barbero sobre adorno

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  • DOS MEIOS S MEDIAESCOMUNICAO, CULTURA E HEGEMONIA

    Jess Martn-Barbero

    PREFCIO

    Nstor Garca Canclini

    TRADUO

    Ronald PalitoSrgio Alcides

    2" EDiO

    RIO DE JANEIRO

    EDITORA UFRJ

    2003

  • ( "I'YIIIIIII , hy Editorial ustavo Gili, S. A., Roselln 87-89, Barcelona, 1987.

    I IlIdo oolllin. I: De los medios a Ias rnediaciones. Comunicacin, culrura e hegemonia

    Fi hn aralogrfica elaborada pela Diviso de Processamento Tcnico _ SIBIIUFR]

    M 379m Marrn-Barbero, Jess

    Dos meios s mediaes: comunicao, culrura e

    hegemonia / Jess Marrn-Barbero; Prefcio de Nsror

    Garda Canclini; Traduo de Ronald Poli to e Srgio

    Alcides. 2. ed. Rio de Janeiro: Edirora UFRJ, 2003.

    372 p.; 15 X 20,5 cm

    1. Comunicao de massa 2. Sociedade de massar. Ttulo

    COO 302.23

    ISBN 85-71 08-208-1

    [ edio: 1997

    Capa

    Tira Nigr

    Reviso

    Ceclia Moreira

    Joserre Babo

    Maria Guimares

    Projeto Grdfico e

    Editorao Eletrnica

    Editora UFRJ

    Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Forum de Cincia e CulruraEditora UFR]

    Av. Pasteur, 250 / salas 100 e 107

    Urca - Rio de Janeiro - RJ

    cp: 22290-902

    'I'clcfax: (21) 2542 3899

    ra. (21) 295 1595 r. 111, 124 a 127http://www.editora.ufrj.br

    r mnil: [email protected]

    Apuju; "tr Fundao Univerliitria111 Jod BonlfAcio

    Para meus paise minha filha Olga

  • CAPTULO 3INDSTRIA CULTURAL:

    CAPITALISMO E LEGITIMAO

    A experincia radical que foi o nazismo est sem dvida naI d.\ radicalidade com que pensa a Escola de Frankfurt. Com oI 1111)o capitalismo deixa de ser unicamente economia e explicita

    I u xtura poltica e cultural: sua tendncia totalizao. Da que osI IItI lurtianos no possam fazer economia nem sociologia sem fazer ao!li 1110tempo filosofia. o que significa a crtica e o lugar estratgico1IIIIlIddo cultura. Por isso podemos afirmar sem metforas que n~ II 1II uo de Horkheimer, Adorno e Benjamin o debate que viemos !a~i111IIIdo toca de perto. Em Qarte orgQ.e--..Lprocedimentos de mas-I" .t .o vo ser pela primeira vez pensados no como s~bstitutivs,

    111I 'orno constitutivos da conflitividade estrutural do social. O ueIlIlpli a uma mudana profunda de perspectiva: em lugar de ir da111lisc emprica da massificao de seu sentido na cultura, Adornol lorkheirner partem da racionalidade desenvolvida pelo sistema -

    I li como pode ser analisada no processo de industrializao- I1111r antilizao da existncia socjal- para chegar ao estudo da massa1111\1efeito dos processos de legitimao e lugar de manifestao da, ultura em que a lgica da mercadoria se realiza. E em parte a reflexodos frankfurtianos retira a crtica' cultural dos jornais e a situa no cen-110 do debate fiios6ficod-; seu te~po: no debate do marxism~~ oI'0sitivismo norte-americano e.::~m o exTstencialismo europeu. A-pro-!lI rntica cultural se convertia p~la primeira vez para as esquerdas em'spao estratgico a partir do qual pensar as contradies sociais.

