avaliação da responsabilidade ambiental de uma pme do sector da metalomecânica
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MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA DO AMBIENTE
Avaliao da responsabilidade ambiental de uma PME do sector da metalomecnica
Patrcia Lusa Almeida Soares
Dissertao submetida para obteno do grau de MESTRE EM ENGENHARIA DO AMBIENTE RAMO DE GESTO
___________________________________________________________
Presidente do Jri: Manuel Afonso Magalhes da Fonseca Almeida (Professor Associado do Departamento de Engenharia Metalrgica e de Materiais da
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto)
___________________________________________________________ Orientador acadmico: Belmira de Almeida Ferreira Neto
(Professora Auxiliar do Departamento de Engenharia Metalrgica e de Materiais da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto)
___________________________________________________________
Co-orientador acadmico: Antnio Manuel Antunes Fiza (Professor Catedrtico do Departamento de Engenharia de Minas da Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto)
___________________________________________________________ Orientador na empresa: Maria Cludia Sotto-Mayor Rgo Ribeiro
(Engenheira Responsvel do Departamento de Ambiente e Higiene e Segurana do Centro de Apoio Tecnolgico Indstria Metalomecnica)
Porto, Outubro de 2011
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MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA DO AMBIENTE 2010/2011 Editado por FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO Rua Dr. Roberto Frias 4200-465 PORTO Portugal Tel. +351-22-508 1400 Fax +351-22-508 1440 Correio electrnico: [email protected] Endereo electrnico: http://www.fe.up.pt Reprodues parciais deste documento sero autorizadas na condio que seja mencionado o Autor e feita referncia a Mestrado Integrado em Engenharia do Ambiente 2010/2011 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2011. As opinies e informaes includas neste documento representam unicamente o ponto de vista do respectivo Autor, no podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou outra em relao a erros ou omisses que possam existir.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo a todos os que tornaram possvel a realizao deste trabalho, ao Eng. Hildebrando
Vasconcelos, Eng. Cludia Ribeiro, Eng Ana Teixeira e Marisa Santos do CATIM, Dr. Goreti
Oliveira e Eng Ana Correia e aos Professores Doutora Belmira Neto, Doutor Antnio Fiza e
Doutora Aurora Futuro Silva da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Agradeo ainda ao Andr, Nuno e Sandra.
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RESUMO
A responsabilidade por danos ambientais constitui um instrumento legal de proteco do
ambiente actualmente em vigor em Portugal e na Europa. Segundo a legislao vigente,
aprovada pelo Decreto-Lei n 147/2008, de 29 de Julho, todas as organizaes causadoras de
danos no ambiente so obrigadas a realizar as medidas de reparao primria, complementar
ou compensatria, necessrias restituio da situao anterior ocorrncia dos danos. So
tambm responsveis por suportar os custos associados reparao dos danos.
Neste contexto, existem vrias organizaes de pequena e mdia dimenso, com riscos
ambientais moderados e com escassez de recursos tcnicos e financeiros, que se confrontam
com a necessidade de avaliar os riscos ambientais associados s suas actividades, bem como
determinar os custos que podero resultar da implementao das eventuais medidas de
reparao. Salienta-se, no entanto, que a legislao vigente no especifica qual a metodologia
a usar para avaliao da responsabilidade por danos ambientais.
O trabalho realizado consiste na definio e aplicao de uma metodologia de identificao
dos eventuais danos ambientais causados pela actividade de uma instalao industrial, de
mdia dimenso do sector da metalomecnica, e de clculo dos custos associados reparao
desses danos. A metodologia tem por base o enquadramento estabelecido pelo Decreto-Lei n
147/2008, de 29 de Julho, e recorre identificao de cenrios de dano ambiental e
estimativa dos custos associados sua reparao. Foram identificados e caracterizados oito
cenrios de dano sobre a gua e o solo, dos quais foram avaliados dois, de modo a identificar
os tipos de medidas de reparao a implementar, bem como os custos associados. Foi ainda
realizada uma caracterizao do ambiente no local e na envolvente da instalao, no que diz
respeito s guas superficiais, subterrneas, solos e espcies e habitats naturais protegidos,
com recurso a informao existente em bases de dados nacionais e comunitrias. Esta
informao foi complementada com a realizao de caracterizaes fsico-qumicas do solo e
da gua do poo da instalao.
Concluiu-se que, para os dois cenrios avaliados, os custos de reparao, primria e
compensatria, so de cerca de 240 mil , para o cenrio de contaminao do solo por
emulses oleosas numa extenso de pequena dimenso, e de cerca de 500 mil para o
cenrio de contaminao do solo por metais pesados num extenso suficiente para afectar o
aqufero. Estes resultados podem ser utilizados pela empresa como factor de deciso para a
constituio de uma ou mais garantias financeiras, obrigatrias ao abrigo do diploma legal da
responsabilidade por danos ambientais.
Palavras-chave: responsabilidade ambiental, risco ambiental, garantia financeira e gesto do
risco.
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ABSTRACT
Environmental liability constitutes a legal instrument for preventing and remedying
environmental damage, and is now in force in Portugal and Europe. In Portugal the
Environmental Liability Directive (Directive 2004/35/EC) was transposed by decree-law n
147/2008. According to current legislation, those who cause environmental damage have to
take and pay for the costs of remedial measures. These remedial measures can be primary,
complementary and compensatory.
Many small and medium companies, with reasonable environmental risk and low technical and
financial resources, faces the need to estimate the environmental risks related with its own
activities. Moreover, these companies need to estimate the costs that could result from the
implementation of remedial measures. However, it should be noted that the current
legislation does not specify the methodology to evaluate the liability for environmental
damage.
This study defines and implements a methodology to identify environmental damage caused
by the activity of a medium scale metal industry, as well as the calculation of the cost
corresponding to the remedial measures. The methodology, based on the environmental
liability directive, creates environmental damages scenarios and sets the cost of its remedial
measures. Eight scenarios of water and soil damages were created, and two of the previous
were studied, in order to set the remedial measures and its cost. Furthermore, an
environmental characterization was made on site, respecting superficial water, groundwater,
soil, protected species and natural habitats. This characterization was supported by
Portuguese and European databases, as well as soil and groundwater analysis. It was
concluded that for the two studied scenarios, the cost of the environmental remedial
measures (primary and compensatory) is about 240 k for a scenario of hydrocarbons soil
contamination, and about 500 k for a scenario of heavy metal soil and groundwater
contamination. These results can be used by the organization to decide for one or more
required financial guarantees, under the statute of environmental damage liability.
Keywords: environmental liability, environmental risk, financial guarantee and risk
management.
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NDICE
1. INTRODUO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1
1.1 OBJECTIVOS E MBITO --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2
1.2 ORGANIZAO DA DISSERTAO -------------------------------------------------------------------------------------------------- 2
2. A RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS --------------------------------------------------------------------------------- 3
2.1 REGIME JURDICO DA RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS EM PORTUGAL: DESCRIO DO DIPLOMA LEGAL ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3
2.1.1 Aspectos importantes da aplicao do regime jurdico da responsabilidade por danos ambientais -- 10
2.2 RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS NA UNIO EUROPEIA -------------------------------------------------- 11
3. METODOLOGIA DE AVALIAO DA RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS ---------------------------------- 14
3.1 NORMAS DE ANLISE DE RISCO: ISO 31000 E UNE 150008 --------------------------------------------------------------- 14
3.1.1 A norma internacional ISO 31000 (Gesto de risco princpios e orientaes) ---------------------------- 15
3.1.2 A norma espanhola UNE 150008 (Anlise e avaliao do risco ambiental) ---------------------------------- 18
3.2 IDENTIFICAO DA METODOLOGIA USADA NO TRABALHO -------------------------------------------------------------- 22
3.2.1 Identificao de cenrios de dano ambiental ----------------------------------------------------------------------- 22
3.2.1.1 Identificao das fontes, eventos e factores condicionantes ------------------------------------------ 24
3.2.1.2 Caracterizao do local e da rea envolvente da instalao industrial ------------------------------ 24
3.2.2 Identificao das medidas de reparao e do custo associado a cada cenrio ----------------------------- 25
4. AVALIAO DA RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS DE UMA INSTALAO INDUSTRIAL DO SECTOR DA METALOMECNICA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 27
4.1 CARACTERIZAO DA INSTALAO INDUSTRIAL E DO MEIO ENVOLVENTE ------------------------------------------- 27
4.1.1 Descrio dos processos da instalao industrial ------------------------------------------------------------------ 29
4.1.2 Caracterizao ambiental do local e envolvente ------------------------------------------------------------------- 34
4.2 AVALIAO DOS DANOS AMBIENTAIS ------------------------------------------------------------------------------------------ 39
4.2.1 Identificao de cenrios de dano ambiental ----------------------------------------------------------------------- 39
4.2.2 Identificao das medidas de reparao e do custo associado a cada cenrio ----------------------------- 46
4.2.3 Anlise de sensibilidade -------------------------------------------------------------------------------------------------- 47
5. CONCLUSES, LIMITAES E PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS -------------------------------------------------- 49
ANEXO A ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 55
ANEXO B ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 67
ANEXO C------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 68
ANEXO D ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 76
ANEXO E ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 77
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NDICE DE FIGURAS ........................................................................................... PG.
