assunto: execuçãopenal · 2018. 8. 10. · 5.2-danÃo separaÇao depresos provisÓrios...
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Minístérin Ptiblko do Estado dn AmazonasPnwur<:Hiori<l-Gt'r<l1 de .Jusli~'a
13",23",24',57',97" e 98"Promotorias de Justiça de :\Ianaus-AM
EXCELENTisSI:\IO SENIIOR JUIZ IlE IlIREITO IlA VAllA IlA FAZENDAPÚIlLlCA ESTAIlUAL IlA COMARCA DE MA:'<AUSIAM
Assunto: Execução Penal
O MINISTÉRIO PÍlIlLlCO DO ESTAIlO DO A,\IAZONAS ,'em perante Vossa
Excelência, por meio de seus Promotores de Justiça signatários. com fulcro nos artigos
129.111. da Constituição Federal: 67 e seguintes da Lei 7.210/84; lU. IV e 5°. L da Lei
7.347/85. propor a vcrtente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
COM PEIl1ll0 DE TUTELA DE URGÊNCIA
em face do ESTADO DO A:\lAZOi\'AS. pessoa jurídica de direito público interno
(Cc. art. 41. 11) inscrita no CNPJ sob o nO. 06.053.723/0001-35. endereço eletrônico
[email protected]. com sede na Avenida Brasil. n°. 3925, Sede do
Governo. Compensa - CEP 69036-110. Manaus/AM. a ser citado (i) na pessoa do
Excclentíssimo Senhor Governador do Estado AMAZON"Il\O AR~'IANDO MENDES.
brasileiro. portador do RG n. 66139. SSP/AM. inscrito no CPF soh n. 001.648.282-49,
domiciliado na cidade de Manaus c residente à rua Belo Horizonte. 315 - Bairro de
Adrianópolis. ~.1anaus/AM ou na sede do Govel1lO do Estado. na Avenida Brasil. n.
3925. Sede do Governo. Compensa - CEP 6Q036-11 O. Manaus/AM. e (ii) na pessoa do
Secretário Estadual de Administrnçào Penitenciária CLEITMAN RABELO COELHO.
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ot\lini"tl rill J'úhlinl dn l ...I.ldn do \rn,l/ona •.•
Prllllll-II!CIn:I-Ct't,lI rit 11,"11.,",1
]3',2.1',24',57',97' e 98' Promotorias de Ju~liçil de \1anaus-A!\1
AzeH~dn ~ Cen(w. \lanallS-A.\L (l9005-340. COIll base nos fundamel1los d~ tato l' de
direito a seguir oq,!Jlli7ados. Llll110rllle sUmari{1 ilustrado a seguir.
--/--
Minblerin Publico dn E~tado do AmazonasPrncuranori<l-Gt'ral clt' ./usli\-a
13",23",24',57",97" e 98" Promotorias de Justiça de I\bnaus-AM
Sumário
1 - DOS FATOS .4
2 - DA COMPETÊNCIA DAS VARAS DA FAZENDA PÜBLICA ESTADUAL DA
COMARCA DE MANAUS PARA CONHECER E PROCESSAR A DEMANDA IO
3 - DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÜllLICO DO ESTADO DO
AMAZON AS 12
4 - DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO DO AMAZONAS 14
5 - DO DIREITO I4
5. I - DO DIREITO À EXECUÇÃO DA PENA COM OllSERV ÂNCIA DO REGIME
PRISIONAL ADEQUA DO 14
5.2 - DA NÃO SEPARAÇAo DE PRESOS PROVISÓRIOS E DEFINITIVOS;
PRIMÂRIOS E REINCI DENTES 16
5.3 - DO DIREITO DO APENADO E DEVER DO ESTADO EM
RESSOCIAL IZAR 17
5.4 - DA ISONOMIA NA EXECUçAo DO REGIME SEMIAllERTO ENTRE
HOMENS E MULHERES 19
5.5 - DO CUSTO DO INVESTlME:-.ITO PARA A UNIDADE PRISIONAL DE
CUMPRI~1ENTO DE PENA NO REGIME SEMIAllERTO 20
5.6 - DOS CRITÉRIOS A SERE~1 PREE:-.ICIlIDOS PELO NOVO CONJUNTO
ARQUITETÔ:-.lICO DE CUMPRIMENTO DE PENA DO REGIME SEMIABERTO
MASCULINO 22
6 - DA TUTELA JU RISD ICIONAL fiNAL.. 24
7 - DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA 33
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~rVliniQêrill Publico do [:<;\:1(10do AmamH:.lS
ProcttrCldoria-CiPrtll dt, Jllsli,.a13',23',24',57',97' e 98"Promotorias de Justiça de \1anaus-AM
8 - DAS ASTREINTES E POSSÍVEL SAKÇÃO POR ATO ATENTATÓRIO À
DIGNIDADE DA JUS TIçA 37
9 - DOS PEDI DOS ..40
10 - DO VALOR DA CAUSA .42
m'.....',,.. .
\W1Mil1isl~rio Publico do Estado do Amazonas
Pwcllr<lnnriR-Gt'rtll clt' .JlJ<;li~'H
13",23",24',57',97" e 98' Promotorias de Justiça de J\.1anaus.AM
1- DOS FATOS
No dia 09 de fevereiro de 2018, nos autos do
pedido de providências n.'0203049-84.2017.8.04.0001, foi prolatada
decisão que, em síntese, determinou o fechamento da unidade
prisional destinada ao cumprimento da pena em regime semi aberto.
A referida decisão teve por fundamento um
pedido formulado em janeiro de 2017 pela Secretaria de
Administração Penitenciária, que solicitou a transferência dos
presos do regime semi aberto para o cumprimento de pena por meio
de monitoramento eletrônico com o uso de tornozeleira.
?\a parte dispositiva, foi estabelecida: "(1) a
interdição do prédio onde o regime prisional semi aberto estava
funcionando, ainda que de forma precária; (2) a aquisição do
quantitativo mínimo de 5.000 novas tornozeleiras para
monitoramento eletrônico de todos os detentos do regime
semiabcrto; (3) instalar centro próprio, sob o controle dos órgãos
de segurança do Estado, para o monitoramento eletrônico dos
detentos; (4) apresentar plano, para a cxecuçao em regime de
urgência, no prazo máximo de 12 meses, de ampliação e
melhoramento dils instalações carcerárias do COMPAJ-regime
fechado, diante da clara existência de superlotação carcerária; (5)
apresentar plano emergencial para, sob o controle da Vara de
Execução Penal, promover-se a averiguação da situação
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rvlini ....ltTio Públim do E....l::lc!n dn Ami.llOnaS
i'rni'IIJ;Jdnri;l-Gt'ral dl' .Iu .••li~'<I
13",23",24',57',97. e 98' Promotorias de Justiça dl' .\lian,lus-A\f
de todos os detentos do regime semiabcrto com a avaliação de
possíveis situações de regress<lo ou progressão ou livramento,
antes da implementação do monitoramento eletrônico, a fim de se
observar critérios objetivos na execuçao da pena, e sua
individualização, como muito bem ressaltou o Ministério do Estado
do Amazonas; (6) apresentar, no prazo de 15 (quinze) dias,
informações precisas sobre qual unidade prisional poderá ser
utilizada para <lInear detentos em situações excepCIonaIs de
negativa de monitoramento eletrônico, como bem ressaltou o Órgão
Ministerial; (7) assegurar que o monitoramento eletrônico observe
parametrização diferenciada, pl;'rmitindo quI;' os detentos do
semiaberto que tenham atividade laboral possam se deslocar sem as
restrições que comumente são imposti1s àqueles que estão sob
monitoramento eletrônico; (8) desativar, em definitivo, a unidade
prisional do COMPAJ-Semiaberto e, ainda, apresentar proposta
para a construção de nova unidade prisional, destinada ao
semiaberto, em local distante das demais unidades carcerárias e,
como melhor acesso para os detentos que tenham direito ao
trabalho externo, como a utilização de monitoramento eletrônico,
como meio alternativo para aqucl~s que atendam a requisitos
objetivos e subjetivos de individualização da pena."
Ocorre qUl', tendo determinado o fechamento da
unidade prisional Complexo Penitenciário Anísio Jobim - regime
Semi aberto MASCULINO, não foi estabelecido ao Estado qualqt ef
prazo para que outro local de cumprimento da pena sob e
-~
m..",
~', -01.- ,- ,
Vi:i!P'--;..... '- ~Minicai-rio Públim do Estado 110i\rnaznnas
Pro("urtldoria-Gt'ral de Jusli~';J13",23",24",57",97" e 98' Promotorias de Justiça de r>.lan,lus-AM
regime fosse providenciado.
Foi determinado pela decisão que os apenados
fossem colocados em monitoramento eletrônico no prazo de 45 dias
sem que ficasse claro como ocorreria a individualização da pena,
pois não houve determinação sobre a análise dos mais de 3.922 (três
mil, novecentos e vinte c dois) processos de apenados do regime
semiaberto, número este de dezembro/201?'.
Sequer faz-se necessário dizer que tal prazo seria
exíguo para a análise dessa quantidade de processos.
Assim, o Ministério Público manejou embargos
de declaração em 23 de fevereiro de 2018, justamente objetivando: a
manutenção do prédio para o funcionamento do regime semi aberto
até que todos os processos dos apenados fossem revisados e, ainda,
a viabilização de um local para acolhimento dos apenados do
regime semiaberto até a edificação de uma nova unidade para esse
regime.
As maiores preocupações do Parqllet diziam
respeito (1) à falta de individualização das penas, pois, certamente,
havia reeducandos que não necessitariam ir para o monitoramento
eletrônico, posto a possibilidade de livramento condicional, indulto
e até mesmo a completa execução da pena, bem como, ainda, (2) o
que fazer com os apenados em progressão do regime
IRdalório Gerendal da Vara. em 18.12.2017.
7'47
l'vlini •.•.térill Pliblim do [<,{;Hto dn t\milLOlla~
f'rCll'llradc)ria~Gt'r;ll dt, .Iu"li,'a13',23',24",57",97' e 98" Promotorias de Justiça de Manaus-AI\1
o semi aberto e com os que estavam rcgredindo do regime aberto.
Onde alocar essa demanda?
Após a 0poslçao dos embargos, ainda em âmbito
administrativo, que não foram julgados até a presente data,
ressalte-se, foram designadas audiências de justificação de falta
grave com foco nos presos do semi aberto que aconteceram a partir
do dia 13.03.2018.
Nos três primeiros dias, de 13 a 15 de março,
foram realizadas 156 audiências, das quais:
- 111 apenados (70,64%) do semiaberto receberam
monitoramento eletrônico por tornozeleira;
10 progressões de regime;
17 livramentos condicional;
- 03 prisões domiciliares;
- 03 regressôes;
- 02 extinçôes de punibilidade;
- 12 permaneceram com determinação para serem
mantidos de manutenção em estabelecimento em
condições condizentes ao regime semi aberto, seja
porque () monitoramento eletrônico foi indeferido
ou porquê pendente de análise documental.
