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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL
DANIEL PEDRO MÜLLER E A PRODUÇÃO DE MAPAS E ESTATÍSTICAS COMO
INSTRUMENTOS DE GOVERNO EM SÃO PAULO (1802-1842).
JOSÉ R OGÉRIO BEIER
R ELATÓRIO DE QUALIFICAÇÃO DE MESTRADOAPRESENTADO AO PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL DA
U NIVERSIDADE DE SÃO PAULO.
ORIENTADOR : PROFª. DRª. IRIS K ANTOR
SÃO PAULO
2013
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SUMÁRIO
1. RESUMO .......................................................................................................................................... 6
2. TRAJETÓRIA DE PESQUISA ............................................................................................................... 7
3. DISCIPLINAS CURSADAS................................................................................................................... 9
a. Cartografia, imaginário geográfico e narrativas textuais na formação do Brasil (XVI-XIX). ........ 9
b. A configuração do Estado Monárquico no Século XIX e o Poder Moderador. .......................... 11
c. Historiografia: teoria e prática. ................................................................................................. 12
4. PROJETO DE PESQUISA .................................................................................................................. 13
a) Problema central, recorte temporal e abordagem teórico- metodológica .............................. 13
b) Crítica bibliográfica .................................................................................................................... 16
c) Descrição e tratamento do corpo documental ......................................................................... 26
d) Estágio atual da pesquisa .......................................................................................................... 29
e) Plano geral de redação da dissertação ...................................................................................... 29
f) Cronograma ............................................................................................................................... 32
5. VERSÃO PRELIMINAR DE CAPÍTULOS DA PESQUISA ..................................................................... 34
CAPÍTULO 1: O Gabinete Topográfico e a formação de engenheiros práticos construtores de
estrada como instrumentos de governo (1835-1849). ..................................................................... 34
a) Breve contexto intelectual e científico da América Portuguesa em fins do século XVIII ecomeço do século XIX .................................................................................................................... 34
b) Origens da presença dos engenheiros militares na capitania de São Paulo ......................... 38
c) Açúcar, estradas e engenheiros. ........................................................................................... 40
d) O Gabinete Topográfico: uma vida efêmera e intermitente. ................................................ 43
e) Atuação dos engenheiros formados pelo Gabinete Topográfico de São Paulo .................... 70
CAPÍTULO 3: O Mappa Chorographico da Província de São Paulo (1835-1842) ............................... 75
a) Biografia de um mapa: a trajetória do Mappa Chorographico da Província de São Paulo
(1835-1842). .................................................................................................................................. 75
b) A representação do oeste paulista como “Sertão Desconhecido” no Mappa Chorographico
da Província de São Paulo. .......................................................................................................... 100
c) Os aldeamentos indígenas paulista na representação cartográfica de Daniel Pedro Müller.
105
6. ANEXOS........................................................................................................................................ 106
a) Relação dos deputados eleitos e suplentes que assumiram cadeiras na Assembleia Legislativa
da Província de São Paulo entre 1835-1849. .................................................................................. 106
b) Relação dos presidentes da província de São Paulo nomeados entre os anos de 1831 a 1851. 110
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c) Lei n. 10, de 24 de março de 1835, cria nesta capital um Gabinete Topográfico. .................. 111
d) Lei n. 16, de 11 de abril de 1835. Autoriza o governo a despender o que for necessário para a
redação e impressão da estatística da província. ........................................................................... 113
e) Relação de todos os estudantes do Gabinete Topográfico. .................................................... 116
f) Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo (1841). ...................................................... 119
7. LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................................. 120
8. MAPAS ......................................................................................................................................... 121
a) Mapas Manuscritos ................................................................................................................. 121
b) Mapas Impressos ..................................................................................................................... 121
9. FONTES ........................................................................................................................................ 122
a) Fontes Manuscritas ................................................................................................................. 122
b) Fontes Impressas ..................................................................................................................... 122
c) Obras de Referência ................................................................................................................ 125
10. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................... 127
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ÍNDICE DOS QUADROS E TABELAS
Quadro 1: Legislaturas da Assembleia Legislativa da Província de São Paulo entre 1835-1849. ......... 45
Quadro 2: Deputados eleitos e suplentes que assumiram cadeiras na Assembleia Legislativa da
Província de São Paulo (1835-1849). .................................................................................................... 46
Quadro 3: Relação dos deputados da Assembleia Legislativa da Provincia de São Paulo eleitos para
mais de três legislaturas entre 1835-1849, à exceção da quinta legislatura (1844-1845). .................. 47
Quadro 4: Relação dos presidentes da província de São Paulo entre 1831-1851. .............................. 49
Quadro 5: Relação dos alunos matriculados no primeiro ano de funcionamento do Gabinete
Topográfico (1836). .............................................................................................................................. 60
Quadro 6: Relação dos instrumentos pertencentes ao Gabinete Topográfico elaborada por José
Marcelino de Vasconcelos (Fev. 1838). ................................................................................................ 63
Quadro 7: Relação dos livros pertencentes ao Gabinete Topográfico, elaborada por José Marcelino
de Vasconcelos (Fev. 1838). ................................................................................................................. 64
Quadro 8: Plano de Estudos para as aulas do Gabinete Topográfico elaborado por José Jacques da
Costa Ourique (Mar. 1842). .................................................................................................................. 66
Quadro 9: Relação dos alunos do Gabinete Topográfico habilitados para seguirem a aula de álgebra
onde se acham. ..................................................................................................................................... 68
Quadro 10: Deputados eleitos e suplentes que assumiram cadeiras na Assembleia Legislativa da
Província de São Paulo (1835-1849). .................................................................................................. 109
Quadro 11: Presidentes da Província de São Paulo (1831-1851). ..................................................... 110
Quadro 12: Relação dos alunos do Gabinete Topográfico (1835-1849). Fontes: Arquivo Público do
Estado de São Paulo e Discursos e Relatórios dos presidentes da província de São Paulo. ............... 118
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1. RESUMO
A partir da trajetória de Daniel Pedro Müller, engenheiro militar enviado pela
Coroa Portuguesa à América em 1802, no contexto marcado pelo aprofundamento da crise
geral do Antigo Regime na América Portuguesa, o presente trabalho tem por objetivo
investigar de que maneira a criação de um Gabinete Topográfico, assim como o processo de
produção da estatística e do mapa provincial por Daniel Pedro Müller (1785-1841), fortaleceu
os desígnios da elite política da Província de São Paulo, capacitando-a e oferecendo
instrumentos de intervenção administrativa em meio ás tensões entre as correntes federalistas
e centralistas na configuração do Estado imperial no período regencial.
Um segundo aspecto a ser explorado, diz respeito às correlações entre a obra de
Daniel Pedro Müller e as diferentes conjunturas políticas - Independência do Brasil (1822),
abdicação de D. Pedro I (1831), reforma constitucional de 1834 e a subsequente criação das
Assembleias Legislativas Provinciais (1835); trata-se de compreender a conversão deste
engenheiro militar a serviço da coroa portuguesa em um funcionário provincial, formulador
de uma política de expansão territorial das elites paulistas em meio ao processo de construção
do Estado pós-colonial. O Gabinete Topográfico e os instrumentos de governo criados por
Müller permitiram a consolidação de um projeto de autonomização e afirmação dos interesses
da economia açucareira e da nascente lavoura cafeeira a partir de 1835.
PALAVRAS-CHAVE: Cartografia histórica – Estatísticas – Engenheiros militares –
Província de São Paulo – Ordenamento territorial – Aldeamentos indígenas.
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2. TRAJETÓRIA DE PESQUISA
José Rogério Beier graduou-se bacharel em História pela Universidade de São Paulo
em 2011, entrando para o programa de pós-graduação em História Social desta mesma
universidade no ano de 2012.
Como aluno da graduação, elaborou projeto de iniciação científica sob orientação da
Profª. Drª. Iris Kantor sobre a produção cartográfica de Judeus e Cristãos-Novos portugueses
sobre o Brasil no século XVI, sendo financiado pelo programa de bolsas PIBIC da CNPq
(2009-2010).
No ano de 2009, foi vencedor do prêmio instituído pelo Programa de Mobilidade
Internacional da Santander, recebendo uma bolsa de estudos para estudar um semestre na
Universidade do Porto (2009/2010).
Após regressar de Portugal, concluiu o curso de bacharelado no ano de 2010 e,
simultaneamente, foi membro do Laboratório de Estudos de Cartografia Histórica (LECH-
USP), onde colaborou como estagiário no desenvolvimento da Biblioteca Digital de
Cartografia Histórica, recebendo uma bolsa CODAGE-USP (2010-2011), sob orientação da
Profª. Drª. Iris Kantor e supervisão da Profª. Drª. Vanderli Custódio, do Instituto de Estudos
Brasileiros (IEB-USP).
Em 2012, pouco antes de ingressar no programa de pós-graduação, foi um dos
vencedores do I Concurso de Monografias da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
(2012) com trabalho intitulado A Assembleia Legislativa da Província de São Paulo e a
produção de mapas e estatísticas como instrumentos de governos (1835-1842).
Após o ingresso no programa de pós-graduação, ainda no primeiro semestre de 2012,
submeteu resumo para apresentar o desenvolvimento de um dos capítulos da dissertação no IV
Simpósio Ibero-Americano de História da Cartografia, realizado em Lisboa de 11 a 14 de
setembro de 2012, tendo seu trabalho sido aceito para apresentação em maio daquele ano.Graças à bolsa FAPESP foi possível realizar esta viagem a Lisboa que permitiu
localizar em acervos portugueses a existência de documentos sobre Daniel Pedro Müller e sua
produção cartográfica. Os frutos colhidos dessa viagem foram importantes para o
desenvolvimento da pesquisa, uma vez que revelaram que muito do que já foi escrito sobre
Müller no Brasil está repleto de equívocos que, justamente por falta de pesquisadores que
visitassem os acervos portugueses, acabaram repetindo acriticamente os erros referentes a
biografia desse engenheiro militar. Exemplo disso foi a localização de documentação que
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esclarece dúvidas referentes a dados biográficos de Müller tais como a data e local de seu
nascimento, bem como aqueles referentes à sua formação antes de vir ao Brasil, em 1802.
Além de proveitosa no campo da pesquisa, em novembro de 2012 o professor de
Cartografia Histórica da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, João Carlos Garcia,
fez um convite para que fosse apresentado aos alunos de sua disciplina o desenvolvimento do
trabalho que serviu de base à comunicação enviada ao IV Simpósio Ibero-Americano de
História da Cartografia. Os comentários e sugestões realizadas durante esta apresentação no
Porto contribuíram para melhorar a redação do terceiro capítulo da dissertação, onde se
descreve o processo de confecção do mapa provincial de Daniel Pedro Müller.
No segundo semestre de 2012, preparou-se um artigo intitulado Daniel Pedro Müller
e a trajetória de seu Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo (1835-1842), tendo
como base justamente o texto apresentado e amadurecido durante a viagem a Portugal. Esse
artigo foi submetido para publicação na Revista Brasileira de Cartografia da Sociedade
Brasileira de Cartografia e, em outubro de 2012, obteve-se o parecer de que o mesmo foi
aceito para publicação em edição especial da revista que será dedicada a trabalhos de
Cartografia Histórica, com publicação prevista para 2013.
Já no primeiro semestre de 2013, desenvolveu-se novo artigo com base no texto que
formará o primeiro capítulo da dissertação, intitulado O Gabinete Topográfico de São Paulo:
a formação de engenheiros construtores de estradas como instrumento de governo da
província de São Paulo (1836-1849). Inicialmente, o resumo desse artigo foi enviado para
participação do I Encontro de História do Memorial do Ministério Público do Rio Grande do
Sul , tendo o trabalho sido aceito e apresentado no começo de junho de 2013. Com o
desenvolvimento do trabalho apresentado, o artigo foi aprimorado e submetido para avaliação
de publicação na Revista Brasileira de História da Ciência, tendo recebido, em julho, parecer
favorável à publicação do mesmo com previsão para o segundo semestre deste ano.
Para o segundo semestre de 2013, já foi aceito o resumo de trabalho intitulado Aatuação da Assembleia Legislativa da Província de São Paulo na formação de engenheiros
práticos construtores de estradas (1835-1849), para apresentação no Encontro Nacional de
Pós-Graduandos em História das Ciências (ENAPEHC 3), a ser realizado na Universidade
Federal de Ouro Preto (Campus Mariana) entre os dias 16 e 18 de outubro de 2013. Além
dessa apresentação, também foi submetido um resumo para a participação no V Simpósio
Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica a ser realizado de 25 a 28 de novembro de 2013 na
cidade de Petrópolis-RJ, o qual espera resultado de avaliação dos pareceristas.
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3. DISCIPLINAS CURSADAS
No decorrer do programa de mestrado, as seguintes disciplinas contribuíram de
forma significativa para o aprofundamento das discussões teóricas e metodológicas que
estarão presentes na dissertação.
a.
Cartografia, imaginário geográfico e narrativas textuais na formaçãodo Brasil (XVI-XIX).
Professora Responsável: Profª. Drª. Iris Kantor
O curso teve por objetivo discutir as interpretações (clássicas e contemporâneas)
concernentes à constituição dos imaginários geográficos em nações pós-coloniais,
considerando particularmente o caso brasileiro. Por intermédio da leitura crítica da
bibliografia, buscou-se identificar o peso das ideologias geográficas na configuração da
territorialidade pós-colonial, bem como compreender como as concepções de soberania
enraizadas na cultura política do Antigo Regime foram mobilizadas pela ordem política
constitucional pós-Independência, e ainda, de que modo os mapas, narrativas textuais e outros
suportes da informação geográfica registraram e/ou silenciaram os processos de
transformação do ordenamento territorial na passagem do século XVIII e XIX.
A realização desta disciplina foi fundamental para o desenvolvimento da presente
dissertação de mestrado, na medida em que parte da bibliografia sugerida e discutida em sala
de aula acabou sendo incluída no texto provisório da dissertação para complementar a
sustentação teórico-metodológica da pesquisa. Destacam-se, especialmente, os textos das
aulas de Michel Foucault no College de France entre os anos de 1977 e 1978, onde se discute
os conceitos de território e população; 1 o conceito de Fundos Territoriais definido por
Antônio Carlos Robert Moraes; 2 e o trabalho do historiador espanhol Juan Pro Ruiz sobre a
construção do Estado nacional espanhol no século XIX a partir de novos modos de governar o
território, do qual a estatística e a cartografia surgem com importância fulcral neste processo. 3
1 Cf. Michel Foucault. Segurança, Território, População: curso dado no College de France (1977-1978). SãoPaulo: Martins Fontes, 2008.2 Cf. Antonio Carlos Robert Moraes. Território e História no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Annablume, 2005.
3
Cf. Juan Pro Ruiz. A concepção política do território e a construção do Estado espanhol: cartografia, cadastro eadministração. In: Pedro Tavares de Almeida; Rui Miguel C. Branco. Burocracia, Estado e Território: Portugal e
Espanha (séculos XIX e XX). Lisboa: Horizonte, pp. 183-202.
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Os conceitos de território e população de Michel Foucault perpassam por toda a
dissertação, contudo, serão utilizados mais especificamente no segundo capítulo dessa
dissertação, onde será discutido o uso das estatísticas como instrumentos de poder ou, nas
palavras de Foucault, tecnologias de governo.
Segundo Foucault, o “poder sobre a vida” funda-se sobre dois polos: o das disciplinas e o
das regulações. No campo das regulações, a ideia de população é central a partir da constituição dos
Estados nacionais, pois nesse contexto, os governos passam a se preocupar intensamente com a
segurança e o controle social, surgindo o que Foucault denominou de biopolítica das populações. Sob
esta perspectiva, busca-se pensar os indivíduos em relação aos territórios, aos recursos naturais, às
riquezas produzidas, às rendas geradas, ao viver, aos costumes, aos hábitos, às decisões, às catástrofes,
às desgraças, aos acidentes, às epidemias, à fome, à morte e tantos outros aspectos. Enfim, busca-se
pensa-los em si mesmos e em suas relações intrínsecas e extrínsecas, nos espaços distantes, ondeestão, de modo a fazê-los presentes ,sem contudo, aproximá-los. Nesse sentido, as estatísticas podem
ser entendidas como tecnologias de governo e é justamente sob esta perspectiva que pretende-se
utilizá-la no capítulo dois dessa dissertação.
