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__________________________ 1 Acadêmico do programa de pós graduação em Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA. E-mail de contato: [email protected]. 2 Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA. E-mail de contato: [email protected].
ASPECTOS BIOGEOGRÁFICOS E PROPOSTA DE CORREDOR
ECOLÓGICO DA SERRA DA PENANDUBA, CEARÁ, BRASIL
RAIMUNDO NONATO LIMA FREIRE1
ISORLANDA CARACRISTI2
Resumo
Descrita por Ab’Saber (2003) como um dos Domínios de Natureza no Brasil, as Caatingas do semiárido nordestino caracterizam-se por um conjunto heterogêneo de fisionomias vegetais e diversidade faunística, em meio a vastas depressões sertanejas que circundam algumas elevações pontuais, como os relevos residuais úmidos e secos (maciços, cristas e Inselbergs). A própria utilização do termo no plural para se referir a esse Domínio reflete a sua complexidade e a importância de estudos voltados às Caatingas, uma vez que existe o entendimento errôneo de vários autores que, segundo Tabarelli e Vicente (2002), afirmam ser um Domínio pobre em espécies endêmicas e de baixo valor para a conservação, e por estar em um ecossistema semiárido considerado “frágil” e “vulnerável” diante do seu atual sistema socioeconômico de uso e ocupação do solo. Na realidade, o que existe são diferentes padrões de organização natural, que se mantêm pela dinâmica de relações recursivas internas e externas ao sistema (CARACRISTI, 2007). É nesse contexto que se apresenta este trabalho, destacando a Serra da Penanduba, localizada na região noroeste do Estado do Ceará, como uma área importante para a conservação diante dos processos de degradação ambiental que vêm historicamente ocorrendo na região. Situada entre dois fragmentos de mata atlântica e unidades de conservação, as Serra da Meruoca e da Ibiapaba, a Penanduba possui remanescentes de vegetação nativa e é habitat de espécies de fauna ameaças de extinção, como o primata Guariba-da-caatinga (alouatta ululata Elliot, 1912) e a onça-parda ou suçuarana (Puma concolor, Linnaeus,1771). Diante do exposto, justificamos a necessidade científica de estudos voltados à proposição de Corredores Ecológicos (CEs) como determina a Resolução CONAMA nº 09/96 (CONAMA, 1996), onde se estabeleceu os CEs como uma alternativa para mitigar os efeitos do isolamento das unidades de conservação e permitir a passagem da fauna entre essas unidades e áreas naturais e também pela Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação-SNUC, nº 9.985/00 (BRASIL, 2000) que atualiza essa definição vinculando seu conceito às faixas territoriais destinadas à conectividade. Portanto, os CEs servem para aumentar o tamanho e as chances de sobrevivência de populações de diferentes espécies, além de possibilitar a recolonização com populações de espécies localmente reduzidas e, ainda, permitir a redução da pressão sobre o entorno das áreas protegidas (ARRUDA, 2003). Para tanto, objetiva-se neste trabalho discutir e analisar a elaboração de proposta preliminar de implantação de corredor ecológico, tendo a Serra da Penanduba como unidade geoambiental central e tomando às análises biogeográficas como base científica de conhecimento sobre a área. Este trabalho se dividi em três partes: um planejamento previamente estabelecido (laboratório), seguido da execução das atividades em campo (observação, coleta e herborização) e posteriormente, análise dos dados produzidos. Os resultados principais, por meio da identificação da flora pelo herbário, mostraram que a Serra da Penanduba apresenta uma vegetação de Mata Seca, sendo uma transição entre a Mata Úmida serrana e a Caatinga da Depressão Sertaneja, tornando-se um ambiente propício à conservação e proteção da flora e fauna e a proposição de corredor ecológico.
Palavras-Chave: Semiárido. Análise Biogeográfica. Corredores Ecológicos.
Abstract
Described by Ab'Saber (2003) as one of the Nature Domains in Brazil, the Caatingas of the northeastern semi-arid region are characterized by a heterogeneous set of vegetation features and fauna diversity,
__________________________ 1 Acadêmico do programa de pós graduação em Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA. E-mail de contato: [email protected]. 2 Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA. E-mail de contato: [email protected].
