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AS PRINCIPAIS BARREIRAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DAS COMPRAS PÚBLICAS SUSTENTÁVEIS: ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUIÇÃO FEDERAL DE ENSINO. Maria de Fátima da Silva Machado (LATEC/UFF) Júlio Vieira Neto (LATEC/UFF) Resumo: O presente estudo teve como objetivo analisar, com base nos fatores identificados na revisão de literatura, quais são, sob a perspectiva de servidores que atuam nos processos de compras de uma Instituição Federal de Ensino, as principais barreiras para a implementação das compras públicas sustentáveis naquela Instituição. Como método proposto, optou-se por uma pesquisa quali- quantitativa. A metodologia utilizada foi um estudo exploratório, tendo como meios de investigação a pesquisa bibliográfica e o Estudo de Caso em uma Instituição Pública, pertencente ao Sistema Federal de Ensino, com sede na cidade do Rio de Janeiro. A partir da análise dos resultados, constatou-se que, na percepção destes servidores, os principais fatores que podem estar dificultando a implementação das compras sustentáveis na Instituição pesquisada são “falta de capacitação, formação e sensibilização dos compradores” e “informacional”. Palavras-chaves: Compras públicas sustentáveis. Barreiras. Administração Pública. ISSN 1984-9354

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AS PRINCIPAIS BARREIRAS PARA A

IMPLEMENTAÇÃO DAS COMPRAS PÚBLICAS

SUSTENTÁVEIS: ESTUDO DE CASO EM UMA

INSTITUIÇÃO FEDERAL DE ENSINO.

Maria de Fátima da Silva Machado (LATEC/UFF)

Júlio Vieira Neto (LATEC/UFF)

Resumo: O presente estudo teve como objetivo analisar, com base nos fatores identificados na

revisão de literatura, quais são, sob a perspectiva de servidores que atuam nos processos de compras

de uma Instituição Federal de Ensino, as principais barreiras para a implementação das compras

públicas sustentáveis naquela Instituição. Como método proposto, optou-se por uma pesquisa quali-

quantitativa. A metodologia utilizada foi um estudo exploratório, tendo como meios de investigação

a pesquisa bibliográfica e o Estudo de Caso em uma Instituição Pública, pertencente ao Sistema

Federal de Ensino, com sede na cidade do Rio de Janeiro. A partir da análise dos resultados,

constatou-se que, na percepção destes servidores, os principais fatores que podem estar dificultando

a implementação das compras sustentáveis na Instituição pesquisada são “falta de capacitação,

formação e sensibilização dos compradores” e “informacional”.

Palavras-chaves: Compras públicas sustentáveis. Barreiras. Administração Pública.

ISSN 1984-9354

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1. Introdução

O aumento da população mundial aliado ao consumo indiscriminado de recursos naturais

vem ocasionando consequências desastrosas em todo o planeta. Segundo a ONU (2013), a

população mundial atingiu a marca de sete bilhões de pessoas que, dentro dos seus atuais padrões

de consumo, necessitam consumir os recursos de um planeta e meio somente em alimentação.

Nas últimas décadas, importantes compromissos internacionais vêm sendo firmados

visando à adoção urgente de medidas voltadas para a redução e eliminação de práticas de

produção e consumo consideradas insustentáveis. Dentre estes, a Agenda 21, assinada em 1992,

no Rio de Janeiro, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento (CNUMAD), destacou o importante papel desempenhado pelos governos

enquanto consumidores, tendo em vista o seu poder de influenciar as decisões empresariais e o

público em geral (AGENDA 21 GLOBAL, 1992).

Em 2002, durante a Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável, outro importante

documento, o Plano de Implementação de Joanesburgo, incentivou as autoridades públicas a

promover políticas públicas de aquisição visando o desenvolvimento e a disseminação de bens e

serviços mais benéficos ao meio ambiente (PLAN OF IMPLEMENTATION OF THE WORLD

SUMMIT ON SUSTAINABLE DEVELOPMENT, 2002).

No Brasil, em 2010, um importante passo foi dado nesse intuito quando a Secretaria de

Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

expediu a Instrução Normativa 1, que “dispõe sobre os critérios de sustentabilidade ambiental na

aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal direta,

autárquica e fundacional”.

Segundo destaca Di Pietro (2013), a realização das licitações sustentáveis possui

fundamento na própria Constituição Federal vigente. Existem, também, diversas leis vigentes no

ordenamento jurídico brasileiro, além dos já citados compromissos internacionais, que podem

servir como fundamento para a utilização das licitações sustentáveis (SANTOS, 2011). Dentre

estas normas, pode-se citar a Lei 12.349, promulgada em dezembro de 2010, que, de acordo com

Valente (2011), representou o marco legal da introdução das licitações sustentáveis no âmbito da

Administração Pública Brasileira.

