aula 02 (2)

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AUDITOR DO ESTADO- RS ADMINISTRAÇÃO (ITENS 1 A 19) PROFESSOR: MARCELO CAMACHO Prof. Marcelo Camacho www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula 2 Olá, pessoal! Vamos à nossa segunda aula. Espero que estejam focados neste final de ano no concurso que vocês vão fazer! AULA 2 16/12/2013 3. Relações intergovernamentais entre os três poderes federais, os três poderes estaduais e os três níveis de governo do Brasil (União, Estados e Municípios). 4. Formulação de políticas públicas, planejamento público, planos, programas de governo e orçamentos. Sumário 1. Pacto federativo e relações intergovernamentais ...................................................................................... 2 1.2. Coordenação Executiva .......................................................................................................................... 7 1.3. Problemas de articulação versus fragmentação das ações governamentais. ........................................11 1.4. Dimensões da coordenação: intragovernamental, intergovernamental e na relação governo-sociedade. .....................................................................................................................................................................17 2. Formulação de Políticas Públicas............................................................................................................29 2.1. Modelos de Tomada de Decisão ..........................................................................................................34 2.2 Ciclo de Políticas Públicas ....................................................................................................................40 3. Processo de Planejamento na Administração Pública........................................................56 4. Lista de Questões ....................................................................................................................................94 6. Gabarito .................................................................................................................................................103

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    PROFESSOR: MARCELO CAMACHO

    Prof. Marcelo Camacho www.pontodosconcursos.com.br 1

    Aula 2

    Ol, pessoal!

    Vamos nossa segunda aula. Espero que estejam focados neste final de ano

    no concurso que vocs vo fazer!

    AULA 2 16/12/2013 3. Relaes intergovernamentais entre os trs poderes federais, os trs poderes estaduais e os trs nveis de governo do Brasil (Unio, Estados e Municpios). 4. Formulao de polticas pblicas, planejamento pblico, planos, programas de governo e oramentos.

    Sumrio

    1. Pacto federativo e relaes intergovernamentais ...................................................................................... 2

    1.2. Coordenao Executiva .......................................................................................................................... 7

    1.3. Problemas de articulao versus fragmentao das aes governamentais. ........................................ 11

    1.4. Dimenses da coordenao: intragovernamental, intergovernamental e na relao governo-sociedade.

    ..................................................................................................................................................................... 17

    2. Formulao de Polticas Pblicas ............................................................................................................ 29

    2.1. Modelos de Tomada de Deciso .......................................................................................................... 34

    2.2 Ciclo de Polticas Pblicas .................................................................................................................... 40

    3. Processo de Planejamento na Administrao Pblica ........................................................ 56 4. Lista de Questes .................................................................................................................................... 94

    6. Gabarito ................................................................................................................................................. 103

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    1. Pacto federativo e relaes intergovernamentais

    Para abordarmos este tema, parto de um texto clssico de Fernando Luiz

    Abrcio, Federalismo e Polticas Pblicas: O Impacto das Relaes

    Intergovernamentais no Brasil.

    Segundo este autor, a Federao uma forma de organizao poltico-

    territorial baseada no compartilhamento tanto da legitimidade como das

    decises coletivas entre mais de um nvel de governo. Distingue-se, assim,

    do modelo clssico de nao, o chamado Estado unitrio. Neste ltimo, o

    Governo Central anterior e superior s instncias subnacionais, e as

    relaes de poder obedecem a uma lgica hierrquica e piramidal.

    A Federao, ento, um acordo capaz de estabelecer um

    compartilhamento da soberania territorial, fazendo com que coexistam,

    dentro de uma mesma nao, diferentes entes autnomos e cujas relaes

    so mais contratuais do que hierrquicas. O objetivo compatibilizar o

    princpio de autonomia com o de interdependncia entre as partes,

    resultando numa diviso de funes e poderes entre os nveis de governo.

    Duas condies levam os pases a adotarem o modelo federativo quando h

    uma situao federalista: A primeira a existncia de heterogeneidades

    numa determinada nao, vinculadas questo territorial (grande extenso

    e/ou enorme diversidade fsica), a diferenas tnicas e/ou lingsticas, a

    disparidades socioeconmicas, ou ento a diversidades culturais e polticas

    entre as regies de um pas. A segunda condio que leva escolha do

    federalismo a ao poltica baseada no ideal da unidade na diversidade,

    capaz de concomitantemente manter unidas e autnomas as partes de um

    mesmo territrio.

    O pacto poltico-territorial resultante da federao garantido pela

    Constituio. No entanto esta garantia no se d apenas pela Constituio.

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    Alm dela, h outras instituies federativas, que cumprem dois papis:

    estabelecem freios e contrapesos entre os nveis de governo, bem como

    formas de coordenao entre os entes. Procura-se, no primeiro aspecto,

    evitar tanto a excessiva centralizao como a fragmentao oligrquica do

    poder, criando um controle mtuo entre os pactuantes. Por exemplo, o

    Senado e a Suprema Corte nosso STF so mecanismos que exercem

    esta funo. Porm, o federalismo no somente uma estrutura de controle

    mtuo. O sistema federativo depende da criao de incentivos cooperao

    e de processos intergovernamentais de deciso conjunta.

    Nosso modelo federativo foi baseado no modelo norte-americano. Contudo

    nossos caminhos rumo federao foram bastante diversos. Os princpios

    de autonomia e de interdependncia, bem como as noes de controle

    mtuo e de coordenao intergovernamental, tiveram uma trajetria

    tortuosa em nosso Pas, e ainda hoje tm problemas para realmente se

    efetivar.

    A criao do modelo federativo no Brasil no resultou de um pacto entre

    unidades autnomas, mas de um processo de descentralizao de poder do

    centro para os estados, uma vez que em suas primeiras dcadas quase 70

    anos o Pas fora regido por um Imprio bastante centralizado. Segundo Rui

    Barbosa, citado por Abrucio: tivemos Unio antes de ter estados, tivemos o

    todo antes das partes.

    As instituies adotadas no federalismo brasileiro forma semelhantes s

    norte-americanas: Constituio Federal escrita, Senado Federal como espao

    de representao nacional dos estados e um Tribunal Superior responsvel

    por julgar conflitos federativos e zelar pelo cumprimento da Constituio

    Federal.

    No entanto, aponta Abrucio, diferentemente dos Estados Unidos, os estados

    se fortaleceram e a Unio foi enfraquecida. Por esta razo, enquanto nos

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    EUA o pacto federativo significou a criao de um Poder Central at ento

    inexistente, no vocabulrio poltico brasileiro federalismo sinnimo de

    descentralizao.

    Alm disso, as instituies federativas brasileiras fortaleceram sobremaneira

    o Executivo estadual, que exercia seu poder num jogo poltico basicamente

    oligrquico novamente ao contrrio dos EUA, em que o poder local foi a

    base do republicanismo. Soma-se a isso o fato de que os governadores se

    tornaram grandes lderes nacionais. A definio da eleio presidencial

    passava por um acordo entre os dois principais estados da Federao, So

    Paulo e Minas Gerais, em aliana com outras unidades mdias, como o Rio

    Grande do Sul, o Rio de Janeiro e a Bahia. A disputa presidencial, ademais,

    repetia a histria antirrepublicana que vigorava no plano subnacional:

    fraudes, voto de cabresto e inexistncia de qualquer fiscalizao

    independente do processo eleitoral.

    Este perodo se encerra com uma ciso entre So Paulo e Minas Gerais,

    causada, tanto pela insistncia do primeiro em eleger sequencialmente um

    segundo presidente paulista, quebrando o acordo entre os dois estados,

    quanto pelo descontentamento dos demais estados e de alguns setores da

    sociedade. Com o apoio de Minas Gerais, ocorre a Revoluo de 1930, que

    conduz Getlio Vargas ao poder.

    O grande legado da era Vargas para o federalismo brasileiro foi o

    fortalecimento do Executivo e da burocracia federais, bem como a estrutura

    de super-representao dos estados menores no Congresso Nacional. Cabe

    ressaltar que este projeto de modernizao foi sustentado por um modelo

    que no previa a democracia nem o aprimoramento das administraes

    pblicas no plano subnacional.

    Com a instalao de um novo regime, marcado pelas regras democrticas da

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    Constituio de 1946, o federalismo voltava a ser o fundamento poltico-

    territorial do Pas. Como uma das novidades, houve uma preocupao com a

    distribuio horizontal de recursos por meio da destinao de receitas

    federais a regies menos desenvolvidas notadamente Norte e Nordeste.

    Em termos federativos, o cenrio era duplo: de um lado, a Unio continuava

    sua expanso em prol do projeto nacional desenvolvimentista; de outro, as

    elites regionais recuperaram poder, fortalecendo o Congresso Nacional e

    principalmente os governadores de estado. Dos quatro presidentes eleitos

    do perodo, dois tinham sido, um pouco antes, chefes de Executivos

    estaduais.

    No plano horizontal, a Federao tornara-se mais equnime. O medo da

    volta do Caf com Leite fez com que as outras elites regionais reforassem

    a sobre-representao dos estados menos desenvolvidos na distribuio de

    cadeiras na Cmara Federal e, mais intensamente, a sub-representao do

    Sudeste, particularmente de So Paulo. Tal medida corretiva escondia dois

    vcios antidemocrticos: a perverso do princpio do one man, one vote e a

    distribuio do poder exatamente aos estados menos republicanizados.

