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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI � BIGUAÇU
CURSO DE PSICOLOGIA
ANA CLÁUDIA VILVERT DE SOUZA
ASPECTOS PSICOLÓGICOS QUE CONTRIBUIRIAM PARA O
ATENDIMENTO DAS NECESSIDADES AFETIVAS DA CRIANÇA
ADOTADA
BIGUAÇU 2006
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ANA CLÁUDIA VILVERT DE SOUZA
ASPECTOS PSICOLÓGICOS QUE CONTRIBUIRIAM PARA O
ATENDIMENTO DAS NECESSIDADES AFETIVAS DA CRIANÇA
ADOTADA
Trabalho de Conclusão de Curso para a obtenção do grau em Bacharel em Psicologia �Universidade do Vale do Itajaí � Centro de Educação de Biguaçu � Curso de Psicologia. Professor Orientador: Henry Dario Cunha Ramirez.
BIGUAÇU 2006
ANA CLÁUDIA VILVERT DE SOUZA
ASPECTOS PSICOLÓGICOS QUE CONTRIBUIRIAM PARA O
ATENDIMENTO DAS NECESSIDADES AFETIVAS DA CRIANÇA
ADOTADA
BANCA EXAMINADORA
Prof.º Henry Dario Cunha Ramirez (Orientador)
Prof.ª Mirella Alves de Brito
Prof.º Mauro José da Rosa
Prof.ª Maria Suzete Salib
Coordenadora de TCC
Prof.º Almir Sais
Coordenador do Curso de Psicologia
Biguaçu
2006
Dedico esta monografia aos meus pais, Carlos José Areas de Souza, Odete Terezinha Vilvert de Souza, ao meu irmão Rodrigo Vilvert de Souza, minha tia Dulce Regina Vilvert e minha madrinha Elisabeth Vilvert por todo carinho, apoio e confiança dedicados.
AGRADECIMENTOS
À Universidade do Vale do Itajaí.
Ao orientador Prof.º Henry Dario Cunha Ramirez que aceitou me orientar e me
ensinou muito durante todo este processo.
À minha colega e grande amiga Natália Kirch que me apoiou e me ajudou em todos
os momentos do trabalho.
À Prof.ª Maria Suzete Salib, coordenadora do TCC pela compreensão e dedicação
que teve para ajudar nas horas de dificuldades.
Aos membros da banca, Prof.ª Mirella Alves de Brito e Prof.º Leandro Castro
Oltramari pelo incentivo e contribuição com o projeto de TCC e ao Prof.º Mauro José da Rosa
que aceitou fazer parte da banca para minha defesa de monografia.
E, aos pais adotivos e ao GEAAF que deram subsídios para a realização deste
trabalho.
SEGREDO DO AMOR
Eu hoje ouvi... um segredo atrás da porta.
Logo a princípio, a tristeza me invadiu.
Um quê de pânico dominou minha mente.
A dor da alma, funda como que
escorreu do meu rosto; e, como...não o sei, eu ouvi no soluço
o grito do desgosto travado na garganta, o grito que não dei. Então, não era eu
o fruto de um amor ! Eu era um enjeitado
que a carne concebeu ! Desmoronavam todos os meus sonhos.
A vergonha, de mim, debochava no barulho do vento, porque o vento ouvira
e o vento corre mundo! Ai de mim! Ai de mim! Pobre coitado!
O mundo saberia que sou filho adotado! Porém...o vento vira
e existe a brisa amena... Por sobre uma cadeira, um jornal...uma foto
a registrar o fato: Pitty, uma cadelinha, amanentava um gato.
A luz de entendimento se fez dentro de mim...
Muito mais importante que os olhos, cujas cores dos genes herdei
Muito mais do que possa pensar vale o brilho do exemplo que trago, transformado no meu próprio olhar
Eu agora chorava um choro de alegria: também eu era filho
de um amor verdadeiro. Um segredo do amor,
eu agora sabia: muito mais que o que gera,
mãe e pai é quem cria.
Moacyr Sacramento, o Moa; Conservatória-RJ
(http://www.projetorecriar.org.br/adocao/poesias.html)
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................................7
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................8
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................................10
2.1 PSICOLOGIA JURÍDICA.................................................................................................10
2.2 Sobre o termo Psicologia Jurídica...................................................................................10 2.3 Antecedentes históricos....................................................................................................10 2.4 Objeto da psicologia jurídica...........................................................................................11 2.5 Campo de atuação.............................................................................................................12 2.6 Adoção � definição............................................................................................................13 2.7 Adoção, suas origens e aspectos históricos no Brasil e em outras partes do mundo ..................................................................................................................................................14 2.8 Aspectos Legais da adoção...............................................................................................17 2.9 Desenvolvimento do processo de adoção........................................................................ 19 2.10 A família, a conjugalidade, a evolução da história da configuração familiar e a história da própria criança.....................................................................................................20 2.11 Aspectos Psicológicos na adoção presentes numa configuração familiar..................22 2.12 Aspectos psicológicos que contribuem para o atendimento das necessidades afetivas da criança adotada..................................................................................................................24 2.13 Dificuldades dos pais com os filhos adotivos................................................................29 3 METODOLOGIA................................................................................................................32
3.1 NATUREZA DA PESQUISA............................................................................................32
3.2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DA COLETA DE DADOS...........................32
3.3 SUJEITOS DA PESQUISA................................................................................................33
3.4 ANÁLISE DOS DADOS....................................................................................................34
3.5 DIVULGAÇÃO DOS DADOS..........................................................................................35 4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS..................................................................................... 36 5 DISCUSSÃO DOS DADOS................................................................................................53 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................60 REFERÊNCIAS......................................................................................................................62 APÊNDICE..............................................................................................................................64
APÊNDICE 1...........................................................................................................................65
APÊNDICE 2...........................................................................................................................66
7
RESUMO SOUZA, Ana Cláudia Vilvert de. Aspectos Psicológicos que contribuiriam para o atendimento das necessidades afetivas da criança adotada. 2006. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia � Bacharel em Psicologia) � Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2006. Resumo: Este trabalho propôs estudar o que contribuiria para o atendimento das necessidades afetivas da criança adotada. Para tanto, teve como objetivo geral: analisar os aspectos psicológicos presentes em famílias que adotaram crianças que poderiam contribuir para o atendimento das necessidades afetivas da criança adotada. Para o presente estudo foi utilizada uma pesquisa de natureza qualitativa. Na coleta de dados utilizou-se como instrumento a entrevista do tipo semi-estruturada. Os sujeitos foram pais com filhos adotivos, indicados aleatoriamente, pelo GEAAF (Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de Florianópolis). Os dados da pesquisa foram estudados de acordo com a técnica da análise de conteúdo. As unidades de registro empregadas foram os relatos dos pais adotivos surgidos a partir das entrevistas realizadas, tais dados foram analisados juntamente com a bibliografia. Como resultado, obtiveram-se alguns elementos considerados importantes para responder à proposta da pesquisa e que certamente contribuem para o atendimento das necessidades de afeto da criança adotada. Palavras-chave: necessidades afetivas, criança adotada, aspectos psicológicos.
8
1 INTRODUÇÃO
A adoção é um tipo de filiação jurídica que se baseia numa relação não biológica,
mas afetiva, segundo Venosa (2004). Em geral, essa prática é um modo legal e definitivo de
um indivíduo assumir como filho (a) uma criança ou adolescente nascido (a) de outro
indivíduo (Siega e Maciel, 2005). No que diz respeito às razões que levam as pessoas a
adotarem, pode-se citar uma atitude de caridade, atitude esta característica da modernidade e
uma possibilidade de garantir a descendência a casais sem filhos, esta última como típica de
épocas anteriores.
A relevância da pesquisa sobre o tema dá-se pelo fato da adoção englobar uma
diversidade de questões dentro do contexto social, como a família, a conjugalidade, a do
sistema familiar e a história da própria criança. A falta de informação da população em geral
sobre a adoção e sua dinâmica no processo que leva a crenças, preconceitos, temores é outro
ponto de relevância a ser considerado. O que leva também a existir muito e, melhor, a
sobressair em nossa realidade a �adoção à brasileira�, ou seja, a adoção realizada por
candidatos não escritos, sendo as crianças entregues diretamente aos adotantes através das
famílias biológicas ou redes de intermediação, que são justificadas pelas pessoas pela
morosidade do serviço judiciário.
Outra relevância da pesquisa apresenta-se também pela pouca procura no que se
refere à realização de produções científicas acerca do referido tema. De acordo com Weber
(2001), no Brasil, pouquíssimos pesquisadores da Psicologia realizam trabalhos sistemáticos
acerca da adoção, e, mesmo assim, começaram a ser realizados somente há cerca de cinco
anos.
Com isso, este estudo possibilitará uma ajuda no âmbito científico, permitindo que
outros pesquisadores dêem continuidade ao tema e ainda pretende dar um retorno à
comunidade, no sentido de desmistificar os preconceitos, crenças, tabus que permeiam o tema
da adoção. E ainda prevê o retorno dos resultados aos sujeitos envolvidos no estudo. O
retorno dos resultados será realizado por meio de convite para participar de uma reunião com
tal finalidade.
O presente trabalho visa compreender o que contribuiria para o atendimento das
necessidades afetivas da criança adotada.
A pesquisa teve como objetivo geral analisar aspectos psicológicos em famílias que
adotaram crianças. Que aspectos psicológicos contribuiriam para o atendimento das
9
necessidades afetivas da criança adotada. Teve como objetivos específicos: Pesquisar na
literatura sobre o tema os aspectos psicológicos que contribuiriam para o atendimento das
necessidades afetivas da criança adotada; identificar as dificuldades mais freqüentes que os
pais com crianças adotivas encontram no dia a dia e como eles lidam com essas dificuldades;
devolver os resultados obtidos do estudo aos sujeitos participantes da pesquisa.
10
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Nesta seção serão abordados alguns assuntos relacionados ao tema da presente
pesquisa, a adoção, que auxiliam na sua compreensão. A seguir, discutir-se-á sobre a
psicologia jurídica, área na qual esse tema é estudado.
2.1 PSICOLOGIA JURÍDICA 2.2 Sobre o termo Psicologia Jurídica
De acordo com França (2004), a Psicologia Jurídica é um dos conceitos usados para
denominar a área da Psicologia que se vincula com o sistema de justiça.
Na Argentina se chama Psicologia Forense, mesmo havendo muitos argentinos
filiados à Associação Ibero-Americana de Psicologia Jurídica. A Associação Européia de
Psicologia e Ley, já, denomina essa área da Psicologia como Psicologia e Ley.
No Brasil utiliza-se mais o termo Psicologia Jurídica, contudo há profissionais que
preferem utilizar o termo Psicologia Forense. França (2004) prefere o termo Psicologia
Jurídica pelo fato de �jurídica� ser um termo mais amplo, pois diz respeito aos procedimentos
ocorridos nos tribunais, como também aqueles originados da decisão judicial ou ainda àqueles
que são de interesse do jurídico ou do Direito, enquanto que a expressão forense, de acordo
com o autor do Dicionário Prático de Língua Portuguesa, refere-se ao foro judicial, aos
tribunais.
Compreendido o significado da expressão Psicologia Jurídica, torna-se interessante
entender o contexto em que ela surge, seus antecedentes históricos.
2.3 Antecedentes históricos
Segundo Brito (1999), o Direito Clássico (baseando-se na universalidade da razão e
entendendo o crime como decorrente do livre-arbítrio do indivíduo) perde espaço para o
Direito Positivo, onde há o questionamento da autonomia do indivíduo, de sua capacidade de
se autogovernar e de determinar sua vontade.
É neste contexto que surgem as Ciências Humanas, entre elas a Psicologia, iniciando
seu caminho científico pelo estudo experimental dos processos psicológicos. Seu objeto de
11
estudo, ao contrário da Psiquiatria (a loucura), é a análise dos processos cognitivos e
subjetivos comuns a todo ser humano (percepção, memória, motivação, etc).
Os testes psicológicos são os instrumentos pelos quais a Psicologia se aproxima do
Direito, sem deslocar a Psiquiatria. O objetivo, então, não é a loucura, mas a fidedignidade do
testemunho, sendo para isso essencial o conhecimento da percepção, da motivação e emoção,
do funcionamento da memória, do mecanismo de aquisição de hábitos, do papel da repressão.
Segundo Brito (1999, p. 16),
A �Psicologia do Testemunho�, historicamente a primeira grande vinculação entre Psicologia e Direito, demonstra a psicologização que se entra em curso: não só o criminoso deve ser examinado, mas também aquele que vê e relata aquilo que viu � que processos internos estarão propiciando ou dificultando a veracidade do seu relato?
Assiste-se então a uma psicologização do Direito, como também no indivíduo
moderno que busca cada vez mais dentro de si as certezas e os significados para a sua vida,
recorrendo ao especialista.
Visto o contexto em que a Psicologia Jurídica surge e as diversas definições, assim
como, os diferentes campos de atuação que serão abordados depois, resulta oportuno
mencionar que tais diferenciações remetem às próprias delimitações do objeto de estudo.
2.4 Objeto da psicologia jurídica
A atuação do Psicólogo Judiciário contribui tanto para a agilização processual
quanto para a compreensão de singularidades a partir dos atendimentos prestados, numa ótica
social. Apresenta um longo alcance a uma demanda que precisa de atendimentos que tenham
a disponibilidades de cuidar de transformações emocionais e sentimentos (Brito, 1999).
A atividade do psicólogo da área jurídica de início era mais ligada ao exame e
diagnóstico, ou seja, de fornecer auxílio ao juiz para ajudar na decisão de maneira mais justa.
Assim, esse trabalho no começo era caracterizado por um modelo tradicional, de aplicação da
Psicologia Científica ao Direito Positivo, sendo exclusivamente pericial, não importando
apurar a enfermidade ou a criminalidade, mas sim a veracidade nos processos criminais.
Conforme Popolo (apud França, 2004), o objeto da Psicologia Jurídica são os
comportamentos complexos que acontecem ou podem vir a acontecer. Isso qualifica a atuação
da Psicologia como Jurídica, porque estudar comportamentos é um dos objetivos da
Psicologia. Por Jurídico entende as ações dos psicólogos nos tribunais e fora dele que dariam
suporte para o direito. A complexidade de comportamentos ocorre pela multiplicidade de
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fatores que o produzem. Pode-se analisá-los a partir de diferentes fatores: desde o contexto
grupal; da família; do comportamento observado em um contexto mais amplo como o da
comunidade, etc. Salienta-se também a importância de os profissionais, que são peritos, terem
em mente o limite de sua perícia, porque o conhecimento é engendrado a partir de um recorte
da realidade, não representando a compreensão do indivíduo como um todo.
Todavia, às vezes, esses conhecimentos originados pelas perícias são tomados como
a verdade sobre o indivíduo. Assim como as perícias, as avaliações psicológicas são
importantes, porém são algumas das possibilidades de ação do psicólogo jurídico, e não as
únicas. Pois, ele pode também fazer orientações e acompanhamentos, contribuir para políticas
preventivas, estudar as conseqüências do jurídico sobre a subjetividade do indivíduo, etc. O
psicólogo deve ir além do estudo do comportamento, devendo ser seu objeto de estudo os
resultados das práxis jurídicas sobre o indivíduo (França, 2004).
Os juízes, promotores e defensores esperam que os psicólogos forneçam subsídios
para as decisões relativas do caso que está sendo tratado, através de laudos, pareceres e
estudos de caso. E esperam dos psicólogos, respostas inacessíveis até o momento.
O campo de atuação da Psicologia Jurídica é o próximo tópico a ser discutido,
entendido já sua atividade e seu objeto, ver-se-á aonde o profissional desse campo de atuação
da Psicologia atua.
2.5 Campo de atuação
A psicologia jurídica está presente em diversos campos de atuação: questões
referentes à Infância e Juventude, do Direito de Família; do Direito Civil; do Trabalho; do
Direito Penal (fase processual); Psicologia Judicial ou do Testemunho, Jurado; Psicologia
Penitenciária (fase de execução); Psicologia Policial e das Forças Armadas; Vitimologia;
Mediação (França, 2004).
