avaliação e intervenção em dificuldades de leitura e...
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Avaliação e Intervenção em Dificuldades de Leitura e Escrita
Cláudia Coelho ( Psicóloga)
OFICINA DE FORMAÇÃO
( 25h +25h)
DINÂMICA DE GRUPO
CONTEÚDOS DA AÇÃO
Definição e Diagnóstico de Dislexia
- Teorias Explicativas da dislexia e critérios de diagnóstico
- Etiologia e prevalência
- Sinais de alerta (na infância , idade escolar, em jovens e adultos)
- Tipos de Dislexia
- Perturbações associadas (disortografia e disgrafia)
- Problemática emocional associada
Definição de Dislexia, de
Disortografia e respetivos
Diagnósticos
Dislexia – O que é?
Definições…
Dis ( desvio) + lexia (reconhecimento da palavra).
Citoler (1996) sugere que o termo dislexia evolutivaou desenvolvimental se refere àqueles indivíduos que,na inexistência de uma lesão cerebral (pelo menosconhecida), na presença de uma inteligência normal(ausência de um défice intelectual) e excluindooutros problemas como alterações emocionaisseveras, um contexto sociocultural desfavorecido, acarência de oportunidades educativas adequadasou um desenvolvimento insuficiente da linguagemoral, têm dificuldades nos mecanismos específicos daleitura.
Definições…
“Distúrbio de aprendizagem que se manifesta
inicialmente por dificuldade em aprender a ler, mais
tarde, por erros ortográficos e pela dificuldade em
manipular palavras escritas por oposição a palavras
faladas (…) Não é devida a deficiência intelectual, a
falta de oportunidades socioculturais, a inadequação
na técnica de ensino, a fatores emocionais, ou a
qualquer outro défice conhecido da estrutura
cerebral (…).” (Critcchley & Critcchley, 1978 ).
Definição de Dislexia
“Dislexia é uma incapacidade específica de
aprendizagem, de origem neurobiológica. É caracterizada
por dificuldades na correção e/ou fluência na leitura de
palavras e por baixa competência leitora e ortográfica.
Estas dificuldades resultam de um Défice Fonológico,
inesperado, em relação às outras capacidades cognitivas
e às condições educativas. Secundariamente, podem
surgir dificuldades de compreensão leitora e experiência
de leitura reduzida que pode impedir o desenvolvimento
do vocabulário e dos conhecimentos gerais.”
(Associação Internacional de Dislexia, 2003).
Origem Neurobiológica da
Dislexia
Ressonância magnética: durante a leitura deveriam ser
ativadas zonas ligadas à linguagem, mas no caso da
dislexia são ativadas zonas “disparatadas” (Antunes, 2009).
“As pessoas com dislexia têm alguns fios cruzados que não
levam as letras aos sítios do cérebro onde estão os sons das
palavras (…) com treino adequado, o cérebro desenha
novas entradas, muito mais eficazes na ligação símbolo-som
e cria associações corretas” (Antunes, 2009).
“Existe evidência bastante segura de que nas pessoas com
dislexia acentuada há grupos de células nas áreas da
linguagem que estão fora do sítio” (Antunes, 2009)
Origem Neurobiológica da
Dislexia
Figura 1 – A marca neurológica da dislexia:
subactivação dos sistemas neurais da área
posterior do cérebro (Shaywitz, 2008, p. 83)
Teorias Explicativas
Teoria do Défice Fonológico
Mais aceite na comunidade científica;
Causa da Dislexia: défice no sistema de
processamento fonológico
1) Dificulta a discriminação e processamento dos sons
da linguagem;
2) Dificulta a consciência de que:
Linguagem
Palavras
Sílabas
Letras
(cada uma com um/ou mais sons e com uma determinada grafia)
Teoria do Défice Fonológico
A Leitura integra:
1. Descodificação
2. Compreensão
Para um texto ser compreendido em 1º lugar tem de ser descodificado.
Segundo esta teoria o défice fonológico afeta apenas a descodificação.
MAS, se esta está comprometida significa que a compreensão também estará.
