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  • 8/20/2019 BAMBU Ecodesign Fred Regis

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    UNIVERSIDADE SALVADOR

    DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE COMUNICAÇÃOCURSO DE DESIGN COM HABILITAÇÃO EM COMUNICAÇÃO VISUAL

    E ÊNFASE EM MEIOS DIGITAIS

    MONOGRAFIA

    ECODESIGN: POTENCIALIDADES DO BAMBU

    Frederico Menezes Régis

    SALVADOR2004

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    UNIVERSIDADE SALVADOR

    DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE COMUNICAÇÃOCURSO DE DESIGN COM HABILITAÇÃO EM COMUNICAÇÃO VISUAL

    E ÊNFASE EM MEIOS DIGITAIS

    MONOGRAFIA

    ECODESIGN: POTENCIALIDADES DO BAMBU

    Monografia como requisito da disciplinaProjeto Experimental para graduação no cursode Design com habilitação em comunicação

    visual e ênfase em meios digitais, pelaUniversidade Salvador-UNIFACS, sob aorientação da Profª. Dra. Maria Helena OchiFlexor

    SALVADOR2004

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    RESUMO

    Este estudo tenta, não só mostrar a relevância do ecodesign e a responsabilidade do designer

    no mundo atual, mas, também, caminhos para o seu desenvolvimento. Na tentativa de inovar

    o uso de materiais de pouca aplicação no Brasil, busca-se estudar o bambu, como um material

    alternativo no campo do design, tratando de investigar suas especificidades e as suas

     possibilidades aplicativas. Procura-se levar em conta os fatores estéticos, sociais, culturais e

    humanos, além de prever as conseqüências ambientais positivas, ecológicas e econômicas da

    aplicação do material em questão, ou seja, o uso do bambu como material ecologicamente

    correto, já em uso e valorizado em muitos países do mundo.

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    AGRADECIMENTOS:

    Prof a. Maria Helena Ochi Flexor, minha orientadora, por guiar meus passos nessa empreitada, pela confiança depositada em mim, pela paciência, apoio e amizade sempre.

    Profª. Carina Flexor, pela amizade e ajuda de sempre.

    Prof. Cid Ávila, pelos conselhos e apoio.

    Álvaro Abreu, que, com seu exemplo, foi o primeiro a me instruir e incentivar na arte do bambu.

    Membros do Grupo Bambu-Brasil, em especial, Raphael Moras de Vasconcellos, Marcelo daFonseca e Silva, Marques, Carlos Melo, Celina Lerena, Rubens Cardoso Junior, Euclides deOliveira Jr, Paulo Bustamante, Sérgio Miguel Safe de Matos Jr.

    Alessandro Carvalho, Consultor comercial da Nassau - Grupo João Santos, compadre eamigo, pelo apoio e por interceder por mim junto à Itapagé.

    Sr. Renato Larocca, Coordenador de Desenvolvimento de Embalagens Finais-Itapagé, pelagentileza e pelas valiosas informações. Colegas de curso, sempre dispostos a ajudar, sugerindo, indicando sites e artigos; em especial

    à Daniel Sabóia, Cristine Tanaka, Lívio Avelino, Ciro Avelino, Pablo Vinícius, NerinaldoPereira e Alexandre Dias.

    Minha mãe, Marília Régis, que, sem o apoio, confiança e paciência, não seriam possíveis asexperiências com o bambu.

    Heleno Eutrópio de Macedo, ex-funcionário da Fazenda Buril e, hoje, um amigo que, mesmome achando um louco, sempre me ajudou na lida com o bambu. Luiz e Ana, pela ajuda com o bambu na fazenda. 

    Sergio Barreto, pela confiança no projeto e pelo apoio.

    A todos que me ajudaram, mesmo aos que não foram citados, meu muito obrigado.

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    SUMÁRIO

    RESUMO 3

    AGRADECIMENTOS 41. INTRODUÇÃO 6

    2. O ECODESIGN 8

    2.1.Origens: ecologia e ecodesign 8

    2.2.Conceito 9

    2.3.Ecodesign X Design sustentável 10

    2.4.Critérios 11

    2.5.Mudança de paradigmas 13

    2.6.Mitos e realidade 14

    2.7.Ciclo de vida 15

    2.8.Interdisciplinaridade do ecodesign 16

    2.9.O lado social do ecodesign 17

    2.10.Barreiras ao ecodesign 18

    3. ORIGEM E DISSEMINAÇÃO DO BAMBU 20

    4. OS TIPOS EXISTENTES NO BRASIL E NA BAHIA 22

    4.1. Espécies nativas do Brasil 22

    4.2. Espécies exóticas sob cultivo no Brasil 29

    5. OS TIPOS MAIS USADOS 31

    6. RELAÇÃO BAMBU X ECODESIGN 35

    6.1. Algumas conveniências e inconveniências 39

    6.2.Tratamento 41

    7. APLICABILIDADE DO BAMBU NO ECODESIGN 44

    8. VANTAGENS DO USO DO BAMBU NO ECODESIGN 47

    9. DESVANTAGENS DO USO DO BAMBU NO ECODESIGN 50

    10. EXPERIMENTAÇÃO E PESQUISA DE CAMPO 51

    11. CONCLUSÕES 65

    12. BIBLIOGRAFIA 67

    12.1. Referências impressas 67

    12.2. Referências eletrônicas 67

    12.3. Referências eletrônicas complementares 69

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    1. INTRODUÇÃO

    O ecodesign consiste no método de projetar, que visa evitar ou diminuir, os impactosambientais. Não se trata apenas de “limpar”, mas principalmente de “não sujar”, levando-se

    isso em conta em todas as fases de projetação.

    Existe uma preocupação crescente na busca de novos materiais que não causem danos ao

    meio ambiente quando aplicados ao ecodesign, inclusive por parte dos empresár ios que têm

    como objetivo a exportação de seus produtos para os mercados europeu e americano,

    mercados estes que têm, hoje, uma preocupação com o impacto ambiental de um produto emtodo seu ciclo de vida, desde a sua fabricação até seu descarte.

    Alguns estudiosos, no Brasil, têm pesquisado e usado o bambu com diversas finalidades,

    como é o caso do arquiteto Rubens Cardoso Junior e dos designers industriais Marcelo

    Fonseca e Silva e Raphael Moras de Vasconcellos, este último, moderador da lista de

    discussão bambu-brasil1, porém, ainda não há um estudo focado no uso do bambu no

    ecodesign.

    Os estudos sobre ecodesign vêm crescendo bastante nos últimos anos e já é possível o acesso

    a artigos e teses sobre o assunto, principalmente em sites governamentais e de universidades.

    Esses documentos, juntamente com a bibliografia proposta, serão utilizados para fundamentar

    esta pesquisa.

    Como ainda não há um estudo que trate do uso do bambu no ecodesign, será feita uma

    associação entre o caráter ecológico do design, sugerido por Victor Papanek, no seu livro

     Arquitectura e design (1995, 275 p.) com as qualidades e características do bambu presentes

    no livro  Bamboo; the gift of the gods, do autor Oscar Hidálgo-Lopez (2003, 551 p.), no

     propósito de satisfazer aos objetivos propostos.

    Para ser possível o uso do bambu no design, algumas questões têm que ser levantadas e

    respondidas:

    1 VASCONCELLOS, Raphael, Bambu brasileiro. http://www.bambubrasileiro.com/info/design/3.html.Arquivo capturado em 4 nov 2002.

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    - Qual a durabilidade do material?

    - É um produto resistente?

    - Quais os métodos para conservação?

    - Quais os custos do tratamento do bambu?

    - O tratamento causa algum dano ao meio ambiente?

    - Há resíduos na sua produção?

    - Sua extração é permitida pela legislação brasileira?

    - Quais suas vantagens e desvantagens em relação à madeira?

     

    O processo metodológico consiste em revisão bibliográfica, pesquisa em Internet, consulta a

     profissionais ligados ao bambu e ecodesign, troca de informações através do grupo dediscussão bambu-brasil2, grupo este formado por 400 integrantes, na maioria designers,

    arquitetos, engenheiros florestais, biólogos, pesquisadores, agrônomos e estudantes com

    interesse no estudo do bambu.

    A monografia divide-se, basicamente, em duas partes: a primeira aborda o ecodesign de uma

    maneira geral, sua origem, conceitos, faz um comparativo entre ecodesign e design

    sustentável, relata os critérios que devem ser levados em conta para que um determinado produto se enquadre nos conceitos ecológicos. Mostra, também, o que precisa ser feito para a

    consolidação do ecodesign, os mitos e a realidade, o ciclo de vida do produto, as barreiras ao

    ecodesign e a interdisciplinaridade que abrange tal atividade.

     

    A segunda parte faz uma relação entre o ecodesign e a possibilidade do uso do bambu, como

    material alternativo, que agrega os conceitos ecológicos. Mostra sua aplicabilidade no

    ecodesign, os tipos existentes no Brasil e na Bahia, as espécies introduzidas no País e faz um paralelo entre as vantagens e desvantagens do uso do bambu no ecodesign.

    2 VASCONCELLOS, Raphael, Bambu brasileiro. http://www.bambubrasileiro.com/info/design/3.html.Arquivo capturado em 4 nov 2002.

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    2. O ECODESIGN

    2.1. Origens: ecologia e ecodesign

    Em meados de 1960, profissionais de diferentes países se reunir am em Roma, quando foi feita

    uma análise que constatou que a sustentabilidade do planeta estava em perigo. A demanda por

    matérias-primas, por recursos naturais, bem como a geração de lixo industrial eram

    incompatíveis com os limitados recursos naturais e de absorção dos resíduos dessa produção

     pelo planeta. Esse grupo de pessoas ficou conhecido como o Clube de Roma3.

    Reunindo chefes de estado e profissionais de diversas áreas, o Clube de Roma foi marcado

     por uma série de encontros com o objetivo de analisar a situação ambiental e oferecer

     previsões e soluções para o futuro da humanidade.

    Segundo Luiza Nascimento4, na primeira reunião significativa, o Clube de Roma chegou à

    conclusão, em 1968, que, na tentativa de preservar os recursos naturais, o mundo teria que

    diminuir a produção e propunha uma redução gradual dos resíduos da produção,fundamentalmente do lixo industrial. Então, a primeira proposta do Clube de Roma foi a

    diminuição da produção. No entanto, a cultura consumista que dominou o mundo,

    impossibilitava que essa proposta fosse colocada em prática. Como frear o crescimento

    econômico e o modelo de consumo que a civilização havia adotado? Inviável.

     

    A proposta do Clube de Roma não foi aceita, mas, ao menos serviu como um alerta para que o

    mundo começasse a se preocupar com a causa ambiental e procurasse, a partir desse

    momento, uma solução nesse sentido.