Os dados divulgados no Portal de Compras do Governo Federal (COMPRASNET)

demonstram que as aquisições de produtos sustentáveis na Administração Pública Federal vêm

crescendo a cada ano, desde a expedição da Instrução Normativa 01/2010, tendo o número de

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licitações desses itens atingido até março de 2012 o total de 1490 licitações. (MINISTÉRIO DO

PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2012).

Entretanto, apesar do crescimento, as contratações com critérios sustentáveis ainda

representam uma pequena parcela quando comparadas ao total das aquisições do governo federal.

De acordo com dados do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2013), as compras de

bens e serviços dos órgãos da administração direta, das autarquias e das fundações

corresponderam, em 2012, a R$72,6 bilhões e as compras de produtos sustentáveis responderam

por cerca de R$ 40 milhões, representando 0,1% do total gasto.

Além disso, por meio de pesquisa realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em

2011, com diversos órgãos do governo federal, foi detectado que 73% não praticam licitações

sustentáveis (BETIOL ET AL., 2012; COSTA, 2012). Diante destes dados, o TCU publicou o

Acórdão 1.752/2011, trazendo como recomendação o cumprimento da IN 01/2010 (BETIOL ET

AL., 2012).

Verifica-se que os dispositivos legais que amparam as licitações sustentáveis são ainda

recentes no ordenamento jurídico brasileiro. Ainda são poucas as doutrinas jurídicas e

administrativas que abordam a matéria (SILVA E BARKI, 2012).

Costa (2012) ressalta que a inclusão de critérios de sustentabilidade nas aquisições

governamentais requer mudanças no que se refere ao planejamento, à execução e ao controle das

licitações, tornando esses procedimentos ainda mais complexos.

Corroborando esse pensamento, Drumond et al. (2012) informam que, embora existam no

ordenamento jurídico brasileiro normas e princípios que amparam a inserção de critérios de

sustentabilidade nas compras públicas por meio de especificações adequadas, torna-se necessária

uma grande modificação de aspectos que envolvem atualmente as compras públicas. De acordo

com Drumond et al. (2012, p. 29), “Tal mudança depende fortemente de uma regulamentação

clara, que respalde a atuação do comprador público, do profissionalismo e do acesso adequado à

informação”.

Diante do exposto, observa-se que existem alguns fatores que podem estar dificultando a

prática das compras sustentáveis de forma mais habitual na Administração Pública. Desta forma,

entende-se que o grande desafio dos gestores públicos está em identificar estas possíveis barreiras

e buscar meios para vencê-las e, assim, utilizar o poder de compras da Administração Pública de

maneira mais consciente por meio das aquisições sustentáveis.

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1.1 Situação Problema

Segundo Lakatos e Marconi (2001, p. 103), “a formulação do problema prende-se ao tema

proposto: ela esclarece a dificuldade específica com a qual se defronta e que se pretende resolver

por intermédio da pesquisa”.

Desta forma, busca-se por meio deste artigo responder a seguinte questão: Quais os

principais fatores que podem dificultar a prática das compras sustentáveis em uma Instituição

Federal de Ensino?

1.2 Objetivo

Analisar, com base nos fatores identificados na literatura, sob a perspectiva de servidores

que atuam nos processos de compras de uma Instituição Federal de Ensino, as principais barreiras

para a implementação das compras públicas sustentáveis naquela Instituição, buscando

disponibilizar elementos que possibilitem a prática das compras sustentáveis de forma mais

habitual.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Aspectos Políticos e Conceituais das Compras Públicas Sustentáveis

A implantação de políticas voltadas para a inclusão de critérios socioambientais, nas

aquisições públicas e privadas, teve sua base estabelecida há mais de duas décadas quando tiveram

início as primeiras discussões promovidas pela ONU a respeito do desenvolvimento sustentável

(BETIOL ET AL, 2012).

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A partir da CNUMAD, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, as compras públicas

sustentáveis vêm desempenhando um papel de destaque junto às autoridades governamentais na

tarefa de apoiar uma mudança de paradigma relativa aos padrões de produção e consumo (TESTA

ET AL., 2012).

No entanto, conforme informam Silva e Barki (2012), as compras públicas sustentáveis

começaram a se propagar mais intensamente a partir da reunião da Cúpula Mundial sobre

Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo, em dezembro de 2002. A partir de

então, segundo destaca o Guia de Compras Públicas Sustentáveis para Administração Federal

(MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2010, p. 8), as “Compras

Verdes apareceram no cenário mundial mais explicitamente”.

De acordo com Walker e Brammer (2009), a política de compras sustentáveis guarda

coerência com os princípios sociais e ambientais que norteiam o desenvolvimento sustentável,

além de motivar uma boa gestão. Nesse sentido, conforme destacam Biderman et al. (2008, p. 25),

a Compra Pública Sustentável, também denominada de “Licitação Sustentável”:

É uma solução para integrar considerações ambientais e sociais em todos os estágios do

processo da compra e contratação dos agentes públicos (de governo) com o objetivo de

reduzir impactos à saúde humana, ao meio ambiente e aos direitos humanos. A licitação

sustentável permite o atendimento das necessidades específicas dos consumidores finais

por meio da compra do produto que oferece o maior número de benefícios para o

ambiente e a sociedade.