    Com a falta de efetiva adeso das elites brasileiras ao processo democrtico,

    tivemos como resultado a realizao de um golpe de estado, com apoio

    de lderes civis particularmente os governadores de So Paulo, Guanabara

    e Minas Gerais e capitaneado pelos militares. Instalou-se um regime

    poltico que durou cerca de 20 anos e teve forte impacto na Federao

    Ao final do perodo militar, seguiu-se um perodo de redemocratizao,

    resultou em fortalecimento dos governadores e das unidades estaduais, mas

    tambm no fortalecimento dos governos municipais. A Constituio Federal

    de 1988 fez com que o Brasil se tornasse um caso peculiar de Federao

    com trs entes considerados pactuantes originrios: Unio, estados e

    municpios somente a Blgica e a ndia do ao poder local um status

    semelhante. De fato, pode-se observar uma maior autonomia poltica,

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    administrativa e financeira dos municpios em relao ao perodo anterior,

    acompanhada de uma descentralizao de recursos e atribuies.

    A Constituio Federal, no seu artigo 23, estabelece um modelo baseado

    fortemente em competncias comuns. Em seus doze incisos, tal dispositivo

    constitucional diz que de competncia comum da Unio, dos Estados, do

    Distrito Federal e dos Municpios (...) as seguintes reas de poltica pblica:

    conservao do patrimnio pblico; sade e assistncia social; acesso

    cultura e educao; proteo ao meio-ambiente; fomento produo

    agropecuria e ao abastecimento alimentar; moradia e saneamento bsico;

    combate s causas da pobreza; e poltica de educao para a segurana no

    trnsito.

    Um segundo ponto de inflexo no federalismo brasileiro iniciou-se em 1994,

    com o Plano Real e a estabilizao da moeda. Esse impacto foi seguido de

    uma srie de aes do Governo Federal durante os dois mandatos do

    presidente Fernando Henrique Cardoso, que buscaram instituir um processo

    de coordenao federativa em algumas reas de poltica pblica.

    No que se refere s finanas intergovernamentais, houve fortes impactos.

    Com a queda da inflao, trazido pelo Plano Real, as volumosas dvidas dos

    estados e de alguns municpios, antes camufladas pelos altos ndices

    inflacionrios, se mostrassem mais claramente. O caso dos governos

    estaduais era mais grave, dado que seu crescente endividamento era

    constantemente assumido pela Unio na redemocratizao. Para acabar com

    esse mecanismo perverso de repasse de custos, o Governo Federal

    coordenou um processo de privatizao dos bancos estaduais que, apesar de

    no render recursos suficientes ao pagamento das dvidas, dificultou a

    possibilidade de novos endividamentos.

    Ainda como parte dessa poltica de ajuste das finanas intergovernamentais,

    o Governo Federal conseguiu aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF),

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    em maio de 2000, que passou a restringir ainda mais a possibilidade de

    endividamento pblico, atingindo fundamentalmente os estados e

    municpios, com a imposio de limites a uma srie de gastos, prevendo

    graves penalidades ao gestor que no os cumprisse.

    A lio de casa exigida dos governos subnacionais no teve como

    contrapartida um ajuste estrutural das finanas federais. Em vez disso, a

    Unio preferiu, sobretudo na dcada de 1990, aumentar sua arrecadao

    elevando as contribuies sociais, uma vez que sobre elas no incide a

    obrigao constitucional de partilha intergovernamental por meio dos Fundos

    de Participao. Para se ter uma idia do impacto, a carga tributria passou

    de 24,5% do PIB em 1993, para 35,6% do PIB em 2003.

    1.2. Coordenao Executiva

    A dcada de 1990 tambm foi marcada por outras aes federais que

    buscaram mexer com o padro federativo ps-1988, embora isso no tenha

    sido feito contra a descentralizao. Particularmente nas reas sociais houve

    polticas cujo intuito era melhorar a coordenao federativa. Nesta linha, os

    casos mais interessantes ocorreram nos setores de Sade e Educao.

    Apesar das grandes diferenas de contexto e coalizes que envolvem ambas,

    o processo de coordenao se deu basicamente por meio da vinculao do

    repasse de recursos financeiros prestao mais controlada de servios

    pelas esferas de governo subnacionais, seja pela fixao de metas, seja pela

    adoo de padres nacionais de polticas pblicas.

    OS governos estaduais admitiram o sucesso destas polticas nacionais ao

    BID, afirmando que as polticas com melhor desempenho so exatamente

    aquelas com maior coordenao federativa.

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    Na rea da Educao, mais especificamente no ensino fundamental, o

    Governo Federal assumiu um papel central no processo de municipalizao,

    por meio da proposta, e posterior aprovao, da emenda constitucional que

    instituiu o FUNDEF (Fundo nacional da Educao Fundamental), e mais tarde

    o FUNDEB (Fundo Nacional da Educao Bsica).

    A exposio de motivos encaminhada ao Congresso Nacional, juntamente

    com o projeto de emenda constitucional, revela claramente a posio de

    coordenao assumida pela Unio em face falta de uma maior

    especificao das competncias federativa no campo da educao:

    [a Constituio Federal de 1988] no explicita de forma coerente as

    responsabilidades e competncias de cada uma das esferas, de forma que o cidado

    comum saiba a quem cobrar o cumprimento das garantias constitucionais. [...] em

    conseqncia dessa indefinio de papis, resulta um sistema na realidade uma

    diversidade de sistemas de atendimento educacional que deixa muito a desejar,

    sobretudo no que diz respeito qualidade da educao oferecida. [...] a disperso

    dos esforos dos trs nveis de governo gerou grande heterogeneidade da qualidade

    do atendimento escolar [porque] a distribuio de recursos no compatvel com as

    efetivas responsabilidades na manuteno das redes de ensino.

    O repasse de verbas por matrcula, de recursos do FUNDEF e agora do

    FUNDEB, representou um incentivo para que os municpios assumissem a

    responsabilidade pela oferta de um maior nmero de vagas no ensino

    fundamental. Passados alguns anos de implementao, observa-se que a

    municipalizao do ensino fundamental avanou no pas, tendo o FUNDEF,

    sem dvida, colaborado com essa mudana. Isto demonstra o xito da

    coordenao federativa exercida pela Unio, nesta poltica especfica.

    Outra rea na qual a descentralizao avanou em razo da coordenao do

    Governo Federal foi a da Sade. De acordo com a Constituio de 1988, esta

    poltica de responsabilidade das trs esferas de governo, devendo seus

    servios ser executados com colaborao intergovernamental, de acordo

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    com o Sistema nico de Sade (SUS). Entretanto, apesar da agenda da

    descentralizao, ainda havia o legado da centralizao, com muito pouca

    participao do municpio na prestao desse servio. Dada a nova

    autonomia municipal, a operacionalizao do SUS teve de passar por uma

    articulao intergovernamental, que foi coordenada e, em parte, financiada,

    pelo Governo Federal.

    Pode-se dizer que houve dois incentivos para que os municpios decidissem

    assumir os servios de sade. O primeiro veio do objetivo de universalizao

    da poltica nacional, presente j em 1988, passando por um esforo de

    ampliar a oferta dos servios de sade. A previso de um aumento na oferta

    dos servios foi atraente aos municpios, considerando a visibilidade que tem

    a rea e os crditos polticos que pode conceder. Entretanto, os incentivos

    mais importantes vieram de normas federais, regulamentando as condies

    de prestao e financiamento dos servios de sade as Normas

    Operacionais Bsicas (NOBs).

    Primeiro, foi oferecida aos municpios a possibilidade de aderir ao SUS,

    subordinando-se s normas federais e capacitando-se para receber recursos

    da Unio. Foram estabelecidos critrios de remunerao dos prestadores de

    servio conforme a produo e criado um canal de relacionamento direto

    entre a Unio e os municpios por meio de convnios. Essa regulamentao,

    contida nas NOB/91 e NOB/92, obteve a adeso de 22% dos municpios. A

    NOB/93, adotada no governo Itamar Franco, elevou a taxa de adeso a 63%

    dos municpios brasileiros. Por meio desta nova regulamentao o Ministrio

    da Sade facultou aos governos locais a escolha entre trs modalidades

    distintas, de acordo com a capacidade administrativa de cada um, sendo o

    repasse federal de recursos diferenciado para cada uma das modalidades,

    proporcionalmente aos servios assumidos. O objetivo fazer com que os

    municpios assumissem os servios e tivessem autonomia financeira e

    gerencial para organiz-los, dentro das diretrizes gerais do Sistema nico de

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    Sade. Condicionou-se estes incentivos necessidade de implementao

    nos municpios dos Conselhos Municipais de Sade.

    Neste processo observou-se um fortalecimento das relaes entre Unio e

    municpios e uma omisso das secretarias estaduais na coordenao,

    articulao, apoio tcnico e regulao dos servios de sade perante seus

    municpios. Em 1998, foi implementada a NOB/96 trouxe condies para que

    a adeso ao sistema atingisse 99% dos municpios brasileiros. As novas

    regras acrescentavam recursos maioria dos municpios e o Ministrio da

    Sade foi capaz de sinalizar que suas disposies seriam efetivamente

    cumpridas.

    Ainda no Governo Fernando Henrique, foi criado o Piso de Ateno Bsica

    (PAB ), que, alm de vincular transferncia de recursos efetiva oferta de

    servio pelos municpios, assumiu uma funo redistributiva por meio de um

    critrio de repasse baseado tambm no nmero de habitantes de cada

    cidade. O PAB composto de uma parte fixa determinada pelo critrio de

    nmero de habitantes de cada municpio e uma parte varivel repassada

    de acordo com os servios efetivamente oferecidos por cada municpio. O

    valor fixo tem o objetivo de reduzir a desigualdade entre a capacidade de

    financiamento dos diferentes municpios, atenuando em parte o critrio da

    produtividade, segundo o qual se remunera os municpios pela produo de

    procedimentos hospitalares realizados.

    Nesse caso, municpios com uma rede incipiente, com capacidade de oferta

    de poucos servios, passam a contar com algum recurso fixo, de

    fundamental importncia para a estruturao de um atendimento preventivo

    de responsabilidade municipal.

