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Cristina Pereira de Araujo. Arquiteta e educadora; mestre em Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP); coordenadora do Curso de Gestão Ambiental (UniFMU). Sérgio Bernardes da Silva Geógrafo (USP); professor do Curso de Gestão Ambiental (UniFMU). 11 Localizado no extremo sul do Estado da Bahia, a 16º26' Latitude Sul e 39º05' Longitude oeste, o município abrange uma área de 2408,41km² e possui cinco distritos: Arraial D'Ajuda, Caraíva, Porto Seguro (distrito da sede municipal), Vale Verde e Trancoso. Sua distância em relação a capital, Salvador, é de 707 km. AS DUAS PORTO SEGUROS Fonte: Rocha, 2000. Figura 1: Mapa de localização do município de Porto Seguro. Destaque à Rodovia BR-367, que liga a Rodovia BR-101 aos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, que se limita ao norte com Porto Seguro. Porto Seguro Rodovia BR-367 Rodovia BR-101

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Cristina Pereira de Araujo. Arquiteta e educadora; mestre em Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP);

coordenadora do Curso de Gestão Ambiental (UniFMU).

Sérgio Bernardes da SilvaGeógrafo (USP); professor do Curso de Gestão Ambiental (UniFMU).

11Localizado no extremo sul do Estado da Bahia, a 16º26' Latitude Sul e 39º05' Longitude oeste,

o município abrange uma área de 2408,41km² e possui cinco distritos: Arraial D'Ajuda, Caraíva, Porto

Seguro (distrito da sede municipal), Vale Verde e Trancoso. Sua distância em relação a capital,

Salvador, é de 707 km.

AS DUAS PORTO SEGUROS

Fonte: Rocha, 2000.

Figura 1: Mapa de localização do município de Porto Seguro. Destaque à Rodovia BR-367, que liga a Rodovia

BR-101 aos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, que se limita ao norte com Porto Seguro.

Porto Seguro

Rodovia BR-367

Rodovia BR-101

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A história de Porto Seguro se confunde e inicia com o Descobrimento do Brasil, em de 22 de

abril de 1500. Por quase três séculos esquecida, da exploração inicial do extrativismo de pau-brasil ao

regime de feitorias e capitanias hereditárias, foi palco de lutas entre colonizadores e colonizados: os

índios tupis e aimorés; lutas sangrentas que conferiram estagnação ao povoado por um longo período.

Até a criação da capitania, sua economia fundamentava-se na extração de pau-brasil e outros

produtos naturais. Com a chegada dos colonos, a economia diversificou-se com a organização de

entradas e bandeiras em busca de pedras preciosas e com a instalação de engenhos de açúcar. Do

início do século XVII a meados do século XVIII a vida social e econômica da Capitania manteve-se

estagnada, em função das constantes batalhas decorrentes da insubmissão indígena à colonização

imposta, até que em 1759, a Capitania de Porto Seguro passou aos bens da Coroa, vindo depois a

fazer parte da Província da Bahia e, sendo para esta, fornecedora de gêneros alimentícios, algodão e

madeira. O distrito de Porto Seguro foi criado em 20 de outubro de 1795, que através de alvará,

elevou a capela à condição de freguesia. Com o advento da República, Porto Seguro seria elevado à

categoria de cidade a 30 de junho de 1891.

Contudo, seria somente após a implantação da Rodovia BR-101, em 1973, que o extremo sul

baiano seria definitivamente integrado à economia do país: num primeiro momento, através do ciclo

de extração e exportação de madeiras nobres, cujo processo de moto-mecanização teria sido

viabilizado pela construção das estradas, contribuindo efetivamente para a devastação da Mata

Atlântica na região, e, substituição desta por grandes áreas de pasto; e, num segundo momento, pela

atividade turística, através da construção de um ramal da BR-101: 62 km de estrada asfaltada que

conduziria aos núcleos de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália.

E assim se iniciaria o processo de expansão turística de Porto Seguro: o município que vivia

basicamente isolado, sobrevivendo da pesca, do corte da madeira e da agricultura de subsistência, iria

se transformar, num espaço de vinte anos, no segundo maior pólo turístico do Estado da Bahia.