    Até a segunda metade do século XX, os problemas ambientais continuavam crescendo, bem

    como a conseqüente preocupação com a sobrevivência humana.

     

    Ocorreram, então, muitas outras ações e o problema ambiental tornou-se objeto de debates em

     praticamente todos os países do mundo até que, em 1972, a ONU realizou a Conferência das

    3 NASCIMENTO, Luiza, Meio ambiente - história, problemas, desafios e possibilidades http://www.ibps.com.br. Arquivo capturado em 3 mar 20044 IDEM

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     Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, reunindo mais de 110 países, entre eles, o

    Brasil.

     Pelo fato de ter sido realizada em Estocolmo, o evento ficou conhecido popularmente como ‘AConferência de Estocolmo’, quando então se chegou à conclusão de que a solução não eradiminuir a produção, como propôs o Clube de Roma, a solução era começar a pensar em produzir melhor.” Devia-se ...  “produzir aproveitando melhor as matérias-primas e osrecursos naturais do planeta, para que estes tivessem uma duração maior. Era preciso tambémracionalizar os processos produtivos, para que eles gerassem menos resíduos5 

    A conclusão da reunião de Estocolmo foi muito mais sensata, muito mais viável. Ao invés de

     produzir indiscriminadamente, passar -se-ia a produzir de forma mais “limpa”, evitando o

    desperdício, diminuindo a emissão de gases tóxicos, garantindo, para as futuras gerações, os

    recursos naturais, sem os quais ninguém vive.

     

    Após a Conferência de Estocolmo, muitas outras assembléias aconteceram no mundo inteiro,

    muitos países assinaram tratados de diminuição de emissão de poluentes, comprometeram-se

    a gastar menos água, menos energia, aproveitar melhor a matéria-prima no processo de

     produção, gerando assim menos desperdício. É a chamada “Produção mais Limpa”.

     

    A questão ambiental chegou a ficar na pauta de muitas profissões. Não havia mais como

    ignorar a preocupação com o meio-ambiente em nenhum setor da sociedade.

     

    Em uma etapa da “Produção mais Limpa” está a preocupação com o produto. Surgiu então, a

     partir da segunda metade da década de 1980, toda uma ação denominada Ecodesign.

     

    2.2. Conceito

    Segundo João Lutz 6:

    ...o Ecodesign é uma maneira de projetar que relaciona as questões ambientais com as projetuais. Eco, radical grego que quer dizer casa e design, do inglês, projetar.

    As conseqüências da atual forma de projetar são danosas e já estão levando a uma crise

    ambiental sem precedentes. A maneira de se projetar precisa levar em conta o impacto sobre o

    5 NASCIMENTO, Luiza, Meio ambiente - história, problemas, desafios e possibilidades http://www.ibps.com.br. Arquivo capturado em 3 mar 20046 LUTZ, João, Entrevista à Univercidade. http://www.univercidade.br. Arquivo capturado em 3 mar 2004

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    meio ambiente, em todas as fases de projetação, desde a sua concepção, os materiais a serem

    utilizados, até o seu descarte ou reciclagem.

    “Então, o Ecodesign é um método de projetar que incorpora os parâmetros ambientais.

    Entretanto, essa forma de trabalho não invalida os conceitos de estética, de prática de uso ou

    de funcionalidade do produto”7.

    Oliveira8  lista uma série de designações similares para definir Ecodesign: Design verde,

    Produção Limpa, Eco eficiência, Design para o ambiente, Design ambiental. Ele sugere,

    ainda, que, segundo a EPA ( Environment Protection Agency), do Governo Americano, Design

    verde é um processo projetual, na qual os atributos ambientais são tratados como objetivos dodesign e não apenas como recomendações.

    Ainda, segundo Oliveira9, ecodesign:

    é a abordagem conceitual e processual da produção que requer que todas as fases do ciclo devida de um produto ou de um processo devem ser orientadas para o objetivo de prevenção ouminimização de riscos, de curto ou longo prazo, à saúde humana e ao meio ambiente.

    2.3. Ecodesign X Design Sustentável

    Segundo Papanek 10:

    Talvez não devesse existir a categoria especial chamada ´design sustentável´. Talvez fossemais simples presumir que os designers tentassem reformular os seus valores e o seu trabalho,de modo a que todo o design se baseasse na humildade, combinasse os aspectos objetivos doclima e o uso ecológico dos materiais com processos intuitivos subjetivos, e assentasse em fatores culturais e bio-regionais.

    Muitos autores utilizam o termo “design sustentável” ou “produção sustentável” referindo-se

    ao ecodesign. O ecodesign diz respeito ao ato de projetar produtos com a preocupação com o

    meio ambiente em todo seu ciclo de vida, evitando ou diminuindo agressões ao ecossistema. 7 LUTZ, João, Entrevista à Univercidade. http://www.univercidade.br. Arquivo capturado em 3 mar 20048 OLIVEIRA, Alfredo, Eco-design e designações similares: diferenças e aproximações. Rio de Janeiro: P&DDesign, 1998, p.782.9 Ibidem, p. 78310 PAPANEK, Victor J., Arquitectura e design. Lisboa: Edições 70, 1995, p.14-15

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    O design sustentável é aquele que garante, para as próximas gerações, os recursos para a sua

     produção, mas que, para isso, não precisa necessariamente ser ecológico. Como exemplo, no

    estado de Minas Gerais, há uma comunidade que sobrevive da venda de objetos feitos em

     pedra-sabão. A quantidade de matéria-prima para a produção é abundante, ou seja, a produção

    é sustentável, não há o risco da pedra-sabão acabar, porém, em nenhum aspecto se identifica

    com os critérios do ecodesign. A produção, com a retirada das pedras, altera o meio ambiente

    e os resíduos da produção (pó de pedra) causam danos à saúde, quando aspirados pelos

    operários ou artesãos, além dos danos físicos, inclusive fazendo uso do trabalho infantil. É um

     produto resultante do design sustentável? Sem dúvida, mas não do ecodesign.

    Contudo, o inverso é verdadeiro: para ser considerado um produto oriundo do ecodesign, é preciso que seja sustentável, senão não teria como garantir continuidade da produção para as

    gerações futuras.

    2.4. Critérios

    Branco11 sugere uma série de critérios, segundo os quais seja possível avaliar se um produto

     possui as características que o tornem sustentável. Esse conjunto de critérios permite

    diferenciar os produtos de “bom design”, que incorporam reais conceitos de preservação

    ambiental, dos que permanecem na superficialidade da utilização de matérias primas

    recicladas ou recicláveis.

    São considerados produtos sustentáveis na lógica do ecodesign, e de acordo com o

    entendimento da equipe da ecodesign-net12, aqueles que apresentam, quando aplicáveis, as

    seguintes características:

    a. Elimina ou reduz a formação, ao longo do ciclo de vida do produto (da produção da matéria-prima ao pós-uso), a formação de resíduos em especialnão recicláveis;

    11 BRANCO, Alceu, Critérios de avaliação de produtos sustentáveis – ecodesign. http://www.cgecon.mre.gov.br/pvt/home. Arquivo capturado em 18 nov 200312 IDEM

    Centro de Gestão de Design da ABIPTI e o CGECon/MRE. Trata -se de uma rede de gestão do conhecimentoem matéria de ciência e tecnologia aplicada ao ecodesign que beneficia a todos os autores que atuam na área.Esta comunidade visa agregar valor às cadeias produtivas e desenvolver o caráter competitivo dos produtos numsentido ecologicamente correto.

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     b. apresenta, ao longo do ciclo de vida do produto, baixo consumo de energia, ouutiliza fontes alternativas de energias ou energias renováveis,comparativamente com produtos similares;

    c. utiliza matérias-primas e insumos ecologicamente sustentáveis (exemplo:madeiras certificadas);

    d. minimiza, pelas soluções adotadas, as possibilidades de uso inadequado,acidentes e dispêndios físicos excessivos ao usuário e ao operário;

    e. não utiliza mão-de-obra infantil ou processos de transformação agressivos aooperário fabricante;

    f. apresenta soluções que racionalizem o uso de matérias-primas naturais;

    g. possibilita a substituição de partes e peças reduzindo a formação de resíduos.

    Facilita a manutenção e o reuso/reciclagem;

    h. apresenta maior durabilidade, comparativamente com os produtos similares,ampliando o ciclo de vida;

    i. apresenta qualidade, objetividade, criatividade e soluções inovativas aoexteriorizar (pelos aspectos formais, funcionais e pela comunicação), osconceitos de ecodesign;

     j. utiliza um planejamento de marketing (comunicação e informação da empresafabricante e sobre as características de sustentabilidade do produto),compatível com o conceito de sustentabilidade;

    k. oferece suporte de pós-venda (comunicação e informação), com relação ao

    descarte e a reciclagem;l. atende as normas específicas de ecodesign ou referentes à produção

    sustentável;

    m. deriva de metodologias de projeto compatíveis com os requisitos finais desustentabilidade do produto (requisitos do cliente, requisitos desustentabilidade, experimentação piloto, testes físicos);

    n. está protegido pelos instrumentos da Propriedade intelectual - registro demarca e patente.

    o. Facilita o desmonte;

     p. Apresenta características de multifuncionalidade;q. Priorizam a utilização de tecnologias e materiais acessíveis (custo x beneficio-

    e a cultura dos usuários e produtores).

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    2.5. Mudança de paradigmas

     É vital que todos nós reconheçamos as nossas responsabilidades ecológicas. A nossa

     sobrevivência depende de uma imediata atenção às questões ambientais; contudo, atualmente, parece registrar-se ainda uma falta de motivação, uma paralisia da vontade, no sentido de proceder às mudanças radicais necessárias13 

    Os profissionais de design devem ser os principais condutores da mudança de atitudes em

    curso e da quebra de paradigma, relativa à extração de recursos naturais para outro mais

    evoluído e sustentável. Segundo Papanek 14, em sua obra “ Arquitectura e Design”...“o

    designer está em posição de informar e influenciar o cliente”, como, por exemplo, mostrar-lhe

    a importância de usar determinada matéria-prima, em relação a outra, principalmente expondo

    as vantagens de um produto eco-eficiente, que cria um diferencial importante na conquista de

    novos mercados.

     Normalmente, quando se fala em preocupação com o meio-ambiente, os empresários pensam

    imediatamente em gastos financeiros. É o paradigma de “fim de tubo”, ou seja, limpar. Cabe

    ao designer informar que não sujar é muito melhor e mais barato do que limpar: começar

    certo para não precisar corrigir depois.

