as tiras em quadrinhos no ensino/aprendizagem de espanhol...
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AS TIRAS EM QUADRINHOS NO ENSINO/APRENDIZAGEM DE
ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
BAHLS, Taciana Maria – UNICENTRO [email protected]
REZENDE, Cláudia Cabral – UNICENTRO
Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo Este trabalho tem como objetivo investigar porque e como utilizar o gênero textual Histórias em Quadrinhos – HQ’s como recurso educacional na educação básica. Foi realizado na intenção de contribuir para o processo de ensino e aprendizagem, considerando as dificuldades apresentadas pelos professores para a transmissão do conteúdo e pelos alunos, na sua compreensão e apreensão, especificamente no ensino de línguas estrangeiras, como o espanhol. Sua proposta está de acordo com as atuais Diretrizes Curriculares Estaduais implantadas no estado do Paraná. Este estudo visa a elaboração de sequência didática e de material de apoio para o desenvolvimento de atividades didáticas, lúdicas e pedagógicas que facilitem o processo de ensino e aprendizagem de espanhol como língua estrangeira. Desenvolveu-se através de uma pesquisa empírica, qualitativa, ocorrida em duas etapas de investigação. Na primeira etapa, aplicou-se um questionário para alunos e professores, na intenção de verificar o uso deste gênero textual no sistema escolar paranaense de ensino, especificamente em escolas da cidade de Guarapuava, a partir de 1980. Na segunda etapa, através da pesquisa-ação, estudou-se o uso das HQ’s como material de apoio para elaboração de sequências didáticas no ensino de língua espanhola. O corpus da investigação está relacionado aos quadrinhos de Mafalda, sendo utilizados como recurso pedagógico, visando demonstrar os resultados de sua aplicação. Esta escolha se justifica devido ao novo contexto educacional do ensino estadual paranaense, no qual suas escolas dispõem de ferramentas tecnológicas no ambiente escolar que permitem o acesso a materiais didáticos diversos em prol do ensino de qualidade e mais próximo da realidade dos alunos. Palavra-chave: Formação de professores. História em Quadrinhos. Língua Espanhola.
Introdução
A inclusão das Histórias em Quadrinhos – HQ’s no ambiente escolar iniciou-se
timidamente a partir da implantação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), já que
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antes de 1990 elas foram responsabilizadas pelo mal do mundo por provocarem deficiência na
aprendizagem dos educandos. Considerada a nona arte, atualmente, seu uso é frequente nos
livros didáticos de língua materna e estrangeira, nas gramáticas, entre outros e também estão
presentes em provas de vestibulares, concurso público, ENEM.
Neste sentido, comparou-se o uso deste gênero textual no ensino de línguas antes e
após a implantação da PCN’s, no estado do Paraná. Foram delineados os seguintes passos: em
primeiro lugar, para compreender como se estabeleceu o uso dos quadrinhos nas aulas de
línguas, depois, devido ao cunho da pesquisa, elaboram-se dois questionários dissertativos
que foram respondidos pela comunidade escolar de Guarapuava, sendo o primeiro
questionário proposto, formulado para contemplar a postura do professor em relação ao uso
deste gênero textual em sala de aula e o último visando contemplar a percepção dos alunos,
no que se refere a leitura dos quadrinhos.
Atualmente, o documento oficial utilizado na educação paranaense são as Diretrizes
Curriculares Estaduais (DCE’s), no qual se recomenda que o professor utilize os gêneros
textuais. Neste sentido, este trabalho abordará como trabalhar os quadrinhos, tendo como
corpus as histórias da argentina Mafalda, por se tratar de material autêntico de ensino de
espanhol. A escolha pelo estudo das HQ`s teve intrínseca relação com a vivência escolar da
autora desse trabalho quando, mais tarde, percebeu que a maioria dos alunos dos anos oitenta
eram repreendidos por seus professores quando flagrados lendo-as, mas hoje é recorrente o
seu uso no ensino de línguas.
