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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
BAIXO DINAMISMO E DEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA: UM DIAGNÓSTICO DO BRASIL
PERANTE A QUINTA REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
Eduardo Arenhardt Wontroba
Santa Maria, RS, Brasil
2014
BAIXO DINAMISMO E DEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA: UM
DIAGNÓSTICO DO BRASIL PERANTE A QUINTA
REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA
Eduardo Arenhardt Wontroba
Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Relações Internacionais
Graduação em Relações Internacionais, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,RS),
como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais
Orientador: Prof. Adriano José Pereira
Santa Maria, RS, Brasil
2014
Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais e Humanas Graduação em Relações Internacionais
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho Final de Graduação
BAIXO DINAMISMO E DEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA: UM DIAGNÓSTICO DO BRASIL PERANTE A QUINTA REVOLUÇÃO
TECNOLÓGICA
elaborada por Eduardo Arenhardt Wontroba
como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais
COMISSÃO EXAMINADORA:
Adriano José Pereira, Dr. (Presidente/Orientador)
Uacauan Bonilha, Dr. (UFSM)
Elder Estevão de Mello, Ms. (UFSM)
Santa Maria, 17 de janeiro de 2014.
The real source of wealth and capital in this new era is not material things;
it is the human mind, the human spirit, the human imagination,
and our faith in the future.
(Steve Forbes)
Learning and innovation go hand in hand.
The arrogance of success is to think that
what you did yesterday will be sufficient for tomorrow.
(C. William Pollard)
RESUMO
Diante das novas oportunidades de desenvolvimento tecnológico criadas a
partir da ascensão do paradigma microeletrônico, este trabalho busca averiguar
acerca da condição brasileira dentro do paradigma tecnológico vigente. Baseado em
dados, o estudo avalia as repercussões decorrentes da trajetória de
desenvolvimento tecnológico adotada pelo País a partir da segunda metade do
século XX até os anos recentes. Também é brevemente abordada a situação do
conjunto de instituições que contribuem para o desenvolvimento e absorção de
novas combinações, conhecido como Sistema Nacional de Inovação. O ponto
central será descrever o posicionamento da estrutura produtiva brasileira em relação
à fronteira tecnológica, tanto em termos domésticos quanto internacionais. Com
base nos indicadores analisados, verificou-se que a trajetória de desenvolvimento
dos últimos 50 anos relegou o Brasil a uma condição de menor dinamismo e
crescente dependência tecnológica.
Palavras-chave: Desenvolvimento Econômico. Comércio Exterior. Industrialização
Brasileira. Estratégias de Catching Up.
ABSTRACT
Before the new opportunities of technological development created by the
ascent of the microelectronic paradigm, the following essay pursues discussing about
the Brazilian condition within the current technological paradigm. Supported by data,
the study assesses the repercussions stemming from the technological development
trajectory adopted by the Country from the second half of the 20th century to the
recent years. It is also briefly addressed the situation of the set of institutions that
contribute to the development and absorption of new combinations, known as the
National Innovation System. The focus is to describe Brazil’s productive structure’s
positioning in relation to the technological frontier, both in domestic and international
terms. Based on the analyzed indicators, it was verified that the development
trajectory from the last 50 years relegated Brazil to a condition of lower dynamism
and growing technological dependence.
Keywords: Economic Development. Foreign Trade. Brazilian Industrialization.
Catching Up Strategies.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – O ciclo de vida de uma revolução tecnológica............................................... 21
Figura 2 – Variação dos componentes do custo de ingresso em relação às quatro
fases do ciclo de vida de uma tecnologia. ......................................................................... 26
Figura 3 – Período de mudança de paradigma como a melhor oportunidade para dar
um salto à frente. ................................................................................................................... 29
Gráfico 1 – Evolução da indústria de transformação como proporção percentual do
PIB no período (1970 – 2012), preços básicos................................................................. 40
Gráfico 2 – Participação setorial dos fluxos de investimentos estrangeiros diretos no
período 1995-2009 – em milhões de US$. ........................................................................ 41
Gráfico 3 – Participação percentual da indústria no valor adicionado total, 1996 –
2011. ........................................................................................................................................ 44
Gráfico 4 – Valor agregado pelos setores ao PIB (a preços básicos), 1947 – 2012. . 45
Gráfico 5 – Composição da estrutura industrial brasileira (VTI ) por intensidade
tecnológica a preços constantes de 2007 (milhões R$), 1996 – 2011. ........................ 46
Gráfico 6 – Evolução da densidade produtiva brasileira (VTI/VBPI) por intensidade
tecnológica a preços constantes de 2007 (milhões R$), 1996 – 2011. ........................ 48
Gráfico 7 – Participação percentual da indústria sobre o valor adicionado global
durante o período de 1996 – 2011: países selecionados. .............................................. 57
Gráfico 8 – Evolução da participação da indústria de transformação no PIB durante o
período de 1996 – 2011: países selecionados. ................................................................ 58
Gráfico 9 – Valor adicionado às manufaturas pelos setores de material eletrônico e
de aparelhos e equipamentos de comunicações nos anos de 2000 e 2011: países
selecionados. .......................................................................................................................... 59
Gráfico 10 – Saldo comercial brasileiro e contribuição da indústria de transformação
e demais produtos (bilhões de US$ FOB), 1996 – 2013 (1T). ....................................... 61
Gráfico 11 – Participação das exportações por intensidade tecnológica, 1996 – 2013
(%). ........................................................................................................................................... 62
Gráfico 12 – Participação das importações por intensidade tecnológica, 1996 – 2013
(%). ........................................................................................................................................... 63
Gráfico 13 – Saldo comercial por intensidade tecnológica (milhões de US$ FOB),
1996 – 2013. ........................................................................................................................... 64
Quadro 1 – Cinco Revoluções Tecnológicas Sucessivas, 1770 a 2000. ..................... 18
Quadro 2 – Participação dos 10 principais setores no total dos estoques dos IDEs no
Brasil, em anos selecionados. ............................................................................................. 36
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 10
2 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SEGUNDO A ABORDAGEM
EVOLUCIONÁRIA ............................................................................... 12
2.1 Inovação e desenvolvimento para Schumpeter .................................................. 13
2.2 Paradigmas e trajetórias tecnológicas ................................................................ 15
2.3 Revoluções tecnológicas, paradigmas tecno-econômicos e ondas longas de
desenvolvimento ...................................................................................................... 17
2.4 Paradigmas tecno-econômicos, janelas de oportunidade e catching up ............ 23
2.4.1 Desenvolvimento como um ‘alvo móvel’ .......................................................... 28
2.5 O papel do Sistema Nacional de Inovação ........................................................ 30
3 A TRAJETÓRIA DE DESENVOLVIMENTO DO BRASIL DURANTE A
SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX ................................................ 33
3.1 A primeira fase de catching up brasileiro............................................................ 34
3.2 A abertura econômica e seus impactos sobre a indústria .................................. 38
3.3 Transformações recentes na estrutura produtiva brasileira................................ 42
3.4 Dependência tecnológica e o atraso do Sistema Nacional de Inovação ............ 49
4 A CONDIÇÃO BRASILEIRA DIANTE DA QUINTA REVOLUÇÃO
TECNOLÓGICA ................................................................................... 53
4.1 Características da quinta revolução tecnológica ................................................ 54
4.2 A estrutura produtiva brasileira sob perspectiva internacional ........................... 56
4.3 Análise do conteúdo tecnológico do comércio exterior ...................................... 60
5 CONCLUSÃO ................................................................................... 66
REFERÊNCIAS .................................................................................... 69
Apêndice A – Correspondência entre classificações por intensidade tecnológica da
PIA-PINTEC versus OCDE ...................................................................................... 73
Anexo A – Alocação de recursos para o esforço tecnológico, Brasil e Coréia do Sul.
................................................................................................................................. 74
10
1 INTRODUÇÃO
O surgimento de novos produtos e processos decorrentes da ascensão do
paradigma microeletrônico provocou profundas transformações no cenário
internacional a partir da segunda metade do século XX. Esse fenômeno, além de
aumentar a interdependência econômica entre os países, revitalizou toda a estrutura
produtiva dos países avançados e proporcionou às economias emergentes novas
oportunidades de catching up (emparelhamento) tecnológico.
Contudo, em contraste às demais economias emergentes, como a Coreia do
Sul e China, o Brasil não tem se mostrado capaz de tomar o devido proveito dessas
oportunidades. Diferentemente do que acontecera durante o processo substitutivo
de importações, onde existiu uma estratégia clara de industrialização do país,
observa-se que a indústria nacional vem perdendo participação no valor adicionado
à economia. Ainda, dentro do setor industrial, o país aparentemente vem se
especializando na produção de bens intensivos em recursos naturais, que retiram o
dinamismo da economia e reforçam a dependência tecnológica brasileira.
Diante dessa constatação, surgem no cenário acadêmico debates acerca do
relativo atraso tecnológico e baixa competitividade da estrutura produtiva do país,
apontando a possibilidade de a indústria nacional estar passando por um processo
de desindustrialização precoce. O tema torna-se relevante ao ser levada em
consideração a importância geralmente atribuída ao setor industrial, considerado
dotado de capacidade de dinamizar a economia, difundir progresso técnico e reduzir
a vulnerabilidade externa.
Buscando sintetizar os argumentos sobre esse assunto, o presente trabalho
analisa a trajetória de desenvolvimento brasileiro com o intuito de averiguar qual
seria a condição atual do país no paradigma tecnológico vigente. Nesses termos,
buscam-se evidências empíricas na estrutura produtiva em variáveis relacionadas
tanto a termos domésticos quanto no âmbito internacional que possam caracterizar a
situação do país na dinâmica tecnológica mundial.
Antes de iniciar a análise propriamente dita, o segundo capítulo apresenta a
base teórica para o estudo da trajetória de desenvolvimento tecnológico do Brasil
11
nos últimos anos. No capítulo, são apresentados os principais conceitos da
abordagem evolucionária visando uma melhor fundamentação dos capítulos
subsequentes.
O terceiro capítulo foi dividido em duas partes. Suas duas seções iniciais
relatam as estratégias de catching up adotadas pelo Brasil durante a segunda
metade do século XX. Em seguida, a terceira e quarta seções, respectivamente
utilizam-se da contextualização para realizar uma análise das transformações na
estrutura produtiva e institucional resultantes da trajetória adotada pelo país durante
o período exposto.
Com a finalidade de complementar a análise do final do capítulo dois, o
capítulo seguinte realiza comparações no âmbito internacional sob o contexto da
quinta revolução tecnológica, marcada pela predominância do paradigma
microeletrônico. No capítulo, são analisados tanto o desempenho da estrutura
produtiva brasileira diante das outras economias quanto em termos da participação
relativa dos setores industriais na balança comercial do país.
12
2 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SEGUNDO A ABORDAGEM
EVOLUCIONÁRIA
Diante de um mundo cada vez mais intensivo em conhecimento, a abordagem
evolucionária apresenta-se como forte ferramenta de análise das dinâmicas
econômicas de empresas, países e regiões. A ênfase dada ao empreendedorismo e
à inovação, identificada como a fonte propulsora do desenvolvimento econômico, é o
que torna a abordagem atrativa para intelectuais buscando maior compreensão
acerca da trajetória tecnológica dos seus objetos de estudo.
A importância da inovação no aumento da riqueza dos países é reconhecida
pela maioria das teorias econômicas, mas ela também permite às pessoas fazerem
coisas que nunca foram feitas antes, gerando profundas mudanças na qualidade de
vida da sociedade como um todo. Inovação é essencial não apenas para os que
buscam acelerar ou manter o crescimento econômico, mas também para os que
buscam mudar a direção do avanço tecnológico.
Feitas tais considerações, o capítulo tem por objetivo criar um embasamento
teórico para o estudo da trajetória brasileira dos últimos anos, que será o objetivo de
estudo do capítulo 3.
A primeira seção descreve a abordagem schumpeteriana da inovação e
desenvolvimento econômico para que depois sejam apresentados os pressupostos
da abordagem evolucionária, também chamada de neo-Schumpeteriana.
A segunda seção trata das noções de trajetória e paradigma tecnológicos de
Giovanni Dosi, vitais para a compreensão de ambas as mudanças contínuas e
descontínuas das inovações tecnológicas.
A terceira seção apresenta o modelo histórico-analítico de Carlota Perez,
embasado no pressuposto de que o progresso econômico se dá através de
revoluções tecnológicas desencadeadas por mudanças descontínuas no ciclo
econômico. Ainda, cada grande surto de desenvolvimento pode ser dividido em
quatro fases, relacionadas à adoção e amadurecimento da revolução tecnológica e
seu respectivo paradigma.
13
Como continuação, a próxima seção parte da premissa de que durante as
distintas fases de uma revolução tecnológica surgem janelas de oportunidade, as
quais se apresentam como possibilidades de inserção e emparelhamento
tecnológico. Ainda, a seção indica que os agentes perseguem um ‘alvo móvel’
devido ao fato de que enquanto uma revolução está atingindo a maturidade, outra já
está sendo gestada nos países avançados.
A seção final do capítulo trata do papel do Estado dentro de uma perspectiva
de emparelhamento. Esse papel está relacionado à condução dos esforços dos
agentes econômicos para uma estratégia comum, além de portar-se como um
intermediário entre o ambiente doméstico e supranacional.
2.1 Inovação e desenvolvimento para Schumpeter
Deve-se à Schumpeter a distinção básica entre inovações e invenções – esta
sendo uma ideia, desenho ou modelo para um novo produto, processo ou sistema
(que não necessariamente se transformará em uma inovação), enquanto aquela
somente seria alcançada com a primeira transação comercial envolvendo o novo
produto, processo ou sistema. Desse modo, para uma invenção tornar-se uma
inovação, ela teria de passar pelo teste de mercado.
Para o autor, a vida econômica caracteriza-se por uma tendência do sistema
econômico para uma posição de equilíbrio, onde cada bem encontra o seu mercado
na medida em que é produzido. Segundo ele, existem mudanças bruscas que
alteram o estado de equilíbrio de tal modo que não podem ser captadas por uma
análise estática do fluxo circular. A ocorrência dessas mudanças ‘revolucionárias’ é
justamente o problema central do processo de desenvolvimento econômico.
Assim, Schumpeter vê o fenômeno do desenvolvimento como um processo
endógeno, inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular.
Processo que não se daria através do crescimento da população ou riqueza, e sim
através de perturbações descontínuas na vida econômica que deslocam para
sempre o estado de equilíbrio vigente.
14
Juntamente das inovações e do crédito, que possibilita a realização das
primeiras, Schumpeter aponta um terceiro elemento como o fenômeno fundamental
do desenvolvimento econômico: o ‘empreendimento’ – que seria a realização de
novas combinações. Assim, o empresário teria a função de agente inovador, que
desapareceria após a nova combinação ter se consolidado na vida econômica,
sobrando apenas o caráter de administrador.