    O homem teme, historicamente, aquilo que ele não conhece, e isso traz a grande dificuldade demudança. Mudar paradigma é uma das coisas mais difíceis. É a chamada cegueira daortodoxia, isto é, aquilo que há muito tempo se faz e que se entende que seja a maneira corretade fazer nos impede de mudar, nos dificulta a mudança, a adoção de uma nova forma de fazeraquilo que vem se fazendo por muito tempo15 

     Enquanto a Produção mais Limpa é uma ação preventiva, que visa evitar ou diminuir a formação do resíduo durante o processo produtivo, as técnicas de “fim de tubo” representamações remediativas, que esperam que esses resíduos sejam gerados para, posteriormente,trata-los16  

    É necessário que os designers passem a ter sempre no seu briefing   critérios ecológicos,

     porém, ainda lhes falta preparo para melhorar a performance ambiental dos produtos que

    desenvolvem.

    13 PAPANEK, Ob. cit, p.1114 IDEM, p.1415 NASCIMENTO, Luiza, Meio ambiente - história, problemas, desafios e possibilidades http://www.ibps.com.br. Arquivo capturado em 3 mar 200416 IDEM

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     A grande maioria dos profissionais atuantes no Brasil formou-se em cursos de Desenho Industrial com pouca ou nenhuma referência, na sua estrutura curricular, aos impactosambientais da atividade17  

    2.6. Mitos e realidade

    É evidente que, chamar qualquer produto reciclado ou elaborado a partir de matéria-prima

    natural de “ecológico” é, simplesmente, um engôdo. Como foi visto no item 2.3, existem

    critérios e classificações adequadas para sua definição.

     

     A forma mais segura de identificação para o consumidor é a partir dos “selos verdes”, comoos que já existem na União Européia, Japão, Estados Unidos, Austrália e mesmo em paísesvizinhos ao Brasil, como a Colômbia, que já conta com política oficial nesse sentido. O “seloverde” não é apenas uma logomarca ou um rótulo com a palavra ecológico na embalagem deum produto, mas o resultado de uma avaliação técnica criteriosa, na qual serão levados emconta aspectos pertinentes ao seu ciclo de vida, como matérias-primas (natureza e obtenção),insumos, processo produtivo (gastos de energia, emissão de poluentes, uso de água), usos edescarte. No Brasil, os selos verdes existentes só atingem dois segmentos: produtos orgânicos(alimentícios) e madeiras.18 

    Há, porém, as pseudo-etiquetas ecológicas, como “amigo do ozônio”, nas quais muitos

    fabricantes viram a possibilidade do “negócio verde”, ou seja, agregar aos seus produtos um

    conceito ecológico. Mesmo que ofereçam informações verdadeiras, trata-se de publicidadesem nenhum controle, por parte dos órgãos independentes19, e são as próprias empresas que

    introduzem tal denominação.

    A autocertificação é um dos principais inimigos do “mercado verde”20, fazendo com que o

    consumidor acredite que o produto que está adquirindo é ecológico apenas porque carrega

    esse rótulo.

     No Brasil, há inúmeros casos desses, gritantes, desde ônibus com 'ar condicionado ecológico',a 'plástico que é ecológico porque impede que se derrubem árvores', a poliuretanos'ecológicos' porque usam óleo de mamona em sua composição, ou fios elétricos 'ecológicos'cuja logomarca é uma florzinha estilizada com o cabo elétrico. Em 99% dos casos, não há oque justifique o termo ecológico, mas, quando muito, o certo seria produto (ou serviço) debaixo impacto ambiental.21 

    17 NASCIMENTO, Luiza, Meio ambiente - história, problemas, desafios e possibilidades http://www.ibps.com.br. Arquivo capturado em 3 mar 200418 ARAUJO, Marcio, Produtos ecológicos para uma sociedade sustentável http://www.idhea.com.br. Arquivocapturado em 18 nov 2003.19 ONGs ou associações de designers com caráter ecológico20 Denominação dada ao mercado de produtos certificados, que não agridem a natureza.21 ARAUJO, Marcio, Produtos ecológicos para uma sociedade sustentável http://www.idhea.com.br. Arquivocapturado em 18 nov 2003

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    2.7. Ciclo de vida

    Muitos autores definem o ciclo de vida de um produto como elemento chave do ecodesign.

     A avaliação do ciclo de vida do produto, ou abordagem ‘berço-tumulo’, é um instrumento deanálise que permite identificar e avaliar os impactos do produto no meio-ambiente ao longodo seu ciclo de vida (incluindo a extração de matérias-primas, processamento dos materiais, produção, transporte, uso e descarte no meio após o uso) e de como as mudanças no design do produto ou nos processos de produção podem alterar estes impactos. A avaliação do ciclo devida do produto permite levantar as conseqüências do design de produtos sobre o meio-ambiente, a economia e a sociedade22 

    É necessário se levar em conta, também, a energia gasta na reciclagem. Muitas vezes, um

    determinado produto informa que a embalagem é reciclável, mas se se considerar a energia

    gasta, isso se torna inviável. Para citar um exemplo, as tintas utilizadas na impressão dessas

    embalagens, que são tóxicas, necessitam de uma grande quantidade de energia para serem

    removidas.

     No ecodesign, tem-se que levar em conta, além da energia necessária para a fabricação,

    transporte, o tipo de material, a quantidade de matéria-prima, o consumo de água,

    separabilidade de materiais (reciclagem), a utilização de materiais contaminantes, solventes e

    colas. Como exemplo, o MDF23 (madeira empregada em móveis) produzido no Brasil utiliza

    uma resina que é cancerígena e é usada uma quantidade maior que a permitida na Europa e

    Estados Unidos, o que impossibilita a sua exportação.

    Senna24 chama a atenção, também, para os resíduos da produção. Muitas vezes é inevitável,

    mas é importante saber o que fazer com eles, preferencialmente reutiliza-los. Nesse sentido, o

    design vernacular tem muito a ensinar, já que é fundamentado no re-uso de materiaisdescartados, como pneus velhos, utilizados para fabricação de cestas de lixo, protetores ou

    vasos de plantas, etc... .

    22 RAMOS, Jaime, Alternativas para o projeto ecológico de produtos. Florianópolis: UFSC, 2001, p.84

    (Dissertação de Doutorado, Programa de Pós -Graduação em Engenharia de Produção)23 MDF é uma chapa de fibras de madeira. São as iniciais de “ Medium Density Fiberboard”, que em portuguêssignifica chapa de fibra de madeira de densidade média.24 SENNA, Cláudio, Aula ecodesign. http://navi.ea.ufrgs.br. Arquivo capturado em 13 mai 2004

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    Uma das tendências do ecodesign é gerar pouco lixo. Os projetos devem, desde o início,

     prever como o produto será descartado, que destino ele terá depois que perder sua serventia

    inicial.

    Viecelli25  ensina que tratar os resíduos ou reciclar materiais, é positivo, é melhor do que não

    fazer nada, certamente. Porém, ambas são estratégias de final de processo. O ecodesign deve

    traçar estratégias no início do processo. Ele não usa o termo “do berço ao túmulo” e sim “do

     berço ao berço”, ou seja, o produto é concebido na empresa e a ela deve voltar, quando for o

    caso.

    2.8. Interdisciplinaridade do ecodesign

    Segundo Niemeyer 26:

    ...o design aparece como a coordenação, onde o designer tem a função de integrar os aportesde diferentes especialistas, desde a especificação de matéria-prima, passando pela produção àutilização e destino final do produto. Neste caso a interdisciplinaridade é a tônica.

     No campo do ecodesign, na teoria e na prática, há o uso direto de metodologia de três áreas,

    distintas mas complementares, que são: design industrial, engenharia de materiais e meio

    ambiente.

    O design industrial, devido as suas características múltiplas de formação, permite uma visão

    mais abrangente do problema a ser resolvido. Esse apoio interdisciplinar permite uma maior

    autonomia nos projetos, a capacidade de verificar características técnicas dos materiais e processos e discuti-las com os respectivos profissionais, aproximando o design da engenharia.

     

    A engenharia de materiais é o que poderia se chamar de “recheio” do design. Os processos

    dão forma a essa matéria-prima do design.

    25 VIECELLI, Eduardo, Ecodsign: Fator Redutor de Impacto Ambiental http://www.fsg.br/revista4texto3.php. Arquivo capturado em 3 mar 2004.26 NIEMEYER, Lucy, Design no Brasil; origens e instalação. 2ª ed., Rio de Janeiro, 2AB, 1998, p.12

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    O meio ambiente apresenta-se como um fator importante para uma maior e melhor otimização

    dos sistemas produtivos. O conceito de ecologia está diretamente ligado ao “ciclo de vida dos

     produtos”, bem como mantém relação com a economia.

    Para que uma nova matéria-prima natural seja introduzida no conceito de ecodesign, além

    dessas três áreas citadas ainda seria necessário agregar, pelo menos, a agronomia, a botânica,

    a engenharia florestal e a engenharia química, principalmente no que diz respeito aos fatores

    de sustentabilidade, crescimento, taxonomia e um possível controle de pragas e parasitas.

     

    2.9. O lado social do ecodesign

     No lado social do ecodesign, temos como conceito o uso do design de objetos que utilizam

    resíduos ou materiais recicláveis ou de exploração sustentável, para compor peças com

    identidade regional dentro dos preceitos da modernidade industrial e tecnológica. Possui

    relação com ecocidadania porque pode-se transformar o design em uma oportunidade para a

    implantação de ações que venham a dar sustentabilidade às pequenas comunidades carentes,

     por meio da correta exploração e comercialização desses produtos, contribuindo para reduzir,

    dessa forma, a pobreza e, dando oportunidade à comunidade carente de ingressar no mercado

    de trabalho.

     Aliás, essas ações que vêm sendo implantadas no Brasil por fundações, ONGs e setores

     governamentais, vem ao encontro da Declaração do Milênio, ocorrida em 2000 na ONU/Nova

    York, que colocou como meta a redução, até o ano 2015, de 50% do número de pessoas que

    vivem na mais absoluta pobreza.”27  

    Esse é um exemplo do ecodesign ajudando a salvar o principal elemento do meio ambiente,

    que é, segundo Papanek 28, o próprio ser humano.

    27 COIMBRA, Nida, O ecodesign, a ecocidadania e a ecoeficiência  http://www.jusvi.com/site/p_detalhe_artigo.asp?codigo=801&cod_categoria=&nome_categoria= . Arquivocapturado em 3 mar 2004.28 PAPANEK, Victor J., Arquitectura e design. Lisboa: Edições 70, 1995

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    2.10.Barreiras ao ecodesign

    Segundo Ramos29:

    ...ainda existe no Brasil uma carência de informações em língua portuguesa sobre o Ecodesign ou sobre as ações que podem ser aplicadas dentro da atividade de criação edesenvolvimento de produtos para prevenir e evitar possíveis impactos ambientais indesejáveisdesses produtos.

    Muitas vezes, a tentativa de aplicar o ecodesign é focada por um único aspecto ambiental e

    não em todo o ciclo de vida do produto. Por exemplo: a reciclagem (fim de tubo) diminui o problema do lixo, mas, se na limpeza que precede a reciclagem forem utilizadas substâncias

    tóxicas, o ganho ambiental pode ser nulo ou até negativo.

