autonomia contratual: da estrutura À funÇÃo …
TRANSCRIPT
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
85
AUTONOMIA CONTRATUAL DA ESTRUTURA Agrave FUNCcedilAtildeO
CONTRACTUAL AUTONOMY FROM STRUCTURE TO FUNCTION
Aline Valverde Terra Recebimento em novembro de 2015
Aprovaccedilatildeo em dezembro de 2015
Resumo O presente artigo analisa a contemporacircnea concepccedilatildeo da autonomia contratual
Observa-se o abandono da abordagem exclusivamente estrutural em favor de anaacutelise
funcional por meio da qual se avalia a legitimidade dos interesses perseguidos pelas partes
Assumem fundamental importacircncia nesse cenaacuterio a boa-feacute objetiva o equiliacutebrio das posiccedilotildees
contratuais bem como a funccedilatildeo social do contrato
Palavras-chave Autonomia privada Autonomia contratual Boa-feacute objetiva Equiliacutebrio
Econocircmico Estrutura Funccedilatildeo social
AbstractThis article analyzes the contemporary conception of contractual autonomy The
purely structural approach is abandoned in favor of functional analysis which evaluates if the
interests pursued by the parties are legitimate In this scenario the objective good faith the
balance of the contract positions as well as the social function of the contract are extremely
important
Keywords Private autonomy Contractual autonomy Objective good faith Structure
Economic balance Function
INTRODUCcedilAtildeO
Observa-se na ordem contratual contemporacircnea criacutetica cada vez mais contundente agrave
centralidade da vontade individual como uacutenico elemento de fundamentaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo da
forccedila obrigatoacuteria dos contratos A autonomia privada concebida outrora como a possibilidade
de as partes se obrigarem como quando e com quem quisessem adquire novos contornos
diante da contemporacircnea principiologia constitucional
No modelo liberal claacutessico o direito confiando no jogo livre das vontades
individuais abdicava deintervir nos clausulados negociais sob pena de ser acusado de restringir
indevidamentea autonomia privada A ordem juriacutedica se limitava por conseguinte a conferir a
legalidade formal do ato de autonomia e sua correspondecircncia agrave vontade das partes mantendo-
se indiferente agrave justeza material dos arranjos de interesses
A passagem para o Estado Social de Direito voltado agrave solidariedade agrave igualdade ao
respeito agrave pessoa e agrave promoccedilatildeo de sua dignidade altera de modo significativo a atuaccedilatildeo
estatal Reconhece-se que em sociedades desiguais eacute a intervenccedilatildeo do poder puacuteblico que
garante e promove a liberdade da pessoa humana
Doutora em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro ndash UERJ (2015) Rio de Janeiro-RJ
Brasil Mestre em Direito Civil pela UERJ (2008) Professora do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo da PUCRJ E-
mailammvalverdehotmailcom
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
86
A autonomia privada deixa entatildeo de ser considerada um valor em si mesmo e passa
a ser concebida como instrumento de promoccedilatildeo de finalidades constitucionalmente relevantes
como o satildeo a rigor na esteira do que propugna a metodologia do direito civil-constitucional
todos os institutos juriacutedicos1Afinal ldquoquerer natildeo eacute poder em um ordenamento juriacutedico no qual
o poder eacute disciplinado e regulado o querer natildeo eacute poder e o poder eacute atribuiacutedo pelo direito e natildeo
pela vontade das partesrdquo2Eacute sempre necessaacuterio verificar se o ato de autonomia eacute liacutecito e
merecedor de tutela conforme portanto aos princiacutepios constitucionais3 Natildeo haacute liberdade
dissociada de outros valores incidentes na construccedilatildeo da noccedilatildeo de autonomia dos particulares
Definida por Luigi Ferri como o poder atribuiacutedo pela lei aos particulares de criar
direito de estabelecer normas juriacutedicas4 a autonomia privada eacute classificada a partir dos meios
pelos quais se expressa daiacute falar-se em autonomia negocial e autonomia contratual5 A
primeira designa as situaccedilotildees em que a autonomia se dirige agrave realizaccedilatildeode negoacutecios juriacutedicos a
segunda por sua vez serefere agraves hipoacuteteses em que aquele poder se volta agrave realizaccedilatildeo de
especiacutefico negoacutecio juriacutedico bilateral ou plurilateral de conteuacutedo patrimonial o contrato6
A autonomia negocial mais abrangente do que a contratual serve natildeo soacute agrave concretizaccedilatildeo de
1Para anaacutelise da metodologia civil-constitucional confira-sePERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave
dellordinamento giuridico vigente Rassegna di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005 TEPEDINO
Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil In Temas de direito civil 4ed
rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23 TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas
na complexidade do ordenamento Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9
Disponiacutevel em httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdfAcesso em
30122015KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do direito
civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito ndash UFPR Curitiba vol 60
n 1 janabr 2015 p 193-213 SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER
Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 1-
23 TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil constitucional In
SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo
Atlas 2016 p 47-70
2PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p 173(traduccedilatildeo livre) No
opriginal ldquovolere non egrave potere in un ordinamento nel quale il potere egrave disciplinato e regolato il volere non egrave
potere e il potere egrave atribuito dal diritto e non soltanto dalla volontagrave delle partirdquo
3PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar 2008 p343
4FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada Comares 2001 p36
Cariota Ferrara destaca a importacircncia da lei na atribuiccedilatildeo de eficaacutecia agrave vontade das partes tambeacutem referida no
concito de Ferri Por essa razatildeo afirma o autor natildeo se pode dizer que eacute avontade que produz os efeitos juriacutedicos
decorrentes do ato de autonomia nem que a forccedila geradora repousa apenas no ordenamento juriacutedico mas sim que
eacute a lei que autoriza a autonomia privada a possibilitar que o negoacutecio produza os efeitos juriacutedicos desejados pelas
partes atribuindo-lhe eficaacutecia (FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli
Edizioni Scientifiche Italiane 2011 p61)
5Eacute como distingue Pietro Perlingieri que afirma Una classificazione dellautonomia privata egrave fondatasui mezzi
con i quali essa si esplica Si discorre cosiacute di autonomia negoziale e di autonomia contrattuale muovendo dalla
relazione di genere a specie che vincola rispettivamente il negozio (genus) al contratto (specie)
(PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005 p340)O mesmo autor
subdivide a proacutepria categoria autonomia contratual tradicionalmente monoliacutetica com base na natureza dos
sujeitos em accedilatildeo (p346)
6PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p340
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
87
negoacutecios unilaterais mas tambeacutem e sobretudo agrave proteccedilatildeo de negoacutecios natildeo patrimoniais ou
existenciais7
A heterogeneidade dos interesses implicados em cada ato de autonomia impede a
identificaccedilatildeo de disciplina uacutenica e consequentemente a configuraccedilatildeo de categoria abstrata
que englobe todos os atos de autonomia privada8Ao contraacuterio trata-se a autonomia privada
de categoria que se qualifica quando se concretiza na relaccedilatildeo juriacutedica a merecer tutela se e
enquanto em seu concreto exerciacutecio9 ldquoseja apresentaacutevel como atuaccedilatildeo da ordem juriacutedica dos
valoresrdquo10 A autonomia privadaganha dessa forma um predicado identificado em italiano pela
expressatildeo ldquomeritevolerdquo a significar que seraacute tutelado pelo ordenamento juriacutedico o ato de
autonomia que atenda a uma funccedilatildeo juridicamente relevante A liberdade em um
ordenamento social e solidaacuterio deve ser regulada moldada pelos valores de fundo nos quais o
ordenamento se inspira11 Cuida-se em suma de funcionalizar os institutos juriacutedicos12
Posto isso sujeita-se o ato de autonomia a dupla ordem de controle o controlede licitude
e o de merecimento de tutela13 O primeiro avalia se o ato concreto contraria as normas
imperativas e os bons costumes O segundo analisa a idoneidade do ato concreto para a efetiva
promoccedilatildeo de valores fundamentais do ordenamento juriacutedico14 O merecimento de tutela se
reconduz agrave anaacutelise de justificaccedilatildeo do ato a partir dos seus efeitos natildeo agrave avaliaccedilatildeo estrutural seara
do juiacutezo delicitude Cuida-se em siacutentese da verificaccedilatildeo da coerecircncia dos efeitos perseguidos
peloato de autonomia com os valores supremos da ordem juriacutedica enquanto a inobservacircncia das
7Na definiccedilatildeo de Pietro Perlingieri a autonomia negocial eacute il potere riconosciuto o attribuito dallordinamento
al soggeto di diritto privato o pubblico di regolare con proprie manifestazioni di volontagrave interessi privati o
pubblici comunque non necessariamente propri (PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p341)
8PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di Giorgio Oppo
Padova CEDAM 1992 v1 p 103
9PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra pesona e mercato
Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003 p29
10PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti fra pesona e mercato
Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003 p16 (traduccedilatildeo livre) No original ldquosia
rappresentabile quale attuazione dellordine giuridico dei valorirdquo
11PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p167
12PERLINGIERI PietroO direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar 2008
13Usa-se neste estudo a expressatildeo ldquomerecimento de tutelardquo para referir agrave anaacutelise funcional do ato sem ignorar
todavia a possiacutevel distinccedilatildeo entre abuso do direito e juiacutezo de merecimento de tutela o primeiro estaria ligado a
juiacutezo negativo agrave violaccedilatildeo da funccedilatildeo atribuiacuteda pela ordem juriacutedica ao ato enquanto o segundo encerraria juiacutezo
positivo voltado a verificar a promoccedilatildeo de funccedilotildees juridicamente relevantes Para a distinccedilatildeo confira-se SOUZA
Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o merecimento de tutela Revista
Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91 abrjun 2012
14PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p425
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
88
normas imperativas conduz a um deacuteficit estrutural o natildeo atendimento aos valores
fundamentais acarreta um deacuteficit funcional do ato de autonomia15
O conceito de meritevolezza ao servir de controle axioloacutegico da autonomia privada
permite ampliar os confins de sua atuaccedilatildeo valorando positivamente novos esquemas
negociais que promovam funccedilotildees juriacutedica e socialmente uacuteteis como destaca Mirzia Bianca
Per concludere puograve ritenersi allora che la meritevolezza in quanto specchio dei
principi di un ordinamento consente di superare il dettato di norme ordinarie di
carattere generale in quanto strumento che consente di allargare le maglie
dellautonomia privata Nel dialogo mai sopito tra norme e principi la
meritevolezza consente di superare non solo come ha evidenziato lanalisi
giurisprudenziale le strettoie della disciplina di un tipo negoziale ma consentealtresigrave
proprio in considerazione dei principi di superare i limiti posti da norme ordinarie
se la posta in gioco egrave la realizzazione di valori che in un dato momento storico sono
ritenuti conformi allassetto ordinamentale di una data societagrave Questa prospettiva
della meritevolezza ne conferma la strumentalitagrave rispetto al principio di autonomia
negoziale16
A autonomia privada se afasta assim de conotaccedilotildees arbitraacuterias e voluntaristas e assume
feiccedilatildeo solidarista a ser exercida em conformidade com o princiacutepio da solidariedade social17
Natildeo se estaacute diante evidentemente de processo de erosatildeo da autonomia privada mas de
readequaccedilatildeo de seus contornos em razatildeo da alteraccedilatildeo qualitativa promovida pelos princiacutepios
15Sobre a distinccedilatildeo ver por todos TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de
direito civil Rio de Janeiro Renovar 2009 t 3 p145-155
16BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di Diritto Civile
Padova n1 p812-813 2011 Em traduccedilatildeo livre Para concluir pode-se considerar entatildeo que o merecimento
de tutela como espelho dos princiacutepios de um ordenamento consente superar o ditado de normas ordinaacuterias de
caraacuteter geral como instrumento que consente ampliar as malhas da autonomia privada No diaacutelogo nunca
esgotado entre normas e princiacutepios o merecimento de tutela oportuniza a suplantaccedilatildeo conforme evidenciou a
anaacutelise jurisprudencial natildeo apenas das amarras da disciplina de um tipo negocial mas tambeacutem exatamente em
consideraccedilatildeo aos princiacutepios dos limites postos pelas normas ordinaacuterias se o que estiver em jogo for a promoccedilatildeo
de valores que em certo momento histoacuterico satildeo considerados conformes ao assentamento do ordenamento de
determinada sociedade Essa perspectiva do merecimento confirma sua instrumentalidade em relaccedilatildeo ao
princiacutepio da autonomia negocial
17De acordo com Maria Celina Bodin de Moraes tal eacute justamente a medida de aplicaccedilatildeo do princiacutepio da
dignidade da pessoa humana a ponderaccedilatildeo a ser feita em cada caso entre liberdade e solidariedade termos que
stricto sensu satildeo considerados contrapostos De fato a imposiccedilatildeo de solidariedade se excessiva anula a
liberdade a liberdade desmedida eacute incompatiacutevel com a solidariedade Todavia quando ponderados seus
conteuacutedos se tornam complementares regula-se a liberdade em prol da solidariedade social isto eacute da relaccedilatildeo de
cada um com o interesse geral o que reduzindo a desigualdade possibilita o livre desenvolvimento da
personalidade de cada um dos membros da comunidade (BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de
direito civil tendecircncias In TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas
essenciaisobrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p359) Na mesma direccedilatildeo ensina
Faacutebio Konder Comparato que a solidariedade eacute o fecho de aboacutebada do sistema de princiacutepioseacuteticos pois complementa
e aperfeiccediloa a liberdade a igualdade e a seguranccedila Enquanto a liberdade e a igualdade potildeem as pessoas umas diante
das outras a solidariedade as reuacutene todas no seio de uma mesma comunidade Na perspectiva da igualdade e da
liberdade cada qual reivindica o que lhe eacute proacuteprio No plano da solidariedade todos satildeo convocados a defender
o que lhes eacute comum Quanto agrave seguranccedila ela soacute pode realizar-se em sua plenitude quando cada qual zela pelo
bem de todos e a sociedade pelo bem de cada um dos seus membros (COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica
direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo Companhia das Letras 2006 p577)
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
89
constitucionais Trata-se em definitivo da necessidade de conformaccedilatildeo em cada caso dos atos
de autonomia ao projeto constitucional
Os chamados limites agrave autonomia privada natildeo satildeo apenas externos como outrora mas
tambeacutem internos expressatildeo direta do ato e do seu significado constitucional a alterar
substancialmente seu proacuteprio conteuacutedo18Nesse sentido pode-se mesmo afirmar que a
disciplina contratual ditada pelas partes encerra tatildeo soacute o provisoacuterio regulamento de interesses
que se tornaraacute definitivo na medida em que esteja de acordo com os ditames constitucionais
A coercibilidadedas normas elaboradas pelos contratantes para reger suas condutas deixa de
depender de forma exclusiva do acordo de vontades e passa a se subordinar agrave sua
conformidade agraves condiccedilotildees e aos limites em virtude dos quais este poder criador eacute concedido
e que decorrem diretamente da Constituiccedilatildeo Supera-se dessa forma o dogma da vontade e
inaugura-se o dogma da responsabilidade19
1 A PROVISORIEDADE DA REGULAMENTACcedilAtildeO AUTOcircNOMA E A BOA-FEacute
OBJETIVA
Releva nesse processo de redefiniccedilatildeo da autonomia privada a boa-feacute objetiva
desenvolvida na Alemanha sobretudo apoacutes a ediccedilatildeo em 1900 do BGB2021 com o propoacutesito
de corrigir os excessos da liberdade individual22 Firmando-se como princiacutepio de lealdade
reciacuteproca entre os contratantes a boa-feacute objetiva erige-se como obstaacuteculo ao exerciacutecio da
autonomia privada em violaccedilatildeo ldquoaos paracircmetros de convivecircncia e confianccedila muacutetuas que
devem reger um ambiente negocial sadiordquo23 ajustando quando necessaacuterio a disciplina
18CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2008 p189-190
19A conclusatildeo eacute de BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi cit 2011
20Cuidam especialmente do tema os sectsect 157 e 242 do BGB sect 157 ldquoOs contratos interpretam-se como o exija a
boa-feacute com consideraccedilatildeo pelos bons costumes do traacutefegordquo e sect 242 ldquoO devedor estaacute adstrito a realizar a
prestaccedilatildeo tal como o exija a boa-feacute com consideraccedilatildeo pelos costumes do traacutefegordquo (MENEZES CORDEIRO
Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001 p325)
21Sobre o sentido inicial da boa-feacute no BGB e sua posterior evoluccedilatildeo confira-se MENEZES CORDEIRO
AntoacutenioDa boa feacute no direito civil cit p331 et seq
22Embora quando da ediccedilatildeo do BGB a utilizaccedilatildeo da boa-feacute tenha ficado restrita aos exatos limites referidos nos
sectsect 157 e 242 a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial levou os Tribunais alematildees a aplicaacute-la de forma mais ampla
de modo a criar sob o ldquoguarda-chuvardquo do sect 242 diversas regras que dele natildeo constavam expressamente O
processo se intensificou com a Segunda Guerra Mundial ldquoagain sect 242 BGB was invoked and today it is a king of
the BGBrdquo De todo modo ldquolater the legislator codified some of the institutions which the courts had established
for instance hardship [hellip]rdquo(LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of
European contract law In ANDENAS Mads et alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the national
systems London British Institute of International and Comparative Law 2007 p603-604) Em traduccedilatildeo livre mais
uma vez o sect 242 do BGB foi invocado e hoje eacute o rei do BGB De todo modo mais tarde o legislador
codificou alguns dos institutos que as cortes haviam estabelecido como a claacuteusula de hardship []
23SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2013 p49-60 p53
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
90
contratual estabelecida pelas partes de acordo com as especificidades da concreta relaccedilatildeo
negocial24 A boa-feacute objetiva ldquoconcorre na criaccedilatildeo da regula iuris do caso concretordquo25 mesmo
no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias construindo a disciplina negocial
non solo nel senso del completamento del regime lacunoso mediante
lidentificazione di obblighi aggiuntivi ma anche nel senso della modifica
sostanziale del dictum originario nel quadro di una rettifica destinata a garantire la
concreta realizzazione degli obiettivi complessivamente prefigurati dai paciscenti26
Cuida-se em verdade da concretizaccedilatildeo do princiacutepio constitucional da solidariedade
social na esfera contratual transformando as relaccedilotildees obrigacionais concebidas inicialmente
como o locus destinado agrave perseguiccedilatildeo egoiacutesta das satisfaccedilotildees individuais em espaccedilo de
cooperaccedilatildeo e solidariedade27 impondo aos contratantes que se empenhem em promover os
interesses da contraparte sem que isso importe outrossim em sacrifiacutecio de sua posiccedilatildeo
contratual de vantagem ou renuacutencia agraves situaccedilotildees de preponderacircncia No acircmbito de relaccedilotildees
paritaacuterias natildeo caracterizadas pela vulnerabilidade a boa-feacute objetiva deve ser concebida nos
seus exatos termos como princiacutepio que impotildee honestidade e lealdade atribuindo agraves partes
deveres de colaboraccedilatildeo condicionados e limitados pela funccedilatildeo econocircmica e social do negoacutecio
celebrado28 Em qualquer relaccedilatildeo contratual as partes inegavelmente concorrem entre si na
aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de posiccedilotildees prevalentes e a ordem juriacutedica natildeo os impede de fazecirc-lo
afinal referida postura eacute mesmo da essecircncia das relaccedilotildees negociais A boa-feacute objetiva natildeo se
confunde em definitivo com atribuiccedilatildeo de funccedilatildeo abnegatoacuteria ou altruiacutesta ao contrato
Identificada a relevacircncia da boa-feacute objetiva como instrumento conformador da
autonomia privada largamente ratificada pela doutrina e jurisprudecircncia o desafio
contemporacircneo parece repousar na distinccedilatildeo de paracircmetros os mais diversos (poreacutem especiacuteficos)
possiacuteveis aplicaacuteveis agraves variadas relaccedilotildees contratuais que permitam ao operador do direito
24PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p460
25No original ldquoconcorre a creare la regula iuris del caso concretordquo (PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto
civile citp461)
26SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede prospettive di diritto
europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli Editore 2007 p212 Em traduccedilatildeo livre ldquonatildeo
somente no sentido de corrigir o regime lacunoso mediante a identificaccedilatildeo das obrigaccedilotildees anexas mas tambeacutem
no sentido de modificar substancialmente o dictum originaacuterio no quadro de uma retificaccedilatildeo que visa garantir a
concreta realizaccedilatildeo dos objetivos conjuntamente prefigurados pelos contratantesrdquo
27NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar 2002 p117
28TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do Consumidor e no novo
Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos na perspectiva civil-constitucional Rio de
Janeiro Renovar 2005 p41 Na mesma direccedilatildeo confira-se Bianca ldquoEs necesario por lo tanto avanzar hasta
queacute punto la parte debe tener en cuenta los legiacutetimos intereses de la contraparte La especificacioacuten debe ser
buscada en el liacutemite del apreciable sacrificio que circunscribe el deber de buena fe precisamente la buena fe
requiere a la parte tener presente la utilidad de la contraparte en los liacutemites en los cuales ello no importe un
apreciable sacrificiordquo (BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil
el principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu cit p197 grifos no original)
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
91
analisar no caso concreto a legitimidade do ato de autonomia Imprescindiacutevel entretanto natildeo
cair na tentaccedilatildeo sempre presente insidiosamente de adotar abordagem tipificante da boa-feacute
objetiva criando verdadeiros tipos de comportamento aos quais a conduta concreta deveraacute ser
subsumida Abordagem nesse sentido se revelaria extremamente limitadora e contraacuteria agrave vocaccedilatildeo
expansiva da figura como instrumento de concretizaccedilatildeo do princiacutepio de solidariedade social
2 DA ANAacuteLISE PROCEDIMENTAL DA JUSTICcedilA CONTRATUAL AO PRINCIacutePIO
DO EQUILIacuteBRIO DAS POSICcedilOtildeES CONTRATUAIS
Ao lado da boa-feacute objetiva outro inafastaacutevel paracircmetro de legitimidade do exerciacutecio
da autonomia privada eacute a renovada concepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees
contratuais Tradicionalmente sempre se entendeu que o equiliacutebrio era aquele combinado
entre as partes29Analisava-se a justiccedila do contrato sob aspecto meramente procedimental
bastava que a avenccedila fosse fruto de consenso livre suficientemente ponderado e
adequadamente informado para ser considerada justa30 Nos dias atuais referida concepccedilatildeo
deu lugar ao entendimento segundo o qual a concreta afericcedilatildeo do equiliacutebrio requer o
balanceamentoentre dois princiacutepios constitucionais igualmente relevantes a livre iniciativa
fundamento constitucional da autonomia contratual e a solidariedade social
Nesse sentido embora se reconheccedila que o consenso informado seja instrumentode
realizaccedilatildeo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a constituir um valor instrumental e natildeo um valor
fim31eacute preciso dar um passo adiante A afericcedilatildeo do equiliacutebrio deve desprender-se da origem
29Exemplo desta orientaccedilatildeo eacute a seguinte explanaccedilatildeo de Joatildeo Baptista Villela ldquoContinuando pode-se cravar
mais fundo o punhal da razatildeo interrogativa por que natildeo haveria o que censurar quando eacute certo estar repousando
o contrato do exemplo sobre uma enorme disparidade entre as prestaccedilotildees Pela simples razatildeo de que natildeo eacute a
aritmeacutetica que define o estatuto juriacutedico do contrato senatildeo a vontade mesma dos contratantes Por que
transparentes motivos ou obscuras razotildees quiseram contratar nas condiccedilotildees indicadas eacute mateacuteria de sua livre
determinaccedilatildeo Fizeram-no interpretando as respectivas conveniecircncias ou ateacute ndash por que natildeo ndash cedendo a um
capricho de suas mentes Em regime poliacutetico de liberdade contratual soacute agraves mesmas partes cabe fazer (e a si
mesmas) essas perguntas O Estado natildeo tem porque intervir sob pena de estar invadindo um domiacutenio que natildeo eacute
o seu Se eacute assim deve-se concluir que o equiliacutebrio econocircmico-financeiro seria um conceito inuacutetil quem sabe
mesmo prejudicial De modo algum O que se tem de compreender eacute que o senhor do conceito satildeo as partesrdquo
(VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO Gustavo FACHIN
Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011
v3 p780)
30Ainda nesse sentido afirmando que a autonomia privada se sujeita apenas a controle de licitude e aquele de
ordem procedimental confira na doutrina italiana MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia
contrattuale(note minime sul controllo del contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio)
In Studi in onore di Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1204
31A observaccedilatildeo eacute de Enrico Minervini De acordo com o autor ldquoegrave vero quanto si sostiene abitualmente che
trasparenza e riequilibrio non possono essere identificati in quanto trasparenza non mira ad una tutela
sostanziale degli interessi in gioco bensigrave ad individuare le regole del gioco e quindi ad indicare come ci si
debba comportare corretamente sul mercato Tuttavia non vi egrave dubbio che il nesso di strumentalitagrave fra
trasparenza del contratto ed equilibrio normativo ed economico delle posizioni contrattuali sia particolarmente
rilevanterdquo (MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
92
voluntarista do negoacutecio de modo que a justiccedilado contrato emane natildeo apenas do acordo de
vontades que lhe daacute origem mas do merecimento de tutela do concreto regulamento Significa
entatildeo que se deve abandonar a anaacutelise voluntarista do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em
homenagem agrave investigaccedilatildeo pautada no especiacutefico programa contratual voltado agrave realizaccedilatildeo
dos interesses perseguidos pelas partes A justiccedila contratual deixa de ser avaliada com base na
vontade arbitraacuteria no subjetivismo dos contratantes e passa a depender da avaliaccedilatildeo concreta
do seu interesse a partir da especiacutefica disciplina contratual
O equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais natildeo abarca apenas a afericcedilatildeo do equiliacutebrio
econocircmico do contrato Cuida-se de anaacutelise mais ampla da relaccedilatildeo contratual identificada no
regulamento capaz de conciliar os interesses contrapostos das partes32A rigor didaticamente
eacute possiacutevel decompor o princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em dois aspectos do
mesmo fenocircmeno o princiacutepio do equiliacutebrio normativo e o princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico
do contrato33Natildeo haacute prevalecircncia de um aspecto sobre outro haacute complementaridade
conquanto nem sempre seja faacutecil distingui-los entre si34
O princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato tambeacutem designado equiliacutebrio
material recebeu tratamento tiacutemido praticamente insignificante do legislador de 2002 que
deixou de mencionaacute-lo expressamente limitando-se a disciplinar algumas de suas
manifestaccedilotildees a exemplo da lesatildeo (art 157) do estado de perigo (art 156) e da resoluccedilatildeo por
excessiva onerosidade (arts 478-480) Todavia em todos esses dispositivos o legislador
cedeu ao ranccedilo voluntarista do qual ainda natildeo se despiu por completo e acostou ao
desequiliacutebrio contratual requisitos ligados agrave vontade dos contratantes como ldquoinexperiecircnciardquo
ou ldquonecessidaderdquo ou entatildeo circunstacircncias ldquoextraordinaacuteriasrdquo que natildeo podiam ser previstas
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p18) Em traduccedilatildeo livre ldquoverdadeira eacute a afirmaccedilatildeo costumeira de
que transparecircncia e reequiliacutebrio natildeo podem ser identificados pois transparecircncia natildeo visa uma tutela substancial
dos interesses em jogo mas sim agrave individualizaccedilatildeo das regras do jogo e portanto a apontar como deve ser um
comportamento correto no mercado Contudo natildeo haacute duacutevida de que o nexo de instrumentalidade entre
transparecircncia do contrato e equiliacutebrio normativo e econocircmico das posiccedilotildees contratuais eacute particularmente
relevanterdquo
32PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi cit p170
33BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p39
34A rigor por vezes o perfil normativo acaba se traduzindo em valoraccedilatildeo econocircmica como destaca Pietro
Perlingieri ldquoa previsatildeo de uma compensaccedilatildeo voluntaacuteria regra normativa que incide sobre a forma de pagamento
e de satisfaccedilatildeo de creacuteditos e deacutebitos reciacuteprocos releva tambeacutem sob o perfil econocircmicordquo (PERLINGIERI Pietro O
direito civil na legalidade constitucional cit p412 nota 410) Como destaca Macario ldquola differenza dovrebbe
poter essere apprezzata sul piano delle conseguenze ossia in punto di rimedi allo squilibrio ma la normativa cui
normalmente ci si riferisce rende ardua siffatta distinzionerdquo(MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni
contrattuali ed autonomia privata nella subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle
posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131 nota 1) Em
traduccedilatildeo livre ldquoa diferenccedila deveria ser apreciada no plano das consequecircncias isto eacute no ato de remediar o
desequiliacutebrio mas a normativa agrave qual costuma-se remeter dificulta esta distinccedilatildeordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
93
pelas partes quando da celebraccedilatildeo do contrato a dificultar a configuraccedilatildeo do desequiliacutebrio de
forma objetiva35
Talvez por essa razatildeo doutrina e jurisprudecircncia tenham relegado por tanto tempo o
princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato a uma espeacutecie de princiacutepio de segunda
categoria natildeo merecendo aplicaccedilatildeo autocircnoma independente das expressas previsotildees legais e
de seus requisitos subjetivos Semelhante postura acaba por condicionar a justiccedila contratual
agravequela avaliaccedilatildeo procedimental jaacute referida se a manifestaccedilatildeo de vontade foi livre informada
consciente e ponderada o contrato eacute economicamente equilibrado
A afirmaccedilatildeo de um verdadeiro princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato requer
sua aplicaccedilatildeo desvinculada de requisitos subjetivos bem como das expressas positivaccedilotildees
feitas pelo legislador de 2002 Para tanto afigura-se imprescindiacutevel investigar que tipo de
desequiliacutebrio autoriza a intervenccedilatildeo judicial reequilibradora a fim de impedir o indesejaacutevel
estrangulamento da autonomia privada
Impotildee-se em primeiro lugar verificar se as vantagens ou benefiacutecios econocircmicos
conferidos agraves partes satildeo proporcionais entre si a despeito de qualquer juiacutezo acerca da higidez
procedimental da manifestaccedilatildeo de vontade vale dizer do adimplemento dos deveres de
informaccedilatildeo e da integridade do consentimento36A justiccedila contratual expressatildeo da justiccedila
comutativa natildeo requer equivalecircncia absoluta nas relaccedilotildees de troca mas proporcionalidade de
forma que nenhuma das partes decirc muito mais nem muito menos do que recebeu37 Como
advertem Rodolfo Sacco e Giorgio de Nova eacute um primeiro e graviacutessimo erro pensar que o
contrato seja uma operaccedilatildeo em que a soma das vantagens e das perdas das partes eacute igual a
zero Quem de boa-feacute tem em mente esse disparate afirmam os autores passaraacute todo o seu
tempo buscando regra que impeccedila um contratante de ganhar para impedir que o outro
35Para criacutetica ao tratamento dispensado ao princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato confira-se
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-122 especialmente
36PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p58
37De acordo com Pietro Perlingieri o princiacutepio de proporcionalidade parece ldquodestinato ad incidere
profondamente nella moderna concezione del contratto che in tal modo si allontana definitivamente dalla
tradizionale volontaristica interpretazione del principio pacta sunt servandardquo (PERLINGIERI PietroNuovi
profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21 n3 p560 2000) Em traduccedilatildeo livre o princiacutepio
de proporcionalidade parece ldquodestinado a afetar profundamente a moderna concepccedilatildeo de contrato que de tal
forma se distancia definitivamente da tradicional interpretaccedilatildeo voluntarista do princiacutepio pacta sunt servandardquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
94
contratante perca Evidentemente quem raciocina assim vecirc em cada intercacircmbio uma
extorsatildeo executada por uma parte em prejuiacutezo da outra38
A proporcionalidade portanto consiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo
concretizada segundo a boa-feacute objetiva39 A anaacutelise eacute objetiva e independe de qualquer
consideraccedilatildeo de aspectos subjetivos relacionados agrave manifestaccedilatildeo de vontade como
inexperiecircncia ou necessidade
Verificado que haacute efetivamente desproporcionalidade entre os benefiacutecios
econocircmicos auferidos pelas partes investiga-se se o desequiliacutebrio se justifica diante da
economia contratual40 A anaacutelise do concreto regulamento de interesses da disciplina
estabelecida pela autonomia privada indicaraacute se a despeito de economicamente desequilibrado
o favorecimento normativo da parte em desvantagem econocircmica reequilibra a balanccedila
conduzindo ao equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais
Conforme jaacute se afirmou equiliacutebrio econocircmico e equiliacutebrio normativo encerram
aspectos complementares do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais pelo que eacute
possiacutevel que um desequiliacutebrio econocircmico se justifique no acircmbito do concreto negoacutecio
juriacutedico em razatildeo de algum poder ou direito conferido ao contratante Mais uma vez
38SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di diritto civile 3ed
Torino UTET 2004 t 1 p17-18
39PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional citp413-414 Observe-se que a doutrina
italiana distingue o princiacutepio da proporcionalidade do princiacutepio da razoabilidade nos seguintes termos ldquoA
operatividade do princiacutepio da proporcionalidade nos contratos parece confiada a uma conexatildeo entre elementos de
confrontaccedilatildeo homogecircneos comparaacuteveise quantificaacuteveis A proporcionalidade tem valor no plano quantitativo e
determina mas nem sempre a consequecircncia da reduccedilatildeo do contrato Vice-versa quando a coligaccedilatildeo eacute entre
elementos natildeo homogecircneos natildeo comparaacuteveis que envolvem interesses natildeo quantificaacuteveis por exemplo natildeo
patrimoniais o resultado eacute uma ponderaccedilatildeo entre eles que natildeo se pode traduzir no plano da quantidade mas
exige necessariamente uma valoraccedilatildeo qualitativa Em tais hipoacuteteses entram em funccedilatildeo seja o princiacutepio da
razoabilidade seja o princiacutepio da adequaccedilatildeo O merecimento de tutela portanto natildeo pode se inspirar
exclusivamente no aspecto quantitativo Com efeito a proporcionalidadeconsiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo e
configura portanto um paracircmetro ulterior e sucessivo em relaccedilatildeo agravequele de razoabilidade (vista como justificaccedilatildeo
abstrata) uma diversa modalidade de valorar a entidade do interesse patrimonial ou seja a medida da sua proteccedilatildeo
juriacutedica em comparaccedilatildeo e ponderaccedilatildeo com aquela de outros interesses O princiacutepio da proporcionalidade eacute
portanto uma norma aplicaacutevel tambeacutem quando faltam regras ad hoc a ser coordenada com outros princiacutepios
sistematicamente a ele coligados utilizaacuteveis em sede hermenecircutica O princiacutepio da proporcionalidade embora
operativo entre elementos quantificaacuteveis constitui um daqueles momentos normativos de relevacircncia axioloacutegica os
quais contribuem para recuperar a coerecircncia e eficiecircncia ao sistema juriacutedico e correta competitividade concorrencial ao
mercado no justo equiliacutebrio entre liberdade e solidariedade liberdade e merecimento de tutela dos conteuacutedosrdquo
(p406-407) A distinccedilatildeo embora relevante no direito italiano natildeo assume destaque no direito brasileiro pelo
que se utilizaraacute nesta tese a proporcionalidade tanto para comparar interesses homogecircneos quanto aqueles
heterogecircneos semdescurar evidentemente da superior hierarquia dos interesses existenciais em relaccedilatildeo aos patrimoniais
40Nessa toada pondera Mauro Grondona que ldquoloperazione di analisi e di costruzione ermeneutica che il
giudice dovrebbe compiere egrave proprio quella di accertare le ragioni di tale squilibrio onde valutare se esso sia
(o possa essere) ragionevolmente giustificato in forza di uno stringente esame delleconomia del contrattordquo
(GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto I Contratti Milano v21 n11 p1029 2013) Em traduccedilatildeo livre ldquoa operaccedilatildeo de anaacutelise e de
construccedilatildeo hermenecircutica que o juiz deveria cumprir eacute exatamente aquela de aferir as razotildees desse desequiliacutebrio
para avaliar se ele eacute (ou pode ser) razoavelmente justificado a partir de um exame apurado da economia do
contratordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
95
reafirma-se a necessidade de analisar o concreto regulamento de interesses em sua unidade jaacute
que somente a partir do todo eacute possiacutevel avaliar fidedignamente o merecimento de tutela de
seus diversos aspectos
Constatado o desproporcional desequiliacutebrio econocircmico e a inexistecircncia de qualquer
vantagem normativa que reequilibre as posiccedilotildees contratuais presumir-se-aacute a violaccedilatildeo ao
princiacutepio do equiliacutebrio A presunccedilatildeo poderaacute ser afastada se restar comprovado que a parte
contra quem o contrato estaacute desequilibrado ostenta interesse legiacutetimo mesmo natildeo patrimonial
que justifique o desequiliacutebrio41 Embora a regra seja o relativo equiliacutebrio econocircmico
nadaimpede que no caso concreto uma das partes assuma deliberada e justificadamente o risco
de um desequiliacutebrio manifesto42
Nesses casos o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais resta atendido em face do
merecimento de tutela dos interesses em jogo pelo que a autonomia privada deve ser
prestigiada e o contrato haacute de ser mantido consoante pactuado pelas partes Alterar o
equiliacutebrio econocircmico original nessas circunstacircncias natildeo significa reequilibrar o contrato mas
atribuir ao contrato um equiliacutebrio diverso daquele expresso pelo regulamento negocial
subtraindo ex post de uma das partes algumas utilidades econocircmicas esperadas com a
celebraccedilatildeo do contrato sob o argumento de que o desequiliacutebrio eacute prova certa de patologia43
O princiacutepio do equiliacutebrio normativo a seu turno exige que a disciplina contratual seja
equilibrada a conferir direitos e obrigaccedilotildees de forma proporcional a ambas as partes Mais
