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Universidade Federal da Bahia Instituto de Cincias da Sade
Programa de Ps-Graduao
em Processos Interativos dos rgos e Sistemas
ELIZABETH MARIA COSTA DE CARVALHO
ASPECTOS RELEVANTES DO SISTEMA
ESTOMATOGNTICO E DA SADE BUCAL DE
INDIVDUOS PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS
E COMPORTAMENTAIS EM USO DE ANTIPSICTICOS
TPICOS
Salvador
2016
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ELIZABETH MARIA COSTA DE CARVALHO
ASPECTOS RELEVANTES DO SISTEMA
ESTOMATOGNTICO E DA SADE BUCAL DE
INDIVDUOS PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS
E COMPORTAMENTAIS EM USO DE ANTIPSICTICOS
TPICOS
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Processos
Interativos dos rgos e Sistemas, Instituto de Cincias da
Sade, Universidade Federal da Bahia, como requisito para a
obteno do ttulo de doutor em Processos Interativos dos
rgos e Sistemas.
Orientador: Prof. Dr. Roberto Paulo Correia de Arajo
Coorientador: Prof. Dr. Antnio Fernando Pereira Falco
Salvador
2016
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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) Processamento Tcnico, Biblioteca Universitria de Sade Sistema de Bibliotecas da UFBA
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C331 Carvalho, Elizabeth Maria Costa de. Aspectos relevantes do sistema estomatogntico e da sade bucal de indivduos portadores de transtornos mentais e comportamentais em uso de
antipsicticos tpicos/ Elizabeth Maria Costa de Carvalho. - Salvador, 2016.156 f.: il.
Orientador: Prof. Dr. Roberto Paulo Correia de Arajo. Coorientador: Prof. Dr. Antnio Fernando Pereira Falco.
Tese (doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de Cincias da Sade, Programa de Ps-graduao em Processos Interativos dos rgos e Sistemas,
2016.
1. Sade bucal. 2. Assistncia odontolgica para pessoas com deficincias -Qualidade de vida. 3. Transtornos mentais. 4. Odontologia em sade pblica. 5. Servios de sade mental. 6.
Pessoas com deficincia mental - Higiene bucal. 7. Pessoas com deficincia mental - Transtornos da Articulao Temporomandibular. I. Arajo, Roberto Paulo Correia de. II. Falco, Antnio Fernando
Pereira. III. Universidade Federal da Bahia. Instituto de Cincias da Sade. IV. Ttulo. CDU: 616.31-083
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ELIZABETH MARIA COSTA DE CARVALHO
ASPECTOS RELEVANTES DO SISTEMA ESTOMATOGNTICO E DA
SADE BUCAL DE INDIVDUOS PORTADORES DE TRANSTORNOS
MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM USO DE ANTIPSICTICOS
TPICOS
Aprovada em ________________________
Aprovada em 20 de setembro de 2016
Comisso Examinadora
Roberto Paulo Correia de Arajo (Orientador)___________________________
Livre Docente e Doutor em Odontologia
Professor Titular de Bioqumica Oral do Instituto de Cincias da Sade-UFBA
Eduardo Pond de Sena_______________________________________________________ Doutorado pelo Curso de Ps-graduao em Medicina e Sade da Faculdade de Medicina da Bahia -
Universidade Federal da Bahia
Professor Associado do Departamento de Biorregulao do Instituto de Cincias da Sade-
UFBA
Urbino da Rocha Tunes_______________________________________________________
Doutor em Imunologia
Professor Titular de Periodontia na FBDC
Antnio Wilson Sallum_____________________________________________
Doutor em Odontologia
Professor da FOP-Unicamp-SP
Alfredo Carlos Rodrigues Feitosa_____________________________________________
Doutor em Microbiologia-USP-SP
Professor da disciplina de Periodontia da UFES
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Processos Interativos dos rgos e
Sistemas, Instituto de Cincias da Sade, Universidade Federal da Bahia, como requisito para
obteno do ttulo de Doutor em Processos Interativos dos rgos e Sistemas.
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Aos meus pais, Ccero Newton (in memoriam) e Antonia,
que incutiram em mim o respeito por todos os seres humanos,
particularmente aqueles com necessidades especiais,
pelos seus exemplos de vida e dedicao
profisso que escolhemos cirurgio-dentista.
A Isaac, meu querido companheiro.
Aos pacientes com transtornos mentais
assistidos no Hospital Psiquitrico Juliano Moreira,
que, dentro dos seus delrios, fantasias ou realidade,
cooperaram para que eu pudesse realizar seus exames bucais.
Aos pacientes cadastrados na Faculdade de Odontologia da UFBA,
que permitiram a realizao dos seus exames bucais,
fundamentais para a elaborao desta pesquisa.
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AGRADECIMENTOS
Embora, por exigncia institucional, esta tese traga a minha assinatura, ela o resultado de um trabalho
coletivo, para cuja realizao contriburam muitas pessoas de diferentes maneiras e em diferentes
oportunidades, com ajuda, estmulo, crtica ou sugesto. Ao registrar seus nomes, mais que agradecer,
quero lhes fazer justia.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Roberto Paulo Correia de Arajo, exemplo no qual me espelhei para
alcanar este objetivo, que, alm das horas do seu precioso tempo que me dispensou durante a orientao
do trabalho, dividiu comigo a sua amizade.
Ao Prof. Dr. Antnio Fernando Pereira Falco, meu coorientador, que, com a sua generosidade, na
ausncia do meu pai biolgico, o tem substitudo, para minha felicidade.
Meu agradecimento especial aos Professores Luciana Bastos, Luciana Koser e Antnio Fernando Pereira
Falco pelas brilhantes avaliaes e valiosas sugestes tese, na condio de examinadores,
participantes do Exame de Qualificao ao lado dos Professores Urbino da Rocha Tunes e Roberto Paulo
Correia de Arajo.
Ao Prof. Dr. Ronaldo Jacobina, que me proporcionou conhecer a histria da psiquiatria na Bahia e do
Hospital Juliano Moreira desde sua fundao em 1874.
Ao amigo Prof. Dr. Urbino da Rocha Tunes, por todos os momentos em que sua palavra de fora e
perseverana me ajudou a prosseguir em minha caminhada na vida acadmica.
Aos colegas das disciplinas de Periodontia e de Odontologia para Pacientes Especiais da Faculdade de
Odontologia da UFBA, que se empenharam em me oferecer condies para o desenvolvimento desta
pesquisa.
Profa. Dra. Maria das Graas Alonso, por dividir comigo a oportunidade de acolhermos os
participantes do grupo controle dos nossos estudos na Faculdade de Odontologia da UFBA.
Ao Diretor do Hospital Psiquitrico Juliano Moreira, poca, Dr. Andr Furtado, por ter concordado
em autorizar a realizao desta pesquisa no Ncleo Docente Assistencial de Odontologia & Sade
Mental dessa instituio voltada para a assistncia psiquitrica.
amiga e colega Olga de Jesus da Conceio dos Anjos, que, no Hospital Psiquitrico Juliano Moreira,
supervisionou a parte logstica para que este estudo pudesse acontecer, particularmente no acolhimento
e na educao para a sade bucal de todos os pacientes psiquitricos envolvidos.
colega e amiga Profa. Dra. Andria Cristina Leal Figueiredo, pela execuo da anlise estatstica e
infinita pacincia, alm do aconselhamento.
Ao Prof. Dr. Carlos Maurcio Cardeal Mendes, pela preciosa ajuda na elaborao deste trabalho,
particularmente na avaliao da concordncia intraexaminador.
A minha querida sobrinha Lvia Cristina Bandeira de Carvalho, por partilhar comigo os bons momentos
e seu profundo conhecimento na rea das disfunes temporomandibulares.
s estagirias do Ncleo Docente Assistencial de Odontologia e Sade Mental vinculado ao Hospital
Psiquitrico Juliano Moreira, Caroline Luquine e Larissa Souza, pela cuidadosa anotao dos dados
coletados, fundamentais para alcanarmos os resultados obtidos, particularmente a Las Spnola, pela
digitao dos dados, e a Isis Henriques, pelo cuidado e empenho na reviso das planilhas com os dados
coletados.
Aos colegas e amigos do Ncleo Docente Assistencial de Odontologia e Sade Mental vinculado ao
Hospital Psiquitrico Juliano Moreira: Virgnia Linhares, Marlucy Calazans, Jos Carlos Berbert da
Silva, Vera Castro, Jandira Moraes da Paixo, Vera Lucia dos Santos Nascimento e Maria do Carmo
Barbosa, de cuja ajuda dependeu o desenvolvimento deste trabalho.
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Dra. Lvia Ribeiro, por ter colaborado na elaborao e correo do resumo e do abstract desta tese.
A Vera Rollemberg e a Keite Birne de Lira, pela cuidadosa reviso do texto.
Ao colega e amigo Dr. Felipe Ribeiro, pela enorme ajuda na aquisio dos artigos cientficos.
Devo ainda agradecimentos aos alicerces da minha formao profissional desde a graduao at a ps-
graduao.
Ao meu eterno mestre, Prof. Dr. Adhemar de Oliveira e Silva (in memoriam), que me fez conhecer a
Periodontia e saber que todo conhecimento adquirido s vale a pena se pudermos us-lo para fazer o
bem.
Profa. Dra. Mary Camardelli, mentora dos meus primeiros passos na Periodontia, que, com a sua
retido e firmeza de carter, forjou em mim a vontade de sempre seguir o seu exemplo.
querida amiga Profa. Dra. Lucia Petitinga de Moraes Sarmento, que tem o dom de associar cincia e
bondade.
Ao querido e inesquecvel Prof. Dr. Moyses Moreinos (in memoriam), coordenador do Curso de
Especializao em Periodontia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) em 1979, que me
incutiu o gosto pela pesquisa cientfica e pela carreira acadmica.