A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO EM FUNÇÃO DO TURISMO

Na década de 70, quando do início da ocupação turística, a sua população era de 33.108

habitantes, de caráter predominantemente rural. Porto Seguro contava em 1974 com três hotéis,

uma pousada e quatro pensões, contabilizando 344 leitos e registro de 30.131 visitantes. Já na década

de 80, a cidade passaria a receber mais de 200 mil turistas/ano, ficando conhecida como a “Terra da

Lambada” e na década de 90, o “axé music” seria o ritmo dominante, consagrando a região como

referência de lazer nacional.

O êxodo rural - provocado pela retração da lavoura cacaueira, o declínio da atividade

extrativa da madeira e a expansão da pecuária sobre as áreas desmatadas, seriam os fatores que se

integrariam e explicariam esta migração não só interna como também regional para a área urbana,

onde a intensa expansão do turismo demandava mão-de-obra.

Assim, o núcleo urbano passou a obedecer à lógica da especulação imobiliária e foi zoneado

segundo os interesses dos investidores: as áreas centrais de Porto Seguro, Arraial d'Ajuda e Trancoso

passaram por mudanças de uso, de residencial, para pousadas, comércio e serviços; a orla norte, à

margem esquerda da Rodovia BR-367 em direção a Santa Cruz Cabrália, passou a abrigar hotéis de

categoria, quase todos eles vinculados a uma companhia de turismo; e por fim, a população local e

migrante passou a ocupar as áreas periféricas da cidade.

Dessa forma, Porto Seguro atravessaria o século XX com uma população na ordem dos

95.721 habitantes, predominantemente urbana, e taxa de crescimento de 10,16% ao ano (tabela 1).

A cidade progressivamente foi atraindo turistas, investidores e moradores que contribuíram

decisivamente para a modificação da paisagem, culminando na década de 1990, com a implementação

do Prodetur-BA, quando a cidade já apresentava claros sinais de deterioração do produto turístico e,

portanto, ameaça de perda de rentabilidade para o setor.

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O Prodetur – Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste, surgiu em meio à

Política Nacional de Turismo e como uma tentativa de qualificar as regiões do Nordeste para o

turismo receptivo, sobretudo internacional, num cenário de crise econômica nacional, conhecido

como as “décadas perdidas” (Araujo, 2004). O programa seria criado pela Sudene e Embratur,

“Portaria Conjunta nº 001”, de 29 de novembro de 1991.

Através de financiamentos gerados pelo Banco do Nordeste do Brasil com recursos

repassados pelo BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento e contrapartidas estaduais, o

Prodetur se propôs a financiar projetos prioritários de infra-estrutura, nos setores de saneamento,

transportes, administração de resíduos sólidos, recuperação e preservação ambiental, preservação

do patrimônio histórico e aeroportos.

E foi assim que, com o apoio do governo federal e de organismos financeiros internacionais,

os nove estados nordestinos instituíram a Política de Megaprojetos Turísticos e o Prodetur-NE. A

primeira teria como meta a ampliação da infra-estrutura hoteleira regional e a segunda, melhorar

aspectos relacionados à infra-estrutura e apoio institucional.

Dentro desse contexto surgiria ainda no mesmo ano o Programa de Desenvolvimento

Turístico da Bahia – Prodetur-BA, tendo como o seu primeiro pólo turístico de ação a zona turística

denominada Costa do Descobrimento, compreendendo os municípios de Porto Seguro, Santa Cruz

Cabrália e Belmonte.

O fato de a Costa do Descobrimento ser o segundo pólo turístico do Estado (atrás somente

de Salvador), somado às comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, foi o fator

determinante para a escolha dessa zona turística como marco inicial para o início dos investimentos

do programa.

Encerrada a fase I do projeto, com recursos liberados para a Costa do Descobrimento na

ordem de US$ 73.564 milhões em 1996, a avaliação institucional executada pelo BID (Whiting, 2001),

calcula que o programa Prodetur-NE atingiu o seu propósito de melhorar a infra-estrutura básica e

serviços públicos nos estados onde já havia uma crescente demanda turística. Em contrapartida atesta

que a análise dos impactos ambientais foi limitada, sobretudo com relação às obras de rodovias e

saneamento, atribuindo esse fato à falta de capacidade institucional e um planejamento desarticulado

entre Estado e municípios envolvidos.

Para Cruz (2001), Prodetur e política de megaprojetos se complementam, sendo que o

primeiro abraça e provê o segundo. A indução de investimentos em infra-estrutura turística, a partir

do capital privado, é a base estratégica do Prodetur, cuja contrapartida estatal é a provisão de infra-

estrutura básica. Sob a roupagem de uma política de turismo, o Prodetur faz o papel de uma política

urbana.