Na teoria do autor, as transformações econômicas partem do produtor (oferta)
através de novas combinações de meios produtivos e os consumidores (demanda)
se adaptam a elas – são educados a querer os novos produtos. Diante de uma
distinção entre inovações contínuas e descontínuas conforme sua realização,
Schumpeter afirma que apenas as últimas geram desenvolvimento por serem as
únicas capazes de deslocar o estado de equilíbrio da economia.
Esse caráter descontínuo das inovações é o que marca o desenvolvimento
econômico como um processo cíclico de períodos de prosperidade e crises. A
descontinuidade existe porque as inovações aparecem em grupos, de tal modo que
o fluxo circular é incapaz de absorvê-las sem que nenhuma perturbação no equilíbrio
aconteça1. O fenômeno acontece porque, diante do sucesso dos pioneiros e da
remoção de alguns obstáculos, imitadores os seguirão na busca de retornos
similares.
O aparecimento em grupo necessita de um processo de absorção especial e distinto, de incorporação de coisas novas e de adaptação a elas do sistema econômico. Esse processo é a essência das depressões periódicas, que, portanto, podem ser definidas, do nosso ponto de vista, como o combate do sistema econômico no sentido de uma nova posição de equilíbrio, sua adaptação aos dados alterados pela perturbação trazida pelo boom (SCHUMPETER, 1957, p. 153).
Para o autor, o boom cria uma situação que ultimamente resulta em uma
depressão, a qual conduz para uma nova posição de equilíbrio, caracterizada por
relativa fixidez e ausência de desenvolvimento. Finalmente, o período de depressão
acaba cumprindo o que o boom prometeu: a corrente de bens é enriquecida, a
produção reorganizada, os custos de produção diminuídos e o que inicialmente era
1 Para Schumpeter (1957), as inovações aparecem em bandos porque o aparecimento de um ou de
poucos empresários acaba facilitando o aparecimento de outros, em um processo sempre crescente.
15
lucro empresarial acaba incrementando as rendas reais das outras classes, gerando
uma melhor qualidade de vida.
Os pressupostos de Schumpeter foram uma fonte de ruptura à ortodoxia
dominante da sua época e tornaram-se inspiração para a construção de outros
paradigmas teóricos. Diante disso, surgem autores com ideias complementares,
também apontando pra inovação como força motora da dinâmica econômica,
chamados de neo-Schumpeterianos ou evolucionistas.
2.2 Paradigmas e trajetórias tecnológicas
Para Dosi (1982), tecnologia seria um conjunto de porções de conhecimento
utilizáveis para a resolução de problemas específicos.
Levando esse pressuposto em consideração, o autor parte de uma analogia à
noção de Thomas Kuhn (1962) sobre ‘paradigmas científicos’, definidos por Dosi
(1982, p. 152) como modelos para a resolução de problemas relevantes, para criar
sua própria noção de ‘paradigmas tecnológicos’: “[…] um ‘modelo’ ou um ‘padrão’
para solução de problemas tecnológicos específicos derivados das ciências naturais
e tecnologias naturais específicas”.
De maneira simplificada, o que o autor afirma é que a busca de soluções para
determinados problemas tecnológicos tenderia, normalmente, a concentrar-se nos
entornos das soluções já conhecidas e nos esforços para o aperfeiçoamento dos
conhecimentos necessários para tal fim.
O autor, então, define uma trajetória tecnológica2 como sendo “[...] um
padrão para a atividade ‘normal’ de solução de problemas no contexto de um
determinado paradigma tecnológico”.
2 Como características básicas das trajetórias tecnológicas, Dosi (1982) aponta que elas podem variar
conforme força e abrangência; são complementares entre si – explicando a adaptabilidade do progresso de uma área em outra correlata; têm a tendência de acumular ‘progresso’, no sentido de que o progresso futuro pode depender das decisões passadas; e que devido à essa cumulatividade do progresso, a mudança de trajetória pode se tornar difícil caso seja feita a partir de uma trajetória bastante internalizada.
16
Outra importante contribuição do modelo do autor foi sua associação entre o
surgimento e difusão de novos paradigmas tecnológicos e suas repercussões na
estrutura das firmas. A mudança técnica seria dividida em duas fases: a fase do
processo de pesquisa e seleção de novos paradigmas tecnológicos, seguida pela
fase de progresso técnico dentro de uma trajetória definida. Para Dosi (1982, p.
157), “[…] a distinção entre [essas] duas fases tecnológicas provavelmente
corresponde historicamente a dois diferentes conjuntos de características de uma
indústria, relacionados à sua emergência e à sua maturação”.
Normalmente o primeiro período, de emergência de novas tecnologias, é
caracterizado por empresas novas. Em contrapartida, a segunda fase corresponde
ao que Dosi (1982) chamou de ‘maturidade oligopolista’, quando a distinção entre
produção, exploração e difusão comercial das inovações diminui e a mudança
técnica torna-se elemento de competição oligopolista.
Diante da constatação da natureza cumulativa do progresso tecnológico e da
existência de estruturas oligopolistas, o autor conclui que dificilmente o processo de
mudança técnica por si só trará a convergência entre países de diferentes níveis
tecnológicos. Para Dosi (1982, p. 161), “[…] políticas de imitação tecnológica podem
não ser suficientes e intervenção pública aspirando um catching up pode ter de
afetar fluxos de comércio, investimento direto, e a estrutura da indústria doméstica”.
As noções de paradigma tecnológico e trajetórias tecnológicas de Giovanni
Dosi (1982) apresentam-se como importantes ferramentas para a compreensão dos
mecanismos envolvidos nas interações entre o progresso técnico e a evolução dos
sistemas econômicos. As mesmas servirão como base para a exposição e
aprofundamento do tema acerca das possibilidades de catching up dentro dos
diferentes estágios de uma trajetória tecnológica específica.
17
2.3 Revoluções tecnológicas, paradigmas tecno-econômicos e ondas longas
de desenvolvimento
Antes de abordar o tema de catching up, é necessário aprofundar o assunto
das trajetórias tecnológicas e o processo de mudança tecnológica. Para isso, utilizar-
se-á do modelo histórico-analítico de Perez (2002) sobre ondas longas de
desenvolvimento, no qual o progresso tecnológico é visto como um dos principais
elementos para a execução das estratégias de catching up.
O modelo de Perez (2002, p. 8) tem como base a ideia de que o progresso se
dá através de revoluções3 tecnológicas que ocorrem a cada meio século, definidas
como “[…] um poderoso e claramente visível cluster de novas e dinâmicas
tecnologias, produtos e indústrias, capazes de provocarem uma reviravolta em toda
a estrutura da economia e de impulsionarem um aumento de longo prazo no
desenvolvimento”.
Desse modo, cada revolução tecnológica seria uma explosão de novos
produtos, indústrias e infraestruturas inter-relacionadas em uma constelação de
inovações.
Enquanto isso, o desenvolvimento pode ser conceituado como uma trajetória
de acumulação tecnológica e capacidades sociais dependentes do aproveitamento
de sucessivas e diferentes janelas de oportunidade.
Através da conexão entre a emergência/declínio de diferentes paradigmas
tecnológicos com a sucessão de ondas longas de desenvolvimento, Perez (2002)
identifica que o crescimento econômico, desde fins do século XVIII, passou por cinco
revoluções tecnológicas sucessivas, conforme o Quadro 1.
Cada revolução tecnológica resultaria da interdependência de um grupo de
indústrias com uma ou mais redes de infraestrutura específicas. De acordo com o
que Dosi (1982) fala sobre a complementaridade das trajetórias tecnológicas, Perez
(2002) confirma que é comum o potencial revolucionário ser gerado pelo
encadeamento entre novos e antigos produtos. De fato, muitos dos produtos e
3 O termo ‘revolução’ é dado por estes avanços tecnológicos serem capazes de se espalharem para
os mais diversos ramos da sociedade, modificando de forma permanente as interações entre os agentes que a compõem.
18
indústrias que aparecem na nova constelação já existiam por algum tempo, seja em
papel econômico relativamente menor, seja como complementos para indústrias
predominantes.
Quadro 1 – Cinco Revoluções Tecnológicas Sucessivas, 1770 a 2000.
Revolução
Tecnológica
Nome popular da
época4
País (ou países) núcleo Inovações que deram início à
revolução (Big-bang) Ano
Primeira A ‘Revolução Industrial’ Inglaterra Abertura da fábrica de algodão de
Arkwright em Cromford
1771
Segunda Era do Vapor e das
Ferrovias
Inglaterra (espalhando-se
para a Europa e EUA)
Teste do motor a vapor ‘Rocket’ para
a ferrovia Liverpool-Manchester
1829
Terceira Era do Aço, Eletricidade
e Engenharia Pesada
EUA e Alemanha
ultrapassando a Inglaterra
A abertura da fábrica de aço
Carnegie-Bessemer em Pittsburgh,
Pensilvânia
1875
Quarta Era do Petróleo, do
Automóvel e Produção
em Massa
EUA (com Alemanha em
primeiro lugar disputando a
liderança mundial), se
espalhando para Europa
O primeiro Modelo-T sai da fábrica da
Ford em Detroit, Michigan
1908
Quinta Era da Informação e
Telecomunicações
EUA (espalhando-se para
Europa e Ásia)
O microprocessador da Intel é
anunciado em Santa Clara, Califórnia
1971
Fonte: Perez (2002, p. 10-11).
O surgimento desse conjunto de novas indústrias, acompanhado por uma
infraestrutura facilitadora, possibilita profundas mudanças na estrutura industrial do
meio. Contudo, os antigos modelos organizacionais se apresentam incapazes de
tomar máximo proveito desse acontecimento porque as novas oportunidades geram
4 Perez (2002, p. 10) aponta que esses foram os nomes capturados pela ‘imaginação popular’ dos
períodos relevantes. A Revolução Industrial é marcada pela inauguração da Era Industrial; a Era do Vapor e das Ferrovias é como as pessoas da metade do século XIV se referiam ao período e o mesmo aconteceria na Era do Aço e Eletricidade, quando o aço substituiu o ferro e a ciência transformou toda indústria. No começo do século XX, era a Era do Automóvel e Produção em Massa, e o período recente vem recebendo alcunhas de Era da Informação e Sociedade do Conhecimento.
19
profundas transformações no ‘modo de fazer as coisas’ ao longo de toda a
economia, apontada por Perez (2002) como uma mudança de paradigma.
Um paradigma tecno-econômico é, assim, um modelo de ‘prática-ótima’ criado a partir de um conjunto de princípios tecnológicos e organizacionais, universais e genéricos, os quais representam o modo mais eficaz de aplicar uma determinada revolução tecnológica e de utilizá-la para modernizar e rejuvenescer toda a economia. Quando amplamente adotados, esses princípios tornam-se a base do ‘senso comum’ para organizar qualquer atividade e estruturar qualquer instituição (PEREZ, 2002, p. 15).
É importante apontar que o paradigma tecno-econômico possui um caráter
dual, servindo tanto como força motora da difusão quanto como de retardamento. É
uma força motora por fornecer um modelo de práticas que pode ser seguido por
todos, contanto que seus princípios sejam socialmente aprendidos. Contudo, esse
aprendizado precisa superar as forças inerciais que advém do sucesso do
paradigma anterior.
Assim, cada revolução tecnológica leva a uma substituição maciça de um
conjunto de tecnologias por outro, quer por uma substituição definitiva, quer pela
modernização dos equipamentos, processos e formas de operação existentes. A
cada ciclo, o que pode ser considerada a ‘nova economia’ enraíza-se onde a antiga
economia tem encontrado problemas.
Retomando, cada surto de desenvolvimento5 acontece de forma gradual
através de grandes saltos de aproximadamente cinco ou seis décadas. Perez divide
esse período em duas fases distintas, cada uma com duração de aproximadamente
três décadas, e um intervalo de reacomodação entre as duas.
Os primeiros 20 ou 30 anos são historicamente caracterizados pela batalha
entre o antigo e o novo: o período de instalação é quando o novo paradigma é
aprendido e o antigo é gradualmente esquecido. Ainda, é quando são criadas as
novas infraestruturas correlacionadas ao novo paradigma, gerando as principais
externalidades para facilitar a aplicação das novas tecnologias.
5 Para Perez (2002), um grande surto de desenvolvimento pode ser definido como o processo pelo
qual a revolução tecnológica e o seu paradigma propagam-se pela economia.
20
O período subsequente é o chamado de desprendimento, quando o pleno
potencial de geração de riqueza do paradigma pode ser alcançado. Enquanto que
no período de instalação o capital financeiro6 dita o rumo da economia, o período de
desprendimento é regido pelo capital produtivo, provendo maior estabilidade ao
crescimento do paradigma, que se espalha para parcelas cada vez maiores da
população e países.
Entre os dois períodos existe o que a autora chama de intervalo de
reacomodação (turning point), geralmente uma recessão, que envolve a
recomposição de todo o sistema visando passar o controle da economia do capital
financeiro para o capital produtivo. Nesse intervalo, a recessão cria as condições
necessárias para que as instituições sejam reestruturadas a partir do paradigma
tecno-econômico emergente, o que geralmente é atingido através da intervenção
governamental, com regulações limitando muitos dos abusos do capital financeiro
que vêm à tona com a crise.
Seguindo na análise de Perez, ambos os períodos – de instalação e de
desprendimento – são cada um divididos em outras duas fases distintas, conforme
apresentado na Figura 1.
O período de instalação de cada paradigma tecno-econômico passa por uma fase de irrupção, quando os novos produtos e tecnologias, endossados pelo capital financeiro, estão mostrando seu futuro potencial em um mundo ainda basicamente moldado sobre o paradigma anterior. A segunda metade é a fase de frenesi, quando o capital financeiro impulsiona a intensa construção de novas infraestruturas e novas tecnologias, para que, no final, o potencial do novo paradigma seja instalado de forma consistente na economia e preparado para o pleno desprendimento (PEREZ, 2002, p. 47).
Assim, a fase de irrupção caracteriza-se como o surgimento da revolução
tecnológica com o auxílio do capital financeiro. Embalada pelas boas perspectivas
de lucro advindas dos ganhos de produtividade do novo paradigma, a fase de
frenesi não é só marcada pela expansão da revolução, mas também por crescentes
6 Em relação aos termos ‘capital produtivo’ e ‘capital financeiro’, a autora está se referindo aos
agentes econômicos e suas disposições, e não ao capital por si só. Assim, o termo ‘capital financeiro’ refere-se ao comportamento dos agentes possuidores de riqueza na forma de dinheiro ou outros ativos. Em contraste, ‘capital produtivo’ incorpora o comportamento dos agentes que geram nova riqueza através da produção de bens ou prestação de serviços. Desse modo, os últimos podem utilizar-se do dinheiro dos primeiros para executarem suas tarefas e depois repartirem a riqueza adquirida.
21
tensões estruturais causadas pelo domínio do capital financeiro sobre o sistema
econômico, que impossibilitam o acesso ao máximo potencial do paradigma.
Fonte: Traduzido pelo autor a partir de Perez (2002, p. 30).
É durante o período de frenesi que surgem as ‘inovações financeiras’ que
resultam na dissociação entre a riqueza real, do lado da produção, e a riqueza
virtual, beneficiada pela ascensão da bolsa de valores e dos novos instrumentos
financeiros. Como resultado das tensões estruturais causadas por essa dissociação,
geralmente surge uma bolha tecnológica-financeira, que ultimamente leva para uma
recessão.