Por fim, agradeo aos componentes do meu rol de bem-querer, particularmente minha querida irm
Maria Cristina, em cuja companhia toda jornada fica mais agradvel, todo fardo mais leve.
s queridas Isabela Teixeira, Susana Soares e Eullia Oliveira, minhas filhas espirituais, pela boa
energia que sempre irradiam, pelo carinho e ternura com que me tratam, alm da colaborao na
elaborao desta pesquisa.
s minhas secretrias Fabiana Oliveira, Clia Nascimento e Olga Silva, que permitiram que a elaborao
deste estudo convivesse em harmonia com a rotina da casa e do consultrio.
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AGRADECIMENTOS INSTITUCIONAIS
Universidade Federal da Bahia, por ter propiciado ao seu corpo docente a oportunidade de obter o
ttulo de doutor, por meio do Doutoramento Especial.
Ao Programa de Ps-Graduao em Processos Interativos dos rgos e Sistemas, Instituto de Cincias
da Sade, Universidade Federal da Bahia, por ter me acolhido nesta fase to decisiva da minha carreira
acadmica.
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Obstculos so aquelas coisas tenebrosas que vemos
quando desviamos os olhos dos nossos objetivos.
Henry Ford
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CARVALHO, Elizabeth Maria Costa de. Aspectos relevantes do sistema estomatogntico e da sade bucal de indivduos portadores de transtornos mentais e comportamentais em uso de antipsicticos
tpicos.156 f.il. 2016. Tese (Doutorado) - Instituto de Cincias da Sade, Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2016.
RESUMO Introduo: Os transtornos mentais e comportamentais so uma srie de distrbios neuropsiquitricos
que se caracterizam por alteraes psicolgicas ou comportamentais associadas com um
comprometimento funcional, podendo ocorrer em, alguns pacientes, alteraes do pensamento,
alucinaes, delrios e alteraes no contato com a realidade. Objetivo: Diagnosticar e descrever as
alteraes no sistema estomatogntico de pacientes psiquitricos usurios de antipsicticos tpicos
(ApTs), assistidos no Ncleo Docente Assistencial de Odontologia e Sade Mental, vinculado ao
Hospital Psiquitrico Juliano Moreira-SESAB, situado na cidade do Salvador-Bahia, em comparao
com indivduos fsico e mentalmente sadios. Metodologia: Estudo de corte transversal com uma
amostra de convenincia constituda por 120 voluntrios, sendo 40 pacientes psiquitricos usurios de
ApTs e 80 indivduos com sade mental. A coleta dos dados foi processada em duas etapas. A primeira
consistiu na aplicao de um questionrio desenvolvido especialmente para a pesquisa, que contemplou
dados sociodemogrficos, informaes sobre a sade geral e oral, alteraes orofaciais de movimento,
alteraes no paladar e presena de disfunes temporomandibulares (DTMs). A segunda, executada
por um nico examinador, compreendeu a avaliao odontolgica dos participantes com base no ndice
de dentes cariados, perdidos e obturados (CPO-D), ndice de placa visvel (IP), sangramento gengival
sondagem (SS), avaliao das estruturas moles da cavidade oral e na determinao do risco periodontal
individual. Os dados coletados foram analisados por estatstica descritiva e submetidos ao teste Mann-
Whitney, teste Qui-quadrado de Pearson e ao teste exato de Fischer. Resultados: A anlise quantitativa
revelou que os ndices CPO-D dos grupos teste e controle foram elevados, e no houve diferena
estatisticamente significante entre os dois grupos. A alta prevalncia da periodontite crnica severa
localizada, tanto no grupo teste (62,5%) como no grupo controle (58,7%) acha-se associada aos elevados
escores do IP, como reflexo da precariedade da higiene oral, frequente em pacientes com
comprometimento intelectual e motor. O alto risco periodontal foi detectado em 31,6% da amostra, fato
diretamente relacionado quantidade de dentes perdidos e com elevados valores registrados de SS na
maioria dos participantes, independente de sua condio de sade mental. A DTM, em seus diferentes
graus de severidade, fez-se presente em 80% dos participantes, independente do comprometimento da
sade mental. A anlise qualitativa demonstrou que as alteraes orofaciais de movimento s foram
registradas entre os pacientes usurios de antipsicticos tpicos, denotando o papel deletrio desses
psicofrmacos sobre a qualidade de vida. Concluso: Os resultados deste estudo, apesar dos seus
limites, apontam para as alteraes no sistema estomatogntico decorrentes do uso dirio de ApTs,
particularmente as gustativas, as alteraes orofaciais de movimento, a DTM e ao grande nmero de
dentes perdidos. Isto justifica a indicao da necessidade do monitoramento da condio de sade oral
dos portadores de transtornos mentais e comportamentais, independente do modelo assistencial
psiquitrico ao qual estejam submetidos. Na perspectiva da promoo, restaurao e manuteno de sua
sade oral, esta conscientizao possibilitar o mnimo de emancipao individual, de modo a lhes
assegurar melhor qualidade de vida e o resgate da cidadania.
Palavras-chave: Sade bucal; Patologia mental; Epidemiologia.
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CARVALHO, Elizabeth Maria Costa. Relevant aspects of the stomatognathic system and oral
health of individuals with mental and behavioural disorders due to use of typical antipsychotics.
156 f.il. 2016.These (Doctoral) - Instituto de Cincias da Sade, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 2016.
ABSTRACT Introduction: Mental and behavioral disorders are a number of neuropsychiatric disorders characterized
by psychological or behavioral changes associated with functional impairment, which may occur in
some patients, changes in thinking, hallucinations, delusions and changes with reality. Objective: Diagnose and describe changes in stomatognathic system of psychiatric patients typical antipsychotic
users (ApTs), assisted at the Center Docent Assistance of Dentistry and Mental Health, associated to the
Psychiatric Hospital Juliano Moreira-SESAB, located in city of Salvador, Bahia, compared to
individuals physically and mentally healthy. Methods: Cross-sectional study with a convenience sample of 120 volunteers, 40 members of psychiatric patients using ApTs and 80 individuals mentally healthy.
Data collection was processed in two stages. The first was the application of a questionnaire developed
especially for the research, which included demographic data, information of general and oral health,
orofacial changes in motion, changes in taste and presence of temporomandibular disorders (TMD). The second, performed by a single examiner, was the dental evaluation of the participants based on decayed,
missing and filled teeth index (DMFT), visible plaque index (PI), gingival bleeding on probing (BOP),
evaluation of soft tissue structures of the oral cavity and individual periodontal risk. The data collected and analyzed by descriptive statistics were submitted to Mann-Whitney test, the chi-square Pearson test
and Fisher exact test. Results: Quantitative analysis showed that the DMFT indices of the test and control groups were high; however, there was no statistically significant difference between the two
groups. The high prevalence of severe chronic periodontitis located in both test group (62.5%) and in control group (58.7%) is found associated with the high IP scores, reflecting the precarious oral hygiene,
frequent in patients with intellectual and motor damage. The high periodontal risk was detected in 31.6% of the sample, directly related to the amount of missing teeth and the high values recorded for SS in
most participants, regardless of their mental health condition. The DTM in its different degrees of severity was present in 80% of participants, regardless of mental health impairment. Qualitative analysis showed that the changes of orofacial movement were only recorded among patients using typical
antipsychotics, demonstrating the deleterious role of these psychiatric drugs on their quality of life. Conclusion: The results of this study, despite its limitations, show changes in stomatognathic system
arising from the daily use of ApTs, particularly the taste, motion orofacial changes, the DTM and the
large number of missing teeth, justify the indication of monitor the oral health status of people with
mental and behavioral disorders, independent of psychiatric care model to which they are submitted. From the perspective of promotion, restoration and maintenance of oral health, this awareness will
enable a minimum of individual emancipation, in order to assure better quality of life and recovery of
citizenship.
Keywords: Oral health, mental pathology, epidemiology.
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LISTA DE ILUSTRAES
Quadro 1
Quadro 2
Quadro 3
Quadro 4
Quadro 5
Quadro 6
Quadro 7
Quadro 8
Quadro 9
Quadro 10
Quadro 11
Quadro 12
Figura 1
Quadro 13
Quadro 14
Quadro 15
Codificao e classificao dos transtornos mentais
e comportamentais na CID-10 ..................................................................
Codificao e classificao das esquizofrenias na CID-10 ......................
Codificao e classificao, no DSM-IV e na CID-10,
de doenas mentais cuja teraputica medicamentosa
requer o uso de antipsicticos ..................................................................
Codificao e classificao de transtornos mentais na CID-10 ...............
Fenotiazinas e butirofenonas, nomes comerciais
e formas farmacuticas ............................................................................
Transtornos de movimento induzidos por antipsicticos,
suas manifestaes e opes de manejo ...................................................
Paladar normal, alteraes gustativas e suas causas .................................
Avaliao motora dos nervos faciais ........................................................
Condio dos tecidos moles bucais ..........................................................
Cdigos e critrios :diagnstico carie dentria..........................................
Causas de perda dentria ..........................................................................
Paladar normal e alteraes do paladar ....................................................
Polgono de risco para avaliao do risco periodontal .............................
Risco periodontal e critrios de avaliao ................................................
Transtornos mentais e comportamentais dos pacientes
do grupo teste ............................................................................................
Fenotiazinas e butirofenonas, nomes comerciais e usurios
por gnero .................................................................................................
13
15
17
18
24
29
34
55
56
57
58
59
64
65
68
71
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Tabela 2
Tabela 3
Tabela 4
Tabela 5
Tabela 6
Tabela 7
Tabela 8
Tabela 9
Tabela 10
Tabela 11
Tabela 12
Tabela 13
Tabela 14
Tabela 15
Grau de concordncia intraexaminador mediante aplicao
do teste de correlao intraclasse, Salvador-BA, 2015 ..........................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo
as variveis sociodemogrficas, Salvador-BA, 2015 .............................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo
as alteraes do paladar, Salvador-BA, 2015 .........................................