Os psicólogos jurídicos atuam principalmente junto às Varas da Infância e
Juventude, às Varas Cíveis e Criminais e às Penitenciárias, vinculados assim mais aos
processos jurídicos. Porém, alguns desses psicólogos estão se preocupando também a buscar
uma atuação a serviço da cidadania, acreditando num trabalho que a informação não deve ser
repassada apenas aos juristas, como também aos indivíduos que necessitam de intervenção, de
modo que essa ação não seja estigmatizante e de controle social.
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Segundo França (2004), a Psicologia Jurídica brasileira, mesmo atingindo quase a
totalidade de seus setores, está ainda muito focada em setores mais tradicionais, como na
Psicologia Penitenciária, na Psicologia Jurídica e as questões da Infância e Juventude e as
questões da família.
Na Vara da Infância e Juventude, há diversas questões trabalhadas pelo psicólogo
jurídico, como guarda, violência doméstica, abandono e, entre elas, a adoção (Brito, 1999).
Questão esta que será tema da pesquisa no presente Trabalho de Conclusão de Curso.
2.6 Adoção � definição
Numa visão ampla, a adoção caracteriza-se essencialmente pelo fato de um
indivíduo assumir legalmente como filho (a) uma criança ou adolescente nascido (a) de outra
pessoa (Siega e Maciel, 2005).
No Direito Civil direito da família, Venosa (2004, p. 327) expressa o conceito de adoção como:
(...) modalidade artificial de filiação que busca imitar a filiação natural. Daí ser também conhecida como filiação civil, pois não resulta de uma relação biológica, mas de manifestação da vontade, conforme o sistema do Código Civil de 1916, ou de sentença judicial, no atual sistema do Estatuto da Criança e do Adolescente (lei nº 8.069/90), bem como no corrente Código. (...) A adoção é uma filiação exclusivamente jurídica, que se sustenta sobre a pressuposição de uma relação não biológica, mas afetiva. A adoção moderna é, portanto, um ato ou negócio jurídico que cria relações de paternidade e filiação entre duas pessoas. (...)O enfoque da adoção moderna terá em vista, contudo, a pessoa e o bem-estar do adotado, antes do interesse dos adotantes.
�Atualmente a adoção é compreendida como a melhor maneira para proteger e integrar
uma criança em uma família substituta� (Weber, 2002).
De acordo com Weber (2001), a adoção é uma construção social com inúmeros
valores culturais e históricos. Seria um processo pelo qual os indivíduos passam para
transformar uma criança em filha para poderem exercer um papel parental de proteção,
cuidado e amor para com a criança. Esta definição serviria tanto para famílias formadas por
laços consangüíneos como para famílias por adoção, e é esse fator que é muito importante.
Em qualquer família é necessário que as pessoas adotem umas as outras, em uma espécie de
filigrana de amor, tolerância, compreensão, atitudes de cuidado e principalmente de aceitação
da diferença.
Depois de definida a adoção, abordar-se-á um pouco da origem e de sua história no
Brasil e em outros lugares, pois é essencial além de saber seu significado conhecer como foi
14
sua trajetória nos diferentes lugares ao logo do tempo, entendendo-se assim suas influências e
transformações.
2.7 Adoção, suas origens e aspectos históricos no Brasil e em outras partes do mundo
Na Grécia a adoção já existia como forma de culto familiar pela linha masculina.
Nessa civilização já havia a idéia básica de que se alguém viesse a falecer sem descendente,
sem uma pessoa capaz de continuar o culto familiar, o culto aos deuses-lares, a adoção
contemplaria essa finalidade. O adotado assumia o nome e a posição do adotante e herdava
seus bens como resultado da assunção do culto. Esse direito sucessório era exclusivo da linha
masculina (Venosa, 2004).
A história da adoção é tão antiga que, segundo Paiva (2004), há vários casos de
adoção de acordo com o livro sagrado dos cristãos (Bíblia), no Antigo Testamento, mas entre
eles há a conhecida história de Moisés. Em torno do ano 1250 a.C, o faraó ordenou que todos
os meninos israelitas que nascessem deveriam ser afogados. Mas, a mãe de um pequeno
hebreu resolveu colocá-lo em um cesto de vime e deixá-lo à beira do rio Nilo, esperando que
se salvasse. Térmulus, filha do faraó que determinou tal matança, encontrou o cesto quando se
banhava nas águas do rio, recolheu-o e decidiu criar o bebê como seu próprio filho.
Amamentado por sua mãe biológica, serva da filha do faraó, Moisés viveu anos como egípcio
e mais tarde transformou-se em herói do povo hebreu (Paiva, 2004).
Contudo, mesmo a adoção existindo há muito tempo na história da cultura ocidental,
não é possível precisar em que momento e local esse tema surge pela primeira vez.
A adoção originou-se do sentimento de dar continuidade à família. A prática da
adoção sempre existiu nos países de direito romano. A adoção nesse período era
compreendida como um direito concedido às famílias nobres para que essas tivessem a
possibilidade de garantir uma descendência (Siega e Maciel, 2005).
Segundo Venosa (2004), num período mais recente do Direito Romano, com
Justiniano, apareceram dois modos de adoção: adoção plena, realizada entre parentes e adoção
menos plena, realizada entre estranhos, sendo que nos dois, o adotado conservava os direitos
sucessórios da família natural.
A adoção plena é a modalidade proveniente do Direito Clássico, porém com consideráveis restrições. Ocorria apenas quando o adotante era um ascendente que não tinha o pátrio poder sobre o adotado; como no caso de um avô cujo neto fora concebido após emancipação do pai. Na época de Justiniano, acentuou-se o caráter de que a adoção deveria imitar a filiação natural, idéia que atravessou os séculos (VENOSA, 2004, p.331).
15
Na Idade Média a adoção caiu em desuso. Na Idade Moderna já volta a ser utilizada
com a legislação da Revolução Francesa, tendo sido incluída depois no Código de Napoleão
de 1804.
Consoante Siega e Maciel (2005), a adoção legal começou a ser usada depois da
Primeira Grande Guerra, de modo a se �providenciar� pais para o grande número de órfãos da
guerra, considerados pela sociedade como filhos de heróis.
Mesmo a adoção sendo uma prática comum na sociedade, pouco tem sido produzido
cientificamente dela. Assim, tem-se uma deficiência de pesquisas nessa área, tendo em vista
que essas podem prover um melhor entendimento no que diz respeito ao tema.
A adoção não se refere apenas à criança ou ao adolescente, tanto que em nossa
legislação atual não se estipula idade para o adotado, incluindo, com isso, pessoas maiores de
dezoito anos.
Segundo Paiva (2004), a associação, direta ou indireta, da adoção ao abandono de
crianças é comum. Na maioria dos casos de adoção, é verdade, há uma situação prévia de
abandono, de separação de algum vínculo. Porém, se a adoção é apresentada sob a ótica de
assistência à criança em situação de abandono, isto pode representar apenas uma transferência
de responsabilidade do Estado para a instituição familiar, correndo-se o risco de negar a
vinculação afetiva, fundamental nas relações entre pais e filhos.
No Brasil, a proteção à criança abandonada começou no período colonial, com
característica de um sistema de cunho caritativo. Esse sistema vigorou até meados do século
XIX, sendo que as políticas sociais de assistência às crianças abandonadas eram realizadas de
modo formal pelas câmaras municipais. Estas quando autorizadas pelo rei, firmavam
convênios com as confrarias das Santas Casas de Misericórdias para fazer funcionar as Rodas
dos Expostos, que também eram conhecidas por Rodas dos Enjeitados, existentes desde a
Idade Média. Essas Rodas, no país, foram implantadas de acordo com os costumes de
Portugal, com instalações nas Santas Casas de Misericórdias e consistiam em um cilindro
giratório no qual os bebês eram colocados na parte que dava para a rua. Depois, as freiras
giravam o instrumento e pegavam o recém-nascido de forma sigilosa, sem a necessidade de
identificação de sua origem.
Conforme ainda o mesmo autor de anteriormente, contudo, na Colônia, as câmaras
municipais foram omissas e parciais em seus comprometimentos para com as crianças
abandonadas. No Império, as Misericórdias passaram a ser dominadas pelo Estado, porém a
maior parte das crianças abandonadas era amparada em casas de família ou morria sem
nenhuma ajuda. Assim, foi nesse período que apareceram as primeiras instituições de
16
proteção à infância (as Rodas de Expostos e as Casas de Recolhimento), porque até meados
do século XIX, a assistência institucionalizada esteve vinculada as Misericórdias.
A adoção não era regulamentada por lei antes do século XX e, com isso, as Rodas
dos Expostos era o instrumento utilizado para os casais sem filhos conseguirem uma criança
para criar.
No Brasil, o sistema de proteção à criança que prevaleceu foi o informal, criando
filhos alheios sem nenhuma documentação. Isso devido à caridade cristã que a Igreja
estimulava e por motivos econômicos, sendo essas crianças uma mão-de-obra gratuita para as
famílias que as acolhiam. A situação que esses filhos de criação viviam era traçada pela
ambigüidade, visto que embora fossem considerados membros da família eram tratados como
empregados da casa. Assim, a exploração da mão-de-obra infantil era possibilitada pelo
discurso de amparo à criança abandonada.
A adoção no Brasil sempre existiu como um modo marginal aos processos legais,
definida como �adoção à brasileira�. Ainda hoje prevalece essa forma de adoção,
demonstrando-se, assim, o preconceito, o temor, a falta de informações sobre o assunto e a
relutância das pessoas em utilizar o serviço judiciário, afirmando as dificuldades do processo,
que muitas vezes é complicado e demorado (Siega e Maciel, 2005).
Essa dificuldade do processo, da morosidade do serviço judiciário, pode ser também
verificada de acordo com a autora Weber (2003), que depois de vários anos realizando
pesquisas com crianças institucionalizadas, crianças abandonadas e famílias adotivas,
conseguiu visualizar nitidamente o perfil geral do que acontece nessas situações. Dentre uma
dessas visualizações, fala-se da burocracia do sistema legal da adoção por parte dos adotantes.
Sobre as razões para realizar uma adoção, atualmente, há várias maneiras de
entendê-las, segundo visões diferenciadas de autores. Conforme Vargas (apud Siega e Maciel,
2005), a adoção moderna voltar-se-ia a uma solução para a crise da criança abandonada,
oferecendo-lhe uma moradia. Já, de acordo com Berthoud (apud Siega e Maciel, 2005)
diverge da compreensão de que a adoção hoje se volta à solução de problemas sociais, ou
como sendo também uma atitude de caridade. Mas, expõe que a adoção forma-se em um
processo de troca, abrangendo vários aspectos psicológicos, havendo forte carga afetiva,
sendo que os pais e crianças completarão um ao outro.
De acordo com Paiva (2005), acerca da motivação, a adoção é encarada, muitas
vezes, como uma solução para aliviar a angústia das perdas e do abandono das crianças. Mas,
somente políticas públicas mais eficazes e a intervenção direta do Estado poderiam promover
soluções efetivas.
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Ainda acerca das motivações para a adoção, Fonseca (2002) estabeleceu algumas
hipóteses através de suas experiências em bairros periféricos de Porto Alegre. Ela acredita que
as crianças são acolhidas por dois motivos: o prestígio que os pais adotivos passam nas redes
sociais e pelo prazer oriundo do convívio com uma criança.
E Weber (2002), na defesa de sua Tese de Doutorado no Brasil, observou alguns
motivos que levam as pessoas a adotar. A maioria dos adotantes adota para solucionar o
problema de infertilidade. Também se adota para exercer a parentalidade, havendo relatos de
sujeitos, por exemplo, os de uma mãe que manifesta ter realizado seu desejo de ser mãe pela
efetivação da adoção. Verificou também adoções altruístas, típicas de países desenvolvidos,
que está em ascendência no Brasil.
Depois de explicados alguns pontos importantes sobre a origem e aspectos históricos
da adoção no Brasil e em outros lugares do mundo ao longo do tempo, considera-se pertinente
conhecer alguns de seus aspectos legais, pois ao tratar de tal tema é necessário conhecer
mesmo que de maneira breve o seu contexto legal.
2.8 Aspectos Legais da adoção
De acordo com Venosa (2004), a adoção no Brasil sofreu uma evolução legislativa
em sua história. Ela vigorou no país de acordo com o Código Civil de 1916 e vigora hoje
segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). No Código Civil citado, a adoção era
dirigida aos maiores de 18 anos; visava à pessoa dos adotantes e, conseqüentemente, os
adotandos ficavam em segundo plano; destinava-se àqueles que não tinham e não podiam ter
filhos. No ECA, que entrou em vigor em 13/07/1990, em contrapartida, a adoção é voltada
principalmente para os menores de 18 anos; foca-se nos adotandos, ou melhor, visa garantir o
direito à convivência familiar e comunitária da criança e/ou do adolescente.
O ECA dispõe que �a adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos
direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e
parentes, salvo os impedimentos matrimoniais�(art.41).
Dispõe também, no artigo 42, que os maiores de 21 anos podem adotar, seja qual for
o estado civil.
O artigo 43 do mesmo explica que a adoção só será concedida na exposição de reais
vantagens para o adotando e basear-se em motivos legítimos.
�A adoção é irrevogável� (art.48).
18
Segundo o artigo 49, o falecimento dos adotantes não reinstitui o pátrio poder1 dos
pais biológicos.
Conforme Paiva (2004), é importante entender que o momento histórico durante o
ECA é outro, pois desde a Declaração Universal dos Direitos da Criança promulgada pela
ONU (Organização das Nações Unidas) em 1959, a criança passa a ser vista como sujeito de
direitos e não mais como um objeto das relações jurídicas; não restringe a adoção somente a
pessoas sem filhos, mas ela é permitida a pessoas solteiras, viúvas, separadas, divorciadas e
concubinadas.
O ECA é considerado um dos códigos jurídicos mais avançados da atualidade,
representando uma mudança nas práticas públicas em favor de crianças e adolescentes,
sobretudo no campo das adoções. Porém, hoje depois de mais de uma década de sua
aprovação no país, ainda alguns direitos das crianças e adolescentes não estão garantidos e
alguns preceitos não foram bem assimilados pela sociedade.
O artigo 47 do Estatuto coloca que a medida de anulação de todo e qualquer dado
sobre os antecedentes da criança adotada no Registro Civil depois da sentença da adoção, visa
consolidar os direitos do adotando, resguardando-o de discriminações e exclusões. Contudo,
há posicionamentos contrários que alegam que a legislação brasileira atual, assim, permite aos
pais adotantes omitir ou camuflar ao filho informações referentes a seu passado e fatos sobre a
adoção.
Visto essas questões evidencia-se que o ECA ainda tem que percorrer um grande
caminho para assegurar os direitos da criança e do adolescente como propõe.
Outra questão importante refere-se à pessoa que adota. Segundo Degano (1999),
quem adota, seguindo uma perspectiva jurídica, é uma pessoa, esta é um sujeito de direito,
que faz isso de forma consciente e voluntária. Escolher exercer seu direito de adotar é dizer
tomar como filho aquele que não o é naturalmente.
1 Pátrio Poder: Em Roma, tinha uma conotação eminentemente religiosa. O pai romano não conduzia somente a religião, mas sua autoridade era fundamental para manter unido e sólido a família como célula importante do Estado. Sua autoridade não tinha limites, inclusive, com direito de vida e de morte com relação aos membros de seu clã. O Código Civil revogado de 1916 destacava o poder do marido no exercício do pátrio poder. Com o ECA em seu artigo 21, seguindo a linha da Constituição de 1988, dispôs que na sociedade conjugal o pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe. Com a vigência do presente Código Civil, compete o Poder Familiar (e não mais pátrio poder) aos pais (VENOSA, 2004, p. 366).
19
A criança adotável é aquela que se encontra juridicamente declarada em estado de
pré-adotabilidade pelo seu representante: o juiz. A adoção, assim, será a efetivação da vontade
de quem adota, em um ato de tomar a criança como sujeito jurídico de sua vontade.
