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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA
NCLEO DE PS-GRADUAO
EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
REA DE CONCENTRAO: DESENVOLVIMENTO REGIONAL
PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
CONSTRUINDO COM A NATUREZA
BAMBU:
UMA ALTERNATIVA DE ECODESENVOLVIMENTO
Autor: Antnio Ricardo Sampaio Nunes
Orientador: Dra. Maria Augusta Mundim Vargas
Outubro de 2005
So Cristvo Sergipe
Brasil
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA
NCLEO DE PS-GRADUAO
EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
REA DE CONCENTRAO: DESENVOLVIMENTO REGIONAL
PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
CONSTRUINDO COM A NATUREZA
BAMBU:
UMA ALTERNATIVA DE ECODESENVOLVIMENTO
Dissertao de Mestrado apresentada ao Ncleo de Ps-Graduao
em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de
Sergipe, como parte dos requisitos exigidos para a obteno dottulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Autor: Antnio Ricardo Sampaio Nunes
Orientador: Dr. Maria Augusta Mundim Vargas
Outubro de 2005
So Cristvo Sergipe
Brasil
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Nunes, Antonio Ricardo Sampaio
N972c Construindo com a natureza bambu : uma alternativa de ecodesenvolvimento
/ Antonio Ricardo Sampaio Nunes. So Cristvo, 2005.131p. : il.
Dissertao (Mestrado em Desenvolvimento e MeioAmbiente) Ncleo de Ps-Graduao em Desenvolvimentoe Meio Ambiente, Programa Regional de Desenvolvimento
e Meio Ambiente, Pr-Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa,Universidade Federal de Sergipe.
1. Ecodesenvolvimento. 2. Desenvolvimento sustentvel.3. Arquitetura. 4. Material de construo Bambu. I. Ttulo.
CDU 504.062.4:72:691.12
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA
NCLEO DE PS-GRADUAO
EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
REA DE CONCENTRAO: DESENVOLVIMENTO REGIONAL
PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
CONSTRUINDO COM A NATUREZABAMBU:
UMA ALTERNATIVA DE ECODESENVOLVIMENTO
Dissertao de Mestrado defendida por Nome do(a) Aluno(a) e aprovada em dia de msde
ano pela banca examinadora constituda pelos doutores:
________________________________________________
Nome do(a) Orientador(a) Orientador(a)
Instituio
________________________________________________
Nome do(a) Examinador(a)
Instituio
________________________________________________
Nome do(a) Examinador(a)
Instituio
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Este exemplar corresponde verso final da Dissertao de Mestrado em Desenvolvimento
e Meio Ambiente.
________________________________________________
Dra. Maria Augusta Mundim Vargas Orientadora
Universidade Federal de Sergipe
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concedida aoNcleo responsvel pelo Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
da Universidade Federal de Sergipe permisso para disponibilizar, reproduzir cpias desta
dissertao e emprestar ou vender tais cpias.
________________________________________________
Antnio Ricardo Sampaio Nunes Autor
Universidade Federal de Sergipe
________________________________________________
Dr. Maria Augusta Mundim Vargas
Orientadora
Universidade Federal de Sergipe
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AGRADECIMENTOS
Diversas pessoas, direta ou indiretamente, mas sempre de maneira especial e generosa,
participaram da construo deste trabalho e a estas eu quero prestar aqui a minha
reverncia e meu agradecimento, pois sem elas este mestrado e esta dissertao no teriam
sido possveis.
Aos autores, Enrique Leff, Oscar Idalgo, Jorge Morn, Ignacy Sachs e Carlos Walter
Gonalves,que, pessoalmente ou atravs de suas obras, tanto me ajudaram a construir o
meu pensamento e minha compreenso das questes ambientais do mundo, para que
pudesse transcrev-lo neste trabalho.
A minha orientadora, professora Dr. Maria Augusta Mundim Vargas - que, por sua
simpatia e carisma, todos a conhecem por Guta - pela maestria e dedicao com que
conduziu a orientao desta dissertao.
A minha mulher, Susana Andery, que proporcionou com muito carinho o suporte
emocional e material necessrios para o meu trabalho, pela compreenso da minha
ausncia nos muitos dias e noites de trabalho, pela dedicao, acolhimento, generosidadee
palavras de estmulo, sem as quais eu no teria construdo esta pesquisa.
Ao professor Dr. Sandro Holanda, que no momento mais crtico deste mestrado, com
poucas, mas decisivas palavras, me fez retomar o rumo da sua concluso.
Ao ambientalista, bilogo e professor Antnio Carlos Barretoque me ajudou a dar os
primeiros passos deste projeto quando ainda era uma idia, tantas sugestes preciosas fez
para enriquec-la e faz-la se transformar neste trabalho concludo.
A amiga Denise Rocha pela reviso cuidadosa e precisa, generosamente doada como
colaborao preciosa a este texto.
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Aos professores do NESA, em especial a Dr. Rosimeri de Melo e Souzae Dr. Roberto
Rodrigues, pelo estmulo e ateno que sempre dispensaram para mim e para este projeto.
A rapaziada da construo, em Carmpolis, Heleno, Anderson, Paulo Srgio, Jos
Carlos, Nelson e Elenilson,os verdadeiros construtores da nossa obra. Atravs de suas
inteligncias, dos seus conhecimentos, de suas mo habilidosas de carpinteiros, da
dedicao, fidelidade e parceria irrestrita, possibilitaram os resultados obtidos por esta
pesquisa.
A Ismael Trindade Neto, ambientalista da Petrobrs, grande colaborar na idia de
construirmos o CEAF usando o bambu, e que, com sua serenidade de esprito, muito
ajudou a percorrer os labirnticos caminhos institucionais desta pesquisa junto a Petrobrs.
A Celina Lerena,arquiteta e amiga que muito me ensinou sobre a arte de trabalhar com o
bambu, os mistrios e segredos desta planta to generosa quanto ela.
Aos colegas de turma do mestrado no NESA, pelo compartilhamento de idias, solues
das nossas questes acadmicas, estmulos e amizade.
Aos elementais que habitam os bambuzais e que tm me guiado por estas novas veredas
me indicando o rumo, por vezes no muito claros, dos caminhos para a disseminao da
cultura do bambu.
A todos vocs, a minha mais profunda gratido.
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RESUMO
Este trabalho teve como objetivo investigar as possibilidades de aplicao do bambu como
um material de construo em Sergipe, analisando-se os aspectos decorrentes do processo
de uso, quais sejam: eficincia econmica, propriedades fsicas e mecnicas do material,
desempenho da mo de obra local, nveis de aceitao do material pela populao usuria,
desempenho esttico do bambu na arquitetura e suas possibilidades de
ecodesenvolvimento. O mtodo empregado para esta investigao foi o da pesquisa-ao
que utilizou uma ao coletiva planejada de carter tcnico, social e cultural, orientada em
funo da resoluo de problemas conceituais e tcnicos operacionais, levantados nas
questes de pesquisa. A ao escolhida para se proceder a investigao que levaria a
responder tais questes foi a construo de uma edificao cujo material aplicado seria
prioritariamente o bambu. O local escolhido para construo foi o Horto do Diogo, situado
na fazenda Oiteirinhos de propriedade da Petrobrs, no municpio de Carmpolis, estado
de Sergipe, Brasil. Foi sob a perspectiva do ecodesenvolvimento que propomos investigar
o uso do bambu como uma alternativa para o desenvolvimento com sustentabilidade
ambiental contextualizando-o num processo tecnolgico, social, econmico e cultural. O
ecodesenvolvimento o fundamento para o entendimento da ecotcnica como uma
estratgia para superar as barreiras impostas pela economia de mercado dominante. Para oseu sucesso toma-se fundamental o desenvolvimento de tecnologias apropriadas que
absorvam o melhor da diversidade tanto humana como natural de cada ecossistema (local
ou regional) de forma particular. O bambu se revela como uma planta e um material de
grandes potencialidades, sendo comprovadas nesta pesquisa, as suas propriedades fsicas e
mecnicas que o qualifica como um material de fcil uso por populaes rurais ou
perifricas de pequenas cidades, se afirmando como uma alternativa de desenvolvimento
comunitrio sustentvel e ecodesenvolvimento.
Palavras-chave: Ecodesenvolvimento, Arquitetura com bambu, Desenvolvimento
sustentvel.
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ABSTRACT
This work aims at investigating the application of the bamboo as a construction material in
the State of Sergipe, Brazil, through the analysis of the aspects deriving from its use
process, them being: economical efficiency, the materials physical and mechanical
properties, local workforce output, acceptance level by the local population, a esthetical
results of the bamboo in architectural applications and its possibilities of ecological
development. The method employed in this scientific investigation was action-research,
which made use of a coordinated collective action plan of technical, social and cultural
character, oriented towards the solving of conceptual, technical and operational problems
which arose from research matters raised throughout this project. The action selected so as
to proceed in an investigation which could lead to solving such questions was the
construction of a house in which the bamboo was a priority as a material employed. The
designated sight for the construction was the Horto do Diogo, located on the Oiterinhos
farm, a Petrobras property, in the city of Carmpolis, state of Sergipe, Brazil. Under the
perspective of ecological development, it is the projects objective to investigate the use of
the bamboo as an alternative in environmentally sustainable development contextualized in
a technological, social, economic and cultural process. The ecological development is a
strategy used in order to overcome the barriers imposed by a dominating market economy.