História em quadrinhos na sala de aula
Os primeiros sinais de intolerância com as HQ’s no Brasil, segundo Carvalho (2006,
p. 32) iniciaram com apresentação do estudo realizado pelo Inep em 1944, no qual afirmava
que elas provocavam lerdeza mental, fato que impulsionou repulsa entre pais e professores,
resultando na proibição sua leitura, já que o cérebro de quem tivesse o hábito de lê-las era
comparado com o tamanho de um quadrinho. Elas foram queimadas em praça pública após
denúncia realizada pelo Psiquiatra Frederic Wertham no livro “Seduction of the Innocent”
(1954) por provocar anormalidades na conduta das crianças que as liam.
Carvalho (2006) afirma que houve um tempo em que as histórias em quadrinhos só
entravam na escola escondidas. Hoje, porém, os gibis podem ser excelentes aliados do
professor no processo de ensino, este fato concretizou-se a partir da implantação do PCN`s,
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no qual se divulgam ideias sobre a associação de imagens e texto, auxiliando os alunos no
desenvolvimento da leitura. Atualmente, as DCE’s propõem que as aulas de línguas abordem
gêneros textuais orais ou escritos, através de práticas críticas e reflexivas. A escolha pelas
HQ`s teve intrínseca relação com a vivência escolar da autora desse trabalho quando, mais
tarde percebeu que a maioria dos alunos dos anos oitenta eram repreendidos por seus
professores se flagrados lendo-as, mas hoje, esse paradigma mudou, já que há diversidade de
materiais didáticos que as adotam, destacando-se os quadrinhos de Mafalda.
Estudo realizado anteriormente por Bahls e Krause-Lemke (2010, p. 06) destaca que
as HQ’s de Mafalda “além de serem conhecidas em todo o mundo [...] constituem-se em
manifestações autênticas de comunicação” de língua espanhola, por outro lado Eco (1992)
ressalta que a personagem é uma anti-heroína que tem como meta criticar comportamentos e
situações questionando a sociedade, opondo-se a outros heróis, pois ela não aparece para
salvar as pessoas e tampouco para combater vilões.
É recorrente o relato de docentes do Ensino Fundamental e Médio a respeito da
dificuldade de seus alunos em entender simples leituras de enunciados de atividades de
diferentes disciplinas, sendo a união dos quadrinhos com o enunciado da questão o elo para
que o discente compreenda essa proposta pedagógica. Como ressalta SILVA (1985, p. 59) as
HQ’s “tratam de assuntos os mais diversos, como Matemática, Comunicação e Expressão,
Ciências Físicas e Biológicas, História, Moral e Civismo, Religião e outros temas de interesse
da escola”, desse modo elas ganham prestígio sendo utilizadas desde tiras até unidades
inteiras para fins pedagógicos.
Os quadrinhos segundo alunos e professores
Os protagonistas desta pesquisa desempenharam seu papel educacional em escolas
estaduais paranaense, na cidade de Guarapuava, a partir dos anos oitenta, no qual se comparou
o ensino através dos quadrinhos em duas fases, sendo a primeira nos anos oitenta e a segunda
após a implantação dos PCN’s. Esta pesquisa teve uma abordagem qualitativa; utilizou-se do
método indutivo, pois foi utilizado um estudo de caso com alunos e professores. Os alunos
entrevistados já concluíram o Ensino Médio e relataram serem leitores assíduos, entre eles
83% tem os gibis como leitura predileta desde a Educação Básica.