Esse mesmo autor diz que a adoção e a procriação são dois modos para a mesma
função: o acesso à paternidade, supondo que em troca a segurança e educação de um filho são
as condições para o reconhecimento do mesmo como filho. Traz ainda que os destinos de uma
criança ao nascer são três: continuação do vínculo procriativo, em ausência a adoção e, em
ausência dos anteriores, a orfandade. Sendo esse último um destino trágico, pois o filho órfão
não é filho de ninguém. E comenta ainda que há uma seqüência descendente: procriação �
adoção � criação e orfandade, sendo a procriação a via régia de acesso à paternidade e as
demais, formas sub-rogadas que pode ser posicionado uma criança na relação com adultos.
Portanto, quem adota é aquele que escreve legalmente seu vínculo com uma criança
a quem outorga o lugar de filho adotivo.
Expressa também a idéia de que nem sempre os responsáveis são os pais de uma
criança. A criança sendo criada, mas não �colocada� no papel de filho (a), cujo �pai� não
assume assim seu papel de pai (apenas criar não significa exercer seu papel de pai/mãe), será
órfã, no sentido de seus criadores.
A adoção, sendo uma operação que torna possível o acesso à constituição subjetiva,
inscreve e introduz o sujeito em uma rede simbólica e o processo do desejo, apresenta-se
como um processo permanente na dimensão subjetiva.
Acerca do processo de adoção, cabem algumas perguntas, como e por quem ela é
realizada, porque além de saber sobre sua história, origem, seus aspectos legais, quem adota, é
fundamental saber ao menos em síntese como vai ocorrer o processo que permite aos pais
interessados em adotar uma ou mais crianças. O que é importante, pois traz questões
relacionadas à reação dos pais ao procedimento, ao modo de lidar com a espera até
conseguirem (se conseguirem) adotar.
2.9 Desenvolvimento do processo de adoção
De acordo com Moraes (1983), no desenvolvimento do processo de adoção são
notados processos jurídicos e psicossociais. O trabalho deve ser realizado por uma equipe
interprofissional (advogado, psicólogo e assistentes sociais), no qual cada profissional com
seus instrumentos e técnicas objetivam detectar aspectos objetivos e subjetivos que expliquem
20
a elegibilidade do candidato à adoção. A clientela atendida envolve a criança em situação
vulnerável e a família interessada em adotá-lo.
A expectativa da criança diante da possibilidade de adoção varia de criança para
criança, em função de sua história: idade de abandono; condições de abandono; ambiente
vivido depois do abandono; idade de colocação na família; experiências vividas após a
colocação; consciência de sua real situação.
Os aspectos psicossociais observados no desenvolvimento do processo de adoção
são: motivação em torno da adoção, compreensão da família sobre a situação do jovem em
estado de abandono, expectativa do candidato com relação ao atendimento do futuro filho
adotivo, dinâmica familiar, reflexão acerca da escolha pela adoção.
Depois de concluída a elegibilidade do candidato, inicia-se o período de
acompanhamento com a apresentação pessoal de uma criança. Depois, ainda na fase de
acompanhamento de como estão as condições de relação, expectativas, dá-se início ao Estágio
de Convivência. Este, se decidido, encaminha-se então uma solicitação à Vara da Infância e
Juventude para conceder a guarda da criança aos candidatos eleitos e o desligamento da
instituição. Com a solicitação sendo atendida realiza-se o acompanhamento propriamente
dito, com duração média de seis meses.
Visto como funciona a adoção e seus aspectos relacionados (história, origem,
aspectos legais, etc), torna-se possível ter uma compreensão sobre o tema. O que permite
discutir outros assuntos mais próximos do problema de pesquisa (o que contribuiria para o
atendimento das necessidades afetivas da criança adotada). Por tal motivo, a família e sua
evolução resultam ser o cenário privilegiado para pensar a criança e seu desenvolvimento.
2.10 A família, a conjugalidade, a evolução da história da configuração familiar e a história da própria criança.
Segundo Siega e Maciel (2005), a mulher no período colonial levava uma vida
aprisionada em casa. Seu casamento era voltado para a razão ou interesse, pois não havia
amor entre os cônjuges. A mulher podia ser percebida, assim, como inferior e dependente
econômica do homem (pai, irmão, tio, tutor). Ao contrário, o homem tinha um maior contato
com o mundo externo, permanecia menos tempo em casa, pouco interessava gastar seu tempo
livre no ambiente doméstico já que podia aproveitá-lo fora de casa.
Em meados do século XIX, ocorre a propagação das razões higiênicas por médicos
no Brasil (já vigentes na Europa no século XVIII). Devido à alta taxa de mortalidade infantil
21
(ligada à higiene das famílias coloniais) a prevenção pelos médicos nessa época acontece,
visto que as famílias não conseguiam lidar com questões de saúde e higiene. Esse movimento
higienista trouxe mudanças para as relações conjugais ao atribuir à afetividade uma função
importante para um bom casamento. Agora esse casamento se dava a partir de um sincero
amor entre os cônjuges. Esse movimento recomendava, por exemplo, os perigos de
casamentos consangüíneos e com diferença de idade muito grande.
O conceito ou um modelo de família na atualidade torna-se complicado devido à
diversidade e complexidade de fatores sociais envolvidos. Essa dificuldade de definir família
está relacionada às transformações que essa passa, e essas transformações, por sua vez, estão
relacionadas às mudanças que a sociedade como um todo passa.
Hoje, como exemplo das configurações familiares, além das famílias monoparentais
(com somente pai ou apenas mãe) e das famílias reconstituídas (originadas a partir de novos
casamentos ou uniões depois do divórcio), crescem muito os casais sem filhos, os casamentos
sem coabitação e as famílias formadas por pares homoafetivos (Paiva, 2004).
Fonseca (2002), baseada em suas experiências em bairros periféricos de Porto
Alegre, estabeleceu algumas hipóteses. Uma delas é que a unidade significativa de
organização social é a família extensa; que essa família extensa prioriza laços consangüíneos
à relação conjugal; e que a circulação de crianças (uma prática familiar antiga, típica de
grupos populares, em que crianças transitam entre as casas de avós, madrinhas, vizinhas, e
�pais verdadeiros�) entre diferentes mães de criação faz historicamente parte da dinâmica
familiar destes grupos.
Segundo a mesma autora, para a classe média, o modelo mais comum está focado na
família conjugal. Neste tipo de família, os parentes consangüíneos são relegados a um papel
secundário. As crianças, veículo de um projeto familiar, merecedoras de sacrifício imediato,
tornam-se o centro da unidade conjugal. Já para as famílias extensas (típica de classes
populares), cada membro do casal está envolvido em uma rede consangüínea que exige
constante demonstração de solidariedade, muitas vezes em detrimento do laço conjugal. As
crianças aqui são consideradas, não como indivíduos singulares, mas como partes integrantes
de um grupo.
A criança depois da Declaração Universal dos Direitos da Criança, promulgada pelas
Nações Unidas, em 1959, passa a ser considerada como sujeito, sujeito de direitos.
Anteriormente a essa Declaração, o abandono de seus próprios filhos era tolerado, aceito e,
muitas vezes, também estimulado. Assim, a infância não era levada com importância,
22
pensando não nos interesses da criança como depois da Declaração, mas nos interesses dos
adultos e da sociedade.
Entendido a percepção da criança, da família e da conjugalidade, e tudo o que já foi
abordado até o momento, será discutido a questão dos aspectos psicológicos que envolvem a
adoção.
2.11 Aspectos Psicológicos na adoção presentes numa configuração familiar
Segundo Siega e Maciel (2005), há alguns aspectos psicológicos que podem estar
envolvidos numa adoção, como significado da paternidade e maternidade, desenvolvimento
do apego, a questão do tempo de espera pela adoção, o segredo envolvido na adoção.
O primeiro aspecto psicológico a ser tratado nesse tema compreende-se que seja o
significado da paternidade e maternidade (sejam elas biológicas ou afetivas) hoje em dia,
tendo em vista que essa motivação pode ser tida como uma das principais razões à adoção de
uma criança. Segundo Berthoud (apud Siega e Maciel, 2005), a continuidade seria a principal
motivação implícita no desejo de paternidade. Sustenta-se, atualmente, a crença de que, para o
homem, cultural e psiquicamente, sua virilidade é confirmada pela procriação. Confirmaria,
então, que ele é �macho�. Na mulher, a feminilidade da mesma não é provada pela procriação,
mas a maternidade biológica possui um significado todo especial, conferindo-lhe um valor de
superioridade em comparação ao homem pela capacidade de gestar e parir.
Quanto ao desenvolvimento do apego entre mãe e filho adotivo em pesquisas
realizadas por Berthoud, anteriormente citada, esse comportamento é similar ao desenvolvido
nas famílias biológicas - pelo menos nos primeiros anos de vida. Essa mesma autora faz uma
análise das peculiaridades dos processos de gerar e dar à luz a um filho e adotar uma criança,
mostrando que esses dois processos tão ìmpares podem chegar a resultados tão semelhantes
referente à qualidade de relacionamento afetivo estabelecido entre mãe e filho.
Conforme Weber (2001), uma essencial distinção entre biologia e a adoção deve ser
ressaltada, na adoção a espera da chegada do filho, pelo fato de não ser previsível, é muito
mais angustiante do que a espera de aproximadamente nove meses de uma gestação usual. Na
adoção, os adotantes não têm qualquer sinal nem data de quando a criança virá, contudo,
mesmo assim, tentam encontrar elementos exteriores que simbolizem e marquem esta espera.
Vários depoimentos mostraram que os adotantes �sentiram-se grávidos� quando saíram da
entrevista que lhes proporcionou o resultado da sua habilitação para uma adoção.
23
No que diz respeito à questão do tempo de espera pela adoção o impacto emocional
de encontrar e segurar nos braços a criança que a partir deste momento será seu filho é
psicologicamente comparável ao que sentem os pais biológicos no momento do nascimento
de seus filhos. A autora Berthoud (apud Siega e Maciel, 2005) exemplifica essa �descarga�
emocional a partir de um caso específico, no qual uma mãe esperou vários meses até
conseguir uma criança para adotar e quando finalmente conseguiu o que tanto almejava,
entrou em processo de lactação.
O aspecto do segredo envolvido na adoção. Segundo Maldonado (apud Siega e
Maciel, 2005), o medo e a insegurança muitas vezes impedem os pais de contar à criança o
que ela realmente precisa saber. Para se abordar esse tipo de assunto, sugere-se a utilização
de uma linguagem mais adequada à idade da criança para que haja um melhor entendimento.
Atualmente, tanto as CEJAs (Comissões Estaduais Judiciárias da Adoção) quanto os
grupos de apoio à adoção, defendem a idéia de que a verdade seja contada o mais cedo
possível, de forma verdadeira e natural, pois toda pessoa tem o direito de conhecer a história
de sua vida. O ideal seria partir das perguntas elaboradas pela própria criança, aproveitando as
�deixas� concedidas por ela mesma.
Todavia, mesmo que muitos autores e terapeutas defendam uma maneira mais
adequada sobre como abordar o assunto com a criança compete à própria família perceber o
momento ideal para que isso ocorra, uma vez que cada criança se desenvolve de um modo
diferente em relação à outra e cada situação tem suas particularidades.
Vechi (2006), numa entrevista realizada com o grupo de estudos e apoio à adoção de
Blumenau (GEAAB), pergunta a este grupo sobre quando a criança deve saber que é adotada,
e como resposta se tem, também como os autores acima abordaram, que a experiência
demonstra que o ideal é o mais cedo possível, de maneira natural e que a criança possa
compreender. Pois, todo indivíduo tem o direito de conhecer a própria história, e viver a
adoção em segredo produz ansiedade, insegurança e falta de confiança na relação entre pais e
filhos, e, ainda, há a chance de qualquer pessoa falar sobre o assunto sem que a criança esteja
preparada.
Weber no artigo Abrigos � da institucionalização à adoção: um caminho possível?
Traz que atualmente os pais têm a tendência a revelar à criança desde cedo a sua condição de
adotiva, contudo também dizem que a história anterior da criança não é importante e que os
filhos não têm interesse na sua família biológica, negando a chance da criança conhecer suas
origens. E os filhos por adoção relatam que não têm curiosidade nem interesse em saber de
suas raízes ou de seus pais biológicos. Essa atitude dos filhos pode ser explicada, de acordo
24
com a autora referida, pela pressão social e preconceituosa que eles acabam aderindo ao
modelo transmitido por seus pais.
Ainda, Weber (2002) realizou uma pesquisa de Tese de Doutorado no Brasil com
pais adotivos, filhos adotivos e filhos biológicos que têm irmãos adotivos moradores de
diversos Estados e cidades do país. Em relação a um assunto pesquisado, atitudes da família
adotiva em relação à adoção, verificou que filhos adotivos e filhos biológicos que têm irmãos
adotivos apresentam um discurso no qual argumentam, com maior freqüência, que desejam
adotar uma criança.
Assim, a mesma autora constatou que a história de adoção afeta a probabilidade de
adotar uma criança. Os filhos adotivos e os filhos biológicos de famílias mistas falam mais
comumente de adotar um filho do que procriar, segundo os sujeitos de sua pesquisa.
Uma vez que, foram desenvolvidos os aspectos fundamentais que envolvem a
adoção, cabe iniciar a discussão sobre a questão principal da pesquisa, os aspectos
psicológicos que contribuiriam para o atendimento das necessidades afetivas da criança
adotada.
2.12 Aspectos psicológicos que contribuem para o atendimento das necessidades afetivas da criança adotada
No desenvolvimento desse tópico utilizar-se-ão autores que ressaltam algumas
proposições como sendo favoráveis ao atendimento das necessidades afetivas da criança, mas
sem relacioná-lo diretamente à criança adotada. Proposições estas que eles relacionam com
um suposto desenvolvimento normal da criança. Embora, os autores sustentados nesse tópico
não desenvolvem a questão em relação à criança adotada especificadamente, resultam de
grande valia em função de terem desenvolvido um conhecimento sobre o que contribuiria para
o desenvolvimento normal da criança.
Spitz (1998) fez algumas inferências, originadas de dados das relações objetais2.
Postulou que a criança que tem boas relações objetais com a mãe, estando as outras condições
não modificadas (criança estando com uma boa saúde), desenvolver-se-á de um modo normal.
2 Relações Objetais: Relação de objeto é uma expressão psicanalítica, que indica os vínculos, inter-humanos, que são as relações do sujeito com as pessoas amadas ou odiadas com as quais se está em inter-relação (DORON & PAROT, 2002, p. 667). Relação objetal, para René Spitz, foi definida como o vínculo entre a criança e sua mãe, estabilizando as relações com o objeto como a base da sobrevivência e desenvolvimento da criança (CARVALHO, 1996, p. 146).
25
Com relação a essas relações objetais, torna-se importante abordar o que Carvalho
(1996) expressa sobre as trocas afetivas. O rosto da mãe faz parte de uma experiência única.
As trocas afetivas, que tomam a figura do parceiro distinta dos outros estímulos visuais
recebidos, levam a uma separação entre animado e inanimado. O parceiro humano, facilitando
a descarga da pulsão libidinal3, colabora a uma relação adequada com o inanimado. As
crianças hospitalizadas, despojadas do diálogo com o parceiro humano, conservam-se focadas
em si mesmas, com movimentos intermináveis de mãos e pés, sendo incapazes de uma
relação ativa com os objetos.
Spitz (1998) realizou duas suposições na tentativa de se aproximar e definir o que
seria o desenvolvimento normal da criança. A primeira é que através de mensurações e
índices poder-se-ia medir o progresso do desenvolvimento, em estágios sucessivos, ao
decorrer do primeiro ano de vida. Existem testes que dividem as realizações e desempenho da
criança, nesse período de vida, em seis setores. O desenvolvimento �normal�, nesse período, é
caracterizado pelo fato de a criança progredir em ritmos diferentes, em cada um dos setores.
