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AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DE UM
POSTO DE TRABALHO EM UMA
EMPRESA DE POLITEREFTALATO DE
ETILENO NA CIDADE DE CAMPINA
GRANDE-PB
Caio Santos Lamonica (UFCG )
Marrisson Murilo de Andrade Farias (UFCG )
Arthur Arcelino de Brito (UFCG )
Marcelo Gustavo de Paula Rego Morim (UFCG )
Ivanildo Fernandes Araujo (UFCG )
Este artigo visou realizar uma análise e avaliação de um posto de
trabalho em uma empresa de Politereftalato de Etileno na cidade de
Campina Grande-PB Este estudo se faz necessário para o
melhoramento na segurança e saúde do trabalhador, ellencando os
principais riscos à integridade física dos colaboradores em suas
atribuições. Assim, podem-se revelar diversos fatores causadores de
queixas dos funcionários e desenvolver medidas de contingenciamento
para suplantar possíveis desconformidades em desacordo com a
Norma Regulamentadora 17 (NR-17). Para o desenvolvimento do
presente trabalho utilizou-se como base um checklist elaborado com
base na NR-17 e a metodologia de intervenção ergonômica baseada na
literatura utilizada nas aulas de Ergonomia II. Primeiramente
trabalhou-se com um posto de trabalho específico, para posteriormente
abranger todo o setor produtivo.
Palavras-chave: Palavras chave: Avaliação ergonômica, riscos
ergonômicos, NR-17, integridade física.
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1. Introdução
Devido à substancial competitividade presente nos setores no mercado, percebe-se a
necessidade de implantação de um processo industrial rápido e eficiente. Assim, os
profissionais que operam o sistema produtivo tornam-se partes fundamentais dessa nova
mentalidade, onde as necessidades pessoais de cada um são minimizadas e utilização
subumana da força de trabalho é maximizada.
Nesse contexto é importante ressaltar que principalmente fatores como esforço excessivo e
posição inadequada por parte do trabalhador durante as atividades laborais, podem causar
sérios danos à saúde do profissional, bem como a diminuição do ritmo do trabalhador em sua
jornada de trabalho.
A Ergonomia surge como um fator importante e indispensável para a manutenção da
integridade física e também mental do trabalhador, possibilitando informações a respeito
daquilo que pode representar melhorias na execução de atividades por parte do trabalhador em
seu posto de trabalho.
O presente trabalho visa avaliar as atividades de um trabalhador em seu posto de trabalho,
bem como avaliar um setor da empresa, levando em consideração os preceitos abordados pela
NR-17. A empresa escolhida para o desenvolvimento dessa avaliação localiza-se em Campina
Grande – PB e atua no ramo de embalagens de politereftalato de etileno (PET),
especificamente voltadas a águas, sucos, bebidas, alimentos, saneantes e produtos químicos.
Dois fatores impulsionaram a escolha da empresa em questão: possui ambiente fabril e
maquinário reduzidos, e é responsável pela maior porcentagem da produção e distribuição de
garrafas PET do estado da Paraíba. Outros dois fatores, em interação, pressionam o operador a
trabalhar mais: a produção é pequena devido aos recursos limitados e a necessidade é grande
para manter a posição de liderança por parte da empresa no mercado.
É importante destacar também algumas demandas específicas que foram verificadas após
algumas análises do setor operacional: necessidade rotineira de inclinação do corpo para
execução de algumas atividades, atividades repetitivas, transporte manual de produtos
acabados que requerem alto esforço físico, e riscos ergonômicos em geral.
2. Revisão bibliográfica
2.1. O conceito de ergonomia
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De acordo com Iida (2005) a ergonomia caracteriza-se como o estudo da adaptação do
trabalho ao homem. Ainda reitera que este trabalho tem uma acepção bastante ampla,
abrangendo não apenas máquinas e equipamentos, mas também o relacionamento do homem
com o seu trabalho. Desta forma, a ergonomia em geral contribui substancialmente para a
melhoria contínua dos postos de trabalho, possibilitando o bem estar físico e mental das
pessoas em seu ambiente laboral e por consequência gerando maior produtividade, trazendo
assim benefícios tanto para o empregado como para o empregador.