Valores absolutos e relativos do grupo teste segundo a associao
entre as variveis sociodemogrficas e as alteraes do paladar,
Salvador-BA, 2015 ..................................................................................
Valores absolutos e relativos do grupo controle segundo a associao
entre variveis sociodemogrficas e as alteraes do paladar,
Salvador-BA, 2015 ..................................................................................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo
as alteraes orofaciais de movimento, Salvador-BA, 2015 ...................
Distribuio dos pacientes do grupo teste segundo
as alteraes orofaciais de movimento, Salvador-BA, 2015 ...................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao
entre as variveis sociodemogrficas e as alteraes orofaciais
de movimento, Salvador-BA, 2015.........................................................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo os graus de
severidade da disfuno temporomandibular, Salvador-BA, 2015 .........
Valores absolutos e relativos do grupo teste segundo a associao
entre as variveis sociodemogrficas e os graus de severidade
da disfuno temporomandibular, Salvador-BA, 2015 ...........................
Valores absolutos e relativos do grupo controle segundo a associao
entre as variveis sociodemogrficas e os graus de severidade da
disfuno temporomandibular, Salvador-BA, 2015 ...............................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo as alteraes
nos tecidos moles bucais, Salvador-BA, 2015 .......................................
Distribuio na amostra das leses diagnosticadas
nos tecidos moles bucais, Salvador-BA, 2015 .......................................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao
entre as variveis sociodemogrficas e as alteraes nos tecidos
moles bucais, Salvador-BA, 2015 ..........................................................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo
os escores do ndice CPO-D, Salvador-BA, 2015 ..................................
61
69
72
74
75
76
77
80
82
84
85
86
87
88
89
-
Tabela 16
Tabela 17
Tabela 18
Tabela 19
Tabela 20
Tabela 21
Tabela 22
Tabela 23
Tabela 24
Tabela 25
Tabela 26
Tabela 27
Tabela 28
Mdias e desvios padro dos dentes permanentes cariados,
perdidos, obturados e valor do CPO-D dos grupos teste e controle,
Salvador-BA, 2015 ..................................................................................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao
entre as variveis sociodemogrficas e o ndice CPO-D,
Salvador-BA, 2015 ..................................................................................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo as causas
de perda dentria, Salvador-BA, 2015 ....................................................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao
entre as variveis sociodemogrficas e as causas de perda dentria,
Salvador-BA, 2015 .................................................................................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo os escores
do ndice de sangramento gengival sondagem, Salvador-BA, 2015 ...
Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao
entre as variveis sociodemogrficas e os escores do ndice de
sangramento gengival sondagem, Salvador-BA, 2015 ........................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo os escores
do ndice de placa, Salvador-BA, 2015 ..................................................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao
entre as variveis sociodemogrficas e os escores do ndice de placa,
Salvador-BA, 2015 .................................................................................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo
as doenas periodontais, Salvador-BA, 2015 .........................................
Valores absolutos e relativos do grupo teste segundo a associao
entre as variveis sociodemogrficas e as doenas periodontais,
Salvador-BA, 2015 .................................................................................
Valores absolutos e relativos do grupo controle segundo a associao
entre as variveis sociodemogrficas e as doenas periodontais,
Salvador-BA, 2015 .................................................................................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo as categorias
do risco periodontal, Salvador-BA, 2015 ...............................................
Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao
entre as variveis sociodemogrficas e as categorias do risco
periodontal, Salvador-BA, 2015 .............................................................
90
92
93
95
98
99
101
102
105
107
108
111
112
|
-
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAP
ABP
ADA
AIDS
AP
ApA
ApT
ATM
AVAIs
AVIs
BL/AGE
BOP
CAP
CAP-FOUFBA
CAPS
CAST
CFO
CFT-HPJM
CID-10
CPO-D
DSM-IV
DT
DTM
EUA
FBDC
FOUBA
HPJM
IAF
IBGE
ICDAS
ICNTP
IPC
Academia Americana de Periodontia
Associao Brasileira de Psiquiatria
American Dental Association
Sndrome da imunodeficincia adquirida
Antipsictico
Antipsictico atpico
Antipsictico tpico
Articulao temporomandibular
Anos de vida ajustados para incapacidade
Anos de vida com incapacidade
Perda ssea alveolar em relao idade
Porcentagem de stios com sangramento sondagem
Central de Atendimento ao Paciente
Central de Atendimento ao Paciente da Faculdade
de Odontologia da Universidade Federal da Bahia
Centro de Ateno Psicossocial
Caries assessment spectrum and treatment
Conselho Federal de Odontologia
Comisso de Farmcia e Teraputica do Hospital Psiquitrico Juliano
Moreira
Classificao estatstica internacional de doenas e problemas
relrelacionados sade
ndice dos dentes cariados, perdidos e obturados
Diagnostic and statistical manual of mental disorders
Discinesia tardia
Disfuno temporomandibular
Estados Unidos da Amrica
Fundao Baiana para o Desenvolvimento da Cincia
Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia
Hospital Psiquitrico Juliano Moreira
ndice anamnsico de Fonseca
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
International caries detection and assessment system
ndice comunitrio de necessidades de tratamento periodontal
ndice periodontal comunitrio
-
IP
JCE
MDE-IV
MG
MS
NAPS
OMS
ONU
PCLG
PCMG
PCML
PCSG
PCSL
PD
PMA
QI
RDC/TMD
SAME-HPJM
SB
SEP
SESAB
SNM
SPSS
SS
TCLE
TPS
UFBA
WHO
ndice de placa visvel
Juno cemento-esmalte
Manual de diagnstico e estatstica dos distrbios mentais
Margem gengival
Ministrio da Sade
Ncleo de Assistncia Psicossocial
Organizao Mundial da Sade
Organizao das Naes Unidas
Periodontite crnica leve generalizada
Periodontite crnica moderada generalizada
Periodontite crnica moderada localizada
Periodontite crnica severa generalizada
Periodontite crnica severa localizada
Bolsas periodontais residuais
ndice papilar, marginal e aderido
Quociente de inteligncia
Research diagnostic criteria for temporomandibular disorders
Servio Ambulatorial Mdico Estatstico do Hospital Psiquitrico
Juliano Moreira
Sade Brasil
Sndromes extrapiramidais
Secretaria da Sade do Estado da Bahia
Sndrome neurolptica maligna
Statistical Package for Social Science
ndice de sangramento gengival sondagem
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Terapia periodontal de suporte
Universidade Federal da Bahia
World Health Organization
-
SUMRIO
1
2
3
4
5
5.1
5.2
5.3
5.3.1
5.3.2
5.3.2.1
5.3.2.2
5.3.2.3
5.3.2.4
5.3.2.5
5.3.2.6
6
6.1
6.2
6.3
6.4
6.4.1
6.4.2
6.4.3
6.4.3.1
6.4.3.2
6.4.3.3
6.4.3.4
6.4.3.4.1
6.4.3.4.2
6.4.3.4.3
INTRODUO ...................................................................................................
JUSTIFICATIVAS ..............................................................................................
HIPTESE ...........................................................................................................
OBJETIVOS ........................................................................................................
REVISO DE LITERATURA ............................................................................
TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS ...................................
PSICOFRMACOS ..............................................................................................
DOENA MENTAL E SADE BUCAL .............................................................
Odontologia psicossomtica ................................................................................
Repercusso dos transtornos mentais e comportamentais
no sistema estomatogntico ................................................................................
Desordens gustativas .............................................................................................
Alteraes orofaciais de movimento .....................................................................
Disfuno temporomandibular (DTM) .................................................................
Cries e perdas dentrias em pacientes psiquitricos ..........................................
Diagnstico periodontal em portadores de transtornos mentais
e comportamentais ................................................................................................
Risco periodontal em pacientes psiquitricos usurios de
antipsicticos tpicos .............................................................................................
METODOLOGIA ...............................................................................................
ASPECTOS TICOS ...........................................................................................
DELINEAMENTO EXPERIMENTAL DA PESQUISA .....................................
GRUPOS DE ESTUDO-AMOSTRA............................................................ ........
COLETA DE DADOS: PROTOCOLO ................................................................
Instrumento para coleta de dados demogrficos ..............................................
Instrumento para coleta de dados psiquitricos ...............................................
Instrumento para coleta de dados estomatognticos.........................................
Anamnese ...............................................................................................................
Articulao temporomandibular (ATM) ................................................................
Alteraes orofaciais de movimento ......................................................................
Exame clnico odontolgico ..................................................................................
Exame dos tecidos moles bucais ...........................................................................
Exame dos dentes ..................................................................................................
Avaliao do paladar .............................................................................................
1
4
7
9
11
12
22
30
30
32
33
35
36
39
41
45
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6.4.4
6.4.4.1
6.4.4.1.1
6.4.4.1.2
6.4.4.1.3
6.4.4.1.4
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7
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7.3
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7.5
7.5.1
7.5.2
7.5.3
7.5.4
7.5.5
7.5.6
7.5.7
8
Instrumento para coleta de dados sobre a condio periodontal .....................
Exame do periodonto ..............................................................................................
ndice de sangramento gengival sondagem (SS) .................................................
ndice de placa visvel (IP) .....................................................................................
Diagnstico periodontal ..........................................................................................
Risco periodontal ....................................................................................................
TRATAMENTO ESTATSTICO ..........................................................................
RESULTADOS E DISCUSSO .........................................................................
DESORDENS GUSTATIVAS ..............................................................................
ALTERAOES OROFACIAIS DE MOVIMENTO .............................................
DISFUNO TEMPOROMANDIBULAR ..........................................................
ALTERAES NOS TECIDOS MOLES BUCAIS .............................................
VARIVEIS RELACIONADAS COM DENTES E TECIDOS PERIODONTAIS....
ndice CPO-D ........................................................................................................
Causas das perdas dentrias ................................................................................
ndice de sangramento gengival sondagem (SS) .............................................
ndice de placa visvel (IP) ...................................................................................