Ocorre que, com o fechamento da unidade
prisional do regime semiaberto, nenhum preso {oi ais admitido
í
~wMini •.•(~rin Públkn dn ESI<Hln do AmaLOnas
Pwcur,ldoria-Gl'f<ll de .Jusli~.<l13',23",24",57",97' e 9S1 Promotorias de Justiça de Manaus-AI\1
naquele ambiente e, ainda, passou-se a ffi<lnter as pessoas que
permaneciam no regime prisional intermediário em local destinado
ao cumprimento de pena em regime fechado ou estabelecimento
prisional destinado aos presos provisórios.
Não é demais destacar que, por orientação da
própria Administração Prisional, não há condiçôes de segurança
para a entrada nos raios das unidades prisionais. Assim, o
Ministério Público não teve como verificar, in loco, a situação dos
apenados do regime semiaberto, se foram colocados na mesma cela,
ala ou pavilhão destinados a presos provisórios, tão pouco a
quantidade de presos por cela.
Sabe-se que muitos apenados foram alocados na
triagem que funciona no Centro de Detenção Provisória I, onde não
há destinação de alimentos, entrega de materiais de higiene
pessoal, justamente por ser um setor de passagem, onde o preso vai
para a audiência de custódia e é decidido por sua soltura ou
decretação de prisão preventiva, sendo encaminhado à unidade
prisional mais adequélda. Aí surge o problema, pois não há unidade
prisional adequada par<:l o cumprimento da pena em regime
semiaberto.
Nesse olhar, reporta-se que, recentemente, em
23.07.2018, a Central dl' Monitoramento Eletrônico da SEAP
apresentou uma relação de 26 nomes de apenados
9/47
do ';2
rVlini"'ltTill Publirn do f:SI;Jtlo do :'\rnéllOll<l:<'
f'rnnlfadllri<I-(inal dt' .Iu"'li'";l13",23",24',57',97" e 98' Promotorias de Justiça de :\lanaus-A:\1
semiaberto que foram flagranteados pela prática de outros delitos.
O destaque negativo é que os rderidos presos estão sendo alojados
no referido CRT de modo não transitório, mas duradouro, o que
deságua em grave distorção em virtude das limitadas condições
das instalações, em virtude de se revelar estrutura equiparada ao
regime fechado e poder significar gravame da tratamento em
variados casos, bem como em virtude do potencial esquecimento do
preso nas instalações indevidas e consequcnte prejuízo à
individualização da pena. Dentre os tipos penais observados,
inclusive, observa-se furto nos termos do art. 155 do CP e
recolhimento do infrator desde 29.05.2018, bem como se observa
receptação nos termos do art. 180 do CP c recolhimento do infrator
desde 24.04.2018, o que ilustra tipos penais mais brandos e ilustra a
franca distorçâo no tratamento penitenciário ora questionado. A
vinda dessa informação apenas em oportunidade hodierna revela a
dificuldade de se administrar o sistema a partir de limitados
instrumentos de adaptação, já que noticiados meses depois e já que
em descumprimento do dever administrativo de se instaurar
procedimento administrativo disciplinar para apuração de falta
grave nos termos da LEP.
Por outro lado, a colocação de reeducandos em
monitoração eletrônica atende a política de desencarceramento
defendida tanto pelo Conselho Nacional de Justiça
Conselho Nacional do Ministério Público.
10/-17
quanto pelo
/
Minj~li-rio Público do Estado tio AmLlznn3~Procuradnria-ut'nd dto Jusliç<l
13",23",24",57",97" e 98"Promotorias de Justiça de Manaus-AM
Ocorre que foram identificados no último dia 26
de abril de 2018, pelo Ministério Público, alguns graves problemas
com o monitoramento eletrônico.
Constatou-se que os presos com cadastros a
partir do número 7.900 estão saindo sem foto e sem área de
inclusão de dia e de noite, ou seja, não há perímetro cadastrado,
sendo que esse número já avança na casa de 8.200 sem foto ou
perímetro estabelecido.
Dessa forma, esse apenado que está com o
cadastro de perímetro incompleto jamais infringirá o perímetro
judicialmente estabelecido.
Outro ponto que chama a atenção é a quantidade
de reeducandos que já violaram o dispositivo eletrônico, seja por
desligamento ou rompimento, os quais em uma única comunicação
totalizaram 74 pessoas, conforme documento que se extrai do
processo n.' 0215958-61.2017, fls. 459/560.
Daí se questionar, então, para onde serão
conduzidas essas pessoas em caso de regressão cautelar. Bem, como
inexiste prédio para o regime scmiaberto, uma vez instaurado o
incidente c decretada a regressão cilutelar, deverão ser recolhidas
no regime fechado, no Complexo Penitenciário Anísio
COMPA).
'7
Jobim -
/
i\.lini"liTill PúlJlinl dn I:slado dI) /\mazonasFnll'llr:lf!llria-C"i{'ral dl' .Iu"li(il
13",23",24" 57', 97"e 98'I'romotorias de Justiça de :'vlitnaus-At\.t
Especificamente quanto à população masculina, o
COMPA} fechado possui 454 vagas. Ocorre que a unidade tinha, em
07 de junho de 2018, o total de 861 presos, o que representa um
excedente de 407 homens, estando com 90% de sua capacidade
extrapolada, conforme planilha anexa.
É importante que se diga que nem todas as
causas de violação das condições do monitoramento vão ter como
reprimenda a regressão para o regime fechado e nisso resulta a
preocupação do Ministério Público.
A título de exemplo, em 19 de junho de 2018,
ocorreu audiência para apuração de falta grave de pessoa
estrangeira, processo nº. 020800-87.2018.8.04.0001. Foi constatado
que o indivíduo tem direito a progredir para o regIme aberto.
Entretanto, como é estrangeiro, sem nenhum vínculo nesta cidade,
conforme se verifica do termo de audiência anexo, não pode receber
o monitoramento c1etrônico justamente por não haver endereço
residencial para vinculá-lo no monitoramento, sendo um caso claro
da necessidade de o Estado ter uma unidade própria para o
cumprimento da pena em regime semi aberto.
Outro caso seu VIU identificado em 19 de junho
de 2018, processo nY 0220487-89,2018,8.04.0001, termo de audiência
anexo, em que ;)0 indivíduo
m"."',, 't .,W
Ministerin Pliblim do Estado dn AmazonasProcuradori,l-Gt'raf dt' Jusli\'a
13",23",24",57',97" e 98' Promotorias de Justiça de ~bnaus-AM
cumprimento de pena em regime semiaberto e, dada a inexistência
de local condizente, ficou em regime fechado até a data da
audiência.
A análise do sistema prisional confirma a
necessidade de individualização da pena e o conhecimento do fato
e do apenado, caso a caso, em concreto, não podendo todos serem
colocados no mesmo balaio sob pena de o Estado-juiz tornar
desnecessariamente mais gravosa a execução da pena.
A guisa disso, tem-se como exemplo o indivíduo
que ultrapassa o limite territorial de seu monitoramento, sem que
da sua ação ocorra algum mal para a sociedade, por mais que tenha
acontecido mais de uma vez sem justificativa.
Diante da análise do caso, verifica-se que o
monitoramento eletrônico não está sendo suficiente para que o
indivíduo compreenda e respeite as leis, a decisão judicial e
entenda que ainda cumpre pena.
Certamente este é um caso em que a regressão ao
regime fechado implica em uma dosagem equivocada e exasperada
do poder de punir estatal. que poderá causar mais mal ao
indivíduo e, posteriormente, à sociedade.
.Melhor resolução será
I'vlinisli-rio PuiJlim do Estado do AmazonasPnH"\lradori,l-l!enll di' .I1l",i,.a
13',23',24',57',97' e 98' Promotorias de Justiça de :\lanaus.A:\1
monitoramento c o recolhimento do indivíduo a um ambiente
adequado, que atenda aos preceitos do artigo 35 do Código Penal e
artigos 91 e 92 da Lei de Execuções Penais, onde o apenado cumpra
presencialmente o regime prisional de semiliberdade acompanhado
pelo Estado, com todos os direitos e deveres garantidos.
Esses são apenas alguns dos muitos casos em que
é possível claramente visualizar a necessidade de um ambiente
prisional adequado para o regime de pena em reglme semiaberto,
consoante determina a Lei de Execuções Penal.
2 - DA COMPETÊNCIA DAS VARAS DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUALDA COMARCA DE MANAUS PARA CONHECER E PROCESSAR ADEMANDA
A presente ação civil pública tem por escopo comprovar a
necessidade e obter o provimento judicial que determine ao Estado do
Amazonas a obrigação de estabelecer um local para o cumprimento da pena em
regime semiabcrto para as pessoas do sexo masculino e, ainda, dotar esse
espaço com o mínimo necessário para garantir o respeito aos direitos humanos,
dar início às atividades de ressocialização, permitir ° repouso noturno e
condições de alimentação.
Isso porque, como é cediço, o sistema penitenciário
amazonense fica a cargo da Secretaria de Administração Penitenciária, criada
em 9 de março de 2015 pela Lei Complementar nQ, 152qUl' altera na forma te
14í47
mo,'•'." -r. "
~,••'}J~~
Mini"itt~ri(JPúblicn do Estado do AmazonasProcuradoria-Gt'I"al dt" .!usli<:a
13",23",24',57',97" e 98&Promotoriils de Justiça de :\lanaus.Al\1
específica a Lei ng• 1.172 de 14 de novembro de 1986 e dá outras providências.
Em seu artigo 26, especifica que as atividades e competências relativas ao
sistema prisional que estavam na Secretaria de Estado de Justiça e Direitos
Humanos (SEJUS) ficam transferidas para a Secretaria de Estado de
Administração Penitenciária (SEAP). Assim, uma vez que a questão tratada na
presente demanda perpassa, de fato, pela atuação do Estado do Amazonas por
meio da atuação da Secretaria de Administração Penitenciária c, ainda, uma vez
observada a qualidade de ente não personalizado do referido ente público e e
observada 05 ditames publicistas da teoria do órgão, tem-se por demarcada a
legitimidade passiva do Estado do Amazonas no presente caso.
Passo seguinte, em termos territoriais, destaca-se a regra
de que açao civil pública deverá ser proposta no local que ocorreu ou deva
ocorrer o dano (competência territorial absoluta ou, como alguns preferem,
funcional), sendo que, no caso de dano de dimensão regional, o foro
competente será o da capital da unidade federativa, conforme regra extraída do
art. 93, 11,da Lei n. 8.078/1990(Código de Defesa do Consumidor - COC),
aplicável a todo o microssistema de direito processual coletivo.
Por derradeiro, então, destaca-se a moldura de atuação
jurisdicional das Varas da Fazenda Pública Estadual, conforme Lei de
Organização Judiciária do Estado do Amazonas - LC nO.017/1997. Transcreve-
se:
Art. 152 - Aos Juízes de Direito das Varas da Fazenda
Pública Estadual compete, por distribuição:,
15/47
Minio:,lérin Pu1Jlim dn l<;lado dI) Amal.OnasF'nlcllradnri;i-Gl'nll dt-' .Iu•.•li,r!