Figura 1. Processo de gesto do risco segundo a ISO 31000 [9] .................................................................................. 16
Figura 2. Processo de identificao, avaliao e gesto do risco ambiental segundo a UNE 150008 [10] ................... 19
Figura 3. Fases da metodologia de avaliao da responsabilidade por danos ambientais .......................................... 22
Figura 4. Tarefas a realizar durante a Fase 1 (Identificao de cenrios de dano ambiental) ..................................... 23
Figura 5. Tarefas a realizar durante a Fase 2 (identificao das medidas de reparao e dos custos associados a cada cenrio) ........................................................................................................................................................................ 26
Figura 6. Envolvente da instalao em estudo (Fonte: GoogleEarth 2011) ................................................................. 28
Figura 7. Fluxograma do processo produtivo da instalao industrial em estudo ....................................................... 29
Figura 8. Localizao do poo de captao e ligaes ao exterior das redes de guas pluviais, guas residuais industriais e domsticas (Fonte: GoogleEarth 2011) ................................................................................................... 33
Figura 9. Rede hidrogrfica na envolvente da rea em estudo [12] ............................................................................ 34
Figura 10. Localizao da estao de Perres e classificao da qualidade da gua nesta estao [13] ..................... 35
Figura 11. Unidades hidrogeolgicas de Portugal e sistemas aquferos da unidade Orla Ocidental [13 e 15] ............ 35
Figura 12. Caracterizao litolgica do local da instalao e sua envolvente [12] ....................................................... 36
Figura 13. Caracterizao dos solos no local da instalao e sua envolvente [12]....................................................... 37
Figura 14. Localizao da Rede Natura 2000 na envolvente da instalao industrial [14] ........................................... 38
Figura E1. Resultados da medio n. 1 de metais no solo .......................................................................................... 77
Figura E2. Resultados da medio n. 2 de metais no solo .......................................................................................... 78
Figura E3. Local de medio de metais (medio n. 1) ............................................................................................... 78
Figura E4. Local de medio de metais (medio n. 2) ............................................................................................... 78
Figura E5. Distribuio granulomtrica do solo (histograma) ...................................................................................... 79
Figura E6. Distribuio dos cmulos inferiores ............................................................................................................ 80
Figura E7. Identificao da amostra analisada no diagrama triangular de solo ........................................................... 81
Figura E8. Ilustrao do processo de recolha da amostra de solo ............................................................................... 81
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NDICE DE TABELAS ........................................................................................... PG.
Tabela 1. Definies do Decreto-Lei n. 147/2008 com a alterao introduzida pelo Decreto-Lei n245/2009 [1 e 3] 5
Tabela 2. Actividades produtivas da instalao industrial em estudo ......................................................................... 30
Tabela 3. Actividades de suporte da instalao industrial em estudo ......................................................................... 31
Tabela 4. Descrio do cenrio C1 ............................................................................................................................... 42
Tabela 5. Descrio do cenrio C2 ............................................................................................................................... 42
Tabela 6. Descrio do cenrio C3 ............................................................................................................................... 43
Tabela 7. Descrio do cenrio C4 ............................................................................................................................... 43
Tabela 8. Descrio do cenrio C5 ............................................................................................................................... 44
Tabela 9. Descrio do cenrio C6 ............................................................................................................................... 44
Tabela 10. Descrio do cenrio C7 ............................................................................................................................. 45
Tabela 11. Descrio do cenrio C8 ............................................................................................................................. 45
Tabela 12. Medidas de reparao e determinao dos custos de reparao para o cenrio C3 ................................. 46
Tabela 13. Medidas de reparao e determinao dos custos de reparao para o cenrio C4 ................................. 47
Tabela 14. Gama de variao dos parmetros considerados e resultados obtidos na anlise de sensibilidade .......... 48
Tabela B1. Caractersticas (perigosidade e volume) dos banhos de tratamento de superfcie da instalao em estudo ..................................................................................................................................................................................... 67
Tabela C1. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de cromagem) .......... 68
Tabela C2. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de pintura) ............... 69
Tabela C3. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de manuteno) ....... 72
Tabela C4. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de desengorduramento) ................................................................................................................................................... 73
Tabela C5. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de montagem) .......... 74
Tabela C6. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de polimento) ........... 74
Tabela C7. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (ETAR) ......................................... 74
Tabela C8. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (actividade de soldadura) ........... 75
Tabela C9. Inventrio dos produtos qumicos existentes na instalao em estudo (produtos usados como combustvel)................................................................................................................................................................. 75
Tabela D1. Resultados da caracterizao da gua do poo da instalao em estudo e valores de referncia para contaminao de gua subterrnea............................................................................................................................. 76
Tabela E1. Resultados da medio de metais no solo e valores de referncia para contaminao de solo ................ 77
Tabela E2. Resultados da determinao de carbono orgnico e inorgnico no solo ................................................... 78
Tabela E3. Resultados da distribuio granulomtrica do solo .................................................................................... 79
Tabela E4. Repartio por classe textural do solo (pedregulho, areia, silte e argila) ................................................... 80
Tabela E5. Repartio por classe textural do solo (areia, silte e argila) ....................................................................... 80
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SMBOLOS E ABREVIATURAS
EU European Union
PME Pequena e Mdia Empresa
APA Agncia Portuguesa do Ambiente
SNIRH Sistema Nacional de Informao de Recursos Hdricos
SNIAMB Sistema Nacional de Informao do Ambiente
UNE Una Norma Espaola
ISO International Organization for Standardization
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1. INTRODUO
A legislao nacional e comunitria tem promovido a proteco do ambiente, pondo em
prtica os princpios estabelecidos na Lei de Bases do Ambiente, aprovada pela Lei n. 11/87,
publicada no Dirio da Repblica n. 81, 1. srie, de 7 de Abril de 1987.
Especificamente o princpio da responsabilizao foi reforado com a publicao, em Julho de
2008, de um diploma legal (Decreto-Lei n. 147/2008) que estabeleceu o regime jurdico da
responsabilidade por danos ambientais.
Para efeitos legais, a partir desta data, todos os que causem danos ao ambiente no mbito de
uma actividade econmica ficam obrigados a realizar as medidas de reparao necessrias e
suportar os custos associados. Contudo, e seguindo as directrizes estabelecidas pela directiva
comunitria de base, somente so considerados na anlise as espcies e habitats naturais
protegidos, as guas e os solos quando as aces que resultam nestes possam pr em risco a
sade humana. Para alm da obrigatoriedade de reparao dos danos ambientais, uma grande
parte das organizaes ainda obrigada a constituir uma garantia financeira que lhe permita
assumir a responsabilidade pelo dano causado.
O diploma legal referido aplica-se, assim, a um universo vasto de organizaes, de dimenso,
potenciais riscos ambientais e capacidade tcnica e financeira muito diversificadas. Salienta-se
que muitas das organizaes no esto familiarizadas com metodologias de avaliao e
preveno do risco ambiental. Para alm disso, os seguros de responsabilidade civil da maior
parte das organizaes no permitem fazer face a esta nova obrigao de reparao dos danos
causados ao ambiente.
Neste contexto, e na ausncia de uma metodologia especfica definida pelas entidades
competentes para a avaliao econmica de danos ambientais ou para a avaliao do risco
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ambiental, surge a necessidade de desenvolver uma metodologia que possa ser usada por
organizaes de pequena e mdia dimenso e riscos ambientais moderados, de modo a
determinar o custo associado reparao dos potenciais danos causados ao ambiente. Os
resultados podem ser usados pelas organizaes na gesto dos seus riscos ambientais,
nomeadamente na constituio de uma garantia financeira, obrigatria ao abrigo do Decreto-
Lei n. 147/2008, que permita repor a situao anterior verificada antes da ocorrncia do
dano.
1.1 OBJECTIVOS E MBITO
Este trabalho tem como objectivo a determinao do custo que poder estar associado
reparao dos potenciais danos causados ao ambiente de uma instalao industrial de mdia
dimenso do sector da metalomecnica, localizada no distrito de Aveiro.
A metodologia desenvolvida tem por base a metodologia de cenrios e segue o preconizado
no diploma da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n. 147/2008). Os cenrios avaliados
dizem respeito a danos sobre as guas e solos, tendo sido excludos do mbito do trabalho os
cenrios de dano que focam as espcies e habitats naturais protegidos.
1.2 ORGANIZAO DA DISSERTAO
A dissertao est estruturada em cinco captulos. Neste primeiro captulo enquadrado o
tema da responsabilidade por danos ambientais e descrita a motivao para a realizao deste
trabalho. So ainda identificados os objectivos e o mbito, bem como a organizao da
dissertao.
No segundo captulo apresentado o regime jurdico da responsabilidade por danos
ambientais, bem como alguns aspectos relevantes da sua aplicao. ainda realizado o
enquadramento deste tema na Unio Europeia.
No terceiro captulo apresentada a metodologia usada no trabalho. So ainda descritas duas
abordagens normativas de gesto do risco ambiental.
No quarto captulo caracterizada a instalao em estudo e avaliada a responsabilidade por
danos ambientais, tendo por base a metodologia apresentada no terceiro captulo.
No quinto captulo so apresentadas as principais concluses e limitaes do trabalho
realizado. Neste captulo tambm so identificadas recomendaes para trabalhos futuros.
