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C APÍTULO 5Prescrição
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Capítulo 5
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A meta tradicional dos programas de atividade física para a promoção
da saúde enfatizavam primariamente o aumento do condicionamento
aeróbico. Entretanto, atualmente considera-se que a execução de atividadesde moderada intensidade (3 a 6 equivalentes metabólicos MET) resulta
em benefícios para a saúde mesmo quando o condicionamento aeróbico
(VO2
de pico) não se altera. Portanto, pode-se utilizar a prescrição de ati-
vidades físicas segundo uma lógica em pirâmide (Fig. 5.1) buscando alcan-
çar plenamente os benefícios da atividade física regular. Fica evidente que
a adoção de um estilo de vida ativo inclui tanto a prática de exercícios
estruturados quanto a incorporação da atividade física no cotidiano. Portanto,
o médico deve compreender que prescrever atividade física exige interferir
no comportamento e provocar uma mudança de atitude, o que demandamais que simplesmente informar ao paciente sobre como fazer exercícios
com segurança (Southard, 1998).
O gasto calórico mínimo parece ser diferente para provocar aumento
do condicionamento aeróbico, redução da gordura corporal ou diminui-
ção do risco de doenças crônico-degenerativas em parte devido a nature-
za multifatorial dos processos patológicos. Além disto, a susceptibilidade
individual para expressão dos efeitos crônicos do treinamento também é
diferente para cada tipo de adaptação. Por estas razões, a prescrição deatividade física para a promoção da saúde deve ser adaptada a cada situ-
ação individual considerando o sexo, a idade, o nível de condicionamento
físico, a presença de doenças e a velocidade de progressão das adapta-
ções. Entretanto, como regra geral, recomenda-se atingir entre 150 e 400kcal
diários em atividades físicas/exercício (Haskell, 1994; U.S. Surgeon General,
1996), considerando-se 1.000kcal de gasto calórico semanal como limite
mínimo, o qual deve ser a meta inicial para indivíduos sedentários que ini-
ciam um programa. Apesar de valer o conceito de que é possível utilizar a
atividade física para a promoção da saúde sem a necessidade de engajamentoem um programa formal de exercícios estruturados, continua existindo uma
relação de dose-resposta evidente entre volume de treinamento e benefí-
cios (Blair e col., 1995; Paffenbarger e col., 1994; Pate e col., 1995), justi-
ficando-se a busca de prescrições com volumes de exercício tão altos quan-
to o risco e desejo do paciente permitirem. Desta forma, recomenda-se procurar
atingir um gasto calórico diário em atividades físicas entre 300 e 400 kcal à
medida que o indivíduo adquire condicionamento, o que corresponde a um
limite mínimo de aproximadamente 2.000kcal de gasto calórico semanal. A
Tabela 5.1 apresenta alguns exemplos de estratégias para atingir este gasto
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Sentar
eventualmente
Assistir TV Jogos eletrônicos
2-3 x/semana
Lazer ativo(jardinagem, trabalhos
manuais ao ar livre etc.) Fortalecimento muscular(flexões, abdominais etc.)
e alongamento
3-5 x/semana
Atividades aeróbicas
(caminhadas, ciclismo, natação,remo, esqui etc.) Esportes recreativos
(futebol, tênis, basquete,vôlei, peteca etc.)
Diariamente
Acrescentar passos extras à rotina Passear com o cão doméstico
Usar escadas em vez de elevador Estacionar o carro mais distante e caminhar
(Adaptado de American College of Sports Medicine. ACSM´s Guidelinesfor Exercise Testing and Prescription. 6th edition. Philadelphia,PA: Lippincott Williams & Wilkins, 2000.)
Fig. 5.1 Pirâmide da atividade física.