Teoria do Défice de
Automatização
Défice generalizado na capacidade de
automatização (Fawcett & Nicolson,1992)
Dificuldades ao nível da memória auditiva e visual
Dificuldades em automatizar a descodificação das
palavras
Teoria do Duplo Défice
Défice no processamento fonológico(dificulta a descodificação correta das palavras)
+ Défice na capacidade de nomeação rápida
(Baixa velocidade de leitura)
O facto de existirem dois défices faz com que fique afetada a correção da leitura e a velocidade da mesma
Teoria do Duplo Défice
Os disléxicos que manifestaremdificuldades nestes dois défices têmuma maior probabilidade derealizarem um leitura incorreta epouco fluente (comparativamentecom aqueles que têm apenas umdéfice).
Etiologia e Prevalência da
Dislexia
Etiologia da Dislexia
Potts (1979, citado por Pereira, 1995) apresenta três grandes
grupos de factores explicativos relacionados com a etiologia
da dislexia: factores associados à criança, factores do
ambiente em casa, factores ligados à escola.
Já Estienne, (1982, citado por Pereira, 1995) resume a seis
grupos a problemática da etiologia da dislexia: (i)
perturbações de origem funcional, (ii) hereditária ou
constitucional, (iii) neurológica, (iv) afectiva, (v) sociocultural,
(vi) pedagogia defeituosa e concepção errada da leitura e
da sua aprendizagem.
Prevalência da Dislexia
A dislexia é provavelmente a perturbação mais frequente
entre a população escolar, sendo referida uma prevalência
entre 5 a 17,5%. Contudo, estes valores são variáveis
dependendo do grau de dificuldade dos diferentes
idiomas.
Dados internacionais, segundo o DSM-IV-TR (2006), estimam
a prevalência da perturbação da leitura nas crianças em
idade escolar em cerca de 4%.
Vale (2010) realizou o primeiro estudo em Portugal sobre aprevalência da dislexia em crianças em Portugal, através
da Universidade de Trás dos Montes e Alto Douro (UTAD) .
Este trabalho incidiu sobre 1460 crianças dos concelhos de
Vila Real e Braga, tendo encontrado uma taxa de 5,4 % decrianças com dislexia.
Sinais de Alerta
infância, idade escolar, jovens e adultos
Sinais de Alerta
Jardim – de - Infância
História de atraso na aquisição da linguagem;
Linguagem “abebezada”;
Frases curtas, palavras mal pronunciadas, principalmente devido a omissões de sílabas e fonemas;
Dificuldade em perceber que as frases são formadas por palavras e que as palavras são formadas por sílabas;
Sinais de Alerta
Jardim – de – Infância (Cont.)
Falta de interesse por livros impressos;
Não saber as letras do seu nome (inicial);
Dificuldades em memorizar canções e
lengalengas;
Dificuldades em aprender os nomes de
cores, pessoas, objetos e lugares;
Dificuldades na aquisição dos conceitos
temporais e espaciais básicos
(depois/antes, atrás/à frente).
Sinais de Alerta
1º Ciclo (cont.)
Dificuldade em compreender que as palavras se
podem segmentar em sílabas e em fonemas;
Dificuldade em associar as letras aos respetivos sons
(dificuldade em associar a letra “bê” ao som /b/);
Erros de leitura por não conseguir realizar a
correspondência grafema-fonema: vaca/faca,
calo/galo;
Dificuldade em ler monossílabos e em soletrar
palavras simples: ao, pai, bola...;
Maior dificuldade na leitura de palavras isoladas e
Pseudopalavras (melhor capacidade para a leitura
de palavras num determinado contexto, do que
Sinais de Alerta
1º Ciclo (Cont.) Recusa ou insistência em adiar as tarefas de leitura e escrita;
Necessidade de acompanhamento individual do professor
ou pais para prosseguir e concluir os trabalhos;
Queixas dos pais e dos professores em relação às
dificuldades de leitura e escrita;
História familiar de dificuldades de leitura e ortografia
noutros membros da família;
Progresso muito lento na aquisição da leitura e ortografia;
Dificuldade em memorizar a tabuada;
Sinais de Alerta
1º Ciclo (Cont.)
