aspectos sociocognitivos do processamento da leitura

23
Jorge Arbach

Upload: terezinha-barroso

Post on 21-Dec-2014

2.103 views

Category:

Education


2 download

DESCRIPTION

Mestrado Profissional Gestão e Avaliação da Educação Pública - UFJF/FACED/CAED - Aula presencial - Linguagem e suas Tecnologias II

TRANSCRIPT

Jorge Arbach

Para o professor leitor ... Qual minha relação com a leitura? Que espaço a leitura ocupou em minha vida de estudante?

Através de quem vem meu (des)gosto pela leitura? Que dificuldades encontrei como leitor aprendiz? O que li quando estudante? O que leio hoje? De que tempo disponho para a leitura?Para o professor de leitura... (o incentivador de leituras) Que concepção de leitura sustenta minha prática pedagógica? Como a leitura está presente em minhas aulas ? Que espaço reservo às atividades de leitura ? Meus alunos gostam de ler ? O que meus alunos leem e para que leem? Meus alunos frequentam a biblioteca da escola? Sob que

orientação? Conheço as preferências de leitura de meus alunos?

Meus alunos não sabem ler. Meus alunos não gostam de ler. Meus alunos não têm hábito de ler. Meus alunos não compreendem o que leem.

PARA DESENVOLVER A COMPETÊNCIA LEITORA , A ESCOLA DEVE, PRIMEIRAMENTE, REVER SEUS CONCEITOS SOBRE LEITURA, BUSCANDO RESPOSTAS A SEGUINTES QUESTÕES:

Qual a concepção escolar de leitura? Qual a concepção escolar de texto? O que fazemos quando lemos? (Por uma concepção de

leitura e de produção do sentido como interlocução)

Leitura como decodificação: ênfase em atividades de interpretação por meio de cópia, pareamento entre a informação gráfica da pergunta e sua forma repetida no texto, exercícios de vocabulário descontextualizados.

Leitura como pretexto para aula de falação: abandona-se o texto, o ponto de vista do autor, sua intenção e pistas usadas para construir o texto, a favor de discussão de opiniões pessoais sobre o tema. A discussão prescinde do texto.

Leitura como avaliação: aferição da capacidade do aluno de estabelecer relações fonortográficas, pronúncia adequada, uso dos sinais de pontuação; a aula de leitura se reduz à aula de leitura em voz alta ou a provas de avaliação de leitura de obras literárias.

Texto como um conjunto de elementos gramaticais - pretexto para o estudo de gramática – visão formalista de língua

Consequência: aborda-se o texto como conjunto de classes gramaticais e funções sintáticas, de frases, de orações, de sílabas e palavras; abandona-se o texto como interlocução como forma de ação situada e partilhada.

Texto como repositório de mensagens e informações - resultado de um conjunto de palavras, cujos significados devem ser extraídos, um a um, para se chegar ao sentido global. O significado antecede a leitura.

Consequência: formação de leitor passivo, que não ultrapassa o dito, não lê as entrelinhas, que não interage com as pistas fornecidas pelo autor, que se apóia apenas no conhecimento linguístico para construir significados.

Concepção mecanicista de leitura (ler = análise de elementos discretos disponíveis na superfície textual). Leitura como mera decodificação de letras em fonemas.

Concepção objetivista /formalista de língua e linguagem e de construção do sentido.

Concepção autoritária de leitura: propõe uma única forma de abordar o texto e uma única interpretação possível para se chegar ao significado.

A contribuição do aluno (conjunto de conhecimentos prévios) é dispensável à construção do significado.

A avaliação do desempenho da leitura se pauta pelo grau de proximidade ou distanciamento entre a leitura do aluno e a interpretação autorizada pelo professor/livro didático.

Um ritual /roteiro controla as aulas de leitura

Nenhum significado se constrói plenamente, partindo-se apenas do que é perceptível aos olhos.

A leitura não é um atividade meramente visual. A leitura tem uma dimensão cognitiva e social.

