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1 AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU OS DESAFIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA Por: André Luiz Petra da Fontoura Mello Orientador Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2012

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AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

OS DESAFIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA

NA ESCOLA PÚBLICA

Por: André Luiz Petra da Fontoura Mello

Orientador

Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2012

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AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

OS DESAFIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NA

ESCOLA PÚBLICA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Supervisão e Administração

Escolar.

Por: André Luiz Petra da Fontoura Mello

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus filhos Pedro Ivo e

Cauê e à minha companheira Taíssa,

pelo incentivo e confiança.

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DEDICATÓRIA

Dedico este estudo aos amigos que

construíram comigo uma Direção

Colegiada no Colégio Estadual Gomes

Freire de Andrade na primeira década de

noventa.

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RESUMO

Os primeiros debates sobre a gestão escolar democrática surgiram na

década de oitenta e ganharam espaço com a promulgação da Constituição

Federal. Posteriormente, na década de noventa, A Lei 9394/96, LDBEN (Lei de

Diretrizes e Bases do Ensino Nacional), e o PNE/2011 (Plano Nacional de

Educação) expressaram os ideais democráticos responsáveis pela organização

das políticas educacionais do país. Portanto, esperava-se que o contexto das

escolas públicas efetivamente passasse a se configurar como produção

coletiva, levando os sujeitos a contribuir desde a definição de suas

necessidades até a apresentação de propostas para o projeto pedagógico.

Este seria um caminho para se chegar à qualidade do ensino público. O

presente estudo teve a pretensão de mostrar que até o momento não foram

criadas as bases para que a gestão escolar democrática fosse constituída.

Teve também a pretensão de constatar como são confusas as visões da

comunidade escolar acerca do assunto e apresentar algumas sugestões a fim

de criar suportes concretos para que se possa realmente construir gestões

democráticas nas escolas públicas.

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METODOLOGIA

Em contato profissional, acadêmico ou informal com as escolas públicas

das redes Federal, Estadual e Municipal, constata-se que elas apresentam um

modelo de gestão centralizada, autoritária e vertical contrariando orientação da

Lei 9394/96 (LDB). Estudando o assunto através de pesquisa bibliográfica, de

pesquisa de campo, da observação de algumas gestões, de entrevistas e de

questionários notamos que tanto a literatura acadêmica quanto os sujeitos que

constituem a comunidade escolar acreditam ser a gestão democrática um

caminho não só para melhorar a qualidade do ensino público como também

criar um bom ambiente de trabalho e estimular a produção.

Contando com a experiência de mais de trinta anos atuando na

educação como professor, supervisor pedagógico, coordenador de turno e de

disciplina e gestor, além de sugestões acadêmicas obtidas em pesquisas

bibliográficas e sites, do convívio diário com esses sujeitos e de entrevistas

com eles, apresentamos neste estudo alguns fatores que impedem a

construção desse tipo de modelo de gestão e algumas propostas para que ele

possa ser definitivamente adotado nas escolas públicas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – Democracia e Gestão Escolar 10

CAPÍTULO II – A Prática da Gestão Democrática na Escola Pública 17

CAPÍTULO III – Imagine uma Gestão Democrática 32

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ANEXO 44

ÍNDICE 61

FOLHA DE AVALIAÇÃO 63

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INTRODUÇÃO

Para Tavares (2009), a gestão escolar de maneira inclusiva, democrática

e participativa promove a educação de qualidade, reflexiva e crítica que norteia

o pensamento libertador e transformador. Ora, se o silogismo é verdadeiro e se

ele está previsto na Lei 9394/96 - artigo 3º, incisos VIII e XIX, e se a premissa

passa pela Constituição Federal – artigo 206, inciso VI, alavancá-los deveria

ser uma preocupação social, “ampla, geral e irrestrita”, de governantes,

entidades, instituições, do profissional de educação e até mesmo do simples

cidadão que matricula seu filho em uma escola pública.

Esta pesquisa tem como objetivo demonstrar que, apesar da luta por

uma escola pública democrática remontar à década de 1920, ela ficou apenas

como se diz “no papel”, pois, na prática, da primeira à última campainha de um

dia letivo, a efetivação de uma gestão democrática ainda precisa de algumas

atitudes importantes, suportes, para enfrentar o desinteresse político e o

despreparo e/ou indiferença daqueles que, no dia a dia da escola, são

responsáveis pelo tijolo e cimento de uma educação pública de qualidade.

Governo Federal, redes estaduais e municipais de ensino criam os

instrumentos de avaliação e a mídia divulga classificações nas quais as

escolas públicas ocupam as piores posições. Parece uma contradição? Sem

entrar no mérito das avaliações, se, entendendo como Gandin e Cruz (2009),

estratégia é a expressão de uma atitude para sanar determinadas

necessidades e transformar a realidade, algo não cheira bem nas políticas

públicas voltadas para a educação pública brasileira. Pretende-se aqui discutir

até que ponto existe uma atitude adequada, por parte do poder público, para

transformar essa realidade.

O gestor escolar, para Tavares (2009, p. 113), deve ser visto como a

pedra fundamental a fim de que se atendam as necessidades da escola.

Investir, então, na formação desse gestor não seria um começo mais efetivo?

Principalmente na gestão democrática já que “não haverá democracia social

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sem a democratização da escola” (Hora, 2010: p. 21.). Mas, como veremos

neste estudo, o próprio gestor escolar desconhece o processo de uma gestão

democrática.

Por outro lado, percorrendo, vivenciando a escola pública em sua

construção diária, percebe-se nitidamente que a comunidade como um todo,

com raras exceções, ou, por estar acomodada, não demonstra interesse em

transformações, ou, por ser limitada, desconhece o processo de

democratização e sua importância. No último caso, abre-se uma bifurcação:

desconhece porque não vivencia, ou diz praticar, mas o processo não se

completa.

Portanto, pelo visto, do poder público ao caseiro que abre as escolas às

6 horas e fecha às 18, às vezes, às 23, ou seja, no dia a dia, no abrir até o

fechar da escola, este estudo busca dizer que há muito a repensar, alicerçar,

edificar para que a escola pública possa instituir a gestão democrática,

correspondendo às expectativas da sociedade, tanto em relação à qualidade

do ensino quanto à questão do fortalecimento da democracia social.

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CAPÍTULO I

DEMOCRACIA E GESTÃO ESCOLAR

Democracia é um regime político no qual todo cidadão participa dos

processos decisórios e o poder é socializado, a construção é coletiva, é parte

das reflexões de todos os sujeitos envolvidos. Segundo Hora (2010: p. 29) “o

ideário democrático sempre atribui à educação uma função central na relação

com a igualdade e a cidadania, tendo em vista que uma das condições

essenciais para o desenvolvimento da democracia é a qualificação do cidadão,

que não prescinde das habilidades, dos conhecimentos e das atitudes

desenvolvidos e construídos no processo educacional.”

No Brasil, graças aos esforços de Anísio Teixeira, Fernando de

Azevedo, Lourenço Filho, Almeida Júnior, Roquete Pinto, Pascoal Leme, entre

outros educadores na década de 1920, foram lançadas as primeiras sementes

por uma educação como fundamento de um projeto nacional democrático.

Essa luta desencadeou um manifesto em 1932 que, posteriormente, em função

da mobilização social, garantiu alguns de seus itens na Constituinte de 1934.

Em 1988, a Constituição Federal, em razão do movimento dos

educadores no Fórum de Defesa da Educação Pública, efetivou em seu artigo

206, inciso VI, a afirmação do princípio da gestão democrática do ensino

público, na forma da lei, estendendo aos municípios o direito de organizarem

seus sistemas de ensino.

Em 1996, a lei 9394, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira,

em seu artigo 3º, incisos VII e VIII, relaciona a gestão democrática na escola

pública à qualidade de ensino, fundamentando a autonomia dos sistemas de

ensino e suas escolas e estabelecendo, em seu artigo 14, como diretriz

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nacional a “participação das comunidades escolar e local em conselhos

escolares ou equivalentes”.

Em 09 de janeiro de 2001, a Lei nº 10.172, como resultado da luta dos

educadores, institui o Plano Nacional de Educação (PNE) que, seguindo o

princípio constitucional e a diretriz da LDB, define entre seus objetivos e

prioridades:

“(...) a democratização da gestão do

ensino público, nos estabelecimentos oficiais,

obedecendo aos princípios da participação dos

profissionais de educação na elaboração do projeto

pedagógico da escola e a participação das

comunidades escolar e local em conselhos

escolares ou equivalentes”.

Fruto do envolvimento e do esforço de educadores, sindicatos e

entidades civis, o novo paradigma estava fundamentado. No entanto, passados

15 anos da publicação da Lei 9393/96, constata-se nas redes de ensino e em

particular nas escolas públicas que o novo nem sempre vence. Vê-se ainda,

em sua totalidade, raras, muito raras são as exceções, a centralização das

principais decisões administrativas e pedagógicas, o autoritarismo, a farsa que

utiliza a comunidade para esconder as reais intenções.

O pior é perceber que tudo isso passa diante dos olhos da comunidade

escolar, educadores e sindicatos, que participaram dos fóruns de discussão da

Constituição Federal de 1988, da Lei 9394/96, LDB, do PNE (2001), mas eles

não se envolvem nas propostas de efetivação do processo democrático nas

escolas e nas redes de educação pública.

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1.1 – A gestão escolar

Segundo o Aulete, dicionário digital, o substantivo feminino gestão deriva

de gerir, administrar; período durante o qual alguém administra negócio,

sociedade, empresa etc. por delegação de outros. Para Santos (2009), o termo

gestão educacional e escolar, aplicado à educação, remonta à década de

1990.

Exatamente neste período, o Brasil viveu um ponto alto do modelo

econômico neoliberal, propagando a liberdade de mercado, privatização, a

evolução tecnológica, a globalização; enfim, a modernidade. E como ao longo

da história a educação sempre esteve atrelada às exigências do modelo

econômico vigente (Hora, 2010.), naturalmente houve a migração do gestor no

campo empresarial para o gestor educacional; até porque o termo anterior

diretor, administrador, naquele contexto, deixava transparecer uma idéia de

burocracia, rotina, paralisia, centralização, ou pior, manipulação.

Então, aquele docente que exercia a função de diretor de escola, muitas

vezes obtida através de uma indicação política em troca de favores, poucos

eram concursados, tornou-se responsável pela atividade de impulsionar uma

organização. Entretanto será que esse profissional da educação compreendeu

bem tal transformação? Será que foi preparado para ela ou continua apenas

exercendo a mesma função burocrática do faz tudo: entrada do aluno,

disciplina, controle dos funcionários, falta de professor, diário, etc.? Talvez por

não ter sido devidamente preparado, esclarecido, ele se sinta cada vez mais

inseguro e solitário, fazendo exatamente aquilo que sempre fez.