O intervalo de reacomodação (turning point) é marcado pela reformulação
institucional, com o objetivo de criar as condições necessárias para a expansão dos
mercados e o retorno do capital produtivo ao comando da economia. Após a
Figura 1 – O ciclo de vida de uma revolução tecnológica
22
reformulação, o papel do capital financeiro passa a ser o de fortalecimento do capital
produtivo e do apoio ao processo de crescimento real da economia. Basicamente, o
intervalo de reacomodação caracteriza-se como a reconciliação do capital produtivo
com o capital financeiro.
Somente quando as tensões são superadas e a economia está moldada
conforme o paradigma em vigor, o período de desprendimento começa. Sua primeira
fase, a fase de sinergia, é marcada por uma época em que o paradigma se torna
dominante e a plena prosperidade pode ser atingida.
O ciclo termina com a fase de maturidade, quando os mercados começam a
dar sinais de estagnação e as oportunidades de investimento nos produtos do
paradigma se restringem a inovações complementares de baixa lucratividade. No
final da fase de implantação, as indústrias tradicionais da revolução começam a
encontrar seus limites e passam a buscar estratégias alternativas para continuarem
lucrativas, como migrações geográficas e customizações.
Conforme os países-núcleo atingem a fase de maturidade e seus mercados
ficam gradualmente saturados, os países periféricos apresentam-se como
alternativas de ‘sobrevida’ aos produtos do paradigma. Por parte dos países
periféricos, esses podem se aproveitar da oportunidade para realizarem um catching
up tecnológico.
Para os países almejando um catch up, o desafio básico é aprender a dominar novas formas de fazer as coisas. (...) A inovação envolvida no catch up não é a que economistas estudando avanço tecnológico em países na fronteira [tecnológica] tendem a denotar com o termo. A inovação em catching up envolve trazer e aprender a dominar maneiras de fazer as coisas que já podem ter sido usadas por algum tempo nas economias avançadas do mundo, apesar de serem novas para o país ou região (NELSON, 2006, p. 10).
Devido à existência de um estoque de capital ocioso7 no final de cada
revolução tecnológica, os países atrasados podem utilizar-se dessa disponibilidade
de financiamento externo como forma auxiliar para suas estratégias de catching up.
7 Para Perez, existe um potencial de acumulação de riqueza inercial no final da revolução tecnológica
resultante das posições de monopólio das grandes empresas estabelecidas, que facilita a inserção e expansão de novos mercados. Contudo, as inovações complementares características do final da fase de maturidade nos países núcleo possuem ciclos de vida curtos e são incapazes de propriamente absorver o capital financeiro disponível.
23
Perez (2002, p. 85) complementa: “[…] se não com ajuda financeira, a maioria dos
casos de avanços reais significativos beneficiaram-se dos fluxos de conhecimento e
tecnologia, os quais de uma forma ou de outra vêm dos países líderes do momento”.
Desse modo, a fase final de uma revolução tecnológica pode ser vista como
uma janela de oportunidade para um possível emparelhamento dos países
atrasados. Contudo, uma estratégia fundamentada nessa ideia depende de bom
planejamento e execução: quando bem executada, pode levar a uma posição mais
avançada, como no caso dos Tigres Asiáticos; quando mal executada, pode acabar
aprofundando a dependência tecnológica do país, como no caso brasileiro.
2.4 Paradigmas tecno-econômicos, janelas de oportunidade e catching up
Conforme visto nas seções anteriores, as possibilidades de ingresso de uma
empresa, país ou região, em determinada altura de uma revolução tecnológica são
dependentes de capacidades previamente acumuladas pelos atores. Capital
previamente adquirido é necessário para que novo capital seja gerado, do mesmo
modo que a preexistência de conhecimento é necessária para que novo
conhecimento possa ser absorvido, e um determinado nível de desenvolvimento é
demandado para a criação das infraestruturas e instituições necessárias para que a
próxima fase de desenvolvimento tenha sucesso. Esse fenômeno é conhecido como
path dependence8.
Como consequência desse fenômeno, a trajetória tecnológica dos agentes
econômicos pode se ver ‘aprisionada’ (locked in) a um círculo vicioso de restrições
às suas possibilidades de desenvolvimento. O objetivo dessa seção é demonstrar
que a intensidade desse fenômeno varia conforme a revolução tecnológica progride,
criando janelas de oportunidade para a superação dessas restrições através de um
processo de catching up.
8 De acordo com Arend e Fonseca (2011), o fenômeno de path dependence está relacionado com o
fato da experiência previamente adquirida condicionar a tomada de decisões no presente. Assim, as trajetórias de desenvolvimento dos países seriam dependentes das formas de aprendizado tecnológico e políticas econômicas do passado.
24
Já foi mencionado que diante da progressiva estagnação dos mercados e
perspectivas de lucros decrescentes ao atingir a fase de maturidade de um
paradigma tecnológico específico, os países-núcleo buscam dar uma ‘sobrevida’ ao
paradigma através da difusão de seus produtos para os países periféricos atrasados.
Contudo, como os produtos da fase de maturidade já exauriram seu dinamismo
tecnológico, essa trajetória provê ao segundo grupo de países apenas um curto
surto de progresso, com baixo dinamismo e dependente de ajuda externa.
Em contraste, Perez e Soete (1988, p. 459) afirmam que um verdadeiro
processo de catching up “[…] somente pode ser alcançado através da aquisição da
capacidade para participação na geração e aperfeiçoamento das tecnologias, em
oposição ao simples ‘uso’ dessas. Isso significa ser capaz de entrar ou como um
imitador inicial ou como inovadores de novos produtos e processos”.
Aponta-se a existência de algumas barreiras de entrada vitais para a
compreensão das dificuldades encontradas pelos países buscando ingresso em
determinada revolução tecnológica. Além dos custos de investimento fixo, as
empresas ainda precisam levar em consideração pelo menos três grupos de
elementos que contribuem na determinação do real custo de entrada:
1) O custo dos conhecimentos científico e técnico necessários para a
assimilação da inovação, que diminui conforme a quantidade de
conhecimento relevante a empresa já possui. Desse modo, o quão
mais perto da fronteira tecnológica9 em termos de conhecimento a
empresa estiver, menores serão os custos. Em comparação, um
imitador com o mesmo estoque de conhecimento que o inovador teria
menos gastos, já que o primeiro não precisaria arcar com custos das
‘falhas’ de desenvolvimento10.
2) O custo da aquisição de experiência para manejar a inovação e levá-
la com sucesso ao mercado. Nesse caso, experiência nos
pressupostos do paradigma passado pode apresentar-se como um
custo adicional. 9 Para Dosi (1982), a fronteira tecnológica seria o mais alto nível alcançado dentro de uma trajetória
tecnológica. 10
As falhas de desenvolvimento são geralmente relacionadas aos custos para o desenvolvimento do produto inicial, englobando a pesquisa e desenvolvimento, otimização dos insumos, buscas de fornecedores, teste de mercado, etc.
25
3) E, finalmente, o custo para superação de quaisquer desvantagens
‘locais’ relacionadas à infraestrutura comum e outras condições
econômicas e institucionais que cercam a firma. Nesse grupo, se
enquadram tanto elementos de geografia econômica, como distância
dos fornecedores, adequação da infraestrutura de transporte,
disponibilidade de mão-de-obra qualificada, quanto do quadro
institucional do país, como burocracia, impostos, subsídios e tarifas,
sindicatos e até mesmo a aceitação da população local em relação ao
novo produto.
Assim, as barreiras de ingresso são uma combinação onde cada um dos
elementos mencionados acima impõem limites mínimos, abaixo dos quais o ingresso
torna-se praticamente inviável. Para Perez e Soete (1988, p. 469), “[…] em geral,
pode-se dizer que o que determina o nível de (des)vantagens relevantes para a
firma em determinada localidade é a história de desenvolvimento previamente
estabelecida”.
Feitas as observações necessárias, o próximo passo é utilizar-se dos
elementos descritos para fazer uma análise das barreiras de ingresso durante a
progressão de uma determinada tecnologia. Isso permitirá esboçar quais são os
períodos ótimos para o ingresso em um paradigma tecno-econômico específico.
Segundo Freeman e Soete (1997), quando um produto ou processo é
introduzido pela primeira vez, o mesmo se encontra em forma relativamente primitiva
e é submetido a sucessivas melhorias incrementais com a finalidade de torná-lo
mais eficiente, seja através da redução de custos de produção, seja através de
melhorias de qualidade e performance. Conforme o modelo do ciclo de vida de um
produto, a trajetória de inovações incrementais pode ser representada em ‘forma de
S’ – inicialmente com melhorias lentas, para depois acelerar e reduzir outra vez.
Isso implica que os custos de ingresso variam em relação à evolução da
inovação dentro de sua trajetória tecnológica. Consequentemente, os custos de
cada um dos componentes dos custos de ingresso também variam conforme as
tecnologias evoluem com a progressão das fases do ciclo de vida do produto.
A Figura 2 ilustra em cada diagrama as quatro fases do ciclo de vida do
produto e os diferentes tipos de requisitos de cada uma delas. A Fase I representa o
período de introdução da inovação, quando o foco está no produto por si só,
26
enquanto que a Fase II é o período de rápido crescimento do mercado, onde o foco
passa a ser no processo de produção para a busca de aumentos de eficiência e
produtividade. Na Fase III, com as principais condições já estabelecidas, o foco
passa a ser a captura de market share e, finalmente, a Fase IV é caracterizada pela
padronização de ambos os produtos e processos juntamente de retornos
decrescentes nos investimentos em melhorias tecnológicas, típicas da fase de
maturidade, o que pode resultar na realocação das plantas produtivas ou na
concentração em outras inovações por parte das firmas estabelecidas (FREEMAN;
SOETE, 1997).
A primeira fase pode ser considerada a fase do empresário schumpeteriano –
marcada por inovações radicas e alto grau de utilização do conhecimento científico.
Nela, vantagens locais podem ser cruciais para a adoção bem sucedida da inovação
e os investimentos em capital fixo são relativamente baixos em comparação com o
montante necessário conforme a tecnologia progride.
Fonte: Traduzido pelo autor a partir de Perez & Soete (1988, p. 473).
Na segunda fase, conforme o paradigma tecno-econômico é gradualmente
incorporado no produto e na produção, os custos de conhecimento técnico e
científico caem para os imitadores enquanto que os custos de aquisição de
habilidades específicas crescem junto da experiência gradualmente adquirida pelas
Figura 2 – Variação dos componentes do custo de ingresso em relação às quatro fases do
ciclo de vida de uma tecnologia.
27
firmas já estabelecidas. Os custos relacionados com aspectos locais também
diminuem conforme a economia se adapta às novas inovações enquanto que os
custos de capital fixo crescem devido à otimização da planta em ambos tamanho e
equipamento.
A terceira fase é o período em que os custos de experiência e know-how
atingem seu ápice devido à importância dada para processos gerenciais e ampliação
de mercados – captura de market share. Essa é a fase de ingresso menos viável.
Finalmente, a fase de maturidade apresenta queda na maioria dos custos de
ingresso: o conhecimento está quase completamente incorporado no processo
produtivo e as proficiências estão bem codificadas, podendo ser adquiridas por
países atrasados dispostos a pagar por elas.
Conclui-se que as Fases I e IV fornecem as condições de ingresso mais
acessíveis, porém com custos e requisitos distintos. Na Fase I, o ingresso durante
estágios iniciais da tecnologia pode ser feito com pouco capital e experiência, mas
com quantia relevante de conhecimentos técnico e científico juntamente de
vantagens comparativas locais. Em contraste, o ingresso na Fase IV requer
consideráveis quantias de investimento para a aquisição de tecnologia. Além dessas
distinções, Perez e Soete (1988) apontam que o ingresso na fase inicial não garante
a sobrevivência da empresa, já que isso requer investimentos e esforços para
geração e aprimoramento do produto de modo a mantê-lo competitivo. Enquanto
isso, o ingresso na fase de maturidade é muito mais seguro, contanto que o produto
não seja substituído por um novo.
(…) catching up supõe um processo de desenvolvimento dinâmico, alimentado pela inovação local e mercados crescentes. Isso requer um ingresso tão cedo quanto possível. Surpreendentemente, além da fase de maturidade das tecnologias, o outro momento em que jogadores mais frágeis confrontam barreiras superáveis não é nas fases dois e três, mas sim na fase um. Este passa a ser o ponto de ingresso mais promissor, porque os lucros potenciais são altos, há amplo espaço para crescimento do mercado e produtividade, além dos custos de investimento serem relativamente baixos (PEREZ, 2001, p. 113).
Um dos pontos fracos da abordagem teórica do ciclo de vida do produto é que
ela considera que os produtos são independentes entre si. Entretanto, Perez e Soete
(1988), da mesma forma que Freeman (1997), observam que os produtos são
complementares e interconectados em sistemas tecnológicos. Nesse sentido,
inovações sucessivas dentro de um sistema seriam equivalentes a sucessivos
28
aperfeiçoamentos de uma inovação correlacionada. Isso significa que cada ‘novo’
produto beneficia-se do conhecimento e experiência de seus antecessores,
reforçando o fenômeno de path dependence do desenvolvimento econômico.
2.4.1 Desenvolvimento como um ‘alvo móvel’
Da mesma forma que as inovações possuem uma trajetória progressiva, os
sistemas tecnológicos também partem de uma fase inicial, passando por uma fase
de crescimento até a maturidade. Pode-se concluir que cada revolução tecnológica
nada mais seria que um conjunto de sistemas tecnológicos11.
Dentro dessa lógica, uma mudança de paradigma tecno-econômico acaba
afetando toda a gama de sistemas tecnológicos em vigor. Isso implica que em
períodos de mudança de paradigma, as firmas e países que acumularam grandes
vantagens na tecnologia antiga enfrentam custos crescentes para livrarem-se da
experiência e das externalidades ‘incompatíveis’ com o novo paradigma. Por outro
lado, recém-chegados podem apoderar-se dos novos conhecimentos e habilidades
de maneira mais fácil e rápida.
(…) o que isso significa para países atrasados é que durante os períodos de mudança de paradigma, existem dois tipos de condições favoráveis para o catching-up. Em primeiro lugar, há tempo para aprendizado enquanto todos estão fazendo o mesmo. Em segundo lugar, dado um nível razoável de capacidade produtiva, vantagens locais e suficiente dotação de recursos humanos nas novas tecnologias, uma janela de oportunidades é temporariamente aberta, com baixos requisitos de entrada (PEREZ; SOETE, 1988, p. 477).
Para Perez (2001), os países em desenvolvimento estão perseguindo um
‘alvo móvel’ que não apenas avança progressivamente, mas também muda de
direção aproximadamente a cada meio século. Isso ocorre porque enquanto os
países atrasados aproveitam-se da fase de maturidade de uma trajetória
tecnológica, os motores de crescimento do próximo paradigma já estão sendo
estabelecidos dentro dos países avançados. Contudo, a autora aponta que é
11
Ao caracterizar uma revolução tecnológica, Perez (2001) a define como um conjunto de sistemas tecnológicos que criam condições necessárias para o aparecimento de novos sistemas, cada um seguindo os mesmos princípios e obtendo benefícios das mesmas externalidades.