A contribuição ergonômica segundo Wisner (1987) pode ser classificada em ergonomia da
concepção, correção e conscientização. Desta forma a ergonomia pode ser implantada nas
concepções de projetos, em situações já existentes e na própria cultura organizacional,
favorecendo a segurança, a saúde do trabalhador, a qualidade e a quantidade da produção.
Para a análise e avaliação de postos de trabalho, existem basicamente duas dimensões a serem
consideradas: a dimensão tradicional ou operacional e a ergonômica. Esta primeira dimensão
lida com o estudo de tempos e movimentos corporais requeridos para execução de algum tipo
de tarefa, focando o aumento da produtividade. Já a dimensão ergonômica visa reduzir as
exigências biomecânicas, possibilitando ao colaborador comodidade, eficiência e proteção e
evitando possíveis doenças ocupacionais devido ao esforço excessivo e/ou repetitivo.
2.1. Riscos ergonômicos
A norma regulamentadora NR-17, voltada para ergonomia, busca estabelecer parâmetros que
permitam a adequação dos postos de trabalho aos seus colaboradores sobre o aspecto das
características psicofisiológicas dos mesmos, visando a amenização dos riscos ergonômicos.
Segundo Piza (1997), os riscos ergonômicos definem-se a partir da associação
homem/ambiente de trabalho e manifestam-se através de posturas assumidas e esforços
exercidos pelo agente humano na execução laboral. Estes riscos trazem efeitos indesejados
que não se limitam a prejuízos a saúde humana, mas também na produtividade, eficiência e
segurança das organizações.
Os riscos ergonômicos em um ambiente de trabalho caracterizam-se pela presença de uma
situação de perigo físico ou psicofisiológico para o trabalhador em suas atividades laborais
devido a atividades repetitivas, postura inadequada, mobiliário inadequado, ausência de
pausas, monotonia em atividades, imposição de ritmos inadequados, jornadas de trabalho
prolongadas, estresse, entre outros fatores.
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Os riscos ergonômicos são bastante comuns em atividades relacionadas à fabricação de
garrafas PET, visto que os trabalhadores exercem uma baixa variedade de tarefas
(caracterizando a monotonia), as operações são severamente rápidas e exigem inclinação da
coluna para o ensacamento das garrafas produzidas, esforço excessivo para transporte de
matéria prima (pré-formas) e transporte de produto acabado.
2.1.1. Postura inadequada
As posturas no trabalho vão depender do estado físico do homem, da disposição das máquinas
e dos equipamentos no espaço de trabalho, das características do ambiente, da forma das
ferramentas e suas condições de utilização, do produto utilizado, do conteúdo das tarefas, das
cadências e ritmo de trabalho e da frequência e duração das pausas (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2001)
Um trabalhador que em suas atividades fica de pé por um longo período e em postura
desconfortável, está sujeito à sobrecarga da coluna, ocasionando fortes dores nesta localidade
do corpo. As dores podem não ser instantâneas visto que existe uma questão de subjetividade
humana, assim uma pessoa pode sofrer efeito rapidamente, enquanto outra após alguns anos.
As fábricas de embalagem de garrafas PET possuem uma área específica para ordenamento e
embalagem de garrafas, o que demanda do trabalhador algumas posturas inadequadas durante
a execução das atividades do setor. Os processos de embalagem e ordenamento requerem
flexão do tronco para frente, no intuito de executar sua atividade, sendo este um dos fatores de
maior causa da hérnia de disco cervical.