Quanto ao conceito de Fundos Territoriais, o utilizaremos no terceiro capítulo dessa
dissertação, quando estivermos discutindo a representação do oeste paulista como “Sertão
Desconhecido” no Mappa Chorographico da Província de São Paulo (1841), de Daniel
Pedro Müller. A ideia geral é a de que a utilização deste termo para definir uma vasta área da
província de São Paulo denota que as elites paulista do período pós-Independência seguem
olhando para o território que herdaram do período colonial como “Fundos Territoriais”, isto
é, estoques de espaço de apropriação futura. Contudo, cabe marcar algumas diferenças em
função das transformações políticas decorrentes do processo de Independência do país (1822)
e das Reformas Liberais ocorridas a partir da abdicação de D. Pedro I (1831).
O trabalho do historiador Juan Pro Ruiz também será utilizado no terceiro capítulo,
porém quando estivermos reconstituindo a trajetória do Mappa Chorographico da Província
de São Paulo. Tomar conhecimento deste artigo durante a aula da disciplina em questão foi
importante, pois permitiu que se vislumbrasse a possibilidade de utilizar o mesmo em uma
análise comparativa entre a construção do Estado nacional espanhol no século XIX a partir de
novos modos de governar o território, e a utilização de estatística, mapa provincial e Gabinete
Topográfico como instrumentos de governo pela a elite política paulista no âmbito da relativa
autonomia conquistada com o Ato Adicional de 1834.
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b.
A configuração do Estado Monárquico no Século XIX e o PoderModerador.
Professora Responsável: Profª. Drª. Cecília Helena Lorenzini de Salles Oliveira
O curso ministrado tinha quatro objetivos principais: 1) a problematização dos
fundamentos históricos e políticos da fundação do Império e da monarquia constitucional no
Brasil do século XIX; 2) a análise dos significados e implicações da adoção do poder
moderador na Constituição de 1824, bem como nos documentos de natureza política e jurídica
que reformularam o texto constitucional nas décadas de 1830 e 1840; 3) a discussão das
relações e contradições entre prática parlamentar e exercício do poder moderador, tendo em
vista a problematização do perfil de Estado monárquico delineado particularmente na primeira
metade do século XIX; 4) a abordagem das divergências e aproximações entre o debate sobre
o poder moderador no primeiro reinado e as discussões sobre a monarquia parlamentar na
segunda metade do século XIX.
A realização desta disciplina foi importante para o aprimoramento da dissertação na
medida em que parte da bibliografia do programa da disciplina, bem como ideias e sugestões
realizadas durante as discussões em sala de aula, acabaram incluídas no texto provisório da
dissertação para complementar a contextualização política do período recortado pela pesquisa
(1802-1842). Neste sentido, destacam-se as discussões promovidas durante as aulas sobre os
textos da Constituição Política do Império do Brazil (de 25 de março de 1824), o Ato
Adicional , Lei nº 16 – de 12 de agosto de 1834 e a Lei nº 105, de 12 de maio de 1840, que
interpreta alguns artigos da Reforma Constitucional.
A leitura detida dos textos, em conjunto com as discussões promovidas em sala de
aula, permitiu que atentássemos para a relação entre a instituição das Assembleias
Legislativas Provinciais, a partir do Ato Adicional, e a produção do Mapa Chorographico da Provincia de São Paulo, concluído por Daniel Pedro Müller em 1837, mas encomendado pela
Assembleia Legislativa da Provincia de São Paulo assim que esta foi instituída, em 1835.
Para esta dissertação, foi de extrema relevância perceber que a relativa autonomia
conferida pelo Ato Adicional, através dos artigos 9º e 10º, concedeu às Províncias autonomia
para legislarem sobre suas divisões civil, judiciária e eclesiástica; também sobre a instrução
pública e estabelecimentos próprios a promovê-la; e ainda sobre a polícia e economia
municipal, sobre a fixação das despesas municipais, e os impostos para elas necessários, sobrea criação dos empregos municipais e provinciais, sobre as obras públicas, estradas e
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navegação no interior de cada Província, sobre a fixação da força policial respectiva e, mais
importante para este trabalho, sobre a organização da estatística da província, a catequese, e
civilização dos indígenas, e o estabelecimento de colônias.
Assim, o Ato Adicional de 1834 conferiu uma relativa autonomia tributária,
coercitiva e legislativa a ser exercido nas províncias pelas elites políticas locais que, no caso
de São Paulo, por meio da Assembleia Legislativa Provincial, passou a criar leis visando a
elaboração de instrumentos administrativos que permitissem aumentar o conhecimento
estatístico e geográfico que este grupo possuía de sua própria província. É o caso, como se
verá, da lei que encomendou a estatística da província – e junto com ela, o mapa provincial –
ou ainda da lei que instituiu o Gabinete Topográfico na capital paulista.
c.
Historiografia: teoria e prática.
Professor Responsável: Prof. Dr. José Jobson de Andrade Arruda
O principal objetivo do curso ministrado foi o de reposicionar o lugar da expressão
historiográfica no cenário das ciências humanas de forma geral e com a ciência da história de
modo particular, a partir do qual a prática do historiador, sua instrumentação técnica e
procedimento metodológico foram equacionados.
A conclusão desta disciplina foi importante para o aprimoramento dessa dissertação
na medida em que durante algumas das aulas foram propostos exercícios historiográficos com
diferentes objetos-personagens, sendo um destes, o economista e historiador luso-brasileiro
José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu (1756-1835).
Introdutor e grande divulgador dos princípios da Economia Política clássica em língua
portuguesa, o Visconde de Cairu tem grande importância para o estudo da história das estatísticas no
Brasil, uma vez que ele é um dos primeiros autores a associar a Estatística e a Economia Política,
então já configurada como tecnologia de governo, em sua obra Estudos do bem-comum e economia
política, ou ciência das leis naturais e civis de animar e dirigir a geral indústria, e promover a
riqueza nacional e prosperidade do Estado, publicada pela Imprensa Régia, em 1819.
Assim, a partir do exercício proposto durante a aula, vislumbrou-se a possibilidade
de incluir na primeira parte do segundo capítulo desta dissertação, considerações sobre a
influência da obra do Visconde de Cairu, especialmente no que tange à economia política e
estatística como instrumentos de governo, na elaboração do Ensaio d’um quadro estatísticoda Província de São Paulo (1838), de Daniel Pedro Müller.
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4. PROJETO DE PESQUISA
a)
Problema central, recorte temporal e abordagem teórico-
metodológica
O presente trabalho originou-se do desenvolvimento de uma monografia preparada
em 2011. Àquela altura a pesquisa tinha dimensões bastante reduzidas e limitava-se a
relacionar a produção de uma estatística e um mapa da então província de São Paulo na
segunda metade da década de 1830, com a criação da Assembleia Legislativa Provincial, em
1835, no âmbito da reforma constitucional promovida pelo Ato Adicional, no ano anterior.
Após a conclusão da monografia, discutiu-se com a orientadora a possibilidade de
transformar aquele trabalho em um projeto de dissertação de mestrado para o programa de
História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo. Após analisar a monografia, a orientadora considerou que o projeto seria viável através
do aprofundamento da pesquisa com a inclusão de análises que, partindo da reconstrução da
trajetória de Daniel Pedro Müller (1785-1841), seu papel na organização de uma escola
destinada a formar engenheiros construtores de estradas na província, bem como da produção
de seu mapa e estatística, evidenciassem os usos dados pela elite governante de São Paulo aos
referidos objetos e estabelecimento. Além disso, sugeriu também que o trabalho analisasse os
contextos técnicos e sociais da produção, circulação e consumo de estatística e mapa, de
modo que este último, em particular, fosse entendido como um artefato sobre o qual, através
de uma metodologia apropriada, se pudesse traçar uma biografia.
Assim, o presente trabalho visa investigar a encomenda de uma estatística e mapa da
província de São Paulo, bem como a criação de um Gabinete Topográfico, todos
determinados por leis provinciais, em 1835, pela então recém-instituída Assembleia
Legislativa da Província de São Paulo. Buscará se estabelecer os nexos entre as determinações
da Assembleia Provincial e o contexto político de disputa entre federalismo e centralismo
configurado no período regencial, propondo, ao final, que tanto a estatística e o mapa
provincial, quanto o Gabinete Topográfico, serviram como instrumentos administrativos para
o governo provincial.
Em artigo sobre a cultura cartográfica e a gestão territorial no período da instalação
da Corte portuguesa, Iris Kantor destaca a contribuição dos homens de ciência luso-
americanos a partir do último quartel do século XVIII e chama atenção a um paradoxo noqual o saber construído por estes cientistas no contexto da competição entre as metrópoles
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europeias pelas riquezas do Novo Mundo permitiria, anos mais tarde, a demarcação das
fronteiras políticas, materiais e simbólicas das futuras nações independentes. 4
Ora, embora Daniel Pedro Müller não fosse um ilustrado luso-americano, sua
atuação em São Paulo, especialmente no período pós-colonial, confirma o paradoxo apontado
pela historiadora em seu artigo. Müller era um engenheiro militar, formado na Academia Real
de Marinha e Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho, em Lisboa, na última
década do século XVIII. Assim como outros homens de sua geração, portugueses ou luso-
americanos, foi fruto da política pombalina que investia na formação de cientistas a fim de
que a Coroa se apropriasse do ângulo de visão oferecido por sua Colônia em benefício da
reestruturação do Império português. Investigar a trajetória de Müller e de sua produção em
solo americano, corroborou com o proposto por Kantor quanto à manifestação de uma nova
dialética da colonização, na qual a periferia colonial brasileira, enquanto “laboratório de
experimentação” do centro imperial português, agregava riquezas à metrópole, mas também
se tornava parte constitutiva de seu processo de formação como Estado-Nação pós-colonial. 5
Assim, outro objetivo perseguido por este trabalho é o de reconstituir a trajetória de
Daniel Pedro Müller e analisar de que maneira as sucessivas transformações da conjuntura
política no período recortado foram determinantes para sua produção, em especial, no período
pós-colonial, quando produziu a estatística e a carta geográfica encomendada junto com esta.
Para atingir os objetivos propostos nesta dissertação, tomou-se por base o período
compreendido entre os anos de 1802 a 1842. A escolha deste recorte procurou cobrir dois
aspectos: o primeiro, mais biográfico, está relacionado com a trajetória de Daniel Pedro
Müller desde a sua chegada a então capitania de São Paulo (1802), até o ano de sua morte
(1841); já o segundo está mais relacionado com o processo de produção do mapa e da
estatística da província de São Paulo. Como se verá mais adiante, a produção de ambos se
inicia a partir da encomenda realizada pela Assembleia Provincial (1835) e culmina com a
apresentação das cópias do Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo aos deputadosdessa mesma assembleia na abertura do ano legislativo de 1842. 6
4 “A experiência acumulada pelos cartógrafos luso-americanos deu lugar a um novo modelo de colonização,
levado a cabo, paradoxalmente, pelo Estado pós-colonial” . [Ver Iris Kantor. Cultura cartográfica e gestão
territorial na época da instalação da corte portuguesa. In: Lorelai Kury; Heloisa Gesteira (orgs.) Ensaios de
História das Ciências no Brasil: das Luzes à nação independene . Rio de Janeiro: UERJ, 2012, pp. 247].5 Idem, ibidem.
6
Vale lembrar que, quando o mapa é apresentado a Assembleia Provincial, em 1842, a estatística já havia sidopublicada, em 1838, pela typographia de Costa Silveira sob o título de Ensaio d’um quadro estatístico da
Província de S. Paulo.
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Quanto ao recorte geográfico a ser utilizado nesta dissertação, a província de São
Paulo dos finais da década de 1830 apresentava contornos bastante distintos do atual Estado
de São Paulo. Nesta época, o território que atualmente conforma o Estado do Paraná ainda
estava incorporado a São Paulo.7 É o próprio Daniel Pedro Müller quem descreve os limites
da Província em sua estatística, publicada em 1838:
“Confina ao Norte com as Provincias de Minas Geraes, e Goyaz. Ao Sul com a do Rio-Grande de S. Pedro, e de Santa Catharina. Ao Leste com a do Rio de Janeiro, e Oceano
Atlantico, e parte da Provincia de Santa Catharina; e ao Oeste com a de Matto-Grosso, Missões, d’Entre Rios (Republica Argentina), e Republica do Paraguay”.8
No campo teórico-metodológico, vale destacar que a abordagem de fontes
cartográficas requer uma análise cuidadosa por parte do historiador e, portanto, deve seguir
um método que abarque a especificidade das questões que a investigação deste tipodocumental suscita. Assim, para a execução deste trabalho, seguiram-se alguns aspectos
hermenêuticos propostos por um método de análise que levasse em conta os contextos
técnicos e sociais da produção, circulação e consumo do mapa, de modo que este fosse
entendido não como uma mera abstração, mas como “coisas materiais, [que] constituem
objetos físicos, artefatos”.9
Sob essa perspectiva, vê-se que um mapa fornece excelentes indícios não apenas de
si próprio, mas também do cartógrafo que o produziu e da sociedade da época que aparece
representada nas diferentes camadas de significados impregnadas em sua folha. Desta
maneira, se “todos los mapas están relacionados com el orden social de un período y un
lugar específicos”, 10 então o historiador da cartografia deve, através de uma metodologia
própria, buscar compreender o que o esse mapa significava para a sociedade que o fez e o
utilizou pela primeira vez.
Em sua coletânea de ensaios La nueva naturaleza de los mapas: ensayos sobre la
historia de la cartografia, publicada originalmente em língua inglesa no ano de 2001, o
7 A Comarca de Curitiba, na Província de São Paulo, foi elevada à categoria de Província, com a denominação de
Província do Paraná, pela lei nº 704 de 29 de agosto de 1853.8 Cf. Daniel Pedro Müller. Ensaio d’um quadro estatístico da Provincia de S.Paulo: ordenado pelas leis
provinciaes de 11 de abril de 1836 e 10 de março de 1837. 3. ed. facsimilada. São Paulo: Governo do Estado,1978, p. 10.9 Segundo a proposta de Meneses, se um mapa é, antes de tudo, um objeto tridimensional (e não somente
uma abstrata projeção de três dimensões num plano), então ele está imerso na vida social e em suascontingências, sendo também possível traçar-lhe uma biografia. [Ver Ulpiano Bezerra de Meneses. Rumo a
uma “História visual”. In: José de Souza Martins; Cornélia Eckert ; Sylvia Novaes. O imaginário e o poético nas
Ciências Sociais. Bauru: Edusc, 205, p. 51].10
Cf. J. B. Harley. Textos y contextos en la interpretación de los primeros mapas. In: HARLEY, J. B. La nuevanaturaleza de los mapas: ensayos sobre la historia de la cartografia. Mexico: Fondo de Cultura Economica,2005, p. 72.
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historiador britânico J. B. Harley postula que, embora a percepção comum da natureza dos
mapas é a de que estes sejam imagens, isto é, uma representação gráfica de algum aspecto do
mundo real, o historiador deve tratá-los como “una construcción social del mundo expresada
a través del médio de la cartografia”. Isto é, diferentemente de serem simples imagens da
natureza, os mapas “redescriben el mundo, al igual que cualquier otro documento, en
términos de relaciones y prácticas de poder, preferências y prioridades culturales”. 11 Assim,
Harley propõe uma metáfora interpretativa diferenciada na qual os mapas são textos tais como
outros sistemas de signos não verbais como os quadros, os impressos, o cinema, o teatro, a
televisão ou a música, e conclui sua proposta afirmando:
“Los mapas son un lenguaje gráfico que se debe decodificar. Son uma construcción de larealidad, imágenes cargadas de intenciones y consecuencias que se pueden estudiar en las
sociedades de su tiempo. Al igual que los libros son tambien producto tanto de las mentesindividuales como de los valores culturales más amplios em socieades específicas”. 12
Tomando estas premissas como base, Harley então passa a demonstrar uma forma de
interpretar as camadas simbólicas de significados dos mapas através do uso de princípios
iconográficos. Para ele, mapas são imagens inerentemente retóricas, sugerindo que tal retórica
cobre todas as camadas do mapa. Dessa forma, os mapas nunca são neutros, sem valor ou
completamente científicos. Para analisá-los cabe ao historiador da cartografia tomar três
aspectos que influenciam na leitura dos mapas: o contexto do cartógrafo, o contexto de outros
mapas e o contexto da sociedade. 13
Aqui cabe destacar a importância que o conceito de silêncio tem para este autor, para
quem os silêncios e omissões de um mapa podem significar muito mais do que limitação
técnica.14 Nos mapas de São Paulo do século XIX, por exemplo, a representação dos
aldeamentos indígenas, ou ainda, a representação do oeste paulista como uma região
despovoada e identificada como “Sertão Desconhecido” foi bastante conveniente para os
interesses expansionistas, quer do governo provincial, quer dos fazendeiros da lavoura do
açúcar e da já crescente lavoura cafeeira.
b)
Crítica bibliográfica
A produção bibliográfica sobre a história de São Paulo a partir de estatísticas e fontes
cartográficas ainda é bastante pequena. Considerando-se especificamente o século XIX, o
11 Idem , pp. 60-61.
12
Idem, p. 62.13 Idem, pp. 63-64.14 Idem, pp. 72-77.
