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NOVEMBRO / 2014 Emergência 22 ESPECIAL / RETARDANTES DE CHAMA Emergência 22 NOVEMBRO / 2014 ARQUIVO CKC Progressão das chamas pode ter sua velocidade reduzida com a adoção de substratos que agregam proteção a revestimentos em edificações Progressão das chamas pode ter sua velocidade reduzida com a adoção de substratos que agregam proteção a revestimentos em edificações ATRASO NO INCÊNDIO ATRASO NO INCÊNDIO

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ESPECIAL / RETARDANTES DE CHAMA

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ESPECIAL / RETARDANTES DE CHAMA

Emergência22 NOVEMBRO / 2014

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Progressão das chamas pode ter sua velocidade reduzida com a adoçãode substratos que agregam proteção a revestimentos em edificaçõesProgressão das chamas pode ter sua velocidade reduzida com a adoçãode substratos que agregam proteção a revestimentos em edificações

ATRASO NOINCÊNDIOATRASO NOINCÊNDIO

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NOVEMBRO / 2014 Emergência 23NOVEMBRO / 2014

Reportagem de Rafael Geyger/GHX Comunicação

ORS, em janeiro de 2013, despertou aatenção da sociedade para a necessida-de de proteger pessoas e edificaçõescontra incêndios. Contudo, um aspectoem particular do sinistro, responsáveldireto pela dimensão catastrófica dodesastre, ainda permanece pouco abor-dado em projetos arquitetônicos, nor-mas e regulamentos. A escolha do re-vestimento em pisos, forros e paredes,que em Santa Maria se revelou desas-trosa e cuja queima produziu uma fu-maça tóxica que causou a maioria das242 mortes, deve levar em conta o seudesempenho em termos de reação aofogo. Quando materiais combustíveissão utilizados e, por isto, seu compor-tamento em um incêndio fica aquém doprevisto nas normas, os chamadosretardantes de chama podem ser apli-cados em sua superfície e com alegadaeficácia: possibilitam um tempo dezvezes maior para a fuga em segurançado local do incêndio, afirma Soraya Je-ricó, presidente da Abichama (Associa-ção Brasileira da Indústria de Retar-dantes de Chamas).

Com a criação das Normas de De-sempenho na Construção Civil (NBR15.575) e legislações estaduais que vi-sam reduzir os riscos de incêndios emedificações, o Brasil passa hoje por ummomento importante para retratar seusavanços nas áreas de retardantes de cha-mas. O problema é que o país aindanão acompanha o desenvolvimentomundial na área. Segundo especialistasouvidos por Emergência, isto se devea uma série de fatores, como pouco co-nhecimento de projetistas, baixo incen-tivo ao ensino e pesquisa, carênciasnormativas, ausência de certificação na-cional e escassez de laboratórios paraensaios de qualidade e desempenho. Sehá deficiências no mercado, no entanto,elas não se explicam por uma baixa de-manda. Ao contrário, a aplicação de a-gentes retardantes pode se dar não ape-nas no isolamento termo-acústico deum espaço de reunião de público, comoa Kiss, mas aparece em itens presentesem residências e ambientes de trabalho,nos meios de transporte - automóvel,trem ou ônibus - e até mesmo no inte-

maior incêndio no Brasil emcinco décadas, a tragédia daboate Kiss, em Santa Maria/

rior de aviões. Onde há um item cujareação ao fogo não acompanha odesempenho mínimo esperado, osretardantes podem ampliar a proteção.

O engenheiro civil Antonio FernandoBerto, pesquisador e coordenador doLSF (Laboratório de Segurança aoFogo) do IPT (Instituto de PesquisasTecnológicas de São Paulo), cita oexemplo da madeira, material combus-tível costumeiramente empregado co-mo revestimento de teto. Segundo ele,embora tenha um comportamentoruim perante às chamas, a madeira ob-tém uma melhora suficiente para atin-gir os critérios mínimos de segurançacaso nela seja aplicado um verniz retar-dante. “Se a madeira apresenta um com-portamento inaceitável, você podetransformá-lo em aceitável”, diz. Coma aplicação superficial de produtos re-tardantes, a madeira utilizada em prati-camente todos tipos de construções,passa de material combustível para igní-fugo, ou seja, capaz de reduzir a propa-gação do fogo em situação de incên-dio. Seu uso em forros é comum emambientes residenciais, assim comoocorre com carpetes em pisos e teci-dos em paredes - todos de característi-ca combustível e que podem se favore-cer em termos de desempenho em si-tuação de incêndio com a aplicação deretardantes.