For it to be fully successful, the development of proper technologies which can make the
most of both bio and human diversity of each ecosystem particularly (whether local or
regional) is essential. The bamboo has proven to be a plant and a material of enormous
potentialities, presenting physical and mechanical properties (proved herewith) which
qualify it as a widely accessible and easily usable material by either rural or peripheral
urban populations of small cities, thereby being regarded as an alternative in sustainable
community development as well as ecological development.
Key-words: Ecodevelopment, Arquitetcture with bamboo, Sustainable development.
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SUMRIO
LISTA DE FOTOGRAFIAS...............................................................................................xvi
LISTA DE FIGURAS.......................................................................................................xviii
LISTA DE QUADROS............ ...........................................................................................xix
CAPTULO 1INTRODUO........................................................................................1
PRIMEIRA PARTE - FUNDAMENTAO TERICA 4
CAPTULO 2 DESENVOLVIMENTO, CULTURA E MEIO AMBIENTE NA
RELAO SOCIEDADENATUREZA.............. .......... .................................................5
2.1 - A Crise Civilizatria e a Questo Ambiental...........................................................6
2.2 - Desenvolvimento e a Relao Homem Natureza...................................................14
2.3 - Saber Tecno lgico, Etnoconhecimento e Ecodesenvolvimento ............20
CAPTULO 3 - O BAMBU........................................................................25 3.1 USOS E POSSIBILIDADES....................................... ................26
3.1.1.O bambu em diversas culturas........................................................26
3.1.2. Polticas habitacionais e o uso do bambu.............................................................32
3.2. A PLANTA.........................................................................................38
3.2.1.Rizoma.........................................................................................43
3.2.3. Cultivo..................................................................................................................45
3.3 OS COLMOS.....................................................................................48
3.3.1.Caractersticas fsicas e mecnicas dos colmos.....................................................503.3.2.Colheita dos colmos...............................................................................................52
3.4 - TRATAMENTOS NATURAIS................ ...................................................................54
3.5 - TRATAMENTOS QUMICOS...................................................................................56
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SEGUNDA PARTE - METODOLOGIA 60
CAPTULO 4 - MTODOS E PROCESSOS............ ........... ...........................................61
4.1. Mtodo aplicado......................................................................................................63
4.2. Objeto da pesquisa...................................................................................................65
4.3. Definio das tecnologias, das espciese dos materiais utilizados.........................68
4.4. Cenrio da pesquisa......................... ........................................................................69
4.5. Atores sociais...........................................................................................................70
4.6. Instrumentos............................................................................................................73
TERCEIRA PARTERESULTADOS E CONCLUSES 76
CAPTULO 5DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS.............. ........... ................77
5.1. Aquisio do bambu................................................................................................78
5.2. Confeco das esteiras.............................................................................................80
5.3. Construo das fundaes........................................................................................81
5.4. Tratamento dos colmos............................................................................................82
5.5. Construo da estrutura...........................................................................................85
5.6. Construo da cobertura..........................................................................................90
5.7. Fixao dos pilares..................................................................................................935.8. Construodas paredes............................................................................................95
CAPTULO 6 CONCLUSES E SUGESTES 113
6.1. CONCLUSES...........................................................................................................114
6.2. SUGESTES..............................................................................................................116
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............ .......... .....................................................117
Bibliografia.........................................................................................................................121
ANEXOS...........................................................................................................................123
Anexo 1. Documento do Programa Nacional de Florestas..........................................124
Anexo 2. MemorialDescritivo para construo do CEAF............................................125
Anexo 3. Relatrio Dirio de Obra...............................................................................130
Anexo 4. Boletim do CUB (SINDUSCON 07/2004)...................................................131
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LISTA DE FOTOGRAFIAS
Foto 3.1. Tratamento por injeo................................................ .........................................58
Foto 5.1. Bambuzal em Atibaia............................................................................................79
Foto 5.2. Bambuzal em Embu-Guau..................................................................................79
Foto 5.3. Colheita de taquara................................................................................................81
Foto 5.4. Abertura dos colmos.............................................................................................81
Foto 5.5. Preparo das esteiras...............................................................................................81
Foto 5.6. Linha de sapatas.......... ..........................................................................................82
Foto 5.7. Sapata com pilar....................................................................................................82
Foto 5.8. Queimador de bambu............................................................................................83
Foto 5.9. Queimador em uso............................. ...................................................................83
Foto 5.10.Furo para injeo......................... .........................................................................85
Foto 5.11. Injetando soluo................................................................. ...............................85
Foto 5.12. Tcnica de corte..................................................................................................86
Foto 5.13. Serra copo............................ ...............................................................................86
Foto 5.14. Corte ortogonal...................................................................................................86
Foto 5.15. Corte em 45............................................................ ..........................................86
Foto 5.16. Resultado do 1 ensaio........................................................................................87
Foto 5.17. Gabarito do prtico................................................... ..........................................88
Foto 5.18. Fixao do 1 prtico..........................................................................................88
Foto 5.19. Seqncia de prticos paralelos..........................................................................89
Foto 5.20. Protegendo o bambu da chuva............................................................................90
Foto 5.21. Execuo da cobertura........................................................................................91
Foto 5.22. Pavilho coberto..................................................................................................91
Foto 5.23. Vista area...........................................................................................................92
Foto 5.24. Abrindo os diafragmas do bambu.......................................................................93
Foto 5.25. Fixao dos pilares..............................................................................................93
Foto 5.26. Cimentando o pilar.... ..........................................................................................94
Foto 5.27. Acabamento do furo de cimentao....................................................................94
Foto 5.28. Pilar pronto.........................................................................................................94
Foto 5.29. Construo do painel de parede..........................................................................96
Foto 5.30. Fixao das esteiras ao painel.............................................................................97
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Foto 5.31. Imunizando o painel...... ......................................................................................97
Foto 5.32. Alvenaria de bambu em execuo......................................................................98
Foto 5.33. Painis prontos....................................................................................................98
Foto 5.34. Cinta de impermeabilizao...................................... ..........................................99
Foto 5.35. Regularizando o painel........................................................................................99
Foto 5.36. Paredes com reboco..........................................................................................100
Foto 5.37. Paredes prontas.......... .......................................................................................101
Foto 5.38. Espessura do painel sem reboco........................................................................101
Foto 5.39. Espessura do painel regularizado......................................................................101
Foto 5.40. Espessura da parede pronta...............................................................................102
Foto 5.41. Andaime de bambu...........................................................................................105
Foto 5.42. Pesquisa aps trs meses..................................................................................106Foto 5.43. Edificao pronta vista lateral........................................................................107
Foto 5.44. Beiral em acabamento......................... ..............................................................107
Foto 5.45. Beiral pronto.....................................................................................................107
Foto 5.46. Vista do salo em construo............................................................................108
Foto 5.47. Vista do salo pronto.........................................................................................108
Foto 5.48. Fachada posterior em obra........... .....................................................................108
Foto 5.49. Fachada posterior pronta...................................................................................108
Foto 5.50. Fachada principal em obra................................................................................109
Foto 5.51. Fachada principal pronta...................................................................................109
Foto 5.52. Detalhe do corrimo.................................................. ........................................110
Foto 5.53. Detalhe da fachada............................................................................................110
Foto 5.54. Soldas fachadas............................................................................................110
Foto 5.55. Alisares e arremates.........................................................................................110
Foto 5.56. Articulao entre viga e pilar............................................................................111
Foto 5.57. Interior pronto...................................................................................................111
Foto 5.58. Grupo participante direto ............................ .....................................................112
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LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1. Paises signatrios do INBAR.............................................................................35
Figura 3.2. Disposio do bambu no mundo........................................................................38
Figura 3.3. Rizoma leptomorfo.................. ..........................................................................44
Figura 3.4. Rizoma paquimorfo.............. .............................................................................45
Figura 3.5. Usos do bambu de acordo com sua idade........................ ..................................48
Figura 3.6. Anatomia de um colmo de bambu........... ..........................................................49
Figura 3.7.Dinoderus minutus.............................................................................................54
Figura 3.8. Cura na mata......................................................................................................55
Figura 3.9. Tratamento pelo fogo.........................................................................................56
Figura 3.10. Mtodo Boucherie............................................................................................59
Figura 4.1. Planta baixa do CEAF........................................................................................67
Figura 4.2. Prtico principal da estrutura.............................................................................67
Figura 4.3. Localizao da pesquisa.....................................................................................70
Figura 6.1. Queimador de bambu.........................................................................................84
Figura 6.2. Parafusos de ligao............................................. ..............................................87
Figura 6.3. Modelo de ligamento de peas...........................................................................87
Figura 6.4. Mau corte, bom corte do bambu........................................................................87
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LISTA DE QUADROS
Quadro 3.1. Espcies prioritrias.........................................................................................41
Quadro 3.2. Elementos anatmicos de espcies de bambu..................................................50
Quadro 3.3. Resistncia mecnica de algumas espcies de bambu......................................51
Quadro 3.4. Caractersticas fsicas e mecnicas de espcies de bambu...............................52
Quadro 3.5. Ensaio de resistncia mecnica........................................................................52
Quadro 3.6. Carboidratos totais por fases da lua..................................................................53
Quadro 3.7. Soluo imunizante..........................................................................................57
Quadro 6.1. Soluo imunizante..........................................................................................84
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CAPTULO 1
INTRODUO
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Captulo 1Introduo 2
INTRODUO
A humanidade, ao longo da sua histria, tem adotado um comportamento predatrio em
relao natureza, utilizando os seus recursos basicamente interessada em sua prpria
sobrevivncia, legando-nos o mundo em que vivemos hoje: catico, desarmnico,
desequilibrado, e ambientalmente doente. Vivemos em meio a uma crise ambiental gerada
por um modelo de desenvolvimento adotado pelas sociedades dominantes que, na prtica,
tem se mostrado predatrio, penoso e injusto.
