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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO Sonia Pacheco de Lima Borcsik AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE E DO ENFRENTAMENTO DE EXECUTIVOS EM SITUAÇÃO DE DESEMPREGO São Bernardo do Campo 2006

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  • UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

    Sonia Pacheco de Lima Borcsik

    AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE E DO ENFRENTAMENTO

    DE EXECUTIVOS EM SITUAÇÃO DE DESEMPREGO

    São Bernardo do Campo 2006

  • Sonia Pacheco de Lima Borcsik

    AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE E DO ENFRENTAMENTO DE

    EXECUTIVOS EM SITUAÇÃO DE DESEMPREGO

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação, Mestrado – em Psicologia da Saúde da Faculdade de Psicologia e Fonoaudiologia da Universidade Metodista de São Paulo como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre. Orientadora: Profa. Dra. Marília Martins Vizzotto

    São Bernardo do Campo 2006

  • FICHA CATALOGRÁFICA

    Borcsik, Sonia Pacheco de Lima. Avaliação da ansiedade e do enfrentamento de executivos em situação de desemprego. / Sonia Pacheco de Lima Borcsik. -- São Bernardo do Campo, 2006. 63p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Metodista de São Paulo. Faculdade de Psicologia e Fonoaudiologia, Curso de Pós Graduação em Psicologia da Saúde. Orientação: Marília Martins. Vizzotto. 1. Executivos - Desemprego 2. Enfrentamento - Estratégias 3. Desemprego I. Título. CDD 157.9

  • AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE E DO ENFRENTAMENTO DE

    EXECUTIVOS EM SITUAÇÃO DE DESEMPREGO

    SONIA PACHECO DE LIMA BORCSIK

    Banca Examinadora

    Presidente: Profª Drª Marília Martins Vizzotto - UMESP Titular: Profª Drª Eda Marconi Custódio - UMESP Titular: Profª Drª Marisa Lúcia Fabrício Mauro - UNICAMP

    São Bernardo do Campo 2006

  • Agradecimentos Gostaria de agradecer a Profª Drª Marilia Martins Vizzotto que aceitou o desafio de orientar

    esse projeto, de ser Mestre e Modelo na vida acadêmica e também como ser humano, capaz

    de compreender o outro e acolher as angústias que surgem ao longo deste período.

    Ao meu marido Luiz Alberto Borcsik, grande companheiro, que esteve presente em todos

    os momentos e sempre me incentivou a continuar, trilhamos juntos esse caminho.

    Ao meu diretor Gutemberg Brito de Macedo que propiciou que essa pesquisa fosse feita

    com os executivos da sua consultoria e que soube compreender minhas ausências.

    A minha grande amiga Bia Brossi com quem compartilhei vários momentos, da vida

    pessoal, acadêmica e profissional. Obrigada por tudo.

    A todos os executivos que se colocaram a disposição para participar dessa pesquisa e

    foram o principal motivo desse estudo, compartilhando parte de suas vidas.

  • SUMÁRIO

    1. – INTRODUÇÃO .............................................................................................

    1.1 – Crise e desemprego .................................................................................

    1.2 – Considerações sobre a ansiedade ............................................................

    1.3 – Enfrentamento e suas estratégias .............................................................

    1.4 – Consultoria de recolocação .....................................................................

    - Objetivo .........................................................................................................

    2. – MÉTODO .....................................................................................................

    2.1 – Sujeitos ....................................................................................................

    2.2 – Ambiente .................................................................................................

    2.3 – Instrumentos ............................................................................................

    2.4 – Procedimento ...........................................................................................

    3. – RESULTADOS E DISCUSSÃO .........................................................................

    3.1 – Dados gerais da amostra estudada ...........................................................

    3.2 – Quanto a ansiedade, traço e estado dos sujeitos.......................................

    3.3 – Quanto ao enfrentamento ........................................................................

    3.4 – Quanto à ansiedade e estratégias de enfretamento ..................................

    3.5 – Quanto às estratégias de enfrentamento, ansiedade, idade e tempo de

    desemprego........................................................................................................

    4. – CONCLUSÃO ...............................................................................................

    5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................

    ANEXOS .............................................................................................................

    Anexo A – EMEP – Escala Modos de Enfrentamento de Problemas ..............

    Anexo B – Apresentação dos itens da EMEP segundo os fatores que a

    compõem ..........................................................................................................

    Anexo C – Termo de consentimento ................................................................

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  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 – Descrição da faixa etária da amostra estudada ...............................

    Tabela 2 – Sexo da amostra estudada ...............................................................

    Tabela 3 - Grau de instrução da amostra ..........................................................

    Tabela 4 – Cargos ocupados pelos sujeitos da amostra estudada ....................

    Tabela 5 – Presença de ansiedade, traço e estado ............................................

    Tabela 6 – Correlações entre fatores de enfrentamento ...................................

    Tabela 7 – Correlações entre fatores de enfrentamento e ansiedade ................

    Tabela 8 – Correlações entre tempo de desemprego, ansiedade,

    enfrentamento e idade.......................................................................................

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  • BORCSIK, S.P.L. Avaliação da ansiedade e do enfrentamento de executivos em situação

    de desemprego. Dissertação Mestrado – Universidade Metodista São Paulo, 2006.

    Resumo

    O presente estudo teve por objetivos, investigar a presença de ansiedade em executivos após a quebra de vínculo empregatício; identificar as principais estratégias de enfrentamento utilizadas por esses sujeitos; e relacionar a influência do nível de ansiedade no enfrentamento da situação de desemprego. Participaram 35 sujeitos, de 35 a 56 anos, sendo 27 homens e oito mulheres, desempregados há mais de um (1) mês e em processo de recolocação em uma consultoria em São Paulo. Utilizou-se o Inventário de Ansiedade Traço-Estado e a Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas – EMEP. Os dados foram submetidos ao Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 13.0 para Windows. Os resultados indicaram que o grau de ansiedade encontrava-se dentro da média esperada e houve correlação positiva significativa entre Ansiedade-Traço e Estado o que é esperado, pois quanto maior o traço ansioso maior será o estado, para essa população. Quanto ao enfrentamento e grau de ansiedade, houve correlação negativa entre “ansiedade-estado” e o uso de “estratégias de enfrentamento” focalizadas no problema, ou seja, quanto mais ansiedade, menos os sujeitos orientam-se para resolver problemas; sendo o contrário verdadeiro, pois existiu correlação positiva entre “ansiedade-estado” e estratégias focalizadas nas emoções desagradáveis, indicando que quanto maior o estado ansioso mais os sujeitos se utilizam estratégias que inibem ações habilidosas e adaptativas. Enfrentamentos baseados em práticas religiosas e pensamentos fantasiosos também estiveram correlacionados com estratégias focalizadas na emoção (sentimentos negativos) podendo sugerir caráter adaptativo menos eficaz. As correlações entre as estratégias de enfrentamento baseadas na emoção e idade mostraram-se negativas, principalmente para sujeitos mais velhos. Não foi encontrada correlação entre desemprego e ansiedade, porém quanto maior tempo de desemprego, menor a utilização de práticas religiosas ou pensamento fantasioso. A análise de confiabilidade do instrumento para esse estudo, através do Alpha de Cronbach foi 0,79; a análise de variância (Anova) entre os fatores de enfrentamento e sexo indicou uma diferença significativa para os fatores de enfrentamento focalizados na emoção e religiosidade/ pensamento fantasioso (p < 0,05). Concluiu-se que a variável ansiedade é presente quando relacionada ao enfrentamento focalizado na emoção e busca de práticas religiosas ou pensamento fantasioso entre sujeitos em situação de desemprego; fato que sugere dificuldades de equilíbrio adaptativo. Sugerem-se outros estudos com amostras maiores e que possam verificar com mais precisão a relação entre tempo de desemprego, sexo, faixa etária e dados do agrupamento familiar entre desempregados de cargos de gerência ou altos executivos. Palavras-chave: Desemprego; Ansiedade; Estratégias de Enfrentamento; desempregados executivos.

  • BORCSIK, S.P.L. Assessment of anxiety and coping strategies of executives experiencing

    unemployment. Dissertação Mestrado – Universidade Metodista São Paulo, 2006.

    Abstract The objectives of the present study were, investigate the presence of anxiety in executives after the rupture of a work bond; identify the main coping strategies used by these individuals; and relate the influence of the anxiety level in the coping with the unemployment situation. Participated in the study 35 subjects, 27 men and eight women, 35 to 56 years old, unemployed for over one month and in process of reinsertion in a consulting agency in the city of São Paulo. The Trace-State Anxiety Inventory (IDATE) and the Problem Coping Strategies Scale (EMEP) were used. The data was submitted to the Statistical Package for the Social Science (SPSS), version 13.0 for Windows. The results indicated that the degree of anxiety found corresponded to the expected average and there was significant positive correlation between Anxiety-Trace and Anxiety-State in the sample studied, which is expected, for the greater the trace, the greater the state will be. As to the coping strategies and level of anxiety, there was negative correlation between Anxiety-State and the use of coping strategies focused on the problem, that is, the greater the anxiety, the lesser oriented to solving problems the individuals were; also there was positive correlation between Anxiety-Trace and the coping strategies focused on the unpleasant emotions, indicating that the greater the anxious state, all the more the individuals used strategies that inhibited skilful and adaptive actions. Coping strategies based on religious practices and fantastical thoughts were also correlated with coping strategies focused on emotion (negative feelings) suggesting a less efficient adaptive character. The correlation between the coping strategies based on emotion and the age of the individuals was negative, especially for the older subjects. There was no positive correlation between unemployment and anxiety, however the longer the length of the unemployment period, the lesser frequent was the adoption of religious practices or fantastical thoughts. The reliability analysis of the instrument for this study, through the Alpha of Cronbach, was 0,79; the analysis of variance (Anova) between the coping factors and the gender indicated a significant difference for the coping factors focused on emotion and religiosity/fantastical thoughts (p < 0,05). It is concluded that the variable anxiety is present when related to the coping strategy focused on emotion and search for religious practices or fantastical thoughts among individuals in an unemployment situation; fact that suggests difficulties in the adaptive equilibrium. Other studies are suggested, with greater samples and which verify with higher precision the relation between length of the unemployment period, gender, age and family group data, among unemployed individuals of managing positions or high executives. Key words: Unemployment; Anxiety; Coping Strategies; unemployed executives.