uma vez a proporcionalidade natildeo visa garantir equivalecircncia entre os poderes atribuiacutedos aos
contratantes mas impedir desproporccedilatildeo excessiva e injustificada entre eles Assim como em
relaccedilatildeo ao equiliacutebrio econocircmico a mobilidade do equiliacutebrionormativo tendencialmente mutaacutevel
de contrato para contrato afasta qualquer tentativa de anaacutelise abstrata do fenocircmeno44
O perfil normativo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais vai ao encontro da ordem
constitucional contemporacircnea promovendo a igualdade substancial entre as partes Enquanto
41De acordo com Perlingieri em algumas situaccedilotildees ldquoo equiliacutebrio entre as prestaccedilotildees deve ser individuado
prescindindo das avaliaccedilotildees de mercado relativas a um bem tendo-se em conta poreacutem eventuais interesses natildeo
patrimoniais exigecircncias sentimentais e afetivas os quis podem determinar um valor diverso para o proacuteprio bemrdquo
(PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidadeconstitucional cit p412) Em outra sede afirma o mesmo
autor ldquorisulta assolutamente necessario distinguere la valutazione economica della prestazione dagli interessi
a volte non patrimoniali che caratterizzano il contrattordquo(PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e
principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p50) Em traduccedilatildeo livre
ldquoresulta absolutamente necessaacuterio distinguir a valoraccedilatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo dos interesses agraves vezes natildeo
patrimoniais que caracterizam o contratordquo
42SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo cit p133
43GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto cit p1029-1030
44BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori cit p41
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
96
o perfil econocircmico do equiliacutebrio contratual se volta para a tutela patrimonial dos contratantes e
se guia sobretudo por loacutegica eminentementemercadoloacutegica o perfil normativo comporta a tutela
tambeacutem de valores existenciais ao viabilizaro controle da autonomia privada a partir de
paracircmetros que natildeo o econocircmico a exemplo da vulnerabilidade Nesse sentido o princiacutepio do
equiliacutebrio normativo permite reequilibrar a disciplina contratual para aleacutem das situaccedilotildees em
que o regulamento de interesses ameaccedila o patrimocircnio de um dos contratantes contemplando
hipoacuteteses em que a ameaccedila se coloca contra sua proacutepria existecircncia digna mormente diante de
vulnerabilidade existencial45 Eacute a promoccedilatildeo do equiliacutebrio normativo por exemplo que
justifica a intervenccedilatildeo legislativa que proiacutebe claacuteusulas de reajuste da mensalidade de plano de
sauacutede por faixa etaacuteria46
O princiacutepio encontra plena aplicabilidade inclusive no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias em
que natildeo haacute vulnerabilidade a ser prioritariamente tutelada Com efeito parece inspirar-se no
princiacutepio do equiliacutebrio normativo a aplicaccedilatildeo da claacuteusula penal em favor de todos os contratantes
ainda que prevista em benefiacutecio exclusivo de uma das partes Embora natildeo se identifique
nominalmente o fundamento dessa extensatildeo no equiliacutebrio normativo a jurisprudecircncia a
justifica na proporcionalidade e na razoabilidade que satildeo como apontado paracircmetros de
afericcedilatildeo do equiliacutebrio normativo Emblemaacutetico nesse sentido o voto do Ministro Massami
Uyeda nos autos do Recurso Especial 1119740RJ
Caracterizadas portanto as reciacuteprocas obrigaccedilotildees entabuladas pelas partes natildeo seria
razoaacutevel nem proporcional que para uma delas o descumprimentocontratual seguisse a
claacuteusula previamente redigida na avenccedila de execuccedilatildeomais simples e para o outro
caminho diverso de execuccedilatildeo mais complexa Entender-se de forma diversa eacute o mesmo
que tratar os iguais desigualmente pois enquanto no descumprimento por parte do
promitente-comprador jaacute estaria definido o quantum indenizatoacuterio sem a
possibilidade de quaisquer discussotildees o inadimplemento do promitente-vendedor
daria azo a discussotildees acerca do efetivo prejuiacutezo sofrido pelo comprador47
45Carlos Nelson Konder traccedila fundamental distinccedilatildeo entre a vulnerabilidade patrimonial e aquela existencial
advogando a favor da elaboraccedilatildeo de instrumentos de tutela proacuteprios voltados para pessoas que se enquadrem
nesta uacuteltima categoria De acordo com o autor ldquoa vulnerabilidade existencial seria a situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva
em que o titular se encontra sob maior suscetibilidade de ser lesionado na sua esfera extrapatrimonial impondo a
aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas de tutela diferenciada para a satisfaccedilatildeo do princiacutepio da dignidade da pessoa
humanardquo (KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um sistema
diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p111 maiojun 2015)
46Lei no 107412003 art 15 sect 3
o Confira-se na jurisprudecircncia o leading case acerca do tema BRASIL
Superior Tribunal de Justiccedila REsp 809329RJ Relator(a) Ministra Nancy Andrighi Julgamento 25032008
Oacutergatildeo Julgador 3aTurma Publicaccedilatildeo DJe 11042008 Trata-se de situaccedilatildeo em que o equiliacutebrio normativo
repercute diretamente sobre o equiliacutebrio econocircmico daiacute a dificuldade jaacute apontada de distinguir de forma
absoluta os dois perfis do equiliacutebrio em algumas situaccedilotildees
47BRASIL Superior Tribunal de JusticcedilaREsp 1119740RJ Relator Min Massami Uyeda Julgamento
27092011Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJe 13102011 (grifou-se) Observe-se que embora se
discutisse acerca de relaccedilatildeo hoje caracterizada como de consumo natildeo se aplicou o Coacutedigo de Defesa do
Consumidor uma vez que o contrato em anaacutelise fora firmado antes da sua entrada em vigor
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
86
A autonomia privada deixa entatildeo de ser considerada um valor em si mesmo e passa
a ser concebida como instrumento de promoccedilatildeo de finalidades constitucionalmente relevantes
como o satildeo a rigor na esteira do que propugna a metodologia do direito civil-constitucional
todos os institutos juriacutedicos1Afinal ldquoquerer natildeo eacute poder em um ordenamento juriacutedico no qual
o poder eacute disciplinado e regulado o querer natildeo eacute poder e o poder eacute atribuiacutedo pelo direito e natildeo
pela vontade das partesrdquo2Eacute sempre necessaacuterio verificar se o ato de autonomia eacute liacutecito e
merecedor de tutela conforme portanto aos princiacutepios constitucionais3 Natildeo haacute liberdade
dissociada de outros valores incidentes na construccedilatildeo da noccedilatildeo de autonomia dos particulares
Definida por Luigi Ferri como o poder atribuiacutedo pela lei aos particulares de criar
direito de estabelecer normas juriacutedicas4 a autonomia privada eacute classificada a partir dos meios
pelos quais se expressa daiacute falar-se em autonomia negocial e autonomia contratual5 A
primeira designa as situaccedilotildees em que a autonomia se dirige agrave realizaccedilatildeode negoacutecios juriacutedicos a
segunda por sua vez serefere agraves hipoacuteteses em que aquele poder se volta agrave realizaccedilatildeo de
especiacutefico negoacutecio juriacutedico bilateral ou plurilateral de conteuacutedo patrimonial o contrato6
A autonomia negocial mais abrangente do que a contratual serve natildeo soacute agrave concretizaccedilatildeo de
1Para anaacutelise da metodologia civil-constitucional confira-sePERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave
dellordinamento giuridico vigente Rassegna di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005 TEPEDINO
Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil In Temas de direito civil 4ed
rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23 TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas
na complexidade do ordenamento Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9
Disponiacutevel em httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdfAcesso em
30122015KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do direito
civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito ndash UFPR Curitiba vol 60
n 1 janabr 2015 p 193-213 SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER
Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 1-
23 TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil constitucional In
SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo
Atlas 2016 p 47-70
2PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p 173(traduccedilatildeo livre) No
opriginal ldquovolere non egrave potere in un ordinamento nel quale il potere egrave disciplinato e regolato il volere non egrave
potere e il potere egrave atribuito dal diritto e non soltanto dalla volontagrave delle partirdquo
3PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar 2008 p343
4FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada Comares 2001 p36
Cariota Ferrara destaca a importacircncia da lei na atribuiccedilatildeo de eficaacutecia agrave vontade das partes tambeacutem referida no
concito de Ferri Por essa razatildeo afirma o autor natildeo se pode dizer que eacute avontade que produz os efeitos juriacutedicos
decorrentes do ato de autonomia nem que a forccedila geradora repousa apenas no ordenamento juriacutedico mas sim que
eacute a lei que autoriza a autonomia privada a possibilitar que o negoacutecio produza os efeitos juriacutedicos desejados pelas
partes atribuindo-lhe eficaacutecia (FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli
Edizioni Scientifiche Italiane 2011 p61)
5Eacute como distingue Pietro Perlingieri que afirma Una classificazione dellautonomia privata egrave fondatasui mezzi
con i quali essa si esplica Si discorre cosiacute di autonomia negoziale e di autonomia contrattuale muovendo dalla
relazione di genere a specie che vincola rispettivamente il negozio (genus) al contratto (specie)
(PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005 p340)O mesmo autor
subdivide a proacutepria categoria autonomia contratual tradicionalmente monoliacutetica com base na natureza dos
sujeitos em accedilatildeo (p346)
6PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p340
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
87
negoacutecios unilaterais mas tambeacutem e sobretudo agrave proteccedilatildeo de negoacutecios natildeo patrimoniais ou
existenciais7
A heterogeneidade dos interesses implicados em cada ato de autonomia impede a
identificaccedilatildeo de disciplina uacutenica e consequentemente a configuraccedilatildeo de categoria abstrata
que englobe todos os atos de autonomia privada8Ao contraacuterio trata-se a autonomia privada
de categoria que se qualifica quando se concretiza na relaccedilatildeo juriacutedica a merecer tutela se e
enquanto em seu concreto exerciacutecio9 ldquoseja apresentaacutevel como atuaccedilatildeo da ordem juriacutedica dos
valoresrdquo10 A autonomia privadaganha dessa forma um predicado identificado em italiano pela
expressatildeo ldquomeritevolerdquo a significar que seraacute tutelado pelo ordenamento juriacutedico o ato de
autonomia que atenda a uma funccedilatildeo juridicamente relevante A liberdade em um
ordenamento social e solidaacuterio deve ser regulada moldada pelos valores de fundo nos quais o
ordenamento se inspira11 Cuida-se em suma de funcionalizar os institutos juriacutedicos12
Posto isso sujeita-se o ato de autonomia a dupla ordem de controle o controlede licitude
e o de merecimento de tutela13 O primeiro avalia se o ato concreto contraria as normas
imperativas e os bons costumes O segundo analisa a idoneidade do ato concreto para a efetiva
promoccedilatildeo de valores fundamentais do ordenamento juriacutedico14 O merecimento de tutela se
reconduz agrave anaacutelise de justificaccedilatildeo do ato a partir dos seus efeitos natildeo agrave avaliaccedilatildeo estrutural seara
do juiacutezo delicitude Cuida-se em siacutentese da verificaccedilatildeo da coerecircncia dos efeitos perseguidos
peloato de autonomia com os valores supremos da ordem juriacutedica enquanto a inobservacircncia das
7Na definiccedilatildeo de Pietro Perlingieri a autonomia negocial eacute il potere riconosciuto o attribuito dallordinamento
al soggeto di diritto privato o pubblico di regolare con proprie manifestazioni di volontagrave interessi privati o
pubblici comunque non necessariamente propri (PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p341)
8PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di Giorgio Oppo
Padova CEDAM 1992 v1 p 103
9PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra pesona e mercato
Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003 p29
10PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti fra pesona e mercato
Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003 p16 (traduccedilatildeo livre) No original ldquosia
rappresentabile quale attuazione dellordine giuridico dei valorirdquo
11PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p167
12PERLINGIERI PietroO direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar 2008
13Usa-se neste estudo a expressatildeo ldquomerecimento de tutelardquo para referir agrave anaacutelise funcional do ato sem ignorar
todavia a possiacutevel distinccedilatildeo entre abuso do direito e juiacutezo de merecimento de tutela o primeiro estaria ligado a
juiacutezo negativo agrave violaccedilatildeo da funccedilatildeo atribuiacuteda pela ordem juriacutedica ao ato enquanto o segundo encerraria juiacutezo
positivo voltado a verificar a promoccedilatildeo de funccedilotildees juridicamente relevantes Para a distinccedilatildeo confira-se SOUZA
Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o merecimento de tutela Revista
Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91 abrjun 2012
14PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p425
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
88
normas imperativas conduz a um deacuteficit estrutural o natildeo atendimento aos valores
fundamentais acarreta um deacuteficit funcional do ato de autonomia15
O conceito de meritevolezza ao servir de controle axioloacutegico da autonomia privada
permite ampliar os confins de sua atuaccedilatildeo valorando positivamente novos esquemas
negociais que promovam funccedilotildees juriacutedica e socialmente uacuteteis como destaca Mirzia Bianca
Per concludere puograve ritenersi allora che la meritevolezza in quanto specchio dei
principi di un ordinamento consente di superare il dettato di norme ordinarie di
carattere generale in quanto strumento che consente di allargare le maglie
dellautonomia privata Nel dialogo mai sopito tra norme e principi la
meritevolezza consente di superare non solo come ha evidenziato lanalisi
giurisprudenziale le strettoie della disciplina di un tipo negoziale ma consentealtresigrave
proprio in considerazione dei principi di superare i limiti posti da norme ordinarie
se la posta in gioco egrave la realizzazione di valori che in un dato momento storico sono
ritenuti conformi allassetto ordinamentale di una data societagrave Questa prospettiva
della meritevolezza ne conferma la strumentalitagrave rispetto al principio di autonomia
negoziale16
A autonomia privada se afasta assim de conotaccedilotildees arbitraacuterias e voluntaristas e assume
feiccedilatildeo solidarista a ser exercida em conformidade com o princiacutepio da solidariedade social17
Natildeo se estaacute diante evidentemente de processo de erosatildeo da autonomia privada mas de
readequaccedilatildeo de seus contornos em razatildeo da alteraccedilatildeo qualitativa promovida pelos princiacutepios
15Sobre a distinccedilatildeo ver por todos TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de
direito civil Rio de Janeiro Renovar 2009 t 3 p145-155
16BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di Diritto Civile
Padova n1 p812-813 2011 Em traduccedilatildeo livre Para concluir pode-se considerar entatildeo que o merecimento
de tutela como espelho dos princiacutepios de um ordenamento consente superar o ditado de normas ordinaacuterias de
caraacuteter geral como instrumento que consente ampliar as malhas da autonomia privada No diaacutelogo nunca
esgotado entre normas e princiacutepios o merecimento de tutela oportuniza a suplantaccedilatildeo conforme evidenciou a
anaacutelise jurisprudencial natildeo apenas das amarras da disciplina de um tipo negocial mas tambeacutem exatamente em
consideraccedilatildeo aos princiacutepios dos limites postos pelas normas ordinaacuterias se o que estiver em jogo for a promoccedilatildeo
de valores que em certo momento histoacuterico satildeo considerados conformes ao assentamento do ordenamento de
determinada sociedade Essa perspectiva do merecimento confirma sua instrumentalidade em relaccedilatildeo ao
princiacutepio da autonomia negocial
17De acordo com Maria Celina Bodin de Moraes tal eacute justamente a medida de aplicaccedilatildeo do princiacutepio da
dignidade da pessoa humana a ponderaccedilatildeo a ser feita em cada caso entre liberdade e solidariedade termos que
stricto sensu satildeo considerados contrapostos De fato a imposiccedilatildeo de solidariedade se excessiva anula a
liberdade a liberdade desmedida eacute incompatiacutevel com a solidariedade Todavia quando ponderados seus
conteuacutedos se tornam complementares regula-se a liberdade em prol da solidariedade social isto eacute da relaccedilatildeo de
cada um com o interesse geral o que reduzindo a desigualdade possibilita o livre desenvolvimento da
personalidade de cada um dos membros da comunidade (BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de
direito civil tendecircncias In TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas
essenciaisobrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p359) Na mesma direccedilatildeo ensina
Faacutebio Konder Comparato que a solidariedade eacute o fecho de aboacutebada do sistema de princiacutepioseacuteticos pois complementa
e aperfeiccediloa a liberdade a igualdade e a seguranccedila Enquanto a liberdade e a igualdade potildeem as pessoas umas diante
das outras a solidariedade as reuacutene todas no seio de uma mesma comunidade Na perspectiva da igualdade e da
liberdade cada qual reivindica o que lhe eacute proacuteprio No plano da solidariedade todos satildeo convocados a defender
o que lhes eacute comum Quanto agrave seguranccedila ela soacute pode realizar-se em sua plenitude quando cada qual zela pelo
bem de todos e a sociedade pelo bem de cada um dos seus membros (COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica
direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo Companhia das Letras 2006 p577)
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
89
constitucionais Trata-se em definitivo da necessidade de conformaccedilatildeo em cada caso dos atos
de autonomia ao projeto constitucional
Os chamados limites agrave autonomia privada natildeo satildeo apenas externos como outrora mas
tambeacutem internos expressatildeo direta do ato e do seu significado constitucional a alterar
substancialmente seu proacuteprio conteuacutedo18Nesse sentido pode-se mesmo afirmar que a
disciplina contratual ditada pelas partes encerra tatildeo soacute o provisoacuterio regulamento de interesses
que se tornaraacute definitivo na medida em que esteja de acordo com os ditames constitucionais
A coercibilidadedas normas elaboradas pelos contratantes para reger suas condutas deixa de
depender de forma exclusiva do acordo de vontades e passa a se subordinar agrave sua
conformidade agraves condiccedilotildees e aos limites em virtude dos quais este poder criador eacute concedido
e que decorrem diretamente da Constituiccedilatildeo Supera-se dessa forma o dogma da vontade e
inaugura-se o dogma da responsabilidade19
1 A PROVISORIEDADE DA REGULAMENTACcedilAtildeO AUTOcircNOMA E A BOA-FEacute
OBJETIVA
Releva nesse processo de redefiniccedilatildeo da autonomia privada a boa-feacute objetiva
desenvolvida na Alemanha sobretudo apoacutes a ediccedilatildeo em 1900 do BGB2021 com o propoacutesito
de corrigir os excessos da liberdade individual22 Firmando-se como princiacutepio de lealdade
reciacuteproca entre os contratantes a boa-feacute objetiva erige-se como obstaacuteculo ao exerciacutecio da
autonomia privada em violaccedilatildeo ldquoaos paracircmetros de convivecircncia e confianccedila muacutetuas que
devem reger um ambiente negocial sadiordquo23 ajustando quando necessaacuterio a disciplina
18CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2008 p189-190
19A conclusatildeo eacute de BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi cit 2011
20Cuidam especialmente do tema os sectsect 157 e 242 do BGB sect 157 ldquoOs contratos interpretam-se como o exija a
boa-feacute com consideraccedilatildeo pelos bons costumes do traacutefegordquo e sect 242 ldquoO devedor estaacute adstrito a realizar a
prestaccedilatildeo tal como o exija a boa-feacute com consideraccedilatildeo pelos costumes do traacutefegordquo (MENEZES CORDEIRO
Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001 p325)
21Sobre o sentido inicial da boa-feacute no BGB e sua posterior evoluccedilatildeo confira-se MENEZES CORDEIRO
AntoacutenioDa boa feacute no direito civil cit p331 et seq
22Embora quando da ediccedilatildeo do BGB a utilizaccedilatildeo da boa-feacute tenha ficado restrita aos exatos limites referidos nos
sectsect 157 e 242 a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial levou os Tribunais alematildees a aplicaacute-la de forma mais ampla
de modo a criar sob o ldquoguarda-chuvardquo do sect 242 diversas regras que dele natildeo constavam expressamente O
processo se intensificou com a Segunda Guerra Mundial ldquoagain sect 242 BGB was invoked and today it is a king of
the BGBrdquo De todo modo ldquolater the legislator codified some of the institutions which the courts had established
for instance hardship [hellip]rdquo(LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of
European contract law In ANDENAS Mads et alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the national
systems London British Institute of International and Comparative Law 2007 p603-604) Em traduccedilatildeo livre mais
uma vez o sect 242 do BGB foi invocado e hoje eacute o rei do BGB De todo modo mais tarde o legislador
codificou alguns dos institutos que as cortes haviam estabelecido como a claacuteusula de hardship []
23SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2013 p49-60 p53
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
90
contratual estabelecida pelas partes de acordo com as especificidades da concreta relaccedilatildeo
negocial24 A boa-feacute objetiva ldquoconcorre na criaccedilatildeo da regula iuris do caso concretordquo25 mesmo
no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias construindo a disciplina negocial
non solo nel senso del completamento del regime lacunoso mediante
lidentificazione di obblighi aggiuntivi ma anche nel senso della modifica
sostanziale del dictum originario nel quadro di una rettifica destinata a garantire la
concreta realizzazione degli obiettivi complessivamente prefigurati dai paciscenti26
Cuida-se em verdade da concretizaccedilatildeo do princiacutepio constitucional da solidariedade
social na esfera contratual transformando as relaccedilotildees obrigacionais concebidas inicialmente
como o locus destinado agrave perseguiccedilatildeo egoiacutesta das satisfaccedilotildees individuais em espaccedilo de
cooperaccedilatildeo e solidariedade27 impondo aos contratantes que se empenhem em promover os
interesses da contraparte sem que isso importe outrossim em sacrifiacutecio de sua posiccedilatildeo
contratual de vantagem ou renuacutencia agraves situaccedilotildees de preponderacircncia No acircmbito de relaccedilotildees
paritaacuterias natildeo caracterizadas pela vulnerabilidade a boa-feacute objetiva deve ser concebida nos
seus exatos termos como princiacutepio que impotildee honestidade e lealdade atribuindo agraves partes
deveres de colaboraccedilatildeo condicionados e limitados pela funccedilatildeo econocircmica e social do negoacutecio
celebrado28 Em qualquer relaccedilatildeo contratual as partes inegavelmente concorrem entre si na
aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de posiccedilotildees prevalentes e a ordem juriacutedica natildeo os impede de fazecirc-lo
afinal referida postura eacute mesmo da essecircncia das relaccedilotildees negociais A boa-feacute objetiva natildeo se
confunde em definitivo com atribuiccedilatildeo de funccedilatildeo abnegatoacuteria ou altruiacutesta ao contrato
Identificada a relevacircncia da boa-feacute objetiva como instrumento conformador da
autonomia privada largamente ratificada pela doutrina e jurisprudecircncia o desafio
contemporacircneo parece repousar na distinccedilatildeo de paracircmetros os mais diversos (poreacutem especiacuteficos)
possiacuteveis aplicaacuteveis agraves variadas relaccedilotildees contratuais que permitam ao operador do direito
24PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p460
25No original ldquoconcorre a creare la regula iuris del caso concretordquo (PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto
civile citp461)
26SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede prospettive di diritto
europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli Editore 2007 p212 Em traduccedilatildeo livre ldquonatildeo
somente no sentido de corrigir o regime lacunoso mediante a identificaccedilatildeo das obrigaccedilotildees anexas mas tambeacutem
no sentido de modificar substancialmente o dictum originaacuterio no quadro de uma retificaccedilatildeo que visa garantir a
concreta realizaccedilatildeo dos objetivos conjuntamente prefigurados pelos contratantesrdquo
27NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar 2002 p117
28TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do Consumidor e no novo
Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos na perspectiva civil-constitucional Rio de
Janeiro Renovar 2005 p41 Na mesma direccedilatildeo confira-se Bianca ldquoEs necesario por lo tanto avanzar hasta
queacute punto la parte debe tener en cuenta los legiacutetimos intereses de la contraparte La especificacioacuten debe ser
buscada en el liacutemite del apreciable sacrificio que circunscribe el deber de buena fe precisamente la buena fe
requiere a la parte tener presente la utilidad de la contraparte en los liacutemites en los cuales ello no importe un
apreciable sacrificiordquo (BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil
el principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu cit p197 grifos no original)
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
91
analisar no caso concreto a legitimidade do ato de autonomia Imprescindiacutevel entretanto natildeo
cair na tentaccedilatildeo sempre presente insidiosamente de adotar abordagem tipificante da boa-feacute
objetiva criando verdadeiros tipos de comportamento aos quais a conduta concreta deveraacute ser
subsumida Abordagem nesse sentido se revelaria extremamente limitadora e contraacuteria agrave vocaccedilatildeo
expansiva da figura como instrumento de concretizaccedilatildeo do princiacutepio de solidariedade social
2 DA ANAacuteLISE PROCEDIMENTAL DA JUSTICcedilA CONTRATUAL AO PRINCIacutePIO
DO EQUILIacuteBRIO DAS POSICcedilOtildeES CONTRATUAIS
Ao lado da boa-feacute objetiva outro inafastaacutevel paracircmetro de legitimidade do exerciacutecio
da autonomia privada eacute a renovada concepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees
contratuais Tradicionalmente sempre se entendeu que o equiliacutebrio era aquele combinado
entre as partes29Analisava-se a justiccedila do contrato sob aspecto meramente procedimental
bastava que a avenccedila fosse fruto de consenso livre suficientemente ponderado e
adequadamente informado para ser considerada justa30 Nos dias atuais referida concepccedilatildeo
deu lugar ao entendimento segundo o qual a concreta afericcedilatildeo do equiliacutebrio requer o
balanceamentoentre dois princiacutepios constitucionais igualmente relevantes a livre iniciativa
fundamento constitucional da autonomia contratual e a solidariedade social
Nesse sentido embora se reconheccedila que o consenso informado seja instrumentode
realizaccedilatildeo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a constituir um valor instrumental e natildeo um valor
fim31eacute preciso dar um passo adiante A afericcedilatildeo do equiliacutebrio deve desprender-se da origem
29Exemplo desta orientaccedilatildeo eacute a seguinte explanaccedilatildeo de Joatildeo Baptista Villela ldquoContinuando pode-se cravar
mais fundo o punhal da razatildeo interrogativa por que natildeo haveria o que censurar quando eacute certo estar repousando
o contrato do exemplo sobre uma enorme disparidade entre as prestaccedilotildees Pela simples razatildeo de que natildeo eacute a
aritmeacutetica que define o estatuto juriacutedico do contrato senatildeo a vontade mesma dos contratantes Por que
transparentes motivos ou obscuras razotildees quiseram contratar nas condiccedilotildees indicadas eacute mateacuteria de sua livre
determinaccedilatildeo Fizeram-no interpretando as respectivas conveniecircncias ou ateacute ndash por que natildeo ndash cedendo a um
capricho de suas mentes Em regime poliacutetico de liberdade contratual soacute agraves mesmas partes cabe fazer (e a si
mesmas) essas perguntas O Estado natildeo tem porque intervir sob pena de estar invadindo um domiacutenio que natildeo eacute
o seu Se eacute assim deve-se concluir que o equiliacutebrio econocircmico-financeiro seria um conceito inuacutetil quem sabe
mesmo prejudicial De modo algum O que se tem de compreender eacute que o senhor do conceito satildeo as partesrdquo
(VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO Gustavo FACHIN
Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011
v3 p780)
30Ainda nesse sentido afirmando que a autonomia privada se sujeita apenas a controle de licitude e aquele de
ordem procedimental confira na doutrina italiana MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia
contrattuale(note minime sul controllo del contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio)
In Studi in onore di Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1204
31A observaccedilatildeo eacute de Enrico Minervini De acordo com o autor ldquoegrave vero quanto si sostiene abitualmente che
trasparenza e riequilibrio non possono essere identificati in quanto trasparenza non mira ad una tutela
sostanziale degli interessi in gioco bensigrave ad individuare le regole del gioco e quindi ad indicare come ci si
debba comportare corretamente sul mercato Tuttavia non vi egrave dubbio che il nesso di strumentalitagrave fra
trasparenza del contratto ed equilibrio normativo ed economico delle posizioni contrattuali sia particolarmente
rilevanterdquo (MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
92
voluntarista do negoacutecio de modo que a justiccedilado contrato emane natildeo apenas do acordo de
vontades que lhe daacute origem mas do merecimento de tutela do concreto regulamento Significa
entatildeo que se deve abandonar a anaacutelise voluntarista do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em
homenagem agrave investigaccedilatildeo pautada no especiacutefico programa contratual voltado agrave realizaccedilatildeo
dos interesses perseguidos pelas partes A justiccedila contratual deixa de ser avaliada com base na
vontade arbitraacuteria no subjetivismo dos contratantes e passa a depender da avaliaccedilatildeo concreta
do seu interesse a partir da especiacutefica disciplina contratual
O equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais natildeo abarca apenas a afericcedilatildeo do equiliacutebrio
econocircmico do contrato Cuida-se de anaacutelise mais ampla da relaccedilatildeo contratual identificada no
regulamento capaz de conciliar os interesses contrapostos das partes32A rigor didaticamente
eacute possiacutevel decompor o princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em dois aspectos do
mesmo fenocircmeno o princiacutepio do equiliacutebrio normativo e o princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico
do contrato33Natildeo haacute prevalecircncia de um aspecto sobre outro haacute complementaridade
conquanto nem sempre seja faacutecil distingui-los entre si34
O princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato tambeacutem designado equiliacutebrio
material recebeu tratamento tiacutemido praticamente insignificante do legislador de 2002 que
deixou de mencionaacute-lo expressamente limitando-se a disciplinar algumas de suas
manifestaccedilotildees a exemplo da lesatildeo (art 157) do estado de perigo (art 156) e da resoluccedilatildeo por
excessiva onerosidade (arts 478-480) Todavia em todos esses dispositivos o legislador
cedeu ao ranccedilo voluntarista do qual ainda natildeo se despiu por completo e acostou ao
desequiliacutebrio contratual requisitos ligados agrave vontade dos contratantes como ldquoinexperiecircnciardquo
ou ldquonecessidaderdquo ou entatildeo circunstacircncias ldquoextraordinaacuteriasrdquo que natildeo podiam ser previstas
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p18) Em traduccedilatildeo livre ldquoverdadeira eacute a afirmaccedilatildeo costumeira de
que transparecircncia e reequiliacutebrio natildeo podem ser identificados pois transparecircncia natildeo visa uma tutela substancial
dos interesses em jogo mas sim agrave individualizaccedilatildeo das regras do jogo e portanto a apontar como deve ser um
comportamento correto no mercado Contudo natildeo haacute duacutevida de que o nexo de instrumentalidade entre
transparecircncia do contrato e equiliacutebrio normativo e econocircmico das posiccedilotildees contratuais eacute particularmente
relevanterdquo
32PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi cit p170
33BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p39
34A rigor por vezes o perfil normativo acaba se traduzindo em valoraccedilatildeo econocircmica como destaca Pietro
Perlingieri ldquoa previsatildeo de uma compensaccedilatildeo voluntaacuteria regra normativa que incide sobre a forma de pagamento
e de satisfaccedilatildeo de creacuteditos e deacutebitos reciacuteprocos releva tambeacutem sob o perfil econocircmicordquo (PERLINGIERI Pietro O
direito civil na legalidade constitucional cit p412 nota 410) Como destaca Macario ldquola differenza dovrebbe
poter essere apprezzata sul piano delle conseguenze ossia in punto di rimedi allo squilibrio ma la normativa cui
normalmente ci si riferisce rende ardua siffatta distinzionerdquo(MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni
contrattuali ed autonomia privata nella subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle
posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131 nota 1) Em
traduccedilatildeo livre ldquoa diferenccedila deveria ser apreciada no plano das consequecircncias isto eacute no ato de remediar o
desequiliacutebrio mas a normativa agrave qual costuma-se remeter dificulta esta distinccedilatildeordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
93
pelas partes quando da celebraccedilatildeo do contrato a dificultar a configuraccedilatildeo do desequiliacutebrio de
forma objetiva35
Talvez por essa razatildeo doutrina e jurisprudecircncia tenham relegado por tanto tempo o
princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato a uma espeacutecie de princiacutepio de segunda
categoria natildeo merecendo aplicaccedilatildeo autocircnoma independente das expressas previsotildees legais e
de seus requisitos subjetivos Semelhante postura acaba por condicionar a justiccedila contratual
agravequela avaliaccedilatildeo procedimental jaacute referida se a manifestaccedilatildeo de vontade foi livre informada
consciente e ponderada o contrato eacute economicamente equilibrado
A afirmaccedilatildeo de um verdadeiro princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato requer
sua aplicaccedilatildeo desvinculada de requisitos subjetivos bem como das expressas positivaccedilotildees
feitas pelo legislador de 2002 Para tanto afigura-se imprescindiacutevel investigar que tipo de
desequiliacutebrio autoriza a intervenccedilatildeo judicial reequilibradora a fim de impedir o indesejaacutevel
estrangulamento da autonomia privada
Impotildee-se em primeiro lugar verificar se as vantagens ou benefiacutecios econocircmicos
conferidos agraves partes satildeo proporcionais entre si a despeito de qualquer juiacutezo acerca da higidez
procedimental da manifestaccedilatildeo de vontade vale dizer do adimplemento dos deveres de
informaccedilatildeo e da integridade do consentimento36A justiccedila contratual expressatildeo da justiccedila
comutativa natildeo requer equivalecircncia absoluta nas relaccedilotildees de troca mas proporcionalidade de
forma que nenhuma das partes decirc muito mais nem muito menos do que recebeu37 Como
advertem Rodolfo Sacco e Giorgio de Nova eacute um primeiro e graviacutessimo erro pensar que o
contrato seja uma operaccedilatildeo em que a soma das vantagens e das perdas das partes eacute igual a
zero Quem de boa-feacute tem em mente esse disparate afirmam os autores passaraacute todo o seu
tempo buscando regra que impeccedila um contratante de ganhar para impedir que o outro
35Para criacutetica ao tratamento dispensado ao princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato confira-se
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-122 especialmente
36PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p58
37De acordo com Pietro Perlingieri o princiacutepio de proporcionalidade parece ldquodestinato ad incidere
profondamente nella moderna concezione del contratto che in tal modo si allontana definitivamente dalla
tradizionale volontaristica interpretazione del principio pacta sunt servandardquo (PERLINGIERI PietroNuovi
profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21 n3 p560 2000) Em traduccedilatildeo livre o princiacutepio
de proporcionalidade parece ldquodestinado a afetar profundamente a moderna concepccedilatildeo de contrato que de tal
forma se distancia definitivamente da tradicional interpretaccedilatildeo voluntarista do princiacutepio pacta sunt servandardquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
94
contratante perca Evidentemente quem raciocina assim vecirc em cada intercacircmbio uma
extorsatildeo executada por uma parte em prejuiacutezo da outra38
A proporcionalidade portanto consiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo
concretizada segundo a boa-feacute objetiva39 A anaacutelise eacute objetiva e independe de qualquer
consideraccedilatildeo de aspectos subjetivos relacionados agrave manifestaccedilatildeo de vontade como
inexperiecircncia ou necessidade
Verificado que haacute efetivamente desproporcionalidade entre os benefiacutecios
econocircmicos auferidos pelas partes investiga-se se o desequiliacutebrio se justifica diante da
economia contratual40 A anaacutelise do concreto regulamento de interesses da disciplina
estabelecida pela autonomia privada indicaraacute se a despeito de economicamente desequilibrado
o favorecimento normativo da parte em desvantagem econocircmica reequilibra a balanccedila
conduzindo ao equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais
Conforme jaacute se afirmou equiliacutebrio econocircmico e equiliacutebrio normativo encerram
aspectos complementares do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais pelo que eacute
possiacutevel que um desequiliacutebrio econocircmico se justifique no acircmbito do concreto negoacutecio
juriacutedico em razatildeo de algum poder ou direito conferido ao contratante Mais uma vez
38SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di diritto civile 3ed
Torino UTET 2004 t 1 p17-18
39PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional citp413-414 Observe-se que a doutrina
italiana distingue o princiacutepio da proporcionalidade do princiacutepio da razoabilidade nos seguintes termos ldquoA
operatividade do princiacutepio da proporcionalidade nos contratos parece confiada a uma conexatildeo entre elementos de
confrontaccedilatildeo homogecircneos comparaacuteveise quantificaacuteveis A proporcionalidade tem valor no plano quantitativo e
determina mas nem sempre a consequecircncia da reduccedilatildeo do contrato Vice-versa quando a coligaccedilatildeo eacute entre
elementos natildeo homogecircneos natildeo comparaacuteveis que envolvem interesses natildeo quantificaacuteveis por exemplo natildeo
patrimoniais o resultado eacute uma ponderaccedilatildeo entre eles que natildeo se pode traduzir no plano da quantidade mas
exige necessariamente uma valoraccedilatildeo qualitativa Em tais hipoacuteteses entram em funccedilatildeo seja o princiacutepio da
razoabilidade seja o princiacutepio da adequaccedilatildeo O merecimento de tutela portanto natildeo pode se inspirar
exclusivamente no aspecto quantitativo Com efeito a proporcionalidadeconsiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo e
configura portanto um paracircmetro ulterior e sucessivo em relaccedilatildeo agravequele de razoabilidade (vista como justificaccedilatildeo
abstrata) uma diversa modalidade de valorar a entidade do interesse patrimonial ou seja a medida da sua proteccedilatildeo
juriacutedica em comparaccedilatildeo e ponderaccedilatildeo com aquela de outros interesses O princiacutepio da proporcionalidade eacute
portanto uma norma aplicaacutevel tambeacutem quando faltam regras ad hoc a ser coordenada com outros princiacutepios
sistematicamente a ele coligados utilizaacuteveis em sede hermenecircutica O princiacutepio da proporcionalidade embora