2.2 Barreiras para a Implementação das Compras Públicas Sustentáveis

Em nível internacional, de acordo com Bouwer et al. (2006), em uma pesquisa realizada

com compradores de organizações públicas de 25 países da União Europeia, foram detectadas as

principais barreiras para as aquisições ecológicas percebidas por aqueles atores.

O resultado da pesquisa demonstra que a principal barreira apontada pelos adquirentes

públicos, foi o custo mais alto dos produtos sustentáveis, mencionado por 44% dos respondentes.

Para o IADS (2008), esse obstáculo está relacionado ao fato de que normalmente a Administração

Pública considera apenas o menor custo de aquisição do produto, desconsiderando os seus custos

de utilização, tais como o consumo de água e eletricidade, os custos de manutenção e eliminação

que poderiam ocasionar lucros substanciais durante a sua vida útil.

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A segunda barreira mais apontada por Bouwer et al. (2006) foi o desconhecimento sobre o

meio ambiente e a forma de desenvolver critérios ambientais, representando a opinião de 35% dos

respondentes. Neste aspecto, segundo o IADS (2008), ainda existe dificuldade por parte dos

compradores para definir quais produtos e serviços são considerados sustentáveis, bem como, para

estabelecer essas demandas nas licitações e, na maioria das vezes, os compradores não são

especialistas ambientais.

Ainda nesse sentido, Geng e Doberstein (2008) informam que um dos maiores desafios

com o qual se deparam os proponentes de compras ecológicas é o estabelecimento de critérios

ambientais, tendo em vista a grande variedade de bens ou serviços aos quais tais critérios devem

ser aplicados.

A falta de apoio político e de apoio gerencial foi mencionada por 33% dos compradores,

sendo a terceira barreira mais citada. Segundo Bouwer et al. (2006), o índice elevado de citação

relativo à falta de apoio gerencial demonstra que os altos níveis hierárquicos do setor público

europeu desconhecem a relevância da política de compras sustentáveis ou não estão sabendo

transmitir de forma explícita a sua importância para os responsáveis pelas compras das

organizações.

Com relação ao apoio político, segundo Bouwer et al. (2006), a recomendação é de que os

formuladores de políticas incluam as compras públicas sustentáveis na agenda política dos países

e elaborem planos de ação nacionais. Para Biderman et al. (2008), o grau de apoio político

recebido internamente é um dos fatores que mais influenciam a prática das compras públicas

sustentáveis.

A falta de informação e de ferramentas práticas, foi outra barreira apontada por Bouwer et

al. (2006), correspondendo a 25% dos entrevistados. O estudo demonstra que a comunicação, a

divulgação e a formação prática são fatores imprescindíveis para se aumentar a realização das

compras públicas sustentáveis.

Por fim, outra barreira, segundo Bouwer et al. (2006), foi a falta de formação para os

agentes de contratos públicos, também citada por 25% dos entrevistados. Muitas vezes, os

envolvidos com as aquisições públicas carecem de experiência e de capacidade técnica e legal

para a introdução dos critérios de sustentabilidade nas compras (IADS, 2008).

Ainda no âmbito internacional, Preuss (2007), em um estudo realizado com governos

locais do Reino Unido, mencionou as implicações financeiras das aquisições sustentáveis. De

acordo com o autor, embora existam diversos exemplos de aquisição de produtos sustentáveis que

irão proporcionar benefícios econômicos futuros como, por exemplo, a aquisição de produtos de

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Tecnologia da Informação, que representaram uma economia no consumo de energia, nem sempre

os compradores dispõem-se a pagar um preço maior para adquirir produtos e serviços mais

sustentáveis. Segundo o autor, os limites financeiros impostos a essas autoridades acabam por

restringir as iniciativas sustentáveis nas compras governamentais.

Também no Reino Unido, de acordo com Walker e Brammer (2009), uma pesquisa

realizada em 106 organizações do setor público, apontou o custo como principal obstáculo para as

aquisições públicas sustentáveis.

Ainda, em nível Internacional, Brammer e Walker (2011), com base nos resultados de um

estudo realizado em 20 países, apresentaram os principais fatores identificados como barreiras

para a implementação das compras públicas sustentáveis. Os autores utilizaram uma amostra com

cerca de 280 profissionais envolvidos com as aquisições públicas naqueles países e verificaram

quais são as barreiras mais percebidas por esses atores.

Com relação aos resultados da pesquisa, Brammer e Walker (2011), fazem uma análise das

principais barreiras apontadas nas entrevistas com base em um quadro conceitual elaborado pelos

autores e que representa os principais aspectos que exercem influência na implementação da

política de compras públicas sustentáveis.

Figura 1- Modelo conceitual de influências sobre compras sustentáveis

Fonte: Brammer e Walker (2011, p. 456).