  • 1. INTRODUÇÃO

    O presente estudo parte da premissa que a perda do emprego pode causar uma crise

    e representar uma mudança de vida importante na vida do indivíduo trabalhador chamado

    "executivo" e que vai exigir do mesmo uma readaptação ao seu estilo de vida.

    O interesse pelo tema em questão surge, principalmente, de uma prática em

    consultoria organizacional em recolocação de pessoas no mercado de trabalho. Na

    cotidianidade desta nossa tarefa, prioritariamente exercida no atendimento e orientação

    psicológica às pessoas que ocuparam cargos de liderança como gerentes, diretores, e que

    perderam seus empregos e buscam uma recolocação, temos nos deparado com quadros de

    "crise" - acompanhados de alterações emocionais, transtornos somáticos, entre outros

    sintomas.

    Nestes atendimentos temos lidado com estas alterações emocionais num sentido de

    amparo e suporte psicológico, buscando direcionar o indivíduo no sentido de reorganização

    de muitas de suas condições vitais.

    Temos percebido empiricamente, que a presença de ansiedade neste período após o

    rompimento do vínculo tem sido um entreve no processo de reorganização do sujeito para

    sua recolocação no mercado.

    Assim surgem problemas importantes a serem investigados cientificamente, como:

    - em que medida a quebra do vínculo empregatício (demissão) causa ansiedade no

    indivíduo? E, ante a esta situação de desemprego e possível ansiedade gerada pela situação

    de crise, quais as principais estratégias de enfrentamento são utilizadas por esses sujeitos?

    É na tentativa de sistematização destes sintomas que acompanham o período crítico

    da crise causada pelo rompimento do vínculo do emprego que nos motivou realizar o

  • presente estudo. Compreender melhor esses sintomas, ou este quadro de crise em que o

    sujeito se encontra, pode talvez, oferecer subsídios para nossa prática em orientação

    psicológica.

    Deste modo, faz-se necessário, tecer considerações sobre essas variáveis – a crise e

    o desemprego, bem como sobre a ansiedade, o estresse – os quais estão interligadas, a fim

    de compreender, explicar e subsidiar o estudo a que nos propomos realizar.

    1.1. CRISE E DESEMPREGO

    O desemprego inclui diferentes categorias de pessoas. Segundo Oliveira (2004) as

    pessoas que perderam ou deixaram seus empregos e que procuram outro emprego, ou seja,

    os desempregados no sentido estrito, são aquelas afetadas por interrupções na sua vida de

    trabalho, causadas, entre outras razões, pela mudança tecnológica.

    Assim, entendemos com esse autor, que a população desempregada compreende os

    indivíduos que se encontram nessa situação involuntária de não trabalho, por falta de

    oportunidade de trabalho, ou que exercem um trabalho irregular com desejo de mudança. E

    é neste sentido que também estamos partindo do princípio que estas mesmas pessoas

    podem estar passando por um período de crise em suas vidas.

    Esta interrupção ou condição de vulnerabilidade representa um período de crise e

    possível mudança na vida destes indivíduos.

    - SOBRE O CONCEITO DE CRISE

  • O conceito de crise tem sido bastante discutido na literatura psicológica como um

    momento de “quebra” “interrupção” e possibilidade de crescimento, elaboração, de acordo

    com o potencial com que o sujeito dispõe – tanto constitucionalmente quanto no ambiente

    que o cerca.

    É importante retomar que a palavra crise, segundo Blay-Levisky (2001) vem do

    grego “Krisis” e tem um significado de discriminação, decisão; portanto, “ estar em crise

    envolve o desenvolvimento de uma melhor discriminação , de se chegar a uma decisão, e

    não o significado de ameaça de extinção, de ruptura, como foi estabelecido ao longo da

    história” p. 241..Em psicanálise, continua esta mesma autora, diz-se que é a capacidade

    para re-significar os conteúdos novos. Esse processo não fácil e é sempre acompanhado de

    sentimentos de dor, e de ameaça, pelo desequilíbrio que o aparelho mental sofre.

    Assim vemos com essa autora, que crise tem um sentido de retomada, de decisão,

    mas ao longo da história a palavra é compreendida como ruptura e ameaça somente. Tanto

    que no dicionário Aurélio de língua portuguesa (FERREIRA, 1985) a definição de crise já

    aparece como patologia e é exposta como: “ alteração sobrevinda do curso de uma

    doença” Mas, no mesmo dicionário, a definição de crise para a sociologia apresenta a

    conotação de mudança e transição e sua definição é: “ situação social decorrente de

    mudança de padrões culturais , e que se resolve na elaboração de novos hábitos por parte

    do grupo; fase de transição em que, abaladas as tradições antigas, não foram elas

    substituídas por novas” p. 345

    No campo da psicologia e da psiquiatria social, o conceito de crise mais aceito como

    um clássico da literatura na área é, sem dúvida, trazido nos anos sessenta por Gerald Caplan

    (CAPLAN, 1964). A crise é definida por esse autor como um estado de tensão exagerada

    que traz mudanças na homeostase do indivíduo, pode representar uma oportunidade de

  • crescimento psicológico e ou risco de uma deterioração psicológica. O indivíduo necessita

    de suprimentos físicos, estrutural, material e psicossocial para criar habilidades para

    resolução de problemas.

    Para esse mesmo autor, uma crise tem como fator essencial o desequilíbrio entre

    dificuldade e importância dada ao problema de um lado, e os recursos que o indivíduo

    possui para resolvê-lo imediatamente por outro lado. As crises que o indivíduo vive

    parecem estar associadas aos sentimentos subjetivos de desconforto, como angústia, o

    medo, a culpa ou vergonha, impotência, e ineficácia.

    Assim, a despeito dos conflitos individuais, como o desemprego, por exemplo, estes

    afetam o grupo em que este indivíduo está inserido. Sobre isso Caplan (1964) afirma que

    quando um membro da família enfrenta um problema, todo o grupo é afetado de uma forma

    ou de outra. Sendo a família a primeira rede social, esta tem funções importantes para o

    indivíduo lidar com a situação de crise. Estas funções são fundamentais para ajudar o

    indivíduo a suportar o estresse e fortalecer as cargas de tensão, mantendo o peso do

    problema dentro dos limites suportáveis, até a solução definitiva do mesmo.

    Diante dessas colocações, vemos que o processo de crise está associado a um

    período de mudança na vida de um indivíduo ou de um grupo e haverá, sem dúvida,

    possibilidade de elaboração e crescimento, porém, isso vai depender das condições e dos

    recursos a que esse indivíduo ou grupo dispõe, e que os diferentes autores denominam de

    estratégias de enfrentamento ou, na concepção psicanalítica os recursos defensivos.

    Sobre as estratégias de enfrentamento, bem como sobre a ansiedade, que é uma

    variável comumente associada ao período de crise, discorreremos mais adiante.

    Observamos com este autor, que a crise tem um significado de “parada” de choque

    diante da situação de conflito ou de stress – seja esta provocada por perda ou por ganho.

  • - SOBRE O DESEMPREGO

    O presente estudo compartilha da concepção de que o indivíduo em situação de

    desemprego passa também por um período de crise. Assim, discorreremos sobre a questão

    do desemprego e as relações que vários autores estabelecem com as questões de

    saúde/doença. Entre esses autores, Arrazola e Mendes (1998) entendem que quanto maior a

    duração do desemprego maior a deterioração da saúde do indivíduo, pois este passa a

    possuir maior nível de ansiedade, de distorção motivacional e de transtornos de depressão.

    O desempregado apresenta sintomas depressivos como: pessimismo, transtorno do sono,

    irritabilidade e falta de satisfação, valor e pouca felicidade.

    Nesta mesma linha de raciocínio, e estabelecendo uma relação com o processo de

    saúde/doença com a crise e as possibilidades de crescimento, Chahad (2003) observa que o

    individuo desempregado está mais sujeito a doenças, pois o período de desemprego tende a

    durar em torno de 51 semanas, tempo este em que suas respostas às necessidades vitais já

    não o satisfazem de forma saudável. O período de crise e as mudanças que o indivíduo está

    sujeito podem trazer maior saúde e maturidade se este for um período de oportunidades, ou

    pode ser um período prejudicial, devido à redução de sua capacidade para enfrentar com

    eficácia os problemas da vida.

    Ainda abordando o desemprego como crise, Marin-Leon e Iguti (1999) apontam

    como a estrutura familiar fica afetada após a perda do emprego, pois representa a

    necessidade de convivência prolongada com uma pessoa habitualmente ausente durante a

    semana que está ainda em um estado emocional alterado, podendo estar agressiva,

    deprimida ou angustiada o que favorece o desequilíbrio das relações familiares. Com

    freqüência o patrimônio familiar é consumido e há perda do poder aquisitivo. Os filhos

  • sofrem todo o ambiente de tensão, de adaptação à padrões econômicos menos favoráveis e

    devem lidar com seus respectivos pares nesta condição desfavorecida, o que é

    especialmente difícil no mundo de consumo deste final de século, onde os valores materiais

    são os valores vigentes.

    Assim, esses autores também relacionam as questões da crise e da saúde/doença

    com o tempo de desemprego. Mas, para falar sobre tempo de desemprego, antes se faz

    necessário recorrermos à compreensão do próprio conceito, pois o desemprego é uma

    variável que oferece definição.

