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Associação Nacional de História Núcleo Regional São Paulo XVII Encontro Regional de História – “O Lugar da História” Campinas, 06 a 10 de setembro de 2004 – IFCH, UNICAMP Descobrimentos no alto Amazonas. Crônicas e Relatos na colonização da América 1 . Juliana de Castro Pedro 2 O itinerário aqui proposto tem como ponto de partida a inserção da América no universo cognitivo europeu. Falo do se convencionou denominar “descobrimento da América”. Ressalto que a descoberta da qual falo só se conforma enquanto descoberta, no sentido estrito da palavra, do ponto de vista da ignorância européia 3 . Para esta reflexão, não me deterei ao ponto factual, ou seja, a descoberta em si, minhas inquietações se colocam na órbita do universo que se descortina a partir da descoberta. O que quero dizer é que o acontecer do descobrimento não se esgota no estabelecimento de suas coordenadas históricas e geográficas “a experiência factual vive das bastardias que promete”, ou seja, o vigor da idéia de descobrimento está justamente “na dificuldade de emparelhar-se com qualquer tipo de completeza (…) ele se quer 1 Pesquisa em andamento com financiamento da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e orientação do Prof. Dr. Fernando Torres Londoño. 2 Aluna do Programa de Estudos Pós-Graduados em História Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) – Mestrado. 3 Em ocasião das comemorações dos quinhentos anos de descobrimento das Américas estudiosos do mais variados campos das ciências sociais, dentre eles, historiadores, antropólogos, filósofos, lingüistas, se debruçaram numa rica discussão sobre o significados do descobrimento e a pertinência, ou não, da palavra descobrimento, para designar o encontro entre a Europa e a América. Pretendo recuperar este rico debate multidisciplinar que abre para questões que colocam em cheque a validade da idéia de descobrimento, bem como propõem a idéia de invenção da América ou ainda ocidentalização da mesma. Neste trabalho compartilho da visão de Leopoldo Zea, para o qual o uso da palavra “descobrimento” no contexto dos descobrimentos, coloca-se como válida apenas para aqueles que seguindo sua própria história e transcendendo sua geografia, se encontraram com algo que lhes era desconhecido, outro mundo, outra expressão de humanidade, não se aplicando deste modo ao suposto descoberto. ZEA, Leopoldo (org.). El descubrimiento de América y su sentido actual. México: Fondo de Cultura Economica, 1992, p.194.

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Associação Nacional de História Núcleo Regional São Paulo

XVII Encontro Regional de História – “O Lugar da História” Campinas, 06 a 10 de setembro de 2004 – IFCH, UNICAMP

Descobrimentos no alto Amazonas. Crônicas e Relatos na colonização da América1.

Juliana de Castro Pedro2

O itinerário aqui proposto tem como ponto de partida a inserção da

América no universo cognitivo europeu. Falo do se convencionou denominar

“descobrimento da América”. Ressalto que a descoberta da qual falo só se

conforma enquanto descoberta, no sentido estrito da palavra, do ponto de vista

da ignorância européia3.

Para esta reflexão, não me deterei ao ponto factual, ou seja, a

descoberta em si, minhas inquietações se colocam na órbita do universo que

se descortina a partir da descoberta. O que quero dizer é que o acontecer do

descobrimento não se esgota no estabelecimento de suas coordenadas

históricas e geográficas “a experiência factual vive das bastardias que

promete”, ou seja, o vigor da idéia de descobrimento está justamente “na

dificuldade de emparelhar-se com qualquer tipo de completeza (…) ele se quer

1 Pesquisa em andamento com financiamento da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e orientação do Prof. Dr. Fernando Torres Londoño. 2 Aluna do Programa de Estudos Pós-Graduados em História Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) – Mestrado. 3 Em ocasião das comemorações dos quinhentos anos de descobrimento das Américas estudiosos do mais variados campos das ciências sociais, dentre eles, historiadores, antropólogos, filósofos, lingüistas, se debruçaram numa rica discussão sobre o significados do descobrimento e a pertinência, ou não, da palavra descobrimento, para designar o encontro entre a Europa e a América. Pretendo recuperar este rico debate multidisciplinar que abre para questões que colocam em cheque a validade da idéia de descobrimento, bem como propõem a idéia de invenção da América ou ainda ocidentalização da mesma. Neste trabalho compartilho da visão de Leopoldo Zea, para o qual o uso da palavra “descobrimento” no contexto dos descobrimentos, coloca-se como válida apenas para aqueles que seguindo sua própria história e transcendendo sua geografia, se encontraram com algo que lhes era desconhecido, outro mundo, outra expressão de humanidade, não se aplicando deste modo ao suposto descoberto. ZEA, Leopoldo (org.). El descubrimiento de América y su sentido actual. México: Fondo de Cultura Economica, 1992, p.194.

