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Memória, Atenção, e Inteligência
Pedro Afonso
Professor Auxiliar de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Lisboa
2012
Memória
• Diariamente uClizamos a nossa memória quando recordamos uma morada, prosseguimos o trabalho do dia anterior, telefonamos a um amigo para felicitá-‐lo pelo seu aniversário, etc.
• Além disso, existe uma série de capacidades que, apesar de não as uClizarmos há algum tempo, uma vez aprendidas não nos esquecemos delas: por exemplo, andar de bicicleta, nadar, conduzir um automóvel, etc.
Memória
Definição
A memória pode ser definida como a capacidade de adquirir, reter e uClizar secundariamente uma experiência (Serrallonga, 1980).
Memória -‐ classificação
1. Memória Sensorial
2. Memória de curto prazo
3. Memória de longo prazo
3.1 DeclaraCva
3.2 Processual
-‐ Episódica -‐ SemânCca
Memória Sensorial
• A memória sensorial regista toda a informação proveniente dos nossos órgãos dos senCdos (olfacto, audição, visão, etc.), processa a informação e compara-‐a com a informação previamente armazenada na memória de longo e curto prazo.
• Corresponde à fase inicial e precoce da nossa memória.
• A informação selecionada e gravada neste nível necessita de ser posteriormente processada como memória a curta prazo ou rapidamente se perde.
Memória de curto prazo • A memória de curto prazo é conhecida também como a memória de
trabalho (working memory), permiCndo-‐nos executar uma tarefa facilmente (por exemplo, ir à cozinha buscar um prato no armário e regressar à mesa de jantar).
• Responsável pelo registo da informação de curto prazo (alguns minutos), tem uma capacidade de armazenamento limitada (cerca de 6-‐7 itens).
• Inclui a capacidade de prestar atenção, compreender, reconhecer e raciocinar, dentro de determinado contexto.
• Parte da informação proveniente da memória sensorial e de curto prazo é codificada na memória a longo prazo.
Memória de longo prazo
• A memória de longo prazo diz respeito à informação armazenada ao fim de algumas horas, dias ou anos e, contrastando com a memória de curto prazo, a sua capacidade de armazenamento é praCcamente ilimitada.
• É aqui que ficam armazenadas todas as nossas recordações, o conhecimento sobre o mundo, assim como a linguagem e respecCvas regras, significados e conceitos.
Memória de longo prazo Esta memória é subdividida em:
Memória declara8va
Engloba informação factual acerca do mundo ou das experiências do próprio.
ü SemânCca (informação geral obCda através da leitura, aprendizagem na escola, educação, etc.)
Expl. Como se divide o poder em Portugal?
ü Episódica (dependente do tempo)
Expl. Onde passou as úl8mas férias?
Memória processual
Engloba a aquisição de capacidades percepCvo-‐motoras.
Expl. Conduzir um automóvel
Patologia da Memória Podemos dividir as alterações da memória em quanCtaCvas (amnésias) e qualitaCvas (paramnésias). Amnésia A amnésia pode ser definida como a incapacidade total ou parcial para evocar acontecimentos ou experiências recentes ou remotos, apesar da atenção se manter preservada. 1. Amnésia Psicogénica (Expl. histeria)
2. Amnésia Orgânicas (expl, traumaCsmo craneano, intoxicação alcoólica)
3. Amnésia Global Transitória (dura habitualmente 12H, Expl. epilepsia)
4. Amnésia persistente (expl. síndrome de Korsakoff, hipóxia crónica)
Patologia da Memória Paramnésia Confabulação Trata-‐se de uma falsificação da memória, através da criação de ideias e circunstâncias que não são consistentes com a realidade. O doente não tem consciência de que a sua memória é falsa. Pseudologia fantás7ca O indivíduo descreve de forma exausCva ou pormenorizada determinadas situações ou experiências, produto da sua imaginação ou fantasia, como se Cvessem sido reais (por expl. Pert. Pers. AnCsocial) Hipermenésia A hipermnésia apresenta-‐se sob uma forma de exaltação incoercível de evocação de recordações (Enry ey, 1989) e corresponde à situação inversa da amnésia; ou seja, existe um aumento transitório anormal da capacidade de aprendizagem ou de evocação da memória. (Por expl, Estados maniformes, efeito cocaína).