29
justamente nessa época – durante o período de transição de paradigmas – que as
condições mais favoráveis para o avanço tecnológico ocorrem.
Durante o período de mudança de paradigmas, as tecnologias do paradigma
anterior coexistem com as do novo e duas janelas de oportunidades são abertas
simultaneamente: da Fase 1, de introdução das novas tecnologias, e da Fase 4, de
‘sobrevida’ das tecnologias maduras, conforme indicado na Figura 3.
Fonte: Traduzido pelo autor a partir de Perez (2001, p. 119).
Nesse cenário, existe uma perfeita oportunidade para dar um salto para frente
devido à possibilidade de utilizar-se das práticas do novo paradigma para
modernizar e rejuvenescer as tecnologias maduras. O maior desafio é continuar na
trajetória durante as fases II e III, o que requer crescente apoio do meio econômico,
inovações constantes e grande capacidade de manobra em relação aos mercados e
alianças, para fazer frente à crescente competição característica desses períodos.
Figura 3 – Período de mudança de paradigma como a melhor oportunidade para dar um salto à
frente.
30
(…) durante a transição, (…) as fontes de crescimento se tornam acessíveis, pois na fase inicial do novo paradigma pode-se obter, durante um tempo limitado, acesso direto ao saber científico e à experiência gerencial, que normalmente se constituem em “barreiras de entrada” para os países retardatários (AREND, 2009, p. 50).
Perez (2001) ainda aponta a existência de uma terceira possibilidade de
catching up no contexto atual, de globalização. Segundo a autora, muitas indústrias
do quinto paradigma optaram por operar internacionalmente desde a fase de
irrupção, em contraste às indústrias do paradigma anterior, as quais se propagaram
nacionalmente antes de passarem para a internacionalização. A repercussão disso é
que surgem possibilidades para as indústrias participarem de redes globais com
arranjos variados e de produzirem localmente para exportação através de empresas
globais.
Finalmente, os processos de rápido crescimento e desenvolvimento
historicamente foram frutos de estratégias de desenvolvimento tecnológico bem
planejadas. Isso significa que é necessário às empresas, países ou regiões estarem
cientes e bem-informados da fase evolutiva que determinado paradigma se encontra
para que possam ser definidos tratados de cooperação mútua com seus
competidores avançados, além de estratégias de acordo com as capacidades locais
previamente acumuladas, com o intuito de amenizar as barreiras de ingresso
existentes. Dentro desse contexto, tudo indica que o Estado tem papel fundamental
no processo de emparelhamento.
2.5 O papel do Sistema Nacional de Inovação
Cabe aqui diferenciar o que Schumpeter havia chamado de desenvolvimento
no século XX, que foi abordado na primeira seção desse capítulo, e o que
desenvolvimento significa atualmente. Apesar do desenvolvimento de Schumpeter
estar relacionado ao processo de transformação econômica desencadeado pela
inovação, o conceito estava muito mais relacionado à noção geral do
desenvolvimento capitalista que do desenvolvimento das economias nacionais.
Segundo Cassiolato e Lastres (2008), podem-se distinguir três características
do processo de desenvolvimento: 1) é marcado por mudanças na estrutura
31
econômica e social, ou seja, descontinuidades tecnológicas e/ou produtivas que são
ao mesmo tempo a causa e causadas pela estrutura produtiva, social, política,
institucional de cada nação; 2) é um processo sistêmico – capaz de gerar ‘retornos
crescentes’ devido aos ganhos que se obtém com as mudanças técnicas, de criação
e de aprendizado; 3) a percepção da especificidade do processo para cada país está
relacionada à ideia de que cada país possui a sua trajetória de desenvolvimento
particular – ou idiossincrática. Consequentemente, cada país possui um sistema de
inovação com características próprias e a utilização de estratégias de outros países
como modelo não necessariamente resultará em resultados iguais.
Pode-se dizer que a inovação é a mais importante componente da estratégia
de desenvolvimento; é a premissa principal para que se pense em desenvolvimento
a partir da montagem do sistema nacional de inovação.
Diante do que foi exposto até agora, o Sistema Nacional de Inovação (SNI)
apresenta-se como uma forma de abordagem complementar, adicionando uma
dimensão nacional à noção schumpeteriana de desenvolvimento (VIOTTI, 2002).
Sistemas de inovação são definidos como conjuntos de instituições distintas que contribuem para o desenvolvimento da capacidade de inovação e aprendizado de um país, região, setor econômico ou localidade, e constituem uma série de elementos e relações que interagem com a produção, assimilação, uso e difusão do conhecimento. (…) Capacidade inovativa deriva, portanto, da reunião de fatores específicos sociais, políticos, institucionais e culturais, e do meio em que os agentes econômicos operam (CASSIOLATO; LASTRES, 2008, p. 7).
De maneira simplificada, um sistema de inovação seria um conjunto de
instituições que contribuem para o desenvolvimento e difusão de novas tecnologias.
Nesse sentido, segundo Sbicca e Pelaez (2006), o sistema de inovação seria uma
ferramenta de intervenção governamental através da qual políticas de Estado podem
ser criadas e implementadas com a finalidade de influenciar o processo inovativo de
setores, regiões e nações.
Nessa designação, o Estado pode ser visto como um agente coordenador da
economia, estimulando a capacitação tecnológica através de políticas distintas –
como de definição de diretrizes para o sistema, geração de infraestrutura necessária
e de uma política de ciência e tecnologia adequada às aspirações de
desenvolvimento do país. A devida articulação desses atores acaba gerando um
32
efeito sinérgico, visto que o progresso em determinada trajetória tecnológica é
marcado pela complementariedade entre os avanços dos atores envolvidos.
Conforme foi mencionado nas seções anteriores, a mudança de um
paradigma para outro cria janelas de oportunidade. Para que um país tenha êxito na
sua estratégia de catching up, é importante que se tenha construído um sistema de
inovação capaz de responder às necessidades específicas do paradigma vigente.
Nelson (2006) acredita que se tornará mais difícil definir e sustentar uma
indústria nacional devido à progressiva internacionalização do mundo. As diferenças
entre empresas tenderão a diminuir de importância porque o mundo está se
tornando mais unificado culturalmente. Por outro lado, as empresas dos países
avançados estão crescentemente forjando alianças com empresas de outros países,
a fim de partilhar custos e contornar barreiras criadas por políticas governamentais.
Diante desse cenário, governos terão de aprender a lidar com empresas
transnacionais para que possam definir estratégias de desenvolvimento efetivas.
Concordando com isso, Perez (2001) afirma que o sucesso em uma
estratégia de desenvolvimento para os países atrasados demandará alto nível de
cooperação entre empresas, e entre elas e o Estado. Nesse sentido, o Estado
poderia exercer sua liderança induzindo ações convergentes dos atores na direção
da mudança tecnológica; agindo como um ‘intermediário’ entre os diferentes níveis
domésticos e supranacionais.
Finalmente, dentro de uma análise do sistema nacional de inovação, é
observado que as políticas devem levar em consideração o lado sistêmico das
revoluções tecnológicas e a trajetória idiossincrática de cada país. Somente assim
será possível a criação de estruturas adequadas para um processo de
desenvolvimento de acordo com as especificidades de cada país. É justamente
devido a tal fato que a perspectiva histórica apresenta-se como importante elemento
de análise para os países buscando êxito em suas trajetórias de emparelhamento.
33
3 A TRAJETÓRIA DE DESENVOLVIMENTO DO BRASIL DURANTE A
SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX
A partir da Revolução Industrial na segunda metade do século XVIII
industrialização tornou-se sinônimo de progresso, crescimento e desenvolvimento.
Dentro da abordagem evolucionária, tal asserção torna-se ainda mais válida visto
que o setor industrial é o que geralmente possui maior capacidade inovativa dentro
da estrutura produtiva. Para Cano (2012, p. 2), “[…] não há, na história, nenhum país
que se desenvolveu prescindindo de uma generalizada industrialização e de um
forte e ativo papel de seu Estado Nacional”.
Seguindo essa concepção, ao longo do século XX, o Brasil assumiu uma
estratégia de desenvolvimento visando transformar sua economia
predominantemente agroexportadora para uma de base industrial. Depois da década
de 30 até pelo menos a década de 70, o país passou por um forte processo de
industrialização por meio de um modelo substitutivo de importações.
Barros de Castro (2003) divide essa trajetória em duas fases de catching up
distintas, que serão respectivamente tratadas na primeira e segunda seção do
capítulo.
A modernização da estrutura industrial brasileira, iniciada em torno de 1940 e
completa na década de 1980, é apontada pelo autor como resultante de um
processo inicial de catching up bem sucedido. Depois, a segunda fase de catching
up é caracterizada como a modernização da produção e absorção de melhorias
organizacionais e tecnológicas durante o período de abertura econômica, nos anos
1990.
De modo similar, Arend e Fonseca (2011) observam que o período de 1950-
1980 proporcionou o catching up brasileiro ao paradigma em maturação da quarta
revolução tecnológica através do recurso ao capital internacional. Contudo, ao
delegar às empresas multinacionais os setores-chave da dinâmica econômica
nacional durante esse período, o país tornou-se dependente tecnologicamente.
Assim, diante da irrupção da quinta revolução tecnológica nos países avançados e
das reformas liberais da década de 1990, o Brasil mostrou-se incapaz de competir
internacionalmente nos setores econômicos mais dinâmicos, ultimamente optando
34
pela especialização em setores intensivos em recursos naturais, resultando em uma
queda na participação da indústria de transformação no PIB.
Feita a exposição da trajetória de desenvolvimento nas últimas décadas, a
terceira seção aborda o tema referente ao baixo dinamismo e dependência
tecnológica resultantes das estratégias adotadas pelo País. Isso é feito através de
uma análise das transformações passadas pela estrutura produtiva brasileira durante
o período recente.
Na quarta seção, diante da constatação da dependência tecnológica do
Brasil, é tratado do papel do Sistema Nacional de Inovações no que tange a
evolução tecnológica do país. É abordado o relativo atraso do conjunto de
instituições relacionadas à atividade inovativa com o intuito de complementar a
análise das repercussões da trajetória de desenvolvimento adotada.
O capítulo tem como objetivo fazer um breve relato acerca da trajetória de
desenvolvimento industrial do Brasil, além de analisar sua condição resultante.
Devido à importância dada para a análise histórica – e do fenômeno de path
dependence – pela abordagem evolucionária, tal exercício servirá como fundamento
para situar a condição do País em perspectiva internacional, sob o contexto da
quinta revolução tecnológica, no capítulo posterior.
3.1 A primeira fase de catching up brasileiro
De acordo com Versiani e Suzigan (1990), pode ser afirmado que somente a
partir da década de 1950 o Estado brasileiro passou a se empenhar na promoção do
desenvolvimento industrial do país. Contudo, é a partir de 1956/57 que pode ser
observada uma política deliberada e coordenada para a industrialização, com a
implementação do Plano de Metas.
O principal objetivo do Plano de Metas do governo Juscelino Kubitschek
(1957 – 1961) era o estabelecimento das bases de uma economia industrial madura
no país. Isso seria feito através de uma estratégia composta pelos seguintes
elementos:
35
1) Uma articulação do papel do Estado ao capital privado,
estabelecendo metas para investimentos em infraestrutura e indústrias
consideradas estratégicas para o desenvolvimento do país, como dos
setores de insumos básicos, química, mecânica e elétrica pesadas,
materiais de transporte e bens de consumo duráveis;
2) Um sistema de proteção que resultou em elevação substancial do
protecionismo da indústria no mercado doméstico;
3) Financiamento ao investimento industrial;
4) E aumento da participação direta do Estado através de
investimentos nas indústrias de insumos básicos e infraestrutura.
Segundo Arend (2009), entre o segundo governo Vargas e o governo JK
ocorreu uma importante mudança na estratégia de desenvolvimento brasileiro.
Durante esse período – da década de 1950 – a estratégia deixa de ser nacional-
desenvolvimentista para fundamentar-se no desenvolvimentismo-internacionalista.
Diante dessa mudança, a estratégia de industrialização passa a basear-se em
políticas de incentivo e atração de recursos externos, principalmente de
investimentos estrangeiros diretos (IED).
A opção pela estratégia desenvolvimentista-internacionalista passou a condicionar fortemente a trajetória de crescimento econômico nacional, passando-se a depender, em maior magnitude, da presença do capital estrangeiro nos setores dinâmicos do processo de industrialização e da construção de arranjos financeiros alternativos atrelados ao movimento cíclico das finanças internacionais (AREND, 2009, p. 116).
Concomitante a esse período, a quarta revolução tecnológica transitava da
sua fase de sinergia (fase III) para maturidade (fase IV), na qual as indústrias-núcleo
começavam a apresentar retornos decrescentes em consequência da saturação dos
mercados de seus países de origem. Diante dessa situação, buscavam-se formas de
prolongar o ciclo de vida das indústrias características do paradigma – o que explica
a liquidez internacional que possibilitou a execução da estratégia brasileira.
A base tecnológica dinâmica da quarta revolução era caracterizada por uma
ênfase nos complexos metal-mecânico-químico. Consequentemente, os setores
mais dinâmicos desse paradigma seriam os relacionados a esses complexos, como
36
a indústria automobilística e os setores de produtos químicos e petróleo. Conforme
pode ser observado no Quadro 2, foi justamente nesses setores que o Brasil mais
recebeu investimento externo direto.
Quadro 2 – Participação dos 10 principais setores no total dos estoques dos IEDs no Brasil,
em anos selecionados.
1950 1960
Energia elétrica: 27.1% Indústria automobilística: 11.4%
Petróleo: 12.9% Petróleo: 11%
Bancos: 6.9% Produtos químicos: 10.8%
Produtos químicos: 5.9% Metalurgia: 5.4%
Alimentos: 5.6% Alimentos: 5%
Aparelhos eletrônicos: 4.9% Farmacêuticos: 4.5%
Indústria automobilística: 3.2% Aparelhos eletrônicos: 4.3%
Metalurgia: 2.4% Siderurgia: 3.6%
Cimento: 2.3% Atividades comerciais: 3.3%
Farmacêuticos: 1.5% Autopeças: 2.8%
1970 1979
Indústria automobilística: 11.5% Produtos químicos básicos: 11.38%
Produtos químicos básicos: 10.9% Mecânica: 10.41%
Petróleo: 6% Material elétrico e comunicação: 8.79%
Aparelhos eletrônicos: 5.9% Metalurgia: 8.67%
Metalurgia: 5.5% Veículos automotores: 8.5%
Farmacêuticos: 4.8% Produtos medicinais, farmacêuticos e veterinários: 4.01%
Serviços liberais: 4.6% Autopeças: 3.1%
Energia elétrica: 4.4% Indústria extrativa mineral: 2.8%
Alimentos: 3.7% Siderurgia: 2.7%
Máquinas para a indústria: 3.4% Produtos alimentares: 2.6%
Fonte: Curado e Cruz (2008).