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número de pesquisas que levam em conta a potencialidade de mapas para revelar aspectos da
vida econômica, social e política de São Paulo é menor ainda. Neste sentido, destacam-se os
trabalhos de Nestor Goulart Reis Filho sobre as vilas e cidades do Brasil colonial,15 e a tese de
doutorado de Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno sobre a produção dos engenheiros militares
na América Portuguesa. 16
Ainda nos dois primeiros semestres da pesquisa, uma obra que mereceu destaque por
abordar justamente a história de São Paulo no século XIX através da cartografia, foi a tese de
doutorado de Airton José Cavenaghi intitulada Olhos do barão, boca do sertão: uma pequena
história da fotografia e da cartografia no noroeste do território paulista (da segunda metade
do século XIX ao início do século XX 17 e também, deste mesmo autor, um artigo publicado
nos Anais do Museu Paulista sob o título O território paulista na iconografia oitocentista:
mapas, desenhos e fotografias. Análise de uma herança cotidiana.18
Embora o recorte cronológico de Cavenaghi esteja centrado na segunda metade do
século XIX, em ambos os trabalhos ele faz uma análise da produção cartográfica realizada na
primeira metade dos oitocentos e tece considerações a respeito da produção de Daniel Pedro
Müller. Talvez seu artigo seja mais significativo para nossa pesquisa, uma vez que nele o
autor propõe o estudo da cartografia elaborada para representar o território paulista em todo o
século XIX, visando demonstrar a permanência de valores culturais do período colonial
através da análise de alguns modelos cartográficos. Neste trabalho, Cavenaghi entende que a
expressão cartográfica de São Paulo vai mudando conforme as necessidades são apresentadas
e a produção de mapas, em muitos momentos, ou foi padronizada pelo Estado, ou foi fruto de
uma necessidade de determinados grupos hegemônicos, representando, desta forma, o poder
social, político e econômico constituído. Assim, segundo este autor, a produção cartográfica
deve ser interpretada como uma representação mental, fruto de um momento social, político e
econômico específico.19
15 Cf. Nestor Goulart Reis Filho. Imagens das vilas e cidades do Brasil colonial. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial
do Estado/FAPESP, 2000.16 Cf. Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno. Desenho e desígnio: o Brasil dos engenheiros militares (1500-1822).2001. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.17
Cf. Airton José Cavenaghi. Olhos do barão, boca do sertão: uma pequena história da fotografia e da
cartografia no noroeste do território paulista (da segunda metade do século XIX ao início do século XX). SãoPaulo, 2004. 313 f. Tese (doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de SãoPaulo.18
Cf. Airton José Cavenaghi. O território paulista na iconografia oitocentista: mapas, desenhos e fotografias.
Análise de uma herança cotidiana. In: Anais do Museu Paulista. São Paulo, v. 14, n.1, jan./jun. 2006, pp. 195-241.19 Ibidem, pp. 198-199.
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Apesar disso, ao tratar especificamente da produção de Daniel Pedro Müller, isto é,
tanto da estatística quanto do mapa produzido por este engenheiro militar, Cavenaghi parece
não observar o momento social, político e econômico específico da província de São Paulo
àquela altura. Ao menos não o cita em seu artigo, no qual apenas afirma que as obras de
Müller foram frutos do movimento de um resgate documental proposto pelo governo
provincial no intuito de conhecer seus limites geográficos e bases estatísticas.20 Explicação
insuficiente para se compreender as razões por trás, não apenas da produção cartográfica
sobre o território paulista realizada a partir de 1835, mas também os motivos que levaram o
governo provincial a patrocinar uma série de outros documentos não cartográficos neste
período, tais como a estatística de Müller, a impressão de diários de viagem e, até mesmo, a
criação do Gabinete Topographico, uma repartição pública com uma escola anexa a ela cujo
principal objetivo era formar engenheiros práticos para a construção de estradas provinciais.
Do ponto de vista econômico da capitania de São Paulo, Maria Lucília Viveiros
Araújo, em trabalho sobre a riqueza dos paulistanos na primeira metade dos oitocentos, revela
como a historiografia de São Paulo, apesar de vasta, tem repetido as mesmas fontes e os
mesmos temas ao ecoar que a capital do início do século XIX era pobre, decadente e sem
expressão quando comparada às principais capitais brasileiras do mesmo período.21 Tomando
como base os trabalhos de Maria Luiza Marcílio, Alice P. Canabrava, Ilana Blaj e Maria
Thereza S. Petrone,22 questiona a ideia de pobreza generalizada de São Paulo neste período e
fala da integração de São Paulo ao comércio atlântico iniciado com a restauração da capitania
em 1765 e o governo de Luís Antônio Botelho de Sousa Mourão, o Morgado de Mateus
(1765-1775). Em sua pesquisa, Viveiros aponta que da segunda metade do século XVIII até o
advento do café (1830), a cidade de São Paulo e as vilas correlatas tiveram suas economias
vinculadas ao binômio: comércio de mulas e açúcar. O aumento da produção açucareira no
planalto e seu transporte até o porto de Santos revigorou ainda mais o comércio de tropa de
mulas.23 Anos mais tarde, o governo de Bernardo José de Maria Lorena (1788-1797),destacou-se pelo incentivo a exportação do açúcar do planalto paulista. Lorena foi o primeiro
20 Ibidem, pp. 219.21 Cf. Maria Lucília Viveiros Araújo. Os caminhos da riqueza dos paulistanos na primeira metade do oitocentos. São Paulo: Hucitec, Fapesp, 2006, pp. 17-18. (Estudos Históricos; 61)22 Cf. Maria Luiza Marcílio. Crescimento demográfico e evolução agrária paulista: 1700-1836. São Paulo:Hucitec, Edusp, 2000. [Ver também: Alice P. Canabrava. Uma economia de decadência: os níveis de riqueza nacapitania de São Paulo, 1765/67. In: Revista Brasileira de Economia. Rio de Janeiro, 26(4), pp. 95-123, out.-dez.,1972. Ilana Blaj. A trama das tensões: o processo de mercantilização de São Paulo colonial. Doutorado. São
Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 1995. Maria Thereza S.Petrone. A lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio 1765-1851. São Paulo: Difel, 1968].23 Ibidem, p. 26.
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governador da capitania a proibir a exportação do açúcar de São Paulo pelo porto do Rio de
Janeiro, obrigando a produção paulista a seguir até Lisboa via porto de Santos.24 Portanto, ao
recuperar o trabalho de Maria Thereza Petrone, Viveiros conclui que foi justamente após o
governo de Lorena que a capitania de São Paulo se afirmou como região exportadora de
açúcar, que se manteve como principal produto de exportação da capitania/ província até
meados do século XIX.25
Ainda sob a perspectiva econômica, Vera Lúcia Amaral Ferlini fala do novo papel
que a capitania de São Paulo passa a desempenhar a partir de sua restauração como capitania
autônoma, em 1765.26 Para Ferlini, São Paulo era uma capitania dos novos tempos, de um
Portugal que buscava reafirmar seu poderio e preeminência e, depois de ter vivido dois
séculos de vida de fronteira, penetrando em matas e cerrados em busca de pedras e metais
preciosos, a capitania e sua população deviam agora passar a integrar o território e a
totalidade da América Portuguesa, área economicamente integrada aos circuitos mercantis
atlânticos.
“Para isso deviam ser postos todos os recursos: o levantamento racional e minucioso das populações, a investigação dos recursos naturais, a medição e marcação dos territórios, oestabelecimento de rotas, a elaboração de mapas, o erguimento de fortalezas, aorganização e preparo das tropas, a educação da população. (...) O mundo doconhecimento e o conhecimento do mundo eram partes integrantes da política do período.Sistematicamente apropriado, liberado de suas amarras escolásticas, redirecionado e
posto a serviço do Estado, o saber avançava além das Academias e integrava o cotidiano
da administração”.27
Nos dois semestres seguintes, destacaram-se as leituras de um grupo de obras que
auxiliaram uma melhor compreensão do processo de ocupação do interior do Brasil, quer no
período colonial, quer no período pós-independência. Tais leituras ajudaram a empreender
uma análise sobre a representação de Müller das vastas áreas que aparecem representadas em
seu mapa sob a legenda “sertão desconhecido”. Outro grupo de obras importantes lido neste
período foi o que detalhou as instituições para formação de profissionais de engenharia e
arquitetura no Brasil e em São Paulo nos séculos XVIII e XIX. Tais obras ajudaram acontextualizar a vinda dos Engenheiros Militares ao Brasil, bem como a reconstituição da
trajetória da criação do Gabinete Topográfico em São Paulo e de seus alunos. Por fim, um
terceiro grupo de obras lido nestes dois semestres e que merece destaque são os trabalhos que
24 Política essa que seria repetida pelo governador e capitão-general Antônio José da Franca e Horta (1802-1811), de quem Daniel Pedro Müller era ajudante de ordens.25
Ibidem.26
Cf. Vera Lúcia Amaral Ferlini. Uma capitania dos novos tempos: economia, sociedade e política na São Paulorestaurada (1765-1822). In: Anais do Museu Paulista. São Paulo, v. 17, n.2, jul./dez. 2009, pp. 237-250.27 Ibidem, pp. 240-241.
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contextualizam a história dos índios no Brasil e, mais especificamente, os aldeamentos
indígenas em São Paulo. Ainda nesta temática, obras com um histórico das políticas
indigenistas, desde o Diretório Pombalino (1757), passando pelo período de guerras justas
contra os indígenas (1808-1831), até desembocar nos regulamentos das Missões (1845).
Abaixo se procederá a crítica bibliográfica de cada um dos grupos destacados.
Para a discussão do termo “Sertão Desconhecido”, foi fundamental a leitura de livro
intitulado Território e História do Brasil , de Antônio Carlos Robert Moraes, no qual o autor
faz uma breve caracterização geográfica da colônia para, em seguida, definir a categoria
“ Fundos Territoriais” como uma das unidades formadoras do território colonial. Segundo
Moraes, o processo de colonização avança a partir de “ zonas de difusão”, isto é, núcleos de
assentamento original que funcionam como base para os movimentos expansivos posteriores.
De modo que, a consolidação desses núcleos em uma rede, com o estabelecimento de um
povoamento contínuo de seus entornos e a definição de caminhos regulares entre eles cria o
que denominou de “região colonial”. 28 Além desses conjuntos regionais, o autor ainda
destaca que o território colonial também é composto por áreas de trânsito sem ocupação
perene, lugares recém-ocupados sem colonização consolidada e, por fim, dos fundos
territoriais. Estes últimos seriam constituídos por:
“(...) áreas ainda não devassadas pelo colonizador, de conhecimento incerto e, muitasvezes, apenas genericamente assinaladas na cartografia da época. Trata- se dos ‘sertões’,das ‘fronteiras’, dos lugares ainda sob domínio da natureza ou dos ‘naturais’. Na ótica dacolonização, são os estoques de espaços de apropriação futura, os lugares de realizaçãoda possibilidade de expansão da colônia”.29
Embora ao definir a categoria “fundos territoriais” Moraes esteja referindo-se ao
processo de ocupação do espaço colonial, entende-se que, mesmo após os processos de
independência das colônias americanas, é possível pensar a ocupação do interior dos novos
Estados nacionais a partir daquela antiga dinâmica, inclusive através dos mesmos conjuntos
regionais formadores do território, agora não mais colonial, mas sim, nacional.Ilmar Rohloff de Mattos chama atenção para o fato de os construtores do Estado
imperial, herdeiros de um vasto território unificado e contíguo, terem introduzido uma nova
concepção de Império que se distinguia da anterior por estar referida a um Estado-nação.
“ Nesta outra concepção, na qual um Império = um Estado = uma Nação, o território recebia
28 Cf. MORAES, Antonio Carlos Robert. Território e História no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Annablume, 2005, p. 69.29 Idem, ibidem.
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21
uma nova significação, ele era imaginado, agora, como um território nacional”.30 Esta
operação de transmutação de território colonial para território nacional por parte dos
construtores do Estado imperial, levou Mattos a concluir que o novo Império do Brasil
deveria conformar-se ao território que herdara o que, por sua vez, pressupunha uma expansão
diferente. “Uma expansão para dentro, em direção aos brasileiros – o conteúdo de um vasto
continente, o território nacional do Império do Brasil”.31
Assim, o Estado monárquico que surge após o processo de independência do Brasil
assenta-se em uma experiência prévia de agrupamento político sob o comando de um centro
interno, o Rio de Janeiro. Além da forma de governo monárquico, o patrimônio territorial é
outra herança colonial a se destacar no contexto de formação do Estado brasileiro, sendo que,
no período pós-colonial, o Estado nacional ocupa o lugar da Metrópole ao dar o impulso que
levará a ocupação dos vastos sertões. Um expansionismo que se exercitará para dentro do
próprio território, apropriando-se dos vastos fundos territoriais disponíveis, como bem lembra
Moraes ao se referir ao trabalho de Mattos.32 Cabe apenas ressaltar que, no Império do Brasil,
especialmente a partir das reformas liberais após a abdicação de D. Pedro I, delegou-se a cada
Província o planejamento e ocupação do interior de seus respectivos territórios, bem como a
construção e manutenção de estradas provinciais.33 Assim, a chamada expansão para dentro,
se dá sob o comando de um centro interno, mas em conciliação com os governos locais que,
através da conquista de certa autonomia política e tributária, puderam direcionar os caminhos
dessa expansão.
Já para melhor compreender a representação dos aldeamentos indígenas paulistas na
cartografia de Daniel Pedro Müller, destaca-se a leitura do trabalho de Fernanda Sposito: Nem
cidadãos, nem brasileiros: indígenas na formação do Estado nacional brasileiro e conflitos
na província de São Paulo (1822-1845).34 Em seu livro, Sposito faz uma análise de duas
30
Cf. Ilmar Rohloff de Mattos. Entre a casa e o Estado. Nação, território e projetos políticos na construção doEstado imperial brasileiro. In: Eulalia Ribeira Carbó; Héctor Mendoza Vargas; Pere Sunyer Martín (coords). La
integración del território em uma idea de Estado, México y Brasil, 1821-1946. México: Instituto de GeografíaUNAM, 2007, pp. 589-608.31 Cf. Ilmar Rohloff de Mattos. Op. Cit., p. 594.32 Antonio Carlos Robert Moraes publicou artigo que trata como a herança do patrimônio territorial americanosob soberania lusitana, foi gerido pela administração do Estado nacional brasileiro que acabava de nascer,destacando alguns aspectos da expansão territorial brasileira no período imediatamente posterior aIndependência. [Ver Antonio Carlos Robert Moraes. Território, região e formação colonial: apontamentos em
torno da Geografia Histórica da Independência Brasileira. In Eulalia Ribeira Carbó; Héctor Mendoza Vargas;Pere Sunyer Martín (coords). La integración del território em uma idea de Estado, México y Brasil, 1821-1946. México: Instituto de Geografía UNAM, 2007, pp. 497-505].33
Cf. Miriam Dolhnikoff. Op. Cit., 2005, pp. 158-159.34 Cf. Fernanda Sposito. Nem cidadãos, nem brasileiros: indígenas na formação do Estado nacional brasileiro e
conflitos na província de São Paulo (1822-1945). São Paulo: Alameda, 2012.