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Tabela 5.1Tempo Necessário para um Indivíduo de 70kg
Alcançar Gasto Calórico Semanal de 2.000kcalem Algumas Atividades (Valores Aproximados)
Atividade Tempo Tempo diário Tempo diário
semanal (7x semana) (5x semana)
Caminhar 6h 50min 1h10minno plano
Pedalar 7h30min 1h5min 1h30min
Correr devagar 3h30min 30min 40min
Correr rápido 2h 20min 25min
Jardinagem 4h40min 40min 1h
Dança de salão 9h20min 1h20min 1h50min
Fazer compras 8h 1h10min 1h35min
Nadar 3h40min 30min 45min(crawl devagar)
Nadar 3h 30min 35min(crawl rápido)
Varrer tapete 10h30min 1h30min 2h10min
Fonte: Carvalho T, Nóbrega ACL, Lazzoli JK e col. Posição Oficial da SociedadeBrasileira de Medicina do Esporte: Atividade física e saúde. Rev Bras Med Esporte;
2:79-81, 1996.
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calórico em atividades variadas. A descrição prática mais generalizada é a
de que todo indivíduo deve acumular no mínimo 30 minutos diários de
atividade física de moderada intensidade na maioria ou em todos os diasda semana (Pate e col., 1995).
Destaca-se que a estimativa do gasto calórico durante o exercício é
dificultada pela variação da intensidade dentro da mesma atividade e sofre
grande influência de aspectos bastante variáveis entre indivíduos como técnica
e coordenação dos movimentos e eficiência mecânica. Por esta razão, deve-
se utilizar o bom senso na prescrição de exercícios com base em indicadores
de gasto calórico (Tabela 5.2).
Entretanto, metas mais individualizadas podem e devem ser traçadas sempreque possível, levando-se em conta o peso corporal, atividade(s) selecionada(s)
e meta de gasto calórico semanal. Um método útil para orientar a prescrição
de atividade física em função do gasto calórico individualizado baseia-se na
seguinte fórmula de conversão de MET a kcal/min:
kcal/min = (METs x 3,5 x peso corporal em kg)/200
Sugere-se decidir inicialmente sobre o tipo de atividade a ser praticada
(de acordo com o interesse do indivíduo e as potenciais limitações funcionais,como a aparecimento de isquemia miocárdica) e o gasto calórico semanal
a ser alcançado. Em seguida, a freqüência semanal planejada definirá o
tempo de exercício de cada sessão. Considere o exemplo de um indivíduode 80kg com um gasto calórico semanal planejado de 1.000kcal para uma
intensidade limitada a 7METs. Uma vez que 1MET corresponde ao gasto
calórico de repouso, o gasto calórico do exercício propriamente dito nestecaso é de 6METs, que segundo a fórmula, corresponde a 8,4kcal/min. Desta
forma, os 1.000kcal seriam acumulados ao longo de 119 minutos semanais,
ou seja, cerca de 30 minutos diários 4 vezes/semana ou 24 minutos pordia 5 vezes/semana.
Exemplo:
Atividades de 7METs (1MET repouso + 6METs) indivíduo de 80kg
Gasto calórico da atividade = (6 x 3,5 x 80)/200kcal = 8,4kcal/min
Meta de 1.000kcal/semana ≈ 119 minutos/semana
4 vezes/semana ≈ 30 minutos/sessão ou
5 vezes/semana ≈ 24 minutos/sessão
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Tabela 5.2Gasto Energético (METs) de Atividades Recreativas e Desportivas
Atividade Média Variação
BasquetebolCompetitivo 8,3 7 - 12Não-competitivo 3 - 9
Bilhar/sinuca 3,5 Boliche 2 - 4Boxe
Competitivo 13,3 Não-competitivo 8,3
Caminhada rústica 3 - 7CiclismoPasseio ou transporte 3 - 816km/h 7,0
Corrida4min/km 16,5 4h30min/km 14,3 5min/km 13,3 5h30min/km 12,7 6min/km 11,2 6h30min/km 10,0
7min/km 9,6 7h30min/km 9,2 8min/km 8,5
DançaSocial 3 - 8Aeróbica 6 - 9
EquitaçãoPassos 2,4 Trote 6,6 Galope 8,2
Futebol 5 - 12Handebol 8 - 12Judô 13,5 Montanhismo 7,2 5 - 10Natação 4 - 8Remo/canoagem 3 - 8Subir escadas 4 - 8Tênis 6,5 4 - 9Tênis de mesa 4,1 3 - 5Voleibol 3 - 6
(Modificado de American College of Sports Medicine. ACSM´s Guidelines for Exercise Testing andPrescription. 6th edition. Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins, 2000.)