essencialmente aberto, como que a ignorar para sempre o próprio sentido de

suas premissas” 4.O que interessa está em pensar todo o sentido que este

elemento pontual, a descoberta da América, possibilitou construir, e,

principalmente, como os sujeitos imbuídos na prática do descobrimento

trabalharam estas descobertas e as organizaram de acordo com o código

cultural que lhes era próprio.

Neste sentido, a América exigiu por parte dos europeus a elaboração de

um conjunto de práticas culturais associadas aos processos de descoberta que

dessem conta de abarcar o complexo e vastíssimo universo que se abria ante

seus olhos e que possibilitassem instaurar o domínio colonial sobre o Novo

Mundo. Repertório de práticas que diferiam profundamente em cada uma das

nações envolvidas no projeto colonizador. A reflexão da historiadora Patrícia

Seed no seu inspirador livro Cerimônias de Posse na Conquista Européia do

Novo Mundo, me orienta neste sentido. A autora nos chama a atenção para a

especificidade de cada uma das nações envolvidas nos processos de

colonização da América que já se manifesta no ato inaugural de posse: a

leitura do requerimento por parte dos espanhóis, a marcha em procissão para

os franceses, o fincar de cruzes e a observação astronômica para os

portugueses.“Cerimônias de posse” que diferiam substancialmente de nação

para nação e que por vezes revelam as relações que se estabeleceria com a

região, e os projetos políticos subjacentes5.

Seed identifica nas práticas cerimoniais de posse, cujas ações eram

fundadas por conjuntos distintos de atos expressivos - sinais culturais - a

principal forma de imposição do poderio colonial sobre a América. Atos que

sancionavam um domínio legítimo sobre o Novo Mundo. A autora não descarta

o aparato bélico europeu como elemento sustentador no processo de conquista

e colonização, no entanto, defende a idéia de que “(…) embora a força militar 4 BORNHEIM, Gerd. A descoberta do Homem e do mundo. In: NOVAIS, Adauto. A descoberta do homem e do mundo. São Paulo: Cia das Letras, 1998, p.17-18. 5 A autora alerta para as leituras historiográficas que por vezes tendem a homogeneizar as nações e uma única identidade: a Europa - como se existisse um único quadro político europeu do domínio colonial. A proposta da autora está em “uma abordagem que diferencie, em vez de homogeneizar, a Europa nos permite examinar as diferenças e também as semelhanças nos meios de criação da autoridade colonial sobre o novo mundo” SEED, Patrícia. Cerimônias de Posse na Conquista Européia do Novo Mundo (1492-1640). São Paulo: Ed. Unesp, 1999.p.11

tenha efetivamente assegurado o poder sobre o novo mundo, os europeus do

século XVI e XVII também acreditavam no seu direito de governar. E criaram

para si próprios esses direitos empregando palavras e gestos significativos que

algumas vezes precederam, outras vezes sucederam, e outras ainda

acompanharam a conquista militar. Mas estes gestos simbolicamente

significativos não foram sempre os mesmos”. 6 Torna-se evidente que

descobrir, ou descoberta, não comportam um só mesmo sentido.

Nesta acepção, a descoberta é apreendida de formas múltiplas, de

acordo com o código cultural de cada um dos grupos engendrados nos

processos de descobrimento e colonização da América. Repertório cultural que

vai sendo renovando, readaptado, ou mesmo gerado a partir das experiências

vivenciadas no âmbito da colonização. Ou seja, ainda que os europeus tenham

lido o novo continente através de referenciais próprios a sua cultura, acabaram

por outro lado, incorporando irreversivelmente elementos específicos das

culturas que procuraram subjugar7.