Diagnstico periodontal .......................................................................................
Risco periodontal ..................................................................................................
Limitaes do estudo............................................................................................
CONCLUSO .......................................................................................................
REFERNCIAS ...................................................................................................
APNDICES .........................................................................................................
ANEXOS ...............................................................................................................
PRODUO CIENTFICA...............................................................................
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1
1 INTRODUO
-
2
A Organizao das Naes Unidas (ONU) estima que, nos pases em desenvolvimento,
a prevalncia de deficincias temporrias ou definitivas atinja 10% da populao. Assim, no
Brasil, com uma populao de 200 milhes de pessoas em 2009, pode-se prever que cerca de
20 milhes sejam portadoras de alguma deficincia, distribudas, provavelmente, entre
deficincia mental (50%), fsica (20%), auditiva (15%), mltipla (10%) e visual (5%) (BRASIL,
2009).
Os portadores de transtornos mentais e comportamentais apresentam disfunes
cerebrais que, a depender do grau de comprometimento intelectual, requerem ou no internao
hospitalar, conforme diagnstico do corpo clnico psiquitrico que os assista (OMS, 1996). Os
indivduos em sofrimento psquico tm sido historicamente excludos do acesso aos cuidados
bsicos de sade bucal, e esta realidade mundial. O ltimo levantamento epidemiolgico que
analisou a sade bucal dos brasileiros data de 2010 e, na categorizao da amostra, foram
includos pacientes com necessidades especiais representados, porm, apenas pelos idosos, no
tendo sido abordada a questo da sade bucal da parcela da populao com transtornos mentais
e comportamentais (BRASIL, 2011).
Os distrbios psiquitricos so um problema de sade pblica que cresce diariamente
em todos os pases. A sade bucal dos que sofrem desses distrbios geralmente mais
comprometida do que a da populao em geral, principalmente pela precariedade da higiene
oral associada ao alheamento da realidade e aos efeitos colaterais dos psicofrmacos utilizados
no seu tratamento, que afetam o desempenho psicomotor, o fluxo salivar e os tecidos moles
bucais. Portanto, o risco de apresentar alteraes orofaciais muito elevado, justificando-se,
assim, a criao de programas preventivos/educativos de sade bucal para pacientes em
sofrimento psquico, implementados por todos os membros da equipe multiprofissional
envolvida na assistncia sua sade mental, destacando-se o papel fundamental do cirurgio-
dentista (JAMELLI et al., 2010).
No contexto da Odontologia, esses indivduos correspondem a uma parcela de pacientes
considerados com necessidades especiais, porque, em vista do seu desvio do padro de
normalidade, necessitam de ateno particular e abordagens especficas, por um perodo de sua
vida ou indefinidamente (ELIAS, 1995). Apesar de j existirem diversos estudos sobre a sade
bucal de portadores de transtornos neuropsiquitricos, que apontaram ser esses pacientes de alto
risco para as doenas bucais mais prevalentes na populao em geral, quais sejam, a crie e a
doena periodontal, ainda no foi estabelecido se as doenas mentais e os psicofrmacos
aplicados no seu tratamento podem ser considerados fatores de risco para o desenvolvimento
de alteraes no sistema estomatogntico, considerando-se cada um dos seus componentes
-
3
separadamente: ossos, arcadas dentrias, msculos, tecidos moles (lbios, lngua, bochechas,
mucosa bucal), articulao temporomandibular, estruturas periodontais e sistema vascular e
nervoso, como pretendeu a presente pesquisa.
Desse modo, o objetivo geral deste estudo diagnosticar e descrever as alteraes no
sistema estomatogntico de pacientes psiquitricos, usurios de antipsictico tpico (ApT),
representados pelos antagonistas do receptor de dopamina D2 dos grupamentos farmacolgicos das
fenotiazinas e das butirofenonas, independentemente do modelo assistencial psiquitrico ao qual
estejam submetidos, assistidos no Ncleo Docente Assistencial de Odontologia e Sade Mental,
vinculado ao Hospital Psiquitrico Juliano Moreira-SESAB, situado na cidade do Salvador-Bahia,
em comparao com indivduos fsica e mentalmente sadios.
A partir dos resultados obtidos, objetiva-se tambm contribuir para o delineamento de
diretrizes eficazes para a ateno sade bucal dessa populao, que so temas ainda a serem
pesquisados, particularmente porque, teoricamente, esses estudos epidemiolgicos podem ser
utilizados como instrumentos organizadores da ateno.
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4
2 JUSTIFICATIVA
-
5
A escolha do tema foi motivada por dois aspectos. Em primeiro lugar, os portadores de
transtornos mentais e comportamentais tem sido apontados, historicamente, como incapazes de
se autocuidar, em vista do alheamento da realidade que determinadas patologias psiquitricas
impem. A seleo de alguns fatores levou ao desenvolvimento desta pesquisa de campo em
busca do referencial para o direcionamento de um estudo que fosse compatvel com a nossa
realidade, embasado no exerccio profissional frente da coordenao no Ncleo Docente
Assistencial de Odontologia e Sade Mental Dra. Antonia Costa de Carvalho, vinculado ao
Hospital Psiquitrico Juliano Moreira, uma das unidades da Secretaria da Sade do Estado da
Bahia, em Salvador, Bahia, lidando diuturnamente com os usurios dessa Instituio voltada
para a assistncia integral sade mental. O outro aspecto considerado foi a inquietao gerada
pela escassez de estudos realizados no Brasil tendo pacientes psiquitricos como amostra, uma
vez que pesquisas realizadas mundialmente, com pacientes internados e assistidos em
ambulatrio/servios substitutivos, tm considerado que a doena mental e os psicofrmacos
aplicados no seu tratamento podem ser um fator coadjuvante do comprometimento da sade
bucal, categorizando esses indivduos como de alto risco para a crie e a doena periodontal.
Diante do exposto, seguem-se as justificativas para a realizao deste estudo:
1) As doenas mentais, em algumas situaes, so incapacitantes, e o uso dirio de
psicofrmacos compromete a motricidade, inviabilizando a realizao da higiene bucal
adequada. A ateno sade bucal de indivduos em sofrimento psquico ainda limitada,
assim como o acesso aos servios odontolgicos, inexistindo programas preventivo-educativos
direcionados para essa populao com necessidades especiais.
2) A literatura cientfica no somente registra a alta prevalncia da crie e das doenas
periodontais entre os pacientes psiquitricos, mas tambm a prevalncia da disfuno
temporomandibular na populao em geral (em torno de 5% a 12%). Entretanto, so escassas
as informaes sobre a sua prevalncia nos pacientes psiquitricos usurios de antipsicticos
tpicos ou de primeira gerao, que apresentam efeitos colaterais deletrios para a regio
orofacial. (GURBUZ, ALATAS e KURT,2009)
A ateno dispensada sade garante a qualidade de vida dos indivduos, a partir da
implantao de programas de promoo de sade de carter educativo e curativo. Dessa forma,
este estudo, propondo-se a discutir dados que resultem em referenciais relativos sade bucal,
visa incluso da doena mental como fator/indicador de risco para as doenas bucais. H
convergncia na literatura cientfica sobre a importncia da realizao de outros estudos de
modo a fundamentar os princpios de anlise das alteraes no sistema estomatogntico que
podem estar associadas aos transtornos mentais e comportamentais instalados e aos efeitos
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6
colaterais dos psicofrmacos em uso e seus efeitos extrapiramidais, que dificultam
o desempenho do cirurgio-dentista na realizao dos procedimentos odontolgicos requeridos.
A partir das concluses a serem obtidas com estudos dessa natureza, certamente poder-
se- apontar, em futuro prximo, a importncia da incluso do cirurgio-dentista na equipe
multiprofissional envolvida na ateno sade mental, em busca da avaliao criteriosa, no
s dos componentes da cavidade bucal, como tambm dos ossos, msculos, nervos, vasos e
articulaes que compem o sistema estomatogntico, na perspectiva da reabilitao e
manuteno da sade bucal desses pacientes.
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7
3 HIPTESE
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Indivduos portadores de transtornos mentais e comportamentais em uso de
antipsicticos representados pelos antagonistas do receptor de dopamina D2 dos grupamentos
farmacolgicos das fenotiazinas e das butirofenonas, independentemente do modelo
assistencial psiquitrico ao qual estejam submetidos, apresentam alteraes nos componentes
do sistema estomatogntico, trazendo consequncias para a qualidade de sua sade bucal, em
comparao com os indivduos fsica e mentalmente sadios.
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4 OBJETIVOS
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4.1 OBJETIVO GERAL
Diagnosticar e descrever as possveis alteraes presentes no sistema estomatogntico
de pacientes psiquitricos, em uso de antipsicticos tpicos, em comparao com indivduos
fsica e mentalmente sadios.
4.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
Traar o perfil sociodemogrfico dos participantes do estudo com base no gnero, faixa
etria, grupo tnico, grau de escolaridade e renda mensal individual.
Avaliar o impacto do uso dirio dos antipsicticos tpicos no suprimento nervoso
orofacial, com nfase no nervo facial e nos aspectos quimiossensorial (alteraes
gustativas) e motor e funcional (alteraes orofacias de movimento).
Relacionar a severidade da disfuno temporomandibular com o uso dirio dos
antipsicticos tpicos.
Determinar, na amostra de pacientes psiquitricos em estudo, a ocorrncia de possveis
alteraes presentes nos tecidos moles da cavidade bucal.
Determinar os ndices epidemiolgicos de dentes cariados, perdidos e obturados
(CPO-D), de placa visvel (IP) e de sangramento gengival sondagem (SS) e relacion-
los com as repercusses decorrentes do uso de antipsicticos tpicos.
Diagnosticar, a partir da anlise da severidade e da extenso, a ocorrncia de doena
periodontal nos portadores de transtornos mentais e comportamentais usurios de
antipsicticos tpicos.
