as invariÂ~cias da percepÇÃo direta e o auto · mudaram ao longo da história. porém a própria...

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AS DA PERCEPÇÃO DIRETA E O AUTO- ENGANO FATlJAL Sônia Ribeiro MORAIS 1 Resumo: () desta análise é relacionar o auto-engano huuaL tido como lima tl1lha perceptiva, com as invariâncias. ou estruturas estáveis apresentadas pela perspectiva da percepção direta. O enfoque do presente trabalho está no campo da percepção, entendendo por ela. a relação imediata e consciente entre organismo e meio-ambiente. através da quaL o organismo ohtém infon11ações para sua Com a linalidade de delimitar a análise. dentre os sentidos da percepção. enrocaremos o da \isão. devido à importância que o ser humano lhe atrihui. auto-engano tàtual: inntrifmcias e \ariâncias: pen:epção direta. Por auto-engano btuaF . compn..'cndemos a disposição do sujeito afirmar sohre um incorretamente de\ido fi sua percepção distorcida. O indi\íduo distorce os fatos por estar motivado a embora não esteja L:onsL:il,nte da motivação. e nem mesmo da ação de ··distorcer". () <.luto-engano IhtunL segundo Arruda (Identidade pessoal. papel social e auto-engano \alorati\'o. : :\kstre cm filosofia pela UNESP Docente da FAC-FEA.CEP 16015-280. Araçatuba (SPl , ( importante e'\plicar que não somente o auto-engano t;ltual. Ilú também o auto, engano \ almati\ o em que a insinceridade do sujeito consigo mesmo está no \aIOL pnl\ <1\ elmente imagimírin. que ele atribui a uma J<:terminada l\e,ta retlt''\:1o o auto- engalw \ alurati\ (l não será analisado porque não t'stú direlêlmente \ inculado à percepção e a estados mentais como sentimentos. interesst's. de\eres. ideais e mais. n:lacionaJos atribuiç,ltl de \alon:s e conseqüente e açlíes. 2-1

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AS INVARIAcirc~CIAS DA PERCEPCcedilAtildeO DIRETA E O AUTOshy

ENGANO FATlJAL

Socircnia Ribeiro MORAIS 1

Resumo () o~jetio desta anaacutelise eacute relacionar o auto-engano huuaL tido como

lima tl1lha perceptiva com as invariacircncias ou s~ja estruturas estaacuteveis apresentadas

pela perspectiva da percepccedilatildeo direta O enfoque do presente trabalho estaacute no

campo da percepccedilatildeo entendendo por ela a relaccedilatildeo imediata e consciente entre

organismo e meio-ambiente atraveacutes da quaL o organismo ohteacutem infon11accedilotildees

para sua sobremiddotil~ncia Com a linalidade de delimitar a anaacutelise dentre os sentidos

da percepccedilatildeo enrocaremos o da isatildeo devido agrave importacircncia que o ser humano

lhe atrihui

PalaTas-chan~ auto-engano tagravetual inntrifmcias e ariacircncias penepccedilatildeo direta

Por auto-engano btuaF compncndemos a disposiccedilatildeo do sujeito

afirmar sohre um I~lto incorretamente deido fi sua percepccedilatildeo distorcida O

indiiacuteduo distorce os fatos por estar motivado a j~1Zecirc-lo embora natildeo esteja

LonsLilnte da motivaccedilatildeo e nem mesmo da accedilatildeo de middotmiddotdistorcer () ltluto-engano

IhtunL segundo Arruda (Identidade pessoal papel social e auto-engano aloratio

kstre cm filosofia pela UNESP Docente da FAC-FEACEP 16015-280 Araccedilatuba (SPl ( importante eplicar que natildeo haacute somente o auto-engano tltual Iluacute tambeacutem o auto

engano almati o em que a insinceridade do sujeito consigo mesmo estaacute no aIOL pnl lt1 elmente imagimiacuterin que ele atribui a uma Jltterminada coi~a leta retlt1o o autoshyengalw alurati (l natildeo seraacute analisado porque natildeo tstuacute direlecirclmente inculado agrave percepccedilatildeo e ~il1 a estados mentais como sentimentos interessts deeres ideais e (llllro~ mais nlacionaJos ~l atribuiccedilltl de alons e consequumlente escolha~ e accedilliacutees

2-1

middot p2) eacute tambeacutem denominado de auto-engano proposicionaL pois aparece como

proposiccedilatildeo descritiva de alguma coisa tagraveto ou evento

Arruda em seu texto Uma anaacutelise do auto-engano fagravetual publicado

na obra Encontro com as ciecircncias cognitilCls de 1998 (p 169) detine autoshy

engano [atual da seguinte fonna

Um sujeito S estaacute em auto-mentira fatual em relaccedilatildeo a

P no momento t se e somente se( I) S tem a dbrosiccedilagraveo

de afirmar P (l)S tem em algum grau duacutevidas sobre a

verdade de P e (3) o seu afirmar P nagraveo eacute um caso de

mentira interpessoal propriamente dita

Portanto para haver auto-engano fatual eacute preciso I) que o sujeito

afirme algo incorretamente Isto porque a mentira ou a insinceridade natildeo estaacute

no desejo Segundo Arruda (1998) o estado mental de desejar existe ou natildeo

Ixiste mas natildeo pode ser sincero ou insincero O desejo eacute apenas motivaccedilatildeo a

accedilatildeo eacute que se caracteriza qual itativamente como sincera ou insincera A segunda

caracteriacutestica do auto-engano tagravetual eacute que embora o sujeito atinne com convicccedilatildeo

sohre um fato haacute uma 1eC duacutevida que persiste forccedilando-o a reafirmaccedilotildees

constantes A terceira caracteriacutestica apresenta esta duacutevida como resultante do

indiviacuteduo natildeo estar mentindo apenas para algueacutem mas tambeacutem para si mesmo

Portanto de alguma f0Jl11a ek sahe que sua atiJl11accedilagraveo eacute incorrela poreacutem natildeo

se sente motivado a revisaacute-la

lv1esmo estando o sl~jeito a ati 1111 ar ou negar sohre um tagraveto eacute poss iacutecl

que os outros reconheccedilam seu engano Isto porque o tlllo ou evento ocorre

realmente e pode ser registrado como um acontecimento Nagraveo eacute mera ideacuteia nu

especulaccedilatildeo Mas de acordo com Hannah Arendt em sua ohra A c()l1di~il()

do homem moderno p287 nagraveo haacute garantia alguma que o registro de um fato

25

pem1aneccedila intacto apoacutes suas distorccedilotildees e mesmo tentativa de eliminaacute-lo Os

latos ou eventos podem ser distorcidos pela opiniatildeo de quem os vecirc os vivenda

ou mesmo os interpreta adaptando-o agraves suas ideologias interesses ou crenccedilas

Este erro eacute iniciado com o sujeito detectando imprecisamente a ocorrecircncia a

seguir manipulando inconscientemente as opiniotildees e por fim desvirtuando sem

que saiha o proacuteprio fato Esta consequumlecircncia de acordo com o nosso ponto de

vista eacute uma hoa razatildeo para a anaacutelise do auto-engano tatuaI

Arendt na mesma ohra ao analisar a verdade btual na poliacutetica

afimla que apenas os entoques de interesse no desviltuamemo da verdade tatuai

mudaram ao longo da histoacuteria poreacutem a proacutepria distorccedilatildeo sempre se manteve

Um HltO de relevante importacircncia pode desaparecer por um longo periacuteodo (anos

deacutecadas nu mesmo seacuteculo dependendo () regime poliacutetico) distorcido por

opiniotildees A recuperaccedilatildeo de dados tatuais nos arquivos histoacutericos deixado por

alluma consciecircncia critica deve-se agraves evidentes lacunas ou uumlllta de coerecircncia quando analisado em algum momento histoacuterico posterior o que ohriga o

revisionista a buscar outros dados

A caracteriacutestica natildeo conclusiva dos latos em si mesmos diz Arendt

p 300 permite tais distorccedilotildees Ou seja os fatos natildeo se auto-justilicam eles soacute

tecircm sentido ao serem colocados em um contexto interpretati) que nem ao

menos eacute a uacutenica possibilidade (Arendt196 L p308-9) Citando Arendt (1961

p 3(1)

Eacute verdade que em retrospecto - isto eacute em perspectiva

histoacuterica - toda seqUecircncia de eventos aparece como se

nagraveo pudesse ter acontecido de outra forma mas isso eacute

uma ilusatildeo oacuteptica ou melhor existencial nada poderia

jamais acontecer se a realidade natildeo matasse por

definiccedilatildeo todas as demais potencialidades inerentes a

lima dada situaccedilatildeo

26

Assim os fatos estatildeo a mercecirc das emoccedilotildees que formam a opiniatildeo

da maioria em detenninados momentos histoacutericos Mas isso natildeo quer dizer que

nagraveo haja uma interpretaccedilatildeo mais correta Embora as interpretaccedilotildees possam ser

manipuladas haacute um encadeamento de tagravetos que exige coerecircncia interpretativa

Como tambeacutem uma mentira na interpretaccedilatildeo acarreta outras numa sequumlecircncia

cujo fim eacute imprevisiacutevel mas geralmente fagraventasioso

Daniel Goleman em sua obra 1enliras essenciais lerdades

simples (p 97-99) cita como exemplo a anaacutelise de Ulric Neisser(em seu at1igo

John Deans Memory A Case Study Cognitiol1 Y 1981 1-11) sobre o

depoimento de John Dean Secretaacuterio de Estado de Nixon no caso Watergale

Goleman revecirc a parte do depoimento que se refere ao encontro de Dean com

1iXOll e Haldeman no Gabinete (hui em 15 de setembro de 1912 () que Neisser

constata eacute que somente 0 espiacuterito da conversa entre esses homens foi lembrado

com precisatildeo por Oean Ou seja ele retratou o encontro mas distorceu os

fatos isto eacute o conteuacutedo da conversa com o objetivo de se favorecer

O grande paradoxo do auto-engano tatuaI que o distingue das outras

mentiras eacute o mentir do sujeito para si mesmo Podemos perguntar como eacute possiacutevel

algueacutel1lmcntir para si mesmo jaacute que para tal feito eacute preciso que saiba sobre os

uumlnos Este problema foi muito investigado nas deacutecadas de 60 e 70 por algumas

ciecircncias entre elas a Psicologia Poreacutem de modo geral as pesquisas mantiveram

a perspectiva da tradiccedilatildeo representaeionista na qual a percepccedilatildeo resulta cm

primeiro lugar da sensaccedilatildeo motiaua pelo estiacutemulo do meio em cnntato com o

sujeito num segundo momento haacute o processo de reconhecimento proporcionado

por estruturas mentais organizadoras destas sensaccedilotildees que antecipadamente

reprimem tI conscientizaccedilagraveo de t~1tos que causam anguacutestia e ansiedade