Segundo Itiro Iida (2005), a coluna é um dos pontos mais fracos do organismo, sendo uma
peça muito delicada ela está sujeita a deformações, que podem ser congênitas ou adquiridas
durante a vida. Assim, um trabalho que exija um esforço de longo período sobre a coluna, tem
uma alta probabilidade de ocasionar dores e/ou lesões, que podem afastar temporariamente ou
definitivamente o funcionário.
2.1.2. Atividades repetitivas
As atividades relacionadas a um processo de transformação que são frequentemente feitas e
refeitas em um curto espaço de tempo, podem ser denominadas atividades repetitivas. Os
trabalhadores expostos a esse tipo de atividade não podem trabalhar excedendo o limite
máximo de carga horária que é de 5 horas, conforme disposto na legislação trabalhista.
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A constância de atividades repetidas por um trabalhador pode trazer sérios problemas físicos,
tais como: lesão por esforço repetitivo (LER), estresse mental e cansaço do corpo. Desta
forma as condições psicofisiológicas do trabalhador ficam sobremaneira afetadas a ponto de
prejudicá-lo em suas atividades laborais (caracterizando certa minimização da capacidade
produtiva da empresa), trazer fortes danos para sua saúde e muitas dores.
A NR-17 aponta que algumas atividades são caracterizadas como atividades repetitivas,
indicando que a cada 50 minutos trabalhados o colaborador terá direito a 10 minutos de
descanso, sem que isso lhe seja imputado como um motivo de solicitação de horas extras,
aumento de carga ou ritmo de trabalho. Esta pausa deverá ser realizada fora do posto de
trabalho no qual o profissional exerce sua função.
Uma alternativa para esta demanda são as ginásticas laborais no sentido que podem ajudar a
corrigir a postura errada do profissional no dia a dia e nas ocasiões de trabalho, assim como
minimizar o estresse muscular e mental. Pode-se destacar também como um fator importante
para essa problemática a rotação de tarefas, visto que tais trocas de posto de trabalho podem
amenizar os efeitos das atividades laborais sobre os indivíduos, e garantir uma maior
flexibilidade da produção.
2.1.3. Transporte manual de cargas
Segundo a NR-17, transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da
carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a
deposição da carga. O transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de
maneira contínua ou que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual de cargas.
É aconselhável que esse tipo de transporte seja efetuado por equipamentos que facilitem esse
feito, pois se observa com frequência nos ambientes industriais a movimentação de cargas
pesadas, e nem sempre a estrutura física do trabalhador está preparada para realizar o
levantamento, sustentação e transporte da carga.
A Consolidação das Leis Trabalhistas aponta que o peso individualmente transportado por
uma profissional pode ser de 60 kg, assim como apresenta a especificação para o trabalho
feminino e de jovens com menos de 18 anos em condições de transporte manual de cargas:
para regime de transporte contínuo a carga transportável deve ser no máximo de 20 kg,
enquanto para regime intermitente pode ser até 25 kg.
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Pelo fato de muitos ambientes industriais não possuírem aparato técnico, a NR-17 aponta que:
todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que não as leves, deve
receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que deverá
utilizar, com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes.
Deve-se verificar o biotipo do trabalhador no momento de sua contratação, pois caso seja
sobrecarregado pela carga transportável é provável que ele sofra de fadiga muscular, cansaço
físico e mental, e fique exposto a um alto risco de lesões lombares, além de acidentes por
incapacidade de sustentação do peso ou escorregamento da carga e por fim, caso a carga seja
de tamanho consideravelmente grande, o trabalhador não conseguirá efetuar o transporte de
maneira ergonomicamente correta.
3. Procedimentos metodológicos
Para o desenvolvimento da avaliação do posto de trabalho, foram observadas primeiramente
as tarefas executadas por um profissional do setor escolhido (inspeção e ensacamento das
garrafas). Posteriormente, também foram feitas entrevistas semiestruturadas e observações in
sito para complementar as informações levantadas junto aos outros métodos descritos a
seguir.