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dimensões da realidade das populações indígenas no Brasil: uma através da representação do
poder, e outra a partir da vivência cotidiana. Por um lado, ela analisa o centro do Império do
Brasil, suas políticas e a construção de seu imaginário em relação às populações indígenas;
por outro, ela estuda a província de São Paulo, como e onde situavam-se os índios em seu
território e os tipos de conflitos daí advindos. A grande realização da obra foi articular esses
dois níveis, compostos por inúmeras subdivisões e hierarquias.
Na primeira parte do livro, destaca-se como Sposito detalhou o processo de
construção da política de Estado para com os indígenas. Primeiro busca compreender como se
deu a situação de catequese e conquista dos índios nos 300 anos de colonização portuguesa na
América, destacando as contradições da colonização indígena, em um primeiro momento no
período pombalino, com o Diretório dos Índios, de 1757, em seguida, a deflagrada pela
Revolução Vintista em Portugal e a consequente convocação das Cortes de Lisboa, em 1821.
Em seguida, observa como as mesmas demandas do período colonial, por uma política de
Estado para com os índios, são retomadas durante o Império já nas discussões da
Constituição, em 1823 e, de modo intermitente, até a instituição do Regulamento das Missões
de Catequese e Civilização dos Índios, em 1845.
Na segunda parte do livro, destaca-se especialmente o quarto capítulo, no qual
Sposito busca o papel das populações indígenas dentro da história paulista e faz uma
reconstrução em termos espaciais e estratégicos das áreas de desenvolvimento paulista, o
avanço que se deu sobre as populações indígenas, quais grupos existiam no período, seus
modos de organização social, especialmente nas regiões de Itu, Sorocaba, Porto Feliz,
Itapetininga, Itapeva, Guarapuava e Iguape.
A leitura desta obra foi de extrema relevância para essa dissertação, pois a
reconstituição das legislações e propostas de catequização e colonização dos indígenas, fez
com que se buscasse observar se a representação cartográfica que Müller realizou em sua
carta dos aldeamentos indígenas na Província de São Paulo, estava alinhada ou não com as políticas de Estado ou projetos de catequização e colonização dos indígenas da autoria de
homens ligados ao governo da Província de São Paulo, tais como José Arouche de Toledo
Rendon35 e José Bonifácio de Andrada e Silva.36
35 Cf. José Arouche de Toledo Rendon. “Memória sobre as aldeias de índios da província de São Paulo, segundo
as observações feitas no ano de 1798”. In: Revista do Instituto Histórico e Geografico do Brazil , T. 4, 1842. 2ªed. Rio de Janeiro: Typographia João Ignacio da Silva, 1863 [1842], pp. 295-317.36
Cf. José Bonifácio de Andrada e Silva. Apontamentos para a civilização dos índios bravos do Império do Brazil .In: CUNHA, Manuela Carneiro da (org.) Legislação indigenista no século XIX. Uma compilação (1808-1889) . SãoPaulo: Edusp, 1992, pp. 347-360.
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23
Sobre o início e evolução do ensino da engenharia na América Portuguesa, bem
como a evolução das instituições que formavam engenheiros militares tanto em Portugal
quanto no Brasil até o século XIX, além da já mencionada obra de Beatriz Piccolotto Siqueira
Bueno37, destacam-se outros dois trabalhos: o primeiro, de Pedro Carlos da Silva Telles, é a
História da engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX ,38 no qual o segundo capítulo
contextualiza brevemente o ensino da engenharia em Portugal, desde o século XVI, passando
pela contratação de estrangeiros e a instalação das primeiras aulas de geometria e matemática
no Rio de Janeiro, culminando com a criação de escolas e Academias, já no fim do século
XVIII, responsáveis pela formação dos profissionais de engenharia que trabalharam já a partir
da virada do século XVIII para o XIX na elaboração de cartas, obras públicas e fortificações,
dentre outros. Já o segundo trabalho que vale destacar, é A engenharia militar portuguesa na
construção do Brasil, do General Aurélio de Lyra Tavares.39 Publicado em Lisboa, em 1965,
esta obra é de uma importância ímpar ao pesquisador da área, pois apresenta um capítulo final
contendo uma relação com breves perfis biográficos de 238 engenheiros militares que
Portugal destacou para a América Portuguesa no período colonial (séculos XVII a XIX).
Quanto a formação de engenheiros-militares que atuaram em São Paulo entre o fim
do século XVIII e no século XIX, destaca-se a tese de doutorado de Eudes de Mello Campos
Júnior, intitulada Arquitetura paulistana sob o Império: aspectos da formação da cultura
burguesa em São Paulo.40 Como o próprio título indica, a tese investiga a arquitetura
realizada na cidade de São Paulo no período do Império, enfocada sob o prisma das
transformações provocadas por um processo de rápida mudança cultural, sob a liderança de
uma dinâmica classe social em gestação, a burguesia. Para Campos Júnior, no Segundo
Reinado já eram evidentes os efeitos que o “quadriculamento disciplinar vinha produzindo,
em vários níveis, sobre o corpo social brasileiro”, tais como a criação das primeiras
instituições e equipamentos de controle social, a expansão do aparelho burocrático e seu
disciplinamento incipiente, ou ainda a crescente ordenação do espaço urbano. Resultadosnotórios do processo de formação da cultura burguesa nacional. 41
37 Cf. Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno. Op. Cit., 2001.38 Cf. Pedro Carlos da Silva Telles. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI-XIX. 2ª ed. revista e ampliada.Rio de Janeiro: Clavero, 1994. 2v.39 Este livro foi doado como homenagem à Arma de Engenharia do Exército português, tendo sido publicadoexclusivamente em Portugal até sua reedição pela Biblioteca do Exército no ano 2000. [Ver Aurélio de LyraTavares. A engenharia portuguesa na construção do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2000 (1965)].40
Eudes de Mello Campos Jr. Arquitetura paulistana sob o Império: aspectos da formação da cultura burguesa
em São Paulo. 1997. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo,São Paulo, 1997, vol. 1.41 Cf. Eudes de Mello Campos Jr. Op. Cit., pp. 6-7.
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É justamente neste contexto, o de relacionar a formação da cultura burguesa em São
Paulo no período imperial com a arquitetura produzida na Província neste período, o autor
observa que representantes da burguesia em formação rapidamente envolveram-se na
modernização técnica, programática e estética das construções paulistanas de diferentes
modos, seja montando olaria a vapor ou fábrica de pedra artificial, ou ainda de telhas planas e
de cal, seja abrindo casa importadora de ferragens ou serraria a vapor, seja atuando como
empreiteiros de obras públicas, seja abraçando a profissão de engenheiro, seja encomendando
edificações de nova tipologia funcional e novo estilo arquitetônico. Nesse sentido, este
trabalho dedica algumas páginas a Daniel Pedro Müller e ao Gabinete Topográfico de São
Paulo e, para a dissertação que está se desenvolvendo, deste trabalho é bastante importante
destacar o detalhamento do conteúdo disciplinar oferecido aos alunos matriculados no curso
do Gabinete Topográfico, também a identificação de parte desses alunos que teriam estudado
durante a segunda fase de funcionamento da instituição (1842-1849) e, por fim, a trajetória
profissional de alguns dos alunos formados pelo Gabinete na execução de estradas e demais
obras públicas na Província de São Paulo.
Mais uma obra a destacar que ressalta o contexto econômico da capitania de São
Paulo no período estudado é o trabalho de Francisco Vidal Luna e Herbert S. Klein sobre a
evolução da sociedade e economia escravista de São Paulo entre 1750 e 1850.42 Em obra que
estuda a economia e população de São Paulo em um momento de transição, do final do século
XVIII até as primeiras décadas do século XIX, Luna e Klein expõem as tendências gerais da
evolução dessa região, examinando os fatores externos e internos que transformaram São
Paulo de uma economia de subsistência, marginal e isolada na região de fronteira, em uma
economia agrícola exportadora baseada no trabalho escravo e ligada ao mercado mundial.
Para esta dissertação, destaca-se da obra de Luna e Klein especialmente a explicação que os
autores dão para o dinâmico crescimento da agricultura no período analisado (1750-1850).
Para os autores, não foi a inovação tecnológica o que possibilitou o grande crescimentoverificado, mas sim a abertura de terras virgens que, por sua vez, só puderam ser exploradas
mediante o emprego de mais mão-de-obra.43 De tal modo que, para Luna e Klein, em todo
esse período a maior preocupação dos fazendeiros paulistas para o desenvolvimento de sua
produção era o suprimento de mão-de-obra africana e os custos de transportes. Quanto aos
transportes, os autores ainda destacam que até que se resolvesse o problema com a chegada
42
Cf. Francisco Vidal Luna; Herbert S. Klein. Evolução da sociedade e economia escravista de São Paulo, de 1750a 1850. São Paulo: Edusp, 2005.43 Cf. Francisco Vidal Luna; Herbert S. Klein. Op. Cit., p. 20-21.
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das ferrovias, em 1870, os fazendeiros pressionavam constantemente o governo provincial
para que este preservasse as estradas para as tropas de mulas, fornecesse postos de paradas
para os animais e melhorasse os portos de exportação de açúcar e café.44
Portanto, a leitura do trabalho de Luna e Klein foi bastante importante para a
dissertação que está se desenvolvendo, por aumentar a compreensão da dinâmica que
impulsionava a expansão das lavouras açucareira e cafeeira para o oeste paulista na primeira
metade do século XIX e, deste modo, permitir que se estabelecesse uma relação desta
dinâmica expansionista tanto com a representação cartográfica de Daniel Pedro Müller, que
utilizou o termo “Sertão Desconhecido” para denominar uma vasta região do centro-oeste
paulista, quanto com o interesse da elite econômica e política de São Paulo na expropriação
das terras dos aldeamentos indígenas e, também, dos índios não aldeados. Além disso, a
pressão que os fazendeiros faziam sobre o governo provincial para a construção e conservação
de estradas para o escoamento da produção do interior até o porto de Santos, tal como
apontado por Luna e Klein, pode ser relacionada com o capítulo da dissertação que tratará da
criação do Gabinete Topográfico em São Paulo e da necessidade de se formar engenheiros
construtores de estradas na Província.
No âmbito da política regional paulista no período pós-independência, destaca-se o
trabalho intitulado O pacto imperial: origens do federalismo no Brasil , no qual Miriam
Dolhnikoff considera que o processo de independência do Brasil acabou por introduzir
diferentes alternativas no modo de organizar politicamente a nova nação e, na disputa entre os
distintos projetos de organização política do Império que acabava de nascer, a monarquia
acabou vencendo a república e o projeto federalista, concebido por parte da elite brasileira na
primeira metade do século XIX, saiu vencedor em relação ao projeto de Estado unitário e
centralizado. 45 Nesse sentido, para Dolhnikoff, a unidade de todo o território da América
Portuguesa sob a hegemonia do governo do Rio de Janeiro foi possível, não pela
neutralização das elites provinciais e pela centralização, mas sim:
“(...) graças à implementação de um arranjo institucional por meio do qual essas elites[provinciais] se acomodaram, ao contar com autonomia significativa para administrar
suas províncias e, ao mesmo tempo, obter garantias de participação no governo centralatravés de suas representações na Câmara dos Deputados. (...) Tal arranjo, foiimplementado a partir das reformas liberais da década de 1830, especialmente o Ato
Adicional de 1834, e permaneceu em vigor mesmo depois da revisão conservadora dadécada de 1840, que não eliminou os fundamentos do perfil institucional estabelecido a
44 Idem, ibidem.45 Cf. Miriam Dolknikoff. O pacto imperial: origens do federalismo no Brasil. São Paulo: Globo, 2005, pp. 11-22.
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partir da abdicação de d. Pedro I em 1831. Uma revisão (...) [que] restringiu-se aoaparelho judiciário, sem alterar pontos centrais do arranjo liberal”. 46
Mais ainda, em sua dissertação de mestrado, Miriam Dolhnikoff destacou que a
instauração do poder provincial através do Ato Adicional de 1834 conferiu certo grau de
autonomia aos grupos regionais e, simultaneamente, vinculava-se sua ação política ao
aparelho de Estado. Com esta iniciativa, o governo central acabou delegando à província parte
do poder administrativo a ser exercido pelo grupo dominante na região. 47 Assim, continua
Dolhnikoff, a criação das assembleias provinciais deu capacidade tributária, legislativa e
coercitiva aos grupos regionais, cuja tônica de sua participação foi a conciliação com o
governo do Rio de Janeiro. 48
Destarte, como se buscará demonstrar na dissertação de mestrado, a criação do
Gabinete Topográfico, bem como a elaboração da estatística e mapa provincial justamente no
período marcado pelas reformas liberais da década de 1830, não só está intimamente
relacionada ao contexto da construção do Estado brasileiro e, nesse âmbito, à disputa política
entre os defensores do projeto federalista em detrimento do centralista para a unidade do país,
mas também à relativa autonomia conferida às elites dirigentes de São Paulo que, através
dela, passaram a deter parte do poder administrativo na província, destacadamente, de suas
capacidades tributária, legislativa e coercitiva. Para essa elite política local, representada
especialmente pelos deputados da Assembleia Legislativa provincial, a capacidade de planejamento e controle da província seria ampliada com as informações que haviam
mandado compilar na estatística e mapa provincial.
c)
Descrição e tratamento do corpo documental
Quanto aos acervos e fontes consultados para a realização deste trabalho, para a
contextualização política e econômica da província paulista no período em estudo, se utilizou
a documentação administrativa produzida na província de São Paulo entre os anos de 1835-
1849, disponível principalmente nos acervos do Arquivo Público do Estado de São Paulo, da
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e do Museu Paulista da Universidade de São
Paulo. Tratam-se de ofícios, correspondências oficiais, bandos, avisos e toda a legislação
provincial que ajudam a esclarecer detalhadamente a criação, instalação e funcionamento do
46 DOLHNIKOFF. Op. Cit., p. 14.47
Cf. Miriam Dolhnikoff. Caminhos da conciliação: o poder provincial paulista (1835-1850). São Paulo, 1993.
145 f. Dissertação (Mestrado em História Econômica) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,Universidade de São Paulo, p. 10.48 Ibidem, p. 24.
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Gabinete Topográfico, além de como se desenrolou o processo de produção tanto da
estatística quanto do mapa desde a encomenda, passando pela impressão e apresentação a
Assembleia Legislativa, chegando até a circulação dos mesmos em períodos posteriores.
Para a análise do período de 1802-1834, utilizou-se majoritariamente as espécies
documentais produzidas sobre a capitania de São Paulo disponíveis no acervo do Arquivo
Histórico Ultramarino e digitalizadas pelo Projeto Resgate de Documentação Histórica
Barão do Rio Branco. Para esse mesmo período também foram consultados os documentos
publicados na série Documentos interessantes para a história e costumes de São Paulo, cuja
coleção se encontra disponível nos acervos da Cátedra Jaime Cortesão, bem como do
Instituto de Estudos Brasileiros, ambos da Universidade de São Paulo.
Para a elucidação de alguns aspectos biográficos que ainda permaneciam duvidosos a
respeito de Daniel Pedro Müller, especialmente em relação a sua data de nascimento, os
primeiros anos de vida em Portugal até sua partida a capitania de São Paulo (1785-1802),
foram consultados acervos portugueses na cidade de Lisboa, tais como o Arquivo Histórico
Militar , onde foi possível localizar documentos que revelam o local e data de nascimento de
Müller, além de registros de matricula na Academia Militar ; o Arquivo Central da Marinha; a
Academia de Ciências de Lisboa e o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, onde se verificou,
por exemplo, que Müller jamais foi aluno do Real Colégio dos Nobres, tal como vários de
seus biógrafos informaram.
No Brasil, também foi possível encontrar referências biográficas a respeito de Müller
nos acervos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, onde localizaram-se três cópias do
Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo, além de alguns ofícios, correspondências
e petições; no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, onde encontrou-se uma relação de livros
herdados por Müller em razão do falecimento de seu pai, João Guilherme Christiano Müller
(1752-1814); e também no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, instituição a qual
Müller era sócio desde 1839, e para quem o engenheiro militar havia dedicado algumas desuas últimas obras.
Além dos acervos documentais e fontes originais mencionadas acima, também
utilizou-se de versões fac-similares das obras de Müller: o Ensaio d’um quadro estatístico da
Provincia de S. Paulo (1838); e o Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo (1841).