Partindo do princiacutepio em que a percepccedilatildeo visual nagraveo depende de

esquemas mentais para intermediar a sensaccedilatildeo e a percepccedilatildeo e que nem mesmo

existe lima separaccedilatildeo entre elas (satildeo partes de um mesmo processo com di ferenccedila

Jllll 2005 27

apenas de graduaccedilatildeo) segundo Gibson em sua obra The ecgical approach

to lisw perccpliol1 acreditamos que pode haver uma explicaccedilatildeo coerente na

perspectiva da percepccedilatildeo direta que justifique a mentira do agente consigo mesmo

A estrutura do processo do auto-engano fatual apresenta-se como

repressatildeo e defesa em que lapsos de memoacuteria e lalhas na percepccedilatildeo alteram

ou eliminam um tagraveto Poreacutem segundo o enfoacuteque da percepccedilatildeo direta que

procuramos apresentar nagraveo haacute necessidade de csquemas representacionais para

reter o que quercmos esquecer e outros esquemas que substituam o reprovado

por nossas emoccedilotildees Parece-nos possiacutevel entender o auto-engano tatuaI como

um estado disposicional do indiviacuteduo que cria desios uacute sua percepccedilatildeo

produzindo uma experiecircncia perceptiva enganosa O estado disposicional pode

ser caracterizado como forccedilas ou propensotildees que possibilitam a ocon-ecircncia de

algo quando condiccedilotildees adequadas se apresentam (vIorais 20()() p86) Quando

[knn mente sobre elogios que receheu de lixon ao alertaacute-lo de que o caso

poderia ser reelado algum dia ele estaacute preacute-disposto a relatar sohre I~ltos que

contribuam com sua auto-estima E c natildeo estuacute preparado para aceitar seus elTOS

de conduta do caso

Assim o estado disposicional do indiviacuteduo predisposto

psicologicamente a natildeo aceiWr certos btos que o incomodum nagraveo perm ite ao

imliIacuteduo alinmiacute-1os C0l110 os detecta Em outras palanas se ()rccedilas psicoloacutegicas

que atuam no estado disposicional do sujeito criarem hatTeiras il sua percepccedilatildeo

ele a distorceraacute quando afirmar natildeo soacute para os outros como para si mesmo

Por llxccedilas psicoloacutegicas entendemos as emoccedilotildees (como ansiedade

medo e anguacutestia) que causam em algum grau impacto sobre as pessoas Essas

emoccedilotildees delineiam o estado diposicional do indiviacuteduo habilitando-o a prevenirshy

se para possiacuteveis fatos que lhe provocariam dor se viessem a ocon-er Como

As prm as apr~sentadas no processo demonstram que ele nagraveo alertou Nixon

28

essa prevenccedilatildeo do estado disposicional natildeo eacute suficiente para impedir que os

fatos sucedam e sejam percebidos entatildeo geraraacute uma distorccedilatildeo no ato

consequumlente agrave percepccedilatildeo para se evitar a dor A accedilatildeo distorciva por sua vez

natildeo estando de acordo com a condiccedilatildeo orgacircnica do sujeito perceptivo que se

inter-relaciona com o meio no qual estaacute inserido levaraacute o sujeito que estaacute em

auto-engano a sentir algum mal estar uma sensaccedilatildeo de incerteza Desta fomla

podemos dizer que o auto-engano eacute um desajuste expresso na accedilatildeo efetiva do

indiviacuteduo entre suas (jf(mlan(es~ e as do meio ambiente Mesmo estando John

Dean diante de fatos que natildeo confirmavam seu depoimento ele o manteve

procurando reforccedilaacute-lo atraveacutes da narraccedilatildeo detalhada e imaginosa de outros finos

A traeacutes de tal desempenho procurava assegurar a si e aos outros que sua memoacuteria

era precisa

Em nossa concepccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo indiviacuteduomeio nas

disponibilidades ou ajfmlances do indiviacuteduo e do ambiente a causa da duacutevida

do incocircmodo prmOcado pela incoerecircncia da auto-mentira Mais especificamente

estaacute na incoerecircncia entre as invariacircncias das macro-estruturas dos estiacutemulos

informacionais que se apresentam como realmente sagraveo e as deksas do sujeito

que as percebe A disposiccedilatildeo do indiviacuteduo cm atimlar o que quer crer contrapotildeeshy

se aos tatos Desta ronml nagraveo havendo alteraccedilotildees dos tatos no meio e o indiviacuteduo

continuando a perceber o que ocorre a sua volta dificilmente ele acreditaruacute

plenamente no que atirma Mas manteraacute a assertiva porque seu estado

disposicional criou tal defesa

Para melhor compreensatildeo da hipoacutetese que estamos apresentando

achamos importante expor a noccedilatildeo de invariacircncia do processo perceptivo

~ Segundo Lombardo ( 1987 p 347) Gibson compreende o conceito de afimlullce como a

relaccedilatildeo de complementaridade que se estabelece entre um organismo e o seu meio-ambiente frente aos constantes eventos As atonJwlclts proporcionam certas predisposiccedilotildees no organismo desde que certos fatos ocasionais ocorram

segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo

direta

Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion

ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que

ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema

Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica

A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja

no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo

visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as

estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol

meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes

do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio

As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes

do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os

organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de

variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo

Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e

constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e

invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um

exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c

A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia

F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )

30

invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito

de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre

um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado

a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir

em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo

atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus

subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam

enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere

alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das

consequumlecircncias do tagraveto

Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado

das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson

19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute

tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente

conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por

Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor

compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s

os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes

do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio

ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico

ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes

do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)

O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste

em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como

redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas

Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31

---_ _--------------------shy

o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas

(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem

informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo

(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem

arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo

(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou

distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante

dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no

mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este

pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute

imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes

satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com

nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos

obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar

subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada

em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos

que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John

Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente

sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo

baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram

subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato

Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute

percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move

haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem

invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista

que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo

de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso

Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto

32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005

em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e

variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo

apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do

quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra

Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou

alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram

aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do

deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os

unil(mnes

Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no

ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas

supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de

oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)

De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se

deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas

Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar

que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies

das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na

realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os

conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies

das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do

layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se

inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores

que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas

puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a

estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco

luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias

pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do

AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33

quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores

que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as

informaccedilotildees de seus soldados

Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua

obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os

gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou

defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo

na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema

imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte

eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer

e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como

reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do

an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila

da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo

uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo

eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador

e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979

- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima

superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais

longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica

34

) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a

reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica

ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos

soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos

soldados alematildees

Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e

datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem

o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados

em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico

seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela

pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam

trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo

o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os

levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente

Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente

percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic

injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros

ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e

sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano

de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy

10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as

condiccedilotildees em que se encontrava

Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido

atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa

percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o

corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem

percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as

partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo

35

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

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ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

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~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

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1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

middot p2) eacute tambeacutem denominado de auto-engano proposicionaL pois aparece como

proposiccedilatildeo descritiva de alguma coisa tagraveto ou evento

Arruda em seu texto Uma anaacutelise do auto-engano fagravetual publicado

na obra Encontro com as ciecircncias cognitilCls de 1998 (p 169) detine autoshy

engano [atual da seguinte fonna

Um sujeito S estaacute em auto-mentira fatual em relaccedilatildeo a

P no momento t se e somente se( I) S tem a dbrosiccedilagraveo

de afirmar P (l)S tem em algum grau duacutevidas sobre a

verdade de P e (3) o seu afirmar P nagraveo eacute um caso de

mentira interpessoal propriamente dita

Portanto para haver auto-engano fatual eacute preciso I) que o sujeito

afirme algo incorretamente Isto porque a mentira ou a insinceridade natildeo estaacute

no desejo Segundo Arruda (1998) o estado mental de desejar existe ou natildeo

Ixiste mas natildeo pode ser sincero ou insincero O desejo eacute apenas motivaccedilatildeo a

accedilatildeo eacute que se caracteriza qual itativamente como sincera ou insincera A segunda

caracteriacutestica do auto-engano tagravetual eacute que embora o sujeito atinne com convicccedilatildeo

sohre um fato haacute uma 1eC duacutevida que persiste forccedilando-o a reafirmaccedilotildees

constantes A terceira caracteriacutestica apresenta esta duacutevida como resultante do

indiviacuteduo natildeo estar mentindo apenas para algueacutem mas tambeacutem para si mesmo

Portanto de alguma f0Jl11a ek sahe que sua atiJl11accedilagraveo eacute incorrela poreacutem natildeo

se sente motivado a revisaacute-la

lv1esmo estando o sl~jeito a ati 1111 ar ou negar sohre um tagraveto eacute poss iacutecl

que os outros reconheccedilam seu engano Isto porque o tlllo ou evento ocorre

realmente e pode ser registrado como um acontecimento Nagraveo eacute mera ideacuteia nu

especulaccedilatildeo Mas de acordo com Hannah Arendt em sua ohra A c()l1di~il()

do homem moderno p287 nagraveo haacute garantia alguma que o registro de um fato

25

pem1aneccedila intacto apoacutes suas distorccedilotildees e mesmo tentativa de eliminaacute-lo Os

latos ou eventos podem ser distorcidos pela opiniatildeo de quem os vecirc os vivenda

ou mesmo os interpreta adaptando-o agraves suas ideologias interesses ou crenccedilas

Este erro eacute iniciado com o sujeito detectando imprecisamente a ocorrecircncia a

seguir manipulando inconscientemente as opiniotildees e por fim desvirtuando sem

que saiha o proacuteprio fato Esta consequumlecircncia de acordo com o nosso ponto de

vista eacute uma hoa razatildeo para a anaacutelise do auto-engano tatuaI

Arendt na mesma ohra ao analisar a verdade btual na poliacutetica

afimla que apenas os entoques de interesse no desviltuamemo da verdade tatuai

mudaram ao longo da histoacuteria poreacutem a proacutepria distorccedilatildeo sempre se manteve

Um HltO de relevante importacircncia pode desaparecer por um longo periacuteodo (anos

deacutecadas nu mesmo seacuteculo dependendo () regime poliacutetico) distorcido por

opiniotildees A recuperaccedilatildeo de dados tatuais nos arquivos histoacutericos deixado por

alluma consciecircncia critica deve-se agraves evidentes lacunas ou uumlllta de coerecircncia quando analisado em algum momento histoacuterico posterior o que ohriga o

revisionista a buscar outros dados

A caracteriacutestica natildeo conclusiva dos latos em si mesmos diz Arendt

p 300 permite tais distorccedilotildees Ou seja os fatos natildeo se auto-justilicam eles soacute

tecircm sentido ao serem colocados em um contexto interpretati) que nem ao

menos eacute a uacutenica possibilidade (Arendt196 L p308-9) Citando Arendt (1961

p 3(1)