Assim, a relação entre os escores de desempenho nos diferentes setores variará de mês para
mês.
Porém, em alguns casos, a relação entre os setores permanece invariável, numa
mesma criança. O que sugere que o desenvolvimento aparece sob o controle de uma
influência que o impede. Essa influência vai derivar essencialmente das relações mãe-filho.
Nessa relação é importante compreender que há dois indivíduos diferentes, e o que satisfaz
ambos também é distinto. Mas, para ocorrer relações objetais normais tanto a mãe quanto a
criança tem que ser satisfeitas.
A satisfação da mãe está ligada ao ter e criar um bebê, na qual qualquer conquista do
bebê será sua própria realização e qualquer deficiência do bebê será seu fracasso.
O dar a luz, causando desconforto, a dor do parto, dificuldades e as alegrias de
amamentar entrarão direta ou indiretamente em seus sentimentos pelo bebê.
As relações objetais a serem satisfeitas são diferentes para a criança. A natureza do
que a satisfaz passa por rápidas mudanças. Assim, a natureza e a forma de satisfação mudam
gradativamente em cada nível sucessivo de desenvolvimento. Para acompanhar o progresso
3 Pulsão libidinal: Primeiramente, pulsão, na teoria psicanalítica, é um impulso que faz tender para a ação. É uma pressão que é exercida sobre o aparelho psíquico, tendo uma fonte (o somático), um alvo, este que leva à satisfação e à descarga de energia que é investida e, tendo um objeto que possibilita que esse alvo seja atingido (DORON & PAROT, 2002, p. 639). Libido: Energia postulada por Freud como substrato das transformações da pulsão sexual enquanto ao objeto (deslocamento das catexias), enquanto à meta (por exemplo, sublimação) e enquanto à fonte da excitação sexual (diversidades das zonas erógenas) (LAPLANCHE & PONTALIS, 1974).
26
da criança, as respostas da mãe às suas iniciativas devem permitir a satisfação de pulsões
libidinais agressivas. As respostas da mãe às ações da criança facilitam e possibilita a
integração do processo de amadurecimento do bebê, uma complexidade crescente na estrutura
do ego4 da criança e levam à formação de sistemas múltiplos. Talvez se possa dizer que as relações objetais que satisfazem mãe e filho são relações nas quais operam forças, no sentido de ambos se completarem, de maneira não só a se proporcionarem satisfação, mas também de modo que um deles, ao obter a satisfação, possa proporcioná-la ao outro (Spitz, 1998, p. 208).
As informações sobre a patologia e a etiologia do desenvolvimento �normal� da
criança são fornecidas, segundo esse autor, através de distúrbios na relação entre mãe e filho.
Como a mãe é o parceiro ativo e dominante na relação e a criança, pelo menos no início, é a
receptora passiva, Spitz (1998, p. 209) deduz que �distúrbios da personalidade materna se
refletirão nas perturbações da criança. (...) na primeira infância, as influências psicológicas
prejudiciais são a conseqüência de relações insatisfatórias entre mãe e filho�.
As relações insatisfatórias entre mãe e filho discutidas até o momento são
patogênicas e são divididas em duas categorias: relações inadequadas entre mãe e filho;
relações insuficientes entre mãe e filho. Na primeira categoria esse autor conseguiu distinguir
uma série de padrões prejudiciais de comportamento materno, relacionados a distúrbios
psicotóxicos da criança (rejeição primária manifesta, superpermissividade ansiosa primária,
oscilação entre mimo e hostilidade, entre outros), considerando a personalidade da mãe um
agente provocador da doença.
Para elucidar um pouco sobre alguns desses padrões de comportamento citados,
falar-se-á sobre eles. Na rejeição primária manifesta, o comportamento da mãe consiste em
uma rejeição da maternidade e nesses casos é muito difícil de se acompanhar, tendo em vista
que a criança comumente morre (�acidentalmente� ou por infanticídio), é abandonada, ou
entregue para a adoção. Para demonstrar que essa atitude da mãe para com o filho traz
seqüelas psicossomáticas, expõe-se um caso no qual uma mãe recusou amamentar o bebê. Ela
sempre reclamava antes quando amamentava e dava depois a mamadeira, argumentando que
ele vomitava depois de amamentar e depois de dar a mamadeira. A mãe ficou doente e se
afastou da criança durante três semanas. A partir daí, o vômito parou imediatamente. Seis
semanas mais tarde a mãe voltou e o vômito recomeçou.
A superpermissividade ansiosa primária (podendo ser entendida como a cólica dos
três meses) diz respeito a uma superproteção materna. A cólica dos três meses é um quadro 4 Ego: O ego/eu é um conceito psicanalítico. É uma instância dentro da personalidade, cujas principais funções são a adaptação ao real e a manutenção da coerência interna (DORON & PAROT, 2002, p. 270).
27
clínico comum, após a terceira semana de vida e até o fim do terceiro mês, o bebê começa a
gritar à tarde. Spitz (1998) ainda expõe que crianças criadas em instituições, na maioria das
vezes, não apresentam essa cólica. Isso, porque o bebê é privado de mimos e cuidados
maternos e segue uma rotina alimentar rigorosa. Muitas mães tendem a alimentar seus bebês
toda vez que este quer ser alimentado, oferecendo mamadeira ou o seio, tendo casos relatados
de alguns que foram alimentados até vinte e oito vezes em vinte e quatro horas, e como o
organismo do bebê não está adaptado ainda nesse período a ser alimentado tantas vezes,
produzia as cólicas. Mas, não somente nesse caso ocorriam as cólicas, quando se davam
muitos cuidados maternos e mimos à criança, esta tendia a ter também essas cólicas.
Com relação à oscilação entre mimo e hostilidade, o mesmo autor pesquisou a
relação do comportamento da mãe sobre a deficiência de comportamento (o balanço) em
crianças que foram observadas sistematicamente, numa instituição chamada Creche. Esse
comportamento caracteriza-se por um balanço na primeira infância que tomava um caráter
patológico, pois se tornava a principal atividade do bebê, substituindo a maioria das atividades
comuns nesse nível de idade. Em geral, a mãe dessas crianças eram vítimas de suas próprias
emoções. No ambiente do berçário penal, seus bebês eram a principal válvula de escape para
suas emoções instáveis, de maneira que esses bebês eram expostos alternadamente a
explosões intensas de carinho e explosões igualmente intensas de hostilidade.
A categoria de relações insuficientes entre mãe e filho refere-se ao fato de a criança
quando privada de suas relações com a mãe, sem proporcioná-la um substituto adequado que
possa aceitar, priva-se ela de provisões libidinais. Podendo-se fazer uma analogia com o que
acontece na avitaminose. Assim, essas provisões libidianais proporcionadas pela mãe são
suprimentos narcisistas que funcionam como vitaminas necessárias à segurança e auto-estima
da criança.
Winnicott (1982) expressa que, embora qualquer desvio de saúde possa ser visto
como anormal, não necessariamente um empobrecimento da saúde física por causa da tensão
e do sofrimento emocional seja anormal. Toda criança experimenta situações emocionais
internas e externas similares, ou mesmo perturbadoras, às quais deve sobreviver, descobrindo
modos de lidar, alterar ou tolerá-las. Assim, o desenvolvimento normal leva com freqüência a
distúrbios de ordem somática.
Embora o reconhecimento de que a falta de saúde pode ser normal, pode-se utilizar o
distúrbio de saúde física como um critério de falta de saúde psicológica e expor que as
dificuldades de uma criança tornam-se patologicamente intensas quando a saúde física é
muito perturbada.
28
Entre o primeiro e o quinto ano de vida são formadas as bases da saúde mental e é
onde se encontra o núcleo da psiconeurose, segundo Winnicott (1982). Quando a criança
atinge a idade de quatro a cinco anos, os desejos e os medos relacionados à posição da criança
com relação aos pais ou seus substitutos tornam-se menos intensos, e são reatualizados na
puberdade.
A criança começa um novo desenvolvimento emocional, entre os dez e onze anos,
segundo o padrão de desenvolvimento emocional formulado no início da infância, porém
realizada com o desenvolvimento dos órgãos genitais.
O papel da ansiedade segundo o mesmo autor comentado acima deve ser discutido
com freqüência na pediatria clínica. A ansiedade é normal na infância e já foi observado que
ela comumente gera ou se faz seguir de determinados sintomas físicos. Constância da micção,
urgência de urinar ou defecar são sintomas nestas histórias de casos. Se não se investiga a
situação emocional, estas crianças ficam sujeitas a diagnósticos como infecção do trato
urinário, verminose, etc.
Um dos efeitos somáticos da ansiedade é a tendência a produzir emagrecimento, o
que pode ser causado em certa parte pelo aumento do metabolismo e é certo que crianças
ansiosas podem às vezes comer em excesso e obsessivamente e ainda continuarem magras.
Todavia, crianças ansiosas não têm prazer nas refeições cotidianas e são levadas ao médico
por falta de apetite.
Assim, a causa principal para a magreza, segundo esse autor, Winnicott (1982), é a
ansiedade sempre presente. Mas, às vezes, quando o sono é perturbado por terrores noturnos,
acrescenta-se a ela uma maior debilidade, porque falta um sono reparador. E se deve lembrar
que uma ansiedade manifesta não se faz necessariamente presente durante o dia, sendo que, se
não fossem os pesadelos, ou uma reação excessiva em alguma ocorrência corriqueira (pulo de
um cachorro ou passagem de um carro de bombeiros) o verdadeiro estado emocional não teria
como se expressar.
Sintomas como magreza, palidez, propensão a estados febris, propensão à sudorese e
a desmaios, enxaquecas e dores no corpo fazem com que o médico suspeite de doença física.
Há muito tempo estas crianças eram classificadas como �pré-tuberculosas�, passando depois
para �pré-reumáticas� por aqueles que não reconhecem o fator ansiedade. Elas têm
comumente �dores de crescimento� (nos músculos, nos ligamentos, nas paredes do peito e do
abdômen) e isto faz com que um reumatismo seja mais provável. Contudo, não há reumatismo
e o descanso na cama geralmente recomendado é um mau tratamento para a condição da
criança.
29
Outro conjunto de sintomas causado comumente pela ansiedade inclui agitação,
compulsão de estar sempre realizando algo e a incapacidade de se sentar quieto nas refeições.
Winnicott (1982) ainda afirma que nenhum estudo da resposta da criança a uma
doença física poderia ser completo sem se fazer referência às fantasias dela sobre seu interior.
A maioria dos médicos opta se ater à simples idéia de dor sem conteúdo de fantasia, porém
persiste o fato de crianças comumente fazerem uma narração de seu mundo interno quando
questionadas acerca de seus desconfortos internos. Um exemplo que ele conta é de uma
menina que reconta uma fantasia de pessoas pequeninas sentadas à volta de uma mesa em seu
estômago, esperando que a comida desça.
Segundo o mesmo autor de anteriormente, o princípio segundo o qual existe uma
tendência natural em direção à saúde ou à maturidade do desenvolvimento é de grande
importância. Pode-se afirmar que grande parte das doenças físicas é devido a uma invasão do
meio ambiente ou a uma deficiência ambiental, não se referindo somente a distúrbios do
desenvolvimento. Em contraste com isso, o distúrbio psicológico pode ser sempre descrito de
acordo com um atraso ou uma distorção do desenvolvimento emocional, ou de um bloqueio
que o impossibilite alcançar a maturidade correspondente à idade atingida pela criança.
O tópico acerca das dificuldades ao se lidar com filhos adotivos, que é um dos
objetivos da pesquisa, será argumentado a seguir, tendo visto sucintamente sobre o
desenvolvimento �normal� da criança.
2.13 Dificuldades dos pais com os filhos adotivos
Em relação às dificuldades dos pais com filhos adotivos, não se encontrou nenhuma
referência bibliográfica que especificasse essas dificuldades, isso talvez, porque sejam as
mesmas. Mas, para tal, utilizou-se alguns autores que abordam sobre as conseqüências de uma
institucionalização, privada de cuidados maternos, para o comportamento da criança e
estereótipos relacionados quando se fala em filho adotivo (geralmente interpretado como
sinônimo de problemas). O que se considera ser pertinente ao estudo das dificuldades dos pais
com os filhos adotivos, podendo-se questionar, assim, se estas dificuldades dos pais seriam
somente relacionadas aos filhos adotivos. Além disso, o adulto na relação com a criança é
quem irá viabilizar o �sentimento� de segurança. A priori, não é possível definir se haverá
dificuldade ou não.
30
No artigo de Weber Abrigos � da institucionalização à adoção: um caminho
possível? argumenta-se sobre uma pesquisa que realizaram Weber & Gagno (1995), onde
ouviram as vozes das crianças internadas em Curitiba que não possuíam vínculo familiar fazia
um ano. Destes internos entrevistados, cerca de 70% nunca receberam visitas de seus pais ou
familiares após a institucionalização, e a maior parte estava internada há mais de três anos,
chegando até 15 anos de institucionalização. Os prejuízos para a formação de sua identidade e
seu desenvolvimento eram claros: os sujeitos apresentavam dificuldades em planejar e refletir
sobre o seu futuro, basicamente pessimistas em relação a seus relacionamentos afetivos, sendo
que 50% desejavam se casar e ter filhos. Parecia que eles construíram hipóteses sobre o
mundo tendo por base o abandono que sofreram, abandono este não apenas protagonizado por
seus pais, mas pelo Estado e pela sociedade como um todo. O dramático desamparo vivido
por estas crianças faz com que elas tenham uma visão bastante negativa de seus pais
biológicos, tendo pouquíssima noção de todo o contexto de miséria social que acompanha o
drama de famílias que internam seus filhos.
Moraes (1983) expõe que se tem observado que a criança privada dos cuidados
necessários tendo passado a viver na instituição, tem o seu desenvolvimento retardado tanto
no aspecto físico como psicossocial e, em casos extremos, até apresentam sintomas de doença
física e mental. As conseqüências produzidas por essa separação notam-se desde o começo,
tanto em criança maior quanto para o bebê.
De acordo ainda com a mesma autora, quanto mais nova for a criança mais fácil
será sua adaptação ao novo lar. A expectativa da criança mais nova é a da simples satisfação
de suas necessidades básicas. Nas crianças maiores, notam-se comportamentos típicos de
insegurança frente à situação nova (adoção). No começo, atitude de aproximação a qualquer
pessoa que visite a instituição e, depois, atitude de afastamento, essencialmente devido ao
medo de, ao se entregar, ser rejeitada novamente.
Weber (2003) comenta sobre pesquisas européias e, principalmente, americanas que
indicaram um excesso de distúrbios de adaptação em crianças adotivas e que um dos fatores
para explicar essa situação seria a adoção realizada depois de viver a infância em instituições.
De acordo com Weber (2002), os estereótipos de que �filhos adotivos dão
problemas, cedo ou tarde� ou �uma mãe nunca vai gostar de seu filho adotivo como gostaria
de um filho da barriga� ainda hoje existem. Freqüentemente são utilizadas as expressões:
família adotiva versus a natural; ou filho adotivo versus filho verdadeiro, explicitando o
preconceito por trás das palavras.
31
Weber (2003) expõe que os estereótipos referentes à adoção, provenientes da mídia
que generaliza casos mal sucedidos de adoção e também pela generalização de casos
dramáticos que colocam a perda dos pais biológicos como irreparável para a criança adotada e
causadora de todos os problemas da adoção, acarreta uma representação errônea da adoção e,
principalmente, dos filhos adotivos, vistos como problemáticos, revoltados e fadados a repetir
comportamentos supostamente inadequados de seus pais biológicos (medo da hereditariedade
desconhecida da criança).
A mesma autora expressa que há uma representação errônea desse tema e as crianças
adotivas são vistas com preconceito ainda, porque a carga genética e os traços são diferentes.
Sobre os estereótipos sociais e preconceitos acerca desse tema Berthoud (apud Siega
e Maciel, 2005) aponta como um dos motivos, em nossa cultura atual, para que eles ocorram,
a falta de conhecimento da população em geral sobre esse tema de um modo global.