A tarefa não parece muito simples, pois impulsionar uma organização

escolar fundamentalmente é garantir condições para que os docentes

desenvolvam com sucesso o processo ensino-aprendizagem, e há muitas

pessoas insatisfeitas com a escola pública, educadores, pais, alunos. A tarefa

não é muito simples porque este sucesso está atrelado a atitudes que não

dependem exclusivamente dele, mas de esforços de toda a comunidade

escolar, no caso da escola pública, de uma rede escolar. Em todo caso, é

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necessário abrir o diálogo para que haja maior participação consciente das

pessoas nas decisões sobre proposta pedagógica, projeto político pedagógico,

planejamento. Planejar, executar e avaliar. Enfim, instrumentos sem os quais

fica muito difícil garantir o sucesso da organização. “A escola precisa definir

com clareza os propósitos que almeja, mas, para isso, traçam-se estratégias

como forma mais efetiva de alcançar o êxito.” (Tavares, 2009: p. 88.)

No papel, o diretor(a) tornou-se o gestor(a), mas se esqueceram de dizer

isso para ele, esqueceram-se de dizer que a mudança implicava uma nova

postura à frente de uma equipe: filosófica, política, metodológica; ou seja, ele

também precisava mudar, precisava se preparar para exercer a função de

gestor escolar. Conclusão, a evolução científica, social, cultural que modificou

parte da sociedade brasileira e esqueceu a maior parte dela, esqueceu também

a escola. Mudou-se o conceito, mas o processo é o mesmo: a estrutura do

poder unilateral, as práticas autoritárias, a repressão às tímidas iniciativas de

participação dos sujeitos, as escolas que não montam a proposta pedagógica,

professores que não conhecem o projeto político pedagógico (Quando ele

existe!). Com isso, a escola pública, no que se refere à promoção do ensino de

qualidade, não avança. Seria puro esquecimento? Hora (2010: p. 13) não

acredita nisso:

“As práticas autoritárias e

centralizadoras presentes na gestão escolar

expressam a organização estruturada pela

sociedade capitalista que procura, em última

instância, a manutenção da relações sociais de

produção, refletindo as divisões sociais existentes,

com tendências a perpetuá-las e acentuá-las,

enfatizando, assim, a manutenção do poder da

classe dominante.”

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1.2 – O gestor na escola pública

Com o crescimento da industrialização, na década de 1930, e, como já

foi assinalado, as intervenções políticas de educadores como Anísio Teixeira e

os escolanovistas, a figura daquele professor que se propunha a coordenar o

trabalho docente perde espaço, principalmente em função da necessidade de

competências para as novas atribuições complexas. Este contexto deu, assim,

origem ao administrador. A administração trata do planejamento, organização

(estruturação) direção e controle de todas as atividades diferenciadas pela

divisão de trabalho dentro de uma organização.

Apesar da mudança da função e do nome, o que se viu foi a prioridade

das atividades técnico-burocráticas em detrimento das pedagógicas. Sem um

foco na gestão pedagógica, o administrador, concentrando nele todas as

atividades, não foi capaz de responder às necessidades da comunidade e

perdeu-se; não conseguiu contribuir para a melhoria da qualidade do ensino

público.

1.2.1 – A eleição para diretor

Embora o contexto econômico-político tenha indicado em diferentes

momentos os nomes de administrador ou gestor na literatura acadêmica, até

hoje predomina nas escolas pública o diretor ou diretor adjunto, evidenciando

bem a distância entre aquilo que se estuda na formação pedagógica e aquilo

que se vive nas escolas.

Na realidade, “encontramo-nos em um sistema em que o poder impera,

proibindo e invalidando um saber crítico que foge às instituições e impõe um

saber manipulado, institucionalizado e convencional” (Tavares, 2010: p. 107),

poder esse que colocou durante anos, até a década de 1980, o cargo de diretor

como moeda de troca na mão de políticos sem um mínimo de escrúpulo. Ou

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seja, o gestor que deveria ter uma identificação com a comunidade, que não

deveria ter medo de correr riscos, que deveria desenvolver algumas aptidões,

capacidades e competências; por ter sido uma indicação política, comportava-

se como um mero cumpridor de ordens, autoritário, isolado, sem interagir com

a equipe de docentes:

“Infelizmente, quando um gestor não é escolhido por

seus atributos profissionais e, sim, por um capricho

político, ele passa a ser um fantoche do sistema e,

mais que tenha boas idéias, estas não serão

seguidas de ações, pois esses gestores não têm

autonomia, ou seja, a eles não foi delegado poder de

decisão.” (Tavares, 2010: p.120)

A partir da segunda metade da década de 1980, a eleição para diretor e

diretor adjunto passou a ser uma luta dos educadores, principalmente através

de seus representantes sindicais, no Rio de Janeiro, o SEPE (Sindicato

Estadual dos Profissionais da Educação). Acreditava-se, então, que o diretor,

respaldado pela comunidade, com autonomia, flexibilidade, primasse “por uma

educação libertadora, fazendo prevalecer uma qualidade que fosse divergente

de um simples processo de domesticação subalterna.” (Tavares, 2010: p.120)

Enfim, depois de muitos embates, houve consentimento da rede

estadual e, posteriormente, a adesão do município do Rio de Janeiro. A

discussão passou então a ser estrutural: comissão eleitoral, porcentagens

diferenciadas para os segmentos da escola (a porcentagem dada aos alunos

era bem menor), período de mandato (um ano, dois anos). Vivia-se o estado

democrático: a anistia ampla geral e irrestrita, a campanha pelas Diretas Já, a

eleição de Tancredo Neves, a Constituição/88 e em 1989 o povo brasileiro

voltava às urnas para escolher o primeiro presidente após o período ditatorial.

Acompanhando o momento social e político, a escola pública buscava seu

papel dentro de uma conjuntura que respirava democracia: a expectativa era a

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de que a eleição para diretor fomentasse a participação da comunidade, a

formação da cidadania e a melhoria na qualidade do ensino. Pode-se afirmar

que há duas décadas, pelo menos, as escolas públicas do estado do Rio de

Janeiro e o município do Rio, entre outros, adota a prática da eleição para a

direção de suas escolas.

Já na virada da década, porém, a expectativa esbarrou em problemas

diversos: as gratificações para os cargos de diretor e diretor-adjunto eram

irrisórias, os educadores não se sentiam estimulados a trabalhar 40 horas

semanais exaustivas por tão pouco; os salários dos profissionais da educação

eram baixíssimos, a categoria puxava greves longas (até 03 meses); a SEE

exigia o ponto dos faltosos, ameaçava o diretor que não o entregasse com

exoneração; falta de professores e funcionários; falta de recursos materiais e

financeiros. O quadro era simplesmente caótico. A questão do ensino público

no Rio de Janeiro não passava apenas pela eleição para diretor, era muito

mais complexa.

Na virada do século, a eleição já estava incorporada ao cotidiano.

Embora, em 2008, pesquisas de Sekeff apontassem que as escolas mais bem

sucedidas tiveram seus gestores escolhidos por meio de eleição ou seleção

(Tavares, 2010.), a prática continua quase a mesma: muda-se o governo,

mudam-se os critérios; dificilmente há embate de chapas por falta de

candidatos; não há autonomia política, as secretarias controlam os diretores

eleitos com ameaças; falta de professores e funcionários. Se houve algum

avanço, ele certamente não foi suficiente para garantir ao gestor condições

para que a necessidade do povo fluminense, no que diz respeito à educação,

fosse concretizada, pois “A gestão escolar, na maioria das escolas públicas,

ainda se baseia no modelo de administração clássica, estática e burocrática,

não condizente com as necessidades de um mundo em constantes e rápidas

transformações.” (Santos, 2008, p. 35.)

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CAPÍTULO II

A PRÁTICA DA GESTÃO DEMOCRÁTICA

NA ESCOLA PÚBLICA

Para que se tenha uma noção de como se concebe a gestão

democrática dentro das escolas públicas, é necessário conhecer seus sujeitos;

ou seja, aqueles que constroem a escola no seu cotidiano, a comunidade

escolar, como bem coloca Hora (2010: p.73)

“A gestão democrática na educação inclui,

necessariamente, a participação da comunidade

escolar nas decisões tomadas no processo

educacional que está sendo desenvolvido, sem o

que seria mais um arranjo interno dos que estão no

poder, seja dos órgãos administrativos centrais,

como da direção da escola, para atender a

interesses que certamente não seriam consentâneos

com as expectativas dos diferentes grupos de

sujeitos sociais que ali convivem.”

Neste capítulo, faremos contato com alguns desses sujeitos e

observaremos a sua percepção da gestão, a sua posição em relação a ela, a

sua prática; enfim, o conhecimento, a construção e a importância para estes

sujeitos da gestão e da gestão democrática nas escolas públicas. Cada um

deles foi submetido a um questionário com oito perguntas cujo objetivo foi

compilar informações a respeito de suas experiências e, a partir delas, formular

a razão deste estudo.

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A princípio, é bom deixar bem claro que este estudo não tem a

pretensão de apresentar uma noção abrangente, elaborar dados estatísticos,

ou esgotar o assunto; não, este não é seu objetivo. A intenção é colocar

interrogações (Os sujeitos estão preparados? Há a intenção do poder

público?), abrir possibilidades futuras para quem deseje conhecer mais de

perto e de uma forma mais completa as dificuldades da prática de uma gestão

democrática nas escolas públicas, com a intenção de viabilizá-la efetivamente.

Apresentaremos, sem colocar nomes de pessoas ou escolas para que

todos pudessem se colocar despreocupadamente, o resultado da pesquisa em

que foram ouvidos gestores (administrativos e pedagógicos), professores,

funcionários, alunos e pais de diferentes escolas públicas das redes municipal,

estadual e Federal do estado do Rio de Janeiro a respeito de sua concepção

de gestão democrática, suas experiências administrativas e pedagógicas, e

suas ações no espaço da escola pública.

O processo de escolha desses sujeitos não seguiu critério técnico ou

alguma indicação de caráter acadêmico, pois, como foi dito, a intenção deste

estudo é apenas identificar situações em um lócus limitado que prejudicam a

possibilidade de se implementar a gestão democrática. Portanto, a escolha

deu-se através ora da convivência de 30 anos no magistério público, seja na

sala de aula ou no setor administrativo, ora através de contatos recentes em

cursos e atividades afins. Embora seja um grupo relativamente pequeno em

relação ao universo da escola pública no estado do Rio de Janeiro, julgou-se

suficiente para a pretensão deste estudo.

2.1 – A visão dos gestores

Foram contatados quatro gestores de escolas públicas: um de Educação

Infantil, da rede municipal; um de Educação Básica, da rede municipal, primeiro

segmento do Ensino Fundamental; um de Educação Básica, da rede municipal,

primeiro e segundo segmentos do Ensino Fundamental, com experiência em

gestão pedagógica; um de Educação Básica, gestão pedagógica, da rede

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federal, Ensino Fundamental e Médio, com passagem pela rede estadual no

Ensino Médio, gestão administrativa. Não será usada a reprodução na íntegra

dos questionários, pois, como já foi dito anteriormente, a intenção é compilar

informações para sustentar o propósito deste estudo, mas, quando necessário,

incluiremos uma ou outra resposta, fragmentada ou inteira, com o intuito de

enriquecer algum argumento.

Embora o gestor de uma escola pública, de certa forma, esteja

engessado por um poder maior, os sistemas de ensino, e estes estejam

atrelados ao poder majoritário; no caso, Prefeitura, Governado Estadual e

Presidência da República, a sua postura interfere diretamente sobre a conduta

da comunidade, como destaca Tavares (2009, p. 117.)