13",23",24",57",97" i' 98' Promotorias de Justiça de :\lanaus.AM
I - Processar e julgar com jurisdição em todo o território
do Estado:
a) as caus.lS em que o Estado do Amazonas e os seus
respectivos órgãos autárquicos forem interessados, como
autores, réus, assistentes ou oponentes, excetuadas
falências, concordatas c acidentes de trabalho, bem como
as definidas nas letras "e" e "f", do inciso 1,do art. 102 da
Constituição Federal (.. ,).
Desta feita, diante das considerações delineadas, é certo
que as Varas da Fazenda Pública Estadual da Comarca de Manaus são os órgãos
jurisdicionais competentes para processar e julgar a demanda ora proposta.
3 - DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO I'ÜHLlCO DO ESTADO DOAMAZONAS
Resta demarcada a legitimidade do Ministério Público
para intentar ação civil pública em casos como o presente, em que se postula o
cumprimento da COllstihliçào e das normas correlatas, que ampara o direito a
segurança pública aos cidadãos.
Impende destacar, para efeitos elucidativos, as disposições
constitucionais e imperativos legais correlatos. Estabelece a Constituição da
República Federativa do Brasil:
16147
/
~
"'" ", ., .'~
,:" .-, ,
I ._
'.: -Ministrrio Publko do Estado dn AmazonilS
Procuradflri<l-Gt'ral dt' .Jusli,<113",23",24',57",97. e 98"Promotorias de Justiça de ~b_naus-AM
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente,
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe
a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis.( ...)
Art. 129.São funções institucionais do Ministério Público:
(...) III - promover o inquérito civil e a ação civil pública,
para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente c de outros interesses difusos e coletivos (...)".
o Ministério Público não apenas está legitimado à defesa
dos interesses difusos e coletivos por meio da ação civil pública, como,
essencialmente, é seu dever assim agir. tem dever de assim agir.
Em âmbito estadual, a Lei Complementar nO.011/1993 -
Lei Orgânica do Ministério Público do Estado do Amazonas, em seu art. 3°.,
prescreve:
Art. 3.° - São funções institucionais do Ministério Público:
(,.)
IV- instaurar procedimento administrativo e inquérito
civil, e propor ação civil pública, na forma da Lei: 1 a) para
a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao
patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao
consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico e a outros interesses
difusos,coletivos,individuaisindlSPOr,e
.
~,Miniq(-rio PtilJlim do E"tado do Amazonas
F'rrl('Ufadnria-0t'ral dt' .Iusri(".(j13',23',24',57",97' e 98' Promotorias de Justiça de :\lanaus.AM
homogêneos" .
o estabelecimento de uma unidade prisional masculinapara o cumprimento de pena em regime scrniaberto, sob a ótica do direito
administrativo, compõe o aparato de segurança pública, mais especificamente a
administração da Justiça criminal. sendo essencial a garantia do direito ao
correto cumprimento de sua pena, à ressocializaçào com educação e/ou
trabalho, garantia da saúde do apenado e ao devido processo legal, ampla
defesa e contraditório, pois possui natureza jurídica de serviço público,
exclusivo do Estado, sendo c1assificadll entre os serviços IIti Siflgllli, pois se
dirige a usuários determinados, constantes no atendimento das determinações
judiciais.
4 - DA LEGITlMIDAI)E PASSIVA 1)0 ESTAl)O DO AMAZO'iAS
o móvel da ação proposta se refere à atuaçào
administrativa do Estado do Amazonas por meio da Secretaria de Estado de
Administraçào Penitenciária - SEAP, que, tendo obtido decisão judicial para o
fechamento da unidade prisional complexo Penitenciário Anísio Jobim -
Semiaberto - Masculino, não adotou providências concretas para que outro
local seja destinado à instalação desse regime prisional.
Nesse panorama, resta eddente o interesse
jurídico do ESTADO DO AMAZONAS no presente feito e o qu
justifica a sua nominação no polo passivo da demanda, a despei
Ministrrio Publico do E<;I:ldo do AmazonasPro("uradnri}l-Gt'ral dt' .Iusri\-<J
13",23',24',57.,97" e 98' Promotorias de Justiça de l\'lanaus-At\'f
da referida Secretaria ser destinatária final do 1111111115 executório,
com lastro na verificad a qualidade de ente público
despersonalizado e com lastro na teoria do órgão.
5 - no DIREITO
5.1 • no DIREITO À EXECUÇÃO DA I'ENA C(nJ OIlSERV ÂNCIA DOREGIME I'IHSIO:\'ALADEQUADO
Dúvidas não restam que. além de tlagrantemente ilegal, a
situação acima mencionada tem o condão de comprometer a corn:ta execução da pena. a
segurança e a salubridade das pessoas que cumprem pena nesse regime prisional e
acabam ficando amontoadas ou misturadas com presos provisórios.
Também em relação ao regime semiabalO_ os estabelecimentos
prisionais brasileiros também devem observar as condições arroladas no Título IV da
Lei de Execuções Penais. que dispõe. inclusive. quanto às respectivas acomodações
cstruturais.
Na mcsma toada. o art. -l- L X. da LEP garante aos presos o
direito a receber visitas do cônjuge. da companheira. de parentes e amigos. Segundo
Julio Fabbrini Mirabete. "fundamcntal ao regime penitenciário é o princípio de que o
preso não de\'e romper seus contatos com o mundo exterior e que não sejam debilitadas
as relações que os unem a familiares e amigos. Não há dúvida de que os laços mantidos
principalmente com a família são essencialmente benéficos para o preso. porque o
levam a sentir que. mantendo contatos. embora com limitações. com as pessoas que se
encontram fora do presídio. não foi excluído da comunidade. Dessa lorma, no momcnto
em que for posto em liberdade. o processo de reinserçào social produzir-sc-á de forma
natural e mais facilmente. sem problemas de readaptação
19,'47
fl.liniQi'rio PuLlkll do I.qado do /\mamnasF'rol'lll,ldori;)-tlt'l"di d{' fU"liç<l
13',23',24',57',97' e 98' Promotoriils de Justiça de \fanaus-A.\[
comunitário. PrcL;~ituam. aliás. as R~gras Mínimas da ot\lJ que se deve velar
particularmente para quc se mantenham c melhorem as boas rdações entre preso e sua
família quando estas sejam conyenicnlcs para ambas as partes (n079). devendo ser
autori711das as '\:isitas de familiares ~ amigos. ao menos pcriodicamente e sob dnida
vigilância (nO 37). Por isso. concede-se ao preso o dir~ito da visita do cônjuge da
companheira. de parentes e amigos em dias determinados (art, -lI. X) ... :.
Ocorre que da fôrma como está se dando o cumprimento da
pena para os apenados que têm indcferido o monitoramento eletrônico. está sendo
tolhido o direito ao cumpridor de pcna nesse n:gimê de \"L'r as garantias legais
respeitadas por falta de condições estruturais. 'I,'istoinexistir no Centro de Triagem um
espaço para banho de sol. visita social ou íntima. amoiente para instalação de oficina de
trabalho ou eSludo. criando uma situaçào em absoluto descompasso com as normas que
versam sobre () tema. o que vem causando grave c iminente perigu à saúde física e
psíquica dos apenados. dos agentes de socialização e soorctudo das pessoas que se
dispõem a visitá-los,
Por ora. não se sabe se h~ivisitas e se essas visitas ingressam nas
celas. de modo a comprometer os envolvidos em relação ao ambiente sabidamente
insalubre,l. a ocorrL'neia de abusos em geral. a segurança I dos visitantes. os
quais. inclusive. podem facilmente ser utilizados como reféns no caso de eventual
rebelião. Ressalte-se que se tàz referência a unidades construídas para abrigar presos
provisórios ou. no caso do Centro de Triagem. local de mera passagem para
cadastramento c ingresso no sistema prisional.
5.2 - DA NÃO SEPARAÇÃO DE PRESOS PROVISÓRIOS E DEFI:-'ITlVOS;PRIMÁRIOS E REINCIIJE:-'TES
,-Execuçil~' pen,i1 c(II11~nlari", a I ~i n' I ~IO.de 11.7.1')S.J. li ~d . Ilni,la" atualizada - S,lt,PBul,,' Alias. 200~ 1'. I~~il~~,. A saúde é direito dc luJ"s e <1<."\er..I" htaJo {artigcl 1'16<Iall:l(l<)
4A segurança pública.quc ir'1<lU/um !.l,,, mai, importamc, cClcles do I SWdll. Cwmbc:m d,rCII(l d~ 1<,<1".\lart
:W,'47
Tv1ini••,rrio Público do baadn do l\m3Z011:.lS
Proruradori,l-Gt'ral clt' Jusli\.<113",23",24',57",97" e 98' Promotorias de Justiça de :\Ianaus-AM
Segundo o disposto no artigo 84 da Lei de Execuções penais .•• 0
preso provisório ficará separado do condenado por sentença transitada em
juh:.ado.'". Em seguida. o ~ )0 dn mcsma norma aduz quc .'0 preso primário cumprirá
peml em seção distinta daquela rescn"ada para os reincidentes .••.
Ocorre que. quando os apenados do regime semi aberto são
recolhidos por descumprimento das normas do monitoramento eletrônico. são levados
para o Centro de Triagem. como já se disse. onde ficam misturados a presos de todos os
regimes que. por algum motivo, estejam naquele ambiente \'isto a escassez de espaço
para realizar a separaçào de presos provisórios e condenados, e destes por regime
prisional.
Em face da expressa determinaçào legaL toma-se forçoso
concluir que. também no que refere a esse aspecto. não há condições para realizar
fiscalização a fim de contirmar se esta havendo espaço nas unidades prisionais para a
separaçào dos presos provisórios dos apenados em regime semiabt:rto, determinaçào
que atcnde ao individualização na cxu'ucão pemtl~, sendo dever do Estado
garantir a executabilidade e exequibilidade desse preceito.
Como é sabido, o Centro de Triagem é ambiente apenas de
passagem até a distribuição do preso nas unidades prisionais c, por essa própria
circunstância, sua arquitetura não foi desenhada para ter banho de solou o recebimento
de visitas. Ocorre que os presos do regime scmiaberto estão ticando nessa condição.
sem banho de soL sem visita, até que seja pautada a audiência para fi justificação da
falta grave. o que dificilmente ocorre em menos de 05 dias em virtude da dinâmica da
burocracia processual existente e necessária.
21'47
Mais uma vez, destaca-se que. em havendo uma unidade
prisional para ° regime semi aberto, essas pessoas presas por violaçõc
tvlini"lÍ'rín PúiJlinl do Estado do Ama,Wll:JSPnl(.urad{Jriil-li('rdl de .1u"lil,:a
13',23',24',57",97" e 98" Promoloria5 de Justiça de :\lanau5-A.\1
do equipamento ou de perímetro deveriam ser conduzidas para esse espaço até a data de
audiência de justilicação. ao invés de serem submetidas ã prisão juntamente com presos
provisórios. condenados por outros crimes ou não.
5.3 DO DIREITO DO AI'EI\AIJO E DEVER IJO ESTADO EMRESSOCIALlZAR
o LISO do monitoramento dctronico desafogou, aparentemente_ o
sistema prisional.