A imensidão territorial que o continente americano abriga e a

heterogeneidade de sua geografia - seus climas, suas vegetações, seus rios e

desertos -, bem como a diversidade cultural de suas populações nativas, exigiu

para cada espaço, novas estratégias de aproximação e conquista. Nesta

pesquisa nossa atenção estará focada nos processos de descobrimento e

colonização da região amazônica, e para os significados que estes movimentos

permitiram tecer no interior da colonização.

Na região amazônica, todos os conflitos inerentes ao processo

colonizador se depararam com um espaço geográfico que determinaria táticas

de ação e atuaria como fermento na construção de imagens e representações

deste universo. A selva e seus rios estavam postos como o cenário que

congregaria duas visões de mundo, duas formas de se relacionar e recriar este

espaço. De um lado o espaço conquistado, ordenado segundo a lógica 6SEED, Patricia. Cerimônias de Posse na Conquista Européia do Novo Mundo (1492-1640). São Paulo: Ed. Unesp, 1999.p.10. 7GRUSINSKI, Serge. La colonización de lo imaginario – Sociedades indígenas y occidentálización en el México español, siglos XVI-XVII, México: Fondo de cultura Económica, , 3° ed., 1995.

ocidental, em particular pelo tipo colonização européia, erigida a partir da

cidade8 agregadora dos ideais de civilização, ordem e domínio que se

contrapõe, por outro lado, à lógica da natureza vislumbrada como selvagem,

caótica, ameaçadora.

Os expedientes de descoberta e conquista desses espaços foram os

mais variados. Neste trabalho nos centraremos nas ações dos portugueses e

espanhóis, sem, no entanto, desconsiderar as pressões que as outras nações

– Holanda, Inglaterra e França – impuseram na disputa pelos espaços coloniais

amazônicos9. As investidas em território amazônico têm inicio já nos primeiros

decênios dos quinhentos.

Tendo consolidado suas bases na região andina, os castelhanos

realizaram expedições que lhes permitiram um conhecimento mais preciso das

regiões de planície e de floresta ao leste dos Andes. Foi a expedição de Alonso

de Mercadillo, em 1538, a primeira empreitada a entrar na Amazônia a partir

dos Andes. Um destacamento da expedição composta por vinte e cinco

homens, entre eles o português Diogo Nunes, passou do rio Huallaga ao

Marañón (ou Alto Amazonas) e desceu o grande rio pelo menos até chegar à

região situada entre Tefé e Coari, à época conhecida como “Província de

Machiparo”, hoje território brasileiro10. Diogo Nunes, que comandava o

deslocamento, tornou-se também o cronista da viagem. Seu relato escrito em

1553 e endereçado ao rei D. João III de Portugal, informa, ainda que de forma

sumária, as terras que havia descoberto, o aspecto geral da terra e do povo e a

possibilidade de existência de riquezas a serem exploradas e o esboço de uma

proposta de conquista para a região.

8 RAMA, Angel. A cidade das letras. São Paulo: Brasiliense, 1985. 9 REIS, Arthur Cezar Ferreira. A Amazônia e a cobiça internacional.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. 10 Antonio Porro informa que o itinerário da expedição de Alonso Mercadillo tem por única fonte o livro de Cieza de Léon (1554), e que uma reconstituição desse itinerário foi publicado por Jiménez de La Espada (1895). Segue as referências bibliográficas: PORRO, A. As crônicas do Rio Amazonas. Notas de etno-história sobre as antigas populações indígenas da Amazônia. Petrópolis: Vozes, 1993.Cieza de Léon, P. Guerras civiles del Perú. Tomo I: Guerra de Las Salinas. Gárcia Rico, Madrid, 1554. Jimenéz de la Espada, M. La jornada del capitán Mercadillo a los indios Chupachos e Iscaicingas. Boln Soc. Geogr. Madrid (37:197-120), 1895.