Conclui-se que o processo de industrialização pesada da economia brasileira
foi caracterizado pela concentração de investimentos em atividades industriais,
particularmente nas indústrias de transformação, de setores dinâmicos do paradigma
metal-mecânico-químico. Nesse sentido, percebe-se que a estratégia teve êxito no
sentido de proporcionar um emparelhamento ao paradigma em vigor já na década
de 1960.
Segundo Versiani e Suzigan (1990), no começo dos anos 1980 a estrutura
industrial brasileira já estava praticamente completa. Tal fenômeno foi alcançado sob
37
uma estratégia de substituição de importações fortemente influenciada pelo Estado
através de políticas de proteção e promoção industrial. Contudo, a desvantagem do
modelo adotado é que a economia ficou extremamente fechada, mantendo as
indústrias nacionais longe da dinâmica do mercado internacional. O resultado desse
protecionismo exagerado e permanente foi o desenvolvimento de uma indústria com
elevado grau de ineficiência e, por isso, incapaz de competir interna e
internacionalmente, além de possuir pouca criatividade em termos tecnológicos.
Arend (2011) explica que conforme as trajetórias tecnológicas das indústrias-
núcleo do paradigma esgotam-se, a taxa de investimento tende a diminuir nos
países centrais. Devido a isso, o ‘dinheiro ocioso’ não para de crescer na fase de
maturidade. Nesse sentido, os períodos do ‘milagre brasileiro’ e do II PND foram
potencializados pela existência de liquidez internacional que compensou a
incapacidade do sistema financeiro nacional em ofertar financiamento de longo
prazo. Entretanto, essa dependência ao investimento estrangeiro diminuiria a
necessidade por esforços nacionais para a internalização de um núcleo endógeno
de desenvolvimento tecnológico, que viria a ser necessário para o ingresso
autônomo na revolução tecnológica seguinte.
A década de 1980 anuncia a chegada de um novo período de crescente divergência tecnológica mundial, anulando alguns avanços alcançados por muitos países periféricos no período anterior, em especial pelo Brasil. (…) Enquanto alguns países periféricos ainda estavam experimentando milagres tardios de sinergia com o paradigma vigente, outros já estavam avançando na fase de turbulências e tensões provocadas pela seguinte revolução tecnológica (AREND, 2011, p. 17).
Seguindo o paradigma da nova revolução, o eixo dinâmico da atividade
industrial nos países desenvolvidos deixou de ser o complexo metal-mecânico-
químico para ser o complexo eletrônico (relacionado ao paradigma microeletrônico).
Devido a tal acontecimento, além das novas indústrias do novo paradigma, as
indústrias-núcleo do paradigma anterior passaram por uma revitalização causada
pela implantação de práticas do novo paradigma, que reforçou as perspectivas de
lucro nos países-núcleo da nova revolução. Consequentemente, a capacidade das
indústrias desses países de absorverem o capital ocioso foi renovada, diminuindo as
perspectivas de financiamento externo para os países periféricos.
38
Em contraposição aos países que conseguiram se adaptar ao paradigma
microeletrônico, houve um movimento de estagnação da participação dos setores
industriais mais dinâmicos da nova revolução na estrutura industrial brasileira. Isso
foi seguido por um aumento significativo da participação das indústrias
processadoras de recursos naturais, indicando uma tendência à especialização na
produção de commodities e queda na participação da indústria de transformação no
PIB, temas que serão tratados posteriormente no estudo.
Segundo Arend (2011), o Brasil levou ao extremo o recurso da poupança
externa. No momento em que cessou a liquidez internacional, foram evidenciadas as
debilidades internas da estratégia de delegação às empresas estrangeiras os
setores-chave da economia doméstica.
É diante da combinação do esgotamento da capacidade do Estado de
promoção do desenvolvimento industrial com a estagnação econômica no decorrer
da década de 1980 que novas propostas de política econômica passaram a ganhar
força no início dos anos 1990.
3.2 A abertura econômica e seus impactos sobre a indústria
Com o crescente agravamento do processo inflacionário e dos desequilíbrios
macroeconômicos, a década de 1990 coloca em pauta a ineficiência do Estado
como empresário. O protecionismo exagerado da economia brasileira, bem como as
dificuldades de gestão das contas públicas, abriu espaço para as reformas
neoliberais que resultariam na abertura comercial e financeira do país.
Com a crise fiscal dos anos 1980, o país abandona o regime de substituição de importações e entra na década de 1990 seguindo uma agenda de reformas liberalizantes na economia e com um programa de estabilização inflacionária bem-sucedido, o Plano Real. Em 1988, grande parte das barreiras não tarifárias foi abolida e algumas tarifas nominais foram reduzidas. Em 1990, o governo anunciou uma política comercial mais radical. Quase todas as barreiras não tarifárias foram abolidas, e a política comercial passou a basear-se somente nas tarifas de importação e na taxa de câmbio (MENEZES FILHO; KANNEBLEY JÚNIOR, 2013, p. 405).
39
A abertura econômica pôs em evidência a fragilidade da estratégia de
desenvolvimento assumida pelo Brasil nas décadas anteriores. De acordo com
Versiani e Suzigan (1990), o mercado doméstico se manteve isolado durante muito
tempo da competição internacional e, embora tenha conseguido diversificar sua
economia e promover um emparelhamento à quarta revolução tecnológica, o país
não conseguiu alcançar nível satisfatório de competitividade internacional. Diante
desse cenário, as privatizações apresentaram-se como alternativas atrativas para
gerar eficiência e competitividade nos setores necessários da economia.
Segundo Arend (2009), a abertura comercial e financeira resultou em um
retorno para a estratégia de crescimento com poupança externa aos moldes do
ocorrido no Plano de Metas, conferindo ao capital internacional o papel de principal
agente transformador de uma estrutura industrial atrasada. Assim, o processo de
abertura econômica, como resultado de um movimento de empresas transnacionais
e capital estrangeiro, proporcionou ao Brasil uma segunda fase de catching up.
De acordo com Barros de Castro (2003), o princípio orientador dessa segunda
fase de catching up envolvia a ‘tropicalização’ dos produtos e processos que já
haviam sido dominados nas economias avançadas. O objetivo era induzir empresas
locais a produzirem imitações de bens importados a preços competitivos no mercado
doméstico, através da recombinação de recursos e aspectos já existentes na
economia.
Diferentemente do primeiro período de catching up, onde esforços foram
concentrados na criação de uma estrutura manufatureira, esse período pode ser
basicamente caracterizado como uma modernização da cesta de produtos
domésticos através da absorção de melhorias organizacionais e tecnológicas. Desse
modo, devido às dificuldades encontradas pelas empresas locais em competirem
internacionalmente, a estratégia adotada foi o foco no mercado doméstico.
Diante da ascensão do paradigma microeletrônico, o país mostrou-se incapaz
de ingressar de forma autônoma no novo paradigma. Dentro desse cenário, Arend e
Fonseca (2011) observam que junto da redução na participação dos setores mais
dinâmicos do novo paradigma houve uma redução na participação da indústria de
transformação no PIB, conforme exposto no Gráfico 1.
40
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
VA - indústria VA - indústria de transformação
Fonte: Elaborado a partir de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2012).
Segundo os autores, essa queda de participação pode ser em parte explicada
pela re-especialização da economia em setores intensivos em recursos naturais, os
quais retiraram dinamismo da indústria e da totalidade da economia. Devido a essa
redução, a abertura econômica tornou o Brasil mais sensível aos choques externos,
sendo um forte aumento na taxa de juros a maneira utilizada para garantir
segurança à economia através da atração de capital estrangeiro.
Arend (2009) aponta que os fluxos estrangeiros recebidos pela economia
nacional durante esse período seriam característicos da fase de frenesi de uma
revolução tecnológica: possuíam caráter especulativo, não produzindo crescimento
nas taxas de investimento da economia. Ainda, apesar da crescente disponibilidade
de capital estrangeiro, grande parte concentrou-se no setor de serviços,
acompanhado por queda relativa no da indústria, vide Gráfico 2.
Gráfico 1 – Evolução da indústria de transformação como proporção percentual do PIB no
período (1970 – 2012), preços básicos.
41
0,00
15.000,00
30.000,00
45.000,00
60.000,00
75.000,00
Indústria Serviços Agricultura, pecuária e extrativa mineral
Fonte: Elaboração a partir de dados do Banco Central do Brasil (2012).
Desse modo, o IED dos anos 1990 não foi capaz de substituir as importações,
nem promover um processo de catching up à quinta revolução tecnológica, já que se
concentrou no setor de serviços.
(…) acreditou-se que a atração de empresas transnacionais seria suficiente para integrar a economia brasileira no mundo globalizado e que elas trariam consigo a tecnologia necessária à modernização. Havia uma crença por parte dos formuladores de política de que, num mundo sem fronteiras, as informações, conhecimentos e tecnologias fluiriam livremente trazidos pelas empresas mais avançadas do mundo. Assim, o problema não se encontra tão somente na ideia de atrair o capital estrangeiro, mas nas formas como tal atração tem sido realizada (CASSIOLATO, 2001, p. 22).
Dentro desse cenário, em oposição à continuidade do processo de catching
up, um processo de falling behind12 marcou a trajetória da indústria brasileira nas
últimas décadas. Segundo Arend e Fonseca (2011), devido à estratégia de catching
12
No sentido de ficar pra trás na trajetória de desenvolvimento.
Gráfico 2 – Participação setorial dos fluxos de investimentos estrangeiros diretos no período
1995-2012 – em milhões de US$.
42
up tecnológico sem a internalização dos motores de crescimento dos paradigmas
tecnológicos vigentes, o país ingressou em uma relativa estagnação de suas taxas
de crescimento, restrição externa, desindustrialização precoce e atraso tecnológico.
3.3 Transformações recentes na estrutura produtiva brasileira
Conforme foi exposto nas seções anteriores, diante da ascensão da quinta
revolução tecnológica, a indústria brasileira mostrou-se incapaz de ingressar de
forma madura no novo paradigma e competir com as empresas dos países-núcleo.
Isso foi resultado da estratégia de industrialização adotada pelo país – substitutiva
de importações – com alta recorrência às tecnologias importadas e sem criação de
um núcleo endógeno de desenvolvimento tecnológico.
Feita a exposição da trajetória de desenvolvimento do país nas últimas
décadas, o próximo passo é abordar o tema referente ao baixo dinamismo e
dependência tecnológica resultantes desse processo. Isso será feito através de uma
análise das transformações passadas pela estrutura produtiva brasileira nos últimos
anos.
Diante das relativas baixas taxas de crescimento e redução da participação
do setor industrial no valor agregado à economia, na década de 1990 começa a
surgir na literatura acadêmica forte discussão acerca do país estar passando por um
processo de desindustrialização.
Para Palma (2003), a desindustrialização brasileira pode ser caracterizada
como ‘precoce’, no sentido de que teria ocorrido antes do país atingir um nível de
renda per capita equivalente ao de quando os países desenvolvidos começaram
seus processos de desindustrialização – considerados naturais. Dessa forma, o
fenômeno não pode ser visto como uma consequência inteiramente positiva do
processo de desenvolvimento, e sim como algo possivelmente negativo.
De forma complementar, um estudo do IEDI (2007) aponta que o processo de
desindustrialização brasileiro pode ser caracterizado como relativo devido a três
aspectos: o primeiro seria que a taxa de crescimento da indústria tem se situado em
43
níveis bem inferiores aos de outras economias emergentes; o segundo está
relacionado ao fato do crescimento do setor industrial ter sido menor que dos outros
setores; e o terceiro que dentro do setor industrial os setores tradicionais vêm
perdendo peso para setores intensivos em recursos naturais, de menor intensidade
tecnológica.
Conforme pode ser observado no Gráfico 3, a participação da indústria
brasileira no valor agregado total da economia pouco variou durante 1996 e 2011,
além de manter-se abaixo de 25% do PIB por grande parte do período. Em
contraste, tanto a China quanto a Coreia do Sul tiveram uma elevação na
participação das suas indústrias no PIB, que em 1996 já se encontrava em níveis
elevados – 45% e 35%, respectivamente. Comparando a trajetória do Brasil com a
dos demais países, percebe-se que a mesma apresenta comportamento muito mais
próximo dos países desenvolvidos, os quais vêm passando por um processo de
desindustrialização positiva13, do que das economias em desenvolvimento.
Finalmente, a constante queda de participação da indústria brasileira na última
década, enquanto que tanto a média de participação da indústria no mundo quanto
nos países em desenvolvimento vêm crescendo, acaba confirmando a primeira
asserção do estudo do IEDI de 2007.
13
A desindustrialização positiva é caracterizada pelo processo de amadurecimento da economia, em
que a maior produtividade da indústria reduziria custos e o valor da produção com respeito ao restante da economia. Dessa maneira, ao atingir elevados níveis no PIB per capita, uma maior participação do setor de serviços no PIB torna-se uma trajetória natural.
44
Gráfico 3 – Participação percentual da indústria no valor adicionado total, 1996 – 2011.
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
50,00%
Brasil Estados Unidos Desenvolvidos
Coréia do Sul China Em Desenvolvimento
Mundo
Fonte: Elaborado a partir de dados da UNCTADstat (2011).
Seguindo a argumentação do IEDI, o Gráfico 4 expõe a queda de peso da
indústria brasileira em relação aos demais setores da economia. Observa-se um
aumento significativo na participação do setor de serviços no valor adicionado ao
PIB. Além disso, o gráfico mostra que tal processo não é recente, e que vem
acontecendo desde meados dos anos 1980, quando o paradigma microeletrônico já
se espalhava dentro dos países-núcleo da quinta revolução tecnológica.
Segundo Cassiolato (2001), a indústria nacional passa a se defrontar com as
mudanças relacionadas à nova revolução tecnológica já no início dos anos 1980.
Enquanto que nos países-núcleo da revolução observa-se um aumento significativo
na participação dos setores do complexo eletrônico no valor adicionado ao PIB, no
Brasil, além de uma redução dessa participação, também ocorre um retrocesso na
participação dos setores industriais mais dinâmicos da estrutura industrial do país,
ou seja, dos setores mais intensivos em tecnologia.
45
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Agropecuária Indústria Serviços
Fonte: Elaborado a partir de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2012).
Finalmente, dentro do setor industrial, os setores mais intensivos em
tecnologia vêm perdendo participação para as indústrias menos dinâmicas. Diante
do Gráfico 5, pode ser observado que menos de um terço da produção industrial
brasileira decorre de setores intensivos em alta e média-alta tecnologia. Ainda,
analisando a evolução durante o período, constata-se que as indústrias de baixa e
média-baixa tecnologia realmente vêm ganhando participação em detrimento das
mais avançadas. Dentro desse processo, a indústria de alta tecnologia mostra-se a
mais lesada, enquanto que a indústria extrativa vem ganhando participação,
justificando a preocupação dos estudiosos sobre o retorno à especialização do Brasil
em setores intensivos em recursos naturais.