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2. A RESPONSABILIDADE POR DANOS
AMBIENTAIS
2.1 REGIME JURDICO DA RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS EM
PORTUGAL: DESCRIO DO DIPLOMA LEGAL
O regime jurdico da responsabilidade por danos ambientais foi estabelecido pelo Decreto-Lei
n. 147/2008, publicado no Dirio da Repblica n. 145, 1. srie, de 29 de Julho de 2008, cujo
texto apresentado na ntegra no Anexo A [1]. Entrou em vigor a 1 de Agosto de 2008 e
constituiu a transposio para a ordem jurdica nacional da Directiva 2004/35/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Abril de 2004 [2].
Desde a data de transposio, o diploma legal anteriormente referido foi objecto de duas
alteraes. Uma rectificou a definio de danos causados gua, anulando a excepo a
referenciada, e a outra est relacionada com a criao de uma portaria regulamentar
relacionada com a garantia financeira prevista no diploma legal. Estas alteraes foram
introduzidas por dois diplomas legais, nomeadamente o Decreto-Lei n 245/2009 (publicado
no Dirio da Repblica n 184, 1 srie, de 22 de Setembro de 2009) e o Decreto-Lei n. 29-
A/2011 (publicado no Suplemento ao Dirio da Repblica n 42, 1 Srie, de 1 de Maro de
2011) [3 e 4].
A entidade competente para efeitos da sua aplicao a Agncia Portuguesa do Ambiente
(APA). As entidades fiscalizadoras so a Inspeco-Geral do Ambiente e do Ordenamento do
Territrio (IGAOT), a APA e o Servio de Proteco da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da
Guarda Nacional Republicana (GNR). Como diploma complementar identifica-se o Despacho
n. 12778/2010 (publicado no Dirio da Repblica n. 153, 2. srie, de 9 de Agosto de 2010)
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que determina a criao da Comisso Permanente de Acompanhamento para a
Responsabilidade Ambiental (CPA-RA), composta por elementos da APA, do Instituto da
Conservao da Natureza e da Biodiversidade, I.P. (ICNB), do Instituto da gua, I.P. (INAG), das
Administraes das Regies Hidrogrficas, I.P. (ARH) e das Comisses de Coordenao e
Desenvolvimento Regional (CCDR). Os objectivos desta comisso so o estabelecimento de
mecanismos de articulao expeditos e o auxlio da APA na tomada de decises, atravs da
cooperao tcnica e partilha de informao entre as vrias entidades, sempre que esteja em
causa um dano ambiental ou ameaa eminente desse dano.
O Decreto-Lei n. 147/2008 composto por cinco captulos e seis anexos, sendo de destacar o
captulo III que estabelece a responsabilidade administrativa pela preveno e reparao de
danos ambientais e os anexos III (enumera as actividades econmicas abrangidas pela
responsabilidade objectiva), IV (estabelece orientaes para avaliao do carcter significativo
dos danos causados aos espcies e habitats naturais protegidos) e V (tece consideraes
importantes acerca das medidas de reparao dos danos ambientais).
O mbito de aplicao do diploma so os danos ambientais, bem como as ameaas iminentes
desses danos, causados em resultado do exerccio de uma qualquer actividade desenvolvida
no mbito de uma actividade econmica, independentemente do seu carcter pblico ou
privado, lucrativo ou no. Alguns aspectos associados responsabilidade ambiental no so,
no entanto, aplicados em determinadas circunstncias. Estes so listados no captulo I do
diploma legal e referem-se a, por exemplo, danos ambientais causados por actos de conflito
armado; fenmenos naturais de carcter totalmente excepcional; actividades cujo principal
objectivo reside na defesa nacional ou na segurana internacional; outras actividades cujo
nico objectivo reside na proteco contra catstrofes naturais; incidentes relativamente aos
quais a responsabilidade seja abrangida pelo mbito de aplicao de convenes
internacionais; outras decorrentes de riscos nucleares ou causados pelas actividades
abrangidas pelo Tratado que institui a Comunidade Europeia da Energia Atmica ou por
incidentes ou actividades relativamente aos quais a responsabilidade ou compensao seja
abrangida pelo mbito de outros instrumentos internacionais.
fundamental a compreenso dos conceitos apresentados no diploma, nomeadamente os de
danos ambientais, guas, espcies e habitats naturais protegidos, ameaa eminente de danos,
emisso, recursos naturais, servios de recursos naturais, estado inicial, custos, medidas de
preveno, medidas de reparao e regenerao dos recursos naturais. A definio destes
conceitos apresentada na Tabela 1.
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Tabela 1. Definies do Decreto-Lei n. 147/2008 com a alterao introduzida pelo Decreto-Lei n245/2009 [1 e 3]
Conceito Definio
Danos ambientais
Danos causados s espcies e habitats naturais protegidos
Danos com efeitos significativos adversos para a consecuo ou a manuteno do estado de conservao favorvel desses habitats ou espcies, cuja avaliao tem que ter por base o estado inicial, nos termos dos critrios constantes no anexo IV ao presente decreto-lei, do qual faz parte integrante, com excepo dos efeitos adversos previamente identificados que resultem de um acto de um operador expressamente autorizado pelas autoridades competentes, nos termos da legislao aplicvel.
Danos causados gua
Danos que afectem adversa e significativamente, nos termos da legislao aplicvel, o estado ecolgico ou o estado qumico das guas de superfcie, o potencial ecolgico ou o estado qumico das massas de gua artificiais ou fortemente modificadas, ou o estado quantitativo ou o estado qumico das guas subterrneas.
Danos causados ao solo
Contaminao do solo que crie um risco significativo para a sade humana devido introduo, directa ou indirecta, no solo ou sua superfcie, de substncias, preparaes, organismos ou microrganismos.
guas Todas as guas abrangidas pelo regime jurdico das guas, constante da Lei n. 58/2005, de 29 de Dezembro, e respectiva legislao complementar e regulamentar.
Espcies e habitats naturais protegidos
Os habitats e as espcies de flora e fauna protegidos nos termos da lei.
Ameaa eminente de danos
Probabilidade suficiente da ocorrncia de um dano ambiental, num futuro prximo.
Emisso Libertao para o ambiente de substncias, preparaes, organismos ou microrganismos, que resulte de uma actividade humana.
Recursos naturais As espcies e habitats naturais protegidos, a gua e o solo.
Servios de recursos naturais
Funes desempenhadas por um recurso natural em benefcio de outro recurso natural ou do pblico.
Estado inicial A situao no momento da ocorrncia do dano causado aos recursos naturais e aos servios, que se verificaria se o dano causado ao ambiente no tivesse ocorrido, avaliada com base na melhor informao disponvel.
Custos
Todos os custos justificados pela necessidade de assegurar uma aplicao adequada e eficaz do presente decreto-lei, nomeadamente os custos da avaliao dos danos ambientais, da ameaa iminente desses danos, das alternativas de interveno, bem como os custos administrativos, jurdicos, de execuo, de recolha de dados, de acompanhamento e de superviso e outros custos gerais.
Medidas de preveno
Medidas adoptadas em resposta a um acontecimento, acto ou omisso que tenha causado uma ameaa iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou minimizar ao mximo esses danos.
Medidas de reparao
Qualquer aco, ou conjunto de aces, incluindo medidas de carcter provisrio, com o objectivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os servios danificados ou fornecer uma alternativa equivalente a esses recursos ou servios, tal como previsto no anexo V ao presente decreto-lei, do qual faz parte integrante.
Regenerao dos recursos naturais
Incluindo a regenerao natural, no caso das guas, das espcies e dos habitats naturais protegidos, o regresso dos recursos naturais e dos servios danificados ao seu estado inicial, e no caso dos danos causados ao solo, a eliminao de quaisquer riscos significativos que afectem adversamente a sade humana.
Operador
Qualquer pessoa singular ou colectiva, pblica ou privada, que execute, controle, registe ou notifique uma actividade cuja responsabilidade ambiental esteja sujeita a este decreto -lei, quando exera ou possa exercer poderes decisivos sobre o funcionamento tcnico e econmico dessa mesma actividade, incluindo o titular de uma licena ou autorizao para o efeito.
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de realar que, no mbito deste diploma, so considerados recursos naturais:
as espcies e habitats naturais protegidos; abrangidas pelo Decreto-Lei n 49/2005, de
24 de Fevereiro, que procede reviso da transposio para o direito interno de duas
directivas comunitrias, a Directiva 92/43/CEE (directiva habitats) e a Directiva
79/409/CEE (directiva aves);
as guas; abrangidas pela Lei da gua, aprovada pela Lei n. 58/2005, de 29 de
Dezembro, e respectiva legislao complementar e regulamentar 1; aqui incluem-se as
guas interiores, de transio, costeiras e as guas subterrneas, qualquer que seja o
seu regime jurdico, abrangendo, alm das guas, os respectivos leitos e margens, bem
como as zonas adjacentes, zonas de infiltrao mxima e zonas protegidas;
e o solo, quando se verifica risco para a sade humana.
Adicionalmente, s se considera a existncia de dano ambiental quando os efeitos so
significativos e adversos para as espcies e habitats naturais protegidos e/ou para a gua e, no
caso do solo, quando h um risco significativo para a sade humana. Em relao s espcies e
habitats naturais protegidos, conforme referido anteriormente, no anexo IV esto descritas
orientaes sobre como avaliar se os efeitos so significativos e adversos.