in the midst of the vast hinterland depressions that surround some point elevations, such as the dry and humid residual reliefs (massive, ridges and Inselbergs). The very use of the term in the plural to refer to
this Domain reflects its complexity and the importance of studies aimed at the Caatingas, since there is an erroneous understanding of several authors who, according to Tabarelli and Vicente (2002), claim to be a poor domain of endemic species of low value for conservation, and because they are in a semi-arid ecosystem considered as "fragile" and "vulnerable" "In view of its current use and occupation of soil .In reality, what exists are different patterns of natural organization, which are maintained by the dynamics of recursive relations internal and external to the system (CARACRISTI, 2007). It is in this context that this article is presented, highlighting Serra da Penanduba, located in the northwestern region of the state of Ceará, as an important area for conservation in the face of environmental degradation processes that have been occurring historically in the region. Situated between two fragments of Atlantic forest and conservation units, the Serra da Meruoca and Ibiapaba, Penanduba has remnants of native vegetation and is a habitat for endangered species of fauna, such as the primate Guariba-da-caatinga (alouatta ululata Elliot , 1912) and the a onça-parda ou suçuarana (Puma concolor, Linnaeus, 1771). In view of the above, we justify the scientific need for studies aimed at proposing Ecological Corridors (CEs) as determined by CONAMA Resolution No. 09/96 (CONAMA, 1996), where the CEs were established as an alternative to mitigate the effects of the isolation of conservation units and allow the passage of fauna between these units and natural areas and also by the National System of Conservation Units-SNUC, No. 9.985 / 00 (BRASIL, 2000) that updates this definition by linking its concept to the territorial bands destined for connectivity. Therefore, CEs serve to increase the size and survival chances of populations of different species, as well as to enable re-colonization with populations of locally reduced species, and also to reduce the pressure on the protected area environment (ARRUDA, 2003). Therefore, the objective of this text is to discuss and analyze the preparation of a preliminary proposal for the implementation of an ecological corridor, having Serra da Penanduba as the central geoenvironmental unit and taking the biogeographic analyzes as the scientific base of knowledge about the area. This text was divided in three parts: a previously established planning (laboratory), followed by the execution of the activities in the field (observation, collection and herborization) and later, analysis of the data produced. The main results, through the identification of the flora by the herbarium, showed that the Serra da Penanduba presents a vegetation of Tropical Rain Forest (Mata Seca) being a transition between the Mountain Wet Forest and the Caatinga of the Sertaneja Depression, becoming an environment conducive to the conservation protection of the flora and fauna and the proposition of ecological corridor.
Keywords: Semiarid. Biogeographic Analysis. Ecological corridors.
1. Introdução
Destacado pelo simples fato de ser um grande espaço semiárido em meio a um
continente predominantemente úmido, o Domínio das Caatingas Brasileiras, segundo
Ab’Saber (2003), apresenta diferentes feições de relevo, tipos de solos, condições
climático-hidrológicas e de vegetação próprias, fatores estes determinantes na
integralidade das paisagens que compõem o Nordeste Seco.
É uma região expressada por depressões interplanálticas reduzidas a
verdadeiras planícies de erosão, como resultado da pediplanação sertaneja centrada
“[...] no tipo de clima semiárido regional, muito quente e sazonalmente seco, que
projeta derivadas radicais para o mundo das águas, o mundo orgânico das caatingas
e o mundo socioeconômico dos viventes dos sertões” (AB’SABER, 2003, p.85).
Nesse aspecto, ao analisar sobre as características desse domínio, Velloso
(2002) desmistifica esse fato errôneo de uniformidade, revelando sobre sua
surpreendente diversidade de ambientes, proporcionados por um mosaico de tipos de
vegetação, geralmente caducifólia, xerófila e por vezes, espinhosa, variando com
diversos tipos de solo e a disponibilidade de água.
Nesse raciocínio, Ganem (2017) nos enfoca que, um dos aspectos mais
ressaltados pelos pesquisadores é a carência de informações sobre a biodiversidade
da Caatinga, incluindo-se dados cartográficos atuais e detalhados de sua cobertura
vegetal, identificação e classificação vegetacional e faunística.
A vegetação passa, então, a ser um fator chave para se compreender a
dinâmica da paisagem do ponto de vista da escala humana. A partir dela, pode-se
apurar quais foram as formas/tipos e intensidades produtivas ao longo da história,
uma vez que as atividades produtivas, começaram quase sempre a partir de uma ação
direta dirigida à vegetação, em sua maioria pelo desmatamento (GONÇALVES, 2017).
Assim, estabelecer estratégias que possam se adequar à realidade sob os
processos e agentes que atuam na distribuição dessa paisagem, no caso da
semiárida, é o passo mais importante para os estudos sobre as dinâmicas e
transformações da natureza na atualidade.