Esse modelo de desenvolvimento imposto e assimilado por quase todos os povos, mostra a
predominncia da razo tecnolgica e da racionalidade econmica, fundamentada no lucro
e norteada pelo utilitarismo, a competio, a produo e o consumo. Esse processocivilizatrio, pautado por modelos de sociedade incompatveis com a sustentabilidade
biolgica, social, cultural e econmica, desencadeou tudo isto a que chamamos de crise
ambiental.
Acreditando-se que o ecodesenvolvimeto, no s um referencial terico intelectual, mas
tambm uma estratgia norteadora para impulsionar aes locais, rumo construo da
sustentabilidade scio-ambiental, econmica e cultural, estruturaram-se sobre este marco
terico os objetivos prticos que nortearam as aes de pesquisa deste trabalho dentro do
contexto social em que se deu. Foi sob a perspectiva do ecodesenvolvimeto que se props
investigar o uso do bambu como uma alternativa para o desenvolvimento com
sustentabilidade ambiental contextualizando-o num processo tecnolgico, social,
econmico e cultural.
Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo investigar as possibilidades de aplicao do
bambu como um material de construo em Sergipe, analisando-se todos os aspectos
decorrentes do processo de uso, quais sejam: eficincia econmica, propriedades fsicas e
mecnicas do material, desempenho da mo de obra local, nveis de aceitao do material
pela populao usuria e desempenho esttico do bambu na arquitetura, buscando-se ao
final da pesquisa responder as questes formuladas.
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Captulo 1Introduo 3
O mtodo empregado foi o da pesquisa-ao que utilizou uma ao coletiva planejada de
carter tcnico, social e cultural, orientada em funo da resoluo de problemas
conceituais e tcnicos operacionais, levantados nas questes de investigaodeste trabalho.
O desenvolvimento da pesquisa se deu com a construo do Centro de Educao
Agroflorestal, no municpio de Carmpolis, em Sergipe, onde se utilizou o bambu como
material de construo predominante. Neste trabalho, o objetivo da pesquisa-ao foi
principalmente voltado para a produo de conhecimento que no ser til apenas para o
grupo considerado na investigao local. Trata-se de um conhecimento a ser confrontado
com outros estudos e suscetvel de parciais generalizaes quanto soluo de questes
tcnicas, culturais e econmicas.
Composto por trs partes, busca-se na primeira realizar uma breve contextualizao dascondies histrico-culturais em que se construiu o conceito de desenvolvimento no
mundo ocidental, conhecendo as razes que nos permitem compreender melhor a
progressiva devastao das nossas condies de vida e analisando o modo como a nossa
sociedade construiu o seu conceito de natureza.
Na Segunda Parte se apresentam os caminhos percorridos para delimitao das questes de
pesquisa, os mtodos, tcnicas, procedimentos e materiais utilizados na ao proposta,
definio do cenrio e atores, at a coleta de dados e como foi feita a anlise dos mesmos.
A Terceira Parte apresenta o desenvolvimento e resultados obtidos, atravs dos quais
procura-se responder as questes investigadas, chegando-se s concluses que
demonstram a existncia de uma alternativa de ecodesenvolvimento centrado no uso e na
disseminao da cultura do bambu, que podem representar uma ao transformadora para
comunidades rurais e perifricas de pequenas cidades em Sergipe.
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PRIMEIRA PARTE
FUNDAMENTAO TERICA
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CAPTULO 2
DESENVOLVIMENTO, CULTURA E MEIO
AMBIENTE NA RELAO SOCIEDADE-NATUREZA
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Captulo 2 Desenvolvimento, cultura e meio ambiente na relao sociedade-natureza 6
2. DESENVOLVIMENTO, CULTURA E MEIO AMBIENTE NARELAO SOCIEDADE- NATUREZA
2.1. CRISE CIVILIZATRIA E A QUESTO AMBIENTAL
Neste captulo busca-se realizar uma breve contextualizao das condies histrico-
culturais em que se construiu o conceito de desenvolvimento no mundo ocidental,
conhecendo as razes que nos permitem compreender melhor a progressiva devastao das
nossas condies de vida e analisando o modo como a nossa sociedade construiu o seu
conceito de natureza, caracterizado por uma espcie de deslocamento do homem, no
processo de desenvolvimento e declnio do pensamento ocidental, em que nos deparamos
com uma sociedade industrial ignorante das implicaes metafsicas de seus prpriosfundamentos.
A humanidade, durante a sua trajetria histrica, estabeleceu a ocupao e o uso espacial
da terra, utilizando os recursos naturais renovveis e no-renovveis, basicamente
interessada na sua prpria sobrevivncia. Ao longo dos tempos, passou a adotar um
comportamento predatrio em relao natureza, legando-nos o mundo em que vivemos
hoje: catico, desarmnico, desequilibrado e ambientalmente doente. Estamos vivendo em
meio a uma srie crescente de problemas ambientais, gerados por um modelo hegemnicode desenvolvimento.
Na histria humana, o comportamento predatrio no novo. O que novo a dimenso e
extenso dos mecanismos de depredao onde se inclui, desde o surgimento das grandes
cidades e das imensas lavouras de monoculturas, at as armas nucleares.
Segundo Andrade (2000), osproblemas ambientais s comearam a ser identificados como
sendo impactantes a partir de dois fatos bsicos: primeiro, a revoluo industrial, ocorrida
a partir da metade do sculo XVIII, mais precisamente a partir do ano de 1750, produzida
pela passagem do artesanato e da manufatura fbrica, pela criao das mquinas de fiar
(tear mecnico), ocasionando uma grande mudana no processo de produo. Segundo: a
organizao urbana, representada pela construo das grandes cidades originadas com a
revoluo industrial,a maioria delas feita sem nenhum planejamento e ordenamento.
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Captulo 2 Desenvolvimento, cultura e meio ambiente na relao sociedade-natureza 7
A forma como as sociedades predominantes promoveram o desenvolvimento,
fizeram cincia e desenvolveram tecnologias, gerou o mau desenvolvimento que, na
prtica, tem se mostrado predatrio, penoso e injusto. O progresso, entendido
apenas como avano tcnico, material e crescimento econmico, est sendo obtido
dentro de um padro de produo, de consumo, de acumulao e de vidainsustentvel. (LEFF, 1996, p. 41)
Com efeito, o domnio sobre a natureza estampa relaes insustentveis traduzidas nas
externalidades do avano tecnolgico, do crescimento econmico e da maximixao de
lucros. Nosso modelo de desenvolvimento mostra a predominncia da razo tecnolgica e
da racionalidade econmica, fundamentada no clculo econmico. o que demonstra Leff
(2001) ao expor nosso modelo norteador utilitarista, competitivo e produtivo, base de
sustentao de uma sociedade deformada, desintegrada e desintegradora do meio ambiente.
Sobretudo construmos o nosso conhecimento por meio de uma percepo estreita da
realidade, baseado no pensamento racional, que se caracteriza pela linearidade e pela
oposio do sujeito ao objeto. Segundo Vieira & Weber (1996), fragmentamos o saber e,
conseqentemente, tratamos os saberes e os problemas ambientais de forma isolada, no
relacional. Em ltima anlise, optamos por uma utopia-desenvolvimentista
antropocntrica caracterizada pelo individualismo, pela falta de solidariedade entre os
homens e destes para com a natureza. Neste sentido, os autores afirmam a existncia depreocupao em estabelecer uma co-viabilidade de longo prazo dos ecossistemas e dos
estilos de vida que eles suportam.(VIEIRA & WEBER, 1996, p. 19).
Esse processo civilizatrio, pautado por modelos de sociedade incompatveis com a
sustentabilidade biolgica, social, cultural e econmica, desencadeou tudo isto a que
chamamos de crise ambiental. Na verdade, esta crise, manifestada atravs da degradao
ambiental, , em sua essncia, um sintoma de uma crisecivilizatria. Essa, por sua vez,
est ligada a uma crise existencial, fundamentada na perda de valores. Hoje, a criseambiental serissima e grave. Est vinculada, inclusive, s questes de segurana planetria,
diretamente relacionada nossa sobrevivncia, das futuras geraes, e a do planeta que nos abriga.
A separao homem-natureza uma caracterstica marcante do pensamento que tem
dominado o mundo ocidental, cuja matriz filosfica se encontra na Grcia e Roma
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clssicas. preciso questionar as razes dessa crise, razes profundas e antigas. Segundo
Saffiati (2002), a civilizao ocidental, da qual fazemos parte, tem, j nas suas origens
mais remotas, duas posturas intelectuais bsicas, que oscilam de acordo com as fases da
sua histria: uma o antropocentrismo, que coloca o homem como centro absoluto do
universo; outra o teocentrismo, que faz tudo girar em torno da idia de Deus. Elas so
encontradas nas duas vertentes formadoras da civilizao ocidental, ou seja, o judasmo e o
helenismo.