    As empresas não utilizam o ecodesign, primeiro por um fator cultural, segundo, falta de

    motivação. Nesse ponto entra a responsabilidade do designer de informar seu cliente,

    mostrando que o ecodesign pode deixá-las mais competitivas, pode abrir novos mercados e

    agregar valor aos seus produtos. Como exemplo de ecodesign de sucesso, pode-se citar o casoda Philips, fabricantede lâmpadas. Antes as embalagens tinham aberturas na parte de cima e

    de baixo da embalagem, correndo o risco da lâmpada cair e se quebrar. Hoje, a empresa

    utiliza uma nova embalagem, feita com fibras de bambu que, além de um novo design, que

    facilita o empilhamento, faz uso de uma matéria-prima que, como se verá adiante, agrega

    mais valor ecológico do que a antiga de papel, produzido com celulose oriunda de eucaliptos

    e pinho.

    Outra barreira para o ecodesign é a falta de disciplinas ou cadeiras específicas que tratem

    deste assunto nas Universidades brasileiras e que poderiam preparar os novos designers.

    Existem alguns cursos de extensão na área, mas a nível de pós-graduação ainda não existem

    no país.

    Há, no entanto, experiências sendo feitas com vários materiais alternativos e que não agridem

    o meio ambiente. A fibra do côco, por exemplo, vem sendo utilizada para fabricação de vasos;

    29 RAMOS, Jaime, Alternativas para o projeto ecológico de produtos. Florianópolis: UFSC, 2001, p.11 (Tesede Doutorado, Programa de Pós -Graduação em Engenharia de Produção)

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     painéis, estofados e assentos para bancos de automóveis e telhas. O bagaço da cana-de-açúcar

    está sendo usado na fabricação de papel, assim como o bambu, material este muito utilizado

     por países asiáticos e que começa a despertar o interesse em diversos segmentos no Brasil,

    entre eles, o design.

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    3. ORIGEM E DISSEMINAÇÃO DO BAMBU

    O bambu, ao contrário do que se pensa, não é uma árvore e sim uma gramínea. As espéciesvariam de tamanho, algumas podendo alcançar poucos centímetros de altura, enquanto outras

    chegam até mais de 40 metros, como é o caso da espécie indiana Dendrocalamus giganteus,

    que atinge cerca de 30 cm de diâmetro enquanto algumas espécies menores (herbáceas)

     podem chegar a menos de 1 cm.

    Segundo Hidalgo-Lopez30, a origem dessa planta remonta o final do período Cretáceo e início

    do período Terciário, por volta de 65 milhões de anos atrás. Fósseis dessa planta foram

    encontrados na Colômbia, na área de La Virginia, há 140 km de Bogotá. No ano de 1086, na

    China, um barranco desabou, abrindo um espaço de muitos metros e revelando, abaixo do

    solo, uma floresta contendo centenas de colmos e rizomas completos, todos transformados em

     pedra.

    “Pesquisas arqueológicas seguem na descoberta de usos do bambu por culturas humanas há

     pelo menos 5000 anos”31. Segundo o National Geographic Channel , arqueólogos descobriram

    que o bambu foi usado como ferramenta desde a idade da pedra lascada na Ásia.

    Ainda, segundo Hidalgo-Lopes32, há no mundo cerca de 1600 espécies33  de bambu

    distribuídas em 121 gêneros34. Geograficamente, essas espécies são encontradas nas áreas

    tropicais, sub-tropicais e temperadas, com exceção da Europa, onde não há espécies nativas.

    A distribuição aproximada de bambus nos continentes é de 67% na Ásia e Oceania, 3% na

    África e 30 % nas Américas35.

     Nas Américas existem cerca de 440 espécies de bambu, divididas em 41 gêneros, sendo que,

    aproximadamente 200 dessas espécies são nativas do Brasil, porém, ainda há muitas espécies

    a serem identificadas.

     30 HIDALGO-LÓPEZ, Oscar, Bamboo; The gift of the gods, Bogotá, D´Vinni, 2003.31 VASCONCELLOS, Raphael, Bambu brasileiro. http://www.bambubrasileiro.com. Arquivo capturado em 4nov 2002.32 Ibidem.33 A espécie é a unidade biológica fundamental. Várias espécies constituem um gênero.34 Classe cuja extensão se divide em outras classes, as quais, em relação à primeira, são chamadas espécies.35 HIDALGO-LÓPEZ, Ob.cit.

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    Essas espécies estão distribuídas desde a América do Sul, entre Argentina e Chile, até o

    México e sul dos Estados Unidos.

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    4. OS TIPOS EXISTENTES NO BRASIL E NA BAHIA

    4.1.Espécies nativas do Brasil

    Raphael Moras de Vasconsellos36  traduz a lista retirada do livro American Bamboos37 .

     Na tabela abaixo consta o nome científico das espécies nativas do Brasil, o nome local

    (popular) e a localização no território nacional.

     NOME CIENTÍFICO NOME LOCAL LOCALIZAÇÃO Actinocladum verticillatum  Taquarí, taquara-mirim  Centro do Brasil 

     Agnesia lancifolia  Amazônia 

    Alvimia auriculata   Costa da Bahia 

    Alvimia gracil is   Costa da Bahia 

    Alvimia lancifoli a   Costa da Bahia 

     Apoclada arenicola  Cambeúva de folha estreita  Centro do Brasil  Apoclada cannavieira  Cannavieira Centro do Brasil 

     Apoclada simplex  Taquaçú-manso  Sul do Brasil 

    Arberella bahiensis   Bahia 

     Arberella flaccida  Amazônia 

     Arthostylidium fimbrinodum  Amazônia 

     Arthostylidium greifolium  Centro do Brasil 

     Arthostylidium simpliciusculum  Oeste do Brasil  Athroostachys capitata  Leste do Brasil 

     Atractantha amazonica   Noroeste do Brasil 

    Atractantha aureolanata   Bahia 

    Atractantha cardinali s   Bahia 

    Atractantha falcata   Bahia 

    Atractantha radiata   Bahia 

    36 Desenhista industrial, moderador da lista de discussão Bambu-Brasil e proprietário do site Bambu brasileiro.http://www.bambubrasileiro.com37 Judziewicz et. Al. American bamboos. Washington/Londres: Smithsonian Institution, 1999

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     Aulonemia amplissima  Minas Gerais e Rio deJaneiro 

     Aulonemia aristulata  Cará  Central e Sul do Brasil 

     Aulonemia effusa  Minas Gerais 

     Aulonemia glaziovii  Minas Gerais 

     Aulonemia goyazensis  Rio de Janeiro 

     Aulonemia radiata  Sul do Brasil 

     Aulonemia ramosissima  São Paulo 

     Aulonemia setigera  Rio de Janeiro e São Paulo 

     Aulonemia ulei  Cambajuva  Sul do Brasil 

    Chusquea spp.  Capim-lambe-rosto,Criciúma 

    Chusquea acuminata  Caará  Rio de Janeiro 

    Chusquea anelythra  Cará peludo, crissiuma cipó  Sudeste do Brasil 

    Chusquea anelytroides  Sudeste do Brasil 

    Chusquea attenuata  Minas Gerais 

    Chusquea baculífera  Chibata  Leste do Brasil 

    Chusquea bahiana   Bahia 

    Chusquea bambusoides  Brasil Atlântico Chusquea bradei   Bahia e Espírito Santo 

    Chusquea caparaoensis  Leste do Brasil 

    Chusquea capitata  Sudeste do Brasil 

    Chusquea capituliflora  Cará-trepador   Sudeste do Brasil 

    Chusquea erecta  São Paulo 

    Chusquea fasciculata  Centro do Brasil 

    Chusquea gracilis  Cará-de-vara, bengala  Sul do Brasil Chusquea heterophylla  Rio de Janeiro 

    Chusquea ibiramae  Sul do Brasil 

    Chusquea juergensii  Sul do Brasil 

    Chusquea leptophylla  Cará-duro, cará-mirim, putinga, cará-mimoso 

    Leste do Brasil 

    Chusquea linearis   Noroeste do Brasil 

    Chusquea meyeriana  Caará  Leste do Brasil 

    Chusquea microphylla  Rio de Janeiro 

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    Chusquea mimosa 

    Cará-mimoso, caratuva,cará-de-vara, cará-debengala,cará-de-caniço 

    Chusquea nudiramea  Santa Catarina 

    Chusquea nutans   Minas Gerais e Bahia  

    Chusquea oligophylla  Corda-de-violão  Rio de Janeiro até SantaCatarina 

    Chusquea oxylepis  Tacuarembó, criciúma, cará,

    taquari 

    Sudeste do Brasil 

    Chusquea pinifolia  Cannaflecha Leste do Brasil 

    Chusquea pulchella  São Paulo 

    Chusquea ramosissima  Cresciuma  Leste do Brasil 

    Chusquea riosaltensis  Minas Gerais 

    Chusquea sclerophylla  Rio de Janeiro 

    Chusquea sellowii  Corda-de-violão  Sudeste do Brasil 

    Chusquea tenella  Putinga, taquari, pitinga Sudeste do Brasil 

    Chusquea tenuiglumis  Central e Sul do Brasil 

    Chusquea tenuis  Rio de Janeiro 

    Chusquea urelytra  Sudeste do Brasil 

    Chusquea wilkesii  Rio de Janeiro 

    Chusquea windischii  Santa Catarina 

    Colanthelia spp.  Taquari 

    Colanthelia burchelii  Rio de Janeiro 

    Colanthelia cingulata  Rio de Janeiro até Santa

    Catarina 

    Colanthelia distans  Minas Gerais 

    Colanthelia intermedia  Sul do Brasil 

    Colanthelia lanciflora  Sul do Brasil 

    Colanthelia macrostachya  São Paulo 

    Colanthelia rhizantha  Rio Grande do Sul 

    Cryptochloa capillata  Costa Atlântica do Brasil 

     Dierolyra bicolor   Brasil Atlântico 

     Dierolyra tatianae  Rio de Janeiro e São Paulo 

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     Elytrostachys spp  Rondônia 

     Eremitis parviflora  Brasil Atlântico 

    Eremocaulon aureofimbriatum   Bahia 

     Froesiochloa boutelouoides  Amapá e Pará 

    Glaziophyton mirabile  Rio de Janeiro 

    Guadua spp.  Upec 

    Guadua angustifolia38  Acre

    Guadua calderoniana  Brasil Atlântico 

    Guadua capitata  Tacuara, taquara  Centro do Brasil 

    Guadua ciliata   Noroeste do Amazonas 

    Guadua glomerata  Taboquinha  Amazonas 

    Guadua latifolia  Fronteira Brasil-Guiana 

    Guadua macrostachya  Leste da Amazônia 

    Guadua maculosa  Centro do Brasil 

    Guadua paniculata  Taboca  Brasil 

    Guadua refracta Brasil 

    Guadua sarcocarpa  Acre 

    Guadua superba  Rafu, marona Oeste do Brasil 

    Guadua tagoara Tagoara, taboca, takuarussú(Guarani), tacuara grosa 

    Bahia até Santa Catarina 

    Guadua trinii  Tacuara brava, tacuarussú,taquara-assú, yatevó, taboca 

    Sudeste do Brasil 

    Guadua virgata Centro do Brasil 

     Lithachne horizontalis Rio de Janeiro 

     Lithachne pauciflora Sul do Brasil  Merostachys abadiana São Paulo 

    Merostachys annul if era Bahia 

    Merostachys argentea Bahia 

     Merostachys argyronema São Paulo 

    Merostachys bif ur cata Bahia 

     Merostachys bradei 

    38 A espécie Guadua angustifólia é considerada por alguns autores e especialistas como originária da Colômbiae Equador, enquanto outros autores, como Oscar Hidalgo-Lopez, defendem que também é originária do Brasil,onde há grande quantidade às margens do rio Purus, no Acre.