    No Brasil, segundo dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (DIEESE 2006)

    realizada nas regiões metropolitanas das principais capitais brasileiras como São Paulo,

    Porto Alegre, Salvador, entre outras, existem situações de desemprego e que são definidas

    da seguinte forma: o “desemprego aberto” , que refere-se às pessoas que procuram trabalho

    de maneira efetiva nos 30 dias anteriores ao da entrevista e não exercem nenhum trabalho

    nos últimos sete dias. O “desemprego oculto” – que refere-se ao trabalho precário, ou seja,

    pessoas que realizam algum trabalho remunerado eventual de auto – ocupação, ou realizam

    trabalho não remunerado em ajuda de negócios de parentes e que procuram mudar de

    trabalho nos 30 dias anteriores ao dia da entrevista da pesquisa ou mesmo aqueles que, não

    tendo procurado neste período, o fizeram sem êxito até 12 meses atrás. O “desemprego

    oculto pelo desalento” refere-se às pessoas que não possuem trabalho nem procuram

    emprego nos últimos 30 dias, por desestímulos do mercado de trabalho ou por

    circunstâncias fortuitas, mas apresentaram procura efetiva de trabalho nos últimos 12

    meses.

    Este mesmo órgão DIEESE (2006) mede a taxa de desemprego indicando a

    proporção da PEA (População Economicamente Ativa) que se encontra na situação de

  • desemprego total (aberto mais oculto). A taxa de desemprego é específica de determinado

    segmento populacional, ou seja, homens, chefes de família, etc., que se encontra na

    situação de desemprego. Este mesmo órgão indica a seguinte fórmula para o calculo de

    desempregados:

    Taxa de Desemprego = Número de Desempregados x 100

    PEA

    Segundo este mesmo órgão, a taxa de participação indica a proporção da PIA

    (População em Idade Ativa ) incorporada ao mercado de trabalho como ocupada ou

    desempregada. A taxa de participação é também específica de determinado segmento

    populacional - homens, chefes de família,etc., que é a proporção da PIA desse segmento

    incorporada ao mercado de trabalho como ocupada ou desempregada. O Dieese indica a

    seguinte fórmula para o cálculo:

    Taxa de Desemprego= PEA x 100

    PIA

    Singer (2001) define o desemprego como estrutural, que é causado pela

    globalização e seus efeitos são semelhantes ao desemprego tecnológico. Este não aumenta

    necessariamente o número de pessoas sem trabalho, mas contribui para deteriorar o

    mercado de trabalho para quem o indivíduo vende sua capacidade de produzir. A ocupação

    não é sinônima de emprego; este último conceito implica em assalariamento – uma relação

    de emprego só existe quando alguém, em geral uma firma, dá um emprego a alguém. O

    emprego resulta de um contrato pelo qual o empregador compra a força de trabalho ou a

    capacidade de produzir do empregado. Ocupação compreende toda atividade que

  • proporciona sustento a quem a exerce. Emprego assalariado é um tipo de ocupação – nos

    países capitalistas é o mais freqüente, mas não é o único

    Outro conceito é dado por Kato (2002) que afirma que é o desemprego dito

    "conjuntural" que está diretamente ligado aos períodos de recessão da atividade produtiva.

    A década de 80, por exemplo, mostrou que a falta de investimento na indústria iniciou um

    desemprego duradouro que se agrava em cada período de crise política e econômica.

    Assim, esses autores parecem concordar com o fato de que o desemprego está

    relacionado à falta de um trabalho que implica numa remuneração – assalariamento, e que

    na sua falta implicará numa crise – ou pessoal e de saúde ou política e econômica, quando o

    desemprego toma um vulto populacional.

    Pochmann (2001) afirma que nas últimas décadas, o mercado de trabalho atuou de

    maneira extremamente desfavorável aos vendedores de força de trabalho, com sua

    desestruturação. Por desestruturação do mercado de trabalho pode-se entender a presença

    simultânea e combinada do desemprego aberto em larga escala, do desassalariamento

    (redução de empregos assalariados) e da geração de postos de trabalho precários. Em se

    tratando de pesquisa oficial, constata-se também que , até o final da década de 1980, o

    desemprego não era relativamente alto. Mas a partir de 1990, a quantidade de pessoas sem

    emprego e procurando um posto de trabalho ganhou forte relevância. Ainda segundo esse

    mesmo autor, além do expressivo montante de pessoas desempregadas, houve drástica

    alteração na composição do desemprego.

    Em outras palavras, o desemprego mudou de perfil deixando de ser um fenômeno

    que atingia segmentos específicos da sociedade para se generalizar por quase toda a

    população ativa. Por esse motivo parece não haver mais estratos sociais imunes ao

    desemprego no Brasil. Atualmente, afirma Pochmann (2001), o perfil do desempregado

  • encontra-se mais inclinado para pessoas: com mais de oito anos de escolaridade; com idade

    mais avançada (mais de 49 anos); do sexo feminino; que são chefes de família; brancas; e

    que buscam o reemprego.

    De acordo com Chahad ( 2003) o conjunto dos ocupados em tarefas de direção,

    gerência e planejamento cresceu entre 1995 e 1998 e sua absorção declinou bastante desde

    então até 2002. Em contraposição, após uma estagnação até 1998, cresceu bastante o

    emprego de trabalhadores nas tarefas de execução, bem como o emprego daqueles em

    tarefas de apoio. Para esse autor, houve um aumento no tempo que o indivíduo procura por

    trabalho, pois passou para 51 semanas em 2002, tal como já apontado pelo DIEESE (2006),

    ou seja, um aumento de 150% no tempo necessário para obtenção de um novo emprego

    chamado “ Desemprego de longa duração “

    Deste modo, ante os vários critérios para se definir ou conceituar desemprego, é fato

    que esta situação traz danos nos vários âmbitos ou seguimentos da vida. E sobre este

    aspecto, pode-se entender, tal como Marin – Leon e Iguti (1999) que o desemprego

    representa perdas em várias dimensões da vida: perda de uma posição garantida na força de

    trabalho, perda do sentimento de participação e identificação com um grupo específico, de

    seu status, perda do poder de ser o provedor de uma família, de uma posição social na

    comunidade em que o indivíduo está inserido.

    Ainda com relação às conseqüências, essas autoras asseguram que o medo do

    desemprego não se limita ao trabalhador, compromete também sua família. Contribui paras

    as desavenças conjugais, as ausências prolongadas do lar, através das jornadas de trabalho

    prolongadas e do estado de esgotamento do trabalhador, os conflitos entre os pais

    compromete o equilíbrio emocional dos filhos e constitui um importante elemento de

    desagregação familiar. O tempo destinado à convivência familiar inexiste e os pais

  • desconhecem os problemas de seus filhos tornando-se freqüente a possibilidade de fracasso

    escolar, drogadição e delinqüência.

    Assim, observamos que esta situação atinge os trabalhadores pouco qualificados e

    com baixa condição sócio econômica e também os que ocupam os mais altos níveis, entre

    esses são freqüentes os divórcios e afastamento dos filhos.

    Com a literatura citada, pode-se verificar que o desemprego parece ocasionar as

    consideradas crises. Neste processo percebe-se uma estreita relação das crises com a

    ansiedade. Alguns autores também vão se referir ao estresse e, na mediação desta situação

    estará, certamente o enfrentamento do sujeito face à situação de crise.

    1.2- CONSIDERAÇÕES SOBRE A ANSIEDADE

    Nas definições de dicionário de língua portuguesa, Ferreira (2004) descreve o termo

    ansiedade significa estado emocional angustiante acompanhado de alterações somáticas e

    em que se prevêem situações desagradáveis, reais ou não.

    No campo psicológico os termos ansiedade, tensão e estresse são utilizados de

    diversas maneiras por diferentes autores; apresentando inclusive pouca distinção entre os

    termos.

    Weiten (2002) define estresse como quaisquer circunstâncias que ameaçam ou são

    percebidas como ameaçadoras do bem estar do indivíduo e que, portanto minam as

    capacidades de enfrentamento do indivíduo, para ele a experiência de sentir-se estressado

    depende de que situações o indivíduo observa e de como ele as avalia; para ele existem

    quatro principais tipos de estresse: frustração, conflito, mudança e pressão, sendo que:

    Frustração é uma emoção que se vivencia quando a busca de um objetivo fracassa. Conflito

  • é quando duas ou mais motivações ou impulsos comportamentais incompatíveis competem

    por expressão. Mudanças de vida implicam qualquer tipo de alteração nas circunstancias de

    vida de uma pessoa que exigem readaptação.

    Spielberg (1981) ao explicar o conceito de ansiedade, afirma que o termo tensor que

    é utilizado para descrever situações ou estímulos objetivamente caracterizados por algum

    grau de perigo físico ou psicológico (ameaça); assim o termo ameaça refere-se à percepção

    ou avaliação, por parte do indivíduo, de uma situação ou da percepção de estímulos como

    sendo potencialmente perigosos ou nocivos. Deste modo, pessoas que consideram uma

    situação tensa como sendo ameaçadora experimentarão uma reação de ansiedade.

    Para este autor o termo estado de ansiedade é utilizado para descrever reações

    emocionais que consistem em sentimentos subjetivos de tensionamento, apreensão,

    nervosismo e preocupação.

    De modo que o autor distingue a ansiedade como um estado emocional transitório

    (ansiedade como estado) e como característica de personalidade (ansiedade como traço). A

    ansiedade como traço refere-se às diferenças individuais realmente estáveis, isto é às

    diferenças na tendência de reagir a situações percebidas como ameaçadoras, tanto física

    como psicologicamente e a ansiedade estado é justamente aquela gerada por algum agente

    percebido como estressor, seja este interno ao organismo ou externo ao indivíduo.

    Com relação às respostas emocionais frente a determinadas situações, Weiten

    (2002) remonta o pensamento de Lazarus quando afirma que o estresse desperta mais

    emoções desagradáveis do que agradáveis e existem ligações estreitas entre reações

    cognitivas a estresse e emoções específicas, e que respostas emocionais mais comuns

    incluem: aborrecimento, raiva e fúria; apreensão, ansiedade e medo; desalento, tristeza e

    pesar.

  • Com isso observamos a estreita relação entre o que se chama ansiedade como estado

    e o próprio stress. Assim, frente às chamadas situações estressantes, certamente estará o

    estado de ansiedade.