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Conforme informam Brammer e Walker (2011), esse quadro conceitual, apresentado na

figura 1, foi elaborado através da adaptação de estudos anteriores que abordavam o cumprimento

de políticas traçadas pela União Europeia para as contratações públicas em geral.

Essas influências, segundo Brammer e Walker (2011), são analisadas individualmente para

uma melhor compreensão, embora em algumas situações possam estar relacionadas entre si:

Custos/Benefícios percebidos – Os produtos sustentáveis são muitas vezes vistos como

mais caros e, devido às restrições orçamentárias, a relação custo-benefício exerce um papel

de destaque nas compras públicas sustentáveis.

Familiaridade com as políticas – Para que seja possível a implementação das compras

sustentáveis, torna-se necessário entender o seu conceito e as políticas governamentais

nesse sentido. O conceito de sustentabilidade é complexo e os profissionais de compras

podem não ter as habilidades e os conhecimentos necessários para implementar a política

de compras sustentáveis.

Disponibilidade/Resistência dos Fornecedores – Muitos bens e serviços adquiridos pelo

setor público possuem um grau elevado de especialização e a identificação de fontes

sustentáveis de fornecimento pode se tornar uma difícil tarefa em algumas situações.

Incentivos/Pressões Organizacionais – Refere-se à importância do apoio dos níveis

hierárquicos superiores e da estrutura organizacional para a política de compras

sustentáveis (WALKER E BRAMMER, 2009).

Os autores destacam que a barreira, em geral, mais citada foi sem dúvida a barreira

financeira, corroborando a ideia de que os custos e os benefícios percebidos exercem influência

sobre a adoção das compras públicas sustentáveis, conforme apontado na figura 3. O estudo

realizado pelos autores conclui que ainda há certa resistência por parte dos compradores públicos

em pagar mais por produtos sustentáveis.

Outro obstáculo relevante apontado por Brammer e Walker (2011) é a Barreira

Informacional. Com relação a este aspecto, foram citados pelos respondentes a falta de

informações a respeito do mercado de produtos sustentáveis e a necessidade de um banco de

dados claro e transparente relativo aos bens disponíveis no mercado onde seja possível obter

detalhes tais como os materiais utilizados, o processo de fabricação, a reciclagem e o ciclo de

vida.

Corroborando esse pensamento, Walker e Brammer (2009) informam que um dos fatores

que exercem influência sobre o grau de implementação das compras sustentáveis é o fator

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informacional, que se encontra relacionado à influência exercida pela familiaridade com as

políticas de compras sustentáveis. Dessa forma, segundo os autores, é fundamental que a

organização tenha conhecimento sobre o conceito de compras sustentáveis e sobre as políticas

governamentais nesse sentido e, ainda, que possua as ferramentas necessárias para a concretização

dessa prática.

Já as barreiras gerenciais e estruturais, de acordo com Brammer e Walker (2011),

relacionam-se com a influência exercida através dos incentivos e das pressões organizacionais.

Nesse aspecto, conforme informam os autores, alguns dos participantes da pesquisa apontaram a

falta de diretrizes estabelecidas em níveis hierárquicos superiores como sendo muitas vezes um

fator impeditivo para a introdução, por parte dos compradores, de determinados critérios de

sustentabilidade.

De acordo com Brammer e Walker (2011), a preocupação com a qualidade do produto e a

disponibilidade, em alguns casos, de alternativas sustentáveis foi também apontada como barreira

por alguns dos participantes na pesquisa, demonstrando a influência que a disponibilidade e

resistência dos fornecedores exercem sobre a política de compras públicas sustentáveis. Muitos

dos produtos adquiridos e dos serviços contratados pelo poder público possuem um elevado grau

de especialização, tornando-se muitas vezes um desafio a substituição destes por alternativas mais

sustentáveis (WALKER E BRAMMER, 2009; BRAMMER E WALKER, 2011).

Outro fator apontado como uma barreira para as compras sustentáveis, segundo Brammer e

Walker (2011), são as prioridades conflitantes. Segundo os autores, a prática das compras

sustentáveis parece ser mais aplicada onde existem políticas e legislações nesse sentido, pois nos

locais onde a questão é tratada de forma voluntária, as prioridades concorrentes ocorrem com

maior frequência.

De acordo com Walker e Brammer (2009), as prioridades conflitantes estão relacionadas à

existência de fatores em uma organização que podem ter precedência sobre a sustentabilidade no

momento da tomada de decisão. Ainda segundo Walker e Brammer (2009), a ocorrência de

prioridades conflitantes ocorre em especial no setor de saúde e dessa forma os responsáveis pelas

compras públicas possivelmente precisarão de maior apoio por parte da liderança para

implementar as compras sustentáveis.

Um estudo realizado na Itália, segundo Testa et al. (2012), apontou dentre os principais

obstáculos para as compras públicas ecológicas a dificuldade de encontrar fornecedores e a falta

de diretrizes elaboradas pelas autoridades hierarquicamente superiores.

