional
remeter a todo o espao urbanizado da RMC, isto , ao espao urbano-metropolitano.
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e atuantes na estruturao do espao urbano, e, aferir empiricamente os diferenciais de
incluso e excluso social, por meio de sua mensurao e representao espacial em escalas
intraurbanas e regional.
Sob essa demanda, construdo um sistema de indicadores de excluso/incluso
social, a partir de variveis socioeconmicas provenientes dos censos demogrficos de 1991,
2000 e 2010 agregadas por setores censitrios urbanos, e tendo como referncia uma
metodologia semelhante, elaborada na dcada de 1990 para anlise da cidade de So Paulo
(SPOSATI, 1996). Com tais indicadores, objetiva-se caracterizar e classificar as diferentes
localidades do espao urbano-metropolitano, tendo como substrato terico quatro importantes
dimenses do processo de excluso/incluso social, aferveis a partir dos dados: autonomia de
renda, desenvolvimento humano, equidade e qualidade domiciliar. A metodologia utilizada na
construo deste sistema de indicadores fundamenta-se na elaborao de uma escala de notas
que, ao abranger todas as reas e setores populacionais do espao urbano, possibilita medir as
condies de vida nos mesmos com base no afastamento em relao a uma condio tida
como bsica para que haja incluso social e, ao mesmo tempo, hierarquiz-los no contexto
geral dos espaos urbanos da RMC, permitindo, assim, visualizar o grau de discrepncia entre
as condies de vida dos habitantes conforme a localizao em que se est na cidade e na
regio.
Longe de pretender abarcar toda a complexidade socioespacial de uma regio to
vasta e com mltiplas espacialidades como a que est em anlise, visa-se, com tal sistema de
indicadores, possibilitar uma viso geral das condies de vida na RMC no tocante ao perfil
socioeconmico e aos padres de habitabilidade, examinando-as internamente a cada cidade e
na comparao entre elas, buscando, a partir disso, compreender o espao urbano-
metropolitano em suas diferenas e semelhanas internas.
A tese esta estruturada em seis captulos, sendo que nos dois primeiros so
apresentadas reflexes de natureza terico-conceitual, a fim de constituir um marco referencial
para a anlise e compreenso das desigualdades socioespaciais urbanas a partir do processo de
excluso/incluso social. No captulo inicial, intitulado O processo de excluso/incluso
social: reflexes terico-conceituais, realiza-se uma anlise crtica do conceito de excluso
social, apresentando as concepes tericas mais importantes e as principais crticas feitas ao
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mesmo, seguida de reflexes acerca das vantagens e potencialidades do uso do referido
conceito para a anlise geogrfica em especial, no estudo das desigualdades socioespaciais
urbanas dentro da perspectiva terico-conceitual da excluso/incluso social. Em seguida, no
captulo 2, O processo de excluso/incluso social e a (re)produo do espao urbano,
complementa-se o arcabouo terico-conceitual da pesquisa, abordando primeiramente a
(re)produo desigual do espao urbano a partir da constituio e apropriao desigual de
localizaes intraurbanas. Na sequncia, analisa-se a segregao socioespacial resultante da
produo de localizaes e sua relao com a dinmica de excluso/incluso social na cidade
e, por fim, apresenta-se uma discusso sobre padres de desigualdades socioespaciais urbanos,
realizada com o intuito de subsidiar as reflexes seguintes acerca da estruturao socioespacial
urbana na atualidade, em escalas intraurbana e metropolitana.
Os captulos 3 e 4 so dedicados anlise histrico-geogrfica e caracterizao da
produo das desigualdades socioespaciais urbanas na RMC luz do processo de
excluso/incluso social. No captulo 3, Os processos de urbanizao e de excluso/incluso
social: reflexes sobre os casos brasileiro e paulista, examina-se as relaes entre os
processos de urbanizao e de excluso/incluso social em escala nacional e como sua
conjugao contribuiu para a conformao, no Estado de So Paulo, de aglomeraes urbanas
desiguais e segregadas social e espacialmente. Em seguida, no captulo Regio
Metropolitana de Campinas: a produo das desigualdades socioespaciais urbanas,
analisa-se o processo de evoluo desigual do espao urbano-metropolitano na regio de
Campinas, primeiramente apresentando as principais condicionantes e desdobramentos
socioespaciais da urbanizao na regio e, posteriormente, caracterizando a sua estrutura
socioespacial urbana.
Na parte final do trabalho, debrua-se sobre o universo da anlise socioespacial
intraurbana com o uso de indicadores sociais. No captulo 5, Indicadores sociais para
mensurao das condies de vida: reflexes a partir da Regio Metropolitana de
Campinas, discute-se a funcionalidade dos indicadores sociais para o diagnstico das
condies de vida e de aspectos relativos organizao espacial numa dada localidade.
Destaca-se a importncia da produo de indicadores com comparabilidade intraurbana, algo
ainda demandante de muitos avanos no Brasil. Por sua vez, o ltimo captulo, Mapeando a
dinmica de excluso/incluso social na Regio Metropolitana de Campinas, traz o
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sistema de indicadores sociais de excluso/incluso social elaborado para representar e
analisar os padres de desigualdades socioespaciais no espao urbano-metropolitano
campineiro, apresentando, num primeiro momento, os fundamentos conceituais e o
encaminhamento metodolgico empregados no clculo e na cartografao dos indicadores, e,
em seo posterior, a anlise dos resultados obtidos.
Encerrando a tese, as consideraes finais apresentam, em seguida, as impresses
gerais sobre a dinmica de excluso/incluso social e as desigualdades socioespaciais urbanas
na Regio Metropolitana de Campinas.