    A parte varivel do PAB composta por recursos distribudos de acordo com

    a adeso dos governos municipais a programas de sade nacionais

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    prioritrios, tambm focados na sade preventiva. So eles: Sade da

    Famlia/Agentes Comunitrios de Sade, Sade Bucal, Assistncia Financeira

    Bsica, Combate s Carncias Nutricionais, Combate a Endemias e Vigilncia

    Sanitria. O resultado foi uma efetiva municipalizao do atendimento por

    meio da adeso a esses programas, melhorando a cobertura dos servios de

    sade no pas. Outra dimenso a se destacar so os mecanismos de

    accountability que acompanham os programas vinculados ao SUS, com a

    incidncia tanto de fiscalizao do Governo Federal para o efetivo repasse de

    recursos, quanto da necessidade de aprovao pelo Conselho Municipal de

    Sade.

    Ainda na rea da Sade, outra medida federal importante foi a aprovao da

    Emenda Constitucional n 29, que instituiu uma vinculao de receitas

    federais, estaduais e municipais com sade. Em razo deste novo dispositivo

    constitucional municpios so obrigados a investir 15% e os estados 12% do

    total de sua arrecadao (no caso dos estados, deduzido o montante

    transferido aos municpios).

    1.3. Problemas de articulao versus fragmentao das aes governamentais.

    De acordo com Abrucio, a observao do processo de descentralizao que

    ocorreu Brasil a partir a dcada de 1980 e os mecanismos de coordenao

    federativa implementados nas reas de Educao e Sade no perodo ps

    1994, evidenciam a relevncia que o desenho federativo exerceu na

    implementao de polticas pblicas e, conseqentemente, na prestao de

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    servios de bem-estar social populao. No entanto, inmeros problemas

    so resultantes tambm do modelo federativo.

    A autonomia dos entes federativos aliada, no caso brasileiro, a um vasto

    rol de competncias compartilhadas, por determinao constitucional

    possibilita que Unio, Estado e Municpios se omitam diante de uma questo,

    a populao permanea sem uma ao governamental e no saiba,

    efetivamente, de quem cobrar se do governo municipal, estadual e federal.

    Isto , tem-se um processo no transparente e de responsabilizao difusa,

    que possibilita que cada esfera de governo culpe a outra pelo problema, sem

    que nenhuma ao efetiva seja tomada.

    Sobre o financiamento das polticas pblicas, segundo Marta Arretche:

    Os constituintes de 1988 optaram pelo formato das competncias concorrentes

    para a maior parte das polticas sociais brasileiras. Na verdade, as propostas para

    combinar descentralizao fiscal com descentralizao de competncias foram

    estrategicamente derrotadas na ANC 1987-1988 (...).Decorre desse fato a

    avaliao de que a Constituio de 1988 descentralizou receita, mas no encargos.

    Outra possibilidade que as diferentes esferas de governo efetivem, ao

    mesmo tempo, iniciativas de polticas pblicas sem nenhuma integrao, ou

    at mesmo em direes opostas. Esta prtica faz com que os recursos

    pblicos de cada ente federativo sejam aplicados isoladamente, atacando de

    maneira sobreposta praticamente os mesmos problemas. Com isso, perde-

    se uma oportunidade de potencializar recursos que so escassos e articular

    aes de maneira a gerar melhores resultados.

    No Brasil, conforme j mencionado acima, o processo descoordenado de

    descentralizao que sucedeu a Constituio Federal de 1988 resultou, em

    um primeiro momento, na falta de atuao dos nveis federal e estadual de

    governo e, por outro lado, em uma exacerbao do municipalismo

    autrquico. A municipalizao de polticas pblicas se deu de maneira

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    bastante desigual no pas, tanto pela diversidade de situaes financeiras e

    capacidade administrativa dos municpios brasileiros, quanto pela vontade

    poltica de cada governo municipal de utilizar seus recursos na promoo de

    polticas pblicas, ou continuar solicitando auxlio das esferas estadual e

    federal para viabilizar aes de governo.

    Pessoal, segundo Marta Arretche, no nosso sistema tributrio h

    desigualdades tanto no aspecto vertical quanto horizontal.

    No plano vertical, o atual sistema de transferncias fiscais permite que

    quase todos os ganhos relativos sejam apropriados pelos municpios, uma

    vez que seus resultados so neutros para os Estados. Em 2002, a receita

    disponvel (arrecadao prpria + transferncias) da Unio foi de 60% do

    total das receitas, ao passo que os municpios se apropriaram de 15%,

    permanecendo os Estados no mesmo patamar que estavam anteriormente

    redistribuio. Alm disso, este sistema favorece os municpios de pequeno

    porte. Estima-se ser de 91% a participao das receitas de transferncia nos

    municpios de menos de 5.000 habitantes. Em 22 Estados brasileiros, quanto

    menor a populao do municpio, maior o seu ganho de receita derivado das

    transferncias constitucionais, vale dizer, maior a disponibilidade de recursos

    per capita com liberdade alocativa, uma vez realizadas as transferncias.

    No plano horizontal, este sistema redistribui receita dos Estados mais

    desenvolvidos para os menos desenvolvidos. Entretanto, as regras que

    acabaram por reger as transferncias constitucionais tm por conseqncia

    recriar novas desigualdades entre as Unidades da Federao. enorme a

    variao na receita disponvel entre os municpios e Estados brasileiros. A

    razo entre a receita mdia per capita dos municpios com mais de um

    milho de habitantes, na Regio Sudeste, e dos municpios com menos de

    20 mil habitantes, nas Regies Norte e Nordeste, pode ser de at 46 vezes.

    Uma vez realizadas as transferncias constitucionais, a receita disponvel per

    capita do Estado de Roraima foi de duas vezes a de So Paulo, em 1997.

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    Segundo Marta Arretche:

    Na prtica, estas desigualdades limitam definitivamente a possibilidade de que se estabeleam constitucionalmente competncias exclusivas entre os nveis de governo para as aes sociais. Limitam tambm a possibilidade de arranjos federativos em que, ao conferir autonomia aos governos locais, deixassem basicamente aos eleitores a tarefa de elevar o gasto social dos governos locais.

    Ainda segundo Marta Arretche, falando das receitas tributrias e sua relao

    com as relaes intergovernamentais:

    O sistema brasileiro de repartio de receitas tributrias essencialmente um sistema legal, pelo qual receitas tributrias sem vinculao de gasto com exceo das obrigaes constitucionais de gasto em sade e educao so garantidas aos governos subnacionais, notadamente aos municpios de pequeno porte. Combinado a compromissos financeiros acumulados no passado, direitos assegurados em lei e vinculaes constitucionais do gasto federal, este sistema produz alta rigidez do oramento federal.

    Falando de relaes intergovernamentais e concentrao de autoridade, diz

    Marta Arretche:

    Com exceo da poltica de educao fundamental, a concentrao de autoridade no governo federal caracteriza as relaes federativas na gesto das polticas, pois Unio cabe o papel de principal financiador, bem como de normatizao e coordenao das relaes intergovernamentais...Ocorre que a Constituio Federal de 1988 no alterou a estrutura institucional de gesto das polticas sociais herdada do regime militar. Mesmo as medidas de reforma aprovadas e implementadas pelos sucessivos presidentes posteriormente Constituio Federal de 1988 pouco ou nada alteraram esta estrutura prvia, que centralizada para as polticas de sade e desenvolvimento urbano e descentralizada para a poltica de educao fundamental.

    A partir de 1994 observa-se a iniciativa da Unio em coordenar polticas de

    Sade e Educao por meio de uma regulamentao que no s distribuiu

    tarefas aos entes federativos, mas tambm estabeleceu incentivos

    financeiros para facilitar a adeso dos governos subnacionais. Nesse caso, a

    Unio assumiu uma funo mais de coordenao e regulao do que

    propriamente de execuo dos servios. Esta ltima funo de execuo foi

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    claramente assumida pelos municpios, hoje responsveis pela proviso da

    maior parte dos servios pblicos. J nos estados, a redefinio de papis

    a que nos parece mais incompleta. Atuando em alguns pontos na proviso

    direta de servios e com um papel de coordenao regional pouco

    desenvolvido, os governos estaduais parecem ser os que menos se

    adaptaram uma forma articulada de proviso de polticas pblicas. Prova

    disso que uma srie de programas e aes coordenadas so fruto de uma

    relao direta entre Unio e municpios as polticas de transferncia de

    renda so hoje o maior exemplo disso.

    A coordenao regional intra-estadual tem ficado, muitas vezes, por conta

    dos prprios municpios, que se articulam em torno de uma questo por

    meio da formao de consrcios intermunicipais. Os consrcios formalizam a

    cooperao intermunicipal com o objetivo de reunir esforos em torno de um

    problema cuja soluo extrapola os limites de um municpio e atinge a

    dimenso microrregional ou regional. O resultado dessa cooperao pode ser

    a realizao de obras, servios ou at mesmo planejamento conjuntos.

    No ano 2001, 1.969 municpios estavam em consrcios de sade, 669 em

    consrcios de uso compartilhado de mquinas e equipamentos e 216 em

    consrcios para tratamento e destinao final de resduos slidos13. Alm

    dessas reas verificam-se consrcios atuando em educao, obras pblicas,

    capacitao administrativa, meio ambiente, desenvolvimento econmico,

    assistncia social, agricultura e esportes.

    Em 2005, foi promulgada a Lei Federal n. 11.107 regulamentando os

    consrcios pblicos. A principal novidade foi a atribuio de personalidade

    jurdica de direito pblico aos consrcios, que passam a ser considerados

    como entes da administrao indireta dos municpios-membro, a exemplo

    das autarquias. Imagina-se que essa nova estrutura possa dar maior

    estabilidade a esse tipo de cooperao intergovernamental, ficando sua

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    continuidade menos suscetvel vontade de cada novo Prefeito eleito. Outra

    forma possvel de cooperao intergovernamental so os convnios. Os

    convnios tm como finalidade o alcance de objetivos institucionais comuns

    por meio de uma mtua colaborao entre os partcipes no caso em

    questo, governos. Essa mtua colaborao pode assumir vrias formas,

    como repasse de verbas, uso de equipamentos, de recursos humanos e

    materiais, de imveis, de know how, entre outros.