“O gestor que exerce uma liderança consegue

trabalhar sem grandes complicações a motivação de seus

educadores e, dessa maneira, faz com que persigam

determinada meta ou objetivo com determinação para que

a escola busque a excelência em relação ao processo

ensino-aprendizagem e que essa excelência seja o cerne

para os educandos se tornarem cidadãos críticos e

protagonistas de sua história.”

Quando o questionário colocou em pauta a concepção de gestão

democrática, embora não tenham feito referência à Constituição Federal, à lei

9394/96 ou ao PNE/2001, os gestores falaram em direção participativa,

diálogo, envolvimento da comunidade, respeito, compromisso, ligando estes

itens à qualidade de ensino. Ou seja, a concepção segue a literatura

acadêmica “...mudança nos processos administrativos desenvolvidos nos

sistemas educacionais e no interior das escolas, por meio da participação de

pais, alunos, professores e da sociedade civil...” (Hora, 2010, p. 51.). Destaque

para a resposta da gestora da Educação Infantil (4)

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“A gestão democrática é uma ação de

caráter coletivo, realizada a partir da participação conjunta

e integrada dos membros de todos os segmentos da

comunidade escolar. Assim, o envolvimento de todos os

que fazem parte, direta ou indiretamente, do processo

educacional no estabelecimento de objetivos, na solução

de problemas, na tomada de decisões, na proposição,

implementação, monitoramento e avaliação de planos de

ação, visando os melhores resultados do processo

educacional, é imprescindível para o sucesso da gestão

escolar participativa.

A participação dá às pessoas a

oportunidade de controlar o próprio trabalho, sentirem-se

autoras e responsáveis pelos seus resultados, construindo,

portanto, sua autonomia...”

No entanto, quando indagados se consideram a sua gestão democrática,

as respostas apresentaram alguns equívocos em relação à prática desse tipo

de gestão. Vejamos a resposta da gestora de Ensino Fundamental, primeiro

segmento (1)

“Sim, pois procuro sempre compartilhar as decisões

e informações, me preocupo com a qualidade da educação

e com a relação custo-benefício, mantenho transparência,

ou seja, deixo claro para toda a comunidade como são

usados os recursos da escola, inclusive os financeiros.

Enfim, tento envolver pai, alunos, professores, funcionários

e outras pessoas da comunidade na administração

escolar.”

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Embora o verbo compartilhar no início da resposta esteja de acordo com

a ideia de participar, tomar parte em, a partir da partícula explicativa ‘ou seja’

“deixo claro para a comunidade como são usados os recursos da escola,

inclusive os financeiros.” Percebe-se que a comunidade toma ciência, mas não

participa dos processos decisórios, contrariando um princípio da gestão

democrática

“A escola, como organização social, também

pretende ser um espaço democrático, de modo que os

educadores profissionais, os alunos, os pais (...) tenham o

direito de estarem bem informados e de terem uma

participação crítica na criação e na execução das políticas

e dos programas escolares.” (Hora, 2010, p. 50.)

Perguntados sobre os segmentos da escola que participavam das

reflexões ou decisões, a prática da gestão democrática tornou-se mais frágil. A

gestora de primeiro e segundo segmentos do Ensino Fundamental (3)

respondeu “Conforme o teor dessas decisões os segmentos citados acima” (No

caso, professores, funcionários, grêmio e CEC.). Aqui a expressão ‘conforme o

teor dessas decisões’ deixa transparecer que a participação da comunidade

depende do conteúdo (Da importância?) das decisões, ou seja, a comunidade

não participa de todas as decisões.

Quanto à forma como as decisões são tiradas, destacamos ainda a

resposta da gestora de primeiro e segundo segmentos (3) colocando as

reuniões do CEC, quando convocadas, como responsáveis pelas decisões,

sem que o assunto tenha sido discutido nas bases dos segmentos. Já a

gestora do primeiro segmento (1) diz “As decisões são deliberadas em

conjunto. Todos orientam, opinam e decidem sobre tudo o que tem a ver com a

qualidade da escola.” O pronome indefinido todos como sujeito dos verbos

orientar, opinar e decidir pretende valorizar a ampla participação, mas acaba

passando a ideia de uma gestão sem controle, sem organização “Outros

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adotam a atitude do avestruz, ou o laissez-faire: abrem a escola à comunidade,

permitem qualquer experiência ou projeto, ao menos para que na escola o

clima pareça pacífico, não se acendam os ânimos...” (Santos, 2008, p.69). A

gestão democrática pressupõe a participação de todos, mas não abre mão da

organização.

Com exceção da gestão pedagógica em escola pública federal, todas as

demais foram eleitas. Alunos, pais e funcionários participaram dos pleitos. Esse

fato pressupõe um passo largo em direção à gestão democrática, mas

nenhuma fez referência ao pleito, à disputa entre as chapas. Muitas vezes são

chapas únicas, perpetuando-se na função há anos, pois os demais docentes

não se interessam pela função porque não há atrativos.

Em relação ao Projeto Político Pedagógico, o gestor pedagógico da

escola federal (2), sabe que existe, mas desconhece o processo de confecção.

Chama a atenção parte da resposta da gestora de primeiro e segundo

segmentos de escola do município (3) quando diz “Após amplas discussões ao

longo desses anos e também através da escuta atenta, de toda equipe

pedagógica, muitas vezes informal, dos sentimentos e expectativas revelados

pelos demais segmentos da nossa comunidade escolar, algumas premissas

foram levantadas dando início ao nosso PPP.” Ou seja, em algumas questões

não se revelam os desejos da comunidade, mas a interpretação dos seus

sentimentos colocada pela equipe pedagógica.

Todos os gestores confirmaram o pensamento de que a gestão

democrática contribui para a melhoria da qualidade de ensino, principalmente

pelo comprometimento das pessoas envolvidas com o processo ensino-

aprendizagem, mas cabe destacar a colocação da gestora de Educação Infantil

(4) “Uma gestão democrática contribui para a melhoria da qualidade do ensino,

mas sozinha não resolve todos os problemas da educação. Os governos

precisam querer essa melhoria e não apenas ficarem preocupados com os

índices estabelecidos pra que o País pareça aos olhos do mundo ter uma

educação de qualidade.”

Como se viu, a concepção da gestão democrática é comum a todos os

gestores, eles também concordam com a importância deste tipo de gestão para

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a melhoria da qualidade do ensino, porém a prática de alguns apresenta

equívocos que comprometem a efetiva implementação da gestão democrática,

principalmente quando se refere à participação de todos os segmentos e a

autonomia para discutir os assuntos do cotidiano da escola.

2.2 – A experiência dos docentes e dos funcionários

O docente tem atuação fundamental na implementação efetiva da

gestão democrática já que atua diretamente em duas frentes. Eleito, escolhido

ou indicado, o gestor, por lei, é um docente. Ele está gestor, mas amanhã pode

voltar para sala de aula. Ele, necessariamente, é o sujeito da verdade, da

mudança, impulsionador e principalmente conhecedor do processo “Não

podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura, da

opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-nos

como sujeitos éticos.” (Freire, 2011.)

Assim como o docente, o segmento de funcionários é um setor

importantíssimo nesta luta, são os parceiros diretos eles agem em contato com

todos os outros segmentos da escola, independente do setor em que

trabalhem. Por isso, o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação, em

suas campanhas por melhores salários, ou pela melhoria do ensino público,

não veem distinção entre docentes e funcionários.

Incluem-se, então, aqui as respostas de dois funcionários da rede de

ensino pública: um da rede estadual e federal e o outro da rede municipal da

cidade do Rio de Janeiro. Afinal, “Requer-se dos profissionais da educação,

docentes e não docentes, uma nova postura diante do processo ensino-

aprendizagem e da educação em geral.” (Santos, 2008, p. 27.)

Em relação aos docentes, fizeram parte deste estudo três professores

do Ensino Fundamental e Médio, todos atualmente lecionando na rede federal

de ensino, mas um deles com passagens pela rede do município do Rio de

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Janeiro e pela estadual, e mais um lecionando atualmente na rede estadual e

municipal também da cidade do Rio de Janeiro.

Os dois funcionários disseram que participaram do processo de eleição

para diretor de escola, mas que não são convidados para participar das

principais decisões. Palavras da funcionária da rede municipal (1): “Raramente.

(Os funcionários são convidados.) E quando acontece de serem chamados,

apenas os que trabalham mais próximos da direção são consultados.” Esta

postura caracteriza algo não raro nas escolas públicas: o mascaramento da

gestão democrática. Os “consultados” são os mais próximos da direção:

funcionários, professores, pais e alunos não são representativos de seus

segmentos, mas escolhidos a dedo; no caso, o dedo do diretor. E mais, o que

se pode entender por “os mais próximos”? Aqueles que não contestam ou

participam de um jogo de interesses?

Os dois consideraram a participação dos funcionários nas decisões da

escola fundamental para o sucesso do processo ensino-aprendizagem e

consequentemente para a melhoria da qualidade do ensino público

“É preciso que se entenda, inclusive o professor, que

ele é atividade fim no funcionamento da escola e

que os outros setores são atividades meio e que

dará (sic) o suporte necessário para a efetivação da

sua proposta pedagógica e a concretização do

Projeto Político Pedagógico da escola.” (Funcionário

2)

Não deixaram também de destacar a valorização do funcionário, o

trabalhar feliz e a sua autoestima “(...) estaria valorizando (o ato de participar

das decisões) os seus funcionários e permitindo que os mesmos se vejam

como um elemento importante na materialização do Projeto da Escola.”

(Funcionário 2)

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Quando chegamos aos professores, a docente das redes municipal e

estadual (4), antes de começar a responder à entrevista, fez uma declaração

significativa para este estudo “Seguem minhas humildes considerações acerca

de um tema que, apesar dos 32 anos de magistério, praticamente não vivenciei

na escola pública nem na privada (...).”

Todos os professores demonstraram estar bem familiarizados com o

conceito de gestão democrática, colocando verbos como ‘participar’,

‘compartilhar’, ‘ouvir’ (a opinião de todos); substantivos como ‘integração’ e

expressões como ‘desenvolvimento harmônico’. Como na questão também

direcionada aos gestores, não houve qualquer referência à Constituição, à LDB

ou ao PNE/2001. Um deles (docente 4) fez questão de destacar que devem ser

“(...) respeitadas as respectivas competências técnicas das dimensões

especificamente pedagógicas, isto é, a dos docentes e especialistas em

educação.” Ou seja, quando a questão é pedagógica, quem não tem

competência não participa. Essa postura é muito comum e divide a

comunidade escolar. Se a intenção é construir uma Proposta Pedagógica ou

um Projeto Político Pedagógico, quando se fala na participação de todos, como

excluir determinados setores alegando falta de competência?

Quando foram incentivados a avaliar a gestão da escola onde trabalham,

identificaram gestões arbitrárias, excludentes, repressoras entre outras.

Deixaram claramente exposta a insatisfação em trabalhar em um ambiente que

não respeita a participação dos diferentes setores “(...) Há ainda algumas

práticas com que a maioria não concorda e mesmo assim acontecem. Isso é

pouco democrático.” (docente 1)

Três destes (1, 3 e 4) afirmaram que não/nunca trabalharam em uma

escola pública cuja gestão fosse democrática. Aquele que respondeu

afirmativamente não deu nenhum exemplo de como o processo acontecia “Nas

duas escolas estaduais em que trabalhei a gestão era bem democrática.