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CAPTULO 1
O PROCESSO DE EXCLUSO/INCLUSO SOCIAL:
REFLEXES TERICO-CONCEITUAIS
A desigualdade um aspecto inerente a toda e qualquer sociedade. Indivduos e
famlias so, em si, desiguais quanto a aspectos fsicos, psicossociais e culturais, bem como
constituem (e se organizam em) grupos que se diferenciam ao longo do tempo em relao
cultura, valores, tcnicas e recursos diversos. Entretanto, as desigualdades entre indivduos,
grupos e classes sociais tornam-se questo social de interesse investigao cientfica, em
especial para as cincias humanas e sociais, e foco de ateno e interveno no mbito pblico
(no somente pelo Estado, mas tambm por outras entidades e segmentos da sociedade)
medida que estas, no modo de produo capitalista, no representam apenas diferenas mas
trazem consigo relaes hierrquicas entre os diversos grupos e estratos sociais. Em outras
palavras, quando tais desigualdades implicam em vantagens e desvantagens mltiplas que
conferem meios e oportunidades distintos para uma boa qualidade de vida e para o pleno
exerccio da cidadania. Tomadas nesse sentido, as desigualdades sociais refletem, portanto, o
modo como se d a distribuio e apropriao diferencial das riquezas materiais e simblicas
em um determinado contexto histrico-social, bem como os valores que orientam esta
distribuio dentro da estrutura de classes da sociedade (ESCOREL, 1999).
Para a Geografia, a anlise da desigualdade social relevante por ser o espao
geogrfico produzido e reproduzido socialmente no mbito de tais relaes sociais dspares.
[...] a expresso concreta de cada conjunto
CASTELLS, 2000, p. 181), e se diferencia histrica
e geograficamente sobretudo pelas densidades tcnicas e pelos contedos sociais presentes em
cada lugar. Com efeito, o espao social refletir, em suas formas e nos modos de apropriao e
uso, as assimetrias provenientes de uma sociedade desigual e hierarquizada em classes e,
dialeticamente, a organizao espacial, estruturada socialmente de modo desigual,
condicionar, tambm de modo desigual, a reproduo da sociedade ao oferecer aos
segmentos sociais condies mais ou menos favorveis realizao das diversas atividades
que viabilizam sua existncia (CORRA, 1998; SANTOS, 2002). Importa assim, para a abordagem das
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desigualdades socioespaciais, analisar os processos envolvidos na produo das disparidades
sociais e suas caractersticas.5
Visando compreender a dinmica das desigualdades em suas faces, diversas matrizes
conceituais foram tecidas ao longo do tempo, engendradas a partir de pontos de vistas
oriundos dos mais variados ramos do conhecimento cientfico. O conceito de excluso social
um dos que teve maior difuso dentro das cincias sociais e humanas, diante de preocupaes
com o crescimento da pobreza e com a desestabilizao de vnculos coesivos do tecido social,
desencadeados por processos de reestruturao econmica e pela supresso de polticas sociais
de bem-estar, especialmente em pases de capitalismo avanado. Na Amrica Latina, e
principalmente no Brasil, o uso do conceito cresce tambm em funo da [...] exacerbao
dos problemas urbanos das metrpoles nos anos 1970 e com o aprofundamento da crise
econmica dos anos 1980, que aumentou a desigualdade social e a pobreza (VIEIRA et al.,
2010, p. 36). Todavia, o uso generalizado e, de certo modo, indiscriminado do conceito,
utilizado com [...] vrios significados para reunir pessoas e grupos que so abandonados,
desafiliados (Castel), deixados de lado, desqualificados (Paugam) quer do mercado de
trabalho, (VRAS, 2006, p. 27), deu origem a controvrsias
quanto sua utilizao, suscitando, inclusive, a rejeio do termo por diversos estudiosos, em
razo das diferenas quanto sua interpretao e uso.
Em vista disso, neste captulo realiza-se uma apreciao do controverso conceito de
excluso social, apresentando, num primeiro momento, as concepes tericas mais
importantes e as principais crticas feitas ao mesmo. Em seguida, so analisadas as vantagens e
potencialidades do referido conceito para a anlise geogrfica em especial, na anlise das
desigualdades socioespaciais urbanas segundo a perspectiva terico-conceitual utilizada
nesta tese, a da excluso/incluso social.
5 A mesma perspectiva apresentada sobre as desigualdades sociais pode ser aplicada em relao ao
espao. A rigor, todos os espaos so diferentes entre si. Assim, as desigualdades espaciais tornam-se uma
questo relevante para anlise medida que implicam em benefcios e malefcios distintos sociedade e
contribuem para hierarquiza-la (MATOS, 2010).
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1.1 EXCLUSO SOCIAL: PRINCIPAIS CONDICIONANTES E PERSPECTIVAS DE ANLISE
Numa acepo geral, pode-se entender excluso social como uma dinmica que
implica na impossibilidade, por parte dos elementos de uma sociedade, de poderem partilhar
em nvel de igualdade econmica, social, poltica e cultural (SPOSATI, 1996). O termo remete
ideia de um processo amplo, podendo envolver, de um lado, um conjunto de privaes e
carncias materiais de origem econmica e poltica, como a insuficincia de renda e a
dificuldade de acesso a bens e servios que possibilitam melhores condies de vida
(educao, infraestrutura bsica, servios como transporte pblico e sade, condies
adequadas de moradia, entre outros) e, de outro, desdobramentos nos campos tico e
psicossocial, mais especificamente suas implicaes sobre a fragilizao ou mesmo o
rompimento de liames sociais, expressos em termos de segregao, subalternidade e
discriminao de segmentos da sociedade.