    Todavia, observa-se que na maior parte das vezes, os termos so definidos

    pela esfera de governo superior, assemelhando-se mais a uma adeso por

    uma das partes, do que de fato uma negociao. Apesar disso, esse o

    instrumento de cooperao mais largamente utilizado pelos entes

    federativos, abrangendo praticamente todas as reas de poltica pblica. Boa

    parte desses termos regulamenta repasses de verba de um nvel de governo

    para realizao de obras, eventos ou programas pelo outro; outra parte, que

    no pactua recursos financeiros, constitui na verdade uma forma de

    transferir a implementao de uma poltica, ou mesmo seu custeio, esfera

    de governo mais prxima da populao, normalmente os municpios.

    Vejamos a questo abaixo: ITEM 1. (ESAF/2009/MPOG/EPPGG) Ao avaliar o fato de que a Constituio Federal de 1988 agregou complexidade ao desenho federativo brasileiro, reconhecendo o municpio como ente federado, incorreto afirmar que: a) inicialmente, tal processo foi acompanhado por uma imensa descentralizao de polticas pblicas, pelo fortalecimento do poder local e por mecanismos pouco coordenados de relao vertical e horizontal entre os entes federativos.

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    b) assuntos que at ento eram tratados apenas em nvel nacional, ou mesmo estadual, tornaram-se parte integrante da agenda de muitos municpios. c) os constituintes de 1988 optaram pelo formato das competncias concorrentes para a maior parte das polticas sociais brasileiras, combinando descentralizao fiscal com descentralizao de competncias. d) ao par da descentralizao, a ausncia de polticas de desenvolvimento regional acentuou as desigualdades locais e regionais observadas historicamente no pas. e) inicialmente, na medida em que os estados se sentiam desobrigados de investir, grande parcela dos encargos acabou sendo assumida, de forma desorganizada, pelos municpios.

    Analisemos as alternativas

    a) CERTO. A falta de coordenao um dos pontos mais criticados no atual

    desenho do Estado brasileiro.

    b) CERTO. Como exemplo podemos citar a questo da educao.

    c) ERRADO. O erro foi dizer que combinou-se descentralizao fiscal com

    descentralizao de competncias. Segundo Marta Arretche, uma vez que as

    competncias so concorrentes, os municpios no so obrigados a

    implement-las. Assim, tiveram uma grande descentralizao fiscal, sem a

    correspondente descentralizao de obrigaes.

    d) CERTO. Uma das causas dessa ausncia de polticas pblicas a falta de

    integrao entre os entes federados.

    e) CERTO. Um exemplo foi a educao bsica, que precisou ser

    reorganizada pela unio atravs do FUNDEB.

    Portanto, o gabarito a alternativa C. 1.4. Dimenses da coordenao: intragovernamental, intergovernamental e na

    relao governo-sociedade.

    Estudamos nos tpicos 2 e 3 a dimenso das relao intergovernamental ,

    entre esferas de governo. Veremos agora os problemas relacionados

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    coordenao intragovernamental, ou seja, dentro de determinada esfera de

    governo.

    Maria das Graas Rua afirma que um dos aspectos que primeiro chamam a

    ateno nas polticas pblicas brasileiras a fragmentao. Embora as

    demandas da sociedade geralmente necessitem ser resolvidas de forma

    articulada, em que diferentes agncias setoriais atuem de forma

    coordenada, na prtica o que ocorre a existncia de linhas rgidas mas

    nem sempre consensuais e respeitadas de demarcao das reas de

    atuao de cada uma delas.

    Como conseqncia da fragmentao, as polticas muito freqentemente

    emperram devido competio interburocrtica. Segundo a autora:

    As polticas ou so fragmentadas em reas de controle de cada agncia, na busca de uma convivncia pacfica; ou estabelecem-se superposies que levam baixa racionalidade e ao desperdcio de recursos.

    Observao semelhante foi realizada por Snia Maria Fleury Teixeira:

    Apesar de que com a descentralizao os servios se dirigem aos mesmos grupos sociais que ocupam um mesmo espao geogrfico, sua execuo se realiza de forma isolada por meio de cada poltica setorial. Se bem os problemas sociais se manifestam setorialmente, sua soluo depende da ao de mais de uma poltica, de uma ao que considere a populao de forma integral. S atravs da intersetorialidade possvel uma ao integradas das polticas sociais que garanta a universalidade, integridade e equidade.

    Humberto Falco Martins traz alguns conceitos referentes a coordenao nas

    polticas pblicas:

    A integrao nas polticas pblicas implica que elas devem apoiar umas

    s outras, ou pelo menos no devem ser contraditrias.

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    A coerncia nas polticas envolve a promoo sistemtica de aes que

    se reforcem mutuamente nos diferentes rgos do governo, criando

    sinergias para a realizao dos objetivos comuns.

    A coordenao nas polticas significa fazer com que os diversos

    sistemas institucionais e gerenciais que formulam polticas trabalhem

    juntos de forma congruente.

    A consistncia nas polticas significa assegurar que as polticas

    individuais no sejam internamente contraditrias e que as polticas

    que se opem ao alcance de um determinado objetivo sejam evitadas

    ou integradas.

    Para o autor, a integrao nas polticas tem uma dimenso horizontal, uma

    vertical e uma temporal. A integrao horizontal busca assegurar que os

    objetivos individuais e as polticas desenvolvidas por vrias entidades se

    reforcem mutuamente. A integrao vertical busca assegurar que as prticas

    das agncias, autoridades e rgos autnomos, bem como o comportamento

    dos nveis subnacionais do governo, se reforcem mutuamente com os

    compromissos polticos mais amplos. A integrao temporal busca assegurar

    que as polticas continuem sendo efetivas ao longo do tempo e que as

    decises de curto prazo no se oponham aos compromissos de longo prazo.

    A integrao horizontal consiste na ao articulada entre rgos

    governamentais do mesmo ente federativo (por exemplo, quando

    ministrios atuam combinadamente para formular uma poltica de

    juventude). J a integrao vertical consiste nas aes articuladas entre

    rgos de entes federativos e organismos diferentes (por exemplo, quando

    um ministrio coordena suas aes para cima com o Mercosul e para baixo

    com os governos locais).

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    H tambm a integrao transversal e setorial. A primeira aplica-se s

    questes transversais ou intersetoriais e intergeracionais, dificilmente

    tratadas de forma coerente devido ao tratamento especializado na legislao

    e em diferentes reas de governo. J a integrao setorial est associada ao

    grau de consistncia lgica e operacional entre aes de diversos atores

    envolvidos numa mesma arena de polticas pblicas.

    A teoria da fragmentao de polticas pblicas prope que h uma correlao

    entre fatores de convergncia estrutural e o grau de fragmentao de

    polticas, dentro de um mesmo domnio temtico (fragmentao

    intrasetorial) ou entre vrios domnios (fragmentao extra-setorial). Os

    fatores de convergncia estrutural so:

    a) Liderana executiva, mediante uma viso do Presidente para implementar

    seu programa de governo e sua superviso direta ou indireta sobre os

    ministros em questes-chave;

    b) Uma estratgia governamental que promova convergncia de propsitos

    e o casamento do planejamento (apontando resultados) com a gesto

    (apontando como alcan-los);

    c) Incentivos cooperao lateral entre os ministrios para busca de

    solues integradoras, mediante estratgias de construo de confiana e

    modelagem de solues ganha-ganha entre distintos segmentos;

    d) Estruturas que facilitam ou dificultam a coordenao macro-

    governamental e as integraes verticais e horizontais entre rgos e

    entidades na estrutura de governo;

    e) Processos de trabalho com maior ou menor grau autonomia;

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    f) Intercmbio de ideias, valores e vises entre distintas comunidades

    epistmicas no mbito do estado, portadoras de distintas posies e opinies

    arraigadas sobre as polticas de gesto.

    O quadro abaixo apresenta o significado de cada um destes fatores em

    termos de propenso integrao ou fragmentao a partir de um modelo

    de anlise qualitativa da fragmentao.

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    Uma das solues para a fragmentao o PPA. Segundo o IPEA:

    Por um lado, se parece claro que o PPA pode transformar-se em poderoso

    instrumento de gesto pblica que amplia a visibilidade e a racionalidade das aes de governo, evidenciando possveis inconsistncias e gerando informaes capazes de averiguar os resultados finais obtidos em cada programa, por outro, parece ainda incompleta a tarefa de tornar-se mais orgnica a integrao entre diversos programas supostamente voltados ao enfrentamento de um mesmo problema-chave. Esse descasamento faz que a maioria dos programas necessite, ainda, de profunda reviso de concepo em vrios aspectos, tais como a

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    consistncia interna e a pertinncia e suficincia de aes para que se alcancem os seus objetivos diretos.

    Como vimos acima, os programas so instrumentos da integrao das

    diversas aes governamentais que tem objetivos comuns. Eles mudam a

    lgica do planejamento governamental, privilegiando uma viso integrada

    das aes necessrias para resolver determinado problema da sociedade.

    Mangabeira Unger e Jorge Gerdau Johannpeter , apresentaram um

    documento chamado Agenda Nacional de Gesto Pblica. Neste documento

    os autores apresentam alguns temas que devem ser tratados na agenda

    pblica e dividem a apresentao de cada tema em dois blocos: problemas e

    solues. Um dos temas tratados a repactuao federativa das polticas

    pblicas. Vejamos os problemas e solues apresentados.

    Repactuao Federativa nas Polticas Pblicas 1. Problemas: Compartimentalizao de competncias A repartio rgida de

    competncias constitucionais dos entes federados promove a fragmentao

    e a baixa qualidade dos servios prestados.