    Em fins dos anos 1960 um pensamento que prolonga porI1'rana ou polmica a reflexo dos frankfurtianos vai tomar como eixori crise entendida como emergncia do acontecimento, contracultura,

  • DOS MEIOS S MEDIAES

    imploso do social, morte do espao pblico ou impasse na legitima-o do capitalismo. E mais alm das ideologias da crise - das quaisno se ver livre ningum que o aborde - em torno desse conceito vaise desenvolver um esforo importante para pensar o sentido dos no-vos movimentos polticos, dos novos sujeitos-atores sociais - desde osjovens e as mulheres aos ecologistas - e dos novos espaos nos quais,do bairro ao hospital psiquitrico, irrompe a cotidianidade, a here-rogeneidade e conflitividade do cultural.

    BENJAMIN VERSUS ADORNOOU O DEBATE DE FUNDO

    Com os frankfurtianos a reflexo crtica latino-americana estdiretamente envolvida. No s no debate que prope esta escola, masnum debate com ela. As outras teorias sobre a cultura de massa noschegaram como mera referncia terica, associadas a ou confundidascom um funcionalismo ao qual se respondia "sumariamente" a partirde um marxismo mais afetivo que efetivo. Os trabalhos da Escola deFrankfurt induziram a abertura de um de ate poltico intern; noincio, porque suas idias no se deixavam usar politicamente com afacilidade instrumentalista qual de fato se prestaram outros tipos depensamento de esquerda, e mais tarde por ue garadoxalmente fomosdescobrindo tudo o que o peQsamento de Frankfurt nos impedia depensar por ns r rios, tudo o_que de noss~ ~ealidade social e culturalnao ca Ia nem em sua sistematizao nem e~a dialtica. Da qE,eque segue tenha um ine vel sabor de ajuste de contas, sobretudo

    com o pensamento de Adorno, que o que tem tido entre ns mai;[penetrao e continuidade. O encontro posterior com os trabalhos eWaltcr Benjamin veio no s ennguecer o ae15ate, mas tambm ajudar-1I0S a compreender melhor ;-ra~es de nossa frustrao; do J1J.g!or daEs ola, ma~em plena..dissid~co'!p no poucos de seus ostulados,Benjamin tinha esboado ai umas chaves ara ensar o no- ensado:I) P< J 1I1ar na eu tura no como s~a negaO-o-illas_cOlll1Le erincia e,,() 111.1

    POVO E MASSA NA CULTURA: OS MARCOS DO DEB/\

    Do lagos lTlercantil arte COITlO estranhalTlento

    conceito de indstria cultural nasce em um~xto deb . T9i2fT.85 e o que contextua IZOUaI khei r e Adorno pu rca o em , dI 01" eime - A ,-: d Norte da democracia e

    . d se texto tanto a menca oI 'ntura e~A-'1_ l:--naZI Ali se llSc pensar a dialtica histricaI l'lssa como a ruemanna . . lid dI ~_ . -d desemboca na irraciona I a e que

    artindo a razao I ustra a, d~~:~~~Ja totalitarismo poltico e massificao cultural como as uas

    .iccs de uma mesma dinmica. , .O contedo do conceito no se d de uma vez - dai o pengo

    orerecido por essas definies retiradas de a gumla frase s~lta ~;;::i:

    I db 1 u reflexo ue envo ve a ca :!.:a~l_a::;os=-......_

    ucs o ra ao o ar umentao vai-se estr.e.itaod.o.. e, mbitos, ao mesmo tempo que g .dia de "caos cultu-

    ind P rte-se do sofisma que representa a Is,el~nIn es~~ p:rda do c~ntro e conseguinte dispers~ e diversific:~o d~sI~ eis e experincias culturais descobertas e descntas pel~s reorrcos anlv, _ afirma-se a existncia de um sistema qu~-sociedade de massa e -- - -d' - ~ A unidade de siste-

    d d roduz a aparente Ispersao,gula, a o ~ued a p 'd' ma anlise da gica da indstria, na qualma" enuncia a a partir e u ~ d d _