Todavia, refletir sobre excluso social ainda remete ao exame de um conceito que,
embora esteja amplamente difundido, tanto nos estudos das cincias sociais e humanas como
em discursos polticos, ainda se encontra eivado de indefinies, carecendo de uma
delimitao terica mais clara. De um lado, tais imprecises se devem prpria complexidade
do processo que visa abarcar, cuja anlise permite diversas interpretaes de acordo com a
filiao terica de cada pesquisador ou agente social. Por outro lado, resulta tambm do
prprio carter instvel da dinmica social, mutvel no tempo e varivel conforme o espao
em que ocorre. Assim, como bem afirma Wanderley (2006, p. 18), antes de tudo, qualquer
estudo sobre a excluso social [...] deve ser contextualizado no espao e tempo ao qual o
.
Na prxima seo, so apresentados os principais eventos que motivaram o
desenvolvimento de reflexes sobre o tema da excluso social. Em seguida, realiza-se uma
apreciao crtica das concepes tericas mais relevantes em relao dinmica de excluso
(e incluso) social.
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1.1.1 A excluso social e suas abordagens: contextualizao histrico-geogrfica
Tema presente em discursos polticos, planos e programas governamentais e na
mdia, a noo de excluso social tornou-se familiar no cotidiano das mais variadas regies e
pases ao redor do globo, inclusive em territrios core do capitalismo global, sinalizando para
o destino incerto de segmentos cada vez mais numerosos da populao (WANDERLEY, 2006).
A ideia de excluso social foi pensada como conceito na Frana em meados dos anos
19706, no contexto da crise do regime fordista de acumulao, o qual, segundo Harvey (1992),
permitira avanos importantes nas condies de vida de parte significativa da populao nos
pases centrais, sobretudo devido a nveis de crescimento econmico elevados, ganhos
salariais e ampliao de direitos trabalhistas, e aumento de investimentos estatais em
infraestrutura e em polticas sociais.
Naquele momento, elevavam-se as preocupaes com a precarizao de uma parcela
crescente da populao na Frana e em outros pases do oeste europeu, em funo de
transformaes em curso no mundo do trabalho, aliadas crise do chamado Estado de bem-
estar social. Assim, a difuso do uso do conceito de excluso social ocorreu no mbito da
progressiva piora das condies de vida observada em escala mundial nas dcadas seguintes,
como resultado de iniciativas empreendidas com vistas a caracterizar melhor as causas e os
desdobramentos do fenmeno.
H, portanto, em termos gerais, dois grandes processos em certa medida, inter-
relacionados no contexto atual de globalizao na origem das transformaes sociopolticas
e territoriais relacionadas s discusses sobre excluso social: a reestruturao produtiva e as
polticas de inspirao neoliberal (ou no-keynesiana).
A reorganizao da produo capitalista no globo e a reestruturao do mercado de
trabalho ocorridas na esteira da economia globalizada, fizeram com que os processos de
excluso se alastrassem pelo mundo como um todo no final do sculo XX, [...] no poupando
6 De acordo com Maringela Wanderley (2006), atribui-se a Ren Lenoir (1974) a proposio da noo
assumido pelo termo posteriormente, ainda que com diferentes interpretaes. Ainda segundo esta autora, Lenoir
menciona como principais causas do fenmeno da excluso social as disparidades de renda e no acesso a
servios, a inadaptao e uniformizao do sistema escolar e o desenraizamento causado pela mobilidade
profissional.
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nem mesmo os pases centrais (HAESBAERT, 2004, p. 319).
A paulatina diminuio na demanda por fora de trabalho verificada a partir da dcada de
1970, motivada, entre outros fatores, pela incorporao de inovaes cientfico-tecnolgicas,
aliada adoo de novos modelos de produo baseados na terceirizao de servios e na
subcontratao de trabalhadores, contriburam, segundo Singer (2003, p. 29), para a ampliao
[...] excluso de uma
crescente massa de trabalhadores do gozo de seus direitos legais , como
Para o referido autor, este ltimo tem
tido ainda suas condies agravadas, j que o tempo mdio de desemprego tem se prolongado
em vrios pases, minimizando a proporo de desempregados auxiliados pelo seguro-
desemprego e aumentando a quantidade de pessoas atingidas pela excluso social, pois suas
vidas pessoais entram em crise. A contrapartida disso atua no sentido de aprofundar a
desigualdade social, por meio da concentrao da renda a favor dos diretores ou trabalhadores
estveis do ncleo primrio das grandes empresas, dos investidores e especuladores.
por esta razo que, na acepo de Dupas (2001, p. 16), de uma maneira mais geral,
as alteraes ocorridas na produo capitalista
[...] invadem tambm a esfera individual ao modificar valores e padres h muito
sedimentados, estando a uma das principais razes do sentimento de insegurana que
comea a se generalizar e que est subjacente preocupao com a excluso social,
fortemente ligado s mudanas [...] no mercado de trabalho.
As polticas neoliberais de ajuste contribuem para agravar ainda mais este quadro de
excluso social no mbito da globalizao econmica. Adotadas em nome da estabilidade
financeira e monetria, promovem [...] um afastamento ou menor interveno estatal na
esfera social, com polticas sociais e de bem- (VIEIRA et
al., 2010, p. 35). claro, pois, que os impactos sociais negativos da reorientao das polticas
so mais profundos nos pases e territrios onde sua cobertura social socialmente mais
abrangente.