Eacute verdade que em retrospecto - isto eacute em perspectiva

histoacuterica - toda seqUecircncia de eventos aparece como se

nagraveo pudesse ter acontecido de outra forma mas isso eacute

uma ilusatildeo oacuteptica ou melhor existencial nada poderia

jamais acontecer se a realidade natildeo matasse por

definiccedilatildeo todas as demais potencialidades inerentes a

lima dada situaccedilatildeo

26

Assim os fatos estatildeo a mercecirc das emoccedilotildees que formam a opiniatildeo

da maioria em detenninados momentos histoacutericos Mas isso natildeo quer dizer que

nagraveo haja uma interpretaccedilatildeo mais correta Embora as interpretaccedilotildees possam ser

manipuladas haacute um encadeamento de tagravetos que exige coerecircncia interpretativa

Como tambeacutem uma mentira na interpretaccedilatildeo acarreta outras numa sequumlecircncia

cujo fim eacute imprevisiacutevel mas geralmente fagraventasioso

Daniel Goleman em sua obra 1enliras essenciais lerdades

simples (p 97-99) cita como exemplo a anaacutelise de Ulric Neisser(em seu at1igo

John Deans Memory A Case Study Cognitiol1 Y 1981 1-11) sobre o

depoimento de John Dean Secretaacuterio de Estado de Nixon no caso Watergale

Goleman revecirc a parte do depoimento que se refere ao encontro de Dean com

1iXOll e Haldeman no Gabinete (hui em 15 de setembro de 1912 () que Neisser

constata eacute que somente 0 espiacuterito da conversa entre esses homens foi lembrado

com precisatildeo por Oean Ou seja ele retratou o encontro mas distorceu os

fatos isto eacute o conteuacutedo da conversa com o objetivo de se favorecer

O grande paradoxo do auto-engano tatuaI que o distingue das outras

mentiras eacute o mentir do sujeito para si mesmo Podemos perguntar como eacute possiacutevel

algueacutel1lmcntir para si mesmo jaacute que para tal feito eacute preciso que saiba sobre os

uumlnos Este problema foi muito investigado nas deacutecadas de 60 e 70 por algumas

ciecircncias entre elas a Psicologia Poreacutem de modo geral as pesquisas mantiveram

a perspectiva da tradiccedilatildeo representaeionista na qual a percepccedilatildeo resulta cm

primeiro lugar da sensaccedilatildeo motiaua pelo estiacutemulo do meio em cnntato com o

sujeito num segundo momento haacute o processo de reconhecimento proporcionado

por estruturas mentais organizadoras destas sensaccedilotildees que antecipadamente

reprimem tI conscientizaccedilagraveo de t~1tos que causam anguacutestia e ansiedade

Partindo do princiacutepio em que a percepccedilatildeo visual nagraveo depende de

esquemas mentais para intermediar a sensaccedilatildeo e a percepccedilatildeo e que nem mesmo

existe lima separaccedilatildeo entre elas (satildeo partes de um mesmo processo com di ferenccedila

Jllll 2005 27

apenas de graduaccedilatildeo) segundo Gibson em sua obra The ecgical approach

to lisw perccpliol1 acreditamos que pode haver uma explicaccedilatildeo coerente na

perspectiva da percepccedilatildeo direta que justifique a mentira do agente consigo mesmo

A estrutura do processo do auto-engano fatual apresenta-se como

repressatildeo e defesa em que lapsos de memoacuteria e lalhas na percepccedilatildeo alteram

ou eliminam um tagraveto Poreacutem segundo o enfoacuteque da percepccedilatildeo direta que

procuramos apresentar nagraveo haacute necessidade de csquemas representacionais para

reter o que quercmos esquecer e outros esquemas que substituam o reprovado

por nossas emoccedilotildees Parece-nos possiacutevel entender o auto-engano tatuaI como

um estado disposicional do indiviacuteduo que cria desios uacute sua percepccedilatildeo

produzindo uma experiecircncia perceptiva enganosa O estado disposicional pode

ser caracterizado como forccedilas ou propensotildees que possibilitam a ocon-ecircncia de

algo quando condiccedilotildees adequadas se apresentam (vIorais 20()() p86) Quando

[knn mente sobre elogios que receheu de lixon ao alertaacute-lo de que o caso

poderia ser reelado algum dia ele estaacute preacute-disposto a relatar sohre I~ltos que

contribuam com sua auto-estima E c natildeo estuacute preparado para aceitar seus elTOS

de conduta do caso

Assim o estado disposicional do indiviacuteduo predisposto

psicologicamente a natildeo aceiWr certos btos que o incomodum nagraveo perm ite ao

imliIacuteduo alinmiacute-1os C0l110 os detecta Em outras palanas se ()rccedilas psicoloacutegicas

que atuam no estado disposicional do sujeito criarem hatTeiras il sua percepccedilatildeo

ele a distorceraacute quando afirmar natildeo soacute para os outros como para si mesmo

Por llxccedilas psicoloacutegicas entendemos as emoccedilotildees (como ansiedade

medo e anguacutestia) que causam em algum grau impacto sobre as pessoas Essas

emoccedilotildees delineiam o estado diposicional do indiviacuteduo habilitando-o a prevenirshy

se para possiacuteveis fatos que lhe provocariam dor se viessem a ocon-er Como

As prm as apr~sentadas no processo demonstram que ele nagraveo alertou Nixon

28

essa prevenccedilatildeo do estado disposicional natildeo eacute suficiente para impedir que os

fatos sucedam e sejam percebidos entatildeo geraraacute uma distorccedilatildeo no ato

consequumlente agrave percepccedilatildeo para se evitar a dor A accedilatildeo distorciva por sua vez

natildeo estando de acordo com a condiccedilatildeo orgacircnica do sujeito perceptivo que se

inter-relaciona com o meio no qual estaacute inserido levaraacute o sujeito que estaacute em

auto-engano a sentir algum mal estar uma sensaccedilatildeo de incerteza Desta fomla

podemos dizer que o auto-engano eacute um desajuste expresso na accedilatildeo efetiva do

indiviacuteduo entre suas (jf(mlan(es~ e as do meio ambiente Mesmo estando John

Dean diante de fatos que natildeo confirmavam seu depoimento ele o manteve

procurando reforccedilaacute-lo atraveacutes da narraccedilatildeo detalhada e imaginosa de outros finos

A traeacutes de tal desempenho procurava assegurar a si e aos outros que sua memoacuteria

era precisa

Em nossa concepccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo indiviacuteduomeio nas

disponibilidades ou ajfmlances do indiviacuteduo e do ambiente a causa da duacutevida

do incocircmodo prmOcado pela incoerecircncia da auto-mentira Mais especificamente

estaacute na incoerecircncia entre as invariacircncias das macro-estruturas dos estiacutemulos

informacionais que se apresentam como realmente sagraveo e as deksas do sujeito

que as percebe A disposiccedilatildeo do indiviacuteduo cm atimlar o que quer crer contrapotildeeshy

se aos tatos Desta ronml nagraveo havendo alteraccedilotildees dos tatos no meio e o indiviacuteduo

continuando a perceber o que ocorre a sua volta dificilmente ele acreditaruacute

plenamente no que atirma Mas manteraacute a assertiva porque seu estado

disposicional criou tal defesa

Para melhor compreensatildeo da hipoacutetese que estamos apresentando

achamos importante expor a noccedilatildeo de invariacircncia do processo perceptivo

~ Segundo Lombardo ( 1987 p 347) Gibson compreende o conceito de afimlullce como a

relaccedilatildeo de complementaridade que se estabelece entre um organismo e o seu meio-ambiente frente aos constantes eventos As atonJwlclts proporcionam certas predisposiccedilotildees no organismo desde que certos fatos ocasionais ocorram

segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo

direta

Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion

ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que

ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema

Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica

A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja

no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo

visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as

estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol

meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes

do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio

As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes

do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os

organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de

variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo

Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e

constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e

invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um

exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c

A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia

F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )

30

invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito

de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre

um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado

a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir

em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo

atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus

subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam

enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere

alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das

consequumlecircncias do tagraveto

Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado

das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson

19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute

tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente

conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por

Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor

compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s

os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes

do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio

ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico

ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes

do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)

O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste

em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como

redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas

Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31

---_ _--------------------shy

o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas

(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem

informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo

(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem

arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo

(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou

distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante

dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no

mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este

pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute

imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes

satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com

nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos

obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar

subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada

em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos

que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John

Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente

sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo

baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram

subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato

Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute

percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move

haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem

invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista

que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo

de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso

Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto

32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005

em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e

variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo

apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do

quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra

Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou

alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram

aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do

deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os

unil(mnes

Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no

ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas

supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de

oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)

De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se

deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas

Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar

que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies

das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na

realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os

conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies

das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do

layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se

inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores

que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas

puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a

estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco

luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias

pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do

AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33

quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores

que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as

informaccedilotildees de seus soldados

Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua

obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os

gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou

defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo

na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema

imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte

eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer

e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como

reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do

an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila

da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo

uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo

eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador

e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979

- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima

superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais

longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica

34

) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a

reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica

ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos

soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos

soldados alematildees

Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e

datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem

o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados

em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico

seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela

pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam

trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo

o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os

levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente

Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente

percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic

injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros

ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e

sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano

de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy

10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as

condiccedilotildees em que se encontrava

Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido

atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa

percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o

corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem

percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as

partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo

35

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

pem1aneccedila intacto apoacutes suas distorccedilotildees e mesmo tentativa de eliminaacute-lo Os

latos ou eventos podem ser distorcidos pela opiniatildeo de quem os vecirc os vivenda

ou mesmo os interpreta adaptando-o agraves suas ideologias interesses ou crenccedilas

Este erro eacute iniciado com o sujeito detectando imprecisamente a ocorrecircncia a

seguir manipulando inconscientemente as opiniotildees e por fim desvirtuando sem

que saiha o proacuteprio fato Esta consequumlecircncia de acordo com o nosso ponto de

vista eacute uma hoa razatildeo para a anaacutelise do auto-engano tatuaI

Arendt na mesma ohra ao analisar a verdade btual na poliacutetica

afimla que apenas os entoques de interesse no desviltuamemo da verdade tatuai

mudaram ao longo da histoacuteria poreacutem a proacutepria distorccedilatildeo sempre se manteve

Um HltO de relevante importacircncia pode desaparecer por um longo periacuteodo (anos

deacutecadas nu mesmo seacuteculo dependendo () regime poliacutetico) distorcido por

opiniotildees A recuperaccedilatildeo de dados tatuais nos arquivos histoacutericos deixado por

alluma consciecircncia critica deve-se agraves evidentes lacunas ou uumlllta de coerecircncia quando analisado em algum momento histoacuterico posterior o que ohriga o

revisionista a buscar outros dados

A caracteriacutestica natildeo conclusiva dos latos em si mesmos diz Arendt

p 300 permite tais distorccedilotildees Ou seja os fatos natildeo se auto-justilicam eles soacute

tecircm sentido ao serem colocados em um contexto interpretati) que nem ao

menos eacute a uacutenica possibilidade (Arendt196 L p308-9) Citando Arendt (1961

p 3(1)