operativo entre elementos quantificaacuteveis constitui um daqueles momentos normativos de relevacircncia axioloacutegica os
quais contribuem para recuperar a coerecircncia e eficiecircncia ao sistema juriacutedico e correta competitividade concorrencial ao
mercado no justo equiliacutebrio entre liberdade e solidariedade liberdade e merecimento de tutela dos conteuacutedosrdquo
(p406-407) A distinccedilatildeo embora relevante no direito italiano natildeo assume destaque no direito brasileiro pelo
que se utilizaraacute nesta tese a proporcionalidade tanto para comparar interesses homogecircneos quanto aqueles
heterogecircneos semdescurar evidentemente da superior hierarquia dos interesses existenciais em relaccedilatildeo aos patrimoniais
40Nessa toada pondera Mauro Grondona que ldquoloperazione di analisi e di costruzione ermeneutica che il
giudice dovrebbe compiere egrave proprio quella di accertare le ragioni di tale squilibrio onde valutare se esso sia
(o possa essere) ragionevolmente giustificato in forza di uno stringente esame delleconomia del contrattordquo
(GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto I Contratti Milano v21 n11 p1029 2013) Em traduccedilatildeo livre ldquoa operaccedilatildeo de anaacutelise e de
construccedilatildeo hermenecircutica que o juiz deveria cumprir eacute exatamente aquela de aferir as razotildees desse desequiliacutebrio
para avaliar se ele eacute (ou pode ser) razoavelmente justificado a partir de um exame apurado da economia do
contratordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
95
reafirma-se a necessidade de analisar o concreto regulamento de interesses em sua unidade jaacute
que somente a partir do todo eacute possiacutevel avaliar fidedignamente o merecimento de tutela de
seus diversos aspectos
Constatado o desproporcional desequiliacutebrio econocircmico e a inexistecircncia de qualquer
vantagem normativa que reequilibre as posiccedilotildees contratuais presumir-se-aacute a violaccedilatildeo ao
princiacutepio do equiliacutebrio A presunccedilatildeo poderaacute ser afastada se restar comprovado que a parte
contra quem o contrato estaacute desequilibrado ostenta interesse legiacutetimo mesmo natildeo patrimonial
que justifique o desequiliacutebrio41 Embora a regra seja o relativo equiliacutebrio econocircmico
nadaimpede que no caso concreto uma das partes assuma deliberada e justificadamente o risco
de um desequiliacutebrio manifesto42
Nesses casos o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais resta atendido em face do
merecimento de tutela dos interesses em jogo pelo que a autonomia privada deve ser
prestigiada e o contrato haacute de ser mantido consoante pactuado pelas partes Alterar o
equiliacutebrio econocircmico original nessas circunstacircncias natildeo significa reequilibrar o contrato mas
atribuir ao contrato um equiliacutebrio diverso daquele expresso pelo regulamento negocial
subtraindo ex post de uma das partes algumas utilidades econocircmicas esperadas com a
celebraccedilatildeo do contrato sob o argumento de que o desequiliacutebrio eacute prova certa de patologia43
O princiacutepio do equiliacutebrio normativo a seu turno exige que a disciplina contratual seja
equilibrada a conferir direitos e obrigaccedilotildees de forma proporcional a ambas as partes Mais
uma vez a proporcionalidade natildeo visa garantir equivalecircncia entre os poderes atribuiacutedos aos
contratantes mas impedir desproporccedilatildeo excessiva e injustificada entre eles Assim como em
relaccedilatildeo ao equiliacutebrio econocircmico a mobilidade do equiliacutebrionormativo tendencialmente mutaacutevel
de contrato para contrato afasta qualquer tentativa de anaacutelise abstrata do fenocircmeno44
O perfil normativo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais vai ao encontro da ordem
constitucional contemporacircnea promovendo a igualdade substancial entre as partes Enquanto
41De acordo com Perlingieri em algumas situaccedilotildees ldquoo equiliacutebrio entre as prestaccedilotildees deve ser individuado
prescindindo das avaliaccedilotildees de mercado relativas a um bem tendo-se em conta poreacutem eventuais interesses natildeo
patrimoniais exigecircncias sentimentais e afetivas os quis podem determinar um valor diverso para o proacuteprio bemrdquo
(PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidadeconstitucional cit p412) Em outra sede afirma o mesmo
autor ldquorisulta assolutamente necessario distinguere la valutazione economica della prestazione dagli interessi
a volte non patrimoniali che caratterizzano il contrattordquo(PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e
principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p50) Em traduccedilatildeo livre
ldquoresulta absolutamente necessaacuterio distinguir a valoraccedilatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo dos interesses agraves vezes natildeo
patrimoniais que caracterizam o contratordquo
42SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo cit p133
43GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto cit p1029-1030
44BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori cit p41
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
96
o perfil econocircmico do equiliacutebrio contratual se volta para a tutela patrimonial dos contratantes e
se guia sobretudo por loacutegica eminentementemercadoloacutegica o perfil normativo comporta a tutela
tambeacutem de valores existenciais ao viabilizaro controle da autonomia privada a partir de
paracircmetros que natildeo o econocircmico a exemplo da vulnerabilidade Nesse sentido o princiacutepio do
equiliacutebrio normativo permite reequilibrar a disciplina contratual para aleacutem das situaccedilotildees em
que o regulamento de interesses ameaccedila o patrimocircnio de um dos contratantes contemplando
hipoacuteteses em que a ameaccedila se coloca contra sua proacutepria existecircncia digna mormente diante de
vulnerabilidade existencial45 Eacute a promoccedilatildeo do equiliacutebrio normativo por exemplo que
justifica a intervenccedilatildeo legislativa que proiacutebe claacuteusulas de reajuste da mensalidade de plano de
sauacutede por faixa etaacuteria46
O princiacutepio encontra plena aplicabilidade inclusive no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias em
que natildeo haacute vulnerabilidade a ser prioritariamente tutelada Com efeito parece inspirar-se no
princiacutepio do equiliacutebrio normativo a aplicaccedilatildeo da claacuteusula penal em favor de todos os contratantes
ainda que prevista em benefiacutecio exclusivo de uma das partes Embora natildeo se identifique
nominalmente o fundamento dessa extensatildeo no equiliacutebrio normativo a jurisprudecircncia a
justifica na proporcionalidade e na razoabilidade que satildeo como apontado paracircmetros de
afericcedilatildeo do equiliacutebrio normativo Emblemaacutetico nesse sentido o voto do Ministro Massami
Uyeda nos autos do Recurso Especial 1119740RJ
Caracterizadas portanto as reciacuteprocas obrigaccedilotildees entabuladas pelas partes natildeo seria
razoaacutevel nem proporcional que para uma delas o descumprimentocontratual seguisse a
claacuteusula previamente redigida na avenccedila de execuccedilatildeomais simples e para o outro
caminho diverso de execuccedilatildeo mais complexa Entender-se de forma diversa eacute o mesmo
que tratar os iguais desigualmente pois enquanto no descumprimento por parte do
promitente-comprador jaacute estaria definido o quantum indenizatoacuterio sem a
possibilidade de quaisquer discussotildees o inadimplemento do promitente-vendedor
daria azo a discussotildees acerca do efetivo prejuiacutezo sofrido pelo comprador47
45Carlos Nelson Konder traccedila fundamental distinccedilatildeo entre a vulnerabilidade patrimonial e aquela existencial
advogando a favor da elaboraccedilatildeo de instrumentos de tutela proacuteprios voltados para pessoas que se enquadrem
nesta uacuteltima categoria De acordo com o autor ldquoa vulnerabilidade existencial seria a situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva
em que o titular se encontra sob maior suscetibilidade de ser lesionado na sua esfera extrapatrimonial impondo a
aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas de tutela diferenciada para a satisfaccedilatildeo do princiacutepio da dignidade da pessoa
humanardquo (KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um sistema
diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p111 maiojun 2015)
46Lei no 107412003 art 15 sect 3
o Confira-se na jurisprudecircncia o leading case acerca do tema BRASIL
Superior Tribunal de Justiccedila REsp 809329RJ Relator(a) Ministra Nancy Andrighi Julgamento 25032008
Oacutergatildeo Julgador 3aTurma Publicaccedilatildeo DJe 11042008 Trata-se de situaccedilatildeo em que o equiliacutebrio normativo
repercute diretamente sobre o equiliacutebrio econocircmico daiacute a dificuldade jaacute apontada de distinguir de forma
absoluta os dois perfis do equiliacutebrio em algumas situaccedilotildees
47BRASIL Superior Tribunal de JusticcedilaREsp 1119740RJ Relator Min Massami Uyeda Julgamento
27092011Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJe 13102011 (grifou-se) Observe-se que embora se
discutisse acerca de relaccedilatildeo hoje caracterizada como de consumo natildeo se aplicou o Coacutedigo de Defesa do
Consumidor uma vez que o contrato em anaacutelise fora firmado antes da sua entrada em vigor
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
87
negoacutecios unilaterais mas tambeacutem e sobretudo agrave proteccedilatildeo de negoacutecios natildeo patrimoniais ou
existenciais7
A heterogeneidade dos interesses implicados em cada ato de autonomia impede a
identificaccedilatildeo de disciplina uacutenica e consequentemente a configuraccedilatildeo de categoria abstrata
que englobe todos os atos de autonomia privada8Ao contraacuterio trata-se a autonomia privada
de categoria que se qualifica quando se concretiza na relaccedilatildeo juriacutedica a merecer tutela se e
enquanto em seu concreto exerciacutecio9 ldquoseja apresentaacutevel como atuaccedilatildeo da ordem juriacutedica dos
valoresrdquo10 A autonomia privadaganha dessa forma um predicado identificado em italiano pela
expressatildeo ldquomeritevolerdquo a significar que seraacute tutelado pelo ordenamento juriacutedico o ato de
autonomia que atenda a uma funccedilatildeo juridicamente relevante A liberdade em um
ordenamento social e solidaacuterio deve ser regulada moldada pelos valores de fundo nos quais o
ordenamento se inspira11 Cuida-se em suma de funcionalizar os institutos juriacutedicos12
Posto isso sujeita-se o ato de autonomia a dupla ordem de controle o controlede licitude
e o de merecimento de tutela13 O primeiro avalia se o ato concreto contraria as normas
imperativas e os bons costumes O segundo analisa a idoneidade do ato concreto para a efetiva
promoccedilatildeo de valores fundamentais do ordenamento juriacutedico14 O merecimento de tutela se
reconduz agrave anaacutelise de justificaccedilatildeo do ato a partir dos seus efeitos natildeo agrave avaliaccedilatildeo estrutural seara
do juiacutezo delicitude Cuida-se em siacutentese da verificaccedilatildeo da coerecircncia dos efeitos perseguidos
peloato de autonomia com os valores supremos da ordem juriacutedica enquanto a inobservacircncia das
7Na definiccedilatildeo de Pietro Perlingieri a autonomia negocial eacute il potere riconosciuto o attribuito dallordinamento
al soggeto di diritto privato o pubblico di regolare con proprie manifestazioni di volontagrave interessi privati o
pubblici comunque non necessariamente propri (PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p341)
8PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di Giorgio Oppo
Padova CEDAM 1992 v1 p 103
9PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra pesona e mercato
Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003 p29
10PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti fra pesona e mercato
Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003 p16 (traduccedilatildeo livre) No original ldquosia
rappresentabile quale attuazione dellordine giuridico dei valorirdquo
11PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p167
12PERLINGIERI PietroO direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar 2008
13Usa-se neste estudo a expressatildeo ldquomerecimento de tutelardquo para referir agrave anaacutelise funcional do ato sem ignorar
todavia a possiacutevel distinccedilatildeo entre abuso do direito e juiacutezo de merecimento de tutela o primeiro estaria ligado a
juiacutezo negativo agrave violaccedilatildeo da funccedilatildeo atribuiacuteda pela ordem juriacutedica ao ato enquanto o segundo encerraria juiacutezo
positivo voltado a verificar a promoccedilatildeo de funccedilotildees juridicamente relevantes Para a distinccedilatildeo confira-se SOUZA
Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o merecimento de tutela Revista
Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91 abrjun 2012
14PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p425
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
88
normas imperativas conduz a um deacuteficit estrutural o natildeo atendimento aos valores
fundamentais acarreta um deacuteficit funcional do ato de autonomia15
O conceito de meritevolezza ao servir de controle axioloacutegico da autonomia privada
permite ampliar os confins de sua atuaccedilatildeo valorando positivamente novos esquemas
negociais que promovam funccedilotildees juriacutedica e socialmente uacuteteis como destaca Mirzia Bianca
Per concludere puograve ritenersi allora che la meritevolezza in quanto specchio dei
principi di un ordinamento consente di superare il dettato di norme ordinarie di
carattere generale in quanto strumento che consente di allargare le maglie
dellautonomia privata Nel dialogo mai sopito tra norme e principi la
meritevolezza consente di superare non solo come ha evidenziato lanalisi
giurisprudenziale le strettoie della disciplina di un tipo negoziale ma consentealtresigrave
proprio in considerazione dei principi di superare i limiti posti da norme ordinarie
se la posta in gioco egrave la realizzazione di valori che in un dato momento storico sono
ritenuti conformi allassetto ordinamentale di una data societagrave Questa prospettiva
della meritevolezza ne conferma la strumentalitagrave rispetto al principio di autonomia
negoziale16
A autonomia privada se afasta assim de conotaccedilotildees arbitraacuterias e voluntaristas e assume
feiccedilatildeo solidarista a ser exercida em conformidade com o princiacutepio da solidariedade social17
Natildeo se estaacute diante evidentemente de processo de erosatildeo da autonomia privada mas de
readequaccedilatildeo de seus contornos em razatildeo da alteraccedilatildeo qualitativa promovida pelos princiacutepios
15Sobre a distinccedilatildeo ver por todos TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de
direito civil Rio de Janeiro Renovar 2009 t 3 p145-155
16BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di Diritto Civile
Padova n1 p812-813 2011 Em traduccedilatildeo livre Para concluir pode-se considerar entatildeo que o merecimento
de tutela como espelho dos princiacutepios de um ordenamento consente superar o ditado de normas ordinaacuterias de
caraacuteter geral como instrumento que consente ampliar as malhas da autonomia privada No diaacutelogo nunca
esgotado entre normas e princiacutepios o merecimento de tutela oportuniza a suplantaccedilatildeo conforme evidenciou a
anaacutelise jurisprudencial natildeo apenas das amarras da disciplina de um tipo negocial mas tambeacutem exatamente em
consideraccedilatildeo aos princiacutepios dos limites postos pelas normas ordinaacuterias se o que estiver em jogo for a promoccedilatildeo
de valores que em certo momento histoacuterico satildeo considerados conformes ao assentamento do ordenamento de
determinada sociedade Essa perspectiva do merecimento confirma sua instrumentalidade em relaccedilatildeo ao
princiacutepio da autonomia negocial
17De acordo com Maria Celina Bodin de Moraes tal eacute justamente a medida de aplicaccedilatildeo do princiacutepio da
dignidade da pessoa humana a ponderaccedilatildeo a ser feita em cada caso entre liberdade e solidariedade termos que
stricto sensu satildeo considerados contrapostos De fato a imposiccedilatildeo de solidariedade se excessiva anula a
liberdade a liberdade desmedida eacute incompatiacutevel com a solidariedade Todavia quando ponderados seus
conteuacutedos se tornam complementares regula-se a liberdade em prol da solidariedade social isto eacute da relaccedilatildeo de
cada um com o interesse geral o que reduzindo a desigualdade possibilita o livre desenvolvimento da
personalidade de cada um dos membros da comunidade (BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de
direito civil tendecircncias In TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas
essenciaisobrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p359) Na mesma direccedilatildeo ensina
Faacutebio Konder Comparato que a solidariedade eacute o fecho de aboacutebada do sistema de princiacutepioseacuteticos pois complementa
e aperfeiccediloa a liberdade a igualdade e a seguranccedila Enquanto a liberdade e a igualdade potildeem as pessoas umas diante
das outras a solidariedade as reuacutene todas no seio de uma mesma comunidade Na perspectiva da igualdade e da
liberdade cada qual reivindica o que lhe eacute proacuteprio No plano da solidariedade todos satildeo convocados a defender
o que lhes eacute comum Quanto agrave seguranccedila ela soacute pode realizar-se em sua plenitude quando cada qual zela pelo
bem de todos e a sociedade pelo bem de cada um dos seus membros (COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica
direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo Companhia das Letras 2006 p577)
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
89
constitucionais Trata-se em definitivo da necessidade de conformaccedilatildeo em cada caso dos atos
de autonomia ao projeto constitucional
Os chamados limites agrave autonomia privada natildeo satildeo apenas externos como outrora mas
tambeacutem internos expressatildeo direta do ato e do seu significado constitucional a alterar
substancialmente seu proacuteprio conteuacutedo18Nesse sentido pode-se mesmo afirmar que a
disciplina contratual ditada pelas partes encerra tatildeo soacute o provisoacuterio regulamento de interesses
que se tornaraacute definitivo na medida em que esteja de acordo com os ditames constitucionais
A coercibilidadedas normas elaboradas pelos contratantes para reger suas condutas deixa de
depender de forma exclusiva do acordo de vontades e passa a se subordinar agrave sua
conformidade agraves condiccedilotildees e aos limites em virtude dos quais este poder criador eacute concedido
e que decorrem diretamente da Constituiccedilatildeo Supera-se dessa forma o dogma da vontade e
inaugura-se o dogma da responsabilidade19
1 A PROVISORIEDADE DA REGULAMENTACcedilAtildeO AUTOcircNOMA E A BOA-FEacute
OBJETIVA
Releva nesse processo de redefiniccedilatildeo da autonomia privada a boa-feacute objetiva
desenvolvida na Alemanha sobretudo apoacutes a ediccedilatildeo em 1900 do BGB2021 com o propoacutesito
de corrigir os excessos da liberdade individual22 Firmando-se como princiacutepio de lealdade
reciacuteproca entre os contratantes a boa-feacute objetiva erige-se como obstaacuteculo ao exerciacutecio da
autonomia privada em violaccedilatildeo ldquoaos paracircmetros de convivecircncia e confianccedila muacutetuas que
devem reger um ambiente negocial sadiordquo23 ajustando quando necessaacuterio a disciplina
18CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2008 p189-190
19A conclusatildeo eacute de BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi cit 2011
20Cuidam especialmente do tema os sectsect 157 e 242 do BGB sect 157 ldquoOs contratos interpretam-se como o exija a
boa-feacute com consideraccedilatildeo pelos bons costumes do traacutefegordquo e sect 242 ldquoO devedor estaacute adstrito a realizar a
prestaccedilatildeo tal como o exija a boa-feacute com consideraccedilatildeo pelos costumes do traacutefegordquo (MENEZES CORDEIRO
Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001 p325)
21Sobre o sentido inicial da boa-feacute no BGB e sua posterior evoluccedilatildeo confira-se MENEZES CORDEIRO
AntoacutenioDa boa feacute no direito civil cit p331 et seq
22Embora quando da ediccedilatildeo do BGB a utilizaccedilatildeo da boa-feacute tenha ficado restrita aos exatos limites referidos nos
sectsect 157 e 242 a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial levou os Tribunais alematildees a aplicaacute-la de forma mais ampla
de modo a criar sob o ldquoguarda-chuvardquo do sect 242 diversas regras que dele natildeo constavam expressamente O
processo se intensificou com a Segunda Guerra Mundial ldquoagain sect 242 BGB was invoked and today it is a king of
the BGBrdquo De todo modo ldquolater the legislator codified some of the institutions which the courts had established
for instance hardship [hellip]rdquo(LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of
European contract law In ANDENAS Mads et alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the national
systems London British Institute of International and Comparative Law 2007 p603-604) Em traduccedilatildeo livre mais
uma vez o sect 242 do BGB foi invocado e hoje eacute o rei do BGB De todo modo mais tarde o legislador
codificou alguns dos institutos que as cortes haviam estabelecido como a claacuteusula de hardship []
23SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2013 p49-60 p53
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
90
contratual estabelecida pelas partes de acordo com as especificidades da concreta relaccedilatildeo
negocial24 A boa-feacute objetiva ldquoconcorre na criaccedilatildeo da regula iuris do caso concretordquo25 mesmo
no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias construindo a disciplina negocial
non solo nel senso del completamento del regime lacunoso mediante
lidentificazione di obblighi aggiuntivi ma anche nel senso della modifica
sostanziale del dictum originario nel quadro di una rettifica destinata a garantire la
concreta realizzazione degli obiettivi complessivamente prefigurati dai paciscenti26
Cuida-se em verdade da concretizaccedilatildeo do princiacutepio constitucional da solidariedade
social na esfera contratual transformando as relaccedilotildees obrigacionais concebidas inicialmente
como o locus destinado agrave perseguiccedilatildeo egoiacutesta das satisfaccedilotildees individuais em espaccedilo de
cooperaccedilatildeo e solidariedade27 impondo aos contratantes que se empenhem em promover os
interesses da contraparte sem que isso importe outrossim em sacrifiacutecio de sua posiccedilatildeo
contratual de vantagem ou renuacutencia agraves situaccedilotildees de preponderacircncia No acircmbito de relaccedilotildees
paritaacuterias natildeo caracterizadas pela vulnerabilidade a boa-feacute objetiva deve ser concebida nos
seus exatos termos como princiacutepio que impotildee honestidade e lealdade atribuindo agraves partes
deveres de colaboraccedilatildeo condicionados e limitados pela funccedilatildeo econocircmica e social do negoacutecio
celebrado28 Em qualquer relaccedilatildeo contratual as partes inegavelmente concorrem entre si na
aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de posiccedilotildees prevalentes e a ordem juriacutedica natildeo os impede de fazecirc-lo
afinal referida postura eacute mesmo da essecircncia das relaccedilotildees negociais A boa-feacute objetiva natildeo se
confunde em definitivo com atribuiccedilatildeo de funccedilatildeo abnegatoacuteria ou altruiacutesta ao contrato
Identificada a relevacircncia da boa-feacute objetiva como instrumento conformador da
autonomia privada largamente ratificada pela doutrina e jurisprudecircncia o desafio
contemporacircneo parece repousar na distinccedilatildeo de paracircmetros os mais diversos (poreacutem especiacuteficos)
possiacuteveis aplicaacuteveis agraves variadas relaccedilotildees contratuais que permitam ao operador do direito
24PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p460
25No original ldquoconcorre a creare la regula iuris del caso concretordquo (PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto
civile citp461)
26SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede prospettive di diritto
europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli Editore 2007 p212 Em traduccedilatildeo livre ldquonatildeo
somente no sentido de corrigir o regime lacunoso mediante a identificaccedilatildeo das obrigaccedilotildees anexas mas tambeacutem
no sentido de modificar substancialmente o dictum originaacuterio no quadro de uma retificaccedilatildeo que visa garantir a
concreta realizaccedilatildeo dos objetivos conjuntamente prefigurados pelos contratantesrdquo
27NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar 2002 p117
28TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do Consumidor e no novo
Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos na perspectiva civil-constitucional Rio de
Janeiro Renovar 2005 p41 Na mesma direccedilatildeo confira-se Bianca ldquoEs necesario por lo tanto avanzar hasta
queacute punto la parte debe tener en cuenta los legiacutetimos intereses de la contraparte La especificacioacuten debe ser
buscada en el liacutemite del apreciable sacrificio que circunscribe el deber de buena fe precisamente la buena fe
requiere a la parte tener presente la utilidad de la contraparte en los liacutemites en los cuales ello no importe un
apreciable sacrificiordquo (BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil
el principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu cit p197 grifos no original)
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
91
analisar no caso concreto a legitimidade do ato de autonomia Imprescindiacutevel entretanto natildeo
cair na tentaccedilatildeo sempre presente insidiosamente de adotar abordagem tipificante da boa-feacute
objetiva criando verdadeiros tipos de comportamento aos quais a conduta concreta deveraacute ser
subsumida Abordagem nesse sentido se revelaria extremamente limitadora e contraacuteria agrave vocaccedilatildeo
expansiva da figura como instrumento de concretizaccedilatildeo do princiacutepio de solidariedade social
2 DA ANAacuteLISE PROCEDIMENTAL DA JUSTICcedilA CONTRATUAL AO PRINCIacutePIO
DO EQUILIacuteBRIO DAS POSICcedilOtildeES CONTRATUAIS
Ao lado da boa-feacute objetiva outro inafastaacutevel paracircmetro de legitimidade do exerciacutecio
da autonomia privada eacute a renovada concepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees
contratuais Tradicionalmente sempre se entendeu que o equiliacutebrio era aquele combinado
entre as partes29Analisava-se a justiccedila do contrato sob aspecto meramente procedimental
bastava que a avenccedila fosse fruto de consenso livre suficientemente ponderado e
adequadamente informado para ser considerada justa30 Nos dias atuais referida concepccedilatildeo
deu lugar ao entendimento segundo o qual a concreta afericcedilatildeo do equiliacutebrio requer o
balanceamentoentre dois princiacutepios constitucionais igualmente relevantes a livre iniciativa
fundamento constitucional da autonomia contratual e a solidariedade social
Nesse sentido embora se reconheccedila que o consenso informado seja instrumentode
realizaccedilatildeo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a constituir um valor instrumental e natildeo um valor
fim31eacute preciso dar um passo adiante A afericcedilatildeo do equiliacutebrio deve desprender-se da origem
29Exemplo desta orientaccedilatildeo eacute a seguinte explanaccedilatildeo de Joatildeo Baptista Villela ldquoContinuando pode-se cravar
mais fundo o punhal da razatildeo interrogativa por que natildeo haveria o que censurar quando eacute certo estar repousando
o contrato do exemplo sobre uma enorme disparidade entre as prestaccedilotildees Pela simples razatildeo de que natildeo eacute a
aritmeacutetica que define o estatuto juriacutedico do contrato senatildeo a vontade mesma dos contratantes Por que
transparentes motivos ou obscuras razotildees quiseram contratar nas condiccedilotildees indicadas eacute mateacuteria de sua livre
determinaccedilatildeo Fizeram-no interpretando as respectivas conveniecircncias ou ateacute ndash por que natildeo ndash cedendo a um
capricho de suas mentes Em regime poliacutetico de liberdade contratual soacute agraves mesmas partes cabe fazer (e a si
mesmas) essas perguntas O Estado natildeo tem porque intervir sob pena de estar invadindo um domiacutenio que natildeo eacute
o seu Se eacute assim deve-se concluir que o equiliacutebrio econocircmico-financeiro seria um conceito inuacutetil quem sabe
mesmo prejudicial De modo algum O que se tem de compreender eacute que o senhor do conceito satildeo as partesrdquo
(VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO Gustavo FACHIN
Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011
v3 p780)
30Ainda nesse sentido afirmando que a autonomia privada se sujeita apenas a controle de licitude e aquele de
ordem procedimental confira na doutrina italiana MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia
contrattuale(note minime sul controllo del contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio)
In Studi in onore di Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1204
31A observaccedilatildeo eacute de Enrico Minervini De acordo com o autor ldquoegrave vero quanto si sostiene abitualmente che
trasparenza e riequilibrio non possono essere identificati in quanto trasparenza non mira ad una tutela
sostanziale degli interessi in gioco bensigrave ad individuare le regole del gioco e quindi ad indicare come ci si
debba comportare corretamente sul mercato Tuttavia non vi egrave dubbio che il nesso di strumentalitagrave fra
trasparenza del contratto ed equilibrio normativo ed economico delle posizioni contrattuali sia particolarmente
rilevanterdquo (MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
92
voluntarista do negoacutecio de modo que a justiccedilado contrato emane natildeo apenas do acordo de
vontades que lhe daacute origem mas do merecimento de tutela do concreto regulamento Significa
entatildeo que se deve abandonar a anaacutelise voluntarista do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em
homenagem agrave investigaccedilatildeo pautada no especiacutefico programa contratual voltado agrave realizaccedilatildeo
dos interesses perseguidos pelas partes A justiccedila contratual deixa de ser avaliada com base na
vontade arbitraacuteria no subjetivismo dos contratantes e passa a depender da avaliaccedilatildeo concreta
do seu interesse a partir da especiacutefica disciplina contratual
O equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais natildeo abarca apenas a afericcedilatildeo do equiliacutebrio
econocircmico do contrato Cuida-se de anaacutelise mais ampla da relaccedilatildeo contratual identificada no
regulamento capaz de conciliar os interesses contrapostos das partes32A rigor didaticamente
eacute possiacutevel decompor o princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em dois aspectos do
mesmo fenocircmeno o princiacutepio do equiliacutebrio normativo e o princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico
do contrato33Natildeo haacute prevalecircncia de um aspecto sobre outro haacute complementaridade
conquanto nem sempre seja faacutecil distingui-los entre si34
O princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato tambeacutem designado equiliacutebrio
material recebeu tratamento tiacutemido praticamente insignificante do legislador de 2002 que
deixou de mencionaacute-lo expressamente limitando-se a disciplinar algumas de suas
manifestaccedilotildees a exemplo da lesatildeo (art 157) do estado de perigo (art 156) e da resoluccedilatildeo por
excessiva onerosidade (arts 478-480) Todavia em todos esses dispositivos o legislador
cedeu ao ranccedilo voluntarista do qual ainda natildeo se despiu por completo e acostou ao
desequiliacutebrio contratual requisitos ligados agrave vontade dos contratantes como ldquoinexperiecircnciardquo
ou ldquonecessidaderdquo ou entatildeo circunstacircncias ldquoextraordinaacuteriasrdquo que natildeo podiam ser previstas
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p18) Em traduccedilatildeo livre ldquoverdadeira eacute a afirmaccedilatildeo costumeira de
que transparecircncia e reequiliacutebrio natildeo podem ser identificados pois transparecircncia natildeo visa uma tutela substancial
dos interesses em jogo mas sim agrave individualizaccedilatildeo das regras do jogo e portanto a apontar como deve ser um
comportamento correto no mercado Contudo natildeo haacute duacutevida de que o nexo de instrumentalidade entre
transparecircncia do contrato e equiliacutebrio normativo e econocircmico das posiccedilotildees contratuais eacute particularmente
relevanterdquo
32PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi cit p170
33BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p39
34A rigor por vezes o perfil normativo acaba se traduzindo em valoraccedilatildeo econocircmica como destaca Pietro
Perlingieri ldquoa previsatildeo de uma compensaccedilatildeo voluntaacuteria regra normativa que incide sobre a forma de pagamento
e de satisfaccedilatildeo de creacuteditos e deacutebitos reciacuteprocos releva tambeacutem sob o perfil econocircmicordquo (PERLINGIERI Pietro O
direito civil na legalidade constitucional cit p412 nota 410) Como destaca Macario ldquola differenza dovrebbe
poter essere apprezzata sul piano delle conseguenze ossia in punto di rimedi allo squilibrio ma la normativa cui
normalmente ci si riferisce rende ardua siffatta distinzionerdquo(MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni
contrattuali ed autonomia privata nella subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle
posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131 nota 1) Em
traduccedilatildeo livre ldquoa diferenccedila deveria ser apreciada no plano das consequecircncias isto eacute no ato de remediar o
desequiliacutebrio mas a normativa agrave qual costuma-se remeter dificulta esta distinccedilatildeordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
93
pelas partes quando da celebraccedilatildeo do contrato a dificultar a configuraccedilatildeo do desequiliacutebrio de
forma objetiva35
Talvez por essa razatildeo doutrina e jurisprudecircncia tenham relegado por tanto tempo o
princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato a uma espeacutecie de princiacutepio de segunda
categoria natildeo merecendo aplicaccedilatildeo autocircnoma independente das expressas previsotildees legais e
de seus requisitos subjetivos Semelhante postura acaba por condicionar a justiccedila contratual
agravequela avaliaccedilatildeo procedimental jaacute referida se a manifestaccedilatildeo de vontade foi livre informada
consciente e ponderada o contrato eacute economicamente equilibrado
A afirmaccedilatildeo de um verdadeiro princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato requer
sua aplicaccedilatildeo desvinculada de requisitos subjetivos bem como das expressas positivaccedilotildees
feitas pelo legislador de 2002 Para tanto afigura-se imprescindiacutevel investigar que tipo de
desequiliacutebrio autoriza a intervenccedilatildeo judicial reequilibradora a fim de impedir o indesejaacutevel
estrangulamento da autonomia privada
Impotildee-se em primeiro lugar verificar se as vantagens ou benefiacutecios econocircmicos
conferidos agraves partes satildeo proporcionais entre si a despeito de qualquer juiacutezo acerca da higidez
procedimental da manifestaccedilatildeo de vontade vale dizer do adimplemento dos deveres de
informaccedilatildeo e da integridade do consentimento36A justiccedila contratual expressatildeo da justiccedila
comutativa natildeo requer equivalecircncia absoluta nas relaccedilotildees de troca mas proporcionalidade de
forma que nenhuma das partes decirc muito mais nem muito menos do que recebeu37 Como
advertem Rodolfo Sacco e Giorgio de Nova eacute um primeiro e graviacutessimo erro pensar que o
contrato seja uma operaccedilatildeo em que a soma das vantagens e das perdas das partes eacute igual a
zero Quem de boa-feacute tem em mente esse disparate afirmam os autores passaraacute todo o seu
tempo buscando regra que impeccedila um contratante de ganhar para impedir que o outro
35Para criacutetica ao tratamento dispensado ao princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato confira-se
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-122 especialmente
36PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p58
37De acordo com Pietro Perlingieri o princiacutepio de proporcionalidade parece ldquodestinato ad incidere
profondamente nella moderna concezione del contratto che in tal modo si allontana definitivamente dalla
tradizionale volontaristica interpretazione del principio pacta sunt servandardquo (PERLINGIERI PietroNuovi
profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21 n3 p560 2000) Em traduccedilatildeo livre o princiacutepio
de proporcionalidade parece ldquodestinado a afetar profundamente a moderna concepccedilatildeo de contrato que de tal
forma se distancia definitivamente da tradicional interpretaccedilatildeo voluntarista do princiacutepio pacta sunt servandardquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
94
contratante perca Evidentemente quem raciocina assim vecirc em cada intercacircmbio uma
extorsatildeo executada por uma parte em prejuiacutezo da outra38
A proporcionalidade portanto consiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo
concretizada segundo a boa-feacute objetiva39 A anaacutelise eacute objetiva e independe de qualquer
consideraccedilatildeo de aspectos subjetivos relacionados agrave manifestaccedilatildeo de vontade como
inexperiecircncia ou necessidade
Verificado que haacute efetivamente desproporcionalidade entre os benefiacutecios
econocircmicos auferidos pelas partes investiga-se se o desequiliacutebrio se justifica diante da
economia contratual40 A anaacutelise do concreto regulamento de interesses da disciplina
estabelecida pela autonomia privada indicaraacute se a despeito de economicamente desequilibrado
o favorecimento normativo da parte em desvantagem econocircmica reequilibra a balanccedila
conduzindo ao equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais
Conforme jaacute se afirmou equiliacutebrio econocircmico e equiliacutebrio normativo encerram
aspectos complementares do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais pelo que eacute
possiacutevel que um desequiliacutebrio econocircmico se justifique no acircmbito do concreto negoacutecio
juriacutedico em razatildeo de algum poder ou direito conferido ao contratante Mais uma vez
38SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di diritto civile 3ed
Torino UTET 2004 t 1 p17-18
39PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional citp413-414 Observe-se que a doutrina
italiana distingue o princiacutepio da proporcionalidade do princiacutepio da razoabilidade nos seguintes termos ldquoA
operatividade do princiacutepio da proporcionalidade nos contratos parece confiada a uma conexatildeo entre elementos de
confrontaccedilatildeo homogecircneos comparaacuteveise quantificaacuteveis A proporcionalidade tem valor no plano quantitativo e
determina mas nem sempre a consequecircncia da reduccedilatildeo do contrato Vice-versa quando a coligaccedilatildeo eacute entre
elementos natildeo homogecircneos natildeo comparaacuteveis que envolvem interesses natildeo quantificaacuteveis por exemplo natildeo
patrimoniais o resultado eacute uma ponderaccedilatildeo entre eles que natildeo se pode traduzir no plano da quantidade mas
exige necessariamente uma valoraccedilatildeo qualitativa Em tais hipoacuteteses entram em funccedilatildeo seja o princiacutepio da
razoabilidade seja o princiacutepio da adequaccedilatildeo O merecimento de tutela portanto natildeo pode se inspirar
exclusivamente no aspecto quantitativo Com efeito a proporcionalidadeconsiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo e
configura portanto um paracircmetro ulterior e sucessivo em relaccedilatildeo agravequele de razoabilidade (vista como justificaccedilatildeo
abstrata) uma diversa modalidade de valorar a entidade do interesse patrimonial ou seja a medida da sua proteccedilatildeo
juriacutedica em comparaccedilatildeo e ponderaccedilatildeo com aquela de outros interesses O princiacutepio da proporcionalidade eacute
portanto uma norma aplicaacutevel tambeacutem quando faltam regras ad hoc a ser coordenada com outros princiacutepios
sistematicamente a ele coligados utilizaacuteveis em sede hermenecircutica O princiacutepio da proporcionalidade embora
operativo entre elementos quantificaacuteveis constitui um daqueles momentos normativos de relevacircncia axioloacutegica os
quais contribuem para recuperar a coerecircncia e eficiecircncia ao sistema juriacutedico e correta competitividade concorrencial ao
mercado no justo equiliacutebrio entre liberdade e solidariedade liberdade e merecimento de tutela dos conteuacutedosrdquo
(p406-407) A distinccedilatildeo embora relevante no direito italiano natildeo assume destaque no direito brasileiro pelo
que se utilizaraacute nesta tese a proporcionalidade tanto para comparar interesses homogecircneos quanto aqueles
heterogecircneos semdescurar evidentemente da superior hierarquia dos interesses existenciais em relaccedilatildeo aos patrimoniais
40Nessa toada pondera Mauro Grondona que ldquoloperazione di analisi e di costruzione ermeneutica che il
giudice dovrebbe compiere egrave proprio quella di accertare le ragioni di tale squilibrio onde valutare se esso sia
(o possa essere) ragionevolmente giustificato in forza di uno stringente esame delleconomia del contrattordquo
(GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto I Contratti Milano v21 n11 p1029 2013) Em traduccedilatildeo livre ldquoa operaccedilatildeo de anaacutelise e de