Quantificar o risco periodontal dos participantes em uso de psicofrmacos com base na
metodologia do polgono de risco.
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5 REVISO DE LITERATURA
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12
5.1 TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS
Todo ser humano est sujeito a apresentar algum tipo de distrbio psicopatolgico no
decorrer de sua vida e poder ou no precisar de ajuda profissional, poder ou no buscar por
essa ajuda e poder ou no curar a ruptura. Cada ser humano constri dentro de si uma
organizao mental estvel, capaz de fazer adaptaes frequentes com o mundo exterior, e a
realizao dessas tarefas requer um contnuo funcionamento de mecanismos reguladores e
adaptativos. O desenvolvimento adequado desses mecanismos conduz o indivduo a
desenvolver uma personalidade dentro dos padres de normalidade. Quando ocorre uma ruptura
ou um desequilbrio desses mecanismos, podem aparecer os distrbios de personalidade,
classicamente denominados de transtornos mentais e comportamentais. O principal objetivo do
tratamento desses distrbios psicopatolgicos a restaurao dos mecanismos de adaptao
prpria a cada indivduo/pessoa/ser humano (WANG; MINATOGAWA; TAVARES JR.,
2006).
No tocante aos distrbios mentais, os critrios utilizados para conduzir ao diagnstico
esto estabelecidos, sendo disponibilizados dois sistemas de classificao que constam do
Diagnostic and statistical manual of mental disorders, 4th ed. (DSM-IV), ou, em portugus,
Manual de diagnstico e estatstica dos distrbios mentais (MDE-IV) e da Classificao
estatstica internacional de doenas e problemas relacionados sade (CID-10), em dcima
reviso pela Organizao Mundial da Sade (OMS, 1996), esta ltima adotada no Brasil. A
CID-10, em seu volume 1, captulo V, trata especialmente dos distrbios mentais e
comportamentais, identificados pelas codificaes que variam de F00 a F99; as doenas mentais
e comportamentais esto agrupadas em ordem numrica crescente, conforme explicitado no
Quadro 1.
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13
Codificao Classificao
F00-F09 Transtornos mentais orgnicos, inclusive os sintomticos
F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substncias psicoativas
F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotpicos e delirantes
F30-F39 Transtornos do humor (afetivos)
F40-F48 Transtornos neurticos, somatoformes e os relacionados com o estresse
F50-F59 Sndromes comportamentais associadas a distrbios fisiolgicos e a fatores fsicos
F60-F69 Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto
F70-F79 Retardo mental
F80-F89 Transtorno do desenvolvimento psicolgico
F90-F98 Transtorno do comportamento e transtornos emocionais que aparecem habitualmente
na infncia ou na adolescncia
F99 Transtorno mental no especificado
Quadro 1 - Codificao e classificao dos transtornos mentais e comportamentais na CID-10 Fonte: OMS (1996, p.303).
Considerando-se que os componentes do grupo experimental do presente estudo so
pacientes com transtornos psicticos que utilizam antipsicticos de primeira gerao, casos
clnicos classificados na CID-10 como F10 a F19 e F20 a F29, pretende-se focar o referencial
terico nessas alteraes mentais.
As patologias codificadas como F10 a F19 renem os transtornos mentais e
comportamentais em consequncia do uso de substncias psicoativas. Esse agrupamento
compreende numerosos transtornos que diferem entre si pela gravidade varivel e pela
sintomatologia diversa, mas que tm em comum o fato de serem atribudos ao uso de uma ou
de vrias substncias psicoativas, prescritas ou no por um mdico (OMS, 1996). Essas
patologias renem esquizofrenia, transtornos esquizotpicos e transtornos delirantes que se
[...] apresentam, em geral, por distores fundamentais e caractersticas do
pensamento e da percepo e por afetos inapropriados ou embotados.
Usualmente mantm-se clara a conscincia e a capacidade intelectual, embora
certos dficits cognitivos possam evoluir no curso do tempo. Os fenmenos
psicopatolgicos mais importantes incluem o eco do pensamento, a
divulgao do pensamento, a percepo delirante, ideias delirantes de
controle, de influncia ou de passividade, vozes alucinatrias que comentam
ou discutem com o paciente na terceira pessoa, transtornos do pensamento e
sintomas negativos (OMS, 1996, p.16-17).
Os sintomas negativos da esquizofrenia listados por Arajo e Sena
(2011, p.225) so: afeto embotado, retraimento emocional, relacionamento empobrecido,
passividade, dificuldade de pensamento abstrato, falta de espontaneidade, pensamento
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14
estereotipado, alogia (restries na fluncia e na produo do pensamento e no discurso),
ateno prejudicada, anetonia (falta do prazer de viver). E os sintomas positivos: delrios,
alucinaes, discurso desorganizado, comportamento desorganizado, comportamento
catatnico, agitao.
Os transtornos esquizofrnicos afetam, aproximadamente, 1% da populao mundial
(com variao de 0,6% a 3%, dependendo dos critrios diagnsticos utilizados), no havendo
evidncia de diferena entre os sexos. Em estudo realizado em trs capitais brasileiras, Braslia,
So Paulo e Porto Alegre, em 1991, foram comprovadas prevalncias de 0,3% a 2,4% da
populao para psicose em geral (ALMEIDA-FILHO et al., 1997). Em relao carga global das
doenas, esses transtornos so responsveis por 1,1% dos anos de vida ajustados para
incapacidade (AVAIs) e por 2,8% dos anos de vida com incapacidade (AVIs), segundo a
Organizao Mundial da Sade (1996).
O termo psicose considerado de difcil definio e, ao longo da histria da
Psiquiatria, j foram registradas vrias tentativas de caracterizao dessa doena mental. A
American Psychiatric Association (DSM-IV) conceitua a psicose como uma perda dos limites
do ego ou um amplo prejuzo no teste de realidade (1994, p.65). Por convenincia, o adjetivo
psictico ainda utilizado na dcima reviso da Classificao estatstica internacional de
doenas e problemas relacionados sade. Psiquiatria e neurologia (CID-10) como um termo
descritivo, entretanto,
[...] o seu uso no envolve pressupostos acerca dos mecanismos
psicodinmicos, porm indica simplesmente a presena de alucinaes,
delrios ou de um nmero limitado de anormalidades de comportamento, tais
como: excitao e hiperatividade grosseiras, retardo psicomotor marcante e
comportamento catatnico (WANG; MINATOGAWA; TAVARES JR.,
2006, p.17).
Tanto o DSM-IV como a CID-10 classificam os transtornos psicticos a partir de
sintomas embasados no prejuzo funcional e na durao do quadro. Os sintomas dos transtornos
psicticos caracterizam-se em geral pela presena de delrios crenas falsas baseadas em
inferncias distorcidas da realidade, as quais no so compartilhadas pelo seu ambiente
sociocultural. As ideias de perseguio, de controle ou de referncia so exemplos comuns de
delrio. As alucinaes, por sua vez, so percepes sensoriais na ausncia de um estmulo
externo. As alucinaes auditivas constituem a modalidade mais frequente entre os quadros
psicticos. Nota-se a desorganizao psquica do paciente por meio das dificuldades no
desempenho das atividades da vida diria, atitudes inadequadas ao contexto (despir-se em
pblico, por exemplo) e, s vezes, agitao psicomotora (JAMELLI et al., 2010).
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15
Os sintomas psicticos constituem, os aspectos definidores dos quadros psicticos
nucleares. Nem sempre, porm, a presena de sintomas psicticos suficiente para indicar o
diagnstico de um quadro de natureza psictica. Tm sido observados progressos mediante a
compreenso da ao dos psicofrmacos, particularmente dos antipsicticos, sobre vrios
sistemas de neurotransmisso observadamente comprometidos nos quadros clnicos de
esquizofrenia considerada o prottipo das psicoses , que apresenta uma sintomatologia
constituda por delrios, alucinaes, comportamento desorganizado e alteraes do
pensamento (WANG; MINATOGAWA; TAVARES JR., 2006).
Dada a importncia da esquizofrenia (CID-10: F20) no contexto dos estudos sobre as
doenas mentais, apresenta-se, no Quadro 2, o detalhamento da subclassificao dessa
psicopatologia.
CID-10 - F20 Esquizofrenia
F20.0 Esquizofrenia paranoide
F20.1 Esquizofrenia hebefrnica
F20.2 Esquizofrenia catatnica
F20.3 Esquizofrenia indiferenciada
F20.4 Depresso ps-esquizofrnica
F20.5 Esquizofrenia residual
F20.6 Esquizofrenia simples
F20.8 Outras esquizofrenias
F20.9 Esquizofrenia no especificada
Quadro 2 - Codificao e classificao das esquizofrenias na CID-10
Fonte: OMS (1996, p.17-20).
As psicoses englobam a esquizofrenia e sndromes com ela relacionadas. As situaes
agudas correspondem s crises psicticas e tm mltiplas causas. A doena crnica caracteriza-
se pela recorrncia de surtos (em 75% dos indivduos acometidos) em intervalos com variao
de perodos de tempo. O tratamento realizado com prescrio de psicofrmacos, antipsicticos
que no se diferenciam muito em suas farmacodinmicas, mas diferem em seus efeitos adversos
(BRASIL, 2010).
A esquizofrenia uma doena neuropsiquitrica complexa, heterognea, debilitante,
que atinge 1% da populao mundial e est associada influncia mtua de fatores genticos e
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ambientais. concebida como um transtorno mental grave, que pode acometer tanto homens
quanto mulheres, cuja sintomatologia se manifesta, prevalentemente, por volta da adolescncia
ou no princpio da idade adulta, entre 15 e 25 anos nos homens e entre 25 e 35 anos nas
mulheres, em decorrncia do funcionamento anormal de determinados neurotransmissores,
dentre os quais se destaca a dopamina. A taxa de prevalncia da esquizofrenia entre homens e
mulheres indistinguvel, e no existe predileo por raa/etnia. A taxa de mortalidade oito
vezes maior do que a da populao em geral. Nos Estados Unidos, por exemplo, a esquizofrenia
a causa de 25% de ocupao dos leitos hospitalares. Alm disso, uma doena que tende a
impor altos custos sociedade, prejudicando a vida no s dos seus portadores como a dos seus
familiares, implicando desemprego, suicdios, baixa produtividade laboral e gastos expressivos
com o tratamento e as hospitalizaes (ARAJO; SENA, 2011).