Algumas demandas importantes nesse posto de trabalho foram identificadas: altura da mesa
para ensacamento, altura do trabalhador, posicionamento do trabalhador, esforço e sintomas
do trabalhador após um dia de trabalho. Esses fatores apontaram o que seria importante
destacar neste trabalho não só para a avaliação do posto de trabalho, como também para a
avaliação do setor operacional.
Especificamente para o setor operacional utilizaram-se duas diferentes metodologias: um
check-list baseado na NR-17 elaborado pelos autores, e outra metodologia de intervenção
ergonômica registrados em apontamentos de aula, segundo a proposta de Itiro Iida (2005) na
disciplina ergonomia II. Por meio desses instrumentos foram levantados os dados que
possibilitaram verificar especificações das demandas do setor operacional.
3.1. Descrição da empresa
A empresa relacionada ao presente trabalho denomina-se I9 Embalagens LTDA, que atua no
ramo de embalagens de politereftalato de etileno (PET). Fundada em junho de 2019, a I9
iniciou suas operações em dezembro do mesmo ano e já nasceu com uma proposta arrojada:
inovar, fazer diferente do que era visto até então em seu setor de atuação, estabelecer um novo
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patamar e ser referência, esta vontade sempre norteou seu modelo de negócios. O IBGE
classifica a empresa com a seguinte numeração “C 2222-6/00” que especifica a produção de
embalagens de material plástico e segundo o CNAE – Classificação Nacional de Atividades
Econômicas enquadra-se na classe 22.2 e grupo 22.22-6 Fabricação de embalagens de
material plástico.
A atuação da empresa se dá nos mercados de embalagens para águas, sucos, bebidas,
alimentos, saneantes e produtos químicos. Possui também uma linha própria completa
pensada para atender os mais diversos mercados, além disto, presta serviços de sopro e
desenvolver projetos personalizados.
O público alvo da I9 Embalagens são empresas fornecedoras de constituintes líquidos ou
sólidos que necessitam ser embalados. A partir da utilização das embalagens, essas empresas
repassam (vendem) seus produtos no mercado. A empresa é responsável pela maior
porcentagem de produção e distribuição de garrafas PET do estado da Paraíba.
A estrutura da organização ainda é pequena, porém eficiente dentro dos padrões e
necessidades do mercado. Tal situação se confirma no histórico recende, onde em
aproximadamente 6 (seis) anos de atuação a empresa atrai clientes dentro e fora do estado em
que atua, pelo cumprimento dos critérios de desempenho dispostos na missão da corporação
(qualidade e confiabilidade), assim como pela eficiente estratégia que tem proporcionado que
todas as metas oriundas do planejamento inicial sejam cumpridas.
3.2. Avaliação do posto de trabalho
3.2.1. Caracterização do posto de trabalho
A operação de inspeção e embalagem de garrafas PET oriundas da máquina sopradora
automática é realizada por um ou dois funcionários (dependendo da demanda de produção)
em um ritmo mediano, em que cerca de 2000 garrafas são inspecionadas e embaladas por
hora, podendo variar essa quantidade de acordo com o volume da garrafa. Os funcionários
possuem o auxílio de uma mesa embaladora que os possibilita uma maior facilidade na
embalagem das garrafas.
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Figura 1 – Máquina sopradora automática
Figura 2 – Mesa embaladora
A mesa está posicionada junto à parte frontal da máquina de sopro, a uma distância de 1,5m
do termino do galpão, com espaço para movimentação do funcionário.