Segundo Maldonado (1999), as dificuldades pessoais dos pais influenciam muito na
formação do vínculo com os filhos. Todos têm áreas de conflitos que se reproduzem pelo
menos na maioria dos seus relacionamentos e acabam se manifestando na construção do
vínculo com seus filhos.
Em muitos casos, a dificuldade de relacionamento encontra-se em perceber o filho
como pessoa individual, única e singular, com isso, diferente dos pais e com direito de viver a
vida de maneira própria, que nem sempre coincide com o que os pais planejam ou sonham.
Com relação a essa visão de que as ditas dificuldades dos filhos poderiam
relacionar-se mais as atitudes dos pais, Paiva (2005) expressa que a idéia de que as crianças
adotadas estão mais suscetíveis a conflitos afetivos e/ou distúrbios de conduta pode ser até
fato, contudo não se pode garantir que os motivos encontram-se fundamentalmente na
criança. Sabe-se que o olhar dos pais sobre os filhos inscreve-se no âmbito das expectativas
culturais e dos valores sociais instituídos. Cabendo averiguar se uma criança adotada está de
fato mais vulnerável a conflitos ou se são os pais adotivos, por causa de suas influências do
discurso social, que acreditam que o filho, por sua condição e passado, precisa de alguma
intervenção.
Para a reflexão acerca dessas dificuldades talvez seja ainda interessante trazer a idéia
de Degano (1999) que não são apenas os pais que têm que adotar as crianças, mas estas
também têm que adotá-los. Assim, o sucesso de um relacionamento entre pais e filhos, sejam
estes adotivos ou não, depende de ambos.
32
3 METODOLOGIA 3.1 NATUREZA DA PESQUISA
Para a condução desta pesquisa, utilizou-se o método qualitativo, cujo objetivo do
pesquisador que segue essa abordagem é trabalhar com análise de significados que os
indivíduos dão às suas ações, compreensão do sentido dos atos e das decisões dos atores
sociais (Chizzotti, 1991).
Segundo Minayo (2003), a pesquisa qualitativa não se fundamenta no critério
numérico para assegurar sua representatividade.
Com a argumentação de Chizzotti e de Minayo citados anteriormente, percebe-se
que na pesquisa qualitativa há um trabalho realizado com os sentidos e os significados
presentes na práxis do indivíduo.
Escolheu-se o método qualitativo para a condução da pesquisa, porque ele permite
compreender os sujeitos e o foco da pesquisa de uma maneira ampla, possibilitando ir além
das aparências ou além do que é dito. Outrossim, a pesquisa qualitativa possibilita a
criatividade, improvisar quando necessário, como, por exemplo, formular perguntas durante a
própria entrevista, dando assim uma maior flexibilidade para o pesquisador.
3.2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DA COLETA DE DADOS
Para a coleta de dados, utilizou-se como instrumento a entrevista.
De acordo com Minayo (2003), a entrevista pode ser do tipo aberta ou não-
estruturada, estruturada e semi-estruturada. Na primeira, o informante aborda livremente o
tema proposto; na segunda pressupõem-se perguntas previamente formuladas; na terceira
escolhida para o presente projeto há uma articulação entre as duas modalidades anteriores.
A entrevista é o processo mais comum no trabalho de campo. O pesquisador, por
meio dela, procura obter informes presentes na fala dos atores sociais. Ela não denota uma
conversa despretensiosa e neutra, pois se insere como forma de coleta de dados relatados
pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que experimentam um certo fato que está
sendo enfocado. Os meios de sua realização podem ser de natureza individual e/ou coletiva.
33
Segundo Bleger (1995), o técnico não só usa na entrevista seus conhecimentos
psicológicos com o objetivo de aplicá-los ao entrevistado, mas esta aplicação será gerada por
seu próprio comportamento ao longo da entrevista.
Outra definição de entrevista pode ser entendida por Haguette (2000) como sendo
um processo de interação social entre dois indivíduos, onde um deles, o entrevistador, tem por
fim a aquisição de informações por meio do outro, o entrevistado. As informações são
adquiridas por um roteiro de entrevista, tendo este uma lista de pontos ou tópicos previamente
formulados conforme o problema central.
Nesse processo de interação, devem-se abordar quatro componentes: o entrevistador,
o entrevistado, a situação da entrevista e o instrumento de captação de dados, ou roteiro de
entrevista, salientando-se suas vantagens, desvantagens e limitações.
Num primeiro nível, esse instrumento, a entrevista, caracteriza-se por uma
comunicação verbal que salienta a relevância da linguagem e do significado da fala. Num
outro nível, serve como uma maneira de coleta de informações acerca de um certo tema
científico (Minayo, 2003).
Pela entrevista, podem-se obter dados objetivos e subjetivos. Os objetivos podem ser
obtidos por meio de fontes secundárias, como através de censos, estatísticas e outros meios de
registros. Os subjetivos vinculam-se aos valores, às atitudes e às opiniões dos sujeitos
entrevistados.
Escolheu-se como tipo de entrevista a semi-estruturada, pois este tipo de entrevista
possibilita formular algumas perguntas, ter um foco a se direcionar e, ao mesmo tempo, abre
espaço para o surgimento de questões pelo próprio pesquisando, porque o pesquisador ao
estabelecer um foco, não se restringindo apenas a consecução de respostas de um
questionário, pode estimular o pesquisando a formar questões relacionadas ao objetivo da
pesquisa. Então, escolheu-se esse tipo de entrevista, pois particularmente se pensa ser mais
interessante e adequado à pesquisa em questão e, porque permite uma atitude mais ativa e
uma maior flexibilidade para o pesquisador, como também para o pesquisando.
3.3 SUJEITOS DA PESQUISA
A amostra para a realização da presente pesquisa foi de quatro pais com filhos
adotivos. Não houve critérios de inclusão ou exclusão alguma e a seleção dos sujeitos foi
eqüitativa em virtude de que foram indicados aleatoriamente, sem nenhum critério de seleção
34
pelo GEAAF (Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de Florianópolis). Este grupo é uma
sociedade civil sem fins lucrativos, formado por pais e filhos, adotivos ou não, profissionais,
técnicos, que voluntariamente se colocam à disposição da comunidade interessada em adoção.
Junto à comunidade disponibiliza serviços, como o atendimento aos pretendentes à adoção, a
realização de reuniões temáticas, com a presença de convidados e profissionais com
conhecimento reconhecido relacionado à adoção e à convivência familiar e comunitária, entre
outros. Prestam-se serviços junto às escolas e universidades, oferecendo estágios por meio de
parcerias com universidades (UFSC, UNISUL, UNIVALI), entre outros. Realizam-se ainda
parcerias institucionais, como com o Tribunal de Justiça, Juizados da Infância e Juventude,
etc. Por fim, realizam-se atividades junto à mídia, divulgando a prática de adoção na forma da
Lei, por matérias em jornais, revistas, TVs e rádios locais.
Pensou-se numa amostra reduzida em função de ser uma pesquisa qualitativa na qual
serão analisados os significados surgidos das entrevistas com esses pais, para tanto, uma
amostra menor possibilita aprofundar com maior grau de intensidade nas falas dos sujeitos,
por outra parte, também foi considerado o tempo para realizar o presente estudo.
Quanto ao espaço físico para a realização das entrevistas, a princípio, estabeleceu-se
que seria no GEAAF. Porém, devido à dificuldade de conciliação do tempo livre desses
sujeitos para comparecerem às entrevistas com seus compromissos, a maioria foi feita em
suas próprias residências. Apenas uma aconteceu nesse grupo (Entrevista 1).
A pesquisadora já conhecia o GEAAF, em vista de ter participado de algumas
reuniões temáticas que acontecem toda quarta-feira de cada mês. Também conhecia a
presidente do grupo, a qual forneceu alguns contatos de pais que participaram ou participam
do grupo e que haviam adotado. Deste modo, conseguiu-se obter a amostra para a pesquisa.
3.4 ANÁLISE DOS DADOS
Os dados da pesquisa foram estudados segundo a técnica da análise de conteúdo,
cujas informações foram obtidas por meio de relatos dialogados transcritos. Utilizou-se
gravador de áudio para gravar os relatos durante as entrevistas.
A técnica da análise de conteúdos é atualmente entendida muito mais como um
conjunto de técnicas. Podem-se destacar duas funções na aplicação dessa técnica: verificação
de hipóteses e/ou questões e a descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos,
transcendendo as aparências do que está sendo comunicado (Minayo, 2003).
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Há várias unidades de registros que se pode escolher para analisar um conteúdo de
uma mensagem. Pode-se utilizar a palavra como uma unidade, trabalhando-se com todas as
palavras de um texto ou com apenas algumas que são enfatizadas segundo o objetivo do
estudo; frase ou oração; tema que diz respeito a uma unidade maior em torno da qual se tira
uma conclusão; personagem de uma narrativa; o acontecimento relatado e o documento (livro,
artigo, filme, etc.). Podem-se relacionar essas unidades dependendo da natureza do estudo.
As unidades de registro empregadas na presente pesquisa foram os relatos dos pais
adotivos, que foram analisados juntamente com a bibliografia.
Além dessas unidades, devem-se definir as unidades de contexto, precisando o
contexto do qual faz parte a mensagem.
3.5 DIVULGAÇÃO DOS DADOS
Pretende-se fazer a divulgação dos resultados aos sujeitos participantes do estudo,
visando-se, assim, fornecer subsídios que auxiliem a compreensão dos aspectos psicológicos e
das necessidades afetivas presentes em crianças adotadas.
36
4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS
Nesta seção, apresentam-se os principais relatos das entrevistas realizadas com os
pais adotivos. Utilizar-se-ão categorias, surgidas a partir das entrevistas, que contribuem para
responder a pergunta de pesquisa o que possibilitaria o atendimento das necessidades afetivas
da criança adotada. Para a visualização destes dados, utilizam-se quadros que contém a
descrição dos sujeitos entrevistados e que constam as categorias montadas a partir das
entrevistas com seus respectivos recortes das falas dos sujeitos que foram entrevistados.
Outrossim, expõem-se também a análises dos relatos.
Uma observação que cabe ressaltar, antes da apresentação do quadro com a
descrição dos sujeitos entrevistados, é que todos adotaram bebês. Seus filhos adotivos não
passaram pela a infância em instituição.
Abaixo, segue-se o quadro com a descrição dos pais entrevistados.
Quadro1. Descrição dos sujeitos entrevistados, idade e filhos. Entrevista 1: mãe solteira: Suj.1 (sujeito 1)
Idade: 54 anos
Escolaridade: curso superior
completo
Filho(s): 1 filho adotivo de 10
anos
Entrevista 2: casal
Mãe: Suj.2.1 (sujeito 2.1), idade: 49 anos
Escolaridade: curso superior completo
Pai: Suj.2.2 (sujeito 2.2), idade: 59 anos
Escolaridade: curso superior completo
Filho(s): 1 filha adotiva de 18 anos.
Entrevista 3: casal
Mãe: Suj.3.1 (sujeito 3.1), idade: 55 anos
Escolaridade: curso superior completo
Pai: Suj.3.2 (sujeito 3.2), idade: 67anos
Escolaridade: curso superior completo
Filhos: 2 filhos biológicos (dois meninos,V
e W) e 1 filha adotiva de 11 anos.
Entrevista 4: casal
Mãe: Suj.4.1 ( sujeito 4.1), idade: 53 anos
Escolaridade: curso superior completo
Pai: Suj.4.2 (sujeito 4.2), idade: 58 anos
Escolaridade: curso superior completo
Filhos: 3 filhos biológicos e 2 adotivos. Um
menino e uma menina que têm hoje 14
anos.
37
Em seguida, inicia-se a apresentação das categorias estabelecidas através dos relatos
dos sujeitos entrevistados. A primeira categoria abordada é a motivação, referente aos
motivos que favoreceram para os pais a adoção de seu(s) filho(s).
Quadro 2. Categorias Categoria:
1)Motivação para a adoção
Falas:
1) Suj.1 �... eu poderia ter solteira, sozinha.
Mas, eu não achava que seria bom nem para
ele nem para mim... queria ser mãe
independentemente da forma que fosse...�.
Suj. 2.1 �Conhecer a mãe, saber que não era
uma pessoa drogada, basicamente foi
isso...�. �... a gente tinha um sonho antigo de
ter uma menina, nós tínhamos até uma filha
imaginária, brincávamos...�.
Suj.2.2 �Nós não tivemos nenhum, como é
que se diz, reforço externo para fazer esse
processo de adoção, foi um sopro, foi um
acontecimento�.
Suj. 3.1 �... se for uma menina eu fico, se
for homem eu não fico, porque eu já tenho
dois...�.
Suj.3.2 �... sempre queria uma menina, não
tínhamos, ela não poderia mais ter filhos...
gravidez tem 90% de probabilidade de
morte para os dois...�.
Suj.4.2 �... achava que não tinha feito coisas
pelos meus próximos de uma maneira assim
muito autêntica e de coração, eu acho que
um filho adotivo seria a prova maior que eu
podia dar...�. �... é que a gente estava numa
condição financeira bem, a gente achava que
38
estava resolvido... então, a gente se sentiu
em condições pela situação que a gente vivia
de que a gente poderia trazer essas crianças
como filhos e dar uma oportunidade
diferente para elas...�.
Investigar a questão da motivação dos pais para a adoção é importante, pois traz à
tona os seus desejos com relação a esse tema. O conhecimento disso propicia dar início ao que
se busca com esta pesquisa.
Com relação à motivação para a adoção, percebe-se que para o sujeito 1, a
motivação para realizar a adoção é o desejo de ser mãe. O sujeito 3.1 expõe como motivação,
o desejo de ter uma menina. O sujeito 2.1 expressa o fato de conhecer a mãe biológica, porém
aparece ao decorrer da entrevista uma motivação implícita de ter uma menina. Para o sujeito
2.2 não houve algo que o tivesse motivado, apenas aconteceu. De acordo com o segundo casal
entrevistado, o sujeito 3.2 argumenta como motivação o fato de seu parceiro, o sujeito 3.1 ter
o desejo de ter uma menina. Por fim, para o terceiro casal entrevistado, a motivação, segundo
o sujeito 4.2 foi para realizar uma atitude verdadeira em benefício do próximo.
Após a discussão sobre a categoria motivação para a adoção, continua-se a discussão
dos dados acerca dos planos de adoção, se os pais adotivos entrevistados tinham ou não
planos de adotar e quais eram esses planos.
Categoria:
2) Planos de adoção
Falas:
Suj. 1 �Olha, adoção sempre foi um assunto
muito bem resolvido na minha cabeça desde
garota�. �... sempre pensei em adotar...�.
Suj. 2.1 �Não... nunca tivemos planos de
adoção�.
Suj. 2.2 �... um ato involuntário. Aconteceu,
é um estado de espírito...�.
Suj. 3.1 �Nós não tínhamos planos
nenhum...�.
Suj. 4.1 �... nunca pensamos em adotar uma
39
criança, foi por acaso�. �... a mãe da
menina... ela procurava, queria dar a
criança... eu quero dar e eu só vou dar essa
criança para a senhora...�.
Suj. 4.2 �... sempre sonhei em ter uma
família numerosa... só tenho três filhos e
acho que tenho condições de ter mais
filhos... aí eu falei com ela, conversamos,
ela disse, vamos falar com nossos filhos...
então, houve um plano, não foi por acaso...�.
A questão sobre os planos de adoção é significativa, porquanto através dela é
possível verificar se existiam previamente estes planos, contribuindo, deste modo, para a
compreensão do que poderia contribuir para o atendimento das necessidades afetivas da
criança adotada. Pois, a relação com a criança vai se basear nos planos, desejos prévios que
esses pais tinham.
Observa-se que os três casais entrevistados não tinham planos, foi por acaso que
chegaram a adotar. Apenas o sujeito 1 que sempre quis adotar e planejou a adoção.