Essas pessoas estào em sociedade e. em regra geral. com o
perímetro livre por Manaus ao longo do dia. limitados ao domicilio no período noturno.
São regras do regime semiabcl1o. eSlahe1t.'cidaspelo artigo 35 do
Código Penal:
A11. 35. Aplica-se a norma do ar!. 3~ deste Código. caput. ao
condenado que inicie o cumprimento da pena em regime semi-
aberto.
~ 1(l. O condenado fica sujeito a trabalho em comum durante o
periodo diurno. em colônia agrícola_ industrial ou
eSlabelecimento similar.
~ ::". O trabalho externo é admissivel. bcm como a freqüência a
cursos sllpictin)s profissiol1a!izant~s. de instrução de segundo
grau ou supenor.
Diante da realidade que temos hoje em .\'lanaus_ com o uso do
monitoramento eletrônico. o Estado está se eximindo de preparar os egressos do regime
fechado a se rcadaptarem ao convívio social. sem qualilicaçfio. visto que se as oficinas
de trabalho foram suspensas ou reduzidas significativamente no âmbito do regime
fechado_ nada existe para o regime scmiwaberto_colocando apenados no convívio soei
m""::-t ".. I. A •
~Ministério Público dn E'ilado do Amazonas
Pro('uradnri<I~G("rill de JU<;li~-iJ13',23',24",57",97' e 98"Promotorias de Justiça de Molnilus-AM
sem nenhuma perspectiva de melhoria. qualificaçào de trahalho ou aprimoramento do
estudo.
Não ê demais destacar a escassez de emprego com uma
realidade local e nacional que atinge pessoas de todos os níveis sociais e em especial os
egressos do sistema prisional que sofrem preconceito por sua condição juridica. o que
empurra esses cidadãos para o retorno à criminalidadc. tàto lamentavelmente atestado
quando reingressam no sistema diariamente nas audiências de custódia.
Ainda. conforme acima identiticada a falha no monitoramento
eletrônico, as condições fisicas c materiais do Estado para acompanhar. fiscalizar e gerir
o uso das tornozelciras eletrônicns tamhém não está sendo suficiente para atender a
demanda.
SA - (lA ISO:-lOM(A I"A EXECUçAo DO REGntE SDIIAIlERTO ENTREHO~lENS E ~llJlIIERES
Além de todos os problemas que a inexistência de um local
apropriado para o cumprimento da pena em regime scmiaberto vem trazendo. ainda há a
absurda falta de isonomia em relação à condição das mulheres condenadas que estão em
regime scmiaberto.
Como é sabido. existe a Unidade Prisional Scmiaberto e Aberto
Feminina de r-.'1aIl3US.situada à Avenida Codajás. n.0400. bairro Cachoeirinha. nesta
Cidade.
o local abriga as apenadas do rcgime scmiaberto com atividades
internas (qualificação e estudo). além de ncompanhar a execução da pena em relação às
mulheres que obtivcram o direito do trabalho ou estudo externo.
Assim. têm as
\
!'vlini<'lcrin Púhlit"1l do blado do Am:ll:Ol1aSPnlt"urarloria-ri{'l"<ll £1(' .IU"'ll\';1
13",23',24",57',97' e 98' Promotorias de Justiça dt' "\Ianaus-AM
prisional em cumprimento expresso aos ditames da sentença.
Por SI só. o fato demonstra que Q insucesso do regune
semi aberto masculino deságua. com seu fechamento sem o menor prazo para o retomo
de sua funcionalidade. em franca desigualdade de tratamento dispensado à apenada do
sexo feminino e. ainda. desestimula o cumprimento da pena.
o princípio da isonomia estabelece que. nos termos do artigo 5°
da Carta Constitucional. .'todos são iguais perante a lei. sem distinção de qualquer
natureza", sendo essa uma igualdade de natureza formal. ou seja. há de ser dado
tratamento igualitário de açordo com a ki para os cidadãos que estão na mesma
condição, o qu~ não se confunde com a individualização da pena.
P~ranle o princípio constitul.:ional da isonomia. não há
justificativa para que pessoas cumprindo pena em um mesmo rcgune prisional
(semiaberto) estejam em condições jurídicas totalmente díspares. sem a menor
perspectiva da retomada da correta execução penal.
Enquanto homens cumprem pcna no regime semiaberto com uso
do monitoramento c\etrônico. podendo percorrer o perímetro dt: jv1anaus durante o dia
durante a noite se recolher em sua própria residência. as mulheres do mesmo regime
estão em condição absolutam~ntc diferentes. uma vez qu~ recolhidas à unidade
prisional. apenas algumas tem autori7.açào para se dirigir ao trabalho externo e depois
retomar à unidade.
Diante desse contt:xlO, a revolta das apenadas do regime
semiaberto não é maior do que a indignação social diante do sentimento de impunidade
gerado pela falta de perspectiva de se restabelecer UIll ambiente prisional onde funcione
o cumprimento de pena em regime semiabcrto masculino.
m"., ., .,. .,
~
.,. .
. .- ;:.-
Ministério Públko dn Estado do Am;lzonasPmcllradoriêl-tlt>f<l1 Ih- JU~li\.<1
13",23',24",57",97" e 98' Promotorias de Justiça de !\Ian,lu5-AM
5.5 - DO CUSTO DO II\VESTlMENTO PARA A UI\IIJADE PRISIONAL DECUMPRIMENTO DE PENA NO REGIME SEMIABERTO
Poder-se-ia dizer que l1 gasto para o in\'estimento na unidade
prisional para o cumprimento de pena em regime scmiaberto não está previsto na Lei de
Diretrizes Orçamentárias deste ano de 2018.
Ocorre que tal assertiva não é verdadeira na medida em que
existia a unidade prisional do regime scmiabcrto no complexo penitenciário Anísio
Jobim. com o custo estabelecido no orçamento para a sua manutenção.
A justificativa que o Estado apresentou. por meio da Secretaria
de Administração Penitenciária. para o caos estabelecido naquela unidade. dizia respeito
à inexistência de local adequado para alojar os apenados durante o período de rcfonna
do antigo estabelecimento do regime s~miabeI1o. Ocorre que, apos o fechamento do
estabelecimento em fevereiro/lO 18. previsão orçamentária havia para a manutenção do
ambiente. conforme pode ser verificado na Lei nO4.540, de 29 de dezembro de 2017
para vigência em 20 Ig e conforme Demonstrativo Orçumentário elaborado em 2017
para vigência em 2018. programa de trabalho n.o 14A21.3260.1215, com dotação inicial
e suplementação qu~ tOlalizam R$ 790.717.89 (setecentos e noventa mil. setecentos e
dezessete reais e oitenta e novc centavos) destinado à rcforma. ampliação e
aparelhamento das unidades prisionais do Estado. inclusive para construções.
Isso sem contar com valores destinados à execução de políticas
de custódia e reintegração social.
Note-se. ainda. que não se confunde tal valor com as
transferências fundo a fundo. realizadas pelo G(wemo Federal. através do Departamento
Penitenciário Federal. que aconteceram nos anos de 2016 (RS 44.478.444,44 - quarenta
e quatro milhões. quatrocentos c setenta c oito mil. quatrocentos e quarenta e quatro
reais e quarenta e quatro centavos) e 2017 (R$ 19.012.61 0.R9 - dezenove milhões, doze~-~ -I25/47
oi\lini-.ttTill Púhliro t111I:~l;]rlll do I\rn;I/.Olla..,
PnH"UldilorL-l-lit'ral (1l' .llJ"liçl13&,23',24",57',97' te' 98' Promotorias d~ Justiç,1 de I\tanaus-Ai\1
mil. seiscentos c dez reais c oitenta c no\'c ccnta\'os6. para execução no ano
subsequente.
Registra-se. portanto. que há prc\"isão orçamentária
razoável que possibilite adequação c {) funcionamento provisório de
estabelecimento destinado a cumprimento de pena do regime semiahcrto
masculino. evitando assIm a manutençào do monitoramento eletrônico
para a maioria dos presos de tal reg.ime c as di\L'fSnS cOllscquenCli1S
negati\"as acima çJcncadas. bem como a permanência de alguns desses
apenados de regime scmiahcrto em estab('lecimcnLQs de regime fechado.
5.6 - DOS CRIÜ:RIOS A SERD'I PREE:'ICIIIIlOS PELO '10VO CON./U:\TOARQUITETÔNICO DE CUMPRnlENTO IH: I'E'IA DO REGIMESEI\IIAIIERTO MASCULI'IO
A localidade::' a scr destacada para o
cumprimento da pcna deve estar cqualizada com a realização de direitos
e deveres inscritos nu Constituiçào da República federativa do Brasil c.
tambem. de certo. direitos e deveres ins<.:ritos na Lei Jç Execução Penal.
nas Regras de ~laJ1dela e nas Regras l\línilll::IS para Tratamento de Presos
no Brasil. essencialmentt'.
:"CSSl" sentido. é de se destacar os critérios que o
novo conjunto arquitetônico dnl..'rá atender. sem olvidar critério
basilares outros em normas correlatas e sem pretender ilustrar rol
taxativo:
(i) estrutura apta a cumprir a sekção e classificação
de presos (LEr. art. 92. parágrafl1 único. LEI'. arts. 50
6http://dcpcn.gov.hr'I)I'.I'L;-.r'diI'PP i11~lrurnCn1\1s-dc-rcpa~,c-I
Ministc-rin Pilblim do E"tado <In AmazonasPrncuradoria-Gf'rtll dt' JUSli\""
13',23",24",57",97" e 98"Promotorias de Justiça de Manaus-AM
e 55" e Regras de Mandelu, rt:gra 11):
Oi) estrutura apta a cumprir a assistência à saúde dos
presos (LEP, art. 14 e Regras de Mandela. regras 24 a, -).,:> :
(iii) estrutura apta a cumprir a assistência jurídica
dos presos (LEP. arts. 15 e 16 c LEP. art. 41, IX);
(i v) estrutura apta a assistência educacional de presos
com atenção à instrução escolar e formação
profissional (LEP. arts. 17 e ss. e LEP. art. 83.
caput);
(v) estrutura apta a cumprir a assistência religiosa
dos presos (LEP. art. 14):
(vi) estrutura apta a cumprir o trabalho do preso
interno (LEP, arts. 28 c ss. e I.EP, art. 83. caput):
(vii) estrutura apta a cumprir a visita social e visita
íntima dos presos (LEP. art. 41, X)
(vii) estrutura apta a cumprir a alimentação dos
presos (LEP, art. 41, I e Regras de Mandela, regra
22):(vii) estrutura apta a cumprir a recreação e a prática
esportiva (LEP, art. 83. caput e Regras de Mandela.
regra 23):
(viii) estrutura apta a cumpnr o respeito à dignida"de,
dos valores inerentes à condição humana, da não
submissão a tratamentos ou penas cruéis, desumanos
c degradantes (Regras de Mandela, regra 1 e CRFB,
art. )°.111)
aOitáriaS%
27/47
(ix) estrutura apta a cumpnr a segurança dos presos.
dos funcionarios, dos prestadores de serviço e dos
visitantes (Regras de Mandela, regra 1);
(x) estrutura apta a cumprir as
Mini!'>lérin Púbtirn do lS1ado <in I\mulOllusPnfcllradoritl-Gt'ral dI;' .Ju"'li~';l
13",23",24",57',97" e 98' Promotorias dI.' Justiça de Manaus-A:\-!
c fisiológicas naturais (Regras de ivtandela. regra 15);
(xi) estrutura apta a cumprir as necessidades de
banho (Reg.ra de r-...landcla. regra 16):
(xii) estrutura apta a cumprir a necessidade de banho
de sol (Regras Mínimas para Tratamento de Presos no
Brasil. art. 14):
(:dii) outros critérios aplicáveis conforme exigências
da lei.