3.2.2. Atividades relacionadas ao posto de trabalho
A atividade que o trabalhador executa nesse posto de trabalho restringe-se a inspecionar as
garrafas (avaliando a conformidade com as especificações da Engenharia do Produto) e
embalá-las em um saco plástico. A realização da operação de inspeção e embalagem ocorre de
maneira simples: o colaborador recebe as garrafas advindas da máquina de sopro, então é
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verificado se há presença de furos, má conformação das garrafas, deformações, entre outros
defeitos. Desta forma, o funcionário posiciona as garrafas em conformidade na mesa
embaladora quando é atingida a capacidade da embalagem do saco plástico. Assim, o
funcionário juntamente com outro colaborador, posiciona o saco na mesa e insere as garrafas
dentro da embalagem.
Figura 3 – Inspeção de produtos na mesa embaladora
Figura 4 – Processo de embalagem
4. Análise das demandas
Nas operações de inspeção e ensacamento das garrafas PET oriundas da máquina sopradora
automática, pôde-se observar alguns pontos que devem ser corrigidos por trazer riscos à saúde
do trabalhador e à produtividade da empresa.
4.1. Postura inadequada
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O trabalhador executa suas tarefas na posição vertical, sem pontos de apoio para si,
permanecendo 5 horas em uma mesma posição e ainda pode-se destacar a pouca
movimentação da parte dos membros inferiores. Segundo Itiro Lida (1997) o trabalho estático
é altamente fatigante e, sempre que possível, deve ser evitado. Além de o trabalho estático
constituir um grande esforço para o trabalhador, ele é agravado quando o mesmo realiza a
operação em pé, podendo causar dores no pé e na perna, varizes, dor ou lesão na região
lombar, pés e joelhos.
Identificou-se também uma inclinação excessiva da coluna e da cabeça devido à
inadequação da altura da mesa embaladora para pessoas acima de 1,60m.
Figura 5 – Posicionamento do funcionário ao embalar garrafas
Segundo Itiro Iida (2005), a inclinação da cabeça em relação a vertical não deve exceder 30º,
e como demonstrado na figura 5, a inclinação da cabeça ultrapassa essa margem, tendo assim
uma alta probabilidade de causar lesões ao funcionário.
Pode-se também destacar outro ponto preocupante na realização desta tarefa, como mostra a
figura 6 o método de inspeção da garrafa exige um esforço demasiado do trabalhador, pois no
exercício da sua operação, ele realiza movimentos de torção e inclinação do dorso.
Figura 6 – Torção e inclinação do dorso
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Sabe-se a partir da NR 17 que certas atividades devem ser realizadas na posição de corpo
ereto e de pé, desde que exija deslocamento contínuo. Entretanto, como observado nesta
tarefa, o deslocamento do colaborador para a inspeção e organização das garrafas não ocorre
de forma contínua; este poderia adaptar o posto de trabalho para que a tarefa fosse realizada
na posição sentada.
Figura 6 – Torção e inclinação do dorso
Outro agravante é que o trabalhador não possui pontos de apoio para os braços, podendo
causar dores ou lesões nos ombros e/ou nos braços.
4.2. Atividades repetitivas
O processo produtivo na empesa em análise é demasiadamente rápido, de modo que uma pré-
forma ao entrar na produção pela máquina sopradora demora apenas 2 minutos e 30 segundos
para chegar até a mesa embaladora. É evidente que o trabalhador fica sobrecarregado neste
determinado posto de trabalho, pois é necessário inspecionar a garrafa para depois posicioná-
la para o processo de embalagem. Como já descrito anteriormente, podem estar presentes um
ou dois trabalhadores no posto, logo, a sobrecarga ainda pode ser minimizada.
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Ainda que haja determinada minimização de sobrecarga é evidente que o trabalhador fica
condicionado a realizar as mesmas atividades repetitivamente. Pode-se dividir essa atividade
em 3 etapas que se repetirão:
Esticar o braço e pegar algumas garrafas oriundas da máquina sopradora automática;
Trazê-las para perto e efetuar a inspeção visualmente;
Posicioná-las para embalagem.
