as feições geomorfológicas e geológicas e a contribuição ... · estes fatores registrou-se um...
TRANSCRIPT
VI Encontro Nacional da Anppas
18 a 21 de setembro de 2012
Belém-PA – Brasil
As feições Geomorfológicas e Geológicas e a contribuição na
formatação de um novo produto (Geoturismo) no município de Mucajaí -
RR.
Ana Sibelonia Saldanha Veras1
Geógrafa e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia - UFRR, [email protected]
Luiza Câmara Beserra Neta2
Profª.do Depto. de Geografia-Instituto de Geociências - UFRR, [email protected]
Stélio Soares Tavares Junior3
Profº.do Depto.de Geologia-Instituto de Geociências - UFRR, [email protected]
RESUMO
O município de Mucajaí, localizado na região centro-oeste do Estado de Roraima, é rico em belezas naturais, com destaque para as feições geomorfológicas que formatam um cenário promissor para o potencial geoturístico, especialmente como fator de integração do turismo cientifico e cultural do município. Assim, conduzindo a um melhor conhecimento dos recursos naturais para utilização de novos produtos turísticos de caráter cultural e cientifico possíveis de serem aproveitados na economia local. O objetivo da pesquisa foi analisar o geoturismo como atividade de visitação em áreas de extraordinária beleza cênica, conhecer aspectos geológicos e geomorfológicos, conduzindo a um melhor conhecimento e aproveitamento econômico dos recursos naturais. A metodologia utilizada no decorrer do estudo, contou com pesquisabibliográfica, trabalho de campo, onde foram aplicados questionários destinados a gestores públicos e empresários, e georeferenciamento dos pontos geoturísticos. Como resultado, o município é detentor de um cenário paisagístico em que os aspectos geológicos-geomorfológicos atribuem a região uma beleza cênica de grande valor natural, como a ocorrência da Pedra da Paixão, Pedra do Triunfo, dentre outras que atribuem ao município um grande atrativo no segmento do geoturismo.
INTRODUÇÃO
O “Geoturismo” é um segmento ainda pouco conhecido no Brasil, com poucas
publicações na língua portuguesa, os primeiros trabalhos científicos foram iniciados por
pesquisadores da comunidade cientifica internacional, sendo estes europeus e com objetivo de
incentivar a conservação do patrimônio geológico e proteção de sítios e paisagens de interesse
geológico. Destaca-se a Itália com a criação da “Associazone Nazionale Geologia & Turismo” em
parceira com os serviços geológicos italiano, que tem como objetivo valorizar o patrimônio
geológico italiano, em particular geosítios, com a finalidade de um turismo de qualidade.
Ruchys apud Silva (2008) conceituou geoturismo como: “um segmento da atividade
turística que tem o patrimônio geológico como seu principal atrativo e busca sua proteção por
meio de conservação de seus recursos e da sensibilização do turista, utilizando para isto, a
interpretação deste patrimônio tornando-o acessível ao público leigo, além de promover a sua
divulgação e o desenvolvimento das ciências da Terra”.
A partir dos anos 90, foram criadas associações e desenvolvidos projetos que
propiciaram aos serviços geológicos de vários países iniciarem o inventário dos pontos de
interesse geológico nacionais. Logo, vê-se que nos países onde existia uma boa interação com
estes fatores registrou-se um rápido desenvolvimento econômico e cultural, associando-se, ainda,
a uma elevada conscientização de se preservar os patrimônios naturais.
No Brasil, destacam-se as ações geoturísticas associadas com a geoconservação, a
exemplo dos projetos Caminhos Geológicos do Estado do Rio de Janeiro, sítios geológicos e
paleontológicos integrados a roteiros turísticos no Estado do Paraná, além dos roteiros
geoturísticos dos Estados da Bahia e do Rio Grande do Norte.
O desenvolvimento desse segmento parte dos estudos das variáveis geomorfológicas
e geológicas FLORENZANO (2008). Através de pesquisas e identificação dos aspectos e
geomorfológicos, os quais poderão vir a se tornar atrações geoturísticas.