construccedilatildeo hermenecircutica que o juiz deveria cumprir eacute exatamente aquela de aferir as razotildees desse desequiliacutebrio
para avaliar se ele eacute (ou pode ser) razoavelmente justificado a partir de um exame apurado da economia do
contratordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
95
reafirma-se a necessidade de analisar o concreto regulamento de interesses em sua unidade jaacute
que somente a partir do todo eacute possiacutevel avaliar fidedignamente o merecimento de tutela de
seus diversos aspectos
Constatado o desproporcional desequiliacutebrio econocircmico e a inexistecircncia de qualquer
vantagem normativa que reequilibre as posiccedilotildees contratuais presumir-se-aacute a violaccedilatildeo ao
princiacutepio do equiliacutebrio A presunccedilatildeo poderaacute ser afastada se restar comprovado que a parte
contra quem o contrato estaacute desequilibrado ostenta interesse legiacutetimo mesmo natildeo patrimonial
que justifique o desequiliacutebrio41 Embora a regra seja o relativo equiliacutebrio econocircmico
nadaimpede que no caso concreto uma das partes assuma deliberada e justificadamente o risco
de um desequiliacutebrio manifesto42
Nesses casos o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais resta atendido em face do
merecimento de tutela dos interesses em jogo pelo que a autonomia privada deve ser
prestigiada e o contrato haacute de ser mantido consoante pactuado pelas partes Alterar o
equiliacutebrio econocircmico original nessas circunstacircncias natildeo significa reequilibrar o contrato mas
atribuir ao contrato um equiliacutebrio diverso daquele expresso pelo regulamento negocial
subtraindo ex post de uma das partes algumas utilidades econocircmicas esperadas com a
celebraccedilatildeo do contrato sob o argumento de que o desequiliacutebrio eacute prova certa de patologia43
O princiacutepio do equiliacutebrio normativo a seu turno exige que a disciplina contratual seja
equilibrada a conferir direitos e obrigaccedilotildees de forma proporcional a ambas as partes Mais
uma vez a proporcionalidade natildeo visa garantir equivalecircncia entre os poderes atribuiacutedos aos
contratantes mas impedir desproporccedilatildeo excessiva e injustificada entre eles Assim como em
relaccedilatildeo ao equiliacutebrio econocircmico a mobilidade do equiliacutebrionormativo tendencialmente mutaacutevel
de contrato para contrato afasta qualquer tentativa de anaacutelise abstrata do fenocircmeno44
O perfil normativo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais vai ao encontro da ordem
constitucional contemporacircnea promovendo a igualdade substancial entre as partes Enquanto
41De acordo com Perlingieri em algumas situaccedilotildees ldquoo equiliacutebrio entre as prestaccedilotildees deve ser individuado
prescindindo das avaliaccedilotildees de mercado relativas a um bem tendo-se em conta poreacutem eventuais interesses natildeo
patrimoniais exigecircncias sentimentais e afetivas os quis podem determinar um valor diverso para o proacuteprio bemrdquo
(PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidadeconstitucional cit p412) Em outra sede afirma o mesmo
autor ldquorisulta assolutamente necessario distinguere la valutazione economica della prestazione dagli interessi
a volte non patrimoniali che caratterizzano il contrattordquo(PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e
principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p50) Em traduccedilatildeo livre
ldquoresulta absolutamente necessaacuterio distinguir a valoraccedilatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo dos interesses agraves vezes natildeo
patrimoniais que caracterizam o contratordquo
42SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo cit p133
43GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto cit p1029-1030
44BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori cit p41
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
96
o perfil econocircmico do equiliacutebrio contratual se volta para a tutela patrimonial dos contratantes e
se guia sobretudo por loacutegica eminentementemercadoloacutegica o perfil normativo comporta a tutela
tambeacutem de valores existenciais ao viabilizaro controle da autonomia privada a partir de
paracircmetros que natildeo o econocircmico a exemplo da vulnerabilidade Nesse sentido o princiacutepio do
equiliacutebrio normativo permite reequilibrar a disciplina contratual para aleacutem das situaccedilotildees em
que o regulamento de interesses ameaccedila o patrimocircnio de um dos contratantes contemplando
hipoacuteteses em que a ameaccedila se coloca contra sua proacutepria existecircncia digna mormente diante de
vulnerabilidade existencial45 Eacute a promoccedilatildeo do equiliacutebrio normativo por exemplo que
justifica a intervenccedilatildeo legislativa que proiacutebe claacuteusulas de reajuste da mensalidade de plano de
sauacutede por faixa etaacuteria46
O princiacutepio encontra plena aplicabilidade inclusive no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias em
que natildeo haacute vulnerabilidade a ser prioritariamente tutelada Com efeito parece inspirar-se no
princiacutepio do equiliacutebrio normativo a aplicaccedilatildeo da claacuteusula penal em favor de todos os contratantes
ainda que prevista em benefiacutecio exclusivo de uma das partes Embora natildeo se identifique
nominalmente o fundamento dessa extensatildeo no equiliacutebrio normativo a jurisprudecircncia a
justifica na proporcionalidade e na razoabilidade que satildeo como apontado paracircmetros de
afericcedilatildeo do equiliacutebrio normativo Emblemaacutetico nesse sentido o voto do Ministro Massami
Uyeda nos autos do Recurso Especial 1119740RJ
Caracterizadas portanto as reciacuteprocas obrigaccedilotildees entabuladas pelas partes natildeo seria
razoaacutevel nem proporcional que para uma delas o descumprimentocontratual seguisse a
claacuteusula previamente redigida na avenccedila de execuccedilatildeomais simples e para o outro
caminho diverso de execuccedilatildeo mais complexa Entender-se de forma diversa eacute o mesmo
que tratar os iguais desigualmente pois enquanto no descumprimento por parte do
promitente-comprador jaacute estaria definido o quantum indenizatoacuterio sem a
possibilidade de quaisquer discussotildees o inadimplemento do promitente-vendedor
daria azo a discussotildees acerca do efetivo prejuiacutezo sofrido pelo comprador47
45Carlos Nelson Konder traccedila fundamental distinccedilatildeo entre a vulnerabilidade patrimonial e aquela existencial
advogando a favor da elaboraccedilatildeo de instrumentos de tutela proacuteprios voltados para pessoas que se enquadrem
nesta uacuteltima categoria De acordo com o autor ldquoa vulnerabilidade existencial seria a situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva
em que o titular se encontra sob maior suscetibilidade de ser lesionado na sua esfera extrapatrimonial impondo a
aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas de tutela diferenciada para a satisfaccedilatildeo do princiacutepio da dignidade da pessoa
humanardquo (KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um sistema
diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p111 maiojun 2015)
46Lei no 107412003 art 15 sect 3
o Confira-se na jurisprudecircncia o leading case acerca do tema BRASIL
Superior Tribunal de Justiccedila REsp 809329RJ Relator(a) Ministra Nancy Andrighi Julgamento 25032008
Oacutergatildeo Julgador 3aTurma Publicaccedilatildeo DJe 11042008 Trata-se de situaccedilatildeo em que o equiliacutebrio normativo
repercute diretamente sobre o equiliacutebrio econocircmico daiacute a dificuldade jaacute apontada de distinguir de forma
absoluta os dois perfis do equiliacutebrio em algumas situaccedilotildees
47BRASIL Superior Tribunal de JusticcedilaREsp 1119740RJ Relator Min Massami Uyeda Julgamento
27092011Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJe 13102011 (grifou-se) Observe-se que embora se
discutisse acerca de relaccedilatildeo hoje caracterizada como de consumo natildeo se aplicou o Coacutedigo de Defesa do
Consumidor uma vez que o contrato em anaacutelise fora firmado antes da sua entrada em vigor
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
88
normas imperativas conduz a um deacuteficit estrutural o natildeo atendimento aos valores
fundamentais acarreta um deacuteficit funcional do ato de autonomia15
O conceito de meritevolezza ao servir de controle axioloacutegico da autonomia privada
permite ampliar os confins de sua atuaccedilatildeo valorando positivamente novos esquemas
negociais que promovam funccedilotildees juriacutedica e socialmente uacuteteis como destaca Mirzia Bianca
Per concludere puograve ritenersi allora che la meritevolezza in quanto specchio dei
principi di un ordinamento consente di superare il dettato di norme ordinarie di
carattere generale in quanto strumento che consente di allargare le maglie
dellautonomia privata Nel dialogo mai sopito tra norme e principi la
meritevolezza consente di superare non solo come ha evidenziato lanalisi
giurisprudenziale le strettoie della disciplina di un tipo negoziale ma consentealtresigrave
proprio in considerazione dei principi di superare i limiti posti da norme ordinarie
se la posta in gioco egrave la realizzazione di valori che in un dato momento storico sono
ritenuti conformi allassetto ordinamentale di una data societagrave Questa prospettiva
della meritevolezza ne conferma la strumentalitagrave rispetto al principio di autonomia
negoziale16
A autonomia privada se afasta assim de conotaccedilotildees arbitraacuterias e voluntaristas e assume
feiccedilatildeo solidarista a ser exercida em conformidade com o princiacutepio da solidariedade social17
Natildeo se estaacute diante evidentemente de processo de erosatildeo da autonomia privada mas de
readequaccedilatildeo de seus contornos em razatildeo da alteraccedilatildeo qualitativa promovida pelos princiacutepios
15Sobre a distinccedilatildeo ver por todos TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de
direito civil Rio de Janeiro Renovar 2009 t 3 p145-155
16BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di Diritto Civile
Padova n1 p812-813 2011 Em traduccedilatildeo livre Para concluir pode-se considerar entatildeo que o merecimento
de tutela como espelho dos princiacutepios de um ordenamento consente superar o ditado de normas ordinaacuterias de
caraacuteter geral como instrumento que consente ampliar as malhas da autonomia privada No diaacutelogo nunca
esgotado entre normas e princiacutepios o merecimento de tutela oportuniza a suplantaccedilatildeo conforme evidenciou a
anaacutelise jurisprudencial natildeo apenas das amarras da disciplina de um tipo negocial mas tambeacutem exatamente em
consideraccedilatildeo aos princiacutepios dos limites postos pelas normas ordinaacuterias se o que estiver em jogo for a promoccedilatildeo
de valores que em certo momento histoacuterico satildeo considerados conformes ao assentamento do ordenamento de
determinada sociedade Essa perspectiva do merecimento confirma sua instrumentalidade em relaccedilatildeo ao
princiacutepio da autonomia negocial
17De acordo com Maria Celina Bodin de Moraes tal eacute justamente a medida de aplicaccedilatildeo do princiacutepio da
dignidade da pessoa humana a ponderaccedilatildeo a ser feita em cada caso entre liberdade e solidariedade termos que
stricto sensu satildeo considerados contrapostos De fato a imposiccedilatildeo de solidariedade se excessiva anula a
liberdade a liberdade desmedida eacute incompatiacutevel com a solidariedade Todavia quando ponderados seus
conteuacutedos se tornam complementares regula-se a liberdade em prol da solidariedade social isto eacute da relaccedilatildeo de
cada um com o interesse geral o que reduzindo a desigualdade possibilita o livre desenvolvimento da
personalidade de cada um dos membros da comunidade (BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de
direito civil tendecircncias In TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas
essenciaisobrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p359) Na mesma direccedilatildeo ensina
Faacutebio Konder Comparato que a solidariedade eacute o fecho de aboacutebada do sistema de princiacutepioseacuteticos pois complementa
e aperfeiccediloa a liberdade a igualdade e a seguranccedila Enquanto a liberdade e a igualdade potildeem as pessoas umas diante
das outras a solidariedade as reuacutene todas no seio de uma mesma comunidade Na perspectiva da igualdade e da
liberdade cada qual reivindica o que lhe eacute proacuteprio No plano da solidariedade todos satildeo convocados a defender
o que lhes eacute comum Quanto agrave seguranccedila ela soacute pode realizar-se em sua plenitude quando cada qual zela pelo
bem de todos e a sociedade pelo bem de cada um dos seus membros (COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica
direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo Companhia das Letras 2006 p577)
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
89
constitucionais Trata-se em definitivo da necessidade de conformaccedilatildeo em cada caso dos atos
de autonomia ao projeto constitucional
Os chamados limites agrave autonomia privada natildeo satildeo apenas externos como outrora mas
tambeacutem internos expressatildeo direta do ato e do seu significado constitucional a alterar
substancialmente seu proacuteprio conteuacutedo18Nesse sentido pode-se mesmo afirmar que a
disciplina contratual ditada pelas partes encerra tatildeo soacute o provisoacuterio regulamento de interesses
que se tornaraacute definitivo na medida em que esteja de acordo com os ditames constitucionais
A coercibilidadedas normas elaboradas pelos contratantes para reger suas condutas deixa de
depender de forma exclusiva do acordo de vontades e passa a se subordinar agrave sua
conformidade agraves condiccedilotildees e aos limites em virtude dos quais este poder criador eacute concedido
e que decorrem diretamente da Constituiccedilatildeo Supera-se dessa forma o dogma da vontade e
inaugura-se o dogma da responsabilidade19
1 A PROVISORIEDADE DA REGULAMENTACcedilAtildeO AUTOcircNOMA E A BOA-FEacute
OBJETIVA
Releva nesse processo de redefiniccedilatildeo da autonomia privada a boa-feacute objetiva
desenvolvida na Alemanha sobretudo apoacutes a ediccedilatildeo em 1900 do BGB2021 com o propoacutesito
de corrigir os excessos da liberdade individual22 Firmando-se como princiacutepio de lealdade
reciacuteproca entre os contratantes a boa-feacute objetiva erige-se como obstaacuteculo ao exerciacutecio da
autonomia privada em violaccedilatildeo ldquoaos paracircmetros de convivecircncia e confianccedila muacutetuas que
devem reger um ambiente negocial sadiordquo23 ajustando quando necessaacuterio a disciplina
18CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2008 p189-190
19A conclusatildeo eacute de BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi cit 2011
20Cuidam especialmente do tema os sectsect 157 e 242 do BGB sect 157 ldquoOs contratos interpretam-se como o exija a
boa-feacute com consideraccedilatildeo pelos bons costumes do traacutefegordquo e sect 242 ldquoO devedor estaacute adstrito a realizar a
prestaccedilatildeo tal como o exija a boa-feacute com consideraccedilatildeo pelos costumes do traacutefegordquo (MENEZES CORDEIRO
Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001 p325)
21Sobre o sentido inicial da boa-feacute no BGB e sua posterior evoluccedilatildeo confira-se MENEZES CORDEIRO
AntoacutenioDa boa feacute no direito civil cit p331 et seq
22Embora quando da ediccedilatildeo do BGB a utilizaccedilatildeo da boa-feacute tenha ficado restrita aos exatos limites referidos nos
sectsect 157 e 242 a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial levou os Tribunais alematildees a aplicaacute-la de forma mais ampla
de modo a criar sob o ldquoguarda-chuvardquo do sect 242 diversas regras que dele natildeo constavam expressamente O
processo se intensificou com a Segunda Guerra Mundial ldquoagain sect 242 BGB was invoked and today it is a king of
the BGBrdquo De todo modo ldquolater the legislator codified some of the institutions which the courts had established
for instance hardship [hellip]rdquo(LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of
European contract law In ANDENAS Mads et alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the national
systems London British Institute of International and Comparative Law 2007 p603-604) Em traduccedilatildeo livre mais
uma vez o sect 242 do BGB foi invocado e hoje eacute o rei do BGB De todo modo mais tarde o legislador
codificou alguns dos institutos que as cortes haviam estabelecido como a claacuteusula de hardship []
23SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2013 p49-60 p53
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
90
contratual estabelecida pelas partes de acordo com as especificidades da concreta relaccedilatildeo
negocial24 A boa-feacute objetiva ldquoconcorre na criaccedilatildeo da regula iuris do caso concretordquo25 mesmo
no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias construindo a disciplina negocial
non solo nel senso del completamento del regime lacunoso mediante
lidentificazione di obblighi aggiuntivi ma anche nel senso della modifica
sostanziale del dictum originario nel quadro di una rettifica destinata a garantire la
concreta realizzazione degli obiettivi complessivamente prefigurati dai paciscenti26
Cuida-se em verdade da concretizaccedilatildeo do princiacutepio constitucional da solidariedade
social na esfera contratual transformando as relaccedilotildees obrigacionais concebidas inicialmente
como o locus destinado agrave perseguiccedilatildeo egoiacutesta das satisfaccedilotildees individuais em espaccedilo de
cooperaccedilatildeo e solidariedade27 impondo aos contratantes que se empenhem em promover os
interesses da contraparte sem que isso importe outrossim em sacrifiacutecio de sua posiccedilatildeo
contratual de vantagem ou renuacutencia agraves situaccedilotildees de preponderacircncia No acircmbito de relaccedilotildees
paritaacuterias natildeo caracterizadas pela vulnerabilidade a boa-feacute objetiva deve ser concebida nos
seus exatos termos como princiacutepio que impotildee honestidade e lealdade atribuindo agraves partes
deveres de colaboraccedilatildeo condicionados e limitados pela funccedilatildeo econocircmica e social do negoacutecio
celebrado28 Em qualquer relaccedilatildeo contratual as partes inegavelmente concorrem entre si na
aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de posiccedilotildees prevalentes e a ordem juriacutedica natildeo os impede de fazecirc-lo
afinal referida postura eacute mesmo da essecircncia das relaccedilotildees negociais A boa-feacute objetiva natildeo se
confunde em definitivo com atribuiccedilatildeo de funccedilatildeo abnegatoacuteria ou altruiacutesta ao contrato
Identificada a relevacircncia da boa-feacute objetiva como instrumento conformador da
autonomia privada largamente ratificada pela doutrina e jurisprudecircncia o desafio
contemporacircneo parece repousar na distinccedilatildeo de paracircmetros os mais diversos (poreacutem especiacuteficos)
possiacuteveis aplicaacuteveis agraves variadas relaccedilotildees contratuais que permitam ao operador do direito
24PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p460
25No original ldquoconcorre a creare la regula iuris del caso concretordquo (PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto
civile citp461)
26SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede prospettive di diritto
europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli Editore 2007 p212 Em traduccedilatildeo livre ldquonatildeo
somente no sentido de corrigir o regime lacunoso mediante a identificaccedilatildeo das obrigaccedilotildees anexas mas tambeacutem
no sentido de modificar substancialmente o dictum originaacuterio no quadro de uma retificaccedilatildeo que visa garantir a
concreta realizaccedilatildeo dos objetivos conjuntamente prefigurados pelos contratantesrdquo
27NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar 2002 p117
28TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do Consumidor e no novo
Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos na perspectiva civil-constitucional Rio de
Janeiro Renovar 2005 p41 Na mesma direccedilatildeo confira-se Bianca ldquoEs necesario por lo tanto avanzar hasta
queacute punto la parte debe tener en cuenta los legiacutetimos intereses de la contraparte La especificacioacuten debe ser
buscada en el liacutemite del apreciable sacrificio que circunscribe el deber de buena fe precisamente la buena fe
requiere a la parte tener presente la utilidad de la contraparte en los liacutemites en los cuales ello no importe un
apreciable sacrificiordquo (BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil
el principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu cit p197 grifos no original)
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
91
analisar no caso concreto a legitimidade do ato de autonomia Imprescindiacutevel entretanto natildeo
cair na tentaccedilatildeo sempre presente insidiosamente de adotar abordagem tipificante da boa-feacute
objetiva criando verdadeiros tipos de comportamento aos quais a conduta concreta deveraacute ser
subsumida Abordagem nesse sentido se revelaria extremamente limitadora e contraacuteria agrave vocaccedilatildeo
expansiva da figura como instrumento de concretizaccedilatildeo do princiacutepio de solidariedade social
2 DA ANAacuteLISE PROCEDIMENTAL DA JUSTICcedilA CONTRATUAL AO PRINCIacutePIO
DO EQUILIacuteBRIO DAS POSICcedilOtildeES CONTRATUAIS
Ao lado da boa-feacute objetiva outro inafastaacutevel paracircmetro de legitimidade do exerciacutecio
da autonomia privada eacute a renovada concepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees
contratuais Tradicionalmente sempre se entendeu que o equiliacutebrio era aquele combinado
entre as partes29Analisava-se a justiccedila do contrato sob aspecto meramente procedimental
bastava que a avenccedila fosse fruto de consenso livre suficientemente ponderado e
adequadamente informado para ser considerada justa30 Nos dias atuais referida concepccedilatildeo
deu lugar ao entendimento segundo o qual a concreta afericcedilatildeo do equiliacutebrio requer o
balanceamentoentre dois princiacutepios constitucionais igualmente relevantes a livre iniciativa
fundamento constitucional da autonomia contratual e a solidariedade social
Nesse sentido embora se reconheccedila que o consenso informado seja instrumentode
realizaccedilatildeo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a constituir um valor instrumental e natildeo um valor
fim31eacute preciso dar um passo adiante A afericcedilatildeo do equiliacutebrio deve desprender-se da origem
29Exemplo desta orientaccedilatildeo eacute a seguinte explanaccedilatildeo de Joatildeo Baptista Villela ldquoContinuando pode-se cravar
mais fundo o punhal da razatildeo interrogativa por que natildeo haveria o que censurar quando eacute certo estar repousando
o contrato do exemplo sobre uma enorme disparidade entre as prestaccedilotildees Pela simples razatildeo de que natildeo eacute a
aritmeacutetica que define o estatuto juriacutedico do contrato senatildeo a vontade mesma dos contratantes Por que
transparentes motivos ou obscuras razotildees quiseram contratar nas condiccedilotildees indicadas eacute mateacuteria de sua livre
determinaccedilatildeo Fizeram-no interpretando as respectivas conveniecircncias ou ateacute ndash por que natildeo ndash cedendo a um
capricho de suas mentes Em regime poliacutetico de liberdade contratual soacute agraves mesmas partes cabe fazer (e a si
mesmas) essas perguntas O Estado natildeo tem porque intervir sob pena de estar invadindo um domiacutenio que natildeo eacute
o seu Se eacute assim deve-se concluir que o equiliacutebrio econocircmico-financeiro seria um conceito inuacutetil quem sabe
mesmo prejudicial De modo algum O que se tem de compreender eacute que o senhor do conceito satildeo as partesrdquo
(VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO Gustavo FACHIN
Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011
v3 p780)
30Ainda nesse sentido afirmando que a autonomia privada se sujeita apenas a controle de licitude e aquele de
ordem procedimental confira na doutrina italiana MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia
contrattuale(note minime sul controllo del contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio)
In Studi in onore di Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1204
31A observaccedilatildeo eacute de Enrico Minervini De acordo com o autor ldquoegrave vero quanto si sostiene abitualmente che
trasparenza e riequilibrio non possono essere identificati in quanto trasparenza non mira ad una tutela
sostanziale degli interessi in gioco bensigrave ad individuare le regole del gioco e quindi ad indicare come ci si
debba comportare corretamente sul mercato Tuttavia non vi egrave dubbio che il nesso di strumentalitagrave fra
trasparenza del contratto ed equilibrio normativo ed economico delle posizioni contrattuali sia particolarmente
rilevanterdquo (MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
92
voluntarista do negoacutecio de modo que a justiccedilado contrato emane natildeo apenas do acordo de
vontades que lhe daacute origem mas do merecimento de tutela do concreto regulamento Significa
entatildeo que se deve abandonar a anaacutelise voluntarista do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em
homenagem agrave investigaccedilatildeo pautada no especiacutefico programa contratual voltado agrave realizaccedilatildeo
dos interesses perseguidos pelas partes A justiccedila contratual deixa de ser avaliada com base na
vontade arbitraacuteria no subjetivismo dos contratantes e passa a depender da avaliaccedilatildeo concreta
do seu interesse a partir da especiacutefica disciplina contratual
O equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais natildeo abarca apenas a afericcedilatildeo do equiliacutebrio
econocircmico do contrato Cuida-se de anaacutelise mais ampla da relaccedilatildeo contratual identificada no
regulamento capaz de conciliar os interesses contrapostos das partes32A rigor didaticamente
eacute possiacutevel decompor o princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em dois aspectos do
mesmo fenocircmeno o princiacutepio do equiliacutebrio normativo e o princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico
do contrato33Natildeo haacute prevalecircncia de um aspecto sobre outro haacute complementaridade
conquanto nem sempre seja faacutecil distingui-los entre si34
O princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato tambeacutem designado equiliacutebrio
material recebeu tratamento tiacutemido praticamente insignificante do legislador de 2002 que
deixou de mencionaacute-lo expressamente limitando-se a disciplinar algumas de suas
manifestaccedilotildees a exemplo da lesatildeo (art 157) do estado de perigo (art 156) e da resoluccedilatildeo por
excessiva onerosidade (arts 478-480) Todavia em todos esses dispositivos o legislador
cedeu ao ranccedilo voluntarista do qual ainda natildeo se despiu por completo e acostou ao
desequiliacutebrio contratual requisitos ligados agrave vontade dos contratantes como ldquoinexperiecircnciardquo
ou ldquonecessidaderdquo ou entatildeo circunstacircncias ldquoextraordinaacuteriasrdquo que natildeo podiam ser previstas
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p18) Em traduccedilatildeo livre ldquoverdadeira eacute a afirmaccedilatildeo costumeira de
que transparecircncia e reequiliacutebrio natildeo podem ser identificados pois transparecircncia natildeo visa uma tutela substancial
dos interesses em jogo mas sim agrave individualizaccedilatildeo das regras do jogo e portanto a apontar como deve ser um
comportamento correto no mercado Contudo natildeo haacute duacutevida de que o nexo de instrumentalidade entre
transparecircncia do contrato e equiliacutebrio normativo e econocircmico das posiccedilotildees contratuais eacute particularmente
relevanterdquo
32PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi cit p170
33BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p39
34A rigor por vezes o perfil normativo acaba se traduzindo em valoraccedilatildeo econocircmica como destaca Pietro
Perlingieri ldquoa previsatildeo de uma compensaccedilatildeo voluntaacuteria regra normativa que incide sobre a forma de pagamento
e de satisfaccedilatildeo de creacuteditos e deacutebitos reciacuteprocos releva tambeacutem sob o perfil econocircmicordquo (PERLINGIERI Pietro O
direito civil na legalidade constitucional cit p412 nota 410) Como destaca Macario ldquola differenza dovrebbe
poter essere apprezzata sul piano delle conseguenze ossia in punto di rimedi allo squilibrio ma la normativa cui
normalmente ci si riferisce rende ardua siffatta distinzionerdquo(MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni
contrattuali ed autonomia privata nella subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle
posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131 nota 1) Em
traduccedilatildeo livre ldquoa diferenccedila deveria ser apreciada no plano das consequecircncias isto eacute no ato de remediar o
desequiliacutebrio mas a normativa agrave qual costuma-se remeter dificulta esta distinccedilatildeordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
93
pelas partes quando da celebraccedilatildeo do contrato a dificultar a configuraccedilatildeo do desequiliacutebrio de
forma objetiva35
Talvez por essa razatildeo doutrina e jurisprudecircncia tenham relegado por tanto tempo o
princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato a uma espeacutecie de princiacutepio de segunda
categoria natildeo merecendo aplicaccedilatildeo autocircnoma independente das expressas previsotildees legais e
de seus requisitos subjetivos Semelhante postura acaba por condicionar a justiccedila contratual
agravequela avaliaccedilatildeo procedimental jaacute referida se a manifestaccedilatildeo de vontade foi livre informada
consciente e ponderada o contrato eacute economicamente equilibrado
A afirmaccedilatildeo de um verdadeiro princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato requer
sua aplicaccedilatildeo desvinculada de requisitos subjetivos bem como das expressas positivaccedilotildees
feitas pelo legislador de 2002 Para tanto afigura-se imprescindiacutevel investigar que tipo de
desequiliacutebrio autoriza a intervenccedilatildeo judicial reequilibradora a fim de impedir o indesejaacutevel
estrangulamento da autonomia privada
Impotildee-se em primeiro lugar verificar se as vantagens ou benefiacutecios econocircmicos
conferidos agraves partes satildeo proporcionais entre si a despeito de qualquer juiacutezo acerca da higidez
procedimental da manifestaccedilatildeo de vontade vale dizer do adimplemento dos deveres de
informaccedilatildeo e da integridade do consentimento36A justiccedila contratual expressatildeo da justiccedila
comutativa natildeo requer equivalecircncia absoluta nas relaccedilotildees de troca mas proporcionalidade de
forma que nenhuma das partes decirc muito mais nem muito menos do que recebeu37 Como
advertem Rodolfo Sacco e Giorgio de Nova eacute um primeiro e graviacutessimo erro pensar que o
contrato seja uma operaccedilatildeo em que a soma das vantagens e das perdas das partes eacute igual a
zero Quem de boa-feacute tem em mente esse disparate afirmam os autores passaraacute todo o seu
tempo buscando regra que impeccedila um contratante de ganhar para impedir que o outro
35Para criacutetica ao tratamento dispensado ao princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato confira-se
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-122 especialmente
36PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p58
37De acordo com Pietro Perlingieri o princiacutepio de proporcionalidade parece ldquodestinato ad incidere
profondamente nella moderna concezione del contratto che in tal modo si allontana definitivamente dalla
tradizionale volontaristica interpretazione del principio pacta sunt servandardquo (PERLINGIERI PietroNuovi
profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21 n3 p560 2000) Em traduccedilatildeo livre o princiacutepio
de proporcionalidade parece ldquodestinado a afetar profundamente a moderna concepccedilatildeo de contrato que de tal
forma se distancia definitivamente da tradicional interpretaccedilatildeo voluntarista do princiacutepio pacta sunt servandardquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
94
contratante perca Evidentemente quem raciocina assim vecirc em cada intercacircmbio uma
extorsatildeo executada por uma parte em prejuiacutezo da outra38
A proporcionalidade portanto consiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo
concretizada segundo a boa-feacute objetiva39 A anaacutelise eacute objetiva e independe de qualquer
consideraccedilatildeo de aspectos subjetivos relacionados agrave manifestaccedilatildeo de vontade como
inexperiecircncia ou necessidade
Verificado que haacute efetivamente desproporcionalidade entre os benefiacutecios
econocircmicos auferidos pelas partes investiga-se se o desequiliacutebrio se justifica diante da
economia contratual40 A anaacutelise do concreto regulamento de interesses da disciplina
estabelecida pela autonomia privada indicaraacute se a despeito de economicamente desequilibrado
o favorecimento normativo da parte em desvantagem econocircmica reequilibra a balanccedila
conduzindo ao equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais
Conforme jaacute se afirmou equiliacutebrio econocircmico e equiliacutebrio normativo encerram
aspectos complementares do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais pelo que eacute
possiacutevel que um desequiliacutebrio econocircmico se justifique no acircmbito do concreto negoacutecio
juriacutedico em razatildeo de algum poder ou direito conferido ao contratante Mais uma vez
38SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di diritto civile 3ed
Torino UTET 2004 t 1 p17-18
39PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional citp413-414 Observe-se que a doutrina
italiana distingue o princiacutepio da proporcionalidade do princiacutepio da razoabilidade nos seguintes termos ldquoA
operatividade do princiacutepio da proporcionalidade nos contratos parece confiada a uma conexatildeo entre elementos de
confrontaccedilatildeo homogecircneos comparaacuteveise quantificaacuteveis A proporcionalidade tem valor no plano quantitativo e
determina mas nem sempre a consequecircncia da reduccedilatildeo do contrato Vice-versa quando a coligaccedilatildeo eacute entre
elementos natildeo homogecircneos natildeo comparaacuteveis que envolvem interesses natildeo quantificaacuteveis por exemplo natildeo
patrimoniais o resultado eacute uma ponderaccedilatildeo entre eles que natildeo se pode traduzir no plano da quantidade mas
exige necessariamente uma valoraccedilatildeo qualitativa Em tais hipoacuteteses entram em funccedilatildeo seja o princiacutepio da
razoabilidade seja o princiacutepio da adequaccedilatildeo O merecimento de tutela portanto natildeo pode se inspirar
exclusivamente no aspecto quantitativo Com efeito a proporcionalidadeconsiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo e
configura portanto um paracircmetro ulterior e sucessivo em relaccedilatildeo agravequele de razoabilidade (vista como justificaccedilatildeo
abstrata) uma diversa modalidade de valorar a entidade do interesse patrimonial ou seja a medida da sua proteccedilatildeo
juriacutedica em comparaccedilatildeo e ponderaccedilatildeo com aquela de outros interesses O princiacutepio da proporcionalidade eacute
portanto uma norma aplicaacutevel tambeacutem quando faltam regras ad hoc a ser coordenada com outros princiacutepios
sistematicamente a ele coligados utilizaacuteveis em sede hermenecircutica O princiacutepio da proporcionalidade embora
operativo entre elementos quantificaacuteveis constitui um daqueles momentos normativos de relevacircncia axioloacutegica os
quais contribuem para recuperar a coerecircncia e eficiecircncia ao sistema juriacutedico e correta competitividade concorrencial ao
mercado no justo equiliacutebrio entre liberdade e solidariedade liberdade e merecimento de tutela dos conteuacutedosrdquo
(p406-407) A distinccedilatildeo embora relevante no direito italiano natildeo assume destaque no direito brasileiro pelo
que se utilizaraacute nesta tese a proporcionalidade tanto para comparar interesses homogecircneos quanto aqueles
heterogecircneos semdescurar evidentemente da superior hierarquia dos interesses existenciais em relaccedilatildeo aos patrimoniais
40Nessa toada pondera Mauro Grondona que ldquoloperazione di analisi e di costruzione ermeneutica che il
giudice dovrebbe compiere egrave proprio quella di accertare le ragioni di tale squilibrio onde valutare se esso sia
(o possa essere) ragionevolmente giustificato in forza di uno stringente esame delleconomia del contrattordquo
(GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto I Contratti Milano v21 n11 p1029 2013) Em traduccedilatildeo livre ldquoa operaccedilatildeo de anaacutelise e de
construccedilatildeo hermenecircutica que o juiz deveria cumprir eacute exatamente aquela de aferir as razotildees desse desequiliacutebrio
para avaliar se ele eacute (ou pode ser) razoavelmente justificado a partir de um exame apurado da economia do
contratordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
95
reafirma-se a necessidade de analisar o concreto regulamento de interesses em sua unidade jaacute
que somente a partir do todo eacute possiacutevel avaliar fidedignamente o merecimento de tutela de
seus diversos aspectos
Constatado o desproporcional desequiliacutebrio econocircmico e a inexistecircncia de qualquer
vantagem normativa que reequilibre as posiccedilotildees contratuais presumir-se-aacute a violaccedilatildeo ao
princiacutepio do equiliacutebrio A presunccedilatildeo poderaacute ser afastada se restar comprovado que a parte
contra quem o contrato estaacute desequilibrado ostenta interesse legiacutetimo mesmo natildeo patrimonial
que justifique o desequiliacutebrio41 Embora a regra seja o relativo equiliacutebrio econocircmico
nadaimpede que no caso concreto uma das partes assuma deliberada e justificadamente o risco
de um desequiliacutebrio manifesto42
Nesses casos o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais resta atendido em face do
merecimento de tutela dos interesses em jogo pelo que a autonomia privada deve ser
prestigiada e o contrato haacute de ser mantido consoante pactuado pelas partes Alterar o
equiliacutebrio econocircmico original nessas circunstacircncias natildeo significa reequilibrar o contrato mas
atribuir ao contrato um equiliacutebrio diverso daquele expresso pelo regulamento negocial
subtraindo ex post de uma das partes algumas utilidades econocircmicas esperadas com a
celebraccedilatildeo do contrato sob o argumento de que o desequiliacutebrio eacute prova certa de patologia43
O princiacutepio do equiliacutebrio normativo a seu turno exige que a disciplina contratual seja
equilibrada a conferir direitos e obrigaccedilotildees de forma proporcional a ambas as partes Mais
uma vez a proporcionalidade natildeo visa garantir equivalecircncia entre os poderes atribuiacutedos aos
contratantes mas impedir desproporccedilatildeo excessiva e injustificada entre eles Assim como em
relaccedilatildeo ao equiliacutebrio econocircmico a mobilidade do equiliacutebrionormativo tendencialmente mutaacutevel
de contrato para contrato afasta qualquer tentativa de anaacutelise abstrata do fenocircmeno44
O perfil normativo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais vai ao encontro da ordem
constitucional contemporacircnea promovendo a igualdade substancial entre as partes Enquanto
41De acordo com Perlingieri em algumas situaccedilotildees ldquoo equiliacutebrio entre as prestaccedilotildees deve ser individuado
prescindindo das avaliaccedilotildees de mercado relativas a um bem tendo-se em conta poreacutem eventuais interesses natildeo
patrimoniais exigecircncias sentimentais e afetivas os quis podem determinar um valor diverso para o proacuteprio bemrdquo
(PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidadeconstitucional cit p412) Em outra sede afirma o mesmo
autor ldquorisulta assolutamente necessario distinguere la valutazione economica della prestazione dagli interessi
a volte non patrimoniali che caratterizzano il contrattordquo(PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e
principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p50) Em traduccedilatildeo livre
ldquoresulta absolutamente necessaacuterio distinguir a valoraccedilatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo dos interesses agraves vezes natildeo
patrimoniais que caracterizam o contratordquo
42SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo cit p133
43GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto cit p1029-1030
44BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori cit p41
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
96
o perfil econocircmico do equiliacutebrio contratual se volta para a tutela patrimonial dos contratantes e
se guia sobretudo por loacutegica eminentementemercadoloacutegica o perfil normativo comporta a tutela
tambeacutem de valores existenciais ao viabilizaro controle da autonomia privada a partir de
paracircmetros que natildeo o econocircmico a exemplo da vulnerabilidade Nesse sentido o princiacutepio do
equiliacutebrio normativo permite reequilibrar a disciplina contratual para aleacutem das situaccedilotildees em
que o regulamento de interesses ameaccedila o patrimocircnio de um dos contratantes contemplando
hipoacuteteses em que a ameaccedila se coloca contra sua proacutepria existecircncia digna mormente diante de
vulnerabilidade existencial45 Eacute a promoccedilatildeo do equiliacutebrio normativo por exemplo que
justifica a intervenccedilatildeo legislativa que proiacutebe claacuteusulas de reajuste da mensalidade de plano de