Rogério Lin, especialista em proteçãopassiva contra o fogo e diretor na em-presa CKC do Brasil, cita um cenáriocom estes três materiais empregadospara enaltecer mais uma vantagem douso de materiais antichamas: o retardona ocorrência do fenômeno flashover -termo em inglês que descreve uma sú-bita e generalizada combustão em in-cêndio. Conforme Lin, o flashover ocor-re decorridos de cinco a sete minutosde um sinistro, momento em que os ga-ses quentes do ambiente - alcançam cercade 400 graus e todos os materiais se au-toinflamam, mesmo sem contato dire-to com as chamas. “Quando aconteceo flashover, dificilmente alguém conseguesobreviver no ambiente”, diz. “Ao pro-teger o carpete, a parede e o forro comretardantes, você consegue postergar o

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flashover de forma considerável, poden-do obter de duas a cinco vezes maistempo antes do fenômeno ocorrer. Oincêndio generalizado vai acontecermuito depois. Dá muito mais tempopara as pessoas controlarem o fogo ouconseguirem escapar com menos riscosàs suas vidas e permite o combate pelosBombeiros de forma eficaz”, explica.

APLICAÇÃO SUPERFICIALRetardantes de chama não são aplicá-

veis à proteção de estruturas, como emconstruções em aço e concreto. Para aproteção destas estruturas, a exigência éde resistência ao fogo, ou seja, quanto omaterial ou sistema resiste ao calor echamas sem perder as suas proprieda-des. Já quando se fala em reação aofogo, significa definir quanto o materialpode contribuir para a evolução do in-cêndio (leia Reação ao fogo).

Conforme a professora Rosaria Ono,doutora em Arquitetura e Urbanismo,coordenadora do GSI (Grupo de Fo-mento à Segurança contra Incêndio), daUniversidade de São Paulo, quanto arevestimentos e acabamentos, há doistipos de situação de uso de retardantesde chama: basicamente, uma proativa eoutra reativa. No primeiro caso, os ma-teriais são desenvolvidos e já produzi-dos com produtos em sua composiçãoque dificultam a ignição e o crescimen-to das chamas, ou mesmo o desenvolvi-mento de fumaça ou calor. A outra situa-ção compreende o material não produ-zido com esta preocupação e que exige,

posteriormente, a incorporação de umtratamento de superfície em que se agre-ga alguma propriedade ao material. ParaAntonio Berto, a melhor solução é sem-pre incorporar à própria formulação.“Ao invés de pensar em usar o produtoantichama aplicado posteriormente, jádefinir na composição do material, pormeio de produtos retardantes de cha-ma, e conferir ao material esta caracte-rística com formulações específicas”. Opesquisador cita o exemplo do MDF,um derivado da madeira, que pode serencontrado no mercado com caracte-rísticas que atendem aos critérios de re-ação ao fogo. “Se você é um projetistae quer usar um acabamento em MDF,não é muito mais fácil especificar umque já atende as exigências do que arris-car para depois buscar um tratamentosuperficial? Eu tenho certeza que é umaopção muito mais inteligente”, ponde-ra.

Rogério Lin explica que retardantesde chamas são produtos oferecidos em

Berto: incorporar

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Jeffery Lin: durabilidade

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C diversas formas, tais comosoluções aquosas à base desais, revestimentos in-tumescentes que se asseme-lham muito a pinturas à basede água e em forma de ver-nizes para madeiras, man-tendo sua estética natural.Outras formas de aditivosretardantes também podemser encontradas para aplica-ções em processos produ-tivos na indústria, são pro-

dutos que podem ser acrescidos durantea produção de materiais plásticos porexemplo. No entanto, o Brasil ainda ca-minha a passos lentos nesta área.