Patologia da Memória
Paramnésia Falsos reconhecimentos • Os falsos reconhecimentos correspondem a paramnésias. Nestas
situações o indivíduo crê que está perante algo presente já conhecido por si no passado, embora sem base factual (déjà vu), ou perante o falso desconhecimento (jamais vu).
• Estas situações podem ocorrer esporadicamente no individuo saudável, mas encontram-‐se também associadas à epilepsia.
Atenção
• A atenção é um termo que envolve a capacidade psicofisiológica do cérebro focalizar, seleccionar e integrar a informação.
• Atenção é fundamental para a acCvidade consciente e para a adaptação a um mundo complexo.
• É uma função cogniCva básica, que interactua com outros processos cogniCvos e afecCvos.
• Nalguns casos, estar consciente e estar atento são considerados sinónimos.
Atenção e concentração
• A atenção é fundamental para a memória.
• A recordação de experiência não é possível, caso o sistema neuronal da atenção esteja lesado.
Atenção
(ReCrado de Introducción a la psicopatología y la psiquiatría, Vallejo Ruiloba, 2011)
Componentes da atenção
Componente Definição
Atenção selecCva Capacidade para seleccionar um eskmulo importante enquanto se suprime a atenção para as distrações compeCCvas
Atenção manCda Capacidade para manter a atenção durante um período de tempo prolongado
Atenção dividida Envolve a capacidade para responder a mais do que uma tarefa em simultâneo
Atenção alternante Esta é a medida da capacidade de processamento inerente ao sistema de atenção. É considerada uma forma de memória de trabalho
(Adaptado de “Sims: Symptons in the Mind”, Femi Oyebode, 2008)
Componentes da atenção
Componente Neuroanatomia Função Neuropsicológica
Teste Neuropsicológico
Atenção selecCva Córtex temporal, parietal e gânglios basais
Velocidade perceptual e motora
Teste de cancelamento de símbolos/letras WAIS-‐R
Atenção manCda Mesencéfalo, SRA Vigilância, distracCbilidade
ConCnuous Perfomance Test
Atenção dividida Córtex prefrontal, hipocampo
Memória de trabalho Teste de Stroop Teste numérico
Atenção alternante Córtex prefrontal Flexibilidade cogniCva RepeCção de dígitos Trail making Test Wisconson Card SorCng Test
Adaptado de Jordi E. Obiols, 2012
Patologias • DistracCbilidade (Expl. Estados maníacos/hipomaníacos, SDA) • Estreitamento da atenção (Expl. estados dissociaCvos) • Patologias orgânicas (traumaCsmos craneanos, intoxicações
drogas ou alcool, epilepsia, etc) • Sonolência • Tensão psicológica (ansiedade marcada, fobias) • Cansaço (síndrome de fadiga crónica, fibromialgia, etc.) • Alterações da percepção (esquizofrenia) • Depressão
Atenção
Atenção
• A atenção é fundamental para a memória
• A recordação de experiência não é possível caso os sistema neuronal da atenção esteja lesado
Inteligência – definição A inteligência é a apCdão mental geral que incluiu a capacidade de raciocinar, resolver problemas, pensar de forma abstracta, planear e aprender com a experiência, e reflete uma capacidade mais ampla para compreender o ambiente de cada um. American Associa8on on Mental Retarda8on
Avaliar a Inteligência
Escalas de Avaliação de Inteligência
• WAIS-‐III, Escala de inteligência de Wechsler para adultos III (Wechsler, 1997).
• WISC-‐IV, Escala de inteligência de Wechsler para crianças IV (Wechsler, 2003).
• Escala de Stanford Binet (5º edição).