Em suma, a tomada de conscincia sobre o processo de excluso/incluso social e,
por conseguinte, os debates sobre suas causas e consequncias, ganharam fora em
decorrncia do alcance cada vez mais globalizado da dinmica das desigualdades e privaes
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sociais, as quais desestabilizaram inclusive segmentos sociais com nveis de renda e
qualificao profissional mais elevados, precarizando, assim, as condies de vida de uma
parcela crescente da populao. Entretanto, alguns autores como, por exemplo, Lavinas
(2002) chamam a ateno para o fato de que no se pode situar a origem da excluso social
nas referidas transformaes do capitalismo do ltimo fim de sculo, pois em sociedades como
as latino-americanas e mais particularmente a brasileira, os processos excludentes estiveram
presentes em todas as fases do modelo de acumulao, e no apenas por fora da flexibilizao
e globalizao dos mercados. Em funo disso, para Demo (2002), as discusses sobre uma
das desigualdades sociais, mas expressam tambm [...] pavor [...] de
a Europa tomar o caminho do Terceiro Mundo, medida que o empobrecimento da sociedade
se instala agora tambm no centro (idem, p. 1). [...] esquece-se do Terceiro
Mundo, onde sempre existiu pobreza extrema e degradante, bem como deixa-se de lado a
histria da pobreza no mundo, que sempre alimentou, em especial no capitalismo, formas
desqualificantes de pobreza (idem, p. 2). O autor sugere, assim, que o que se entende por
ualquer que seja a sua perspectiva analtica, no se constitui em um
fenmeno social plenamente novo, e sim em desdobramentos sociais e territoriais de uma nova
fase do modo de produo capitalista.7
Em vista disso, o estudo sobre a excluso social na periferia do capitalismo global, da
qual seguramente o Brasil faz parte, fundamenta-se em elementos diferentes dos priorizados
pela literatura nos pases centrais. Na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, os enfoques
sobre a excluso tendem a se debruar sobre aspectos vinculados a privaes e
constrangimentos sofridos por indivduos e grupos no domnio dos vnculos sociais (excluso
por rupturas profissionais, familiares e afetivas) e da alteridade (excluso por discriminao de
segmentos especficos, como por razes de etnia, por exemplo), estes mais ou menos
7 O autor complementa este ponto de vista examinando a promoo da justia dentro do modo de
welfare state, em que pese sua extraordinria significao histrica e seu valor utpico,
originou uma falsa expectativa sobre o capitalismo, imaginando que se tratasse de um sistema produtivo
domesticvel e at mesmo compatvel com a justia social. Segundo nossa tese, o capitalismo civilizvel, no
mximo. No o podemos domar, porque no vivel um capitalismo que no privilegie o capital ou a relao de
mercado, mas o podemos civilizar, dependendo este efeito mais que tu DEMO, 2002, p. 5-6).
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exacerbados pelo crescimento da pobreza8 e pela fragilizao das polticas de bem-estar
(COSTA, 1998; DEMO, 2002; GUIMARES et al., 2002; WANDERLEY, 2006; KOWARICK, 2009).
Por sua vez, a ateno se volta principalmente para o
entendimento das dimenses objetivas da desigualdade e da pobreza em suas feies
contemporneas (DUPAS, 2001; GUIMARES et al., 2002; LAVINAS, 2002; SINGER, 2003). Nestes territrios,
a pobreza sempre ocupou posio central na definio da excluso social, pois a ampla maioria
de suas populaes socialmente excludas constituda por gente privada das principais fontes
de renda, tendo, assim, limitado o acesso de parte de seus habitantes aos bens e servios
essenciais a uma boa qualidade de vida. E mais do que isso, nestes pases a pobreza pode
ainda excluir suas vtimas de outras redes sociais, desencadeando e/ou aprofundando outros
tipos de excluso:
[...] a excluso social pode ser vista como uma soma de vrias excluses,
habitualmente muito inter-relacionadas. Aqueles que foram expulsos do mercado de
trabalho formal, ou do mercado da residncia formal (em contraste com o informal,
formado por cortios e favelas), ou da escola, ficam em desvantagem na competio
por novas oportunidades, tornando-se candidatos provveis a novas excluses
(SINGER, 2003, p. 62).
Em suma, com o conceito de excluso social, busca-se apreender as dimenses
socioeconmico-poltica e psicossocial da desigualdade social, pois, como apontam
Guimares et al. (2002, p. 4)9, o mesmo teria a propriedade de subsidiar o entendimento de
[...] processos subjetivos que diferenciam social e individualmente grupos e segmentos que
[...] perdem seu lugar e suas referncias enquanto atores/participantes de uma dada
, e de outro e concomitantemente anlise [...] das novas feies
.
Porm, o pouco rigor no que acabou sendo
empregado para se referir aos mais variados fenmenos e situaes que precarizam as
8 Entende- situao relativa, que deve [...] ser relacionada com a medida
absoluta de um mnimo. [...] Pobres so os desprovidos da satisfao daquilo que se considera suas necessidades
bs SINGER
utilizado nesta tese como uma situao social, algo que pode ser considerado transitrio, diferentemente de
. 9 Para este texto, que est disponvel em arquivo digital e no apresenta paginao especfica, os
nmeros de pginas mencionados correspondem paginao do prprio arquivo.
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condies de vida de populaes em diferentes territrios dificulta o entendimento e a
aceitao do referido conceito no meio cientfico, o qual passa a ser visto por outros estudiosos
como demasiadamente impreciso e, portanto, desnecessrio. As principais vertentes analticas
do conceito, bem como as crticas mais importantes a ele dirigidas, so objeto de anlise a
seguir.