Os produtos de tratamento anticha-mas podem ser aplicados em pratica-mente qualquer material para tratá-loscontra o fogo. “Acaba virando um subs-trato antichamas, o chamado materialignífugo”, diz. A aplicação pode se darpor pulverização ou outros métodos,conforme o objetivo que se quer atin-gir. “Há empresas em canteiros de obrasque utilizam a imersão da madeira porum período, para que ela possa absor-ver todas as propriedades do materialretardante”, exemplifica.

Conforme Soraya Jericó, da Abicha-ma, cada tipo de material pede por umelemento específico para que os retar-dantes de chama mantenham sua fun-cionalidade. Ela cita que os produtospodem ser aplicados, por exemplo, emcabos elétricos, eletroeletrônicos e linhabranca, meios de transporte rodoviá-rio, ferroviário, aéreo e marítimo, reves-timento de pisos e carpetes, móveis es-tofados e espumas para colchões, pai-néis de isolamento acústico e térmico eforros de tetos.

DURABILIDADEPara o especialista em proteção passi-

va contra o fogo, Jeffery Lin, tambémdiretor na CKC do Brasil, a durabilida-de do efeito retardante aplicado sobreos revestimentos depende de uma sériede condicionantes, que variam confor-me o ambiente e o desgaste que ele so-fre. O piso, por exemplo, é sempre umlocal que sofre maior agressão, diferen-temente de paredes e do forro. “Se es-tiver exposto a intempéries, o desgasteacaba sendo muito maior do que ummaterial que está numa área interna”,justifica. Segundo ele, em casos mais a-Fonte: Abichama

SAIBA MAIS SOBRE OS RETARDANTESOs retardantes de chama são substâncias quí-

micas utilizadas com o objetivo de retardar a igniçãoe diminuir a velocidade de queima dos materiais aosquais são incorporados. Eles podem ser adicionadosou aplicados a diferentes tipos de materiais, comotêxteis e plásticos, e tornam a propagação do fogomais lenta.

Existem mais de 200 tipos diferentes de retar-dantes, sendo classificados pelos produtores deacordo com seu constituinte químico. Estes ele-mentos determinam sua reação química com o fogoe, portanto, seu uso em diferentes aplicações. Oselementos mais comumente usados em retardantesde chama são bromo, fósforo, nitrogênio e cloro:

BromoRetardantes de chama com bromo em sua

composição são usados para equipamentos

eletroeletrônicos, como televisores, computadores,rádios, geladeiras e máquinas de lavar. São usadosno transporte público e também em móveis estofadose no isolamento acústico.

FósforoSão usados em espumas de poliuretano em

mobílias, colchões e isolação térmica de materiais.

NitrogênioSão usados em poliamidas, têxteis e papéis de

parede.

CloroOs retardantes que contêm cloro em sua compo-

sição são usados em couros, tintas, borrachas eoutros materiais.

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gressivos, o retardante é reaplicado a ca-da dois anos. Para outros ambientes, no-va avaliação só é feita após oito anos -período não definido em normas nacio-nais, mas que atende a recomendaçõesde fabricantes.

Rogerio Lin explica que este períodose refere aos chamados ciclos de ma-nutenção do retardante de chama, queé o tempo estabelecido para reaplicaçãoou análise. “É um ciclo de manutençãoque evita que o substrato venha a sofrercom a propagação de chamas ou per-der eficiência em um eventual sinistro”,diz. Como exemplo, ele cita um pisode madeira tratado com verniz retar-dante. Apesar de o produto ser absor-vido em parte pela madeira, grandeparte está na superfície - ele recebe umtop coat, uma proteção adicional na ca-mada superficial que vai garantir resis-tência à abrasão. “Depois de um bomperíodo de tráfego intenso, vai desgas-tando este verniz retardante sobre a su-perfície e o que se recomenda é umamanutenção preventiva”, completa.