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Princípios do Treinamento
O organismo adapta-se ao estímulo do treinamento segundo os princípiosda sobrecarga e da especificidade. O princípio da sobrecarga descreve que
para melhorar sua função, o organismo deve ser exposto à uma carga
(volume do treinamento) maior do que a usual. A exposição repetida à
esta carga, que representa um estresse, provoca uma adaptação acumulativa
do organismo que torna-se mais condicionado fisicamente, aumentando
sua capacidade funcional. O estímulo para a adaptação do organismo é a
carga imposta (ou volume do treinamento), que por sua vez, é o resultado
da interação entre intensidade, duração e freqüência semanal dos exercícios.O princípio da especificidade define que as adaptações decorrentes do
treinamento são específicas para o tipo de exercício e grupos musculares envol-
vidos. Por exemplo, o treinamento aeróbico (exercícios de longa dura-
ção) modifica muito pouco a potência anaeróbica (contrações de curta du-
ração e grande intensidade) e vice-versa. Em relação ao grupamento muscular,
o treinamento de corrida por exemplo, não melhora o desempenho du-
rante exercícios com os braços. Esta especificidade demonstra que a maior
parte das adaptações não ocorre na circulação central, mas na musculatura
treinada, como as alterações enzimáticas e o controle do fluxo sangüíneolocal. Devido a especificidade do treinamento, um programa de exercícios
que objetiva condicionar o indivíduos para exercer suas funções laborativas,
utilitárias e de lazer de amplo espectro deve envolver uma variedade de tipos
de exercícios e grupos musculares no treinamento.
Componentes da Sessão de Exercícios
Um programa de exercícios para a promoção da saúde deve contemplar
as seguintes qualidades físicas: condicionamento aeróbico, função muscular
esquelética (força e resistência), flexibilidade e composição corporal (ACSM,
2000). Exercícios de longa duração, que têm impacto direto sobre o condi-
cionamento aeróbico e composição corporal, devem ser praticados de 3 a 5
vezes/semana, enquanto que exercícios específicos de flexibilidade e de for-
ça/resistência muscular devem ser praticados 2 ou 3 vezes/semana (ACSM,
2000, Fig. 5.1). Mais comumente, exercícios de flexibilidade antecedem e/ ou sucedem os exercícios aeróbicos em uma mesma sessão de treinamento.
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O formato padrão de uma sessão inclui a fase de aquecimento (10-20
minutos), a parte principal (20-60 minutos) e o desaquecimento ou volta
à calma (5-10 minutos). Este texto aborda especificamente o condiciona-mento aeróbico como a parte principal, cuja prescrição deve definir tipo,
intensidade, duração, freqüência semanal e modo de progressão, conside-
rando em cada situação particular, o sexo, a idade, o nível de condiciona-
mento físico, as preferências e objetivos individuais, a presença de doen-
ças e a velocidade de progressão das adaptações. Os exercícios aeróbicos
(tipo) envolvem contrações repetitivas de grandes grupos musculares e
provocam aumento da capacidade de transporte de gases do organismo,
isto é do condicionamento aeróbico (aumento do VO2de pico), da ordem
de 10% a 30%, dependendo do volume de treinamento e das condiçõesiniciais. Uma vez decidido o volume do treinamento (gasto calórico semanal),
pode-se utilizar diferentes combinações de intensidade, duração e freqüência
para alcançá-lo. Por exemplo, ganhos comparáveis de condicionamento
podem ser obtidos com exercícios menos intensos e mais longos ou com
exercícios mais intensos e curtos. Medidas preventivas de lesões ortopédicas
devem ser adotadas principalmente quando realizados exercícios de alta
intensidade e impacto.