Tabela 1. População Residente do Município de Porto Seguro, série histórica

Fonte: IBGE 1958, 2000.

População residente em Porto Seguro 1950 – 2000

Ano

População residente

Total Urbana Rural

1950 25826 3099 22727 11,99 10,72

1970 33108 3661 29447 11,06 13,75

1980 46304 5742 40562 12,40 19,22

1991 34661 23315 11346 67,27 14,40

1996

64957 52241 12716 80,42 27,00

2000 95721 79619 16102 83,18 39,74

Taxa deUrbanização

(%)

DensidadeDemográfica

hab/km²

O Espaço Segmentado

A leitura que se faz da atuação do programa no município de Porto Seguro é que o Prodetur

foi absorvido pelo poder público como um instrumento de planejamento territorial, o que não é.

Assim, a falta de uma política de planejamento urbano que o antevisse acabou por gerar investimentos

pulverizados e à revelia do todo, gerando uma outra Porto Seguro.

Desde a década de 1980, a expansão urbana resultante do afluxo da população migrante

(tabela 1), acabou por gerar uma população favelizada e à margem da estrutura montada pelo

mercado para atender o turismo. Atrás das oportunidades de trabalho geradas pelo setor, essa

população encontrou serviço, mas não o direito à cidade, tendo como alternativa de moradia as áreas

não selecionadas pelo mercado turístico, já que o poder local não se encarregou de preparar um

ordenamento do solo que abrigasse esse contingente populacional.

O mapa pictórico a seguir, seguido das fotos, ilustra claramente o fosso existente entre os

espaços turísticos e os espaços dos moradores, fruto de loteamentos clandestinos, invasões e

autoconstruções.

Na cidade baixa, em áreas sujeitas à inundação e mais afastadas do centro e da orla, foram

surgindo bairros periféricos. Soma-se a essa ocupação executada de forma desordenada, a carência

de infra-estrutura: o esgoto é lançado em córregos que desembocam diretamente na foz do Rio

Buranhém, contaminando o mangue e as praias.

Fonte: Mapa turístico de Porto Seguro, sem autor. Intervenções de Cristina Araujo.

Figura 2: A Porto Seguro dos moradores: que não aparece no mapa pictórico, vendido aos turistas.

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Contudo, as áreas inundáveis e periféricas da cidade baixa não foram suficientes para abrigar

o contingente populacional. Assim sendo, foram surgindo loteamentos ao longo da BR- 367, em áreas

ambientalmente frágeis, desmatando florestas, cabeceiras de rios, ocupando encostas.

Os loteamentos à margem da Rodovia BR-367 são executados sem nenhum princípio de

ordenamento e ocupação. Com R$ 3.000,00 (valor de janeiro de 2001) compra-se um terreno de

350m² no bairro Mirante, “a escritura do terreno vem depois, mas é negócio garantido”, segundo

depoimento do proprietário do lote.

Fonte: Cristina Araujo e Sérgio Bernardes

Figura 3: Evolução da ocupação do município de Porto Seguro sobre fragmento de ortofocarta cedida

pela Veracel Celulose S.A. Destaque à ocupação do mangue e à locação das fotos 1 e 2.

Fotos 1 e 2: Aspectos da ocupação urbana no bairro Campinho, em Porto Seguro, entre as ruas da Vala e

Bernardo Spector, próximo à foz do Rio Buranhém. À direita: detalhe do “açougue”.

Crédito: Cristina Araujo, 2001.

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Com a carência de infra-estrutura, o esgoto é lançado “in natura” e segue o curso dos rios. Os

rios do Mangue, da Vila e Jardim, cuja foz são as praias da orla norte de Porto Seguro, são atravessados

por esses loteamentos.

O bairro Frei Calixto, popularmente conhecido como “Baianão” ilustra bem a ocupação

periférica decorrente dos fluxos migratórios em função do turismo. O Baianão assumiu proporção

tamanha que o Sebrae de Porto Seguro preparou um “Censo Empresarial do Baianão” (Alves, 2003).

Segundo o referido documento, estima-se uma população de 42.000 habitantes para a

localidade, o que significa 43,8% da população residente do município de Porto Seguro.