    , ' d 10 dis ositivo: a introduao na cultura a p~o ,use distingue ~,m ~p d P 'I . 1 ual a lgica da obra se distin-~ m srie sacnfican o aqUI o pe o q ,

    a~ e do si ' 1" e a imbricao entre produo de COisas egUIa da o sistema ~doclda 'd modo tal que "a fora. da indstria cul-

    Produo de necessi a es e id " d, id de com a necessidade prodUZI a ; o ponto e;rural reside na um a h '" alidade da tcnica que contato entre um e outro ac a~se na ra:I~;hOJ'e a racionalidade do domnio mesm? ' ,

    , ' ' Q tn-A afirmao da unidade~o ~t;:I!}a consu ,

    buies mais vlid~obra-Lle Horkheimer :~~~Sr::~~:s :a:;:das mais Qolmicas, Por umaparte. a afirm~ ista da "unidade ema falcia de qual uer culturahsmo, ao nos por na ~ odern S I"

    ~ d 1"" e escobnrmos gu~ as dlferen.M. p ,formaao a po tica fi ~ da "unidade" se torna ( 1'1-tamb~produzidas. Mas essa a irrnaao I ' n-- ,- andO e a se c n 111carnente abusiva e politic~ente r=s= qu

    77

  • I,O~ M I S S MEDIAES

    10l.db',ao da qual se infere que do filme mais vul ar aos de Chaplin011WI/ s "todos os filmes dizem o mesmo", pois aquilo de que fakm"n.io ,mais que o t~iunfo do capitalismo invertido".87 A materializaod.1 unidade se realiza no esquematismo, assimilando toda a obra ao'sq~lema, e na atrofia da atividade do es ectador. Assim, a propsitodo JIlZZ, afirma-se que o arranja or de msica de jazz elimina toda aadncia que no se adequar perfeitamente a seu estilo", sem deixar

    ~'Iaro.se toma o jazz como exemplo, ou melhor, como paradigma daJdentlfic~o que deve demonstrar cada sujeito com o poder ao qual submetido, afirmando que esta submisso "est na base das sncopesdo jazz que zomba dos entraves e ao mesmo tempo os converte emnormas".88 Como prova da atrofia da atividade do espectador sermencionado o cinema: pois para seguir o argumento do filme, o es-pectador deve ir to rpido que no pode pensar, e como, alm disso,tudo j est dado nas imagens, "o filme no deixa fantasia nem aopensar dos espectadores dimenso alguma na qual possam mover-sepo~'sua .prpria conta, com o que adestra suas vtimas para identific-10 ImedIatamente com a realidade".89 Uma dimenso fundamental da

    )anlise vai terminar resultando assim bloqueada por um pessimismocultural que levar a debitar a unidade do sistema na COnta da "racio-nal!dade tcnica" com o que se acaba convertendo em qualidade dosmeros o que no seno um modo de uso histrico,

    Talvez aquilo para o que aponta a afirmao da unidade naindstria cultural se faa mais claro na anlise da segunda dimenso::1 I grada~o da cultura em indstria de diverso. Nesse ponto Adornol' II rkheirner conseguem aproximar a anlise da experincia cotidiana" f 'scobril: a relao profunda que no capitalismo articula os disposi-JIV) d CIOaos do trabalho, e a impostura que implica: sua proclamada~(,P:lr~~. A"unidade falaria ento do funcionamento social que se(OIlSllllIllla outra face do trabalho mecanizado". E isso tanto no rni-111('1ismo que conecta o espetculo organizado em sries _ sucessoIlIttlmnli a d operaes reguladas - com a organizao do trabalho11111.ldr;.I, mo na operao ideolgica de realimentao: a diverso