Quanto à intensidade, a faixa para aumentar e manter o condiciona-mento aeróbico é propositadamente ampla, uma vez que indivíduos se-
dentários e pouco condicionados podem ter ganhos com intensidades
menores, enquanto que aqueles treinados necessitam realizar exercícios mais
intensos para obter aumentos no condicionamento. Caso tenhamos disponível
o resultado de um teste de esforço com medida direta de gases expirados
(ergoespirometria) deve-se utilizar, pelo menos inicialmente, o limiar anaeróbico
(limiar ventilatório) como limite superior da intensidade prescrita. Do contrá-
rio, o método mais prático para quantificar a intensidade do treinamento utilizamedidas de freqüência cardíaca (FC), definindo-se o alvo como atividades de
intensidade moderada ou alta (Tabela 5.3). A FC máxima deve ser preferencial-
mente determinada no pico de intensidade de um teste esforço, e não esti-
mada uma vez que a FC máxima diminui com a idade (FC máxima estimada =
220 idade em anos) e possui grande variância entre indivíduos (10-12bpm).
O argumento mais importante para se definir a FC máxima durante um teste
e não estimá-la em pacientes com doenças cardiovasculares diz respeito aos
efeitos de drogas, particularmente betabloqueadores, os quais diminuem aresposta cronotrópica ao exercício, reduzindo a FC máxima.
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Tabela 5.3Classificação da intensidade dos Exercícios
com Duração < 60 minutos
Intensidade Relativa
Classe %FCR ou %VO 2R %FCmax Escala de Borg*
Muito leve < 20 < 35 < 10
Leve 20-39 35-54 10-11
Moderada 40-59 55-69 12-13Intensa 60-84 70-89 14-16
Muito intensa ≥ 85 ≥ 90 17-19
Máxima 100 100 20
(Adaptado de Pollock ML, Gaesser GA, Butcher JD, et al. The recommendedquantity and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory
and muscle fitness, and flexibility in healthy adults. Med Sci Sports Exerc;30:975-991, 1998.)FCR = freqüência cardíaca de reserva (FCmax FC repouso)VO2R = consumo de oxigênio de reserva (VO2 max VO2 repouso)*Sensação subjetiva de cansaço (escala de 6 a 20)
No caso de pacientes com manifestações clínicas durante o exercício,
o limite superior da intensidade será determinada pelo aparecimento dossinais e sintomas de isquemia e/ou descompensação (Tabela 5.4). Normalmente,
limita-se o treinamento a uma intensidade pouco inferior ao limiar dos sinais/
sintomas equivalente cerca de 80%.
Quanto à velocidade de progressão do treinamento, novamente é fun-
damental a individualização, procedendo uma reavaliação constante do com-
portamento do indivíduo e das respostas fisiológicas durante as sessões de
treinamento. Pode-se definir três fases na progressão: fase inicial adaptativa,
fase de aumento do condicionamento e fase de manutenção. Na fase ini-
cial adaptativa, não se deve estabelecer uma prescrição rígida, pois é mais
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Tabela 5.4Sinais e Sintomas Limitantes da Intensidade de Treinamento
(Limite Superior para Prescrição)
Aparecimento de angina ou outro sintoma de insuficiência coronariana Estabilização ou queda da pressão arterial sistólica com aumento da
intensidade do exercício Pressão arterial sistólica >240mmHg ou diastólica >110mmHg Infradesnível do segmento ST ≥1mm horizontal ou descendente Evidência cintilográfica de disfunção ventricular esquerda ou aparecimento
com o exercício de alterações de contratilidade parietal moderada a intensa Aumento da freqüência de arritmias ventriculares Aparecimento de alterações significativas no ECG (ex.: bloqueio
atrioventricular de segundo ou terceiro graus, fibrilação atrial, taquicardiasupraventricular, ectopia ventricular complexa etc.)
Outros sinais e sintomas de intolerância ao exercício
(Adaptado de American College of Sports Medicine. ACSM´s Guidelines forExercise Testing and Prescription. 6th edition. Philadelphia, PA: Lippincott Williams
& Wilkins, 2000.)
importante valorizar o aprendizado dos conceitos sobre exercício e fami-
liarizar o indivíduo com os gestos motores e eventuais equipamentos. Esta
fase, que dura em torno de 4 semanas, prepara o indivíduo para a fase de
condicionamento, onde as regras de prescrição podem ser mais bem
estruturadas. Durante esta fase, objetiva-se incrementar o volume de trei-
namento progressivamente a cada 2 ou 3 semanas até atingir o nível decondicionamento planejado. Após cerca de 4-6 meses de aumento do
condicionamento físico, inicia-se a fase de manutenção, quando o volume
de treinamento deverá variar pouco.