De acordo com Antonio FernandoBerto, do IPT (Instituto de PesquisasTecnológicas), é preciso considerar quegrande parte dos produtos ignífugos

aplicados sobre tecidos são hidrosso-lúveis. Ou seja, quando aumenta a umi-dade no ambiente, o produto umedecee, quando ela baixa, o produto seca.“Quando seca, a água que está incor-porada a ele sai e sai carregando partedo produto retardante. Este processo,ao longo do tempo, vai resultar em que?Vai desaparecer ou vai estar numa pro-porção baixa, reduzindo gradualmen-te, a ponto de não ser mais efetivo”,argumenta.

Em sua análise, este é um ponto que

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reforça a importância de escolha pormateriais cujo efeito retardante esteja in-corporado já à sua formulação. É o ca-so da construção metroferroviária, porexemplo. Para Antonio Berto, não ha-veria sentido reaplicar um produto emtodos os trens de uma cidade como SãoPaulo, ainda que isto fosse feito a cadadez anos. “Não significa que não se devausar produtos para conferir proprieda-des adequadas de reação ao fogo emsituação que não há opção, como nocaso da madeira natural”, pondera.

Aplicação de retardantes podese dar por pulverização

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Futuro na nanotecnologiaInovações em retardantes de chama chegam ao Brasil,mas mercado ainda se limita por série de entraves

Durante muito tempo, o uso de mate-riais retardantes de chama tinha comopreocupação a suposta adoção em suasfórmulas de compostos químicos quepoderiam desenvolver gases tóxicos ouasfixiantes, de maneira a causar prejuí-zos à saúde humana. A exposição a ris-cos desnecessários relativos a substân-cias químicas nocivas vem sendo enfren-tada com a inclusão da nanotecnologiano processo. O termo se refere à ciênciaque desenvolve produtos a partir de mi-núsculas partículas, sendo capaz de or-ganizar átomos e moléculas para darorigem a um novo material. Pesquisasdo Instituto de Padrões e Tecnologiados Estados Unidos (NIST, na sigla eminglês) vêm propondo o desenvolvi-mento de retardantes de chama basea-dos em nanomateriais como um substi-tuto mais seguro e menos tóxico. Estu-do recente do órgão identificou que ma-teriais à base de nanotecnologia usam30% menos produtos químicos, masmantêm a eficácia dos retardantes tra-dicionais. “O estudo da nanotecnologiadeve ser uma tendência no desenvolvi-mento de produtos químicos retardan-tes”, afirma o empresário Jacques deAlbuquerque, presidente da empresaRecominte. Ele destaca que, embora di-ficultem a propagação de chamas e, as-sim, economizem vidas, patrimônio eesforços humanos e materiais na con-tenção de um incêndio, os retardantesnão podem exalar fumaças tóxicas. O

empresário menciona o exemplo dosetor aviação, que vem se favorecendocom os avanços das pesquisas. “Traba-lho muito com o mercado aeronáuticoe dele nascem muitas tecnologias queposteriormente são adotadas em outrasindústrias quando a economia em esca-la de produção consegue baratear ospreços”, afirma.

Os estudos sobre nanotecnologia nãose restringem ao NIST, movimentamainda fabricantes europeus e já apare-cem no Brasil. A empresa CKC do Bra-sil, por exemplo, fabrica parte dos pro-dutos retardantes, possui indústria noexterior e participação em laboratóriosde pesquisa e desenvolvimento, princi-palmente na Europa, em países comoAlemanha e Inglaterra. Recentemente, amarca apresentou um produto paraaplicação em carpetes. Com o uso dananotecnologia, o material penetra nasfibras de polipropileno do tecido e otransforma em um carpete de classe 2A- a melhor classificação que um materi-al combustível pode ter. Conforme odiretor da empresa, Rogério Lin, que éespecialista em proteção passiva contrao fogo, a dificuldade residia na tentati-va de conter a propagação de chamas ea irradiação de calor do polipropileno,que é um material extremamente com-bustível e persistente, pois queima pormuito mais tempo que um pedaço demadeira, por exemplo e libera muitomais fumaça. “No nosso ponto de vis-

ta, o mercado de retardantes pode evo-luir para uma padronização. Hoje, jáexiste solução para praticamente todoo tipo de material”, avalia Lin.