Sentia-se (sic) bem e só me desliguei por conta do baixo salário e porque

queria dedicar mais tempo à minha família. Gostava de lá.” (docente 2) Ficam

duas perguntas: Democrática como? Sentia-se bem por quê?

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Nenhum dos quatro participou do Projeto Político Pedagógico da escola

onde trabalha; pior, não conhecem; não sabem se existe. “Não conheço; nunca

houve um processo de convocação para a construção de um PPP nem fui

apresentada a algum que já existisse.” (docente 4)

Diante deste quadro, é mais do que oportuno invocar Freire (2011, p.38)

“Pensar certo implica a existência de sujeitos que

pensam mediados por objeto ou objetos sobre o que

incide o próprio pensar dos sujeitos. Pensar certo

não é o fazer de quem se isola, de quem se

‘aconchega’ a si mesmo na solidão, mas um ato

comunicante. Não há por isso mesmo pensar sem

entendimento, e o entendimento, do ponto de vista

do pensar certo, não é transferido, mas

coparticipado.”

Embora o contexto de Paulo Freire refira-se à questão do ensino dos

conteúdos, o texto transcende e faz pensar acerca de uma escola solidão, sem

entendimento, de sujeitos que se isolam. Como construir certo sem o

compartilhar, o comunicar, sem o entendimento?

“O projeto pedagógico não pode ser algo imposto,

vindo do alto, generalista, a ser aplicado a todas as

escolas da rede. Ele envolve valores, princípios,

práticas, estando sujeito a formulações, mudanças e

adequações, o que é impossível sem liberdade e

autonomia da escola e de sua gestão.” (Santos,

2008, p.61.)

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Quando os docentes foram questionados sobre a importância de uma

gestão democrática e se ela contribuiria para melhorar a qualidade de ensino

nas escolas públicas, de certa forma todos concordaram, alegando a

legitimidade da gestão, senso de responsabilidade, satisfação e

comprometimento dos profissionais, e a certeza de que a escola é construída

através de ações coletivas. Para eles, esses itens refletidos no cotidiano da

escola propiciariam uma melhoria na qualidade do ensino “a dimensão

democrática pode enriquecer a experiência de ensino, ser uma saída, quando

uma gestão centralizada não está conseguindo suprir os anseios, a carência da

maioria.” (docente 1)

Mas, isolado, acomodado, fica a impressão de que o professor é um ser

silencioso, que passa pela escola sem ter espaço para colocar suas

convicções, mesmo que, às vezes, não sejam objetivas.

Pelo que foi colocado, com certeza estes docentes não vivenciaram uma

experiência democrática, embora todos tenham concordado que esse tipo de

gestão seria uma boa opção para as escolas públicas em relação à melhoria do

processo ensino-aprendizagem. No entanto, se é uma opção, uma boa opção,

uma possibilidade de melhorar o ambiente de trabalho, o resultado do trabalho,

por que não lutar por ela? Por que constatar e não esboçar algum esforço para

concretizá-la? O professor passivo, alienado, que está preocupado apenas em

se adaptar, não exercita a sua essência transformadora.

“O fato de me perceber no mundo, com o mundo e

com os outros me põe numa posição em face do

mundo que não é de quem nada tem a ver com ele.

Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a

ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a

posição de quem luta para não ser apenas objeto,

mas sujeito também da história.” (Freire, 2011, p.

53.)

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2.3 – A importância dos alunos

De todos os sujeitos envolvidos com a prática de gestão democrática,

talvez o mais importante sejam os alunos, pois eles são o resultado do trabalho

da escola - o supervisor levanta interrogações, faz afirmações (...) tentando

com o professor descobrir a melhor maneira de ensinar, aprender e educar

uma determinada classe de alunos. (Medina, 2002.)

A lei 9394/96, em seu artigo 2º, coloca “A educação, dever da família e

do estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade

humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo

para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Para

esclarecer o sentido de “...o exercício da cidadania...”, destaca-se uma das

definições do dicionário Aulete Digital “Exercício consciente da condição de

cidadão; atuação na sociedade, em defesa da ampliação e fortalecimento da

cidadania.” É dever, pois, da escola preparar o aluno para atuar/participar da

construção de sua sociedade, refletindo, analisando, opinando. É o que nos

acrescenta Paulo Freire (2011) os educandos vão se transformando em reais

sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do

educador, igualmente sujeito do processo.

Foram submetidos às perguntas quatro alunos que estudaram em uma

das três redes de ensino público no Rio de Janeiro e concluíram o Ensino

Médio em anos diferentes (2002 a 2011). Novamente reforçando que não é

interesse deste estudo apresentar uma visão global do problema, o que se

constata pelas respostas dadas é a discrepância entre aquilo que a Lei 9394/96

coloca e a formação que nossas escolas públicas oferecem aos seus alunos.

Perguntados sobre o que é uma gestão democrática, um não sabia

(aluno 3), outro não sabia ao certo (aluno 2), mas arriscou uma definição, os

outros dois colocaram adequadamente a definição. Quando as questões

abordaram assuntos como democracia na escola e participação dos alunos, as

respostas, em sua maioria, foram negativas. Apenas uma aluna considerou sua

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participação através do grêmio estudantil positiva (aluno 1). A resposta mais

expressiva e que deixa bem claro a confusão na cabeça de um aluno diz

“Bom em algumas coisas sim (democracia) porque

tínhamos a liberdade de expressão de nossas

opiniões, só que isso servia apenas para ouvir

porque não adiantava nada, ir da nossa opinião para

isso ou para aquilo (sic) que nada mudava, então

não seguia as regras corretas de democracia, era

como fosse apenas uma fachada.” (aluno 3)

Quanto ao Projeto Político Pedagógico, nenhum dos entrevistados

participou da sua construção, pior, não têm a mínima ideia do que venha a ser.

Apenas uma participou do processo de eleição para diretor, enquanto os outros

não sabem dizer se o diretor foi eleito ou indicado.

Três (alunos 1, 2 e 4) responderam positivamente quando foram

perguntados se a participação dos alunos nas decisões melhoraria a escola, o

que demonstra o desejo, o gosto da rebeldia, a curiosidade, a capacidade de

arriscar-se do aluno sobre que tanto nos fala Paulo Freire (2011, p. 27.). Vale o

destaque para a resposta de um deles como forma de concluir este segmento

escolar:

“...Qualquer pessoa sente falta de ter suas opiniões

expostas e levadas em consideração e, além disso,

quanto mais opiniões estiverem sendo estudadas, a

chance de surgir uma solução efetiva e que ao

mesmo tempo agrade a todos é maior.” (aluno 3)

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2.4 – O afastamento dos pais

Este segmento é o mais afastado do processo de gestão dentro de uma

escola. Geralmente os pais comparecem à escola para receber os boletins dos

alunos e receber críticas ao comportamento dos filhos. Não conhecem a

proposta pedagógica, não participam do projeto político, não têm acesso às

equipes pedagógica e administrativa, às vezes nem conhecem os professores

de seus filhos.

Responderam à pesquisa apenas dois pais cujos filhos estão

matriculados nas redes municipal e federal. Um deles (pai 2), inclusive, fez

questão de citar duas leis que garantem a participação da comunidade em todo

o processo escolar: artigo 12, inciso VI, da lei 9394/96; da mesma lei, artigo 14,

inciso II. Citou ainda a lei 8069 que dispões sobre o Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA): Parágrafo único. É direito dos pais e responsáveis ter

ciência do processo pedagógico, bem como participar das definições das

propostas educacionais. (sic)

No entanto, este mesmo pai quando perguntado se a escola em que

seus filhos estudam já o convidara para participar de alguma decisão, por

exemplo: eleição para direção, construção do PPP ou alguma outra que

dissesse respeito às propostas educacionais, a resposta foi negativa.

Mas a outra responsável, embora não tenha dado nenhum elemento que

explicasse a sua participação e a forma de organização dos debates, afirmou

que é convidada, participa das decisões e vota para eleger a direção da escola.

No que diz respeito à importância da participação dos pais nas principais

definições das propostas educacionais, ambos foram categóricos: “Por que

enquanto pai e sou convidado a participar na construção de um projeto comum

da escola em que meu filho estuda, vou me sentir valorizado e responsável

pela educação dele (...)”. (pai 2)

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Já o primeiro declarou:

“(...) Acredito que a participação dos pais, além de

incentivar o aluno, faz com que ele se sinta

confiante, vendo que todos interessam por ele. Acho

importante também para mostrar as dificuldades e

conhecimentos dos nossos filhos... com certeza isso

pode ser de grande ajuda para o professor.”

Mesmo que o segundo faça referência explícita à sua participação na

construção de projetos escolares e o primeiro restrinja sua participação a

simples troca de informações sobre os filhos, percebe-se em ambos a

preocupação com o sucesso do processo ensino-aprendizagem. Desconsiderar

uma e outra participação, ou a da comunidade como um todo, abre uma lacuna

bastante razoável para a efetivação de uma gestão democrática.

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CAPÍTULO III

A CONSTRUÇÃO DE UMA GESTÃO

ESCOLAR DEMOCRÁTICA

You may say/ I'm a dreamer

But I’m not the only one/ I hope some day

You’ll join us/ And the world will be as one

(J. Lennon)

Como este estudo colocou no capítulo anterior, os sujeitos do fazer de

uma escola pública, embora não tenham participado efetivamente de uma

gestão democrática, ou pensem, equivocadamente, que a estão colocando em

prática (no caso dos gestores), todos concordaram ser ela o caminho

necessário, seja pelo ambiente de trabalho, seja pela melhoria do processo

ensino-aprendizagem. Então, por que não arregaçar as mangas e trabalhar em

prol de sua construção? Por que, mais de vinte anos depois da Constituição e

mais de quinze depois da LDB, ainda se encontram basicamente nas escolas

públicas exemplos de gestão centralizadora?

Mesmo que, em boa parte, a construção da gestão democrática

dependa do esforço do gestor e da comunidade, os sujeitos desse fazer estão

inertes, submetidos a normas e condutas colocadas pela sociedade em que

vivem. Uma sociedade que prega a competição, o fragmentado, o

autoritarismo. Naturalmente, até sem que percebam, esses valores são

inseridos nas rotinas da escola.

“As práticas autoritárias e centralizadoras

presentes na gestão escolar expressam a

organização estruturada pela sociedade capitalista

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que procura, em última instância, a manutenção das

relações sociais de produção, refletindo as divisões

sociais existentes, com tendências a perpetuá-las,

enfatizando, assim, a manutenção do poder da

classe dominante.” (Hora, 2010, p. 13)

As escolas estão subordinas às redes de ensino que, por sua vez, estão

subordinadas ao poder político, geralmente nas mãos da classe dominante.

Logo, as decisões mais importantes, cruciais, as decisões políticas são

tomadas no topo da organização de forma centralizada, e dessa cartola não vai

sair coelho. As secretarias de educação, mesmo prometendo a autonomia das

escolas, não proporcionam os meios fundamentais para que elas ganhem vida

própria. Muda-se o governo, fala-se em avaliação, em repetência e evasão,

mas não se discutem as relações de poder, não se discute a participação da

comunidade nas decisões dentro da escola. O sindicato faz campanha salarial,

reivindica melhores condições de trabalho. Justo. Mas por que não investir

nesta discussão, fortalecer os laços na base da escola participativa. Uma das

consequências da gestão democrática é a coalizão de seus sujeitos.