Nesse contexto, o presente trabalho se apresenta com o objetivo de discutir e
elucidar a importância da criação de um Corredor Ecológico (CE) para a região
noroeste do Estado do Ceará, contribuindo com o conhecimento sobre a diversidade
florística da caatinga e no fortalecimento das Unidades de Conservação (UCs) e Áreas
de Preservação Permanentes (APPs) da região, fatores estes que podem justificar as
propostas de mitigação sobre os efeitos da ação antropogênica.
Dessa forma, apresenta-se a Serra da Penanduba como um dos elementos-
chave para tal proposito, destacando aspectos biogeográficos, componente
vegetacional, desse componente ambiente como ponto de partida para estudos
propositivos de corredores ecológicos.
Localizada no limite entre os municípios de Coreaú e Frecheirinha, região
noroeste do Estado do Ceará, e situando-se entre duas áreas com fragmentos de
vegetação de Mata Atlântica, as Serras da Meruoca e da Ibiapaba, a Serra da
Penanduba (Figura 01), apresenta uma área de exceção vegetacional por apresentar
remanescentes de Caatinga Arbórea ainda conservados.
Figura 01: Mapa de localização da área de estudo. Fonte: FREIRE, 2018.
Tal fato, cada vez mais raro no território cearense, é realçado de maior
importância ainda, pela referida área abrigar o primata Guariba-da-caatinga (Alouatt
ululata, Elliot, 1912) e a onça-parda ou suçuarana (Puma concolor, Linnaeus,1771),
espécies ameaçadas de extinção.
2. Metodologia
Para a realização deste trabalho, os procedimentos metodológicos foram
divididos em três etapas:
2.1. Etapa de escritório ou pré-campo
Realizou-se levantamento, seleção e fichamento de informações relacionadas
à pesquisa, em teses, dissertações e periódicos científicos, além de consultas a
documentos governamentais, tanto voltados aos fundamentos teórico-metodológicos
como ao conhecimento específico sobre a área de estudo. Para a análise específica
da flora da área, estudou-se as técnicas de Biogeografia utilizadas por Furlan (2005)
e para classifica-las apoiou-se na proposta de Figueiredo (1997).
2.2. Trabalho de campo
O levantamento florístico para a caracterização e conhecimento da vegetação
presente na serra, foi realizado com base em parâmetros altimétricos, uma técnica de
amostragem sem área, onde uma linha (trena de 60 metros) foi estendida na
vegetação formando uma catena (foram amostradas na área 3 catenas) com um
espaçamento uma para a outra de 100 metros, todos os indivíduos que tocaram na
linha ou se posicionaram sobre ela foram coletados. As coletas, sequencialmente,
deram-se nas cotas altimétricas de 200 m, 400 m e 600 m (nesta última foram
coletadas, aleatoriamente, as espécies que visualmente eram diferente das que foram
encontradas em toda a extensão da serra).
Como forma de comprovação científica, as espécies coletadas foram tratadas,
catalogadas e armazenadas no Herbário Prof. Francisco José de Abreu Matos da
Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA, levando um exemplar de cada espécie
diferente, visando assim, a identificação e o conhecimento das espécies presentes na
área de estudo, sendo o restante contabilizado apenas para efeito de conhecimento
sobre sua prevalência. Para tanto, os materiais utilizados em campo, foram a tesoura
manual de poda e a prensa provisória constituída de folhas de papelão e de jornal,
dispostas de forma intercaladas e amarradas com barbante, além disso, teve-se o
subsídio de fotografias da área e da utilização de GPS pelo pesquisador.
2.3. Tratamento dos dados pós-campo
Os dados coletados foram armazenados em um banco digital de dados. O
primeiro passo foi a elaboração do mapa de delimitação da área em estudo, a partir
das ferramentas do programa software livre QGIS (versão 2.8.7), tendo a cota
altimétrica de 150m como cota básica delimitadora, visto que corresponde ao início
da vertente de sopé da Serra da Penanduba. Posteriormente, foi realizado o
processamento das imagens raster na forma de Modelo Digital de Elevação (MDE),
adquiridas no Instituto Nacional de Pesquisas Avançadas (INPE), com curvas de nível
de 30 metros, proporcionando o detalhamento altimétrico adequado aos estudos
biogeográficos. Os arquivos do tipo shape foram adquiridos nos endereços eletrônicos
dos órgãos: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto de
Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE).
3. Resultados e Discussões
Categorizada regionalmente como uma Serra Seca por Souza (2000), a Serra
da Penanduba, altimetricamente, está abaixo apenas dos setores mais elevados do
Maciço Residual da Serra da Meruoca e do Glint (CLAUDINO-SALES, 2016) da
Ibiapaba, sistemas ambientais que compõem a área propositiva do CE (Figura 02).