“Nesta província de Machifaro que eu vi se podem povoar cinco ou seis vilas mui ricas, porque sem dúvida há nela muito ouro (…) Esta terra está entre o rio Prata e o Brasil pela terra adentro. Por esta terra vem o rio grande das Amazonas, e na paragem desta terra tem este rio muitas ilhas no rio e bem povoadas e gente bem luzidia. E da outra banda do rio há muita povoação da mesma gente, de maneira que de uma banda e de outra está bem povoado.(…) Por este rio há de prover esta terra, porque podem ir navios por ele até onde se poderá povoar uma vila que seja porto e escala de toda esta terra (…)”.11

O relato de Diogo Nunes desde de então começa por identificar o curso

do rio Amazonas como via de penetração do continente, definindo a calha do

grande rio como eixo principal da expansão colonial. – via de ocupação e de

integração do continente aos domínios coloniais europeus. Os rios servem a

um só tempo, como vias de deslocamento dos homens e como referencias de

ordenamento de um espaço desconhecido12. Embora a floresta constitua, ao

lado dos rios o elemento dominante da paisagem amazônica, ela não se

prestou a definir ou configurar a região. Os rios atuam, a um só tempo, como

vias de deslocamento dos homens e como referência de ordenamento do

espaço desconhecido13. Desde das viagens, as descrições geográficas não

seriam mais do que itinerários, que subindo ou descendo o rio, relatavam as

características físicas e etnográficas de suas margens e a situação e o curso

de seus principais afluentes.

Se Diogo Nunes e seus companheiros forem os primeiros europeus a

navegar, em 1538, o Alto Amazonas, quatro anos mais tarde, o grande rio seria

percorrido em toda a sua extensão, por Francisco Orellana. A expedição

organizada por Gonzalo Pizarro, embevecido com as promessas de riquezas

logo à frente, contava com cerca de trezentos e quarenta soldados e mais

11 Diego Nunes, Apontamento do que V. A. quer saber ( carta a D. João III de Portugal). In: PAPAVERO, Nelson (e outros). O Novo Éden: A fauna brasileira nos relatos de viajantes e cronistas desde a descoberta do rio Amazonas por Pinzón (1500) até o tratado de Santo Idelfonso (1777). Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2000. 12 Na topografia simbólica das viagens imaginárias da Renascença, eram os cursos d’água que guiavam os viajantes em meio às densas florestas que representavam desorientação. SHAMA, Simon. Paisagem e memória, São Paulo Cia das Letras, 1996. 13COSTA, Kelerson Semerene. Homens e natureza na Amazônia brasileira: Dimensões (1616-1920). Tese de doutorado. UNB, 2002.

quatro mil índios14. Com saída de Quito em fevereiro de 1539 a viagem esteve

marcada por lances dramáticos. A falta de alimentos, as tantas deserções e

mortes pelo caminho exigiram de Gonzallo Pizarro a busca por uma alternativa

que pudesse sanar as agruras do grupo. A solução encontrada foi enviar uma

pequena tropa rio abaixo, para buscar socorro e alimentos para a campanha

que a essa altura, estava na confluência entre o rio Coca e Napo.

O comando da tropa foi confiado por Pizarro ao capitão Francisco de

Orellana. Começava a epopéia que duraria nove meses entre os anos de 1541

e 1542, que resultaria na primeira expedição a percorrer todo o rio Amazonas

até a sua foz, no oceano atlântico.Os detalhes da viagem foram narrados pelo

frei Dominicano Gaspar de Carvajal que acompanhou toda a viagem em sua

crônica intitulada Relación Del Nuevo Descubrimiento Del famoso Rio

Grande que Descobrió por Muy Gran Ventura el Capitán Francisco

Orellana15 .

A crônica de Carvajal aparece como um ensaio do papel que as crônicas

viriam a ganhar, ao inventar16, informar, recriar e divulgar a Amazônia. O relato

de Carvajal chama a atenção para uma prática que aparece sempre associada

às descobertas. A da escrita. Da descoberta resulta a redação de uma notícia –

sua materialização na escrita - com o fim de informar outrem, bem como,

instaurar a legitimidade da descoberta e identificar os seus descobridores.

Escrita que registra a descoberta e cristaliza a memória do descobrimento.