Apresenta dificuldadse quando tem que ler
palavras desconhecidas (novas, não-familiares),
irregulares e com fonemas e sílabas semelhantes;
Dificuldade em ler pequenas palavras funcionais
(ai, ia, de, em...);
Frequentes inversões (ai/ia), omissões
(batata/bata), adições e substituições de letras,
sílabas ou palavras;
Na Matemática o seu problema não é o cálculo,
mas a resolução dos problemas escritos;
Sinais de Alerta
1º Ciclo (Cont.)
Dificuldade em terminar os testes no tempo previsto;
Leitura hesitante, lenta, cansativa, com incorreções e erros de
antecipação;
Tendência para adivinhar as palavras apoiando-se no desenho
e no contexto;
Correção leitora melhora com o tempo, mantém a falta de
fluência e a leitura trabalhosa;
Erros ortográficos frequentes nas palavras com
correspondências grafo-fonémicas irregulares e caligrafia
imperfeita;
Sinais de Alerta
2º Ciclo / 3º Ciclo
Dificuldades de leitura persistentes. A correção
leitora melhora, a leitura continua a ser lenta e
esforçada;
Dificuldades em ler e pronunciar palavras pouco
comuns, estranhas ou únicas (nomes de pessoas,
nomes técnicos);
Não reconhecer palavras que leu ou ouviu quando
as lê ou ouve no dia seguinte;
Preferência por livros com poucas palavras por
página e com muitos espaços em branco;
Tem dificuldade em copiar sem erros;
Atrapalha-se a pronunciar palavras longas
(filosoficamente, paralelepípedo)
Sinais de Alerta
2º Ciclo / 3º Ciclo
Se lhe disserem 4 números, por exemplo 4-9-5-8,
pronunciados em intervalos de 1 segundo, revelam
dificuldades em repeti-los pela ordem inversa;
Dificuldade em planear e fazer composições;
Longas horas na realização dos trabalhos escolares;
Ortografia desastrosa – preferência pela escrita de
palavras simples;
Falta de apetência para a leitura recreativa;
Sacrifício frequente da vida social para estudar as
matérias curriculares;
Perturbações associadas
à dislexia : disortografia ,
disgrafia
Definição de Disortografia
“Conjunto de erros da escrita
que afetam a palavra, mas
não o seu traçado ou grafia.”
(Vidal, 1989).
Definição de Disortografia
No caso da disortografia enfatiza-se a
aptidão para transmitir o código
linguístico escrito, respeitando a correta
associação dos fonemas e grafemas, as
peculiaridades ortográficas e as regras
de ortografia
Ou seja não se valoriza a problemática
grafomotora (traçado, forma e direção das
letras)
Disortografia
Os disléxicos erram na leitura mas também na escrita.
A disortografia implica erros apenas na escrita.
Pode existir disortografia sem dislexia
Disortografia
CARACTERÍSTICAS
Implica erros sistemáticos e reiterados na escrita e na ortografia.
Podem ser:
- Erros de caráter linguístico-percetivo
- Erros de caráter visuoespacial
- Erros de caráter visuoanalítico
- Erros relativos ao conteúdo
- Erros relativos às regras de ortografia
Disortografia
Substituições (de fonemas): p/b
Omissões (letras sílabas ou palavras)
Adições (de fonemas, sílabas ou
palavras)
Inversões (de grafemas em sílabas
inversas “aldo” em vez de” lado”,
“parto” em vez de “prato”)
Erros linguístico-percetivos
Disortografia
Substituições
- de letras que se diferenciam pela sua posição no
espaço (d/p ; p/q)
- de letras semelhantes nas suas características visuais
(a/o, i/j, m/n)
- confusões de fonemas com dupla grafia (ch/x ; s/z)
- confusões em palavras com fonemas de 2 grafias em
função das vogais (g/c)
- omissão do h por não ter correspondência fonética
Erros visuoespaciais
Disortografia
Dificuldade em sintetizar e fazer a
associação fonema-grafema podendo, por
isso, trocar letras sem qualquer sentido.