    n

    IOVO E MASSA NA CULTURA: OS MARCOS DO DEUAT

    111111.ndo suportvel uma vida inumana, uma explorao intolervel,1111)li/ando dia a dia e semana aps semana "a capacidade de cada umI' encaixar e se conformar", banalizando at o sofrimento numa lentamorte do trgico", isto : da capacidade de estremecimento e rebelio.l.inha de reflexo que continuar Adorno alguns anos depois em suav.ilcnre crtica da "ideologia da autenticidade" - nos existencialistas.ilrrnes e especialmente em Heidegger -, desmascarando a prerenodl' uma existncia a salvo da chantagem e da cumplicidade, de umaI x; tncia constituda por um encontro que para escapar comunicaodegradada converte " relao eu-tu no lugar da verdade" .90Por para-doxal que parea, nos dir Adorno, a terminologia da autenticidade,da interioridade e do encontro acaba cumprindo a mesma funoque a degradada cultura da diverso, "do mesmo sangue" que a lin-

    f'uagem dos meios, pois inocula a evaso e a impotncia para "modificar, d . d d d d" 91qualquer coisa das vigentes relaes e propne a e e e po er .

    A terceira dimenso a dessuhlimao d_aar~ ~o seno aoutra face da egradao ~a cultl!fa, visr.o que gum mesIpo movi-mento a industria cultural banaliza ~vida cotidiana e positiviz~arte. Mas a dessublimao da arte tem sua prpria histria, cujo pontode partida se situa no momento em que a arte consegue desprender-se do mbito do sagrado em virtude da autonomia que o mercado lhepossibilita. A contradio estava j em sua raiz, a arte se liberta mascom uma liberdade que, "como negao da funcionalidade social que imposta atravs do mercado, acaba essencialmente ligada ao pres-suposto da economia mercantil'l." E s assumindo essa contradio aarte tem podido resguardar a sua independncia. De modo que con-tra toda a esttica idealista temos de aceitar que a arte obtm sua au-tonomia num movimento que a separa da ritualizao, a torna mer-cadoria e a distancia da vida. Durante um certo perodo de tempo essacontradio pde ser sustentada fecundamente para a sociedade e paraa arte, mas a partir e um momento a economia da arte sofre limamudana decisiva, o carter de mercadoria da arte se dissolve "no :\1ode realizar-se de forma integral" e, perdendo a ateno que res uarelnvn

  • 'tos M I S S MEDIAES

    ,I ,~II,Ilib rdade, a ar e se incOl:PQt: orno um bem cultural,111,1.~:tdequa!!.9o-se inteiramente necessidade. O que de arte estar a(nao ser m~is do que sua casca: o estilo, quer dizer, a coerncia pura1II'Jl( esttica que se esgota na imitao. E essa ser a "forma" da arteI~r_duzid~ pela indstri~ cultural: identificao com a frmula, repe-ua da formula. ReduzIda a cultura, a arte se far "acessvel ao povocomo os parques", oferecida ao desfrute de todos, introduzi da na vidacomo um objeto a mais, dessublimado.

    A reflexo de Horkheimer e Adorno vai at a. A Outra pistadesponta s de passagem, a de que o "aviltamento" atual da arte estligado no s ao efeito do mercado, mas ao preo que pagaria a arteburguesa por aquela pureza que a manteve isolada, excluda da classeinfe~ior. Mas essa pista fica no ar, sem desenvolvimento. A que pros-seguira se desenvolvendo a do "declnio da arte na cultura". Adornodcdicar boa parte de sua obra ao estudo desse declnio. Vou rastrearnos dois veios mestres desse desenvolvimento, o da crtica cultural e oda filosofia da arte, os elementos que dizem respeito ao nosso debate.

    Comecemos por confessar de incio nossa perplexidade. Len-do Adorno nunca se sabe totalmente de que lado est o crtico. H tex-t~s em que a tarefa parece ser a desmistificao, a denncia da cumpli-Idade, o desmascaramento das armadilhas que a ideologia comporta.