Esse trabalhador pode chegar a repetir um mesmo movimento em corporal aproximadamente
entre 250 e 300 vezes durante um turno, sendo este um número bastante considerável de
repetições para um intervalo de tempo muito baixo. Esse número refere-se à apenas um
funcionário trabalhando na mesa embaladora, assim a empresa favorece a minimização de
atividades repetitivas quando coloca mais de um colaborador na mesa.
Essa situação não só se caracteriza como uma demanda para atividades repetitivas, como
também como um aspecto de diferença entre o que deve ser o trabalho prescrito e o trabalho
real; o trabalho prescrito deve orientar o trabalhador a locomover-se a buscar as garrafas e não
esticar-se à busca-las. Esse fator não deixa de ser também caracterizado como um problema
de postura inadequada.
Uma alternativa para esta situação é a rotação de tarefas, fator que poderia minimizar o
estresse mental devido à exacerbada atividade de procurar defeitos e irregularidades nas
garrafas, bem como o substancial esforço da coluna e demais posturas inadequadas já
apresentadas.
5. Avaliação do setor de produção e de seus anexos
5.1. Riscos ergonômicos
De acordo com o professor Fernando Retes (2012) “gerencia de risco pode ser definida como
a ciência, a arte e a função que visa à proteção dos recursos humanos, materiais e financeiros
de uma empresa, no que se refere à eliminação, redução ou ainda financiamento dos riscos,
caso seja economicamente viável”.
Alguns aspectos relevantes presentes no ambiente de produção podem ser destacados e
caracterizados como riscos ergonômicos, apresenta-se a seguir alguns aspectos gerais do setor
analisado da fábrica de embalagens:
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Quadro 1 – Análise das demandas
Demanda Especificação Posto de Trabalho
Mobiliário Inadequado
O trabalhador precisa se
movimentar de modo
constante, não podendo
executar suas atividades de
maneira sentada.
Mesa embaladora da
máquina semiautomática.
Mesa embaladora da
máquina automática.
O operador não pode
executar as atividades
sentado.
Máquina semiautomática.
Máquina automática.
O operador fica
impossibilitado de exercer
as atividades em postura
adequada.
Mesa embaladora da
máquina semiautomática.
Mesa embaladora da
máquina automática.
Organização do trabalho O ritmo de trabalho é
exaustivo.
Aplica-se a todos os postos
de trabalho.
Organização do trabalho
Sobrecarga muscular dos
membros superiores,
inferiores, pescoço e
coluna, sem pausa para
descanso.
Mesa embaladora da
máquina semiautomática.
Mesa embaladora da
máquina automática.
Atividades repetitivas.
Mesa embaladora da
máquina semiautomática.
Mesa embaladora da
máquina automática.
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Máquina semiautomática.
Transporte manual de
cargas Troca de moldes.
Sala dos moldes até o
maquinário desejado.
No que se refere ao transporte manual de cargas pode-se destrinchar essa atividade da
seguinte maneira: O molde precisa ser transportado da sala de moldes para o ambiente de
produção frequentemente quando se muda o tipo e/ou volume de garrafa a ser produzida. O
molde pesa aproximadamente 55 kg e é transportado por apenas um funcionário
manualmente. O funcionário transporta os moldes desmontados e divididos em duas partes de
pesos aproximadamente iguais, por uma distância de aproximadamente 8 metros.
Essas duas situações se caracterizam pelo seu risco ergonômico extremamente alto, ainda que
o peso dos moldes esteja dentro das especificações da CLT, os funcionários não são treinados
para tais situações, sendo ainda o biótipo dos profissionais não adequados para tal. Esses
fatores são preocupantes, pois podem gerar acidentes em caso de queda da carga transportável
e danos graves para os trabalhadores, ainda que imperceptíveis atualmente, mas que podem
vir a aparecer em um futuro próximo trazendo uma série de implicações negativas para a
saúde do trabalhador.