Eacute verdade que em retrospecto - isto eacute em perspectiva

histoacuterica - toda seqUecircncia de eventos aparece como se

nagraveo pudesse ter acontecido de outra forma mas isso eacute

uma ilusatildeo oacuteptica ou melhor existencial nada poderia

jamais acontecer se a realidade natildeo matasse por

definiccedilatildeo todas as demais potencialidades inerentes a

lima dada situaccedilatildeo

26

Assim os fatos estatildeo a mercecirc das emoccedilotildees que formam a opiniatildeo

da maioria em detenninados momentos histoacutericos Mas isso natildeo quer dizer que

nagraveo haja uma interpretaccedilatildeo mais correta Embora as interpretaccedilotildees possam ser

manipuladas haacute um encadeamento de tagravetos que exige coerecircncia interpretativa

Como tambeacutem uma mentira na interpretaccedilatildeo acarreta outras numa sequumlecircncia

cujo fim eacute imprevisiacutevel mas geralmente fagraventasioso

Daniel Goleman em sua obra 1enliras essenciais lerdades

simples (p 97-99) cita como exemplo a anaacutelise de Ulric Neisser(em seu at1igo

John Deans Memory A Case Study Cognitiol1 Y 1981 1-11) sobre o

depoimento de John Dean Secretaacuterio de Estado de Nixon no caso Watergale

Goleman revecirc a parte do depoimento que se refere ao encontro de Dean com

1iXOll e Haldeman no Gabinete (hui em 15 de setembro de 1912 () que Neisser

constata eacute que somente 0 espiacuterito da conversa entre esses homens foi lembrado

com precisatildeo por Oean Ou seja ele retratou o encontro mas distorceu os

fatos isto eacute o conteuacutedo da conversa com o objetivo de se favorecer

O grande paradoxo do auto-engano tatuaI que o distingue das outras

mentiras eacute o mentir do sujeito para si mesmo Podemos perguntar como eacute possiacutevel

algueacutel1lmcntir para si mesmo jaacute que para tal feito eacute preciso que saiba sobre os

uumlnos Este problema foi muito investigado nas deacutecadas de 60 e 70 por algumas

ciecircncias entre elas a Psicologia Poreacutem de modo geral as pesquisas mantiveram

a perspectiva da tradiccedilatildeo representaeionista na qual a percepccedilatildeo resulta cm

primeiro lugar da sensaccedilatildeo motiaua pelo estiacutemulo do meio em cnntato com o

sujeito num segundo momento haacute o processo de reconhecimento proporcionado

por estruturas mentais organizadoras destas sensaccedilotildees que antecipadamente

reprimem tI conscientizaccedilagraveo de t~1tos que causam anguacutestia e ansiedade

Partindo do princiacutepio em que a percepccedilatildeo visual nagraveo depende de

esquemas mentais para intermediar a sensaccedilatildeo e a percepccedilatildeo e que nem mesmo

existe lima separaccedilatildeo entre elas (satildeo partes de um mesmo processo com di ferenccedila

Jllll 2005 27

apenas de graduaccedilatildeo) segundo Gibson em sua obra The ecgical approach

to lisw perccpliol1 acreditamos que pode haver uma explicaccedilatildeo coerente na

perspectiva da percepccedilatildeo direta que justifique a mentira do agente consigo mesmo

A estrutura do processo do auto-engano fatual apresenta-se como

repressatildeo e defesa em que lapsos de memoacuteria e lalhas na percepccedilatildeo alteram

ou eliminam um tagraveto Poreacutem segundo o enfoacuteque da percepccedilatildeo direta que

procuramos apresentar nagraveo haacute necessidade de csquemas representacionais para

reter o que quercmos esquecer e outros esquemas que substituam o reprovado

por nossas emoccedilotildees Parece-nos possiacutevel entender o auto-engano tatuaI como

um estado disposicional do indiviacuteduo que cria desios uacute sua percepccedilatildeo

produzindo uma experiecircncia perceptiva enganosa O estado disposicional pode

ser caracterizado como forccedilas ou propensotildees que possibilitam a ocon-ecircncia de

algo quando condiccedilotildees adequadas se apresentam (vIorais 20()() p86) Quando

[knn mente sobre elogios que receheu de lixon ao alertaacute-lo de que o caso

poderia ser reelado algum dia ele estaacute preacute-disposto a relatar sohre I~ltos que

contribuam com sua auto-estima E c natildeo estuacute preparado para aceitar seus elTOS

de conduta do caso

Assim o estado disposicional do indiviacuteduo predisposto

psicologicamente a natildeo aceiWr certos btos que o incomodum nagraveo perm ite ao

imliIacuteduo alinmiacute-1os C0l110 os detecta Em outras palanas se ()rccedilas psicoloacutegicas

que atuam no estado disposicional do sujeito criarem hatTeiras il sua percepccedilatildeo

ele a distorceraacute quando afirmar natildeo soacute para os outros como para si mesmo

Por llxccedilas psicoloacutegicas entendemos as emoccedilotildees (como ansiedade

medo e anguacutestia) que causam em algum grau impacto sobre as pessoas Essas

emoccedilotildees delineiam o estado diposicional do indiviacuteduo habilitando-o a prevenirshy

se para possiacuteveis fatos que lhe provocariam dor se viessem a ocon-er Como

As prm as apr~sentadas no processo demonstram que ele nagraveo alertou Nixon

28

essa prevenccedilatildeo do estado disposicional natildeo eacute suficiente para impedir que os

fatos sucedam e sejam percebidos entatildeo geraraacute uma distorccedilatildeo no ato

consequumlente agrave percepccedilatildeo para se evitar a dor A accedilatildeo distorciva por sua vez

natildeo estando de acordo com a condiccedilatildeo orgacircnica do sujeito perceptivo que se

inter-relaciona com o meio no qual estaacute inserido levaraacute o sujeito que estaacute em

auto-engano a sentir algum mal estar uma sensaccedilatildeo de incerteza Desta fomla

podemos dizer que o auto-engano eacute um desajuste expresso na accedilatildeo efetiva do

indiviacuteduo entre suas (jf(mlan(es~ e as do meio ambiente Mesmo estando John

Dean diante de fatos que natildeo confirmavam seu depoimento ele o manteve

procurando reforccedilaacute-lo atraveacutes da narraccedilatildeo detalhada e imaginosa de outros finos

A traeacutes de tal desempenho procurava assegurar a si e aos outros que sua memoacuteria

era precisa

Em nossa concepccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo indiviacuteduomeio nas

disponibilidades ou ajfmlances do indiviacuteduo e do ambiente a causa da duacutevida

do incocircmodo prmOcado pela incoerecircncia da auto-mentira Mais especificamente

estaacute na incoerecircncia entre as invariacircncias das macro-estruturas dos estiacutemulos

informacionais que se apresentam como realmente sagraveo e as deksas do sujeito

que as percebe A disposiccedilatildeo do indiviacuteduo cm atimlar o que quer crer contrapotildeeshy

se aos tatos Desta ronml nagraveo havendo alteraccedilotildees dos tatos no meio e o indiviacuteduo

continuando a perceber o que ocorre a sua volta dificilmente ele acreditaruacute

plenamente no que atirma Mas manteraacute a assertiva porque seu estado

disposicional criou tal defesa

Para melhor compreensatildeo da hipoacutetese que estamos apresentando

achamos importante expor a noccedilatildeo de invariacircncia do processo perceptivo

~ Segundo Lombardo ( 1987 p 347) Gibson compreende o conceito de afimlullce como a

relaccedilatildeo de complementaridade que se estabelece entre um organismo e o seu meio-ambiente frente aos constantes eventos As atonJwlclts proporcionam certas predisposiccedilotildees no organismo desde que certos fatos ocasionais ocorram

segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo

direta

Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion

ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que

ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema

Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica

A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja

no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo

visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as

estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol

meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes

do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio

As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes

do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os

organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de

variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo

Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e

constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e

invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um

exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c

A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia

F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )

30

invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito

de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre

um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado

a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir

em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo

atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus

subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam

enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere

alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das

consequumlecircncias do tagraveto

Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado

das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson

19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute

tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente

conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por

Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor

compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s

os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes

do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio

ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico

ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes

do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)

O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste

em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como

redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas

Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31

---_ _--------------------shy

o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas

(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem

informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo

(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem

arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo

(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou

distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante

dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no

mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este

pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute

imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes

satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com

nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos

obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar

subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada

em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos

que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John

Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente

sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo

baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram

subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato

Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute

percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move

haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem

invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista

que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo

de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso

Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto

32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005

em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e

variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo

apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do

quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra

Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou

alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram

aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do

deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os

unil(mnes

Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no

ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas

supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de

oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)

De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se

deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas

Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar

que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies

das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na

realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os

conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies

das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do

layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se

inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores

que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas

puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a

estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco

luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias

pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do

AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33

quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores

que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as

informaccedilotildees de seus soldados

Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua

obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os

gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou

defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo

na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema

imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte

eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer

e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como

reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do

an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila

da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo

uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo

eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador

e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979

- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima

superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais

longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica

34

) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a

reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica

ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos

soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos

soldados alematildees

Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e

datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem

o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados

em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico

seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela

pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam

trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo

o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os

levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente

Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente

percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic

injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros

ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e

sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano

de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy

10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as

condiccedilotildees em que se encontrava

Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido

atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa

percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o

corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem

percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as

partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo

35

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

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ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

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ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

Assim os fatos estatildeo a mercecirc das emoccedilotildees que formam a opiniatildeo

da maioria em detenninados momentos histoacutericos Mas isso natildeo quer dizer que

nagraveo haja uma interpretaccedilatildeo mais correta Embora as interpretaccedilotildees possam ser

manipuladas haacute um encadeamento de tagravetos que exige coerecircncia interpretativa

Como tambeacutem uma mentira na interpretaccedilatildeo acarreta outras numa sequumlecircncia

cujo fim eacute imprevisiacutevel mas geralmente fagraventasioso

Daniel Goleman em sua obra 1enliras essenciais lerdades

simples (p 97-99) cita como exemplo a anaacutelise de Ulric Neisser(em seu at1igo

