as invariÂ~cias da percepÇÃo direta e o auto · mudaram ao longo da história. porém a própria...
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AS INVARIAcirc~CIAS DA PERCEPCcedilAtildeO DIRETA E O AUTOshy
ENGANO FATlJAL
Socircnia Ribeiro MORAIS 1
Resumo () o~jetio desta anaacutelise eacute relacionar o auto-engano huuaL tido como
lima tl1lha perceptiva com as invariacircncias ou s~ja estruturas estaacuteveis apresentadas
pela perspectiva da percepccedilatildeo direta O enfoque do presente trabalho estaacute no
campo da percepccedilatildeo entendendo por ela a relaccedilatildeo imediata e consciente entre
organismo e meio-ambiente atraveacutes da quaL o organismo ohteacutem infon11accedilotildees
para sua sobremiddotil~ncia Com a linalidade de delimitar a anaacutelise dentre os sentidos
da percepccedilatildeo enrocaremos o da isatildeo devido agrave importacircncia que o ser humano
lhe atrihui
PalaTas-chan~ auto-engano tagravetual inntrifmcias e ariacircncias penepccedilatildeo direta
Por auto-engano btuaF compncndemos a disposiccedilatildeo do sujeito
afirmar sohre um I~lto incorretamente deido fi sua percepccedilatildeo distorcida O
indiiacuteduo distorce os fatos por estar motivado a j~1Zecirc-lo embora natildeo esteja
LonsLilnte da motivaccedilatildeo e nem mesmo da accedilatildeo de middotmiddotdistorcer () ltluto-engano
IhtunL segundo Arruda (Identidade pessoal papel social e auto-engano aloratio
kstre cm filosofia pela UNESP Docente da FAC-FEACEP 16015-280 Araccedilatuba (SPl ( importante eplicar que natildeo haacute somente o auto-engano tltual Iluacute tambeacutem o auto
engano almati o em que a insinceridade do sujeito consigo mesmo estaacute no aIOL pnl lt1 elmente imagimiacuterin que ele atribui a uma Jltterminada coi~a leta retlt1o o autoshyengalw alurati (l natildeo seraacute analisado porque natildeo tstuacute direlecirclmente inculado agrave percepccedilatildeo e ~il1 a estados mentais como sentimentos interessts deeres ideais e (llllro~ mais nlacionaJos ~l atribuiccedilltl de alons e consequumlente escolha~ e accedilliacutees
2-1
middot p2) eacute tambeacutem denominado de auto-engano proposicionaL pois aparece como
proposiccedilatildeo descritiva de alguma coisa tagraveto ou evento
Arruda em seu texto Uma anaacutelise do auto-engano fagravetual publicado
na obra Encontro com as ciecircncias cognitilCls de 1998 (p 169) detine autoshy
engano [atual da seguinte fonna
Um sujeito S estaacute em auto-mentira fatual em relaccedilatildeo a
P no momento t se e somente se( I) S tem a dbrosiccedilagraveo
de afirmar P (l)S tem em algum grau duacutevidas sobre a
verdade de P e (3) o seu afirmar P nagraveo eacute um caso de
mentira interpessoal propriamente dita
Portanto para haver auto-engano fatual eacute preciso I) que o sujeito
afirme algo incorretamente Isto porque a mentira ou a insinceridade natildeo estaacute
no desejo Segundo Arruda (1998) o estado mental de desejar existe ou natildeo
Ixiste mas natildeo pode ser sincero ou insincero O desejo eacute apenas motivaccedilatildeo a
accedilatildeo eacute que se caracteriza qual itativamente como sincera ou insincera A segunda
caracteriacutestica do auto-engano tagravetual eacute que embora o sujeito atinne com convicccedilatildeo
sohre um fato haacute uma 1eC duacutevida que persiste forccedilando-o a reafirmaccedilotildees
constantes A terceira caracteriacutestica apresenta esta duacutevida como resultante do
indiviacuteduo natildeo estar mentindo apenas para algueacutem mas tambeacutem para si mesmo
Portanto de alguma f0Jl11a ek sahe que sua atiJl11accedilagraveo eacute incorrela poreacutem natildeo
se sente motivado a revisaacute-la
lv1esmo estando o sl~jeito a ati 1111 ar ou negar sohre um tagraveto eacute poss iacutecl
que os outros reconheccedilam seu engano Isto porque o tlllo ou evento ocorre
realmente e pode ser registrado como um acontecimento Nagraveo eacute mera ideacuteia nu
especulaccedilatildeo Mas de acordo com Hannah Arendt em sua ohra A c()l1di~il()
do homem moderno p287 nagraveo haacute garantia alguma que o registro de um fato
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pem1aneccedila intacto apoacutes suas distorccedilotildees e mesmo tentativa de eliminaacute-lo Os
latos ou eventos podem ser distorcidos pela opiniatildeo de quem os vecirc os vivenda
ou mesmo os interpreta adaptando-o agraves suas ideologias interesses ou crenccedilas
Este erro eacute iniciado com o sujeito detectando imprecisamente a ocorrecircncia a
seguir manipulando inconscientemente as opiniotildees e por fim desvirtuando sem
que saiha o proacuteprio fato Esta consequumlecircncia de acordo com o nosso ponto de
vista eacute uma hoa razatildeo para a anaacutelise do auto-engano tatuaI
Arendt na mesma ohra ao analisar a verdade btual na poliacutetica
afimla que apenas os entoques de interesse no desviltuamemo da verdade tatuai
mudaram ao longo da histoacuteria poreacutem a proacutepria distorccedilatildeo sempre se manteve
Um HltO de relevante importacircncia pode desaparecer por um longo periacuteodo (anos
deacutecadas nu mesmo seacuteculo dependendo () regime poliacutetico) distorcido por
opiniotildees A recuperaccedilatildeo de dados tatuais nos arquivos histoacutericos deixado por
alluma consciecircncia critica deve-se agraves evidentes lacunas ou uumlllta de coerecircncia quando analisado em algum momento histoacuterico posterior o que ohriga o
revisionista a buscar outros dados
A caracteriacutestica natildeo conclusiva dos latos em si mesmos diz Arendt
p 300 permite tais distorccedilotildees Ou seja os fatos natildeo se auto-justilicam eles soacute
tecircm sentido ao serem colocados em um contexto interpretati) que nem ao
menos eacute a uacutenica possibilidade (Arendt196 L p308-9) Citando Arendt (1961
p 3(1)
Eacute verdade que em retrospecto - isto eacute em perspectiva
histoacuterica - toda seqUecircncia de eventos aparece como se
nagraveo pudesse ter acontecido de outra forma mas isso eacute
uma ilusatildeo oacuteptica ou melhor existencial nada poderia
jamais acontecer se a realidade natildeo matasse por
definiccedilatildeo todas as demais potencialidades inerentes a
lima dada situaccedilatildeo
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Assim os fatos estatildeo a mercecirc das emoccedilotildees que formam a opiniatildeo
da maioria em detenninados momentos histoacutericos Mas isso natildeo quer dizer que
nagraveo haja uma interpretaccedilatildeo mais correta Embora as interpretaccedilotildees possam ser
manipuladas haacute um encadeamento de tagravetos que exige coerecircncia interpretativa
Como tambeacutem uma mentira na interpretaccedilatildeo acarreta outras numa sequumlecircncia
cujo fim eacute imprevisiacutevel mas geralmente fagraventasioso
Daniel Goleman em sua obra 1enliras essenciais lerdades
simples (p 97-99) cita como exemplo a anaacutelise de Ulric Neisser(em seu at1igo
John Deans Memory A Case Study Cognitiol1 Y 1981 1-11) sobre o
depoimento de John Dean Secretaacuterio de Estado de Nixon no caso Watergale
Goleman revecirc a parte do depoimento que se refere ao encontro de Dean com
1iXOll e Haldeman no Gabinete (hui em 15 de setembro de 1912 () que Neisser
constata eacute que somente 0 espiacuterito da conversa entre esses homens foi lembrado
com precisatildeo por Oean Ou seja ele retratou o encontro mas distorceu os
fatos isto eacute o conteuacutedo da conversa com o objetivo de se favorecer
O grande paradoxo do auto-engano tatuaI que o distingue das outras
mentiras eacute o mentir do sujeito para si mesmo Podemos perguntar como eacute possiacutevel
algueacutel1lmcntir para si mesmo jaacute que para tal feito eacute preciso que saiba sobre os
uumlnos Este problema foi muito investigado nas deacutecadas de 60 e 70 por algumas
ciecircncias entre elas a Psicologia Poreacutem de modo geral as pesquisas mantiveram
a perspectiva da tradiccedilatildeo representaeionista na qual a percepccedilatildeo resulta cm
primeiro lugar da sensaccedilatildeo motiaua pelo estiacutemulo do meio em cnntato com o
sujeito num segundo momento haacute o processo de reconhecimento proporcionado
por estruturas mentais organizadoras destas sensaccedilotildees que antecipadamente
reprimem tI conscientizaccedilagraveo de t~1tos que causam anguacutestia e ansiedade
Partindo do princiacutepio em que a percepccedilatildeo visual nagraveo depende de
esquemas mentais para intermediar a sensaccedilatildeo e a percepccedilatildeo e que nem mesmo
existe lima separaccedilatildeo entre elas (satildeo partes de um mesmo processo com di ferenccedila
Jllll 2005 27
apenas de graduaccedilatildeo) segundo Gibson em sua obra The ecgical approach
to lisw perccpliol1 acreditamos que pode haver uma explicaccedilatildeo coerente na
perspectiva da percepccedilatildeo direta que justifique a mentira do agente consigo mesmo
A estrutura do processo do auto-engano fatual apresenta-se como
repressatildeo e defesa em que lapsos de memoacuteria e lalhas na percepccedilatildeo alteram
ou eliminam um tagraveto Poreacutem segundo o enfoacuteque da percepccedilatildeo direta que
procuramos apresentar nagraveo haacute necessidade de csquemas representacionais para
reter o que quercmos esquecer e outros esquemas que substituam o reprovado
por nossas emoccedilotildees Parece-nos possiacutevel entender o auto-engano tatuaI como
um estado disposicional do indiviacuteduo que cria desios uacute sua percepccedilatildeo
produzindo uma experiecircncia perceptiva enganosa O estado disposicional pode
ser caracterizado como forccedilas ou propensotildees que possibilitam a ocon-ecircncia de
algo quando condiccedilotildees adequadas se apresentam (vIorais 20()() p86) Quando
[knn mente sobre elogios que receheu de lixon ao alertaacute-lo de que o caso
poderia ser reelado algum dia ele estaacute preacute-disposto a relatar sohre I~ltos que
contribuam com sua auto-estima E c natildeo estuacute preparado para aceitar seus elTOS
de conduta do caso
Assim o estado disposicional do indiviacuteduo predisposto
psicologicamente a natildeo aceiWr certos btos que o incomodum nagraveo perm ite ao
imliIacuteduo alinmiacute-1os C0l110 os detecta Em outras palanas se ()rccedilas psicoloacutegicas
que atuam no estado disposicional do sujeito criarem hatTeiras il sua percepccedilatildeo
ele a distorceraacute quando afirmar natildeo soacute para os outros como para si mesmo
Por llxccedilas psicoloacutegicas entendemos as emoccedilotildees (como ansiedade
medo e anguacutestia) que causam em algum grau impacto sobre as pessoas Essas
emoccedilotildees delineiam o estado diposicional do indiviacuteduo habilitando-o a prevenirshy
se para possiacuteveis fatos que lhe provocariam dor se viessem a ocon-er Como
As prm as apr~sentadas no processo demonstram que ele nagraveo alertou Nixon
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essa prevenccedilatildeo do estado disposicional natildeo eacute suficiente para impedir que os
fatos sucedam e sejam percebidos entatildeo geraraacute uma distorccedilatildeo no ato
consequumlente agrave percepccedilatildeo para se evitar a dor A accedilatildeo distorciva por sua vez
natildeo estando de acordo com a condiccedilatildeo orgacircnica do sujeito perceptivo que se
inter-relaciona com o meio no qual estaacute inserido levaraacute o sujeito que estaacute em
auto-engano a sentir algum mal estar uma sensaccedilatildeo de incerteza Desta fomla
podemos dizer que o auto-engano eacute um desajuste expresso na accedilatildeo efetiva do
indiviacuteduo entre suas (jf(mlan(es~ e as do meio ambiente Mesmo estando John
Dean diante de fatos que natildeo confirmavam seu depoimento ele o manteve
procurando reforccedilaacute-lo atraveacutes da narraccedilatildeo detalhada e imaginosa de outros finos
A traeacutes de tal desempenho procurava assegurar a si e aos outros que sua memoacuteria
era precisa
Em nossa concepccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo indiviacuteduomeio nas
disponibilidades ou ajfmlances do indiviacuteduo e do ambiente a causa da duacutevida
do incocircmodo prmOcado pela incoerecircncia da auto-mentira Mais especificamente
estaacute na incoerecircncia entre as invariacircncias das macro-estruturas dos estiacutemulos
informacionais que se apresentam como realmente sagraveo e as deksas do sujeito
que as percebe A disposiccedilatildeo do indiviacuteduo cm atimlar o que quer crer contrapotildeeshy
se aos tatos Desta ronml nagraveo havendo alteraccedilotildees dos tatos no meio e o indiviacuteduo
continuando a perceber o que ocorre a sua volta dificilmente ele acreditaruacute
plenamente no que atirma Mas manteraacute a assertiva porque seu estado
disposicional criou tal defesa
Para melhor compreensatildeo da hipoacutetese que estamos apresentando
achamos importante expor a noccedilatildeo de invariacircncia do processo perceptivo
~ Segundo Lombardo ( 1987 p 347) Gibson compreende o conceito de afimlullce como a
relaccedilatildeo de complementaridade que se estabelece entre um organismo e o seu meio-ambiente frente aos constantes eventos As atonJwlclts proporcionam certas predisposiccedilotildees no organismo desde que certos fatos ocasionais ocorram
segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo
direta
Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion
ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que
ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema
Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica
A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja
no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo
visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as
estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol
meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes
do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio
As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes
do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os
organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de
variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo
Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e
constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e
invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um
exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c
A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia
F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )
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invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito
de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre
um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado
a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir
em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo
atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus
subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam
enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere
alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das
consequumlecircncias do tagraveto
Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado
das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson
19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute
tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente
conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por
Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor
compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s
os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes
do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio
ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico
ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes
do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)
O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste
em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como
redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas
Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31
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o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas
(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem
informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo
(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem
arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo
(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou
distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante
dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no
mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este
pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute
imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes
satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com
nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos
obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar
subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada
em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos
que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John
Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente
sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo
baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram
subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato
Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute
percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move
haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem
invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista
que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo
de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso
Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto
32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005
em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e
variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo
apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do
quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra
Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou
alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram
aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do
deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os
unil(mnes
Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no
ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas
supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de
oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)
De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se
deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas
Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar
que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies
das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na
realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os
conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies
das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do
layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se
inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores
que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas
puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a
estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco
luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias
pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do
AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33
quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores
que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as
informaccedilotildees de seus soldados
Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua
obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os
gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou
defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo
na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema
imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte
eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer
e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como
reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do
an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila
da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo
uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo
eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador
e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979
- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima
superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais
longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica
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) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a
reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica
ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos
soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos
soldados alematildees
Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e
datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem
o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados
em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico
seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela
pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam
trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo
o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os
levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente
Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente
percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic
injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros
ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e
sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano
de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy
10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as
condiccedilotildees em que se encontrava
Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido
atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa
percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o
corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem
percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as
partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo
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do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
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lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
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RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
middot p2) eacute tambeacutem denominado de auto-engano proposicionaL pois aparece como
proposiccedilatildeo descritiva de alguma coisa tagraveto ou evento
Arruda em seu texto Uma anaacutelise do auto-engano fagravetual publicado
na obra Encontro com as ciecircncias cognitilCls de 1998 (p 169) detine autoshy
engano [atual da seguinte fonna
Um sujeito S estaacute em auto-mentira fatual em relaccedilatildeo a
P no momento t se e somente se( I) S tem a dbrosiccedilagraveo
de afirmar P (l)S tem em algum grau duacutevidas sobre a
verdade de P e (3) o seu afirmar P nagraveo eacute um caso de
mentira interpessoal propriamente dita
Portanto para haver auto-engano fatual eacute preciso I) que o sujeito
afirme algo incorretamente Isto porque a mentira ou a insinceridade natildeo estaacute
no desejo Segundo Arruda (1998) o estado mental de desejar existe ou natildeo
Ixiste mas natildeo pode ser sincero ou insincero O desejo eacute apenas motivaccedilatildeo a
accedilatildeo eacute que se caracteriza qual itativamente como sincera ou insincera A segunda
caracteriacutestica do auto-engano tagravetual eacute que embora o sujeito atinne com convicccedilatildeo
sohre um fato haacute uma 1eC duacutevida que persiste forccedilando-o a reafirmaccedilotildees
constantes A terceira caracteriacutestica apresenta esta duacutevida como resultante do
indiviacuteduo natildeo estar mentindo apenas para algueacutem mas tambeacutem para si mesmo
Portanto de alguma f0Jl11a ek sahe que sua atiJl11accedilagraveo eacute incorrela poreacutem natildeo
se sente motivado a revisaacute-la
lv1esmo estando o sl~jeito a ati 1111 ar ou negar sohre um tagraveto eacute poss iacutecl
que os outros reconheccedilam seu engano Isto porque o tlllo ou evento ocorre
realmente e pode ser registrado como um acontecimento Nagraveo eacute mera ideacuteia nu
especulaccedilatildeo Mas de acordo com Hannah Arendt em sua ohra A c()l1di~il()
do homem moderno p287 nagraveo haacute garantia alguma que o registro de um fato
25
pem1aneccedila intacto apoacutes suas distorccedilotildees e mesmo tentativa de eliminaacute-lo Os
latos ou eventos podem ser distorcidos pela opiniatildeo de quem os vecirc os vivenda
ou mesmo os interpreta adaptando-o agraves suas ideologias interesses ou crenccedilas
Este erro eacute iniciado com o sujeito detectando imprecisamente a ocorrecircncia a
seguir manipulando inconscientemente as opiniotildees e por fim desvirtuando sem
que saiha o proacuteprio fato Esta consequumlecircncia de acordo com o nosso ponto de
vista eacute uma hoa razatildeo para a anaacutelise do auto-engano tatuaI
Arendt na mesma ohra ao analisar a verdade btual na poliacutetica
afimla que apenas os entoques de interesse no desviltuamemo da verdade tatuai
mudaram ao longo da histoacuteria poreacutem a proacutepria distorccedilatildeo sempre se manteve
Um HltO de relevante importacircncia pode desaparecer por um longo periacuteodo (anos
deacutecadas nu mesmo seacuteculo dependendo () regime poliacutetico) distorcido por
opiniotildees A recuperaccedilatildeo de dados tatuais nos arquivos histoacutericos deixado por
alluma consciecircncia critica deve-se agraves evidentes lacunas ou uumlllta de coerecircncia quando analisado em algum momento histoacuterico posterior o que ohriga o
revisionista a buscar outros dados
A caracteriacutestica natildeo conclusiva dos latos em si mesmos diz Arendt
p 300 permite tais distorccedilotildees Ou seja os fatos natildeo se auto-justilicam eles soacute
tecircm sentido ao serem colocados em um contexto interpretati) que nem ao
menos eacute a uacutenica possibilidade (Arendt196 L p308-9) Citando Arendt (1961
p 3(1)
Eacute verdade que em retrospecto - isto eacute em perspectiva
histoacuterica - toda seqUecircncia de eventos aparece como se
nagraveo pudesse ter acontecido de outra forma mas isso eacute
uma ilusatildeo oacuteptica ou melhor existencial nada poderia
jamais acontecer se a realidade natildeo matasse por
definiccedilatildeo todas as demais potencialidades inerentes a
lima dada situaccedilatildeo
26
Assim os fatos estatildeo a mercecirc das emoccedilotildees que formam a opiniatildeo
da maioria em detenninados momentos histoacutericos Mas isso natildeo quer dizer que
nagraveo haja uma interpretaccedilatildeo mais correta Embora as interpretaccedilotildees possam ser
manipuladas haacute um encadeamento de tagravetos que exige coerecircncia interpretativa
Como tambeacutem uma mentira na interpretaccedilatildeo acarreta outras numa sequumlecircncia
cujo fim eacute imprevisiacutevel mas geralmente fagraventasioso
Daniel Goleman em sua obra 1enliras essenciais lerdades
simples (p 97-99) cita como exemplo a anaacutelise de Ulric Neisser(em seu at1igo
John Deans Memory A Case Study Cognitiol1 Y 1981 1-11) sobre o
depoimento de John Dean Secretaacuterio de Estado de Nixon no caso Watergale
Goleman revecirc a parte do depoimento que se refere ao encontro de Dean com
1iXOll e Haldeman no Gabinete (hui em 15 de setembro de 1912 () que Neisser
constata eacute que somente 0 espiacuterito da conversa entre esses homens foi lembrado
com precisatildeo por Oean Ou seja ele retratou o encontro mas distorceu os
fatos isto eacute o conteuacutedo da conversa com o objetivo de se favorecer
O grande paradoxo do auto-engano tatuaI que o distingue das outras
mentiras eacute o mentir do sujeito para si mesmo Podemos perguntar como eacute possiacutevel
algueacutel1lmcntir para si mesmo jaacute que para tal feito eacute preciso que saiba sobre os
uumlnos Este problema foi muito investigado nas deacutecadas de 60 e 70 por algumas
ciecircncias entre elas a Psicologia Poreacutem de modo geral as pesquisas mantiveram
a perspectiva da tradiccedilatildeo representaeionista na qual a percepccedilatildeo resulta cm
primeiro lugar da sensaccedilatildeo motiaua pelo estiacutemulo do meio em cnntato com o
sujeito num segundo momento haacute o processo de reconhecimento proporcionado
por estruturas mentais organizadoras destas sensaccedilotildees que antecipadamente
reprimem tI conscientizaccedilagraveo de t~1tos que causam anguacutestia e ansiedade
Partindo do princiacutepio em que a percepccedilatildeo visual nagraveo depende de
esquemas mentais para intermediar a sensaccedilatildeo e a percepccedilatildeo e que nem mesmo
existe lima separaccedilatildeo entre elas (satildeo partes de um mesmo processo com di ferenccedila
Jllll 2005 27
apenas de graduaccedilatildeo) segundo Gibson em sua obra The ecgical approach
to lisw perccpliol1 acreditamos que pode haver uma explicaccedilatildeo coerente na
perspectiva da percepccedilatildeo direta que justifique a mentira do agente consigo mesmo
A estrutura do processo do auto-engano fatual apresenta-se como
repressatildeo e defesa em que lapsos de memoacuteria e lalhas na percepccedilatildeo alteram
ou eliminam um tagraveto Poreacutem segundo o enfoacuteque da percepccedilatildeo direta que
procuramos apresentar nagraveo haacute necessidade de csquemas representacionais para
reter o que quercmos esquecer e outros esquemas que substituam o reprovado
por nossas emoccedilotildees Parece-nos possiacutevel entender o auto-engano tatuaI como
um estado disposicional do indiviacuteduo que cria desios uacute sua percepccedilatildeo
produzindo uma experiecircncia perceptiva enganosa O estado disposicional pode
ser caracterizado como forccedilas ou propensotildees que possibilitam a ocon-ecircncia de
algo quando condiccedilotildees adequadas se apresentam (vIorais 20()() p86) Quando
[knn mente sobre elogios que receheu de lixon ao alertaacute-lo de que o caso
poderia ser reelado algum dia ele estaacute preacute-disposto a relatar sohre I~ltos que
contribuam com sua auto-estima E c natildeo estuacute preparado para aceitar seus elTOS
de conduta do caso
Assim o estado disposicional do indiviacuteduo predisposto
psicologicamente a natildeo aceiWr certos btos que o incomodum nagraveo perm ite ao
imliIacuteduo alinmiacute-1os C0l110 os detecta Em outras palanas se ()rccedilas psicoloacutegicas
que atuam no estado disposicional do sujeito criarem hatTeiras il sua percepccedilatildeo
ele a distorceraacute quando afirmar natildeo soacute para os outros como para si mesmo
Por llxccedilas psicoloacutegicas entendemos as emoccedilotildees (como ansiedade
medo e anguacutestia) que causam em algum grau impacto sobre as pessoas Essas
emoccedilotildees delineiam o estado diposicional do indiviacuteduo habilitando-o a prevenirshy
se para possiacuteveis fatos que lhe provocariam dor se viessem a ocon-er Como
As prm as apr~sentadas no processo demonstram que ele nagraveo alertou Nixon
28
essa prevenccedilatildeo do estado disposicional natildeo eacute suficiente para impedir que os
fatos sucedam e sejam percebidos entatildeo geraraacute uma distorccedilatildeo no ato
consequumlente agrave percepccedilatildeo para se evitar a dor A accedilatildeo distorciva por sua vez
natildeo estando de acordo com a condiccedilatildeo orgacircnica do sujeito perceptivo que se
inter-relaciona com o meio no qual estaacute inserido levaraacute o sujeito que estaacute em
auto-engano a sentir algum mal estar uma sensaccedilatildeo de incerteza Desta fomla
podemos dizer que o auto-engano eacute um desajuste expresso na accedilatildeo efetiva do
indiviacuteduo entre suas (jf(mlan(es~ e as do meio ambiente Mesmo estando John
Dean diante de fatos que natildeo confirmavam seu depoimento ele o manteve
procurando reforccedilaacute-lo atraveacutes da narraccedilatildeo detalhada e imaginosa de outros finos
A traeacutes de tal desempenho procurava assegurar a si e aos outros que sua memoacuteria
era precisa
Em nossa concepccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo indiviacuteduomeio nas
disponibilidades ou ajfmlances do indiviacuteduo e do ambiente a causa da duacutevida
do incocircmodo prmOcado pela incoerecircncia da auto-mentira Mais especificamente
estaacute na incoerecircncia entre as invariacircncias das macro-estruturas dos estiacutemulos
informacionais que se apresentam como realmente sagraveo e as deksas do sujeito
que as percebe A disposiccedilatildeo do indiviacuteduo cm atimlar o que quer crer contrapotildeeshy
se aos tatos Desta ronml nagraveo havendo alteraccedilotildees dos tatos no meio e o indiviacuteduo
continuando a perceber o que ocorre a sua volta dificilmente ele acreditaruacute
plenamente no que atirma Mas manteraacute a assertiva porque seu estado
disposicional criou tal defesa
Para melhor compreensatildeo da hipoacutetese que estamos apresentando
achamos importante expor a noccedilatildeo de invariacircncia do processo perceptivo
~ Segundo Lombardo ( 1987 p 347) Gibson compreende o conceito de afimlullce como a
relaccedilatildeo de complementaridade que se estabelece entre um organismo e o seu meio-ambiente frente aos constantes eventos As atonJwlclts proporcionam certas predisposiccedilotildees no organismo desde que certos fatos ocasionais ocorram
segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo
direta
Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion
ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que
ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema
Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica
A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja
no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo
visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as
estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol
meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes
do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio
As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes
do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os
organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de
variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo
Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e
constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e
invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um
exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c
A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia
F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )
30
invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito
de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre
um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado
a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir
em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo
atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus
subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam
enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere
alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das
consequumlecircncias do tagraveto
Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado
das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson
19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute
tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente
conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por
Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor
compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s
os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes
do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio
ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico
ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes
do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)
O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste
em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como
redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas
Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31
---_ _--------------------shy
o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas
(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem
informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo
(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem
arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo
(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou
distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante
dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no
mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este
pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute
imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes
satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com
nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos
obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar
subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada
em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos
que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John
Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente
sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo
baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram
subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato
Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute
percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move
haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem
invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista
que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo
de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso
Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto
32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005
em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e
variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo
apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do
quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra
Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou
alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram
aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do
deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os
unil(mnes
Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no
ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas
supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de
oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)
De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se
deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas
Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar
que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies
das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na
realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os
conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies
das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do
layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se
inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores
que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas
puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a
estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco
luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias
pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do
AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33
quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores
que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as
informaccedilotildees de seus soldados
Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua
obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os
gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou
defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo
na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema
imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte
eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer
e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como
reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do
an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila
da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo
uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo
eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador
e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979
- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima
superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais
longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica
34
) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a
reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica
ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos
soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos
soldados alematildees
Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e
datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem
o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados
em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico
seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela
pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam
trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo
o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os
levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente
Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente
percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic
injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros
ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e
sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano
de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy
10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as
condiccedilotildees em que se encontrava
Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido
atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa
percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o
corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem
percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as
partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo
35
do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
Referecircncias Bibliograacuteficas
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ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
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lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
pem1aneccedila intacto apoacutes suas distorccedilotildees e mesmo tentativa de eliminaacute-lo Os
latos ou eventos podem ser distorcidos pela opiniatildeo de quem os vecirc os vivenda
ou mesmo os interpreta adaptando-o agraves suas ideologias interesses ou crenccedilas
Este erro eacute iniciado com o sujeito detectando imprecisamente a ocorrecircncia a
seguir manipulando inconscientemente as opiniotildees e por fim desvirtuando sem
que saiha o proacuteprio fato Esta consequumlecircncia de acordo com o nosso ponto de
vista eacute uma hoa razatildeo para a anaacutelise do auto-engano tatuaI
Arendt na mesma ohra ao analisar a verdade btual na poliacutetica
afimla que apenas os entoques de interesse no desviltuamemo da verdade tatuai
mudaram ao longo da histoacuteria poreacutem a proacutepria distorccedilatildeo sempre se manteve
Um HltO de relevante importacircncia pode desaparecer por um longo periacuteodo (anos
deacutecadas nu mesmo seacuteculo dependendo () regime poliacutetico) distorcido por
opiniotildees A recuperaccedilatildeo de dados tatuais nos arquivos histoacutericos deixado por
alluma consciecircncia critica deve-se agraves evidentes lacunas ou uumlllta de coerecircncia quando analisado em algum momento histoacuterico posterior o que ohriga o
revisionista a buscar outros dados
A caracteriacutestica natildeo conclusiva dos latos em si mesmos diz Arendt
p 300 permite tais distorccedilotildees Ou seja os fatos natildeo se auto-justilicam eles soacute
tecircm sentido ao serem colocados em um contexto interpretati) que nem ao
menos eacute a uacutenica possibilidade (Arendt196 L p308-9) Citando Arendt (1961
p 3(1)
Eacute verdade que em retrospecto - isto eacute em perspectiva
histoacuterica - toda seqUecircncia de eventos aparece como se
nagraveo pudesse ter acontecido de outra forma mas isso eacute
uma ilusatildeo oacuteptica ou melhor existencial nada poderia
jamais acontecer se a realidade natildeo matasse por
definiccedilatildeo todas as demais potencialidades inerentes a
lima dada situaccedilatildeo
26
Assim os fatos estatildeo a mercecirc das emoccedilotildees que formam a opiniatildeo
da maioria em detenninados momentos histoacutericos Mas isso natildeo quer dizer que
nagraveo haja uma interpretaccedilatildeo mais correta Embora as interpretaccedilotildees possam ser
manipuladas haacute um encadeamento de tagravetos que exige coerecircncia interpretativa
Como tambeacutem uma mentira na interpretaccedilatildeo acarreta outras numa sequumlecircncia
cujo fim eacute imprevisiacutevel mas geralmente fagraventasioso
Daniel Goleman em sua obra 1enliras essenciais lerdades
simples (p 97-99) cita como exemplo a anaacutelise de Ulric Neisser(em seu at1igo
John Deans Memory A Case Study Cognitiol1 Y 1981 1-11) sobre o
depoimento de John Dean Secretaacuterio de Estado de Nixon no caso Watergale
Goleman revecirc a parte do depoimento que se refere ao encontro de Dean com
1iXOll e Haldeman no Gabinete (hui em 15 de setembro de 1912 () que Neisser
constata eacute que somente 0 espiacuterito da conversa entre esses homens foi lembrado
com precisatildeo por Oean Ou seja ele retratou o encontro mas distorceu os
fatos isto eacute o conteuacutedo da conversa com o objetivo de se favorecer
O grande paradoxo do auto-engano tatuaI que o distingue das outras
mentiras eacute o mentir do sujeito para si mesmo Podemos perguntar como eacute possiacutevel
algueacutel1lmcntir para si mesmo jaacute que para tal feito eacute preciso que saiba sobre os
uumlnos Este problema foi muito investigado nas deacutecadas de 60 e 70 por algumas
ciecircncias entre elas a Psicologia Poreacutem de modo geral as pesquisas mantiveram
a perspectiva da tradiccedilatildeo representaeionista na qual a percepccedilatildeo resulta cm
primeiro lugar da sensaccedilatildeo motiaua pelo estiacutemulo do meio em cnntato com o
sujeito num segundo momento haacute o processo de reconhecimento proporcionado
por estruturas mentais organizadoras destas sensaccedilotildees que antecipadamente
reprimem tI conscientizaccedilagraveo de t~1tos que causam anguacutestia e ansiedade
Partindo do princiacutepio em que a percepccedilatildeo visual nagraveo depende de
esquemas mentais para intermediar a sensaccedilatildeo e a percepccedilatildeo e que nem mesmo
existe lima separaccedilatildeo entre elas (satildeo partes de um mesmo processo com di ferenccedila
Jllll 2005 27
apenas de graduaccedilatildeo) segundo Gibson em sua obra The ecgical approach
to lisw perccpliol1 acreditamos que pode haver uma explicaccedilatildeo coerente na
perspectiva da percepccedilatildeo direta que justifique a mentira do agente consigo mesmo
A estrutura do processo do auto-engano fatual apresenta-se como
repressatildeo e defesa em que lapsos de memoacuteria e lalhas na percepccedilatildeo alteram
ou eliminam um tagraveto Poreacutem segundo o enfoacuteque da percepccedilatildeo direta que
procuramos apresentar nagraveo haacute necessidade de csquemas representacionais para
reter o que quercmos esquecer e outros esquemas que substituam o reprovado
por nossas emoccedilotildees Parece-nos possiacutevel entender o auto-engano tatuaI como
um estado disposicional do indiviacuteduo que cria desios uacute sua percepccedilatildeo
produzindo uma experiecircncia perceptiva enganosa O estado disposicional pode
ser caracterizado como forccedilas ou propensotildees que possibilitam a ocon-ecircncia de
algo quando condiccedilotildees adequadas se apresentam (vIorais 20()() p86) Quando
[knn mente sobre elogios que receheu de lixon ao alertaacute-lo de que o caso
poderia ser reelado algum dia ele estaacute preacute-disposto a relatar sohre I~ltos que
contribuam com sua auto-estima E c natildeo estuacute preparado para aceitar seus elTOS
de conduta do caso
Assim o estado disposicional do indiviacuteduo predisposto
psicologicamente a natildeo aceiWr certos btos que o incomodum nagraveo perm ite ao
imliIacuteduo alinmiacute-1os C0l110 os detecta Em outras palanas se ()rccedilas psicoloacutegicas
que atuam no estado disposicional do sujeito criarem hatTeiras il sua percepccedilatildeo
ele a distorceraacute quando afirmar natildeo soacute para os outros como para si mesmo
Por llxccedilas psicoloacutegicas entendemos as emoccedilotildees (como ansiedade
medo e anguacutestia) que causam em algum grau impacto sobre as pessoas Essas
emoccedilotildees delineiam o estado diposicional do indiviacuteduo habilitando-o a prevenirshy
se para possiacuteveis fatos que lhe provocariam dor se viessem a ocon-er Como
As prm as apr~sentadas no processo demonstram que ele nagraveo alertou Nixon
28
essa prevenccedilatildeo do estado disposicional natildeo eacute suficiente para impedir que os
fatos sucedam e sejam percebidos entatildeo geraraacute uma distorccedilatildeo no ato
consequumlente agrave percepccedilatildeo para se evitar a dor A accedilatildeo distorciva por sua vez
natildeo estando de acordo com a condiccedilatildeo orgacircnica do sujeito perceptivo que se
inter-relaciona com o meio no qual estaacute inserido levaraacute o sujeito que estaacute em
auto-engano a sentir algum mal estar uma sensaccedilatildeo de incerteza Desta fomla
podemos dizer que o auto-engano eacute um desajuste expresso na accedilatildeo efetiva do
indiviacuteduo entre suas (jf(mlan(es~ e as do meio ambiente Mesmo estando John
Dean diante de fatos que natildeo confirmavam seu depoimento ele o manteve
procurando reforccedilaacute-lo atraveacutes da narraccedilatildeo detalhada e imaginosa de outros finos
A traeacutes de tal desempenho procurava assegurar a si e aos outros que sua memoacuteria
era precisa
Em nossa concepccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo indiviacuteduomeio nas
disponibilidades ou ajfmlances do indiviacuteduo e do ambiente a causa da duacutevida
do incocircmodo prmOcado pela incoerecircncia da auto-mentira Mais especificamente
estaacute na incoerecircncia entre as invariacircncias das macro-estruturas dos estiacutemulos
informacionais que se apresentam como realmente sagraveo e as deksas do sujeito
que as percebe A disposiccedilatildeo do indiviacuteduo cm atimlar o que quer crer contrapotildeeshy
se aos tatos Desta ronml nagraveo havendo alteraccedilotildees dos tatos no meio e o indiviacuteduo
continuando a perceber o que ocorre a sua volta dificilmente ele acreditaruacute
plenamente no que atirma Mas manteraacute a assertiva porque seu estado
disposicional criou tal defesa
Para melhor compreensatildeo da hipoacutetese que estamos apresentando
achamos importante expor a noccedilatildeo de invariacircncia do processo perceptivo
~ Segundo Lombardo ( 1987 p 347) Gibson compreende o conceito de afimlullce como a
relaccedilatildeo de complementaridade que se estabelece entre um organismo e o seu meio-ambiente frente aos constantes eventos As atonJwlclts proporcionam certas predisposiccedilotildees no organismo desde que certos fatos ocasionais ocorram
segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo
direta
Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion
ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que
ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema
Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica
A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja
no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo
visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as
estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol
meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes
do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio
As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes
do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os
organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de
variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo
Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e
constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e
invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um
exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c
A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia
F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )
30
invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito
de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre
um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado
a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir
em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo
atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus
subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam
enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere
alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das
consequumlecircncias do tagraveto
Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado
das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson
19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute
tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente
conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por
Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor
compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s
os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes
do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio
ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico
ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes
do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)
O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste
em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como
redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas
Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31
---_ _--------------------shy
o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas
(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem
informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo
(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem
arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo
(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou
distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante
dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no
mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este
pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute
imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes
satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com
nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos
obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar
subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada
em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos
que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John
Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente
sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo
baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram
subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato
Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute
percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move
haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem
invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista
que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo
de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso
Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto
32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005
em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e
variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo
apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do
quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra
Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou
alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram
aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do
deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os
unil(mnes
Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no
ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas
supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de
oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)
De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se
deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas
Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar
que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies
das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na
realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os
conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies
das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do
layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se
inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores
que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas
puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a
estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco
luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias
pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do
AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33
quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores
que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as
informaccedilotildees de seus soldados
Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua
obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os
gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou
defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo
na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema
imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte
eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer
e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como
reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do
an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila
da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo
uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo
eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador
e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979
- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima
superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais
longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica
34
) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a
reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica
ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos
soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos
soldados alematildees
Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e
datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem
o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados
em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico
seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela
pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam
trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo
o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os
levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente
Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente
percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic
injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros
ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e
sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano
de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy
10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as
condiccedilotildees em que se encontrava
Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido
atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa
percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o
corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem
percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as
partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo
35
do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
Referecircncias Bibliograacuteficas
ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961
ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998
ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role
Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston
Houghton Mitlin 19791986
(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da
auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997
1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
Assim os fatos estatildeo a mercecirc das emoccedilotildees que formam a opiniatildeo
da maioria em detenninados momentos histoacutericos Mas isso natildeo quer dizer que
nagraveo haja uma interpretaccedilatildeo mais correta Embora as interpretaccedilotildees possam ser
manipuladas haacute um encadeamento de tagravetos que exige coerecircncia interpretativa
Como tambeacutem uma mentira na interpretaccedilatildeo acarreta outras numa sequumlecircncia
cujo fim eacute imprevisiacutevel mas geralmente fagraventasioso
Daniel Goleman em sua obra 1enliras essenciais lerdades
simples (p 97-99) cita como exemplo a anaacutelise de Ulric Neisser(em seu at1igo
John Deans Memory A Case Study Cognitiol1 Y 1981 1-11) sobre o
depoimento de John Dean Secretaacuterio de Estado de Nixon no caso Watergale
Goleman revecirc a parte do depoimento que se refere ao encontro de Dean com
1iXOll e Haldeman no Gabinete (hui em 15 de setembro de 1912 () que Neisser
constata eacute que somente 0 espiacuterito da conversa entre esses homens foi lembrado
com precisatildeo por Oean Ou seja ele retratou o encontro mas distorceu os
fatos isto eacute o conteuacutedo da conversa com o objetivo de se favorecer
O grande paradoxo do auto-engano tatuaI que o distingue das outras
mentiras eacute o mentir do sujeito para si mesmo Podemos perguntar como eacute possiacutevel
algueacutel1lmcntir para si mesmo jaacute que para tal feito eacute preciso que saiba sobre os
uumlnos Este problema foi muito investigado nas deacutecadas de 60 e 70 por algumas
ciecircncias entre elas a Psicologia Poreacutem de modo geral as pesquisas mantiveram
a perspectiva da tradiccedilatildeo representaeionista na qual a percepccedilatildeo resulta cm
primeiro lugar da sensaccedilatildeo motiaua pelo estiacutemulo do meio em cnntato com o
sujeito num segundo momento haacute o processo de reconhecimento proporcionado
por estruturas mentais organizadoras destas sensaccedilotildees que antecipadamente
reprimem tI conscientizaccedilagraveo de t~1tos que causam anguacutestia e ansiedade
Partindo do princiacutepio em que a percepccedilatildeo visual nagraveo depende de
esquemas mentais para intermediar a sensaccedilatildeo e a percepccedilatildeo e que nem mesmo
existe lima separaccedilatildeo entre elas (satildeo partes de um mesmo processo com di ferenccedila
Jllll 2005 27
apenas de graduaccedilatildeo) segundo Gibson em sua obra The ecgical approach
to lisw perccpliol1 acreditamos que pode haver uma explicaccedilatildeo coerente na
perspectiva da percepccedilatildeo direta que justifique a mentira do agente consigo mesmo
A estrutura do processo do auto-engano fatual apresenta-se como
repressatildeo e defesa em que lapsos de memoacuteria e lalhas na percepccedilatildeo alteram
ou eliminam um tagraveto Poreacutem segundo o enfoacuteque da percepccedilatildeo direta que
procuramos apresentar nagraveo haacute necessidade de csquemas representacionais para
reter o que quercmos esquecer e outros esquemas que substituam o reprovado
por nossas emoccedilotildees Parece-nos possiacutevel entender o auto-engano tatuaI como
um estado disposicional do indiviacuteduo que cria desios uacute sua percepccedilatildeo
produzindo uma experiecircncia perceptiva enganosa O estado disposicional pode
ser caracterizado como forccedilas ou propensotildees que possibilitam a ocon-ecircncia de
algo quando condiccedilotildees adequadas se apresentam (vIorais 20()() p86) Quando
[knn mente sobre elogios que receheu de lixon ao alertaacute-lo de que o caso
poderia ser reelado algum dia ele estaacute preacute-disposto a relatar sohre I~ltos que
contribuam com sua auto-estima E c natildeo estuacute preparado para aceitar seus elTOS
de conduta do caso
Assim o estado disposicional do indiviacuteduo predisposto
psicologicamente a natildeo aceiWr certos btos que o incomodum nagraveo perm ite ao
imliIacuteduo alinmiacute-1os C0l110 os detecta Em outras palanas se ()rccedilas psicoloacutegicas
que atuam no estado disposicional do sujeito criarem hatTeiras il sua percepccedilatildeo
ele a distorceraacute quando afirmar natildeo soacute para os outros como para si mesmo
Por llxccedilas psicoloacutegicas entendemos as emoccedilotildees (como ansiedade
medo e anguacutestia) que causam em algum grau impacto sobre as pessoas Essas
emoccedilotildees delineiam o estado diposicional do indiviacuteduo habilitando-o a prevenirshy
se para possiacuteveis fatos que lhe provocariam dor se viessem a ocon-er Como
As prm as apr~sentadas no processo demonstram que ele nagraveo alertou Nixon
28
essa prevenccedilatildeo do estado disposicional natildeo eacute suficiente para impedir que os
fatos sucedam e sejam percebidos entatildeo geraraacute uma distorccedilatildeo no ato
consequumlente agrave percepccedilatildeo para se evitar a dor A accedilatildeo distorciva por sua vez
natildeo estando de acordo com a condiccedilatildeo orgacircnica do sujeito perceptivo que se
inter-relaciona com o meio no qual estaacute inserido levaraacute o sujeito que estaacute em
auto-engano a sentir algum mal estar uma sensaccedilatildeo de incerteza Desta fomla
podemos dizer que o auto-engano eacute um desajuste expresso na accedilatildeo efetiva do
indiviacuteduo entre suas (jf(mlan(es~ e as do meio ambiente Mesmo estando John
Dean diante de fatos que natildeo confirmavam seu depoimento ele o manteve
procurando reforccedilaacute-lo atraveacutes da narraccedilatildeo detalhada e imaginosa de outros finos
A traeacutes de tal desempenho procurava assegurar a si e aos outros que sua memoacuteria
era precisa
Em nossa concepccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo indiviacuteduomeio nas
disponibilidades ou ajfmlances do indiviacuteduo e do ambiente a causa da duacutevida
do incocircmodo prmOcado pela incoerecircncia da auto-mentira Mais especificamente
estaacute na incoerecircncia entre as invariacircncias das macro-estruturas dos estiacutemulos
informacionais que se apresentam como realmente sagraveo e as deksas do sujeito
que as percebe A disposiccedilatildeo do indiviacuteduo cm atimlar o que quer crer contrapotildeeshy
se aos tatos Desta ronml nagraveo havendo alteraccedilotildees dos tatos no meio e o indiviacuteduo
continuando a perceber o que ocorre a sua volta dificilmente ele acreditaruacute
plenamente no que atirma Mas manteraacute a assertiva porque seu estado
disposicional criou tal defesa
Para melhor compreensatildeo da hipoacutetese que estamos apresentando
achamos importante expor a noccedilatildeo de invariacircncia do processo perceptivo
~ Segundo Lombardo ( 1987 p 347) Gibson compreende o conceito de afimlullce como a
relaccedilatildeo de complementaridade que se estabelece entre um organismo e o seu meio-ambiente frente aos constantes eventos As atonJwlclts proporcionam certas predisposiccedilotildees no organismo desde que certos fatos ocasionais ocorram
segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo
direta
Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion
ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que
ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema
Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica
A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja
no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo
visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as
estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol
meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes
do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio
As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes
do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os
organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de
variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo
Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e
constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e
invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um
exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c
A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia
F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )
30
invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito
de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre
um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado
a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir
em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo
atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus
subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam
enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere
alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das
consequumlecircncias do tagraveto
Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado
das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson
19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute
tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente
conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por
Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor
compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s
os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes
do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio
ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico
ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes
do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)
O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste
em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como
redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas
Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31
---_ _--------------------shy
o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas
(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem
informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo
(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem
arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo
(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou
distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante
dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no
mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este
pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute
imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes
satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com
nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos
obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar
subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada
em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos
que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John
Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente
sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo
baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram
subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato
Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute
percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move
haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem
invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista
que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo
de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso
Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto
32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005
em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e
variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo
apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do
quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra
Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou
alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram
aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do
deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os
unil(mnes
Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no
ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas
supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de
oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)
De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se
deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas
Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar
que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies
das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na
realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os
conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies
das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do
layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se
inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores
que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas
puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a
estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco
luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias
pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do
AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33
quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores
que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as
informaccedilotildees de seus soldados
Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua
obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os
gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou
defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo
na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema
imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte
eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer
e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como
reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do
an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila
da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo
uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo
eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador
e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979
- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima
superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais
longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica
34
) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a
reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica
ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos
soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos
soldados alematildees
Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e
datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem
o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados
em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico
seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela
pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam
trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo
o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os
levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente
Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente
percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic
injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros
ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e
sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano
de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy
10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as
condiccedilotildees em que se encontrava
Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido
atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa
percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o
corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem
percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as
partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo
35
do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
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Referecircncias Bibliograacuteficas
ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961
ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998
ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role
Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston
Houghton Mitlin 19791986
(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da
auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997
1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
apenas de graduaccedilatildeo) segundo Gibson em sua obra The ecgical approach
to lisw perccpliol1 acreditamos que pode haver uma explicaccedilatildeo coerente na
perspectiva da percepccedilatildeo direta que justifique a mentira do agente consigo mesmo
A estrutura do processo do auto-engano fatual apresenta-se como
repressatildeo e defesa em que lapsos de memoacuteria e lalhas na percepccedilatildeo alteram
ou eliminam um tagraveto Poreacutem segundo o enfoacuteque da percepccedilatildeo direta que
procuramos apresentar nagraveo haacute necessidade de csquemas representacionais para
reter o que quercmos esquecer e outros esquemas que substituam o reprovado
por nossas emoccedilotildees Parece-nos possiacutevel entender o auto-engano tatuaI como
um estado disposicional do indiviacuteduo que cria desios uacute sua percepccedilatildeo
produzindo uma experiecircncia perceptiva enganosa O estado disposicional pode
ser caracterizado como forccedilas ou propensotildees que possibilitam a ocon-ecircncia de
algo quando condiccedilotildees adequadas se apresentam (vIorais 20()() p86) Quando
[knn mente sobre elogios que receheu de lixon ao alertaacute-lo de que o caso
poderia ser reelado algum dia ele estaacute preacute-disposto a relatar sohre I~ltos que
contribuam com sua auto-estima E c natildeo estuacute preparado para aceitar seus elTOS
de conduta do caso
Assim o estado disposicional do indiviacuteduo predisposto
psicologicamente a natildeo aceiWr certos btos que o incomodum nagraveo perm ite ao
imliIacuteduo alinmiacute-1os C0l110 os detecta Em outras palanas se ()rccedilas psicoloacutegicas
que atuam no estado disposicional do sujeito criarem hatTeiras il sua percepccedilatildeo
ele a distorceraacute quando afirmar natildeo soacute para os outros como para si mesmo
Por llxccedilas psicoloacutegicas entendemos as emoccedilotildees (como ansiedade
medo e anguacutestia) que causam em algum grau impacto sobre as pessoas Essas
emoccedilotildees delineiam o estado diposicional do indiviacuteduo habilitando-o a prevenirshy
se para possiacuteveis fatos que lhe provocariam dor se viessem a ocon-er Como
As prm as apr~sentadas no processo demonstram que ele nagraveo alertou Nixon
28
essa prevenccedilatildeo do estado disposicional natildeo eacute suficiente para impedir que os
fatos sucedam e sejam percebidos entatildeo geraraacute uma distorccedilatildeo no ato
consequumlente agrave percepccedilatildeo para se evitar a dor A accedilatildeo distorciva por sua vez
natildeo estando de acordo com a condiccedilatildeo orgacircnica do sujeito perceptivo que se
inter-relaciona com o meio no qual estaacute inserido levaraacute o sujeito que estaacute em
auto-engano a sentir algum mal estar uma sensaccedilatildeo de incerteza Desta fomla
podemos dizer que o auto-engano eacute um desajuste expresso na accedilatildeo efetiva do
indiviacuteduo entre suas (jf(mlan(es~ e as do meio ambiente Mesmo estando John
Dean diante de fatos que natildeo confirmavam seu depoimento ele o manteve
procurando reforccedilaacute-lo atraveacutes da narraccedilatildeo detalhada e imaginosa de outros finos
A traeacutes de tal desempenho procurava assegurar a si e aos outros que sua memoacuteria
era precisa
Em nossa concepccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo indiviacuteduomeio nas
disponibilidades ou ajfmlances do indiviacuteduo e do ambiente a causa da duacutevida
do incocircmodo prmOcado pela incoerecircncia da auto-mentira Mais especificamente
estaacute na incoerecircncia entre as invariacircncias das macro-estruturas dos estiacutemulos
informacionais que se apresentam como realmente sagraveo e as deksas do sujeito
que as percebe A disposiccedilatildeo do indiviacuteduo cm atimlar o que quer crer contrapotildeeshy
se aos tatos Desta ronml nagraveo havendo alteraccedilotildees dos tatos no meio e o indiviacuteduo
continuando a perceber o que ocorre a sua volta dificilmente ele acreditaruacute
plenamente no que atirma Mas manteraacute a assertiva porque seu estado
disposicional criou tal defesa
Para melhor compreensatildeo da hipoacutetese que estamos apresentando
achamos importante expor a noccedilatildeo de invariacircncia do processo perceptivo
~ Segundo Lombardo ( 1987 p 347) Gibson compreende o conceito de afimlullce como a
relaccedilatildeo de complementaridade que se estabelece entre um organismo e o seu meio-ambiente frente aos constantes eventos As atonJwlclts proporcionam certas predisposiccedilotildees no organismo desde que certos fatos ocasionais ocorram
segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo
direta
Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion
ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que
ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema
Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica
A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja
no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo
visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as
estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol
meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes
do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio
As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes
do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os
organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de
variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo
Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e
constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e
invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um
exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c
A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia
F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )
30
invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito
de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre
um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado
a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir
em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo
atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus
subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam
enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere
alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das
consequumlecircncias do tagraveto
Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado
das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson
19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute
tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente
conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por
Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor
compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s
os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes
do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio
ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico
ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes
do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)
O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste
em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como
redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas
Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31
---_ _--------------------shy
o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas
(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem
informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo
(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem
arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo
(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou
distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante
dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no
mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este
pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute
imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes
satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com
nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos
obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar
subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada
em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos
que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John
Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente
sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo
baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram
subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato
Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute
percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move
haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem
invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista
que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo
de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso
Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto
32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005
em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e
variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo
apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do
quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra
Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou
alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram
aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do
deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os
unil(mnes
Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no
ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas
supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de
oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)
De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se
deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas
Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar
que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies
das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na
realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os
conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies
das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do
layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se
inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores
que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas
puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a
estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco
luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias
pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do
AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33
quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores
que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as
informaccedilotildees de seus soldados
Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua
obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os
gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou
defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo
na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema
imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte
eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer
e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como
reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do
an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila
da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo
uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo
eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador
e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979
- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima
superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais
longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica
34
) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a
reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica
ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos
soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos
soldados alematildees
Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e
datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem
o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados
em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico
seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela
pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam
trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo
o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os
levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente
Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente
percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic
injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros
ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e
sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano
de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy
10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as
condiccedilotildees em que se encontrava
Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido
atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa
percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o
corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem
percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as
partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo
35
do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
Referecircncias Bibliograacuteficas
ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961
ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998
ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role
Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston
Houghton Mitlin 19791986
(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da
auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997
1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
essa prevenccedilatildeo do estado disposicional natildeo eacute suficiente para impedir que os
fatos sucedam e sejam percebidos entatildeo geraraacute uma distorccedilatildeo no ato
consequumlente agrave percepccedilatildeo para se evitar a dor A accedilatildeo distorciva por sua vez
natildeo estando de acordo com a condiccedilatildeo orgacircnica do sujeito perceptivo que se
inter-relaciona com o meio no qual estaacute inserido levaraacute o sujeito que estaacute em
auto-engano a sentir algum mal estar uma sensaccedilatildeo de incerteza Desta fomla
podemos dizer que o auto-engano eacute um desajuste expresso na accedilatildeo efetiva do
indiviacuteduo entre suas (jf(mlan(es~ e as do meio ambiente Mesmo estando John
Dean diante de fatos que natildeo confirmavam seu depoimento ele o manteve
procurando reforccedilaacute-lo atraveacutes da narraccedilatildeo detalhada e imaginosa de outros finos
A traeacutes de tal desempenho procurava assegurar a si e aos outros que sua memoacuteria
era precisa
Em nossa concepccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo indiviacuteduomeio nas
disponibilidades ou ajfmlances do indiviacuteduo e do ambiente a causa da duacutevida
do incocircmodo prmOcado pela incoerecircncia da auto-mentira Mais especificamente
estaacute na incoerecircncia entre as invariacircncias das macro-estruturas dos estiacutemulos
informacionais que se apresentam como realmente sagraveo e as deksas do sujeito
que as percebe A disposiccedilatildeo do indiviacuteduo cm atimlar o que quer crer contrapotildeeshy
se aos tatos Desta ronml nagraveo havendo alteraccedilotildees dos tatos no meio e o indiviacuteduo
continuando a perceber o que ocorre a sua volta dificilmente ele acreditaruacute
plenamente no que atirma Mas manteraacute a assertiva porque seu estado
disposicional criou tal defesa
Para melhor compreensatildeo da hipoacutetese que estamos apresentando
achamos importante expor a noccedilatildeo de invariacircncia do processo perceptivo
~ Segundo Lombardo ( 1987 p 347) Gibson compreende o conceito de afimlullce como a
relaccedilatildeo de complementaridade que se estabelece entre um organismo e o seu meio-ambiente frente aos constantes eventos As atonJwlclts proporcionam certas predisposiccedilotildees no organismo desde que certos fatos ocasionais ocorram
segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo
direta
Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion
ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que
ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema
Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica
A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja
no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo
visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as
estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol
meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes
do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio
As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes
do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os
organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de
variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo
Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e
constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e
invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um
exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c
A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia
F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )
30
invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito
de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre
um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado
a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir
em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo
atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus
subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam
enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere
alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das
consequumlecircncias do tagraveto
Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado
das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson
19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute
tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente
conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por
Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor
compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s
os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes
do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio
ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico
ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes
do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)
O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste
em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como
redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas
Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31
---_ _--------------------shy
o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas
(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem
informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo
(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem
arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo
(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou
distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante
dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no
mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este
pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute
imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes
satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com
nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos
obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar
subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada
em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos
que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John
Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente
sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo
baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram
subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato
Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute
percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move
haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem
invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista
que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo
de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso
Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto
32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005
em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e
variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo
apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do
quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra
Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou
alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram
aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do
deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os
unil(mnes
Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no
ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas
supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de
oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)
De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se
deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas
Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar
que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies
das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na
realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os
conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies
das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do
layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se
inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores
que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas
puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a
estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco
luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias
pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do
AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33
quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores
que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as
informaccedilotildees de seus soldados
Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua
obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os
gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou
defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo
na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema
imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte
eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer
e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como
reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do
an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila
da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo
uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo
eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador
e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979
- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima
superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais
longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica
34
) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a
reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica
ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos
soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos
soldados alematildees
Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e
datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem
o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados
em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico
seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela
pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam
trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo
o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os
levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente
Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente
percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic
injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros
ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e
sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano
de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy
10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as
condiccedilotildees em que se encontrava
Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido
atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa
percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o
corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem
percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as
partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo
35
do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
Referecircncias Bibliograacuteficas
ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961
ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998
ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role
Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
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Houghton Mitlin 19791986
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1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo
direta
Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion
ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que
ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema
Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica
A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja
no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo
visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as
estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol
meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes
do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio
As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes
do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os
organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de
variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo
Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e
constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e
invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um
exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c
A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia
F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )
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invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito
de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre
um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado
a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir
em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo
atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus
subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam
enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere
alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das
consequumlecircncias do tagraveto
Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado
das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson
19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute
tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente
conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por
Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor
compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s
os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes
do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio
ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico
ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes
do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)
O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste
em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como
redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas
Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31
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o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas
(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem
informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo
(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem
arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo
(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou
distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante
dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no
mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este
pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute
imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes
satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com
nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos
obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar
subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada
em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos
que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John
Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente
sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo
baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram
subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato
Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute
percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move
haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem
invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista
que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo
de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso
Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto
32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005
em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e
variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo
apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do
quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra
Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou
alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram
aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do
deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os
unil(mnes
Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no
ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas
supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de
oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)
De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se
deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas
Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar
que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies
das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na
realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os
conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies
das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do
layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se
inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores
que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas
puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a
estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco
luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias
pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do
AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33
quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores
que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as
informaccedilotildees de seus soldados
Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua
obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os
gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou
defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo
na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema
imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte
eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer
e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como
reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do
an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila
da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo
uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo
eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador
e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979
- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima
superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais
longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica
34
) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a
reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica
ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos
soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos
soldados alematildees
Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e
datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem
o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados
em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico
seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela
pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam
trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo
o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os
levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente
Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente
percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic
injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros
ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e
sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano
de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy
10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as
condiccedilotildees em que se encontrava
Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido
atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa
percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o
corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem
percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as
partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo
35
do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
Referecircncias Bibliograacuteficas
ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961
ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998
ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role
Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston
Houghton Mitlin 19791986
(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da
auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997
1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito
de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre
um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado
a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir
em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo
atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus
subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam
enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere
alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das
consequumlecircncias do tagraveto
Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado
das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson
19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute
tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente
conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por
Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor
compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s
os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes
do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio
ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico
ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes
do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)
O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste
em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como
redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas
Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31
---_ _--------------------shy
o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas
(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem
informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo
(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem
arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo
(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou
distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante
dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no
mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este
pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute
imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes
satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com
nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos
obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar
subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada
em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos
que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John
Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente
sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo
baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram
subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato
Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute
percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move
haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem
invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista
que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo
de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso
Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto
32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005
em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e
variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo
apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do
quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra
Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou
alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram
aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do
deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os
unil(mnes
Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no
ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas
supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de
oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)
De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se
deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas
Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar
que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies
das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na
realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os
conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies
das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do
layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se
inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores
que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas
puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a
estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco
luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias
pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do
AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33
quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores
que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as
informaccedilotildees de seus soldados
Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua
obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os
gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou
defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo
na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema
imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte
eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer
e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como
reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do
an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila
da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo
uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo
eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador
e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979
- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima
superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais
longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica
34
) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a
reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica
ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos
soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos
soldados alematildees
Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e
datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem
o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados
em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico
seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela
pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam
trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo
o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os
levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente
Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente
percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic
injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros
ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e
sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano
de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy
10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as
condiccedilotildees em que se encontrava
Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido
atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa
percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o
corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem
percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as
partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo
35
do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
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ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
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ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
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Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston
Houghton Mitlin 19791986
(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da
auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997
1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas
(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem
informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo
(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem
arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo
(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou
distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante
dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no
mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este
pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute
imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes
satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com
nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos
obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar
subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada
em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos
que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John
Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente
sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo
baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram
subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato
Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute
percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move
haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem
invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista
que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo
de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso
Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto
32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005
em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e
variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo
apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do
quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra
Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou
alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram
aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do
deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os
unil(mnes
Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no
ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas
supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de
oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)
De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se
deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas
Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar
que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies
das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na
realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os
conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies
das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do
layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se
inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores
que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas
puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a
estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco
luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias
pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do
AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33
quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores
que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as
informaccedilotildees de seus soldados
Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua
obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os
gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou
defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo
na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema
imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte
eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer
e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como
reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do
an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila
da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo
uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo
eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador
e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979
- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima
superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais
longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica
34
) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a
reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica
ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos
soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos
soldados alematildees
Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e
datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem
o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados
em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico
seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela
pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam
trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo
o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os
levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente
Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente
percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic
injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros
ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e
sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano
de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy
10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as
condiccedilotildees em que se encontrava
Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido
atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa
percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o
corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem
percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as
partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo
35
do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
Referecircncias Bibliograacuteficas
ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961
ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998
ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role
Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston
Houghton Mitlin 19791986
(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da
auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997
1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e
variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo
apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do
quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra
Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou
alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram
aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do
deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os
unil(mnes
Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no
ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas
supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de
oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)
De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se
deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas
Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar
que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies
das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na
realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os
conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies
das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do
layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se
inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores
que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas
puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a
estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco
luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias
pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do
AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33
quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores
que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as
informaccedilotildees de seus soldados
Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua
obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os
gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou
defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo
na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema
imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte
eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer
e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como
reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do
an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila
da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo
uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo
eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador
e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979
- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima
superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais
longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica
34
) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a
reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica
ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos
soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos
soldados alematildees
Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e
datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem
o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados
em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico
seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela
pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam
trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo
o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os
levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente
Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente
percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic
injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros
ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e
sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano
de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy
10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as
condiccedilotildees em que se encontrava
Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido
atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa
percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o
corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem
percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as
partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo
35
do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
Referecircncias Bibliograacuteficas
ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961
ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998
ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role
Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston
Houghton Mitlin 19791986
(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da
auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997
1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores
que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as
informaccedilotildees de seus soldados
Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua
obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os
gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou
defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo
na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema
imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte
eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer
e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como
reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do
an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila
da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo
uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo
eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador
e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979
- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima
superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais
longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica
34
) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a
reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica
ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos
soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos
soldados alematildees
Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e
datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem
o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados
em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico
seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela
pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam
trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo
o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os
levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente
Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente
percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic
injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros
ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e
sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano
de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy
10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as
condiccedilotildees em que se encontrava
Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido
atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa
percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o
corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem
percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as
partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo
35
do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
Referecircncias Bibliograacuteficas
ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961
ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998
ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role
Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston
Houghton Mitlin 19791986
(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da
auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997
1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a
reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica
ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos
soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos
soldados alematildees
Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e
datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem
o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados
em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico
seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela
pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam
trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo
o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os
levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente
Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente
percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic
injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros
ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e
sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano
de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy
10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as
condiccedilotildees em que se encontrava
Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido
atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa
percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o
corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem
percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as
partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo
35
do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
Referecircncias Bibliograacuteficas
ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961
ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998
ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role
Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston
Houghton Mitlin 19791986
(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da
auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997
1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo
coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre
o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para
a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances
mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do
sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio
podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que
os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo
nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da
lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo
uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson
Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma
fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis
distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao
tentar nos proteger
Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da
rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida
percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para
informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais
reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy
enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute
njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum
grau conflitos e inseguranccedila
Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)
sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir
que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os
outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa
alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
Referecircncias Bibliograacuteficas
ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961
ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998
ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role
Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston
Houghton Mitlin 19791986
(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da
auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997
1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)
satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos
impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da
duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que
lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo
consciente nesta atitude
Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a
percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso
a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental
intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental
como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal
accedilatildeo
1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual
self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha
1 n3 p 2J 38 jun 2005
Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception
eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres
prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011
the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen
organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J
its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy
tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing
attrihutes to it
Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion
37
Referecircncias Bibliograacuteficas
ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961
ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998
ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role
Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston
Houghton Mitlin 19791986
(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da
auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997
1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R
Referecircncias Bibliograacuteficas
ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961
ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES
MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas
Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998
ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--
~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role
Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------
LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln
Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas
1994
GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston
Houghton Mitlin 19791986
(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da
auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997
1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy
lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum
Associates1987
RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949
3R