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    Merostachys burmani i Bahia até São Paulo 

    Merostachys calderoniana Bahia 

     Merostachys caucaiana São Paulo 

     Merostachys ciliata Santa Catarina 

     Merostachys clausenii var.

    Clausenii

    Sul do Brasil 

     Merostachys clausenii var. 

     Mollior  

    São Paulo até Rio Grandedo Sul 

     Merostachys exserta Minas Gerais 

     Merostachys filgueirasii Distrito Federal 

     Merostachys fimbriata Rondônia 

     Merostachys fischeriana Minas Gerais 

     Merostachys fistulosa Minas Gerais 

     Merostachys glauca Taquara mansa  Santa Catarina 

     Merostachys kleinii Santa Catarina 

     Merostachys kunthii São Paulo e Rio de Janeiro 

    Merostachys lanata Bahia 

    Merostachys leptophyll a Bahia 

     Merostachys magellanica São Paulo e Rio de Janeiro 

    Merostachys magnispicul a Bahia 

    Merostachys medul losa Bahia 

     Merostachys multiramea Tacuara mansa  São Paulo até Rio Grandedo Sul 

     Merostachys neesii Taquara lisa, taquara poca  Brasil 

     Merostachys petiolata Taquara-poca  São Paulo e Rio de Janeiro 

     Merostachys pilifera Rio Grande do Sul 

     Merostachys pluriflora Taquara mansa  São Paulo e Santa Catarina 

     Merostachys polyantha São Paulo 

    Merostachys procerr ima Bahia 

    Merostachys ramosissima Bahia 

     Merostachys riedeliana Taquara lixa  Leste do Brasil 

     Merostachys rondoniensis Rondônia 

     Merostachys sceens São Paulo 

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     Merostachys sellovii Leste do Brasil 

     Merostachys skvortzovii São Paulo até Rio Grandedo Sul 

    Merostachys sparsif loraBahia

     

     Merostachys speciosa Taquara-poca  Minas Gerais até SantaCatarina 

     Merostachys ternata Taquara lixa  Minas Gerais até SantaCatarina 

     Merostachys vestita Santa Catarina 

     Myriocladus greifolius  Norte do Brasil 

     Myriocladus neblinaensis  Norte do Brasil 

     Myriocladus paludicolus  Norte do Brasil 

     Myriocladus virgatus   Norte do Brasil 

     Neurolepis diversiglumis Fronteira Brasil-Venezuela 

    Olyra amapana Leste da Amazônia 

    Olyra ciliatifolia Brasil 

    Olyra davidseana Pará 

    Olyra ecuadata Brasil 

    Olyra fasciculata Taquaril  Brasil 

    Olyra filiformis Bahia 

    Olyra glaberrima Leste do Brasil 

    Olyra humilis Bambú-fraco 

    Olyra juruana Oeste do Brasil 

    Olyra latifolia Bambuzinho, capimtapeirada 

    Sul do Brasil 

    Olyra latispicula Bahia 

    Olyra longifolia Amazônia 

    Olyra loretensis Amazônia 

    Olyra micrantha Taquari  Brasil 

    Olyra obliquifolia Amazônia 

    Olyra retrorsa Mato Grosso  

    Olyra tamanquareana Amazonas 

    Olyra taquara Taquara  Centro do Brasil 

    Olyra wurdackii  Noroeste do Brasil 

     Pariana campestris Amazônia 

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     Pariana concinna Amazônia 

     Pariana distans Leste da Amazônia 

     Pariana gracilis Amazônia 

    Pariana l anceolata Bahia 

     Pariana ligulata Leste da Amazônia 

     Pariana maynensis Brasil 

     Pariana modesta Maranhão 

     Pariana nervata Pará 

     Pariana ovalifolia Leste da Amazônia 

     Pariana radiciflora Capim gengibre Norte do Brasil 

     Pariana simulans  Norte do Brasil 

     Pariana sociata Maranhão 

     Pariana stenolemma Amazônia 

     Pariana tenuis Brasil ou Colômbia 

     Pariana trichosticha Brasil 

     Pariana ulei Brasil 

     Parodiolyra lateralis  Noroeste do Brasil 

     Parodiolyra luetzelburgii Centro do Brasil 

    Parodiolyra ramosissima Bahia 

     Piresia goeldii Oeste do Brasil 

    Pir esia leptophylla Bahia até Paraíba 

     Piresia macrophylla Oeste do Brasil 

     Piresia sympodica Oeste do Brasil 

    Raddia angustif olia Bahia 

     Raddia brasiliensis Leste do Brasil 

    Raddia distichophyll a Bahia 

     Raddia guianensis Amazônia 

    Raddia portoi Bahia até Rio de Janeiro 

     Raddiella esenbeckii São Paulo 

     Raddiella kaieteurana  Norte do Brasil 

     Raddiella lunata Rondônia 

     Raddiella malmeana Mato Grosso e Pará  

     Raddiella minima Fronteira Mato Grosso-

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    Pará 

     Rehia nervata Leste da Amazônia 

     Reitzia smithii Capim-zebra  São Paulo até Santa

    Catarina  Rhipidocladum parviflorum  Goiás e Minas Gerais 

    Sucrea maculata Rio de Janeiro e EspíritoSanto 

    Sucrea monophylla Bahia 

    Sucrea sampaiana Espírito Santo 

    4.2.Espécies exóticas em cultivo no Brasil

     NOME CIENTÍFICO NOME LOCAL ORIGEMBambusa gracilis 

    Bambusa longispiculata 

    Bambusa multiplex Bambusa nutans 

    Bambusa textilis China 

    Bambusa oldhamii 

    Bambusa tuldoides Sul Asiático 

    Bambusa vulgaris Vulgar, comum, imperial  Sul da China Bambusa vulgaris var. vitatta Imperial, verde-amarelo, brasileiro 

    Sul da China 

    Dendrocalamus asper Gigante, bambu-balde  Sul Asiático Dendrocalamus giganteus Gigante, bambu-balde  Sul Asiático Dendrocalamus latiflorus Mossô chinês  China Dendrocalamus strictus Índia, China e Vietnã 

    Gigantochloa apus Ásia 

    Gigantochloa levis Ásia 

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    Guadua amplexifolia Colômbia e Equador  

    Guadua angustifolia Guadua  Colômbia e Equador  Mellocana baccifera Bangladesh

     Phyllostachys aurea Bambu-mirim, caniço, vara de

     pescar  Ásia 

    Phyllostachys bambusoides Madake, matake, medake  Ásia Phyllostachys nigra Bambu-preto, bambu-negro  Ásia Phyllostachys nigra var.henon

    Hatiku  Ásia 

    Phyllostachys pubescens Mossô  Ásia Phyllostachys purpurata  Ásia 

    Das espécies nativas brasileiras, cerca de 14% são exclusivas da Bahia, além deste Estado

    abrigar ainda muitas outras espécies encontradas, também, em outras regiões do País.

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    5. OS TIPOS MAIS USADOS NO BRASIL:

    Segundo Antonio Luiz de Barros Salgado

    39

    , os bambus nativos do Brasil têm relativamente pouco emprego. São conhecidos popularmente como tabocas, jativocas, taboca açu. Os

     bambus que têm mais emprego são os exóticos, introduzidos pelos colonizadores portugueses

    e pelos negros. São o  Bambusa vulgaris e o Bambusa vulgaris vittata (Fig. 1,2,3), as melhores

    espécies para obtenção de celulose e amido e são as mais abundantes em todo o mundo. São

    muito utilizados na confecção de cercas e em diversas instalações na zona rural.

     

    Fig. 1 Fig. 2 Fig. 340 

    Moita de Bambusa vulgaris  Detalhe do colmo de B. vulgaris  Moita de B. vulgaris var. vittata Fazenda Buril Fazenda BurilMata de São João-BA Mata de São João-BA

    Foto do autor Foto do autorMai/2004 Mai/2004

    39 Agrônomo do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), consultor da Itapagé e estudioso do bambu.40 Imagem extraída do site: http://www.bambubrasileiro.com. Arquivo capturado em 4 nov 2002

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    O Bambusa tuldóides (Fig. 4 e 5) é muito utilizado nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e

    Minas Gerais, principalmente na divisa de propriedades, funcionando como uma cerca viva.

     

    Fig. 441  Fig 542  Bambusa tuldóides Bambusa tuldóides

    O Dendrocálamus  giganteus (Fig. 6 e 7), um bambu de grande porte, de grande crescimento e

    desenvolvimento é muito utilizado na confecção de vasos, baldes, móveis, luminárias e até em

    encanamentos de água.

    Fig. 643  Fig. 744  Dendrocálamus giganteus   Dendrocálamus giganteus 

    41 Imagem extraída do site < http://www.bambooheadquarters.com >. Arquivo capturado em 17 mai 2004.42 IDEM43 Imagem extraída do site . Arquivo capturado em 4 nov 2002.44 Imagem extraída do site < http://www.bambubrasileiro.com/info/especies/4.html>. Arquivo capturado em 4 denov 2002.

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    Os bambus do gênero Guadua, o Guadua superba, Guadua angustifólia (Fig. 8), o Guadua

    amplexifólia  (Fig. 9), o originários da Colômbia e do Equador, na região do Pacífico, são

     bastante retos, muito utilizados, por exemplo, em construções de casas.

    Fig. 845  Fig. 946 Guadua angustifólia Guadua amplexifólia

    O  Dendrocálamus latiflorus  (Fig. 10) é chamado de bambu doce e é muito utilizado para

    alimentação na Ásia.