John Deans Memory A Case Study Cognitiol1 Y 1981 1-11) sobre o

depoimento de John Dean Secretaacuterio de Estado de Nixon no caso Watergale

Goleman revecirc a parte do depoimento que se refere ao encontro de Dean com

1iXOll e Haldeman no Gabinete (hui em 15 de setembro de 1912 () que Neisser

constata eacute que somente 0 espiacuterito da conversa entre esses homens foi lembrado

com precisatildeo por Oean Ou seja ele retratou o encontro mas distorceu os

fatos isto eacute o conteuacutedo da conversa com o objetivo de se favorecer

O grande paradoxo do auto-engano tatuaI que o distingue das outras

mentiras eacute o mentir do sujeito para si mesmo Podemos perguntar como eacute possiacutevel

algueacutel1lmcntir para si mesmo jaacute que para tal feito eacute preciso que saiba sobre os

uumlnos Este problema foi muito investigado nas deacutecadas de 60 e 70 por algumas

ciecircncias entre elas a Psicologia Poreacutem de modo geral as pesquisas mantiveram

a perspectiva da tradiccedilatildeo representaeionista na qual a percepccedilatildeo resulta cm

primeiro lugar da sensaccedilatildeo motiaua pelo estiacutemulo do meio em cnntato com o

sujeito num segundo momento haacute o processo de reconhecimento proporcionado

por estruturas mentais organizadoras destas sensaccedilotildees que antecipadamente

reprimem tI conscientizaccedilagraveo de t~1tos que causam anguacutestia e ansiedade

Partindo do princiacutepio em que a percepccedilatildeo visual nagraveo depende de

esquemas mentais para intermediar a sensaccedilatildeo e a percepccedilatildeo e que nem mesmo

existe lima separaccedilatildeo entre elas (satildeo partes de um mesmo processo com di ferenccedila

Jllll 2005 27

apenas de graduaccedilatildeo) segundo Gibson em sua obra The ecgical approach

to lisw perccpliol1 acreditamos que pode haver uma explicaccedilatildeo coerente na

perspectiva da percepccedilatildeo direta que justifique a mentira do agente consigo mesmo

A estrutura do processo do auto-engano fatual apresenta-se como

repressatildeo e defesa em que lapsos de memoacuteria e lalhas na percepccedilatildeo alteram

ou eliminam um tagraveto Poreacutem segundo o enfoacuteque da percepccedilatildeo direta que

procuramos apresentar nagraveo haacute necessidade de csquemas representacionais para

reter o que quercmos esquecer e outros esquemas que substituam o reprovado

por nossas emoccedilotildees Parece-nos possiacutevel entender o auto-engano tatuaI como

um estado disposicional do indiviacuteduo que cria desios uacute sua percepccedilatildeo

produzindo uma experiecircncia perceptiva enganosa O estado disposicional pode

ser caracterizado como forccedilas ou propensotildees que possibilitam a ocon-ecircncia de

algo quando condiccedilotildees adequadas se apresentam (vIorais 20()() p86) Quando

[knn mente sobre elogios que receheu de lixon ao alertaacute-lo de que o caso

poderia ser reelado algum dia ele estaacute preacute-disposto a relatar sohre I~ltos que

contribuam com sua auto-estima E c natildeo estuacute preparado para aceitar seus elTOS

de conduta do caso

Assim o estado disposicional do indiviacuteduo predisposto

psicologicamente a natildeo aceiWr certos btos que o incomodum nagraveo perm ite ao

imliIacuteduo alinmiacute-1os C0l110 os detecta Em outras palanas se ()rccedilas psicoloacutegicas

que atuam no estado disposicional do sujeito criarem hatTeiras il sua percepccedilatildeo

ele a distorceraacute quando afirmar natildeo soacute para os outros como para si mesmo

Por llxccedilas psicoloacutegicas entendemos as emoccedilotildees (como ansiedade

medo e anguacutestia) que causam em algum grau impacto sobre as pessoas Essas

emoccedilotildees delineiam o estado diposicional do indiviacuteduo habilitando-o a prevenirshy

se para possiacuteveis fatos que lhe provocariam dor se viessem a ocon-er Como

As prm as apr~sentadas no processo demonstram que ele nagraveo alertou Nixon

28

essa prevenccedilatildeo do estado disposicional natildeo eacute suficiente para impedir que os

fatos sucedam e sejam percebidos entatildeo geraraacute uma distorccedilatildeo no ato

consequumlente agrave percepccedilatildeo para se evitar a dor A accedilatildeo distorciva por sua vez

natildeo estando de acordo com a condiccedilatildeo orgacircnica do sujeito perceptivo que se

inter-relaciona com o meio no qual estaacute inserido levaraacute o sujeito que estaacute em

auto-engano a sentir algum mal estar uma sensaccedilatildeo de incerteza Desta fomla

podemos dizer que o auto-engano eacute um desajuste expresso na accedilatildeo efetiva do

indiviacuteduo entre suas (jf(mlan(es~ e as do meio ambiente Mesmo estando John

Dean diante de fatos que natildeo confirmavam seu depoimento ele o manteve

procurando reforccedilaacute-lo atraveacutes da narraccedilatildeo detalhada e imaginosa de outros finos

A traeacutes de tal desempenho procurava assegurar a si e aos outros que sua memoacuteria

era precisa

Em nossa concepccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo indiviacuteduomeio nas

disponibilidades ou ajfmlances do indiviacuteduo e do ambiente a causa da duacutevida

do incocircmodo prmOcado pela incoerecircncia da auto-mentira Mais especificamente

estaacute na incoerecircncia entre as invariacircncias das macro-estruturas dos estiacutemulos

informacionais que se apresentam como realmente sagraveo e as deksas do sujeito

que as percebe A disposiccedilatildeo do indiviacuteduo cm atimlar o que quer crer contrapotildeeshy

se aos tatos Desta ronml nagraveo havendo alteraccedilotildees dos tatos no meio e o indiviacuteduo

continuando a perceber o que ocorre a sua volta dificilmente ele acreditaruacute

plenamente no que atirma Mas manteraacute a assertiva porque seu estado

disposicional criou tal defesa

Para melhor compreensatildeo da hipoacutetese que estamos apresentando

achamos importante expor a noccedilatildeo de invariacircncia do processo perceptivo

~ Segundo Lombardo ( 1987 p 347) Gibson compreende o conceito de afimlullce como a

relaccedilatildeo de complementaridade que se estabelece entre um organismo e o seu meio-ambiente frente aos constantes eventos As atonJwlclts proporcionam certas predisposiccedilotildees no organismo desde que certos fatos ocasionais ocorram

segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo

direta

Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion

ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que

ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema

Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica

A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja

no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo

visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as

estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol

meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes

do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio

As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes

do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os

organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de

variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo

Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e

constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e

invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um

exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c

A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia

F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )

30

invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito

de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre

um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado

a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir

em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo

atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus

subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam

enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere

alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das

consequumlecircncias do tagraveto

Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado

das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson

19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute

tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente

conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por

Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor

compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s

os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes

do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio

ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico

ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes

do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)

O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste

em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como

redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas

Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31

---_ _--------------------shy

o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas

(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem

informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo

(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem

arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo

(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou

distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante

dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no

mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este

pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute

imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes

satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com

nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos

obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar

subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada

em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos

que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John

Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente

sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo

baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram

subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato

Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute

percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move

haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem

invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista

que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo

de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso

Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto

32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005

em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e

variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo

apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do

quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra

Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou

alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram

aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do

deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os

unil(mnes

Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no

ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas

supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de

oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)

De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se

deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas

Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar

que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies

das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na

realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os

conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies

das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do

layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se

inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores

que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas

puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a

estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco

luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias

pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do

AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33

quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores

que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as

informaccedilotildees de seus soldados

Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua

obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os

gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou

defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo

na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema

imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte

eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer

e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como

reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do

an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila

da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo

uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo

eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador

e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979

- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima

superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais

longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica

34

) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a

reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica

ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos

soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos

soldados alematildees

Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e

datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem

o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados

em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico

seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela

pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam

trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo

o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os

levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente

Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente

percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic

injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros

ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e

sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano

de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy

10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as

condiccedilotildees em que se encontrava

Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido

atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa

percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o

corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem

percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as

partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo

35

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

apenas de graduaccedilatildeo) segundo Gibson em sua obra The ecgical approach

to lisw perccpliol1 acreditamos que pode haver uma explicaccedilatildeo coerente na

perspectiva da percepccedilatildeo direta que justifique a mentira do agente consigo mesmo

A estrutura do processo do auto-engano fatual apresenta-se como

repressatildeo e defesa em que lapsos de memoacuteria e lalhas na percepccedilatildeo alteram

ou eliminam um tagraveto Poreacutem segundo o enfoacuteque da percepccedilatildeo direta que

procuramos apresentar nagraveo haacute necessidade de csquemas representacionais para

reter o que quercmos esquecer e outros esquemas que substituam o reprovado

por nossas emoccedilotildees Parece-nos possiacutevel entender o auto-engano tatuaI como

um estado disposicional do indiviacuteduo que cria desios uacute sua percepccedilatildeo

produzindo uma experiecircncia perceptiva enganosa O estado disposicional pode

ser caracterizado como forccedilas ou propensotildees que possibilitam a ocon-ecircncia de

algo quando condiccedilotildees adequadas se apresentam (vIorais 20()() p86) Quando

[knn mente sobre elogios que receheu de lixon ao alertaacute-lo de que o caso

poderia ser reelado algum dia ele estaacute preacute-disposto a relatar sohre I~ltos que

contribuam com sua auto-estima E c natildeo estuacute preparado para aceitar seus elTOS

de conduta do caso

Assim o estado disposicional do indiviacuteduo predisposto

psicologicamente a natildeo aceiWr certos btos que o incomodum nagraveo perm ite ao

imliIacuteduo alinmiacute-1os C0l110 os detecta Em outras palanas se ()rccedilas psicoloacutegicas

que atuam no estado disposicional do sujeito criarem hatTeiras il sua percepccedilatildeo

ele a distorceraacute quando afirmar natildeo soacute para os outros como para si mesmo

Por llxccedilas psicoloacutegicas entendemos as emoccedilotildees (como ansiedade

medo e anguacutestia) que causam em algum grau impacto sobre as pessoas Essas

emoccedilotildees delineiam o estado diposicional do indiviacuteduo habilitando-o a prevenirshy

se para possiacuteveis fatos que lhe provocariam dor se viessem a ocon-er Como

As prm as apr~sentadas no processo demonstram que ele nagraveo alertou Nixon

28

essa prevenccedilatildeo do estado disposicional natildeo eacute suficiente para impedir que os

fatos sucedam e sejam percebidos entatildeo geraraacute uma distorccedilatildeo no ato

consequumlente agrave percepccedilatildeo para se evitar a dor A accedilatildeo distorciva por sua vez

natildeo estando de acordo com a condiccedilatildeo orgacircnica do sujeito perceptivo que se

inter-relaciona com o meio no qual estaacute inserido levaraacute o sujeito que estaacute em

auto-engano a sentir algum mal estar uma sensaccedilatildeo de incerteza Desta fomla

podemos dizer que o auto-engano eacute um desajuste expresso na accedilatildeo efetiva do

indiviacuteduo entre suas (jf(mlan(es~ e as do meio ambiente Mesmo estando John

Dean diante de fatos que natildeo confirmavam seu depoimento ele o manteve

procurando reforccedilaacute-lo atraveacutes da narraccedilatildeo detalhada e imaginosa de outros finos