Figura 02: Panorâmica da área para a proposição do CE. Fonte: FREIRE, 2019.
Apresenta características de uma crista residual, com topos aguçados e
vertentes alongadas, fatores estes que dificultam a prática das atividades
agropecuárias na serra, torna-se um ambiente favorável à permanência do primata
Guariba-da-caatinga (Alouatt ululata, Elliot, 1912) que encontra alimentos em meio à
uma vegetação arbórea ainda conservada e com pouca interferência humana atual.
Outra importância dada à Serra da Penanduba, é a distribuição da flora nesse
sistema ambiental, a presença de condições abióticas diferenciadas nas cotas
altimétricas acima de 500m de altitude com presença de vegetação arbórea, onde a
sensação térmica é de menor calor. Segundo Costa (2015), na área existem espécies
de outros biomas como a fruta-de-jacú (Psidium sartorianum), que é típica do bioma
Cerrado.
Nos trabalhos de campo desse mesmo autor, também foram encontradas
exemplares de vegetação de porte arbóreo como a Braúna (Schinopsis brasiliensis),
Angico (Anadenanthera colubrina), Jatobá (Hymenaea courbaril), Aroeiras
(Myracrodruon urundeuva), Cedro (Cedrela fissilis), Barriguda (Ceiba glaziovii), Sabiá
(Mimosa caesalpinifolia) e Pau D’Arco Roxo (Tabebubia impetiginosa).
Com isso, para a comprovação científica das espécies que se encontram na
área de estudo, realizou-se coletas de exemplares da flora ao longo de um
zoneamento vertical na serra delimitado por meio de cotas altimétricas, em sequência,
200, 400 e 600 metros, a identificação e catalogação das espécies foram feitas de
acordo com a metodologia do herbário da UVA.
Nas coletas a partir de 200m de altitude foram registrados 58 indivíduos como
os exemplares de Mofumbo (Combretum leprosum Mart), Rabuja ou rabugem
(Platymiscium floribundum Vogel), Pau-d’arco amarelo (Handroanthus serratifolius
Vahl S.O.Grose), Fruta-de-jacú (Psidium sartorianum), Feijão Bravo (Cynophalla
flexuosa L. J.Presl) e de Juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart).
Nos 400m, foram encontrados 68 indivíduos distribuídos entre as espécies de
Maniva-brava (Manihot sp), Mofumbo-roxo (Combretum leprosum Mart), Melosa
(Dicliptera mucronifolia Nees), Melosa II (Ruellia cf. aspérula), Pereiro
(Aspidosperma pyrifolium Mart) e Amargoso (Machaerium sp.)
Já na cota de 600m, com predomínio de árvores de grande porte ainda
conservada, foram catalogadas 12 indivíduos, entre eles se destacam a Rabuja ou
rabugem (Platymiscium floribundum Vogel), Cipaúba (Combretum glaucocarpum
Mart), Pata-de-vaca (Bauhinia ungulata L.) e o Feijão Bravo (Cynophalla flexuosa L.
J.Presl).
Os resultados preliminares, nesta etapa de identificação de espécies de
vegetação, mostraram que algumas espécies identificadas, são comuns às
encontradas em outras serras próximas, como na Serra da Meruoca e da Ibiapaba,
nas mesmas altitudes, apresentando, além de remanescentes de Caatinga Arbórea,
a vegetação de Mata Seca ou flora típica da Floresta Subcaducifólia Tropical Pluvial.
Até o momento, com base tanto em pesquisa bibliográfica (Costa 2015 e
Albuquerque, 2015), como nos trabalhos de campo realizados e nas análises do
Herbário, na área em estudo já foram identificadas quatro classes de vegetação
baseada na classificação de Figueiredo (1997), todas com presença expressiva e
conservada, sendo: Caatinga Arbustiva Aberta (Figura 03a), a Floresta Caducifólia
Espinhosa-Caatinga Arbórea (Figura 03b), Floresta Mista Dicótilo-Palmácea- Mata
ciliar (Figura 03c) e a Floresta Subcaducifólia Tropical Pluvial-Mata Seca (Figura 03d).
a b
Figura 03: Classes de vegetação encontradas na Serra da Penanduba. Fonte: FREIRE, 2018.