Como resultados parciais do questionário elaborado aos alunos sobre o uso das HQ’s
em sala de aula, destacam-se: Alunos podiam ler HQs no ambiente escolar? Os docentes
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incentivavam a leitura com este gênero e/ou os usava para ensinar suas disciplinas? Quais
eram as orientações dadas pelos professores aos alunos sobre o uso dos quadrinhos em aula?
a) alunos nos anos oitenta:
- Aluno 1: Somente lia as HQs no ambiente escolar, porque alguns colegas gostavam
das histórias de super-heróis, por isso, compravam e trocavam os títulos lidos, sem haver
incentivo dos professores de línguas. Ele ressaltou que apenas lhe foi recomendado à leitura
dos livros da Série Vaga-Lume, quando cursava a sexta série do Ensino Fundamental, ou seja,
nunca lhe aconselharam a leitura dos quadrinhos, entretanto sentiu preconceito no trabalho e
com a sociedade em geral, pois rotulavam as HQ’s como sendo infantis e uma leitura de
indivíduo não-inteligente e, no ambiente familiar sua mãe lhe desaconselhava tal leitura.
- Aluno 2: Os alunos não eram autorizados a ler gibis nos raros momentos destinados à
leitura no ambiente escolar. Os professores de línguas os desconsideravam no contexto de
aprendizado para leitura principalmente quando apresentavam erros ortográficos
característicos de alguns personagens.
b) Alunos após implantação dos PCN’s:
- Aluno 3: No ambiente escolar as HQ’s eram utilizadas nas aulas de artes, sendo que
nas aulas de Línguas era realizada interpretação e tradução de texto. Os professores
orientavam a utilização dos gibis porque chamavam a atenção das crianças, pois despertava
seu interesse. Na escola, onde estudou havia campanha de arrecadação de gibis para estimular
leitura nos alunos com a coleta.
- Aluno 4: Dificilmente o Professor de Língua Portuguesa trabalhava com quadrinhos
no ambiente escolar, sendo somente se estivesse no livro didático. Os alunos não recebiam
orientações para lê-lo e nos momentos de ir à biblioteca deveriam escolher livros de literatura.
Os alunos 1 e 2 liam gibis nas imediações da escola, mas essa leitura era desmotivada
principalmente se apresentasse variantes linguísticas, por isso não se utilizava este gênero
como recurso no ensino de línguas. Havia recriminação na prática pedagógica e de leitura
com os quadrinhos tanto por parte de familiares quanto por parte da escola. Por outro lado, na
época em que os alunos 3 e 4 estudaram começou-se a utilizar as HQ’s no ambiente escolar
timidamente através de metodologia tradicional. Muitas vezes trabalhava-se somente com o
conteúdo dos livros, aos quais não apresentavam a arte sequencial, por outro lado, as DCE’s
de Língua Estrangeira Moderna (2006, p. 69) afirmam que:
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Entende-se que muitos professores prefiram o trabalho com o livro didático em função da previsibilidade, homogeneidade, facilidade para planejar aulas, acesso a textos, figuras, etc. Suas vantagens também são percebidas em relação aos alunos, que podem dispor de material para estudos, consultas, exercícios, enfim, acompanhar melhor as atividades. Além de descortinar os valores subjacentes no livro didático, recomenda-se que o professor utilize outros materiais disponíveis na escola: livros didáticos, dicionários, livros paradidáticos, vídeos, DVD, CD-ROM, Internet, TV multimídia, etc.
Desse modo, orientava-se a leitura das HQs, porque despertavam o interesse dos
alunos, mas não os inseriam como material de apoio para ensino/aprendizagem. Mesmo com
as recomendações PCN’s sobre o uso deste gênero textual, professores de línguas tinham
dificuldade em trabalhar com eles de modo reflexivo e crítico, portanto muitos deles não o
usavam.
Como resultados parciais do questionário elaborado aos professores sobre o uso das
HQ’s em sala de aula, destacam-se: Alunos podiam ler HQ’s no ambiente escolar? Você
usava este gênero textual para ensinar suas disciplinas? Quais eram as orientações dadas aos
professores sobre o uso de HQ’s nas escolas de Ensino Básico do Paraná tanto para leitura
quanto para ensino/aprendizagem?
a) professor nos anos oitenta:
- Professor 1: Essa época se priorizava a leitura de outros gêneros, menos as HQ’s, já
que nos livros didáticos e no planejamento escolar não mencionavam sua utilização, mas ao
mesmo tempo em que alunos podiam levar gibis na escola, eram desaconselhados a ler os que
continham erros de português como Chico Bento e Cebolinha, de acordo com orientações
dadas aos docentes.