A traeacutes de tal desempenho procurava assegurar a si e aos outros que sua memoacuteria

era precisa

Em nossa concepccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo indiviacuteduomeio nas

disponibilidades ou ajfmlances do indiviacuteduo e do ambiente a causa da duacutevida

do incocircmodo prmOcado pela incoerecircncia da auto-mentira Mais especificamente

estaacute na incoerecircncia entre as invariacircncias das macro-estruturas dos estiacutemulos

informacionais que se apresentam como realmente sagraveo e as deksas do sujeito

que as percebe A disposiccedilatildeo do indiviacuteduo cm atimlar o que quer crer contrapotildeeshy

se aos tatos Desta ronml nagraveo havendo alteraccedilotildees dos tatos no meio e o indiviacuteduo

continuando a perceber o que ocorre a sua volta dificilmente ele acreditaruacute

plenamente no que atirma Mas manteraacute a assertiva porque seu estado

disposicional criou tal defesa

Para melhor compreensatildeo da hipoacutetese que estamos apresentando

achamos importante expor a noccedilatildeo de invariacircncia do processo perceptivo

~ Segundo Lombardo ( 1987 p 347) Gibson compreende o conceito de afimlullce como a

relaccedilatildeo de complementaridade que se estabelece entre um organismo e o seu meio-ambiente frente aos constantes eventos As atonJwlclts proporcionam certas predisposiccedilotildees no organismo desde que certos fatos ocasionais ocorram

segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo

direta

Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion

ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que

ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema

Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica

A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja

no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo

visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as

estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol

meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes

do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio

As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes

do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os

organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de

variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo

Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e

constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e

invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um

exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c

A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia

F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )

30

invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito

de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre

um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado

a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir

em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo

atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus

subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam

enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere

alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das

consequumlecircncias do tagraveto

Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado

das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson

19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute

tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente

conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por

Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor

compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s

os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes

do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio

ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico

ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes

do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)

O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste

em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como

redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas

Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31

---_ _--------------------shy

o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas

(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem

informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo

(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem

arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo

(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou

distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante

dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no

mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este

pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute

imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes

satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com

nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos

obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar

subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada

em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos

que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John

Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente

sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo

baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram

subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato

Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute

percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move

haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem

invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista

que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo

de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso

Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto

32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005

em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e

variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo

apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do

quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra

Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou

alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram

aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do

deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os

unil(mnes

Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no

ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas

supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de

oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)

De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se

deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas

Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar

que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies

das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na

realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os

conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies

das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do

layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se

inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores

que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas

puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a

estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco

luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias

pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do

AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33

quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores

que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as

informaccedilotildees de seus soldados

Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua

obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os

gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou

defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo

na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema

imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte

eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer

e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como

reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do

an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila

da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo

uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo

eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador

e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979

- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima

superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais

longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica

34

) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a

reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica

ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos

soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos

soldados alematildees

Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e

datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem

o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados

em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico

seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela

pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam

trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo

o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os

levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente

Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente

percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic

injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros

ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e

sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano

de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy

10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as

condiccedilotildees em que se encontrava

Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido

atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa

percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o

corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem

percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as

partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo

35

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

essa prevenccedilatildeo do estado disposicional natildeo eacute suficiente para impedir que os

fatos sucedam e sejam percebidos entatildeo geraraacute uma distorccedilatildeo no ato

consequumlente agrave percepccedilatildeo para se evitar a dor A accedilatildeo distorciva por sua vez

natildeo estando de acordo com a condiccedilatildeo orgacircnica do sujeito perceptivo que se

inter-relaciona com o meio no qual estaacute inserido levaraacute o sujeito que estaacute em

auto-engano a sentir algum mal estar uma sensaccedilatildeo de incerteza Desta fomla

podemos dizer que o auto-engano eacute um desajuste expresso na accedilatildeo efetiva do

indiviacuteduo entre suas (jf(mlan(es~ e as do meio ambiente Mesmo estando John

Dean diante de fatos que natildeo confirmavam seu depoimento ele o manteve

procurando reforccedilaacute-lo atraveacutes da narraccedilatildeo detalhada e imaginosa de outros finos

A traeacutes de tal desempenho procurava assegurar a si e aos outros que sua memoacuteria

era precisa

Em nossa concepccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo indiviacuteduomeio nas

disponibilidades ou ajfmlances do indiviacuteduo e do ambiente a causa da duacutevida

do incocircmodo prmOcado pela incoerecircncia da auto-mentira Mais especificamente

estaacute na incoerecircncia entre as invariacircncias das macro-estruturas dos estiacutemulos

informacionais que se apresentam como realmente sagraveo e as deksas do sujeito

que as percebe A disposiccedilatildeo do indiviacuteduo cm atimlar o que quer crer contrapotildeeshy

se aos tatos Desta ronml nagraveo havendo alteraccedilotildees dos tatos no meio e o indiviacuteduo

continuando a perceber o que ocorre a sua volta dificilmente ele acreditaruacute

plenamente no que atirma Mas manteraacute a assertiva porque seu estado

disposicional criou tal defesa

Para melhor compreensatildeo da hipoacutetese que estamos apresentando

achamos importante expor a noccedilatildeo de invariacircncia do processo perceptivo

~ Segundo Lombardo ( 1987 p 347) Gibson compreende o conceito de afimlullce como a

relaccedilatildeo de complementaridade que se estabelece entre um organismo e o seu meio-ambiente frente aos constantes eventos As atonJwlclts proporcionam certas predisposiccedilotildees no organismo desde que certos fatos ocasionais ocorram

segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo

direta

Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion

ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que

ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema

Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica

A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja

no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo

visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as

estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol

meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes

do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio

As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes

do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os

organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de

variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo

Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e

constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e

invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um

exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c

A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia

F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )

30

invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito

de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre

um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado

a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir

em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo

atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus

subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam

enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere

alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das

consequumlecircncias do tagraveto

Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado

das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson

19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute

tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente

conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por

Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor

compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s

os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes

do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio

ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico

ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes

do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)

O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste

em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como

redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas

Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31

---_ _--------------------shy

o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas

(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem

informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo

(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem

arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo

(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou

distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante

dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no

mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este

pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute

imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes

satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com

nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos

obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar

subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada

em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos

que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John

Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente

sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo

baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram

subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato

Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute

percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move

haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem

invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista

que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo

de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso

Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto

32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005

em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e

variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo

apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do

quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra

Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou

alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram

aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do

deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os

unil(mnes

Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no

ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas

supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de

oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)

De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se

deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas

Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar

que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies

das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na

realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os

conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies

das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do

layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se

inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores

que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas

puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a

estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco

luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias

pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do

AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33

quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores

que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as

informaccedilotildees de seus soldados

Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua

obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os

gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou

defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo

na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema

imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte

eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer

e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como

reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do

an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila

da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo

uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo

eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador

e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979

- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima

superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais

longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica

34

) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a

reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica

ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos

soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos

soldados alematildees

Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e

datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem

o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados

em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico

seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela

pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam

trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo

o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os

levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente

Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente

percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic

injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros

ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e

sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano

de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy

10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as

condiccedilotildees em que se encontrava

Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido

atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa

percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o

corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem

percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as

partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo

35

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

segundo Gibsonjaacute que nos baseamos em sua obra como referecircncia agrave percepccedilatildeo

direta

Na obra de Gibson The ecological approach lo lisua perceplion

ele descreve a percepccedilatildeo visual do meio-ambiente como um processo que

ocorre no organismo inserido no meio-ambiente tonnando um uacutenico sistema

Isto significa que a anaacutelise de Gibson eacute macroscoacutepica e ecoloacutegica

A percepccedilatildeo visual para Gibson ocorre no mundo visual ou seja

no mW1do extemo ao observador mas em que ele encontra-se inserido O mundo

visual eacute a percepccedilatildeo que o organismo tem das informaccedilotildees invariantes (as

estruturas estaacuteveis no mTanjo de luz ambiente percehidas na relaccedilatildeo organismol

meio) dentro de lima organizaccedilatildeo composta por elementos ariantes e invariantes

do meio amhiente e mais o proacuteprio organismo que constitui o sistema exploratoacuterio

As invariacircncias do meio-ambiente satildeo as caracteriacutesticas constantes

do meio como por exemplo o chagraveo no amhiente terrestre o qual todos os

organismos tecircm como apoio ou re1erecircncia Por outro lado um exemplo de

variacircncia neste mesmo meio satildeo as diferenccedilas nas foacutennas do relevo deste chatildeo

Poreacutem mesmo havendo contrastes na supertlcie haacute uma certa persistecircncia e

constacircncia nas dimensotildees e regularidades espaciais Portanto as variacircncias e

invariagravencias estatildeo entrelaccediladas o que possibilita a distorccedilatildeo da percepccedilatildeo Um

exemplo de auto-engano tagravetual resultante deste entrelaccedilamento de variacircncias c

A oacutetica ecoloacutegica apresentada por Gibson ditere das oacuteticas tisica matemaacutetica e da tisiologia

F la tem como base as distinccedilotildees entre corpo luminoso [que tem luz proacutepria] e nagraveo luminoso rque recebe luz de outro corpo luminoso I entre luz como irradiaccedilatildeo [luz que irradia a partir de um ponto espalhando-se pelo meacutedium] e luz como iluminaccedilatildeo [satildeo os raios de luz que com ergem de todos os lados com di ferentes intensidades (p 50)] entre luz que irradia que propaga eternamente a partir de uma origem e luz ambiente que vem de um ponto no meacutedium onde um olho pode estar estacionado (p 47) entre luz que nagraveo possui estrutura e luz estruturada e por fim entre luz que vem de aacutetomos e retorna aos aacutetomos e luz que depende de um meio ambiente de superfiacutecies (p 51 )

30

invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito

de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre

um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado

a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir

em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo

atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus

subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam

enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere

alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das

consequumlecircncias do tagraveto

Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado

das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson

19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute

tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente

conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por

Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor

compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s

os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes

do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio

ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico

ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes

do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)

O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste

em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como

redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas

Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31

---_ _--------------------shy

o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas

(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem

informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo

(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem

arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo

(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou

distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante

dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no

mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este

pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute

imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes

satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com

nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos

obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar

subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada

em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos

que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John

Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente

sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo

baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram

subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato

Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute

percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move

haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem

invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista

que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo

de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso

Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto

32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005

em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e

variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo

apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do

quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra

Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou

alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram

aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do

deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os

unil(mnes

Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no

ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas

supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de

oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)