    Responsabilizao Dificuldade em responsabilizar os entes federados pelo

    desempenho e resultados obtidos pelas polticas pblicas.

    Centralizao na elaborao de polticas pblicas Excesso de centralizao

    na elaborao de polticas pblicas em larga escala, desconsiderando as

    diferentes demandas locais.

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    Descentralizao na execuo de polticas pblicas Excesso de

    descentralizao na execuo das polticas pblicas que eximem da

    responsabilidade o Governo Federal pela qualidade dos servios prestados.

    A impotncia do setor privado Dificuldades impostas ao setor produtivo

    pelas imperfeies e disfuncionalidades do setor pblico so imensurveis. O

    setor privado obrigado a lidar com os diversos nveis do setor pblico

    federal, estadual e municipal sem que essas reas dialoguem entre si ou

    sem que tenham seus procedimentos compatibilizados ou integrados.

    2. Solues: Corresponsabilizao e colaborao Rearranjo mais flexvel, com incentivos institucionais que se prestassem ao aprofundamento da colaborao e da corresponsabilizao entre a Unio, os estados e os municpios. Subsidiariedade Subsidiariedade entre os entes federados com o estabelecimento de processos simplificados, acesso informaes e promoo da transparncia para gerar competitividade e melhoria dos servios pblicos. Federalismo contratual Fortalecimento do federalismo contratual por intermdio do estabelecimento de parmetros nacionais mnimos que garantem o desenvolvimento equitativo entre as regies, alm da criao de metas, mecanismos de monitoramento e implementao. Agenda legislativa Produo de uma agenda legislativa integrada entre os entes federados, a ser apresentada anualmente ao Congresso, contendo as prioridades de polticas pblicas dos estados e municpios. Reforma Tributria Execuo da Reforma Tributria e simplificao de impostos federais para dirimir as externalidades da guerra fiscal. Agora vejam esta questo da CESPE, cobrada no ltimo concurso do MCTI

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    ITEM 2. (CESPE/MCTI/2012/ANALISTA DE CINCIA &TECNOLOGIA) O fortalecimento do federalismo contratual, por meio do estabelecimento de parmetros nacionais mnimos que garantam o desenvolvimento equitativo entre as regies, alm da criao de metas e mecanismos de monitoramento e implementao, pode solucionar o problema gerado pelo excesso de descentralizao na execuo de polticas pblicas.

    Perfeito, PESSOAL! exatamente a afirmao do documento citado acima.

    Conceitualmente federalismo contratual a associao de estados

    autnomos que se renem para fortalecer os seus laos polticos e

    econmicos. No o caso dos estados brasileiros, que fazem parte de um

    arranjo institucional. Mas, como veremos mais abaixo, Fernando Abrucio

    tambm defende esta perspectiva de contratualismo. Portanto, a afirmativa

    est CERTA.

    Vejam esta outra questo ITEM 3. (CESPE/MCTI/2012/ANALISTA DE CINCIA &TECNOLOGIA) O federalismo, forma de organizao poltico-territorial do Estado brasileiro, tem por objetivo o princpio de independncia e autonomia de cada estado-membro, sem a necessidade de coordenao de aes inter e intragovernamentais.

    A afirmativa est ERRADA! Segundo Fernando Abrucio em Federalismo e

    Polticas Pblicas: O Impacto das Relaes Intergovernamentais no Brasil, a

    Federao um acordo capaz de estabelecer um compartilhamento da

    soberania territorial, fazendo com que coexistam, dentro de uma mesma

    nao, diferentes entes autnomos, interdependentes. Diz o autor em seu

    texto:

    A Federao uma forma de organizao poltico-territorial baseada no compartilhamento tanto da legitimidade como das decises coletivas entre mais de um nvel de governo. Distingue-se, assim, do modelo clssico de nao, o chamado Estado unitrio. Neste ltimo, o Governo Central anterior e superior s instncias subnacionais, e as relaes de poder obedecem a uma lgica hierrquica e piramidal. A essncia da definio de federalismo aparece na prpria constituio da palavra, derivada do latim foedus, que significa pacto (ELAZAR, 1987). Trata-se de um acordo capaz de estabelecer um compartilhamento da soberania territorial, fazendo com que coexistam, dentro de uma mesma nao, diferentes entes autnomos e cujas relaes so mais contratuais do que hierrquicas. O objetivo compatibilizar o princpio de autonomia com o de interdependncia entre as partes, resultando numa diviso de funes e poderes entre os nveis de governo. O objetivo compatibilizar o princpio

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    de autonomia com o de interdependncia entre as partes, resultando numa diviso de funes e poderes entre os nveis de governo.

    Vejamos mais uma questo da ESAF ITEM 4. (ESAF/2009/MPOG/EPPGG) No atual contexto, uma coordenao adequada de aes intergovernamentais implica reconhecer os seguintes pressupostos como verdadeiros, exceto: a) a efetividade das polticas pblicas depende do entrosamento entre os nveis de governo, uma vez que, para o sucesso de suas aes, os entes locais precisam de colaborao horizontal e vertical. b) a existncia de recursos financeiros e de normas para a sua descentralizao, aliada a uma boa gesto financeira e a um controle formal, suficiente para a coordenao e a promoo do equilbrio nas relaes entre nveis de governo. c) no mais das vezes, a cooperao federativa frgil e h poucos incentivos institucionais a seu favor. Por conta disso, nas reas em que as relaes intergovernamentais so mais azeitadas, as polticas geralmente so mais bem-sucedidas, e vice-versa. d) a autonomia dos entes federativos, aliada a um vasto rol de competncias compartilhadas, possibilita que, frente a uma omisso do poder pblico, a populao permanea sem uma ao governamental e no saiba de quem cobrar: se do governo municipal, estadual ou federal. e) instrumento de cooperao mais usado pelos entes federativos, os convnios, por terem seus termos estabelecidos pela esfera de governo superior, mais se assemelham a um contrato de adeso e menos a um acordo negociado entre as partes.

    Pessoal, vamos analisar as alternativas:

    A) CERTO. Perfeito pessoal! O sucesso das polticas pblicas depende do

    entrosamento dos entes federativos. Como vimos uma poltica pblica

    depende da integrao entre os entes federativos(integrao

    horizontal) e da integrao entre os rgos que compem o governo

    local (integrao horizontal).

    B) ERRADO. Pessoal, a existncia de recursos financeiros condio

    necessria para a integrao dos nveis de governos em torno da

    execuo de uma poltica pblica, mas no suficiente para seu

    sucesso.

    C) CERTO. absolutamente verdadeiro pessoal! H poucos incentivos

    institucionais para a integrao vertical (intergovernamental). Quando

    esta integrao existe, as polticas pblicas tendem ao sucesso.

    D) CERTO. Isto pode ser exemplificado por alguns problemas do SUS.

    Quando h problemas a prefeitura diz que no recebeu os recursos do

    Estado e da Unio, que por sua vez acusam os entes sub-nacionais de

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    gerirem mal os recursos. E quem paga o pato so os cidados que

    necessitam dos servios pblicos.

    E) CERTO. Pessoal, o instrumento de convnio, regra geral, um

    instrumento que prev obrigaes para ambas as partes, com

    contrapartidas. Acontece que o governo federal, afim de assegurar a

    execuo de algumas polticas, oferta recursos aos entes sub-nacionais

    que aderirem a determinadas aes. Por exemplo, as aes de

    incentivos aos consrcios intermunicipais e aos municpios que

    assumirem a gesto plena da sade. O convnio assim, se transforma

    em contrato de adeso, porque a outra parte no pode alterar os

    termos do contrato. tambm chamado de federalismo contratual.

    Portanto, o gabarito a alternativa B.

    Vejam esta outra questo para encerrarmos: ITEM 5. (ESAF/CGU/2008) Estados federativos so vistos como propensos a terem dificuldades com a coordenao dos objetivos das polticas, gerando superposio de competncias e competio entre os diferentes nveis de governo. Considerando as caractersticas do pacto federativo e das relaes intergovernamentais no Brasil, possvel afirmar que: a) as desigualdades verticais e horizontais geradas entre as unidades federativas e entre os governos subnacionais pelo atual sistema de transferncias constitucionais estimulam a possibilidade de arranjos federativos em que, ao conferir autonomia aos governos locais, os eleitores se tornam encarregados da tarefa de elevar o gasto social desses governos. b) as garantias constitucionais do Estado federativo brasileiro autorizam, mas no obrigam, os governos estaduais e municipais a estabelecer sua prpria agenda e a implementar polticas pblicas, especialmente na rea social. c) estados e municpios contam com recursos garantidos, independentemente de lealdade poltica ou de adeso a polticas federais, porm condicionados ao seu esforo tributrio. d) a desconcentrao da autoridade no governo federal caracteriza as relaes federativas na gesto das polticas, pois somente restaram Unio os papis de financiador e de coordenador das relaes intergovernamentais. e) para induzir a adeso dos governos locais sua agenda de polticas pblicas em geral, o governo federal efetuou reformas constitucionais que condicionavam as transferncias de recursos adoo do comportamento considerado desejvel pelo governo federal.

    Analisemos as alternativas

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    A) ERRADO. Vimos na aula que , segundo Marta Arretche, que as

    desigualdades tributrias verticais e horizontais limitam a

    possibilidade de arranjos federativos em que, ao conferir autonomia

    aos governos locais, deixassem basicamente aos eleitores a tarefa de

    elevar o gasto social dos governos locais. A afirmativa est invertida.

    B) CERTO. Vimos na aula que qualquer ente federativo est

    constitucionalmente autorizado a implementar programas nas reas

    de sade, educao, assistncia social, habitao e saneamento, por

    exemplo. Simetricamente, nenhum ente federativo est

    constitucionalmente obrigado a implementar programas nestas reas.