As primeiras expedições do século XVI produziram relatos que tiveram

repercussão como fundadoras da presença européia no Amazonas. São

registros escritos que carregam uma carga temática, uma leitura do universo

14 REIS, Arthur Cezar Ferreira. Síntese de História do Pará. Belém, amada, 2 ed.,1972 15CARVAJAL, Gaspar de. Relación Del Nuevo Descubrimiento Del famoso Rio Grande que Descobrió por Muy Gran Ventura el Capitán Francisco Orellana.Edición, introducción y notas de Jorge Hernández Millares. Fondo de Cultura Económica, México, D.F. 16 Neide Gondim trabalha com a idéia de a Amazônia foi inventada pelos europeus a partir do momento

em que passou a constar nos relatos dos primeiros descobridores. E inventada porque “a Amazônia real

não participava dos anseios dos homens que para ali foram em busca de riquezas”. PINTO, Neide

Gondim de Freitas. A invenção da Amazônia. Tese de doutorado em comunicação e semiótica, PUC-SP,

1992.

amazônico que não resulta apenas da dinâmica das águas e das florestas, mas

também das expectativas, idéias e representações, previamente concebidas

sobre a região amazônica.

Neste trabalho, meu esforço caminha no sentido de pesquisar os

processos de apropriação do território amazônico a partir da vigorosa

elaboração, no século XVII, do discurso da descoberta nos escritos sobre a

Amazônia. A pesquisa tem se orientado na investigação de como esses

discursos da descoberta vão sendo tecidos nas crônicas e relatos do século

XVII escritos sobre a Amazônia, considerando-os como construções culturais

que respondem as pressões, necessidades e expectativas forjadas no interior

do projeto colonial.

A Amazônia conta com um número significativo de crônicas escritas nos

séculos XVII, hoje impressas, que nos revelam, um intenso movimento histórico

de construção e apropriação de seu território17. A leitura dessas crônicas e

relatos mostra ser corrente a retomada do tema da descoberta. É flagrante

nestes relatos o esforço do cronista em cultivar a altivez do espírito de

descoberta em relação à mata, a flora, aos índios e, sobretudo, que este

espírito ecoe na história que se quer narrar e cristalizar.

Partindo da idéia que a descoberta é apreendida de formas múltiplas, de

acordo com o código cultural de cada um dos grupos engendrados nos

processos de descobrimento e colonização da América - repertório cultural que

vai sendo renovando, readaptado, ou mesmo gerado a partir das experiências

vivenciadas no âmbito da colonização - algumas questões são orientadoras: O

que significa descobrir para os diversos sujeitos imbuídos nos processos de

descobrimento? Quais os mecanismos de apreensão da descoberta? Qual a

força da palavra no âmbito da colonização da América? De que modo à

descoberta vai ser trabalhada no interior da colonização por conquistadores,

missionários e colonos, sobretudo, portugueses e espanhóis, como elemento

de legitimação da prática colonial e de construção de uma autoridade legal a

17 Destacamos a publicação de PORRO, Antônio. As crônicas do rio Amazonas – Tradução, introdução e notas etno-históricas sobre as antigas populações indígenas da Amazônia Petrópolis, Vozes, 1993; e a coleção Monumenta Amazônica. IIAP – CETA, Iquitos, Peru: Editorial Universo S/A.

partir dos direitos do descobridor? E, principalmente, o que supõe olhar, ou

melhor, informar a Amazônia enquanto descobrimento?

A produção do discurso da descoberta nas narrativas, no interior do

projeto colonial não nos aparece como um discurso neutro e destituído de

interesses. As narrativas de descobrimento à medida que buscam imprimir uma

memória da descoberta, materializada na crônica, também visa a identificar os

“verdadeiros” ou “legítimos” descobridores do espaço amazônico. Memória

disputada. Que gera versões da descoberta.

Parece-me que mais do que a própria viagem de descobrimento, são as

versões da viagem, que vão ganhar força no seio da disputa colonial pelo

direito da descoberta e vão se configurar no elemento legitimador a ação

colonizadora pautada no direito do descobridor. Versões que revelam os

diferentes sujeitos imbuídos na tessitura da prática colonial. Versões que

revelam projetos políticos subjacentes. Versões escritas que possibilitara,

enquanto documento /prova/ verdade estabelecer o que as sociedades

européias julgavam ser um domínio legitimo sobre o novo mundo. Quanto mais

se produz a respeito mais escancarada se apresenta a disputa, os empates e

as forças em jogo. Amazônia transformada em área de litígio. Um mundo a ser

apropriado.