A responsabilidade resultante deste diploma legal traduz-se na obrigatoriedade de adopo
das medidas de preveno e de reparao dos danos ou ameaas causados ao ambiente. A
responsabilidade objectiva incide sobre os operadores nas prticas operacionais citadas no
anexo III que causem danos ambientais ou ameaa eminente, independentemente da
existncia de dolo ou culpa. Por outro lado, a responsabilidade subjectiva incide sobre os todos
os operadores de prticas operacionais distintas das referidas no mesmo anexo que causem
danos ambientais ou ameaa eminente, com dolo ou negligncia.
Sendo responsabilidade do operador a realizao das medidas de preveno, por sua iniciativa
ou por exigncia da APA, em determinadas circunstncias, esta tambm pode ser da APA. O
que acontece quando, no obstante as medidas que o operador tenha adoptado, a ameaa
iminente de dano ambiental no tenha desaparecido, ou quando a gravidade e as
consequncias dos eventuais danos assim o justifiquem; quando o operador no cumpriu a sua
obrigao; quando no possvel identificar o operador responsvel ou quando o operador
no obrigado a suportar esses custos. De igual modo, a responsabilidade pelas medidas de
reparao a adoptar quando ocorreram danos ambientais pode ser da APA, quando a
1 DecretoLei n. 77/2006 de 30 de Maro, DecretoLei n. 208/2008 de 28 de Outubro, Portaria n. 702/2009 de 6
de Julho e Portaria n. 1115/2009 de 29 de Setembro.
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gravidade e as consequncias dos danos assim o exijam ou quando no possvel identificar o
operador responsvel ou, ainda, quando o operador no obrigado a suportar esses custos.
Constitui tambm uma obrigao dos operadores informarem imediatamente a APA sobre
todos os aspectos relacionados com a existncia de uma ameaa iminente de danos
ambientais verificada, das medidas de preveno do dano adoptadas e do sucesso destas
medidas. No caso de ocorrncias de danos ambientais e da necessidade da adopo de
medidas de reparao, o diploma define um procedimento administrativo que passa pela
aprovao da APA da proposta do operador, do plano de medidas de reparao, bem como a
realizao de audincias aos operadores e partes interessadas.
Este diploma legal estabelece ainda que todos os interessados podem apresentar APA
observaes relativas a situaes de danos ambientais, ou de ameaa iminente desses danos,
de que tenham tido conhecimento e tm o direito de pedir a sua interveno ao abrigo da
responsabilidade ambiental, apresentando com esse pedido os dados e informaes
relevantes de que disponham.
Os custos das medidas de preveno e reparao so suportados pelo operador responsvel
pelo dano ambiental ou ameaa iminente desse dano. No caso de a APA ter actuado
directamente ser exigido o reembolso desses custos. Os casos de excepo obrigam que o
operador demonstre que o dano ou a ameaa eminente do dano foi causado por terceiros e
ocorreu apesar de terem sido adoptadas as medidas de segurana adequadas ou que resultou
do cumprimento de uma ordem ou instruo de uma autoridade pblica. Ainda assim, nesta
situao, o operador obrigado a adoptar e executar as medidas de preveno e reparao
dos danos ambientais, sendo indemnizado posteriormente. Constituem ainda excepo as
situaes em que o operador demonstre que, sem dolo ou negligncia, o dano ambiental foi
causado por uma de duas situaes: uma emisso ou um facto permitido ao abrigo de um dos
actos autorizadores identificados no anexo III do diploma legal, com respeito pelas condies
nele estabelecidas e no regime jurdico aplicvel ao mesmo data da ocorrncia. A outra
situao refere-se a uma emisso, actividade ou qualquer forma de utilizao de um produto
no decurso de uma actividade, que no sejam consideradas susceptveis de causar danos
ambientais de acordo com o estado do conhecimento cientfico e tcnico no momento em que
se produziu a emisso ou se realizou a actividade.
Um outro aspecto importante do diploma da responsabilidade ambiental relaciona-se com a
constituio de uma garantia financeira. Os operadores que exercem actividades listadas no
anexo III do diploma legal tm obrigatoriamente de constituir uma ou mais garantias
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financeiras prprias e autnomas, alternativas ou complementares entre si, que lhes permitam
assumir a responsabilidade ambiental inerente actividade por si desenvolvida. Estas
garantias financeiras so indicadas como obrigatrias no diploma legal a partir de 1 de Janeiro
de 2010. Os formatos incluem a subscrio de aplices de seguro, a obteno de garantias
bancrias, a participao em fundos ambientais ou a constituio de fundos prprios
reservados para o efeito, e devem obedecer ao princpio da exclusividade.
As medidas que assegurem a reparao dos danos ambientais devem ser realizadas de
acordo com as directrizes genricas estabelecidas no anexo V do diploma da responsabilidade
ambiental que as divide em dois tipos, dependendo se os danos so causados gua ou as
espcies e habitats naturais protegidos ou se so causados ao solo.
A reparao de danos ambientais causados gua, s espcies e habitats naturais protegidos
alcanada atravs da restituio do ambiente ao seu estado inicial por via de reparao
primria, complementar e compensatria, implicando tambm a eliminao de qualquer risco
significativo de danos para a sade humana.
A reparao primria tem como objectivo restituir os recursos naturais e/ou servios
danificados ao estado inicial, ou aproxim-los desse estado. Podem ser consideradas aces
que conduzem ao estado inicial num prazo acelerado ou atravs da regenerao natural.
A reparao complementar realizada sempre que os recursos naturais e/ou servios
danificados no tiverem sido restitudos ao estado inicial e tem como objectivo proporcionar
um nvel de recursos naturais e/ou servios similar ao que teria sido proporcionado se o stio
danificado tivesse regressado ao seu estado inicial. Pode incluir um stio alternativo que,
quando possvel e apropriado, deve estar geograficamente relacionado com o stio danificado,
tendo em conta os interesses da populao afectada.
A reparao compensatria tem como objectivo compensar perdas transitrias de recursos
naturais e/ou de servios, verificados a partir da data de ocorrncia dos danos at sua
recuperao. As perdas transitrias so resultantes do facto de os recursos naturais e/ou
servios danificados no poderem realizar as suas funes ecolgicas ou prestar servios a
outros recursos naturais ou ao pblico enquanto as medidas primrias ou complementares
no tiverem produzido efeitos. A compensao consiste em melhorias suplementares dos
habitats naturais e espcies protegidos ou da gua, quer no stio danificado quer num stio
alternativo. No est prevista uma compensao financeira para o pblico em geral.
Para a determinao da escala das medidas de reparao complementar e compensatria,
deve considera-se em primeiro lugar a utilizao de abordagens de equivalncia recurso-a-
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recurso ou servio-a-servio. Segundo esses mtodos, devem considerar-se em primeiro lugar
as aces que proporcionem recursos naturais e/ou servios do mesmo tipo, qualidade e
quantidade que os danificados. Se no for possvel utilizar as abordagens de equivalncia de
primeira escolha recurso-a-recurso ou servio-a-servio, o diploma sugere que ser utilizadas
tcnicas alternativas de valorao, com base em prescries da APA.
Os critrios a usar na escolha entre opes de reparao, utilizando as melhores tecnologias
disponveis, sempre que estejam definidas, devem ser o efeito positivo na sade pblica e na
segurana; o custo de execuo; a probabilidade de xito; a medida em que cada opo
previne danos futuros e evita danos colaterais resultantes da sua execuo; a medida em que
cada opo beneficia cada componente do recurso natural e ou servio; a medida em que cada
opo tem em considerao preocupaes de ordem social, econmica e cultural e outros
factores relevantes especficos da localidade; o perodo necessrio para que o dano ambiental
seja efectivamente reparado e a relao geogrfica com o stio danificado.
Ao avaliar as diferentes opes de reparao identificadas, podem ser escolhidas medidas de
reparao primria que no restituam totalmente ao estado inicial as guas e as espcies e
habitats naturais protegidos danificados ou que os restituam mais lentamente. Esta deciso s
pode ser tomada se os recursos naturais e/ou servios de que se prescindiu no stio primrio
forem compensados com a intensificao de aces complementares ou compensatrias para
proporcionar um nvel de recursos naturais e/ou de servios similar ao daqueles de que se
prescindiu. Ser o caso, por exemplo, quando se puderem proporcionar recursos naturais e/ou
servios equivalentes noutro local a custo mais baixo. Estas medidas de reparao adicionais
so determinadas segundo os critrios identificados anteriormente.
A APA pode decidir no tomar outras medidas de reparao se as j realizadas assegurarem a
inexistncia de riscos significativos de efeitos adversos para a sade humana, as guas ou as
espcies e habitats naturais protegidos, ou se o custo das medidas de reparao que deveriam
ser tomadas para atingir o estado inicial ou um nvel similar for desproporcionado em relao
aos benefcios ambientais a obter.
Em relao ao solo, o diploma refere que devem ser adoptadas as medidas necessrias para
assegurar, no mnimo, que os contaminantes em causa sejam eliminados, controlados,
contidos ou reduzidos, a fim de que o solo contaminado deixe de comportar riscos
significativos de efeitos adversos para a sade humana. A presena destes riscos avaliada
atravs de um processo que tem em conta as caractersticas e funes do solo, o tipo e a
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concentrao das substncias, preparaes, organismos ou microrganismos perigosos, os seus
riscos e a sua possibilidade de disperso.