Compartilhar os mesmos paradigmas proporciona um enfrentamento constante

dos principais problemas por que passa hoje a escola pública.

Diante deste quadro, numa sociedade que se quer democrática, cabe ao

gestor voltar-se para dentro da escola pública e convocar a comunidade, expor

as dificuldades, promover debates, ouvir as diferentes vozes que com ele

constroem a realidade escolar, criar os espaços, abrir as portas:

“A modernidade exige gestores mais

dinâmicos, criativos e capazes de interpretar as

exigências de cada momento e de instaurar

condições mais adequadas de trabalho na escola. A

autonomia desta, tão decantada e mesmo prevista

na legislação de ensino, depende, em grande parte,

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da competência de seus gestores para que a

educação possa não só acompanhar as grandes

mudanças que se operam na sociedade como

também intervir nelas.” (Santos, 2008, p.12)

3.1 – A formação do gestor

O diretor de uma escola pública é um professor (de Língua Portuguesa,

Matemática ou História) que se propôs a gerir uma instituição. Ele é o

responsável pelo planejamento, estruturação e controle de todas as diferentes

atividades na divisão do trabalho dentro da escola. Cabe a ele, identificar os

processos necessários para o sistema de educação de qualidade e sua

aplicação por toda a organização. Na maioria das vezes, ele não teve nenhuma

formação para isso.

As instituições formadoras ensinam legislação, estrutura de ensino,

técnicas e metodologias de ensino, psicologias da educação e mais teorias e

teorias. Se existe a possibilidade do docente optar pela gestão, por que não há

uma cadeira específica que o prepare para exercer esta função? Diante desta

situação, eles são obrigados a fazer um curso de especialização em outra

instituição, geralmente da rede privada.

Além disso, as condições de trabalho são péssimas; às vezes não há

funcionários e professores suficientes, a gratificação é irrisória, sem falar no

espaço físico. A questão está posta: como cobrar deste profissional a produção

de um processo de ensino-aprendizagem de qualidade?

A modernidade é a era da informática, as tecnologias emergentes

exercem enorme pressão sobre a comunidade escolar. Em alguns casos, o

diretor não sabe abrir um computador; não conhece um programa (verdade!).

Ele continua reproduzindo um modelo de direção que já encontrou há anos e

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apenas dá seguimento a ele. Em plena era da informação, ainda não leu um

livro sobre gestão escolar, não sabe o que acontece em educação para lá do

muro de sua escola. Centraliza as ações, faz a gestão de autômatos, do

silêncio. “E, na escola, é o gestor quem deveria criar clima de aconchego,

amizade, amor pelo estudo, incentivo à renovação, à mudança, à

experimentação de novas práticas e métodos.” (Santos, 2008, p. 57.)

Nestas condições, ser um gestor escolar é uma tarefa muito difícil.

Diante desta realidade, obter melhoria na qualidade do ensino público, não

seria exagero dizer, é como diz o ditado popular “tirar leite de pedras”. Mas,

apesar de todo este revés, pode-se afirmar que um investimento na formação

do gestor mudaria bastante este quadro.

Além da reformulação do currículo e a prática da faculdade formadora,

com mais atenção ao futuro gestor, a gestão empresarial moderna pode ser

uma fonte de inspiração e poderia ser adaptada à realidade da escola. Nesse

aspecto, o gestor escolar ganharia muito, pois conheceria melhor as

estratégias de planejamento, as técnicas de avaliação, aprenderia a

estabelecer metas e realmente alcançá-las. Neste ponto, não resta dúvida, a

escola privada avançou bastante e divulga abertamente na mídia o resultado

de seu trabalho. Esta é uma luta que poderia ser abraçada pelas entidades de

classe: capacitação em serviço; aperfeiçoamento e especialização; a criação

de espaços de discussão e deliberação no que se refere ao funcionamento da

escola: “...qualquer mudança em qualquer dos elementos da escola produz

mudança nos outros elementos, mudança essa que provoca novas mudanças

no elemento iniciador, e assim sucessivamente.” (Lück, 2011: p. 9).

A partir de Libâneo (2004), apontam-se as seguintes atribuições do

gestor escolar:

• visão sistêmica do processo ensino aprendizagem;

• capacidade de planejamento das ações no espaço escolar;

• capacidade de gerenciamento do ambiente escolar;

• capacidade de compartilhamento de valores e da cultura escolar;

• capacidade comunicativa;

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• disposição para fundamentar teoricamente suas decisões;

• capacidade de trabalho em grupo;

• capacidade de gerenciamento das interdependências no espaço

escolar;

• ser um articulador;

• conhecimento das tecnologias da informação e comunicação;

• ser conhecedor da realidade da escola;

• e outros.

Como se vê, há muito o que se fazer. Algumas dessas atribuições são

inatas (Capacidade comunicativa; ser um articulador, por exemplo.). O

professor, quando opta pela gestão, precisa reconhecê-las em si mesmo. Em

sua maioria, ele vai para o cargo porque deseja sair da sala de aula. Outras,

através do curso de formação, de capacitação, de especialização, podem ser

construídas, conquistadas.

“...o gestor escolar (...) deve ser um líder

pedagógico que apoia o estabelecimento das

prioridades, avaliando, orientando e participando na

elaboração do Projeto Pedagógico, bem como de

outros documentos próprios da vida escolar,

incentivando a sua equipe a descobrir o que é

necessário para dar um passo à frente na

compreensão da realidade educacional em que atua,

cooperando na solução de problemas pedagógicos,

estimulando os docentes a debaterem em grupo os

problemas comuns, bem como a refletirem sobre

sua prática pedagógica, experimentando as novas

possibilidades de atuação, novas práticas incluindo a

utilização das Tecnologias da Informação e

Comunicação (TICs) como ferramenta

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enriquecedora do processo ensino-aprendizagem.”

(Almeida e Freitas, 2011, p. 31.)

3.2 – A intervenção do gestor democrático

Apesar da Constituição Federal, da Lei 9394/96 e de toda a literatura

acadêmica, as iniciativas de participação da comunidade escolar na gestão dos

processos educacionais ainda são muito tímidas. Às vezes são colocadas

equivocadamente. Se os sujeitos da escola pública ficarem esperando a

iniciativa das redes de ensino, a gestão democrática não se tornará uma

realidade tão cedo.

Por isso, o gestor, além de adquirir as competências necessárias para

gerir a qualidade do processo ensino-aprendizagem, precisa compartilhar a

ideia de que o trabalho educativo é sinônimo de construção da cidadania, de

liberdade de expressão e de criação, de autonomia para a construção de

aprendizagens, de crescimento pessoal e social. Precisa ter a consciência de

que a escola é um espaço democrático. Principalmente, compreender que as

pessoas que constroem o dia a dia da escola são responsáveis, elas são

capazes de escolher seus representantes, de opinar, apresentar sugestões e

fiscalizar o seu próprio desempenho.

“O fazer democrático no interior da escola realiza-se

pela transformação das práticas sociais que ali se

constroem, tendo como foco a necessidade de

ampliar os espaços de participação e de debates,

preservando as diferenças de interesse entre os

diversos sujeitos e grupos em interação, criando

condições concretas para a participação autônoma

dos variados segmentos, viabilizando nesse

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processo, horizontalidade das relações de força

entre eles.” (Hora, 2010, p. 32.)

Não é uma questão simples. Com certeza, ele encontrará muitas

dificuldades dentro da própria comunidade, pois estes mesmos sujeitos,

acostumados a gestões centralizadas, aguardam decisões prontas; com

liberdade para fazer o que lhe der na telha, numa gestão laissez-faire, a

princípio, não se proporão a colaborar, olharão com desconfiança. A prática

requer a paciência, pois não se modificam a curto prazo hábitos construídos ao

longo de anos. Então, a habilidade do gestor deve contar com a força do grupo.

Aos poucos, eles, observando a força do trabalho coletivo, vão se incorporando

ao contexto; caso contrário, ficarão isolados. Às vezes, conseguir a adesão de

todos não é possível, e o gestor precisa estimular junto à comunidade o debate

sobre a importância da liberdade de opção. A escola trabalha com ser humano,

com toda sua complexidade; as mudanças, geralmente, acontecem, mas

exigem esmero, detalhes, porque trabalhar com gente requer respeito,

competência, conhecimento, sensatez, sensibilidade.

Um passo importante é o Projeto Político Pedagógico (PPP). Segundo a

LDB, em seu artigo 12 “Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas

comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I – elaborar e

executar sua proposta pedagógica. “Se a escola não tem Proposta

Pedagógica, leia-se PPP, é uma boa hora para motivar a comunidade. Se já

tem, pode ser o momento de reformulá-lo. O importante é que construir um

PPP é um processo complexo que exige não só o conhecimento de conjuntura

global, mas também o da realidade da escola e de seus sujeitos. Isso pede um

tempo razoável porque

“O projeto pedagógico não pode ser algo imposto,

vindo do alto, generalista, a ser aplicado a todas as

escolas da rede. Ele envolve valores, princípios,

práticas, estando sujeito a formulações, mudanças e

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adequações, o que é impossível sem liberdade e

autonomia da escola e de sua gestão.” (Santos,

2008, p. 61.)

No debate, inserem-se assuntos que estão estreitamente ligados à

questão da prática da construção de uma sociedade democrática, do

pensamento inclusivo, preparando o educando, conforme a LDB, artigo 2º, para

a solidariedade, para o exercício da cidadania, sem exclusões e preconceitos.

Dessa forma, os sujeitos sentem a necessidade de abandonar o marasmo e,

certamente, buscar a modernidade, as exigências tecnológicas e a chamada

era da informação. A necessidade exige sugestões, desafia o sujeito, estimula

a sua participação. Com a montagem do PPP, já fica pronto na escola um

suporte fundamental para se erguer a gestão democrática.

Sem esse suporte, não há como construir uma gestão democrática.

Mesmo quando um diretor defende ser sua gestão democrática, essa defesa

não sobrevive a uma avaliação superficial como no caso das escolas públicas

colocado nesta pesquisa. O que se vê nitidamente são equívocos que acabam

por mascarar uma situação na qual a participação da comunidade escolar é na

verdade guiada pelas mãos do gestor. Ora, não é bem esse o exemplo de

democracia. Quando questionado, vale reproduzir outra vez, sobre o equívoco

é comum encontrar a seguinte explicação

“...devem ser ouvidas todas as ideias referentes às

questões que envolvem o ambiente escolar, porém

devem ser respeitadas as respectivas competências

técnicas das dimensões especificamente

pedagógicas, isto é, a dos docentes e especialistas

em educação.” (docente 4)

Esse tipo de postura acaba por revelar um exemplo claro de

corporativismo, pois estabelece privilégios de categorias, discriminando os

outros sujeitos que também estão diretamente envolvidos no processo ensino-

aprendizagem.