A maioria dos esquizofrnicos reside fora do ambiente hospitalar e, geralmente, tem
acompanhamento teraputico nos servios substitutivos: os centros de ateno psicossocial
(CAPS), os day hospitals (os hospitais dia) e os ambulatrios dos hospitais psiquitricos.
Raramente, esses indivduos so estimulados para o cuidado da sade geral, e alteraes
cardiovasculares e respiratrias podem lev-los morte prematura.
A ateno sade bucal dos esquizofrnicos institucionalizados tem sido o mote de
diversos estudos em vrias partes do mundo, tais como: Itlia (ANGELILO et al., 1995);
Dinamarca (HEDE, 1995); Espanha (VELASCO-ORTEGA; BULLON, 1999); Brasil
(CARVALHO; ARAJO; CORREA, 2001); Inglaterra (MIRZA et al., 2001); Frana
(BERTAUD-GOUNOT et al., 2013); Venezuela (MORALES-CHVEZ; RUEDA-
DELGADO; PEA-OROZCO, 2014). No entanto, a avaliao da condio bucal de
esquizofrnicos que tm acompanhamento teraputico nos servios substitutivos e moram com
suas famlias ou em residncias teraputicas tem sido objeto de poucas investigaes,
destacando-se a realizada por Stiefel, Rolla e Truelove (1984).
A causa da esquizofrenia frequentemente referida como desconhecida, e o manejo
teraputico psicofarmacolgico ainda oferece ao limitada sobre aspectos expressivos da
doena, particularmente quando afetam a estrutura e a funcionalidade de vrias regies corticais
e subcorticais, tendendo a apresentar respostas refratrias ou caractersticas de evoluo
desfavorvel (KISELY et al., 2011).
Na caracterizao da fisiopatologia da esquizofrenia, as crescentes evidncias
funcionais e estruturais, dentre as quais se destacam o envolvimento de agentes
comprometedores da formao e da disposio sinptica, as indicaes de vulnerabilidade ao
estresse induzido e as repercusses de desequilbrio de carter imunolgico esto
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fundamentadas nos princpios da psiconeuroimunologia. A concepo clnica da esquizofrenia,
tradicionalmente atrelada observao de disfunes neuronais e ao comprometida de
neurotransmissores, tende a supor, tambm, o desempenho anormal de clulas da glia e a
contnua implicao de citocinas e glicocorticoides em mecanismos de desregulao
homeosttica (MOREIRA, 2003).
Considerando-se os objetivos do presente trabalho, h que se destacar as categorias
reunidas no Quadro 3, no qual esto listadas as codificaes das doenas mentais que requerem,
na abordagem teraputica medicamentosa, o uso de antipsicticos tpicos ou de primeira
gerao e sua classificao de acordo com o Diagnostic and statistical manual of mental
disorders (DSM-IV) em sua quarta edio e com a dcima reviso da Classificao estatstica
internacional de doenas e problemas relacionados sade, Psiquiatria e neurologia - CID-
10 (WANG; MINATOGAWA; TAVARES JR., 2006).
DSM-IV CID-10
295. xx Esquizofrenia F20 Esquizofrenia
295.40 Transtorno esquizofreniforme F21 Transtorno esquizotpico
295.70 Transtorno esquizoafetivo F22 Transtornos delirantes persistentes
297.1 Transtorno delirante F23 Transtornos psicticos agudos e
transitrios
298.8 Transtorno psictico breve F24 Transtorno delirante induzido
297.3 Transtorno psictico
compartilhado
F25 Transtornos esquizoafetivos
293.xx Transtorno psictico devido a
uma condio mdica geral
F28 Outros transtornos psicticos no
orgnicos
298.9 Transtorno psictico sem
outra especificao
F29 Psicose no orgnica no especificada
292.11
292.12
Transtorno psictico induzido
por substncia desconhecida
com delrios
Transtorno psictico induzido
por substncia desconhecida
com alucinaes
F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais
devido ao uso de substncias psicoativas
Quadro 3 - Codificao e classificao, no DSM-IV e na CID-10, de doenas mentais
cuja teraputica medicamentosa requer o uso de antipsicticos Fonte: Wang, Minatogawa e Tavares Jr. (2006, p.19).
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Dada a complexidade das subdivises da classificao dos distrbios mentais que sero
objeto deste estudo, que priorizou avaliar pacientes em cuja teraputica medicamentosa
estivessem prescritos antipsicticos tpicos, cabe ressalt-las, reunindo-se, no Quadro 4, os
Transtornos delirantes persistentes (F 22), os Transtornos psicticos agudos e transitrios (F
23) e os Transtornos esquizoafetivos (F 25), conforme a mencionada Classificao estatstica
internacional de doenas e problemas relacionados sade. Psiquiatria e neurologia (OMS,
1996).
CID-10 F22 Transtornos delirantes persistentes
F22.0 Transtorno delirante
F22.8 Outros transtornos delirantes persistentes
F22.9 Transtorno delirante persistente no especificado
CID-10 F23 Transtornos psicticos agudos e transitrios
F23.0 Transtorno psictico agudo polimorfo, sem sintomas esquizofrnicos
F23.1 Transtorno psictico agudo polimorfo, com sintomas esquizofrnicos
F23.2 Transtorno psictico agudo de tipo esquizofrnico (schizophrenia-like)
F23.3 Outros transtornos psicticos agudos, essencialmente delirantes
F23.8 Outros transtornos psicticos agudos e transitrios
F23.9 Transtorno psictico agudo e transitrio no especificado
CID-10 F25 Transtornos esquizoafetivos
F25.0 Transtorno esquizoafetivo do tipo manaco
F25.1 Transtorno esquizoafetivo do tipo depressivo
F25.2 Transtorno esquizoafetivo do tipo misto
F25.8 Outros transtornos esquizoafetivos
F25.9 Transtorno esquizoafetivo no especificado
Quadro 4 - Codificao e classificao de transtornos mentais na CID-10 Fonte: OMS (1996, p.21-25).
A doena mental transtorno esquizotpico, identificada como F21 na CID-10 um
transtorno caracterizado por um comportamento excntrico e por anomalias do pensamento e
do afeto que se assemelham quelas da esquizofrenia, mas no h em nenhum momento da
evoluo qualquer anomalia esquizofrnica manifesta ou caracterstica (OMS, 1996,
p.20-21).
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De acordo com Tesini (1981), os deficientes mentais representam uma parcela
substancial da populao nos Estados Unidos. Estima-se que 1% a 3% da populao americana
apresente algum tipo de deficincia mental, sendo diretamente dependentes do apoio dos pais,
dos responsveis ou de instituies criadas para sua assistncia. Os fatores etiolgicos natais ou
perinatais so os maiores responsveis por deficincias mentais, geralmente episdios de
hemorragia cerebral, traumas durante o parto, hipxia, prematuridade ao nascer, baixo peso do
recm-nascido e parto cesariano, atribudos, possivelmente, descompresso sbita com a
abertura do tero (ELIAS, 1995). As causas ps-natais so responsveis por 10% a 20% dos
casos de deficincia mental, podendo ser traumatismo craniano, hemorragias cerebrais,
hidrocefalia, infeces (encefalite e meningite) e fenilcetonria. Entre as formas de deficincia
mental mais prevalentes, destacam-se a paralisia cerebral e as sndromes de origem gentica,
sendo de todas a mais investigada a sndrome de Down ou trissomia do 21 (FOURNIOL
FILHO, 1981).
Os servios de sade mental no Brasil so limitados e de difcil acesso, principalmente
quando o paciente precisa recorrer ao sistema pblico de sade. o que revelou uma pesquisa
realizada de maro a junho de 2006 pela Associao Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria
com o Instituto Datafolha. O estudo ouviu 207 mdicos psiquiatras e 2.267 pessoas sobre a sua
percepo em relao ao atendimento de pacientes com transtornos mentais no pas. Entre os
mdicos entrevistados, 84% afirmaram que os servios da sua regio so limitados e no
atendem s necessidades da populao; apenas 16% consideraram satisfatrio o acesso ao
atendimento. Nove por cento da populao pesquisada revelaram j ter passado por algum tipo
de transtorno mental e, dessa parcela, 72% procuraram atendimento no sistema pblico de
sade; 23%, no sistema privado e 5% valeram-se dos planos e/ou seguros de sade (WANG;
MINATOGAWA; TAVARES JR., 2006).
No Estado da Bahia, as instituies para abrigar doentes mentais surgiram em 1874,
com a criao do Asilo So Joo de Deus, no Solar da Boa Vista, na cidade do Salvador,
embrio do futuro Hospital Psiquitrico Juliano Moreira. Do seu corpo clnico fazia parte o
cirurgio-dentista e, entre os procedimentos realizados, preponderavam as exodontias,
realizadas, quela poca, com e sem anestesia (JACOBINA, 1982).
Numa perspectiva histrica, as instituies para internao de pacientes com deficincia
mental foram criadas em 1850, sobretudo com o objetivo de trein-los para sua maior integrao
sociedade. Uma boa parte do tempo dentro dessas instituies era dedicado ao treinamento,
visando capacitao para o desenvolvimento das atividades da vida diria, ou seja, a sua
autonomia. Entretanto, esse modelo assistencial dispensado pelas instituies levou esses
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pacientes ao isolamento e perda da cidadania. Tal paradigma comeou a mudar a partir de
1980, quando se passou a dar uma maior nfase ao papel social desses indivduos, vistos como
seres humanos produtivos e capazes de encontrar prazer no seu desempenho.