sauacutede por faixa etaacuteria46
O princiacutepio encontra plena aplicabilidade inclusive no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias em
que natildeo haacute vulnerabilidade a ser prioritariamente tutelada Com efeito parece inspirar-se no
princiacutepio do equiliacutebrio normativo a aplicaccedilatildeo da claacuteusula penal em favor de todos os contratantes
ainda que prevista em benefiacutecio exclusivo de uma das partes Embora natildeo se identifique
nominalmente o fundamento dessa extensatildeo no equiliacutebrio normativo a jurisprudecircncia a
justifica na proporcionalidade e na razoabilidade que satildeo como apontado paracircmetros de
afericcedilatildeo do equiliacutebrio normativo Emblemaacutetico nesse sentido o voto do Ministro Massami
Uyeda nos autos do Recurso Especial 1119740RJ
Caracterizadas portanto as reciacuteprocas obrigaccedilotildees entabuladas pelas partes natildeo seria
razoaacutevel nem proporcional que para uma delas o descumprimentocontratual seguisse a
claacuteusula previamente redigida na avenccedila de execuccedilatildeomais simples e para o outro
caminho diverso de execuccedilatildeo mais complexa Entender-se de forma diversa eacute o mesmo
que tratar os iguais desigualmente pois enquanto no descumprimento por parte do
promitente-comprador jaacute estaria definido o quantum indenizatoacuterio sem a
possibilidade de quaisquer discussotildees o inadimplemento do promitente-vendedor
daria azo a discussotildees acerca do efetivo prejuiacutezo sofrido pelo comprador47
45Carlos Nelson Konder traccedila fundamental distinccedilatildeo entre a vulnerabilidade patrimonial e aquela existencial
advogando a favor da elaboraccedilatildeo de instrumentos de tutela proacuteprios voltados para pessoas que se enquadrem
nesta uacuteltima categoria De acordo com o autor ldquoa vulnerabilidade existencial seria a situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva
em que o titular se encontra sob maior suscetibilidade de ser lesionado na sua esfera extrapatrimonial impondo a
aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas de tutela diferenciada para a satisfaccedilatildeo do princiacutepio da dignidade da pessoa
humanardquo (KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um sistema
diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p111 maiojun 2015)
46Lei no 107412003 art 15 sect 3
o Confira-se na jurisprudecircncia o leading case acerca do tema BRASIL
Superior Tribunal de Justiccedila REsp 809329RJ Relator(a) Ministra Nancy Andrighi Julgamento 25032008
Oacutergatildeo Julgador 3aTurma Publicaccedilatildeo DJe 11042008 Trata-se de situaccedilatildeo em que o equiliacutebrio normativo
repercute diretamente sobre o equiliacutebrio econocircmico daiacute a dificuldade jaacute apontada de distinguir de forma
absoluta os dois perfis do equiliacutebrio em algumas situaccedilotildees
47BRASIL Superior Tribunal de JusticcedilaREsp 1119740RJ Relator Min Massami Uyeda Julgamento
27092011Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJe 13102011 (grifou-se) Observe-se que embora se
discutisse acerca de relaccedilatildeo hoje caracterizada como de consumo natildeo se aplicou o Coacutedigo de Defesa do
Consumidor uma vez que o contrato em anaacutelise fora firmado antes da sua entrada em vigor
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
89
constitucionais Trata-se em definitivo da necessidade de conformaccedilatildeo em cada caso dos atos
de autonomia ao projeto constitucional
Os chamados limites agrave autonomia privada natildeo satildeo apenas externos como outrora mas
tambeacutem internos expressatildeo direta do ato e do seu significado constitucional a alterar
substancialmente seu proacuteprio conteuacutedo18Nesse sentido pode-se mesmo afirmar que a
disciplina contratual ditada pelas partes encerra tatildeo soacute o provisoacuterio regulamento de interesses
que se tornaraacute definitivo na medida em que esteja de acordo com os ditames constitucionais
A coercibilidadedas normas elaboradas pelos contratantes para reger suas condutas deixa de
depender de forma exclusiva do acordo de vontades e passa a se subordinar agrave sua
conformidade agraves condiccedilotildees e aos limites em virtude dos quais este poder criador eacute concedido
e que decorrem diretamente da Constituiccedilatildeo Supera-se dessa forma o dogma da vontade e
inaugura-se o dogma da responsabilidade19
1 A PROVISORIEDADE DA REGULAMENTACcedilAtildeO AUTOcircNOMA E A BOA-FEacute
OBJETIVA
Releva nesse processo de redefiniccedilatildeo da autonomia privada a boa-feacute objetiva
desenvolvida na Alemanha sobretudo apoacutes a ediccedilatildeo em 1900 do BGB2021 com o propoacutesito
de corrigir os excessos da liberdade individual22 Firmando-se como princiacutepio de lealdade
reciacuteproca entre os contratantes a boa-feacute objetiva erige-se como obstaacuteculo ao exerciacutecio da
autonomia privada em violaccedilatildeo ldquoaos paracircmetros de convivecircncia e confianccedila muacutetuas que
devem reger um ambiente negocial sadiordquo23 ajustando quando necessaacuterio a disciplina
18CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2008 p189-190
19A conclusatildeo eacute de BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi cit 2011
20Cuidam especialmente do tema os sectsect 157 e 242 do BGB sect 157 ldquoOs contratos interpretam-se como o exija a
boa-feacute com consideraccedilatildeo pelos bons costumes do traacutefegordquo e sect 242 ldquoO devedor estaacute adstrito a realizar a
prestaccedilatildeo tal como o exija a boa-feacute com consideraccedilatildeo pelos costumes do traacutefegordquo (MENEZES CORDEIRO
Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001 p325)
21Sobre o sentido inicial da boa-feacute no BGB e sua posterior evoluccedilatildeo confira-se MENEZES CORDEIRO
AntoacutenioDa boa feacute no direito civil cit p331 et seq
22Embora quando da ediccedilatildeo do BGB a utilizaccedilatildeo da boa-feacute tenha ficado restrita aos exatos limites referidos nos
sectsect 157 e 242 a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial levou os Tribunais alematildees a aplicaacute-la de forma mais ampla
de modo a criar sob o ldquoguarda-chuvardquo do sect 242 diversas regras que dele natildeo constavam expressamente O
processo se intensificou com a Segunda Guerra Mundial ldquoagain sect 242 BGB was invoked and today it is a king of
the BGBrdquo De todo modo ldquolater the legislator codified some of the institutions which the courts had established
for instance hardship [hellip]rdquo(LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of
European contract law In ANDENAS Mads et alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the national
systems London British Institute of International and Comparative Law 2007 p603-604) Em traduccedilatildeo livre mais
uma vez o sect 242 do BGB foi invocado e hoje eacute o rei do BGB De todo modo mais tarde o legislador
codificou alguns dos institutos que as cortes haviam estabelecido como a claacuteusula de hardship []
23SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2013 p49-60 p53
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
90
contratual estabelecida pelas partes de acordo com as especificidades da concreta relaccedilatildeo
negocial24 A boa-feacute objetiva ldquoconcorre na criaccedilatildeo da regula iuris do caso concretordquo25 mesmo
no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias construindo a disciplina negocial
non solo nel senso del completamento del regime lacunoso mediante
lidentificazione di obblighi aggiuntivi ma anche nel senso della modifica
sostanziale del dictum originario nel quadro di una rettifica destinata a garantire la
concreta realizzazione degli obiettivi complessivamente prefigurati dai paciscenti26
Cuida-se em verdade da concretizaccedilatildeo do princiacutepio constitucional da solidariedade
social na esfera contratual transformando as relaccedilotildees obrigacionais concebidas inicialmente
como o locus destinado agrave perseguiccedilatildeo egoiacutesta das satisfaccedilotildees individuais em espaccedilo de
cooperaccedilatildeo e solidariedade27 impondo aos contratantes que se empenhem em promover os
interesses da contraparte sem que isso importe outrossim em sacrifiacutecio de sua posiccedilatildeo
contratual de vantagem ou renuacutencia agraves situaccedilotildees de preponderacircncia No acircmbito de relaccedilotildees
paritaacuterias natildeo caracterizadas pela vulnerabilidade a boa-feacute objetiva deve ser concebida nos
seus exatos termos como princiacutepio que impotildee honestidade e lealdade atribuindo agraves partes
deveres de colaboraccedilatildeo condicionados e limitados pela funccedilatildeo econocircmica e social do negoacutecio
celebrado28 Em qualquer relaccedilatildeo contratual as partes inegavelmente concorrem entre si na
aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de posiccedilotildees prevalentes e a ordem juriacutedica natildeo os impede de fazecirc-lo
afinal referida postura eacute mesmo da essecircncia das relaccedilotildees negociais A boa-feacute objetiva natildeo se
confunde em definitivo com atribuiccedilatildeo de funccedilatildeo abnegatoacuteria ou altruiacutesta ao contrato
Identificada a relevacircncia da boa-feacute objetiva como instrumento conformador da
autonomia privada largamente ratificada pela doutrina e jurisprudecircncia o desafio
contemporacircneo parece repousar na distinccedilatildeo de paracircmetros os mais diversos (poreacutem especiacuteficos)
possiacuteveis aplicaacuteveis agraves variadas relaccedilotildees contratuais que permitam ao operador do direito
24PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p460
25No original ldquoconcorre a creare la regula iuris del caso concretordquo (PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto
civile citp461)
26SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede prospettive di diritto
europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli Editore 2007 p212 Em traduccedilatildeo livre ldquonatildeo
somente no sentido de corrigir o regime lacunoso mediante a identificaccedilatildeo das obrigaccedilotildees anexas mas tambeacutem
no sentido de modificar substancialmente o dictum originaacuterio no quadro de uma retificaccedilatildeo que visa garantir a
concreta realizaccedilatildeo dos objetivos conjuntamente prefigurados pelos contratantesrdquo
27NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar 2002 p117
28TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do Consumidor e no novo
Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos na perspectiva civil-constitucional Rio de
Janeiro Renovar 2005 p41 Na mesma direccedilatildeo confira-se Bianca ldquoEs necesario por lo tanto avanzar hasta
queacute punto la parte debe tener en cuenta los legiacutetimos intereses de la contraparte La especificacioacuten debe ser
buscada en el liacutemite del apreciable sacrificio que circunscribe el deber de buena fe precisamente la buena fe
requiere a la parte tener presente la utilidad de la contraparte en los liacutemites en los cuales ello no importe un
apreciable sacrificiordquo (BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil
el principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu cit p197 grifos no original)
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
91
analisar no caso concreto a legitimidade do ato de autonomia Imprescindiacutevel entretanto natildeo
cair na tentaccedilatildeo sempre presente insidiosamente de adotar abordagem tipificante da boa-feacute
objetiva criando verdadeiros tipos de comportamento aos quais a conduta concreta deveraacute ser
subsumida Abordagem nesse sentido se revelaria extremamente limitadora e contraacuteria agrave vocaccedilatildeo
expansiva da figura como instrumento de concretizaccedilatildeo do princiacutepio de solidariedade social
2 DA ANAacuteLISE PROCEDIMENTAL DA JUSTICcedilA CONTRATUAL AO PRINCIacutePIO
DO EQUILIacuteBRIO DAS POSICcedilOtildeES CONTRATUAIS
Ao lado da boa-feacute objetiva outro inafastaacutevel paracircmetro de legitimidade do exerciacutecio
da autonomia privada eacute a renovada concepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees
contratuais Tradicionalmente sempre se entendeu que o equiliacutebrio era aquele combinado
entre as partes29Analisava-se a justiccedila do contrato sob aspecto meramente procedimental
bastava que a avenccedila fosse fruto de consenso livre suficientemente ponderado e
adequadamente informado para ser considerada justa30 Nos dias atuais referida concepccedilatildeo
deu lugar ao entendimento segundo o qual a concreta afericcedilatildeo do equiliacutebrio requer o
balanceamentoentre dois princiacutepios constitucionais igualmente relevantes a livre iniciativa
fundamento constitucional da autonomia contratual e a solidariedade social
Nesse sentido embora se reconheccedila que o consenso informado seja instrumentode
realizaccedilatildeo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a constituir um valor instrumental e natildeo um valor
fim31eacute preciso dar um passo adiante A afericcedilatildeo do equiliacutebrio deve desprender-se da origem
29Exemplo desta orientaccedilatildeo eacute a seguinte explanaccedilatildeo de Joatildeo Baptista Villela ldquoContinuando pode-se cravar
mais fundo o punhal da razatildeo interrogativa por que natildeo haveria o que censurar quando eacute certo estar repousando
o contrato do exemplo sobre uma enorme disparidade entre as prestaccedilotildees Pela simples razatildeo de que natildeo eacute a
aritmeacutetica que define o estatuto juriacutedico do contrato senatildeo a vontade mesma dos contratantes Por que
transparentes motivos ou obscuras razotildees quiseram contratar nas condiccedilotildees indicadas eacute mateacuteria de sua livre
determinaccedilatildeo Fizeram-no interpretando as respectivas conveniecircncias ou ateacute ndash por que natildeo ndash cedendo a um
capricho de suas mentes Em regime poliacutetico de liberdade contratual soacute agraves mesmas partes cabe fazer (e a si
mesmas) essas perguntas O Estado natildeo tem porque intervir sob pena de estar invadindo um domiacutenio que natildeo eacute
o seu Se eacute assim deve-se concluir que o equiliacutebrio econocircmico-financeiro seria um conceito inuacutetil quem sabe
mesmo prejudicial De modo algum O que se tem de compreender eacute que o senhor do conceito satildeo as partesrdquo
(VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO Gustavo FACHIN
Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011
v3 p780)
30Ainda nesse sentido afirmando que a autonomia privada se sujeita apenas a controle de licitude e aquele de
ordem procedimental confira na doutrina italiana MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia
contrattuale(note minime sul controllo del contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio)
In Studi in onore di Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1204
31A observaccedilatildeo eacute de Enrico Minervini De acordo com o autor ldquoegrave vero quanto si sostiene abitualmente che
trasparenza e riequilibrio non possono essere identificati in quanto trasparenza non mira ad una tutela
sostanziale degli interessi in gioco bensigrave ad individuare le regole del gioco e quindi ad indicare come ci si
debba comportare corretamente sul mercato Tuttavia non vi egrave dubbio che il nesso di strumentalitagrave fra
trasparenza del contratto ed equilibrio normativo ed economico delle posizioni contrattuali sia particolarmente
rilevanterdquo (MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
92
voluntarista do negoacutecio de modo que a justiccedilado contrato emane natildeo apenas do acordo de
vontades que lhe daacute origem mas do merecimento de tutela do concreto regulamento Significa
entatildeo que se deve abandonar a anaacutelise voluntarista do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em
homenagem agrave investigaccedilatildeo pautada no especiacutefico programa contratual voltado agrave realizaccedilatildeo
dos interesses perseguidos pelas partes A justiccedila contratual deixa de ser avaliada com base na
vontade arbitraacuteria no subjetivismo dos contratantes e passa a depender da avaliaccedilatildeo concreta
do seu interesse a partir da especiacutefica disciplina contratual
O equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais natildeo abarca apenas a afericcedilatildeo do equiliacutebrio
econocircmico do contrato Cuida-se de anaacutelise mais ampla da relaccedilatildeo contratual identificada no
regulamento capaz de conciliar os interesses contrapostos das partes32A rigor didaticamente
eacute possiacutevel decompor o princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em dois aspectos do
mesmo fenocircmeno o princiacutepio do equiliacutebrio normativo e o princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico
do contrato33Natildeo haacute prevalecircncia de um aspecto sobre outro haacute complementaridade
conquanto nem sempre seja faacutecil distingui-los entre si34
O princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato tambeacutem designado equiliacutebrio
material recebeu tratamento tiacutemido praticamente insignificante do legislador de 2002 que
deixou de mencionaacute-lo expressamente limitando-se a disciplinar algumas de suas
manifestaccedilotildees a exemplo da lesatildeo (art 157) do estado de perigo (art 156) e da resoluccedilatildeo por
excessiva onerosidade (arts 478-480) Todavia em todos esses dispositivos o legislador
cedeu ao ranccedilo voluntarista do qual ainda natildeo se despiu por completo e acostou ao
desequiliacutebrio contratual requisitos ligados agrave vontade dos contratantes como ldquoinexperiecircnciardquo
ou ldquonecessidaderdquo ou entatildeo circunstacircncias ldquoextraordinaacuteriasrdquo que natildeo podiam ser previstas
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p18) Em traduccedilatildeo livre ldquoverdadeira eacute a afirmaccedilatildeo costumeira de
que transparecircncia e reequiliacutebrio natildeo podem ser identificados pois transparecircncia natildeo visa uma tutela substancial
dos interesses em jogo mas sim agrave individualizaccedilatildeo das regras do jogo e portanto a apontar como deve ser um
comportamento correto no mercado Contudo natildeo haacute duacutevida de que o nexo de instrumentalidade entre
transparecircncia do contrato e equiliacutebrio normativo e econocircmico das posiccedilotildees contratuais eacute particularmente
relevanterdquo
32PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi cit p170
33BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p39
34A rigor por vezes o perfil normativo acaba se traduzindo em valoraccedilatildeo econocircmica como destaca Pietro
Perlingieri ldquoa previsatildeo de uma compensaccedilatildeo voluntaacuteria regra normativa que incide sobre a forma de pagamento
e de satisfaccedilatildeo de creacuteditos e deacutebitos reciacuteprocos releva tambeacutem sob o perfil econocircmicordquo (PERLINGIERI Pietro O
direito civil na legalidade constitucional cit p412 nota 410) Como destaca Macario ldquola differenza dovrebbe
poter essere apprezzata sul piano delle conseguenze ossia in punto di rimedi allo squilibrio ma la normativa cui
normalmente ci si riferisce rende ardua siffatta distinzionerdquo(MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni
contrattuali ed autonomia privata nella subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle
posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131 nota 1) Em
traduccedilatildeo livre ldquoa diferenccedila deveria ser apreciada no plano das consequecircncias isto eacute no ato de remediar o
desequiliacutebrio mas a normativa agrave qual costuma-se remeter dificulta esta distinccedilatildeordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
93
pelas partes quando da celebraccedilatildeo do contrato a dificultar a configuraccedilatildeo do desequiliacutebrio de
forma objetiva35
Talvez por essa razatildeo doutrina e jurisprudecircncia tenham relegado por tanto tempo o
princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato a uma espeacutecie de princiacutepio de segunda
categoria natildeo merecendo aplicaccedilatildeo autocircnoma independente das expressas previsotildees legais e
de seus requisitos subjetivos Semelhante postura acaba por condicionar a justiccedila contratual
agravequela avaliaccedilatildeo procedimental jaacute referida se a manifestaccedilatildeo de vontade foi livre informada
consciente e ponderada o contrato eacute economicamente equilibrado
A afirmaccedilatildeo de um verdadeiro princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato requer
sua aplicaccedilatildeo desvinculada de requisitos subjetivos bem como das expressas positivaccedilotildees
feitas pelo legislador de 2002 Para tanto afigura-se imprescindiacutevel investigar que tipo de
desequiliacutebrio autoriza a intervenccedilatildeo judicial reequilibradora a fim de impedir o indesejaacutevel
estrangulamento da autonomia privada
Impotildee-se em primeiro lugar verificar se as vantagens ou benefiacutecios econocircmicos
conferidos agraves partes satildeo proporcionais entre si a despeito de qualquer juiacutezo acerca da higidez
procedimental da manifestaccedilatildeo de vontade vale dizer do adimplemento dos deveres de
informaccedilatildeo e da integridade do consentimento36A justiccedila contratual expressatildeo da justiccedila
comutativa natildeo requer equivalecircncia absoluta nas relaccedilotildees de troca mas proporcionalidade de
forma que nenhuma das partes decirc muito mais nem muito menos do que recebeu37 Como
advertem Rodolfo Sacco e Giorgio de Nova eacute um primeiro e graviacutessimo erro pensar que o
contrato seja uma operaccedilatildeo em que a soma das vantagens e das perdas das partes eacute igual a
zero Quem de boa-feacute tem em mente esse disparate afirmam os autores passaraacute todo o seu
tempo buscando regra que impeccedila um contratante de ganhar para impedir que o outro
35Para criacutetica ao tratamento dispensado ao princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato confira-se
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-122 especialmente
36PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p58
37De acordo com Pietro Perlingieri o princiacutepio de proporcionalidade parece ldquodestinato ad incidere
profondamente nella moderna concezione del contratto che in tal modo si allontana definitivamente dalla
tradizionale volontaristica interpretazione del principio pacta sunt servandardquo (PERLINGIERI PietroNuovi
profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21 n3 p560 2000) Em traduccedilatildeo livre o princiacutepio
de proporcionalidade parece ldquodestinado a afetar profundamente a moderna concepccedilatildeo de contrato que de tal
forma se distancia definitivamente da tradicional interpretaccedilatildeo voluntarista do princiacutepio pacta sunt servandardquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
94
contratante perca Evidentemente quem raciocina assim vecirc em cada intercacircmbio uma
extorsatildeo executada por uma parte em prejuiacutezo da outra38
A proporcionalidade portanto consiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo
concretizada segundo a boa-feacute objetiva39 A anaacutelise eacute objetiva e independe de qualquer
consideraccedilatildeo de aspectos subjetivos relacionados agrave manifestaccedilatildeo de vontade como
inexperiecircncia ou necessidade
Verificado que haacute efetivamente desproporcionalidade entre os benefiacutecios
econocircmicos auferidos pelas partes investiga-se se o desequiliacutebrio se justifica diante da
economia contratual40 A anaacutelise do concreto regulamento de interesses da disciplina
estabelecida pela autonomia privada indicaraacute se a despeito de economicamente desequilibrado
o favorecimento normativo da parte em desvantagem econocircmica reequilibra a balanccedila
conduzindo ao equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais
Conforme jaacute se afirmou equiliacutebrio econocircmico e equiliacutebrio normativo encerram
aspectos complementares do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais pelo que eacute
possiacutevel que um desequiliacutebrio econocircmico se justifique no acircmbito do concreto negoacutecio
juriacutedico em razatildeo de algum poder ou direito conferido ao contratante Mais uma vez
38SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di diritto civile 3ed
Torino UTET 2004 t 1 p17-18
39PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional citp413-414 Observe-se que a doutrina
italiana distingue o princiacutepio da proporcionalidade do princiacutepio da razoabilidade nos seguintes termos ldquoA
operatividade do princiacutepio da proporcionalidade nos contratos parece confiada a uma conexatildeo entre elementos de
confrontaccedilatildeo homogecircneos comparaacuteveise quantificaacuteveis A proporcionalidade tem valor no plano quantitativo e
determina mas nem sempre a consequecircncia da reduccedilatildeo do contrato Vice-versa quando a coligaccedilatildeo eacute entre
elementos natildeo homogecircneos natildeo comparaacuteveis que envolvem interesses natildeo quantificaacuteveis por exemplo natildeo
patrimoniais o resultado eacute uma ponderaccedilatildeo entre eles que natildeo se pode traduzir no plano da quantidade mas
exige necessariamente uma valoraccedilatildeo qualitativa Em tais hipoacuteteses entram em funccedilatildeo seja o princiacutepio da
razoabilidade seja o princiacutepio da adequaccedilatildeo O merecimento de tutela portanto natildeo pode se inspirar
exclusivamente no aspecto quantitativo Com efeito a proporcionalidadeconsiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo e
configura portanto um paracircmetro ulterior e sucessivo em relaccedilatildeo agravequele de razoabilidade (vista como justificaccedilatildeo
abstrata) uma diversa modalidade de valorar a entidade do interesse patrimonial ou seja a medida da sua proteccedilatildeo
juriacutedica em comparaccedilatildeo e ponderaccedilatildeo com aquela de outros interesses O princiacutepio da proporcionalidade eacute
portanto uma norma aplicaacutevel tambeacutem quando faltam regras ad hoc a ser coordenada com outros princiacutepios
sistematicamente a ele coligados utilizaacuteveis em sede hermenecircutica O princiacutepio da proporcionalidade embora
operativo entre elementos quantificaacuteveis constitui um daqueles momentos normativos de relevacircncia axioloacutegica os
quais contribuem para recuperar a coerecircncia e eficiecircncia ao sistema juriacutedico e correta competitividade concorrencial ao
mercado no justo equiliacutebrio entre liberdade e solidariedade liberdade e merecimento de tutela dos conteuacutedosrdquo
(p406-407) A distinccedilatildeo embora relevante no direito italiano natildeo assume destaque no direito brasileiro pelo
que se utilizaraacute nesta tese a proporcionalidade tanto para comparar interesses homogecircneos quanto aqueles
heterogecircneos semdescurar evidentemente da superior hierarquia dos interesses existenciais em relaccedilatildeo aos patrimoniais
40Nessa toada pondera Mauro Grondona que ldquoloperazione di analisi e di costruzione ermeneutica che il
giudice dovrebbe compiere egrave proprio quella di accertare le ragioni di tale squilibrio onde valutare se esso sia
(o possa essere) ragionevolmente giustificato in forza di uno stringente esame delleconomia del contrattordquo
(GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto I Contratti Milano v21 n11 p1029 2013) Em traduccedilatildeo livre ldquoa operaccedilatildeo de anaacutelise e de
construccedilatildeo hermenecircutica que o juiz deveria cumprir eacute exatamente aquela de aferir as razotildees desse desequiliacutebrio
para avaliar se ele eacute (ou pode ser) razoavelmente justificado a partir de um exame apurado da economia do
contratordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
95
reafirma-se a necessidade de analisar o concreto regulamento de interesses em sua unidade jaacute
que somente a partir do todo eacute possiacutevel avaliar fidedignamente o merecimento de tutela de
seus diversos aspectos
Constatado o desproporcional desequiliacutebrio econocircmico e a inexistecircncia de qualquer
vantagem normativa que reequilibre as posiccedilotildees contratuais presumir-se-aacute a violaccedilatildeo ao
princiacutepio do equiliacutebrio A presunccedilatildeo poderaacute ser afastada se restar comprovado que a parte
contra quem o contrato estaacute desequilibrado ostenta interesse legiacutetimo mesmo natildeo patrimonial
que justifique o desequiliacutebrio41 Embora a regra seja o relativo equiliacutebrio econocircmico
nadaimpede que no caso concreto uma das partes assuma deliberada e justificadamente o risco
de um desequiliacutebrio manifesto42
Nesses casos o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais resta atendido em face do
merecimento de tutela dos interesses em jogo pelo que a autonomia privada deve ser
prestigiada e o contrato haacute de ser mantido consoante pactuado pelas partes Alterar o
equiliacutebrio econocircmico original nessas circunstacircncias natildeo significa reequilibrar o contrato mas
atribuir ao contrato um equiliacutebrio diverso daquele expresso pelo regulamento negocial
subtraindo ex post de uma das partes algumas utilidades econocircmicas esperadas com a
celebraccedilatildeo do contrato sob o argumento de que o desequiliacutebrio eacute prova certa de patologia43
O princiacutepio do equiliacutebrio normativo a seu turno exige que a disciplina contratual seja
equilibrada a conferir direitos e obrigaccedilotildees de forma proporcional a ambas as partes Mais
uma vez a proporcionalidade natildeo visa garantir equivalecircncia entre os poderes atribuiacutedos aos
contratantes mas impedir desproporccedilatildeo excessiva e injustificada entre eles Assim como em
relaccedilatildeo ao equiliacutebrio econocircmico a mobilidade do equiliacutebrionormativo tendencialmente mutaacutevel
de contrato para contrato afasta qualquer tentativa de anaacutelise abstrata do fenocircmeno44
O perfil normativo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais vai ao encontro da ordem
constitucional contemporacircnea promovendo a igualdade substancial entre as partes Enquanto
41De acordo com Perlingieri em algumas situaccedilotildees ldquoo equiliacutebrio entre as prestaccedilotildees deve ser individuado
prescindindo das avaliaccedilotildees de mercado relativas a um bem tendo-se em conta poreacutem eventuais interesses natildeo
patrimoniais exigecircncias sentimentais e afetivas os quis podem determinar um valor diverso para o proacuteprio bemrdquo
(PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidadeconstitucional cit p412) Em outra sede afirma o mesmo
autor ldquorisulta assolutamente necessario distinguere la valutazione economica della prestazione dagli interessi
a volte non patrimoniali che caratterizzano il contrattordquo(PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e
principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p50) Em traduccedilatildeo livre
ldquoresulta absolutamente necessaacuterio distinguir a valoraccedilatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo dos interesses agraves vezes natildeo
patrimoniais que caracterizam o contratordquo
42SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo cit p133
43GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto cit p1029-1030
44BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori cit p41
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
96
o perfil econocircmico do equiliacutebrio contratual se volta para a tutela patrimonial dos contratantes e
se guia sobretudo por loacutegica eminentementemercadoloacutegica o perfil normativo comporta a tutela
tambeacutem de valores existenciais ao viabilizaro controle da autonomia privada a partir de
paracircmetros que natildeo o econocircmico a exemplo da vulnerabilidade Nesse sentido o princiacutepio do
equiliacutebrio normativo permite reequilibrar a disciplina contratual para aleacutem das situaccedilotildees em
que o regulamento de interesses ameaccedila o patrimocircnio de um dos contratantes contemplando
hipoacuteteses em que a ameaccedila se coloca contra sua proacutepria existecircncia digna mormente diante de
vulnerabilidade existencial45 Eacute a promoccedilatildeo do equiliacutebrio normativo por exemplo que
justifica a intervenccedilatildeo legislativa que proiacutebe claacuteusulas de reajuste da mensalidade de plano de
sauacutede por faixa etaacuteria46
O princiacutepio encontra plena aplicabilidade inclusive no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias em
que natildeo haacute vulnerabilidade a ser prioritariamente tutelada Com efeito parece inspirar-se no
princiacutepio do equiliacutebrio normativo a aplicaccedilatildeo da claacuteusula penal em favor de todos os contratantes
ainda que prevista em benefiacutecio exclusivo de uma das partes Embora natildeo se identifique
nominalmente o fundamento dessa extensatildeo no equiliacutebrio normativo a jurisprudecircncia a
justifica na proporcionalidade e na razoabilidade que satildeo como apontado paracircmetros de
afericcedilatildeo do equiliacutebrio normativo Emblemaacutetico nesse sentido o voto do Ministro Massami
Uyeda nos autos do Recurso Especial 1119740RJ
Caracterizadas portanto as reciacuteprocas obrigaccedilotildees entabuladas pelas partes natildeo seria
razoaacutevel nem proporcional que para uma delas o descumprimentocontratual seguisse a
claacuteusula previamente redigida na avenccedila de execuccedilatildeomais simples e para o outro
caminho diverso de execuccedilatildeo mais complexa Entender-se de forma diversa eacute o mesmo
que tratar os iguais desigualmente pois enquanto no descumprimento por parte do
promitente-comprador jaacute estaria definido o quantum indenizatoacuterio sem a
possibilidade de quaisquer discussotildees o inadimplemento do promitente-vendedor
daria azo a discussotildees acerca do efetivo prejuiacutezo sofrido pelo comprador47
45Carlos Nelson Konder traccedila fundamental distinccedilatildeo entre a vulnerabilidade patrimonial e aquela existencial
advogando a favor da elaboraccedilatildeo de instrumentos de tutela proacuteprios voltados para pessoas que se enquadrem
nesta uacuteltima categoria De acordo com o autor ldquoa vulnerabilidade existencial seria a situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva
em que o titular se encontra sob maior suscetibilidade de ser lesionado na sua esfera extrapatrimonial impondo a
aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas de tutela diferenciada para a satisfaccedilatildeo do princiacutepio da dignidade da pessoa
humanardquo (KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um sistema
diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p111 maiojun 2015)
46Lei no 107412003 art 15 sect 3
o Confira-se na jurisprudecircncia o leading case acerca do tema BRASIL
Superior Tribunal de Justiccedila REsp 809329RJ Relator(a) Ministra Nancy Andrighi Julgamento 25032008
Oacutergatildeo Julgador 3aTurma Publicaccedilatildeo DJe 11042008 Trata-se de situaccedilatildeo em que o equiliacutebrio normativo
repercute diretamente sobre o equiliacutebrio econocircmico daiacute a dificuldade jaacute apontada de distinguir de forma
absoluta os dois perfis do equiliacutebrio em algumas situaccedilotildees
47BRASIL Superior Tribunal de JusticcedilaREsp 1119740RJ Relator Min Massami Uyeda Julgamento
27092011Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJe 13102011 (grifou-se) Observe-se que embora se
discutisse acerca de relaccedilatildeo hoje caracterizada como de consumo natildeo se aplicou o Coacutedigo de Defesa do
Consumidor uma vez que o contrato em anaacutelise fora firmado antes da sua entrada em vigor
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
90
contratual estabelecida pelas partes de acordo com as especificidades da concreta relaccedilatildeo
negocial24 A boa-feacute objetiva ldquoconcorre na criaccedilatildeo da regula iuris do caso concretordquo25 mesmo
no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias construindo a disciplina negocial
non solo nel senso del completamento del regime lacunoso mediante
lidentificazione di obblighi aggiuntivi ma anche nel senso della modifica
sostanziale del dictum originario nel quadro di una rettifica destinata a garantire la
concreta realizzazione degli obiettivi complessivamente prefigurati dai paciscenti26
Cuida-se em verdade da concretizaccedilatildeo do princiacutepio constitucional da solidariedade
social na esfera contratual transformando as relaccedilotildees obrigacionais concebidas inicialmente
como o locus destinado agrave perseguiccedilatildeo egoiacutesta das satisfaccedilotildees individuais em espaccedilo de
cooperaccedilatildeo e solidariedade27 impondo aos contratantes que se empenhem em promover os
interesses da contraparte sem que isso importe outrossim em sacrifiacutecio de sua posiccedilatildeo
contratual de vantagem ou renuacutencia agraves situaccedilotildees de preponderacircncia No acircmbito de relaccedilotildees
paritaacuterias natildeo caracterizadas pela vulnerabilidade a boa-feacute objetiva deve ser concebida nos
seus exatos termos como princiacutepio que impotildee honestidade e lealdade atribuindo agraves partes
deveres de colaboraccedilatildeo condicionados e limitados pela funccedilatildeo econocircmica e social do negoacutecio
celebrado28 Em qualquer relaccedilatildeo contratual as partes inegavelmente concorrem entre si na
aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo de posiccedilotildees prevalentes e a ordem juriacutedica natildeo os impede de fazecirc-lo
afinal referida postura eacute mesmo da essecircncia das relaccedilotildees negociais A boa-feacute objetiva natildeo se
confunde em definitivo com atribuiccedilatildeo de funccedilatildeo abnegatoacuteria ou altruiacutesta ao contrato
Identificada a relevacircncia da boa-feacute objetiva como instrumento conformador da
autonomia privada largamente ratificada pela doutrina e jurisprudecircncia o desafio
contemporacircneo parece repousar na distinccedilatildeo de paracircmetros os mais diversos (poreacutem especiacuteficos)
possiacuteveis aplicaacuteveis agraves variadas relaccedilotildees contratuais que permitam ao operador do direito
24PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile cit p460
25No original ldquoconcorre a creare la regula iuris del caso concretordquo (PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto
civile citp461)
26SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede prospettive di diritto
europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli Editore 2007 p212 Em traduccedilatildeo livre ldquonatildeo
somente no sentido de corrigir o regime lacunoso mediante a identificaccedilatildeo das obrigaccedilotildees anexas mas tambeacutem
no sentido de modificar substancialmente o dictum originaacuterio no quadro de uma retificaccedilatildeo que visa garantir a
concreta realizaccedilatildeo dos objetivos conjuntamente prefigurados pelos contratantesrdquo
27NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar 2002 p117
28TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do Consumidor e no novo
Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos na perspectiva civil-constitucional Rio de
Janeiro Renovar 2005 p41 Na mesma direccedilatildeo confira-se Bianca ldquoEs necesario por lo tanto avanzar hasta
queacute punto la parte debe tener en cuenta los legiacutetimos intereses de la contraparte La especificacioacuten debe ser
buscada en el liacutemite del apreciable sacrificio que circunscribe el deber de buena fe precisamente la buena fe
requiere a la parte tener presente la utilidad de la contraparte en los liacutemites en los cuales ello no importe un
apreciable sacrificiordquo (BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil
el principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu cit p197 grifos no original)
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
91
analisar no caso concreto a legitimidade do ato de autonomia Imprescindiacutevel entretanto natildeo
cair na tentaccedilatildeo sempre presente insidiosamente de adotar abordagem tipificante da boa-feacute
objetiva criando verdadeiros tipos de comportamento aos quais a conduta concreta deveraacute ser
subsumida Abordagem nesse sentido se revelaria extremamente limitadora e contraacuteria agrave vocaccedilatildeo
expansiva da figura como instrumento de concretizaccedilatildeo do princiacutepio de solidariedade social
2 DA ANAacuteLISE PROCEDIMENTAL DA JUSTICcedilA CONTRATUAL AO PRINCIacutePIO
DO EQUILIacuteBRIO DAS POSICcedilOtildeES CONTRATUAIS
Ao lado da boa-feacute objetiva outro inafastaacutevel paracircmetro de legitimidade do exerciacutecio
da autonomia privada eacute a renovada concepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees
contratuais Tradicionalmente sempre se entendeu que o equiliacutebrio era aquele combinado
entre as partes29Analisava-se a justiccedila do contrato sob aspecto meramente procedimental
bastava que a avenccedila fosse fruto de consenso livre suficientemente ponderado e
adequadamente informado para ser considerada justa30 Nos dias atuais referida concepccedilatildeo
deu lugar ao entendimento segundo o qual a concreta afericcedilatildeo do equiliacutebrio requer o
balanceamentoentre dois princiacutepios constitucionais igualmente relevantes a livre iniciativa
fundamento constitucional da autonomia contratual e a solidariedade social
Nesse sentido embora se reconheccedila que o consenso informado seja instrumentode
realizaccedilatildeo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a constituir um valor instrumental e natildeo um valor
fim31eacute preciso dar um passo adiante A afericcedilatildeo do equiliacutebrio deve desprender-se da origem
29Exemplo desta orientaccedilatildeo eacute a seguinte explanaccedilatildeo de Joatildeo Baptista Villela ldquoContinuando pode-se cravar
mais fundo o punhal da razatildeo interrogativa por que natildeo haveria o que censurar quando eacute certo estar repousando