Em sua análise, outra tendência domercado antichama é a oferta de solu-ções customizadas. Uma estratégia ado-tada da CKC foi justamente criar umadivisão específica para este fim. É umdepartamento que já fez projetos comempresas de acústica, da área de avia-ção, robótica e da indústria avançada,de modo geral, no sentido de encon-trar solução para materiais que preci-sam desenvolver reação ao fogo.“Quando se fala em aeronáutica, porexemplo, o tratamento de carpetes e detoda a parte de tecidos do avião temque ser ignífugo, não pode propagarchamas de modo algum, ou pode ha-ver uma catástrofe”, afirma.

A CKC participou do desenvolvimen-to de uma tecnologia no Brasil de umcomponente não inflamável para tela decristal líquido, em atendimento à legis-lação e fabricante do Japão. “Não foidestinado ao mercado nacional, infeliz-mente”, relata, acrescentando que solu-ções customizadas podem ser empre-gadas na indústria de forma que o mer-cado antichama se torne massificado, oque o torna mais acessível ao públicofinal. “É importante que as indústriasinvistam em tecnologia, pois isto vaisalvar vidas e facilitar o combate porparte dos bombeiros”, completa.

DESAFIOS AO MERCADONa visão de Jacques de Albuquerque,

o mercado brasileiro de retardantes dechama é limitado por uma série de fa-tores, entre os quais se inclui a dificul-dade de inovações adentrarem o país.Para ele, faltam incentivos à pesquisa emuniversidades e escolas profissionalizan-tes, normalização de novos produtos efacilitação de instalação de fabricantesestrangeiros no Brasil. “Nós trabalha-mos com um gel bloqueador de fogoe nossa maior dificuldade é que não hánormalização para um produto novocomo este e, por consequência, muitasinstituições não podem pensar em ad-quiri-los por falta desta normalização econsequente criação de edital de con-corrência”, afirma.

As normas que determinam critériosde desempenho de reação ao fogo sãoelaboradas no CB 24 (Comitê Brasilei-

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Pesquisas e normas são fatoresapontados como importantes parao crescimento do mercado

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ro de Segurança contra Incêndio), daABNT. Coordenador da Comissão deEstudo que propõe diretrizes sobre otema, o engenheiro civil Antonio Berto,também pesquisador do IPT, adiantaque uma norma de classificação de ma-teriais está sendo preparada. “É umanorma de desempenho. Estamos pre-ocupados com o desempenho do pro-duto”, adianta.

Para Rosaria Ono, doutora em Arqui-tetura e Urbanismo e coordenadora doGSI, há dois aspectos principais de ca-rência no mercado brasileiro: falta co-nhecimento geral dos profissionais so-bre as especificações de materiais de aca-bamento e revestimento necessárias pa-ra garantir a segurança contra incêndiodas edificações e, por outro lado, há au-sência de produtos certificados por en-saios de desempenho ao fogo no mer-cado brasileiro - o que dificulta o aces-so dos projetistas a eles. A certificaçãode produtos antichama é defendida tam-bém por Jeffery Lin, especialista emproteção passiva contra incêndio daCKC. Para ele, a falta de critérios dequalidade e processos prejudica o mer-cado de retardantes, que poderia con-tar com uma espécie de certificação - já

existente em países mais avançados nosegmento. Seu colega, Rogério Lin, lem-bra que circulam no mercado nacionalprodutos certificados no exterior, comoé o caso de um revestimento intumes-cente para estrutura metálica fabricadoem território alemão. “Isto significa que

na Alemanha ele passa por um proces-so de auditoria, pelos ensaios de um la-boratório para garantir que é um pro-duto que mantém as mesmas caracte-rísticas de lote em lote, com base emnormas europeias”, diz. Já no Brasil, a-crescenta Rogério Lin, a ABNT faz um

O QUE VEM POR AÍDesde 2011, o mercado antichama vem comercia-

lizando alternativas para substituir o hexabromoci-clododecano (HBCD) nas aplicações em poliestirenoexpandido (EPS) e extrudado (XPS). Em 2012, peri-tos químicos da ONU (Organizações das NaçõesUnidas) recomendaram o fim do uso e comercia-lização do HBCD em todo o mundo para proteção dasaúde humana e do meio ambiente. O produto, queaparece na fórmula de retardantes de chamas, étambém usado como solvente industrial, para o com-bate de pragas e outras aplicações.