    Lazarus (1993) fez relação entre estresse e enfrentamento e traz a seguinte

    concepção: (a) os indivíduos diferem quanto às reações de estresse, (b) a reação de estresse

    é determinada pela percepção da situação estressante e (c) a extensão e as características da

    reação de estresse dependem em parte, dos recursos de enfrentamento da pessoa.

    Cabe lembrar, que o grande precursor dos estudos sobre stress ou estresse, foi H.

    Selye. A partir dele é que muitos estudiosos se dedicaram a entender mais este estado pelo

    qual passam sujeitos humanos e animais.

    Para Selye (1956) apud Lipp (2003) o estresse se desenvolve em 3 fases: alerta,

    resistência e exaustão; na primeira fase, a do alerta, o organismo prepara-se para a reação

    de luta ou fuga que é essencial para a preservação da vida. A fase de resistência inicia-se

    quando o estresse continua presente e o organismo tenta uma adaptação em função de o

    organismo procurar o equilíbrio interno, nessa fase as reações são de desgaste e cansaço;

    quando o estressor é contínuo e a pessoa não possui estratégias para lidar com o estresse, o

    organismo exaure sua reserva de energia adaptativa, a fase de exaustão se manifesta e

    nesse momento as doenças aparecem.

    Estudiosos mais modernos como Lipp (2003) entendem que o estresse é um estado

    de tensão que causa uma ruptura no equilíbrio interno do organismo, ou seja, uma reação

    psicofisiológica muito complexa, que tem, em sua gênese, a necessidade do organismo lidar

    com algo que ameaça sua homeostase ou equilíbrio interno. Segundo ela, trata-se de uma

    tentativa de vencer um desafio, de sobreviver a uma ameaça ou de lidar com uma adaptação

    necessária no momento, mesmo que seja algo desejado. Por tanto, o mesmo evento pode ou

  • não desencadear uma reação de estresse em pessoas diferentes, dependendo da

    interpretação que cada um dá ao evento.

    Aprofundando suas pesquisas, Lipp (2003) desenvolveu um modelo quadrifásico do

    estresse, que é um desenvolvimento do modelo trifásico de Selye, para ela o processo do

    estresse, se desenvolve da seguinte forma: fase de alerta, a pessoa necessita de produzir

    mais força e energia a fim de poder atender ao que se está exigindo dela, ou seja, um

    esforço maior; o processo autoregulatório se inicia com um desafio ou ameaça percebida,

    sempre haverá uma quebra na homeostase, pois o esforço não visa à manutenção do

    equilíbrio interior e sim ao enfrentamento da situação desafiadora. Fase de resistência,

    nesse estágio ocorre um aumento na capacidade de resistência acima do normal, pois há

    sempre uma busca pelo reequilibrio; o que pode gerar uma sensação de desgaste

    generalizado, dessa forma quanto maior o esforço que a pessoa faz para se adaptar e

    restabelecer a harmonia interior maior será o desgaste do organismo. Fase de quase

    exaustão: nessa fase as defesas do organismo começam a ceder e ele já não consegue

    resistir às tensões e restabelecer a homeostase interior, é comum ocorrer oscilações entre

    momentos de bem estar e momentos de desconforto, cansaço e ansiedade. Fase de

    exaustão: nesse estágio há uma quebra total da resistência e ocorre uma exaustão

    psicológica em forma de depressão e exaustão física na forma de doenças.

    Para Lipp (2003) o estresse excessivo produz cansaço mental, dificulta a

    concentração, perda de memória imediata, apatia e indiferença emocional, a produtividade

    e criatividade ficam prejudicadas e a qualidade de vida sofre um dano bastante evidente, a

    pessoa estressada lida mal com as mudanças, pois sua habilidade de adaptação está

    envolvida inteiramente no combate ao estresse. Assim entendemos com as contribuições

    desses autores que as pessoas respondem ao estresse de várias formas, buscando, evitando,

  • fugindo, enfrentando, convivendo e adaptando-se as situações geradoras do estresse.Como

    cada individuo tem sua própria história de vida, seus sucessos e fracassos e sua forma típica

    e única de lidar com o estresse, ou seja, sua estratégia de enfrentamento; interessa-nos

    especialmente investigar que esforços uma pessoa utiliza dentro de uma situação específica

    ou não para lidar as demandas geradas pelo estresse.

    1.3 - ENFRENTAMENTO E SUAS ESTRATÉGIAS

    O conceito de enfrentamento tem despertado interesse entre os psicólogos desde há

    muito. Em português Coping, vem sendo traduzido como enfrentamento; o conceito

    centraliza-se nos acontecimentos que sucedem ao longo da vida das pessoas e refere-se às

    perdas, dificuldades, tragédias ou fatores inesperados, que os indivíduos precisam enfrentar.

    As pessoas respondem ao estresse de várias formas e as respostas comportamentais

    nos interessam especialmente, pois elas envolvem as estratégias de enfrentamento, ou seja,

    aos esforços para dominar, reduzir ou tolerar as demandas criadas pelo estresse.

    Lazarus e Folkman (1980) definem Enfrentamento (Coping) como sendo um

    conjunto de esforços cognitivos e comportamentais, utilizado pelo indivíduo com o

    objetivo de lidar com demandas específicas, internas ou externas que surgem em situações

    de Estresse. Isso explica que as estratégias de Enfrentamento (Coping) são ações

    deliberadas, que podem ser aprendidas, usadas e descartadas.

    Para Weiten (2002) existem pessoas que são capazes de suportar melhor os males

    do estresse e isso explica o fato de que existem variáveis moderadoras que podem diminuir

    o impacto do estresse sobre a saúde física e mental. São três as variáveis moderadoras:

  • apoio social, otimismo e consciência. Apoio social refere-se a vários tipos de auxílio

    fornecidos por membros de uma rede social da pessoa.Otimismo é a forma como a pessoa

    espera resultados positivos.Consciência é um traço de personalidade que se caracteriza com

    ético, confiável, produtivo e determinado.Crise é também um aspecto a ser investigado

    nesse estudo.Assim , na linha de raciocínio de Lazarus e seus colaboradores, entende-se que

    o enfrentamento refere-se aos modos como o sujeito lida com situações difíceis ou

    estressantes e que requerem, de certo modo um esforço adaptativo.

    1.3.1- O ENFRENTAMENTO ANTE O IMPACTO DA DOENÇA

    A literatura tem apontado para estudos sobre o enfrentamento nos períodos de

    doença (SEIDL, 2001; CASARINI, 2004; SEIDL, 2005b). Seidl ( 2001) em seu trabalho

    sobre relações de enfrentamento, suporte e qualidade de vida em pessoas com HIV, grande

    parte dos pesquisadores nessa linha , trabalham com o conceito de enfrentamento como “

    estratégia “ diferindo-se dos clássicos conceitos de Lazarus que pressupõe fatores de

    enfrentamento associados a características de personalidade, ou seja, características

    internas.

    Numa linha de raciocínio que pressupõe o enfrentamento como capacidade interna

    do indivíduo, podemos encontrar um equivalente em Simon (1989). Este autor, seguindo

    uma abordagem psicanalítica, não fala especificamente em enfrentamento, mas sim sobre

    recursos internos ou recursos defensivos utilizados pelo sujeito ante à crise e que o

    acomodam numa certa adaptação – que pode ser eficaz ou ineficaz. Esta capacidade

    adaptativa irá ser determinada pela qualidade das respostas emitidas pelo sujeito na situação

    de crise. Estas respostas serão como define o autor, respostas adequadas, pouco adequadas

    e pouquíssimo adequadas.

  • A emissão destas respostas, para o autor, dependerão de todo um aparato interno

    que o indivíduo já possui, e que foi construído ao longo de seu desenvolvimento; portanto

    fazem parte de seu mundo interno. É nesse raciocínio psicanalítico que o autor cria uma

    escala, EDAO- Escala Diagnóstico Adaptativa Operacionalizada - para medida da eficácia

    adaptativa de indivíduos. Este instrumento pode ser utilizado tanto para detectar a situação

    de crise ou não, bem como para avaliar a qualidade das respostas do sujeito e por

    conseguinte sua capacidade adaptativa.

    Esta compreensão psicanalítica e este instrumental têm sido bastante utilizadas

    pelos pesquisadores nos casos de doenças agudas e crônicas, bem como em relações de

    trabalho (ZAGO, 2004).

    Também numa linha de raciocínio dinâmico em Psicologia, porém mais específico

    da abordagem humanista, Kubler-Ross (1969) discorre sobre fatores ou fases do indivíduo

    acometido por doença grave e com expectativas de morte. Aponta que a doença traz além

    de perdas concretas, como a morte e a mutilação, perdas de diferentes significados, como a

    interrupção prematura de atividades, sonhos e projetos financeiros. Ao tomar conhecimento

    da malignidade da doença o paciente passa por estágios que, nada mais são do que

    mecanismos psicológicos de enfrentamento e adaptação: negação e isolamento, raiva,

    barganha, depressão e aceitação. Essa negação é o primeiro dos cinco estágios que

    pacientes próximos ou diante da possibilidade da morte passam a sentir, a negação é o

    estágio que vem diante do diagnóstico, depois virão sucessivamente à tona a raiva, quando

    o diagnóstico for assimilado, a barganha para tentar negociar a morte, neste estágio aceita-

    se o fato mas procura-se adiá-lo, depois será a depressão com a revisão da vida e enfim a

    aceitação, onde a pessoa passa a deixar fluir o curso natural de sua doença.

  • A visão desta autora também pode ser equiparada a um tipo de enfrentamento ou de

    capacidade adaptativa do sujeito frente à morte ou situação de conflito, ou crise.

    Observamos que, diante da rica literatura psicológica sobre as maneiras de lidar com

    a crise ou o sofrimento, existem diferentes correntes de pensamento. A corrente

    psicanalítica partirá da compreensão do objeto de estudo por um determinismo psíquico; as

    correntes humanista e existencialista partirão da compreensão do estado em que o sujeito

    se encontra. E a corrente cognitivista, aqui adotada, compreende o objeto a partir de

    características internas e de experiências externas (ambientais) em que o indivíduo se

    encontra e que o conduzirão às formas de enfrentamento que este irá colocar em ação.