    Fig. 1047  Dendrocalamus latiflorus 

    45 Imagem extraída do site < http://www.bambubrasileiro.com/info/especies/4.html>. Arquivo capturado em 4nov 2002.46 Imagem extraída do site < http://www.agr.unicamp.br/bambubrasilis> . Arquivo capturado em3 dez 2003.47 Imagem extraída do site . Arquivo capturado em 4 nov 2002.

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    Os bambus do gênero Phyllostachys (Fig. 11 e 12) são utilizados principalmente na confecção

    de móveis e têm o nome popular de cana-da-índia.

    Fig. 1148  Fig. 1249  Phyllostachys Áurea Phyllostachys Áurea

    Todas essas espécies estão bem adaptadas no Brasil e o  Bambusa vulgaris  muito bemadaptado também na Bahia, sendo encontrado em grande quantidade, principalmente, na área

    litorânea e no Recôncavo. 

    48. Imagem extraída do site < http://www.webspirit.com/fluteman/book/selecting_bamboo.htm> .Arquivocapturado em 10 jun 2004.49 Imagem extraída do site < http://www.bamboogarden.com/Phyllostachys%20aurea.htm>Arquivo capturado em 10 jun 2004.

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    6. RELAÇÃO BAMBU X ECODESIGN

    O bambu já vem sendo estudado e utilizado por designers, arquitetos, engenheiros e artesãos

    em diversas aplicações: construção de casas, objetos de decoração, mobiliário, etc... . Existem

    algumas entidades que utilizam o bambu, também, para fins sociais, na intenção de integrar à

    sociedade jovens e desempregados.

    A Bambuseria Cruzeiro do Sul50  oferece um programa social, utilizando o bambu, material

    que será abordado neste trabalho, como matéria-prima que agrega os conceitos do ecodesign:

     A Bambuzeria Cruzeiro do Sul - BAMCRUS, uma OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - de âmbito nacional, com sede em Belo Horizonte, voltada para odesenvolvimento técnico e científico da cultura do bambu, busca promover o bem-estar físico, social, cultural e econômico, propiciando atividades ocupacionais e estimulando a geração detrabalho e renda através de programas profissionalizantes e da implementação de unidades produtivas.

    Essa organização, dirigida pelo professor Lúcio Ventania51, vem trabalhando como

    articuladora de uma rede de alianças entre comunidades, organizações, empresários e governo

     para implantação do “ Programa de Desenvolvimento do Ciclo do Bambu no Brasil ”,

    atingindo oito Estados brasileiros: Minas Gerais, Amapá, Rio Grande do Sul, Alagoas, Mato

    Grosso do Sul, Distrito Federal, Espírito Santo e Paraná.

    O programa já formou cerca de dez mil trabalhadores de baixa renda com especialização em

    movelaria e artefatos de bambu, gerando emprego e renda e elevando a auto-estima das

     pessoas52.

    Contando com o apoio do Sebrae, dos empresários e das Prefeituras dos locais onde é

    realizado, o Projeto já permitiu o desenvolvimento de produtos premiados, como o cabide de

     bambu, que Ventania classifica como “o verdadeiro e bom cabide de empregos” (Fig.13).

    50 VENTANIA, Lucio. Bambuseria Cruzeiro do Sul. http://www.bamcrus.com.br. Arquivo capturado em 28dez 2003.51 Lucio Ventania é artesão, criador da Bambuzeria Cruzeiro do Sul e um dos principais representantes doMovimento de Popularização do Uso do Bambu no Brasil52 VENTANIA, Lucio. Bambuseria Cruzeiro do Sul. http://www.bamcrus.com.br. Arquivo capturado em 28dez 2003.

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    Fig. 13 53 Cabide de bambu

    Em Alagoas, por exemplo, onde se produz cerca de três mil cabides por mês, os produtos são

    embalados com papel reciclado, feito do bagaço de cana-de-açúcar. O bagaço está sendo

    utilizado em razão de acordos firmados com usineiros locais, que disponibilizam a matéria-

     prima e também algumas ferramentas de trabalho.54 

    Há milênios, o bambu é usado pelo homem em diversas partes do mundo na construção de

    moradias, móveis, cercas, esteiras, alimentação (brotos). Os chineses têm catalogados cerca

    de dez mil utilidades. Isso se dá devido as suas excelentes características físicas, estéticas e

    mecânicas de retidão, leveza, força, flexibilidade e facilidade de trabalho. É uma planta

     predominantemente tropical e de crescimento mais rápido em todo o reino vegetal. Pode

    chegar a crescer 120 cm em apenas 24 horas, garantindo uma ótima produtividade.

     Muitos dos usos primitivos que se deu ao bambu foram a origem de grandes invenções, comoas pontes suspensas, as cúpulas dos templos e aparatos tão sofisticados como o avião, ohelicóptero e o motor à explosão.55 

    Com os problemas ecológicos e energéticos, causados pela produção em massa do mundo

    contemporâneo, muitos pesquisadores e cientistas vêm direcionando a atenção na busca de

    materiais alternativos. Nesse sentido, o bambu começa a dar os primeiros passos como

    material de potencialidades ecológicas, chamando a atenção, inclusive, de empresários com

    intenções de atingir o mercado externo, mercado este sedento por materiais de aparência

    menos industrial e que não causem danos ao meio ambiente em seu processo de produção. 53. Imagem extraída do site Arquivo capturado em 28 dez 2003.54 LOPES, Elizabeth, Projeto Bambu reduz desigualdades sociais http://www.estadao.com.br. Arquivocapturado em 23 abr 2004.55 ITAPAGÉ, A matéria-prima. http://www.itapage.com/index.htm. Arquivo capturado em 1º dez 2003.

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    É, grosso modo, um retorno à antiguidade, à época em que o homem fazia uso desta matéria-

     prima, por necessidade, e confiando em suas potencialidades para resolver seus problemas de

    habitação, armas, etc... .

    Para os povos asiáticos, o bambu é considerado uma dádiva dos deuses, aço verde, ouro verde

    da floresta e amigo do homem, devido as suas múltiplas utilizações e pela facilidade de

     plantio.

     No Brasil, por falta de conhecimento, muitas pessoas ainda vêem o bambu como “mato”,

     produto de segunda categoria, próprio de segmentos populacionais de baixa renda. A sua

    disponibilidade acaba sendo responsável pela sua desvalorização, pois, como é encontrado emgrande abundância em propriedades rurais e nas margens de estradas, seu valor acaba sendo

    cada vez mais reduzido.

     No entanto, apesar desse seu estigma cultural, ultimamente o bambu vem despertando o

    interesse de arquitetos, engenheiros e designers que, devido à abertura das importações,

     puderam constatar a alta qualidade dos produtos vindos do sudeste asiático que utilizam

    técnicas tradicionais de manuseio. 

    “Os designers estão cada vez mais descobrindo aplicações onde o bambu se encaixa perfeitamente, ainda mais com a crescente produção dos laminados de bambu – chamados Plyboo” 56 (Fig.14). Em referência aos laminados de madeira, que em inglês são chamados de Plywood .

    Fig. 1457 Plyboo

    56 VASCONCELLOS, Raphael, Bambu brasileiro. http://www.bambubrasileiro.com/info/design/3.html.Arquivo capturado em 4 nov 2002..57 Imagem extraída do site < http://www.bambooworks.com> . Arquivo capturado em 7 jun 2004

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     Nesse contexto, os designers estão optando por um produto biodegradável e que agrega

    valores ambientais (ecodesign), podendo, por suas propriedades mecânicas, substituir a

    madeira e o aço.

    Acredita-se que 15% da floresta amazônica se transforme em móveis, uma situação que pode

    mudar, caso haja uma popularização do bambu como matéria-prima para esse fim, poupando

    madeiras nobres como o cedro e o mogno.

    Ainda, o bambu protege o solo, é um rápido seqüestrador e fixador de carbono, fornece abrigo

    e alimento para a vida selvagem e é um recurso perene, podendo viver até 130 anos.

    Além de suas qualidades estéticas, algumas características são atrativas a quem procura no

     bambu um material alternativo, seja para fugir do “lugar comum”, seja para alavancar

    conceitos ambientais.

    Segundo Khosrow Ghavami58, a resistência à tração do bambu é alta e pode chegar a 370

    MPa59. Isto torna atrativo o seu uso como um substituto do aço e com um custo energético por

    unidade de resistência muitas vezes menor, pois é de mais fácil aquisição, não necessitademáquinas para ser colhido e, pelo seu pouco peso, é de mais fácil transporte. A razão entre a

    resistência e seu peso específico é mais do que 6 vezes maior que aquela do aço normal. A

    resistência do bambu à compressão é 30% menor do que sua própria resistência à tração, com

    a vantagem de que o bambu é mais flexível que o aço, sendo muito empregado na construção

    civil em países com ocorrência de terremotos.

    Além de sua grande resistência e força, o bambu apresenta características estéticas peculiaresque surpreendem pela própria simplicidade, textura, seus diâmetros e colorações variadas e

     por despertar, naquele que o observa, uma sensação de ligação direta com a natureza, com a

     própria origem humana nas savanas africanas, confirmando a afirmativa de que

    “ profundamente arraigada no nosso inconsciente coletivo está a consciência intuitiva da

    nossa relação com o meio ambiente”60.

    58 Professor Ph.D. Titular do Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica, PUC-Rio 

    Rio de Janeiro – BRASIL.Membro da Associação Brasileira em materiais e tecnologias não convencionais.59 MPa significa megapascal, istoé, 10 Kgf/cm² (10 quilograma força por centímetro quadrado)60 PAPANEK, Victor J., Arquitectura e design. Lisboa: Edições 70, 1995, p.11

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    Com o avanço da economia produtiva, o uso do bambu na fabricação de objetos foiaproveitado por empreendedores industriais. No ramo de mobiliário os balineses, filipinos,chineses e japoneses têm grande tradição e é notório o volume de exportações deste setor.61 

    Mesmo pequena, hoje já existe uma demanda crescente por produtos de bambu no Brasil. É

    uma oportunidade que, se bem aproveitada, pode trazer grandes benefícios para o País, no

    entanto, ainda não existe uma boa oferta de produtos no mercado e há muita pesquisa a ser

    desenvolvida. Corre-se o risco da oportunidade ser aproveitada por outros países,

    transformando o bambu na madeira do século XXI. Cabe aos designers convencer seus

    clientes da importância de tirar o bambu dos fundos de quintais e da beira de estradas.

     O Brasil tem uma grande oportunidade de conquistar novos mercados com o bambu. Segundo

    o Jornal eletrônico da PUC62, a sua proporção continental, seu clima tropical e seu know-how 

    no manuseio da madeira fazem do Brasil uma grande potência mundial para o

    desenvolvimento do bambu, principalmente porque, com o seu valor econômico em

    crescimento, há a impossibilidade da China abastecer todo o mundo com esse material.

    Segundo Marcelo da Fonseca e Silva63... “ por perceberem essas características, os chineses,

     pela primeira vez, chamaram um brasileiro para participar das aulas”64.