o contrato do exemplo sobre uma enorme disparidade entre as prestaccedilotildees Pela simples razatildeo de que natildeo eacute a
aritmeacutetica que define o estatuto juriacutedico do contrato senatildeo a vontade mesma dos contratantes Por que
transparentes motivos ou obscuras razotildees quiseram contratar nas condiccedilotildees indicadas eacute mateacuteria de sua livre
determinaccedilatildeo Fizeram-no interpretando as respectivas conveniecircncias ou ateacute ndash por que natildeo ndash cedendo a um
capricho de suas mentes Em regime poliacutetico de liberdade contratual soacute agraves mesmas partes cabe fazer (e a si
mesmas) essas perguntas O Estado natildeo tem porque intervir sob pena de estar invadindo um domiacutenio que natildeo eacute
o seu Se eacute assim deve-se concluir que o equiliacutebrio econocircmico-financeiro seria um conceito inuacutetil quem sabe
mesmo prejudicial De modo algum O que se tem de compreender eacute que o senhor do conceito satildeo as partesrdquo
(VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO Gustavo FACHIN
Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011
v3 p780)
30Ainda nesse sentido afirmando que a autonomia privada se sujeita apenas a controle de licitude e aquele de
ordem procedimental confira na doutrina italiana MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia
contrattuale(note minime sul controllo del contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio)
In Studi in onore di Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1204
31A observaccedilatildeo eacute de Enrico Minervini De acordo com o autor ldquoegrave vero quanto si sostiene abitualmente che
trasparenza e riequilibrio non possono essere identificati in quanto trasparenza non mira ad una tutela
sostanziale degli interessi in gioco bensigrave ad individuare le regole del gioco e quindi ad indicare come ci si
debba comportare corretamente sul mercato Tuttavia non vi egrave dubbio che il nesso di strumentalitagrave fra
trasparenza del contratto ed equilibrio normativo ed economico delle posizioni contrattuali sia particolarmente
rilevanterdquo (MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
92
voluntarista do negoacutecio de modo que a justiccedilado contrato emane natildeo apenas do acordo de
vontades que lhe daacute origem mas do merecimento de tutela do concreto regulamento Significa
entatildeo que se deve abandonar a anaacutelise voluntarista do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em
homenagem agrave investigaccedilatildeo pautada no especiacutefico programa contratual voltado agrave realizaccedilatildeo
dos interesses perseguidos pelas partes A justiccedila contratual deixa de ser avaliada com base na
vontade arbitraacuteria no subjetivismo dos contratantes e passa a depender da avaliaccedilatildeo concreta
do seu interesse a partir da especiacutefica disciplina contratual
O equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais natildeo abarca apenas a afericcedilatildeo do equiliacutebrio
econocircmico do contrato Cuida-se de anaacutelise mais ampla da relaccedilatildeo contratual identificada no
regulamento capaz de conciliar os interesses contrapostos das partes32A rigor didaticamente
eacute possiacutevel decompor o princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em dois aspectos do
mesmo fenocircmeno o princiacutepio do equiliacutebrio normativo e o princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico
do contrato33Natildeo haacute prevalecircncia de um aspecto sobre outro haacute complementaridade
conquanto nem sempre seja faacutecil distingui-los entre si34
O princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato tambeacutem designado equiliacutebrio
material recebeu tratamento tiacutemido praticamente insignificante do legislador de 2002 que
deixou de mencionaacute-lo expressamente limitando-se a disciplinar algumas de suas
manifestaccedilotildees a exemplo da lesatildeo (art 157) do estado de perigo (art 156) e da resoluccedilatildeo por
excessiva onerosidade (arts 478-480) Todavia em todos esses dispositivos o legislador
cedeu ao ranccedilo voluntarista do qual ainda natildeo se despiu por completo e acostou ao
desequiliacutebrio contratual requisitos ligados agrave vontade dos contratantes como ldquoinexperiecircnciardquo
ou ldquonecessidaderdquo ou entatildeo circunstacircncias ldquoextraordinaacuteriasrdquo que natildeo podiam ser previstas
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p18) Em traduccedilatildeo livre ldquoverdadeira eacute a afirmaccedilatildeo costumeira de
que transparecircncia e reequiliacutebrio natildeo podem ser identificados pois transparecircncia natildeo visa uma tutela substancial
dos interesses em jogo mas sim agrave individualizaccedilatildeo das regras do jogo e portanto a apontar como deve ser um
comportamento correto no mercado Contudo natildeo haacute duacutevida de que o nexo de instrumentalidade entre
transparecircncia do contrato e equiliacutebrio normativo e econocircmico das posiccedilotildees contratuais eacute particularmente
relevanterdquo
32PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi cit p170
33BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p39
34A rigor por vezes o perfil normativo acaba se traduzindo em valoraccedilatildeo econocircmica como destaca Pietro
Perlingieri ldquoa previsatildeo de uma compensaccedilatildeo voluntaacuteria regra normativa que incide sobre a forma de pagamento
e de satisfaccedilatildeo de creacuteditos e deacutebitos reciacuteprocos releva tambeacutem sob o perfil econocircmicordquo (PERLINGIERI Pietro O
direito civil na legalidade constitucional cit p412 nota 410) Como destaca Macario ldquola differenza dovrebbe
poter essere apprezzata sul piano delle conseguenze ossia in punto di rimedi allo squilibrio ma la normativa cui
normalmente ci si riferisce rende ardua siffatta distinzionerdquo(MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni
contrattuali ed autonomia privata nella subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle
posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131 nota 1) Em
traduccedilatildeo livre ldquoa diferenccedila deveria ser apreciada no plano das consequecircncias isto eacute no ato de remediar o
desequiliacutebrio mas a normativa agrave qual costuma-se remeter dificulta esta distinccedilatildeordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
93
pelas partes quando da celebraccedilatildeo do contrato a dificultar a configuraccedilatildeo do desequiliacutebrio de
forma objetiva35
Talvez por essa razatildeo doutrina e jurisprudecircncia tenham relegado por tanto tempo o
princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato a uma espeacutecie de princiacutepio de segunda
categoria natildeo merecendo aplicaccedilatildeo autocircnoma independente das expressas previsotildees legais e
de seus requisitos subjetivos Semelhante postura acaba por condicionar a justiccedila contratual
agravequela avaliaccedilatildeo procedimental jaacute referida se a manifestaccedilatildeo de vontade foi livre informada
consciente e ponderada o contrato eacute economicamente equilibrado
A afirmaccedilatildeo de um verdadeiro princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato requer
sua aplicaccedilatildeo desvinculada de requisitos subjetivos bem como das expressas positivaccedilotildees
feitas pelo legislador de 2002 Para tanto afigura-se imprescindiacutevel investigar que tipo de
desequiliacutebrio autoriza a intervenccedilatildeo judicial reequilibradora a fim de impedir o indesejaacutevel
estrangulamento da autonomia privada
Impotildee-se em primeiro lugar verificar se as vantagens ou benefiacutecios econocircmicos
conferidos agraves partes satildeo proporcionais entre si a despeito de qualquer juiacutezo acerca da higidez
procedimental da manifestaccedilatildeo de vontade vale dizer do adimplemento dos deveres de
informaccedilatildeo e da integridade do consentimento36A justiccedila contratual expressatildeo da justiccedila
comutativa natildeo requer equivalecircncia absoluta nas relaccedilotildees de troca mas proporcionalidade de
forma que nenhuma das partes decirc muito mais nem muito menos do que recebeu37 Como
advertem Rodolfo Sacco e Giorgio de Nova eacute um primeiro e graviacutessimo erro pensar que o
contrato seja uma operaccedilatildeo em que a soma das vantagens e das perdas das partes eacute igual a
zero Quem de boa-feacute tem em mente esse disparate afirmam os autores passaraacute todo o seu
tempo buscando regra que impeccedila um contratante de ganhar para impedir que o outro
35Para criacutetica ao tratamento dispensado ao princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato confira-se
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-122 especialmente
36PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p58
37De acordo com Pietro Perlingieri o princiacutepio de proporcionalidade parece ldquodestinato ad incidere
profondamente nella moderna concezione del contratto che in tal modo si allontana definitivamente dalla
tradizionale volontaristica interpretazione del principio pacta sunt servandardquo (PERLINGIERI PietroNuovi
profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21 n3 p560 2000) Em traduccedilatildeo livre o princiacutepio
de proporcionalidade parece ldquodestinado a afetar profundamente a moderna concepccedilatildeo de contrato que de tal
forma se distancia definitivamente da tradicional interpretaccedilatildeo voluntarista do princiacutepio pacta sunt servandardquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
94
contratante perca Evidentemente quem raciocina assim vecirc em cada intercacircmbio uma
extorsatildeo executada por uma parte em prejuiacutezo da outra38
A proporcionalidade portanto consiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo
concretizada segundo a boa-feacute objetiva39 A anaacutelise eacute objetiva e independe de qualquer
consideraccedilatildeo de aspectos subjetivos relacionados agrave manifestaccedilatildeo de vontade como
inexperiecircncia ou necessidade
Verificado que haacute efetivamente desproporcionalidade entre os benefiacutecios
econocircmicos auferidos pelas partes investiga-se se o desequiliacutebrio se justifica diante da
economia contratual40 A anaacutelise do concreto regulamento de interesses da disciplina
estabelecida pela autonomia privada indicaraacute se a despeito de economicamente desequilibrado
o favorecimento normativo da parte em desvantagem econocircmica reequilibra a balanccedila
conduzindo ao equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais
Conforme jaacute se afirmou equiliacutebrio econocircmico e equiliacutebrio normativo encerram
aspectos complementares do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais pelo que eacute
possiacutevel que um desequiliacutebrio econocircmico se justifique no acircmbito do concreto negoacutecio
juriacutedico em razatildeo de algum poder ou direito conferido ao contratante Mais uma vez
38SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di diritto civile 3ed
Torino UTET 2004 t 1 p17-18
39PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional citp413-414 Observe-se que a doutrina
italiana distingue o princiacutepio da proporcionalidade do princiacutepio da razoabilidade nos seguintes termos ldquoA
operatividade do princiacutepio da proporcionalidade nos contratos parece confiada a uma conexatildeo entre elementos de
confrontaccedilatildeo homogecircneos comparaacuteveise quantificaacuteveis A proporcionalidade tem valor no plano quantitativo e
determina mas nem sempre a consequecircncia da reduccedilatildeo do contrato Vice-versa quando a coligaccedilatildeo eacute entre
elementos natildeo homogecircneos natildeo comparaacuteveis que envolvem interesses natildeo quantificaacuteveis por exemplo natildeo
patrimoniais o resultado eacute uma ponderaccedilatildeo entre eles que natildeo se pode traduzir no plano da quantidade mas
exige necessariamente uma valoraccedilatildeo qualitativa Em tais hipoacuteteses entram em funccedilatildeo seja o princiacutepio da
razoabilidade seja o princiacutepio da adequaccedilatildeo O merecimento de tutela portanto natildeo pode se inspirar
exclusivamente no aspecto quantitativo Com efeito a proporcionalidadeconsiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo e
configura portanto um paracircmetro ulterior e sucessivo em relaccedilatildeo agravequele de razoabilidade (vista como justificaccedilatildeo
abstrata) uma diversa modalidade de valorar a entidade do interesse patrimonial ou seja a medida da sua proteccedilatildeo
juriacutedica em comparaccedilatildeo e ponderaccedilatildeo com aquela de outros interesses O princiacutepio da proporcionalidade eacute
portanto uma norma aplicaacutevel tambeacutem quando faltam regras ad hoc a ser coordenada com outros princiacutepios
sistematicamente a ele coligados utilizaacuteveis em sede hermenecircutica O princiacutepio da proporcionalidade embora
operativo entre elementos quantificaacuteveis constitui um daqueles momentos normativos de relevacircncia axioloacutegica os
quais contribuem para recuperar a coerecircncia e eficiecircncia ao sistema juriacutedico e correta competitividade concorrencial ao
mercado no justo equiliacutebrio entre liberdade e solidariedade liberdade e merecimento de tutela dos conteuacutedosrdquo
(p406-407) A distinccedilatildeo embora relevante no direito italiano natildeo assume destaque no direito brasileiro pelo
que se utilizaraacute nesta tese a proporcionalidade tanto para comparar interesses homogecircneos quanto aqueles
heterogecircneos semdescurar evidentemente da superior hierarquia dos interesses existenciais em relaccedilatildeo aos patrimoniais
40Nessa toada pondera Mauro Grondona que ldquoloperazione di analisi e di costruzione ermeneutica che il
giudice dovrebbe compiere egrave proprio quella di accertare le ragioni di tale squilibrio onde valutare se esso sia
(o possa essere) ragionevolmente giustificato in forza di uno stringente esame delleconomia del contrattordquo
(GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto I Contratti Milano v21 n11 p1029 2013) Em traduccedilatildeo livre ldquoa operaccedilatildeo de anaacutelise e de
construccedilatildeo hermenecircutica que o juiz deveria cumprir eacute exatamente aquela de aferir as razotildees desse desequiliacutebrio
para avaliar se ele eacute (ou pode ser) razoavelmente justificado a partir de um exame apurado da economia do
contratordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
95
reafirma-se a necessidade de analisar o concreto regulamento de interesses em sua unidade jaacute
que somente a partir do todo eacute possiacutevel avaliar fidedignamente o merecimento de tutela de
seus diversos aspectos
Constatado o desproporcional desequiliacutebrio econocircmico e a inexistecircncia de qualquer
vantagem normativa que reequilibre as posiccedilotildees contratuais presumir-se-aacute a violaccedilatildeo ao
princiacutepio do equiliacutebrio A presunccedilatildeo poderaacute ser afastada se restar comprovado que a parte
contra quem o contrato estaacute desequilibrado ostenta interesse legiacutetimo mesmo natildeo patrimonial
que justifique o desequiliacutebrio41 Embora a regra seja o relativo equiliacutebrio econocircmico
nadaimpede que no caso concreto uma das partes assuma deliberada e justificadamente o risco
de um desequiliacutebrio manifesto42
Nesses casos o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais resta atendido em face do
merecimento de tutela dos interesses em jogo pelo que a autonomia privada deve ser
prestigiada e o contrato haacute de ser mantido consoante pactuado pelas partes Alterar o
equiliacutebrio econocircmico original nessas circunstacircncias natildeo significa reequilibrar o contrato mas
atribuir ao contrato um equiliacutebrio diverso daquele expresso pelo regulamento negocial
subtraindo ex post de uma das partes algumas utilidades econocircmicas esperadas com a
celebraccedilatildeo do contrato sob o argumento de que o desequiliacutebrio eacute prova certa de patologia43
O princiacutepio do equiliacutebrio normativo a seu turno exige que a disciplina contratual seja
equilibrada a conferir direitos e obrigaccedilotildees de forma proporcional a ambas as partes Mais
uma vez a proporcionalidade natildeo visa garantir equivalecircncia entre os poderes atribuiacutedos aos
contratantes mas impedir desproporccedilatildeo excessiva e injustificada entre eles Assim como em
relaccedilatildeo ao equiliacutebrio econocircmico a mobilidade do equiliacutebrionormativo tendencialmente mutaacutevel
de contrato para contrato afasta qualquer tentativa de anaacutelise abstrata do fenocircmeno44
O perfil normativo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais vai ao encontro da ordem
constitucional contemporacircnea promovendo a igualdade substancial entre as partes Enquanto
41De acordo com Perlingieri em algumas situaccedilotildees ldquoo equiliacutebrio entre as prestaccedilotildees deve ser individuado
prescindindo das avaliaccedilotildees de mercado relativas a um bem tendo-se em conta poreacutem eventuais interesses natildeo
patrimoniais exigecircncias sentimentais e afetivas os quis podem determinar um valor diverso para o proacuteprio bemrdquo
(PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidadeconstitucional cit p412) Em outra sede afirma o mesmo
autor ldquorisulta assolutamente necessario distinguere la valutazione economica della prestazione dagli interessi
a volte non patrimoniali che caratterizzano il contrattordquo(PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e
principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p50) Em traduccedilatildeo livre
ldquoresulta absolutamente necessaacuterio distinguir a valoraccedilatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo dos interesses agraves vezes natildeo
patrimoniais que caracterizam o contratordquo
42SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo cit p133
43GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto cit p1029-1030
44BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori cit p41
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
96
o perfil econocircmico do equiliacutebrio contratual se volta para a tutela patrimonial dos contratantes e
se guia sobretudo por loacutegica eminentementemercadoloacutegica o perfil normativo comporta a tutela
tambeacutem de valores existenciais ao viabilizaro controle da autonomia privada a partir de
paracircmetros que natildeo o econocircmico a exemplo da vulnerabilidade Nesse sentido o princiacutepio do
equiliacutebrio normativo permite reequilibrar a disciplina contratual para aleacutem das situaccedilotildees em
que o regulamento de interesses ameaccedila o patrimocircnio de um dos contratantes contemplando
hipoacuteteses em que a ameaccedila se coloca contra sua proacutepria existecircncia digna mormente diante de
vulnerabilidade existencial45 Eacute a promoccedilatildeo do equiliacutebrio normativo por exemplo que
justifica a intervenccedilatildeo legislativa que proiacutebe claacuteusulas de reajuste da mensalidade de plano de
sauacutede por faixa etaacuteria46
O princiacutepio encontra plena aplicabilidade inclusive no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias em
que natildeo haacute vulnerabilidade a ser prioritariamente tutelada Com efeito parece inspirar-se no
princiacutepio do equiliacutebrio normativo a aplicaccedilatildeo da claacuteusula penal em favor de todos os contratantes
ainda que prevista em benefiacutecio exclusivo de uma das partes Embora natildeo se identifique
nominalmente o fundamento dessa extensatildeo no equiliacutebrio normativo a jurisprudecircncia a
justifica na proporcionalidade e na razoabilidade que satildeo como apontado paracircmetros de
afericcedilatildeo do equiliacutebrio normativo Emblemaacutetico nesse sentido o voto do Ministro Massami
Uyeda nos autos do Recurso Especial 1119740RJ
Caracterizadas portanto as reciacuteprocas obrigaccedilotildees entabuladas pelas partes natildeo seria
razoaacutevel nem proporcional que para uma delas o descumprimentocontratual seguisse a
claacuteusula previamente redigida na avenccedila de execuccedilatildeomais simples e para o outro
caminho diverso de execuccedilatildeo mais complexa Entender-se de forma diversa eacute o mesmo
que tratar os iguais desigualmente pois enquanto no descumprimento por parte do
promitente-comprador jaacute estaria definido o quantum indenizatoacuterio sem a
possibilidade de quaisquer discussotildees o inadimplemento do promitente-vendedor
daria azo a discussotildees acerca do efetivo prejuiacutezo sofrido pelo comprador47
45Carlos Nelson Konder traccedila fundamental distinccedilatildeo entre a vulnerabilidade patrimonial e aquela existencial
advogando a favor da elaboraccedilatildeo de instrumentos de tutela proacuteprios voltados para pessoas que se enquadrem
nesta uacuteltima categoria De acordo com o autor ldquoa vulnerabilidade existencial seria a situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva
em que o titular se encontra sob maior suscetibilidade de ser lesionado na sua esfera extrapatrimonial impondo a
aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas de tutela diferenciada para a satisfaccedilatildeo do princiacutepio da dignidade da pessoa
humanardquo (KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um sistema
diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p111 maiojun 2015)
46Lei no 107412003 art 15 sect 3
o Confira-se na jurisprudecircncia o leading case acerca do tema BRASIL
Superior Tribunal de Justiccedila REsp 809329RJ Relator(a) Ministra Nancy Andrighi Julgamento 25032008
Oacutergatildeo Julgador 3aTurma Publicaccedilatildeo DJe 11042008 Trata-se de situaccedilatildeo em que o equiliacutebrio normativo
repercute diretamente sobre o equiliacutebrio econocircmico daiacute a dificuldade jaacute apontada de distinguir de forma
absoluta os dois perfis do equiliacutebrio em algumas situaccedilotildees
47BRASIL Superior Tribunal de JusticcedilaREsp 1119740RJ Relator Min Massami Uyeda Julgamento
27092011Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJe 13102011 (grifou-se) Observe-se que embora se
discutisse acerca de relaccedilatildeo hoje caracterizada como de consumo natildeo se aplicou o Coacutedigo de Defesa do
Consumidor uma vez que o contrato em anaacutelise fora firmado antes da sua entrada em vigor
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
91
analisar no caso concreto a legitimidade do ato de autonomia Imprescindiacutevel entretanto natildeo
cair na tentaccedilatildeo sempre presente insidiosamente de adotar abordagem tipificante da boa-feacute
objetiva criando verdadeiros tipos de comportamento aos quais a conduta concreta deveraacute ser
subsumida Abordagem nesse sentido se revelaria extremamente limitadora e contraacuteria agrave vocaccedilatildeo
expansiva da figura como instrumento de concretizaccedilatildeo do princiacutepio de solidariedade social
2 DA ANAacuteLISE PROCEDIMENTAL DA JUSTICcedilA CONTRATUAL AO PRINCIacutePIO
DO EQUILIacuteBRIO DAS POSICcedilOtildeES CONTRATUAIS
Ao lado da boa-feacute objetiva outro inafastaacutevel paracircmetro de legitimidade do exerciacutecio
da autonomia privada eacute a renovada concepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees
contratuais Tradicionalmente sempre se entendeu que o equiliacutebrio era aquele combinado
entre as partes29Analisava-se a justiccedila do contrato sob aspecto meramente procedimental
bastava que a avenccedila fosse fruto de consenso livre suficientemente ponderado e
adequadamente informado para ser considerada justa30 Nos dias atuais referida concepccedilatildeo
deu lugar ao entendimento segundo o qual a concreta afericcedilatildeo do equiliacutebrio requer o
balanceamentoentre dois princiacutepios constitucionais igualmente relevantes a livre iniciativa
fundamento constitucional da autonomia contratual e a solidariedade social
Nesse sentido embora se reconheccedila que o consenso informado seja instrumentode
realizaccedilatildeo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a constituir um valor instrumental e natildeo um valor
fim31eacute preciso dar um passo adiante A afericcedilatildeo do equiliacutebrio deve desprender-se da origem
29Exemplo desta orientaccedilatildeo eacute a seguinte explanaccedilatildeo de Joatildeo Baptista Villela ldquoContinuando pode-se cravar
mais fundo o punhal da razatildeo interrogativa por que natildeo haveria o que censurar quando eacute certo estar repousando
o contrato do exemplo sobre uma enorme disparidade entre as prestaccedilotildees Pela simples razatildeo de que natildeo eacute a
aritmeacutetica que define o estatuto juriacutedico do contrato senatildeo a vontade mesma dos contratantes Por que
transparentes motivos ou obscuras razotildees quiseram contratar nas condiccedilotildees indicadas eacute mateacuteria de sua livre
determinaccedilatildeo Fizeram-no interpretando as respectivas conveniecircncias ou ateacute ndash por que natildeo ndash cedendo a um
capricho de suas mentes Em regime poliacutetico de liberdade contratual soacute agraves mesmas partes cabe fazer (e a si
mesmas) essas perguntas O Estado natildeo tem porque intervir sob pena de estar invadindo um domiacutenio que natildeo eacute
o seu Se eacute assim deve-se concluir que o equiliacutebrio econocircmico-financeiro seria um conceito inuacutetil quem sabe
mesmo prejudicial De modo algum O que se tem de compreender eacute que o senhor do conceito satildeo as partesrdquo
(VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO Gustavo FACHIN
Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011
v3 p780)
30Ainda nesse sentido afirmando que a autonomia privada se sujeita apenas a controle de licitude e aquele de
ordem procedimental confira na doutrina italiana MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia
contrattuale(note minime sul controllo del contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio)
In Studi in onore di Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1204
31A observaccedilatildeo eacute de Enrico Minervini De acordo com o autor ldquoegrave vero quanto si sostiene abitualmente che
trasparenza e riequilibrio non possono essere identificati in quanto trasparenza non mira ad una tutela
sostanziale degli interessi in gioco bensigrave ad individuare le regole del gioco e quindi ad indicare come ci si
debba comportare corretamente sul mercato Tuttavia non vi egrave dubbio che il nesso di strumentalitagrave fra
trasparenza del contratto ed equilibrio normativo ed economico delle posizioni contrattuali sia particolarmente
rilevanterdquo (MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
92
voluntarista do negoacutecio de modo que a justiccedilado contrato emane natildeo apenas do acordo de
vontades que lhe daacute origem mas do merecimento de tutela do concreto regulamento Significa
entatildeo que se deve abandonar a anaacutelise voluntarista do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em
homenagem agrave investigaccedilatildeo pautada no especiacutefico programa contratual voltado agrave realizaccedilatildeo
dos interesses perseguidos pelas partes A justiccedila contratual deixa de ser avaliada com base na
vontade arbitraacuteria no subjetivismo dos contratantes e passa a depender da avaliaccedilatildeo concreta
do seu interesse a partir da especiacutefica disciplina contratual
O equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais natildeo abarca apenas a afericcedilatildeo do equiliacutebrio
econocircmico do contrato Cuida-se de anaacutelise mais ampla da relaccedilatildeo contratual identificada no
regulamento capaz de conciliar os interesses contrapostos das partes32A rigor didaticamente
eacute possiacutevel decompor o princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em dois aspectos do
mesmo fenocircmeno o princiacutepio do equiliacutebrio normativo e o princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico
do contrato33Natildeo haacute prevalecircncia de um aspecto sobre outro haacute complementaridade
conquanto nem sempre seja faacutecil distingui-los entre si34
O princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato tambeacutem designado equiliacutebrio
material recebeu tratamento tiacutemido praticamente insignificante do legislador de 2002 que
deixou de mencionaacute-lo expressamente limitando-se a disciplinar algumas de suas
manifestaccedilotildees a exemplo da lesatildeo (art 157) do estado de perigo (art 156) e da resoluccedilatildeo por
excessiva onerosidade (arts 478-480) Todavia em todos esses dispositivos o legislador
cedeu ao ranccedilo voluntarista do qual ainda natildeo se despiu por completo e acostou ao
desequiliacutebrio contratual requisitos ligados agrave vontade dos contratantes como ldquoinexperiecircnciardquo
ou ldquonecessidaderdquo ou entatildeo circunstacircncias ldquoextraordinaacuteriasrdquo que natildeo podiam ser previstas
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p18) Em traduccedilatildeo livre ldquoverdadeira eacute a afirmaccedilatildeo costumeira de
que transparecircncia e reequiliacutebrio natildeo podem ser identificados pois transparecircncia natildeo visa uma tutela substancial
dos interesses em jogo mas sim agrave individualizaccedilatildeo das regras do jogo e portanto a apontar como deve ser um
comportamento correto no mercado Contudo natildeo haacute duacutevida de que o nexo de instrumentalidade entre
transparecircncia do contrato e equiliacutebrio normativo e econocircmico das posiccedilotildees contratuais eacute particularmente
relevanterdquo
32PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi cit p170
33BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p39
34A rigor por vezes o perfil normativo acaba se traduzindo em valoraccedilatildeo econocircmica como destaca Pietro
Perlingieri ldquoa previsatildeo de uma compensaccedilatildeo voluntaacuteria regra normativa que incide sobre a forma de pagamento
e de satisfaccedilatildeo de creacuteditos e deacutebitos reciacuteprocos releva tambeacutem sob o perfil econocircmicordquo (PERLINGIERI Pietro O
direito civil na legalidade constitucional cit p412 nota 410) Como destaca Macario ldquola differenza dovrebbe
poter essere apprezzata sul piano delle conseguenze ossia in punto di rimedi allo squilibrio ma la normativa cui
normalmente ci si riferisce rende ardua siffatta distinzionerdquo(MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni
contrattuali ed autonomia privata nella subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle
posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131 nota 1) Em
traduccedilatildeo livre ldquoa diferenccedila deveria ser apreciada no plano das consequecircncias isto eacute no ato de remediar o
desequiliacutebrio mas a normativa agrave qual costuma-se remeter dificulta esta distinccedilatildeordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
93
pelas partes quando da celebraccedilatildeo do contrato a dificultar a configuraccedilatildeo do desequiliacutebrio de
forma objetiva35
Talvez por essa razatildeo doutrina e jurisprudecircncia tenham relegado por tanto tempo o
princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato a uma espeacutecie de princiacutepio de segunda
categoria natildeo merecendo aplicaccedilatildeo autocircnoma independente das expressas previsotildees legais e
de seus requisitos subjetivos Semelhante postura acaba por condicionar a justiccedila contratual
agravequela avaliaccedilatildeo procedimental jaacute referida se a manifestaccedilatildeo de vontade foi livre informada
consciente e ponderada o contrato eacute economicamente equilibrado
A afirmaccedilatildeo de um verdadeiro princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato requer
sua aplicaccedilatildeo desvinculada de requisitos subjetivos bem como das expressas positivaccedilotildees
feitas pelo legislador de 2002 Para tanto afigura-se imprescindiacutevel investigar que tipo de
desequiliacutebrio autoriza a intervenccedilatildeo judicial reequilibradora a fim de impedir o indesejaacutevel
estrangulamento da autonomia privada
Impotildee-se em primeiro lugar verificar se as vantagens ou benefiacutecios econocircmicos
conferidos agraves partes satildeo proporcionais entre si a despeito de qualquer juiacutezo acerca da higidez
procedimental da manifestaccedilatildeo de vontade vale dizer do adimplemento dos deveres de
informaccedilatildeo e da integridade do consentimento36A justiccedila contratual expressatildeo da justiccedila
comutativa natildeo requer equivalecircncia absoluta nas relaccedilotildees de troca mas proporcionalidade de
forma que nenhuma das partes decirc muito mais nem muito menos do que recebeu37 Como
advertem Rodolfo Sacco e Giorgio de Nova eacute um primeiro e graviacutessimo erro pensar que o
contrato seja uma operaccedilatildeo em que a soma das vantagens e das perdas das partes eacute igual a
zero Quem de boa-feacute tem em mente esse disparate afirmam os autores passaraacute todo o seu
tempo buscando regra que impeccedila um contratante de ganhar para impedir que o outro
35Para criacutetica ao tratamento dispensado ao princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato confira-se
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-122 especialmente
36PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p58
37De acordo com Pietro Perlingieri o princiacutepio de proporcionalidade parece ldquodestinato ad incidere
profondamente nella moderna concezione del contratto che in tal modo si allontana definitivamente dalla
tradizionale volontaristica interpretazione del principio pacta sunt servandardquo (PERLINGIERI PietroNuovi
profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21 n3 p560 2000) Em traduccedilatildeo livre o princiacutepio
de proporcionalidade parece ldquodestinado a afetar profundamente a moderna concepccedilatildeo de contrato que de tal
forma se distancia definitivamente da tradicional interpretaccedilatildeo voluntarista do princiacutepio pacta sunt servandardquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
94
contratante perca Evidentemente quem raciocina assim vecirc em cada intercacircmbio uma
extorsatildeo executada por uma parte em prejuiacutezo da outra38
A proporcionalidade portanto consiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo
concretizada segundo a boa-feacute objetiva39 A anaacutelise eacute objetiva e independe de qualquer
consideraccedilatildeo de aspectos subjetivos relacionados agrave manifestaccedilatildeo de vontade como
inexperiecircncia ou necessidade
Verificado que haacute efetivamente desproporcionalidade entre os benefiacutecios
econocircmicos auferidos pelas partes investiga-se se o desequiliacutebrio se justifica diante da
economia contratual40 A anaacutelise do concreto regulamento de interesses da disciplina
estabelecida pela autonomia privada indicaraacute se a despeito de economicamente desequilibrado
o favorecimento normativo da parte em desvantagem econocircmica reequilibra a balanccedila
conduzindo ao equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais
Conforme jaacute se afirmou equiliacutebrio econocircmico e equiliacutebrio normativo encerram
aspectos complementares do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais pelo que eacute
possiacutevel que um desequiliacutebrio econocircmico se justifique no acircmbito do concreto negoacutecio
juriacutedico em razatildeo de algum poder ou direito conferido ao contratante Mais uma vez
38SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di diritto civile 3ed
Torino UTET 2004 t 1 p17-18
39PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional citp413-414 Observe-se que a doutrina
italiana distingue o princiacutepio da proporcionalidade do princiacutepio da razoabilidade nos seguintes termos ldquoA
operatividade do princiacutepio da proporcionalidade nos contratos parece confiada a uma conexatildeo entre elementos de
confrontaccedilatildeo homogecircneos comparaacuteveise quantificaacuteveis A proporcionalidade tem valor no plano quantitativo e
determina mas nem sempre a consequecircncia da reduccedilatildeo do contrato Vice-versa quando a coligaccedilatildeo eacute entre
elementos natildeo homogecircneos natildeo comparaacuteveis que envolvem interesses natildeo quantificaacuteveis por exemplo natildeo
patrimoniais o resultado eacute uma ponderaccedilatildeo entre eles que natildeo se pode traduzir no plano da quantidade mas
exige necessariamente uma valoraccedilatildeo qualitativa Em tais hipoacuteteses entram em funccedilatildeo seja o princiacutepio da
razoabilidade seja o princiacutepio da adequaccedilatildeo O merecimento de tutela portanto natildeo pode se inspirar
exclusivamente no aspecto quantitativo Com efeito a proporcionalidadeconsiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo e
configura portanto um paracircmetro ulterior e sucessivo em relaccedilatildeo agravequele de razoabilidade (vista como justificaccedilatildeo
abstrata) uma diversa modalidade de valorar a entidade do interesse patrimonial ou seja a medida da sua proteccedilatildeo
juriacutedica em comparaccedilatildeo e ponderaccedilatildeo com aquela de outros interesses O princiacutepio da proporcionalidade eacute
portanto uma norma aplicaacutevel tambeacutem quando faltam regras ad hoc a ser coordenada com outros princiacutepios
sistematicamente a ele coligados utilizaacuteveis em sede hermenecircutica O princiacutepio da proporcionalidade embora
operativo entre elementos quantificaacuteveis constitui um daqueles momentos normativos de relevacircncia axioloacutegica os
quais contribuem para recuperar a coerecircncia e eficiecircncia ao sistema juriacutedico e correta competitividade concorrencial ao
mercado no justo equiliacutebrio entre liberdade e solidariedade liberdade e merecimento de tutela dos conteuacutedosrdquo
(p406-407) A distinccedilatildeo embora relevante no direito italiano natildeo assume destaque no direito brasileiro pelo
que se utilizaraacute nesta tese a proporcionalidade tanto para comparar interesses homogecircneos quanto aqueles
heterogecircneos semdescurar evidentemente da superior hierarquia dos interesses existenciais em relaccedilatildeo aos patrimoniais
40Nessa toada pondera Mauro Grondona que ldquoloperazione di analisi e di costruzione ermeneutica che il
giudice dovrebbe compiere egrave proprio quella di accertare le ragioni di tale squilibrio onde valutare se esso sia
(o possa essere) ragionevolmente giustificato in forza di uno stringente esame delleconomia del contrattordquo
(GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto I Contratti Milano v21 n11 p1029 2013) Em traduccedilatildeo livre ldquoa operaccedilatildeo de anaacutelise e de
construccedilatildeo hermenecircutica que o juiz deveria cumprir eacute exatamente aquela de aferir as razotildees desse desequiliacutebrio
para avaliar se ele eacute (ou pode ser) razoavelmente justificado a partir de um exame apurado da economia do
contratordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
95
reafirma-se a necessidade de analisar o concreto regulamento de interesses em sua unidade jaacute
que somente a partir do todo eacute possiacutevel avaliar fidedignamente o merecimento de tutela de
seus diversos aspectos
Constatado o desproporcional desequiliacutebrio econocircmico e a inexistecircncia de qualquer
vantagem normativa que reequilibre as posiccedilotildees contratuais presumir-se-aacute a violaccedilatildeo ao
princiacutepio do equiliacutebrio A presunccedilatildeo poderaacute ser afastada se restar comprovado que a parte
contra quem o contrato estaacute desequilibrado ostenta interesse legiacutetimo mesmo natildeo patrimonial
que justifique o desequiliacutebrio41 Embora a regra seja o relativo equiliacutebrio econocircmico
nadaimpede que no caso concreto uma das partes assuma deliberada e justificadamente o risco
de um desequiliacutebrio manifesto42
Nesses casos o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais resta atendido em face do
merecimento de tutela dos interesses em jogo pelo que a autonomia privada deve ser
prestigiada e o contrato haacute de ser mantido consoante pactuado pelas partes Alterar o
equiliacutebrio econocircmico original nessas circunstacircncias natildeo significa reequilibrar o contrato mas
atribuir ao contrato um equiliacutebrio diverso daquele expresso pelo regulamento negocial
subtraindo ex post de uma das partes algumas utilidades econocircmicas esperadas com a
celebraccedilatildeo do contrato sob o argumento de que o desequiliacutebrio eacute prova certa de patologia43
O princiacutepio do equiliacutebrio normativo a seu turno exige que a disciplina contratual seja
equilibrada a conferir direitos e obrigaccedilotildees de forma proporcional a ambas as partes Mais
uma vez a proporcionalidade natildeo visa garantir equivalecircncia entre os poderes atribuiacutedos aos
contratantes mas impedir desproporccedilatildeo excessiva e injustificada entre eles Assim como em
relaccedilatildeo ao equiliacutebrio econocircmico a mobilidade do equiliacutebrionormativo tendencialmente mutaacutevel
de contrato para contrato afasta qualquer tentativa de anaacutelise abstrata do fenocircmeno44
O perfil normativo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais vai ao encontro da ordem
constitucional contemporacircnea promovendo a igualdade substancial entre as partes Enquanto
41De acordo com Perlingieri em algumas situaccedilotildees ldquoo equiliacutebrio entre as prestaccedilotildees deve ser individuado
prescindindo das avaliaccedilotildees de mercado relativas a um bem tendo-se em conta poreacutem eventuais interesses natildeo
patrimoniais exigecircncias sentimentais e afetivas os quis podem determinar um valor diverso para o proacuteprio bemrdquo
(PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidadeconstitucional cit p412) Em outra sede afirma o mesmo
autor ldquorisulta assolutamente necessario distinguere la valutazione economica della prestazione dagli interessi
a volte non patrimoniali che caratterizzano il contrattordquo(PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e
principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p50) Em traduccedilatildeo livre