Logo abaixo, mostrar-se-á a categoria histórico de adoção na família, demonstrando-
se se os sujeitos entrevistados tem ou não algum membro na família que já adotou ou foi
adotado.
Categoria:
3) Histórico de adoção na família
Falas:
Suj. 1 �... e não tenho na família casos de
adoção, não lembro que amigos que tivesse
adoção �.
Suj. 2.1 �Só o meu sogro, que já estava em
fase terminal, que ele era contra, porque os
casos que ele conhecia...�.
Suj. 2.2 �Não, não, vamos arrumar isso aí,
ele não era contrário, ele era precavido, já
que a experiência para ele foi péssima com o
40
problema de adoção, adoção mal feita...�.
Suj. 3.1 �... você é louca de pegar uma
criança, porque já tenho três sobrinhos
adotivos�.
Suj. 4.1 �... na minha família... houve uma
adoção errada...�.
Averiguar se há ou não histórico de adoção na família dos sujeitos entrevistados tem
relevância, uma vez que há a possibilidade de relacioná-lo com o fato de eles terem realizado
a adoção. Pois, supõe-se que, tido já familiaridade com a adoção, há menos preconceitos e
temores, já que eles têm conhecimento do assunto e vivenciaram na família essa prática. Isso
se torna importante, porque os preconceitos e temores dos pais vão influenciar diretamente na
relação com a criança adotada.
Sobre o histórico de adoção na família, observou-se que todos casais entrevistados
têm algum parente que já adotou, menos o sujeito 1.
Discorre-se a seguir sobre a decisão de adotar, demonstrando-se nas respostas dos
sujeitos como chegaram à decisão de adotar.
Categoria:
4) Decisão de adotar
Falas:
Suj. 1 �É um desejo bem antigo... tinha esse
desejo com 20 anos...�.
Suj. 2.2 �... adotar para mim é um estado de
espírito, eu não era uma pessoa preparada
para esse fato...�. �... foi uma tomada de
decisão meio, meia, como se diz, corajosa�.
Suj. 2.1 �E nem eu, quando ele falou, eu me
assustei, achando que ele ia desistir�.
Suj. 3.2 �Bom, nós conversamos�. �...
assumimos a idéia de ficar com a criança,
uma que ela queria uma menina e para mim
não tinha nada de contra, porque também
seria interessante ter uma filhinha em
41
casa...�.
Suj. 4.1 �... a gente conversou com os filhos
e as nossas crianças... também queriam mais
irmãos...�.
Pesquisar como foi a decisão de adotar para os sujeitos, permite saber se foi algo
feito em consenso, aceito entre os dois, no que diz respeito aos casais entrevistados. O que é
muito importante, porque vai refletir diretamente na relação com a criança adotada. Se a
adoção foi algo previamente desejado por apenas um dos membros do casal, haverá
possivelmente uma maior disponibilidade deste para atender as necessidades afetivas da
criança adotada. No caso da mãe solteira também é uma questão importante, pois permite
saber como foi tomada a decisão, se foi influenciada por opiniões alheias, ou se foi algo
decido por ela mesma, que estava certo, se foi uma decisão tomada há muito tempo na vida
dela, ou se foi de momento.
Nota-se que para o sujeito 1 não se explicita como ele chegou a decisão de adotar,
mas somente é relatado que é um desejo muito antigo. Pelas falas dos sujeitos 2.2 e 2.1, a
decisão ocorreu sem uma certeza definitiva de que eles adotariam realmente, apenas
aconteceu como eles já colocaram. Já para os sujeitos 3.1, 3.2, 4.1 e 4.2, mesmo eles relatando
antes que não faziam planos de adoção, eles conversaram e decidiram, ficando claro que
adotariam, de acordo com as falas do segundo e terceiro sujeitos citados anteriormente.
A próxima tabela evidencia a vivência dos sujeitos sobre o processo de adoção pelo
qual passaram.
Categoria:
5) Vivência do processo de adoção
Falas:
Suj. 1 �Ah, tranqüilo e rápido. Foi muito
bom�.
Suj. 2.1 e Suj.2.2 �Tranqüilo...�.
Suj. 3.1 �Acho que foi normal... levou um
ano e meio...�. �A única coisa que eu sentia
era que era lento...�.
Suj. 4.1 �Tranqüilo...�
42
A vivência do processo de adoção é essencial, pois mostra os sentimentos dos pais, o
quanto gerou de ansiedade, angustia pela espera da legalização do filho adotado. A demora
desse processo de legalização influi na convivência com o mesmo em função de ter
sentimentos de assunção que não foi legitimada no plano legal.
Observou-se que para os sujeitos 1, 2.1 e 2.2 e 4.1 o processo de adoção foi
vivenciado de forma tranqüila. Somente o sujeito 3 vivenciou o processo como �normal�,
sentindo que foi lento. Contudo, é importante esclarecer alguns dados que se relacionam ao
fato de, em três casos, os sujeitos terem achado tranqüila a vivência do processo de adoção.
Para o sujeito 1, o intervalo do cadastro realizado como pretendente à adoção e a entrega do
filho foi de apenas 4 meses. E todos os três casais não tiveram que passar pelo cadastro e a,
conseqüente, espera na lista de pretendentes à adoção, porquanto eles já conheciam as mães
biológicas de seus filhos, passando somente pelo processo de legitimação, da decisão judicial
de guarda definitiva deles. Todavia, mesmo o sujeito 3.1 não tendo passado pelo cadastro e
lista de espera, ela vivenciou o processo como lento, devido ao fato da burocracia para esperar
a decisão judicial.
Abaixo, apresentam-se os relatos dos sujeitos referentes à reação da família quanto à
decisão que tomaram de adotar.
Categoria:
6) Reação da família
Falas:
Suj. 1 �... quando era mais jovem minha
mãe não apoiava muito... não estava contra,
mas também não estava a favor...�.
Suj. 2.1 �Todos vibraram�.
Suj. 2.2 �Perfeitamente bem�.
Suj. 3.1 �... minhas irmãs disseram, você é
louca, porque você tem os filhos todos
criados e você é louca de pegar uma criança,
porque já tenho três sobrinhos adotivos�.
Suj. 3.2 �E a minha mãe fez uns
comentários, escuta, vocês estão pensando
bem, estamos. Meus colegas disseram que
eu era louco...�.
Suj. 4.1 �... o pessoal chamou de corajosa,
43
há assim um espanto quando a gente diz, eu
sou mãe adotiva... há assim uma admiração
muito grande por parte das pessoas que
sabem que a gente tem filho adotivo... �.
Suj. 4.2 �... na minha família... irmãos eles
disseram assim, mas tu és maluco, ter filhos
dos outros�.
Saber da reação da família possibilita averiguar se as famílias dos sujeitos
entrevistados foram a favor ou contra a adoção. Isso pode interferir na relação com a criança
adotada, pois ela pode se sentir aceita ou não pelos familiares, influenciando na sua vivência
com os pais no dia a dia.
No que se refere à reação da família quanto à adoção, nota-se que os familiares dos
sujeitos 3.1 e 3.2 os chamaram de loucos, assim como também, os familiares do sujeito 4.2,
mas não foram contra a decisão dele de adotar. A família do sujeito 4.1 reagiu com espanto,
demonstrando uma admiração por esse ato. A mãe do sujeito 1 não foi contra, mas não apoiou
totalmente essa decisão. E para os sujeitos 2 e 2.1 a reação de ambas famílias foi positiva, não
havendo, de acordo com o relato deles, alguém que fosse contra essa decisão.
Adiante, verificam-se a(s) dificuldade(s) mais comuns que os pais entrevistados
encontram no cotidiano com os seus filhos adotivos.
Categoria:
7) Dificuldade (s)
Falas:
Suj. 1 �Esse adoecimento de criança, de
criança pequena, que toda hora tem uma
coisa, que você não dorme, que tem febre...
cuidados�.
�... e agora estamos entrando na fase... ele
está pré-adolescente... 11 anos, que é um
inferno aquilo, porque agora tem essa
classificação, então, eles se acham, tem que
ver filme até mais tarde, ver filmes que não
são para a idade dele, que são para 14 anos,
44
então, esse limite na fase de transição está
bem complicado�.
Suj. 2.2 �Dificuldades nós não tivemos nem
com cuidado nem com relação, as
dificuldades vão aparecendo no momento em
que ela vem crescendo, essas fases agora de
adolescência...�. �Olha, a dificuldade era
levar ao El divino e não sei o que, e 3h:
30min, 4 horas da manhã pegar... hoje ela
está com o namorado, ele não é muito
chegado a sair muito, aí eles ficam mais
conosco�. �... as dificuldades parecem
exatamente com a dos filhos legítimos...
fazendo uma comparação com os colegas a
gente não percebeu nenhuma dificuldade
com relação à adoção... ela é muito contida
no sentido da amizade... eu tenho muitos
colegas e poucos amigos e ela se espelha
muito mais em mim neste tipo de
comportamento... eu prefiro ter colegas para
não sofrer como sofri no passado, ela foi
muito traída... com mulher ela se satisfaz
com a mãe, ela é aberta com ela...�.
Suj. 2.1 �Ela é bem atenciosa com a gente,
obediente�. �Agora adaptar os projetos dela
às nossas condições, conscientizar que tem
hora e tempo para tudo, aí encontra uma
certa rebeldia, porque quer tudo na hora... ela
quer ir para os E.U.A trabalhar, fazer
faculdade... antes na época do Energia
tínhamos que ajudar a lidar com o problema
da matemática, física�.
Suj. 3.1 �... ela é muito geniosa...�. �... ela é
45
muito chorona, qualquer coisinha ela
emburra, ela é muito manhosa�.
Suj. 4.2 �... eles se sentem injustiçados, eles
acham que nós tínhamos que ser,
principalmente a menina, eu queria que o pai
fosse rico e o pai não é rico, é um pobretão�.
�Ai, ai, como ela reclama�.
�... o problema dele é só que ele é vadio, ele
é preguiçoso, ele quer tudo fácil...�.
Através da identificação das dificuldades que os pais encontram com os filhos
adotivos, pode-se entender como está a relação com eles, se há dificuldades quanto ao fato
deles serem adotivos ou se elas decorrem das mesmas dificuldades de quaisquer pais.
Três sujeitos (1, 2.1 e 2.2) relatam dificuldades com os filhos adotivos com relação
às fases de desenvolvimento pelas quais eles passam. O sujeito 3.1 relata dificuldades com
relação à personalidade da filha. E o sujeito 4.2 expõe dificuldades específicas com relação à
filha e ao filho, como o filho seria muito preguiçoso e a filha muito materialista. Portanto, as
dificuldades que aparecem são aquelas relacionadas às fases de desenvolvimento pelas quais
os filhos passam, pré-adolescência e adolescência, e relacionadas às características pessoais
de cada filho, no que se refere a seus temperamentos, seus valores. Dificuldades estas, que
podem ter quaisquer pais sejam eles biológicos ou não.
Vistas as dificuldades que os pais relatam no convívio com seus filhos adotivos,
demonstram-se, a seguir, formas que esses pais encontram de lidar com essas dificuldades.
Categoria:
8) Forma de lidar com a (s) dificuldade (s)
Falas:
Suj. 1 �... se chorava diferente, achava que
era uma dor, que não era choro. Então, eu
corria, sabe aquela coisa de marinheiro de
primeira viagem, que qualquer coisa já liga
para a pediatra...�.
�Sou sozinha para dar limite, tenho que
morder e assoprar, mas todo mundo passa
46
por isso, pré-adolescente e adolescente,
independe�. �Converso e quando não dá, eu
proíbo, às vezes, não negocio, mando... com
relação a filmes... se aquilo é proibido para
menores de 14 anos, então, é porque alguém
estudou e viu que não é bom para aqueles
que têm menos de 14 anos... educar tem que
dar o caminho, cada idade tem suas coisas
permitidas... bom é esperar como era no meu
tempo, bom é chegar na hora e ter aquela
expectativa...�.
Suj. 2.2 � Quanto a levar nos locais, levamos
e buscamos sem problemas, a iniciativa
sempre foi dela, liga e nós íamos buscá-la...
nas amizades para nós, nós tentamos
melhorar, jogar um aberto com ela, de ter
uma ou duas amizades, porque ela tem esse
ponto de conflito, medo da perda... nós
melhoramos... a gente percebe que ela está se
desconstruindo mais, eu falo para ela assim
filha nunca resista ao chato, se entregue a
ele... por exemplo, no futebol, eu torço para
Florianópolis, eu torço pelo Avaí quando ele
está jogando, ou torço para o Figueirense
quando ele está jogando, aí o chato tenta me
convencer que o Figueirense é o melhor, aí
eu falo tu tem razão para não ir para o
confronto. Porque, não vejo resultado desse
conflito, tento gerar o ponto bom do
cidadão... e minha filha se espelha muito em
mim nesse tipo de comportamento... ela
copia exatamente esse comportamento
hoje...�.
47
Suj. 2.1 �... ela queria ir para os E.U.A
trabalhar, fazer faculdade... conversei, falei
que é não era a hora, tinha que juntar
dinheiro...�. �... ajudar a lidar com o
problema no colégio, com a matemática,
física... estudávamos juntos com ela,
colocamos em aula particular, tivemos que
administrar... não chegava a ser uma
dificuldade, fazia parte do nosso papel como
mãe e pai...�.
Suj. 3.1 �... quando eu brigo com ela e que
ela vai para o quarto, a gente deixa, aí a gente
sabe que a hora que ela se acalma ela
volta...�.
Suj. 3.2 �... quando ela começa a responder e
dizer não, é melhor não continuar... deixa
passar...�.
Suj. 4.2 �... eu levo na gozação, por
exemplo, esse mês eu disse assim oh, está
aqui a mesada de vocês, dia primeiro dei a
mesada para cada um, e disse assim oh, o
mês que vem não tem mais mesada, porque
vocês não estão fazendo por merecer...
depende do comportamento esse mês e eles
estão assim, eles querem me agradar, porque
eles querem essa mesada...�.
�... tudo fácil, você não vai conseguir,
alguma coisa tu vai ter que sofrer para
conseguir. Estudar, então é uma...�. �... eu
preparo os exercícios, testes para esse
motivo... o menino, então, estuda comigo...�.
Suj. 4.1 �... a gente tenta administrar isso da
melhor maneira, eu tento passar para eles,
48
que estudar é importante, de que têm uma
família...�.
O modo como os pais lidam com as dificuldades que surgem com os filhos, permite
saber como esses pais estão atendendo às necessidades afetivas de seus filhos.
Com relação ao modo de lidar com as dificuldades mais freqüentes no convívio com
seus filhos adotivos, verificou-se antes que os sujeitos relataram não terem dificuldades na
relação nem com o convívio com os filhos adotados, apenas dificuldades a respeito das
mudanças decorrentes das fases de desenvolvimento que seus filhos passam, pré-adolescência
e adolescência, respectivamente, ou, ainda, às personalidades e temperamento deles. Assim,
as formas de lidar dos pais com as dificuldades são referentes aos valores pessoais de cada
pai, agindo de forma mais rígida, proibindo certas coisas, ou quando há brigas, deixando
passar e esperar as coisas se acalmarem, sem discutir sobre o ocorrido e, ainda, esclarecendo
através de conversa a importância de certas coisas para os filhos.
Apresenta-se em seguida a categoria conhecimento da verdade, referente ao
conhecimento das crianças de que foram adotadas pelos sujeitos entrevistados.
Categoria:
9) Conhecimento da verdade
Falas:
Suj. 1 �Sabe desde sempre, com dois e três
aninhos eu contava historinha para dormir e
já ia contando. Nunca escondi. Ele freqüenta
o GEAAF...�.
Suj. 2.1 �Que ela veio de outra barriga�. �...
criança esquece, a gente tem sempre que
repetir. Contava historinha que as crianças
ficavam todas no céu esperando os pais aqui
na terra, que ela tinha escolhido a gente e eu
tinha um problema de saúde... dava certo, ela
sabia, a gente contava quem era a mãe
biológica...�.
Suj. 2.2 �... ela foi crescendo com aquelas
informações gostosas... quando ela dormia...
