as sete chaves do paraíso autor: luiz gonzaga pinheiro música: meditation
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As sete chaves do paraíso
Autor: Luiz Gonzaga Pinheiro
Música: meditation
Em uma tarde de poente dourado, quando as cortinas do céu estavam bordadas de
ouro, o Mestre, de braços dados com a poesia, subiu ao monte para entregar as sete
chaves do paraíso aos homens comuns.
Olhando tantos rostos magnetizados com sua
presença, assim falou:
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o
Reino dos Céus! Bem-aventurados os que choram,
porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos,
porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome
e sede de justiça, porque serão saciados!
Bem-aventurados os misericordiosos, porque
alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de
coração, porque verão Deus! Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! Bem-aventurados os que são perseguidos por causa
da justiça, porque deles é o Reino dos Céus!
Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando
vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-
vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os
profetas que vieram antes de vós.
Quando Jesus subiu ao monte sabia que aquele era o
momento ápice da sua vida. Preparara-se durante milênios na aquisição daquele tesouro
para um dia doá-lo integralmente à humanidade.
Trazia no coração as sete chaves do céu e foi distribuindo uma a uma aos famintos de luz para que cada um forjasse suas
cópias.
Bem-aventurados os
humildes! A humildade é a primeira chave. Sem ela
ninguém chega a Deus. A humildade é como o capim onde todos pisam; sempre verde e a ninguém agride.
É a passagem para todos os reinos, pois até mesmo a prepotência a respeita. Toda a obra divina está impregnada dessa virtude. Mesmo
Ele, o senhor do universo, se curva para acolher sofredores.
Bem aventurados os que choram! A aceitação do sofrimento é a segunda
chave. Todos sofrem nesta vida, pois nela há dores físicas e morais.
Mesmo o missionário que vem das estrelas sofre o frio ou o calor, a fome ou a sede, e
caminha em meio à ingratidão dos homens. A aceitação vem
da confiança na justiça celestial, da fé raciocinada, do entendimento das leis divinas.
Pequenos sofrem por débitos contraídos;
despertos não se importam em sofrer por
amor ao próprio amor. Isso não é masoquismo.
É evolução!
Bem-aventurados os mansos! A mansuetude é a terceira
chave. É preciso ter mãos de afago, gestos de jardineiro,
palavras acolhedoras, coração com placa sob a entrada: seja
bem-vindo.
É preciso se despir de todo espinho; se tornar
poeta, pairar acima de todos os rancores para
namorar a brandura. É preciso entender a
beleza, viajar no tempo, ser seu próprio
domador para ser manso.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. A
justiça é a quarta chave. Na verdade uma chave dupla,
pois foi a única virtude a qual Jesus se referiu duas vezes no
sermão. A justiça é a precursora da paz.
Sem ela nada há que comemorar. Antes de ser
bom o homem deve ser justo. A justiça aquieta os homens,
dá-lhes confiança uns nos outros, faz com que se sintam
humanos. Essa é a chave mais difícil de ser forjada.
Bem-aventurados os misericordiosos! A misericórdia é a quinta chave. A que evita o
embrutecimento, estanca lágrimas, sutura feridas, abre
tanto o inferno quanto o paraíso.
A misericórdia é a artesã das asas de qualquer anjo e a
amiga mais esperada pelos criminosos. É a primeira
palavra pronunciada pelos arrependidos e o calmante das
dores pungentes.
Bem-aventurados os puros de coração! A pureza é a sexta
chave. O coração puro é sempre leve, pois não se sobrecarrega
com fardos inúteis. Desconhece julgamentos ou mágoas.
Não se contamina caminhando em hospitais
ou presídios; não acusa, não se assombra, passa em silêncio,
mesmo entre as maiores agressões. O coração puro é como a água limpa que lava
todas as feridas e é respeitado até mesmo pelos habitantes da
sombra.
Bem-aventurados os ofendidos! Mas por uma boa causa. A luta pela instalação do Reino de Deus entre os homens é a sétima chave. Buscai em primeiro lugar o reino do Deus e sua justiça, disse o mestre, e todas as coisas vos serão dadas.
Esta é a lição na qual Jesus mais se aprimorou,
exemplificar o ensinamento, vivenciar a palavra. Não se
conhece um único gesto seu que não seja a essência do seu amor. Por isso se definiu como o caminho, a verdade, a vida, e
reafirmou mais uma vez o caminho da redenção espiritual:
ninguém vem ao Pai senão por mim.
Após entregar-lhes os moldes, Jesus sorriu da singeleza de
como o fizera e ficou a olhar os olhos brilhantes dos homens. Viu neles lagos, diamantes,
arcos brilhantes, e se enterneceu com o sofrimento
do povo. Daquele dia em diante o mundo jamais foi o mesmo. Instalara-se a luz do farol divino para que nenhum navegante se perdesse nas tempestades da ignorância.
Por isso não temos o direito de nos dizermos pobres,
desamparados, sofridos, injustiçados ou mesmo
incomodados por alguma pedra no caminho. Todos nós temos as cópias das sete chaves do
paraíso, só nos falta forjá-las. E isso nem mesmo Jesus pode
fazer por nós. Só depende de cada um.
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