• K-‐ABC, Bateria de avaliação de Kaufman para crianças (Kaufman y Kaufman, 1983).
• Teste de matrizes progressivas de Raven (Raven, 1988).
Quociente de Inteligência -‐ QI
Curva de Bell – distribuição normal QI = Idade Mental/Idade Crnológica x100
• A classificação de Davis Wechsler era a seguinte:
• QI acima de 127: Superdotado • 121 -‐ 127: Inteligência superior • 111 -‐ 120: Inteligência acima da média • 91 -‐ 110: Inteligência média • 81 -‐ 90: Embotamento ligeiro • 66 -‐ 80: Limítrofe • 51 -‐ 65: Debilidade ligeira • 36 -‐ 50: Debilidade moderada (imbecil) • 20 -‐ 35: Debilidade severa (Idiota) • QI abaixo de 20: Debilidade profunda
Quociente de Inteligência -‐ QI
Psicopatologia da Inteligência
• Podemos disCnguir três grandes alterações dos processos intelectuais:
1. Os défices da inteligência
2. A deCoração da inteligência
3. A inibição da inteligência
Défices da Inteligência Deficiência Mental • Capacidade intelectual geral significaCvamente abaixo da média, com
um QI de aproximadamente 70 ou menos (Critério A), que é acompanhado por limitações significaCvas no funcionamento adaptaCvo em pelo menos duas das áreas seguintes: comunicação, cuidados próprios, vida domésCca, competências sociais / interpessoais, uso de recursos comunitários, autocontrolo, competências acadêmicas, trabalho, tempos livres, saúde e segurança (Critério B).
• O seu início deve ocorrer antes dos 18 anos (Critério C).
DSM IV TR
Causas de Deficiência Mental
• Infecções pré-‐natais ou pós-‐natais (rubéola, toxoplasmose, sífilis, meningites, etc.).
• Tóxicas (abuso de álcool na gravidez, consumo drogas, etc.)
• TraumaCsmos cerebrais pré-‐natais, peri-‐natais ou pós-‐natais (tentaCvas de aborto, disfunções placentárias, hemorragia intrauterina, etc.)
• Transtornos metabólicos (metabolismo dos lípidos, aminoácidos, hipoCroidismo, hiponatrémia, etc.)
• Alterações cromossómicas (Trissomia 21, Síndrome de Turner, Síndrome de Klinefelter; Sídrome de X frágil, etc.)
• Causas desconhecidas (microcefalia, anencefalia, nanismo intrauterino, etc.)
Um exemplo – fenóCpo de défice da Inteligência
Deficiência Mental: CID – 10
CLASSIFICAÇÃO F 70 -‐ Deficiência mental leve (QI 50 à 69) F 71 -‐ Deficiência mental moderada (QI 49 à 36) F 72 -‐ Deficiência mental severa (QI 35 à 20) F 73 -‐ Deficiência mental profunda (QI abaixo de 20)
Psicopatologia da Inteligência
• Podemos disCnguir três grandes alterações dos processos intelectuais:
1. Os défices de inteligência
2. A deCoração da inteligência
3. A inibição da inteligência
2. DeCoração da Inteligência • A deCoração da inteligência ocorre habitualmente nas idades
avançadas da vida e envolve uma diminuição das funções integraCvas superiores: a memória, o pensamento, a orientação, o juízo e a capacidade para resolver novas situações.
• Ocorrem juntamente com uma deCoração progressiva da personalidade, afectando a vontade, a afecCvidade ou intensificando algumas caracterísCcas do carácter (avareza, ciúme, arrogância, etc.).
• Na sua origem estão várias patologias cerebrais orgânicas
(Demência de Alzheimer, Demências vasculares, Neoplasias cerebrais, TraumaCsmos cranianos, etc.)