Dentre as crônicas produzidas selecionei aquelas que acredito

evidenciar a tensão entre os interesses das coroas ibéricas para a região e que

trazem para seu centro questões relativas ao descobrimento18. Venho

trabalhando, sobretudo com as crônicas produzidas por jesuítas e franciscanos,

com exceção do relato de Pedro Texeira19 nomeada “Relazion del general

Pedro Tejeira de el rio de las Amazonas para el Sr Presidente” redigida em

Quito em janeiro de 1639 e endereçada ao presidente da Audiência de Quito.

18 A viagem de Orellana em 1542, à medida que percorreu todo o canal do rio Amazonas, abriu um caminho fluvial que possibilitou a comunicação entre espaços coloniais espanhóis e portugueses e estabeleceu a bases para o que me parece serem os elementos legitimadores da descoberta. A viagem e a escrita. As crônicas que selecionei trazem esses elementos. 19 TEXEIRA, Pedro. “Relazion del general Pedro Tejeira de el rio de las Amazonas para el Sr Presidente”. In: Jaime Cortezão”. O significado da expedição de Pedro Texeira à luz de novos documentos. Anais do IV congresso de História Nacional, Rio. IHGB 1950, 3:173-204; [1639]

Trata-se da relação da expedição comandada por Pedro Teixeira, que voltaria

a percorrer toda a extensão do rio Amazonas agora em sentido inverso a da

viagem de Orellana20.

Pelo que temos conhecimento a viagem produziu além do relato de

Pedro Texeira, a crônica “Descubrimiento del rio de las Amazonas y sus

dilatadas provincias: relación del descubrimiento del rio de las

Amazonas, hoy S. Francisco de Quito, y declaracion del mapa donde está

pintado”, do Padre jesuíta Alonjo Rojas.

Outra crônica que destacamos e a dos jesuítas Christobal de Acuña e

Andrés de Artieda nomeada “Nuevo descobrimiento del Gran Río

Maranõn”. O trabalho do padre Acuña surge em meio a uma situação

polêmica aberta pela chegada de Pedro Texeira em Quito e reforça a

percepção da disputa entre Espanha e Portugal sobre a Amazônia. Os

espanhóis alarmados de que os portugueses, conhecendo o caminho através

dos rios, pudessem colocar em risco a dominação espanhola na região, sentem

a necessidade imediata em navegar e mapear toda a extensão do rio

Amazonas. A viagem, pelo mesmo caminho anteriormente percorrido por Pedro

Teixeira, agora em sentido inverso, de Quito ao Pará, se apresentava para os

espanhóis como oportunidade de mapear aquela estrada fluvial, e suas

vizinhanças e fazer frente ao avanço Português e aos perigos que estes

representavam para o controle da região.

Os padres acompanharam entre fevereiro e dezembro do ano de 1639 o

capitão português Pedro Teixeira em sua viagem, através do rio Amazonas,

anotando todo o trajeto percorrido para dar relato ao rei da Espanha.O relato

de Acuña, com a riqueza de detalhamentos que oferece, no que se refere à

geografia do rio Maranhão, bem como à descrição minuciosa de sua natureza e

20 O comandante partiu de Belém do Pará em outubro de 1637, com “setenta soldados e mil e duzentos flecheiros e remadores indígenas, perfazendo com mulheres e escravos um total de duas mil pessoas, que se embarcaram em quarenta e cinco canoas”, os números não deixam de revelar o tamanho da empreitada. PAPAVERO, Nelson (e outros). O Novo Éden: A fauna brasileira nos relatos de viajantes e cronistas desde a descoberta do rio Amazonas por Pinzón (1500) até o tratado de Santo Idelfonso (1777). Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2000, p.139

dos grupos indígenas que habitavam suas margens, não aparece isento de

uma proposta de conquista para a região.

Intimamente ligados pela ocasião em que foram produzidas e também

pelo fato de Acuña ter incorporado em seu texto trechos inteiros retirados da

crônica de Alonso Rojas, as crônicas desses jesuítas dão conta da experiência

da viagem pelo rio Amazonas21. Existe tanta na crônica Acuña, como no relato

de Rojas, uma constante preocupação em chamar a atenção para a veracidade

do seu testemunho expresso no documento. Os cuidados com que o cronista

procura cercar seus relatos são demonstrativos da pretensão de que a sua

narrativa se aproxime o máximo possível da realidade ouvida, vista e visitada

por ele.