De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se

deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas

Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar

que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies

das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na

realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os

conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies

das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do

layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se

inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores

que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas

puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a

estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco

luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias

pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do

AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33

quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores

que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as

informaccedilotildees de seus soldados

Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua

obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os

gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou

defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo

na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema

imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte

eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer

e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como

reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do

an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila

da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo

uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo

eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador

e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979

- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima

superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais

longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica

34

) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a

reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica

ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos

soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos

soldados alematildees

Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e

datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem

o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados

em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico

seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela

pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam

trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo

o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os

levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente

Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente

percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic

injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros

ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e

sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano

de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy

10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as

condiccedilotildees em que se encontrava

Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido

atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa

percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o

corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem

percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as

partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo

35

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

invariacircncias eacute o caso narrado tambeacutem por Goleman (19791986 p 18) a respeito

de um oficial alematildeo na Segunda Guerra que natildeo acredita na informaccedilatildeo sobre

um bombardeiro inimigo abatido em territoacuterio alematildeo Ele natildeo estava capacitado

a aceitar que o inimigo possuiacutesse uma arma de longo alcance que poderia interferir

em suas estrateacutegias da guerra Neste caso o oficial desconsidera a infom1accedilatildeo

atrihuindo-a a um eno de reconhecimento do aviagraveo abatido Naturalmente seus

subordinados estavam capacitados a reconhecer um bombardeiro mas estavam

enganados quanto ao tipo de aviatildeo e mesmo de seus dados Portanto ele pretere

alterar o fato (o bombardeiro inimigo abatido) a enfrentar a anguacutestia das

consequumlecircncias do tagraveto

Quando o organismo visualiza o mundo que o rodeia o significado

das coisas ou dos objetos que ele detecta estaacute na infom1accedilatildeo disponiacutevel (Gibson

19791986 p 47) na luz estruturada que chega a ele A estrutura da luz eacute

tormada pelas diferenccedilas principalmente de intensidade que a luz amhiente

conteacutem em suas vaacuterias direccedilotildees A luz ambiente estruturada eacute denominada por

Gibson de arranjo oacuteptico amhiente (([mNent optic arr(~v( Para melhor

compreendem1Os o que significa arranjo oacutetico ambiente eacute preciso distinguinl10s

os elementos que compotildeem o meio-ambiente terrestre e celeste dos componentes

do arranjo oacuteptico do meio-ambiente Enquanto os componentes do meio

ambiente satildeo montanhas rios vales estrelas nuvens etc os do arranjo oacutetico

ambiente satildeo os acircngulos visuais tom1ados entre o observador e os componentes

do meio ambiente (por exemplo entre o homem que vecirc a montanha)

O conceito de arranjo oacutetico ambiente apresentado por Gibson J 979i J 986 p 2 J 2 consiste

em acircngulos soacutelidos visuais adjacentes cada acircngulo soacutelido tendo sua base em um aspecto ou face ou faceta do layout do meio ambiente sendo os mesmos aspectos ligados (como

redes) em unidades super-ordenadas e subordinadas

Acsso 3tSSO AraccedilalUha 3 n3 p 24middot 38 Jun 2005 31

---_ _--------------------shy

o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas

(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem

informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo

(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem

arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo

(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou

distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante

dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no

mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este

pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute

imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes

satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com

nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos

obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar

subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada

em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos

que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John

Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente

sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo

baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram

subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato

Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute

percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move

haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem

invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista

que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo

de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso

Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto

32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005

em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e

variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo

apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do

quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra

Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou

alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram

aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do

deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os

unil(mnes

Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no

ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas

supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de

oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)

De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se

deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas

Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar

que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies

das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na

realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os

conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies

das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do

layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se

inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores

que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas

puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a

estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco

luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias

pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do

AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33

quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores

que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as

informaccedilotildees de seus soldados

Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua

obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os

gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou

defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo

na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema

imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte

eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer

e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como

reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do

an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila

da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo

uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo

eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador

e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979

- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima

superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais

longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica

34

) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a

reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica

ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos

soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos

soldados alematildees

Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e

datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem

o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados

em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico

seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela

pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam

trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo

o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os

levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente

Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente

percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic

injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros

ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e

sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano

de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy

10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as

condiccedilotildees em que se encontrava

Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido

atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa

percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o

corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem

percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as

partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo

35

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

o arranjo oacuteptico-ambiente natildeo eacute constituiacutedo por partes homogecircneas

(Gibson 19791986 p 52) Partes homogecircneas de uma luz ambiente natildeo conteacutem

informaccedilotildees porque natildeo haacute diferenccedilas nas suas vaacuterias direccedilotildees nem transiccedilatildeo

(mudanccedila) nem mesmo gradaccedilatildeo de intensidade Portanto natildeo haacute estrutura nem

arranjo devido a ausecircncia de acircngulos visuais Ou seja a detecccedilatildeo da informaccedilatildeo

(percepccedilatildeo dos eventos) estaacute na apreensatildeo da invariacircncia nas variacircncias (ou

distuacuterbios) que ocorrem na estrutura do arranjo oacuteptico ambiente Eacute importante

dar atenccedilatildeo agrave distinccedilatildeo feita por Gibson (19791986 p 102) entre eventos no

mundo e informaccedilotildees na luz que correspondem a estes eventos Segundo este

pesquisador o fluxo dos eventos eacute material poreacutem nossa percepccedilatildeo do fluxo eacute

imaterial Consequumlentemente vemos ocorrecircncias de eventos ClUumlOS componentes

satildeo materiais mas os detectamos na informaccedilatildeo atraveacutes da luz de acordo com

nossos estados disposicionais ou afloacuterdul1ces Portanto possibilitamos

obstruccedilotildees na percepccedilatildeo Embora o indiviacuteduo perceba o meio ele pode criar

subtertuumlgios porque a percepccedilatildeo dos fatos aleacutem de imatelial natildeo estuacute congelada

em um tempo e espaccedilo ela faz parte do fluxo temporal e espacial dos eventos

que satildeo detectados como informaccedilatildeo Desta fonna retomando o caso de John

Dean ele pocircde acrescentar interpretaccedilotildees fatuais aos eventos que realmente

sucederam Como tambeacutem o oficial alematildeo pocircde natildeo aceitar a informaccedilatildeo

baseando-se em seus conhecimentos anteriores do inimigo que o permitiram

subestimaacute-lo e distorcer o relato do fato

Segundo Gibson (19791986 p 73) a estrutura invariante soacute eacute

percebida em contraste com o fluxo Quando o ponto de observaccedilatildeo sc move

haacute uma estrutura superficial que se move e uma estrutura baacutesica que se manteacutem

invariante O que se move toma-se diferente de acordo com o ponto de vista

que eacute percebido e natildeo porque passou a ser algo diferente A proacutepria alteraccedilatildeo

de intensidade ou na direccedilatildeo do foco de luz gera mudanccedila estrutural Por isso

Gibson diz ( 19791986 p 87) Invariantes de estrutura natildeo existem exceto

32 Acsso llcssn Araccedilatuba II 3 P 2-1 _ Jg JlIll 2005

em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e

variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo

apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do

quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra

Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou

alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram

aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do

deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os

unil(mnes

Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no

ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas

supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de

oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)

De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se

deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas

Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar

que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies

das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na

realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os

conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies

das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do

layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se

inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores

que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas

puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a

estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco

luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias

pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do

AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33

quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores

que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as

informaccedilotildees de seus soldados

Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua

obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os

gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou

defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo

na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema

imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte

eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer

e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como

reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do

an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila

da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo

uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo

eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador

e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979

- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima

superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais

longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica

34

) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a

reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica

ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos

soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos

soldados alematildees

Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e

datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem

o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados

em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico

seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela

pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam

trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo

o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os

levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente

Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente

percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic

injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros

ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e

sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano

de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy

10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as

condiccedilotildees em que se encontrava

Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido

atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa

percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o

corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem

percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as

partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo

35

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

em relaccedilatildeo agraves variantes Para exemplificar esta relaccedilatildeo entre as invariacircncias e

variacircncias estruturais gerando auto-enganofagravetual podemos citar o exemplo

apresentado por Goleman (19791l986 p 18) a respeito da natildeo aceitaccedilatildeo do

quartel-general russo sobre o iniacutecio do ataque dos alematildees na Segunda Guerra

Eles consideraram a informaccedilatildeo de seus soldados como uma loucura ou

alucinaccedilatildeo Os oficiais natildeo estando capacitados a aceitartal ocorrencia atribuiacuteram

aos seus soldados um distuacuterbio de percepccedilatildeo dos tagravetos devido agrave dinacircmica do

deslocamento e mesmo dos padrotildees invariantes como por exemplo os

unil(mnes

Para Gibson (19791986 p 87) os aspectos que persistem no

ambiente terrestre satildeo os layout de suas supertkies e os reflexos da luz destas

supertkies Estas estruturas invariantes especificam as beiradas e os cantos de

oclusatildeo reversiacuteveis como tamheacutem cores das superfiacutecies ( 19791986 p 89)

De acordo com este pesquisador a persistecircncia dos layouts da superfiacutecie se

deve agrave resistecircncia e rigidez proporcionada por substacircncias suficientemente soacutelidas