    As medidas de enfrentamento (instrumentos) criadas a partir do referencial

    cognitivista preferem nomear o enfrentamento como estratégia. Nesse raciocínio a EMEP

    (Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas) foi construída por Vitaliano; Russo;

    Carr; Maiuro;Becker, (1985) apud Seidl, (2001) e adaptada para a população brasileira por

    Gimenes e Queiroz (1997) apud Seidl (2001), mediante os procedimentos de análise

    semântica e traduções reversas, seguidas de testes para adequação e clareza de linguagem,

    sem que a estrutura fatorial da escala tivesse sido investigada. Assim optou-se pela

    realização da análise da estrutura fatorial desse instrumento em amostra brasileira composta

    por pessoas da população em geral e com pessoas acometidas por enfermidades crônicas.

    Em sua estrutura esses autores (SEIDL, TROCCOLI; ZANNON, 2001).indicaram a

    existência de 4 fatores: enfrentamento focalizado no problema (estratégias cognitivas e

    comportamentais que representam condutas de aproximação ao estressor voltadas para seu

    manejo ou solução) ; enfrentamento focalizado na emoção (estratégias cognitivas e

    comportamentais que representam comportamentos de esquiva ou negação, expressão de

    emoção negativas, irrealistas voltadas para a solução mágica do problema, auto-culpa e ou

  • culpabilização dos outros); busca de suporte social (envolve a busca de apoio instrumental,

    emocional ou de caráter informativo); e busca de religiosidade / pensamento fantasioso

    (comportamentos que podem auxiliar no enfrentamento do problema por meio da

    manutenção da fé e da esperança).

    Segundo Seidl ( 2001) e Seidl et.al (2001) quanto ao enfrentamento focalizado na

    emoção os conteúdos dos itens da EMEP que mensuram essa modalidade de

    enfrentamento, expressam sentimentos de culpa em relação a si próprio e ao outro, emoções

    negativas, esquiva e pensamento fantasioso, o que leva a supor que escores mais elevados

    nessa estratégia seriam sugestivos de dificuldades psicológicas relevantes. Ainda para estes

    autores, outro achado que merece comentário refere-se ao uso mais freqüente do

    enfrentamento focalizado na emoção por pessoas com menor escolaridade e por mulheres.

    Quanto à religiosidade , (Seidl e et.al. 2001) observou que as mulheres e pessoas com

    menor nível de escolaridade utilizavam mais religiosidade ou busca de práticas religiosas

    como estratégias de enfrentamento para lidar com estressores.

    Alguns estudos têm demonstrado a relação entre enfrentamento e doenças (SEIDL,

    2001; CASARINI, 2004; SEIDL, 2005 A; SEIDL,2005 b ). Na descrição da variabilidade

    das estratégias de enfrentamento de pessoas portadoras de HIV, Seidl (2005 a.) aponta que

    nestes pacientes havia predomínio de enfrentamento focalizado no problema. Houve

    diferença entre homens e mulheres, uma vez que nestas últimas, com nível de escolaridade

    baixo, predominaram o enfrentamento focalizado na emoção e busca de práticas religiosas.

    Assim, estamos compartilhando no presente estudo, com base na literatura, que esse

    conjunto de esforços cognitivos e comportamentais que o indivíduo utiliza – são os tipos ou

    estratégias de enfrentamento, e esses esforços têm com o objetivo de lidar com as

  • demandas específicas, internas ou externas que surgem em situações de crise, - no caso o

    desemprego - que por sua vez pode apresentar sintomas de ansiedade.

    1.4. CONSULTORIA DE RECOLOCAÇÃO

    A consultoria é uma empresa especializada em preparar o indivíduo desempregado

    para retornar ao mercado de trabalho (Recolocação). Esse preparo consiste em elaborar o

    currículo, treinamentos, palestras, aconselhamento de carreira e acompanhamento

    individual com feedback sobre seu desempenho durante os processos seletivos e também

    suporte emocional e psicológico sempre que houver necessidade. É comum no Brasil que

    apenas uma determinada população seja contemplada com o processo de recolocação no

    momento da demissão, estamos falando do nível gerencial, que é uma população de

    formação acadêmica diferenciada, com exposição internacional e domínio de vários

    idiomas, na maioria das vezes. A população que vamos trabalhar são profissionais

    denominados executivo ou gerente que segundo o dicionário Aurélio é “ aquele que ocupa

    cargo de direção ou chefia de alto nível, encarregado de executar as leis, que gere

    negócios, bens e serviços “ (FERREIRA, 2004, 309, e 354p.). A palavra executive ou

    manager, segundo o dicionário Longman Dictionary of Contemporary English significa “

    alguém que tem um importante trabalho como administração de uma companhia ou

    negócio e alguém cujo trabalho é dirigir ou controlar parte ou o todo de uma organização

    e de pessoas que nela trabalham” (1995, .475, 870 p ).

    Num processo de aconselhamento em consultoria de recolocação, um dos aspectos

    abordados com os executivos desempregados é a importância da rede de relacionamentos.

    Estas redes de relacionamentos são estudadas por psicólogos que as denominam de redes

  • sociais ou redes de apoio social (COHEN e WILLS, 1985; BOWLING, 1994; AZEVEDO

    et. al. 1998).

    As primeiras análises das redes sociais foram desenvolvidas por antropólogos e

    sociólogos. Para estes últimos , as redes têm um poder explicativo sobre a conduta social

    dos membros, é o conjunto de pessoas com quem se mantém contato e tem algum tipo de

    laço social. ( BOWLING,1994).

    O apoio social amortiza, em situações de crise, o stress, as doenças, e auxilia as

    pessoas a entenderem melhor o período de vivencia da crise, abre oportunidades para

    falarem sobre seus medos, insegurança, e também se revela como uma possibilidade para a

    obtenção de mais informações e recursos (COHEN ; WILLS, 1985).

    Quando o indivíduo recebe apoio social, sua percepção de pertença a um grupo que

    (COBB, 1976) pode ser evidenciado pôr três aspectos: a) a informação que leva a pessoa a

    acreditar que ela é cuidada e amada; b) a informação que leva a pessoa a acreditar que ela é

    estimada e valorizada, e c) a informação que leva a pessoa a acreditar que pertence a uma

    rede e que ambos possuem obrigação e direitos.

    No caso dos desempregados, aqueles que dispõem de um bom suporte ou apoio

    vindo destas redes (ARRAZOLA; MENDÉZ, 1998) parecem mais felizes, têm melhor

    saúde física e mental, as relações sociais parecem ser fontes de felicidade; há ainda

    indicativos de que este apoio reduz o impacto psicológico do desemprego, provê recursos

    instrumental e emocional capazes de provocar respostas apropriadas para enfrentar este

    período, bem como apresenta maior abertura para fazer mudança e o indivíduo tem melhor

    percepção de si mesmo.

    As redes sociais além de influir sobre o estado de saúde das pessoas têm um papel

    relevante na vida do desempregado, pois para se conseguir um emprego é mais fácil quando

  • se pertence a uma rede. São os contatos com amigos, ex-colegas de trabalho, pessoas que

    também estão em busca do emprego e podem fornecer informações personalizadas que

    facilitam o reemprego. (AZEVEDO et. al. 1998).

    Segundo Vieira Filho e Nóbrega (2004) participar de redes em que se possa receber

    um atendimento, entendido como o ato de acolher, de dar atenção, cuidado, de oferecer

    uma escuta atenta à pessoa humana e oferecer um suporte para lidar com a problemática

    sócio existencial, podem ser uma alternativa saudável para lidar com a crise do desemprego

    e minimizar as conseqüências deste na saúde do indivíduo.

    Diante da literatura apresentada, estamos compreendendo, no presente trabalho, que

    o desemprego pode representar uma situação de crise na vida do indivíduo. Esta situação de

    desemprego pode então ser imbuída de ansiedade. Mas, caberá distinguir, nestes

    indivíduos, a ansiedade estado (que poderá ter sido advinda desta situação de desemprego-

    crise) e a ansiedade traço (já que pode esta ser uma característica dos sujeitos).

    Isto nos leva à questão do enfrentamento, ou seja, que tipo de enfrentamento é feito

    por esses sujeitos e que os colocam em determinado tipo de situação.

  • Deste modo, os Objetivos do presente estudo são:

    a) Investigar a presença de ansiedade em executivos em situação de desemprego.

    b) Identificar as principais estratégias de enfrentamento utilizadas por esses sujeitos .

    c) Correlacionar o nível de ansiedade com as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos

    sujeitos e tempo de desemprego.

  • 2. MÉTODO

    2.1. SUJEITOS

    Os sujeitos dessa pesquisa foram 35 (trinta e cinco) pessoas, sendo 8 mulheres e 27

    homens, desempregados, e que exerciam anteriormente cargos classificados como

    executivos em empresas de grande porte. Todos os sujeitos eram casados, com formação

    superior completa e a faixa etária estava acima de 35 anos. Destaca-se que estes sujeitos se

    encontravam em situação de desemprego em períodos diferentes : de um mês (4 semanas)

    até dez meses (40 semanas). Estes sujeitos estavam em processo de aconselhamento de

    carreira em uma consultoria especializada em recolocação profissional, e eram atendidos

    pela psicóloga responsável. A amostra foi escolhida por critério de conveniência, conforme

    explicam Rea e Parker(2000) por ser aquela em que se trabalha com os sujeitos que se

    dispõem a participar. Embora tivéssemos a intenção de estudar sujeitos que estivessem em

    fase inicial de desemprego e sujeitos que estivessem há mais de 6 meses desempregados,

    não estabelecemos esse como critério rígido em nossa seleção. De modo que tanto os casos

    de 4 meses quanto aqueles com até dez meses de tempo de desemprego foram casos

    resultantes de nossa solicitação ou convite na participação desse estudo. De modo que

    consideramos essa como uma “amostra por conveniência e não por sorteio aleatório.