49
contava coisas boas no ouvidinho dela... �.
Suj. 3.1 �... ela já tinha uns 4 anos... ela vivia
me questionando se ela tinha nascido da
minha barriga daí eu dizia não quem nasceu
da minha barriga foi V e W e você é do meu
coração... �... a mãe dela tinha se juntado
com um rapaz ali e toda segunda-feira eles
vinham aqui e eu disse para ela, olha filha
essa daqui é sua mãe...�.
Suj. 4.1 �... a gente foi comentando aos
poucos�.
Suj. 4.2 �Eles foram tomando conhecimento
assim sem que houvesse uma conversa,
sentar para ver...�. �... a gente sempre teve o
cuidado de dizer desde novinho para eles não
ficarem sabendo na escolinha ou na creche�.
A razão de se pesquisar sobre categoria conhecimento da verdade, é que através dela
se traz à tona a dificuldade de contar e as ansiedades desse ato.
Conforme o relato dos sujeitos entrevistados, nota-se que eles desde cedo iam
contanto sobre a adoção, através de historinhas, não tendo um momento e modo formal de
revelar a verdade. Então, desde o início as crianças sabiam da verdade que não eram �filhos
da barriga�, mas �filhos do coração�.
A tabela adiante demonstrará a disponibilidade que alguns sujeitos apresentaram
para adotar.
Categoria:
10) Disponibilidade para adotar
Falas:
Suj. 1 �... adotei... achei que era hora, que eu
ia ter tempo para cuidar... já estava com a
vida estabilizada... ai a decisão já foi pensada,
pensada nas condições que eu teria para a
chegada dele... condições de dar um estudo
50
particular... condições de ter uma babá... a
adoção foi uma coisa bem pensada e bem
planejada...�.
Suj. 2.2 �... adoção para mim é um estado de
espírito. Um casal, ele tem que estar bem,
tem que estar disponível... tem que ter
disponibilidade, tem que deitar no chão com a
criança para brincar, tem que levar ela para
escola, buscá-la...�.
Suj. 4.2 �... ah, só tenho três filhos e acho que
tenho condições de ter mais filhos... a gente
estava numa condição financeira bem...
então, a gente se sentiu em condições pela
situação que a gente vivia de que a gente
poderia trazer essas crianças como filhos e
dar uma oportunidade diferente para elas...�.
A disponibilidade é um dado que surgiu no relato de alguns sujeitos e é importante
para a compreensão dos aspectos psicológicos que contribuiriam para o atendimento das
necessidades afetivas da criança adotada, pois revela o quanto o pai e/ou a mãe estão
comprometidos, disponíveis para dar atenção à criança, atender às suas necessidades afetivas.
Essa disponibilidade apareceu na fala de três sujeitos entrevistados. Não que os
outros sujeitos não tiveram disponibilidade para seus filhos, mas esse dado surgiu e foi
percebido pela pesquisadora na fala de três pais entrevistados. Dois sujeitos expuseram como
disponibilidade o fato deles terem condições financeiras para o cuidado de seus filhos
adotados e um sujeito associou disponibilidade com o tempo que se abstém de fazer outras
atividades para cuidar, dar atenção à criança.
Abaixo se abordará a questão da preparação psicológica para a adoção. Essa
expressão foi estabelecida, pelo fato de algumas mães entrevistadas estabelecerem todo um
ritual para a chegada do filho adotivo, comprando acessórios e materiais que comumente as
mães adquirem para a chegada do filho que nasceu. E também por causa delas mencionarem
expressões referentes a seus filhos adotivos como se eles tivessem saído de seus próprios
ventres.
51
Categoria:
11) Preparação psicológica
Falas:
Suj. 1 �Assim, que eu me habilitei, eu
comecei a me preparar, assim fisicamente, só
não sabia o tamanho da roupinha, mas de
quarto, banheira, trocador, aquelas coisas de
neném grande eu comecei a ganhar... aí teve
uma romaria de visitas, todo mundo levou
lembranças... como se tivesse nascido
realmente...�. �... na hora que peguei, que me
deram no braço, eu já achava que era meu e
tinha sido sempre. Não tive aquela coisa, ah
depois vou me acostumar com ele... esse
vínculo no meu caso foi bem imediato�.
Suj. 2.1 �... foi comprar alguma coisa,
começar por um berço, e tal, e tudo tomou
forma... e o enxoval, a malinha, o ultra-som,
tudo que a minha cunhada levava e como nos
comunicava, a malinha para a maternidade a
gente que fez... eu tenho o primeiro ultra-
som, eu tenho o umbiguinho dela guardado,
então, é como se fosse filha mesmo. �... E a
partir do dia primeiro, a gente começou a
minha gestação...�.
Suj. 4.1 �... ser mãe também adotiva é um
sentimento... muito especial... tinha hora que
eu até pensava que eles tinham saído da
minha barriga...�.
Por fim, a preparação psicológica, assim como a disponibilidade e o histórico de
adoção, surgiu através de relatos de alguns sujeitos. É um aspecto importante que contribuiria
para o vínculo com a criança adotada, porque demonstra a assunção prévia da mãe e/ou pai
pela criança adotada.
52
Percebeu-se que para dois sujeitos há a impressão de que seus filhos adotivos saíram
de suas próprias barrigas e para um sujeito como se tivesse passado pelo processo de
gestação.
53
5 DISCUSSÃO DOS DADOS
A sessão que segue trata da discussão dos dados coletados no presente estudo com
os diferentes autores sobre o tema.
Notou-se nos relatos de três casais dos entrevistados, referentes à motivação e aos
planos de adoção, que seriam um ato de momento, acontecido por acaso. Isto faria pensar
num distanciamento do que os autores descrevem como sendo algumas das razões que levam
as pessoas a adotar, que seriam: uma solução para a crise da criança abandonada, segundo
Vargas (apud Siega e Maciel, 2005). E, também, do que Berthoud (apud Siega e Maciel,
2005) expressa como sendo uma das principais razões para a realização dessa prática, que
seria o significado de paternidade e maternidade. Este significado representado como um dos
aspectos psicológicos presentes na adoção. A continuidade seria a principal motivação
implícita no desejo de paternidade e na maternidade biológica haveria um significado
especial, atribuindo-lhe um valor de superioridade em relação ao homem pela capacidade de
gestar e parir.
Ainda, percebe-se tal distanciamento no que outros autores expõem acerca do
discutido anteriormente. Conforme Paiva (2005), a adoção é encarada, muitas vezes, como
uma solução para aliviar a angústia das perdas e do abandono das crianças. Porém, somente
políticas públicas mais eficazes e a intervenção direta do Estado poderiam gerar soluções
efetivas. Fonseca (2002), acredita que as crianças são acolhidas por dois motivos: o prestígio
que os pais adotivos passam a ter nas redes sociais e pelo prazer oriundo do convívio com
uma criança.
E Weber (2002), na defesa de sua Tese de Doutorado no Brasil, observou alguns
motivos que levam as pessoas a adotar. Primeiro, a maioria dos adotantes adota para
solucionar o problema de infertilidade. Segundo, também se adota para exercer a
parentalidade, havendo relatos de sujeitos, por exemplo, os de uma mãe que manifesta ter
realizado seu desejo de ser mãe pela efetivação da adoção. Terceiro, verificou adoções
altruístas, típicas de países desenvolvidos, que está em ascendência no Brasil.
Observaram-se também algumas aproximações no que alguns autores apresentam
como motivações para adotar com relação ao que alguns dos sujeitos desta pesquisa
expuseram sobre esse aspecto. Uma aproximação foi notada no que a autora anteriormente
expressa como segunda motivação com referência ao relato da mãe solteira da presente
pesquisa que alegou ter realizado seu desejo de ser mãe ao adotar. Identificou-se outra
54
também com relação a Berthoud (apud Siega e Maciel, 2005) expor como motivação o
processo de troca abrangendo vários aspectos psicológicos, havendo forte carga afetiva, onde
pais e crianças se completariam, ao que duas mães da presente pesquisa expressam como
motivação o desejo de ter uma menina. Assim, o fato dessas mães quererem uma menina
mostra seus desejos por uma troca afetiva e por uma completude que aconteceria se
adotassem uma criança do sexo feminino. Verificou-se ainda uma aproximação no que Weber
(2002) expõe como terceira motivação com relação à resposta de um sujeito acerca do aspecto
em questão, que seria realizar algo em prol do próximo.
Assim, observaram-se as seguintes motivações: o desejo de ser mãe, de ter uma
criança do sexo feminino e de ajudar o próximo de forma autêntica. Consideraram-se essas
motivações como um aspecto importante para o vínculo com a criança adotada, pois elas
possibilitaram o surgimento desses desejos por parte dos adotantes. O que influi na relação
com a criança, pois esta relação estará apoiada nesses desejos.
Percebeu-se também no presente estudo que os três casais entrevistados têm
histórico de adoção nas suas famílias. De tal modo, talvez esse histórico de adoção possa ter
tido algum tipo de influência no fato dos casais terem realizado a adoção, tendo em vista que,
conforme seus relatos, eles não tinham problemas orgânicos que os impossibilitariam de ter
filhos e realizaram a adoção por acaso. Essa observação pode ser apoiada por Weber (2002),
que verificou que tendo a história de adoção se afeta a probabilidade de adotar uma criança.
Os filhos adotivos e os filhos biológicos de famílias mistas falam mais comumente de adotar
um filho do que procriar, segundo os sujeitos de sua pesquisa.
Como foi visto anteriormente, pelo fato de a maioria dos sujeitos entrevistados ter
histórico de adoção na família, institui-se que este fator, além de favorecer a prática da
adoção, pode diminuir a possibilidade de preconceitos e temores por parte dos sujeitos. Isso
contribuiria, desta forma, no estabelecimento do vínculo com seus filhos adotivos, pois se
possibilitaria um encontro mais próximo e autêntico com eles, já que, esses sujeitos
estabeleceriam uma relação com essa criança com menos preconceito e menos temor.
Estabelece-se essa possibilidade, baseado no que Berthoud (apud Siega e Maciel, 2005)
aponta como um dos motivos, em nossa cultura atual, para a ocorrência dos preconceitos e
estereótipos sociais que existem acerca do tema adoção, a falta de conhecimento da população
em geral sobre esse tema de um modo global.
O histórico de adoção na família seria o primeiro aspecto psicológico encontrado
que auxiliaria no atendimento das necessidades afetivas da criança adotada, visto que surgiu a
55
partir dos relatos dos sujeitos das entrevistas realizadas, e não através das perguntas
formuladas.
Com relação à decisão de adotar não se encontrou na literatura nada a seu respeito.
Contudo, mereceria consideração, já que uma vez que se decide adotar, tal decisão está
respaldada pela vontade do casal, dessa forma, assumir a maternidade e/ou paternidade,
resulta a conseqüência natural do ato em si, a adoção. Portanto, a relação com a criança estará
sustentada pelo desejo, pela vontade de se relacionar, o que reflete diretamente no vínculo
com a criança.
Assim, a assunção da paternidade e/ou maternidade seria outro aspecto psicológico
encontrado, surgido a partir da observação da pesquisadora. Esse aspecto ao propiciar o
aparecimento dos desejos e a vontade de se relacionar, colabora para a relação com a criança
adotada, pois essa relação se baseará neles.
Houve para o primeiro sujeito deste estudo uma disponibilidade prévia, em vista de
ter um desejo antigo de adotar, e para os outros não houve, pois foi para estes por acaso que
aconteceu. No entanto, decidiram adotar, logo, todos assumiram o ato, a paternidade e/ou a
maternidade. Com isso, não houve rejeição primária manifesta, ou seja, não houve rejeição da
maternidade, assim como também não teve oscilação entre o mimo e a hostilidade, ou seja,
entre explosões de carinho na mesma intensidade que as explosões de hostilidade. Não se
notou hostilidade por parte das mães entrevistas a seus filhos adotivos. Para Spitz (1998)
seriam alguns dos padrões prejudiciais de comportamento materno que caracterizariam
relações inadequadas entre mãe e filho.
Como esse autor aborda sobre relações inadequadas entre mãe e filho, e neste
estudo, elas não aconteceram, torna-se possível expor que houve relações adequadas entre as
mães desta pesquisa e seus filhos adotados, já que não ocorreu a rejeição primária manifesta
nem oscilações entre o mimo e hostilidade.
Outro dado analisado no relato dos sujeitos desta pesquisa foi a vivência do processo
de adoção. Segundo Weber (2003), depois de muitos anos fazendo trabalhos de pesquisa com
crianças institucionalizadas, crianças abandonadas e famílias adotivas, é possível visualizar
nitidamente o perfil geral do que acontece nessas situações. Dentre uma dessas visualizações,
fala-se da burocracia do sistema legal da adoção por parte dos adotantes. Contudo, na maioria
dos relatos dos sujeitos entrevistados nesta pesquisa, verificou-se que eles vivenciaram o
processo de adoção como tranqüilo. Somente um sujeito falou da lentidão desse processo.
Com isso, observou-se algo um tanto atípico no que diz respeito ao modo como
esses sujeitos vivenciaram o processo de adoção com relação ao que se expressa acerca de
56
como as pessoas comumente reagem diante desse processo. Angústias nem ansiedades foram
relatadas pela espera da legalização de seus filhos adotivos. O que contribui para a relação
estabelecida com esses filhos, pois ela não será sustentada nesses sentimentos, mas sim em
sentimentos de tranqüilidade.
A reação da família foi outro elemento estudado quanto à adoção. Notou-se que
alguns familiares dos sujeitos entrevistados os chamaram de loucos por tomarem tal decisão,
outros reagiram com espanto e admiração ou não apoiaram totalmente. Essa reação é comum,
uma vez que a literatura apresenta a existência de muito preconceito relacionado à prática da
adoção. Weber (2003) expressa que há uma representação errônea desse tema e as crianças
adotivas são vistas com preconceito, porque a carga genética e os traços são diferentes. Elas
estão, assim, fadadas a repetir comportamentos supostamente inadequados de seus pais
biológicos.
As dificuldades com relação aos filhos adotivos foi outro dado analisado nesta
pesquisa. Percebeu-se que essas dificuldades, expostas pelos sujeitos entrevistados, são
dificuldades que quaisquer pais, biológicos ou não, podem encontrar no cuidado com seus
filhos. Dificuldades relacionadas à fase de desenvolvimento pelo qual esses filhos se
encontram e relacionadas aos seus temperamentos e características pessoais. Com isso,
verificou-se que para esses sujeitos não existiram dificuldades com relação ao fato de seus
filhos serem adotados. Assim, as formas de lidar desses pais com essas dificuldades, que
podem acontecer com qualquer pai e/ou mãe, referem-se aos seus valores pessoais, do que
pensam ser certo ou errado, de como devem agir frente à determinada dificuldade decorrente
de uma fase de desenvolvimento pelo qual o(s) filho(s) passa(m) ou frente a um certo
temperamento dele(s).
Talvez, contribua para isso o fato de as crianças terem sido adotadas enquanto eram
bebês. Levando em consideração, de acordo com Weber (2003), que existem pesquisas
européias e, principalmente, americanas que indicam um excesso de distúrbios de adaptação
em crianças adotivas e que um dos fatores para explicar essa situação seria a adoção realizada
depois de viver a infância em instituições.
Entretanto, mesmo que se esse fato anterior possa ter contribuído para o resultado
obtido sobre as dificuldades, torna-se importante também levar em consideração a visão de
Paiva (2005) que as dificuldades dos filhos poderiam relacionar-se mais às atitudes dos pais, e
que a idéia de que as crianças adotadas estão mais suscetíveis a conflitos afetivos e/ou
distúrbios de conduta pode ser até fato, mas não se pode garantir que os motivos encontram-se
basicamente na criança. Sendo importante verificar se uma criança adotada está de fato mais
57
vulnerável a conflitos ou se são os pais adotivos, por causa de suas influências do discurso
social, que acreditam que o filho, por sua condição e passado, necessita de alguma
intervenção.