    6.1. Algumas conveniências e inconveniências

    Para que o bambu possa ser utilizado no ecodesign, além de obedecer a determinados

    critérios, deve, como em toda atividade do design, ser apto a produção em série, diferenciando

    este do simples artesanato. Mesmo que qualquer produção, utilizando o bambu, se processe de

    61 VASCONCELLOS, Raphael, Bambu brasileiro. http://www.bambubrasileiro.com/info/design/3.html.Arquivo capturado em 4 nov 2002..62 JORNAL DA PUC, Bambu, o ouro verde dos chineses  http://sphere.rdc.puc-rio.br/noticias/jornaldapuc/dezembro2000/ensino/bambu.html. Arquivo capturado em 3 dez 200363 Marcelo da Fonseca e Silva é formado pelo Departamento de Artes e Design da PUC-Rio. É membro do grupode discussão bambu-brasil (http://www.bambubrasileiro.com).Trabalha há seis anos no LOTDP- Laboratório de Protótipos da PUC-Rio, onde pesquisa a aplicação do bambuem estruturas para edificações e para aparelhos de deficientes físicos. Recentemente esteve na China no 2000.Segundo o próprio Marcelo da Fonseca e Silva, No Training Course on Bamboo Chinese, no qual num períodode 45 dias (5 de Setembro a 20 de outubro de 2000) , teve aulas sobre cultivo , propagação, híbridos de bambu,manejo florestal, industrialização, cooperativa entre o homem do campo e a industria. A convite do INBAR,

    feito através da EMBRAPA, Secretaria de Cooperação Internacional, participou do Workshop do INBAR quediscutiu o Desenvolvimento do Bambu na América Central e do Sul, que se realizou na cidade deArmênia-Colombia. Nestes dois eventos era o único brasileiro presente.64 do curso “Training Course on Bamboo Chinese 

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    modo totalmente manufaturado, é necessário que seja de forma serial. Hoje, já existem

    máquinas apropriadas para beneficiar o bambu, muitas delas iguais à utilizadas para trabalhar

    a madeira.

    Outro aspecto fundamental é poder garantir a sua durabilidade. A conservação do bambu está

    relacionada diretamente à presença da “broca-do-bambu” ( Dinoderus minutus-Fig.15 e 16),

    um inseto semelhante ao cupim que, sem tratamento, pode destruí-lo em apenas seis meses

    (Fig.17).

    Fig. 1565  Fig. 16 66  Fig. 17 67  Dinoderus minutus Dinoderus minutus Dinoderus minutus

    O bambu é rico em amido em sua seiva, que é o grande atrativo do inseto, principalmenteo

     bambu da espécie Bambusa vulgaris. Por isso, é fundamental um tratamento eficaz para evitar

     prejuízos.

    65 Imagem extraída do site < http://www.insects.tamu.edu> . Arquivo capturado em 9 fev 2004.66 Imagem extraída do site < http://www.koleopterologie.de/gallery/fhl08/dinoderus-minutus-foto-cymorek.html

    > . Arquivo capturado em 9 fev 2004.67. Imagem extraída do site <http://www.inbar.int/publication/txt/tr17/introduction/the%20scope%20of%20this%20book.htm> Arquivocapturado em 9 fev 2004.

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    6.2. Tratamento

    O bambu é constituído basicamente por: rizoma, colmo, galhos e folhas (Fig.18).

     

    Fig. 1868 Anatomia do bambu

    O tratamento do bambu inicia-se na colheita. É importante, primeiro, saber qual o destino aser dado ao material. Para cestarias, é aconselhável colher os bambus mais jovens por serem

    mais flexíveis. Para os demais fins, recomenda-se os bambus maduros, com cerca de 3 a 4

    anos. A colheita deve se dar nos meses de inverno brasileiro, naqueles sem “R”: maio, junho,

     julho e agosto. É nessa época do ano que a maior parte da seiva, o atrativo dos insetos por ser

    rica em amido, se concentra nos rizomas69  (Fig.18). Esse fator não se aplica ao Nordeste

     brasileiro, principalmente no litoral, onde há grande ocorrência de chuvas nessa época.

     68 Imagem extraído do livro . HIDALGO-LÓPEZ, Oscar. Bamboo-The gift of the Gods, Bogotá, D´Vinni,2003,p. 5569 Caule subterrâneo

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     Na cultura popular, diz-se que o corte deve ser feito na lua minguante, mas ainda não há um

    estudo científico que comprove tal teoria. O horário ideal é de madrugada, quando, pela

    ausência de luz, a planta diminui o seu metabolismo, quando não há fotossíntese e,

    conseqüentemente, menos seiva estará “transitando” pelos colmos70.

    O bambu cortado deve ser deixado na própria moita, na posição vertical, sem tirar os galhos e

    folhas e sem tocar o solo. Normalmente coloca-se uma pedra para apoiá-lo. Esse processo,

    que dura de 4 a 6 semanas, é conhecido como “cura na mata” ou “avinagrado” e permite a

    secagem por transpiração das folhas. Após esse período o bambu ainda terá umidade, devendo

    ser colocado em local arejado e ao abrigo da luz para que seja concluída a secagem. Isso podedurar de 2 a 8 semanas, a depender do clima da região. Para apressar esse processo pode-se

    utilizar o fogo, abrindo-se um buraco no solo, assentando o bambu sobre ele e deixando a

     peça distante 50 cm da brasa. Os troncos devem ser virados de vez em quando, evitando que

    se deformem pelo calor excessivo. Outro processo utilizado na secagem do bambu é a

    defumação em estufas, que podem ser verticais ou horizontais, e de tamanhos variados

    conforme o tamanho e a quantidade do bambu a ser secado. Podem ser feito de blocos, chapas

    de aço, terra batida e alimentada com lenha, carvão ou o próprio bambu (pedaços descartadosna serragem das peças).

    Pode-se tratar o bambu, também, apenas fervendo-o em água ou deixando-o submerso em

    água corrente (rios) ou parada (piscinas, tanques) de 6 a 8 semanas.

    Contudo, esses métodos não garantem uma imunização contra o ataque do  Dinoderus

    minutos. Ainda é necessário um tratamento químico, mas, no caso do ecodesign, usa-se umtratamento que não cause ou minimize os danos à natureza. A utilização de produtos químicos

    necessita de equipamentos de segurança como óculos, máscara e luvas. É de extrema

    importância que os resíduos químicos não sejam jogados na natureza. Devem ser

    armazenados com segurança, em recipiente fechado e lacrado. É aconselhável que esses

    recipientes fiquem enterrados em uma cova de concreto, fornecendo uma segurança extra, no

    caso de rompimento das embalagens, para que não poluam o solo ou o lençol freático.

    70 Caule caracterizado por nós bem marcados e entrenós distintos, peculiar à famíliadas gramíneas, quasesempre fistuloso.

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    Alguns pesquisadores estão à procura de um tratamento natural eficaz, mas ainda é necessária

    muita pesquisa nesse campo.

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    7. APLICABILIDADE DO BAMBU NO ECODESIGN

     No Brasil, a maior aplicação do bambu ainda se dá na zona rural em estruturas, como

    galinheiros e outras construções rurais, cercas diversas e varas de pesca. Há, também, a parte

    de produção de brotos para alimentação, inclusive visando a industrialização e exportação,

    com um crescimento muito grande no setor. É utilizado, ainda, vivo, para contenção de ventos

    em culturas como café, produção de álcool71, na fabricação de cestos e esteiras, no combate à

    erosão de encostas, construção de casas, embarcações, encanamentos para irrigação,

    instrumentos musicais, medicina natural, objetos de adorno, paisagismo, carvão, entre outras

    aplicações.

     No campo do design, produção em série, o bambu é utilizado em inúmeras fábricas de

    móveis, cortinas, geralmente com o uso do gênero  Phyllostachys, conhecido popularmente

    como cana-da-índia. Este mesmo tipo de bambu está sendo, também, muito utilizado na

    confecção de alças de bolsas e cabides (Fig.19).

    Fig. 1972 Bolsa com alça de bambu

    71 Segundo Antonio Luiz de Barros Salgado, uma tonelada de bambu produz cerca de 340 litros de álcool,

    enquanto que a cana-de-açúcar produz apenas 70 litros. Biblioteca virtual do estudante da Língua Portuguesahttp://www.bibvirt.futuro.usp.br/sons/tome_ciencia/07a.mp3. Arquivo capturado em 24 abr 200472. Imagem extraída do site Arquivocapturadoem 28 jun 2004.

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    O bambu está sendo explorado pelas indústrias de celulose e papel. O Grupo João Santos,

     proprietário da Itapagé, empresa localizada em Coelho Neto, município do Estado do

    Maranhão, fabrica papel duplex utilizado em embalagens.

    A Cepasa, empresa pernambucana de celulose, também pertencente ao Grupo João Santos,

    segundo informações do Sr. Renato Larocca73, utiliza o bambu como matéria-prima para a

    fabricação de embalagens para produtos de diversas empresas, entre elas:

     

    - Unilever Bestfoods, linhas: Maizena, Cremogema e Arrozina.

    - Sadia, linha: Tortinhas de Palmito.

    - Mc Donald´s, linha: Mc Lanche Feliz.- São Paulo Alpargatas, linhas de calçados: sandálias Havaianas.

    - GE – General Eletric, linha de lâmpadas.

    - Asa Química, sabão em pó Invicto.

    Contudo, o processo de impressão, laminação e a tinta utilizada, ainda são altamente

     poluentes.

    O uso do bambu é ilimitado. Com ele é possível substituir a madeira em todas as suas

    aplicações, mas não é possível utilizar a madeira para fazer todas as coisas e estruturas que só

     podem ser feitas com o bambu74. É um nicho que pode ser bem explorado no Brasil e na

    Bahia.

    Segundo Ventania75:

    ...nós avaliamos que pelo fácil manuseio, pela abundância da planta no território brasileiro, pela trajetória riquíssima que o bambu teve nas comunidades orientais e, principalmente, pelacriatividade e pelo poder de trabalho de nosso povo, o brasileiro se dará muito bem com o bambu. Eu acredito que o bambu oferece uma capacidade de criação sem limites, em diversasáreas, e o diferencial do brasileiro - que é reconhecido como o diferencial da inventividade -fará com que o percurso do bambu no Brasil seja tão vitorioso quanto foi no Oriente.

    73 Coordenador de Desenvolvimento de Embalagens Finais, Grupo João Santos.74 HIDALGO-LÓPEZ, Ob.cit, p.III75 Lucio ventania é um dos principais representantes do movimento de popularização do uso do bambu no Brasile dirige a Bambuseria Cruzeiro do Sul

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    O bambu tem grande potencial para ser empregado no ecodesign, mas, para isso, algumas

    características têm que ser salientadas. Para que um produto possa ser considerado sustentável

    na lógica do ecodesign, alguns aspectos relacionados ao impacto ambiental, como uso de

    energia para fabricação, o descarte, etc...devem ser abordados segundo os critérios da equipe

    do ecodesign-net:

    - O produto feito de bambu é biodegradável e o resíduo de sua produção pode ser utilizado nageração de energia, como carvão.