    2.2. AMBIENTE

    A pesquisa foi realizada numa consultoria – Gutemberg Consultores, local em que

    estes sujeitos já eram atendidos com a finalidade de serem recolocados no mercado de

    trabalho. A consultoria conta com salas específicas para atendimento psicológico( apoio ou

    suporte), de modo que o trabalho foi desenvolvido num ambiente neutro e em condições

    adequadas para aplicação dos instrumentos.

  • 2.3. INSTRUMENTOS

    Foram utilizados os seguintes instrumentos:

    a) Inventário de Ansiedade Traço-Estado1 –, IDATE elaborado por Spielberger (1979)

    para avaliação do nível de ansiedade destes sujeitos.Este inventário de ansiedade

    consta de 2 (duas) escalas, cada uma com 20 (vinte) afirmações, uma delas avalia a

    ansiedade como estado e a outra o "traço de ansiedade". A primeira solicita que o

    indivíduo descreva como se sente em um determinado momento, enquanto que a descrição

    de como geralmente se sente é tarefa da segunda. A avaliação de traço e estado de forma

    separada permite que o psicólogo investigue se o grau de ansiedade é dado pelo momento

    em que o indivíduo vive (estado) ou se o indivíduo já possui uma condição de ansiedade

    com traço de personalidade.

    b) Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas – EMEP (anexo 1) na versão

    adaptada para a população brasileira por Gimenes e Queiroz (1997) apud Seidl (2001). A

    escala é composta por 45 itens e englobando pensamentos e ações apresentados diante de

    um evento estressor específico, distribuídos em quatro fatores (SEIDEL; TROCCOLI;

    ZANNON,2001). Os quatro fatores são:

    Enfrentamento Focalizado no problema (18 itens): estratégias cognitivas e

    comportamentais que representam condutas de aproximação ao estressor voltadas para seu

    manejo ou solução.

    7272727230/11/2006

    1 O inventário IDATE não pode ser reproduzido sendo que os direitos autorais pertencem ao CEPA, portanto este instrumento, não consta em anexo.

  • Enfrentamento Focalizado na emoção (15 itens): estratégias cognitivas e

    comportamentais que representam comportamentos de esquiva ou negação, expressão de

    emoção negativas, irrealistas voltadas para a solução mágica do problema, auto-culpa e ou

    culpabilização dos outros.

    Religiosidade e Pensamento Fantasioso (7 itens): Composto por pensamento e

    comportamentos que representam o enfrentamento do problema por meio da manutenção

    da fé e da esperança; ou de pensamentos fantasiosos.

    Busca de Suporte Social (5 itens): Envolve a busca de apoio instrumental, emocional ou

    de caráter informativo.

    As instruções foram adaptadas para a situação de desemprego, como segue: “ As pessoas

    reagem de diferentes maneiras a situações difíceis ou estressantes “.

    Para responder a este questionário pense sobre como você está lidando com a situação de

    ter perdido o emprego. Concentre-se nas coisas que você faz, pensa ou sente para enfrentar

    esta condição no momento atual.

    As respostas atribuídas pelos sujeitos foram dadas em uma escala do tipo Likert de cinco

    pontos, contendo os seguintes intervalos: 1- Eu nunca faço isso; 2- Eu faço isso um pouco;

    3- Eu faço isso às vezes; 4- Eu faço isso muito; 5- Eu faço isso sempre.

    A pontuação da escala se baseia em escores construídos para cada um dos fatores que

    representam as diferentes estratégias de enfrentamento sendo que maiores escores indicam

    maior utilização daquela estratégia de enfrentamento (SEIDL, 2001). A escala e a

    descrição dos fatores que a compõe estão no anexo 1 e anexo 2, respectivamente.

    Esses instrumentos foram utilizados após o esclarecimento, pelo pesquisador, e assinatura

    do sujeito do “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”, garantindo a

    confidencialidade das informações.

  • 2.4. PROCEDIMENTO

    Os sujeitos foram selecionados por conveniência, ou seja na medida em que

    aceitavam participar deste estudo. Estes eram sujeitos que estavam em processo de

    aconselhamento numa consultoria de São Paulo.Representavam aqueles indivíduos que ao

    serem demitidos, a própria empresa demissionária os encaminhava para recolocação nesta

    consultoria e, ao passarem pelo processo de recolocação no mercado de trabalho, eram

    atendidos pelos psicólogos em trabalhos de orientação e aconselhamento.

    Ao aceitarem participar deste estudo,estes assinaram o "termo de consentimento

    livre e esclarecido" conforme exigência do Ministério da Saúde do Brasil (anexo 3).

    Os instrumentos IDATE e a escala EMEP foram aplicados em uma única sessão, uma vez

    que são instrumentos auto-aplicáveis e os sujeitos da pesquisas são pessoas de bom nível

    intelectual, ou seja, todos possuíam escolaridade superior. As sessões de aplicação tiveram

    duração aproximadamente de 1 a 2 horas e forma feitas individualmente.

    A Análise de Dados obtidos na pesquisa foram e analisados através de técnicas

    estatísticas descritivas e do software estatístico SPSS - Statistical Package for the Social

    Sciense, versão 13.0 para Windows.

  • 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Os resultados são apresentados e discutidos, a seguir, buscando-se primeiramente a

    descrição dos dados da amostra numa análise estatística descritiva simples. Julgamos

    necessária esta apresentação nesta seção dos resultados e não restringir a uma descrição

    breve no método, dado a riqueza dos dados encontrados. Ou seja, os dados da amostra

    como faixa etária, sexo, escolaridade, cargo ocupado são variáveis que isoladamente têm

    sido importantes na compreensão de sujeitos desempregados, inclusive relacionadas pelo

    próprio DIEESE (2006).

    Após esta descrição de dados são apresentados os resultados relativos à ansiedade,

    enfrentamento e suas correlações com tempo de desemprego.

    3.1. DADOS GERAIS DA AMOSTRA ESTUDADA

    Tabela 1 – descrição da faixa etária da amostra estudada

    Faixa Etária Freqüência

    n Percentual

    %

    Percentual Acumulado

    Por faixa 35 2 5,7 36 1 2,9 17,2 39 3 8,6 40 6 17,1 41 4 11,4 42,8 42 2 5,7 44 3 8,6 45 4 11,4 46 2 5,7 47 2 5,7 34,2 48 2 5,7 49 2 5,7 50 > 51 1 2,9 56 1 2,9 5,8 Total 35 100

  • A faixa etária da amostra (tab. 1), indica uma variação entre os executivos em

    relação à idade atual e em que se encontravam desempregados.Num extremo encontram-se

    os sujeitos da amostra com 35 anos e noutro 56 anos. Entretanto, pode-se observar um

    maior percentual nas faixas de 40 a 44 anos e 45 a 49 anos. Agrupadas as faixas pode-se

    verificar que o maior freqüência de desempregados executivos desta amostra está na faixa

    etária entre os 40 até 50 anos. Estes dados são interessantes de serem discutidos à luz do

    que Pockman (2003) examina sobre o perfil do desempregado, pois o autor indica em sua

    análise sobre desempregados, que a idade acima de 49 anos é um fator marcante no perfil

    do desempregado atualmente no nosso país.Embora este autor se refira a uma população

    geral, nossos dados são coincidentes no marco de 49/50 anos; porém ressalta-se que a faixa

    etária marcante em nossa amostra é ainda mais jovem.

    Também examinado a faixa etária e desemprego, Alves (2002) indica faixa etária de

    adultos, chefes de família e com experiência. Este aspecto, que também dá indicativos

    coincidentes com o presente estudo, mostra que este perfil de pessoas está perdendo espaço

    no mercado formal de trabalho, tendo indicativos de que são substituidos por jovens, com

    menores salários.

    A faixa etária entre desempregados é uma variável de interessante discussão, pois

    parece haver diferenças entre faixa etária e tipo de trabalho ou cargo anteriormente

    ocupados por esses sujeitos. Ferreira (2005) ao estudar desemprego, indicadores de saúde e

    suporte social, com uma amostra de 500 desempregados de setores produtivos

    operacionais, com menor especialização, e de classe sócio-econômico-cultural menos

    favorecida, encontrou maior incidência de desempregados nas faixas etárias de 21 a 30 anos

    (42%) e de 31 a 40 anos (32%). Os dados dessa autora indicaram portanto desempregados

  • de baixa qualificação mais jovem do que a que a amostra de executivos aqui estudada. Isto

    poderia indicar que os executivos defrontam-se com o desemprego mais tardiamente do que

    pessoas de baixa qualificação, porém esses desempregados menos qualificados poderiam

    passar pelo desemprego em mais de uma ocasião; fato que poderia ser objeto de estudos

    futuros.

    Todavia, estes dados sobre faixa etária também nos levam a pensar em duas

    hipóteses: uma é a de que os sujeitos com mais de 40 anos são aqueles que, pela

    experiência e amadurecimento profissional, ocupam cargos de gerência nas empresas,

    portanto os executivos desempregados não poderiam pertencer a faixas etárias mais jovens,

    os quais ainda estariam iniciando a carreira profissional. Uma segunda hipótese é de que os

    sujeitos com mais de 40 anos têm tido mais dificuldades de recolocação no mercado de

    trabalho justamente pela idade – tendo, portanto, uma rejeição das empresas em admitirem

    em seu quadro pessoas nesta faixa de idade. Ambas hipóteses mereceriam ser melhor

    investigadas em estudos posteriores com amostras maiores e estratificadas.

    Estes dados sobre faixa etária, também dão margem para uma discussão mais

    ampliada sobre conseqüências no seio familiar. Embora no presente estudo não levantamos

    os dados sobre vida sócio-econômico-cultural e constituição familiar (apenas dados sobre

    estado civil – casados), pode-se pensar nas relações entre esse desemprego e a faixa etária

    destes sujeitos casados. Ou seja, nesta faixa etária, esses sujeitos possivelmente faziam

    parte de um grupo familiar já estabilizado e já habituado num determinado padrão

    econômico-cultural. Um dado que também é apontado por Pockman (2001) neste mesmo

    perfil do desempregado, o qual encontra-se mais inclinado para pessoas com mais de oito

    anos de escolaridade que são chefes de família.