Erros visuoanalíticos
Erros relativos ao conteúdo
Dificuldade em separar sequências
gráficas
- união de palavras (“acasa” “a casa”);
- separação de sílabas que compõe
uma palavra (“es-tá”).
Disortografia
Erros de Regras Ortográficas
m antes de p ou b
rr no meio de duas vogais
ss no meio de duas vogais
etc…
Disortografia
Tipos de Dislexia
Dislexia Fonológica
- Quando a disfunção ocorre na via fonológica, sendo o sintoma mais evidente a fraca associação da letra-
som (Carvalho, 2011).
- “A fragilidade da descodificação é compensada com
recurso mais acentuado à via semântica (…) outro
dos sintomas importantes é a dificuldade em ler
pseudopalavras(…)” (Carvalho, 2011)
Tipos de Dislexia
Dislexia Ortográfica
- Quando a disfunção ocorre na via lexical.
- Menos comum que a fonológica
- “O sinal mais evidente é a dificuldade que os sujeitos têm em automatizar a leitura a partir da forma visual da palavra, incapacitando-os de aceder com rapidez à memória da pronúncia correta do vocábulo (…) perturba o acesso à compreensão do texto lido (…) mais dificuldade em aceder à representação mental do significado das palavras” (Carvalho, 2011)
Tipos de Dislexia
Dislexia Mista
- Conjugação de sintomas dos dois tipos de Dislexia
(fonológica e ortográfica)
- CONFIGURA UM QUADRO DE MAIOR GRAVIDADE
Problemática emocional
associada
Coelho, 2011, “ O Percurso escolar dos alunos disléxicos” . Um dos pontos
desta investigação centra-se em perceber quais as consequências que a
dislexia pode ter causado na vida dos alunos, tanto ao nível pessoal como
académico e emocional.
Numa amostra de 41 encarregados de educação tentamos perceber quais
seriam as consequências que a dislexia poderia trazer para os seus
educandos tanto a nível emocional, académico e pessoal.
O quadro seguinte mostra as consequências que mais se evidenciam.
Consequências n %
Emocionais
Tristeza 10 24,39%
Angústia 5 12,19%
Desespero 1 2,44%
Insegurança 22 53,66%
Nenhuma 3 7,32%
Total 41 100
Escolares
Dificuldades na
compreensão escrita
6 14,63%
Dificuldades na expressão
escrita
10 24,39%
Dificuldades na leitura e na
escrita
25 60,98%
Total 41 100
Pessoais
Revolta 20 48,78%
Vergonha 11 26,83%
Injustiça 6 14,63%
Nenhuma 4 9,76%
Total 41 100
Distribuição das respostas relativas às consequências da dislexia (Coelho, 2011, p. 104)
Resumindo…
No que diz respeito às consequências emocionais, os valores mais elevados de 24,39% (n=10) e 53,66% (n=22) são atribuídos, respetivamente, à tristeza e à insegurança. A angústia assume o valor de 12,19% (n=5) e o desespero de 2,44% (n=1). Apenas 7,32%(n=3) consideram que a dislexia não causou nenhuma consequência em termos emocionais aos seus educandos.
Relativamente às consequências escolares, as respostas variam em três indicadores: 60,98% (n=25) afirmam que a dislexia lhes trouxe dificuldades na leitura e na escrita; 24,39% (n=10) dificuldades na expressão escrita e 14,63% (n=6) dificuldades na compreensão escrita.
Já ao nível das consequências pessoais, a maior parte dos encarregados de educação, 48,78% (n=20) refere que os seus educandos se sentem revoltados. A vergonha e a injustiça assumem uma percentagem de 26,83% (n=11) e 14,63% (n=6), respectivamente.
Avaliação e Intervenção em Dificuldades de Leitura e Escrita
11 de outubro 2014
Cláudia Coelho ( Psicóloga)
OFICINA DE FORMAÇÃO
( 25h +25h)
FimObrigada pela vossa atenção