As diferentes modalidades de ateno psiquitrica podem ter repercusses na sade
bucal, de acordo com ODonnell e Cohn (1984). A influncia da modalidade de tratamento
institudo para deficientes mentais na etiologia da doena periodontal, particularmente entre os
pacientes com retardo mental, foi avaliada por Brown e Shodel (1976) e por Tesini (1981), que
embasaram suas anlises em vrios estudos com alguns pontos em comum, em que foram
observados pacientes com retardo mental, hospitalizados ou no. O mtodo utilizado para o
diagnstico da doena periodontal foi o ndice periodontal preconizado por Russell, e a varivel
idade direcionou as correlaes. Em pacientes com retardo mental internados, os escores do
ndice periodontal de Russell foram mais altos do que os detectados em pacientes no
hospitalizados, e o fator idade no influenciou diretamente nos escores do ndice periodontal
determinado. A hospitalizao foi reconhecida como um fator que alterou negativamente o
status periodontal dos pacientes, tendo em vista a maior severidade da doena periodontal neles
diagnosticada.
Com base em vrios estudos experimentais em que foram avaliadas a prevalncia de
crie e de doena periodontal em pacientes especiais, Brown e Schodel (1976) salientaram que
a higiene bucal no era eficiente entre os pacientes com retardo ou deficincia mental,
constatando-se alta prevalncia de crie e de doena periodontal, gengivite de carter
inflamatrio, sendo menos frequente a gengivite hipertrfica. O papel desempenhado pela
internao contribua para afetar a progresso das doenas bucais, visto que quanto mais grave
o grau de comprometimento intelectual do indivduo, maior a precariedade de sua higiene bucal.
O fator dieta, controlado durante a hospitalizao, motivou apenas uma reduo na incidncia
de cries. Tais constataes levaram esses autores a indicar que a higiene oral desses pacientes
internados deveria ser supervisionada e adaptada sua realidade, j que os mtodos preventivos
usuais no surtiam efeito para pacientes com tais caractersticas.
As doenas bucais (crie e doena periodontal) atingem doentes mentais internados ou
no. Essas patologias podem ser detectadas em todas as fases da vida do indivduo, ou seja, da
infncia idade adulta, principalmente entre os portadores de retardo mental. Tesini (1981) faz
referncia a diversos trabalhos elaborados nos Estados Unidos, na dcada de 1960, com
pacientes internos e ambulatoriais, nos quais se refere que 74% das crianas com retardo mental
(QI 55) hospitalizadas tinham gengivite crnica. Ao revisar 18 desses artigos, o autor
constatou que, em quase todos, os ndices periodontais obtidos pelos pesquisadores
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apresentavam escores mais altos entre os pacientes internados, particularmente os escores de
ndices de placa e de clculo. A faixa etria dos pacientes observados variou de 2 a 75 anos de
idade, e os ndices periodontais aplicados nesses estudos foram o ndice periodontal de Russell,
o ndice de higiene oral e o ndice papilar, marginal e aderido (PMA) de Schour e Massler,
tendo-se determinado uma correlao positiva entre o ndice periodontal de Russell e o ndice
de higiene oral.
Inmeros fatores interferem, de modo interativo, no comprometimento da sade bucal
dos pacientes com doena mental hospitalizados, tais como o tempo de internao, o uso dirio
de medicamentos psicoativos, a dieta e a mudana no comportamento, influenciando sua
susceptibilidade a doenas bucais, entre as quais, a periodontal, que se configura como um dos
mais srios problemas que os afetam. Alm da higiene oral inadequada, que leva ao acmulo
de fatores irritativos locais, favorecendo o desencadeamento da doena periodontal, a
respirao bucal, o controle muscular ineficaz, dietas lquidas, o bruxismo, a contaminao
orofecal e o uso de drogas anticonvulsivantes alteram a microbiota do fluido do sulco gengival
dos pacientes internados, resultando num aumento percentual de Porphyromonas gingivalis,
bactria do complexo microbiano periodontopatognico. O quadro descrito culmina com a
progresso da doena periodontal, caracterizada pela destruio do periodonto de suporte, e
com a perda dental, agravadas, seguramente, pela inexistncia de programas preventivos de
sade bucal destinados aos pacientes hospitalizados.
Para a avaliao da higiene bucal em pacientes com doena mental, ODonnell e Cohn
(1984) utilizaram o ndice de higiene oral, tendo constatado no somente que o escore foi mais
elevado entre os pacientes internados, mas tambm a existncia de uma relao inversa entre
os graus de retardo mental e os nveis de higiene oral, ou seja, quanto menor o quociente de
inteligncia (QI) maior o escore do ndice de higiene oral. H que se registrar que os fatores
ambientais foram devidamente controlados nesse trabalho, sendo, portanto, o grau de retardo
mental o responsvel pela interferncia no escore daquele ndice. Alm disso, os autores
observaram que os pacientes apresentavam condies mais compatveis com a sade bucal
quando usufruam da assistncia familiar e sugeriram a implantao, nas instituies, de
programas educacionais para sade bucal que contemplassem no apenas os cuidados
preventivos dos pacientes hospitalizados, como tambm daqueles tratados no regime
ambulatorial, com o envolvimento de toda a equipe multiprofissional, que, alm de ser
capacitada, deveria tambm orientar os familiares desses pacientes quanto aos cuidados
caseiros com a higiene bucal e a vigilncia na ateno s consultas peridicas visando ao
monitoramento.
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De acordo com Pires (2000), o modelo psiquitrico atual tende desospitalizao da
maioria dos indivduos levemente retardados e daqueles com retardo moderado, que conseguem
adaptar-se e socializar-se, o que lhes permite uma adequada qualidade de vida. Numa
perspectiva interdisciplinar, os profissionais se empenham cada vez mais em promover a sade
desse segmento de pacientes, visando a otimizar a sua integrao sociedade e a facilitar o seu
cotidiano. instituio caberia viabilizar o aprendizado e contribuir para o resgate da
cidadania, o que s seria possvel com a desospitalizao dos deficientes mentais. A equipe
multiprofissional envolvida com o tratamento entende que a famlia deve se responsabilizar
pelo paciente, assumindo no apenas a administrao das medicaes prescritas, como tambm
o cuidado com a higiene do seu familiar (BAHIA, 2009).
No Estado da Bahia, a Secretaria da Sade, por meio da Comisso Tcnica de Reforma
Psiquitrica, est gerenciando o Programa de Sade Mental, que visa a consolidar a mudana
no paradigma da ateno sade mental, com a perspectiva de assegurar um servio mais
humanizado, capaz de resgatar a cidadania do paciente acometido de transtornos mentais e
comportamentais e integr-lo sociedade. Uma multiplicidade de servios substitutivos em
sade mental surgiu a partir dos anos 1980, tais como o Centro de Ateno Psicossocial
(CAPS), o Ncleo de Assistncia Psicossocial (NAPS), lares abrigados, hospitais dia, que
devero substituir os espaos caticos resultantes da inadequao do modelo manicomial
(BAHIA, 2009).
5.2 PSICOFRMACOS
Segundo Wang, Minatogawa e Tavares Jr. (2006), o tratamento das alteraes mentais
classificados na CID-10 como F10 a F19 e F20 a F29 (Quadro 1), envolve, geralmente, a
prescrio de psicofrmacos e abordagens psicossociais. Nesses casos, a teraputica
medicamentosa representada pelo uso de antipsicticos tpicos (ApTs) ou de primeira gerao
e atpicos (ApAs) ou de segunda gerao, que atuam sobre o sistema nervoso central, tambm
conhecidos como neurolpticos ou tranquilizantes maiores, que, embora no se diferenciem
muito em sua atividade antipsictica, diferem em seus efeitos adversos. Segundo esses autores,
esses medicamentos so muito eficazes em casos clnicos com sintomas de delrios,
alucinaes, comportamento desorganizado e alteraes do pensamento. Os antipsicticos so
os psicofrmacos indicados para o tratamento das psicoses e exercem sua ao nos receptores
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de dopamina D1, D2, D3, D4 e D5, sendo os receptores D2 ativados pelas fenotiazinas e
butirofenonas.
Os receptores de serotonina 5HT2A so outra rea de atuao dos antipsicticos. Uma
droga antipsictica pode ter sua ao suplementada por um segundo agente de diferente grupo
farmacolgico, se o seu efeito no tratamento no obtiver sucesso. Dentre os agentes
suplementares destacam-se o ltio, a carbamazepina (nome comercial Tegretol) e os
benzodiazepnicos (Mc CREADIE et al., 2004.)
Os APs so usualmente classificados em dois grandes grupos: (i) APs de primeira
gerao, tpicos ou convencionais, representados por antagonistas da dopamina (D2);
inicialmente, foram utilizados os derivados das fenotiazinas (como a clorpromazina) e,
posteriormente, nos anos 1950, foram introduzidos os derivados das butirofenonas (como o
haloperidol); (ii) APs de segunda gerao, atpicos ou de nova gerao. O termo atpico
descreve alguns APs dotados de caractersticas especificas tais como efeitos extrapiramidais
mnimos, pouca sedao ou rpida dissociao de receptores D2; postula-se que essas
propriedades decorram do bloqueio de receptores serotoninrgicos e dopaminrgicos
(FRIEDLANDER; MARDER, 2002).
Na seleo da terapia para o tratamento das psicoses e dos transtornos mentais e
comportamentais causados pelo uso de substncias psicoativas, devem-se cotejar os riscos e os
benefcios da opo teraputica continuada, quando os antipsicticos atpicos forem a
medicao de primeira escolha, considerando-se seu custo mais elevado do que os
convencionais (WANNMACHER, 2004).