Segundo Soraya Jericó, presidente da Abichama,empresas na Europa e nos Estados Unidos já utilizame outros países também estão migrando para produtosalternativos classificados como “retardante à chamapolimérico bromado”. “O produto é bastante estável”,afirma, indicando que o poliestireno que contém esteretardante permanece protegido à chama durantetodo o seu ciclo de vida. “As autoridades regulatóriasna Europa e nos Estados Unidos aprovaram este

novo retardante de chama para uso comercial.Esperamos que futuramente estes produtos sejamadotados e propriamente regulamentados para usono Brasil”, afirma.

Já para Jeffery Lin, diretor na empresa CKC doBrasil, uma novidade utilizada no exterior e que podechegar ao Brasil em breve são as tiras intumescen-tes, aplicadas nas laterais de portas. “É um sistemaque garante uma segurança maior para evitar apassagem de gases quentes, fumaça e chamas emlocais de reuniões de público ou de hospedagem,como hotéis e pousadas”, explica. Para Lin, a tendên-cia para o mercado é de produtos com maior eficáciae viabilidade financeira. “A pesquisa e desenvol-vimento tem sido alvo de altos investimentos noexterior e isto tem resultado em produtos que tambémsejam práticos. O desafio é sempre desenvolver umproduto que alia ótimas propriedades de segurançacontra o fogo com viabilidade para o mercado”,conclui.

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REAÇÃO AO FOGOMateriais de revestimento e de acabamento de

edificações precisam ter seu desempenho ao fogoavaliado quando utilizados em situação na qual a suacombustão pode contribuir de forma decisiva e favo-rável à rápida evolução do incêndio. Conforme a pro-fessora Rosaria Ono, doutora em Arquitetura e Ur-banismo e coordenadora do GSI, a reação ao fogoinclui propriedades como a incombustibilidade, a fa-cilidade de ignição, a velocidade de propagação su-perficial de chamas, a densidade da fumaça, a to-xicidade dos produtos da combustão (gases e fu-maça) e a quantidade de calor desenvolvido. “Ideal-mente, as regulamentações de segurança contra in-cêndio deveriam estabelecer as situações em que énecessário o controle dos materiais de revestimentoe acabamento em nível nacional”, afirma. A avaliaçãodestas propriedades, segundo Rosaria, deve serrealizada para a classificação dos materiais quantoao seu desempenho ao fogo, considerando o tipo desuperfície de aplicação (piso, forro ou teto ou parede,por exemplo), finalidade de uso (estético, isolamentotérmico ou acústico, absorvedor acústico) e sua formade exposição a um eventual princípio de incêndio.“Os materiais ditos retardantes também devem serclassificados dentro dos mesmos critérios e, destaforma, ter sua eficiência comprovada em relaçãoàquelas propriedades”, diz.

De acordo com o engenheiro civil Antonio Berto,pesquisador do IPT, os ensaios de reação ao fogoseguem os critérios de normas e regulamentos, comoa Instrução Técnica 10, do Corpo de Bombeiros deSão Paulo. Para cada situação avaliada, explica, háuma metodologia própria e específica. Participanteativo da criação do regulamento paulista, Bertosinaliza que este trabalho não foi iniciado em reaçãoà tragédia de Santa Maria. “Já vínhamos acompa-nhando incêndios e mais incêndios nos quais sepercebia claramente este papel importante que osmateriais de revestimento, especialmente, de isola-mento térmico e acústico, podem desempenhar naevolução do incêndio”, explica.