Exemplos:

PETECA - PARALELEPÍPEDO – ESTASIBASIFOBIA

“NÃO ME SEQUESTRE. SOU PROFESSOR”

decodificação construção de coerência

Relação inversamente proporcional entre IV e INV: leitura de textos técnicos X leitura de uma notícia de jornal, leitura de placas depredadas em rodovias.

O cérebro não vê o que os olhos percebem – os olhos captam informação visual, mas é o cérebro que “vê”.

Ver é algo episódico – movimento ocular na leitura não é linear e contínuo; ao contrário: saltos rápidos e irregulares - sacadas (scanning).

Capacidade de armazenamento de informação visual do cérebro – MCP/ de trabalho (verbatim) 5 a 9 unidades; MLP (informação recodificada, perde-se o literal, fica o semântico).

Fatiamento na leitura agiliza o processamento das informações na memória (chunks):

“Uma igreja sem ostentação pode entender melhor a pobreza.”

PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO NÃO VISUAL

Nosso conhecimento de mundo está organizado em tipos de enquadramento que fazemos do mundo – esquemas conceptuais / modelos cognitivos. Nosso conhecimento sobre o mundo está coerentemente organizado estruturado, o que nos possibilita uma economia cognitiva para a compreensão do mundo

  Conhecimento informalmente adquirido, por meio de

experiências pessoais e socioculturais que autorizam o leitor a: construir expectativas, fazer inferências, pressuposições.

RELAX ACOMPANHANTES LUANA LOIRA O. AZUIS *****Ex-miss só para executivos. At. Flat no Jardins R$500 (11)7366-3438.

(O ESTADO DE S.PAULO)

Proposta indecenteA modelo internacional Cássia Ávila recebeu o troféu-proposta-indecente-do-ano. Após sua participação num talk show, em BH, a modelo recusou uma proposta milionária para pousar nua na Playboy. Não se desesperem. Seu dia de Demi Moore ainda pode chegar. (Revista Isto É)

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=0FCNfeBUhBI

Conhecimento implícito, que faz com que falemos uma língua como nativos. Conhecimento de base morfológica, sintática, lexical, fonológica, ortográfica, semântico-pragmática e discursiva.

Capacidade de criar palavras novas a partir de outras já existentes e de compreendê-las, por mecanismos de formação produtivos na língua: propinoduto; pilantropia; malufar; mensalão, valerioduto, privataria.

Uso de estratégia de leitura por conhecimento instantâneo e não por análise e síntese – agrupamento das palavras em partes significativas:

“A primeira vez que pintei meu pai não concordou com meu novo visual.”

“Mulher baleia vizinha.”

 

Conhecimento sobre a forma de organização discursiva, relativamente estável, dos enunciados de uma língua nas diferentes esferas sociais de comunicação - gêneros textuais: sua organização composicional, seu conteúdo temático, estilo e objetivos comunicativos.

Capacidade de perceber a escolha de um determinado gênero de texto como decisão estratégica do autor, para provocar uma dada ação de linguagem, em uma dada situação comunicativa.

Reconhecimento do caráter multimodal dos gêneros discursivos; múltiplas semioses participam da construção do sentido: signos verbais, sons, imagens estáticas e em movimento, nos ambientes impresso e digital (hipertexto, blog, redes sociais).

Concepção equivocada de leitura. Limitação do conceito restrito ao impresso.

O não tratamento do caráter muldimodal ura em seus aspectos multimodais

Total transferência da responsabilidade de ensinar a ler e de formar leitores aos professores de Língua Portuguesa.

Professores não leitores atuam na tarefa de formar leitores. O desconhecimento por parte do professor do repertório de

leitura do aluno e seu interesse por temas e gêneros. Escolarização da leitura - responsável pelo caráter árido,

mecânico e sem significação do ato de ler na escola. Leitura como pretexto: ler e copiar, ler e responder a perguntas de interpretação e vocabulário, ler e sublinhar palavras para classificação de termos gramaticais. Ler por ler???? Por prazer??? Pra se informar???