- Professor 2: O uso das HQ’s podiam ser usadas informalmente em ambiente escolar,
mas não era contemplado seu uso nas aulas. Na disciplina optava-se pelo uso de textos
tradicionais, desconsiderando o uso dos quadrinhos. Eram omitidas orientações aos
professores não somente para lecionar, mas também quando eram graduandos e estavam se
preparando para ingressar no mercado de trabalho, como docentes.
b) Professor após implantação dos PCN’s:
- Professor 3: Os alunos liam HQ’s no ambiente escolar, pois este gênero incentivava a
prática na sala de aula. Outro ponto positivo é que hoje os livros literários vêm na forma de
quadrinhos, pois se trata de leitura de formação. Seus alunos ficavam fascinados quando este
gênero era abordado em aula, por isso, sempre que possível, trabalhava com este gênero.
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- Professor 4: Os alunos podiam ler quadrinhos no ambiente escolar, mas liam pouco.
Havia muitas tiras inseridas nos livros didáticos, as mesmas divertiam e possibilitava a
interação com o conteúdo ministrado, o que contribuía também para uma melhor interpretação
dos questionamentos referentes à disciplina. A Secretaria de Estado da Educação do Paraná
(SEED) oferece capacitação, no qual sugere a inserção das HQ’s em sala de aula, por isso ele
as utiliza para ilustrar conceito ou divertir, com auxilio das imagens na TV Pendrive.
Os professores 1 e 2 afirmaram que não recebiam orientação para utilizar as HQ’s nem
quando eram graduandos e muito menos como material de apoio em suas disciplinas, pois
havia valorização no uso dos livros didáticos, aos quais tampouco continham este gênero em
suas páginas. Do mesmo modo que os docentes não eram orientados a trabalhar com os
quadrinhos não orientavam sua leitura devido ao conceito de que continham erros de
português. Caso do personagem Cebolinha que apresenta problema na fala ao trocar a letra r
pela l, conhecido como dislalia1 e no caso da fala de Chico Bento, personagem usuário da
variação caipira, leitura esta desaconselhada por professores por ser considerado
inapropriado/errado, mas de acordo com Silva (2010, 1-2) os PCN’s:
incorporam essa visão de linguagem pautada na variação lingüística, deixando claro que para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma “certa” de falar e que esta se reflete de forma perfeita na escrita, de que nossas salas de aulas são compostas por uma única variante lingüística – a tida como Padrão – e que as anomalias esporádicas que surgem em alguns alunos das castas baixas da sociedade, tem que ser concertada, para não contamina a língua padrão e para que este indivíduo se integre na sociedade dialetal.
Vale ressaltar variações linguísticas valorizam a comunidade linguística que a utiliza
por identificá-la e dar identidade a seu povo como no caso da argentina Mafalda, já que suas
histórias apresentam variação no paradigma verbal e pronominal na segunda pessoal do
singular, o voseo2. Segundo Bahls e Krause-Lemke (2010, p. 02) “vários gramáticos purista
referem-se ao falar voseante com uma conotação pejorativa e com preconceito (...), [mas
segundo] Sábato (1966), os argentinos não falam mal, simplesmente falam outro castelhano”.
1 De acordo com Warjntraub a dislalia é um distúrbio de fala. Disponível em: <http://www.clubedafala.com.br/dislalia.html> acessado em: 24 de abril 2011. 2 Uso do pronome de confiança vos no lugar do tú presente na fala dos Argentinos e aceito pela Academia de Letras deste país.
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Os professores 3 e 4 abordaram pontos positivos sobre as HQ’s com o incentivo da
prática de leitura, além disso, hoje existem obras literárias neste formato, ao contrário do
relato do aluno 4 que era aconselhado escolher livros de literatura a outros gêneros textuais.