Pormenorizando a análise, os dados do censo (IBGE, 2002) revelam que os bairros pertencentes ao

distrito de Porto Seguro somam 64.295 habitantes, ou seja, 65,33% da população residente no

núcleo de Porto Seguro vive no Baianão; os demais, residem ou na Cidade Baixa e demais bairros da

Cidade Alta (como o loteamento Mirante, por exemplo), ou nos distritos de Arraial d'Ajuda, Vale

Verde, Trancoso e Caraíva que, de uma forma análoga (excetuando-se a comunidade de Vale Verde)

também sofrem a pressão imobiliária e geram espaços de exclusão tais como os bairros de São Pedro

e Santiago no Arraial e Nova Trancosinho, em Trancoso.

Figura 4: Anúncio publicado no jornal “Topa Tudo”, de 08/07/2002.

Foto 3: Loteamento Mirante, lotes à venda e autoconstrução; próximo à pista de pouso do Aeroporto de Porto Seguro (ver figura 5 para uma localização aproximada da foto).

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Figura 5Ae 5B: Loteamentos localizados na “Cidade Alta” de Porto Seguro, à margem da Rodovia BR-367,

em área de Mata Atlântica, sobre cabeceiras e encostas. As ortofotocartas cedidas pela Veracel Celulose, cuja data

de vôo é o ano de 1996, registram a fragmentação da vegetação e abertura indiscriminada de loteamentos

à margem direita da Rodovia BR-367.

BR-367

CidadeBaixa

LoteamentoMiranteFoto 3

BaianãoFotos 4 e 5

Fotos 4 e 5: Aspectos do bairro Baianão. A foto à esquerda registra o núcleo central do bairro, urbanizado;

a foto à direita, a ocupação de encostas, também no núcleo central do bairro.

Crédito: Cristina Araujo e Sérgio Bernardes

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No Arraial d'Ajuda (foto 6), o acesso aos bairros dá-se pela vila, em locação diametralmente

oposta à vila turística, separados pelo antigo campo de aviação, construído em 1939 e que hoje

corresponde ao Parque Central do Arraial; ou através da Rodovia BA-001, que liga Arraial a Trancoso,

já no perímetro urbano do Arraial.

Estrada para TrancosoRodovia BA-001

Bairro de Santiago

Foto 8

Bairro de São Pedro

Foto 9

Bairro deSão Francisco

Parque Central

Vila TurísticaFoto 6

Várzea do RioBuranhém

Ladeira N. Sra. da Ajuda

Figura 6: A vila turística do Arraial em contraponto à localização dos bairros. Todos os bairros foram criados a

partir da década de 1990, fruto da ocupação da vila pelo turismo. Desta forma, o bairro São Francisco abriga

moradores com um poder aquisitivo maior que os de São Pedro e Santiago, que pode ser verificado pela densidade

construtiva, bem como ocupação de encostas, em São Pedro e Santiago.

Crédito: Intervenções de Cristina Araujo sobre ortofoto cedida pela Veracel Celulose S.A., 1996.

Foto 6: a vila turística de Arraial, onde não se vê moradias.

Crédito: Cristina Araujo e Sérgio Bernardes

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Foto 7: a praia do Mucugê.

Fotos 8 e 9: A Arraial dos moradores – aspectos do bairro de Santiago, à esquerda,

e do bairro de São Pedro, à direita.

Crédito: Cristina Araujo e Sérgio Bernardes

Crédito: Cristina Araujo e Sérgio Bernardes

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A segregação espacial ora apresentada tem o seu reflexo nos indicadores econômicos e

sociais do município.

O IDE, Índice de Desenvolvimento Econômico, obtido através dos níveis de infra-estrutura,

qualificação da mão-de-obra e PIB municipal, confere ao município de Porto Seguro a posição de 17º

lugar no ranking estadual, colocação esta associada, sobretudo ao PIB, que afere ao município a 19º

economia mais importante do Estado em termos de volume de produção de bens e serviços.

Em contrapartida, a análise do Índice de Desenvolvimento Social, o IDS, medido em função

dos níveis de saúde, educação, oferta de serviços básicos e renda média dos chefes de família, faz com

que a colocação do município caia para 48º lugar no ranking estadual (SEI,2002).

Atestando a diferença entre os indicadores sociais e econômicos, o Índice da Exclusão Social,

proposto por Pochmann e Amorim (2003), medido através da análise dos indicadores de padrão de

vida digno, escolaridade e risco juvenil, revela que o município de Porto Seguro está na posição 2603,

entre os 5.507 municípios brasileiros, conforme explicitado na tabela abaixo.