A definição do risco (Tabela 4.8 ) orienta sobre a necessidade de super-
visão médica e monitorização durante o treinamento nas fases inicial adaptativa
e de aumento do condicionamento. Durante o decorrer das semanas, pode-
se evoluir progressivamente para uma prescrição a ser cumprida sem super-
visão médica direta observando-se critérios sugeridos (Tabela 5.5), aumen-
tando assim o universo de pacientes tratados com exercícios.
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Tabela 5.5Critérios para Liberação da Prática de Exercícios
sem Supervisão Médica Direta
Capacidade funcional ≥ 8METs ou duas vezes a demanda ocupacional Respostas hemodinâmicas adequadas durante o exercício (elevação da pressão
arterial sistólica com aumento da intensidade) e na recuperação Alterações pouco significativas do ECG no pico do esforço (condução normal
ou sem modificação em relação ao repouso, arritmias benignas ou estáveis eresposta isquêmica não-diagnóstica [depressão do segmento ST <1mm])
Sintomas cardiovasculares ausentes ou estáveis Freqüência cardíaca e pressão arterial de repouso estáveis e/ou controladas Manuseio adequado pelo paciente dos fatores de risco (conhecimento e
efetiva mudança positiva do perfil de risco) e participação segura noprograma de exercício (conhecimento e respeito aos limites)
Demonstração pelo paciente de conhecimento do processo da doença, sinais esintomas relacionados, uso adequado da medicação e seus efeitos adversos.
(Adaptado de American College of Sports Medicine. ACSM´s Guidelines for
Exercise Testing and Prescription. 6th edition. Philadelphia, PA: Lippincott Williams& Wilkins, 2000.)
Competição Desportiva para Cardiopatas
O interesse que os jogos recreativos naturalmente despertam funcio-
na como fator positivo para a manutenção do hábito do exercício a
longo prazo. Em adendo, muitos indivíduos portadores de cardiopatiasdesejam praticar um desporto de forma competitiva. Portanto, a ativi-
dade física praticada como algum jogo colabora com os objetivos de
um programa de atividade física para a saúde. Como regra geral, deve-
se limitar a intensidade de acordo com as manifestações clínicas do in-
divíduo, conforme a seção anterior descreve. Por outro lado, quando
trata-se da prática de desportos competitivos, dois outros aspectos devem
ser considerados (Maron e Mitchell, 1994): 1) as exigências e motiva-
ção da competição pode levar o indivíduo a transgredir seus limites detreinamento, e; 2) as respostas autonômicas (hiperatividade adrenérgica
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e hipoatividade vagal) e hemodinâmicas provocadas pelo estresse mental/
emocional envolvido na disputa podem desencadear eventos cardíaco inde-
pendente da intensidade do esforço. Por estas razões, alguns desportos com-petitivos podem aumentar o risco durante o exercício e/ou acelerar a pro-
gressão da doença. Objetivando normatizar a conduta do médico diante da
situação cardiopata-atleta, foram estabelecidas diretrizes para decisão médi-
ca sobre participação de atletas competitivos com anormalidades cardio-
vasculares (Maron e Mitchell, 1994), onde cada tipo de doença, dependen-
do da gravidade e presença de complicações, pode justificar o veto à participação
em determinadas modalidades desportivas (Tabela 5.6). Além disto, algumas
modalidades desportivas envolvem colisão corporal e/ou submetem o prati-
cante a um risco aumentado no caso de ocorrer síncope, características quetambém devem ser consideradas na avaliação. Muito embora esta tabela possua
limitações como não englobar todas as possibilidades e não considerar as
diferentes formas de praticar a mesma modalidade, fornece uma orientação
prática na abordagem da questão. Na utilização da Tabela 5.6, quando uma
doença permite participação em uma determinada intensidade de uma ca-
tegoria, por definição, permite também em modalidades com intensidades
inferiores da mesma categoria. Por exemplo, um paciente liberado para exercícios
da classe IC (estático leve/dinâmico intenso), está automaticamente liberadotambém para modalidades do tipo IA (estático leve/dinâmico leve) e IB (es-
tático leve/dinâmico moderado).