    C) ERRADO. Os recursos esto garantidos, independentemente do

    esforo tributrio, conforme perspectiva de Marta Arretche, vista em

    aula.

    D) ERRADO. Vimos que, segundo Marta Arretche, ainda h forte

    concentrao de autoridade na esfera federal.

    E) ERRADO. Para fazer face desobrigao dos entes na

    implementao de polticas pblicas, como vimos, o governo federal

    vem condicionando a transferncia de recursos execuo de

    programas especficos. Um exemplo so as normas operacionais da

    sade e o PAB.

    Portanto, o gabarito a alternativa B.

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    2. Formulao de Polticas Pblicas

    Entende-se que as polticas sociais so as aes do Estado nas reas de

    educao, sade, previdncia, habitao, saneamento, etc.

    Para compreendermos o que sejam Polticas sociais importante estabelecer

    a diferena entre Estado e governo. Estado o conjunto de instituies

    permanentes como rgos legislativos, tribunais, exrcito e outras que no

    formam um bloco nico necessariamente que possibilitam a ao do

    governo; e Governo o conjunto de programas e projetos que uma parte da

    sociedade (polticos, tcnicos, organismos da sociedade civil e outros)

    prope para a sociedade como um todo, configurando-se como a orientao

    poltica de um determinado governo que assume e desempenha as funes

    de Estado por um determinado perodo.

    Polticas pblicas so, neste sentido, o Estado em ao; o Estado

    implantando um projeto de governo, atravs de programas, de aes

    voltadas para setores especficos da sociedade.

    As polticas pblicas so assim compreendidas como as de responsabilidade

    do Estado quanto implementao e manuteno a partir de um processo

    de tomada de decises que envolve rgos pblicos e diferentes organismos

    e agentes da sociedade relacionados poltica implementada. Neste sentido,

    polticas pblicas no podem ser reduzidas a polticas estatais.

    Polticas sociais se referem a aes que determinam o padro de proteo

    social implementado pelo Estado, voltadas, em princpio, para a

    redistribuio dos benefcios sociais visando a diminuio das desigualdades

    estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconmico.

    Em todas as reas do conhecimento humano o conceito de Polticas Pblicas

    discutido. , entretanto, no mbito da Cincia Poltica que este ganha um

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    grande destaque nas discusses tericas. Diversos autores (SECCHI, 2010;

    SARAVIA & FERRRAREZZI, 2006; DENHARDT, 2011) mostram uma viso

    geral de como a poltica publica vista pela academia: (1) como um

    equilbrio no oramento entre receita e despesa, (2) como uma nova viso

    do estado onde deixa de ser uma poltica kenynesiana, para ser uma poltica

    restrita aos gastos, e (2) a relao que existe entre os pases desenvolvidos

    e os que iniciaram a sua caminhada democrtica recentemente, de um modo

    particular os pases da Amrica Latina que ainda no conseguem administrar

    bem os seus recursos pblicos e equacionar os bens em beneficio de sua

    populao, de modo incluir os excludos.

    Conforme escreveu Souza (2006), em sua essncia as polticas pblicas

    esto ligadas fortemente ao Estado este que determina como os recursos

    so usados para o beneficio de seus cidados, onde faz uma sntese dos

    principais tericos que trabalham o tema das polticas pblicas relacionadas

    s instituies que do a ultima ordem, de como o dinheiro sob forma de

    impostos deve ser acumulado e de como este deve ser investido, e no final

    fazer prestao de conta pblica do dinheiro gasto em favor da sociedade.

    Com uma viso mais prxima de Souza (2006), Fernandes (2007) em seu

    artigo Polticas Pblicas: Definio, evoluo e o caso brasileiro na poltica

    social defende a idia de que as polticas pblicas se manifestam atravs de

    duas dimenses que se complementam entre si que o administrativo

    tcnico e o aspecto poltico como pode ser observado na citao a seguir.

    ... costuma-se pensar o campo das polticas pblicas unicamente

    caracterizado como administrativo ou tcnico, e assim livre, portanto do

    aspecto poltico propriamente dito, que mais evidenciado na atividade

    partidria eleitoral. Este uma meia verdade, dado que apesar de se tratar

    de uma rea tcnico-administrativa, a esfera das polticas pblicas tambm

    possui uma dimenso poltica uma vez que est relacionado ao processo

    decisrio. (FERNANDES, 2007).

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    Vejamos uma questo:

    ITEM 6. (FGV/FNDE/2007) Assinale a alternativa que melhor descreva o conceito de poltica pblica. a) Um programa de governo.

    b) O Plano Plurianual do governo.

    c) Um conjunto de decises interativas de governo com objetivos prefixados.

    d) Um conjunto de marcos jurdicos.

    e) Um projeto de lei.

    Pessoal, Como vimos polticas pblicas referem-se ao Estado em ao, no

    se trata simplesmente de programas de governo, mas sim das decises e

    aes efetivas na realidade concreta. Portanto, o gabarito a alternativa

    C.

    Klaus Frey (2000) diferencia a poltica em trs dimenses. Para isso,

    optaremos por usar os conceitos empregados em ingls. Ele refere-se a

    polity para denominar as instituies polticas; politics para os processos

    polticos e policy para os contedos da poltica:

    a dimenso institucional polity se refere ordem do sistema poltico,

    delineada pelo sistema jurdico, e estrutura institucional do sistema

    poltico-administrativo;

    no quadro da dimenso processual politics tem se em vista o

    processo poltico, frequentemente de carter conflituoso, no que diz respeito

    imposio de objetivos, aos contedos e decises de distribuio; e,

    a dimenso material policy, refere-se aos contedos concretos, isto ,

    configurao dos programas polticos, aos problemas tcnicos ao contedo

    material das decises polticas.

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    Diante dessa diferenciao, faz-se necessrio compreender o grau de

    influncia das estruturas polticas (polity) e dos processos de negociao

    poltica (politics) sobre o resultado material concreto (policy) das polticas.

    Klauss (2000) discorda desse pressuposto de concatenao de efeitos

    lineares e argumenta que, na prtica, especialmente entre as dimenses

    processual (politics) e material (policy). Para ele, embora o sistema poltico-

    administrativo permanea estvel e independente as disputas polticas e as

    relaes de fora e poder sempre deixaro suas marcas nos programas e

    projetos desenvolvidos e implementados. Klaus discorda, inclusive, da

    suposio de Lowi (1972) - que veremos mais adiante - onde a dimenso

    material determina a dimenso processual.

    De acordo com Maria das Graas Ruas, As polticas pblicas (policies),

    por sua vez, so outputs, resultantes da atividades poltica (politics) :

    compreendem o conjunto das decises e aes relativas alocao

    imperativa de valores. Nesse sentido necessrio distinguir entre poltica

    pblica e deciso poltica. Uma poltica pblica geralmente envolve mais do

    que uma deciso e requer diversas aes estrategicamente selecionadas

    para implementar as decises tomadas. J uma deciso poltica corresponde

    a uma escolha dentre um leque de alternativas, conforme a hierarquia das

    preferncias dos atores envolvidos, expressando - em maior ou menor grau

    - uma certa adequao entre os fins pretendidos e os meios disponveis.

    Assim, embora uma poltica pblica implique deciso poltica, nem toda

    deciso poltica chega a constituir uma poltica pblica. Um exemplo

    encontra-se na emenda constitucional para reeleio presidencial. Trata-se

    de uma deciso, mas no de uma poltica pblica. J a privatizao de

    estatais ou a reforma agrria so polticas pblicas.

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    Dagnino (2002) prope um declogo necessrio para entender o conceito

    de poltica: (1) a distino entre poltica e deciso: a poltica gerada por

    uma srie de interaes entre decises mais ou menos conscientes de

    diversos atores sociais (e no somente dos tomadores de deciso); (2) a

    distino entre poltica e administrao; (3) que poltica envolve tanto

    intenes quanto comportamentos; (4) tanto ao como no-ao; (5) que

    pode determinar impactos no esperados; (6) que os propsitos podem ser

    definidos ex post: racionalizao; (7) que ela um processo que se

    estabelece ao longo do tempo; (8) que envolve relaes intra e inter

    organizaes; (9) que estabelecida no mbito governamental, mas envolve

    mltiplos atores; e, (10) que definida subjetivamente segundo as vises

    conceituais adotadas.

    Embora Bucci (2002) defina polticas pblicas como programas de ao

    governamental que visam coordenar os meios disposio do estado e as

    atividades privadas para a realizao de objetivos relevantes e politicamente

    determinados, Secchi (2010), defende que qualquer definio de poltica

    pblica arbitrria, pois na literatura especializada no h consenso quanto

    definio por conta da disparidade de respostas e de alguns

    questionamentos. Secchi chamou esses questionamentos de ns

    conceituais.

    Vejam esta questo

    ITEM 7. (CEPERJ/ SEPLAG-RJ/2010) A literatura sobre anlise de polticas pblicas diferencia trs dimenses da poltica. Sobre essas dimenses, avalie as afirmativas. I. A dimenso institucional (polity) cuida dos contedos materiais concretos, da configurao dos programas polticos, dos problemas tcnicos e do contedo material das decises polticas. II. A dimenso processual (politics) concentra-se no processo poltico, frequentemente de carter conflituoso, no que diz respeito imposio de objetivos, aos contedos e s decises de distribuio. III. A dimenso material (policy) diz respeito ordem do sistema poltico, delineada pelo sistema jurdico, e estrutura institucional do sistema poltico-administrativo.

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    As afirmaes I, II e III so: a) verdadeira, verdadeira, verdadeira. b) falsa, falsa, falsa. c) falsa, verdadeira, verdadeira. d) verdadeira, falsa, falsa. e) falsa, verdadeira, falsa.

    Pessoal, analisemos as afirmativas:

    I. ERRADO. A dimenso institucional polity se refere ordem do

    sistema poltico, delineada pelo sistema jurdico, e estrutura institucional

    do sistema poltico-administrativo. A definio dada de Policy.