Um exemplo – fenoCpo de deCoração da Inteligência
Doença de Alzheimer
Psicopatologia da Inteligência
• Podemos disCnguir três grandes alterações dos processos intelectuais:
1. Os défices da inteligência
2. A deCoração da inteligência
3. A inibição da inteligência
3. Inibição da Inteligência • As inibições da inteligência são situações nas quais existe um afectação da
inteligência de carácter funcional e geralmente reversível. São designadas de “pseudo-‐deCorações intelectuais”.
Causas:
• Privações precoces das relações humanas • Ambientes traumáCcos, conflituosos ou onde não existe possibilidade de
vinculação afecCva • Défices sensoriais não dectados (expl., cegueira, surdez) • Pertubações psicológicas com início na infância (expl. Síndrome de défice de
atenção/hiperacCvidade) • Patologias psiquiátricas graves (expl., Depressão major, Pert. Obsessiva
compulsiva, etc.) • Pertubações da personalidade (expl., Pert. Boderline) • Situações de isolamento ou de insCtucionalização
Um exemplo – fenóCpo de inibição da Inteligência
Depressão Major
Inteligência emocional
• Para se alcançar um elevado nível de formação académica com excelentes resultados é necessário ter um QI elevado
• O QI não é suficiente para explicar por que razão, na vida profissional, há alguns que chegam ao topo das suas carreiras ou se disCnguem em termos de sucesso, face aos seus semelhantes
"A inteligência emocional refere-‐se à capacidade de iden8ficar os nossos próprios sen8mentos e os dos outros, de nos mo8varmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos." 1
1(Daniel Goleman, 1998, Working with EmoConal Intelligence, Bloomsbury Publishing, London)
Inteligência emocional
1. Auto-‐Conhecimento Emocional
Reconhecer as próprias emoções e senCmentos quando ocorrem.
2. Controle Emocional
Lidar com os próprios senCmentos, adequando-‐os a cada situação vivida.
3. Auto-‐mo7vação
Dirigir as emoções a serviço de um objeCvo ou realização pessoal.
4. Empa7a
Reconhecer emoções no outro e empaCa de senCmentos.
5. Competência nos relacionamentos inter-‐pessoais Interação com outros indivíduos uClizando competências sociais.
1(Goleman D, 1998, Working with Emotional Intelligence, Bloomsbury Publishing, London)
"Life is like a box of chocolates. You never know what you're gonna get." Forest Gump
Bibliografia
Afonso P. Esquizofrenia: Para além dos mitos, descobrir a doença. Cascais. Principia Editora. 2010.
American Psychiatric AssociaCon. DiagnosCc and StaCsCcal Manual of Mental Disorders. Washington, DC, 4th ed. (DSM IV-‐ TR), 2000.
Casey P. and Kelly B. Fish's clinical psychopathology:signs & symptoms in psychiatry. (3th ed.). Bristol,The Royal College of
Psychiatrists. 2007.
Gelder M., Mayou R. and Cowen P. The Shorter Oxford Textbook of Psychiatry.(5th ed). New York. Oxford University Press. 2006.
Goleman D, 1998, Working with EmoConal Intelligence, Bloomsbury Publishing, London.
ICD-‐10: The ICD-‐10 ClassificaCon of Mental and Behavioural Disorders : Clinical DescripCons and DiagnosCc Guidelines. Geneva.
World Health OrganizaCon. 1992.
Ordi E. Obiols. Manuual de psicotalologia general, editorial biblioteca nueva, Madrid, 2008.
Mackinnon R.A., Michels R. The psychiatry interview in clinical praCce. Philadelphia. W.B. Saunders Company. 1971.
Pio-‐Abreu J.L. Introdução à psicopatologia compreensiva. (2ª ed.). Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian. 1997.
Sims A. Symptoms in the Mind: An IntroducCon to DescripCve Psychopathology (4rd ed). Elsevier. 2008.
Trepacz P.T e Baker R.W., Exame Psiquiátrico do estado mental. Lisboa. Climpesi. 2001.
Vallejo Ruiloba J. Introducción a la psicopatologia y la psiquiatria. (7ª ed.). Barcelona. Masson. 2011.