A IT 10 estabelece o CMAR (Controle de Materiaisde Acabamento e de Revestimento), com exigênciaspara pisos, paredes e divisórias, tetos e forros ecoberturas. O texto estabelece as condições exigidaspara que os materiais empregados nas edificaçõesrestrinjam a propagação do fogo e o desenvolvimentoda fumaça quando em incêndios. O texto, inclusive,serviu de parâmetro para que outros estados crias-sem suas regras, lembra Rogério Lin, diretor daempresa CKC e especialista em proteção contraincêndio. Ele explica que todo o material combustívelempregado em edificações deve receber umaclassificação de reação ao fogo, considerando oíndice de propagação de chamas superficial e adensidade óptica de fumaça. É esta classificaçãoque, ao final, resultará na necessidade ou não deaplicação de um retardante de chama. “Se ele pro-paga chamas por ser um material combustível, temque ser tratado e, para isto, pode utilizar um vernizretardante ou um revestimento intumescente. Todasalternativas podem funcionar muito bem”, explica.Vale ressaltar que a reação ao fogo e resistência aofogo, são conceitos bem diferentes e que usualmentesão confundidos pelo mercado. Enquanto um visaavaliar o comportamento ao fogo, o outro visa avaliarquestões como estanqueidade, isolamento, e es-tabilidade em ensaios técnicos realizados em la-boratórios reconhecidos mundialmente. A resistênciaao fogo define o tempo como parâmetro para com-partimentação e resistência estrutural por exemplo,já na reação ao fogo, o objetivo é minimizar a com-bustibilidade e emissão de fumaça de materiais em-pregados nos ambientes de uma edificação.

Rosaria Ono destaca ainda que, se o produtoretardante é uma resina ou pintura a ser aplicadasobre algum material de base, sugere-se que osensaios laboratoriais para avaliação de desempenhosejam realizados no conjunto e de forma comparativa.“Isto é, a eficácia poderia ser comprovada com en-saios em amostras com e sem a aplicação do produtoretardante”, conclui.

trabalho de certificação da mão de obrapara aplicação de revestimentos intu-mescentes em aço estrutural. “É um a-vanço, mas não houve grande adesão,pois o processo de certificação tem umcusto elevado e as empresas que fazema aplicação ainda não visualizam o mer-cado como se já estivesse decolando”,lamenta.

A criação da Abichama, em 2011, étida como um marco para o crescimen-to do setor. “O que buscamos comoassociação é contribuir para que o mer-cado local se inspire em normas e re-gulamentações internacionais no senti-do de evoluir na adoção de padrões deinflamabilidade”, afirma sua presiden-

manda por novos laboratórios cresça.No entanto, faz um alerta: a inexistênciade laboratórios para determinados tes-tes ou aplicações não pode ser um im-peditivo para a inserção do controle deinflamabilidade em novas normas ouna atualização das já existentes. RogérioLin vê em diversos fatores um entravepara o mercado de retardantes de cha-ma. Os investimentos que a CKC fazem pesquisas e desenvolvimento no ex-terior, explica ele, poderiam ser realiza-dos no Brasil, mas há uma série de im-peditivos que iniciam pela falta de ensi-namentos nos cursos superiores de ar-quitetura e engenharia, fazendo com queos projetos sejam concebidos sem estapreocupação com a segurança contraincêndios, aliada a uma legislação carentee ainda pouca fiscalização sobre muitosprojetos irregulares. “Na Europa, hámuito mais avanços nestas áreas e se con-segue fazer a proteção passiva de fatochegar nas obras com mais qualidade eeficácia devido a estes fatores”, conta.

Sem certificação e consequente padro-nização de qualidade, Lin vê o merca-do nacional enfraquecido por produtosque nem sempre atendem às necessida-de de segurança. “Fazemos testes emnossos laboratórios e conseguimos no-tar que alguns materiais tratados comestes produtos no mercado até prejudi-cam a performance de reação ao fogode materiais combustíveis, por isto éessencial que o cliente exija os ensaios elaudos realizados em laboratórios decredibilidade e pesquise bem quais em-presas comercializam produtos que efe-tivamente funcionam. Isto prejudica aimagem no Brasil e nos deixa bastantepreocupados, justamente porque pre-zamos tanto pela qualidade do produ-to e, infelizmente, a gente não vê a mes-ma correspondência na indústria”, la-menta.

Rosaria: certificação

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Soraya: laboratórios

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Albuquerque: tecnologias

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te, Soraya Jericó. Para ela, o Brasil con-ta com estrutura para ensaios de mui-tos materiais e aplicações, mas para aevolução do setor é inevitável que a de-