Ainda sobre as dificuldades, pelas mesmas não serem relatadas pelos sujeitos
entrevistados com seus filhos no que concerne à adoção, pode-se apoiar a idéia de Weber
(2003) que expõe a visão de que filhos adotivos são problemáticos, revoltados e estão fadados
a repetir comportamentos supostamente inadequados de seus pais biológicos é uma
representação errônea.
O conhecimento da verdade é outro dado a ser discutido que aparece como tendência
em todos os relatos dos sujeitos desta pesquisa. Verificou-se que desde cedo os filhos desses
sujeitos foram tendo conhecimento de que eram adotados, por meio de historinhas contadas
de acordo com a idade deles, não havendo um momento e modo formal de revelar essa
verdade.
Através dessa atitude dos pais de contarem a verdade para seus filhos de maneira
que eles entendessem, de acordo com suas idades correspondentes, verifica-se uma
aproximação com referência ao que a literatura comumente traz sobre a forma de contá-la.
Esse dado discutido relaciona-se ao aspecto psicológico, segredo envolvido na adoção, que é
abordado por Maldonado (apud Siega e Maciel, 2005). Segundo essa autora, para contar a
verdade, deve-se utilizar uma linguagem mais adequada à idade da criança para que haja um
melhor entendimento.
Relaciona-se também com o que é defendido tanto pelas CEJAs (Comissões
Estaduais Judiciárias da Adoção) quanto pelos grupos de apoio à adoção, que defendem a
idéia de que a verdade seja contada o mais cedo possível, de forma verdadeira e natural.
Vechi (2006), numa entrevista ao GEAAB, questiona este acerca de quando a
criança deve saber que é adotada. A resposta segue a mesma idéia do que a autora anterior
expõe sobre a forma de contar e de qual linguagem utilizar. Acrescentando, que todo
indivíduo tem o direito de conhecer a própria história, e viver a adoção em segredo produz
ansiedade, insegurança e falta de confiança na relação entre pais e filhos, e, ainda, há a chance
de qualquer pessoa falar sobre o assunto sem que a criança esteja preparada.
De acordo com o que os autores explanaram e com a análise sobre o conhecimento
da verdade, torna-se possível inferir que como todos os sujeitos entrevistados foram indicados
pelo GEAAF, e por, conseqüentemente, freqüentar ou terem freqüentado as reuniões desse
grupo, que pregam que a verdade seja contada desde cedo à criança adotada, o fato dela ter
58
sido revelada desde o início em todos os casos, pode ter sofrido influência dos debates nesse
grupo.
Destarte, depois do que já foi discutido, encontra-se a revelação da verdade desde
cedo ao filho adotivo sobre suas origens como um aspecto psicológico, surgido ao desenrolar
das entrevistas, que contribuiria para a relação estabelecida com a criança adotada. Pois, todos
os filhos adotivos, segundo os relatos dos sujeitos entrevistados, souberam desde cedo que
eram adotados. Lembrando que, como já foi discutido, todo indivíduo tem o direito de
conhecer a própria história, e a adoção vivida em segredo gera ansiedade, insegurança e falta
de confiança na relação entre pais e filhos.
Outro aspecto psicológico observado que contribuiria para essa relação abordada
anteriormente seria a assunção da criança adotada, percebida como uma tendência entre todos
os sujeitos entrevistados. Percebe-se essa assunção no fato de alguns sujeitos considerarem
seus filhos adotivos como sendo de seu próprio sangue, observada nos relatos sobre a
preparação psicológica, que será discutida a seguir, como também no fato de outros se
manifestarem disponíveis, comprometidos e bem presentes no vínculo com a criança adotada.
Deste modo, esses pais assumem seus filhos e, conseqüentemente, exercem seus
papéis de pais. Essa idéia pode ser clarificada pelo raciocínio do autor Degano (1999), que
expressa que nem sempre os responsáveis são os pais de uma criança. A criança sendo criada,
mas não �colocada� no papel de filho (a), cujo �pai� não assume assim seu papel de pai,
porque somente criar como já foi dito não significa exercer seu papel de pai/mãe. Assim, essa
criança será órfã, no sentido de seus criadores.
A preparação psicológica foi outro dado que surgiu a partir dos relatos dos sujeitos
entrevistados nesta pesquisa. Como já foi visto, mas é relevante relembrar, essa expressão foi
formulada pelo fato de algumas mães entrevistadas estabelecerem todo um ritual para a
chegada de seus filhos adotivos e, ainda, pelo motivo delas mencionarem expressões
referentes a eles como se tivessem saído de seus próprios ventres. Por meio desses relatos,
notou-se uma semelhança no que Berthoud (apud Siega e Maciel, 2005) traz quanto a um
aspecto psicológico. Este seria o desenvolvimento do apego entre mãe e filho adotivo, que
seria similar ao desenvolvido nas famílias biológicas e os processos de gerar e dar à luz a um
filho e adotar uma criança são dois processos tão ímpares de acordo com suas pesquisas
realizadas.
A mesma autora também se refere ao aspecto psicológico, tempo de espera pela
adoção, explicando que o impacto emocional de encontrar e segurar nos braços a criança que
a partir deste momento será seu filho é psicologicamente comparável ao que sentem os pais
59
biológicos no momento do nascimento de seus filhos. Observou-se que esse acontecimento é
similar com o que um dos sujeitos desta pesquisa relata, ao contar que na hora que lhe deram
o bebê nos braços, ele era dela e já tinha sido sempre.
Conforme Weber (2001), uma essencial distinção entre biologia e a adoção deve ser
ressaltada, na adoção a espera da chegada do filho, pelo fato de não ser previsível, é muito
mais angustiante do que a espera de aproximadamente nove meses de uma gestação usual. Na
adoção, os adotantes não têm qualquer sinal nem data de que estão �esperando� uma criança,
contudo, mesmo assim, tentam encontrar elementos exteriores que simbolizem e marquem
esta espera. Vários depoimentos mostraram que os adotantes �sentiram-se grávidos� quando
saíram da entrevista que lhes proporcionou o resultado da sua habilitação para uma adoção.
Todavia, nos casos desta pesquisa, não houve essa longa ou indefinida espera pela
criança. No caso da mãe solteira, entre o tempo da inscrição no cadastro de pretendentes à
adoção e o recebimento da criança levou apenas quatro meses. Nos caso dos três casais
entrevistados, não houve inscrição nesse cadastro, adotaram porque já conheciam as mães
biológicas que queriam doar seus filhos, havendo contato com as crianças desde seus
nascimentos, menos no caso do terceiro casal entrevistado que adotou a filha já com alguns
dias de vida. Não obstante, mesmo não havendo essa longa e indefinida espera, os sujeitos
encontraram elementos exteriores que simbolizassem a curta espera, como berço, banheira,
enxoval, entre outros.
Como foi visto os sujeitos deste estudo manifestaram-se bem disponíveis e presentes
no vínculo com as crianças adotadas. Assim, encontrou-se a disponibilidade como um aspecto
psicológico que contribuiria para o vínculo com a criança adotada. Disponibilidade esta, não
apenas referente ao tempo despendido com o filho, mas também no que diz respeito a dar
atenção, se mostrar presente e comprometido com ele.
Segundo Carvalho (1996), o rosto da mãe faz parte de uma experiência única. As
trocas afetivas, que tomam a figura do parceiro distinta dos outros estímulos visuais
recebidos, levam a uma separação entre animado e inanimado. As crianças hospitalizadas,
privadas do diálogo com o parceiro humano, conservam-se focadas em si mesmas, com
movimentos intermináveis de mãos e pés, sendo incapazes de uma relação ativa com os
objetos. Portanto, pode-se dizer que os sujeitos entrevistados permitem relações ativas de seus
filhos adotivos com os objetos do mundo ao se manifestarem, nestas relações, presentes,
disponíveis, atenciosos, propiciando, conseqüentemente, trocas afetivas. Estas que colaboram
favoravelmente para a relação com seus filhos, pois eles vão ser apoiados por afeto, atenção,
disponibilidade e comprometimento, como já foi discutido.
60
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Algumas observações e compreensões foram realizadas pela pesquisadora através da
coleta de dados e da leitura do que os autores abordam sobre o que foi pesquisado. Assim,
torna-se imprescindível fazer alguns comentários finais a esta pesquisa.
Os resultados obtidos levaram-nos a concluir que pelas falas dos pais eles atendem
às necessidades afetivas das crianças adotadas, ao demonstrarem suas motivações, no fato da
maioria ter histórico de adoção na família, ao assumirem a maternidade e/ou paternidade, pela
maioria ter vivenciado o processo de adoção como tranqüilo, ao contarem a verdade desde
cedo sobre suas origens, estabelecendo, desta maneira, uma relação verdadeira e de confiança,
ao se manifestarem disponíveis, comprometidos e presentes no vínculo com elas, ao não
manifestarem preconceito e temor no lidar com as crianças a respeito da adoção, em vista de
já terem um conhecimento prévio desse tema e ao demonstrarem a assunção dessas crianças.
Entre os aspectos mencionados anteriormente que contribuiriam para o vínculo com
a criança adotada, encontraram-se alguns aspectos psicológicos que colaborariam para esse
vínculo: o histórico de adoção na família, a assunção da paternidade e/ou maternidade, a
revelação da verdade desde cedo ao filho adotivo sobre suas origens, a disponibilidade e a
assunção desse filho.
Como resultado ainda se obteve que as dificuldades mais freqüentes que os pais com
crianças adotivas encontram no dia a dia são dificuldades não específicas de filhos adotivos,
mais que quaisquer pais biológicos também podem encontrar.
Discutiu-se, também, que um fator que poderia ter contribuído ao resultado de que
não houve dificuldades desses sujeitos no convívio com as crianças no que se refere à adoção,
foi que todos os sujeitos entrevistados adotaram bebês. Assim, seus filhos adotivos não
passaram pela infância em instituição. Levou-se em consideração o fato de existirem
pesquisas européias e, principalmente, americanas que indicam um excesso de distúrbios de
adaptação em crianças adotivas e que um dos fatores para explicar essa situação seria a
adoção realizada depois de viver a infância em instituições. Mesmo sendo essas pesquisas
realizadas em outros contextos sócio-culturais, pensa-se ser importante para futuras pesquisas,
investigações de modo mais aprofundado se a institucionalização de crianças abandonadas
poderá realmente influir em suas adaptações em famílias substitutas.
61
Contudo, é bom esclarecer que não se está querendo afirmar que crianças maiores na
espera para a adoção vão trazer dificuldades futuramente, mas que é um dado para ser mais
analisado e pesquisado, já que há pesquisas que indicam nelas distúrbios de adaptação.
Outra questão importante para futuras pesquisas investigarem, em contrapartida com
a sugestão anterior, é se as dificuldades dos filhos não estariam relacionadas mais às atitudes
dos pais, por estes sofrerem influência do discurso social e acreditarem que seus filhos estão
fadados a ter problemas de condutas.
Assim, cabe ressaltar que os resultados obtidos não devem ser tomados como
verdades absolutas, sendo de grande valia estudar e pesquisar mais profundamente sobre essas
questões levantadas para transformar essas respostas em novas questões.
Como sugestão ainda, ressalta-se a necessidade de uma maior divulgação à
comunidade dos serviços prestados pelo GEAAF, seja através da mídia ou pelas escolas e
universidades. Salienta-se essa necessidade pela falta de conhecimento da população sobre o
tema e pelos decorrentes preconceitos e temores que o permeiam.
Torna-se importante saber que existem outros Grupos de apoio à adoção, não só em
Florianópolis, mas em outras cidades de Santa Catarina, no Acre, na Bahia, no Distrito
Federal, no Mato Grosso do Sul, na Paraíba, no Paraná, em Pernambuco, no Rio de Janeiro,
no Rio Grande do Sul, em Rondônia, em São Paulo. Assim, essa maior divulgação deve ser
feita não só em relação ao Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de Florianópolis, mas no
Brasil inteiro.
Outrossim, sugere-se que sejam estimulados debates, nas escolas e universidades,
questões acerca da adoção, que os professores exponham sua importância para os alunos,
incentivando assim a produção de trabalhos e pesquisas a respeito desse tema desde cedo. E,
possivelmente, esses alunos, comentarão com seus pais sobre o que aprenderam,
disseminando mais o conhecimento sobre a matéria. Tentando diminuir, assim,
conseqüentemente, os preconceitos e temores que estão a ele vinculados.
62
REFERÊNCIAS
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APÊNDICE
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APÊNDICE 1 ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA 1) Dados pessoais; idade dos cônjuges; escolaridade; se têm mais filhos. Idade que tinham
quando realizaram a adoção; quantas crianças adotaram, sexo dela(s), idade que a(s)
criança(s) tinha quando foi adotada.
2) Gostaria que vocês falassem sobre os planos que faziam antes de adotar a(s) criança(s). Já
pensavam a respeito? Como foi?
3)Como chegaram à decisão de adotar (quem decidiu)?
4) Por quê adotar? Passaram por tratamentos médicos, psicológicos?
5) Como foi a vivência do processo de adoção?
6) Adotaram através do Juizado da Infância e da Juventude ou por meio de terceiros?
7) Como vocês imaginavam a (s) criança(s), qual eram suas expectativas?
8) Como reagiram as famílias de vocês, irmãos e outros filhos (se existirem)?
9) Como foi o primeiro dia com a criança?
9.1) Qual era a idade da (s) criança (s) na época?
9.2) Como vocês se sentiram exercendo os papeis de mãe e pai?
10) Qual era a participação de cada um nos cuidados básicos com a (s) criança (s)?
11) Quais as dificuldades que vocês encontraram ou encontram na convivência com a (s)
criança(s)? E como vocês lidaram ou lidam essas dificuldades?
12) Quais as situações e momentos do cotidiano familiar ou de relações sociais que trazem
mais satisfação para seu (s) filho (s)?
13) Tentem colocar-se no lugar de seu /sua (s) filho/a (s) e imagine como ele/ela se sente, de
forma geral em relação à adoção?
14) Para você, quais seriam as características que uma pessoa ou um casal deveria reunir para
realizar uma adoção semelhante a sua?
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APÊNDICE 2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO
Vimos através desse termo de consentimento, formalizar os pressupostos éticos
segundo o qual, este projeto de pesquisa, �Aspectos psicológicos que contribuiriam para o
atendimento das necessidades afetivas da criança adotada� está sendo realizado pelo professor
mestre Henry Dario Cunha Ramirez, e pela acadêmica Ana Cláudia Vilvert de Souza ambos
vinculados ao Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí / Centro de Educação
Biguaçu / SC. O presente projeto tem como objetivo geral: Analisar aspectos psicológicos em
famílias que adotaram crianças. Que aspectos psicológicos contribuíram para o atendimento
das necessidades afetivas da criança adotada.
Não estão previstos riscos e desconfortos durante a realização da entrevista. Os
pesquisadores estarão disponíveis para qualquer informação e esclarecimento que a Sra tiver
necessidade, antes e durante, a realização da pesquisa. Pelo fato desta pesquisa ter única e
exclusivamente interesse científico, a mesma foi aceita pela Sr(a)., que no entanto poderá
desistir a qualquer momento da mesma, inclusive sem nenhum motivo, bastante para isso,
informar da maneira que achar mais conveniente, a sua desistência. Por ser voluntária e sem
interesse financeiro, a Sra não terá direito a nenhuma remuneração. Os dados referentes a
Sr(a). serão sigilosos e privados. Está prevista a divulgação dos resultados aos sujeitos
visando mostrar os benefícios obtidos pela pesquisa em questão. No que diz respeito aos
aspectos psicológicos que contribuiriam para o atendimento das necessidades afetivas da
criança adotada, a Sra poderá solicitar informações durante todas as fases desta pesquisa,
inclusive após a publicação da mesma.
Contatos com os pesquisadores poderão ser feitos no curso de Psicologia da
UNIVALI pelo telefone (048) 32799714.
Eu_________________________________________________________________
Consinto em participar voluntariamente neste projeto de pesquisa.
Florianópolis, ___/___/___.