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De acordo com Zhu, Geng e Sarkis (2013), na China, assim como nos países

desenvolvidos, uma das principais barreiras para as compras públicas ecológicas são os custos

tendo em vista as restrições orçamentárias.

Em nível nacional, o Ministério do Planejamento realizou em 2009 um estudo detalhado

com o objetivo de detectar quais barreiras vem dificultando as compras públicas sustentáveis

(SERPRO, 2009). Dentre estas barreiras, a falta de um marco legal na legislação sobre compras

públicas, levou o Ministério do Planejamento a sugerir alterações na Lei de Licitações e Contratos

e a recomendar que os órgãos públicos adotassem critérios sustentáveis em suas compras e

priorizassem a aquisição de produtos mais benéficos ao meio ambiente.

Sobre a questão da legalidade, segundo Biderman et al. (2008, p. 33), “no mundo inteiro,

existe um debate sobre a legalidade da opção mais sustentável em termos socioambientais nas

licitações públicas”. Segundo os autores, este desafio já foi superado por diversos países que vêm

gradativamente adotando normas jurídicas voltadas para as aquisições sustentáveis, inclusive o

Brasil, porém muita coisa ainda deve ser feita nesse sentido.

Outra barreira, apontada na pesquisa do Ministério do Planejamento, foi a falta de

capacitação e de sensibilização das empresas privadas, bem como dos compradores públicos

(SERPRO, 2009). Para Betiol et al. (2012, p. 29), “as empresas estão tendo que repensar sua

lógica de comprar e de fazer negócio, sabendo que seus clientes – sejam eles outras empresas, o

governo ou famílias – estão crescentemente preferindo produtos e serviços mais sustentáveis”.

Com relação ao engajamento dos profissionais, para Betiol et al. (2012), é fundamental que

haja alinhamento entre a função de compras e a política de sustentabilidade institucional e que se

estimule uma mudança de paradigmas em relação à cultura organizacional, na qual os

colaboradores, sobretudo da área de compras, sejam incentivados a um maior comprometimento

com a gestão socioambiental.

Estes autores destacam que, embora relevante, não é imprescindível que a iniciativa venha

exclusivamente por parte da liderança, pois existem muitos casos em que o exemplo para a

organização partiu de uma única pessoa ou de determinado departamentos (BETIOL ET AL.,

2012).

Na pesquisa realizada pelo Ministério do Planejamento também foram citados o

desconhecimento do mercado de produtos ambientalmente sustentáveis, a ausência de rede de

informações sobre o tema e a ausência de indicadores econômicos seguros para comparar a

viabilidade econômica dos produtos (SERPRO, 2009). Entende-se que tais fatores estão

relacionados à falta informações e ferramentas que possibilitem a prática das compras públicas

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sustentáveis, barreira já apontada por Brammer e Walker (2011), Walker e Brammer (2009) e

Bouwer et al. (2006).

Ainda em nível nacional, em 2012, segundo Betiol et al. (2012), foi promovida uma

pesquisa, pela Fundação Getúlio Vargas em parceria com o ICLEI Brasil, sobre a sustentabilidade

na gestão de compras públicas e empresariais. A pesquisa, segundo os autores, foi realizada com

gestores e analistas de sustentabilidade de cerca de 50 organizações públicas e privadas, que em

sua maioria detém alguma experiência de participação em fóruns de sustentabilidade, sendo

destacados os seguintes entraves para a implementação das compras públicas sustentáveis:

informacional, financeiro e estrutural/gerencial.

Betiol et al. (2012, p. 103) ressaltam que a barreira informacional “remete ao grau de

familiaridade dos profissionais da área de compras com as políticas de sustentabilidade” e

destacam que este foi um fator significativo para organizações públicas e privadas que apontaram

a ausência de profissionais qualificados e de capacitação dos profissionais de compras.

Segundo Betiol et al. (2012, p. 103), “a barreira financeira foi levantada por 12

respondentes das organizações privadas, para quem os fatores econômicos certamente prevalecem

durante a tomada de decisão”.

Com relação às barreiras estruturais e gerenciais, estes autores indicam a relação destas

com a falta de suporte dos níveis hierárquicos superiores e, também com a ausência de uma

diretriz institucional neste sentido. Para Betiol et al. (2012), as diretrizes institucionais são muito

importantes no sentido de motivar e apoiar a adoção das novas práticas sustentáveis e ressaltam o

papel fundamental exercido pela liderança institucional para a implementação das compras

sustentáveis.

Ainda segundo informa Betiol et al. (2012, p. 104), “ter o respaldo da liderança

institucional é muito importante, já que ela pode conferir priorização, transversalidade e

velocidade ao propósito da compra sustentável.