A viagem atribui autoridade ao testemunho e é na sua constante

afirmação que o autor de um relato pretende garantir a veracidade de seu

texto. Ao escrever “eu vi”, o autor, como afirma Michel de Certeau, fabrica e

sanciona “o texto como uma testemunha do outro”.

Leornado Olschki 22, num trabalho sobre as componentes do registro dos

viajantes, concentra-se na ação do descobridor em oposição à daquele que

apenas “encontra” algo diverso. Ele afirma que a descoberta acontece a partir

do momento em que a consciência transforma o pensamento e em palavra o

que é visto e, sendo assim, considera importante examinar quais os aspectos

naturais e humanos que atraem a atenção dos viajantes. A questão principal,

nesses casos – o autor analisa especificamente os relatos de Marco Pólo e de

Cristóvão Colombo – é identificar a razão da escolha que faz o viajante-

narrador do que é digno de ser considerado e descrito; escolha esta que pode

ter sua origem nos interesses práticos, na instrução, na educação espiritual, no

temperamento do viajante, ou na capacidade de expressar e observar.

Identificar a forma como foram apresentadas as terras descobertas e

21 Da mesma que esses escritos já esboçam estratégias de colonização a associação da Amazônia a imagem do paraíso terrestre, evocação de elementos paradisíacos, da fertilidade das terras, da temperança do ar, da abundância dos frutos, dos pescados, da caça, das resinas e da madeira, é freqüente na crônica dos autores. Para estas questões pretendo me apoiar nos trabalhos de Jean Delumeau, e no livro de Sérgio Buarque de Holanda Visão do Paraíso. 22 OLSCHKI, Leornado. Storia letteraria delle scoperte geografiche. Firenze: Leo Olschki editore, 1937.

exploradas ajuda a compreender o efeito que essas narrativas tiveram sobre o

imaginário e sobre iniciativas futuras dos homens da época. Ainda no âmbito das produções dos padres da Companhia de Jesus,

destaco o livro do jesuíta Manuel Rodriguez intitulado, El descubrimiento Del

Marañón23. Manuel Rodríguez constrói sua obra a partir da rica teia de

informações geradas no interior da Companhia de Jesus e do intenso fluxo de

troca de relatos e correspondências24. O esforço do cronista, em selecionar e

organizar as cartas e os relatos que chegavam à casa provincial de Quito, e

que serviriam de matéria prima para a elaboração de sua crônica, se insere

dentro de uma atividade para a qual a Companhia reservou cuidado especial: a

construção de sua memória25.

Rodríguez parte de uma elaboração linear de sua história e vai

identificando períodos que sucedem uns aos outros cronologicamente,

determinados segundo a evolução dos assentamentos de missões na região. A

sua incursão pelos primeiros descobrimentos empreendidos por espanhóis e

outras ordens religiosas em terras americanas, processo que ele nomeia de

“primeiro descubrimiento”, não se configura apenas como uma preocupação do

autor em situar seu leitor no ponto zero do processo de colonização da

América, mais especificamente, no processo de conquista do Peru. Ao dedicar

várias laudas de seu livro à atuação fracassada de Pizarro e seus sucessores

no processo de conquista da região do Alto Amazonas, Manuel Rodríguez

aponta uma a uma as deficiências e insucessos da operação, e começa por

sugerir um novo descobrimento para a região, agora sob a égide de novos

23 RODRÍGUEZ, Manuel. El descubrimiento Del Marañón, edicón, prólogo y notas de Angéles Durán, Alianza Editorial, Madrid, 1990, pg. 47. Segue em anexo um exercício de leitura da crônica, conforme solicitado pela disciplina seminário de pesquisa. 24 Manuel Rodríguez enquanto procurador geral das Províncias das Índia se serve de cédulas reais, cartas do rei da Espanha, cláusulas de nomeamento, cartas do vice-rei ao governador de Borja, memoriais, e relatos que chegavam à casa provincial de Quito, para a elaboração de sua história “del río Marañón”. 25TORRES LONDOÑO, Fernando no artigo, “Escrevendo cartas. Jesuítas, escrita e missão no século XVI”. In Tempos Sagrados. Revista Brasileira de História. Vol.22, n 43, 2002; examina a produção e troca de correspondências entre os padres jesuítas do século XVI e seus superiores e nos chama atenção para o estabelecimento de um padrão, a partir da escrita de Ignácio de Loyola, tanto para a elaboração de textos edificantes, quanto na definição de posturas e procedimentos que garantiriam o estabelecimento de um método missionário para a redução do infiel à fé católica e o controle da produção intelectual dos jesuítas.

personagens que acabariam por conferir um efetivo descubrimiento para a

região.