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O primeiro, editado originalmente em 1838 pela tipografia de Costa Silveira, 49
transformou-se em obra bastante rara50 e, por isso, acabou sendo reeditado em 1923, por
iniciativa do então presidente da província Washington Luis, sendo coordenado por Eugenio
Egas. 51 Cinquenta cinco anos depois, em 1978, a estatística de Müller ganhou uma terceira
edição fac-similada, tendo sido publicada pelo Governo do Estado de São Paulo como o
volume onze da famosa Coleção Paulística. 52
Quanto ao mapa, concluído por Müller em 1837 e impresso em Paris em 1841,
tornou-se obra rara muito rapidamente pela pequena tiragem de cem cópias. Em 1922, no
âmbito das comemorações do primeiro centenário da Independência do Brasil, o mapa ganhou
uma edição fac-similar em importante trabalho dirigido por Affonso Taunay e publicado pelo
Museu Paulista. A famosa coletânea da cartografia paulista antiga reuniu cartas de São Paulo
desde sua primeira representação conhecida, realizada por João Teixeira em 1612, até o
primeiro mapa impresso da província, em 1837, um dos objetos de estudo deste trabalho. 53
Trata-se de um ótimo instrumento de pesquisa histórica, pois além de reunir cópias
fac-similadas dos mapas originais espalhados em diferentes acervos cartográficos brasileiros e
estrangeiros, ainda apresenta um breve estudo de Taunay sobre cada um dos mapas
selecionados por ele. Ao comentar a acurácia do mapa desenhado por Müller, por exemplo, Taunay
afirma que o perfil da costa “tem muita cousa perfeitamente exacta, e muitas latitudes nelle marcadas
correspondem aos pontos certos”, contudo, reconhece muitas lacunas na carta, tal como a confluênciados rios Grande e Paraíba, equivocadamente situadas, além da descrição do interior das terras que,
segundo ele, é onde se encontra os maiores equívocos do mapa. 54
49 Instalada na Rua de São Gonçalo, n. 14 (atual praça João Mendes), a primeira tipografia da província de São
Paulo era de propriedade de Manoel da Costa Silveira, paulista, instruído em várias línguas estrangeiras quemanteve por muitos anos sua tipografia, de onde saíram obras literárias, além das de caráter oficial. SegundoCláudia Marino Semararo, Manoel da Costa Silveira acabou deixando a tipografia para assumir o lugar de OficialMaior da Academia de Direito de São Paulo. Em seu lugar, assumiu “J. F. Cabral” (sic) que tocou por algumtempo a tipografia no antigo endereço, até instalá-la no Palácio do Governo. [Ver Cláudia Marino Semeraro.
Início e desenvolvimento da tipografia no Brasil. In: MASP. História da Tipografia no Brasil. São Paulo: Secretariade Cultura, Ciência e Tecnologia do Governo do Estado de São Paulo, 1979, p. 19].50
Cf. Rubens Borba de Moraes. O bibliófilo aprendiz. Brasília/Rio de Janeiro: Briquet de Lemos/Casa da Palavra,2005, p. 189.51 Cf. Daniel Pedro Müller. Ensaio d’um quadro estatístico da provincia de S.Paulo: ordenado pelas leis
provinciaes de 11 de abril de 1836 e 10 de março de 1837. Reedição litteral. São Paulo: secção de obras d’ “O
Estado de S.Paulo”, 1923. 52
Cf. Daniel Pedro Müller. Ensaio d’um quadro estatístico da provincia de S.Paulo: ordenado pelas leis
provinciaes de 11 de abril de 1836 e 10 de março de 1837. 3. ed. facsimilada. São Paulo: Governo do Estado,1978. (Paulística, Vol. XI).53 Cf. MUSEU PAULISTA. Collectanea de Mappas da Cartographia Paulista Antiga. (Cartas de 1612 a 1837,
acompanhadas de breves comentários por Affonso D’Escragnolle Taunay . São Paulo: Cia. Melhoramentos de
São Paulo, 1922.54 Para Taunay, “não existe curso de rio que corresponda à realidade de sua posição” . [Ver Affonso d’Escragnole
Taunay. Op. Cit., p. 7].
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d)
Estágio atual da pesquisa
Atualmente a dissertação já conta com a íntegra do primeiro capítulo e duas partes do
terceiro capítulo concluídas. No primeiro capítulo, tomamos como base a documentação
administrativa disponível no acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo, as atas da
Assembleia Legislativa da Província de São Paulo (1835-1849) e os discursos e relatórios dos
presidentes da província, documentação compilada no primeiro semestre da pesquisa. Para a
primeira parte do terceiro capítulo, além do Mappa Chorographico da Provincia de São
Paulo, cuja cópia localizamos no acervo cartográfico do Arquivo Público do Estado de São
Paulo, nos detivemos sobre a documentação manuscrita disponível no Acervo Histórico da
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e, também, no Arquivo do Estado.
Os próximos passos da pesquisa deverão ser a análise do material cartográfico
coligido na visitação que fizemos aos acervos históricos do Rio de Janeiro, em Abril de 2013,
além da leitura e análise da bibliografia e documentação levantada sobre o uso das estatísticas
como instrumentos de poder.
e)
Plano geral de redação da dissertação
Quanto à organização desse trabalho, optou-se por transformar cada objeto cultural
entendido como instrumento de governo da elite provincial, como eixo principal de cada
capítulo, em torno do qual se analisará os contextos econômicos, sociais e políticos que
propiciaram a elaboração de cada um deles. Após a análise dos três instrumentos de governo,
se acrescentarão as considerações finais. Abaixo, o plano geral de redação proposto para a
dissertação com cada um dos capítulos e suas respectivas seções.
Capítulo 1: O Gabinete Topográfico e a formação de engenheiros construtores de
estradas como instrumento de governo em São Paulo (1836-1849)
a) Breve contexto intelectual e científico na América Portuguesa em fins do
século XVIII e princípios do século XIX.
b) Origens da presença dos engenheiros militares na capitania de São Paulo.
c) Açúcar, estradas e engenheiros.
d) O Gabinete Topográfico: uma vida efêmera e intermitente.
e) Os engenheiros formados pelo Gabinete Topográfico.
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Capítulo 2: Os quadros estatísticos de Daniel Pedro Müller (1835-1838).
a) O uso de estatísticas como instrumento de poder.
b) Daniel Pedro Müller e a produção do ensaio dos quadros estatísticos da
Província de São Paulo.
c) As estatísticas e os planos de civilização e catequização dos indígenas paulistas
Capítulo 3: O Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo (1835-1842)
a) Biografia de um mapa: a trajetória do Mappa Chorographico da Província de
São Paulo.
b) A representação do oeste paulista como “Sertão Desconhecido” no Mappa
Chorographico da Província de São Paulo.
c) Os aldeamentos indígenas paulista na representação cartográfica de Daniel
Pedro Müller.
O primeiro capítulo, cuja redação provisória já aparece neste relatório, buscará
reconstituir a história do Gabinete Topográfico de São Paulo no âmbito da criação das
Assembleias Legislativas Provinciais, em 1835. Através da análise da legislação provincial do
período (1835-1849), de ofícios de diferentes agentes da administração provincial e também
dos discursos dos presidentes da província aos membros da Assembleia Legislativa,
reconstituiu-se a criação, instalação e funcionamento do Gabinete Topográfico com o objetivo
de demonstrar como a crescente necessidade de construir e conservar estradas para escoar o
açúcar produzido no interior da capitania até o porto de Santos – observadas já a partir do
último quartel do século XVIII – foi uma das principais forças a demandar presença cada vezmaior de engenheiros em São Paulo.
Como se verá, embora a criação de uma escola capaz de formar profissionais aptos a
construir estradas fosse um projeto desde, pelo menos, 1806, tal estabelecimento só se
viabilizaria a partir da relativa autonomia legislativa e tributária conquistada a partir da
criação da Assembleia Legislativa da Província de São Paulo, em 1835. Nesse sentido, assim
como a estatística e o mapa que serão analisados nos capítulos posteriores, busca-se
demonstrar como a escola de engenheiros do Gabinete Topográfico também foi pensada comoum instrumento de governo, na medida em que seu principal objetivo era formar profissionais
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aptos a trabalharem para o governo provincial nas mais diversas obras públicas,
especialmente na construção e conservação das tão reivindicadas estradas.
O segundo capítulo, que será integralmente desenvolvido após a qualificação do
mestrado, terá como objeto de análise uma estatística provincial encomendada pela
Assembleia Legislativa da Província de São Paulo, em 1835, produzida sob a direção de
Daniel Pedro Müller e publicada apenas no ano de 1838.
Utilizando conceitos teóricos como centros de cálculo, de Bruno Latour, e população
e território, de Michel Foucault, a primeira parte deste capítulo terá como objetivo demonstrar
as relações inerentes entre conhecimento e poder através do uso das estatísticas. No caso deste
trabalho, pretende-se demonstrar como, após a conquista da relativa autonomia administrativa
e tributária pela elite política paulista, esta imediatamente encomendou a elaboração de uma
estatística provincial com o objetivo de utilizá-la como instrumento de poder.
Já a segunda parte deste capítulo tem como objetivo reconstituir o contexto da
produção da estatística, desde sua encomenda até a publicação (1835-1838) para, finalmente,
entrarmos na terceira parte do capítulo que buscará exemplificar os conceitos que foram
problematizados na primeira parte, através dos nexos existentes entre a estatística produzida
por Müller e os diferentes planos de colonização e catequização dos indígenas em São Paulo
na primeira metade do século XIX.
Por fim, o terceiro capítulo tratará sobre o Mappa Chorographico da Província de
São Paulo, finalizado por Daniel Pedro Müller em 1837 e encomendado juntamente com a
estatística descrita no capítulo anterior.
Na primeira parte deste capítulo, cuja redação parcial encontra-se anexada a este
relatório, será reconstituída toda a trajetória de produção do mapa, desde a encomenda pela
Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo (1835), passando pela impressão na França
(1841) e a apresentação das cópias aos deputados paulistas (1842), chegando, por fim, a
identificar como se deu a distribuição de alguns exemplares da primeira edição do mapa pelosórgãos administrativos provinciais e, também, a circulação destes artefatos culturais em
museus e bibliotecas do Brasil e do exterior a partir da segunda metade do século XIX e no
século XX. Destarte, nesta seção se buscará analisar os contextos técnicos e sociais da
produção, circulação e consumo do mapa, entendendo-o como artefatos governativos.
Na segunda parte do capítulo, também já anexado a este relatório, serão analisadas as
razões que levaram o autor do mapa a representar uma vasta região localizada na porção oeste
da província de São Paulo como “Sertão Desconhecido”. Levando em conta o processohistórico de ocupação do território paulista, bem como de sua representação no período
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colonial, acrescido da análise do contexto político e econômico específico do momento em
que o mapa foi elaborado, busca-se evidenciar as continuidades e rupturas existentes entre
esses dois períodos – que aparecem de modo claro na representação do oeste paulista como
“Sertão Desconhecido” – que, por sua vez, permitem uma melhor compreensão dos desígnios
políticos e econômicos das elites de São Paulo em relação ao destino a ser dado para aquela
região da província, uma vez que ansiavam por uma grande abertura de terras virgens a fim de
expandirem suas lavouras de açúcar e a já crescente cultura do café. 55
Por fim, na terceira parte do capítulo, a ser redigida após o exame de qualificação, se
estabelecerá uma série cartográfica com o objetivo de demonstrar como a representação dos
aldeamentos indígenas paulista no Mappa Chorographico da Província de São Paulo,
reproduz o pensamento da elite política provincial em relação aos diversos planos de
civilização e catequização dos índios que viviam na província na primeira metade do século
XIX, marcadamente os do general José Arouche de Toledo Rendon (1756-1834) e José
Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838).
f)
Cronograma
Conforme previsto no cronograma geral do projeto de mestrado, as atividades a
serem realizadas durante o segundo e último ano são:
a) Leitura e fichamento das fontes cartográficas levantadas nos acervos do Arquivo
do Estado de São Paulo e da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro;
b) Análise e seleção dos mapas pré-selecionados para o estabelecimento de uma
série cartográfica da capitania-província de São Paulo;
c) Análise cartográfica da série estabelecida para a complementação do capítulo
três;
d) Leitura e fichamento das fontes manuscritas para a redação do capítulo dois e
complementação o capítulo três;
e) Leitura e fichamento da bibliografia específica para a redação do capítulo dois e
complementação do capítulo três;
f) Redação e revisão dos capítulos um e três para a qualificação;
55 Segundo Luna e Klein, o elemento essencial capaz de explicar o dinâmico crescimento da agricultura em São
Paulo na primeira metade do século XIX não foi uma inovação tecnológica, já que essa expansão se deu commétodos agrícolas tradicionais, mas sim uma grande abertura de terras virgens. Ver Francisco Vidal Luna;Herbert S. Klein. Op. Cit., p. 20.
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g) Redação do capítulo dois e finalização do capítulo três da dissertação;
h) Defesa.
ATIVIDADESTRIMESTRES
1º 2º 3º 4º
A X X
B X X
C X X
D X X
E X X
F X X
G X X X
H X
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5. VERSÃO PRELIMINAR DE CAPÍTULOS DA PESQUISA
CAPÍTULO 1: O Gabinete Topográfico e a formação de engenheiros práticos
construtores de estrada como instrumentos de governo (1835-1849).
a) Breve contexto intelectual e científico da América Portuguesa em fins do séculoXVIII e começo do século XIX
Desde o século XVI e até boa parte do século XVIII, quando os jesuítas foram
expulsos dos domínios portugueses (1759), coube justamente aos colégios da Companhia de
Jesus o papel quase exclusivo de centros de ensino na colônia. De modo geral, eram nesses
colégios que os filhos dos colonos que iriam, posteriormente, ingressar na ordem ou seguir os
cursos na Europa – mormente o curso de Direito na Universidade de Coimbra – recebiam
aulas de gramática latina, retórica, filosofia e, em alguns, a teologia. 56
A subida de D. José I (1714-1777) ao trono de Portugal, em 1750, e de seu ministro,
Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal (1699-1782), marcou uma
época de reformas educacionais que tiveram grande impacto tanto na metrópole quanto nas
colônias. Além da expulsão dos inacianos dos domínios portugueses, foram publicadas novas
Instruções para os professores e criou-se o cargo de diretor-geral dos estudos, responsável
pela aprovação dos novos livros didáticos e a realização de concursos para licenciar os
mestres e provê-los nos lugares de gramática latina, grego e retórica que acabavam de ser
criados. As maiores modificações, porém, viriam a partir de 1768, quando foi criada a Real
Mesa Censória e renovada a Universidade de Coimbra, além das “ Aulas Régias” terem sido
multiplicadas, com a introdução das cadeiras de ler e escrever e o estabelecimento de um
tributo específico para financiar o empreendimento, o subsídio literário. 57
No âmbito do ensino da engenharia, durante parte do período colonial a formaçãodos engenheiros também esteve nas mãos dos jesuítas, além de alguns professores
estrangeiros. 58 Em Portugal, Beatriz Bueno aponta que a primeira instituição voltada ao
56 Cf. Guilherme Pereira das Neves. Aulas. In: VAINFAS, Ronaldo (dir). Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808).Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p. 55.57 Idem, pp. 57-58.58
O General Lyra Tavares observa que os italianos, sobretudo, “conservaram o caráter cosmopolita da, então,
ciência da Fortificação, sendo os jesuítas da Itália os que, em toda Península Ibérica, a ensinavam durante oséculo XVII” . [Ver Aurélio de Lyra Tavares. A engenharia militar portuguesa na construção do Brasil. Rio deJaneiro: Biblioteca do Exército, 2000 [1965], p. 33].