Seria de bastante utilidade para empresa a utilização de equipamentos mecanizados para
transporte, o que seria um fator de aceleração do processo de transporte, bem como a
minimização desse risco ergonômico caracterizado por uma situação de alto perigo.
6. Considerações finais
Após visitas à empresa e avaliação do funcionamento da fábrica, pôde-se fazer o
levantamento das demandas problemáticas tanto para um único posto de trabalho, quanto para
o setor de produção. A partir disso foi possível discorrer a respeito dos aspectos relacionados
à Ergonomia que estão em desconformidade atualmente nesse ambiente produtivo.
Na mesa embaladora de garrafas oriundas da máquina sopradora automática foram possíveis
detectar alguns aspectos que precisam ser melhorados, como: postura inadequada durante a
realização de atividades (inclinação excessiva da coluna e da cabeça, movimentos de torção e
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inclinação do dorso), alto índice de repetição de tarefas que o trabalhador realiza durante um
posto de trabalho.
Respectivamente, esses fatores podem ser suplantados caso: a empresa adapte o trabalho para
que o trabalhador o faça de modo sentado e melhore a altura/tamanho da mesa pra que o
trabalhador não necessite esforçar demais o corpo para trabalhar; promova rotação de tarefas;
No que se refere ao setor de produção, verifica-se que este se encontra bem estruturado mas
como todo sistema pode ser melhorado, algumas mudanças poderiam ser feitas no sentido de
promover uma consciência ergonomicamente correta. Poderia ser contratado um serviço
especializado de ergonomia para melhorar a questão do mobiliário e organização do trabalho,
principalmente para os aspectos que foram tabelados. O problema do transporte manual de
cargas poderia ser facilmente resolvido caso fosse adquirido um carrinho para transportar os
pesados moldes.
Iida (2005) compara o posto de trabalho a uma célula, onde o operador é o seu núcleo. E o
conjunto dos postos de trabalho corresponderia a tecidos ou órgãos, sendo estes uma analogia
a departamentos ou fábricas. Assim, para que a organização funcione bem, é necessário que
cada posto de trabalho funcione da melhor maneira possível. Logo é imprescindível que se
apliquem métodos de melhorias contínuas e de identificação de problemas ergonômicos
dentro da organização, para que se aumente a segurança e eficiência das máquinas e
colaboradores.
No mais, pode-se dizer que a empresa caminha certo no que se refere aos aspectos
ergonômicos, visto que possui uma mentalidade de preocupação não só com a qualidade dos
produtos oferecidos, como também a preocupação com seus colaboradores.
Referências
ARAÚJO. I.F./ERGOLABOR-Laboratório de ergonomia do trabalho e do produto. Universidade Federal de
Campina Grande – Engenharia de Produção, Ergonomia. Apontamentos de aula.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Inspeção do Trabalho. PORTARIA N° 3.214,
Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho.
Diário Oficial da União, 1978
IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Edgard Blücher. 2005;
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Lesão por esforço repetitivo (LER) distúrbio osteomusculares relacionados ao
trabalho (DORT). Série A. Normas e Manuais Técnicos, no 103. Brasília, DF, fev.2001.
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MORAES, Paula Louredo. "LER": Brasil Escola. Disponível em
<http://brasilescola.uol.com.br/doencas/ler.htm>. Acesso em 03 de maio de 2016.
Atividades Repetitivas. Disponível <www.jusbrasil.com.br/topicos/1345341/atividades-repetitivas> Acessado
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PIZA, F.T. Informações Básicas Sobre Saúde e Segurança no Trabalho. São Paulo: CIPA. 119p. 1997.
SALIBA,Tuffi Messias. Curso básico de segurança e higiene ocupacional. 4ª ed. São Paulo: LTr, 2011.
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WISNER, A. – Por dentro do trabalho. São Paulo, Oboré/FTD, 1987.
RETES, Fernando. Apostila Gerencia de Risco. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais/ IEC. Belo
Horizonte, 2012.