    II. CERTO. Conforme visto na aula acima.

    III. ERRADO. A dimenso material (policy)refere-se aos contedos

    concretos, isto , configurao dos programas polticos, aos problemas

    tcnicos ao contedo material das decises polticas. A definio dada de

    polity.

    Portanto, o gabarito a alternativa E.

    2.1. Modelos de Tomada de Deciso

    O processo decisrio ou da formulao de polticas, ou ainda, o momento de

    definio preliminar de objetivos e estratgias um tema importante da

    Anlise de Polticas. A posio aparentemente predominante no debate entre

    a viso racional e a incremental aquela que atribui a esta ltima um

    maior peso aos fatores de ordem poltica (politics) nas escolhas que so

    efetivamente realizadas no decorrer do processo decisrio.

    A literatura sobre o tema apresenta diversas abordagens que buscam

    verificar os limites e relaes entre racionalidade, poder e deciso e desta

    forma fazer com que a Anlise de Poltica possa de fato ser um suporte s

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    decises e uma ferramenta para a melhoria do processo de elaborao de

    polticas.

    Os dois modelos - incremental e racional - so lentes conceituais

    inconciliveis. Enquanto tais, o objetivo chegar a uma viso adaptvel s

    diferentes situaes encontradas na realidade. Assim, optamos pela

    definio de cada modelo.

    O modelo incremental um modelo interpretativo sobre a tomada de

    decises que considera as decises presentes dependentes das decises

    tomadas no passado, e que os limites impostos por instituies formais e

    informais so barreiras tomada de deciso livre por parte do policymakers.

    Neste modelo, problemas e solues so definidos, revisados e redefinidos

    simultaneamente e em vrios momentos, e deciso depende de um processo

    de construo de consensos e ajuste mtuo de interesses. Segundo esse

    modelo, grandes saltos ou rupturas de polticas pblicas so raridade

    (Lindblom: 1959).

    O modelo racional, por sua vez, desdobra-se em dois. O primeiro, modelo

    de racionalidade absoluta, o modelo interpretativo de tomada de

    decises em que estas so consideradas atividades puramente racionais, nas

    quais o melhor meio escolhido para alcanar um fim. O segundo, o

    modelo de racionalidade limitada, coloca igualmente a tomada de

    decises como atividade racional, porm restringidas pelas limitaes

    cognitivas e informativas dos tomadores de deciso. A tomada de deciso,

    portanto, torna-se um esforo de escolha de uma opo satisfatria no

    necessariamente tima

    A viso incremental coloca que a ao de partidrios de posies

    distintas interessados em influenciar as decises no mbito do processo

    poltico, ao provocarem um ajuste mtuo e contnuo entre suas posies,

    asseguraria o ideal democrtico do pluralismo. Coloca, por outro lado, que o

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    racionalismo, por no considerar os interesses polticos existentes na

    sociedade, conduziria engenharia social e ao autoritarismo.

    As duas devem, de fato, ser interpretadas como modelos idealizados do

    processo de tomada de deciso que se baseiam em posies no limite

    antagnicas acerca da estrutura de poder na sociedade capitalista, da

    concepo do Estado e do papel da burocracia.

    Simon, em O comportamento administrativo (1945), ao concentrar a

    nfase na busca por eficcia administrativa no interior das organizaes

    para a anlise do processo de deciso avana na caracterizao das duas

    vises. Segundo ele, a viso racional envolve comparar (e escolher) as

    alternativas que melhor sirvam obteno de um dado resultado. Ela

    envolve listar todas as estratgias alternativas para (1) determinar todas

    as conseqncias que decorrem de cada estratgia alternativa e (2) avaliar

    comparativamente cada um dos conjuntos de conseqncias.

    Simon reconhece, entretanto, que seu enfoque possui limitaes. Isto

    porque, pergunta questiona: os valores que devem ser usados para guiar o

    processo de escolha e o modo como se deve identificar os valores das

    organizaes. Ele considera, ainda, que as organizaes no so

    homogneas e os valores a elas imputados terminam sendo aqueles dos

    indivduos dominantes. Considera que a tomada de deciso no se processa

    da forma lgica, abrangente e objetiva inerente ao procedimento racional e

    o modo utilizado para separar fatos e valores, e meios e fins no processo

    decisrio se os meios para tanto tambm supem valores.

    Simon evolui, em 1957, para um conceito mais realista de bounded

    rationality: a alternativa escolhida no precisa ser a que maximiza os

    valores do tomador de deciso; s precisa ser boa o suficiente. Portanto,

    no todos os cursos alternativos de ao precisam ser ponderados.

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    Lindblon (1959) parte da viso de racionalidade restrita de Simon para

    formular seu enfoque de comparaes limitadas sucessivas. Ao invs de

    partir de questes bsicas e construir a anlise de baixo para cima

    (mtodo da raiz), parte da situao existente buscando alter-la

    incrementalmente (mtodo dos galhos).

    Contrapondo-se a posies da abordagem racionalista, ele tem como

    preocupao central produzir uma anlise ampla sobre as caractersticas do

    processo de tomada de decises. O processo decisrio percebido como

    algo bem mais complexo do que prope a abordagem racional, sem

    princpio ou fim e com limites um tanto incertos. A democracia vista como

    determinando um processo contnuo de tomada de decises relacionadas

    s polticas pblicas que sero definidas, formuladas e implementadas e

    sobre problemas ou demandas sociais e polticas que sero ou no includas

    na agenda de decises governamentais. Nesta configurao, o governo e a

    poltica so tambm vistos pelo autor como processos contnuos de

    deciso.

    Ele aponta para o fato de que a preocupao da cincia poltica em produzir

    estudos sobre o processo decisrio, ento incipiente, havia-se iniciado

    devido a necessidade de uma maior racionalidade, controle e criao de

    possibilidades para a avaliao dos resultados obtidos na atividade pblica

    (de governo). A preocupao com a racionalidade , por isto, muito

    influente nos estudos sobre Anlise de Polticas desde a sua origem.

    Segundo ele, a reflexo sobre o tema da racionalidade exige a resposta s

    seguintes perguntas (1) as decises dos dirigentes pblicos so, em

    alguma medida, sustentadas por um comportamento de carter racional?

    (2) os analistas podem oferecer formas de trabalho cientfico que venham a

    garantir algum apoio contra a incerteza que caracteriza os processos de

    deciso em mbito governamental?

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    Respondendo a estas perguntas, Lindblon afirma que, nos sistemas

    polticos, as pessoas buscam apropriar-se de informaes, estudos e

    resultados de investigaes ou anlises cientficas para fortalecer suas

    prprias posies, ou de seus grupos de interesse, e justificar suas

    decises. Este seria o principal obstculo ao uso das ferramentas de Anlise

    de Polticas ou mtodos de trabalho de base racional no processo de

    elaborao de polticas. Este seria tambm o ponto desde onde se

    instauram os conflitos entre a anlise e a poltica. Ainda que os estudos

    especializados, baseados em informaes bem fundamentadas, sejam

    aceitos como componentes importantes nos processos decisrios, sua

    influncia limitada. Na viso do autor estes limites seriam: (1) a prpria

    Anlise de Poltica, e as pessoas que a realizam, podem cometer erros; (2)

    os processos de investigao baseada na cincia ou em mtodos racionais

    so muito mais lentos e custosos do que o permitem os prazos e

    capacidade de financiamento na esfera pblica; (3) a anlise por si s no

    capaz de avaliar a importncia social e poltica e selecionar os problemas

    que necessitam ser enfrentados prioritariamente, isto , no se pode

    decidir os conflitos a respeito de valores e interesses apenas com estudos

    ou investigaes que se apresentam como racionais, cientficos ou

    metodologicamente corretos.

    Outro autor que contribuiu significativamente ao tema FORESTER (1989).

    A partir dos estudos de LINDBLOM e MARCH (1978 e 1982), ele apresenta

    uma sistematizao que explicita as diferenas entre a posio racional-

    compreensiva e a vertente analtica que percebe limites racionalidade no

    processo decisrio.

    Em sntese, a posio racional-compreensiva trabalharia com: problemas

    bem definidos, uma lista completa de alternativas para sua considerao,

    uma base completa de informao sobre contexto e ambiente, viso

    adequada sobre os impactos de cada alternativa, informao completa

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    sobre os valores e interesses dos cidados e grupos de interesse,

    competncias, recursos e tempo suficientes

    J a viso baseada em uma racionalidade limitada: os problemas so

    ambguos e pouco determinados, a informao para identificao de

    alternativas precria e muitas alternativas so desconhecidas, a

    informao sobre o contexto ou ambiente problemtica incompleta, os

    impactos das possveis alternativas levantadas desconhecido, os

    interesses, valores e preferncias no so bem estabelecidos e o tempo, as

    competncias e os recursos so limitados.

    A posio de Forrester que, dado a conscincia dos limites da utilizao

    de mtodos inteiramente racionais para a tomada de deciso, o que se

    acaba fazendo em termos prticos adotar esquemas simplificados para a

    busca de compreenso sobre cada situao. Em situaes em que

    prevalecem os juzos e preconceitos estabelecidos, as tradies e prticas

    anteriores, e quando nem todas as alternativas para cursos de ao so

    examinadas, sendo escolhida a primeira que se apresenta como satisfatria

    e no a que seria tima so a regra e no a exceo.

    A opo por adotar uma postura racional-comprensiva na formulao de

    polticas pode ser irrealista e incua. Alternativamente, conceber a

    formulao como baseada na racionalidade limitada ou pior, na postura

    meramente incremental pode deixar o fazedor de polticas de mos atadas

    e simplesmente reproduzir o passado.