O Estado de Roraima apresenta grande diversidade em suas paisagens, o que leva a
cenários exuberantes, a exemplo das serras, chapadas, rios, bem como a variada vegetação que
recobrem essas morfologias. Dessa forma, os atrativos roraimenses de grande magnitude passam
despercebidos para um bom número de pessoas que não possuem a consciência da riqueza
natural e que essas atrações podem ser classificadas como geoturísticas, a exemplo do Parque
Nacional do Monte Roraima, Serra do Tepequém, Serra Grande e as Serras de Mucajaí, entre
outras localizadas em áreas indígenas.
OBJETIVOS
Analisar o geoturismo como atividade de visitação em áreas de extraordinária beleza
cênica, objetivando conhecer as feições geológicas e geomorfológicas, conduzindo a um melhor
aproveitamento econômico dos recursos naturais no município de Mucajaí-RR.
METODOLOGIA
Para dar suporte a este estudo, foi realizado levantamento bibliográfico sobre a
temática geoturística em base de dados especializados, institucionais e periódicos científicos com
objetivo de conhecer e caracterizar o geoturismo sob o ponto de execução desse novo segmento
no Brasil e para uma possível aplicabilidade no município de Mucajaí.
Os trabalhos de campo objetivaram a identificação e descrição dos pontos
geoturísticos no que diz respeito ao seu georeferenciamento e caracterização dos aspectos
geológicos e geomorfológicos, bem como de auxiliar no processo de edição de uma carta
imagem, com os pontos geoturísticos.
A carta imagem foi elaborada através da aplicação de técnicas de geoprocessamento
e processamento de imagens digitais, utilizando os aplicativos ArcGis versão 9.3 e PCI Geomatic
versão 10.2 respectivamente.
Nos resultados obtidos quando da aplicação dos questionários aos segmentos público
e privados, apurou-se unanimidade na intenção de elaboração de futuros projetos geoturísticos,
em que esse possa ser lançado com viabilidade de sucesso, a partir de estudo mais detalhado e
com os devidos cuidados com a preservação do meio ambiente. Comprovou-se, ainda, através
dos entrevistados que vêem na atividade do geoturismo, mudança de vida e alternativa
econômica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CENÁRIOS GEOTURÍSTICO DO MUNICÍPIO DE MUCAJAÍ-RR
Para GUERRA (2006) as formas de relevos são identificadas em diferentes escalas e
lugares, o município de Mucajaí é detentor de um cenário paisagístico em que os aspectos
geológicos-geomorfológicos atribuem a região uma beleza cênica de grande valor natural, o qual
pode ser um grande atrativo no segmento do geoturismo (Figura 1). Essa diferenciação que impõe
à paisagem um atributo maior no segmento turístico, ao mesmo tempo lhe confere um caráter
científico bastante interessante do município de Mucajaí.
PEDRA DA ENCENAÇÃO DA PAIXÃO DE CRISTO (A)
É um maciço rochoso em formato de morro com altitude de 128m, de topo alongado e
direção NE-SW, destaca-se na paisagem urbana da cidade de Mucajaí. Na litologia deste maciço
predominam rochas gnáissicas pertencentes à Suíte Metamorfica Rio Urubú. Destacam-se
representadas feições estruturais indicadoras de movimentos tectônicos, falhas transcorrentes.
RIO MUCAJAÍ (B)
O Rio Mucajaí cumpre um importante papel como fonte de abastecimento de água
potável para a cidade de Mucajaí e poderá representar um potencial na atividade geoturistica, no
que diz respeito a passeios de barcos, pesca esportiva, pesquisa cientifica, rafting e canoagem.
Sua nascente pertence à bacia do Rio Branco, com uma extensão de 4.129Km2,
possuindo ainda excedente hídrico estimado em 544mm, o que constitui um importante afluente
da margem direita do Rio Branco, segundo FEMACT (2002).
A morfologia de seu canal promove uma leve sinuosidade oferecendo várias praias
que cumprem a função social de lazer aos moradores, mas sem nenhuma utilização em escala
comercial de geoturismo, até o momento.