Para o autor, as investidas dos jesuítas em território Amazônico

acabariam por empreender um novo “descubrimiento” da região, que não

implica a idéia de novidade, de descoberta de algo inédito e sim, num

desvelamento para o mundo cristão do que até então estava encoberto, e que

se fazia mais urgente na circunstância de que se tratava de terras habitadas

por homens “que lo son, aunque casi parecen brutos los indios26”, ainda não

iluminados pela luz evangélica. Deste ponto de vista, o verdadeiro

“descobrimiento” só se efetivaria quando aquelas terras e aqueles povos

fossem tragados pelo mundo cristão-ocidental.

O que percebo por hora é que tanto no trabalho de Açuña, construído a

partir do seu próprio testemunho e experiência, quanto no trabalho de

Rodríguez, tecido com base na documentação elaborada pelos próprios

jesuítas e da transcrição de parte significativa do diário de Acuña, uma

preocupação em associar os novos territórios ao labor da Companhia de Jesus

e aos interesses da Coroa espanhola.

E finalmente, destaco a crônica escrita pelo Frei Laureano de la Cruz

Nuevo descobrimiento del rio de Marañon llamado de Amazonas hecho

por la religion de San Francisco ano de 165127, escrita em 1653, que vai dar

voz as reivindicações dos direitos dos franciscanos enquanto descobridores do

rio amazonas, abrindo frente também para o embate entre interesses jesuíticos

e franciscanos para a região. As crônicas produzidas por representantes das

ordens religiosas presentes na Amazônia Colonial apresentaram, de maneira

geral, um objetivo comum: compartilhar informações e propostas que

favorecessem o duplo processo de colonização e de catequese, entendidas

26 RODRÍGUEZ, Manuel. El descubrimiento Del Marañón, edicón, prólogo y notas de Angéles Durán, Alianza Editorial, Madrid, 1990, pg. 47. 27 A crônica de Laureano, segundo Antonio Porro, é o primeiro documento etno-histórico do alto amazonas ou depoimento de um europeu que viveu na região durante por muito tempo, em contato permanente com as populações indígenas. Sua abra relata as obstinadas tentativas feitas pelos frades franciscanos de catequizar os índios, as rivalidades entre as sua ordem e os jesuítas, as intrigas da corte em Quito, detalhes da viagem de Pedro Texeira entre outras coisas.

certamente como dois lados de uma mesma moeda (apesar da existência de

um complexo jogo de convergência e divergências entre representantes da

igreja e autoridades coloniais). É fundamental superar, no entanto, a imagem

dessa literatura como algo homogêneo e repetitivo. Dentro de um mesmo

objetivo político e religioso, podiam existir importantes singularidades e

diferenças de opinião, inclusive entre membros de uma mesma ordem. Cabe

ainda ressaltar que estes escritos estavam inseridos dentro de uma dinâmica

colonial que exigia uma constante reformulação de projetos.

O intento deste trabalho está justamente na tentativa de captar os

projetos que estão em pauta para a região amazônica e os movimentos de

construção de um espaço de atuação colonial, legitimados pelo direito

conferido ao descobridor, ou ainda, ao detentor da memória do descobrimento.

Memória que se materializa na escrita.

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RODRÍGUEZ, Manuel. El descubrimiento Del Marañón. Edicón, prólogo y

notas de Angéles Durán, Alianza Editorial, Madrid, 1990. O nome completo do

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reducción de naciones, trabajos malogrados de algunos conquistadores, y

ditochos de otros, assí temporales, como espirituales, en las dilatadas

montañas y mayores ríos de la América, escrita por el Padre Manuel

Rodríguez; de la compañía de Jesús, procurador general de las provincias de

Indias, en la corte de Madrid.

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