Tem-~e por demarcados. então. critérios basilares que
deverão ser preenchidos pelo conjunto arquitetônico a ser destinado para
o cumprimento de pena do regime semiaberto.
6 - DA TUTELA ,JURISIlIClO:>iAL FI:IIAL
Como é cediço, para efetivação dos direitos
fundamentais de segunda dimensão'. exige-se do Estado uma série de
condutas comissivas. as quais invariavelmente dependem de recursos
orçamentários específicos. Certo é. entretanto. que () Poder Público não
dispõe de verba suficiente para concretizar eficazmente todos os direitos
prestacionais arrolados pda Carta \lagna.
Com fulcro nessa constatação, criou-se a teoria da
reserva do possível ~. segundo a qual a realização de prestações positivas
28,'47"
7De acordo com a linha conccillml dc .I<J~':AfllllSO da Silla. o, direilos fumlamcmais dc segunda dimcnsãoconstituem-se em preslHç<"'lesposilivas do Estado. sendo clas. direita ou indiretamente. enunciada;; em normasconstitucionais que pos~am possit-ilit<lr mclhor condiçàu a individuos hirnssllficienle~. liS.1l1do a igualdade de vida ccondições materiais de gozo (Cllr~o de Direito Ctlnstilllcional Po~ili\ado, 25° I::d.Silol'aul0. :'o.lalheiros. 20(5).8A construção da Teoria da '.I{•.•serva dol'o~shd.' lC,,~ origem na .-\Icmanln nOlauamente a panir dos anos 70. Comessa no\"a visão quc surgia il época. a Cone Constilllcional Alemà prokriu célet>re dccisão que marcou (} inicio daaplicação da mencionada dlllllrina. i\a ocasião. decidiu-sc dcmanda judicial ajlli/ada por eSllIdantcs que mio haviamsido aceitos em universidades de mcdicina d.: 11,lmhurgn c \lunique em rivão d'l política de limitaçào de vagas emcursos supcriorcs imposta pcla Alcmanha. i\ prctcnSllo dos esludantes haswu-~e no artigo 12 da Lei Fundament.
/j1
Minislério Públim dn Estado do AmaLonasProl'uradlJri<l-Cier<l1 dt, .Jusli"";1
13",23",24",57",97' e 98" Promotorias de Justiça de I\lanaus-AM
pelo Estado depende. dentre: outros requisitos. da existência de recursos
financeiros disponÍ\'eis e da intermediação do legislador. a quem
incumbe. nas leis orçamentárias. decidir sobre a aplil:at;ão da verba
pública existente.
Aduziu-sc. portanto. que só se poderia e:xigir do Estado a
concretizaçào dos direitos fundamentais no limite das verbas destinadas pelo legislador
para este tim.
Segundo a doutrina9• a reserva do possível no Brasil
assumiu uma dimensão tríplice. isto é: a) possihilidade fática (efetiva
existência de recursos): b) possibilidade jurídica (possihilidade de o
Estado dispor desses recursos. em funçào da distribuição de receitas e
competências. federativas. orçamenuhias. tributárias. administrativas e
legislativas): c c) razoabilidade daquilo que está sendo pedido.
A questão crucial do tema diz respeito â legitimidade do Poder
Judiciário para fonnular c/ou implemcntar políticas públicas.
Em princípio. portanto. conclui-se que o Poder Judiciário não
deveria intervir na esfera de discricionariedadc reservada à Administrat;ão, substituindo-
a em juízos de cOI1\"Cniênciae oportunidade para controlar as opções de organização e
prestaçào de serviços públicos. ainda que essenciais.
Todavia. desue o jull!amcnto da ADPF nO 45/2004. o STF
19'47
Alcm<l. ~eg.undo li qual ..tllJ<I~ os alcmks l~m din:ito a ~~culh~r livremcnte "UlI prolissão. local de trahalho e seucentro de fonnaçào". Para ucciJir a 4ucrda. a Curte Con~tituci(lnal compreendeu - aplieal1l.hl a teoria inovadora da"Reserva do l'osshel" - que o direito à pre~ta~ao positiva (o número de \<lgas n:lS univ.:rsid<ldes) encontrava-SI;':J.:p.:ndente da reS.:fva do possívcl. I1rmamJo pI'sicion<llllento d•••que (l ciJaJào sú IXH.!cria.:\igir do Estado a4uifo quera.lüavdmcnte se pudesse c;;perar. Di\(l de outra forma. li adu/.ir da Cprte :\lern,\ eneUl1lfllU respaldo na r,J.loahilidadcda pn:tcnsào fr.:nte às necessidades da soekdmlc. (1\VILA. Kdkn Criqina de i\ndraJ.:. Teoria t.b reserva do possívcl.Jus :"ll\'igandi. l •.'resina. ano IS. fl. 355X.::!9 mar. ::!OI3. Disponível em: <hltr:/ijus.eom.br/artigQsi240ó2>. Acessoem: 7 ago. 2nD) .•S,\RLE1: Ingo Wolfgang_ Os f);n:itns Sociais corno Din:il\ls. I'undarnent;li~: nmtributo para um halanço :lOSvinteanos da Constituiçào Federal de I'lXX. In SOUZA :"ETO, Cláudio Pereira de; SAR\IEKI"O. Daniel; Bl\'ENBOJM.Cill"tavo (Org.). Vin": Ano~ da C'<lllstilUio;iloI'ed",ral Je 1988. Ri(, (.1<:Janeiro: 1,umen Juri".1009 . 47'1.510. p. 498.
tv1ini"'lérin 1"'lblico do bt;Hln do I\mazonasf'na'ur;ldori<l-trl'raJ dl. .I11...li,'il
13',23',24',57',97' e 98' Promotorias de JustiÇil de .\lanaus-A.\1
acolheu o entendimento doutrinário dominante. passando a dispor que. se os órgãos
estatais competentes descumprirem os encargos político-jurídicos a eles atribuídos pela
Carta Magna. compromctendo a eficácia e a integridadc de direitos individuais e/ou
coletivos consLituciollalmente assegurados. ainda que dl'rivados dc cláusulas revestidas
de conteúdo programatico. a intervenção do Poder Judiciário se impõe. não havendo que
se falar em violação à separw.;àodos poderes. notadamentc tendo cm vista a dimensão
política dajurisdiçfío constitucional.
Apcnas á guisa de ilustraçào. cita-se substancioso c
paradigmático julgado do Superior Tribunal dc Justiça. em julgado publicado em
07.11.2016. em que destaca a possibilidade do controle judicial de políticas públicas
conforme o caso concreto em respeito fi intcgridade Iisica c moral dos presos e aos
principias da dignidade da pessoa humana e do mínimo existencial. contra o qual não se
pode opor a reserva do possÍvcl. Transcre\'e-s~:
3(),'47
CONSTITl;CIONAL E ADMI:'-IISTRATIVO. CADEIAPÚBLICA. SUPERI.OTAÇAo. CONDIÇÕESPRECÁRIAS. AçAo CIVIL PÚBLICA PARAOBRIGAR O ESTADO A ADOTAR PROVIDÊNCIASAD~1INISTRATIVAS E APRESE:'-ITAR PREVISAoORÇA:YIENTÁRIA PARA REFORMAR OUCONSTRUIR NOVA UNIDADE PRISIONAl..AI.EGi\çAO DE OFE:'-ISA AO PRINCÍPIO DASEPARAÇÃO DE PODERES E DE NECESSIDADEDE PRJ"'VIA DOTA<;Ao ORÇA:YIENTÁRIA (ARTS.4'. 6' E 60 DA LEI 4.320/64). CONTROLEJUDICIAL DE POLiTICAS PÚBLICAS EM CASOSEXCEPCIONAIS. POSSIIJILIIJADE. CASOCONCRETO CUJA :YIOLDURA FÁTICA EVIDE:'-ICIAOFDISA A GARA:'-ITIA CONSTITUCIONAL DORESPEITO À INTEGRIDADE FÍSICA E MORALDOS PRESOS E AOS PRINCíPIOS DA DIGNIDADEDA PESSOA f1UMA:'-IA E DO MíNIMOEXISTENCIAL. CONTRA O QUAl. NAo SE PODEOPOR A RESERVA DO POSSíVEL.(REsp.1389952/MT-RECURSO ESPECIAL2013/0192671-0. Ministro HER\1AN IJENJAMIN, T2- SEGUNDA TUR:Y1A).1. !':a ongelll. a Defensoria Púb"a e o Ministeri
,
m'",.~ t• •.•
Minisrt-rio Públil"ll do [Mario 110Amazona:,;Promr<Jdori<J-(it'nl! dt' .Justi(<1
13',23',24",57",97' e 98' Promotorias de Justiça de 1\l.1naus-AM
Público do Estado do Mato Grosso ajuizaram AçãoCivil Pública visando obrigar o Estado a adotarprovidências administrativas c apresentar previsãoorçamentária para reformar a cadeia pública dei'vlirassol D'Oeste ou construir nova unidade. entreoutras medidas pleiteadas. em atenção à situação derisco a que estavam expostas as pessoas encarceradasno local. Destaca-se. entre as inúmerasirregularidades estruturais c sanitárias. a gravidadedo falO de - conforme relatado. as visitas íntimasserem realizadas dentro das próprias celas e emgrupos. 2. i\ moldura fática delineada pelo Tribunalde origem - e intangível no âmbito do RecursoEspecial por óbice da Súmula 7/STJ - evidencia clarasituação de violação à garantia constitucional derespeito da integridade física e moral do preso e aosprincípios da dignidade da pessoa humana c domínimo existencial. 3. t\essas circunstâncias - em queo exercício de pretensa discricionariedadeadministrativa acarreta. pelo não desenvolvimento eimplementação de determinadas politicas públicas.seriíssima vulneraçào a direitos c garantiasfundamentais assegurados pela Constituição aintervençào do Poder Judiciário se justifica comoforma de pôr em prútica. concreta e eficazmente, osvalores que o constituinte elegeu como "supremos deuma sociedade fraterna. pluralista e sem preconceitosfundada na harmonia social". como apregoa opreâmbulo da nossa Carta Republicana. 4. Oentendimento trilhado pela Corte de origem nãodestoou dos precedentes do STF - RE 795749 AgR.Relator: Min. Celso de Mello. Segunda Turma.Julgado em 29/0412014. Processo Eletrônico DJe-095Di\'ulg 19-05-2014 Publ;c 20-05-2014_ ARE 639.337-AgR. ReI. i\1in. Celso de Mello. Segunda Turma. DJe15.l).2011 - e do STJ. conforme AgRg no REsp110751l!RS. ReI. r\'linistro Herman Benjamin,Segunda Turma. DJe 06!l2/2013. Aplicação daSúmula 83/STJ. 5. Com efeito. na hipótesc subexamine. está em jogo a garantia de respeito àintt:gridade física e moral dos presos. cuja tutela,como direito fundamental. possui assento direto noart. 5°, XI.1X. da Constituição Republicana. 6. Contraa efetivação dessa garantia constitucional, o Estadode Mato Grosso alega o princípio da separação dospoderes e a impossibilidade de realizar a o pública
31/-17
ot\lini,,{ério Públinl dn LSI:Hlo do I\ma/.onas
PrIIl'Ufddon<I-Cil'nd dt, .1LI"li(;113',23",24',57",97' e 98' Promotorias de Justiça de \l.maus-Al\1
prd~J1dida sem prc\'l<l e correspondente dotaçãoorçamentária. sob pena de \-ioia\ão dos arts. 4°. 6" e40 da Lci 4.320/1964.7. A concretização dos direitosindividuais fundamentais não pode ficar condicionadaà boa vontade do Administrador. sendo de sumaimportância que o Judiciário alut:. nesses casos, comoórgão controlador da ati\"idadc administrativa. Trata.s\.' de inadmissível equí\(1CO defender que o princípioda separação dos poderes. originalmente concebidocom o escopo de garantir as direitos fundamentais.possa ser utilizado como óbice ti. realização dessesmesmos dircilos fundamentais. :S. Tratando-se dedireito essencial. incluso no conceito de 1111111010existencial. inexistirá empecilho jurídico para que oJudiciário estaheleça a inclusão de determinadapolítica pública \'itaJ nos planos orçamentários doente político. morl11ente quando não houvercomprovação objetiva de incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal. I.:omo na hipótese dosautos, 9. In casu. o pedido formulado na Ação CivilPública e para. exatamente. obrigar o Estado a"adotar pro\'idências administrativas e respectivaprl'vIsão orçamentária c realizar ampla reforma físicae estrutural no prédio que abriga a cadeia pública de~.Iirassol [)'Oeste/MT. ou construir nova unidade. demodo a atendcr a todas as condições legais previstasna Lei n" 7.210/84 (Lei de Execuções Penais). bemcomo a solucionar os problemas indicados pelasequipes de inspeção sanitária. Corpo deBombeiros~dilitar c CREA na documentação que instrui ospresentcs autos. sob pena dccominaçào de mulla". 10.Como sc vê. o pleito para a adoção de medidamaterial de reforma ou construçào não desconsideroua necessidade de previsão orçamentaria dessas obras.de modo que não há falar em ofensa aos arts. 4". 6" e60 da Lei 4.320/64, 11. Recurso Especial nãoprovido,lo.