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No mínimo, a escola pública, na busca por uma verdadeira gestão

democrática, deveria dispor de: uma rede de ensino que investisse na

formação profissional do gestor e acompanhasse a participação efetiva da

comunidade; um gestor bem formado que se comprometesse a estimular a

autonomia dos sujeitos componentes do universo escolar; um grêmio estudantil

mobilizado, representantes de turmas interessados nas questões éticas que

envolvessem sua função; pais e responsáveis organizados através de uma

associação presente dentro da escola. Dessa forma, estaria garantido o direito

de os sujeitos se colocarem de uma forma realmente democrática,

contemplando o comportamento cidadão e o querer da comunidade,

responsável pela definição exata do ensino de qualidade para aquela escola.

Além desses suportes internos, há outros externos que podem contribuir

de forma efetiva na melhoria da qualidade do ensino nas escolas públicas.

Uma associação de ex-alunos, por exemplo, pode elaborar projetos

interessantes nas áreas de trabalho, cultura e esportes. Criar parcerias com

associações de moradores e instituições que se encontram no entorno da

escola acrescenta informações e conhecimentos, ajudando o desenvolvimento

do aluno.

Este somatório de fatores criaria os suportes necessários a fim de que o

gestor da escola pública ganhasse condições para constituir uma relação

participativa com a comunidade. Com esta relação, constituir a gestão escolar

democrática e com certeza um ambiente de trabalho saudável, a melhoria na

qualidade da educação pública e as mudanças sociais necessárias para uma

sociedade solidária.

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CONCLUSÃO

Para Cury (2007), a gestão democrática da educação é, ao mesmo

tempo, transparência e impessoalidade, autonomia e participação, liderança e

trabalho coletivo, representatividade e competência.

A construção da gestão escolar democrática, segundo os sujeitos que

participaram da pesquisa, é um caminho real para mudar toda a situação

problemática que compõe o momento atual da escola pública brasileira, pois

contribui para a melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem, gera

motivação e bom relacionamento.

Uma comunidade organizada, com autonomia e direito a participar das

principais decisões da escola, conquista a capacidade de transformar uma

gestão centralizada em democrática, sujeitos acomodados e alienados em

seres humanos motivados e esclarecidos, capazes de compreender a realidade

que os cerca e saber exatamente a importância de sua intervenção para obter

mudanças sociais significativas.

Mas não se pode esperar que a administração das redes de ensino

público se proponha a colocar em prática o paradigma da gestão democrática,

pois, como já se sabe, são comprometidas com o poder político partidário. Por

mais que mascarem as relações de autonomia dentro das escolas, um simples

exame, como este estudo, é capaz de demonstrar que os sujeitos do processo

não possuem espaço para colocar suas opiniões, sugestões ou soluções

ligadas à proposta pedagógica da escola.

Então, foram colocados alguns suportes que têm como objetivo criar

uma base sólida para que a gestão democrática possa não somente ser

construída nas escolas públicas como também ganhar força e consistência a

fim de produzir cidadãos engajados, politizados, conscientes de sua função

social e prontos para uma sociedade mais justa e fraterna.

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BIBLIOGRAFIA

1 – ALMEIDA, Marcus Garcia de e FREITAS, Maria do Carmo Duarte. Atores

Responsáveis pela Educação e seus Papéis. RJ: Brasport, 2011.

2 – Brasil, LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. 9.394,

De 20 de dezembro de 1996. DOU de 20 de dezembro de 1996.

3 – CANDAU, Vera Maria (org.). A didática em questão. – 31. Ed. – Petrópolis

RJ: Vozes, 2011.

4 – FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. SP: Paz e Terra, 2011.

5 – GANDIN, Danilo e CRUZ, Carlos Henrique Carrilho. Planejamento na Sala

De Aula. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

6 – HORA, Dinair Leal da. Gestão Educacional Democrática. Campinas, SP:

Alínea, 2010.

7 – LÜCK, Heloísa. Administração, Supervisão e Orientação Educacional. – 27.Ed.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

8 – MEDINA, Antonia da Silva. Supervisão Escolar – Da ação exercida à ação

Repensada. Porto Alegra, RS: Edipucrs, 1995.

9 – SANTOS, Clóvis Roberto dos. A Gestão Educacional e Escolar para a

Modernidade. SP: Cengage Learning, 2008.

10 – TAVARES, Wolmer Ricardo. Gestão Pedagógica. RJ: Wak, 2009.

11 – VICENTINI, Almir. Gestão Escolar, dicas corporativas. SP: Phorte, 2010.

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WEBGRAFIA

12 – WWW.Aulete.uol.com.br (15/01/2012)

13 – CURY, Carlos Roberto Jamil. WWW.areteeducar.blogspot.com.br. Gestão

Democrática da educação, 2007. (20/03/2012)

14 – WWW.planalto.com.br/civil_03/leis/leis_2001/10.172.htm (22/02/2012)

15 – WWW.planalto.com.br/ccivil_03/Constituição/Constituição.htm (22/02/2012)

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ANEXO

QUESTIONÁRIO

GESTOR

1) O que é uma gestão democrática?

2) Vc considera a sua gestão democrática? Por quê?

3) Que segmentos participam das decisões?

4) Como as decisões são deliberadas?

5) A sua gestão foi eleita? Em caso positivo, como?

6) A escola tem PPP?

7) Como foi elaborado?

8) Vc acha que uma gestão democrática contribui para a melhoria da qualidade

do ensino? Justifique

RESPOSTAS, GESTORES.

1 - Gestor de escola da rede municipal do Rio de Janeiro,

Primeiro segmento do Ensino Fundamental.

1 - Para mim, gestão democrática é aquela que possui o envolvimento de

profissionais e de toda a comunidade nos processos de tomada de decisões

sobre o funcionamento da organização escolar, seja ela, pedagógica,

administrativa e política, ou seja, é através da participação que a gestão

democrática se constitui.

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2 - Sim, pois procuro sempre compartilhar as decisões e informações, me

preocupo com a qualidade da educação e com a relação custo-benefício,

mantenho transparência, ou seja, deixo claro para toda a comunidade como

são usados os recursos da escola, inclusive os financeiros. Enfim, tento

envolver pai, alunos, professores, funcionários e outras pessoas da

comunidade na administração escolar.

3 - Nas duas respostas acima, acabei citando. São eles: professores,

funcionários, direção, pais, alunos e o representante da associação de

moradores.

4 - As decisões são deliberadas em conjunto. Todos orientam, opinam e

decidem sobre tudo o que tem a ver com a qualidade da escola.

5 - Sim, a minha gestão foi eleita. No ano de 2011, a Prefeitura do Rio de

Janeiro lançou a inscrição para o Curso de Gestão Educacional Pública,

realizada pelo SENAC. Neste curso deveríamos ter um bom aproveitamento,

depois fazermos uma prova, elaborarmos um plano de ação de melhoria de

aprendizagem e evasão escolar, apresentá-lo a uma banca e em seguida

passar pela consulta à comunidade, a famosa eleição. Mandato de 3 anos

(2012-2014).

6 - A escola possui PPP.

7 - Ele foi elaborado com o comprometimento de todos os envolvidos no

processo educativo: professores, equipe técnica, alunos, seus pais e a

comunidade de um modo geral. Neste projeto traçamos todas as intenções

educativas da escola, suas diretrizes e metas e também a proposta

pedagógica. Enfim, traz o caminho a ser trilhado por todos na escola.

8 - Eu acho que uma gestão democrática contribui para a melhoria da

qualidade de ensino, porque requer a coordenação dos esforços individuais e

coletivos em torno de objetivos comuns (Ensino de excelência), definidos por

uma determinada metodologia partilhada por toda a comunidade escolar.

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2 - Gestor pedagógico em escola federal

Ex-diretor administrativo de escola da rede estadual

1 – A gestão democrática permite que todos os segmentos da comunidade

participem das principais decisões da escola, como proposta pedagógica, PPP

entre outros.

2 – Considero a minha gestão um passo para alcançá-la, pois ainda há muitos

desafios a superar.

3 – A princípio, os professores, mas aos poucos estamos incluindo os

funcionários, os alunos e os pais.

4 – As questões são colocadas, os presentes colocam opiniões, defendem

propostas, que são votadas.

5 – A gestão atual, pedagógica, foi indicação da direção geral, mas no estado

foi eleita.

6 – A atual tem.

7 – A direção pedagógica anterior nomeou um grupo de professores para fazê-

lo.

8 – Certamente. Quando todos participam, aumenta o compromisso com a

proposta de trabalho, o ambiente se torna mais agradável, criam-se laços de

responsabilidade e afetividade. Esse conjunto só pode dar certo.

3 - Gestor administrativo e pedagógico, rede do município do Rio de

Janeiro, primeiro e segundo segmento do Ensino Fundamental.

1) Fui CP, por 5 anos, depois Adjunta por 6anos e retornei em 2009 para a

função de Coordenadora Pedagógica.

2) Entendo que é uma gestão focada no diálogo. A participação da comunidade

educacional se dá de maneira efetiva, respeitando-se as diferentes opiniões

das pessoas. Dessa forma, o nível de compromisso de todos aumenta,

garantindo a maior possibilidade de fornecer ao alunado uma educação de

qualidade.

3) Sim, por que as orientações recebidas da SME e/ou CRE são repassadas e

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refletidas com o grupo de Professores, e, se for o caso, com todos os

funcionários e também com as representatividades dos grupos da U.E. (Grêmio

Estudantil e CEC).

4) Conforme o teor dessas decisões os segmentos citados acima.

5)

6) Sim, através do voto direto dos alunos acima de 9 anos, pais/respon sáveis ,

Professores e Funcionários.

7) Sim. O PPP surgiu, isto é, foi concluída a sua escrita, em 2007. No entanto,

ele começou a ser elaborado, alguns anos antes. Após amplas dicussões ao

longo desses anos e também através da escuta atenta, de toda equipe

pedagógica, muitas vezes informal, dos sentimentos e expectativas revelados

pelos demais segmentos da nossa comunidade escolar, algumas premissas

foram levantadas dando início ao nosso PPP.

8) Uma gestão democrática está baseada na participação de toda a

comunidade escolar, em todos os setores da U.E.Sendo assim, ela leva a um

maior comprometimento de todos envolvidos nesse processo educacional,

dentro da escola. Consequentemente, favorece a oferta de uma escola de

maior qualidade.

4 - Diretor administrativo da rede do município do Rio de Janeiro,

Educação Infantil.

1 - Sim. A gestão democrática é uma ação de caráter coletivo, realizado a partir

da participação conjunta e integrada dos membros de todos os segmentos da

comunidade escolar. Assim, o envolvimento de todos os que fazem parte,

direta ou indiretamente, do processo educacional no estabelecimento de

objetivos, na solução de problemas, na tomada de decisões, na proposição,

implementação, monitoramento e avaliação de planos de ação, visando os

melhores resultados do processo educacional, é imprescindível para o sucesso

da gestão escolar participativa. A participação dá às pessoas a oportunidade

de controlar o próprio trabalho, sentirem-se autoras e responsáveis pelos seus

resultados, construindo, portanto, sua autonomia. Ao mesmo tempo, sentem-se

parte orgânica da realidade e não apenas um simples instrumento para realizar

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objetivos institucionais. Mediante a prática participativa, é possível superar o

exercício do poder individual e de referência e promover a construção do poder

da competência, centrado na unidade social escolar como um todo.