1.1.2 O conceito de excluso social: perspectivas analticas
De modo geral, as abordagens sobre excluso social podem ser classificadas em duas
grandes matrizes tericas que fundamentam a anlise do fenmeno: de um lado, a perspectiva
de base econmica, derivada da tradio anglo-saxnica, que confere maior peso
insuficincia de recursos como condicionante central da excluso; de outro, a vertente
psicossocial, de cariz francesa, cuja ateno volta-se especialmente para a precarizao das
condies de vida de um indivduo ou de uma coletividade no mbito de suas relaes com a
sociedade. Ressalta-se que estas duas perspectivas analticas no so totalmente excludentes
entre si, admitindo-se, em grande parte das abordagens, a inter-relao entre fatores
econmicos e psicossociais (perspectiva multidimensional do fenmeno), mesmo que com
diferentes nveis de importncia atribudos a cada um.
Um primeiro e importante aporte comparativo entre estas duas vertentes pode ser
realizado examinando-se diferentes entendimentos sobre a abrangncia temtica da excluso
social e suas relaes com a pobreza. De acordo com Room (1995), a tradio britnica
prioriza os aspectos distributivos na anlise da situao dos indivduos e grupos menos
favorecidos, o que, segundo Guimares et al. (2002), faz com que esta conceba o fenmeno da
excluso social em uma acepo mais reducionista, isto , estreitamente vinculada noo de
desigualdade na distribuio de recursos. Ainda que essas concepes de excluso social
admitam a multidimensionalidade e a dinamicidade inerentes a tal processo, elas ainda o
entendem como produto da pobreza.
Diferentemente dessa perspectiva, na tradio francesa a qual acabou exercendo
maior influncia sobre as concepes de excluso desenvolvidas no Brasil a excluso social
vista como um fenmeno mais abrangente do que a pobreza, pois aquela envolveria
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elementos tnicos e culturais como o preconceito e a estigmatizao de minorias, que vo
alm de questes vinculadas a fatores de ordem estritamente econmica. A acepo de
Xiberras (1996) ilustra bem este outro entendimento. Esta autora argumenta que a excluso
social, alm de remeter submisso de um indivduo ou grupo social insuficincia de renda
e oportunidades, tambm est associada ocorrncia de processos de diferenciao vinculados
a valores e representaes sociais que definem o que considerado positivo ou negativo em
uma dada sociedade. Assim, a ttulo de exemplo, cabe pensar no caso de certas populaes
negras (ou afrodescendentes) que
absolutamente um fator negativo, uma condio que deva ser superada para que haja incluso,
e sim porque aquelas so vtimas de concepes e prticas sociais discriminatrias constitudas
no transcorrer da histria.
Outro expoente da produo sobre excluso social que pode ser situado dentro da
vertente psicossocial e cuja abordagem teve grande divulgao, o socilogo Serge Paugam,
busca vincular as dimenses econmica e psicossocial do fenmeno ao associar a precarizao
da vida econmica de indivduos e famlias, atingidas pela reestruturao produtiva, ao
agravamento de sua da perda de vnculos sociais. Prope o
conceito de desqualificao social para abarcar a evoluo do processo de excluso social a
partir das relaes entre insero laboral, liames sociais e proteo estatal no mundo
desenvolvido.
Para Paugam (2006, p. 68), com o [...] movimento de expulso gradativa, para fora
avano do
desemprego e a fragilizao de mecanismos estatais de assistncia social, h uma tendncia de
enfraquecimento e ruptura de vnculos familiares e comunitrios devido aos estigmas sociais
gerados com o empobrecimento e correspondente perca de status. esta situao de privao
o autor
que desencadeia o processo de excluso social:
resto da sociedade, que gera uma angstia coletiva, j que um nmero crescente de
-se excludos, pois as
solidariedades familiares e as possibilidades de participao na economia informal,
que permitem amortecer o efeito do desemprego nas regies menos desenvolvidas
-
20
[...] revelam-se mais fracas e mais desorganizadas. Nesse sentido, a dependncia em
relao s instituies sociais muito mais evidente nas camadas mais numerosas da
populao (idem, p. 71-72).
A perspectiva de Paugam sugere, portanto, que a destruio de laos coesivos na
sociedade apresenta-se como um dos mais importantes ncleos da excluso. A carncia de
recursos materiais fundamental, mas esta situao, uma novidade para alguns segmentos
populacionais dos pases centrais, seria complementada e at mesmo reforada pela perda
do senso de pertena, de modo que tais populaes sentir-se-iam abandonadas por todos e
incapacitadas de reagir contra a situao social desfavorvel, principalmente pelo declnio do
Estado do bem estar social.
Mais do que sintetizar as diferentes interpretaes do conceito de excluso social
que apresentam outras diversas variaes dentro de cada uma das vertentes analticas
apontadas , as concepes apresentadas at o momento indicam que h certo consenso de que
o conceito busca, grosso modo, abarcar as condies objetivas e subjetivas das desigualdades.
A multidimensionalidade seria, assim, uma das principais caractersticas da excluso social.
Isto , o fenmeno da excluso pode estar associado a vrios tipos de privaes e carncias,
mais ou menos relacionadas entre si. E se por um lado esta caracterstica confere certa
impreciso ao conceito e identificao e delimitao das condicionantes do fenmeno que
representa, por outro o aspecto que mais o diferencia de outros fenmenos sociais destinados
a explicar a precariedade de condies de vida, caso do prprio conceito de pobreza.