Estes docentes procuravam trabalhar com quadrinhos como material de apoio para
desenvolver a leitura, pois a união do verbal com o não-verbal auxilia com que os alunos
entendam melhor os enunciados de questões possibilitando interdisciplinaridade como relatou
a última professora entrevista, pois este gênero faz união entre o conteúdo estudado e a língua
materna do receptor preenchendo lacunas para compreensão dos enunciados.
Ao contrário do relato dos professores 1 e 2 o estado incentivava a participação de
formação continuada desenvolvidos pela SEED com o intuito de orientar os professores como
atuar na sala de aula de acordo com DCE’s incluindo o gênero HQ’s.
Como ensinar espanhol com o gênero textual tiras em quadrinhos
Ao planejar a aula tendo como corpus as HQ’s de Mafalda, na disciplina de línguas, o
professor deve analisar a essência deste gênero, para fixar estratégias de acordo com objetivo
desejado, valorizando seu todo, a partir da leitura do verbal e não-verbal.
Figura 1: Temáticas nas HQs da Mafalda
Fonte: QUINO (2006, p. 152)
As imagens dos quadrinhos oferecem pistas sobre o que acontece no texto, como no
exemplo logo acima: Mafalda concentrada escreve algo num livro, possivelmente na sala
devido ao puff e perto da cozinha, de onde sente cheiro representado pela fumaça e a
onomatopéia SNIF, SNIF, mas ao sentir o odor ela se desconcentra e logo volta a redigir. Com
a união dos códigos verbal e não-verbal se preenche lacunas que se complementam entre si na
obtenção de sentido do texto. A união do não verbal com o verbal, conclui-se que na tira a
personagem está escrevendo em seu diário relatando sobre seu estado de ânimo, ao sentir o
cheiro da comida preparada para meio-dia, horário do almoço, ela prevê como se prevê na
meteorologia do tempo que seu ânimo piorará devido o prato principal odiado pela
protagonista, a sopa.
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A partir dessa leitura, se abre hipóteses temáticas3 para elaboração de aula de línguas
como comidas e bebidas, como vemos a seguir:
Figura 2: Tema e subtemas nas HQs da Mafalda
Fonte: Elaborado pela autora, baseado no livro Vademécum para la formación de profesores. Enseñar español como segunda lengua (L2)/ lengua extranjera (LE) Por: Jesús Sánchez Lobato Isabel Santos Gargallo
(directores) SGEL, Madrid, 2004 preferências e gosto, comidas e bebidas, horas, estado de humor, previsão do tempo entre outros e QUINO (2006, 152).
Com a análise do tema e subtemas, o docente encontra possibilidade de trabalho que
se interligam entre si. Também é possível fazer verificação do subtemas gramaticais como o
uso preposição hacia, no qual o texto será pretexto para trabalhar com conteúdos linguísticos
de modo contextualizado unidos aspectos socioculturais, para após elaborar outro gênero,
como escrever o cardápio para restaurante.
3 Preferências e gosto, comidas e bebidas, horas, estado de humor, previsão do tempo e etc.
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Figura 3: HQs de Mafalda e outros elementos Fonte: QUINO (2006, p. 389) e caricatura de Silvio Santos disponível em: <http://animado.org/recados-
orkut/caricaturas> acessado em: jan. de 2011.
Escolha cinco participantes na sala de aula para trabalhar oralidade, mas vale ressaltar
que esta dinâmica pode ser trabalhada com escrita. Cada aluno descreverá um slide
valorizando sua ordem, tendo como critério relatar o que vê e o que acontece em cada
quadrinho, sendo que o último aluno deverá inserir a caricatura na história.
Figura 4: HQ Mafalda em zoom
Fonte: Desenvolvido pela autora com tira de Quino (2006, p. 387).