2.1.1 Aspectos importantes da aplicao do regime jurdico da responsabilidade por danos
ambientais
A estratgia da APA para a implementao da responsabilidade ambiental em Portugal,
enquanto autoridade competente, engloba uma srie de aces. Das medidas j realizadas,
destacam-se o desenvolvimento de uma ferramenta informtica, designada de SARA.E, em
resultado de um protocolo estabelecido com entidades privadas, bem com a publicao no seu
stio da internet de orientaes acerca da aplicao do diploma legal, nomeadamente no que
se refere determinao do montante da garantia financeira e caracterizao do estado
inicial ambiental do local onde a organizao se insere. Destaca-se ainda a publicao, prevista
para breve, de diversos documentos tais como guias metodolgicos para avaliao de ameaa
eminente e dano ambiental que definem dano adverso e significativo para as trs
componentes ambientais, um documento relacionado com as garantias financeiras que prev
a iseno da sua constituio para actividades consideradas de baixo risco e um guia
metodolgico para a constituio de garantias financeiras [5].
As orientaes estabelecem que o valor para a garantia financeira deve ser determinado com
base na estimativa dos custos das medidas de preveno e reparao dos danos
potencialmente envolvidos. Esta estimativa deve ter por base vrias aces, tais como a
caracterizao da actividade ocupacional, incluindo todas as operaes que envolvam riscos
para o ambiente; a identificao do estado inicial realizada por anlise da situao actual das
espcies e habitats naturais protegidos, das massas de gua de superfcie e subterrneas e dos
solos na envolvente da actividade ocupacional, susceptveis de serem afectadas pelas
situaes de risco que a ocorram; a identificao e anlise dos cenrios de risco previsveis,
isto , os incidentes susceptveis de ocasionarem danos ambientais com probabilidade de
ocorrncia no negligencivel, como por exemplo, a libertao acidental de substncias
perigosas, incndio ou exploses; a avaliao dos danos ambientais associados aos cenrios de
risco previsveis; a definio dos programas de medidas para a preveno e a reparao dos
danos ambientais, nos termos do disposto no anexo V do diploma legal, e a determinao dos
custos das medidas referidas [6].
A identificao do estado inicial deve centrar-se nas trs componentes ambientais abrangidas
pelo diploma e deve estar sempre acompanhada do ano de referncia para o incio da
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caracterizao, da frequncia de actualizaes dessa caracterizaes e das fontes de
informao utilizadas. Para as espcies e habitats naturais protegidos deve ser realizada a
delimitao dos habitats naturais com estatuto de proteco legal e a identificao da
distribuio natural das espcies de fauna e flora, de acordo com a melhor informao
disponvel. Para a gua devem ser identificadas as massas de gua de superfcie e subterrneas
e o respectivo estado, de acordo com a legislao aplicvel e a melhor informao disponvel.
No solo, atravs das caractersticas fsicas e qumicas do solo, de acordo com a melhor
informao disponvel. No caso de serem realizadas actividades de transporte de substncias
perigosas fundamental o conhecimento dos trajectos realizados, sendo deixada em aberto a
melhor metodologia a aplicar nestas situaes [6].
2.2 RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS NA UNIO EUROPEIA
O quadro da responsabilidade ambiental na Unio Europeia foi introduzido pela Directiva
2004/35/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Abril de 2004 [2]. A sua
transposio pelos EstadosMembros prolongou-se at 1 de Julho de 2010, muito para alm
do prazo limite de 30 de Abril de 2007 que somente 4 dos EstadosMembros respeitaram [7].
Em Outubro de 2010 foi publicado um relatrio de avaliao da eficcia da directiva [7],
elaborado pela Comisso Europeia. As informaes mais relevantes deste relatrio so a seguir
apresentadas.
Os atrasos na transposio da directiva deveram-se necessidade de adaptao dos quadros
jurdicos nacionais de responsabilidade ambiental j existentes, da realizao de debates e
obteno de consensos face margem de liberdade deixada pela directiva e tambm da
complexidade de alguns dos seus requisitos, tais como a avaliao econmica de danos
ambientais, metodologias de reparao e a componente de espcies e habitats naturais
protegidos.
A sua aplicao pelos Estados-Membros decorreu com diferenas significativas,
nomeadamente a incluso dos danos causados a espcies e habitats naturais protegidos, de
carcter facultativo; a permisso de isenes ao pagamento das medidas de reparao em
situaes relacionadas com autorizaes ou estado do conhecimento cientfico e tcnico; a
incluso da actividade de disperso de lamas de guas residuais provenientes de instalaes
de tratamento de resduos urbanos e tambm as regras da responsabilidade partilhada e a
obrigatoriedade de constituio de uma garantia financeira.
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Em Outubro de 2010, a Comisso Europeia estimava que os casos de danos ambientais na
Unio Europeia tratados no mbito da directiva fossem 50, embora somente 16 casos tenham
sido reportados pelos Estados-Membros. Na maioria dos casos tinham sido aplicadas medidas
de reparao primria e em nenhum existia referncia a medidas complementares ou
compensatrias. O custo total associado s medidas de reparao situava-se entre os 12 000
euros e 250 000 euros e o tempo necessrio para a recuperao ambiental variava entre uma
semana e trs anos.
O nvel de preparao dos Estados-Membros para a pr em prtica tambm muito varivel,
nomeadamente no que se refere definio de orientaes, procedimentos e manuais sobre a
avaliao tcnica e econmica de danos ambientais ou avaliao do risco. O incentivo para o
desenvolvimento de mercados e instrumentos de garantia financeira foi bastante reduzido,
pelo que, na maioria dos casos, esses mercados desenvolveram-se por iniciativa das
seguradoras. O seguro foi o instrumento mais popular para a cobertura da responsabilidade
ambiental, seguido das garantias bancrias e de outros instrumentos baseados no mercado,
tais como fundos e obrigaes.
A avaliao realizada pela Comisso Europeia para a implementao da directiva conclui que
as informaes disponveis nessa data ainda no permitiam concluses concretas sobre os
objectivos a que se propunha, nomeadamente a avaliao da eficcia da directiva em termos
de reparao de danos ambientais. Conclui tambm que no existia justificao suficiente para
a introduo de um sistema harmonizado de garantia financeira obrigatria. Aces de
informao e comunicao, orientaes de interpretao da directiva e o registo dos casos so
referidas como medidas de melhoria da aplicao e da eficcia da directiva. So ainda
identificados os pontos que exigem especial ateno na sua reviso, prevista para 2013 ou
2014, nomeadamente no que se refere lacuna existente para uma plena reparao dos
danos causados ao meio marinho, destacando-se os derrames de petrleo provocados por
actividades petrolferas.
Salienta-se que a Comisso Europeia tem patrocinado trabalhos de investigao sobre
metodologias de avaliao econmica dos danos ambientais dos quais se destaca o projecto
REMEDE (abreviao para Resource Equivalency Methods for Assessing Environmental Damage
in the EU) que visou o desenvolvimento, teste e disseminao de mtodos de determinao da
escala das medidas de reparao necessrias para uma adequada compensao dos danos
ambientais [8]. Neste projecto participaram os Estados-Membros da Unio Europeia e os
Estados Unidos da Amrica e contou com tcnicos de diversas especialidades, ecologistas,
economistas e juristas. Os resultados, apesar de importantes para a definio de medidas de
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reparao primria, complementar e compensatria, a implementar em caso de dano
ambiental (no mbito do definido no anexo V do Decreto-Lei n. 147/2008) aplicadas em geral,
no so descritos por se considerar que no so relevantes no mbito deste trabalho.
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3. METODOLOGIA DE AVALIAO DA
RESPONSABILIDADE POR DANOS
AMBIENTAIS
Neste captulo apresentada a metodologia usada no trabalho para a avaliao da
responsabilidade por danos ambientais de uma instalao industrial de mdia dimenso do
sector da metalomecnica. Tem por base a metodologia de cenrios e segue o preconizado no
diploma da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n. 147/2008). Na definio da
metodologia foram usados elementos definidos em duas normas de anlise de risco que
tambm so aqui apresentadas.
3.1 NORMAS DE ANLISE DE RISCO: ISO 31000 E UNE 150008
So aqui so apresentadas duas normas que definem princpios e linhas de orientao para a
realizao de uma anlise de riscos, enquadrada num processo mais abrangente de gesto do
risco. So apresentadas a norma internacional ISO 31000 (Gesto de risco princpios e
orientaes) [9] e a norma espanhola UNE 150008 (Anlise e avaliao do risco ambiental)
[10]. A norma internacional aplica-se a riscos de natureza diversa, incluindo a ambiental. A
norma espanhola foi desenvolvida especificamente para riscos ambientais.
Enquanto documentos normativos tm como objectivo orientar a realizao de avaliaes de
risco, fornecendo uma linguagem comum aos envolvidos no processo (organizaes
industriais, mercado financeiro, administrao pblica e outros grupos interessados). A seguir
so descritos os requisitos de cada uma das normas, sendo de realar que existem conceitos e
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fundamentos definidos em cada uma delas que nem sempre so coincidentes. No final
realizada uma anlise comparativa entre os dois documentos normativos.
3.1.1 A norma internacional ISO 31000 (Gesto de risco princpios e orientaes)
Esta uma norma internacional publicada, na sua primeira edio, em Novembro de 2009 [9].