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ensino da Arquitetura Militar 59 foi a chamada Escola Particular de Moços Fidalgos do Paço
da Ribeira (1562/1568/1573). 60
Na América Portuguesa, a referência mais antiga é a contratação do holandês Miguel
Timermans, “engenheiro de fogo”, que aqui esteve de 1648 a 1650, “encarregado de formar
discípulos aptos para os trabalhos de fortificações e de ensinar sua arte e ciência” . 61
Também foi enviado para a América, em 1694, o capitão engenheiro Gregório Gomes
Henriques “para ensinar aos condestáveis e artilheiros do Rio de Janeiro”. Em 1699, esse
mesmo engenheiro Gregório seria encarregado de dirigir a Aula de Fortificação no Rio de
Janeiro que, em 1710, ainda não havia começado a funcionar por falta de materiais como
livros, compassos e instrumentos. Nessa aula seriam ensinadas a “arte de desenhar e erigir
fortificações”, devendo haver nela “três discípulos de partido”. 62
Com a ascensão de D. José I, uma grande reorganização militar do Reino foi
encarregada ao Conde de Lippe (1724-1777). 63 A partir dessa reorganização foram criados os
regimentos das três Armas; reorganizou-se inteiramente a Artilharia, além de se ter traduzido
e adotado, no Exército, as ordenanças prussianas, de modo que a Artilharia passou a ser uma
Arma independente e científica em Portugal. Assim, surgiram as aulas de Matemática e suas
aplicações à profissão de Artilharia, em cada regimento da Arma. 64
59 Ao caracterizar o Engenheiro português, Beatriz Bueno destaca que “a melhor descrição do perfil desse
profissional” foi feita por Manoel de Azevedo Fortes em seu tratado O Engenheiro Portuguez. Nele AzevedoFortes refere-se à profissão do engenheiro utilizando a expressão Architetura Militar. Foi apenas na segundametade do século XVIII que registrou-se o uso da expressão engenharia militar . [Ver Beatriz Piccolotto SiqueiraBueno. Desenho e Desígnio: o Brasil dos engenheiros militares (1500-1822). São Paulo: Edusp, 2011, p. 129].60
Segundo Bueno, essa instituição foi “criada para a instrução do jovem rei D. Sebastião e de alguns poucos
jovens nobres destinados a ocupar posições de mando no reino e nas conquistas” . Contudo, continua a autora,“ esse ensino, restrito a uma elite, foi interrompido no tempo dos Felipes (1583) e reintroduzido por Luiz Serrão
Pimentel (1613-1678) entre os anos de 1641 a 1647” . [Ver Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno. Desenho e
Desígnio: o Brasil dos engenheiros militares (1500-1822). São Paulo: Edusp, 2011, p. 131].61
Cf. Pedro Carlos da Silva Telles. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX . 2ª ed. Rio de Janeiro:Clavero, 1994, pp. 83-85. Beatriz Bueno também chama atenção para a contratação do engenheiro militarholandês Miguel Timermans, descrevendo-a como uma “experiência esporádica de preparação de aprendizes
na Conquista” , tendo sido este militar “incumbido de preparar 24 alunos para a função de engenheiro” . [VerBeatriz Piccolotto Siqueira Bueno. Op. Cit., p. 219]62 Os partidistas eram, nas palavras de Silva Telles, bolsistas. Para Beatriz Bueno, eles eram “jovens membros da
estrutura do exército com especial talento para a profissão – que recebiam remuneração para tanto e eram
anualmente examinados” . [Ver Pedro Carlos da Silva Telles. Op. Cit., pp. 83-85; Beatriz Piccolotto SiqueiraBueno. Op. Cit., p. 220].63 Guilherme de Schaumburg-Lippe, nascido em Londres aos 9 de janeiro de 1924, foi um militar e político deorigem alemã a serviço do exército português. Encarregado de realizar uma reorganização militar no Exércitoportuguês cuja primeira tarefa seria formar o Corpo de Engenheiros para libertar o exército da dependência de
religiosos e estrangeiros, o que era considerado imperativo para a segurança do Estado. Morreu emWolpinghausen aos 10 de setembro de 1777.64 Cf. Aurélio de Lyra Tavares. Op. Cit ., pp. 33-34.
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Após essas reformas educacionais e militares, observa-se que em 1767, a aula que
havia no Rio de Janeiro passou a denominar-se Aula do Regimento de Artilharia do Rio de
Janeiro e, em 1774, a mesma foi ampliada para abranger uma nova Cadeira, a de Arquitetura
Militar. 65 Lyra Tavares considera ser nesse momento que a formação de engenheiros
militares se principia de fato na América Portuguesa, com o envio de oficiais formados nas
academias portuguesas para ensinarem “aulistas” pré-selecionados pelo vice-rei para que
pudessem servir à Coroa posteriormente. 66
Em 1779, uma grande reforma no Ensino Militar se operou em Portugal, destacando-
se entre as principais modificações introduzidas pela reforma, a instalação da Academia Real
de Marinha no antigo Real Colégio dos Nobres. Tal curso passou a ser obrigatório, não
apenas para os candidatos à Marinha, como para a formação dos oficiais engenheiros, pelo
que o currículo escolar abrangia as seguintes disciplinas: Aritmética, Geometria,
Trigonometria Plana, Cálculo e suas aplicações à Estática, Hidráulica e Ótica.
Como a reforma de 1779 não correspondeu aos objetivos que se esperava quanto à
preparação dos oficiais de Marinha e engenheiros, anos mais tarde, em janeiro de 1790, D.
Maria I (1777-1816) ordenou “a criação da Academia Real de Fortificação e Desenho, para
restabelecer e promover a instrução de um corpo tão essencial ao Exército” (o Corpo de
Engenheiros). Por este decreto transferia-se para o Real Corpo de Engenheiros os oficiais que
serviam na Academia Real de Fortificação e Desenho, integrando outro corpo que se
denominava de Corpo de Oficiais Engenheiros. 67
No Rio de Janeiro, em 1792, cria-se uma instituição congênere a esta última criada
em Portugal (inclusive no nome): a Real Academia de Fortificação e Desenho. Segundo Silva
Telles, diferentemente dos cursos anteriores, esta academia funcionou como “um verdadeiro
instituto de ensino superior” e, portanto, considera que “a data de início formal dos cursos de
engenharia no Brasil [sic], é de 1792 e não 1810, como foi considerado até agora”. 68
No âmbito da difusão da cultura científica, outras instituições tiveram importânciadestacada. Em 1779, a Academia Real das Ciências de Lisboa é fundada, sendo que em 1787
ela inaugura seu próprio Observatório astronômico, que foi instalado no Castelo de São
Jorge. 69 Em 1798, criou-se a Sociedade Real Marítima, Militar e Geográfica para o
Desenho, Gravura e Impressão das Cartas Hidrográficas, Geográficas e Militares, por
65 Cf. Pedro Carlos da Silva Telles. Op. Cit ., p. 86.66
Cf. Aurélio de Lyra Tavares. Op. Cit., p. 50-51.67
Idem, p. 53.68 Cf. Pedro Carlos da Silva Telles. Op. Cit., p. 87.69 Cf. Iris Kantor. Op. Cit., pp. 242-243.
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iniciativa de D. Rodrigo de Souza Coutinho. Era a primeira vez que a Coroa portuguesa
estabelecia uma política oficial de impressão e comercialização de mapas em seus domínios.70
A transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro alterou as linhas gerais do
ensino, da cultura e da ciência na América Portuguesa. A Impressão Régia desembarcou no
Rio de Janeiro junto com a Corte, passando a funcionar naquele mesmo ano de 1808, quando
publicou-se, dentre outros, um livro de autoria de José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu
(1756-1835), As observações sobre o comércio franco... 71 Naquele mesmo ano, D. João VI
determinou a criação de uma “aula de Economia Política” no Rio de Janeiro, nomeando para
professor dessa Cadeira, o mesmo Visconde de Cairu. 72 Outro símbolo marcante dessa
alteração foi a criação da Academia Militar do Rio de Janeiro, em 1810.
Sobre a Academia Militar , Lyra Tavares observa que com a transferência Corte para
o Rio de Janeiro, propiciou-se a criação de uma escola semelhante à Academia de
Fortificação, Artilharia e Desenho de Lisboa, embora mais atualizada. Assim, aos 4 de
dezembro de 1810, criou-se a Academia Militar do Rio de Janeiro graças aos esforços de D.
Rodrigo de Souza Coutinho, que pessoalmente delineou a nova organização, destinando-a ao
“ensino de oficiais artilheiros e engenheiros geógrafos e topógrafos a serem aproveitados na
direção dos trabalhos de minas e obras públicas” . 73 O currículo escolar completo tinha
duração de sete anos, para os quais haveria onze professores titulares e cinco substitutos. Os
oficiais de engenharia e artilharia deveriam fazer o curso completo, portanto, sete anos. 74
Após a independência do Brasil, tão logo o Congresso começou a funcionar, em
1826, deputados e senadores passaram a discutir acaloradamente a criação de uma
universidade para a nação recém-nascida. José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838)
tinha um projeto para a criação de uma universidade na cidade de São Paulo. Embora o
projeto não tenha tido êxito, em 1827 foi determinada a criação de dois cursos superiores de
Direito (um em São Paulo e outro em Olinda) e mais dois cursos de Medicina (um no Rio de
70 Idem, p. 240.71
Cf. Rubens Borba de Moraes. A Impressão Régia do Rio de Janeiro: origens e produção. In: Ana Maria deAlmeida Camargo; Rubens Borba de Moraes. Bibliografia da Impressão Régia do Rio de Janeiro. São Paulo:Edusp/Cosmos, 1993, pp. XVII-XXXII.72 Como informa Antônio Penalves Rocha, à esta época não havia curso de Economia Política em lugar algumdo mundo, sendo que a primeira cátedra francesa de Economia Política só apareceria a partir de 1819, noConservatório de Artes e Ofícios, sob a regência de Jean-Baptiste Say (1762-1832). Na Inglaterra, o primeirocurso de Economia Política implantou-se na Universidade de Oxford, em 1825, e teve como professor NassuSenior. Em Portugal, a Universidade de Coimbra só teria um curso de Economia Política em 1836. Contudo, odecreto permaneceu apenas no papel e o curso de Economia Política no Rio de Janeiro jamais foi ministrado.[Ver Antônio Penalves Rocha. Introdução. In: Antônio Penalves Rocha (org.) Visconde de Cairu. Rio de Janeiro,
Editora 34, 2001].73 Cf. Aurélio de Lyra Tavares. Op. Cit., p. 69-70.74 Cf. Pedro Carlos da Silva Telles. Op. Cit., p. 90.
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Janeiro e outro em Salvador). 75 Nesta mesma época, outras instituições culturais importantes
foram criadas em São Paulo. Em 1825, foi inaugurada na capital a primeira Biblioteca Pública
da província, instalada no convento dos franciscanos. Dois anos mais tarde, em 1827, chegava
também à capital paulista a primeira tipografia e, com ela, o Farol Paulistano, primeiro
periódico da cidade, de propriedade do baiano José da Costa Carvalho, futuro Marquês de
Monte Alegre (1796-1860). 76
Eis, em linhas gerais, o contexto cultural e intelectual do período que antecede a
criação do Gabinete Topográfico em São Paulo. Se por um lado a criação de uma escola capaz
de formar engenheiros práticos para trabalhar nas obras públicas da província se insere no
contexto intelectual que acaba-se de descrever, por outro ele também está diretamente
relacionado com demandas de natureza econômica em função das transformações ocorridas
em São Paulo desde o período colonial.
A seguir, destaca-se brevemente o contexto econômico da capitania de São Paulo, a
partir de sua reorganização, em 1765, visando demonstrar como a estratégia de dinamização
da economia paulista a partir da produção agrícola voltada para exportação acabou criando
uma demanda crescente por engenheiros construtores de estradas na província.
b) Origens da presença dos engenheiros militares na capitania de São Paulo
Se os séculos XVI e XVII foram marcados pela expansão marítima de alguns países
europeus e a consequente conquista de novos territórios coloniais em África, Ásia e América,
pode-se dizer que o século XVIII registra uma mudança desta “cultura de latitude”, ou
expansão marítima, para uma “cultura de longitude”, ou expansão terrestre. 77 O papel
desempenhado por padres jesuítas e engenheiros militares foi fundamental para o processo de
interiorização e formação do território da América Portuguesa, no qual se devassou os sertões
e se levantou as potencialidades econômicas e informações geográficas que garantiram
75 Marisa Midori Daecto detalha o projeto de José Bonifácio de instalar uma universidade em São Paulo aindana década de 1820. [Ver Marisa Midori Daecto. O Império dos Livros: instituições e práticas de leitura na São
Paulo oitocentista. São Paulo: Edusp/Fapesp, 2011, pp. 114-117].76 O governo paulista adquiriu essa tipografia que passou a imprimir “O Paulista Official” e depois “O Paulista
Centralizador” . Anos mais tarde, em 1839, a tipografia foi arrendada pelo governo, obrigando o arrendatário aimprimir os atos do governo e da Assembleia Provincial por preço irrisório. [Ver Cláudia Marino Semeraro.Início e desenvolvimento da tipografia no Brasil. In: MASP. História da Tipografia no Brasil. São Paulo: Secretaria
de Cultura, Ciência e Tecnologia do Governo do Estado de São Paulo, 1979, p. 19].77 Cf. Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno. A produção de um território chamado Brasil. In: BUENO, Beatriz et al.Laboratório do mundo: idéias e saberes do século XVIII. São Paulo: Pinacoteca/Imprensa Oficial, 2004, p. 230.
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melhor controle do território sob domínio português e auxiliaram nas negociações dos
tratados de limites com Espanha. 78
Segundo Jaime Cortesão, foi determinante para a vinda de padres jesuítas e
engenheiros militares à América Portuguesa, a leitura que o primeiro geógrafo do rei da
França, Guillaume Delisle (1675-1726) realizou perante a Academia Real das Ciências de
Paris de sua dissertação Determination géografique de la situation et l’entendue des
diferentes parties de la Terre. Este trabalho marcou a primeira tentativa de remodelar toda a
carta da Terra, compilando em um só mapa as alterações de posição dos territórios, obtidas a
partir das observações das longitudes por meios astronômicos. 79 As correções feitas por
Delisle expunham a transferência de soberania operada pela cartografia portuguesa em relação
ao vasto território espanhol situado a oeste de Tordesilhas e, tão logo recebeu notícias das
conclusões de Delisle, D. João V (1689-1750), convenceu-se de que era indispensável renovar
a cartografia portuguesa através dos novos métodos, especialmente da cultura astronômica, a
fim de conferir base científica à diplomacia portuguesa e “obviar as futuras alegações do
governo espanhol, fundadas na situação do meridiano de Tordesilhas”. 80
Em 1722, D. João V manda vir a Portugal dois padres jesuítas napolitanos
especialistas em matemática, astronomia, geografia e cartografia: João Batista Carbone (1694-
1750) e Domingos Capacci (1694-1736). A eles juntou-se Diogo Soares (1684-1748),
também jesuíta, natural de Lisboa e professor da “aula de Esfera” no Real Colégio de Santo
Antão.81 Alguns anos mais tarde, em 1729, D. João V enviou Soares e Capacci ao “Estado do
Brasil” com a tarefa de “fazerem-se mapas das terras do dito Estado não só pela marinha,
mas pelos sertões; (...) e para esta diligência nomeei dois religiosos da Companhia de Jesus,
peritos em matemáticas, que são Diogo Soares e Domingos Capacci, que mando na presente
ocasião para o Rio de Janeiro”. 82
Além dos padres matemáticos, outros profissionais a serviço da Coroa com a
responsabilidade de devassar e mapear os sertões da América Portuguesa eram os engenheirosmilitares. Enviados em maior número a partir da segunda metade do século XVIII, vinham
com a missão de elaborar cartas topográficas que viabilizassem a execução dos tratados de
78 Idem. Ibidem.79
Cf. Jaime Cortesão. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri. Tomo I. Brasília; São Paulo: FundaçãoAlexandre de Gusmão; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006, pp.274-276.80 Idem, pp. 277-280.81 “Aula” era o termo utilizado para representar as instituições e práticas educacionais no mundo português.[Ver Guilherme Pereira das Neves. Aulas. In: VAINFAS, Ronaldo (dir). Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808).
Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p. 55-58].82 Cf. Benedito Lima de Toledo. O Real Corpo de Engenheiros na Capitania de São Paulo destacando-se a obra
do Brigadeiro João da Costa Ferreira. São Paulo: João Fortes Engenharia, 1981, pp. 33-34.