É certo que o julgado aCIma refletc situação em que a
Lei Orçamentária era si1cnte à nccessidade de prever dotação para
reforma ou construçüo de unidade prisional.
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32'47
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Mini •.•tério Publim dn Estado do I\mazon<JsProt'ur<ldoria-Gt'ra! d!;"Jusri\'a
13~.23', 24", 57", 97" e 98' Promotorias de Justiça de Manaus-AM
Mas o que se quer deixar claro. e o julgado não tàz exclusão. é
sobre a tutela do Poda Judiciário a essas questões. como medida necessária às garantias
constitucionais estabelecidas aos presos que devem ser garantidas pelo Estado, como
concretização dos direitos individuais fundamentais que não podem ficar ao alvedrio da
vontade do Administrador. sem data. sem prazo. scm limites claros. mérito da presente
demanda.
Destarte. em que pese a imposição de obrigação de
fazer ao Estado pelo Judiciário instaure situação de aparente conflito,
decorrente sobretudo da cscassez de recursos públicos. cabe ao
Magistrado. nos estritos casos de omissão estatal sobre dever
constitucionalmente imposto. efetivar o que se denominou (rugic.:
choic.:e". optando por tutelar determinados valores em detrimento de
outros, de modo a compelir o Poder Público. mesmo no bojo de uma
situação dilemática. a agir de acordo com os preccitos prioritários
constantes nos mandamentos emanados da Lei Maior.
De fato. a notória omissão do Estado. face a dever
constitucionalmente imposto. não pode ser desconsiderada pelo
Judiciário, 1\a dicção de Konrad IIcssc. citado por Gilmar Mendes'2, a
Constituição é a "ordem jurídica fundamental de uma comunidade ou o
plano estrutural para a conformaçào jurídica de uma comunidade.
segundo certos princípios fundamt'ntais". de modo que qualquer conduta
que a vulnere traduz manifesta afronta ao próprio sistema jurídico - base
da vida em sociedade. devendo. por isso. ser devidamente sancionada.
11 Conforme alertam Cândice lisbOa Alves e Christiane Costa Assis, em termos de direitos fundamentais_ e de forma especial em relação aos direitos sociais -, a "escolha" costuma ser trágica porque podeprivar uma das partes de bens jurídicos extremamente relevantes como, por exemplo, a própria vida,como ocorre nos requerimentos de saude, Ou pode alijar a população da participação ou acesso aserviços de socialização Indispens<Íveis a sua formação plena enquanto cidadã, como no caso dasvagas na rede de ensino fundamental ou nas creches previstas as crianças ate cinco anos, (Artigoacessfvel atraves do endereço eletrônico http://npa,newtonpaiva,br/dlreito/?p=1161 _ /\
11 Curso de Direito ConstitucIonal, 2a edição, Saraiva, p, 11. <--.. ~ ~
3J/47
o1\lini"'tTio PülJ1inl do bl;]dn do AOl<l/.OIl;lS
l'nll-lll;J(Juriil-tl('r,ll dt, .IUqil.::1
13',23',24',57',97' e 98' Promotorias de Justiç<1 de Manaus-A:\-I
Sobre o tema. Luis RODCrlO Barroso leciona que
"atualmente. passou a ser premissa do estudo da Constituição o
reconhecimento de sua força normativa. do carúter vinculativo e
obrigatório dI.:' suas disposições. Vale dizer: as normas constitucionais
são dotadas de impnutividadc_ que é atributo dt' todas as normas
jurídicas. e sua inobservância há de dcflacrar os mect\nismos próprios
de coação. de cumprimento forçado. A propósito. cabe registrar que o
desenvolvimento doutrinário c jurisprudencial na matéria não eliminou as
tensões inevitáveis que se formam entre as pretensões de normati\"idade
do constituinte. de um lado. e. de outro lado. as circunstâncias da
realidade fática e as eventuais resistências do slalllS quo:'!';
Com esteio ncssa conclusão. e acolhendo
expressamente a teoria de Karl Loem.:nslein acerca do perigoso fenômeno
de erosão da consci0ncia constituciolHlll~. () SlF ::ldUL literalmente que:
( ... ) A omissi'io do Estado - que deixa de cumprir.em maior ou em nH'nnr extensão, ~, imposiçãoditada pelo texto constilucional - qualifica-se comocom(}ortamcnto rcn~stido da maior gra,,'idadcpolítico-jurídica, eis (IUC, mediante inércia. oPoder Público também desrespeila a Constituição.tamhém compromete :1 eficácia da declaraçãoconstitucional de direitos c também impede, porausência de medidas concretizadoras, a própriaaplicabilidade uos postulados c principios da LeiFundamental. - As situações configuradoras deomissão inconstitucional, <linda que se cuide deomissão parcial. refletem comport<lmento estatalque de\'e ser npclido1 (}ois a inércia do Estado -além de gerar a erosão da própria consciênciaconstitucional - qualifka-sc. perigosamente, comoum dos processos inf(lrm~lis de mudança ilegítima
l-'Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. O triunfo tardio do DireitoConstitucional no Brasil. Jus Navlgandi, TereSina, il.1lQ_JO, r.t---li_i_L 01 de novembrode 2005. Disponivel em: <b1t1l;l!ius.com.brlrevista/textoI7547>. Acesso e lBout. 2012.
14Teoria de la Constitu!cián, p. 222, 1983, Ariel, Barcelona.
Minis!t'rio Públiro do Estado do AmazonasF'rnrllraílona-Gt'ra! dt' .Iusti\';\
13",23",24",57",97" e 98" Promotorias de Justiça de \lanaus.AM
da Constituição, expondo-se, por isso mesmo, àcensura do Poder .Judiciário. Precedentes: RTJ162/877-879. ReI. Min. CELSO DE MELLO - RTJ185/794-796. ReI. Min. CELSO DE MEl.l.O. ODESPREZO ESTATAl. POR UMA CONSTITUiÇÃODEMOCRÁTICA REVELA-SE INCOMPATÍVELCOM O SENTl",IENTO CONSTITUCIONALRESULTANTE DA VOLUNTÁRIA ADESÃOPOPULAR Á AUTORIDADE NORMATIVA DA LEIFUNDAMENTAL. - A violação negativa do textoconstitucional. resultante da situaçào de inatividadedo Poder Público. que deixa de cumprir ou se abstémde prestar o que lhe ordena a Lei Fundamental -representa. notadamente em lema dc direitos clibcrdadcs de segunda geração (direitos econômicos.sociais e culturais). um inaceitável processo dedesrespeito à Constituição. o que deforma a vontadesoberana do poder constituinte e que traduz condutaestatal int.:ompativcl com o ,'alor ético-jurídico dosentimento constitllcional. cuja prevalência. noâmbito da colcti,'idade. revela-se fator capaz deatribuir. ao Estatuto Político. o necessário cindispensá,'cl coeficiente de legitimidade social.(ADI 1442 - DF I ReI. Min. CELSO DE MELLO IPublicaçào: Dl 29-04-2005 PP-00007). Grifou-se.
Em síntese. portanto. entende o Supremo Tribunal
Federal. com apoio na melhor dOLltrinal5• que ;.I concretização dos
direitos sociais tutelados (leia Constituição não se suhmete à cláusula
reserva do possível. Vale dizer. se os cidadãos não alcançarem direitos
mínimos. capazes de garantir o mínimo existencial. não será legitima a
alocação de dinheiro público para qualquer outra finalidade. Por essa
razão. o STf admite ltté mesmo o St.'qucstl'o de n~rb<ts públicas para
implementação dos direitos fundamentais que o Estado não se
incumbiu de efeti\':lrI6•
Fixada essa premissa. cumpre agora esclarecer que.
1< SAR~lF.NTO. Dani\.'1. Reser\:J do I'usshd e \tinimo E,istenó.l1. 1'1 Cumentários ã COllslitui"ao Federal de19NK p. 371/375. ~()()<).Gen ..Forcnsc.