    Mas h outros em que se afirma que a cumplicidade da crtica com aultura "no se deve meramente ideologia do crtico, mas tambm

    fl'LJ~o.da relao do crtico com a coisa de que trata".93 O que nos peti v ididamenre sobre outra pista, que a que parece interessar verda-d irarnenre a Adorno. E da nossa perplexidade: que sentido tem tudoo que foi afirmado sobre a lgica da mercadoria, que sentido tem cri ti-':Ir a indstria cultural se "o que parece decadncia da cultura seuI I . "~94 E dP 110 Cregar a SImesma. ,e um texto a outro, aumenta a frustra-

    ~ 0, pois o significado da cultura remetido indistintamente his-1(:"'i~1 - "neutralizao obtida graas emancipao dos processosVII;tI.~ orn a ascenso da burguesia"95 - e fenomenologia hegelianaI. "/mll.l impc,sta pela civilizao a suas vfrimas"." De modo que

    110

    .. ( MASSA NA CULTURA: OS MARCOS DO DEBATuuu. u da sujeio da cultura ao poder e a perda de seu impulso

    I IIII!() se "resolvem" na im ossvel reconciliao do esprito exiladoI I!"O mesmo. No estar falando disso .Adorn~ quand~ t~a.ta da

    IIIIIII\(V-I reconciliao da Arte com a SOCIedade. De A dialtica doI nu! mo Teoria esttica, obra stuma, a fidelidade aos pressu-I " I(I ~ completa, ainda que os temas mudem. Se no primeiro texto1 ,,,llIllha a arte "menor" ou ligeira arte sria em nome da verdade,

    I 1)]1 sio "decorre" e se aproxima de nossa problemtica central111 Ivs do problema do prazer. " preciso demolir o conceito de ~:az~rI1I(.Ij o", proclama Adorno, pois, conforme o entende a conscrencia , Q

    I dirf , , ~1IIIIIIm- a cultura popu ar, mames nos -, :1.praz~r e so um ex- ~.,./11 IVjO, uma fonte de confuso: quem tem prazer com a experincia s11 homem trivial. E quando comeamos a suspeitar da semelhana desseI" nsamento com idias encontradas antes ideologicamente do outroI ulo, nos deparamos com afirmaes como essa que lembra o Ortegam.ris reacionrio: "A espiritualizao da obra de arte estimulou o rancor.Ios excludos da cultura e iniciou o gnero de arte para consumistas". 97( ) embarao da situao no pode ser mais completo: e se na origem.1.1 indstria cultural, mais que a lgica da mercadoria, estivesse de fato

    d' . . ~.1 reao frustrada das massas ante uma arte reserva a as rrunorras:

    Carregada de um pessimismo e de um despeito refinado q~etodavia no impedem a lucidez, a reflexo de Adorno segue seu carni-nho colocando frente a frente a imediatez em que se encharca o gozo- puro prazer sensvel- e a distncia que, sob a forma de dissonncia,assume a arte que ainda pode chamar-se tal. A dissonncia a expressode seu desgarre interior, de seu negar-se ao compromisso. A disson~ci~- "signo de todo moderno" - a chave secreta que, em mero aestupidez reinante de uma sociologia que nela v a marca da aliena~o,continua tornando possvel, hoje, a arte, a nova figura de sua essncia,agora que a arte se torna inessencial. Agor:, que .a in~~~ria culturalmonta o seu negcio sobre os traos dessa arte inferior que nun (obedeceu ao conceito de arte. Ateno para o argumento: essa arte d -sobediente ao conceito "foi sempre um testemunho do fracasso da lIl-

    Ul

  • .,()~ M I S S MEDIAES

    1111.\' nverteu esse fracasso em vontade prpria, o mesmo que faz o11\1111 r".98 um argumento precioso pelo ngulo a partir do qual seper be o sentido da "arte inferior" e sua relao com a indstriacultural: a reao ao fracasso, mas tambm seu convert-lo em vontadepr pria. E para que no haja a menor confuso sobre aquilo a que ser '~ re como a "arte inferior", a est o exemplo: como o humor. ..!