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limites celebrados entre as coroas ibéricas, em especial os de Madri (1750) e Santo Idelfonso
(1777). Assim, a obra científica iniciada pelos padres matemáticos ainda na primeira metade
do século XVIII, foi continuada na segunda metade daquele século por exploradores e
demarcadores de limites, em boa parte engenheiros militares. A evolução do número de
engenheiros militares na América Portuguesa entre os anos de 1667-1808 torna o quadro
apresentado acima ainda mais evidente. 83
Portanto, como bem lembra Iris Kantor, a partir da segunda metade do século XVIII,
cartógrafos, astrônomos e engenheiros militares constituíram importante elo de transmissão
dos conhecimentos estratégicos (território – população) que subsidiaram a construção de
novas alternativas e alianças entre as elites regionais e a corte bragantina. 84
c) Açúcar, estradas e engenheiros.
A reorganização da capitania de São Paulo, a partir de 1765, ocorre em um momento
de crise econômica em Portugal, inserida no contexto do aprofundamento da crise geral do
Antigo Regime, no qual a metrópole necessitava ampliar a produção de excedentes em sua
colônia americana para equilibrar suas contas. 85 Mesmo São Paulo, que até então
desempenhava um papel secundário no processo de colonização, deveria entrar em um ritmo
no qual os administradores seriam responsáveis por criar uma infraestrutura de produção
agrícola capaz de gerar excedentes destinados ao comércio internacional. 86 Neste sentido,
dois períodos são decisivos para a lavoura canavieira em São Paulo: um em 1765, com os
esforços do Morgado de Mateus em desenvolver a agricultura em um nível que chegasse a ser
“um empreendimento visando ao mercado mundial ”; o outro até 1802, que marca a
consolidação da produção de açúcar para exportação nesta capitania. 87
83
Beatriz Piccolotto S. Bueno elaborou uma tabela que demonstra o aumento do número desses profissionaisnas diferentes capitanias da América Portuguesa. No período de D. Pedro II (1667-1706), eram 19; no de D.João V (1706-1750), já haviam aumentado para 31; já no período de D. José I (1750-1777), o número deengenheiros militares mais que dobrou, chegando a 78 e, por fim, no reinado de D. Maria I (1777-1808), onúmero teve uma pequena redução, indo para 71 engenheiros militares. [Ver Beatriz Piccolotto SiqueiraBueno. Desenho e Desígnio: o Brasil dos engenheiros militares (1500-1822). São Paulo: Edusp, 2011, p. 290].84 Cf. Iris Kantor. Cultura cartográfica e gestão territorial na época da instalação da corte portuguesa. In: LorelaiKury; Heloísa Gesteira (orgs.). Ensaios de História das Ciências no Brasil: das Luzes à nação independente . Riode Janeiro: Eduerj, 2012, p. 239.85 Cf. Fernando Novais. A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). 7ª ed. São Paulo:Hucitec, 2001 [1979].86
Cf. Vera Lúcia Amaral Ferlini. Uma capitania dos novos tempos: economia, sociedade e política na São Paulo
restaurada (1765-1822). In: Anais do Museu Paulista. São Paulo, v. 17, n.2, jul./dez. 2009, pp. 241.87 Cf. Maria Thereza S. Petrone. A lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio 1765-1851. São Paulo:Difel, 1968, pp. 12-15.
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Em São Paulo, produziam-se grandes quantidades de açúcar em: Ubatuba, São
Sebastião e Ilha Bela, no litoral; Guaratinguetá, Lorena, Mogi das Cruzes, São Luiz do
Paraitinga, São José dos Campos e Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba; e Sorocaba,
Piracicaba, Mogi Guaçu e Jundiaí no assim chamado “quadrilátero do açúcar”, onde se
plantavam as quantias mais consideráveis de toda a província. 88
Assim, uma das forças que mais demandava a presença de engenheiros militares em
São Paulo era o crescimento constante da produção açucareira no interior da capitania a partir
do último quartel do século XVIII. Por sua vez, estes engenheiros atuariam no
desenvolvimento da infraestrutura viária, construindo ou conservando estradas para escoar o
açúcar produzido no interior da capitania até o porto de Santos.
Em 1814, verifica-se a presença de cinco engenheiros militares atuando na capitania
de São Paulo a serviço da Coroa portuguesa. 89 O coronel João da Costa Ferreira (1750-1822),
por exemplo, chegara à capital em 1787, junto com o recém-nomeado capitão general
Bernardo José de Lorena para:
“[...] ser empregado na segunda divisão das demarcações de limites com Hespanha, queestá a cargo d’esta capitania [...] e porque a demarcação projectada e ajustada no tratado
preliminar de Santo Idelfonso ainda não se effectuou, tem sido empregado em diversasdiligencias do real serviço, como de levantar o mappa da costa da capitania, tombar asmatas reservadas para construcções reaes, preparar o palacete, alfândega, e hospital deSantos e d’esta cidade, inspecionar a obra da estrada de Santos e calçada da serra de
Paranapiacaba, etc.”. 90
De modo que, João da Costa Ferreira, é um desses engenheiros militares utilizados
pelo governo paulista para dinamizar sua economia através da execução de obras públicas.
Ferreira foi o responsável pela construção da famosa Calçada do Lorena, que ligava São Paulo
a Cubatão, construída durante o governo de Bernardo José de Lorena (1788-1797). 91
88 Cf. Vera Lúcia Amaral Ferlini. Op. Cit., p. 242.
89 Eram eles: “O coronel João da Costa Ferreira, o tenente-coronel Daniel Pedro Müller, o sargento-mor
Frederico Luiz Guilherme de Warnhagen (sic) e os segundos-tenentes Rufino José Felizardo e José Joaquim de
Abreu”. [Ver Manoel da Cunha de Azeredo Sousa Chichorro. Memoria em que se mostra o estado econômico,militar e político da capitania geral de S. Paulo, quando do seu governo tomou posse a 8 de dezembro de 1814o Ilm. e Exm. Sr. D. Francisco de Assis Mascarenhas, conde de Palma do Conselho de S. A. Real e do de sua realfazenda. In: Revista Trimensal do Instituto Histórico, Geographico e Etnographico do Brasil , t. 36, parte 1, 1873,pp. 207-208].90 Idem. Ibidem.91
A atuação de João da Costa Ferreira na capitania de São Paulo, bem como sua participação na construção da
Calçada do Lorena foram muito bem analisadas no trabalho de Benedito Lima de Toledo. [Ver Benedito Lima deToledo. O Real Corpo de Engenheiros na Capitania de São Paulo, destacando-se a obra do Brigadeiro João da
Costa Ferreira. São Paulo: João Fortes Engenharia, 1981].
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Neste período, além de João da Costa Ferreira, também destaca-se a obra de Daniel
Pedro Müller. Nascido em Oeiras, próximo a Lisboa, aos 26 de dezembro de 1785, 92 Daniel Pedro
Müller era filho de Ana Isabel Müller (1757-1797) e João Guilherme Cristiano Müller (1752-
1814). Em 1795, assentou praça como cadete do regimento de artilharia da corte, tendo cursado
também as aulas da Real Academia de Marinha, da Real Academia de Fortificação, Artilharia e
Desenho. 93 Ainda não havia completado dezessete anos quando, em 1802, foi enviado pela
Coroa a capitania de São Paulo como capitão de infantaria agregado à primeira plana da corte
com o exercício de ajudante de ordens do então governador e capitão general Antônio José da França
Horta. 94 Permaneceu no cargo até o fim do mandato deste capitão general, em 1811, quando passa ao
Real Corpo de Engenheiros por decreto de 24 de julho daquele ano. 95
No capítulo três deste trabalho o perfil biográfico de Daniel Pedro Müller será
melhor detalhado. No que concerne à sua relação com a criação de um Gabinete Topográficoem São Paulo, verifica-se que esta começa ainda na primeira década do século XIX, antes
mesmo da criação formal deste instituto. 96 Fruto da demanda crescente por engenheiros
construtores de estradas em decorrência da estratégia de dinamização da economia paulista a
partir da produção agrícola voltada para exportação, essa primeira tentativa de organização de
um “Instituto Topográfico” , em 1806, não teve sucesso.
A seguir, ao se reconstituir a trajetória do Gabinete Topográfico, pretende-se
demonstrar como a efetiva criação deste estabelecimento, embora fruto de antigas demandasdos fazendeiros paulistas – cujas origens remontam o restabelecimento da capitania (1765) e o
plano metropolitano de integrá-la ao mercado mundial – só se viabilizou em outro contexto
92 AHM. Cx. 693. D-1-6-38, D-1-7-45-48, D-1-7-9-6. [Ver também: Francisco Vilardebó Loureiro. Relação dos
primeiros alunos do Colégio Militar em Lisboa. In: Raízes e Memórias. N°. 15, Outubro-1999, Lisboa: AssociaçãoPortuguesa de Genealogia, p. 157].93 AHM, Processo do ex-aluno da Escola do Exército, maço nº 1, processo 58. Embora muitos biógrafos deMüller afirmem que ele cursou a cadeira de matemática no Real Colégio dos Nobres, tal informação não severificou após consulta realizada nos acervos portugueses que guardam a documentação referente a este
Colégio, como o Arquivo Nacional da Torre do Tombo. [Ver também: João Bernardo Galvão-Telles. Relação dosalunos do Colégio dos Nobres de Lisboa (1766-1837). In: Revista do Instituto de Genealogia e Heráldica da
Universidade Lusófona do Porto. N°. 1, Ano 1, Novembro de 2006, pp. 57-118].94
Cf. Cel. Horácio Madureira dos Santos. Catálogo dos decretos do extinto Conselho de Guerra na parte nãopublicada pelo General Cláudio de Chaby. Separata do Boletim do Arquivo Histórico Militar , V volume (Reinadode D. Maria I (2ª Parte: janeiro de 1794 a dezembro de 1806). Lisboa: Arquivo Histórico Militar, 1965, p. 548.95 Cf. Coronel Laurênio Lago. Brigadeiros e Generais de D. João VI e D. Pedro I no Brasil: dados biográficos
(1808-1831). Rio de Janeiro: Imprensa Militar, 1938, p. 24.96 Sobre a tentativa de organização de um Instituto Topográfico em São Paulo no início do século XIX, CarlosOberacker Jr revela que “a ele [Daniel Pedro Müller] se deve ainda a organização do Instituto Topográfico de
São Paulo, iniciado em 1806, por ordem do governador Franca e Horta (v. AESP, Livro 108, f. 87,) [sic] com uma
aula para a formação de oficiais engenheiros ‘de q’há tanto tempo precizão nesta Capitania’, nomeando ao
mesmo tempo ‘para Lente della o meu ajudante de ordens Daniel Pedro Müller’”. [Ver João Carlos Oberacker Jr. A Província de São Paulo de 1819 a 1823. In: __________. O movimento autonomista no Brasil . Lisboa: Cosmos,1977, p. 36].
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político, no período pós-Independência, após a província ter conquistado relativa autonomia
política e tributária advinda da criação das Assembleias Legislativas Provinciais.
d)
O Gabinete Topográfico: uma vida efêmera e intermitente.
Após a Independência, com a mudança definitiva do centro político-administrativo
de Lisboa para o Rio de Janeiro, o governo marcadamente centralizador de D. Pedro I
impediu que os governos provinciais tivessem autonomia para legislar e tributar em suas
respectivas regiões. Além disso, a ausência de recursos nos órgãos municipais, 97 responsáveis
pela conservação e construção das estradas neste período, foi outro aspecto que contribuiu
para explicar por que a província de São Paulo não conseguiu organizar a escola de
engenheiros construtores de estradas que já planejava desde o princípio do século.
Para entender melhor por que o Gabinete Topográfico viabilizou-se apenas a partir
de 1835, é necessário levar em conta as transformações políticas ocorridas na província de
São Paulo, principalmente a partir de 1835, quando a elite política local conquista uma
relativa autonomia legislativa, tributária e coercitiva, com a criação das Assembleias
Legislativas Provinciais, a partir do Ato Adicional de 1834.
Breves considerações sobre a noção de elite.
Como bem lembra Flávio Heinz, embora admita-se não haver consenso sobre o que
se entende por elites, quem são e o que as caracteriza, sabe-se tratar de um termo empregado
em um sentido bastante amplo. 98 A noção de elite não é recente nas ciências sociais, sendo
utilizada desde os trabalhos clássicos de Gaetano Mosca (1858-1941) sobre “classe
97
Cf. Miriam Dolhnikoff. O Pacto Imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo,2005, pp. 158-159. Para maiores informações sobre aplicação dos tributos durante o período imperial [verGuilherme Deveza. Política tributária no período imperial. In: Sérgio Buarque de Holanda. História Geral da
Civilização Brasileira. 4ª ed., tomo II, vol. 4, São Paulo: Difel, 1985].98 Na introdução do livro que organiza sobre a história das elites, Flávio Heinz traz a definição do sociólogosuíço Giovanni Busino, autor de um livro de divulgação sobre o assunto: “Minoria que dispõe, em uma
sociedade determinada, em um dado momento, de privilégios decorrentes de qualidades naturais valorizadas
socialmente (por exemplo, a raça, o sangue, etc.) ou de qualidades adquiridas (cultura, méritos aptidões etc.). O
termo pode designar tanto o conjunto, o meio onde se origina a elite (por exemplo, a elite operária, a elite da
nação), quanto os indivíduos que a compõem, ou ainda a área na qual ela manifesta sua preeminência. No
plural, a palavra “elites” qualifica todos aqueles que compõem o grupo minoritário que ocupa a parte superior
da hierarquia social e que se arrogam, em virtude de sua origem, de seus méritos, de sua cultura ou de sua
riqueza, o direito de dirigir e negociar as questões de interesse da coletividade”. [Ver Flávio Heinz. O historiadore as elites – à guisa de introdução. In: HEINZ, Flávio (org). Por outra história das elites. Rio de Janeiro: FGV,2006, p. 7].
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dirigente”, e Vilfredo Pareto (1848-1923) sobre a “circulação das elites”, mantendo-se
presente nos debates relativos às hierarquias sociais, ao poder ou à representação política.
Ao comentar artigo do historiador francês Christophe Charle, Heinz aponta que a
retomada da noção de elite pelos historiadores a partir dos anos 1970 estaria ligada ao
“enfraquecimento da hegemonia marxista no cenário ideológico e ao cuidad o de melhor dar
conta das realidades das sociedades contemporâneas cuja diferenciação poderia dificilmente
ser percebida através apenas do estudo de grupos definidos unicamente pelas relações de
produção”. 99 De modo que as elites são definidas, assim, pela detenção de certo poder ou
então como produto de uma seleção social ou intelectual. 100
Nesse trabalho, adotou-se a definição de elite tal como utilizada no trabalho de
Joseph L. Love,101 ou seja, as elites são definidas “com relação a um conjunto de posições
formais julgadas relevantes para o exercício de poder político”. Trata-se, portanto, da adoção
de um critério posicional em detrimento de outros critérios. 102
Neste sentido, ao utilizar-se o termo “elite política”, no singular, estará se referindo
especificamente aos indivíduos que foram eleitos deputados da Assembleia Legislativa da
Província de São Paulo, bem como aos suplentes que assumiram a vaga de deputado no
período compreendido entre os anos de 1835, quando a Assembleia Legislativa passou a
funcionar, até o ano de 1849, ano em que o Gabinete Topográfico foi extinto. Além destes,
também faz referência aos homens nomeados pelo governo central para ocupar a posição de
presidente da província de São Paulo neste mesmo período. 103
Os deputados da Assembleia Legislativa da Província de São Paulo (1835-1849)
Inicialmente, cabe destacar que o objetivo deste trabalho não é fazer uma análise
prosopográfica dos deputados da Assembleia Legislativa e presidentes da província de São
Paulo, mas apenas levantar alguns dados desses grupos que possam auxiliar numa melhor
99 Cf. Flávio HEINZ. Op. Cit., p. 8.100 Idem, ibidem.101 Cf. Joseph L. Love. A locomotiva: São Paulo na Federação brasileira. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1892.102
Cf. Joseph L. Love; Bert J. Barickman. Elites regionais. In: Flávio Heinz (org.) Por outra história das elites. Riode Janeiro: Editora FGV, 2006, pp. 77-97.103 Vale observar que o presidente da província de São Paulo que ocupava o cargo quando a AssembleiaLegislativa foi criada, em 1835, era Rafael Tobias de Aguiar, que havia assumido o cargo em novembro de 1831.Por sua vez, o presidente que estava no cargo quando o Gabinete Topográfico foi fechado, em 1849, era
Vicente Pires da Mota, que permaneceu na presidência até agosto de 1851. Embora o recorte temporalanalisado vá de 1835-1849, optou-se, para fins estatísticos, considerar o tempo dos mandatos na íntegra dospresidentes acima mencionados.