Gonalves (1998) afirma que, com Plato e Aristteles que se comea a assistir um certo
desprezo pelas pedras e pelas plantase um privilegiamento do homem e das idias. Na
civilizao helnica, entendendo com essa expresso Grcia e Roma, a postura
predominante antropocntrica: os deuses so concebidos imagem e semelhana doshomens. Considerando-se centro, o homem distancia-se dos demais seres e, de certa
maneira, se posta diante deles em atitude de superioridade absoluta, abertamente
antagnica.Surgem assim as relaes equivocadas e s vezes perversas de dominador x
dominado, de esprito x matria, de homem x natureza. Esta postura do homem como
centro absoluto do universo, tendo assim, a natureza ao seu dispor, vem sendo utilizada
ideologicamente para justificar a explorao do meio ambiente h sculos.
A tradio judaico-crist fortemente marcada por um cunho teocntrico. Nela o homem concebido semelhana e imagem de Deus e foi sob essa influncia que a oposio
homem-natureza e esprito-matria adquiriu maior dimenso. Segundo Gonalves (1998),
os cristos vo afirmar decididamente que Deus criou o homem a sua imagem e
semelhana. Criado imagem e semelhana de Deus, o homem assim, dotado de um
privilgio. Se Plato falava que s a idia era perfeita, em oposio realidade mundana, o
cristianismo operar a sua prpria leitura, opondo a perfeio de Deus imperfeio do
mundo material. Com o cristianismo, os deuses j no habitam mais este mundo, como na
concepo dos pr-socrticos.Deus sobe aos cus e, de fora, passa a agir sobre o mundoimperfeito do dia-a-dia dos mortais. Localizado num lugar privilegiado, estratgico, do
alto, Deus a tudo v e controla. A assimilao aristotlico-platnica que o cristianismo far
em toda a Idade Mdia levar a cristalizao da separao entre esprito-matria, homem-
natureza.
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No perodo renascentista, as profundas alteraes da vida correspondentes ao
desmantelamento do Feudalismo, tiveram amplas repercusses no campo das idias, a
exemplo da revalorizao do empirismo e do racionalismo e da contestao religiosa
responsvel pela ecloso do Protestantismo a partir das idias de Lutero. A partir da o
poder da Igreja Catlica de Roma deixa de ser incontestvel, sobretudo em domnios
filosficos,segundo Melo e Souza (2003).
No entanto, com Rene Descartes(1596-1650) e seu racionalismo cartesiano, no sculo
XVII, que a oposio esprito-matria, sujeito-objeto, homem-natureza se tornar mais
completa, se constituindo no centro do pensamento moderno e contemporneo, pois
conforme Kesselring (1992) a natureza torna-se objeto da cincia.
Bolf (2004) afirma na sua leitura sobre Descartes, que sintomtica pela ciso entre homem
e natureza a diviso cartesiana do mundo em duas partes: a res extensa (mundo dos
corpos materiais) e a res cogitans (mundo do pensamento). Neste esquema a natureza
restringe-se a res extensa e o pensamento, por outro lado, no pertence natureza.
Ainda, dois aspectos marcam a modernidade, conforme Gonalves (1998): primeiro, o
carter pragmtico do conhecimento, que v a natureza como um recurso, um meio para se
atingir um fim. E, segundo o antropocentrismo, assimilado e expandido no Renascimento,
em que o homem, um sujeito em oposio ao objeto que a natureza, instrumentalizado
pelo mtodo cientfico, pode penetrar nos mistrios desta e assim se tornar senhor e
possuidor do mundo. imagem e semelhana de Deus tudo pode, todo poderoso.
Assim, a natureza perde o carter de finalidade e espontaneidade com o qual os antigos a
haviam impregnado, e passa a ser interpretada como mquina, podendo ser esmiuada de
maneira que tudo seja conhecido, que nada cause espanto ou admirao, pois, segundo
Donatelli (2003), no h mais sentido estudar fenmenos com o objetivo de descobrir as
intenes da natureza, visto que, segundo a teoria mecanicista, o homem deve ser um
manipulador dela. Dessa forma, a natureza foi dessacralizada, explica Acot (1990), e um
terrvel conceito utilitrio tomou conta de ns; s nos interessamos pelo que serve, pelo
que tem um rendimento, de preferncia imediato. Amplia-se assim, o carter de finalidade
e aprofundando-se a concepo de matria a ser explorada e dominada pela tcnica.
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Conforme Filho (2003), este homem de pensamento cartesiano em contraposio ao
pensamento medieval afirma que o ser humano deve ser conhecedor da natureza para que
nela encontre e dela extraia os recursos, o que inclui, alm da satisfao do esprito, o bem-
estar do corpo.
A diviso cartesiana entre matria e esprito, aliada concepo mecanicista, gerou toda a
base filosfica da dessacralizao completa da natureza, provocando a sada do homem,
como se ele no fizesse mais parte dela. Segundo Capra (1996), a rejeio de qualidades
espirituais no cosmo, o repdio a qualquer significado intrnseco na natureza e o
desaparecimento do divino da viso cientfica do mundo gerou um vazio espiritual que se
tornou caracterstico da nossa cultura ocidental.
No sculo XIX, em meio s transformaes ocorridas com a revoluo industrial,emergiu
a filosofia ps-kantiana, baseada no positivismo, que tem em Augusto Comte (1798-1857)
o seu principal representante, segundo Cotrim (2000).
O positivismo, como afirma Cotrim (2000), refere-se a toda uma diretriz filosfica
marcada pela exaltao da cincia e do mtodo cientfico. Criou-se o mito do
cientificismo, segundo o qual o nico conhecimento possvel e perfeito o proveniente da
cincia. Reflete, no plano filosfico, a euforia surgida pelo desenvolvimento da sociedadecapitalista industrial, acreditando nos benefcios que esta sociedade poderia gerar e no
progresso capitalista, orientado pela tcnica e pela cincia.Afirma ainda o autor que as
penosas conseqncias sociais advindas da industrializao eram justificadas ou
menosprezadas pelo positivismo e que, Comte defendeu a legitimidade da explorao
industrial, concordando com a existncia dos empreendedores capitalistas e dos operadores
diretos, o proletariado.
Cotrim (2000) ainda assegura que, segundo Comte, somente so reais os conhecimentos
que repousam sobre fatos observados. Assim, o conhecimento cientfico positivista se
torna um instrumento humano de transformao da realidade, onde o homem capaz de
prever os fenmenos naturais e de dominar a natureza.
Comte atribua o progresso ao desenvolvimento das cincias positivas. Essas
cincias permitiriam aos seres humanos saber para prever, prever para
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prover, de modo que o desenvolvimento social se faria por aumento do
conhecimento cientfico e do controle cientfico da sociedade. de Conte a
idia de Ordem e Progresso, que viria a fazer parte da bandeira do Brasil
republicano. (CHAU, 1998,p. 49)
Gonalves (1998) assegura que o sculo XIX ser o do triunfo desse mundo pragmtico,
com a cincia e a tcnica adquirindo, como nunca, um significado central na vida dos
homens. A natureza, cada vez mais um objeto a ser possudo e dominado, agora
subdividida em fsica, qumica, biologia. O homem em economia, sociologia, antropologia,
psicologia, etc. Qualquer tentativa de pensar o homem e a natureza de uma forma orgnica
torna-se cada vez mais difcil, at porque a diviso no se d somente enquanto
pensamento. A realidade objetiva construda pelos homens est toda dividida: a indstria
txtil est separada da agricultura, a diviso social e tcnica do trabalho fazem parte do
mundo concreto dos homens e no pensar de modo fragmentado, dividido, dicotomizado,
passa a ser cada vez mais caracterstico daqueles que parecem ter perdido o senso de
realidade.
Segundo Gaspar (1995), o pensamento no linear e integrador, fruto de uma relao
sistmica do homem com a natureza, visto como uma cultura de lentido em seguir o
ritmo do progresso tecnolgico. A grande caracterstica do tempo nas culturas integradas
natureza o fato de ser um tempo cclico, circular, que se repete anualmente conforme os
eventos marcantes das vrias estaes que se sucedem em cada regio da terra. Imersos
nesse sistema, os povos sentiam que suas aes ajudavam o ciclo a se realizar: havia um
sentimento de participao e responsabilidade. Por ser uma cultura que respeitava a Terra e
os seres vivos, a explorao da natureza tendia a ser feita com muita parcimnia e apenas
na medida em que era indispensvel para a sobrevivncia do grupo.