Lembrando que a restrição à prática de exercícios deve obedecer às
características individuais de cada paciente e que deve ser pautada tanto
pelas limitações clínicas quanto pelos aspectos específicos das competições
desportivas, descrevemos, como exemplos, as diretrizes referentes à
participação desportiva de portadores de hipertensão arterial sistêmica, doença
arterial coronariana e algumas alterações orovalvares. Indivíduos comcardiomiopatias e insuficiência cardíaca podem e devem participar de um
programa de exercícios físicos regulares, mas devem ser vetados a participar
em desportos competitivos de forma sistemática.
Hipertensão Arterial
Como ocorre com a grande maioria dos portadores de doenças
cardiovasculares, o exercício físico deve ser parte integrante das medidas
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T a b
e l a 5 . 6
C l a s s i f i c
a ç ã o d o s E s p o r t e s B a s e a d a n o s C o m p o n e n t e s E s t á t i c o s
e D i n â m i c o s M á x i m o
s D u r a n t e a C o m p e t i ç
ã o
A . D
i n â m i c o l e v e
B . D i n â m i c o m o d e r a d o
C . D i n â m i c o i n t e n s o
I .
E s t á t i c o l e v e
B i l h
a r / s i n u c a
B e i s e
b o l
C o r r i d a d e l o n g a d i s t â n c i a
B o l i c h e
T ê n i s ( d u p l a s )
F u t e b o l *
G o l f e
T ê n i s d e m e s a
S q u a s h
T i r o
a o a l v o
V ô l e i
T ê n i s ( s i m p l e s )
I I .
E s t á t i c o m o d e r a d o
A u t
o m o b i l i s m o *
C o r r i d a d e c u r t a d i s t â n c i a
B a s q u e t e *
H i p i s m o *
N a t a
ç ã o s i n c r o n i z a d a
C o r r i d a m e i o - f u n d o
M o
t o c i c l i s m o *
S a l t o
s ( a t l e t i s m o )
H a n d e b o l
S a l t
o s o r n a m e n t a i s *
S u r f e
*
N a t a ç ã o
T i r o
c o m a r c o
R o d e
i o *
R u g b
y *
I I I . E s t á t i c o i n t e n s o
A r r e m e s s o s ( a t l e t i s m o )
F i s i c u l t u r i s m o *
B o x e *
C a r a t ê / j u d ô *
L u t a
o l í m p i c a *
R e m o / c a n o a g e m / c a i a q u e
E s q
u i a q u á t i c o *
C i c l i s m o *
G i n á s t i c a *
P a t i n a ç ã o d e v e l o c i d a d e
I a t i s
m o
L e v a n t a m e n t o d e p e s o *
M o n t a n h i s m o *
W i n
d s u r f *
( M
o d i f i c a d o d e S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d
e M e d i c i n a d o E s p o r t e . I C o n s e n s o
d e P e t r ó p o l i s : P o s i c i o n a m e n t o o f i c i a l s o b r e e s p o r t e c o m p e t i t i v o e m i n
d i v í d u o s
a c
i m a d e 3 5 a n o s . R e v B r a s M e d E s p o r
t e 2 0 0 1 ; 7 : 8 3 - 9 2 a p a r t i r d o o r i g i n a l
M a r o n B J , M i t c h e l l J H . 2 6 t h B e t h e s d a C o n f e r e n c e : R e c o m m e n d a t i o n f o r
d e
t e r m i n i n g e l i g i b i l i t y f o r c o m p e t i t i o n
i n a t h l e t e s w i t h c a r d i o v a s c u l a r a b n
o r m a l i t i e s . J A m C o l l C a r d i o l ; 2 4 : 8 4 5
- 8 9 9 , 1 9 9 4 . )
* r i s c o d e c o l i s ã o c o r p o r a l ; r i s c o e m c a s o d e s í n c o p e .