ldquoresulta absolutamente necessaacuterio distinguir a valoraccedilatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo dos interesses agraves vezes natildeo
patrimoniais que caracterizam o contratordquo
42SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo cit p133
43GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto cit p1029-1030
44BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori cit p41
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
96
o perfil econocircmico do equiliacutebrio contratual se volta para a tutela patrimonial dos contratantes e
se guia sobretudo por loacutegica eminentementemercadoloacutegica o perfil normativo comporta a tutela
tambeacutem de valores existenciais ao viabilizaro controle da autonomia privada a partir de
paracircmetros que natildeo o econocircmico a exemplo da vulnerabilidade Nesse sentido o princiacutepio do
equiliacutebrio normativo permite reequilibrar a disciplina contratual para aleacutem das situaccedilotildees em
que o regulamento de interesses ameaccedila o patrimocircnio de um dos contratantes contemplando
hipoacuteteses em que a ameaccedila se coloca contra sua proacutepria existecircncia digna mormente diante de
vulnerabilidade existencial45 Eacute a promoccedilatildeo do equiliacutebrio normativo por exemplo que
justifica a intervenccedilatildeo legislativa que proiacutebe claacuteusulas de reajuste da mensalidade de plano de
sauacutede por faixa etaacuteria46
O princiacutepio encontra plena aplicabilidade inclusive no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias em
que natildeo haacute vulnerabilidade a ser prioritariamente tutelada Com efeito parece inspirar-se no
princiacutepio do equiliacutebrio normativo a aplicaccedilatildeo da claacuteusula penal em favor de todos os contratantes
ainda que prevista em benefiacutecio exclusivo de uma das partes Embora natildeo se identifique
nominalmente o fundamento dessa extensatildeo no equiliacutebrio normativo a jurisprudecircncia a
justifica na proporcionalidade e na razoabilidade que satildeo como apontado paracircmetros de
afericcedilatildeo do equiliacutebrio normativo Emblemaacutetico nesse sentido o voto do Ministro Massami
Uyeda nos autos do Recurso Especial 1119740RJ
Caracterizadas portanto as reciacuteprocas obrigaccedilotildees entabuladas pelas partes natildeo seria
razoaacutevel nem proporcional que para uma delas o descumprimentocontratual seguisse a
claacuteusula previamente redigida na avenccedila de execuccedilatildeomais simples e para o outro
caminho diverso de execuccedilatildeo mais complexa Entender-se de forma diversa eacute o mesmo
que tratar os iguais desigualmente pois enquanto no descumprimento por parte do
promitente-comprador jaacute estaria definido o quantum indenizatoacuterio sem a
possibilidade de quaisquer discussotildees o inadimplemento do promitente-vendedor
daria azo a discussotildees acerca do efetivo prejuiacutezo sofrido pelo comprador47
45Carlos Nelson Konder traccedila fundamental distinccedilatildeo entre a vulnerabilidade patrimonial e aquela existencial
advogando a favor da elaboraccedilatildeo de instrumentos de tutela proacuteprios voltados para pessoas que se enquadrem
nesta uacuteltima categoria De acordo com o autor ldquoa vulnerabilidade existencial seria a situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva
em que o titular se encontra sob maior suscetibilidade de ser lesionado na sua esfera extrapatrimonial impondo a
aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas de tutela diferenciada para a satisfaccedilatildeo do princiacutepio da dignidade da pessoa
humanardquo (KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um sistema
diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p111 maiojun 2015)
46Lei no 107412003 art 15 sect 3
o Confira-se na jurisprudecircncia o leading case acerca do tema BRASIL
Superior Tribunal de Justiccedila REsp 809329RJ Relator(a) Ministra Nancy Andrighi Julgamento 25032008
Oacutergatildeo Julgador 3aTurma Publicaccedilatildeo DJe 11042008 Trata-se de situaccedilatildeo em que o equiliacutebrio normativo
repercute diretamente sobre o equiliacutebrio econocircmico daiacute a dificuldade jaacute apontada de distinguir de forma
absoluta os dois perfis do equiliacutebrio em algumas situaccedilotildees
47BRASIL Superior Tribunal de JusticcedilaREsp 1119740RJ Relator Min Massami Uyeda Julgamento
27092011Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJe 13102011 (grifou-se) Observe-se que embora se
discutisse acerca de relaccedilatildeo hoje caracterizada como de consumo natildeo se aplicou o Coacutedigo de Defesa do
Consumidor uma vez que o contrato em anaacutelise fora firmado antes da sua entrada em vigor
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
92
voluntarista do negoacutecio de modo que a justiccedilado contrato emane natildeo apenas do acordo de
vontades que lhe daacute origem mas do merecimento de tutela do concreto regulamento Significa
entatildeo que se deve abandonar a anaacutelise voluntarista do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em
homenagem agrave investigaccedilatildeo pautada no especiacutefico programa contratual voltado agrave realizaccedilatildeo
dos interesses perseguidos pelas partes A justiccedila contratual deixa de ser avaliada com base na
vontade arbitraacuteria no subjetivismo dos contratantes e passa a depender da avaliaccedilatildeo concreta
do seu interesse a partir da especiacutefica disciplina contratual
O equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais natildeo abarca apenas a afericcedilatildeo do equiliacutebrio
econocircmico do contrato Cuida-se de anaacutelise mais ampla da relaccedilatildeo contratual identificada no
regulamento capaz de conciliar os interesses contrapostos das partes32A rigor didaticamente
eacute possiacutevel decompor o princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais em dois aspectos do
mesmo fenocircmeno o princiacutepio do equiliacutebrio normativo e o princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico
do contrato33Natildeo haacute prevalecircncia de um aspecto sobre outro haacute complementaridade
conquanto nem sempre seja faacutecil distingui-los entre si34
O princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato tambeacutem designado equiliacutebrio
material recebeu tratamento tiacutemido praticamente insignificante do legislador de 2002 que
deixou de mencionaacute-lo expressamente limitando-se a disciplinar algumas de suas
manifestaccedilotildees a exemplo da lesatildeo (art 157) do estado de perigo (art 156) e da resoluccedilatildeo por
excessiva onerosidade (arts 478-480) Todavia em todos esses dispositivos o legislador
cedeu ao ranccedilo voluntarista do qual ainda natildeo se despiu por completo e acostou ao
desequiliacutebrio contratual requisitos ligados agrave vontade dos contratantes como ldquoinexperiecircnciardquo
ou ldquonecessidaderdquo ou entatildeo circunstacircncias ldquoextraordinaacuteriasrdquo que natildeo podiam ser previstas
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p18) Em traduccedilatildeo livre ldquoverdadeira eacute a afirmaccedilatildeo costumeira de
que transparecircncia e reequiliacutebrio natildeo podem ser identificados pois transparecircncia natildeo visa uma tutela substancial
dos interesses em jogo mas sim agrave individualizaccedilatildeo das regras do jogo e portanto a apontar como deve ser um
comportamento correto no mercado Contudo natildeo haacute duacutevida de que o nexo de instrumentalidade entre
transparecircncia do contrato e equiliacutebrio normativo e econocircmico das posiccedilotildees contratuais eacute particularmente
relevanterdquo
32PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi cit p170
33BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p39
34A rigor por vezes o perfil normativo acaba se traduzindo em valoraccedilatildeo econocircmica como destaca Pietro
Perlingieri ldquoa previsatildeo de uma compensaccedilatildeo voluntaacuteria regra normativa que incide sobre a forma de pagamento
e de satisfaccedilatildeo de creacuteditos e deacutebitos reciacuteprocos releva tambeacutem sob o perfil econocircmicordquo (PERLINGIERI Pietro O
direito civil na legalidade constitucional cit p412 nota 410) Como destaca Macario ldquola differenza dovrebbe
poter essere apprezzata sul piano delle conseguenze ossia in punto di rimedi allo squilibrio ma la normativa cui
normalmente ci si riferisce rende ardua siffatta distinzionerdquo(MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni
contrattuali ed autonomia privata nella subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle
posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131 nota 1) Em
traduccedilatildeo livre ldquoa diferenccedila deveria ser apreciada no plano das consequecircncias isto eacute no ato de remediar o
desequiliacutebrio mas a normativa agrave qual costuma-se remeter dificulta esta distinccedilatildeordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
93
pelas partes quando da celebraccedilatildeo do contrato a dificultar a configuraccedilatildeo do desequiliacutebrio de
forma objetiva35
Talvez por essa razatildeo doutrina e jurisprudecircncia tenham relegado por tanto tempo o
princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato a uma espeacutecie de princiacutepio de segunda
categoria natildeo merecendo aplicaccedilatildeo autocircnoma independente das expressas previsotildees legais e
de seus requisitos subjetivos Semelhante postura acaba por condicionar a justiccedila contratual
agravequela avaliaccedilatildeo procedimental jaacute referida se a manifestaccedilatildeo de vontade foi livre informada
consciente e ponderada o contrato eacute economicamente equilibrado
A afirmaccedilatildeo de um verdadeiro princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato requer
sua aplicaccedilatildeo desvinculada de requisitos subjetivos bem como das expressas positivaccedilotildees
feitas pelo legislador de 2002 Para tanto afigura-se imprescindiacutevel investigar que tipo de
desequiliacutebrio autoriza a intervenccedilatildeo judicial reequilibradora a fim de impedir o indesejaacutevel
estrangulamento da autonomia privada
Impotildee-se em primeiro lugar verificar se as vantagens ou benefiacutecios econocircmicos
conferidos agraves partes satildeo proporcionais entre si a despeito de qualquer juiacutezo acerca da higidez
procedimental da manifestaccedilatildeo de vontade vale dizer do adimplemento dos deveres de
informaccedilatildeo e da integridade do consentimento36A justiccedila contratual expressatildeo da justiccedila
comutativa natildeo requer equivalecircncia absoluta nas relaccedilotildees de troca mas proporcionalidade de
forma que nenhuma das partes decirc muito mais nem muito menos do que recebeu37 Como
advertem Rodolfo Sacco e Giorgio de Nova eacute um primeiro e graviacutessimo erro pensar que o
contrato seja uma operaccedilatildeo em que a soma das vantagens e das perdas das partes eacute igual a
zero Quem de boa-feacute tem em mente esse disparate afirmam os autores passaraacute todo o seu
tempo buscando regra que impeccedila um contratante de ganhar para impedir que o outro
35Para criacutetica ao tratamento dispensado ao princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato confira-se
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-122 especialmente
36PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p58
37De acordo com Pietro Perlingieri o princiacutepio de proporcionalidade parece ldquodestinato ad incidere
profondamente nella moderna concezione del contratto che in tal modo si allontana definitivamente dalla
tradizionale volontaristica interpretazione del principio pacta sunt servandardquo (PERLINGIERI PietroNuovi
profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21 n3 p560 2000) Em traduccedilatildeo livre o princiacutepio
de proporcionalidade parece ldquodestinado a afetar profundamente a moderna concepccedilatildeo de contrato que de tal
forma se distancia definitivamente da tradicional interpretaccedilatildeo voluntarista do princiacutepio pacta sunt servandardquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
94
contratante perca Evidentemente quem raciocina assim vecirc em cada intercacircmbio uma
extorsatildeo executada por uma parte em prejuiacutezo da outra38
A proporcionalidade portanto consiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo
concretizada segundo a boa-feacute objetiva39 A anaacutelise eacute objetiva e independe de qualquer
consideraccedilatildeo de aspectos subjetivos relacionados agrave manifestaccedilatildeo de vontade como
inexperiecircncia ou necessidade
Verificado que haacute efetivamente desproporcionalidade entre os benefiacutecios
econocircmicos auferidos pelas partes investiga-se se o desequiliacutebrio se justifica diante da
economia contratual40 A anaacutelise do concreto regulamento de interesses da disciplina
estabelecida pela autonomia privada indicaraacute se a despeito de economicamente desequilibrado
o favorecimento normativo da parte em desvantagem econocircmica reequilibra a balanccedila
conduzindo ao equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais
Conforme jaacute se afirmou equiliacutebrio econocircmico e equiliacutebrio normativo encerram
aspectos complementares do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais pelo que eacute
possiacutevel que um desequiliacutebrio econocircmico se justifique no acircmbito do concreto negoacutecio
juriacutedico em razatildeo de algum poder ou direito conferido ao contratante Mais uma vez
38SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di diritto civile 3ed
Torino UTET 2004 t 1 p17-18
39PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional citp413-414 Observe-se que a doutrina
italiana distingue o princiacutepio da proporcionalidade do princiacutepio da razoabilidade nos seguintes termos ldquoA
operatividade do princiacutepio da proporcionalidade nos contratos parece confiada a uma conexatildeo entre elementos de
confrontaccedilatildeo homogecircneos comparaacuteveise quantificaacuteveis A proporcionalidade tem valor no plano quantitativo e
determina mas nem sempre a consequecircncia da reduccedilatildeo do contrato Vice-versa quando a coligaccedilatildeo eacute entre
elementos natildeo homogecircneos natildeo comparaacuteveis que envolvem interesses natildeo quantificaacuteveis por exemplo natildeo
patrimoniais o resultado eacute uma ponderaccedilatildeo entre eles que natildeo se pode traduzir no plano da quantidade mas
exige necessariamente uma valoraccedilatildeo qualitativa Em tais hipoacuteteses entram em funccedilatildeo seja o princiacutepio da
razoabilidade seja o princiacutepio da adequaccedilatildeo O merecimento de tutela portanto natildeo pode se inspirar
exclusivamente no aspecto quantitativo Com efeito a proporcionalidadeconsiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo e
configura portanto um paracircmetro ulterior e sucessivo em relaccedilatildeo agravequele de razoabilidade (vista como justificaccedilatildeo
abstrata) uma diversa modalidade de valorar a entidade do interesse patrimonial ou seja a medida da sua proteccedilatildeo
juriacutedica em comparaccedilatildeo e ponderaccedilatildeo com aquela de outros interesses O princiacutepio da proporcionalidade eacute
portanto uma norma aplicaacutevel tambeacutem quando faltam regras ad hoc a ser coordenada com outros princiacutepios
sistematicamente a ele coligados utilizaacuteveis em sede hermenecircutica O princiacutepio da proporcionalidade embora
operativo entre elementos quantificaacuteveis constitui um daqueles momentos normativos de relevacircncia axioloacutegica os
quais contribuem para recuperar a coerecircncia e eficiecircncia ao sistema juriacutedico e correta competitividade concorrencial ao
mercado no justo equiliacutebrio entre liberdade e solidariedade liberdade e merecimento de tutela dos conteuacutedosrdquo
(p406-407) A distinccedilatildeo embora relevante no direito italiano natildeo assume destaque no direito brasileiro pelo
que se utilizaraacute nesta tese a proporcionalidade tanto para comparar interesses homogecircneos quanto aqueles
heterogecircneos semdescurar evidentemente da superior hierarquia dos interesses existenciais em relaccedilatildeo aos patrimoniais
40Nessa toada pondera Mauro Grondona que ldquoloperazione di analisi e di costruzione ermeneutica che il
giudice dovrebbe compiere egrave proprio quella di accertare le ragioni di tale squilibrio onde valutare se esso sia
(o possa essere) ragionevolmente giustificato in forza di uno stringente esame delleconomia del contrattordquo
(GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto I Contratti Milano v21 n11 p1029 2013) Em traduccedilatildeo livre ldquoa operaccedilatildeo de anaacutelise e de
construccedilatildeo hermenecircutica que o juiz deveria cumprir eacute exatamente aquela de aferir as razotildees desse desequiliacutebrio
para avaliar se ele eacute (ou pode ser) razoavelmente justificado a partir de um exame apurado da economia do
contratordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
95
reafirma-se a necessidade de analisar o concreto regulamento de interesses em sua unidade jaacute
que somente a partir do todo eacute possiacutevel avaliar fidedignamente o merecimento de tutela de
seus diversos aspectos
Constatado o desproporcional desequiliacutebrio econocircmico e a inexistecircncia de qualquer
vantagem normativa que reequilibre as posiccedilotildees contratuais presumir-se-aacute a violaccedilatildeo ao
princiacutepio do equiliacutebrio A presunccedilatildeo poderaacute ser afastada se restar comprovado que a parte
contra quem o contrato estaacute desequilibrado ostenta interesse legiacutetimo mesmo natildeo patrimonial
que justifique o desequiliacutebrio41 Embora a regra seja o relativo equiliacutebrio econocircmico
nadaimpede que no caso concreto uma das partes assuma deliberada e justificadamente o risco
de um desequiliacutebrio manifesto42
Nesses casos o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais resta atendido em face do
merecimento de tutela dos interesses em jogo pelo que a autonomia privada deve ser
prestigiada e o contrato haacute de ser mantido consoante pactuado pelas partes Alterar o
equiliacutebrio econocircmico original nessas circunstacircncias natildeo significa reequilibrar o contrato mas
atribuir ao contrato um equiliacutebrio diverso daquele expresso pelo regulamento negocial
subtraindo ex post de uma das partes algumas utilidades econocircmicas esperadas com a
celebraccedilatildeo do contrato sob o argumento de que o desequiliacutebrio eacute prova certa de patologia43
O princiacutepio do equiliacutebrio normativo a seu turno exige que a disciplina contratual seja
equilibrada a conferir direitos e obrigaccedilotildees de forma proporcional a ambas as partes Mais
uma vez a proporcionalidade natildeo visa garantir equivalecircncia entre os poderes atribuiacutedos aos
contratantes mas impedir desproporccedilatildeo excessiva e injustificada entre eles Assim como em
relaccedilatildeo ao equiliacutebrio econocircmico a mobilidade do equiliacutebrionormativo tendencialmente mutaacutevel
de contrato para contrato afasta qualquer tentativa de anaacutelise abstrata do fenocircmeno44
O perfil normativo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais vai ao encontro da ordem
constitucional contemporacircnea promovendo a igualdade substancial entre as partes Enquanto
41De acordo com Perlingieri em algumas situaccedilotildees ldquoo equiliacutebrio entre as prestaccedilotildees deve ser individuado
prescindindo das avaliaccedilotildees de mercado relativas a um bem tendo-se em conta poreacutem eventuais interesses natildeo
patrimoniais exigecircncias sentimentais e afetivas os quis podem determinar um valor diverso para o proacuteprio bemrdquo
(PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidadeconstitucional cit p412) Em outra sede afirma o mesmo
autor ldquorisulta assolutamente necessario distinguere la valutazione economica della prestazione dagli interessi
a volte non patrimoniali che caratterizzano il contrattordquo(PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e
principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p50) Em traduccedilatildeo livre
ldquoresulta absolutamente necessaacuterio distinguir a valoraccedilatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo dos interesses agraves vezes natildeo
patrimoniais que caracterizam o contratordquo
42SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo cit p133
43GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto cit p1029-1030
44BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori cit p41
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
96
o perfil econocircmico do equiliacutebrio contratual se volta para a tutela patrimonial dos contratantes e
se guia sobretudo por loacutegica eminentementemercadoloacutegica o perfil normativo comporta a tutela
tambeacutem de valores existenciais ao viabilizaro controle da autonomia privada a partir de
paracircmetros que natildeo o econocircmico a exemplo da vulnerabilidade Nesse sentido o princiacutepio do
equiliacutebrio normativo permite reequilibrar a disciplina contratual para aleacutem das situaccedilotildees em
que o regulamento de interesses ameaccedila o patrimocircnio de um dos contratantes contemplando
hipoacuteteses em que a ameaccedila se coloca contra sua proacutepria existecircncia digna mormente diante de
vulnerabilidade existencial45 Eacute a promoccedilatildeo do equiliacutebrio normativo por exemplo que
justifica a intervenccedilatildeo legislativa que proiacutebe claacuteusulas de reajuste da mensalidade de plano de
sauacutede por faixa etaacuteria46
O princiacutepio encontra plena aplicabilidade inclusive no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias em
que natildeo haacute vulnerabilidade a ser prioritariamente tutelada Com efeito parece inspirar-se no
princiacutepio do equiliacutebrio normativo a aplicaccedilatildeo da claacuteusula penal em favor de todos os contratantes
ainda que prevista em benefiacutecio exclusivo de uma das partes Embora natildeo se identifique
nominalmente o fundamento dessa extensatildeo no equiliacutebrio normativo a jurisprudecircncia a
justifica na proporcionalidade e na razoabilidade que satildeo como apontado paracircmetros de
afericcedilatildeo do equiliacutebrio normativo Emblemaacutetico nesse sentido o voto do Ministro Massami
Uyeda nos autos do Recurso Especial 1119740RJ
Caracterizadas portanto as reciacuteprocas obrigaccedilotildees entabuladas pelas partes natildeo seria
razoaacutevel nem proporcional que para uma delas o descumprimentocontratual seguisse a
claacuteusula previamente redigida na avenccedila de execuccedilatildeomais simples e para o outro
caminho diverso de execuccedilatildeo mais complexa Entender-se de forma diversa eacute o mesmo
que tratar os iguais desigualmente pois enquanto no descumprimento por parte do
promitente-comprador jaacute estaria definido o quantum indenizatoacuterio sem a
possibilidade de quaisquer discussotildees o inadimplemento do promitente-vendedor
daria azo a discussotildees acerca do efetivo prejuiacutezo sofrido pelo comprador47
45Carlos Nelson Konder traccedila fundamental distinccedilatildeo entre a vulnerabilidade patrimonial e aquela existencial
advogando a favor da elaboraccedilatildeo de instrumentos de tutela proacuteprios voltados para pessoas que se enquadrem
nesta uacuteltima categoria De acordo com o autor ldquoa vulnerabilidade existencial seria a situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva
em que o titular se encontra sob maior suscetibilidade de ser lesionado na sua esfera extrapatrimonial impondo a
aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas de tutela diferenciada para a satisfaccedilatildeo do princiacutepio da dignidade da pessoa
humanardquo (KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um sistema
diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p111 maiojun 2015)
46Lei no 107412003 art 15 sect 3
o Confira-se na jurisprudecircncia o leading case acerca do tema BRASIL
Superior Tribunal de Justiccedila REsp 809329RJ Relator(a) Ministra Nancy Andrighi Julgamento 25032008
Oacutergatildeo Julgador 3aTurma Publicaccedilatildeo DJe 11042008 Trata-se de situaccedilatildeo em que o equiliacutebrio normativo
repercute diretamente sobre o equiliacutebrio econocircmico daiacute a dificuldade jaacute apontada de distinguir de forma
absoluta os dois perfis do equiliacutebrio em algumas situaccedilotildees
47BRASIL Superior Tribunal de JusticcedilaREsp 1119740RJ Relator Min Massami Uyeda Julgamento
27092011Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJe 13102011 (grifou-se) Observe-se que embora se
discutisse acerca de relaccedilatildeo hoje caracterizada como de consumo natildeo se aplicou o Coacutedigo de Defesa do
Consumidor uma vez que o contrato em anaacutelise fora firmado antes da sua entrada em vigor
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
93
pelas partes quando da celebraccedilatildeo do contrato a dificultar a configuraccedilatildeo do desequiliacutebrio de
forma objetiva35
Talvez por essa razatildeo doutrina e jurisprudecircncia tenham relegado por tanto tempo o
princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato a uma espeacutecie de princiacutepio de segunda
categoria natildeo merecendo aplicaccedilatildeo autocircnoma independente das expressas previsotildees legais e
de seus requisitos subjetivos Semelhante postura acaba por condicionar a justiccedila contratual
agravequela avaliaccedilatildeo procedimental jaacute referida se a manifestaccedilatildeo de vontade foi livre informada
consciente e ponderada o contrato eacute economicamente equilibrado
A afirmaccedilatildeo de um verdadeiro princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato requer
sua aplicaccedilatildeo desvinculada de requisitos subjetivos bem como das expressas positivaccedilotildees
feitas pelo legislador de 2002 Para tanto afigura-se imprescindiacutevel investigar que tipo de
desequiliacutebrio autoriza a intervenccedilatildeo judicial reequilibradora a fim de impedir o indesejaacutevel
estrangulamento da autonomia privada
Impotildee-se em primeiro lugar verificar se as vantagens ou benefiacutecios econocircmicos
conferidos agraves partes satildeo proporcionais entre si a despeito de qualquer juiacutezo acerca da higidez
procedimental da manifestaccedilatildeo de vontade vale dizer do adimplemento dos deveres de
informaccedilatildeo e da integridade do consentimento36A justiccedila contratual expressatildeo da justiccedila
comutativa natildeo requer equivalecircncia absoluta nas relaccedilotildees de troca mas proporcionalidade de
forma que nenhuma das partes decirc muito mais nem muito menos do que recebeu37 Como
advertem Rodolfo Sacco e Giorgio de Nova eacute um primeiro e graviacutessimo erro pensar que o
contrato seja uma operaccedilatildeo em que a soma das vantagens e das perdas das partes eacute igual a
zero Quem de boa-feacute tem em mente esse disparate afirmam os autores passaraacute todo o seu
tempo buscando regra que impeccedila um contratante de ganhar para impedir que o outro
35Para criacutetica ao tratamento dispensado ao princiacutepio do equiliacutebrio econocircmico do contrato confira-se
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-122 especialmente
36PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI
Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche
Italiane 2002 p58
37De acordo com Pietro Perlingieri o princiacutepio de proporcionalidade parece ldquodestinato ad incidere
profondamente nella moderna concezione del contratto che in tal modo si allontana definitivamente dalla
tradizionale volontaristica interpretazione del principio pacta sunt servandardquo (PERLINGIERI PietroNuovi
profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21 n3 p560 2000) Em traduccedilatildeo livre o princiacutepio
de proporcionalidade parece ldquodestinado a afetar profundamente a moderna concepccedilatildeo de contrato que de tal
forma se distancia definitivamente da tradicional interpretaccedilatildeo voluntarista do princiacutepio pacta sunt servandardquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
94
contratante perca Evidentemente quem raciocina assim vecirc em cada intercacircmbio uma
extorsatildeo executada por uma parte em prejuiacutezo da outra38
A proporcionalidade portanto consiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo
concretizada segundo a boa-feacute objetiva39 A anaacutelise eacute objetiva e independe de qualquer
consideraccedilatildeo de aspectos subjetivos relacionados agrave manifestaccedilatildeo de vontade como
inexperiecircncia ou necessidade
Verificado que haacute efetivamente desproporcionalidade entre os benefiacutecios
econocircmicos auferidos pelas partes investiga-se se o desequiliacutebrio se justifica diante da
economia contratual40 A anaacutelise do concreto regulamento de interesses da disciplina
estabelecida pela autonomia privada indicaraacute se a despeito de economicamente desequilibrado
o favorecimento normativo da parte em desvantagem econocircmica reequilibra a balanccedila
conduzindo ao equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais
Conforme jaacute se afirmou equiliacutebrio econocircmico e equiliacutebrio normativo encerram
aspectos complementares do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais pelo que eacute
possiacutevel que um desequiliacutebrio econocircmico se justifique no acircmbito do concreto negoacutecio
juriacutedico em razatildeo de algum poder ou direito conferido ao contratante Mais uma vez
38SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di diritto civile 3ed
Torino UTET 2004 t 1 p17-18
39PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional citp413-414 Observe-se que a doutrina
italiana distingue o princiacutepio da proporcionalidade do princiacutepio da razoabilidade nos seguintes termos ldquoA
operatividade do princiacutepio da proporcionalidade nos contratos parece confiada a uma conexatildeo entre elementos de
confrontaccedilatildeo homogecircneos comparaacuteveise quantificaacuteveis A proporcionalidade tem valor no plano quantitativo e
determina mas nem sempre a consequecircncia da reduccedilatildeo do contrato Vice-versa quando a coligaccedilatildeo eacute entre
elementos natildeo homogecircneos natildeo comparaacuteveis que envolvem interesses natildeo quantificaacuteveis por exemplo natildeo
patrimoniais o resultado eacute uma ponderaccedilatildeo entre eles que natildeo se pode traduzir no plano da quantidade mas
exige necessariamente uma valoraccedilatildeo qualitativa Em tais hipoacuteteses entram em funccedilatildeo seja o princiacutepio da
razoabilidade seja o princiacutepio da adequaccedilatildeo O merecimento de tutela portanto natildeo pode se inspirar
exclusivamente no aspecto quantitativo Com efeito a proporcionalidadeconsiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo e
configura portanto um paracircmetro ulterior e sucessivo em relaccedilatildeo agravequele de razoabilidade (vista como justificaccedilatildeo
abstrata) uma diversa modalidade de valorar a entidade do interesse patrimonial ou seja a medida da sua proteccedilatildeo
juriacutedica em comparaccedilatildeo e ponderaccedilatildeo com aquela de outros interesses O princiacutepio da proporcionalidade eacute
portanto uma norma aplicaacutevel tambeacutem quando faltam regras ad hoc a ser coordenada com outros princiacutepios
sistematicamente a ele coligados utilizaacuteveis em sede hermenecircutica O princiacutepio da proporcionalidade embora
operativo entre elementos quantificaacuteveis constitui um daqueles momentos normativos de relevacircncia axioloacutegica os
quais contribuem para recuperar a coerecircncia e eficiecircncia ao sistema juriacutedico e correta competitividade concorrencial ao
mercado no justo equiliacutebrio entre liberdade e solidariedade liberdade e merecimento de tutela dos conteuacutedosrdquo
(p406-407) A distinccedilatildeo embora relevante no direito italiano natildeo assume destaque no direito brasileiro pelo
que se utilizaraacute nesta tese a proporcionalidade tanto para comparar interesses homogecircneos quanto aqueles
heterogecircneos semdescurar evidentemente da superior hierarquia dos interesses existenciais em relaccedilatildeo aos patrimoniais
40Nessa toada pondera Mauro Grondona que ldquoloperazione di analisi e di costruzione ermeneutica che il
giudice dovrebbe compiere egrave proprio quella di accertare le ragioni di tale squilibrio onde valutare se esso sia
(o possa essere) ragionevolmente giustificato in forza di uno stringente esame delleconomia del contrattordquo
(GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto I Contratti Milano v21 n11 p1029 2013) Em traduccedilatildeo livre ldquoa operaccedilatildeo de anaacutelise e de
construccedilatildeo hermenecircutica que o juiz deveria cumprir eacute exatamente aquela de aferir as razotildees desse desequiliacutebrio
para avaliar se ele eacute (ou pode ser) razoavelmente justificado a partir de um exame apurado da economia do
contratordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
95
reafirma-se a necessidade de analisar o concreto regulamento de interesses em sua unidade jaacute
que somente a partir do todo eacute possiacutevel avaliar fidedignamente o merecimento de tutela de
seus diversos aspectos
Constatado o desproporcional desequiliacutebrio econocircmico e a inexistecircncia de qualquer
vantagem normativa que reequilibre as posiccedilotildees contratuais presumir-se-aacute a violaccedilatildeo ao
princiacutepio do equiliacutebrio A presunccedilatildeo poderaacute ser afastada se restar comprovado que a parte
contra quem o contrato estaacute desequilibrado ostenta interesse legiacutetimo mesmo natildeo patrimonial
que justifique o desequiliacutebrio41 Embora a regra seja o relativo equiliacutebrio econocircmico
nadaimpede que no caso concreto uma das partes assuma deliberada e justificadamente o risco
de um desequiliacutebrio manifesto42
Nesses casos o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais resta atendido em face do
merecimento de tutela dos interesses em jogo pelo que a autonomia privada deve ser
prestigiada e o contrato haacute de ser mantido consoante pactuado pelas partes Alterar o
equiliacutebrio econocircmico original nessas circunstacircncias natildeo significa reequilibrar o contrato mas
atribuir ao contrato um equiliacutebrio diverso daquele expresso pelo regulamento negocial
subtraindo ex post de uma das partes algumas utilidades econocircmicas esperadas com a
celebraccedilatildeo do contrato sob o argumento de que o desequiliacutebrio eacute prova certa de patologia43
O princiacutepio do equiliacutebrio normativo a seu turno exige que a disciplina contratual seja
equilibrada a conferir direitos e obrigaccedilotildees de forma proporcional a ambas as partes Mais
uma vez a proporcionalidade natildeo visa garantir equivalecircncia entre os poderes atribuiacutedos aos
contratantes mas impedir desproporccedilatildeo excessiva e injustificada entre eles Assim como em
relaccedilatildeo ao equiliacutebrio econocircmico a mobilidade do equiliacutebrionormativo tendencialmente mutaacutevel
de contrato para contrato afasta qualquer tentativa de anaacutelise abstrata do fenocircmeno44
O perfil normativo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais vai ao encontro da ordem
constitucional contemporacircnea promovendo a igualdade substancial entre as partes Enquanto
41De acordo com Perlingieri em algumas situaccedilotildees ldquoo equiliacutebrio entre as prestaccedilotildees deve ser individuado
prescindindo das avaliaccedilotildees de mercado relativas a um bem tendo-se em conta poreacutem eventuais interesses natildeo
patrimoniais exigecircncias sentimentais e afetivas os quis podem determinar um valor diverso para o proacuteprio bemrdquo
(PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidadeconstitucional cit p412) Em outra sede afirma o mesmo
autor ldquorisulta assolutamente necessario distinguere la valutazione economica della prestazione dagli interessi
a volte non patrimoniali che caratterizzano il contrattordquo(PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e
principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p50) Em traduccedilatildeo livre
ldquoresulta absolutamente necessaacuterio distinguir a valoraccedilatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo dos interesses agraves vezes natildeo
patrimoniais que caracterizam o contratordquo
42SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo cit p133
43GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto cit p1029-1030
44BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori cit p41
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
96
o perfil econocircmico do equiliacutebrio contratual se volta para a tutela patrimonial dos contratantes e
se guia sobretudo por loacutegica eminentementemercadoloacutegica o perfil normativo comporta a tutela
tambeacutem de valores existenciais ao viabilizaro controle da autonomia privada a partir de
paracircmetros que natildeo o econocircmico a exemplo da vulnerabilidade Nesse sentido o princiacutepio do
equiliacutebrio normativo permite reequilibrar a disciplina contratual para aleacutem das situaccedilotildees em
que o regulamento de interesses ameaccedila o patrimocircnio de um dos contratantes contemplando
hipoacuteteses em que a ameaccedila se coloca contra sua proacutepria existecircncia digna mormente diante de
vulnerabilidade existencial45 Eacute a promoccedilatildeo do equiliacutebrio normativo por exemplo que
justifica a intervenccedilatildeo legislativa que proiacutebe claacuteusulas de reajuste da mensalidade de plano de
sauacutede por faixa etaacuteria46
O princiacutepio encontra plena aplicabilidade inclusive no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias em
que natildeo haacute vulnerabilidade a ser prioritariamente tutelada Com efeito parece inspirar-se no
princiacutepio do equiliacutebrio normativo a aplicaccedilatildeo da claacuteusula penal em favor de todos os contratantes
ainda que prevista em benefiacutecio exclusivo de uma das partes Embora natildeo se identifique
nominalmente o fundamento dessa extensatildeo no equiliacutebrio normativo a jurisprudecircncia a
justifica na proporcionalidade e na razoabilidade que satildeo como apontado paracircmetros de
afericcedilatildeo do equiliacutebrio normativo Emblemaacutetico nesse sentido o voto do Ministro Massami
Uyeda nos autos do Recurso Especial 1119740RJ
Caracterizadas portanto as reciacuteprocas obrigaccedilotildees entabuladas pelas partes natildeo seria
razoaacutevel nem proporcional que para uma delas o descumprimentocontratual seguisse a
claacuteusula previamente redigida na avenccedila de execuccedilatildeomais simples e para o outro
caminho diverso de execuccedilatildeo mais complexa Entender-se de forma diversa eacute o mesmo
que tratar os iguais desigualmente pois enquanto no descumprimento por parte do
promitente-comprador jaacute estaria definido o quantum indenizatoacuterio sem a
possibilidade de quaisquer discussotildees o inadimplemento do promitente-vendedor
daria azo a discussotildees acerca do efetivo prejuiacutezo sofrido pelo comprador47
45Carlos Nelson Konder traccedila fundamental distinccedilatildeo entre a vulnerabilidade patrimonial e aquela existencial
advogando a favor da elaboraccedilatildeo de instrumentos de tutela proacuteprios voltados para pessoas que se enquadrem
nesta uacuteltima categoria De acordo com o autor ldquoa vulnerabilidade existencial seria a situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva
em que o titular se encontra sob maior suscetibilidade de ser lesionado na sua esfera extrapatrimonial impondo a
aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas de tutela diferenciada para a satisfaccedilatildeo do princiacutepio da dignidade da pessoa
humanardquo (KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um sistema
diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p111 maiojun 2015)
46Lei no 107412003 art 15 sect 3
o Confira-se na jurisprudecircncia o leading case acerca do tema BRASIL
Superior Tribunal de Justiccedila REsp 809329RJ Relator(a) Ministra Nancy Andrighi Julgamento 25032008
Oacutergatildeo Julgador 3aTurma Publicaccedilatildeo DJe 11042008 Trata-se de situaccedilatildeo em que o equiliacutebrio normativo
repercute diretamente sobre o equiliacutebrio econocircmico daiacute a dificuldade jaacute apontada de distinguir de forma
absoluta os dois perfis do equiliacutebrio em algumas situaccedilotildees
47BRASIL Superior Tribunal de JusticcedilaREsp 1119740RJ Relator Min Massami Uyeda Julgamento
27092011Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJe 13102011 (grifou-se) Observe-se que embora se
discutisse acerca de relaccedilatildeo hoje caracterizada como de consumo natildeo se aplicou o Coacutedigo de Defesa do
Consumidor uma vez que o contrato em anaacutelise fora firmado antes da sua entrada em vigor
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
94
contratante perca Evidentemente quem raciocina assim vecirc em cada intercacircmbio uma
extorsatildeo executada por uma parte em prejuiacutezo da outra38
A proporcionalidade portanto consiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo
concretizada segundo a boa-feacute objetiva39 A anaacutelise eacute objetiva e independe de qualquer
consideraccedilatildeo de aspectos subjetivos relacionados agrave manifestaccedilatildeo de vontade como
inexperiecircncia ou necessidade
Verificado que haacute efetivamente desproporcionalidade entre os benefiacutecios
econocircmicos auferidos pelas partes investiga-se se o desequiliacutebrio se justifica diante da
economia contratual40 A anaacutelise do concreto regulamento de interesses da disciplina
estabelecida pela autonomia privada indicaraacute se a despeito de economicamente desequilibrado
o favorecimento normativo da parte em desvantagem econocircmica reequilibra a balanccedila
conduzindo ao equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais
Conforme jaacute se afirmou equiliacutebrio econocircmico e equiliacutebrio normativo encerram
aspectos complementares do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais pelo que eacute
possiacutevel que um desequiliacutebrio econocircmico se justifique no acircmbito do concreto negoacutecio
juriacutedico em razatildeo de algum poder ou direito conferido ao contratante Mais uma vez
38SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di diritto civile 3ed
Torino UTET 2004 t 1 p17-18
39PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional citp413-414 Observe-se que a doutrina
italiana distingue o princiacutepio da proporcionalidade do princiacutepio da razoabilidade nos seguintes termos ldquoA
operatividade do princiacutepio da proporcionalidade nos contratos parece confiada a uma conexatildeo entre elementos de
confrontaccedilatildeo homogecircneos comparaacuteveise quantificaacuteveis A proporcionalidade tem valor no plano quantitativo e
determina mas nem sempre a consequecircncia da reduccedilatildeo do contrato Vice-versa quando a coligaccedilatildeo eacute entre
elementos natildeo homogecircneos natildeo comparaacuteveis que envolvem interesses natildeo quantificaacuteveis por exemplo natildeo
patrimoniais o resultado eacute uma ponderaccedilatildeo entre eles que natildeo se pode traduzir no plano da quantidade mas
exige necessariamente uma valoraccedilatildeo qualitativa Em tais hipoacuteteses entram em funccedilatildeo seja o princiacutepio da
razoabilidade seja o princiacutepio da adequaccedilatildeo O merecimento de tutela portanto natildeo pode se inspirar
exclusivamente no aspecto quantitativo Com efeito a proporcionalidadeconsiste na justa proporccedilatildeo ou quantificaccedilatildeo e
configura portanto um paracircmetro ulterior e sucessivo em relaccedilatildeo agravequele de razoabilidade (vista como justificaccedilatildeo
abstrata) uma diversa modalidade de valorar a entidade do interesse patrimonial ou seja a medida da sua proteccedilatildeo
juriacutedica em comparaccedilatildeo e ponderaccedilatildeo com aquela de outros interesses O princiacutepio da proporcionalidade eacute
portanto uma norma aplicaacutevel tambeacutem quando faltam regras ad hoc a ser coordenada com outros princiacutepios
sistematicamente a ele coligados utilizaacuteveis em sede hermenecircutica O princiacutepio da proporcionalidade embora
operativo entre elementos quantificaacuteveis constitui um daqueles momentos normativos de relevacircncia axioloacutegica os
quais contribuem para recuperar a coerecircncia e eficiecircncia ao sistema juriacutedico e correta competitividade concorrencial ao
mercado no justo equiliacutebrio entre liberdade e solidariedade liberdade e merecimento de tutela dos conteuacutedosrdquo
(p406-407) A distinccedilatildeo embora relevante no direito italiano natildeo assume destaque no direito brasileiro pelo
que se utilizaraacute nesta tese a proporcionalidade tanto para comparar interesses homogecircneos quanto aqueles
heterogecircneos semdescurar evidentemente da superior hierarquia dos interesses existenciais em relaccedilatildeo aos patrimoniais
40Nessa toada pondera Mauro Grondona que ldquoloperazione di analisi e di costruzione ermeneutica che il
giudice dovrebbe compiere egrave proprio quella di accertare le ragioni di tale squilibrio onde valutare se esso sia
(o possa essere) ragionevolmente giustificato in forza di uno stringente esame delleconomia del contrattordquo
(GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto I Contratti Milano v21 n11 p1029 2013) Em traduccedilatildeo livre ldquoa operaccedilatildeo de anaacutelise e de
construccedilatildeo hermenecircutica que o juiz deveria cumprir eacute exatamente aquela de aferir as razotildees desse desequiliacutebrio
para avaliar se ele eacute (ou pode ser) razoavelmente justificado a partir de um exame apurado da economia do
contratordquo
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
95
reafirma-se a necessidade de analisar o concreto regulamento de interesses em sua unidade jaacute
que somente a partir do todo eacute possiacutevel avaliar fidedignamente o merecimento de tutela de
seus diversos aspectos
Constatado o desproporcional desequiliacutebrio econocircmico e a inexistecircncia de qualquer
vantagem normativa que reequilibre as posiccedilotildees contratuais presumir-se-aacute a violaccedilatildeo ao
princiacutepio do equiliacutebrio A presunccedilatildeo poderaacute ser afastada se restar comprovado que a parte
contra quem o contrato estaacute desequilibrado ostenta interesse legiacutetimo mesmo natildeo patrimonial
que justifique o desequiliacutebrio41 Embora a regra seja o relativo equiliacutebrio econocircmico
nadaimpede que no caso concreto uma das partes assuma deliberada e justificadamente o risco
de um desequiliacutebrio manifesto42
Nesses casos o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais resta atendido em face do
merecimento de tutela dos interesses em jogo pelo que a autonomia privada deve ser
prestigiada e o contrato haacute de ser mantido consoante pactuado pelas partes Alterar o
equiliacutebrio econocircmico original nessas circunstacircncias natildeo significa reequilibrar o contrato mas
atribuir ao contrato um equiliacutebrio diverso daquele expresso pelo regulamento negocial
subtraindo ex post de uma das partes algumas utilidades econocircmicas esperadas com a
celebraccedilatildeo do contrato sob o argumento de que o desequiliacutebrio eacute prova certa de patologia43
O princiacutepio do equiliacutebrio normativo a seu turno exige que a disciplina contratual seja
equilibrada a conferir direitos e obrigaccedilotildees de forma proporcional a ambas as partes Mais
uma vez a proporcionalidade natildeo visa garantir equivalecircncia entre os poderes atribuiacutedos aos
contratantes mas impedir desproporccedilatildeo excessiva e injustificada entre eles Assim como em
relaccedilatildeo ao equiliacutebrio econocircmico a mobilidade do equiliacutebrionormativo tendencialmente mutaacutevel
de contrato para contrato afasta qualquer tentativa de anaacutelise abstrata do fenocircmeno44
O perfil normativo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais vai ao encontro da ordem
constitucional contemporacircnea promovendo a igualdade substancial entre as partes Enquanto
41De acordo com Perlingieri em algumas situaccedilotildees ldquoo equiliacutebrio entre as prestaccedilotildees deve ser individuado
prescindindo das avaliaccedilotildees de mercado relativas a um bem tendo-se em conta poreacutem eventuais interesses natildeo
patrimoniais exigecircncias sentimentais e afetivas os quis podem determinar um valor diverso para o proacuteprio bemrdquo
(PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidadeconstitucional cit p412) Em outra sede afirma o mesmo
autor ldquorisulta assolutamente necessario distinguere la valutazione economica della prestazione dagli interessi
a volte non patrimoniali che caratterizzano il contrattordquo(PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e
principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p50) Em traduccedilatildeo livre
ldquoresulta absolutamente necessaacuterio distinguir a valoraccedilatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo dos interesses agraves vezes natildeo
patrimoniais que caracterizam o contratordquo
42SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo cit p133
43GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto cit p1029-1030
44BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori cit p41
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
96
o perfil econocircmico do equiliacutebrio contratual se volta para a tutela patrimonial dos contratantes e
se guia sobretudo por loacutegica eminentementemercadoloacutegica o perfil normativo comporta a tutela
tambeacutem de valores existenciais ao viabilizaro controle da autonomia privada a partir de
paracircmetros que natildeo o econocircmico a exemplo da vulnerabilidade Nesse sentido o princiacutepio do
equiliacutebrio normativo permite reequilibrar a disciplina contratual para aleacutem das situaccedilotildees em
que o regulamento de interesses ameaccedila o patrimocircnio de um dos contratantes contemplando
hipoacuteteses em que a ameaccedila se coloca contra sua proacutepria existecircncia digna mormente diante de
vulnerabilidade existencial45 Eacute a promoccedilatildeo do equiliacutebrio normativo por exemplo que
justifica a intervenccedilatildeo legislativa que proiacutebe claacuteusulas de reajuste da mensalidade de plano de
sauacutede por faixa etaacuteria46
O princiacutepio encontra plena aplicabilidade inclusive no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias em
que natildeo haacute vulnerabilidade a ser prioritariamente tutelada Com efeito parece inspirar-se no
princiacutepio do equiliacutebrio normativo a aplicaccedilatildeo da claacuteusula penal em favor de todos os contratantes
ainda que prevista em benefiacutecio exclusivo de uma das partes Embora natildeo se identifique
nominalmente o fundamento dessa extensatildeo no equiliacutebrio normativo a jurisprudecircncia a
justifica na proporcionalidade e na razoabilidade que satildeo como apontado paracircmetros de
afericcedilatildeo do equiliacutebrio normativo Emblemaacutetico nesse sentido o voto do Ministro Massami
Uyeda nos autos do Recurso Especial 1119740RJ
Caracterizadas portanto as reciacuteprocas obrigaccedilotildees entabuladas pelas partes natildeo seria
razoaacutevel nem proporcional que para uma delas o descumprimentocontratual seguisse a
claacuteusula previamente redigida na avenccedila de execuccedilatildeomais simples e para o outro
caminho diverso de execuccedilatildeo mais complexa Entender-se de forma diversa eacute o mesmo
que tratar os iguais desigualmente pois enquanto no descumprimento por parte do
promitente-comprador jaacute estaria definido o quantum indenizatoacuterio sem a
possibilidade de quaisquer discussotildees o inadimplemento do promitente-vendedor
daria azo a discussotildees acerca do efetivo prejuiacutezo sofrido pelo comprador47
45Carlos Nelson Konder traccedila fundamental distinccedilatildeo entre a vulnerabilidade patrimonial e aquela existencial
advogando a favor da elaboraccedilatildeo de instrumentos de tutela proacuteprios voltados para pessoas que se enquadrem
nesta uacuteltima categoria De acordo com o autor ldquoa vulnerabilidade existencial seria a situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva
em que o titular se encontra sob maior suscetibilidade de ser lesionado na sua esfera extrapatrimonial impondo a
aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas de tutela diferenciada para a satisfaccedilatildeo do princiacutepio da dignidade da pessoa
humanardquo (KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um sistema
diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p111 maiojun 2015)
46Lei no 107412003 art 15 sect 3
o Confira-se na jurisprudecircncia o leading case acerca do tema BRASIL
Superior Tribunal de Justiccedila REsp 809329RJ Relator(a) Ministra Nancy Andrighi Julgamento 25032008
Oacutergatildeo Julgador 3aTurma Publicaccedilatildeo DJe 11042008 Trata-se de situaccedilatildeo em que o equiliacutebrio normativo
repercute diretamente sobre o equiliacutebrio econocircmico daiacute a dificuldade jaacute apontada de distinguir de forma
absoluta os dois perfis do equiliacutebrio em algumas situaccedilotildees
47BRASIL Superior Tribunal de JusticcedilaREsp 1119740RJ Relator Min Massami Uyeda Julgamento
27092011Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJe 13102011 (grifou-se) Observe-se que embora se
discutisse acerca de relaccedilatildeo hoje caracterizada como de consumo natildeo se aplicou o Coacutedigo de Defesa do
Consumidor uma vez que o contrato em anaacutelise fora firmado antes da sua entrada em vigor
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
95
reafirma-se a necessidade de analisar o concreto regulamento de interesses em sua unidade jaacute
que somente a partir do todo eacute possiacutevel avaliar fidedignamente o merecimento de tutela de
seus diversos aspectos
Constatado o desproporcional desequiliacutebrio econocircmico e a inexistecircncia de qualquer
vantagem normativa que reequilibre as posiccedilotildees contratuais presumir-se-aacute a violaccedilatildeo ao
princiacutepio do equiliacutebrio A presunccedilatildeo poderaacute ser afastada se restar comprovado que a parte
contra quem o contrato estaacute desequilibrado ostenta interesse legiacutetimo mesmo natildeo patrimonial
que justifique o desequiliacutebrio41 Embora a regra seja o relativo equiliacutebrio econocircmico
nadaimpede que no caso concreto uma das partes assuma deliberada e justificadamente o risco
de um desequiliacutebrio manifesto42
Nesses casos o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais resta atendido em face do
merecimento de tutela dos interesses em jogo pelo que a autonomia privada deve ser
prestigiada e o contrato haacute de ser mantido consoante pactuado pelas partes Alterar o
equiliacutebrio econocircmico original nessas circunstacircncias natildeo significa reequilibrar o contrato mas
atribuir ao contrato um equiliacutebrio diverso daquele expresso pelo regulamento negocial
subtraindo ex post de uma das partes algumas utilidades econocircmicas esperadas com a
celebraccedilatildeo do contrato sob o argumento de que o desequiliacutebrio eacute prova certa de patologia43
O princiacutepio do equiliacutebrio normativo a seu turno exige que a disciplina contratual seja
equilibrada a conferir direitos e obrigaccedilotildees de forma proporcional a ambas as partes Mais
uma vez a proporcionalidade natildeo visa garantir equivalecircncia entre os poderes atribuiacutedos aos
contratantes mas impedir desproporccedilatildeo excessiva e injustificada entre eles Assim como em
relaccedilatildeo ao equiliacutebrio econocircmico a mobilidade do equiliacutebrionormativo tendencialmente mutaacutevel
de contrato para contrato afasta qualquer tentativa de anaacutelise abstrata do fenocircmeno44
O perfil normativo do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais vai ao encontro da ordem
constitucional contemporacircnea promovendo a igualdade substancial entre as partes Enquanto
41De acordo com Perlingieri em algumas situaccedilotildees ldquoo equiliacutebrio entre as prestaccedilotildees deve ser individuado
prescindindo das avaliaccedilotildees de mercado relativas a um bem tendo-se em conta poreacutem eventuais interesses natildeo
patrimoniais exigecircncias sentimentais e afetivas os quis podem determinar um valor diverso para o proacuteprio bemrdquo
(PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidadeconstitucional cit p412) Em outra sede afirma o mesmo
autor ldquorisulta assolutamente necessario distinguere la valutazione economica della prestazione dagli interessi
a volte non patrimoniali che caratterizzano il contrattordquo(PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e
principio di proporzionalitagrave nei contratti In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni
contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p50) Em traduccedilatildeo livre
ldquoresulta absolutamente necessaacuterio distinguir a valoraccedilatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo dos interesses agraves vezes natildeo
patrimoniais que caracterizam o contratordquo
42SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo cit p133
43GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della buona fede a difesa del
contratto cit p1029-1030
44BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei consumatori cit p41
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
96
o perfil econocircmico do equiliacutebrio contratual se volta para a tutela patrimonial dos contratantes e
se guia sobretudo por loacutegica eminentementemercadoloacutegica o perfil normativo comporta a tutela
tambeacutem de valores existenciais ao viabilizaro controle da autonomia privada a partir de
paracircmetros que natildeo o econocircmico a exemplo da vulnerabilidade Nesse sentido o princiacutepio do
equiliacutebrio normativo permite reequilibrar a disciplina contratual para aleacutem das situaccedilotildees em
que o regulamento de interesses ameaccedila o patrimocircnio de um dos contratantes contemplando
hipoacuteteses em que a ameaccedila se coloca contra sua proacutepria existecircncia digna mormente diante de
vulnerabilidade existencial45 Eacute a promoccedilatildeo do equiliacutebrio normativo por exemplo que
justifica a intervenccedilatildeo legislativa que proiacutebe claacuteusulas de reajuste da mensalidade de plano de
sauacutede por faixa etaacuteria46
O princiacutepio encontra plena aplicabilidade inclusive no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias em
que natildeo haacute vulnerabilidade a ser prioritariamente tutelada Com efeito parece inspirar-se no
princiacutepio do equiliacutebrio normativo a aplicaccedilatildeo da claacuteusula penal em favor de todos os contratantes
ainda que prevista em benefiacutecio exclusivo de uma das partes Embora natildeo se identifique
nominalmente o fundamento dessa extensatildeo no equiliacutebrio normativo a jurisprudecircncia a
justifica na proporcionalidade e na razoabilidade que satildeo como apontado paracircmetros de
afericcedilatildeo do equiliacutebrio normativo Emblemaacutetico nesse sentido o voto do Ministro Massami
Uyeda nos autos do Recurso Especial 1119740RJ
Caracterizadas portanto as reciacuteprocas obrigaccedilotildees entabuladas pelas partes natildeo seria
razoaacutevel nem proporcional que para uma delas o descumprimentocontratual seguisse a
claacuteusula previamente redigida na avenccedila de execuccedilatildeomais simples e para o outro
caminho diverso de execuccedilatildeo mais complexa Entender-se de forma diversa eacute o mesmo
que tratar os iguais desigualmente pois enquanto no descumprimento por parte do
promitente-comprador jaacute estaria definido o quantum indenizatoacuterio sem a
possibilidade de quaisquer discussotildees o inadimplemento do promitente-vendedor
daria azo a discussotildees acerca do efetivo prejuiacutezo sofrido pelo comprador47
45Carlos Nelson Konder traccedila fundamental distinccedilatildeo entre a vulnerabilidade patrimonial e aquela existencial
advogando a favor da elaboraccedilatildeo de instrumentos de tutela proacuteprios voltados para pessoas que se enquadrem
nesta uacuteltima categoria De acordo com o autor ldquoa vulnerabilidade existencial seria a situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva
em que o titular se encontra sob maior suscetibilidade de ser lesionado na sua esfera extrapatrimonial impondo a
aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas de tutela diferenciada para a satisfaccedilatildeo do princiacutepio da dignidade da pessoa
humanardquo (KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um sistema
diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p111 maiojun 2015)
46Lei no 107412003 art 15 sect 3
o Confira-se na jurisprudecircncia o leading case acerca do tema BRASIL
Superior Tribunal de Justiccedila REsp 809329RJ Relator(a) Ministra Nancy Andrighi Julgamento 25032008
Oacutergatildeo Julgador 3aTurma Publicaccedilatildeo DJe 11042008 Trata-se de situaccedilatildeo em que o equiliacutebrio normativo
repercute diretamente sobre o equiliacutebrio econocircmico daiacute a dificuldade jaacute apontada de distinguir de forma
absoluta os dois perfis do equiliacutebrio em algumas situaccedilotildees
47BRASIL Superior Tribunal de JusticcedilaREsp 1119740RJ Relator Min Massami Uyeda Julgamento
27092011Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJe 13102011 (grifou-se) Observe-se que embora se
discutisse acerca de relaccedilatildeo hoje caracterizada como de consumo natildeo se aplicou o Coacutedigo de Defesa do
Consumidor uma vez que o contrato em anaacutelise fora firmado antes da sua entrada em vigor
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
96
o perfil econocircmico do equiliacutebrio contratual se volta para a tutela patrimonial dos contratantes e
se guia sobretudo por loacutegica eminentementemercadoloacutegica o perfil normativo comporta a tutela
tambeacutem de valores existenciais ao viabilizaro controle da autonomia privada a partir de
paracircmetros que natildeo o econocircmico a exemplo da vulnerabilidade Nesse sentido o princiacutepio do
equiliacutebrio normativo permite reequilibrar a disciplina contratual para aleacutem das situaccedilotildees em
que o regulamento de interesses ameaccedila o patrimocircnio de um dos contratantes contemplando
hipoacuteteses em que a ameaccedila se coloca contra sua proacutepria existecircncia digna mormente diante de
vulnerabilidade existencial45 Eacute a promoccedilatildeo do equiliacutebrio normativo por exemplo que
justifica a intervenccedilatildeo legislativa que proiacutebe claacuteusulas de reajuste da mensalidade de plano de
sauacutede por faixa etaacuteria46
O princiacutepio encontra plena aplicabilidade inclusive no acircmbito de relaccedilotildees paritaacuterias em
que natildeo haacute vulnerabilidade a ser prioritariamente tutelada Com efeito parece inspirar-se no
princiacutepio do equiliacutebrio normativo a aplicaccedilatildeo da claacuteusula penal em favor de todos os contratantes
ainda que prevista em benefiacutecio exclusivo de uma das partes Embora natildeo se identifique
nominalmente o fundamento dessa extensatildeo no equiliacutebrio normativo a jurisprudecircncia a
justifica na proporcionalidade e na razoabilidade que satildeo como apontado paracircmetros de
afericcedilatildeo do equiliacutebrio normativo Emblemaacutetico nesse sentido o voto do Ministro Massami
Uyeda nos autos do Recurso Especial 1119740RJ
Caracterizadas portanto as reciacuteprocas obrigaccedilotildees entabuladas pelas partes natildeo seria
razoaacutevel nem proporcional que para uma delas o descumprimentocontratual seguisse a
claacuteusula previamente redigida na avenccedila de execuccedilatildeomais simples e para o outro
caminho diverso de execuccedilatildeo mais complexa Entender-se de forma diversa eacute o mesmo
que tratar os iguais desigualmente pois enquanto no descumprimento por parte do
promitente-comprador jaacute estaria definido o quantum indenizatoacuterio sem a
possibilidade de quaisquer discussotildees o inadimplemento do promitente-vendedor
daria azo a discussotildees acerca do efetivo prejuiacutezo sofrido pelo comprador47
45Carlos Nelson Konder traccedila fundamental distinccedilatildeo entre a vulnerabilidade patrimonial e aquela existencial
advogando a favor da elaboraccedilatildeo de instrumentos de tutela proacuteprios voltados para pessoas que se enquadrem
nesta uacuteltima categoria De acordo com o autor ldquoa vulnerabilidade existencial seria a situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva
em que o titular se encontra sob maior suscetibilidade de ser lesionado na sua esfera extrapatrimonial impondo a
aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas de tutela diferenciada para a satisfaccedilatildeo do princiacutepio da dignidade da pessoa
humanardquo (KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um sistema
diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p111 maiojun 2015)
46Lei no 107412003 art 15 sect 3
o Confira-se na jurisprudecircncia o leading case acerca do tema BRASIL
Superior Tribunal de Justiccedila REsp 809329RJ Relator(a) Ministra Nancy Andrighi Julgamento 25032008
Oacutergatildeo Julgador 3aTurma Publicaccedilatildeo DJe 11042008 Trata-se de situaccedilatildeo em que o equiliacutebrio normativo
repercute diretamente sobre o equiliacutebrio econocircmico daiacute a dificuldade jaacute apontada de distinguir de forma
absoluta os dois perfis do equiliacutebrio em algumas situaccedilotildees
47BRASIL Superior Tribunal de JusticcedilaREsp 1119740RJ Relator Min Massami Uyeda Julgamento
27092011Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJe 13102011 (grifou-se) Observe-se que embora se
discutisse acerca de relaccedilatildeo hoje caracterizada como de consumo natildeo se aplicou o Coacutedigo de Defesa do
Consumidor uma vez que o contrato em anaacutelise fora firmado antes da sua entrada em vigor
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
97
Referida extensatildeo entretanto haacute de ser feita com parcimocircnia analisando as
circunstacircncias do caso concreto para verificar se a atribuiccedilatildeo ao outro contratante do
montante indenizatoacuterio constante da claacuteusula penal se afigura proporcional em relaccedilatildeo agrave lesatildeo
aos seus interesses e aos possiacuteveis danos por ele suportados em razatildeo do inadimplemento da
contraparte
A percepccedilatildeo do princiacutepio do equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais a partir dos dois
vieses analisados ganha renovada importacircncia na legalidade constitucional e altera
substancialmente a forccedila obrigatoacuteria dos pactos com base em paracircmetros natildeo apenas
econocircmicos mas sobretudo existenciais a permitir a mais intensa de todas asinterferecircncias na
autonomia privada a revisatildeo contratual Cabe agrave doutrina debruccedilar-sesobre esse princiacutepio e traccedilar
balizas seguras para sua aplicaccedilatildeo de sorte a garantir a justiccedila contratual sem no entanto
sufocar a autonomia privada
3 A PROJECcedilAtildeO EXTRACONTRATUAL DA AUTONOMIA PRIVADA
No acircmbito de ordenamento juriacutedico em que os institutos satildeo funcionalizados a exigir
que a funccedilatildeo perseguida pelas partes com o concreto negoacutecio seja compatiacutevel com os
interesses em razatildeo dos quais a proacutepria liberdade de contratar eacute tutelada a funccedilatildeo social do
contrato exsurge como mais uma figura voltada agrave anaacutelise da autonomia privada
Funcionalizaccedilatildeo e funccedilatildeo social satildeo conceitos que revelam o esforccedilo para fazer convergirem as
perspectivas individual (proacutepria do ato) e geral (proacutepria do ordenamento) de modo que a
regra criada pelos particulares se volte para a obtenccedilatildeo do efeito juriacutedico admitido e tutelado
pelo ordenamento48
Nessa senda a funccedilatildeo social do contrato inserida no artigo 421 do Coacutedigo Civil
passou a exigir dos contratantes o dever de perseguir aleacutem da satisfaccedilatildeo de seus interesses
particulares a promoccedilatildeo de interesses extracontratuais socialmente relevantes dignos de tutela e
relacionados ao contrato49 Ao lado do atendimento de sua funccedilatildeo econocircmica conferindo aos
contratantes a utilidade que o ordenamento juriacutedico lhe atribui o contrato deve promover
interesses sociais merecedores de tutela que de alguma forma sejam afetados pela relaccedilatildeo
contratual natildeo os deixando sucumbir aos contraacuterios interesses das partes
A interpretaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquoem razatildeo derdquo constante do texto do dispositivo legal
ajusta-se agrave concepccedilatildeo segundo a qual a funccedilatildeo social do contrato natildeo eacute unicamente um limite
externo agrave liberdade de contratar mas interno imprescindiacutevel para a configuraccedilatildeo e
48KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro v43 p34 julset 2010
49TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato cit p150
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
98
identificaccedilatildeo do instituto e por certo de necessaacuterio atendimento para atribuiccedilatildeo de tutela pelo
ordenamento50
A funccedilatildeo social natildeo se presta por conseguinte agrave tutela dos interesses de qualquer dos
contratantes ainda que teacutecnica ou economicamente mais fraco Entendimento diverso
amesquinharia a proacutepria funccedilatildeo social ldquotornando-a servil a interesses individuais e patrimoniais
que postos legiacutetimos jaacute se encontram suficientemente tuteladosrdquo por outros mecanismos51 A
funccedilatildeo social estaacute para o interesse da sociedade assim como a funccedilatildeo econocircmica estaacute para o
interesse das partes cuja promoccedilatildeo se garantepor instrumentos proacuteprios como a boa-feacute objetiva e
o equiliacutebrio das posiccedilotildees contratuais De todo modo se a promoccedilatildeo da funccedilatildeo social em um
dado caso concreto resultar na proteccedilatildeo de uma das partes tal benefiacutecio seraacute efeito colateral
da necessidade de coibir determinadas praacuteticas contratuais nocivas agrave sociedade52 Eacute o que
ocorre por exemplo quando se proiacutebem determinados pactos capazes de promover praacuteticas
contraacuterias agrave livre concorrecircncia em prejuiacutezo de pequenas empresas e do mercado consumidor
se tal intervenccedilatildeo na liberdade de contratar vier a garantir alguma proteccedilatildeo especial ao
contratante eventualmente prejudicado pelo viacutenculo esta seraacute apenas um reflexo indireto da
atuaccedilatildeo da funccedilatildeo social e natildeo o seu escopo primaacuterio
A funccedilatildeo social natildeo pode entretanto servir de mecanismo de estrangulamentoda
liberdade pessoal dos contratantes a ponto de convertecirc-la em ldquofunccedilatildeo assistencial do contratordquo
Se o contrato deve atender agrave funccedilatildeo social para ser merecedor de tutela natildeo se pode descurar
de sua funccedilatildeo econocircmica cuja satisfaccedilatildeo eacute o que verdadeiramente move as partes agrave celebraccedilatildeo
do negoacutecio53A jurisprudecircncia superior jaacute reflete essa preocupaccedilatildeo como se extrai da decisatildeo
proferida no Recurso Especial 783404 relatada pela Ministra Nancy Andrighi em que se
discutia a possibilidade de resolver contrato de compra e venda de safra futura de soja a preccedilo
certo sob o argumento de ter se tornado excessivamente oneroso para o produtor em razatildeo de
50MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista Literaacuteria de Direito
Satildeo Paulo n37 p19 agoset 2004 Como explica Maria Celina Bodin de Moraes quando a lei determina que ldquoa
liberdade de contratar seraacute exercida em razatildeo e nos limites da funccedilatildeo social do contrato eacute possiacutevel concluir que a
liberdade de contratar natildeo se daraacute mais em razatildeo da vontade privada como ocorria anteriormente mas em razatildeoda
funccedilatildeo socialque o negoacutecio estaacute destinado a cumprirrdquo (BODIN DE MORAES Maria Celina A causa dos
contratos Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n21 p118-119 janmar 2005 grifos no
original)
51TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da claacuteusula to the best
knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 2006 t 2 p251 nota de rodapeacute nordm
14
52KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo sobre o controle
da autonomia negocial cit p69
53Nessa direccedilatildeo confira-se KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos
contratos no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de Direito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009 p59 e COSTA Pedro de Oliveira
Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos contratos In TEPEDINO Gustavo (Org)
Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p54
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
99
fortes chuvas e pragas que resultaram em baixa produtividade e elevaccedilatildeo do preccedilo da saca no
momento da execuccedilatildeo do contrato
A funccedilatildeo social infligida ao contrato natildeo pode desconsiderar seu papel primaacuterio e
natural que eacute o econocircmico Este natildeo pode ser ignorado a pretexto de cumprir-se
uma atividade beneficente Ao contrato incumbe uma funccedilatildeo social mas natildeo de
assistecircncia social [] O instituto eacute econocircmico e tem fins econocircmicos a realizar que
natildeo podem ser postos de lado pela lei e muito menos pelo seu aplicador[] Dessa
forma natildeo haacute como admitir que tendo ignorado ou calculado mal tais variaacuteveis ou
pior estando arrependida com o preccedilo acordado no ato da contrataccedilatildeo a parte
pretenda sob o manto da funccedilatildeo social do contrato pleitear a resoluccedilatildeo deste O
simples fato do comprador obter maior margem de lucro na revenda decorrente da
majoraccedilatildeo do preccedilo do produto no mercado apoacutes a celebraccedilatildeo do negoacutecio natildeo indica
a existecircncia de maacute-feacute improbidade ou tentativa de desvio da funccedilatildeo social do
contrato54
A funccedilatildeo social do contrato alicerccedilada na solidariedade social relativiza em
definitivo o claacutessico princiacutepio da relatividade contratual reconhecendo a projeccedilatildeo de
efeitosnegociais para aleacutem da esfera juriacutedica das partes e a consequente necessidade de tutelar
os interesses legiacutetimos de terceiros por eles alcanccedilados
CONCLUSAtildeO
A autonomia privada ingressa no seacuteculo XXI profundamente remodelada natildeo se
trata de nova roupagem para velho conceito mas de novo conceito forjado pela legalidade
constitucional
Amudanccedila resulta de escolha axioloacutegica e metodoloacutegica que propotildee no que tange agrave
autonomia contratual o abandono da perspectiva estrutural do contrato pela qual se enfatiza o
papel do acordo de vontades individuais em favor de perspectiva funcional inspirada na
valoraccedilatildeo dos interesses em jogo e na consequente prevalecircncia daquele merecedor de tutela
Nesse contexto a ideia de que o contrato eacute essencialmente consenso cede passo para a
concepccedilatildeo de que o contrato eacute essencialmente relaccedilatildeo O que se verifica natildeo eacute pois o decliacutenio
do contrato mas o enaltecimento de sua dimensatildeo social bem como de seu papel instrumental
para a promoccedilatildeo de interesses merecedores de tutela das partes do negoacutecio
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
BENEDETTI Giuseppe Lequilibrio normativo nella disciplina del contratto dei
consumatori In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p39-46
54BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila REsp 783404Relator(a) Min Nancy Andrighi Julgamento
28062007 Oacutergatildeo Julgador 3a Turma Publicaccedilatildeo DJ 13082007
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
100
BIANCA Massimo C Teacutecnicas de formacioacuten del contrato y tutela del contratante deacutebil el
principio de buena fe en el Derecho Privado Europeu In COacuteRDOBA Marcos M (Dir)Tratado
de la buena fe en el derecho Buenos Aires La Ley 2004 t 2 p191-204
BIANCA Mirzia Alcune riflessioni sul concetto di meritevolezza degli interessi Rivista di
Diritto Civile Padova n1 p789-815 2011
BODIN DE MORAES Maria Celina Constituiccedilatildeo de direito civil tendecircncias In
TEPEDINO Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciais
obrigaccedilotildees e contratos Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p343-364
COMPARATO Faacutebio Konder Eacutetica direito moral e religiatildeo no mundo moderno Satildeo Paulo
Companhia das Letras 2006
COSTA Pedro de Oliveira Apontamentos para uma visatildeo abrangente da funccedilatildeo social dos
contratos In TEPEDINO Gustavo (Org) Obrigaccedilotildees estudos sob a perspectiva civil-
constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p45-68
CRISCUOLO Fabrizio Autonomia negoziale e autonomia contrattuale Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2008
FERRARA Luigi Cariota Il negozio giuridico nel diritto privato italiano Napoli Edizioni
Scientifiche Italiane 2011
FERRI Luigi La Autonomia Privada Traduccedilatildeo de Luis Sancho Mendizaacutebal Granada
Comares 2001
GRONDONA Mauro Non scarsa importanza dellinadempimento e potenzialitagrave della
buona fede a difesa del contratto I Contratti Milano v21 n11 p1021-1033 2013
KONDER Carlos Nelson de Paula Distinccedilotildees hermenecircuticas da constitucionalizaccedilatildeo do
direito civil o inteacuterprete na doutrina de Pietro Perlingieri Revista da Faculdade de Direito
ndash UFPR Curitiba vol 60 n 1 janabr 2015 p 193-213
KONDER Carlos Nelson A constitucionalizaccedilatildeo do processo de qualificaccedilatildeo dos contratos
no ordenamento juriacutedico brasileiro 2009 Tese (Doutorado em Direito Civil) ndash Faculdade de
Direito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2009
KONDER Carlos Nelson Causa do contrato x funccedilatildeo social do contrato estudo comparativo
sobre o controle da autonomia negocial Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro
v43 p33-75 julset 2010
KONDER Carlos Nelson Vulnerabilidade patrimonial e vulnerabilidade existencial por um
sistema diferenciador Revista de Direito do Consumidor Satildeo Paulo v24 n99 p101-123
maiojun 2015
LANDO Ole Is good faith an overarching general clause in the principles of European
contract law In ANDENAS Madset alLiber amicorum Guido Alpa private law beyond the
national systems London British Institute of international and Comparative Law 2007
p601-613
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
101
MACARIO Francesco Equilibrio delle prosizioni contrattuali ed autonomia privata nella
subfornitura In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p131-163
MARTINS-COSTA Judith Notas sobre o princiacutepio da funccedilatildeo social do contrato Revista
Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo n37 p17-21 agoset 2004
MENEZES CORDEIRO Antoacutenio Da boa feacute no direito civil Coimbra Almedina 2001
MINERVINI Enrico Trasparenza ed equilibrio delle condizioni contrattuali nel testo unico
bancario In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed
autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p17-26
MOSCATI Enrico Autonomia privata e giustizia contrattuale (note minime sul controllo del
contenuto del contratto e della congruitagrave dei termini dello scambio) In Studi in onore di
Giovanni Giacobbe Milano Giuffregrave 2010 t 2 p1201-1220
NEGREIROS Teresa Teoria do contrato novos paradigmas Rio de Janeiro Renovar
2002
PERLINGIERI Pietro Manuale di diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2005
PERLINGIERI Pietro O direito civil na legalidade constitucional Rio de Janeiro Renovar
2008
PERLINGIERI Pietro Complessitagrave e unitarietagrave dellordinamento giuridico vigente Rassegna
di Diritto Civile Napoli v15 p188-216 2005
PERLINGIERI Pietro Autonomia privata e diritti di credito In Il diritto dei contratti fra
pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p23-35
PERLINGIERI Pietro I mobili confini dellautonomia privata In Il diritto dei contratti
fra pesona e mercato Problemi del diritto civile Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2003
p13-22
PERLINGIERI Pietro Equilibrio normativo e principio di proporzionalitagrave nei contratti In
FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio delle posizioni contrattuali ed autonomia privata
Napoli Edizioni Scientifiche Italiane 2002 p49-61
PERLINGIERI Pietro Relazione di sintesi In FERRONI Lanfranco (Coord) Equilibrio
delle posizioni contrattuali ed autonomia privata Napoli Edizioni Scientifiche Italiane
2002 p165-176
PERLINGIERI Pietro Nuovi profili del contratto Rassegna di Diritto Civille Napoli v21
n3 p543-571 2000
PRISCO Nicola di Gli itinerari dellautonomia privata In Il contratto Silloge in onore di
Giorgio Oppo Padova CEDAM 1992 v1 p93-113
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807
Arquivo Juriacutedico ndash ISSN 2317-918X ndash Teresina-PI ndash v 2 ndash n 2 ndash p 85-102
JulDez de 2015
102
SACCO Rodolfo DE NOVA Giorgio Il contratto In SACCO Rodolfo (Dir) Trattato di
diritto civile 3ed Torino UTET 2004 t 1-2
SCHREIBER Anderson Direito Civil e Constituiccedilatildeo In SCHREIBER Anderson
KONDER Carlos Nelson de Paula (org) Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas
2016 p 1-23
SCHREIBER Anderson Abuso do direito e boa-feacute objetiva In Direito civil e
constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p49-60
SCHREIBER Anderson O princiacutepio do equiliacutebrio das prestaccedilotildees e o instituto da lesatildeo In
Direito civil e constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2013 p119-137
SOUZA Eduardo Nunes de Abuso do direito novas perspectivas entre a licitude e o
merecimento de tutela Revista Trimestral de Direito Civil Rio de Janeiro n50 p35-91
abrjun 2012
SPADAFORA Antonio La regola contrattuale tra autonomia privata e canone di buona fede
prospettive di diritto europeo dei contratti e di diritto interno Torino G Giappichelli
Editore 2007
TEPEDINO Gustavo Premissas metodoloacutegicas para a constitucionalizaccedilatildeo do direito civil
In Temas de direito civil 4ed rev e atual Rio de Janeiro Renovar 2008 t 1 p1-23
TEPEDINO Gustavo Diaacutelogos entre fontes normativas na complexidade do ordenamento
Revista Brasileira de Direito Civil ndash RBDCivil vol 5 julset 2015 p 6-9 Disponiacutevel em
httpswwwibdcivilorgbrrbdcphpip=123amptitulo=20VOLUME20520|20Jul-
Set202015ampcategory_id=97amparquivo=datarevistavolume5rbdcivil-vol5-120116pdf
Acesso em 30122015
TEPEDINO Gustavo Notas sobre a funccedilatildeo social do contrato In Temas de direito civil Rio
de Janeiro Renovar 2009 t 3 p 145-155
TEPEDINO Gustavo Novos princiacutepios contratuais e a teoria da confianccedila a exegese da
claacuteusula to the best knowledge of the sellers In Temas de direito civil Rio de Janeiro
Renovar 2006 t 2
TEPEDINO Gustavo SCHREIBER Anderson A boa-feacute objetiva no Coacutedigo de Defesa do
Consumidor e no novo Coacutedigo Civil In TEPEDINO Gustavo (Coord) Obrigaccedilotildees estudos
na perspectiva civil-constitucional Rio de Janeiro Renovar 2005 p29-44
TERRA Aline de Miranda Valverde Liberdade do inteacuterprete na metodologia civil
constitucional In SCHREIBER Anderson KONDER Carlos Nelson de Paula (org)
Direito Civil e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas 2016 p 47-70
VILLELA Joatildeo Baptista Equiliacutebrio do contrato os nuacutemeros e a vontade In TEPEDINO
Gustavo FACHIN Luiz Edson (Org) Coleccedilatildeo doutrinas essenciaisobrigaccedilotildees e contratos
Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2011 v3 p767-807