Ademais, a multidimensionalidade apontada por alguns autores como Alfredo
Costa (1998), por exemplo como sendo o aspecto terico-metodolgico mais importante do
conceito de excluso social, por possibilitar o exame de vrios aspectos que impactam
negativamente sobre as condies de vida. Na acepo deste autor, isso se deve ao fato de que
indivduos e grupos necessitam de um conjunto variado de elementos
para terem boas condies de vida, bem como para
o exerccio pleno da cidadania. Segundo esta abordagem, a excluso social se configura,
portanto, a partir de restries no acesso a sistemas sociais bsicos, os quais podem ser
agrupados em cinco domnios:
-
21
a) Social: que remete aos agrupamentos de pessoas (grupos e comunidades) e conjuntos
de relaes (afetivas, profissionais etc.) nos quais o indivduo ou a famlia se
encontram inseridos;
b) Econmico: referente aos mecanismos geradores de recursos necessrios para a vida de
pessoas e famlias (mercado de trabalho, sistema de assistncia e seguridade social,
mercado de bens e servios e o sistema de poupanas);
c) Institucional: abrange a oferta de servios pblicos como sade, educao, habitao
popular, alm de instituies relacionadas aos direitos cvicos e polticos do cidado
(acesso justia, instncias de participao poltica);
d) Referncias simblicas: domnio diretamente relacionado dimenso subjetiva da
excluso social, diz respeito, no dizer do autor, [...] perdas
que o excludo sofre, e que se agravam com a permanncia na situao de excluso, no
campo das referncias: perda de identidade social, de auto-estima, de auto-confiana,
de perspectivas de futuro, de capacidade de iniciativa, de motivaes, do sentido de
pertena so (idem, p. 17); e,
e) Territorial: remete diretamente relao da excluso social com as caractersticas
espaciais, ou seja, influncia da organizao espacial sobre a configurao e acesso
social aos demais domnios.10
Em nosso entendimento,
Costa (1998), consiste em um enfoque integrador que traz elementos importantes para a
compreenso das inter-relaes que compem o fenmeno, abrindo caminho para uma melhor
delimitao do conceito sem perder de vista a perspectiva multidimensional que o mesmo
encerra. O referido autor admite que as formas de excluso podem ser bastante diferentes entre
bsicos. Uma pessoa ou famlia pode ser excluda de alguns daqueles sistemas sociais, embora
idem, p. 18). Assim, em sua acepo, seria
possvel e indicado falar-se em excluses sociais , no plural, para se referir aos variados
modos possveis de privao e subalternidade.
10
As relaes entre espao e excluso social sero foco de anlise especfica no subcaptulo 1.2 e no
captulo 2.
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22
importante ressaltar ainda que a perspectiva multidimensional da excluso social
apontada como um importante fundamento terico-metodolgico para a anlise geogrfica das
desigualdades sociais. Como avalizam Vieira et al. (2010, p. 44),
excludentes constituem-se a partir de uma srie de eventos, episdios e intencionalidades.
possvel conhecer essas circunstncias excludentes em seus contextos. Faz-lo implica
considerarmos a hibridez do espao geogrfico, distinguindo os [seus] vetores os
agentes sociais, as aes e as intencionalidades envolvidos na produo das desigualdades
socioespaciais e formas de excluso social.
Conferimos, desse modo, um valor que muitos autores apresentam como
caracterstica limitada do conceito de excluso social. A sua multidimensionalidade
em si uma capacidade de transitar por diversas escalas e estabelecer correlaes a
partir de dimenses at ento distantes (idem, ibidem).
Em semelhante via de anlise, Guimares et al. (2002) ressaltam que o conceito de
excluso social apresenta vantagens para a realizao de anlises de sociedades
[...] tem
a capacidade de jogar luz sobre as facetas mltiplas das situaes de desigualdade,
vulnerabilidade e risco a dimenso econmica, a social, a poltica e a intersubjetiva ou
simblica (p. 5). Para os autores, tal caracterstica favorece a
anlise da dinmica das desigualdades de modo mais abrangente, concebendo-as a partir de
diferentes dimenses.
No obstante as vantagens, a multiplicidade de enfoques sobre a excluso social e a
grande amplitude de temas e variveis que so associados ao conceito, fazem dele alvo de
diversas crticas. Dentre as mais conhecidas esto as de Jos de Souza Martins (1997; 2002),
ou [...] coisificao
conceitual, [...] tr MARTINS,
1997, p. 11). Este socilogo manifesta a preocupao com o risco de uma interpretao da ideia
ocultar o carter dialtico das desigualdades
sociais11
, transformando-se os processos esquecendo-se de
11
O socilogo francs Robert Castel, outro renomado estudioso da questo social, realiza crtica
CASTEL, 1997), apesar de ele prprio, em outro trabalho (CASTEL, 1999),
utilizar o termo para designar uma fase de um processo maior a marginalizao onde os vnculos societais
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23
que, a rigor, ningum est estritamente excludo na sociedade capitalista, e sim, de certo
modo, includo, participando da reproduo social capitalista, por vezes de modo perverso e
ela, ora lutando contra a mesma:
[...] rigorosamente falando, no existe excluso: existe contradio, existem vtimas
de processos sociais, polticos e econmicos excludentes; existe o conflito pelo qual
a vtima dos processos excludentes proclama seu inconformismo [...] sua esperana,
sua fora reivindicativa e sua reivindicao corrosiva. Essas reaes, porque no se
trata estritamente de excluso, no se do fora dos sistemas econmicos e dos
sistemas de poder. Elas [...] fazem parte deles ainda que os negando. As reaes no
ocorrem de fora para dentro; elas ocorrem no interior da realidade problemtica,
idem, p. 14).
De um modo ou de outro, todo mundo est inserido no circuito reprodutivo das
atividades econmicas engendradas pelo modo de produo hegemnico vigente, e essa
insero, para a maioria da humanidade, se d por meio de insuficincias e de privaes que se
desdobram para alm da dimenso econmica (SAWAIA, 2006
a mesma sociedade que inclui e integra, que cria formas tambm desumanas de participao,
MARTINS, 2002, p. 11).