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de reabilitação e promoção da saúde também nos hipertensos e a motiva-
ção através da competição desportiva pode favorecer a adesão ao trata-
mento. Entretanto, visando manter uma relação risco/benefício favorável,três principais parâmetros orientam a decisão quanto as limitações à prática
desportiva em indivíduos hipertensos: 1) grau da hipertensão (Tabela 5.7); 2)
presença de lesão de órgão-alvo (hipertrofia ventricular esquerda, angina/
infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, doença vascular periférica, aci-
dente vascular encefálico, retinopatia ou nefropatia), e; 3) presença de
comorbidades ou de outros fatores de risco cardiovascular (Tabela 4.4).
Indivíduos que apresentam hipertensão leve e moderada (estágios 1 e
2) sem lesão de órgãos-alvo não possuem qualquer limitação à prática
desportiva competitiva. Hipertensos graves (estágio 3) devem ser vetados
a participar de modalidades com intenso componente estático (tipos IIIA,
IIIB e IIIC). Estas modalidades também não devem ser praticadas quando
coexistir lesão de órgãos-alvo.
Doença Arterial Coronariana
Portadores de doença arterial coronariana com risco baixo (Tabela 4.8)podem participar de modalidades desportivas com baixo componente
dinâmico combinado com baixo ou moderado componente estático (tipos
IA e IIA), enquanto que pacientes com risco moderado/alto deve se restringir
à prática competitiva de modalidades de baixa intensidade (tipo IA).
Certamente que na prática clínica ocorrem grande variações no perfil dos
pacientes, mesmo daqueles classificados como tendo o mesmo risco. Por
esta razão, novamente enfatizamos que o julgamento criterioso e indivi-
dualizado da situação deve pautar a conduta do cardiologista.
Prolapso de Válvula Mitral e Lesões Orovalvares Adquiridas
Prolapso de válvula mitral. A condição mais comum envolvendo as
válvulas cardíacas é o prolapso de válvula mitral, atingindo cerca de 5%
da população. Em relação à participação em modalidades competitivas
de indivíduos portadores de válvula mitral estruturalmente alterada
(espessamento ou alongamento das valvas), não existe qualquer restrição
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Tabela 5.7Classificação da Pressão Arterial em Adultos (> 18 anos)
Categoria Pressão Sistólica Pressão Diastólica
(mm Hg) (mmHg)
Ótima* < 120 < 80
Normal 120-129 80-84
Normal alta 130-139 85-89
Hipertensão
Estágio 1 (leve) 140-159 90-99
Estágio 2 (moderada) 160-179 100-109
Estágio 3 (grave) ≥ 180 ≥ 110
(Modificado de Sixth Report of the Joint Committee on Prevention, Detection,Evaluation, and Treatment of high Blood Pressure (JNCVI), Public Health Service,National Institutes of Health, National Heart, Lung and Blood Institute, NIHPublication No. 98-4080, November 1997.)
Válido para indivíduos sem tratamento medicamentoso anti-hipertensivo e semdoenças agudas. Quando as pressões arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD)estiverem em categorias diferentes, utilizar a categoria superior para classificaçãoda pressão arterial. Hipertensão sistólica isolada é definida como pressão sistólica≥140mmHg e pressão diastólica <90mmHg.
*Pressão arterial ótima está associada à menor risco cardiovascular; entretanto,valores exageradamente baixos (PAS <100mmHg e/ou PAD <60mmHg),
principalmente quando ocorrem sinais/sintomas, devem ser investigados quanto arelevância clínica.
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quando não existe nenhum dos seguintes fatores, os quais limitam a par-
ticipação à modalidades de baixa intensidade (tipo IA): a) história de sínco-
pe arritmogênica; b) história familiar de morte súbita associada ao prolapsode válvula mitral; c) formas repetitivas de taquiarritmias supraventricular
sustentada ou não-sustentada ou arritmias ventriculares complexas, prin-
cipalmente se exacerbadas pelo exercício; d) regurgitação mitral moderada
ou grave ou e) evento embólico prévio.