A racionalidade tecnolgica das sociedades ocidentais modernas desfaz o crculo do tempo
e o transforma em uma linha reta. Agora o tempo como uma longa estrada pela qual
corremos sem parar, para um lugar distante das crenas e das supersties: o territrio
seguro do progresso. Esses dois conceitos de tempo circular e linear determinam duas
atitudes antagnicas em relao ao mundo. O tempo circular determina uma atitude de
respeito e cooperao. O indivduo se sente co-responsvel pelo retorno desse ciclo; alm
de cuidar da natureza, dos animais e vegetais, estabelece um profundo sentimento de
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gratido e reverncia com todos os seres. Do cuidado que receberem agora, depende a
possibilidade de renascerem na prxima estao.(GASPAR, 1995, p. 8)
Segundo Gonalves (1998), quando o homem passa a manipular a natureza a partir do
mtodo cientfico, controlando a freqncia das safras agrcolas, forjando minrios e
transformando-os em mquinas, a meta prioritria se tornou criar as condies necessrias
para aumentar a produtividade em curto prazo da terra, das mquinas e dos homens. A
tecnologia cresceu direcionada para a manipulao da gua e da fertilidade do solo, para a
acelerao dos processos de plantio, colheita e conservao de alimentos, para a produo
de excedentes que significariam estoque garantido, possibilidade de manipular preos,
lucro crescente para os donos dos produtos e comerciantes, expulso dos fantasmas da
fome e do frio para todo o povo, libertando-o assim do jugo dos ciclos da natureza.
A possibilidade concreta de se libertar dos ciclos naturais atravs da tecnologia
se reflete na transformao do conceito de tempo, que deixa de seguir o ciclo
das estaes climticas e passa a refletir a seqncia linear de projetos e
experincias individuais. A projeo de todas as expectativas da coletividade
num mundo de desenvolvimento e progresso e a percepo linear do tempo,
criou uma atitude individual de irresponsabilidade e inconscincia em relao
natureza que foi se espalhando por toda a sociedade ocidental e destruindo a
sua ligao com a Terra.(GASPAR, 1995, p. 19)
A noo de tempo que est por traz da lgica capitalista, segundo Gonalves (1998), o
tempo do prprio capital e no a temporalidade dos ecossistemas ou dos trabalhadores. o
tempo da concorrncia, traduzido no interior das unidades de produo, nas fbricas e
fazendas, pela preocupao com o rendimento do trabalho, com a produtividade:
Para que a fbrica funcione necessrio que todos estejam a postos,
mesma hora, no mesmo lugar; a fbrica exige que as matrias-primascheguem no tempo certo; os comerciantes devem estar a postos para
comprar e vender na hora certa; as demais fbricas devem fornecer em
tempo hbil os insumos; enfim, tudo deve ser sincronizado atravs de
uma rede de transportes e comunicaes com o mximo de preciso
horria possvel. (GONALVES, 1998, p. 109)
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O universo newtoniano um relgio, mecanicista, sincronizado e no diacronizado. A
idia mecanicista do funcionamento csmico formulado por Isaac Newton(1642-1727),
deixou os cus e desceu a terra para atravs das mquinas se constituir na imagem de
progresso palpvel e tangvel para a humanidade.
Quando se considera o tempo no como uma sucesso de experincias, mas
sim como uma coleo de horas, minutos e segundos, aparecem os hbitos de
acrescentar ou de economizar tempo. O tempo cobra um carter de espao
fechado: pode dividir-se, pode preencher-se, pode, inclusive, dilatar-se
mediante o invento de instrumentos que economizem tempo. O tempo abstrato
converteu-se no novo mbito da existncia. As mesmas funes so reguladas
por ele: come-se no porque se tem fome, mas porque est na hora; dorme-se
no porque se est cansado, mas porque est na hora. Uma concepo
mecanicista generalizada do tempo acompanhou o emprego mais extenso dos
relgios dissociando a conscincia temporal das seqncias orgnicas e dos
ritmos da natureza. (MUMFORD apud GONALVES, 1998, p. 107)
Rompida, ento, a relao homem-natureza, encontrando-se estes, em sua maior parte,
separados do espao e das condies naturais de transformao dos seus bens de
subsistncia, vem-se obrigados a comprar no mercado aquilo que poderiam produzir, caso
as condies fossem outras. Separar o homem da natureza , portanto, uma forma de
subordin-lo ao capital.(GONALVES, 1998, p. 116)
Sem pr em dvida a difuso do conforto material trazido pela civilizao industrial,
temos, no entanto, o direito de nos perguntar se o avano espetacular dessa civilizao no
significa desperdcio demasiado de recursos e homens; quais os seus limites e o seu sentido
profundo; sobretudo, a que tipo de relaes de trabalho e de sociedade nos leva. Toda uma
corrente de pensamento acha que o industrialismo e a diviso de trabalho por ele
subentendido provocam inelutavelmente a alienao e a negao de qualquer espcie de
autonomia para os trabalhadores e os indivduos.
2.2. DESENVOLVIMENTO E A RELAO HOMEM-NATUREZA
Forjadas no poderoso arcabouo de idias do Positivismo e munidas de um mtodo
cientfico que consideravam inquestionvel, as geraes ocidentais a partir do
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Renascimento dedicaram-se sistematicamente a explorar o universo que as cercavam.
Observar os cus, criar condies materiais de navegar os oceanos descobrindo e
assimilando a sabedoria de outros povos, classificar e organizar a matria em padres
lgicos, dissecar as foras secretas da natureza e formular leis gerais para domin-las,
passou a ser o foco central da modernidade ocidental.
Uma vez encontradas as chaves para abrir as portas de acesso s grandes descobertas pela
utilizao do mtodo cientfico, poderiam estas ser utilizadas para construir cidades, curar
doenas, para reduzir custos de produo,ou seja, para melhorar a vida da humanidade
retirando-a do obscurantismo medieval.
Assim, o significado de desenvolvimento foi acrescido de uma dimenso de
valor. No se tratava apenas de uma questo de revelar como as coisas
funcionavam ou se desenrolavam, era tambm uma questo de fazer com que
funcionassem melhor, ou se desenrolassem bem e no de forma indesejvel. O
objetivo era o progresso, o domnio das foras secretas a fsica de Newton, a
dialtica de Hegel, a mo oculta do mercado, de Smith para o benefcio da
humanidade. (CAIDEN & CARAVANTES, 1988, p. 20)
A natureza perde qualquer conceito de sacralidade e mistrio e passa condio de objeto
sob permanente investigao, para que, uma vez desvendados os seus segredos, pudesse
servir a humanidade, melhorando a sua condio. Em relao a ela, o sentido do
desenvolvimento se havia modificado, passando de uma posio passiva ou neutra para
uma posio ativae assim, o homem agora irius-la, remodelando-a para servi-lo.
Essa ideologia do desenvolvimento baseado no progresso cientfico e no avano
tecnolgico passou a dominar o pensamento ocidental e expandiu-se alm do Ocidente, por
meio da colonizao e da educao ocidentais. Desenvolver significava empregar a cincia
e a tecnologia para melhorar a condio humana. Sendo assim, para assegurar o
desenvolvimento exigiam-se esquemas ocidentais de pensamento, instituies, cincia e
tecnologia e costumes ocidentais. Ser contrrio ao desenvolvimento era ser reacionrio.
Quem quer que se colocasse no caminho do progresso deveria ser afastado ou esmagado.
Historicamente nenhuma sociedade humana teve com a tcnica a relao que a sociedade
europia estabeleceu para si e depois expandiu a outros povos e culturas dentro do
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processo de colonizao a partir do sculo XIX, pois, oaparato tecnolgico da sociedade
industrial foi glorificado a ponto de ele ser visto como a condio indispensvel ao
desenvolvimento dos povos. A razo tcnicaadquire uma dimenso inimaginvel, da a
exaltao da cincia e da tcnica em oposio filosofia, aos saberes locais, s tecnologias
intuitivas culturais, aos saberes indgenas etc. Arazo tcnicaest preocupada com a
eficcia, com fins imediatos, com o lucro rpido. Como vivemos numa sociedade
marcada pelo produtivismo, a razo tcnicatornou-se a nica razo.(GONALVES,
1998, p. 118)
Com o seu af de conquistar territrios e unificar culturas, o ocidente alegava que a
ocidentalizao beneficiava todos os povos oferecendo-lhes uma opo modernizadora e
verdadeira. Retirava os povos do obscurantismo medieval, livrava-os da barbrie,
familiarizava-os com um comportamento mais civilizado e permitia-lhes partilhar de
descobertas da cincia. Essa ideologia deu origem ao patrocnio das potncias mundiais -
seu protecionismo, seu paternalismo e sua tecnologia. (CAIDEN & CARAVANTES,
1988, p. 22)
As sociedades tecnolgicas ocidentais abraam a cincia como uma nova religio e para
disseminar a ideologia do progresso como fruto do desenvolvimento tecnolgico, no s
reestruturam as suas instituies sociais, mas tambm ...se empenham no
recondicionamento das atitudes das pessoas para aceitar os imperativos tecnolgicos,
obrigando-as a abandonarem o manto sufocante da tradio que as acorrentavam ao
passado reacionrio. (Buarque,1993, p. 119). Se outras sociedades permaneciam
atrasadas, isso acontecia, sobretudo, por culpa delas prprias, porque no procuravam
imitar as sociedades progressistas, ou porque permitiam que a tradio sufocasse seus
esforos de modernizao.
O objetivo de acumular riqueza levou a burguesia mercantil europia a uma impiedosadominao de outros povos. Sob o argumento ideolgico de introduzir o desenvolvimento
e o progresso,...vrios povos foram arrasados culturalmente por essa lgica
homogeneizadora, de unificao, que nega fundamentalmente a diferena.