Este um princpio elementar que fundamenta as desigualdades sociais, sendo estas, por sua
vez, condio para a sua prpria reproduo.
Outra crtica de Martins, digna de nota, incide sobre o fatalismo presente em
discursos sobre a excluso social, em que vtima por no usufruir
dos padres de incluso preconizados pela prpria sociedade excludente, a sociedade do
consumo. Na viso do autor, nesta condio:
Excludo apenas um rtulo abstrato, que no responde a nenhum sujeito de
destino: no h possibilidade histrica nem destino histrico nas pessoas e nos
grupos sociais submetidos a essa rotulao. Excludo excluso so construes,
projees de um modo de ver prprio de quem se sente e se julga participante dos
benefcios da sociedade em que vive e que, por isso, julga que os diferentes no esto
tendo acesso aos meios e recursos a que ele tem acesso. (idem, p. 31)
Esta ltima crtica de Martins pe em foco outro debate, o da incluso: como vista e a
partir de quais meios deve ser promovida. E neste contexto, Pedro Demo, outro crtico da
mantidos pelos indivduos so rompidos ou duramente fragilizados por conta do que chama de desafiliao, isto
, a conjugao entre a desproteo estatal e um longo perodo de no insero no mercado formal de trabalho.
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24
noo de excluso, chama a ateno para a importncia permanente do mercado de trabalho e
das fontes de renda para a promoo da incluso em bases capitalistas, ao lado da participao
poltica da sociedade que, em nome da cidadania, deve exigi-la:
[...] embora a excluso esteja estreitamente ligada solido e desagregao social,
o emprego continua preponderante para definir a condio do indivduo [...] No
capitalismo, a incluso pela via do mercado ainda a mais garantida e estrutural,
ainda que este efeito no provenha do mercado, mas sobretudo da cidadania capaz de
se impor ao mercado (DEMO, 2002, p. 20 e 36).
Para concluir esta seo, cabe realizar uma definio-sntese do conceito de excluso
social tendo em vista a perspectiva terica adotada nesta tese. O conceito se refere a um
processo social, diferentemente de outros dois fenmenos ligados excluso, a pobreza e a
desigualdade, que remetem a situaes, estados momentneos (mesmo que de longa durao).
Tal processo em si complexo e multifacetado, configurado a partir da conjugao de
dimenses materiais e subjetivas, envolvendo o indivduo e suas relaes com a sociedade.
Traduz as contradies da sociedade capitalista de classes, de modo que, como bem afirma
Sawaia (2006, p. 9),
E
finalmente, eminentemente dialtico, onde a excluso social s existe conjuntamente e em
relao ao seu contraponto, a incluso social.
Pode se afirmar que a anlise do processo de excluso social alcana maior
concretude se ; ou seja, se
a ateno se volta para os referenciais da excluso. Assim, com vistas a analisar a dinmica de
desigualdades socioespaciais no espao urbano, utilizar-se- o termo excluso/incluso para
designar o processo social amplo do qual a excluso parte produtor de desigualdades
socioespaciais. Em outras palavras, para os objetivos desta tese, as desigualdades sociais e
seus reflexos sobre o espao urbano so apreendidos na perspectiva de graus diferenciados de
excluso e incluso social.12
12
Doravante, para fins de organizao do texto, sero utilizadas as expresses excluso social para
remeter aos processos e situaes de privao e/ou carncia, e excluso/incluso social para se referir ao processo
social produtor de desigualdades sociais, embora tal separao no exista na realidade.
-
25
No prximo item so apresentadas reflexes sobre a importncia do conceito de
excluso social para a anlise geogrfica do espao urbano, dentro da perspectiva terica da
excluso/incluso.
1.2 EXCLUSO/INCLUSO SOCIAL: PARA UMA ABORDAGEM GEOGRFICA DAS DESIGUALDADES
SOCIOESPACIAIS
O conceito de excluso social, entendido numa perspectiva relacional (em associao
incluso social), fornece importantes subsdios terico-metodolgicos para a anlise das
desigualdades socioespaciais. Sendo o espao geogrfico uma instncia social, cuja produo
, ao mesmo tempo, resultado e condicionante das relaes sociais13
, as assimetrias inerentes a
uma sociedade de classes tero implicaes importantes na configurao espacial, a qual ser
no s desigual, como tambm hierarquizada em termos sociais, como aponta Bourdieu (1997,
p. 160):
No h espao, em uma sociedade hierarquizada, que no seja hierarquizado e que
no exprima as hierarquias e as distncias sociais [...]. A posio de um agente no
espao social se exprime no lugar do espao fsico em que est situado.
Em convergncia com esta acepo, Melazzo e Guimares (2010, p. 25) salientam
que os lugares, sendo relacionados hierarquicamente entre si, [...] reforam tambm as
posies e situaes dos diferentes agentes sociais, na medida em que o uso contnuo desse
A importncia geogrfica da anlise da excluso social reside, portanto, na
organizao espacial14
desigual enquanto elemento ativo na produo de assimetrias sociais e
13
Como definio de espao geogrfico, partir-se- da acepo de Milton Santos (2002) para quem o
espao composto de sistemas de objetos espaciais e tambm de sistemas de aes sociais, sistemas estes que se
entrelaam constituindo um conjunto solidrio, inseparvel e contraditrio. Os diferentes sistemas se influenciam
mutuamente, condicionando, num movimento nico, a organizao espacial e a vida social. 14
Utilizar-se-
referir ao espao social produzido e estruturado, seguindo ainda a ideia de que todo espao social apresenta certa
ordem, ainda que catica do ponto de vista de determinados segmentos sociais. Embora seja sabido que
a diferentes correntes do pensamento geogrfico, no est no escopo do presente trabalho apresentar essa
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26
situaes de precariedade.
que so, em primeiro lugar, desigualdades territoriais, porque derivam do lugar onde cada qual
O espao , assim, [...] fator dinmico no processo de excluso/incluso social
na medida em que expressa a distribuio dos bens civilizatrios direcionados qualidade de
(SPOSATI, 2003, p. 16).