O quadro 1 apresenta uma síntese das barreiras para a implementação das compras

públicas sustentáveis abordadas neste tópico e as principais fontes bibliográficas:

Barreiras Fontes

Financeira Bouwer et al. (2006); Preuss (2007); IADS (2008);

Walker e Brammer (2009); Brammer e Walker

(2011); Zhu, Geng e Sarkis (2013)

Informacional Bouwer et al. (2006); SERPRO (2009); Brammer e

Walker (2011); Betiol et al. (2012)

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Legal SERPRO (2009); Brammer e Walker (2011)

Gerencial/Estrutural Bouwer et al. (2006); Brammer e Walker (2011);

Testa et al. (2012); Betiol et al. (2012)

Política Bouwer et al. (2006); Brammer e Walker (2011)

Qualidade/Disponibilidade do produto Walker e Brammer (2009); Brammer e Walker

(2011)

Prioridade Walker e Brammer (2009); Brammer e Walker

(2011)

Falta de Capacitação e sensibilização das empresas

privadas

SERPRO (2009)

Falta de Capacitação/formação e sensibilização dos

compradores

Bouwer et al. (2006); IADS (2008); SERPRO

(2009)

Desconhecimento sobre o meio ambiente e sobre a

forma de estabelecer critérios ambientais

Bouwer et al. (2006); IADS (2008); Geng e

Doberstein (2008)

Quadro 1- Síntese das principais Barreiras com base na revisão da literatura

Fonte: elaborado pelo autor

3 METODOLOGIA

Seguindo a classificação adotada por Gil (2010) a presente pesquisa classifica-se, de

acordo com os objetivos propostos, como pesquisa exploratória, tendo sido utilizados como

procedimentos para a coleta de dados a pesquisa bibliográfica e como método de pesquisa o

estudo de caso.

A pesquisa bibliográfica que, conforme destacam Lakatos e Marconi (2011), pode sozinha

resolver um problema ou servir como o passo inicial de toda pesquisa científica, baseou-se em

artigos científicos internacionais identificados por meio de análise bibliométrica realizada na base

de dados SCOPUS, acessada no Portal de Periódicos Capes. Além disso, foram também

consultados artigos científicos nacionais, livros e, ainda, manuais e guias utilizados na

Administração Pública.

Com a finalidade de responder a questão formulada nesta pesquisa, adotou-se a abordagem

quali-quantitativa, sendo que a coleta de dados foi realizada por meio de questionário composto

por perguntas fechadas e abertas e o tratamento dos dados foi efetuado com a utilização de

ferramentas estatísticas.

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O estudo de caso foi realizado em uma Instituição de Ensino, pertencente ao Sistema

Federal de Ensino, com sede localizada na Cidade do Rio de Janeiro, tendo por área de atuação

todo o estado do Rio de Janeiro. A Instituição pesquisada é uma autarquia de regime especial,

vinculada ao Ministério da Educação, possuindo autonomia administrativa, patrimonial,

financeira, didática e disciplinar.

A seleção dos participantes desta pesquisa foi realizada por meio de procedimento

censitário, buscando-se obter respostas do maior número de servidores que, no período de

realização das entrevistas (outubro a novembro de 2013), se enquadrem, em um ou mais dos

seguintes perfis:

atuam na Comissão Permanente de Licitação;

exercem trabalhos relativos às licitações na modalidade Pregão (pregoeiros ou

equipe de apoio);

atuam nas compras e contratações enquadradas nos casos de dispensas e

inexigibilidades;

atuam como responsáveis pela interação entre os setores, nos quais estão lotados e a

área de compras da Instituição;

participam da elaboração das especificações de bens e serviços nas áreas da

Tecnologia da Informação e de Infraestrutura.

Como instrumento para a coleta de dados, foi utilizado o questionário com perguntas

fechadas que, segundo a classificação de Richardson (1999), é aquele em que as perguntas ou

afirmações utilizam categorias ou alternativas de respostas fixas e preestabelecidas, sendo o

mesmo submetido aos servidores participantes da pesquisa por meio de entrevista.

As perguntas fechadas têm por finalidade verificar, na percepção dos entrevistados, o grau

de importância atribuído a cada uma das barreiras, identificadas com base na revisão da literatura,

para a implementação das compras sustentáveis na Instituição.

No intuito de possibilitar uma medição mais objetiva das opiniões dos entrevistados foi

utilizada a Escala de Likert que, segundo Gil (2010), representa um tipo de escala social através da

qual as pessoas irão emitir sua opinião com relação a sua concordância ou discordância em relação

a determinados enunciados previamente determinados, seguindo uma graduação especificada.

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A Escala de Likert no instrumento de pesquisa utilizou cinco níveis de graduação para as

respostas dos entrevistados, objetivando-se enumerar os pesos do grau de importância atribuído a

cada uma das barreiras, com base nos seguintes parâmetros:

1- Nenhuma Importância

2- Pouca Importância

3- Média Importância

4- Importância

5- Muita Importância

Foram contatados para responder o questionário 40 servidores, selecionados de acordo com

os perfis apresentados anteriormente, sendo que 38 servidores responderam e 2 servidores não

responderam. Entretanto, cabe ressaltar que amostra analisada se constitui dentro do teorema do

limite central que, segundo Martins (2010), compõe-se em 30 observações.