(GONALVES, 1998, p. 128)
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So profundas, portanto, as implicaes decorrentes do desrespeito s diferenas entre os
modos de vida que caracterizam cada povo-cultura, assim como so profundas as
implicaes recprocas entre ecologia e economia institudas pela ordem capitalista.
Nesse contexto determinista e unidimensional, as cincias sociais do ocidente
desenvolveram teorias de suporte, na economia, na poltica e na sociologia, para tornar
possvel uma classificao das naes segundo uma escala do mais desenvolvido ao menos
desenvolvido, do mais atrasado ao mais avanado, de acordo com os padres ocidentais.
Na economia os estgios definidos de crescimento, atravs dos quais uma
economia tradicional se modernizava, vieram a ser formulados por Rostow. Em
cincia poltica, Huntington, Riggs e outros formularam elaborados sistemas
classificatrios distinguindo entre formas de governo tradicionais e modernas.
Em sociologia, descreveram-se diferenciaes institucionais cada vez maiores
entre as atividades industriais e agrrias. Mesmo na psicologia fez-se o
contraste entre as personalidades conservadoras (autoritrias) e as
personalidades modernas (orientadas para o desempenho). E, assim, foi
possvel sobre pases desenvolvidos (ocidentais) e subdesenvolvidos (no-
ocidentais) distinguir entre os mais desenvolvidos e os menos desenvolvidos,
isto , entre os adiantados e os atrasados; podendo-se classificar as naes
segundo um continuum, do mais atrasado ao mais avanado, de acordo com o
que determinassem as caractersticas ocidentais.(CAIDEN & CARAVANTES,1988, p. 22)
Segundo Huberman (1986), o modelo para o desenvolvimento era o de uma sociedade
industrial urbana e o nvel de urbanizao e industrializao determinavam o grau de
modernidade atingido por essa sociedadade. Desenvolvimento era, sobretudo,
desenvolvimento econmico, que por sua vez era, acima de tudo, renda per capita
expressa em termos monetrios, baseado mais nos ndices de capitalizaoe lucro, do que
na agricultura de subsistncia. O planejamento econonmico se sobrepunha ao
planejamento do desenvolvimento, pouca preocupao havendo com eqidade, justia ou
bem estar.
Huberman (1986) afirma ainda que o processo de industrializao levou ao rpido
esvaziamento do campo e urbanizao. em torno das fbricas que se assentam os
grandes aglomerados urbanos uma vez que, foi na indstria que o capital mais plenamente
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se apoderou do processo produtivo aps o advento do capitalismo. A organizao do
espao socialmente instituda e as relaes sociais comeam tambm a ser
mercantilizadas. A maior parte das populaes urbanas, formada por camponeses que
foram expropriados dos seus meios de produo, se vm obrigadas venda de sua
capacidade de trabalho por um preo, por um salrio.
A sociedade capitalista comea realmente a se afirmar quando o capital se desloca da
esfera do comrcio para a da produo. A manufatura a primeira expresso disto, ao
reunir no mesmo espao da fbrica vrios trabalhadores, combinando suas parcelas de
trabalho sob o comando do capitalista. Todavia, a manufatura apresentava limites para a
acumulao do capital, tendo em vista as limitaes psquicas e biolgicas dos operrios
que tiravam dos seus prprios corpos a energia para a produo, afirma Gonalves (1998).
A partir dessas limitaes, o advento da mquina torna-se uma necessidade para a
expanso do capital. Inovaes tecnolgicas se afirmam como sinnimos de progresso e a
histria recente da tecnologia torna-se uma sucesso permanente de tcnicas que
substituem umas s outras. (GONALVES, 1998, p. 119)A nossa sociedade ocidental
contempornea estabelece com a tcnica uma relao que a considera superior
manufatura. Superior por ser mais produtiva, por representar o progresso e a modernidade.
Privados dos domnios territoriais e meios de produo, e assentados em aglomerados
urbanos alheios aos seus saberes rurais, o trabalhador sofre uma segunda expropriao.
Com o advento da mquina e da industrializao o conhecimento tradicional que pertencia
ao trabalhador e transferido das oficinas para os departamentos de planejamento, da
manufatura (manu, mo.; facere, fazer) para a automao mecnica. Elimina-se os
processos subjetivos de pensar e fazer em ntima relao com os seus objetos de trabalho.
Assim se consagra a separao entre trabalho intelectual e trabalho braal.
Cristaliza-se o processo de separao homem-natureza ao ser negada, grande
maioria da populao, aquilo que prprio da natureza humana, ou seja, a
faculdade de criar, imaginar, inventar, que as classes planejadoras exaltam
como indicadores da sua superioridade. (GONALVES, 1998, p.121)
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Com relao participao humana no processo de produo, deve-se destacar que na
manufatura o saber fazer estava encarnado no prprio corpo do trabalhador, j na indstria
tecnolgica a mquina quem faz, reduzindo o trabalhador a uma mera pea desta,
alimentando-a.
A criatividade inerente espcie humana. Se, na maior parte dos seres humanos, essa
qualidade no desenvolvida plenamente, no por incapacidade, mas por vivermos numa
sociedade e num tempo onde o pensamento criativo foi subjugado pela ao produtiva e
assim, se desperdia o maior patrimnio criativo que a natureza produz: o prprio ser
humano.
Na opinio de Lasch apud Sachs (1986), o operrio que desaprendeu a construir a sua
habitao, e a mulher dele que no sabe mais cozinhar, na realidade perderam quase todo o
controle sobre si mesmos.
Deveremos da deduzir, como parece sugerir esse autor, que a civilizao
industrial, longe de constituir o ponto alto da nossa histria, tosomente uma
aberrao, um passo na direo errada, cujo custo proibitivo no pode mais ser
suportado pela humanidade? (SACHS, 1986, p.98)
O fato de que, em diversos pases industrializados, novos e enormes movimentos que
buscam despertar a conscincia coletiva para a questo ecolgica e comunitria, tenham
entrado em cena no decorrer das ltimas dcadasconstitui indcio do mal-estar provocado
pela sociedade industrial.
O desenvolvimento industrial preocupou-se mais com o crescimento do que com a
distribuio, entendendo que quanto mais bens materiais houvesse, mais haveria para ser
distribudo. Segundo Sachs (1986), a associao do desenvolvimento ao crescimentoconstitui um reducionismo econmico, pois toma a parte pelo todo, e ignora a diferena
que existe entre condio necessria e condio suficiente. Desta forma, a teoria
econmica, assumindo a aparncia de rigor de cincia exata que lhe era conferida pela
formalizao mecanicista, tornou-se argumento de peso no apoio ideologia do
crescimento.
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Na sua essncia, a ideologia do crescimento prega a idia do "quanto mais, melhor" e de
que todos os problemas estruturais acabaro por se resolver atravs de uma fuga
quantitativa para diante. Na afirmao de Sachs (1986), no leva em conta a oposio entre
a economia do ser e a do ter e, ao invs de redefinir as finalidades do desenvolvimento,
concentra-se nas instrumentaes do aumento da oferta de bens e servios. No toma
conhecimento das diferenas qualitativas essenciais entre desenvolvimento e mal-
desenvolvimento, nas quais pesam, de um lado, o grau de satisfao das necessidades
sociais reais da populao e, de outro, os custos sociais e ecolgicos do crescimento.
O crescimento acelerado e a modernizao, Segundo Sachs (1986), mudam
completamente as estruturas de consumo e os modos de vida das elites e das classes
mdias nas cidades, sem criar as estruturas de produo capazes de assegurarem, ao
mesmo tempo, uma existncia digna ao conjunto de toda populao.
A experincia dos trs ltimos decnios mostrou que uma modernizao muito rpida
pode, em certos casos, ser realizada na periferia do mundo capitalista, mas s custas do
aumento das desigualdades entre a minoria privilegiada e a maioria dos pobres, em
detrimento das populaes rurais e perifricas urbanas, a favor das intra-urbanas, com
custos sociais e ecolgicos na maioria vezes exorbitantes.
A contabilidade nacional, segundo Leff (2001) hoje utilizada para medir o crescimento,
baseia-se na noo de valor de troca que abrange indistintamente valores de uso
socialmente reconhecidos como tais; pseudo-valores de uso que no trazem qualquer
satisfao ao consumidor, salvo talvez uma diferena de status em relao aos demais
consumidores, e os "no-valores", que constituem, na realidade, um custo de
funcionamento do sistema e, no, um resultado.
Outros custos ecolgicos de produo - como a destruio do acervo gentico ou a
degradao da fertilidade dos solos provocada por prticas agrcolas erradas - sosimplesmente ignorados; e a prpria poluio ainda um custo, ao mesmo tempo,
ecolgico e social que mal se comea a levar em conta, mesmo assim parcialmente e
apenas como conseqncia do custo da despoluio.