Gráfico 4 – Valor agregado pelos setores ao PIB (a preços básicos), 1947 – 2012.
46
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Indústria de alta tecnologia (AT) Indústria de média-alta tecnologia (MAT)
Indústria de média-baixa tecnologia (MBT) Indústria de baixa tecnologia (BT)
Indústria extrativa Não se enquadram na classificação
Fonte: Elaborado a partir de dados da Pesquisa Industrial Anual – IBGE (2011) com base na taxonomia da OCDE (2011)
14.
Diante dos gráficos anteriores, pode ser constatado que o país vem passando
por um processo de desindustrialização relativa. O IEDI (2008, p. 6) afirma que uma
primeira análise dos impactos da abertura econômica sobre as transformações na
estrutura produtiva aponta para um aumento na capacidade de competir e nas taxas
de crescimento da produtividade nacional. Contudo, esse processo tem ocorrido à
custa de descontinuidades em cadeias produtivas industriais, marcada pela perda de
peso da indústria no PIB.
Para Schymura e Canêdo Pinheiro (2013), o risco da desindustrialização é
preocupante devido a três aspectos considerados potencialmente danosos à
economia: queda de produtividade; diminuição do dinamismo econômico em virtude
de um menor encadeamento entre os setores; e redução das externalidades locais,
14
O ano de 2007 é repetido devido às mudanças na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) no ano de 2006. A categoria ‘não se enquadram na classificação’ engloba os setores que são classificados como industriais pela PIA, mas que não são considerados pela classificação OCDE.
Gráfico 5 – Composição da estrutura industrial brasileira (VTI ) por intensidade tecnológica a
preços constantes de 2007 (milhões R$), 1996 – 2011.
47
associadas à atividade de pesquisa e desenvolvimento. Assim, além da perda de
peso relativo da indústria na economia gerar perda de produtividade, também acaba
diminuindo a integração entre os setores nos quesitos produção e conhecimento.
Consequentemente, o processo resulta em menor capacidade de adaptação às
novas práticas e tecnologias, aprofundando a situação de dependência tecnológica.
Feitas as comparações necessárias acerca da participação setorial da
indústria no valor agregado da economia, o passo seguinte consiste em investigar se
vêm ocorrendo perdas de elos nas cadeias produtivas, que resultaria em um
decréscimo na capacidade da indústria de dinamizar a economia. Para isso, será
analisado o comportamento da densidade produtiva brasileira utilizando-se da
variável VTI/VBPI15, onde uma queda na razão reflete aumento do conteúdo
importado na produção nacional, indicando que atividades antes realizadas em solo
nacional têm sido substituídas por importações.
Como pode ser observado no Gráfico 6, com exceção do grupo das indústrias
de média-baixa intensidade tecnológica (MBT), todos os outros grupos regrediram
em termos de densidade produtiva em relação ao ano de 1996. Além disso, o fato da
densidade produtiva da indústria de transformação como um todo ter sofrido um
decréscimo de 5% durante o período mostra que o setor de média-baixa tecnologia
não foi capaz de compensar a queda dos demais setores. Cabe ressaltar que a
maior redução – de 20% – se deu no setor capaz de gerar maior dinamismo: o de
alta intensidade tecnológica.
15
Enquanto o VBPI (Valor Bruto de Produção Industrial) indica o valor das vendas totais de determinado segmento ajustado pela variação de estoques, o VTI (Valor de Transformação Industrial) é uma proxy específica do valor adicionado, tendo em vista que ela é o resultado da diferença entre o VBPI e os custos das operações industrais, tais como gastos com matéria-prima, peças e combustíveis (IBGE, 2004). A variável VTI/VBPI, por sua vez, é normalmente utilizada como proxy da densidade do tecido industrial, de forma que, quanto maior a relação, mais a produção é intensiva em valor agregado gerado no próprio país.
48
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 20072007
*2008 2009 2010 2011
AT 113% 113% 107% 101% 100% 101% 103% 97% 95% 96% 99% 101% 100% 96% 96% 93% 93%
MAT 95% 94% 93% 89% 86% 86% 87% 84% 83% 79% 81% 84% 84% 84% 85% 84% 84%
MBT 105% 103% 108% 116% 121% 119% 119% 122% 123% 123% 120% 118% 118% 117% 117% 113% 111%
BT 98% 99% 97% 95% 94% 96% 94% 95% 95% 96% 97% 96% 94% 93% 95% 94% 93%
TOTAL IT 100% 99% 99% 99% 99% 99% 99% 99% 99% 99% 99% 99% 99% 98% 98% 96% 95%
75%
80%
85%
90%
95%
100%
105%
110%
115%
120%
125%
Fonte: Elaborado a partir de dados da Pesquisa Industrial Anual – IBGE (2011) com base na taxonomia da OCDE (2011).
Assim, a análise dos dados da relação VTI/VBPI aponta uma trajetória
decrescente para o Brasil no tocante à capacidade industrial de incorporação de
valor agregado na economia. Isso indica uma redução na capacidade das indústrias
nacionais de dinamizarem a economia, que reflete perdas de elos nas cadeias
produtivas dos ramos industriais que sofreram regressão. Ainda, através da redução
na densidade produtiva, pode-se afirmar que as indústrias do País se aproximam
mais de uma caracterização de ‘maquiladoras’ – indústrias que montam
componentes importados, gerando pouco valor.
Feitas tais considerações, percebe-se que a participação dos setores mais
intensivos em tecnologia vem decaindo juntamente do setor industrial como um todo.
Acompanhando esse movimento, foi observado um crescimento no peso dos setores
industriais de menor intensidade tecnológica e dos setores de serviços,
caracterizando um processo de desindustrialização precoce da economia brasileira.
Gráfico 6 – Evolução da densidade produtiva brasileira (VTI/VBPI) por intensidade tecnológica a preços constantes de 2007 (milhões R$), 1996 – 2011.
49
Dessa maneira, tanto o processo inicial de catching up, que estabeleceu a
estrutura produtiva nacional, quanto a modernização desencadeada durante o
período de abertura econômica tiveram relativo êxito na transformação da estrutura
produtiva brasileira. Contudo, essa transformação ultimamente diminuiu o dinamismo
produtivo e aprofundou a dependência tecnológica do país ao meio externo.
3.4 Dependência tecnológica e o atraso do Sistema Nacional de Inovação
Conforme foi abordado no segundo capítulo deste estudo, a inovação pode
ser apontada como força motora do desenvolvimento, tanto do sistema capitalista
quanto das economias nacionais. Ao buscar uma análise evolucionária do
desenvolvimento tecnológico, a perspectiva histórica apresenta-se como elemento
fundamental ao mesmo tempo em que a abordagem do Sistema Nacional de
Inovação (SNI) garante caráter doméstico ao estudo.
Da combinação desses dois elementos – da perspectiva história e do caráter
nacional da abordagem do SNI – obtém-se que a construção das interações entre as
instituições características de um sistema de inovação é resultado de um longo
processo. Nele, pelo menos cinco elementos podem ser citados: 1) a preparação de
instituições monetárias e financeiras que viabilizem a criação e funcionamento de
firmas e instituições geradoras de conhecimento; 2) a construção das instituições
relevantes (universidades, institutos de pesquisa, empresas e seus laboratórios de
P&D); 3) a construção de mecanismos de interação entre as instituições monetárias
e as gerados de conhecimento; 4) o desenvolvimento dessa interação; 5) e a
consolidação da própria (SUZIGAN; ALBUQUERQUE, 2007).
Ao analisar o desenvolvimento do SNI brasileiro, Suzigan e Albuquerque
(2007) afirmam que esse se encontra em estágio precário, fato que pôde ser
verificado observando o atraso tecnológico da estrutura produtiva na seção anterior.
Segundo os autores, o país ocupa uma posição intermediária em termos de
construção do SNI, caracterizada por um baixo envolvimento por parte das
empresas em atividades inovativas e pela existência de instituições de pesquisa e
50
ensino, mas sem capacidade de mobilizar a mesma proporção de capital humano
que os países mais desenvolvidos.
As causas desse atraso relativo podem ser encontradas na análise da
trajetória tecnológica brasileira: a sua estratégia de industrialização demandou
pouco do contingente científico doméstico. Inicialmente isso se deu devido ao
atrelamento do sistema monetário e financeiro ao setor exportador16. Já durante o
período de industrialização pesada até o fim dos anos 1980, a causa se situa no
protecionismo exagerado e na delegação dos setores mais dinâmicos da economia
às empresas multinacionais. E, a partir da década de 1990, podem ser apontadas as
descontinuidades de políticas públicas e a prioridade à estabilização
macroeconômica como causas do caráter tardio da construção das instituições do
SNI brasileiro.
Em suma, tais características determinam um padrão tecnológico predominante que apresentava poucas demandas sobre o sistema científico e universitário. As universidades permaneceram como instituições de ensino. A combinação ensino-pesquisa só é sistematizada no Brasil a partir das décadas de 1960 e 1970, quando começam a ser estruturados programas de pós-graduação (SUZIGAN; ALBUQUERQUE, 2007).
Baseado na ideia de que a força motora da industrialização retardatária é o
aprendizado tecnológico, Viotti (2002) atualiza o conceito de SNI para de Sistema
Nacional de Aprendizado (SNA). Devido ao fato dos países atrasados não
possuírem capacidade de geração tecnológica na mesma proporção dos
desenvolvidos, o foco para os primeiros passa a ser a absorção e internalização das
inovações já produzidas em outros locais. Para o autor, isso seria uma situação
transitória que duraria até que fossem construídas as capacidades inovativas
necessárias para que o país desenvolva tecnologias por conta própria.
Em última análise, o sucesso ou malogro parecem depender das combinações de diferentes arranjos e políticas institucionais, na medida que estes, por um lado, afetam os processos de aprendizado dos indivíduos e das organizações, e influenciam os processos de seleção (inclusive,
16
O desenvolvimento do sistema monetário e financeiro está diretamente relacionado com o desenvolvimento das capacidades de geração de novas combinações de um país: quanto maiores as possibilidades de financiamento, maiores as chances de os agentes econômicos assumirem a função de empresário schumpeteriano.
51
naturalmente, a concorrência no mercado), pelo outro (CIMOLI; DOSI; NELSON; STIGLITZ, 2007, p. 71).
Desse modo, o êxito em uma trajetória de catching up depende, em grande
medida da presença ativa do Estado como agente coordenador da estratégia de
aprendizado tecnológico.
A partir do estudo feito por Viotti (2002), comparando os SNA brasileiro e sul-
coreano, observa-se que o primeiro país possuiu uma postura passiva em relação ao
aprendizado tecnológico, relegando ao Estado o papel de agente inovador da
economia. O segundo foi mais ativo, alocando um volume de recursos como
proporção do PIB cinco vezes maiores que o sistema brasileiro, e apontando a
iniciativa privada como agente inovador da economia através de políticas industriais
de estímulo ao investimento em P&D17.
O autor aponta que a dependência brasileira ao financiamento externo parece
estar relacionada à estratégia de aprendizado passiva18 adotada pelo país. Segundo
Viotti, isso ocorre porque as empresas subsidiárias geralmente importam tecnologia
das suas matrizes sem que ocorra um processo de pesquisa e desenvolvimento
local. Ainda, dentro desse cenário, a tecnologia importada geralmente é apenas a
necessária para a produção do bem, resultando em uma estratégia de aprendizado
passivo para as empresas locais caso ocorra transferência de tecnologia no meio.
De modo complementar, Pereira (2010) afirma que a relação estabelecida
entre as empresas transnacionais e seus parceiros locais ultimamente limitou a
difusão do conhecimento, restringindo o processo de aprendizado nacional, devido
ao fato da mesma ter se concentrado no conhecimento codificado19. Para o autor, a
atuação das empresas transnacionais teve um efeito restritivo sobre as inovações
17
Ver Anexo A. 18
Para o autor, esse é o tipo de estratégia geralmente adotado pelos países em desenvolvimento. O aprendizado passivo caracteriza-se pela estratégia na qual o esforço tecnológico envolvido é voltado apenas para a absorção de capacidades produtivas. Em contraste, o aprendizado ativo é marcado por uma estratégia que busca o domínio da capacidade produtiva juntamente da capacidade de aperfeiçoamento tecnológico. Desse modo, a segunda estratégia apresenta-se como um possível caminho para a superação da dependência tecnológica de um país, já que internaliza a tecnologia absorvida, enquanto a segunda simplesmente utiliza-se da nova tecnologia como forma de atualização produtiva, mantendo o país dependente de sucessivas atualizações tecnológicas. 19
Conhecimento que pode ser armazenado e transmitido para outras fontes, geralmente está relacionado ao conhecimento da fase final (IV) do ciclo de vida de uma tecnologia.
52
institucionais, reduzindo as ‘janelas de oportunidade’ de emparelhamento
tecnológico com o paradigma microeletrônico por parte das grandes empresas
nacionais, devido à condição de ‘seguidoras’ para qual foram relegadas.
Constata-se, nessa seção, que caso um país almeje se aproximar da fronteira
tecnológica, esse deve construir um conjunto de instituições fortes com a finalidade
de possibilitar a internalização das tecnologias adquiridas. Contudo, essa não é uma
tarefa simples visto que é necessário um planejamento longo prazo acompanhado
de uma continuidade na estratégia assumida, de modo a não ser prejudicada por
mudanças de governo e crises econômicas, por exemplo.
Um elemento fundamental dos países que conseguiram equiparar-se com sucesso aos países líderes durante os séculos XIX e XX residiu no ativo apoio governamental ao processo de emparelhamento, envolvendo várias formas de proteção e subsídios diretos ou indiretos. O argumento condutor dessas políticas foi a necessidade sentida pela indústria local, nos ramos então considerados críticos para o processo de desenvolvimento (CIMOLI; DOSI; NELSON; STIGLITZ, 2007, p. 66).
No caso brasileiro, pôde ser observado que a sua trajetória de
desenvolvimento tecnológico não teve apenas repercussões sobre a estrutura
produtiva nacional, mas também sobre o conjunto de instituições capazes de
fomentar a atividade inovativa. Essa pode ser apontada como uma das principais
razões para a existência de uma inclinação nacional à continuidade da dependência
tecnológica, dificultando o processo de catching up.
53
4 A CONDIÇÃO BRASILEIRA DIANTE DA QUINTA REVOLUÇÃO
TECNOLÓGICA
Durante os últimos anos pôde ser observado um rápido crescimento da
interdependência econômica entre os países devido ao aumento no tráfico global de
mercadorias, serviços, tecnologia e capital. É indubitável assumir que um dos
principais catalisadores para a intensificação do atual processo de globalização está
relacionado com a ascensão do paradigma da informação e comunicações. De
acordo com Perez (2002), os produtos da nova revolução permitiram a flexibilização
da produção e as organizações em rede, além de revelarem novas oportunidades
para inovação e diversificação de todo o processo produtivo.
Os capítulos anteriores delinearam as características fundamentais da análise
evolucionária e a trajetória de desenvolvimento brasileira nas últimas décadas,
respectivamente. Tomando isso como base, esse capítulo busca compreender qual
a posição relativa do país no cenário internacional em termos de desenvolvimento
econômico e tecnológico.