Com relação aos índices aferidos para o município de Porto Seguro, os índices de violência e

desigualdade se destacam e confirmam a pulverização de investimentos no município, resultado da

fragmentação do espaço urbano: todas as obras de infra-estrutura visaram a melhoria dos acessos e

condições para os empreendimentos hoteleiros e não para a cidade como um todo, o que resultou

em uma clara e demarcada fragmentação do espaço e, conseqüentemente, em exclusão social.

CONCLUSÃO

Diante dos exemplos de ocupação apresentados, parece-nos claro que, embora o Prodetur

tenha melhorado as condições do “produto Porto Seguro”, com vistas ao incremento da demanda e

melhora da oferta, sua atuação ocorreu de forma unilateral e contribuiu para acentuar as

segregações espaciais.

Acreditamos que a ausência de instrumentos de política urbana em Porto Seguro fez com que

o Prodetur fosse encarado como tal, o que de fato, ele não é. Daí explica-se o fato de os

investimentos serem pulverizados e privilegiar o setor turístico do município; faltou, portanto, uma

política de planejamento urbano anterior ou em consonância com o programa que viabilizasse a sua

implementação e contemplasse a área urbana em sua íntegra.

Fonte: Pochmann e Amorim (2003).

Índice de Pobreza

Índice de Juventude

Índice de Alfabetização

Índice de Escolaridade

Índice de Emprego Formal

Índice de Violência

Índice de Desigualdade

Índice de Exclusão Social

0,886

0,969

0,949

0,878

0,74

0,908

0,786

0,864

São Caetano do Sul

SalvadorPorto

Seguro

0,599

0,718

0,893

0,759

0,285

0,972

0,247

0,597

0,506

0,503

0,748

0,467

0,12

0,947

0,1

0,446

Tabela 2: Índices que compõem o Índice de Exclusão Social em São Caetano do Sul (SP), que ocupa a

1ª posição no ranking, Salvador – 226º lugar e Porto Seguro – 2603º lugar.

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REFERÊNCIAS

ALVES, Richard. Centro Empresarial do Baianão – 2003. Porto Seguro, SEBRAE, 2003.

ARAUJO, Cristina Pereira de. Porto (in)Seguro: A perda do Paraíso: os reflexos do turismo na sua paisagem. Dissertação de Mestrado, USP, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo:2004.

CRUZ, Rita de Cássia. Política de Turismo e Território. São Paulo: Contexto, 2001.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Volume XXI. Rio de Janeiro: IBGE, 1958.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico 2000. Agregado de Setores Censitários dos Resultados do Universo. Documentação dos Arquivos de Dados. Centro de Documentação e Disseminação de Informações. IBGE: Rio de Janeiro, 2002.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico 2000. Resultados do Universo. Disponível na internet <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 15 de julho de 2005.

POCHMANN, Márcio. AMORIM, Ricardo (org.). Atlas da exclusão social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003.

ROCHA, Antonio José Dourado e RAMOS, Maria Angélica Barreto (org.). Projeto Porto Seguro – Santa Cruz Cabrália. Programa Informações para Gestão Territorial. Salvador: CPRM, 2000.

SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Índices de Desenvolvimento Econômico e Social dos Municípios Baianos - 2000.Salvador: SEI, 2002.

WHITING, Sandra S. FARIA, Diomira. Avaliação dos Impactos Ambientais e Sócio-Econômicos do PRODETUR I. Preparado para Banco Interamericano de Desenvolvimento. Agosto de 2001. Disponível em http://www.iadb.org. Acesso em: 26, outubro, 2003.

Embora Porto Seguro possua um levantamento cartográfico em escala de detalhe (as

ortofotos que ilustraram este artigo), o mesmo parece não ter sido utilizado como subsídio para o

planejamento urbano.

Fica aqui uma última reflexão: um programa da magnitude do Prodetur, além do investimento

em infra-estrutura e proposição de parcerias público/privada precisa, igualmente, investir em

capacitação institucional, instrumentos de fiscalização eficazes e, sobretudo, em planejamento

participativo, para que não recaia nas velhas formas de apropriação do espaço urbano, em que este é

reflexo de interesses imobiliários e elites dominantes, reproduzindo, por conseqüência,

desigualdade e segregação.

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