Dos 38 servidores que responderam o questionário, 14 responderam na presença do

entrevistador e outros 24 optaram por entregar, posteriormente, o questionário respondido, tendo

em vista, na maioria dos casos, a pouca disponibilidade de tempo em função do grau de

responsabilidades inerentes as atividades exercidas na Instituição.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Objetiva apresentar a análise dos resultados, com base nos dados coletados por meio do

instrumento de pesquisa, sobre a percepção dos servidores quanto à importância atribuída a cada

uma das barreiras, identificadas na revisão da literatura, para a implementação das compras

públicas sustentáveis na Instituição.

Com base no gráfico 1, apresentado a seguir, verifica-se que as barreiras financeira e

política foram percebidas pela maior parte dos servidores que participaram da pesquisa como de

“média importância” (grau 3) para a utilização das compras sustentáveis, representando, em

ambos os casos a opinião de 11 (29%) dos 38 respondentes.

Ambas as barreiras foram apontadas em estudos anteriores como obstáculos para as

compras públicas sustentáveis, conforme destacam Brammer e Walker (2011) e Bouwer et al.

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(2006), sendo que a barreira financeira foi apontada nesses estudos como a mais citada pelos

compradores.

Entretanto, conforme é possível observar no gráfico 1, a barreira financeira foi a que

menos se destacou na Instituição pesquisada, tendo em vista que apenas 5 (13%) servidores

atribuíram grau 5 (“muito importante”) e 8 (21%) servidores atribuíram grau 4 (“importante”) para

os aspectos financeiros.

Gráfico 1- Grau de Importância atribuído às Barreiras para as compras públicas sustentáveis

Fonte: elaborado pelo autor

Observa-se, ainda com base no gráfico 1, que todas as demais barreiras foram apontadas,

pela maioria dos respondentes, como “importantes” (grau 4) ou “muito importantes” (grau 5).

A barreira informacional, conforme apresentado no gráfico 1, é considerada, na percepção

dos servidores que participaram da pesquisa, uma “importante” barreira para a prática das compras

sustentáveis na Instituição, tendo em vista que o grau 4 apresentou a maior frequência das

respostas, representando 14 (37%) respondentes. Além disso, verifica-se uma proximidade com

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relação à frequência das respostas obtidas no grau 5 (“muito importante”), correspondendo a 13

(34%) respondentes.

Este resultado sugere que alguns fatores abordados na revisão da literatura, tais como o

desconhecimento acerca do conceito de compras sustentáveis (WALKER E BRAMMER, 2009;

BRAMMER E WALKER, 2011), a falta de informações sobre o mercado de produtos

sustentáveis (SERPRO, 2009) e a falta de ferramentas práticas (BOUWER ET AL., 2006;

WALKER E BRAMMER, 2009) podem estar dificultando a prática das compras sustentáveis na

Instituição.

A barreira legal é considerada, na percepção dos respondentes, um “importante” obstáculo

para a prática das compras sustentáveis, considerando-se que o grau 4 foi a resposta de maior

frequência, representando 13 (34%) dos 38 servidores que participaram da pesquisa, conforme

verifica-se no gráfico 1.

O resultado apresentado corrobora estudos anteriores que também apontaram os aspectos

legais dentre as barreiras para as compras públicas sustentáveis, como informam o SERPRO

(2009) e Brammer e Walker (2011).

Embora exista fundamentação legal para as compras públicas sustentáveis no Brasil,

conforme abordado anteriormente, o grau de importância atribuído a barreira legal sugere

possíveis dúvidas, por parte de alguns dos servidores que atuam nas compras da Instituição, com

relação aos aspectos legais que envolvem as compras públicas sustentáveis.

Os aspectos gerenciais e estruturais, representam, na opinião desses servidores, uma

barreira de “muita importância” para a introdução de critérios de sustentabilidade nas aquisições e

contratações da Instituição, tendo o grau 5 apresentado a maior frequência de respostas dentre os

servidores, correspondendo a 13 (34% ) respondentes.

O resultado corrobora estudos anteriores, abordados na revisão da literatura, que também

apontaram as barreiras gerenciais e estruturais como um dos obstáculos para as compras

sustentáveis (BOUWER ET AL., 2006; BRAMMER E WALKER, 2011; TESTA ET AL., 2012 e

BETIOL ET AL., 2012). Bower et al. (2006) relacionaram em seus estudos a falta de apoio dos

níveis hierárquicos superiores ao desconhecimento destes gestores com relação a relevância da

política das compras sustentáveis ou ainda à dificuldade em transmitir esta relevância para os

responsáveis pelas compras da organização.

Com relação aos fatores qualidade e disponibilidade do produto, verifica-se, com base nos

dados apresentados no gráfico 1, que a frequência de respostas apresentadas nos graus 4 e 5 foi a

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mesma, ou seja, 13 (34%) servidores apontaram a barreira como “importante” e 13 (34%) como

“muito importante”.