Segundo Gomes et al (2011) a Floresta Subcaducifólia Tropical Pluvial (Mata
Seca) possui características de transição entre a Floresta Subperenifólia Tropical
Plúvionebular (Mata Úmida) e as Caatingas Sertanejas e regionalmente ocupam os
níveis inferiores e médios do Maciço Residual da Meruoca e do Glint da Ibiapaba,
possuindo variação altimétrica de 330 a 500 metros. Em declividade superior a 25º,
possui maior porte quando comparado com a Caatinga Arbórea, mesmo ocupando
áreas de solos rasos.
Por apresentar trechos de difícil acesso, com acentuado declive e a maior
altitude local, a Serra da Penanduba se torna imprópria para a prática de atividades
agrícolas, tornando-se uma importante área para a conservação da vegetação e
preservação das espécies da fauna da região, um elemento espacialmente central e
de importância para a implantação de um corredor ecológico.
Destaca-se a necessidade científica de estudos voltados à proposição de
corredores ecológicos como determina a Resolução CONAMA nº 09/96 (CONAMA,
1996), onde se estabeleceu como uma alternativa para mitigar os efeitos do
isolamento das unidades de conservação e permitir a passagem da fauna entre essas
unidades e áreas naturais e também pela Lei do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação-SNUC, nº 9.985/00 (BRASIL, 2000) que atualiza essa definição
vinculando seu conceito às faixas territoriais destinadas à conectividade.
Portanto, o CE serve para aumentar o tamanho e as chances de sobrevivência
de populações de diferentes espécies, além de possibilitar a recolonização com
a c
d
populações de espécies localmente reduzidas e, ainda, permitir a redução da pressão
sobre o entorno das áreas protegidas (ARRUDA, 2003).
Para isso, apresenta-se alguns aspectos metodológicos propostos para a
criação do Corredor Ecológico da Serra da Penanduba (Quadro 01), ligando-o e
fortalecendo as UCs regionais da Serra da Meruoca e da Ibiapaba. Baseia-se na
metodologia estruturada por Swioklo (2003) para as etapas propostas de
sistematização do planejamento de um CE, aqui, foram adaptada para a área de
estudo.
Quadro 01: Etapas propostas para a criação do CE da Serra da Penanduba, Ceará, Brasil.
Etapas Descrição
1- Identificação de
áreas relevantes
para a conservação
Fazer mapeamento e levantamento do potencial ambiental da área
(geologia, geomorfologia, clima, vegetação e solos), econômicos e culturais;
Levantamento da flora (coletas e herborização) e da fauna, visualização e
entrevistas com as comunidades locais.
2- Identificação de
parceiros
Comunidades locais, prefeituras municipais, universidades, comitês de
bacias, entre outros;
3- Definição da área
do corredor
Reuniões e seminários com a população local, prefeituras municipais e
órgãos governamentais;
Formação de uma equipe interna e elaboração de um pré-projeto.
4- Definição de
Indicadores
Divulgação, parcerias, fontes de financiamento, capacitações técnicas e
educativas e marcos legais.
5- Elaboração do
projeto final do
corredor
Elaboração pela equipe interna do projeto final do corredor ecológico.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2019.
É importante destacar a complexidade de estratégias que antecedem à criação
de um corredor ecológico, sendo que, mesmo amparado em aspectos legais, trabalhar
na proteção e conservação do meio ambiente é tarefa árdua (BRITO, 2012), visto que
envolve aspectos ambientais, sociais, culturais, econômicos e políticos.
4. Considerações Finais
Embora haja um crescente engajamento de pesquisadores em estudos
voltados às caatingas do semiárido nordestino, poucos trabalhos envolvem as serras
secas. Sendo que, mais restritos ainda, são estudos propositivos voltados à criação
de Unidades de Conservação (UC) e corredores ecológicos (CEs) como alternativas
importantes para a conservação desses ambientes, diante do contexto político e
econômico presente no país.
Nossa proposta se insere naquelas voltadas à proteção, conservação e
recuperação de paisagens naturais semiáridas, principalmente aquelas que abrigam
espécies ameaçadas de extinção e com uma diversidade florística ainda pouco
conhecida, por meio de propostas mitigadoras, em um contexto espacial cada vez
mais degradado pelas ações humanas.
Sendo assim, busca-se aqui destacar que a Serra da Penanduba, apresenta
características e funções ecológicas importantes nesse contexto, pois abriga
ambientes naturais ainda em bom estado de conservação e que precisa de atenção
quanto aos estudos biogeográficos regionais.
5- Agradecimentos
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
ao Herbário Prof. Francisco José de Abreu Matos da Universidade Estadual Vale do
Acaraú- UVA e a professora orientadora pelo apoio e contribuição prestados nesta
pesquisa.
6- Referências Bibliográficas
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