Ib P~lrtudos. óla-se Il julgarn':nl<J U,l .•\1 553.712-i\!!R. Rd. \1 in. Ricardo Lc\\anuo\\skL PrilllCirno mE dI: 5-6-2U09. J-
35/47
otvlini ....lc-rio I'ühlko do ["lado do I\m;:ILIlIl;J'i
F'nll'ufadori,,-lier;l! clt, .JU"li',:-113',23', U', 57', 97' e 98' Promotorias de Justiça de \lanaus.Al\f
conforme expressamente consta no outrora citado acórdào do STF. a ide ia
de mínimo existencial se acha umhilicalmentc ligada à dignidade da
pessoa humana!'. Vale dizer. mini mo existencial nada mais é do que o
conjunto de condições to: direitos necessarios para que o ser humano possa
viver com di2-nidadc. Segundo Ingo \Volfgang Sarletl~. "temos por
dignidade da pessoa humana a qualidade intrinseca to: distintiva de cada
ser humano que o faL merecedor do mesmo respeito c consideração por
parte do Estado e da comunidade. implicando. neste sentido. um
complexo de direitos c deveres fundamentais que asseguram a pessoa
tanto contra lodo e qualquer ato dc cunho degradante e desumano. como
venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida
saudáveL além de propiciar e promover sua participa~'ào ativa e co-
responsável nos destinus da própria exisll'ncia e da vida em comunhão
com os demais seres humanos."
Ohviamentc. aqueles que se acham custodiados pelo Estado não
devem ter sua dig.nidade comprometida. cabendu <lU Poder Público a efetivação dos
direitos constitucionalmcnte previstos em rdação a eles. Nesse sentido. o artigo 3" da
Lei 7.210/84 é expresso ao dispor que. "au condenado e ao internado serão assegurados
todos os direitos não atingidos pela scntença ou pela lei....
Orlo Ale
Devc ser norteador nessa leitura que nào cumprimento da pena
no regime prisional correto aflige diretamente grupo determinado (interesses coletivos
slriclo sensu). unido pela circunstância fátü:a de encontrarem-se com penas privativas
de liberdade estabelecidas por decreto condenatório que. S~descumpridas. conduzirão o
apenado ao regim~ mais gravoso (fechado) sem que IlK' tenha sido garantida a
possibilidade de estar corrclam~nte cumprindo sua reprimenda recebendo a qualificaçào
necessária para seu retorno â sociedade.
36'-1-7
17Artigo 1°. 111. da ('('Ihlitlliçno CiJ"ufl dc IY~lLI'Dignidad.: da i'.:SS(';! I [llnlana c Dircitos Fundamcntai" na COllsIÍlui\.fl" h ..(kral deLi •...raria do Advogado. 2007. r. 62.
m"".• •,, .
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Minhtê'rio Públiw do Estado du Aml]znn~"Procllradori;.l-Gt'C<li r1t' .Jusli\":l
13",23",24',57",97' e 98" Promotorias de Justiça de :\<Ianaus-AM
Indiretarncntt.:. a regularidade do serviço prestado no âmbito
carcerário incide diretamente l1<lS estatísticas c números da segurança pública (direito
difuso). pois garante maiores níveis de ressocializaçào, menor número de fugas. motins.
desordem. conscqucntcmente. resguarda os direitos fundamentais da população privada
de liberdade.
In casiI. por ludo que já foi exposto. torna-se forçoso concluir
que a dignidade dos apenados que permanecem no regime de semiliberdade em unidade
prisional está sendo diuturnamcnte vilipendiada.
Da mesma forma. o Estado está abrindo mão de sua obrigação
em promover condições ao apenado de capacitação e estudo. \"isto que é sabido que no
regime fechado a minoria dos apenados tem acesso ao trabalho interno, sendo
progredidos para o regime scmiaherto e entregues fi sociedade sem a menor
qualilicação. Onde está o exercício da função de n:inserção social que deveria ser
executada pelo Poder Público?
o Plano Plurianual do Estado 2016-2019 prevIU Construção,
Refonna, Ampliação e Aparelhamento das Unidades Prisionais do Estado, em valores
que somados ultrapassam os RS 10.000.000.00 (vinte milhões). Assim. não há como
falar-se em ausência de planejamento tinancóro-orçamentário para o atendimento dos
pleitos ora formulados.
7 - DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
A medida de urgência enquanto ação inibitória tem fundamental
importância na estágio hodierno. dada a sua relc,"ância para. desd
continuação do ilícito.,
37/47
o,.I\liniq(Tin Publkn do ['dadn do Arnal:OIw",
F'n I(°IIrild(J ri<1-Gvr<ll ri (' .J 11"1il,,':l13',23',24',57",97" e 98' Promotorias de Justiça de :'II,lnilUS-AI\t
Poderá o JUIZ conceder tutela provisóna de urgência.
liminamlente ou após justilicaçào prévia. em decisão sujeita a agravo de instrumento.
nos teml0S dos arts. 300 c 55. do CPC e nos termos do art. 12 da Lei n. 7.34711985.
Transcreve-se:
Lei na, 73-1-7/85, Art. 12. Poderá o JUIZ conceder mandado
liminar. com ou sem justificação pr~\'ia. em decisão sujeita a
agravo.
~ 1" A requerimento de pessoa jurídica de direito público
interessada. c paru evitar gran~ lesão à ordem. à saúde. à
segurança c à economia pública. poderá o Presidente do
Trihunal a que competir o conhecimento do respectivo recurso
suspendt.:r a execuçào da liminar. em dt.:cisão fundamentada. da
qual caberá agra\'o para uma das turmas julgadoras. no prazo de
5 (cinco) dias a partir da publicação do ato.
S 2ú A multa cominada liminarmente só será cxigível do réu
após o trânsito t.:mjulgado da decisão fàvorável ao autor. mas
st.:ra devida dcsde o dia em que se houver configurado o
dcsculll pri mcnto.
38/47
CPc. Art. 300. A tutela de urgencla será wnct:dida quando
houwr elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
~ 1". Para a concessào da tutela dt: urgênCia. o JUIz pode.
conforme o caso. t.:xigir cauçào rt:al ou lidejussória idônea para
ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer. podendo a
cauçào ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferl..'ce-la.
* 2". A tutela dc urgencia podc scr concedida liminarmente o
após justificação prévia.
~
.;. ,- --
Ministrrio Público do Estado dn Ama:lol1asProl'lIradori~I-Gt'r<lJ r1t' .Iusri(il
13',23',24",57",97" e 98' Promotorias de Justiça de M.l.naus-AM
~ 30 A tutela de urgência de natureza antecipada não sera
concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos
da decisão.
No mesmo sentido da pronta tomada de medidas. os
ensinamentos de Luiz Guilherme ~larinoni. in \'erhis:
"As ações inibitória e de remoção do ilícito. diante de sua
natureza. não podem dispensar a tutela antecipatória. A técnica
antecipatória é imprescindível para a estruturação de um
procedimento efetivamente capaz de prestar as tutelas inibitória
e de remoçào do ilícito. Se a natureza dessas tutelas exige tal
técnica. não é dil1cil visualizar. na legislação processual. o local
de sua inserção. Ora, tanto o art. 461 do CPC, quanto o art. 84
do CDe. pennitelll 'ao juiz conceder a tutela liminarmente ou
mediante justificação prévia, citado o réu', na 'ação que tenha
por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não-fazer'."
(I!rifou.se) (MARll\'Ol\'L Luiz Guilht:orme. Tutela Inibitória e
Remoção do llicito. publicado no sítio do autor:
http://\\.'\vw.professormarinoni.com.hrlconsultado no dia
09.12.2005)
Acerca da plausibilidade do direito invocado, o que se pretende
ver resguardado é a prerrogativa constitucional de dignidade dos detentos, visitantes,
agentes de socialização e cidadãos em geral. especialmente no que tange à salubridade.
segurança e ao direito de gozar de um mcio ambiente equilibrado, bem como o direito à
individualização da pena. o direito à igualdnde de tratamento entre presos do gênero
masculino e do sexo feminino dada a diferença em rdação à realidade do regime
semiaberto feminino atual e o direito social de reali711ção da execução da pena.
especialmente em rdação ao regime plisiona! semi aberto e especialmente com olhar
para os propósitosretribuição.prcvcnçã~ç~o da pena.a i17
39/47
ol\:lini"'lt;rio PLibliro do ["I.Hlo elll :'\nWlOIl;I',
Pnll-urdl!llr;;l-(in;ll cll' .rll"ri,";113", 23', 24', 57', 97" e 98' I'romotorias de Justiça de .\lanaus-AJ\ 1
Lei de Execuções Penais c regra 4 das Regras de Manoda.
Acerca do pengo da demora. dest<lCa.se que a onllssão do
Estado do Amazonas em implementar um sistema cjicicntc de regime scmiabcrto acaba
por incrementar o aumento da criminaJidadc. desestimulando. por via de consequência.
as tentativas de ressucialização. vez que o próprio Estado assume sua impotência.
incapacidade e desinteresse em faler - de forma educati\-a. proporcional. gradual. e.
portanto. eficaz - a transiçJo do regime fechado para () aberto. em detrimento do
apenado - que lil:ixa de rcceb..:r a ncccssâria qualificaçào para seu retorno à soci~dade-
e da própria sociedade. que vive refém das organizações criminosas com seus sistemas
de justiça mais eficientes e menos corruptos que o sistema estatal de segurança pública.
Assim. não acolh.:r o pedido de concessào da antecipação da
tutela e permitir que a ilicitude se perpetue até o dia em que se pmlira a sentença tinal
(em caso de procedência). ou seja. o ilicito permanece ocorrendo antes da sentença
definiti\'a. o que frustra a linalidade da tutela inibitória.
Esse período de ilicitude jamais poderá ser compensado. posto
que - revele-se o truísmo da alimlação - o tempo quI.:' passou não volta mais.
Os danos dccorrcntes dessc tempo são. também. irreparáveis.
pois todos os processos e procedimentos em tramitação ou mesmo as questões extra-
judiciais deixaram de serem rcsol\idas pela Vara de E.'\ecuções Penais.
Pelo dito. é lato que existe justificado receIO de que o ilícito
continue a ser praticado antes da efeti\-açào da tutela final. vez que não há regime
semiaberto masculino. como disposto na LEP. estandu. pois. preenchido o requisito do
perigo na demora
Dada a pronta nl'cessidade de tomada de providências no
presente caso. nào é demais trazer à cola(,:âo a valios(l frase de C rndutti no sentido "o
-10.-17
MinÍ!-lério Pitblko do Estadn do AmaWIl3SPrncllrat!on,]-Cit'nJl de .Jusli~'i]
13",23",24',57",97" e 98"l'romolorias de Justiça de :\lanaus-Al\1
tempo é um inimigo do direito. contra o qual o juiz dcve travar uma guerra sem
tréguas:' (citado por DI!\AMARCO. Cândido Rangel. i\ reforma do Código de
Processo Civil. 2a ed .. p. 138).
Assim. como visto. tanto a fumaça do bom direito quanto o
pengo na demora da entrega da prestação jurisdicional tornam indiscutíveis a
possibilidade e a necessidade de se conceder a providência de urgência que vise
destinar um local condizcnte para a execução da pena em regime- de semiliberdade. de
modo a atender as diretrizes constitucionais. pennitindo o exercício dos direitos aos
apenados conforme estanekcidos pela Lei de Execuções Penais.