2 - Sim. Se considerarmos gestão democrática como a participação efetiva dos

vários segmentos da comunidade escolar, pais, professores, estudantes e

funcionários na organização, na construção e na avaliação dos projetos

pedagógicos, na administração dos recursos da escola, enfim, nos processos

decisórios da escola. Quero ressaltar que considero a gestão democrática um

processo de participação coletiva. Sua efetivação na escola pressupõe

instâncias colegiadas de caráter deliberativo, bem como a implementação do

processo de escolha de dirigentes escolares, além da participação de todos os

segmentos da comunidade escolar na construção do Projeto Político-

Pedagógico e na definição da aplicação dos recursos recebidos pela escola.

3 -Todos os segmentos que compõem o Conselho – Escola – Comunidade:

responsáveis,funcionários,professores e Associação de Moradores.Como

trabalho em uma escola exclusiva de Educação Infantil,pela legislação

vigente,os alunos não podem participar da tomada de decisões, já que suas

idades variam entre 4 e 5 anos (Obs:Não temos direito a ter Grêmio Estudantil).

4 - Através de reuniões entre os segmentos.Surge um assunto importante para

ser resolvido na escola,então o representante de cada segmento reúne-se com

seus pares para colher as diversas opiniões.Depois o diretor da escola

organiza uma reunião com os diversos segmentos do Conselho – Escola –

Comunidade,para que cada um apresente as soluções e todas sejam votadas,a

fim de decidir a vencedora.Em caso de empate a decisão final,conforme o

estabelecido,cabe ao diretor.

5 - Sim. Nesse ano houve uma grande mudança no processo de consulta à

comunidade escolar. Em primeiro lugar os interessados deveriam fazer a

inscrição de sua chapa nas Coordenadorias Regionais de Educação indicando

as escolas onde queriam participar da eleição. A SME ofereceu a todos os

professores e/ou especialistas de educação inscritos e que desejassem

participar do processo um curso online sobre Gestão Educacional.Todos os

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novos candidatos eram obrigados a fazer o curso e uma prova sobre os

conteúdos apresentados (presencial).Os diretores que já exerciam a função

não eram obrigados a fazer o curso,mas teriam que participar da prova. Os

diretores cujas escolas obtiveram um IDEB com os índices desejados já foram

considerados capacitados,não precisando fazer o curso ou a prova. Houve uma

segunda etapa, onde todos os já capacitados apresentaram seu Projeto de

Gestão,por escrito, na CRE, a fim de ser analisado.Em seguida, os candidatos

defenderam seus Planos de Ação perante uma banca composta por um

membro da CRE,um membro da SME e uma diretora já certificada pelo índice

do IDEB.A CRE publicou a relação das chapas consideradas aptas a participar

do processo. Em dia marcado, por Portaria, foi realizada a consulta à

comunidade escolar, onde poderiam votar, em uma única urna

professores,responsáveis,funcionários, alunos a partir do 5º ano e um

representante da Associação de Moradores da localidade. A SME baixou

Portaria explicitando as normas para a abertura as urnas (chapa única ou

várias chapas concorrentes) e o quorum para eleger a chapa com o maior

número de votos.

6 - Sim.

7 - Em primeiro lugar, a escola colocou caixas para os responsáveis,

funcionários e professores depositarem sugestões de como a escola poderia

estar mais presente na vida da comunidade (lembrando que nossos alunos são

de EI e não escrevem).Enquanto isso,os professores faziam enquetes com os

alunos para saber o que eles gostariam de ter na escola.De posse das

sugestões e dos resultados das enquetes,foram organizadas três reuniões

entre os membros do CEC, os professores, os funcionários e a direção para

observarem as sugestões mais recorrentes:ganhou a necessidade de uma

melhor qualidade de vida na comunidade.A partir daí,sempre através de

reuniões,a escola construiu o caminho a seguir.A partir daí,todos os

objetivos,conteúdos,atividades e ações foram planejados para contemplar a

melhoria da qualidade de vida da comunidade.

8 - Uma gestão democrática contribui para a melhoria da qualidade do

ensino,mas sozinha não resolve todos os problemas da educação.Os governos

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precisam querer essa melhoria e não apenas ficarem preocupados com os

índices estabelecidos pra que o País pareça aos olhos do mundo ter uma

educação de qualidade.Os professores necessitam de melhores salários,tempo

para se reciclarem (de forma séria,e não essa brincadeira que inventaram

agora), compromisso com a melhoria da educação (isso a direção também

precisa), tempo para elaborarem seus planejamentos, junto com seus colegas

e Coordenadores Pedagógicos,realizando uma justa troca de experiências.As

autoridades precisam ter uma visão compromissada sobre recursos

humanos:não adianta ter Sala de Leitura,Laboratório de Informática,quadras

cobertas,vários computadores,internet,televisões,DVDs e outros equipamentos

de última geração se não existem pessoas nas escolas: professores,agentes

educadores,merendeiros,serventes e etc.Quando à distribuição de verbas

direto nas mãos dos diretores também fica um pouco difícil,pois pintar uma

escola (comprando o material e pagando a mão de obra),manter máquinas

funcionando,comprar material de limpeza,pedagógico e permanente,realizar

reparos no prédio e outras coisitas fica difícil para uma escola pequena,quanto

mais para uma grande,já que o valor da verba é o mesmo;as pessoas de fora

pensam que recebemos muito dinheiro para azeitar a máquina,quando isso não

é verdade. A sociedade brasileira precisa a valorizar a nossa profissão, pois a

educação é que vai promover a grande mudança que o País precisa.E,

principalmente,não deixar que a escola seja um brinquedo para os políticos:

muda o governo,muda a maneira de encarar a educação – educar é um ato

político,mas não é um ato político partidário.Assim,a melhoria da qualidade

da educação não passa somente pela gestão democrática,mas passa

também por ela.

RESPOSTAS, PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS.

1 - Funcionário da rede municipal da cidade do Rio de Janeiro

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1 - Na(s) escola(s) pública(s)onde vc trabalha a direção foi eleita? Em caso

positivo, vc participou do pleito? Sim, a direção foi eleita e eu participei.

2 - Os funcionários são chamados para participar das decisões da escola?

Raramente. E quando acontece de serem chamados, apenas os que trabalham

mais próximos da direção são consultados.

3 - Vc considera a participação dos funcionários nas decisões importante? Por

quê? Sim, considero de extrema importância, pois os funcionários lidam

diariamente com as necessidades dos alunos, pais e até mesmo de outros

funcionários. A participação de funcionários, com certeza poderá favorecer

para um ambiente mais acolhedor.

4 - Vc acha que uma gestão democrática melhoraria seu trabalho e a qualidade

de ensino? Por quê? Claro, quando as decisões são tomadas visando o bem

estar de todos, só vai proporcionar um ambiente mais favorável. Se o

funcionário está feliz, tudo tende a fluir melhor... Por exemplo, nós funcionários,

interagimos a todo instante com os alunos e também com os pais... sabemos

suas reais necessidades e se tivermos o direito de participação junto a direção,

ficará muito fácil suprir essas necessidades, tornando assim, o sucesso

educativo uma realidade em nossas escolas públicas.

2 - Funcionário da rede federal e estadual

1- Sim. Participei do processo eleitoral, votando.

2- Não.

3- Sim. Por que a escola é uma instituição e como tal, todos estão

envolvidos no processo de educar e fazer com que a escola atenda a

sua principal missão que é o sucesso de quem por ela passa. É preciso

que se entenda inclusive o próprio professor, que ele é atividade fim no

funcionamento da escola, e que os outros setores são atividades meio e

que dará o suporte necessário para a efetivação da sua proposta

pedagógica e a concretização do Projeto Político-Pedagógico da Escola.

4- Sim. Por que estaria dando a devida importância aos setores da escola

como disse acima, e estaria valorizando os seus funcionários e

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permitindo que os mesmos se vejam como um elemento importante na

materialização do Projeto da Escola, não apenas como um funcionário

só para fornecer o que é inerente ao seu setor, e isso se agrava ainda

mais nas instituições públicas, pela garantia do emprego e pelo

distanciamento das Direções em relação a esse assunto.

1 - Docente da rede federal

1 - Como vc entende uma gestão escolar democrática?

Acredito que um gestão escolar democrática valorize as opiniões de

todos os envolvidos na construção da escola (professores, funcionários,

alunos/ responsáveis), equilibrando as necessidades de todos. Em uma

gestão democrática, todos os envolvidos participam das decisões.

2 - Vc considera a gestão da escola onde trabalha democrática? Por

quê?

Não. Tenho memória das vezes em que fui comunicada (e não

consultada) a respeito de decisões importantes, diretamente ligadas ao

meu trabalho. Além disso, penso que a natureza militar da escola torne

mais difícil uma gestão mais democrática.

3 - Já trabalhou em uma escola pública cuja gestão fosse

democrática? Em caso positivo, como se sentiu?

Não.

4 - Vc vê alguma importância em uma gestão escolar democrática?

Justifique

Sim, acho importante vivenciar uma participação maior nas decisões

tomadas, pois traria maior senso de responsabilidade - já que mudar o

que incomoda dependeria de todos. E as críticas e as possíveis

soluções partiriam do mesmo lugar, o que faz mais sentido que lançar o

problema e esperar que alguém resolva.

5 - VC conhece o PPP da escola pública onde trabalha? Em caso

positivo, participou dele? Em caso positivo, como? Negativo, por

quê?

Quando fui aprovada no concurso, fui ao site da escola ler as principais

informações, e no link 'Missão' encontrei o que mais se aproxima de

uma proposta pedagógica, mas é bem geral. Acho que não chega a ser

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um Projeto Político Pedagógico. Acho que a escola não tem, ou não

conheço...Não sei responder.

6 - Vc acredita que uma gestão democrática melhore a qualidade do

ensino?

Não creio que seja regra. Uma gestão não democrática pode estar

associada a um ensino de excelente qualidade, no sentido da

preparação profissional, por exemplo. Pode ser que um poder

centralizado consiga atender muito bem à determinada demanda.

Porém, acho que a dimensão democrática pode enriquecer a

experiência de ensino, ser uma saída, quando uma gestão centralizada

não está conseguindo suprir os anseios, as carências da maioria.

2 - Docente da rede federal, com passagem pela estadual e municipal da

cidade do Rio de Janeiro.

1- Como uma gestão em que todas as tomadas de decisão são compartilhadas

com as pessoas envolvidas naquele ambiente.

2 - Mais ou menos. Há ainda algumas práticas com que a maioria não

concorda e mesmo assim acontecem. Isso é pouco democrático.

3 - Sim. Nas duas escolas estaduais em que trabalhei a gestão era bem

democrática. Sentia-se bem e só me desliguei por conta do baixo salário e

porque queria dedicar mais tempo à minha família. Gostava de lá.

4 - Sim. Os profissionais trabalham mais satisfeitos e isso aumenta o seu

comprometimento com a escola, diminui o número de faltas, de licenças, atrai

melhores profissionais para aquele ambiente e a propaganda boca-a-boca fica

muito positiva.

5 - Não. Não. Não participei porque quando cheguei acho que já havia um

antigo. E, na verdade, acho que, na maioria das vezes, é um documento para

"inglês ver".