Conforme abordado na revisão da literatura, pesquisas anteriores também apontaram estes

fatores dentre as barreiras para a prática das compras sustentáveis, como destacam Walker e

Brammer (2009) e Brammer e Walker (2011).

Na percepção dos servidores que participaram da pesquisa, a ausência de priorização dos

aspectos de sustentabilidade nas compras e contratações representa uma “importante” barreira para

a adoção desta prática na Instituição, tendo, conforme apresentado no gráfico 1, o grau 4

apresentado a maior frequência de respostas, correspondendo a 14 (37%) dos 38 respondentes.

Note-se ainda, que 12 (32%) servidores apontaram este fator como uma barreira “muito

importante” para a implementação das compras sustentáveis na Instituição.

Este resultado vem corroborar estudos anteriores, consoante destacam Brammer e Walker

(2011) e Walker e Brammer (2009), que apontam, dentre os obstáculos para as compras públicas

sustentáveis, a existência de outras prioridades em uma organização que apresentam precedência

sobre a adoção de critérios sustentáveis.

A falta de capacitação e sensibilização das empresas privadas para atender as novas

demandas foi apontada como “importante” pela maioria dos respondentes, obtendo no grau 4 a

maior frequência de respostas correspondendo a 14 (37%) dos 38 respondentes. Conforme

abordado na revisão da literatura, esta foi uma das barreiras citadas pelas instituições públicas

federais para a implementação das compras sustentáveis, em pesquisa realizada pelo Ministério do

Planejamento, segundo o SERPRO (2009).

A falta de capacitação, formação e sensibilização dos atores envolvidos nas compras da

Instituição, com relação à atual política de compras públicas sustentáveis, foi considerada, na

opinião dos servidores que participaram da pesquisa, uma barreira “muito importante” para a sua

prática na Instituição, tendo sido esta a resposta de 17 (45%) dos 38 respondentes.

Como se pode observar no gráfico 1, esta foi a barreira que apresentou maior frequência

de respostas no grau 5. Ressalte-se ainda que 15 (39%) dos 38 respondentes apontaram a barreira

como “importante” (grau 4).

O resultado vem corroborar pesquisas anteriores, conforme informam Bouwer et al. (2006)

e SERPRO (2009) que também apontaram estes fatores como uma das barreiras para a introdução

das compras públicas sustentáveis.

Com relação ao último fator apresentado no gráfico, observa-se que o desconhecimento

sobre o meio ambiente e sobre a forma de estabelecer critérios ambientais por parte dos servidores

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envolvidos nas compras e contratações foi considerada, na opinião dos respondentes, uma barreira

“importante” para a prática das compras sustentáveis na Instituição, uma vez que 16 (42%) dos 38

servidores apontaram o grau 4 como resposta.

O resultado expresso no parágrafo anterior vem corroborar outras pesquisas que apontaram

estes fatores como sendo uma das barreiras para a implementação das compras públicas

sustentáveis (BOUWER ET AL., 2006; GENG E DOBERSTEIN, 2008). Também neste aspecto,

para o IADS (2008), ainda existe grande dificuldade, por parte dos compradores públicos, em

definir quais produtos e serviços preenchem os requisitos de sustentabilidade e em encontrar a

melhor forma de inserir estas demandas nos editais de licitação.

5 CONCLUSÃO

Após a realização da análise bibliográfica, foram identificados dez fatores abordados no

contexto internacional e nacional, que vêm sendo apontados como as principais barreiras para a

implementação da compras sustentáveis na Administração Pública, tais como a barreira financeira,

a barreira legal, a barreira informacional, a falta de capacitação/formação e sensibilização dos

compradores públicos, a barreira gerencial e estrutural, dentre outras, conforme apresentado na

revisão da literatura.

Diante da análise dos resultados, realizada com base nos dados coletados na Instituição

Federal de Ensino pesquisada, verificou-se que, dentre os dez fatores identificados por meio da

literatura, as principais barreiras para a implementação das compras sustentáveis na Instituição, na

percepção dos 38 servidores que participaram da pesquisa, são “a falta de capacitação/formação e

sensibilização dos compradores” e a “informacional”.

A falta de capacitação/formação e sensibilização dos atores envolvidos nas compras da

instituição com relação à prática das compras públicas sustentáveis foi o fator que mais se

destacou na pesquisa, sendo a barreira que apresentou o maior número de respostas como “muito

importante”, correspondendo a 45% dos respondentes, além do maior número de respostas como

“muito importante” e “importante” representando 84% do total de servidores que participaram da

pesquisa.

Por fim, cabe ressaltar que, com relação ao fator informacional, além de ter sido uma das

barreiras que apresentou o segundo maior número de respostas como “muito importante”,

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correspondendo a 34% dos respondentes, foi também a segunda barreira mais percebida pelos

servidores como “muito importante” e “importante”, representando 71% do total de servidores que

responderam o questionário.

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