  • De modo que o desemprego (ruptura do vínculo de trabalho assalariado) implicará numa

    possível mudança deste e afetará toda família. É o que já apontaram Marin-Leon e Iguti

    (1999), ou seja, que o desemprego produz perda do patrimônio familiar, do poder

    aquisitivo, devendo a família sofrer uma re-organização em suas finanças; e isso implicará

    também numa modificação das relações familiares. Essas modificações e reorganizações

    poderão ser uma oportunidade de crescimento e amadurecimento e aprendizado, como

    também poderá oportunizar a deterioração na saúde psíquica desta família.

    Entende-se que aqui também se inserem as contribuições da literatura sobre crise.

    Tal como aborda Oliveira (2004) pessoas que perderam seus empregos são afetadas por

    interrupções em suas vidas (crise). Na crise (CAPLAN, 1964) quando um membro da

    família enfrenta problema, todo grupo é afetado. É a família a primeira rede social em que o

    indivíduo está inserido e se relaciona; de modo que, estando o grupo familiar afetado – este

    irá funcionar como apoio ou também entrará em colapso junto ao membro afetado.

    No presente estudo, repetimos, não temos dados sobre o funcionamento familiar, porém,

    como todos os sujeitos dessa amostra são casados e possuem família, certamente esta rede

    encontra-se afetada por essa situação de conflito gerada pelo desemprego.

    Acrescenta-se que nesse processo de crise / desemprego,o tipo de enfrentamento

    que o sujeito desempregado fará e também os membros deste grupo familiar é que

    auxiliarão o sujeito ao crescimento ou indicarão mais conflitos. Sobre esse enfrentamento,

    discutiremos mais adiante.

  • Tabela 2 – sexo da amostra estudada

    Sujeitos Freqüência

    n Percentual

    % masculino 27 77,1 feminino 8 22,9 Total 35 100,0

    Observa-se em nossa amostra (tab. 2) que trabalhamos com um número maior de

    homens (77,1%) e um número menor de mulheres (22,9%).

    Sobre sexo ou gênero dos desempregados, Pockman (2003) dá indicadores

    diferentes deste de nossa amostra, pois esse autor mostra que as pessoas desempregadas são

    chefes de família, mas aponta um perfil feminino de desempregados e não masculino.

    Porém, podemos pensar que o autor citado refere-se ao âmbito geral de

    desempregados no Brasil , enquanto que a especificidade da amostra por nós estudada já

    seja esperado que estas funções de liderança sejam assumidas por homens.

    Tabela 3 – grau de instrução da amostra

    Escolaridade

    Freqüência N

    Percentual %

    Percentual Acumulado

    superior 28 80 80,0 pós graduação 7 20 100,0 Total 35 100,0

    Em relação ao grau de escolaridade (tab. 3), todos os executivos possuem

    escolaridade superior, sendo que dos 35 sujeitos (80 %), possuem curso superior completo

  • e (20%) possuem pós graduação, o que indica que os cargos de gerência necessitam de

    formação acadêmica diferenciada. Sobre o grau de escolaridade, também Pockmann (2001)

    aponta para um perfil de desempregado com escolaridade acima de 8 anos, na média geral

    da população.

    A escolaridade parece ser um dado importante de ser discutido e sua relação com

    saúde/doença. Ferreira (2005) encontra em seu estudo sobre desempregados, que quanto

    maior o grau de instrução, menor também era o comprometimento da saúde do indivíduo.

    Aponta ainda essa mesma autora, que a variável grau de instrução, quando associada ao

    suporte social, apresentou correlação significativa, indicando que essas pessoas percebem

    melhor e, acrescentamos, procuram mais apoio e ajuda.

    Tabela 4 – cargos ocupados pelos sujeitos da amostra estudada

    Cargos Ocupados

    Freqüência N

    Percentual %

    Percentual Acumulado

    gerente 33 94,3 94,3 diretor 2 5,7 100,0 Total 35 100,0

    Em relação ao cargo (tab. 4), dos 35 sujeitos, (94,3%) ocupam cargo gerencial e

    (5,7%) ocupam cargo diretivo isso se deve ao fato da consultoria onde esses sujeitos foram

    recrutados para a presente investigação trabalhar somente com recolocação de indivíduos

    que ocuparam cargos de posição executiva (de cargo gerencial). Lembramos então Ferreira

    (2004) que essas ocupações referem-se àquelas que gerem negócios, bens e serviços, e de

    posição hierárquica de liderança em uma organização.

    Estes dados gerais da amostra estudada, tais como faixa etária, sexo, grau de

    instrução e cargo mostram que de maneira conjunta temos uma amostra de pessoas de

  • ambos os sexos, com predomínio masculino, numa faixa etária que vai de 35 a 56 anos,

    com formação universitária e que ocuparam cargos de alta especialidade em empresas.

    Estes dados nos levam a pensar num perfil do desempregado. Todavia, não temos

    dados em escala do Dieese, por exemplo, sobre o número de desempregados nessas

    condições, ou seja, por perfil. Os dados encontrados dizem respeito ao número geral de

    desempregados sem distinção do tipo de emprego ou cargo ocupado por essas pessoas.

    Chahad (2003) traz uma colocação interessante a este respeito, pois mostra que o

    conjunto dos ocupados em tarefas de direção, gerência e planejamento cresceram entre

    1995 e 1998, mas sua absorção declinou bastante desde então até 2002. Em contraposição,

    cresceu bastante o emprego de trabalhadores nas tarefas de execução e de apoio.

    Entretanto, também podemos entender como Pokman (2001) que a partir de 1990, a

    quantidade de pessoas sem emprego e procurando um posto de trabalho ganhou forte

    relevância. Além do número expressivo de pessoas desempregadas, houve alteração na

    composição do desemprego, pois mudou o perfil do desempregado, de modo que deixou de

    ser um fenômeno que atingia segmentos específicos da sociedade para se generalizar por

    quase toda a população ativa. Por esse motivo não há mais estratos sociais imunes ao

    desemprego no Brasil. Atualmente o perfil do desempregado encontra-se mais inclinado

    para pessoas: com mais de oito anos de escolaridade; com idade mais avançada (mais de 49

    anos), chefes de família, além de incluir-se o sexo feminino, branco e que buscam o

    reemprego.

    Outro aspecto que suscita discussão é a própria porta de entrada do sujeito nas

    agencias de apoio e suporte (recolocação) ao desempregado e que de certa maneira

    traduzem o perfil desse desempregado. Isto porque, é fato de que pessoas de mais baixa

    qualificação acabam por procurar agências como o SINE – sistema nacional de empregos

  • ou os sindicatos e o perfil acaba por se agrupando nestas instituições. Tanto que ao

    observarmos o trabalho amplo de Ferreira (2005) que estuda cerca de 500 desempregados e

    em processo de recolocação junto ao sindicato de trabalhadores de Santo André – região do

    ABCD paulista, verificamos que o perfil traçado pela autora é bastante distinto desse a que

    nos referimos – de executivos. No estudo de Ferreira (2005), observa-se um perfil de

    pessoas com faixa etária mais jovem que a nossa (de 21 até 40 anos), com faixas salariais

    que não denotam nenhum cargo de gerência (R$ 1.000 em média), com instrução de ensino

    médio, contando-se ainda que o estado civil, em maioria era de casados, mas encontrou-se

    um grande percentual (37%) de solteiros. Fatos e dados que diferem sensivelmente do

    presente estudo.

    Portanto, entendemos que os perfis diferentes indicam também locais de

    recrutamento das amostras distintos. Soma-se ainda o fato de que as pessoas de cargos

    gerenciais são encaminhadas para recolocação e esse serviço é pago pela empresa que o

    desligou, enquanto que aqueles que ocupavam cargos ou exerciam funções menos

    qualificadas não têm recebido esse mesmo benefício. De modo que os locais onde estas

    pessoas se agrupam no pós-emprego tornam as amostras diferentes e, portanto, em termos

    de perfil, não são objeto de comparação.

    Mas, esses mesmos aspectos sobre os diferentes perfis de desempregados nos

    remetem a Pockman (2001) quando afirma que o próprio desemprego mudou de perfil

    deixando de ser um fenômeno que atingia segmentos específicos da sociedade para se

    generalizar por quase toda a população ativa. Por esse motivo parece não haver mais

    estratos sociais imunes ao desemprego no Brasil.

  • 3.2. QUANTO À ANSIEDADE TRAÇO E ESTADO

    A presença de ansiedade traço e estado fora medida nos 35 sujeitos desta amostra

    usando-se do instrumental proposto por Spielberg (1981). Conforme tabela abaixo,

    observa-se os indicadores de traço e de estado..

    Tabela 5 – presença de ansiedade traço e estado

    Nº Mínimo Maximo Média

    Desvio

    Padrão

    a_estado 35 25 67 44,11 10,04

    a_traço 35 23 60 37,11 8,58

    Pela tabela 5 pode-se observar que o grau de ansiedade apresentado pelos sujeitos

    desta amostra indica uma média dentro do esperado para a população universitária de São

    Paulo. Sobre esta média, pode-se pensar numa estabilidade desta ansiedade (como estado)

    na medida em que o sujeito mostra-se adaptado à situação. Ou seja, podemos entender esta

    estabilidade com as contribuições de Spielberg (1981) quando se refere à ansiedade como

    um estado emocional transitório (ansiedade como estado), que são reações emocionais de

    consistência subjetiva - de tensionamento, apreensão, nervosismo e preocupação. De modo

    que, relacionada também com o medo e o alerta, o estado ansioso deve se referir muito

    mais à proximidade da situação constrangedora imediata. Aqui no presente estudo pode-se

    entender que a situação constrangedora seria a notícia da perda do emprego, de modo que,

  • passado o período imediato da notícia, pode-se pensar numa estabilização desta ansiedade

    como estado.