8 - DAS ASTREIi\TES E POSSíVEL SANç.Ã.O POR ATO ATENTATÓRIO ÀDlGNIIlAIlE DA JUSTIÇA
Sendo um dos mais antigos procedimentos judiciais. o
conlempl of court envolve o poder do juiz de proteger a dignidade de sua
corte ou de punir a desobediência a suas ordens. consistindo. portanto.
em métodos de coagir à cooperação. ainda que indireta, aplicando
sanções às pessoas en\'olvídas no processo.
Com efeito. a muha prevista no parágrafo único do art. 14 do
CPC/1973 - em punição ao ato atentatório ao exercício da jurisdição - veio disciplinada
no art. 77 e S~.do cpeno 15. como multa punitiva ao ato atentatório à dignidade da
justiça. devendo ser aplicada pelo magistrado. em seu atípico exercicio do poder de
polícia. de modo a coibir o cOnU!mpl (~rcourl e a garantir a probidade e efetividade
processual.
Com o advento do novo CPC/20l5. esta multa punitiva veio
"
tratada no art. 77. da seguinte fonna:
I\lil1i~lêrill Públko do ESladn <In AmazonasProruradori;l-Gt'ral de .IUSli"<1
13',23",24",57',97" e 98' Promotorias de Justiça de Manaus-AM
Art. 77. Além de outros pr('vistos neste Código. são
deveres das partl?s. de seus procuradores c de todos
aqueles que de qualquer forma participem do
processo:
(... )
IV - cumprir com exatidão as dccisôes jurisdicionais.
di: natureza provisória ou final. e não criar embaraços
( ... ,1° Nas hipóteses dos inCISOS IV c VI. o JUIZ
advcrtirá qualquer das pessoas mcncionadas no caput
de que sua conduta poderá ser punida como ato
<llclltatório à dignidade da justiça.
~ :::!<' A violação ao disposto nos inCISOS IV e VI
constitui ato atentatório ú dignidade da justiça.
devenuo o juiz. sem prejuízo das san~õcs criminais.
CIVIS e processuais cabíveis. aplicar ao responsável
multa de até vinte por cento do valor da causa. de
acordo com a gravidade da c(lnduta.
Parte da doutrina. seguindo a linha do STJ. embora
seja contrária ú aplicação d~ astreintes contra o próprio agente público.
entende ser plcnamentl? aplicável a multa do art. 77. ~:::!o de forma direta
contra agente púhlico recalcitrante. ;\Iest~ sentido se manifesta Daniel
Amorim Assumpçào Neves. :::!O 16:
42/47
Essa preocupação que tenho. entretanto. não é
suficientl? para legitimar a aplicação das astreintes ao
próprio agente púhlico. Parcela da doutrina entenu
que nesse caso a pressão psicológica
Minislfrio Públkn do Eswdo do Amm:nnasPronlradorht-Gt'ral dt' JU'ili\"t
13',23',24",57",97' e 98' Promotorias de Justiça de Manaus-AM
significativamente. porque o agente público passaria
a temer pela perda de seu patrimônio particular. Não
se duvida de que a pressão aumentaria. mas as
astreintes só podem ser dirigidas ao obrigado.
reconhecido como tal na decisão que se executa. O
agente público não e parte no processo. e dirigir as
astreintcs a ele caracteriza afronta aos princípios da
ampla defesa c do contraditório. o que o Superior
Tribunal de Justiça não admite. podt:'ndo o agente
público. entretanto, ser suncion.ldo com a multa
prevista no art. 77. ~ 2". do 1\'0\'0 CPC por ato
atentatório à di~nidade lI.l justiça. (Grifo nosso).
Outrossim. entendendo pela possibilidade de
aplicação da multa punitiva do art. 14. p. único. do CPC/1973 (atual
artigo 77. do NCPC) ao administrador publico renitente. já decidiu o TRF
da 23 Região:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. RECALCITRÂNCIA NO
DESCUMPRIMENTO DE DECISÂO JUDICIAL.
MULTA SANCIONATÓRIA. ART. 14. V. E * ÚN .. DOCPC. POSSIBILIDADE DE ATINGIMENTO DA
FAZENDA PÚBLICA. POSSIBILIDADE DE
ATINGIMENTO DE AGENTE PÚBLICO
PRESENTANTE. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE
RECORRER. 1. Se resta configurada recalcitrância no
cumprimento de decisão judicial. é possível a
aplicação de multa sancionatória. na forma do art. 14.
V. e S ún .. do CPC. mesmo que em desfavor da
Fazenda Pública. 11. A
43!
f'v1ini••térin Pliblil'o (\11 htado <lu Am<lZOIl;)'"Prol"uradoTiCl-l!\'rtll dt' JIl •.•ti~.a
13",23',24",57',97' e 98" Promotorias de Justiça de i\lanaus-A:\1
de tal multa sanciollatóri~\. justificada por seu
caráter peculiar, pode ah~lrc~H o próprio agente
publico prcscntante da cntid.lde pública
pCI,tinentl'. na LJu.lIidade de individuo que, de
alguma forma. participa do processo. lI!. Como.
nessa hipótese, a obrigação no sentido d~ pagar multa
cominatória t' imposta àquele agente público,
transparece a aus~neia de Inter~ssc em recorrer por
parte daquela entidade públiça. pois a sanção ora
atacada atinge scu alvo subjetivo de modo
personalíssimo.(TRF-2-AG:20 12020 I 0015150 RJ
2012.02.0 I .001515 -O.Relator: Dcscm hargadora
Federal VERA LUCIA LIi\1A,Data de
.Iulga111cl1to:06/06/20 12, OITAVA TURMAESPECIALIZADA, Data de Publicação:E-D.lF2R-
Data:O 1/08/20 12-Pági na: 167/168)( Grifo Nosso).
No presente, então, diante dos urgentes anseios da população
manauara em ver realizado o direito em questão e vcr dirimida a possibilidade de
repercussões sociais ainda mais danosas advindas da omissão estatal, tem-se devida a
aplicação de tutela de urgênda devidamente ancorada por astreinles sintonizadas com o
efetivo cumprimento basilar da medida e. caso observado embaraço ao cumprimento da
ordem jurisdicional por por parte dos agentes públicos envolvidos diretamente com o
polo passivo da demanda. a aplicação das sançôes proçessuais relativas a ato atentatório
da dignidade da justiça.
9 - DOS PEDIDOS
Diante do quadro 1:'Í.tico que ora
Ministério Público:
Minislério Publiro do E<;tado lio AmazonasProcllradoria-Gt'ral dl' Justi~.<l
13',23',24",57",97" e 98' Promotorias de Justiça de 1\1anaus~AM
7.1 ~O recebimento da inicial:
7.2 - A concessão de TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
ANTECIPADA em caráter liminar. nos termos do art. 300. *2°.
do CPC/2015 c do art. 12 da Lei n. 7.347/1985, no sentido de
determinar que o ESTADO DO AMAZONAS. (il no prazo de
60 (sessenta) dias, apresente indicação formal. mediante
comprovação em publicação de ato administntivo na
imprensa oficial, de um no\/o conjunto ~\rguitetônieo para o
cumprimento de pena do re~ime semiabl'rto de acordo com
as exigências normativas e necessidades penitenciárias
discriminadas no item 5.6 do presente manifesto. bem como.
seguidamente. Oi) após etal)~' anterior, no prazo de 90
(noventa) dias. tenha o referido conjunto :Irquitetônico já em
efetivo funcionamento estrutural c já em efetiva alocacão
dos presos de cumprimento de pena do regime semiaberto
masculino, sob pc na de multa diária coercitiva. no valor de R$
20.000.00 (vinte mil reais). cujo montante não exceda a R$
SOO.OOO.OO (oitocentos mil reais) e seja destinado ao Fundo
Penitenciário do Estado do Amazonas. na forma dos arts. 139,
IV. e 536. ~Io. ambos. do CPC:
7.3 - A comunicação processual pessoal da parte requerida na
pessoa do Governador do Estado e do Secretário de
Administração Penitenciária. para que cumpram com exatidão e
não cricm embaraços à efetivação da decisão antecipatória de
tutela concedida no itcm 7.2. cientificando-os de que.
transcolTido in a/bis o prazo concedido a contar da publicação
da decisão concedida no item 7.2. sua omissão será punida a
t\,lini ...•li.rio PúlJlit.o (ln ESI;.Illo <lu Am<lznnasí-'TlI("lIradori:l-Gt'raJ dt, .Iu...•!i,.;j
13",23",24",57',97' e 98' Promotorias de Justiça de :\fanaus-A:\1
innigida. a cada um deles. uma multa diária no valor de R$
2.000.00 (mil reais). cujo montante não exceda a 20% do valor
da causa e seja destinado à Fazenda Pública EstaduaL nos
termos do art. 77. ~~ 10 ao 4° do CPC:
7.4 - A designação de audiência de mediação e de conciliação.
na torma do art. 334. do CPC:
7.5 - A citação do Estado do Amazonas para. requerendo.
contestar a presente ação:
7.6 - A produção de todas as prO\'as em direito admitidas.
máxime testemunhaL documentaL pericial e inspeção judicial
tudo desde logo requerido;
7.7 - A confirmação. em sede de TUTELA FINAL. dos termos
ddineados em rdaç,10 à tutela de urgência conforme item 7.2.
condenando o Estado do Amazonas. ainda. à obrigação de fazer
consistente na instalação de uma Unidade Prisional para o
cumprimento de pena em regime scmiaberto em
l\lanaus/Ai\L a qual deverá atender às normas técnicas e legais
pertinentes. especialmente no que tange à locali7.ação. estrutura.
organização. salubridade e segurança:
7.8 - A dispensa do pagamento de custas. emolumentos e outros
encargos. conforme o artigo 18 da Lei n. 7.347/85.
/10 - DO VALOR IJA CAUSA
~
.• •• •
~.~,!:Y..Ministhio Públit"o do Estado do Arnal.Onas
Pnlt'uraoori,J-Gt'lfll dt' .Jusli<:<l13',23',24",57',97. e 98' Promotorias de Justiça de :\fanaus~AM
Dá-se à causa. para os tins do art. 291 do Código de Processo
Civil. o valor de R$1.000.000.00 (UI11 milhão de reais). já que. no momento, apresenta
quantificação financeira incstimawl.
i\.1anaus/AM. 02 de agosto de 2018.
/ ;,j~~~ÁDEP omolvra de .Justiça
IY Promotoria de Jus/iça -
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Of)EPPP
/'iTAZ LJ~CIMENTO
Promotor de Justiça97". Promotoria de Justiça -
PROEP
'---/ .-,PYARA REBECA A. M.15E PAULA
Promolora de Justiça98". Promotoria de .Justiça -
PROEP
'f- RA VIANAr 10101 de .1usfira
23". % ia de .Jus/iça-PROEP
• 1'1" 'CIU.,Promotor de .Justiça
57". PronwlOria de Jus/ira-PROf)ElJIHC
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2.1".Promotoria
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