Estabelece que risco o efeito da incerteza na obteno dos objectivos de uma organizao e
descreve um processo sistemtico e lgico de gesto do risco em todas as suas etapas,
designadamente identificao, anlise, avaliao e tratamento do risco. Estabelece ainda
princpios que devem ser seguidos por forma a realizar uma efectiva gesto do risco. uma
norma aplicvel a qualquer tipo de organizao, privada ou pblica, associaes, grupos ou
mesmo individualmente, no estando vocacionada para qualquer tipo de indstria ou sector.
Pode ser aplicada em toda a organizao ou somente em algumas das suas actividades, tais
como estratgicas, operaes, processos, projectos ou produtos. Os riscos a gerir podem ser
de qualquer natureza, com consequncias negativas ou positivas.
Para compreender esta norma importante ter presente algumas das suas definies de base,
descritas na norma e num documento guia auxiliar [11].
O risco definido como o efeito da incerteza na obteno dos objectivos, os quais podem ser
de mbito financeiro, ambiental, de segurana e sade no trabalho, entre outros. A
combinao entre as consequncias de um evento e a sua probabilidade de ocorrncia ,
talvez, o modo mais comum de definir o risco. A gesto do risco consiste nas actividades
coordenadas para dirigir e controlar uma organizao no que respeita ao risco. O processo de
gesto do risco inclui a aplicao sistemtica de polticas, procedimentos e prticas de gesto
s actividades de comunicao, consulta, estabelecimento do contexto e identificao, anlise,
avaliao, tratamento, monitorizao e reviso do risco. A apreciao do risco, muitas vezes
tambm designada por avaliao do risco, engloba as etapas de identificao, anlise e
avaliao do risco. Uma fonte de risco o elemento que, por si s ou em combinao com
outros, tem o potencial intrnseco de originar um risco. Um perigo uma fonte de dano
potencial, podendo ser uma fonte de risco. Um evento trata-se de uma ou mais ocorrncias ou
alterao de um conjunto particular de circunstncias, podendo ter vrias causas, nunca
ocorrer, sendo muitas vezes designado por incidente ou acidente. A consequncia o
resultado de um evento que afecta objectivos. O processo para modificar o risco consiste no
tratamento do risco e o risco residual aquele que subsiste aps o seu tratamento.
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Os princpios que tm de estar presentes para que a gesto do risco seja efectiva so os de
constituir um processo que acrescenta valor organizao, estar integrada nos seus processos,
fazer parte da tomada de deciso, demostrar que a incerteza est prevista, ser um processo
sistemtico, estruturado e actual, basear-se na melhor informao disponvel, estar adaptado
organizao, ter em considerao os factores humanos e culturais, ser transparente e
abrangente, dinmico e adaptar-se s alteraes e contribuir para a melhoria contnua da
organizao.
Para que a gesto do risco possa ser realizada, necessrio estabelecer uma estrutura da
gesto do risco. Esta estrutura consiste num conjunto de elementos que fornecem os
fundamentos e disposies organizacionais para conceber, implementar, monitorizar, rever e
melhorar continuamente o processo de gesto do risco em toda a organizao. Os
fundamentos incluem a poltica, os objectivos, o mandato e o compromisso para gerir o risco.
As disposies organizacionais incluem os planos, as relaes, a responsabilizao, os recursos,
os processos e as actividades. Orientaes para o estabelecimento de uma estrutura da gesto
do risco numa organizao esto descritos na norma. O processo de gesto de risco
constitudo pelas etapas de comunicao e consulta, definio do contexto, apreciao do
risco (identificao, anlise e avaliao), tratamento do risco e monitorizao e reviso,
interrelacionadas de acordo com a Figura 1.
Figura 1. Processo de gesto do risco segundo a ISO 31000 [9]
COMUNICAO E CONSULTA
DEFINIO DO CONTEXTO
IDENTIFICAO DO RISCO
ANLISE DO RISCO
AVALIAO DO RISCO
TRATAMENTO DO RISCO
APRECIAO DO RISCO
MONITORIZAO E REVISO
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Na definio do contexto a organizao define os objectivos, os parmetros que devem ser
tomados em considerao no processo, o mbito e os critrios. Devem ser avaliados os
contextos externos e internos organizao, bem como as actividades onde se pretende
aplicar a gesto do risco. Os critrios a definir sero os usados para avaliar a significncia do
risco. Na identificao do risco devem ser identificadas as fontes de risco, os eventos, as suas
causas e consequncias potenciais. O objectivo desta etapa criar uma lista de riscos baseada
em eventos que conduzem, previnem, degradam, aceleram ou atrasam a obteno dos
objectivos. Esta etapa muito importante, uma vez que os riscos no identificados no sero
tidos em conta nas etapas seguintes. A etapa de anlise do risco envolve a compreenso dos
riscos identificados. So produzidas consideraes acerca das causas e fontes de risco, suas
consequncias e a probabilidade destas ocorrerem. Devem ser identificados os factores que
afectam as consequncias e a probabilidade destas ocorrerem. Os controlos existentes e a sua
eficcia devem ser tidos em considerao. A anlise de risco pode ser realizada com diferentes
nveis de detalhe, dependendo do risco, do objectivo da anlise e da informao, dados e
recursos disponveis. Pode ser do tipo qualitativa, semi-quantitativa, quantitativa ou uma
combinao destes. As consequncias e probabilidades podem ser determinadas por modelos
de resultados de eventos, por extrapolao de dados experimentais ou com base nos dados
disponveis. O objectivo da avaliao de risco apoiar a tomada de deciso sobre que riscos
devem ser tratados e em que prioridade. Envolve a comparao do nvel de risco determinado
na etapa anterior, de anlise, com os critrios definidos no estabelecimento do contexto. O
tratamento do risco envolve a seleco de uma ou mais opes que permitem a modificao
do risco e inclui novas medidas de controlo ou modificao das existentes. Trata-se de um
processo cclico que se inicia com a apreciao do risco e deciso se o risco residual tolervel.
No caso de no ser, realiza-se novo tratamento do risco e avaliao da sua eficcia. Constituem
opes de tratamento do risco a eliminao da fonte de risco, alterao da probabilidade,
alterao das consequncias ou partilha financeira do risco. A seleco das vrias opes deve
ter em considerao o balano entre os custos e os benefcios. A comunicao e consulta
devem garantir que todos os interessados entendem as bases das decises a aces tomadas
durante o processo. A monitorizao e reviso do processo devem estar planeadas e
envolvem verificaes regulares. Tm como objectivos garantir que os controlos
implementados so efectivos e eficazes, fornecer informao acerca de eventos ocorridos,
detectar alteraes no contexto definido ou identificar riscos emergentes. Todo o processo de
gesto do risco deve ser registado de modo a garantir a sua rastreabilidade.
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3.1.2 A norma espanhola UNE 150008 (Anlise e avaliao do risco ambiental)
Esta uma norma espanhola, datada de Maro de 2008 [10], que descreve um mtodo para
analisar e avaliar o risco ambiental, incluindo o estabelecimento de bases para uma gesto de
modo a facilitar a tomada de deciso. No define ferramentas especficas, tcnicas ou
algoritmos de clculo para a anlise de riscos ambientais, defendendo que, para o efeito,
devem ser usados dados rastreveis e modelos, ferramentas e tcnicas, robustos e
reconhecidos internacionalmente pela comunidade tcnica e cientfica. Pode ser aplicada a
organizaes de qualquer natureza, ao conjunto das suas actividades ou apenas a partes do
processo. A avaliao pode ter como objecto as fases de projecto, construo, arranque,
operao ou desmantelamento de uma instalao.
O risco ambiental resulta da probabilidade de ocorrncia de um determinado cenrio de
acidente e as consequncias negativas do mesmo sobre o ambiente e factores humanos ou
scio-econmicos. A probabilidade pode ser substituda pela frequncia. ainda feita
referncia ao carcter subjectivo do risco, dado que a sua percepo est relacionada com
diversos factores tais como as crenas, valores e sentimentos das pessoas, bem como valores e
regras sociais e culturais. A gesto do risco consiste nas actividades coordenadas para dirigir e
controlar uma organizao no que respeita ao risco. O factor ambiental qualquer
componente do meio ambiente que pode ser afectada pelas actividades decorrentes das fases
de construo, explorao, manuteno, encerramento ou desmantelamento de um dado
projecto (por exemplo: populao, fauna, flora, solo, gua, ar, factores climticos, bens
materiais, contexto scio-econmico, paisagem ou patrimnio cultural e arqueolgico). O
processo estabelecido pela norma para a identificao, avaliao e gesto do risco ambiental
iterativo, seguindo as etapas apresentadas na Figura 2.
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Figura 2. Processo de identificao, avaliao e gesto do risco ambiental segundo a UNE 150008 [10]
O processo de gesto do risco deve ser precedido de uma etapa prvia que pode ser designada
por definio do contexto. Aqui, o alcance do estudo deve ser definido e justificado,
explicitando, entre outros, os locais que podem ser afectados, as linhas do processo ou partes
da organizao objecto de estudo, as fases da actividade alvo de estudo, o nvel de
profundidade e detalhe requerido para o estudo e os grupos interessados. A equipa de
trabalho deve ser de cariz multidisciplinar, formada por elementos com formao e
experincia em mtodos e tcnicas de anlise e avaliao do risco ambiental, conhecedores da
actividade em estudo, bem como de aspectos especficos dos factores ambientais includos no
estudo.