De acordo com Costa (1998), o reconhecimento da dimenso espacial no estudo da
excluso social a qual denomina relativamente recente
[...] e tem a ver com o facto de existirem certas situaes em que a excluso diz respeito no
apenas s pessoas e famlias, mas a todo um territrio (p. 16). Tomada em escalas regional e
nacional, a excluso social se traduz espacialmente em reas desprivilegiadas no
desenvolvimento socioeconmico. Trata-se de pores do territrio nacional insuficientemente
atendidas quanto a atividades econmicas geradoras de emprego e renda e de infraestrutura
tcnica e social necessrias a uma boa qualidade de vida e manuteno da populao nestes
espaos (COSTA, 1998; CAMPOS et al., 2003).
Por sua vez, em escala intraurbana, so exemplos disso determinadas reas
residenciais de periferias pobres, que apresentam grande precariedade quanto habitabilidade,
so parcamente atendidas por servios pblicos e com localizaes distantes dos principais
centros de trabalho e consumo. o caso tambm de favelas e loteamentos clandestinos, onde a
precariedades como as relatadas, acrescenta-se o sentimento de insegurana que atinge a
populao habitante, proveniente da situao jurdica irregular quanto propriedade da rea
ocupada (GRAZIA; LEO JNIOR, 2002).
Ademais, cabe ressaltar ainda que a organizao espacial desigual tambm possui
uma dimenso simblica que incide sobre a esfera psicossocial, em que as situaes de
pobreza e precariedade vigentes em determinados espaos residenciais contribuem para a
fragilizao de vnculos de indivduos e famlias com a sociedade. o que ocorre com
moradores de determinados bairros que, no imaginrio social, so vistos como sendo
intrinsecamente negativos: locais
a expresso organizao
espacial possui, a nosso ver, vrios sinnimos: estrutura territorial, configurao espacial, formao espacial,
arranjo espacial, espao geogrfico, espao social, espao socialmente produzido ou, simplesmente, espao. Dizer
que cada uma delas corresponde a uma especfica viso de mundo e, ainda, que uma melhor que a outra
constitui, a nosso ver, falsas assertivas, de natureza form idem, p. 55).
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No raro, as populaes
residentes nessas localizaes sofrem os estigmas que so atribudos aos espaos onde
residem, o que interfere em outras esferas da sociedade, como, por exemplo, na busca por
emprego e na integrao com outros segmentos sociais, tal como relatam, por exemplo,
Giacomini, Hayashi e Pinheiro (1987) e Souza (2003).
Em todos estes casos, segundo Costa (1998), legtimo falar em excluso social pela
via territorial, pois
[...] as condies de vida das famlias dificilmente podem melhorar se no se
tomarem medidas que promovam o progresso de todo o espao, nos domnios da
habitao, dos equipamentos sociais, das acessibilidades, e at de actividades
econmicas. uma situao em que todo o territrio est excludo da cidade (no caso
de um bairro) ou do pas (caso do concelho [ou da micro/mesorregio, no caso
brasileiro]) a que pertence (p. 16).
A anlise das desigualdades socioespaciais urbanas parte, portanto, da identificao
dos processos de excluso social em sua relao com a organizao espacial. Segundo
Melazzo e Guimares (2010), as imbricaes entre as excluses sociais e as dinmicas
espaciais urbanas podem ser apreendidas por diferentes vias de anlise, desde as que focam na
definio dos locais onde as condies de excluso se materializam, at aquelas que buscam,
na prpria produo dos territrios urbanos, dimenses objetivas e subjetivas das trajetrias
das excluses sociais. Elucidar essas imbricaes significa estes gegrafos,
buscar os vnculos entre territrio e desigualdades ou, colocado de uma maneira mais direta,
reconhecer que a produo territorial como produo social processo no desprezvel na
diferenciao social (idem, p. 23). E neste contexto que a anlise geogrfica das
desigualdades por meio do conceito ganha concretude a partir da compreenso do processo de
excluso/incluso social, pois:
[...] o territrio produzido e consumido a partir das relaes sociais s poder ser
plenamente compreendido se, em sua elaborao, for includo o fundamento dos
processos sociais: as relaes de excluso e incluso que permanentemente so
repostas, reelaboradas e retrabalhadas como relaes de conflito e poder entre classes
sociais antagnicas (idem, p. 31, grifo meu).
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Proposto pela assistente social Aldaza Sposati (1996), o conceito de
excluso/incluso, como foi comentado, parte da concepo de que ao se falar de excluso
social enquanto processos de privao e precarizao das condies de vida, remete-se, ao
mesmo tempo e necessariamente, incluso social, uma vez que essa precarizao ou privao
ser sempre relativa, tendo uma determinada condio social mnima desejvel como
referencial.15
E nesse princpio reside outra importante vantagem do conceito para a anlise
geogrfica, diretamente alvo de interesse nesta tese, que o fato de possibilitar uma
vinculao mais simples entre duas dimenses da pesquisa sobre desigualdades socioespaciais.
De um lado, o que ser chamado de universo terico-conceitual, isto , a compreenso, em
bases tericas, das situaes de incluso e de excluso social como indissociveis entre si,
componentes dialticos de um mesmo processo produtor de desigualdades sociais. De outro, o
universo de representao, que correspondente s possibilidade