Ausência de biblioteca escolar ou de bibliotecas de sala de aula /baixa frequência à biblioteca.

é capaz fazer previsões sobre o conteúdo e intenções do texto; formula perguntas enquanto lê e se mantém atento

(autocontrole); seleciona índices relevantes para a compreensão; supre os elementos ausentes, complementando informações; faz inferências e antecipa fatos; tem postura crítica; reformula hipóteses; estabelece relações com outros aspectos do conhecimento; transforma ou reconstrói o texto lido; atribui intenções ao autor. saber atribuir sentido às múltiplas semioses que participam da

construção d sentido

Ampliação do conceito de texto e de leitura Estratégias metacognitivas de leitura são objeto de ensino na

escola: ler com objetivo, levantar hipóteses, buscar confirmação de hipóteses com apoio em pistas (suporte, gênero, leitor pretendido, propósito comunicativo, expressões linguísticas).

Material de leitura apoiado em informação não visual (múltiplas semioses) de domínio do aluno – previsão e inferências levam à construção do sentido do texto.

O contato com variedades de gêneros de texto e abordagem dos aspectos multimodais da leitura leva à construção de um leitor mais versátil.

O uso sistemático da biblioteca – empréstimo semanal de livros: feira de livros , trocas entre os próprios alunos .

RESUMINDO

Leitura é processo cognitivo, individual e social de construção de sentidos, produzido por sujeitos sociais inseridos em um tempo histórico, numa dada cultura, com base na interação entre instruções do texto (pistas linguístico-discursivas e/ou visuais) e informações já arquivadas e estruturadas na memória.

PORTANTO: o sentido não é propriedade do texto; não está pronto em sua superfície, mas depende de um sujeito que o processe.

Cafiero, Delaine. Leitura como processo: caderno do formador. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005.

Chartier, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. [São Paulo] Imprensa oficial do Estado de SP: Editora UNESP. 1998.

Kleiman, Angela. Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas, SP: Pontes, 1992

______________. Oficina de Leitura: teoria e prática. Campinas, SP: Pontes. 1993. Disponível em: http://www.4shared.com/office/9ijbQ-Aw/kleiman_angela_-_oficina_de_le.html

______________ & Moraes, Silvia Elizabeth. Leitura e interdisciplinaridade: projetos na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1999.

Koch, Ingedore Villaça & Elias, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto. 2007.

Liberato, Yara & Fulgêncio, Lúcia. É possível facilitar a leitura: um guia para escrever claro. São Paulo: Contexto,2007.

Quando percebi, tudo já havia acontecido. O rádio ficou mudo e, apesar de mais pessoas estarem por perto, lá estava eu, sozinho, com os meus pensamentos....O frio que eu sentia era diferente. Entrava pela pele e doía nos ossos, fazendo meu corpo todo tremer. Desapertei a gravata e tirei o paletó. Tentei manter a calma e abri lentamente a janela. Com muito esforço saí, mas não conseguia perceber exatamente onde eu estava. Meus movimentos eram lentos e desajeitados....Já não me importava com coisas materiais... meus documentos, dinheiro, meu carro ou qualquer coisa assim. Consegui tirar os sapatos, que me incomodavam muito e tentei me dirigir para a única direção, onde, provavelmente, encontraria um poste. Foi quando vi a mulher tentando pegar um cachorro: comecei a rir sem parar e apoiei meu corpo cansado em cima de um muro. Passou por mim um garoto assustado puxado por seu pai, um guarda com uma velhinha e um rapaz tranquilo que, aparentemente, me conhecia, pois disse um “oi, tudo sob controle aí?”, e foi embora.Nesse momento, comecei a entender como o trágico mora perto do cômico! Aos poucos consegui chegar a uma padaria que recebia quase todo mundo que escapava. Tomei um conhaque e, como com brasileiro, fiquei trocando ideias e procurando soluções para os problemas do mundo com meus novos amigos... (Cócco e Hailer, 1994, p.28)