Portanto, a degradao ambiental se manifesta como sintoma de uma crise de civilizao,
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marcada pelo modelo de modernidade regido pelo predomnio do desenvolvimento da
razo tecnolgica sobre a organizao da natureza. A questo scio-ambiental
problematiza as prprias bases da produo; aponta para a desconstruo do paradigma
econmico da modernidade e para a construo de futuros possveis, fundados nos limites
das leis da natureza, nos potenciais ecolgicos, na produo de sentidos sociais e na
criatividade humana, segundo Leff (2001)
2.3. SABER TECNOLGICO, ETNOCONHECIMENTO
E ECODESENVOLVIMENTO
A questoambiental surge nas ltimas dcadas do sculo XX como sinal mais eloqente
da crise da racionalidade econmica que conduziu o processo de modernizao. Leff
(2001) afirma que a racionalidade econmica cartesiana que se converteu no princpio
constitutivo que predominou no paradigma que organizou a vida no ocidente, legitimou
uma falsa idia de progresso, e v a degradao ambiental como um sintoma concreto da
crise da civilizao. O saber ambiental passa a ocupar, ento, um lugar no vazio da
racionalidade cientfica. o sintoma da falta de conhecimento da humanidade.
Na percepo desta crise ecolgica foi sendo configurado um conceito de
ambiente como uma nova viso do desenvolvimento humano que reintegra os
valores e potenciais da natureza, as externalidades sociais, os saberes
subjugados e a complexidade do mundo negados pela racionalidade
mecanicista, simplificadora, unidimensional e fragmentadora que conduziu o
processo de modernizao. O ambiente emerge como um saber reintegrador da
diversidade, de novos valores ticos e estticos e dos potenciais sinergticos
gerados pela articulao de processos ecolgicos, tecnolgicos e culturais. O
saber ambientaI ocupa seu lugar no vazio deixado pelo progresso da
racionalidade cientfica, como sintoma de sua falta de conhecimento e como
sinal de um processo interminvel de produo terica e de aes prticasorientadas por uma utopia: a construo de um mundo sustentvel,
democrtico, igualitrio e diverso. (LEFF,2001, p. 17).
A reapropriao da natureza coloca um princpio de eqidade na diversidade que implica
na autodeterminao das necessidades, a autogesto do potencial ecolgico de cada regio
em estilos alternativos de desenvolvimento e, a autonomia cultural de cada povo e cada
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comunidade, processos que definem as condies de produo e as formas de vida de
diversos grupos da populao em relao ao manejo sustentvel de seu ambiente.
A eqidade no pode ser definida em termos de um padro hegemnico de bem estar, da
repartio de estoques de recursos disponveis e da distribuio dos custos de
contaminao do ambiente global. A equidade na diversidade tratada por Leff (2001),
implica eliminar as condies de dominao sobre a autonomia dos povos, dando
condies para a apropriao dos potenciais ecolgicos de cada regio, mediados pelos
valores culturais e pelos interesses sociais de cada comunidade.
A racionalidade ambiental tratada por Leff (2001) passa pela valorizao da diversidade
tnica e cultural da espcie humana, pela fomentao da valorizao de diferentes formas
de manejo produtivo da biodiversidade. Assim, o desenvolvimento sustentvel deve ser um
projeto social e poltico que aponta para o ordenamento ecolgico e a descentralizao
territorial da produo. Uma valorizao da diversificao dos tipos de desenvolvimento e
dos modos de vida de todas as populaes que habitam o planeta. Afirma, ainda, que
preciso que os pesquisadores e cientistas no tomem os povos que estudam como simples
objetos, mas que deixem que eles falempara compreenderem seusvalores como valores
prprios de uma outra cultura que no podem ser reduzidos.
A tradio racionalista do iluminismo ainda est presente entre ns com grande fora:
mesmo entre os ecologistas existem aqueles que acreditam que os tcnicos e cientistas
devem orientar as prticas da relao homem-natureza. A cincia e a tcnica so condies
necessrias, mas no suficientes para garantir um uso racional dos recursos naturais.
O papel das universidades nesse sentido passa a ser tambm o de retomar os saberes locais
e populares, captando os problemas a partir das bases e desenvolvendo o saber elaborado
para sua aplicao em programas e projetos de gesto ambiental. Deve-se promover uma
miscigenao de prticas tradicionais com conhecimentos cientficos, assim como a
transmisso do saber ambiental e sua assimilao por parte das comunidades,
potencializando, com isso, formas produtivas e capacidades de autogesto de processos de
desenvolvimento.
A pedagogia ambiental, proposta por Leff (2001), se orienta no pensamento da
complexidade que crtico, participativo e propositivo. O saber interdisciplinar implica,
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no s na fuso e integrao dos conhecimentos provenientes de diferentes cincias, mas
na reformulao de seus paradigmas de conhecimento a partir dos problemas scio-
ambientais concretos que se apresentam competncia dos novos profissionais.
Novos paradigmas passam a revisar os fundamentos tericos das etnocincias. A busca
por aes prticas que finquem a cultura em suas razes naturais.
Esta busca de fundamentao do saber coloca, por sua vez, a possibilidade de
se construir novos projetos de civilizao e estratgias de
etnoecodesenvolvimento, a partir dos valores e saberes das comunidades rurais
e de sua mestiagem com as cincias e tecnologias modernas, num processo de
inovao de prticas de aproveitamento sustentvel dos recursos naturais.
(LEFF, 2003, p. 263)
Para isso necessrio rever a relao de dominao, sujeio e desconhecimento dos
saberes tradicionais pela monocultura modernizadora e libertar os saberes subjugados que
no foram formalizados em cdigoscientficos..
preciso um outro modo de pensar e de agir que incorpore uma outra relao homem-
natureza. Trata-se de um outro projeto de sociedade, de um outro sentido para o viver, de
uma outra cultura que subordine as tcnicas aos seus fins e no fique subordinada a elas,
de um reprojetamento de nossa tecnologia, de novos valores e de uma nova poltica.
A tica ambiental vincula a conservao da diversidade biolgica do planeta ao respeito
heterogeneidade tnica e cultural da espcie humana. Ambos os princpios se conjugam no
objetivo de preservar os recursos naturais e envolver as comunidades na gesto de seu
ambiente. Segundo Leff (2001), entrelaam-se aqui o direito humano a preservar a sua
prpria cultura e tradies, o direito de forjar o seu destino a partir de seus prprios valores
e significao do mundo, com os princpios da gesto participativa para o manejo de seus
recursos, de onde as comunidades retiram suas formas culturais de bem-estar e a satisfaode suas necessidades.
Vale ressaltar que o termo ecodesenvolvimento foi adotado pela primeira vez em 1973 por
Maurice Strong, Secretrio Geral da Conferncia de Estocolmo sobre Meio Ambiente. A
concepo dessa conferncia foi essencialmente antitecnocrtica e recomendou uma gesto
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mais racional dos ecossistemas, a qual deveria incluir a valorizao do conhecimento
emprico e da criatividade existente no interior das comunidades. Dessa maneira, nessa
conferncia foi defendido que o crescimento econmico e a preservao, bem como o uso
sustentado dos recursos naturais, representavam dimenses necessariamente passiveis de
integrao, segundo Vieira (2001).
O conceito de ecodesenvolvimento preconizava uma gesto mais racional dos
ecossistemas locais inicialmente relacionadas s regies rurais da frica, sia e Amrica
Latina, ganhando dimenses de critica s relaes globais entre pases subdesenvolvidos e
superdesenvolvidos, bem como de crtica modernizao industrial como mtodo de
desenvolvimento das regies perifricas. Tal conceito vinha propor para estas regies um
desenvolvimento autnomo, independente daquele dos pases desenvolvidos epreocupados com os aspectos scio-poltico e ambiental do desenvolvimento, segundo
Sachs (1986).
Segundo Sachs (1999), o conceito de ecodesenvolvimento incorporou o argumento
ecolgico em sua concepo de desenvolvimento, pois considera que a natureza entra na
composiodo capital e no apenas nos meios de produo e de trabalho. Nesse sentido, o
ecodesenvolvimento pode ser definido como uma estratgia para se promover a autonomia
das populaes, estimular a reflexo e a experimentao participativa de formas decrescimento econmico que priorizem o potencial dos recursos naturais e sociais de cada
lcus, mesmo que este se faa de modo mais lento.
Segundo Almeida (1999), para se alcanar o objetivo do ecodesenvolvimento necessrio
fundamentar o planejamento nas seguintes dimenses: social, econmica, ecolgica,
espacial e cultural. Destarte, preciso introduzir processos que levem elaborao de
alternativas ao modelo de desenvolvimento vigente, sendo a organizao das comunidades,
dos grupos sociais e a reflexo a respeito das aes, algumas das alternativas possveis deserem realizadas em curto prazo.
Sachs (1986), aponta o ecodesenvolvimento como estratgia para superar as barreiras
____________________
A fundamentao e a disseminao do ecodesenvolvimento como um conceito, em vrios pases, dentre eles no Brasil, fruto do trabalho do autor Ignacy Sachs desde a dcada de 70, conforme Vieira, (2001), o qual ganhou umainterpretao mais ampla na Declarao de Cocoyoc, no Mxico em 1974.
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impostas pela economia de mercado dominante. E defende que, para o seu sucesso, torna-
se fundamental o desenvolvimento de tecnologias apropriadas a absorverem o melhor da
especificidade e da variabilidade tanto humana como naturais de cada ecossistema (local
ou regional), de forma particular.
sob a perspectiva do ecodesenvolvimento que propomos investigar o uso do bambu
como uma alternativa para o desenvolvimento com sustentabilidade ambiental
contextualizando-o num processo tecnolgico, social, econmico e cultural. Portanto, este
marco terico tem por objetivo prtico nortear as aes de pesquisa deste trabalho dentro
da dinmica social em que se dar.