Antes de começar a análise por si só, a primeira seção esboça as principais
características da quinta revolução tecnológica – a Era da Informação e
Comunicações, segundo Perez (2002). A compreensão dos aspectos mais
relevantes do paradigma tem como meta facilitar a análise comparativa feita nas
seções subsequentes.
A segunda seção do capítulo busca situar a condição da estrutura produtiva
brasileira no contexto internacional. Para isso, serão feitas comparações em termos
da produção industrial, englobando a valor agregado pela produção industrial
nacional mundialmente.
Complementarmente, diante de um mundo cada vez mais integrado em
termos de comércio internacional, será analisada a balança comercial brasileira,
seguindo os moldes analíticos da seção anterior. O exercício da terceira seção tem
como objetivo compreender em quais setores o país vem se especializando, de
modo a melhor situar o país na dinâmica internacional.
54
4.1 Características da quinta revolução tecnológica
Praticamente meio século se passara desde o anúncio do microprocessador
da Intel, em Santa Clara nos Estados Unidos, em 1971, e é quase impossível
encontrar uma esfera da sociedade que não tenha sido permeada pelos novos
produtos e processos desencadeados pela Era da Informação e Comunicações.
Microeletrônica, computadores, softwares, telecomunicações digitais, novos insumos
e biotecnologia não apenas revitalizaram e modernizaram a estrutura produtiva dos
países, mas também possibilitaram transações comerciais quase instantâneas nas
mais diversas partes do globo.
Outro aspecto diretamente relacionado com o advento da quinta revolução é a
mudança de perspectiva em relação à importância da informação e conhecimento,
vistos como capital de valor intangível. A obtenção de know-how (ou saber fazer),
que no paradigma anterior era pouco valorizado, tornou-se prioritário para pessoas,
empresas e países permanecerem competitivos em um mundo cada vez mais
interconectado.
A partir de meados dos anos 1970 o mundo vem experimentando a Revolução Tecnológica da Informação e Comunicações, e a mudança de paradigma resultante tem mudado radicalmente as janelas de oportunidade para todos participantes. Possibilitou modos de produção e organizações em rede flexíveis; induziu e facilitou a globalização, a desagregação das cadeias de valor e a terceirização; tornou possível o catching-up (e até mesmo forging ahead) no mundo em desenvolvimento e abriu novas oportunidades para inovação e diversificação ao longo de todo escopo produtivo (PEREZ, 2012, p. 5).
Para Carlota Perez (2010), a flexibilidade adquirida através da informática
liberou as empresas da necessidade de buscarem produtos idênticos. Chamado de
hiper-segmentação dos mercados, esse fenômeno possibilitou a oferta de produtos
aos mais diferentes nichos de mercado. Dentro disso, tornou-se possível às
pequenas empresas o fornecimento de produtos e serviços para nichos específicos,
além de incentivar empresas globais a decomporem suas atividades e terceirizarem-
nas, tanto na forma tangível quanto intangível, através da Internet.
55
Complementar à hiper-segmentação dos mercados, Perez (2010) aponta dois
outros processos. Por um lado, grandes volumes de insumos básicos agora podem
ser produzidos a taxas altíssimas de produtividade, resultando em uma queda no
preço dos mesmos a ponto de poderem ser considerados commodities.
Concomitante a isso, a ‘customização em massa’ permite a adaptação dessas
commodities industrializadas de acordo com a preferência dos clientes, gerando
infinitas possibilidades de mercados, em contraposição à tradicional produção
buscando a satisfação do maior número de consumidores possível e, assim,
reduzindo os custos de produção.
A hiper-segmentação dos mercados apresenta-se como uma das maiores
diferenças entre o paradigma em vigor e seu predecessor. Enquanto que o modelo
de produção em massa focou-se em economias de escala, marcadas por produtos
idênticos, o modelo de produção flexível concentra-se em economias de escopo,
escala e especialização, ao lidar com diversos produtos customizáveis atendendo às
distinções nacionais, religiosas, educacionais, culturais, etc.
No que diz respeito ao valor do conhecimento, como foi dito anteriormente, o
paradigma da quarta revolução tecnológica girava em torno da mão-de-obra
executando tarefas repetitivas com baixo valor intangível agregado. Em
contrapartida, no paradigma atual existe forte incentivo para a qualificação da mão-
de-obra, almejando atingir maior produtividade através da utilização da criatividade e
conhecimento de todos os funcionários.
Finalmente, resultante da valorização do conhecimento, a partir dos anos
1990 pode ser apontado um renascimento do interesse em políticas de ciência e
tecnologia. Dentro desse quadro, a noção do Sistema Nacional de Inovação
apresenta-se como importante ferramenta de ligação entre os interesses tanto do
Estado com o mercado quanto do meio nacional com o internacional.
56
4.2 A estrutura produtiva brasileira sob perspectiva internacional
Na última seção do capítulo anterior o assunto sobre a posição da indústria
brasileira no cenário internacional foi brevemente tratado com o intuito de ilustrar os
aspectos característicos do processo de desindustrialização relativa pelo qual o país
vem passando. De modo complementar, a presente seção busca fazer uma
comparação internacional da estrutura produtiva nacional. Para isso, a condição do
Brasil será comparada com um seleto grupo de países considerados relevantes.
Devido ao fato da análise buscar uma reflexão da condição do país dentro do
paradigma tecno-econômico vigente, os Estados Unidos e Japão serão utilizados
como modelos de países na fronteira tecnológica. Ademais, China e Coreia do Sul
são inclusos devido ao fato de serem considerados países em desenvolvimento que
obtiveram grau satisfatório de sucesso em suas estratégias de catching up. Ainda,
as diferenças de tamanho de mercado e taxas de crescimento entre os países de
cada grupo auxiliam em um melhor posicionamento relativo da economia brasileira.
Conforme foi exposto no capítulo anterior, em termos de valor agregado pela
indústria, a comparação da trajetória nacional com a de outros países mostrou
comportamento muito mais próximo dos países desenvolvidos que dos em
desenvolvimento. O Gráfico 7 busca aprofundar essa comparação, colocando a
produção industrial nacional sobre o valor adicionado global, buscando distinguir a
participação e trajetória brasileira da dos países desenvolvidos.
No gráfico pode ser observado um declínio relativo da participação industrial
dos Estados Unidos e Japão, enquanto que a potência emergente chinesa vem se
industrializando de modo acelerado, ocupando mais e mais espaço no valor
adicionado global. O gráfico também mostra a diferença nas estruturas produtivas
brasileira e dos países em desenvolvimento: enquanto o País vem se
desindustrializando sem possuir participação relevante no produto industrial global, o
Japão e Estados Unidos passam pelo processo em níveis muito mais elevados.
57
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
Brasil China Japão Coréia do Sul Estados Unidos
Fonte: Elaborado a partir de dados do UNCTADStat (2011).
Apesar da Coreia do Sul vir se industrializando nos últimos anos, o país
possui menor participação no valor agregado mundial que a economia brasileira.
Isso pode ser explicado pelo fato do Brasil possuir uma economia muito maior que a
coreana, sendo essa quase metade da brasileira. Ao comparar os países em termos
menos agregados – como o valor adicionado pela indústria de transformação dentro
de cada país específico (Gráfico 8) – percebe-se uma situação inteiramente
diferente: a participação do setor de transformação na economia brasileira vem se
reduzindo com o passar dos anos enquanto que o oposto ocorre na economia
coreana. Isso acaba enfatizando a diferença nas trajetórias de desenvolvimento
industrial adotadas pelos dois países: enquanto o Brasil obteve êxito em um
processo inicial de catching up, o mesmo estagnou devido à estratégia adotada –
sem a internalização dos motores de crescimento das revoluções tecnológicas
vigentes –, a Coréia do Sul industrializou-se de forma mais madura e,
consequentemente, foi capaz de se inserir de forma mais dinâmica na economia
mundial, conseguindo competir com países avançados ou com mercados maiores.
Gráfico 7 – Participação percentual da indústria sobre o valor adicionado global durante o
período de 1996 – 2011: países selecionados.
58
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
Brasil Estados Unidos Japão Coréia do Sul China
Fonte: Elaborado a partir de dados do UNCTADStat (2011).
Buscando uma melhor avaliação da posição relativa da indústria brasileira em
termos da quinta revoluções tecnológica, o Gráfico 9 demonstra a participação dos
setores do complexo eletrônico20 no valor adicionado à indústria de transformação
dos países selecionados, nos anos de 2000 e 2011. Segundo os dados, é possível
ver a forte divergência existente entre o Brasil e os demais países – tanto com os em
desenvolvimento quanto com as economias da fronteira tecnológica. De acordo com
o gráfico, pode ser apontado que o processo de industrialização das economias
emergentes, China e Coreia do Sul, teve grande sucesso no emparelhamento à
fronteira tecnológica, vide os expressivos níveis de participação dos setores do
complexo eletrônico em suas economias.
20
No grupo estão inclusos os setores de fabricação de: máquinas para escritório e equipamentos de informática; produtos relacionados ao controle, distribuição e acumulação de energia elétrica; material eletrônico básico; aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de televisão e rádio; e aparelhos receptores de rádio e televisão e de reprodução, gravação ou amplificação de som e vídeo.
Gráfico 8 – Evolução da participação da indústria de transformação no PIB durante o período
de 1996 – 2011: países selecionados.
59
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
Brasil China Coréia do Sul Japão EUA
2000
2011
Fonte: Elaborado a partir de dados da UNIDO (2011).
Analisando o gráfico, vê-se que a participação do complexo eletrônico na
estrutura industrial brasileira foi reduzida à praticamente dois terços do valor
referente ao início dos anos 2000. De forma complementar, houve uma elevação na
participação dos setores de menor intensidade tecnológica, como pôde ser
observado na análise da densidade produtiva brasileira no capítulo anterior,
indicando que o processo de desindustrialização do país vem ocorrendo à custa da
redução na participação do complexo eletrônico.
Portanto, de acordo com o que foi analisado na seção, podemos apontar
algumas conclusões. Primeiramente, percebe-se que apesar do Brasil ser
classificado como a sexta maior economia mundial, sua indústria apresenta
participação muito baixa, tanto em relação aos países representantes da fronteira
tecnológica, quanto aos países emergentes selecionados para o comparativo. Ainda,
é observada uma retração no valor adicionado à economia brasileira pela indústria
de transformação e, dentro dessa, pelos setores do complexo eletrônico, indicando
que o país não só continua tendo dificuldades em ingressar no paradigma em vigor,
mas que também não tem medido esforços para isso.
Gráfico 9 – Valor adicionado às manufaturas pelos setores de material eletrônico e de
aparelhos e equipamentos de comunicações nos anos de 2000 e 2011: países selecionados.
60
De maneira complementar, é observado um ganho de participação da
indústria extrativa e do setor de média-baixa intensidade tecnológica, composto por
indústrias de baixa tecnologia do complexo metal-mecânico-químico. Levando em
consideração a queda na densidade produtiva dos produtos de maior intensidade
tecnológica, constata-se que a dependência na produção de bens de baixa
intensidade tecnológica teve como consequência direta a redução do dinamismo da
economia nacional, tornando o país menos competitivo internacionalmente.
4.3 Análise do conteúdo tecnológico do comércio exterior
Situada a estrutura produtiva brasileira tanto em relação ao cenário
internacional quanto ao paradigma tecno-econômico em vigor, essa seção apresenta
a dinâmica recente do comércio exterior do setor industrial do país. Essa análise,
apesar de complementar à seção anterior, torna-se relevante devido ao fenômeno
da hiper-segmentação dos mercados.
Diante da hiper-segmentação dos mercados, característica marcante do
paradigma em vigor, existe a possibilidade dos países utilizarem-se da abundância e
alta produtividade das commodities industrializadas como base para outras
atividades da estrutura produtiva. A partir do que foi apresentado até agora, sabe-se
que a posição do Brasil nessa dinâmica é a de exportação de matérias-primas
buscando importar bens de maior intensidade tecnológica. Tendo isso em mente, o
objetivo da seção é delinear os efeitos de tal posicionamento sobre a balança
comercial nacional.
Uma primeira análise da evolução da balança comercial brasileira aponta que,
apesar dos déficits crescentes da indústria de transformação a partir do ano de
2008, a mesma apresentou superávits por grande parte do período. Isso se deu
devido ao bom desempenho das exportações de bens provenientes da extração
mineral e da atividade agropecuária. Contudo, a partir de 2012 percebe-se uma
queda na balança comercial desses produtos que combinada aos elevados déficits
da indústria de transformação resultou em um déficit no montante de US$ 5,2
bilhões – o primeiro saldo negativo desde 2001, conforme o Gráfico 10.
61
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Ind. Transf. -0,5 -1,5 -2,2 -1,5 -0,2 -1,4 0,4 2,7 4,1 6,9 6,4 5,5 -0,2 -2,7 -7,1 -10,0 -13,3 -16,3
Demais prod. 0,0 0,6 0,3 0,6 0,2 0,7 0,6 1,1 2,1 1,5 3,0 3,2 3,0 5,7 8,0 13,2 15,7 11,2
TOTAL -0,5 -0,8 -1,8 -0,8 0,0 -0,7 1,0 3,8 6,2 8,4 9,3 8,7 2,8 3,0 0,9 3,2 2,4 -5,1
-18,0
-15,0
-12,0
-9,0
-6,0
-3,0
0,0
3,0
6,0
9,0
12,0
15,0
18,0
Fonte: Elaborado a partir de SECEX/ALICE com base na taxonomia da OCDE (2011).
Desagregando a contribuição da indústria de transformação, é obtida a
participação da mesma nas importações e exportações, respectivamente
apresentadas nos Gráficos 11 e 12. Com a finalidade de construir uma análise mais
aprofundada, dividiram-se as importações e exportações brasileiras por intensidade
tecnológica de acordo com a taxonomia da OCDE.
No Gráfico 11 a dependência da estrutura produtiva em bens não industriais e
bens de menor intensidade tecnológica pode ser observada, constatando-se que os
setores de baixa e média-baixa tecnologia compõem grande parte da pauta
exportadora brasileira, iniciando 1996 com uma participação de 58% e chegando em
2013 com 42%. Apesar dessa redução durante o período analisado, verifica-se que
o fenômeno não foi acompanhado por elevação nas exportações de bens de maior
tecnologia, e sim por forte elevação dos setores não industriais – mais que dobrando
de participação. Desse modo, os setores de maior capacidade de dinamizar a
economia chegam em 2013 com uma participação de praticamente 20% da pauta
exportadora.
Gráfico 10 – Saldo comercial brasileiro e contribuição da indústria de transformação e demais
produtos (bilhões de US$ FOB), 1996 – 2013 (1T).