    Vejam esta questo

    ITEM 8. (ESAF/ CE-RS/2011) Para o incrementalismo os recursos governamentais para um programa, rgo ou uma dada poltica pblica no partem do zero e sim, de decises marginais e incrementais que desconsideram mudanas polticas ou mudanas substantivas nos programas pblicos. Assim, as decises dos governos seriam apenas incrementais e pouco substantivas.

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    Perfeito pessoal! No modelo incremental problemas e solues so

    definidos, revisados e redefinidos simultaneamente e em vrios momentos,

    e deciso depende de um processo de construo de consensos e ajuste

    mtuo de interesses. No h, grandes saltos ou rupturas de polticas

    pblicas. Portanto, a afirmativa est CERTA.

    2.2 Ciclo de Polticas Pblicas

    O ciclo de polticas pblicas um esquema de visualizao e interpretao

    que organiza a vida de uma poltica pblica em fases seqenciais e

    interdependentes. Raramente reflete a real dinmica ou vida de uma poltica

    pblica. As fazes geralmente apresentam-se misturadas e as sequncias se

    alternam.

    Alguns autores afirmam que no h um ponto de incio e de finalizao.

    Trata-se de um processo incerto e as fronteiras entre as fases da poltica

    pblica no so ntidas. Ajuda a organizar ideias e simplifica a complexidade.

    No obstante as vrias verses, os principais autores, entre eles Sechi

    (2010), apresenta sete fases:

    1. Identificao do problema

    2. Formao de agenda

    3. Formulao de alternativas

    4. Tomada de deciso

    5. Implementao

    6. Avaliao

    7. Extino

    Agora vejamos esta questo

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    ITEM 9. (ESAF/ CE-RS/2011) O modelo do ciclo da poltica pblica v a poltica pblica como um ciclo deliberativo, formado por vrios estgios e constituindo um processo dinmico e de aprendizado. constitudo dos seguintes estgios: definio de agenda, identificao de alternativas, avaliao das opes, seleo das opes, implementao e avaliao.

    Vejam que as fases so muito parecidas e quase coincidentes com a

    perspectiva de Sechi. Estas fases podem mudar com perspectivas de

    diferentes autores. Precisamos ficar atentos apenas coerncia

    apresentada. Os estgios apresentados no enunciado, neste sentido, so

    absolutamente coerentes. Portanto, a afirmativa est CERTA.

    IDENTIFICAO DO PROBLEMA

    Um problema pblico pode ser definido entre o que e aquilo que se

    gostaria que fosse a realidade pblica. Pode aparecer subitamente

    (catstrofe, por exemplo) ou aos poucos (o problema do trnsito). Pode

    estar presente, mas no receber ateno por que a coletividade aprendeu a

    conviver com ele (favelizao).

    Nem sempre um problema pblico reflexo da deteriorao de uma

    situao de determinado contexto, mas a melhora da situao de outro

    contexto. Exemplo: a falta de acesso a um determinado lugarejo s passa a

    ser percebido como problema quando um lugarejo vizinho recebe

    asfaltamento. S percebo que meu carro est velho, quando meu vizinho

    adquiri um carro novo

    Para Sjnlon (1984), (1) a identificao do problema envolve: A percepo

    do problema: um problema pblico no existe seno na cabea das pessoas

    (conceito intersubjetivo). A situao pblica passa a ser insatisfatria

    quando afeta a percepo de muitos atores relevantes. (2) a definio ou

    delimitao do problema: envolve sintetizar a essncia do mesmo e seus

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    respectivos norteadores (causas, solues, culpados, obstculos e

    avaliaes). (3) a avaliao da possibilidade de resoluo: nem sempre se

    elabora polticas pblicas para se eliminar um problema, mas apenas para

    mitig-lo o diminuir suas consequncias negativas.

    Alguns atores partidos polticos, agentes polticos e Ongs, por exemplo -

    preocupam-se constantemente em identificar problemas pblicos. Esses

    atores encontram, do ponto de vista racional, o problema pblico como

    matria prima de trabalho e como razo de sua existncia. Ex: Insatisfao

    coletiva, Fauna ameaada de extino ou produtos importados atrapalhando

    determinado setor industrial. Identificado o problema, o ator precisa inclu-lo

    na lista de prioridades de atuao.

    FORMAO DE AGENDA

    De acordo com Secchi (2006), o conjunto de problemas ou temas

    entendidos como relevantes includos numa lista de prioridades o que se

    denomina agenda. Uma agenda ganha forma ao se tornar 1) um programa

    de governo, 2) um planejamento oramentrio, 3) um estatuto partidrio,

    ou ainda, 4) uma simples lista de assuntos do comit editorial de um jornal.

    Cobb e Elder (1983), classificam dois tipos de agenda: (1) Agenda poltica:

    conjunto de problema sou temas que a comunidade poltica percebe como

    merecedor de interveno; (2) Agenda formal ou institucional: que so os

    problemas ou temas que o poder pblico j decidiu enfrentar. H ainda, a

    agenda da mdia, ou seja, a lista problemas que os meios de comunicao

    impem condicionando assim as agendas poltica e formal.

    Do mesmo modo que entram, os problemas saem das agendas, em geral,

    por limitao de recursos, humanos, financeiros e materiais, a falta de

    tempo, a falta de vontade poltica e, por fim, a falta de presso popular

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    (Subiratis, 1989). A maior dificuldade para o poltico no estabelecer quais

    so as prioridades, mas orden-las de modo a satisfazer a coletividade.

    Ainda segundo Cobb e Elder (1983), existem trs condies para que um

    problema entre na agenda poltica: 1) Ateno: os diferentes atores devem

    entender a situao como merecedora de interveno. 2) Resolubilidade: as

    possveis aes devem ser consideradas necessrias e factveis. 3)

    Competncia: o problema deve tocar responsabilidades pblicas.

    Vamos outra questo

    ITEM 10. (ESAF/CGU/2008) De acordo com a literatura em polticas pblicas, agenda governamental consiste em um conjunto de temas que, em dado momento, so alvo de sria ateno tanto por parte das autoridades governamentais como de atores fora do governo mas estreitamente associadas s autoridades. Sobre a formao ou construo da agenda de polticas pblicas, pode-se afirmar que: a) consiste em um processo de identificao e reconhecimento de problemas, o que a distingue da formulao, que consiste na especificao das alternativas de ao governamental. b) consiste em uma lista de temas que so objeto das preocupaes de todos os agentes governamentais, independentemente dos diferentes nveis e setores de governo. c) depende de uma diferenciao entre o que uma situao e o que um problema, com base em valores, na anlise de dados empricos, em presses polticas, em eventos crticos e at no fluxo da poltica. d) no envolve a excluso de problemas, que naturalmente causada pela mudana da realidade ou do foco de ateno das autoridades, pela banalizao das situaes ou pela dinmica dos ciclos sociais. e) determinada pelos meios mediante os quais as autoridades tomam conhecimento das situaes, como, por exemplo, os indicadores, os eventos-foco, crticas severas do Congresso ou da mdia.

    Pessoal, devemos gravar que a formao da agenda depende da presso

    sofrida pelo elemento poltico. Depende de uma dada situao virar

    problema para os agentes polticos. A sim esta situao merecer entrar

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    na agenda governamental. No basta que as autoridades tomem

    conhecimento da situao ou que reconheam aquilo como problema. S

    entra na agenda se a situao virar um problema para o agente poltico, seja

    por presso da populao ou da mdia. Desta forma o gabarito a

    alternativa C.

    FORMULAO DE ALTERNATIVAS

    Para Schattschneider (1960), a definio de alternativas o instrumento

    supremo do poder, por que a definio de alternativas a escolha dos

    conflitos, e a escolha dos conflitos aloca o poder.

    Secchi (2010) afirma que a formulao de alternativas de soluo se

    desenvolve por meio de escrutnios formais e informais das consequncias

    do problema, e dos potenciais custos e benefcios de cada alternativa

    disponvel.

    Ao estabelecer objetivos, os atores (polticos, analistas, etc) resumem o que

    esperam que sejam os resultados da poltica pblica. Os objetivos podem ser

    estabelecidos de maneira mais frouxa (por exemplo, melhorar a assistncia

    a sade no municpio Y) ou de modo mais concreto (aumentar em 30% as

    vagas em creches no municpio). Quanto mais concreto, mais fcil ser

    verificar a eficcia da poltica pblica. Em alguns casos, o estabelecimento

    de metas pode ser dificultoso e politicamente indesejado.

    Um objetivo pode ser alcanado de diversas formas e por muitos caminhos.

    Na etapa de construo de alternativas deve-se estabelecer mtodos,

    programas, estratgias ou aes para se alcanar os objetivos estabelecidos.

    Exemplo: O caso da pichao nas grande cidades.

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    Situao 1 A pichao um problema que deve ser resolvido. Situao 2

    A pichao uma arte e o problema est na falta de sensibilidade artstica

    da populao. No caso especfico das pichaes, se a situao considerada

    for a situao 1, o objetivo precisa ser a reduo das mesmas e o

    consequente desconforto visual. Para isso: 1) criar leis mais severas, 2)

    garantir rigor ao cumprimento das leis, 3) Instalar cmeras, 4) fazer

    campanhas de conscientizao, 5) estimular denncias, 6) criar espaos

    para expresso, 7) criar escolas de arte, 8) destinar verbas pblicas

    contnuas para reparo, e, 9) revestimentos especiais.

    No caso especfico das pichaes, se a situao considerada for a situao 2,

    o objetivo precisaria ser o contrrio. Para isso, seria importante fazer

    campanhas para que a populao veja as pichaes de modo diferente;

    Para cada alternativa escolhida para que o objetivo da poltica se cumpra,

    faz-se mister esforos de inspirao e imaginao dos contornos e detalhes

    prticos.

    Cada alternativa ir requerer recursos humanos, materiais, e financeiros e,

    portanto, chances diferentes de ser eficaz.

    O policymaker tem disposio quatro mecanismos (p