Insuficiência mitral. A gravidade da regurgitação mitral pode ser estimada
pelos efeitos sobre o volume ventricular esquerdo e a função sistólica. A
recomendação é não restringir qualquer prática competitiva nos indivídu-os em ritmo sinusal e com tamanho e função ventriculares normais. Nos
casos de leve aumento ventricular, mas função sistólica normal em repou-
so, seja em ritmo sinusal ou com fibrilação atrial, deve-se evitar especial-
mente o alto componente estático, podendo participar de modalidades com
componentes estático e dinâmico moderados (tipos IA, IB, IIA e IIB). Alguns
pacientes selecionados podem também participar em modalidades com alto
componente dinâmico (IC e IIC). Nos casos de fibrilação atrial, o teste de
esforço é importante para verificar o comportamento da resposta ventriculardurante o exercício de intensidade semelhante à situação competitiva. Quando
existe aumento ventricular e qualquer grau de disfunção ventricular esquerda,
não está autorizada a participação competitiva em qualquer modalidade.
Destaca-se que pacientes em terapia anticoagulante não devem participar
de modalidades que envolvam risco de colisão corporal (Tabela 5.6).
Estenose mitral. Indivíduos em ritmo sinusal com estenose leve podem
participar em qualquer modalidade desportiva. Naqueles pacientes em ritmosinusal ou fibrilação atrial com estenose leve ou moderada e pressão sistólica
de pico na artéria pulmonar <50mmHg, não devem participar em modalidades
com altos componentes estático e/ou dinâmico (liberado para tipos IA, IB,
IIA e IIB). Os pacientes em ritmo sinusal ou fibrilação atrial com estenose
leve ou moderada e pressão sistólica de pico na artéria pulmonar entre 50
e 80mmHg, são excluídos também das modalidades com componente
dinâmico moderado (liberados tipos IA e IIA). Já aqueles pacientes com
estenose grave ou pressão sistólica de pico na artéria pulmonar >80mmHg
durante o exercício estão vetados da participação competitiva. Aqueles em
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tratamento anticoagulante também não devem participar de modalidades
envolvendo colisão corporal (Tabela 5.6).
Insuficiência aórtica. Três principais indicadores da gravidade hemo-
dinâmica da insuficiência aórtica regem a restrição à prática competitiva
destes pacientes: a) sinais periféricos; b) tamanho ventricular; e c) função
ventricular. Estão liberados para participação competitiva sem restrições
aqueles pacientes com regurgitação leve ou moderada e tamanho ventricular
normal ou levemente aumentado (considerar a possibilidade de hipertrofia
fisiológica do treinamento). Alguns pacientes selecionados com pequeno
grau de aumento ventricular esquerdo não devem participar de moda-lidades com alto componente estático (liberados IA, IB, IC, IIA, IIB e IIC).
Os portadores de arritmias em repouso ou no esforço podem participar
somente de modalidades de baixa intensidade (tipo IA). Estão vetados da
participação competitiva os pacientes com as seguintes características: a)
detecção de aumento progressivo do volume ventricular em análises seriadas;
b) regurgitação grave; c) sintomas relacionados à regurgitação; e d) dila-
tação importante da aorta ascendente.
Estenose aórtica. Considerando que a natureza da estenose aórtica é nor-
malmente progressiva, reavaliações periódicas são fundamentais para o reajuste
da conduta sobre restrição à prática competitiva. A regra geral é que pacientes
com estenose leve (gradiente de pressão média da válvula aórtica medido
pela ecocardiografia Doppler ≤20mmHg) podem participar de qualquer
modalidade desportiva de forma competitiva. Estenose moderada (gradi-
ente entre 21 e 39mmHg) limita a participação a modalidades leves (tipo
IA) ou, em casos particulares, a modalidades de componentes estático edinâmico leve e moderado (tipos IA, IB, IIA e IIB). Todos os pacientes com
taquicardia supraventricular ou arritmias ventriculares múltiplas ou com-
plexas em repouso ou no esforço estão liberados para participar em competi-
ções de baixa intensidade (tipo IA). Pacientes com estenose grave (gradi-
ente ≥40mmHg) e aqueles com estenose moderada e sintomas estão veta-
dos da participação competitiva.
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