Da ponte sobre o Rio Mucajaí na BR 174, na entrada da cidade, destaca-se uma área
de possível utilização como mirante de contemplação permitindo ao visitante uma visualização do
canal e das características florísticas que compõem suas margens formando a mata ciliar.
PEDRA DO TRIUNFO (C)
Constituída por morros localizados ao redor de Mucajaí elaborados em gnaisse
pertencentes à Suíte Metamórfica Rio Urubú. De acordo com Projeto Roraima Central – CPRM
1999), essa feição pertence à unidade morfoestrutural Planalto Residual de Roraima, com
morfologia definida na forma de corpos alongados compostos por granitóides perfeitamente
preservados.
A Pedra do Triunfo é caracterizada por um grande paredão verticalizado, constitui-se
em uma pedreira a céu aberto, em decorrência da exploração econômica, revelando
potencialidades para fins ornamentais, pedras de cantaria e brita. A região é adequada, as
práticas de trilhas e o turismo geocientífico.
Figura 1 – Principais pontos geoturísticos de Mucajaí: (A) Pedra da Paixão de Cristo; (B) Vista Panorâmica do Rio Mucajaí; (C) Rocha utilizada na atividade ornamental e construção civil e (D) Principal entrada da cidade. (Imagem de satélite indiano RESOURCE SAT-1 LISS-3, cena 312/073; Resolução espacial 29/11/2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O segmento geoturismo pode oferecer uma oportunidade para dinamizar o turismo científico, além
de figurar um novo produto turístico, onde as feições geológica e geomorfológicas destacam-se
como riquezas a ser oferecidas e investigadas.
A atividade turística, se bem orientada em Mucajaí-RR, poderá contribuir para um maior
dinamismo econômico, mas também cultural, geológico, geomorfológico e científico e ainda
sensibilizar o turista para a proteção do patrimônio natural.
Há necessidade de se criar trilhas para facilitar o conhecimento desses locais de interesse
geológico, geomorfológico, e cultural. Uma vez criados roteiros turísticos para a comercialização,
observando a venda do produto com cuidado, com a preparação do geoturista na categoria
educação ambiental.
Diante dessa relevância no processo de argumentação relativo a paisagem como recurso turístico
para as diversas modalidades do segmento, em especial o geoturismo, é necessário salientar que,
toda paisagem, independentemente de possuir um valor estético, possui um significado e na
maioria das vezes, o sujeito humano representando grupos sociais que estão dotados de cultura
própria que também não precisam ser exóticos, mas integram e se tornam grandes atrativos
turísticos.
O turismo moderno não é mais o turismo de destino, mas também o turismo de experiência ou
experimentação, nesse foco de novas variantes como o geoturismo vão ao encontro do novo
turista mais exigente e mais informado, que procura acima de tudo, informação com lazer e
consciência.
A paisagem em Mucajaí é atrativa e possui um significado com componentes turísticos, sociais,
físicos e econômicos, por isso é necessário valorizá-la, independente de seu valor puramente
estético e menos degradado, devendo crescer e impulsionar a econômica local por meio do trade
turístico.
Recomenda-se que o município privilegie seu acervo geológico e geomorfológico, adotando
estratégias para a criação de novos destinos, divulgando e qualificando os condutores locais,
comerciantes, hoteleiros, donos de restaurantes e demais atores locais, que trabalham
informalmente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Projeto de Mapeamento Geológico/Metalogenético Sistemático. CPRM. Brasília, 1999. 211p.
FEMACT. Zoneamento Ecológico Econômico da Região Central do Estado de Roraima. Tomo I, II. Estado de Roraima, 2002.75p.
FLORENZANO, Gallotti Tereza (org.). Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo:Ed.Oficina de Textos, 2008.318p.
GUERRA, Antonio José Teixeira, MARÇAL, dos Santos Mônica. Geomorfologia Ambiental. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 2006.192p.
SILVA, C.Roberto Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado, para entender o presente e prever o futuro. Rio de Janeiro:CPRM, 2008. 264p.