A anlise do risco ambiental composta por duas partes, cenrios de causas e cenrios de
consequncias, entendidas como o encadeamento de causas, por uma lado, e consequncias,
por outro, que resultam num acidente concreto com danos associados. O elemento de ligao
entre ambos os cenrios o evento iniciador, ou seja, o acontecimento gerado pelas causas
que d lugar primeira das consequncias. Na identificao de causas e perigos devem ser
identificadas e caracterizadas as possveis fontes de perigo na actividade em estudo. As
actividades da instalao devem ser hierarquizadas em funo do seu potencial de risco, de
modo a aplicar nas de maior potencial ferramentas mais exigentes. Devem ser consideradas as
COMUNICAO E CONSULTA
Identificao de causas e perigos
SEGUIMENTO E REVISO
ANLISE DO RISCO AMBIENTAL
GESTO DO RISCO Eliminao do risco
Reduo e controlo do risco Transferncia do risco Comunicao do risco
AVALIAO DO RISCO Expectativas das partes interessadas
Custo-benefcio Outras
Factores ambientais
Identificao de eventos iniciadores
Cenrios
Estimativa de consequncias
Atribuio de probabilidade
Estimativa do risco (probabilidade/frequncia)
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fontes de perigo relacionadas com o factor humano, organizacional e individual, com as
actividades e instalaes e com os elementos externos instalao. Como factores humanos
identificam-se a estrutura, o sistema de gesto, a cultura preventiva, os procedimentos, a
comunicao interna e externa, as condies ambientais do posto de trabalho, o clima laboral,
a formao, o treino, os erros humanos, entre outros. Nas actividades e instalaes devem ser
considerados o armazenamento de matrias-primas, combustveis, produto intermdio e final,
os processos e instalaes de produo, os processos e instalaes auxiliares tais como a
produo de calor ou frio, produo de energia elctrica, proteco contra incndios,
tratamento de gua, instalaes de tratamento de guas residuais, emisses para a atmosfera,
resduos e rudo. So elementos externos instalao os factores naturais tais como
inundaes e terramotos, infra-estruturas de transporte, gua e energia, factores scio-
econmicos tais como vandalismo, sabotagem ou terrorismo e caractersticas das instalaes
vizinhas. Uma vez realizada a identificao de perigos, devem ser identificados os eventos
iniciadores que podem ser falhas humanas ou tcnicas (tais como fugas ou rupturas em
equipamentos). Deve ser atribuda uma probabilidade a cada um deles, se possvel recorrendo
a dados de acidentes ocorridos anteriormente. A fase de definio de cenrios tem como
objectivo, estabelecer, a partir dos eventos iniciadores identificados, a sequncia de eventos
que, com uma probabilidade conhecida, podem dar lugar aos vrios cenrios de acidente,
sobre os quais se vo estimar as potenciais consequncias sobre um dado meio receptor. Para
tal, necessrios identificar os factores condicionantes a esses cenrios. Delimitar um mbito
geogrfico e realizar uma descrio dos factores ambientais potencialmente afectados dentro
desse mbito outra das etapas necessrias definio de cenrios. A probabilidade de
ocorrncia de cada um dos cenrios calculada com base na probabilidade de ocorrncia de
cada um dos eventos iniciadores identificados. A fase seguinte consiste em estimar as
consequncias de cada um dos cenrios no meio receptor. Assim, tendo em conta a definio
de risco, com base nos cenrios identificados e sua probabilidade de ocorrncia, bem como as
suas consequncias potenciais, possvel estimar o risco de cada um dos eventos iniciadores e
da organizao no seu conjunto.
A avaliao do risco trata-se de um processo que, tendo por base a anlise de riscos e uma
srie de critrios e factores que actuam como condicionantes, a organizao decide acerca da
sua tolerncia ao risco e, consequentemente, da sua aceitao. Esta avaliao deve realizar-se
ao mais alto nvel hierrquico da organizao e como factores a ter considerao na avaliao
podem estar os legais, polticos, econmicos, sociais, tecnolgicos, cientficos, culturais ou
ticos. Para que a avaliao de riscos pode ser usada como um mecanismo de gesto eficaz,
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devem ser identificadas as fontes de incerteza associadas a todo o processo e, se possvel, a
sua contribuio para a estimativa do risco. Podem ser fontes de incerteza a falta de
conhecimento cientfico, a variabilidade do meio ambiente, a atribuio de valores de
probabilidade, as simplificaes usadas nos modelos de estimativa de efeitos e consequncias
ou a qualidade dos dados usados nesses modelos.
A gesto de risco tem como como objectivo principal a tomada das decises mais adequadas
face aos riscos ambientais, com base nos critrios de segurana e eficincia econmica. Assim,
as fases de anlise e avaliao do risco constituem somente o incio do processo que dever
incluir tambm o tratamento dos riscos avaliados no que se refere aos seus aspectos
financeiros (tais como a transferncia para o mercado de seguros ou a reteno financeira) e
tcnicos (tais como a implementao de medidas para a eliminao, reduo e controlo dos
riscos), bem como a comunicao com os grupos interessados relevantes.
A comunicao e consulta uma etapa transversal a todo o processo de identificao,
avaliao e gesto do risco ambiental, embora no esteja pormenorizadamente descrita na
norma. Por fim, o seguimento e reviso de todo o processo devem ser realizados com uma
periodicidade que depende da complexidade e perigosidade da actividade, do valor e
fragilidade do ambiente, das expectativas dos grupos interessados, das alteraes do contexto
legal ou normativo aplicvel e das modificaes nos processos ou instalaes.
Nesta norma possvel encontrar ainda informaes acerca de ferramentas de gesto do risco,
de tcnicas e ferramentas para a anlise de riscos ambientais, referncias a bases de dados
para consulta de informao relacionada com anlise de riscos, recomendaes para a
valorao econmica de consequncias sobre o meio ambiente, um exemplo de aplicao da
metodologia a um caso concreto e aplicao a uma pequena instalao industrial.
Uma anlise comparativa das duas normas, no que diz respeito s etapas e sua interligao
(Figura 1 e 2), permite concluir que as metodologias apresentadas so semelhantes e
consistem num processo sistemtico e iterativo de anlise, avaliao e tratamento dos riscos.
A anlise de riscos contempla a sua identificao e descrio. As tarefas necessrias para a
realizao desta etapa so pormenorizadas na norma espanhola. Esta norma identifica sete
passos como os necessrios para a anlise de riscos. A avaliao consiste na comparao do
nvel de risco com critrios estabelecidos e na deciso acerca da tolerncia da organizao aos
riscos. Por fim, o tratamento de riscos identifica as aces a realizar de forma a reduzir,
eliminar ou transferir os riscos avaliados. As duas normas incluem ainda processos de
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comunicao e consulta e de monitorizao/seguimento e reviso, os quais so comuns e
transversais a todas as etapas de gesto do risco.
Estes princpios das duas normas, juntamente com os pressupostos definidos no diploma legal
da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n. 147/2008), so aplicados na identificao da
metodologia de avaliao de danos ambientais usada no presente trabalho.
3.2 IDENTIFICAO DA METODOLOGIA USADA NO TRABALHO
A metodologia usada neste trabalho para a determinao do custo associado aos potenciais
danos ambientais de uma instalao industrial, tendo por base o enquadramento do Decreto-
Lei n. 147/2008, inclui duas fases principais (Fase 1 identificao de cenrios de dano
ambiental e Fase 2 - identificao das medidas de reparao e dos custos associados a cada
cenrio) (Figura 3). Na Fase 1 so identificados os cenrios que podem conduzir a danos
ambientais e na Fase 2 so identificadas as medidas de reparao necessrias em cada cenrio
e estimados os custos associados s medidas. Esta metodologia baseia-se nas linhas gerais
definidas pela Agncia Portuguesa do Ambiente no que respeita estimativa dos custos
associados responsabilidade por danos ambientais [6], tal como descrito na seco 2.1.1.
Para a definio desta metodologia so includos alguns conceitos e fundamentos da norma
internacional ISO 31000 [9] e da norma espanhola UNE 150008 [10], nomeadamente no que se
refere s tarefas a realizar nas etapas de identificao e anlise dos riscos.
Figura 3. Fases da metodologia de avaliao da responsabilidade por danos ambientais
3.2.1 Identificao de cenrios de dano ambiental
Um cenrio de dano traduz as alteraes face a um estado designado por estado inicial. Na
construo de cenrios so identificados o tipo de contaminantes envolvidos, os mecanismos
de introduo no ambiente, os recursos naturais afectados (sua extenso espacial e temporal)
IDENTIFICAO DE
CENRIOS DE DANO AMBIENTAL
Fase 1
IDENTIFICAO DAS MEDIDAS DE
REPARAO E DOS CUSTOS
ASSOCIADOS A CADA CENRIO
Fase 2
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e a populao eventualmente afectada. Os recursos naturais a serem considerados, em
conformidade com o Decreto-Lei n. 147/2008, so a gua, o solo quando est presente risco
para a sade humana e as espcies e habitats naturais protegidos. Importa ainda reforar que
as funes desempenhadas por estes recursos naturais (tais como as diversas utilizaes da
gua, nomeadamente consumo humano ou rega), so tidas em considerao na construo de
cenrios.