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Captulo 3O bambu 26
3.1. USOS E POTENCIALIDADES
No se colecionam bambus apenas pelo prazer de admir-los. Naqueles
que observam, estudam e amam esse vegetal, gera-se uma viso menos
pessimista do futuro do planeta. Muitos problemas ecolgicos poderiam
ser resolvidos, pelo menos em parte, com o bambu.
(Yves Crouet )
3.1.1. O bambu em diversas culturas
O bambu, essa planta singular de mltiplas utilidades para o homem, um material ao
mesmo tempo novo e antigo. Novo por conta do crescente interesse que sua utilizao e
pesquisa tem despertado no mundo ocidental e antigo porque trata-se de uma planta que
surgiu em nosso planeta h milhes de anos, e que tem participado da histria do ser
humano desde o seu princpio, fornecendo alimento, abrigo, utenslios domsticos,
ferramentas agrcolas, papel, tecido, cordas, jangadas e uma infinidade de outros objetos do
seu cotidiano, segundo Pereira (2001).
Na contemporaneidade bastante utilizado, especialmente na sia, onde contribui
economicamente para suprir as necessidades de sobrevivncia de mais de um bilho de
pessoas, como afirma Sastry apud Pereira (2001). De acordo com Feng & Chao apud
Pereira (2001), a China o pas que mais produz bambu, possuindo uma rea plantada em
1997 de 3,4 milhes de hectares, com uma produo de um bilho de colmos anualmente.
Entre as centenas de usos j registrados para o bambu, incluem-se vrias aplicaes
industriais: broto comestvel, celulose e papel, matria prima para engenharia, construo,
qumica, mobilirio, produtos base de bambu processado e laminado colado para diversos
usos como pisos, forros e divisarias.
Culturalmente reconhecido como a planta dos mil usos e o amigo da natureza no
Oriente, no ocidente o bambu muito pouco explorado, todavia, na Amrica Latina, pases
como Colmbia, Equador, Peru e Chile tm o bambu como elemento tradicional na sua
cultura e outros pases tm praticado a introduo e explorao do bambu, como a Costa
Rica, atravs do Proyecto Nacional de Bamb. No Brasil, apesar de ser um vegetal
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Captulo 3O bambu 27
relativamente comum na flora de todas as regies, pouco utilizado, seja pelo
desconhecimento de suas centenas de espcies, caractersticas e aplicaes, seja devido
falta de pesquisas e informaes acessveis populaes que poderiam se beneficiar com
os seus usos. O uso que aqui fazemos, excetuando-se a produo industrial de papel, est
restrito a algumas aplicaes tradicionais como artesanato, vara de pescar, mveis, e o
broto comestvel, afirma Pereira (2001).
Os bambus apresentam caractersticas fsicas peculiares, o que os distinguem de outras
plantas lenhosas. Uma das grandes diferenas a forma de crescimento. Enquanto as
rvores crescem em sentido radial em sua seo, desenvolvendo a estrutura de caule,
galhos e folhas simultaneamente, os bambus brotam com o seu dimetro definitivo e
crescem verticalmente sem nenhuma ramificao horizontal. Apenas o colmo sedesenvolve com taxas de crescimento muito surpreendentes. Segundo Hidalgo, no seu livro
Bamboo, The Gift of the Gods, (2003,p.11) o bilogo japons Koichiro Uedacoletou e
observou nmeros admirveis de crescimento num perodo de 24 horas:
a) 91,3 cm para o Bambusa arundinacea, observado no Kew Gardens na Inglaterra em1855;
b) 88 cm para oPhyllostachys edulis(Ph. pubescens) por K. Shibata observado no JardimBotnico Koishikawa, em Tquio, em 1898;
c) 119 cm para oPhyllostachys edulis, (dimetro de 16 cm), observado em 24 de maio de1956 por Koichiro Ueda, no jardim da prefeitura de Kyoto, no Japo,em 1955;
d) 121cm para oPhyllostachys reticulata, conhecido vulgarmente como bambu Madake(12
cm de dimetro) medido por K. Ueda em 23 de Junho de 1955, nos arredores de Kyoto, noJapo.
Na Colmbia, o mximo de crescimento registrado para o Gudua angustifliafoi de 30
cm em 24 horas, segundo Hidalgo (1978). Nesta pesquisa, observamos e medimos
crescimento da ordem de 42 cm em 24 horas para bambus da espcie Bambusa vulgaris,
em junho de 2004, plantados em 2001 em Aracaju.
________________________
O livro Bamboo, The Gift of the Godsdo professor colombiano Oscar Hidalgo Lpez, publicado em 2003 (553 p.)que inclui todas a sua produo cientfica anterior, considerada a mais abrangente e completa publicao sobre o bambue fonte de consulta e referncia principal para todos os pesquisadores do tema.
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Liese (1985) assegura que por esta caracterstica peculiar de crescimento acelerado, o
bambu se distingue como um rpido seqestrador de carbono da atmosfera. Sendo o
recurso natural e florestal que menos tempo leva para ser renovado, um material
ecolgico, com excelentes caractersticas fsicas, qumicas e mecnicas, que lhe
possibilitam milhares de aplicaes ao natural ou processado. Ainda, por ser uma cultura
tropical perene e por produzir colmos assexuadamente ano aps ano sem necessidade de
replantio, Pereira (2001) afirma que possui grande potencial agrcola, podendo ser
utilizado em reflorestamentos e como regenerador/protetor ambiental.
O bambu ajusta-se idia de sustentabilidade ambiental e de ecodesenvolvimento como
podemos perceber ao ler a afirmao de Farrely (1984,p. 76): nunca haver em nosso
planeta suficiente flautas de prata para dar a todos, mas facilmente haver bambu osuficiente para que cada um faa sua prpria flauta e toque.
Lpez (2003) descreve que o bambu conhecidocomo "a madeira dos pobres" na ndia,
"o amigo das pessoas" na China e "o irmo" no Vietn, e uma planta ancestral de crescente
importncia para a humanidade:
Tem-se revivido hoje em dia, muitos dos antigos usos que se faziam com o bambu,
com aplicaes em medicina, farmcia, qumica e outros campos industriais, como
um extratode slicachamado tabashir, empregado contra asma e como afrodisaco.
Da camada externa do colmo se produz uma bebida antitrmica, das folhas verdes
uma loo para os olhos e ainda, produtos como enzimas, hormnios, substncias
para cosmticos, xampus, cultivo de bactrias, carvo, energia, leo comestvel,
lcool, tecidos, aquedutos, cordas, pontes, papel, artesanato, construo civil e
rural, material para engenharia e alimento. (LPEZ,2003, p. 533)
Devido a disposio das fibras que compem os colmos se dar apenas no sentido
longitudinal destes, os bambus podem ser facilmente seccionados axialmente, produzindo-
se tiras ou ripas que podem ser aplicadas em diversos usos artesanais ou na construo
_______________________
O Professor Oscar H-Lpez no seu livro Bamboo, The Gift of the Gods, (2003, p.522) no captulo Usos do bambuno campo da medicina, cita 32 produtos farmacolgicos derivados do bambu de largo uso teraputico no Oriente, aindadesconhecidos comercialmente no Brasil.
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civil. As ferramentas para o desenvolvimento dessas tarefas so, geralmente, simples e
manuais, o que torna esse desdobramento barato e acessvel a comunidades de baixa
renda.
Ainda que se reconhea a falta de informaes cientficas sobre o comportamento de
muitas espcies, Schaur (1985), o credencia como a madeira do futuro, inclusive para a
indstria da construo civil.
Um dos exemplos mais significativos de confiana depositada em suas
propriedades fsicas e mecnicas, segundo Barros (1986), foi a construo da
aeronave Demoiselle, de Santos Dumont, com fuselagem constituda por dois
conjuntos de trs hastes de bambu com 6,7 m de comprimento e que alcanava aenvergadura de 6,6 m. Este foi o modelo de maior comercializao nos anos de
1909 e 1910, com mais de quarenta unidades vendidas. No se encontrou registro
sobre a espcie de bambu escolhida por Santos Dumont que as indstrias de L.
Dutheil, R. Chalmers et Cie. E Clment-Bayard tiveram que adotar, para fabricar o
Demoisellecom tanto sucesso na poca.(PIMENTEL, 1997, p. 5)
Ainda, como parte da histria, afirma Lpez (2003), sabe-se que o primeiro filamento
utilizado em uma lmpada por Tomas Edson foi de bambu e que o imponente TajMahal, construdo em 1634, tinha, at 1998 quando de uma restaurao promovida pelo
governo indiano, a sua cpula principal, com cerca de 20 metros de dimetro, estruturada
com colmos de bambu, sob uma espessa camada de argila.
Os variados potenciais de uso comunitrio e industrial tornam o bambu um produto
dinmico, que pode ser alocado para mltiplos usos, adequados a muitas situaes. Nesse
sentido, a Rede Internacional para o Bambu e o Rat,- INBAR (International Network
for Bamboo and Rattan) (2005), afirma que atualmente o bambu um insumo de grande
importncia na economia de pases asiticos como Vietn, Indonsia e Malsia,
movimentando valores da ordem de sete bilhes de dlares americanos por ano. Cerca de
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O rat uma palmcea trepadeira (Calamus rotang), nativa de regies tropicais,especialmente da ndia e da Malsia,cujo est