62
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Demais prod. 15% 20% 19% 19% 16% 17% 17% 20% 22% 18% 22% 23% 23% 30% 33% 39% 40% 38%
Baixa 34% 32% 30% 33% 30% 31% 32% 32% 32% 30% 27% 28% 28% 29% 28% 25% 23% 26%
Média-baixa 24% 19% 18% 18% 19% 18% 16% 18% 17% 19% 19% 19% 19% 16% 15% 15% 16% 16%
Média-alta 23% 24% 27% 23% 23% 21% 21% 22% 23% 26% 25% 24% 23% 18% 19% 18% 18% 17%
Alta 4% 5% 5% 7% 12% 13% 14% 7% 7% 8% 7% 6% 6% 7% 5% 4% 4% 4%
Ind. Transf. 85% 80% 81% 81% 84% 83% 83% 80% 78% 82% 78% 77% 77% 70% 67% 61% 60% 62%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Para Cavalieri, Cario e Fernandes (2013), essa considerável elevação na
participação dos setores não industriais, em especial da indústria extrativa, pode ser
explicada pela forte expansão dos preços de commodities metálicas e energéticas
ocorrida ao longo dos anos 2000.
Gráfico 11 – Participação das exportações por intensidade tecnológica, 1996 – 2013 (%).
Fonte: Elaborado a partir de SECEX/ALICE com base na taxonomia da OCDE (2011).
Em contraste com a pauta exportadora, a pauta importadora apresenta um
comportamento praticamente oposto: os bens de maior intensidade tecnológica
ocupam grande parte da mesma. O Gráfico 12 mostra que essa participação se
manteve relativamente estável enquanto ocorreu uma queda de participação do
setor de baixa intensidade, que foi compensado por uma elevação na importação de
bens de média-baixa tecnologia.
63
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Demais prod. 14% 13% 14% 12% 14% 12% 12% 17% 16% 17% 18% 18% 17% 13% 13% 14% 12% 14%
Baixa 17% 14% 12% 11% 10% 8% 9% 7% 7% 7% 7% 7% 7% 9% 8% 9% 9% 9%
Média-baixa 13% 14% 14% 13% 15% 16% 14% 14% 13% 14% 15% 16% 18% 15% 18% 18% 19% 19%
Média-alta 37% 41% 43% 43% 38% 39% 42% 41% 41% 40% 36% 37% 39% 41% 39% 42% 41% 41%
Alta 19% 18% 18% 22% 23% 25% 24% 21% 22% 21% 24% 21% 20% 21% 21% 18% 18% 17%
Ind. Transf. 86% 87% 86% 88% 86% 88% 88% 83% 84% 83% 82% 82% 83% 87% 87% 86% 88% 86%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Gráfico 12 – Participação das importações por intensidade tecnológica, 1996 – 2013 (%).
Fonte: Elaborado a partir de SECEX/ALICE com base na taxonomia da OCDE (2011).
Uma conclusão geral tomada a partir da análise dos gráficos anteriores é que
o Brasil tem se utilizado de suas vantagens competitivas em recursos naturais para
compensar a falta de competitividade da indústria nacional. Desse modo, o país está
exportando bens de baixo valor agregado para a importação de bens de maior
intensidade tecnológica, estratégia que pode prejudicar um país devido à chamada
deterioração dos termos de troca21.
Com o intuito de analisar se a especialização produtiva em produtos primários
e bens de baixa intensidade tecnológica tem afetado (ou pode afetar) negativamente
21
Raul Prebisch (1950), ao analisar a dependência de exportações de commodities dos países subdesenvolvidos, afirmava existir uma tendência à deterioração dos termos de troca dos produtos primários em relação aos industrializados, na qual seria necessário exportar quantidades cada vez maiores dos primeiros para importar quantidades fixas de manufaturas, aprofundando a dependência e subdesenvolvimento dos países afetados. As razões para isso residem no diferencial entre produtividade nos setores industrial e agrícola; na diferença de elasticidade dos bens provenientes destes e nas diferentes pautas comerciais dos países.
64
-26.000
-22.000
-18.000
-14.000
-10.000
-6.000
-2.000
2.000
6.000
10.000
14.000
AT MAT MBT BT Ind. Transf. Ind. Transf. + Não Indust.
Gráfico 13 – Saldo comercial por intensidade tecnológica (milhões de US$ FOB), 1996 – 2013.
a economia brasileira, o Gráfico 13 mostra o saldo comercial de cada grupo por
intensidade tecnológica.
Fonte: Elaborado a partir de SECEX/ALICE com base na taxonomia da OCDE (2011).
No gráfico é possível verificar que mesmo com a presença dos setores não
industriais, a balança comercial chega negativa em 2013. A situação piora ao serem
retirados os setores não industriais: o país passa a arcar com sucessivos déficits já a
partir de 2008. Ainda, podem ser visualizadas ambas as tendências das pautas
importadoras e exportadoras brasileiras. Sendo essas, respectivamente, a
expressiva participação de produtos de alta intensidade tecnológica nas importações
e a recorrência a bens de baixa intensidade para exportação. Esse fenômeno de
financiamento da compra externa de produtos com maior tecnologia por meio da
venda de produtos primários, e com pouca tecnologia incorporada, é o que sugere
65
um possível retorno do país à especialização em atividades que o Brasil apresente
vantagens comparativas relativas.
Portanto, a partir do que foi analisado parece ficar evidente que a estratégia
de voltar-se para a produção e exportação de bens primários e intensivos em
recursos naturais para a obtenção de superávits tem sido capaz de compensar os
sucessivos déficits na balança comercial dos produtos da indústria de
transformação, onde os únicos produtos que obtém superávits são os de baixa
intensidade tecnológica. Contudo, 2012 em diante mostra a fragilidade dessa
estratégia: devido aos crescentes déficits na balança manufatureira, um
desempenho reduzido dos setores intensivos em recursos naturais tem como
resultado direto a queda na balança comercial total.
Essas constatações indicam que a trajetória de industrialização do país não
apenas o tornou mais dependente tecnologicamente, mas também resultou em
maior vulnerabilidade a choques externos devido a sua dependência no bom
desempenho dos setores intensivos em recursos naturais.
66
5 CONCLUSÃO
As transformações ocorridas na dinâmica mundial decorrentes da ascensão
do paradigma da quinta revolução tecnológica foram muitas e operaram nas mais
diversas esferas do cotidiano. Dentro desse contexto, a trajetória de
desenvolvimento econômico brasileira também acabou modificando sua estrutura
produtiva; tornando-a mais dependente dos setores intensivos em recursos naturais,
enquanto o setor industrial perdeu participação no valor agregado à economia.
Nesse sentido, a abordagem evolucionária tem sido uma importante
contribuição para o estudo do desenvolvimento econômico como processo histórico.
A ênfase dada à inovação, ao emparelhamento e ao desenvolvimento é identificada
como fundamental para a compreensão das trajetórias tecnológicas particulares de
cada país. Utilizando-se da análise, pôde ser dividido o processo de
emparelhamento tecnológico brasileiro em duas fases distintas.
A primeira fase, a partir da década de 1940, foi caracterizada pela
modernização da estrutura industrial brasileira, com concentração de investimentos
nos setores dinâmicos do paradigma metal-mecânico-químico. Já a segunda fase,
durante o período de abertura econômica, baseou-se na absorção de melhorias
organizacionais e tecnológicas, sem esforços para a criação de uma estrutura
manufatureira aos moldes da primeira fase. A similaridade entre as duas fases
encontra-se no fato de ambas terem recorrido ao capital estrangeiro: a primeira
delegando às empresas estrangeiras os setores-chave da economia; e a segunda
buscando uma modernização da produção doméstica visando o mercado interno. A
lógica dessa estratégia baseava-se na crença de que o atrelamento da economia ao
capital estrangeiro resultaria em transferências de conhecimento e aprendizado
automáticos. Contudo, não foi o que ocorreu e, ao deixar de assumir uma postura de
desenvolvimento tecnológico ativa, o país relegou-se a uma posição de
aprofundamento da sua dependência tecnológica.
Essa contextualização apresentou-se como base fundamental para o estudo
da estrutura produtiva brasileira recente. No sentido de criar um diagnóstico acerca
da condição em que a economia se encontra em relação ao paradigma
67
microeletrônico, utilizou-se dessa análise inicial em consonância com ampla base
empírica. A partir desses elementos pôde ser estudado o comportamento da
participação da indústria no valor adicionado da economia, tanto em termos
nacionais quanto internacionais, com a finalidade de compreender o avanço (ou
retrocesso) tecnológico brasileiro, visto que o setor industrial geralmente é o mais
dinâmico e com maior capacidade inovativa.
Em termos nacionais, foi explorada a possibilidade de o país estar passando
por um processo de desindustrialização precoce, caracterizado assim por ocorrer em
um nível de renda per capita muito abaixo do ‘normal’. O fenômeno também foi
descrito como relativo devido a três aspectos: a taxa de crescimento do setor
industrial brasileiro está muito abaixo da taxa das demais economias emergentes;
internamente, essa taxa também é menor em comparação aos outros setores da
economia, fenômeno acompanhado por uma redução da participação industrial no
PIB; e, dentro do setor industrial, os setores mais intensivos em tecnologia vêm
perdendo peso para os setores intensivos em recursos naturais, realçando uma
tendência ao retorno do país à especialização em setores onde possui vantagens
comparativas naturais.
Ademais, analisando a evolução da densidade produtiva brasileira, é possível
constatar que, juntamente de uma redução no peso da indústria na economia, vêm
ocorrendo perdas de elos nas cadeias produtivas, reduzindo a capacidade do setor
de dinamizar a economia e aproximando-o de um caráter de ‘maquiladora’. Feitas
tais considerações, é possível afirmar que o país tem passado por um processo de
desindustrialização como consequência da trajetória de desenvolvimento tecnológico
adotada nas décadas anteriores.
Diante desses dados, conclui-se que há um padrão de baixo dinamismo e
uma crescente dependência tecnológica brasileira. Esse último fato foi
complementado pelo estudo evolutivo do Sistema Nacional de Inovação. Nesse
quesito, também, pôde ser observado um atraso relativo decorrente da estratégia de
delegar ao capital estrangeiro as atividades mais dinâmicas da economia, fato que
dificultou a internalização dos motores de crescimento dos paradigmas vigentes e
inclinou o país para uma trajetória de contínua dependência tecnológica.
Ao incluir no estudo a comparação da indústria brasileira com o meio
internacional, pode-se, de fato, compreender o quão atrasado em termos de
68
capacitações tecnológicas o país se encontra. Ficou claro na comparação do Brasil,
tanto com as economias da fronteira tecnológica quanto com as economias
emergentes que obtiveram resultados satisfatórios em suas trajetórias de catching
up, que o país ainda não conseguiu plenamente ingressar no paradigma
microeletrônico. Pelo contrário, ao observar uma regressão no peso dos setores
desse paradigma, pode ser inferido que o país vem se distanciando da fronteira
tecnológica.
De modo complementar, a análise da balança comercial melhor posiciona o
Brasil dentro da dinâmica tecnológica internacional. Disso emergiu a fragilidade da
estratégia de especialização na produção de bens de baixo valor agregado e
intensivos em recursos naturais: ao depender, em grande medida, no contínuo bom
desempenho na exportação dos mesmos devido aos sucessivos e crescentes
déficits na balança comercial de bens de maior valor agregado, choques externos
apresentam uma capacidade de desestabilizar a economia muito maior.
Em síntese, a trajetória de desenvolvimento tecnológico brasileira não apenas
resultou em uma estrutura produtiva menos dinâmica, mas também em maior
dependência tecnológica e maior vulnerabilidade externa.
69
REFERÊNCIAS
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Apêndice A – Correspondência entre classificações por intensidade
tecnológica da PIA-PINTEC versus OCDE
Setores por intensidade tecnológica segundo a PINTEC Classificação por
intensidade tecnológica segundo a OCDE
alta intensidade tecnológica
23.2 Fabricação de produtos derivados do petróleo MB
29 Fabricação de máquinas e equipamentos MA
30 Fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática A
31 Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos MA
32.2 Fabricação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de televisão e rádio
A
32.3 Fabricação de aparelhos receptores de rádio e televisão e de reprodução, gravação ou amplificação de som e vídeo
A
33 Fabricação de equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, instrumentos de precisão e ópticos, equipamentos para automação industrial, cronômetros e relógios
A
34.1 Fabricação de automóveis, caminhonetas e utilitários MA
34.2 Fabricação de caminhões e ônibus MA
34.3 Fabricação de cabines, carrocerias e reboques MA
34.5 Recondicionamento ou recuperação de motores para veículos automotores MA
35 Fabricação de outros equipamentos de transporte* A; MA; MB
média alta intensidade tecnológica
16.0 Fabricação de produtos do fumo B
21.1 Fabricação de celulose e outras pastas para a fabricação de papel B
24 Fabricação de produtos químicos** A; MA
32.1 Fabricação de material eletrônico básico A
34.4 Fabricação de peças e acessórios para veículos automotores MA
36.9 Fabricação de produtos diversos B
media baixa intensidade tecnológica
19 Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos de viagem e calçados B
21.2 Fabricação de papel, papelão liso, cartolina e cartão B
21.3 Fabricação de embalagens de papel ou papelão B
21.4 Fabricação de artefatos diversos de papel, papelão, cartolina e cartão B
25 Fabricação de artigos de borracha e plástico MB
26 Fabricação de produtos de minerais não-metálicos MB
27 Metalurgia básica MB
28 Fabricação de produtos de metal - exceto máquinas e equipamentos MB
baixa intensidade tecnológica
C Indústrias extrativas NSA
15 Fabricação de produtos alimentícios e bebidas B
17 Fabricação de produtos têxteis B
18 Confecção de aritgos do vestuário e acessórios B
20 Fabricação de produtos de madeira B
22 Edição, impressão e reprodução de gravações B
23.1 Coqueiras MB
23.4 Produção de álcool MB
36.1 Fabricação de artigos do mobiliário B
Fonte: IBGE: Pesquisa Industrial Anual. Legendas: A = Alta; MA = Média-Alta; MB = Média-Baixa; B = Baixa; NSA = Não se aplica (a classificação adotada pela OCDE só abrange a
indústria de transformação)
* Inclui a indústria aeronáutica e aeroespacial, de alta intensidade; de material ferroviário, de média-alta tecnologia, e outros de transporte, de média-baixa tecnologia ** Inclui a indústria farmacêutica, de alta intensidade; e de produtos químicos, exceto farmacêuticos, de média-alta.
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Anexo A – Alocação de recursos para o esforço tecnológico, Brasil e Coréia do
Sul.
Indicador Brasil Coréia do Sul
Gastos em P&D como porcentagem do PIB [1994] [1992]
0,40% 2,10%
Gastos em P&D por origem dos fundos (%) [1994] [1992]
Governo 81,90% 17,20%
Iniciativa privada 18,10% 82,40%
Outro … 0,40%
Financiamento preferencial do governo para o P&D industrial [1973-1989] [1987]
US$ 810 milhões US$ 848 milhões
Cientistas e engenheiros engajados no P&D (por milhão de habitantes) [1993] [1992]
235 1.990
Pesquisadores de acordo com o lugar de atuação (%) [1986] [1987]
Instituições do Governo 26,16% 17,40%
Universidades 68,51% 33,15%
Setor privado 5,33% 49,46%
Fonte: Viotti (2002).