Durante a identificao de cenrios de dano ambiental e tendo em foco a instalao industrial,
so identificadas as fontes de perigo para o ambiente, bem como os eventos que podem
transformar essas fontes em danos concretos. So tambm identificados os factores que
previnem ou potenciam esses danos. Um outro foco de ateno a caracterizao ambiental
do local onde a instalao industrial est implantada, bem como da rea envolvente. Esta
caracterizao permite avaliar os recursos ambientais que podem potencialmente ser
afectados. As tarefas a realizar durante a Fase 1, bem como a sua interligao, so
identificadas na Figura 4.
Figura 4. Tarefas a realizar durante a Fase 1 (identificao de cenrios de dano ambiental)
Seguindo os pressupostos do Decreto-Lei n. 147/2008 no so identificados os cenrios que
poderiam resultar do funcionamento normal e autorizado da instalao, como o caso, por
exemplo, de cenrios de dano em resultado da descarga de guas residuais em que todos os
parmetros cumprem os valores limite constantes na autorizao de descarga.
IDENTIFICAO DE CENRIOS DE DANO AMBIENTAL
IDENTIFICAO DAS FONTES
IDENTIFICAO DOS EVENTOS
IDENTIFICAO DOS FACTORES CONDICIONANTES
CARACTERIZAO DO LOCAL E DA REA
ENVOLVENTE
(estado inicial)
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3.2.1.1 Identificao das fontes, eventos e factores condicionantes
A identificao das fontes, eventos e factores condicionantes de danos ambientais de uma
dada instalao industrial resultado de visitas s instalaes, reunies e entrevistas com os
seus responsveis e recolha e anlise de documentos. Nestas visitas so recolhidas
informaes sobre todas as actividades da empresa, produtivas ou auxiliares, bem como as
suas licenas e autorizaes (por exemplo, licenas de captao de gua ou licena ambiental).
Estes pontos so completados pela anlise de fichas de dados de segurana de produtos
qumicos e por caracterizaes ambientais disponibilizadas pela instalao.
As fontes de danos incluem o consumo de gua, a utilizao de produtos perigosos, bem como
o seu armazenamento e transporte (dentro e fora das instalaes), as descargas de guas
residuais, a produo e armazenamento de resduos e a libertao de emisses para a
atmosfera. Os eventos que podem conduzir aos danos ambientais incluem as falhas humanas
ou de equipamentos. Constituem factores condicionantes as medidas de preveno e
resposta, quer fsicas, incluindo, por exemplo, a impermeabilizao de pavimentos ou bacias
de conteno de derrames, quer organizacionais, incluindo, por exemplo, os procedimentos e
formao dos intervenientes para a resposta a situaes de emergncias implementadas na
instalao. So tambm factores condicionantes os mecanismos de introduo dos
contaminantes no meio envolvente, tais como a introduo no solo, em guas superficiais e
subterrneas ou disperso na atmosfera, e a vulnerabilidade do meio natural.
3.2.1.2 Caracterizao do local e da rea envolvente da instalao industrial
O mbito da caracterizao do local e da rea envolvente restringe-se gua, ao solo e s
espcies e habitats naturais protegidos, seguindo, uma vez mais, os pressupostos do diploma
da responsabilidade ambiental.
A caracterizao, no domnio da gua, implica a identificao dos circuitos de abastecimento
de guas e drenagem de guas pluviais, guas residuais domsticas e guas residuais
industriais existentes na instalao industrial. Os circuitos devem ser considerados desde o
ponto de ligao da instalao industrial rede municipal at introduo no meio natural.
importante identificar a existncia de Estaes de Tratamento de guas. As plantas de redes
de guas da instalao constituem um elemento importante nesta identificao. A
identificao da rede hidrogrfica e da qualidade da gua superficial recorre a cartografia e
bases de dados de entidades nacionais reconhecidas tais como cartografia militar em escala
1:25000 do Instituto Geogrfico do Exrcito (IGEOE), Sistema Nacional de Informao de
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Ambiente (SNIAmb) da APA [12] e Sistema Nacional de Informao de Recursos Hdricos
(SNIRH) do Instituto da gua, IP (INAG) [13]. Para as guas subterrneas, designadamente
unidade hidrogeolgica do local e dados de qualidade da gua, recorre-se tambm a
informao disponibilizada pelo INAG [13].
Para a caracterizao dos solos est disponvel cartografia relevante no SNIAmb [12]. A
informao disponibilizada inclui litologia e tipo de solos.
Para a identificao da presena de espcies e habitats naturais protegidos recorre-se a
cartografia e bases de dados de entidades nacionais e europeias reconhecidas, nomeadamente
o Natura 2000 viewer, disponibilizado pela Agncia Europeia do Ambiente (EEA) [14].
Nas caracterizaes efectuadas til o recurso a ferramentas de informao geogrfica (como
por exemplo, o GoogleEarth) para identificao do local e das coordenadas de localizao, bem
como para obter imagens areas da rea em estudo. Reala-se que para a caracterizao do
estado inicial recorre-se caracterizao fsico-qumica de guas e solos, como sendo os
recursos potencialmente afectados pela instalao industrial.
Como nota final salienta-se que a legislao nacional e comunitria aplicvel a cada um dos
domnios deve ser tida em considerao, nomeadamente no que se refere a valores de
referncia de qualidade da gua ou solos, bem como regimes de proteco de recursos
naturais.
3.2.2 Identificao das medidas de reparao e do custo associado a cada cenrio
Reala-se que o diploma da responsabilidade ambiental somente considera danos ambientais
sobre a gua e as espcies e habitats naturais protegidos os que se traduzem em efeitos
significativos adversos. No caso do solo, so considerados danos quando existe risco
significativo para a sade humana. No entanto, o diploma no estabelece os critrios que
determinam o carcter significativo adverso de um efeito sobre a gua ou as espcies e
habitats naturais protegidos ou os critrios de atribuio de significncia de um risco para a
sade humana. Como forma de ultrapassar esta questo, neste trabalho so usados como
critrios de significncia a extenso da rea afectada e o carcter permanente ou temporrio
dos danos potenciais. No so avaliados nesta fase os cenrios de dano em que se considera
que os efeitos sobre o ambiente ou o risco para a sade humana no so significativos.
Nesta fase so estudados os cenrios de dano ambiental identificados anteriormente e para
cada um so identificadas as medidas de reparao adequadas aos danos ambientais e
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calculados os respectivos custos (Figura 5). As medidas de reparao consideradas esto
associadas aos danos gua, solo e espcies e habitats naturais protegidos, dentro do
enquadramento da responsabilidade ambiental.
Para os danos causados na gua so identificadas as medidas que possibilitam a restituio do
ambiente ao seu estado natural (medidas de reparao primria) e, nos cenrios em que tal
no possvel, equacionam-se medidas de reparao complementar (proporcionam um nvel
de recursos naturais similar ao do estado inicial) e as medidas compensatrias (que permitem
compensar as perdas transitrias at a reparao primria ter atingido os seus objectivos).
Em relao aos danos no solo, so identificadas medidas que previsivelmente garantem que
este no pode causar efeitos nefastos na sade humana, atravs da eliminao, reduo ou
controlo dos contaminantes presentes.
As medidas de reparao so baseadas nas tecnologias ambientais disponveis e seleccionadas
em funo da sua adequao a cada cenrio, tendo por base o tipo de contaminantes
introduzidos no ambiente, a extenso espacial e temporal dos danos e a existncia de risco
para a sade humana. Quando necessrio, para determinar a extenso espacial dos danos,
como a disperso de um dado contaminante no solo, recorre-se a modelos simplistas de
disperso de contaminantes. A determinao dos custos das medidas de reparao previstas
para cada cenrio tem por base informao geral sobre custos de tratamento disponvel na
bibliografia corrente.
Figura 5. Tarefas a realizar durante a Fase 2 (identificao das medidas de reparao e dos custos associados a
cada cenrio)
DANO 1 DANO 2 ..... DANO n
MEDIDAS DE
REPARAO
MEDIDAS DE
REPARAO .....
MEDIDAS DE
REPARAO
CUSTO 1
CUSTO 2
..... CUSTO
n
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4. AVALIAO DA RESPONSABILIDADE
POR DANOS AMBIENTAIS DE UMA
INSTALAO INDUSTRIAL DO SECTOR DA
METALOMECNICA
4.1 CARACTERIZAO DA INSTALAO INDUSTRIAL E DO MEIO
ENVOLVENTE
A instalao industrial em estudo uma empresa de mdia dimenso, do sector da
metalomecnica, que se dedica essencialmente fabricao de componentes metlicos para
veculos de duas rodas. Com entrada em funcionamento em 1977, possui actualmente uma
capacidade de produo instalada de 1 450 000 unidades anuais. Em 2010 cerca de dois teros
da produo foi colocada no mercado internacional. O produto final maioritariamente
exportado para diversos pases da Europa, destacando-se as vendas para Espanha, Itlia e
Holanda.
O regime de funcionamento de 1 turno dirio de 8 horas, durante 5 dias por semana. No
entanto, em perodos com maiores necessidades produtivas, este regime alterado, sendo
realizadas horas extraordinrias de trabalho. A 31 de Dezembro de 2010 contava com a
colaborao de 111 trabalhadores.
A empresa possui o seu sistema de gesto da qualidade certificado pela norma NP EN ISO
9001:2008. Actualmente est em fase de implementao um sistema de gesto ambiental,
integrado no sistema de gesto da empresa, de acordo com a norma NP EN ISO 14001:2004.
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Avaliao da responsabilidade