Conforme esclarecimentos da Comisso de Farmcia e Teraputica do Hospital
Psiquitrico Juliano Moreira (CFT-HPJM), os medicamentos, de modo geral, so padronizados,
segundo a Portaria MS 3916-30/10/98, como medicamentos essenciais, medicamentos
excepcionais e reserva tcnica. Os antipsicticos tpicos ou de primeira gerao esto includos
na categoria de medicamentos essenciais, considerados bsicos e indispensveis para atender a
maioria dos problemas de sade mental da populao. Os antipsicticos atpicos ou de segunda
gerao so categorizados como medicamentos excepcionais, geralmente de custo elevado,
utilizados em doenas raras, cuja dispensao atende a casos especficos. Os medicamentos
includos na categoria reserva tcnica so prescritos em casos especiais, analisados pela
Comisso de Farmcia e Teraputica e pela Diretoria Clnica da instituio.
No Quadro 5, esto agrupados os antipsicticos tpicos ou de primeira gerao dos
grupamentos farmacolgicos das fenotiazinas e das butirofenonas, considerando-se seus grupos
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especficos, nomes comerciais e apresentao farmacutica, conforme o Formulrio
teraputico nacional 2010 (BRASIL, 2010).
Grupo Fenotiazinas Nome comercial Forma farmacutica
Cloridrato de clorpromazina Amplictil
Longactil
Comprimido 25 mg, 100 mg
Soluo oral gotas 40 mg/mL
Soluo injetvel 5 mg/mL-amp 5 ml
Maleato de levomepromazina Neozine Comprimido 100 mg
Enantato de flufenazina Flufenan Depot
Anatensol Depot
Soluo injetvel 25 mg/mL-amp 1 ml
Cloridrato de flufenazina
Flufenan
Diserim
Comprimido 5 mg
Soluo injetvel 25 mg/mL-amp 1 ml
Cloridrato de tioridazina Melleril Drgea 10, 25, 50, 100 mg
Comprimido liberao prolongada 200 mg
Soluo oral 3% (30mg/mL)
Cloridrato de trifluoperazina Stelazine Comprimido 5 mg
Propericiazina Neuleptil Comprimido 10 mg
Soluo oral 4% (30mg/mL)
Grupo Butirofenonas Nome comercial Forma farmacutica
Haloperidol Haldol Comprimido 1 mg, 5 mg
Soluo oral 2 mg/mL
Soluo injetvel 5 mg/mL-amp 1 ml
Haloperidol decanoato Haldol Depot Soluo injetvel 50 mg/mL-amp 1 ml
(forma injetvel de depsito)
Difenilbutilpiperidinas
Penfluridol
Pimozida
Semap
Orap
Comprimido 20 mg
Comprimido 1mg, 4 mg
Outros: Sulpirida
Dogmatil
Equilid
Comprimido 200 mg
Soluo oral gotas 30 mL
Comprimido 200 mg
Cpsula 50 mg
Quadro 5 - Fenotiazinas e butirofenonas, nomes comerciais e formas farmacuticas Fontes: Wang, Minatogawa e Tavares Jr. (2006); Brasil (2010).
O representante mais estudado dos psicofrmacos aplicados no tratamento das psicoses
a clorpromazina (cloridrato de clorpromazina), do grupamento farmacolgico das
fenotiazinas, nome comercial Amplictil, mas a eficcia dos congneres semelhante, sem prova
de superioridade clnica relevante para nenhum deles. A clorpromazina tem indicaes em
surtos psicticos e na agitao psicomotora, graas aos seus efeitos sedativos (LEUCHT et al.,
2010). Uma reviso de dez estudos realizada por Almerie e outros (2010) demonstrou que
pacientes controlados que receberam clorpromazina na fase aguda devem dar continuidade ao
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tratamento, uma vez que a incidncia de recadas menor do que nos pacientes que
suspenderam o tratamento. A clorpromazina permanece como um dos medicamentos mais
prescritos para o tratamento da esquizofrenia, tendo efeitos adversos moderados. Uma reviso
sistemtica (n=794 artigos) concluiu que essa substncia responsvel por efeitos como
hipotenso, ao passo que o haloperidol, do grupo das butirofenonas, ocasiona distrbios de
movimento (LEUCHT, 2010).
No grupo das fenotiazinas destaca-se o maleato de levomepromazina, nome comercial
Neozine, apresentado para uso oral na forma de comprimido. Alm da ao antipsictica, esse
psicofrmaco tambm ansioltico, sedativo e antilgico. Sua ao farmacodinmica, como
antipsictico, o bloqueio dos receptores D2 ps-sinpticos da dopamina. Entre os efeitos
colaterais destacam-se hipotenso, efeito extrapiramidal fraco ou mdio e efeito anticolinrgico
mdio ou forte, mas, como as outras fenotiazinas, suprime o reflexo da tosse e aumenta a
concentrao de prolactina, o que inviabiliza seu uso em gestantes e em mulheres na fase de
amamentao. Entre as reaes adversas que podem ocorrer com o uso desse psicofrmaco,
mas sem incidncia definida, esto listadas: alterao de peso corporal, alteraes
hematolgicas, boca seca, leses na mucosa bucal, e sndrome neurolptica maligna. Wang,
Minatogawa e Tavares Jr. (2006) sugerem o acompanhamento odontolgico, o uso de
medicamentos/alimentos que possam aliviar a secura da boca, alertam para o cuidado na
realizao de procedimentos invasivos, atentando para a seleo dos anestsicos locais e para
as medicaes prescritas no ps-operatrio.
O cloridrato de tioridazina, nome comercial Melleril um dos antipsicticos tpicos do
grupo das fenotiazinas, psicofrmaco de uso oral apresentado na forma de drgea, soluo e
comprimido de liberao prolongada. Indicado para psicose, demncia (em idosos),
dependncia alcolica e distrbios de comportamento (em crianas). Tem fraco efeito colateral
extrapiramidal, mas tem efeitos anticolinrgicos de moderados a fortes, sendo tambm
hipotensor e sedativo. Outros efeitos colaterais so a supresso do reflexo da tosse, o aumento
na concentrao da prolactina e o cardiotxico; em alguns pacientes, h ganho de peso. O uso
do Melleril na gravidez no seguro, e sua administrao requer cuidados na fase de
amamentao. As reaes mais comuns durante o uso desse psicofrmaco, mas sem incidncia
definida, so dermatolgicas, gastrointestinais e boca seca, recomendando-se a necessidade de
um controle mecnico eficaz da placa bacteriana e visitas peridicas ao dentista (BRASIL,
2010).
No grupo das butirofenonas, destaca-se o haloperidol, nome comercial Haldol, que tem
demonstrado eficcia na reduo de recadas, aumentando o denominado turnover de dopamina
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no crebro. Embora possa ser prescrito em surtos agudos, tem sido preferencialmente
empregado no tratamento de manuteno, quando se mostra eficaz, mesmo apresentando efeitos
adversos extrapiramidais (WANNMACHER, 2004). Sua forma de decanoato permite
administrao a intervalos maiores e, sendo injetvel, suprime a necessidade da cooperao de
pacientes que no aceitam o tratamento. Reviso sistemtica de um ensaio clnico randomizado
realizada por Quraishi, David e Brasil (2010) no identificou diferena de eficcia entre o
decanoato de haloperidol e o haloperidol oral ao fim de quatro meses. Cerca de um tero dos
pacientes com esquizofrenia resistente ao tratamento com antipsicticos convencionais,
especialmente aqueles com sintomas negativos embotamento afetivo, dificuldade de
julgamento, depresso e falta de estmulo. A preparao de depsito de haloperidol para uso
intramuscular pode ser empregada na manuteno de pacientes cuja adeso ao tratamento via
oral no possvel. A reduo brusca deve ser evitada; a retirada deve ser gradual e requer
acompanhamento para evitar recada (YALTIRIK; KOCAELLI; YARGIG, 2004). O uso do
haloperidol est associado distonia aguda, acatisia e ao pseudoparkinsonismo sintomas
extrapiramidais assim como sedao, hipotenso e a efeitos anticolinrgicos. Alm disso,
foram relatadas alteraes hematolgicas, tais como agranulocitose e leucopenia, e efeitos
cardiotxicos (BRASIL, 2010).
Os antipsicticos convencionais incluem as fenotiazinas, como a clorpromazina, quando
h necessidade de sedao, e as butirofenonas, como o haloperidol, prescritas no tratamento da
fase aguda, quando predominam os sintomas produtivos, e na fase de manuteno. Como esses
psicofrmacos induzem efeitos adversos, novos frmacos os antipsicticos atpicos foram
introduzidos, tais como a risperidona, com a inteno de aliviar os sintomas e melhorar a
qualidade de vida dos usurios, com o mnimo de efeitos adversos (WANNMACHER, 2004).
Uma meta-anlise de 52 ensaios clnicos randomizados, com um total de 12.649
pacientes esquizofrnicos comparou os antipsicticos convencionais a antipsicticos
atpicos, incluindo a risperidona, demonstrando a eficcia e a segurana similares entre eles
(GEDDES et al., 2000). Assim, segundo Wannmacher (2004), o tratamento das psicoses,
particularmente da esquizofrenia, pode ser realizado preferencialmente com o emprego de
antipsicticos tradicionais, reservando-se os atpicos para situaes especiais, em que haja
sintomas negativos ou de refratariedade ou intolerncia ao tratamento convencional,
justificando-se, assim, seu enquadramento na padronizao regulamentada pela Portaria MS
3916-30/10/98 como medicamentos excepcionais. Os antipsicticos atpicos (risperidona,
clozapina, quetiapina, ziprasidona e olanzapina) so geralmente prescritos nos casos de
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esquizofrenia refratria, conforme o Protocolo Clnico e Diretrizes Teraputicas anexo
Portaria MS/SAS n 846, de 31 de outubro de 2002 (BRASIL, 2002).
A risperidona um dos antipsicticos atpicos e, no tratamento da esquizofrenia, sua
prescrio est condicionada a situaes em que haja resistncia ao tratamento com os
antipsicticos tpicos. Esse frmaco apresenta menos efeitos sedativos e extr