Escolha um quadro de uma HQ que contenha várias imagens destacando uma pequena
parte do desenho principal como se vê logo acima, após aumento sua visualização fazendo
zoom das imagens sem dar muitas pistas de todos os detalhes até se chegar ao quadrinho no
seu todo. O objetivo dessa atividade é que o aluno construa sentido a partir de um fragmento
do quadrinho até visualizá-lo por inteiro. Faz-se necessário a utilização de Televisão
PenDrive para mostrar uma imagem de cada vez, ou fotocópia dos quadros em folhas formato
A4, desse modo todos conseguirão visualizar os desenhos. Toda a turma poderá participar
junto relatando suas impressões na aula de língua estrangeira moderna.
Figura 5: Narrativa oral e/ou escrita a partir de HQs
Fonte: Adaptado pela autora com tira de QUINO (2006, p. 250)
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Classifique a história desejada e apague somente o último quadrinho. O aluno deverá
ler e relatar qual será o fim dele na história, depois de concluído o professor mostrará o
quadrinho que falta. Outra opção de atividade para trabalhar a oralidade e/ou escrita e leitura
seria que o aluno descrevera o que acontece na tira desde o primeiro quadro até o último, ao
qual deve inventar o fim. A mesma atividade pode ser desenvolvida ao escolher tiras e apagar
o que está escrito nos balões ou apagar a imagem e deixar o globo com a escrita. Na primeira
atividade o aluno poderá redigir ou dramatizar um diálogo entre os dois personagens e no
segundo ele deverá descrever o que contem nas imagens apagadas.
Figura 6: Narrativa com imagens e HQs
Fonte: Desenvolvido pela autora com a utilização das tiras de QUINO (2006, p. 116 e 154) e imagens de bola <http://blogdogutemberg.blogspot.com/2010/06/tem-bola-rolando.html>; do globo <http://hist8alfandega.blogsp ot.com/2009_08_01_archive.html>; das garrafas <http://etablissements.acamiens.fr/0601178e/quadriphonie/IM
G/jpg/ilha-deserta2.jpg>; de proibido fumar <http://ideiascomimagem.no.sa po.pt/mafalda/cartoons.htm> acessadas em: mar de 2011.
Selecione aleatoriamente alguns quadrinhos de duas ou três tiras da Mafalda e
algumas imagens como bola, garrafas, extraterrestre, globo, proibido fumar; após salve em
pdf para poder usar na Televisão PenDrive, vale ressaltar que esta atividade se torna mais
interessante se cada figura for impressa em folha no formato A4.
Escolha cinco alunos, aos quais sortearão duas figuras impressas cada um. O professor
manterá a ordem das imagens que estiverem na Televisão Multimídia, desse modo os
participantes deverão prestar atenção nos relatos de todos os companheiros, pois não sabe
quando será sua vez de participar. Eles contarão a história de acordo com a impressão sobre o
que acontece nos quadrinhos ou inserindo os objetos na história dando continuação ao relato
dos colegas.
Considerações finais
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Por muito tempo as HQ’s sofreram com a intolerância e foram taxadas como inadequadas e
responsabilizadas por qualquer mal causado às inocentes mentes que as liam. Esta postura, com
relação aos quadrinhos, na cidade de Guarapuava, após os anos de 1980, deixou cicatrizes na esfera
educacional, porque eles eram desaconselhados por parte dos professores e recriminados por parte dos
pais com o conceito de que continham erros de português, como no caso de Cebolinha e Chico Bento.
Vale ressaltar que nesta época os docentes não recebiam orientação para trabalhar nem quando se
preparavam para atuar no mercado de trabalho, preferindo muitas vezes utilizar o conteúdo disponível
nos livros, aos quais não abordavam uma diversidade textual como os quadrinhos.