    - o bambu é leve e fácil de cortar e exige ferramentas simples que são suficientes para prepara-lo, sendo muitas delas manuais, simplificando a transformação da matéria-prima em produto e, com isso, gastando menos energia.

    - para ser colhido, o bambu não necessita de máquinas. Segundo Hidalgo-Lopez76  com umsimples machado de pedra é possível cortar um tronco de bambu. Um tronco de madeira domesmo diâmetro necessitaria de vários machados e muito mais tempo e energia para sercortado. Além disso, por seu menor peso, gasta menos energia com o transporte.

    - o bambu não necessita de certificação (não corre o risco de certificação fraudulenta) e nãonecessita de replantio. Uma vez plantado, pode ser colhido inúmeras vezes e volta a crescer.

    - o bambu já vem sendo usado em programas sociais de capacitação e geração de renda para jovens, o que vale dizer, responsabilidade social.

    - por ser renovável, o bambu não necessita de racionalização, já que pode atingir 130 anos e

    depois de cortado novos brotos voltam a crescer, gerando menos impacto ecológico.- qualquer parte de um produto feito de bambu pode ser substituída por peça de igual formato,aumentando sua vida útil.

    - o bambu é biodegradável, volta para a Terra, mas pode ser reciclado transformando-se emum outro produto ou ter outro uso. Por exemplo: um colmo utilizado para irrigação pode sercortado e transformado em várias luminárias.

    - existem casos de produtos feitos de bambu que duram centenas de anos, ao contrário demadeiras como eucalipto e o pinho.

    - um produto feito de bambu agrega valores ecológicos, tem agradável estética pela sua

    simplicidade, naturalidade, inovando em termos de material.- qualquer produto feito de bambu, por ser sustentável, uma matéria-prima perene, está apto autilizar o marketing verde.

    - por ser um produto feito a partir de matéria-prima natural, está intrínseco que pode serdescartado sem causar danos ao meio ambiente.

    - não agride o meio ambiente em nenhuma etapa, desde a sua concepção até o descarte.

    76 HIDALGO-LÓPEZ, Oscar, Bamboo; The gift of the gods, Bogotá, D´Vinni, 2003, p.III

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    8. VANTAGENS DO USO DO BAMBU NO ECODESIGN

    O bambu é utilizado por muitos povos por suas inúmeras vantagens: crescimento rápido,

    sustentabilidade, seu broto nutritivo, resistência, flexibilidade, seu poder medicinal, entre

    outras importantes características. No ecodesign, muitas dessas vantagens podem ser

    determinantes quanto a usar ou não o bambu, basta apenas que sejam conhecidas, mudando o

    conceito popular de que bambu é “mato”.

    A matéria-prima feita com bambu tem grandes vantagens em relação ao papel para a industriagráfica e papel cartão para embalagens. Para produzir uma tonelada de celulose são

    necessárias três toneladas de bambu enquanto que necessita de seis toneladas de pinho para

     produzir a mesma quantidade.

    Segundo Informativo da Itapagé77 

    O bambu é uma planta que apresenta fibras longas como as do pinho e estreitas como as doeucalipto, o que faz com que as fibras se entrelacem entre si, conferindo aos produtos com elas fabricados, características de resistência física jamais obtidas pelas tradicionais matérias- primas utilizadas na produção de celulose.

    Então, trata-se de um papel excelente, com característica de grande resistência à tração e

    rasgo, ideais para embalagens, além de, por ser feito com fibras longas e virgens, evitar a

    contaminação dos produtos nela acondicionados, sendo recomendado para embalagens de

    alimentos e medicamentos, o que não ocorre com os papéis reciclados, que necessitam de

    elaborados processos de limpeza e consomem muita energia na sua fabricação.

     

     No campo, um hectare78 de bambu rende, em média, 25 toneladas ao ano, enquanto o de

     pinho rende entre 12 e 14 toneladas. Além disso, tanto o pinho, quanto o eucalipto necessita

    ser replantado após o corte, enquanto o bambu, uma vez plantado, nunca mais requererá

    replantio. O bambu pode ser cortado a partir dos dois anos de idade e, depois do primeiro

    corte, a cada seis meses.

    77 Informativo “Inovação e tecnologia a serviço da qualidade” – Itapagé.78 Um hectare corresponde a 10.000 m2 

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    Ele protege o solo contra erosão, te m o maior crescimento vegetal do planeta, enquanto que o

     pinho e eucalipto necessitam de 10 a 20 anos e, ainda, esgotam os nutrientes do solo e

    absorvem muita água, deixando o terreno degradado.

    Outro fator importante, segundo Sergio Safe79, é de que um bambuzal nunca deve ser

    totalmente cortado, pois desta forma a touceira degenera para uma forma arbustiva e

    demorará alguns anos para produzir novamente. O corte parcial garante uma maior

    conservação do solo, o que não acontece com os reflorestamentos, onde normalmente é feito o

    corte raso em toda a área.

    Ao contrário do que acontece com o bambu, um quadro pior se configura nas madeiras

    nativas, exploradas ilegalmente para obtenção de celulose e outras aplicações, madeiras estas

    que não serão replantadas e não são renováveis, contribuindo para o efeito estufa e o

    aquecimento global.

    Deve-se salientar que o bambu é um grande fixador de carbono da atmosfera e, por seu rápido

    crescimento, ele pode reflorestar mais rapidamente áreas desmatadas e gera quatro vezes mais

    oxigênio que as demais espécies lenhosas. Diminui a intensidade de luz e atua como

     purificador atmosférico e dos solos80.

    Por suas características físicas de resistência e força, pode ser um substituto viável para a

    madeira e o aço, sendo um dos materiais mais resistentes para a construção. É de baixo

    custo, não poluente e poupador de energia.

    Conforme estudiosos da PUC-Rio81:

    Como é conhecido, as indústrias de aço não só poluem a atmosfera com CO 2 , mas também

    reduzem o minério de ferro e as reservas de carvão, além de utilizarem petróleo para sua

     produção e transporte, contribuindo para a escassez dos recursos não renováveis.

    79 Engenheiro Florestal e membro do grupo de discussão Bambu-Brasil.80 ITAPAGE. http://www.itapage.com. Arquivo capturado em 1ºdez 200381 GHAVAMI, Khosrow, Desenvolvimento de elementos estruturais utilizando-se bambu http://www.abmtenc.civ.puc-rio.br/abmtenc/areas/bambu/corpo.htm. Arquivo capturado em 18 abr 2004.

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    Segundo Raphael Moras de Vasconcellos82, o bambu precisa de água, mas não “suga” e seca a

    água das reservas do solo. Ele inclusive ajuda a evitar o assoreamento dos rios, aumentando o

    volume de água.

    Todas as partes do bambu podem ser aproveitadas:

     praticamente nada se perde do bambu. Além dos colmos, que possibilitam múltiplas aplicações, as folhas e osramos também podem ser utilizados na fabricação de vassouras ou na alimentação de animais 83.

    Todas essas características garantem ao bambu grandes vantagens ecológicas em relação à

    madeira e ao aço, materiais estes, muito utilizados em diversas aplicações no design. Caso

    haja uma substituição destes materiais pelo bambu, o design ganhará um novo conceito, um

    conceito ecológico: o ecodesign.

    82 VASCONCELLOS, Raphael, Bambu brasileiro. http://www.bambubrasileiro.com. Arquivo capturado em 4nov 2002.83 BAMBUBRASILIS. http://www.agr.unicamp.br/bambubrasilis. Arquivo capturado em 3 dez 2003.

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    9. DESVANTAGENS DO USO DO BAMBU NO ECODESIGN

    O principal inconveniente do uso do bambu é sua baixa durabilidade natural, principalmente

    nas espécies mais ricas em amido, como o Bambusa vulgaris, sendo necessário um tratamento

    químico para se evitar o ataque do Dinoderus minutus. 

    O bambu também apresenta a desvantagem de, assim como a madeira, variar suas dimensões

    conforme a variação da umidade. Ele não apresenta raios (fibras radiais), portanto, lasca-se

    facilmente, impossibilitando o uso de pregos, sendo aconselhado o uso de encaixes, parafusos

    ou cola. Porém, tal característica é vantajosa na confecção de ripas e laminados.

     

    Por ser rico em sílica84, na camada externa do colmo, o bambu provoca um maior desgaste de

    máquinas e serras, em relação à madeira.

    Um outro problema para o uso do bambu no ecodesign, é a falta de mão-de-obra

    especializada, mas, com os programas sociais de inclusão de jovens no mercado de trabalho,

    utilizando-se o bambu, em breve haverá oferta dessa mão-de-obra.

    84 Dióxido de silício

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    10. EXPERIMENTAÇÃO E PESQUISA DE CAMPO

    Existem processos, já comprovados, de utilização e tratamento do bambu, usados por

    componentes dos grupos de estudo e profissionais de diversos países asiáticos assim como da

    Colômbia, Equador e também do Brasil. Muitas das experiências estão sendo feitas,

    especialmente para buscar uma forma de tratamento que não cause qualquer dano ao meio

    ambiente. Contudo, ainda não foi encontrado um método de tratamento totalmente natural que

    garanta 100% de eficácia.

     Nesse contexto, foram feitas experiências, visando comprovar as propriedades do bambu,

    verificadas em pesquisa teórica, e sua possível aplicação como matéria-prima em design, além

    de tentar desenvolver um tratamento natural, que garanta a durabilidade da matéria-prima. O

    laboratório, para desenvolver tais procedimentos, foi montado na Fazenda Buril, município

    de Mata de São João-BA, e o bambu utilizado foi o da espécie  Bambusa vulgaris. Vale

    ressaltar que, pela interdisciplinaridade que envolve o ecodesign, muitas destas experiências

    foram desenvolvidas com o auxílio e troca de informações, via internet, com membros da lista

    de discussão Bambu-Brasil85, lista esta composta por profissionais de diversas áreas, entre

    elas, Engenharia, Arquitetura e Agronomia.

    O primeiro passo foi colher os bambus, tanto aqueles com mais de três anos de idade que,

    segundo pesquisas, é mais aconselhável pela sua firmeza, quanto, também, os bambus jovens

    que são utilizados para cestarias, por serem mais flexíveis. A diferenciação se dá,

    especialmente, pela localização dos colmos na moita de bambus. Os mais jovens se encontram

    na parte externa, enquanto que os mais velhos na parte interna. Além disso, os bambus jovens

    são mais limpos (Fig. 20), enquanto que os mais v