    Este grau de ansiedade estável portanto pode ser entendido junto ao período de

    desemprego; ou seja, passados as primeiras semanas, pode haver certa acomodação. Isso

    também pode ser explicado com as contribuições de Simon (1989) sobre crise. O autor

    considera que a crise se dá em determinado período, ou seja, num tempo aproximado de até

    3 ou 4 semanas; após esse período o organismo ou o indivíduo como um todo, tende a fazer

    algum tipo de adaptação (seja esta eficaz ou ineficaz). Tendo em vista que os sujeitos desta

    nossa amostra estavam desempregados num período variável de 4 a 40 semanas, pode-se

    hipotetizar que o estado ansioso já estivesse estabilizado, chegando então na média da

    população universitária, conforme indica o próprio instrumento. Todavia, essa é uma

    hipótese que também deverá ser melhor investigada em outros estudos comparativos.

    O correlato desta acomodação da ansiedade estado, com níveis de adaptação

    humana, de Simon (1989), indica que o sujeito pode adquirir um nível de adaptação

    ineficaz; ou seja, a ansiedade estado pode não necessariamente estar mais presente, mas

    há sim um sofrimento. Também, este aspecto não pode ser afirmado, pois necessitaria de

    ser melhor investigado e com instrumental diferente.

    Sobre este aspecto, num estudo sobre a eficácia adaptativa de executivos ativos no

    trabalho (ZAGO, 2004) encontrou resultados bastante interessantes sobre a condição de

    equilíbrio adaptativo. Nesse estudo, os executivos que apresentam diagnósticos adaptativos

    ineficazes obtiveram altos níveis de produtividade e uma avaliação de desempenho muito

    favorável, o que implicava em dizer que esses executivos pareceram apresentar uma

    identidade sincrética, ou seja, utilizavam o grupo para sua própria dependência e afiliação,

  • mas, observou que se este grupo (empresa) lhes faltasse ou houvesse mudanças nesses

    grupos ou organização, provavelmente, poderiam ocorrer crises..

    Não nos cabe discutir os níveis adaptativos, mas sim entendermos, com esta autora,

    que a adaptação do sujeito, ao passar pela crise, pode ser eficaz ou ineficaz (a depender dos

    recursos internos a que dispõe o sujeito – enfrentamento). Com isso, queremos dizer que os

    nossos sujeitos podem apresentar “ansiedade estado” em nível de estabilidade, mas por uma

    adaptação não necessariamente eficaz; aspecto que merecerá ser melhor investigada em

    estudo posterior.

    Quanto à ansiedade traço, também observamos na tabela 5 que a mesma mantém-se

    no padrão médio da população universitária de São Paulo, indicando um padrão de

    normalidade. Como explica Spielberger (1981) esta é uma característica de personalidade,

    sendo então o que se refere às diferenças individuais realmente estáveis, mostrando a

    tendência do indivíduo a reagir em situações ameaçadoras.

    Assim, este dado revela a não existência de tendência ansiosa entre os sujeitos desta

    investigação, como um traço específico de personalidade. E isso novamente vem a nos

    indicar a necessidade da medida de enfrentamento adotado por estes desempregados. Ou

    seja, não havendo uma característica ansiosa presente entre eles, quais os tipos de

    enfrentamento mais utilizados por estes – se indicam mais ou menos características

    salutares.

    3.3. QUANTO AO ENFRENTAMENTO

    O enfrentamento, que se refere ao tipo de recurso que o sujeito utiliza frente às

    situações ameaçadoras, foi avaliado segundo a EMEP. Buscou-se correlacionar os fatores

    entre si , ou seja, como os pensamentos e ações apresentados diante de um evento estressor

  • específico e que são distribuídos em quatro fatores na escala, relacionam-se entre si nestes

    sujeitos da amostra.

    Tabela 6 – Correlações entre os fatores de enfrentamento da amostra estudada

    variáveis

    Focalizado no problema

    Focalizado na Emoção

    Práticas religiosas/pensamento fantasioso

    Busca de Suporte

    social Focalizado no problema

    -

    Focalizado na Emoção

    -0,302 -

    Práticas religiosas/ pensamento fantasioso

    0,03 0,365* -

    Busca de Suporte social

    0,345* 0,243 0,182 -

    • * Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).

    Por esta tabela 6 pode-se observar que existe uma correlação significativa entre

    estratégias de enfrentamento focalizadas na emoção (Fator 2) e busca de práticas religiosas/

    pensamento fantasioso (Fator 3), ou seja , quanto maior a utilização de estratégias de

    enfrentamento focalizados na emoção ante um processo de crise, ou uma situação

    ameaçadora, maior a utilização de práticas religiosas e pensamento fantasioso. O

    enfrentamento baseado na emoção indica portanto a presença de dificuldades emocionais

    entre os sujeitos desempregados, pois este recurso refere-se àquelas estratégias cognitivas e

    comportamentais que representam comportamentos de esquiva e ou negação, expressão de

    emoções negativas, irrealistas voltadas para a solução mágica do problema, auto-culpa e ou

    culpabilização dos outros, conforme sinaliza a própria escala EMEP (SIDEL,2001;

    VITALIANO et al. 1985, GIMENEZ e QUEIROZ 1997 apud SIDEL 2001, 2005 a.). Esta

  • estratégia expressa os sentimentos de culpa em relação a si mesmo ou a outrem,

    comportamentos de esquiva ou negação, expressão de emoções negativas, irrealistas

    voltadas para a solução mágica do problema em questão.

    Estes dados nos remetem a Seidl (2005 a.) que encontra maior utilização de

    estratégias de enfrentamento baseadas na emoção e maior busca de práticas religiosas entre

    pessoas portadoras de HIV, principalmente entre as mulheres. Porém, não cabe nos dados

    específicos do presente estudo a associação com sexo, como fez a autora citada, mas sim ao

    fato de que coincidem as relações entre ambas estratégias; pois, tal como a autora que

    encontrou relação entre estratégias baseadas nas emoções com a busca de práticas

    religiosas em indivíduos acometidos por doença, encontrou-se neste estudo a mesma

    relação entre os executivos desempregados. Isto pode indicar que quando os

    desempregados buscam resolver seus problemas com emoções negativas, também buscam

    enfrentar o problema baseando-se em soluções mágicas ou pensamentos fantasiosos – o que

    os coloca distantes de uma resolução mais amadurecida.

    Em contrapartida, também se pode observar que existe uma correlação significativa

    entre estratégias de enfrentamento focalizadas problema com aquelas focalizadas na busca

    de suporte social, ou seja, quanto mais o indivíduo está voltado para utilização de

    estratégias que buscam a resolução do problema, mais o indivíduo busca suporte social -

    aspecto esse que pode indicar mais amadurecimento deste grupo de sujeitos. Este aspecto

    parece encontrar –se em congruência com a literatura, pois no caso dos desempregados,

    aqueles que dispõem de suporte (ARRAZOLA; MENDÉZ, 1998) parecem ter melhor

    saúde física/ mental e há indicativos de que o suporte reduz o impacto psicológico do

    desemprego, provê recursos instrumental e emocional capazes de provocar respostas

    apropriadas para enfrentar este período.

  • No que diz respeito à especificidade das relações deste suporte com as estratégias de

    enfrentamento focalizado no problema (estratégias cognitivas e comportamentais que

    representam condutas de aproximação ao estressor voltadas para seu manejo ou solução),

    pode-se pensar num correlato com o que afirmam Arrazola; Mendéz, (1998) em que o

    suporte social provê recursos instrumental e emocional capazes de provocar respostas

    apropriadas para enfrentar este período.

    Observa-se ainda uma correlação negativa entre estratégias focalizadas nas emoções

    com as estratégias focalizadas no problema, o que ainda confirmam os dados da própria

    escala de enfrentamento, pois a utilização de uma indica a não utilização da outra.

    3.4. QUANTO À ANSIEDADE E ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO

    Buscou-se a medida do enfrentamento ou do tipo de enfrentamento feito pelos

    sujeitos investigados e procurou-se fazer correlações entre o nível de ansiedade com o tipo

    de enfrentamento utilizado pelos mesmos.

    Tabela 7 – Correlações entre fatores de enfrentamento e ansiedade traço e estado na amostra estudada

    Variáveis

    Focalizado no problema

    Focalizado na emoção

    Práticas Religiosas / Pensamento fantasioso

    Busca de suporte social

    a_estado

    a_traço

    Focalizado no problema -

    Focalizado na emoção -0,302 - Práticas Religiosas / Pensamento fantasioso

    0,003 0,365* -

    Busca de suporte social 0,345* 0,243 0,182 - a_estado 0,036 0,206 0,111 -0,045 - a_traço 0,036 0,206 0,111 -0,045 1,00** -

    * Correlação significativa p< 0.05 ** Correlação significativa p< 0.01

  • A tabela 7 indica que não existem relações entre ansiedade e o uso de estratégias de

    enfrentamento. Porém é possível observar, que mesmo não havendo uma relação positiva

    direta entre estas variáveis, esta mesma tabela também pode demonstrar as relações

    negativas entre ansiedade traço e estado com suporte social.

    Assim, pode-se supor que a relação negativa de ansiedade traço e estado também

    indicam que haverá, nos casos destes sujeitos, um uso de estratégias que inibem ações

    habilidosas e adaptativas, já que estes, por exemplo, não buscarão suporte social . Existe

    ainda uma correlação positiva entre Ansiedade Traço e Ansiedade - Estado, o que é um

    resultado esperado, ou seja, quanto maior o Traço de Ansiedade maior será o Estado de

    Ansiedade para essa população.

    De modo que, embora a média geral não tenha mostrado nível exacerbado de

    ansiedade de forma isolada, aqueles indivíduos com maior nível de ansiedade mostram que

    não buscam suporte social.

    3.5. QUANTO ÀS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO, ANSIEDADE, IDADE E TEMPO DE

    DESEMPREGO.

    Neste tópico procurou-se reunir todas as variáveis estudadas, demonstrando suas