    Sabemos que a crtica ao prazer tem razes no s estticas.s populismos, fascistas ou no, tm predicado sempre as excelncias

    do realismo e tm exigido dos artistas obras que transpaream osignificados e que se conectem diretamente com a sensibilidade po-pular. Mas a crtica de Adorno, falando disso, aponta contudo araOutro lado. Cheira demais a um aristocratismo cultural que se nega aaceitar a existncia de uma pluralidade de experincias estticas, umaphualidade dos modos de fazer e usar socialmente a arte. Estamosdiante de uma teoria da cultura que no s faz da arte seu nico verda-deiro paradigma, mas que o identifica com seu conceito: um "conceitounitrio"99 que relega a simples e alienanre diverso qualquer tipo deprtica ou uso da arte que no possa ser derivado daquele conceito, eque acaba fazendo da arte o nico lugar de acesso verdade da socie-dade. Mas ento no estaramos muito perto, a partir da arte, daquelatranscendncia que os Heidegger, ]aspers e outros creram encontrar naautenticidade do encontro do eu-tu?

    Adorno negaria qualquer convergncia, dado que qualquerencontro pode guardar os traos de uma reconciliao, e se algo dis-Ii 19ue sua esttica a negao a qualquer reconciliao, a qualquerpositividade. o que nos diz ao colocar o estranhamento no centroIII .srno do movimento pelo qual a arte se constitui com-;- tal: "s porIl\ 'ia de sua absoluta negatividade pode ~ arte expressar o inexpres- ~s.vcl: a utopia".I-oo Por isso se pode ento distinguir to nitidamentehoje O que arte do que pastiche: essa mistura de sentimento e vul-1',,11 klnd " esse elemento plebeu que a verdadeira arte abomina. E queI rutnrsis aristoriica vem justificando durante sculos ao justificar1"'11 111'11 charmdos "efeitos da arte". Em lu ar de desafiar a massa1 __ _ _

    POVO E MASSA NA CULTURA: OS MARCOS DO DEBAT

    I orno faz a arte, o pastiche se defu a excit-Ia mediant . ativao dasvivncias, Mas jamais haver LegiJimaO-sQ{;ial-possvel-pft-raessa are111~ rior cuja forma consi te na explorao daemoo.,;,,~funo da arte( justamente o contrrio da emoo: a como o. No outro extremo dequnlquer subjetividade, a comoo um instante em que a negao do(11 abre as portas verdadeira experincia esttica. Por isso nada en-I -ndern os crticos que ainda insistem na conversa mole de que a arteti .vc sair de sua torre de marfim. E o ue no entendem esses crticosque o estranhamento_da...arte..La_condio bsica de sua a~toE.0mia.ue todo compromisso com o pastiche -=- com o kitsch, coma modano mais que un1ati'lao~C~r- que a presso a~assa tan~

    qlle at os melhores acabam cedendo, mas "louvar o jazz e o ro~k androll em lugar de Beethoven no serve para desmontar a mentira dat ultura, mas apenas fornece um pretexto barbrie e aos interesses daindstria da cultura".'?' Ante a chantagem, a tarefa da verdadeira artel( distanciar-se. onico caminho possvel para uma arte que noqueira acabar identificando-o homem c(;m sua prpria h~milha~o.Na era da comunicao de massa "a arte permanece ntegra precIsa-mente quando~o participa da c~unica o'~ID2Tastim.:ve que u~aIoncepo radicalmejjjepura e elevada da arte deva, para formu ar-se,1 cbaixar todas as outras formas possveis at o sarcasmo e fazer do sen-I jmento um torpe e sinistro aliado da vulgaridade. A partir desse alto111 ar, de onde conduz o crtico sua necessidade de escapar degra-dao da cultura, no parecem pensveis as contradies cotidianasque fazem a existncia das massas nem seus modos de produo dos .ntido e de articulao no simblico.

    A experincia e a tcnica cornomediaes das massas com a cultura

    Costuma-se estudar Benjamin como integrante da Escola del'rankfurt. Embora haja convergncia nas temticas, que distantes('sl1lo dessa Escola algumas de suas preocupaes mais profundas."li nto radicalmente no acadmico, a sensibilidade, o mrod a