Os PCN`s afirmam que a associação de imagens e textos auxiliam os alunos no
desenvolvimento da leitura, por isso os professores guarapuavanos atuantes, após sua implantação,
relatavam que este gênero transformou o ato de ler num exercício instigante dentro e fora do ambiente
escolar. Sua importância é notável, já que hoje estão disponíveis em livros de literatura neste formato,
além disso, eles trabalham com a interdisciplinaridade e também podem ser utilizados na elaboração
de seqüências didáticas. Atualmente as escolas do ensino básico paranaense seguem as orientações das
DCE’s, cuja elaboração é influenciada pelas ideias de Bakhtin, que postula a concepção dialógica e
social da língua, através das quais se propõem que as aulas de Língua Estrangeira Moderna abordem
diversos gêneros textuais orais ou escritos, através de práticas críticas e reflexivas, destacando, entre
eles, as HQ’s. Vale ressaltar que os personagens brasileiros Cebolinha e Chico Bento não falam
errado, porque o primeiro tem dislalia e o último não utiliza o português padrão, mas sim uma variante
linguística conhecida com caipira.
Ao planejar a aula tendo como corpus as HQ’s de Mafalda na disciplina de língua espanhola o
professor deve analisar este gênero textual autêntico de fala, para fixar estratégias de acordo com
objetivo desejado, valorizando seu todo, ou seja, a partir da leitura do conteúdo verbal e não-verbal,
por sua vez analisando seu tema principal e seus subtemas para depois delimitar quais estratégias
utilizará para elaboração da Sequências Didáticas ou de atividades lúdicas.
Atualmente o professor deve desenvolver habilidades que antes eram inimagináveis e
desnecessárias, mas hoje são indispensáveis para aproximar-se da realidade dos alunos para que as
aulas sejam motivadoras e instigantes, unindo com o proposto nas diretrizes curriculares estaduais, ou
seja, trabalhando com os gêneros textuais.
REFERÊNCIAS
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BAHLS, T. M.; KRAUSE-LEMKE. C.: O Voseo na Argentina: uma análise de seu percurso histórico e contextos de uso a partir de histórias em quadrinhos de Mafalda. Hispanista (Edição em Português), v. XI, p. 1-11, 2010. Disponível em: <http://www.hispanista.com.br/a rtigos%20autores%20e%20pdfs/artigo310.htm> Acessado em: jan. de 2011. BRISO, Caio Barretto; BARBOSA, Kleyson, BARRUCHO, Luís Guilherme; KRAUSE, Sofia. Quem vai ensinar - e o quê - aos alunos do século XXI? , 2009. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/conheca-escola-ensino-futuro-430546.shtml>: Acesso em: ago. de 2011. CARVALHO, DJ. A Educação está no Gibi. Campinas, SP: Papirus, 2006. ECO, Humberto. Mafalda, o sobre el rechazo. In. Marcelo Ravoni. Barcelona: Lumen, 1992. GÓMEZ MOLINA, José Ramós. Vademécum para la formación de profesores. Enseñar español como segunda lengua (L2)/ lengua extranjera (LE) SGEL, Madrid, 2004. OLIVEIRA E PAIVA, Vera Lúcia Menezes de. O uso da tecnologia no ensino de línguas estrangeiras: breve retrospectiva histórica. Disponível em: <http://www.veramenezes.com/techist.pdf > Acesso em: ago. de 2011. PARANÁ, SEED. Diretrizes Curriculares da Rede de Educação Básica de do Estado do Paraná (DCE). Língua Estrangeira Moderna. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação, Superintendência da Educação, 2006. QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 2003. SANTOS, Roberto Elísio. A História em Quadrinhos na Sala de Aula. In: SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DA COMUNICAÇÃO. Disponível em: <www.intercom.org.br/papers/nacionais/2003/www/pdf/2003_NP11_santos_roberto.pd f> Acesso em: fev. 2008. SILVA, Alexandre Cezar. A Relação da Língua Falada e Escrita sob o Olhar dos PCN’s. Revista de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Lingüística e Literatura. Ano 09. nº 13 - 2º Semestre de 2010. Disponível em: <http://es.scribd.com/doc/46671774/Falada-x-Escrita-PCN> Acessado em: ago. de 2011. SILVA, João Nelson. HQ nos Livros Didáticos. Org: LUYTEN, Sonia Maria Bibe. História em Quadrinhos: Leitura Crítica. São Paulo: Paulinas, 1985.