6 - É possível, mas não certo que isso aconteça. Como já disse, o aumento do

comprometimento dos profissionais com a escola pode ser um fator que gere

essa melhora de qualidade.

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3 - Docente da rede federal

1 - Uma gestão escolar democrática é um desafio perpetuado por várias

instituições de ensino, em que se busca uma integração de professores,

alunos, pais e comunidade, a fim de se traçar as metas que possibilitarão o

desenvolvimento harmônico do sistema educacional.

2 - Não. A administração da minha escola não é democrática, à medida que se

observa que os diversos segmentos coexistentes não interagem, assim como

não participam deliberativamente da sua gestão.

3 - Não.

4 - Uma gestão democrática é importante, a meu ver, por ser legítima. Assim,

reflete os anseios da comunidade escolar, que se torna compromissada em

atingir as metas traçadas no PPP, visto que a escola é construída a partir de

uma ação coletiva.

5 - Não. Quando cheguei à escola, soube em um COC que a escola já possuía

um PPP que oportunamente seria divulgado para todos. No ano passado,

houve a intenção de se elaborar um PPP, mas como a escola está passando

por um processo de renovação ideológica, o PPP deverá vir em decorrência de

um amadurecimento conjunto de toda comunidade escolar, livre de qualquer

vaidade e buscando, sobretudo, refletir os anseios da mesma.

6 - Como a gestão democrática pressupõe uma participação efetiva de toda

comunidade escolar, o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem

estará pautado na realidade da mesma. Dessa forma, acredito em que tal

integração propicie melhoria da qualidade do ensino na escola.

4 - Docente da rede estadual e municipal da cidade do Rio de Janeiro.

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Seguem minhas humildes considerações acerca de um tema que, apesar dos

32 anos de magistério, praticamente não vivenciei na escola pública nem na

privada; espero poder ajudá-lo.

1- Entendo como sendo uma forma de administração escolar em que participe

toda a comunidade que dela faz parte: diretores, professores, funcionários de

apoio, administrativos, famílias e docentes. Devem ser ouvidas todas as ideias

referentes às questões que envolvem o ambiente escolar, porém devem ser

respeitadas as respectivas competências técnicas das dimensões

especificamente pedagógicas, isto é, a dos docentes e especialistas em

educação.

2- Não porque as decisões vêm todas, ou quase todas, "de cima"; as bases

não são ouvidas e, muitas vezes, as decisões são tomadas por pessoas que se

fundamentam numa teoria sem a correspondente prática docente; na minha

concepção uma coisa não funciona sem a outra.

3- Nunca.

4- Sim. Acredito que só com a participação de todos os envolvidos na vida do

educando seria possível dar conta das diferentes necessidades e atribuições

que têm sido absorvidas pela escola nos últimos anos. Tem sido um trabalho

árduo aquele do professor que, além de ensinar, tem que fazer o papel de

pai,mãe, psicólogo, especialista em alunos com necessidades especiais (sem a

devida formação para isso), etc.

5- Não conheço; nunca houve um processo de convocação para a elaboração

de um PPP nem fui apresentada a algum que já existisse.

6- Pelos motivos já expostos na pergunta 4 fica claro que, à medida em que

todos os envolvidos direta ou indiretamente na vida do aluno participem das

tomadas de decisões que o envolvem, o reflexo no trabalho em sala será

imediato.

RESPOSTAS DOS ALUNOS

1 - Aluno da rede municipal da cidade do Rio de Janeiro e da estadual.

1 - Vc sabe o que é uma gestão democrática?

R.: Entendo por gestão democrática aquela que permite que corpo docente,

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discente e comunidade escolar participem da gestão e do dia a dia da escola.

Para isso a direção precisa dividir com todos a feitura do PPP, apresentar de

forma transparente a contabilidade da escola, realizar frequentemente eleições

para direção...

2 - A direção da escola onde vc estuda(estudou) é(era) democrática?

R.: Sim

3 - Vc alguma vez participou de uma decisao importante em sua escola?

Em caso positivo, como?

R.: Sim, participando ativamente do grêmio estudantil.

4 - E seus pais (ou responsáveis) já participaram? Em caso positivo,

como?

R.: Não

5 - Você sabe o que é o Projeto Político Pedagógico de uma escola? Em

caso positivo, participou da construção dele?

R.: Nunca participei, mas acredito que seja o projeto que vai nortear as ações

da escola naquele período letivo.

6 - O diretor da escola onde vc estuda(estudou) foi eleito ou indicado? Em

caso de eleito, vc participou da eleição, votando?

R.: A diretora foi eleita e sim, votei nela. (só não me pergunte o pq...)

7 - Se os alunos participassem das decisões, a escola seria melhor? Por

quê?

R.:Talvez a escola fosse melhor para o próprio aluno, que renderia mais se

participasse mais. Essa aproximação pode levar o aluno a se sentir

responsável pela sua escola, pelo seu bom andamento e, até mesmo, pelo

cumprimento mais efetivo do PPP.

2 - Aluno da rede federal

1- Sim. Gestão democrática é quando todos podem participar das decisões em

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um determinado grupo.

2- Não

3- Não

4- Não

5- Não

6- Indicado

7- Sim. Mesmo com os professores e a direção da escola se dedicando ao

máximo para providenciar as melhores

condições para os alunos, ninguém melhor do que os próprios para saber as

deficiências vividas no dia-a-dia. Qualquer pessoa sente falta de ter suas

opiniões expostas e levadas em consideração, e além disso quanto mais

opiniões estiverem sendo estudadas, a chance de surgir uma solução efetiva e

que ao mesmo tempo agrade à todos, é maior.

3 - Aluno da rede federal

1- Não, ja ouvi falar mas não sei ao certo o que quer dizer!

2- bom em algumas coisas sim, porque tinhamos a liberdade de expressão de

nossas opnões, so que isso servia apenas para ouvir, porque não adiantava

nada, ir da nossa opnião para isso ou para aquilo, que NADA mudava, entao

de certo modo não seguia as regras corretas de demogracia, era como fosse

apenas uma fachada!

3- Não que eu lembre!

4- Não.

5- Nunca ouvi falar,mas de qualquer forma tenho a certeza que nunca

participei.

6- Indicado eu acho, eleição é uma coisa que nunca teve enquanto eu estuei lá,

que foram 10anos, pelo menos não para os alunos referente a isso!

7- Isso independete de eleição ou indicação é indeferença porqe o que conta é

se a pessoa que ocupar esse cargo, sabe fazer as coisas certas e sabe fazer

corretamente tbm!

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4 - Aluno da rede federal, com passagem pela municipal da cidade do Rio

de Janeiro.

1 – R: Não sei o que é uma gestão democrática ao certo. Mas a meu ver, algo

democrático se refere a uma participação de todos em decisões importantes, e

transparência de tudo que se relaciona ao coletivo(publico).

2 – R: Não a considero totalmente democrática. Pois as decisões

principalmente relacionadas aos alunos passavam por um conselho coletivo, o

chamado conselho de classe. Porém esse conselho não tinha nenhuma

participação desses alunos ou pelos menos de uma minoria representativa

deles, e nem mesmo esse conselho era transparente. Eu como estudante pude

testemunhar que os professores não respondiam, quando perguntados por nós

sobre assuntos decididos ou discutidos por esse conselho.

Já as reuniões dos pais sim, é um grande fator democrático. Por outro lado as

decisões de infraestrutura, mensalidade, aplicação e investimento de verbas,

não eram esclarecidas, pelo menos não para meus pais e a mim.

3 – R: Não

4 – R: Creio eu que também não.

5 – R: Sim. Não participei da construção do projeto político pedagógico de

minha escolha nos sete anos que a frequentei.

6 – R: Não sei se o Diretor foi eleito ou indicado. Acho que durante esses sete

anos que estive matriculado, a escolha não mudou de diretor.

7 – R: Com certeza , pois assim a escola estaria muito mais voltada ao

universo estudantil. É obvio que não pode deixar que fique uma coisa

desorganizada para não atrapalhar a finalidade escolar.

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RESPOSTAS DOS PAIS

1 – Pai de aluno da rede municipal da cidade do Rio de Janeiro

(Questionário com as respostas)

1 - Na escola onde seu(s) filho(s) estuda(m) a direção foi eleita? Em caso

positivo, vc participou do pleito? Sim, a direção foi eleita e eu participei.

2 - A direção convida os pais para participarem das decisões? Sim, todos

são convidados... pais, alunos e funcionários.

3 - Vc considera importante a participação dos pais nas decisões da

escola? Por quê? Claro, pois somos nós que podemos dar informações

exatas sobre o ambiente em que vivem nossos filhos... as suas necessidades,

suas carências, seus desejos, suas dúvidas etc.

4 - Vc acha que a participação dos pais ajudaria a melhorar a qualidade de

ensino da escola? Por quê? Sim, acredito que seja fundamental a

participação da família no processo de aprendizagem. Quando participo das

reuniões, por exemplo, é visível a frustração dos alunos, quando seus pais não

comparecem.

Acredito que a participação dos pais, além de incentivar o aluno, faz com que

ele se sinta confiante, vendo que todos interessam por ele. Acho importante

também para mostrar as dificuldades e conhecimentos dos nossos filhos... com

certeza isso pode ser de grande ajuda para o professor.

2 – Pai de aluno da rede estadual e federal

1- Não

2- Não.

3- Sim. 1º- Por que do ponto de vista Legal, em 1996, foi criado a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9394), conhecida como LDB que

nos artigos abaixo transpostos recomenda:

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as

do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

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VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de

integração da sociedade.

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do

ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e

conforme os seguintes princípios:

II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou

equivalentes.

Lei 8,069 – Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.

Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo

pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.

2º- Do ponto de vista Moral e democrático as famílias tem o direito e o

dever de participar no planejamento e na tomada de decisões da

escola, com a criação das AAEs – Associações de Apoio as Escolas e

outros Conselhos semelhantes.

Uma gestão democrática ela materializa em ações concretas a participação

efetiva de todos envolvidos na arte de educar. Com isso, criando junto, o

compromisso de todos de preparar a sociedade para uma condição mais justa

e humana.

4- Sim. Por que enquanto pai e sou convidado a participa na construção de

um projeto comum da escola em que meu filho estuda, vou-me sentir

valorizado e responsável pelo sucesso da educação dele. As famílias precisam

ser envolvidas na construção do Projeto da escola, não apenas nas reuniões

de pais que acabam sendo cansativas e sem ações concretas nas decisões

que lá são propostas, mas, que elas se vejam agentes da materialização das

suas necessidades.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO METODOLOGIA 5

SUMÁRIO 6

INTRODUÇÃO 7

CAPÍTULO I

DEMOCRACIA E GESTÃO ESCOLAR 10

1.1 – A Gestão Escolar 12

1.2 – O Gestor na Escola Pública 14

1.2.1 – A Eleição para Diretor 14

CAPÍTULO II

A PRÁTICA DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA 17

2.1 – A Visão dos Gestores 18

2. 2 – A Experiência dos docentes e dos funcionários 23

2.3 – A Importância dos Alunos 28

2. 4 – O Afastamento dos Pais 30

CAPÍTULO III

A CONSTRUÇÃO DE UMA GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA 32

3. 1 – A Formação do Gestor 34

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3. 2 – A Intervenção do Gestor Democrático 37

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ANEXO 44

ÍNDICE 61