Os retlexos das superfiacutecies resultam da pouca interferecircncia quiacutemica com o ar

que as substancias sof1em por serem em sua maIacuteOlia inertes Assim as superlkies

das substacircncias manteacutem a mesma composiccedilatildeo cromaacutetica e acromaacutetica Na

realidade microscoacutepica diz Gihson (197911986 p 87) a textura e os

conglomerados de elementos componentes (layout e reflexos) das superfkies

das substacircncias se fundem Ou seja pondo isto de foacutenna diferente a textura do

layout e a textura do pigmento [na superfiacutecie da suhstacircncia] tornam-se

inseparaacuteveis Assim as faces do mundo percebido satildeo coloridas As cores

que satildeo vistas encontram-se juntas em arranjos e natildeo sozinhas como foacutermas

puras Este conjunto de cores eacute uma estrutura invariante que daacute base para a

estrutura das somhras que se movimentam devido ao deslocamento do foco

luminoso (o sol por exemplo) e o movimento do observador Essas variacircncias

pem1item que o sujeito perceba incorretamente um fagraveto Retomando o caso do

AlSSll avesso Araccedilatllba 3 11L p 2-1 bull 3X Il111 2005 33

quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores

que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as

informaccedilotildees de seus soldados

Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua

obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os

gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou

defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo

na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema

imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte

eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer

e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como

reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do

an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila

da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo

uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo

eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador

e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979

- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima

superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais

longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica

34

) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a

reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica

ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos

soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos

soldados alematildees

Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e

datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem

o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados

em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico

seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela

pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam

trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo

o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os

levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente

Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente

percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic

injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros

ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e

sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano

de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy

10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as

condiccedilotildees em que se encontrava

Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido

atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa

percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o

corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem

percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as

partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo

35

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

quartel-general russo a possibilidade de uma maacute percepccedilatildeo foi um dos fatores

que aux iJiaram os oficiais propensos a distorcer os fatos a desconsiderarem as

informaccedilotildees de seus soldados

Outros exemplos de invariacircncias citados por Lombarda em sua

obra The reciprucily olperceiver and enironmenl (1987 p 218-9) satildeo os

gradientes de tamanho~ de densidade de texturag e de movimento ou

defonnaccedilatildeo que possibilitam a visatildeo de profundidade sem que haja alteraccedilagraveo

na percepccedilatildeo detectada A linha do horizonte eacute outro referencial de extrema

imp)ftuacutencia Ik acordo com Gibson (1979iacute1986 p 1(3) a linha do horizonte

eacute ( ) uma invariante de qualqueredetodos os arranjos amhientes de qualquer

e de todos os pontos de observaccedilatildeo Por estar em todo lugar serve como

reierecircncia para o movimento dos animais quando todas as outras estruturas do

an-anjo de luz amhiente alteram Aleacutem do mais como eacute perpendicular agrave forccedila

da gravidade estabelece a referecircncia de posiccedilatildeo para todas as coisas sendo

uma fonte de infoacutennaccedilagraveo impol1ante para a percepccedilatildeo dos objetos Como nagraveo

eacute concretamente existente tem seu aspecto subjetivo com relaccedilatildeo ao ohservador

e ohjetivo na medida que Uacute1Z parte do meio amhiente Para Gihson (1979

- (radi~llh de tamanho a projeccedilatildeo oacutetica para um olho cont~l1lul11 gradiente de diminuiccedilatildeo de tamanho das estruturas de objetos em distaacutencias crescentes a partir do observador Gradiente de densidade de tetura a projeccedilatildeo oacutetica de um olho conteacutem um gradiente de aumento de densidade de tetura para superfiacutecies que recuam em distacircncia a partir do obsenador Gradiente de mo imento ou deformaccedilatildeo C0l110 UI11 observador move atraveacutes de lima

superfiacutecie as figuras projetadas das estruturas do meio-ambiente mais proacuteimas ao observador apresentam elocidade maacuteima relativa atraveacutes da retina como tambeacutem escala maacuteima de expansatildeo enquanto para estruturas mais afastadas as figuras projetadas apresentam velocidade e escala de expansatildeo miacutenimas relativas Se um observador estaacute se atuacutestando d lima estrutura do meio ambiente () tamanho projetado decresce quanto mais

longe mais devagar eacute a contraccedilagraveo oacutetica

34

) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a

reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica

ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos

soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos

soldados alematildees

Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e

datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem

o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados

em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico

seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela

pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam

trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo

o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os

levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente

Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente

percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic

injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros

ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e

sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano

de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy

10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as

condiccedilotildees em que se encontrava

Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido

atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa

percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o

corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem

percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as

partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo

35

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

) 986 p 164) o horizonte natildeo eacute subjetivo nem objetivo ele expressa a

reciprocidade entre observador e meio ambiente ele eacute uma invariante da oacutetica

ecoluacutegicu Essas invariacircncias possibilitam o reconhecimento do inimigo pelos

soldados russos como tambeacutem possibilita a detecccedilatildeo do aviatildeo inimigo pelos

soldados alematildees

Portanto satildeo as invariantes que guiam o movimento do animal e

datildeo coerecircncia agraves int()mlaccedilOtildees Essas invariacircncias natildeo satildeo detalhes que compotildeem

o meio mas componentes estruturais como os gradientes que satildeo explorados

em grandes acircngulos ( 19791986 p 246) Embora a estrutura do arranjo oacutetico

seja individual pois soacute um observador pode ocupar um detetminado lugar ela

pode ser partilhada por inuacutemeros animais na medida que eles se deslocam

trocando de lugar constantemente Assim todos os ohservadores perceheratildeo

o mesmo mundo Consequumlentemente teratildeo as mesmas int)rmaccedilotildees que os

levaratildeo a agir de fimna semelhante segundo sua espeacutecie no meio ambiente

Poreacutem em cada ponto de observaccedilatildeo o animal que o ocupa nagraveo somente

percehe infom1accedilagraveo no meio como tambeacutem percebe a si mesmo (PIJpriltJpecijic

injaacutermalion) c esta informaccedilatildeo mIo pode ser dividida com outros

ohservadores ( 1979 1986 p 111) Neste caso esta int(Jrmaccedilagraveo eacute suhjetiva e

sujeita agraves interferecircncias emocionais Este aspecto eacute que possibilita o auto-engano

de Dean Soacute ele poderia ocupar o seu lugar no encontro com N ixon e ao fazecircshy

10 carregava consigo todo o seu estado emocional propenso a melhorar as

condiccedilotildees em que se encontrava

Diz Gibson (19791986 p II) que temos nosso egoescondido

atraacutes do que percehermos a nossa 0 ta Temos suhentendido em nossa

percepccedilatildeo todo o aparato fiacutesico que daacute sustentaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo a cabeccedila o

corpo os membros e as extremidades (197911986 p114) Tambeacutem

percehemos nossos 11l00imentos nossos sons cheiros e sahores tocamos as

partes do corpo mas nagraveo como al~o isolado do meio Toda nossa percepccedilatildeo

35

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

do eu estaacute vinculada agrave percepccedilatildeo do meio As duas fontes de informaccedilatildeo

coexistem ( 19791986 p116) Para Gibson natildeo haacute separaccedilatildeo dual ismo entre

o eu e o meio um estaacute interligado ao outro enquanto tontes de int()m1accedilatildeo para

a percepccedilatildeo Assim se por um lado (Gibson 197911986 p 129) as aftordances

mcionrganismo sagraveo rcais e objetias por estarem inculadas agrave existecircncia do

sistema por outro o valor e o significado das coisas em potencial no meio

podem ser subjetivos ou objetivos de acordo com o reconhecimento e uso que

os animais lhes atribwm Para Gibson esta dicotomia entre subjetivo e o~ietivo

nagraveo tem sentido na atIOacuterJancl pois todos os eventos no meio dependem da

lIllcr-nlwlagraveo entn meio e organismo que se ajustam como um todo pennitindo

uma percepccedilatildeo acurada Poreacutem apresentando uma ressalva a Gibson

Icreditamos que se podemos considerar a informaccedilagraveo percebida como uma

fontc confiaacutevel tambeacutem devemos levar em seacuteria consideraccedilatildeo as possiacuteveis

distorccedilotildecs que nosso aparato disposicional estaacute capacitado a empreender ao

tentar nos proteger

Tahez possamos dizer que o auto-engano proveacutem do medo da

rejeiccedilatildeo do outro que me impede de aceitar ) que percebo Mas sem duacuteida

percebcl110s os fatos como tais porque ao pcneber nosso cstiacutemulo para

informaccedilatildeo eacute direto natildeo deixando lacunas para interpretaccedilotildees nas quais

reprcsentaccedilotildecs mentais poderiam interferir Portanto quando nos autoshy

enganamos encontramo-nos no estaacutegio em que nosso estado disposicional jaacute

njdtou afirmar o que nos magoaria embora esta negaccedilatildeo nos traga em algum

grau conflitos e inseguranccedila

Retomando a definiccedilatildeo de auto-mentira de Arruda ( 1998 p 1(9)

sem contudo obedecer a seqUecircncia apresentada pelo tiloacutesofo podemos concluir

que a) se temos a propensatildeo de afirmar P nagraveo por estarmos mentindo para os

outros mas por querermos acreditar no que dizemos b) se mantemos nossa

alirmaccedilagraveo porque nosso estado diacutesposicional nos capacita a afirmar os Jatos de

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

forma distorcida para nos proteger da dor que a verdade nos causa entatildeo c)

satildeo os ratos apresentados na relaccedilatildeo atfimames do meio conosco que nos

impossibilitam acreditar com convicccedilatildeo no que afinnamos Esta eacute a razatildeo da

duacuteida que pcnnanecc 110 auto-engano Eacute importante ressaltar entretanto que

lllll I11Jl1tCl1h)S LI posi~agraveo dc allllHnganu dc roacuterma premeditada natildeo huacute intenccedilatildeo

consciente nesta atitude

Deste modo se o auto-engano se daacute numa accedilatildeo que distorce a

percepccedilatildeo do tato tendo como motivo o nosso estado disposicional propenso

a nos proteger podemos dizer que natildeo haacute propriamente um processo mental

intermediando a relaccedilatildeo direta entre sujeito e fato Haacute sim um processo mental

como pm1e integrante do estado disposicional do indiIacuteduo que o capacita a tal

accedilatildeo

1( HCIS Sonia Riheiro lhe imariames ottl1e direct pcrception and lhe bctual

self deception Avesso do Aesso Reista Educaccedilatildeo e Cultura Araccedilatuha

1 n3 p 2J 38 jun 2005

Ahstract The o~iectiC orthis analysis is to relate the factual self-deception

eonsidered as a perceptive bilure with the il1middotariances that is stable structllres

prcsented fmm the ie ofthe direct perception The focus nflhis ork is 011

the perception field hcing lhat the immediate anel conscious relation betmen

organism and environment through which lhe organism attains int(mllution ()J

its survival Witll lhe uim ofdelimitating lhe analysis among the senses ofpercepshy

tiol1 c shall plwc lhe 1lCUS on lhe vision due to lhe importunec lhe human heing

attrihutes to it

Key words tllctual selfdeceptiacuteon invariances and variances direct perceplion

37

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R

Referecircncias Bibliograacuteficas

ARENDT H Condition de I homme moderne Paris Calmann-Leacutevy 1961

ARRUDA ATM lima anaacutelise do autoengano fatual ln GONZALES

MEQ BROENS MC (Org) Encontro com as ciecircncias cognithas

Mariacutelia Unesp-Mariacutelia-Publicaccedilotildees 1998

ldentidade pessoal papel social e auto-engano valorativo -~--~-~---~-~--

~~_~_~ _____ Jdentity self-deception and social role

Identidade liherdade e auto-engano -----~--------------

LYSE~CK M KFA0E IT Questocirces teoacutericas na percepccedilatildeo ln

Psicologia cognitiva um manual introdutoacuterio Porto Alegre Artes Meacutedicas

1994

GIBSON 11 The ccological approach to visual perception Boston

Houghton Mitlin 19791986

(jOLElAN D tlentiras essenciais nrdades simples a psicologia da

auto-ilusagraveo Rio de Janeiro Rocco 1997

1lt )lvl BA R DO LI The reciprocit) ofperceinr and environment the evoshy

lutiol1 ofJamesl Gihsons ecological psycho1ogy Hillsdac Lawrence Erlhaum

Associates1987

RLE (i The concept ofmind Victoria Penguin Books 1949

3R