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compreensão de quais são os desígnios da elite política regional que, tão logo conquista uma
relativa autonomia política na sua província, passa a criar leis determinando a elaboração de
instrumentos governativos para ampliar, sobretudo, o conhecimento que detinham sobre o
território e população os quais pretendia ampliar o controle.
Criada pela lei do Ato Adicional, de 12 de agosto de 1834, as Assembleias
Provinciais deveriam ter uma composição proporcional à sua população. A de São Paulo
deveria ser composta por 36 deputados a serem eleitos da mesma forma como se elegia os
deputados para a Assembleia Geral. Cada eleitor votaria no número de deputados provinciais
a ser eleito e somente os candidatos capazes de obter votos nos diferentes pontos da província
e transcendessem o âmbito local poderiam ocupar o cargo. Assim, de acordo com o propósito
dos legisladores que redigiram o Ato Adicional, criava-se uma representação provincial com
o objetivo de eleger apenas os deputados com influência política além dos limites de seus
municípios e, portanto, capazes de selar alianças nas diversas localidades. 104
A instalação da Assembleia Legislativa em São Paulo, no bojo do arranjo
institucional das Reformas Liberais da década de 1830, acabou por constituir uma elite
política provincial que transpôs os limites locais, minimizando quaisquer liberdades
municipais que ameaçassem a construção do Estado Nacional. 105
Buscando caracterizar essa elite, procedeu-se com uma análise das legislaturas que se
sucederam no período recortado por este trabalho. Verificou-se que foram eleitas sete
legislaturas com duração de dois anos cada (à exceção da primeira, que durou três anos, indo
de 1835 a 1837), conforme ilustra o quadro abaixo.
Legislatura Período
1ª 1835-1837
2ª 1838-1839
3ª 1840-1841
4ª 1842-1843
5ª 1844-1845
6ª 1846-1847
7ª 1848-1849
Quadro 1: Legislaturas da Assembleia Legislativa da Província de São Paulo entre 1835-1849.
104
Cf. Miriam Dolhnikoff. O Pacto Imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo,2005, pp. 97-99.105 Cf. Miriam Dolhnikoff. Op. Cit., pp. 97-99.
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Nestas legislaturas elegeram-se 150 deputados e suplentes que assumiram seus
cargos no decorrer dos respectivos períodos legislativos. O quadro abaixo demonstra a
quantidade de deputados segundo o número de legislaturas que tiveram no período analisado.
Deputados Legislaturas Porcentagem
76 1 50,7%
32 2 21,3%
21 3 14%
14 4 9,3%
5 5 3,3%
2 6 1,4%
0 7 0%
150 7 100,0%Quadro 2: Deputados eleitos e suplentes que assumiram cadeiras na Assembleia Legislativada Província de São Paulo (1835-1849). 106
Visando identificar quais deputados estiveram mais envolvidos com a criação das
leis relacionadas aos instrumentos de governo analisados por este trabalho, estabeleceu-se o
critério de selecionar os deputados eleitos para três ou mais das sete legislaturas do período
recortado, obtendo-se um total de 42 parlamentares, o que equivale a 28% do total.
Assim, pode-se dizer que entre 1835-1849, esses 42 deputados foram os que tiveram
papel mais destacado na criação/revogação de leis provinciais que representavam, não só osdesígnios dessa própria elite política, mas, na maior parte das vezes, os interesses da elite
econômica paulista, da qual eles também faziam parte.
Por sua vez, ao analisar cada uma das legislaturas para as quais esses 42 deputados
foram eleitos, é bastante significativo que a maior parte deles, 28 (66,66%), não tenham se
elegido para a quinta legislatura (1844-1845).107 Tal situação talvez se explique pelo fato de a
quarta legislatura ter se dado entre 1842-1843, tendo os deputados provinciais sido eleitos
para ela em 1841, ou seja, antes da Revolução Liberal de 1842. Assim, os deputados eleitos para a quarta legislatura, concluíram seus mandatos em 1843, quando foram realizadas as
106 Os quadros a seguir foram elaborados a partir das relações de nomes dos deputados e suplentes eleitos em
todas as legislaturas da Assembleia Legislativa Provincial. Estas informações encontram-se disponíveis em umabase de dados acessível através do portal da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo na Internet. [VerAcervo Histórico da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Deputados do período imperial . Disponívelem: <http://www.al.sp.gov.br/web/acervo2/base_de_dados/imperio/imperio_deputados.html>. Acessado em:
15/08/2013]107 Se considerarmos apenas os deputados com quatro legislaturas ou mais, esse número é ainda maissignificativo, subindo para 16 deputados (80%) em um total de 20.
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eleições para a quinta legislatura, as quais o principal grupo que dominava o poder provincial
até então acabou não se elegendo. 108
Destarte, o grupo que talvez tenha exercido maior influência nos rumos da política
em São Paulo entre 1835-1849, possa ser reduzido a esses 28 deputados que foram eleitos
para diversas legislaturas, exceto a de 1844-1845 pelas razões expostas acima. No quadro a
seguir, dispõem-se os nomes desses deputados e os respectivos números de legislaturas para
as quais foram eleitos.
# Nome do Deputado Nº de Legislaturas
1 Manoel Joaquim do Amaral Gurgel 6
2 Francisco Antônio de Souza Queiroz (Barão de Souza Queiroz) 6
3 Nicolau Pereira de Campos Vergueiro 5
4 José Manoel de França 55 Rafael Tobias de Aguiar 5
6 Manoel Dias de Toledo 5
7 Joaquim Floriano de Toledo 4
8 Francisco Álvares Machado de Vasconcelos 4
9 Bernardo José Pinto Gavião Peixoto 4
10 Manoel de Faria Dória 4
11 Martim Francisco Ribeiro de Andrada 4
12 Antônio Manoel de Campos Melo 4
13 Antônio Clemente dos Santos 4
14 Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva 4
15 Francisco de Paula Souza e Melo 4
16 João Chrispiniano Soares 4
17 Antônio Rodrigues de Campos Leite 3
18 José Inocêncio Alves Alvim 3
19 Antônio Paes de Barros 3
20 Ignácio Marcondes de Oliveira Cabral 3
21 Tristão de Abreu Rangel 3
22 Vicente Pires da Motta 3
23 Joaquim Antônio Pinto Júnior 3
24 Gabriel José Rodrigues dos Santos 3
25 Ildefonso Xavier Ferreira 326 Francisco José de Azevedo Júnior 3
27 João da Silva Carrão 3
28 João da Silva Machado (Barão de Antonina) 3Quadro 3: Relação dos deputados da Assembleia Legislativa da Provincia de São Paulo eleitos para mais de três
legislaturas entre 1835-1849, à exceção da quinta legislatura (1844-1845).
108
Considerando-se que a anistia dos envolvidos na Revolução Liberal de 1842 só foi dada pelo Imperador pordecreto de 14 de março de 1844, entende-se a razão pela qual os principais nomes da política provincial de SãoPaulo acabaram não se elegendo na eleição provincial de 1843.
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Os nomes de Rafael Tobias de Aguiar (5 legislaturas), Bernardo José Pinto Gavião
Peixoto (4 legislaturas) e Vicente Pires da Motta (3 legislaturas) foram destacados, pois esses
homens, além das legislaturas para as quais foram eleitos, também foram nomeados para
ocuparem o cargo de presidente ou vice-presidente da província no período, como se verá a
seguir. Circunstância que acabou impedindo-os de serem eleitos para novas legislaturas na
Assembleia Provincial nos anos em que ocupavam seus respectivos cargos.
Presidentes da província de São Paulo (1831-1851)
Embora os presidentes da província, em geral, não fizessem parte da elite provincial,
uma vez que, frequentemente, eram naturais de outras províncias e nomeados pelo governo
central para serem “uma espécie de delegado seu na região”, 109 em São Paulo verificam-se
algumas exceções importantes no período analisado.
Se, conforme indica Dolhnikoff, a regra era nomear alguém de fora da província e
promover uma grande rotatividade no preenchimento do cargo visando a garantia da
fidelidade dos homens escolhidos para as presidências das províncias, 110 em São Paulo foram
indicados alguns presidentes paulistas e, justamente esses, foram os que acabaram
permanecendo mais tempo no cargo, como se verá a seguir.
Entre 1831 e 1851, treze indivíduos se sucederam no cargo de presidente da
província em São Paulo. Desses, quatro (30,76%) tinham sua vida política ligada à província:
Rafael Tobias de Aguiar (Sorocaba), Bernardo José Pinto Gavião Peixoto (São Paulo), José
da Costa Carvalho (Salvador) e Vicente Pires da Mota (São Paulo). 111
Presidente Entrada Saída
Raphael Tobias de Aguiar 17/11/1831 11/05/1835
José Cesário de Miranda Ribeiro 25/11/1835 30/04/1836
Bernardo José Pinto Gavião Peixoto 02/08/1836 12/03/1838
Venâncio José Lisboa 12/03/1838 11/07/1839
Manoel Machado Nunes 11/07/1839 06/08/1840
109 O cargo foi criado pela Assembleia Constituinte de 1823, que determinava ser sua nomeação decompetência do Imperador. [Ver Miriam Dolhnikoff. O pacto imperial: origens do federalismo no Brasil. SãoPaulo: Globo, 2005, pp. 100-101].110 Ibidem, p. 102.111 Todos estes, além de terem ocupado a presidência, assumiram várias legislaturas na Assembleia nesseperíodo. Rafael Tobias de Aguiar foi o campeão de legislaturas provinciais, tendo assumido cinco vezes o cargoentre 1835-1851; Bernardo José Pinto Gavião Peixoto elegeu-se para quatro legislaturas; já José da Costa
Carvalho, embora natural de Salvador, tem sua vida ligada a São Paulo, onde era proprietário de uma tipografiana capital, tendo fundado o primeiro jornal paulistano e assumido por duas vezes o cargo de deputadoprovincial; por fim, Vicente Pires da Mota elegeu-se deputado em três ocasiões.
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Raphael Tobias de Aguiar 06/08/1840 15/07/1841
Miguel de Souza Mello e Alvim 15/07/1841 13/01/1842
José da Costa Carvalho 20/01/1842 17/08/1842
José Carlos Pereira de Almeida Torres 17/08/1842 27/01/1843
Joaquim José Luiz de Souza 27/01/1843 25/11/1843
Manoel Felizardo de Souza e Mello 25/11/1843 22/04/1844
Manoel da Fonseca Lima e Silva 01/06/1844 05/11/1847
Domiciano Leite Ribeiro 23/05/1848 16/10/1848
Vicente Pires da Mota 16/10/1848 27/08/1851
Quadro 4: Relação dos presidentes da província de São Paulo entre 1831-1851.112
Com relação ao tempo que ocuparam a presidência da província, somados os
períodos dos quatro presidentes destacados, eles estiveram à frente do executivo paulista em
118 dos 233 meses, o que equivale a 50,64% dos quase vinte anos em análise.
Quanto à ocupação principal, militares e magistrados eram a maioria dentre os
presidentes nomeados para São Paulo no período, totalizando onze dos treze (84,61%). Os
militares foram seis (46,15% do total), enquanto os magistrados, cinco (38,46% do total).
Como era de se esperar, quanto ao nascimento, todos os presidentes da província
entre 1831-1851 nasceram antes da Independência do Brasil. A maioria (8/13) havia nascido
na década de 1790 e, portanto, testemunharam a emancipação do país já em idade adulta. 113
Com relação às idades quando assumiram a presidência, apenas um (7,69%) dosnomeados contava com menos de 30 anos de idade (Venâncio José Lisboa tinha 29 anos); três
(23,07%) tinham pouco mais de 35 anos (Rafael Tobias de Aguiar, com 36; Manoel Felizardo
de Souza e Mello, com 38 e Domiciano Leite Ribeiro, com 36); seis (46,15%) contavam com
mais de 40 e apenas dois (15,38%) já haviam passado dos 50 anos de idade. 114 Portanto,
61,53% dos presidentes (8/13) foram nomeados já em idade madura e tendo passado por
muitas experiências, inclusive em outras províncias, ao assumirem o cargo.
Por fim, vale destacar que cinco (38,46%) dos treze presidentes da província de SãoPaulo receberam títulos nobiliárquicos no decorrer de suas vidas. Desses, apenas um teve sua
vida política ligada à província de São Paulo, embora não fosse natural da província. Era o
112 Cf. Eugenio Egas. Galeria dos Presidentes de S. Paulo. Período Monarchico: 1822-1889. São Paulo: Secção deObras D’ O Estado de S. Paulo, 1926.113 As exceções foram Domiciano Leite Ribeiro, com 10 anos de idade quando o Brasil se tornou independente;Venâncio José Lisboa, com 12 anos; e Manoel Felizardo de Souza e Mello, com 17 anos de idade.114
O militar Miguel de Souza Mello e Alvim, único dentre os treze nascido em Portugal (Ourém), foi o maisvelho a assumir a presidência. Nascido em março de 1784, contava com 57 anos de idade em julho de 1841. Osegundo mais velho a assumir foi o também militar, Manoel da Fonseca Lima e Silva, com 51 anos de idade.
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baiano José da Costa Carvalho, Marquês de Monte Alegre.115 Como Dohlnikoff havia
observado, em geral, os presidentes da província não eram membros da elite paulista, mas
sim, de uma elite Imperial. A maior parte desses políticos enquadrava-se na regra de
permanecerem poucos meses no cargo, com exceção de Manoel da Fonseca Lima e Silva, o
Barão de Suruí, que governou a província por 42 meses. 116
A centralidade da cidade de São Paulo na representação das estradas provinciais.
Uma vez definida a noção de elite política utilizada neste trabalho, passa-se a
destacar breves considerações a respeito da relação existente entre a centralidade da cidade de
São Paulo nas representações da rede viária provincial desde o período colonial e a
manutenção da capital como objeto central de políticas administrativas da elite política no
período entre 1835-1850, a partir das obras de Daniel Pedro Müller.
Caio Prado Júnior já observava na década de 1930 que a disposição das estradas de
São Paulo refletia a evolução histórica da colonização do planalto paulista. Para esse autor,
em toda a história colonial da capitania:
“São Paulo ocupa o centro do sistema de comunicações do planalto. Todos os caminhos, fluviais ou terrestres que cortam o território paulista vão dar nele e nele se articulam. O
contato entre as diferentes regiões povoadas e colonizadas se faz necessariamente pelacapital”. 117
Tomando como base o Mapa Corográfico da Capitania de São Paulo, de Antônio
Roiz Montezinho (1791-1792), Prado Júnior indica o traçado das principais estradas em fins
do século XVIII e, ao fim, conclui tal como Teodoro Sampaio, que estas eram “irradiantes,
como os dedos de uma gigantesca mão espalmada sobre o território paulista” , sendo a
cidade de São Paulo “o centro verdadeiro desse sistema de viação interior”. 118
A seguir destaca-se o esquema das estradas de São Paulo que Caio Prado Júnior
preparou a partir do mapa de Montezinho.
115 Após se estabelecer em São Paulo, José da Costa Carvalho contraiu matrimônio, em 1831, com ninguémmenos do que Genebra de Barros Leite, filha de Antônio Paes de Barros Penteado, opulento fazendeiro daregião de Itu, viúva do brigadeiro Luís Antônio de Souza, também rico fazendeiro paulista, e mãe de FranciscoAntônio de Souza Queiroz (Barão de Souza Queiroz), dono de fazendas no antigo “oeste paulista”, região de
campinas e limeira. Carvalho permanece em São Paulo até o fim de seus dias, em 1860.116
Menos apenas do que o paulista Rafael Tobias de Aguiar, com seus 55 meses em dois mandatos.117
Cf. Caio Prado Júnior. O fator geográfico na formação e no desenvolvimento da cidade de São Paulo. In: _______. Evolução política do Brasil e outros estudos. São Paulo: Brasiliense, 1969, p. 104.118 Ibidem, pp. 104-105.
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Figura 1: Traçado das principais estradas da Capitania de São Paulo em fins do século XVIII. 119
No esquema acima identificam-se seis estradas principais, uma ligando a capital ao
porto de Santos e as outras cinco comunicando São Paulo com as diferentes áreas de
povoação da capitania: o Vale do Paraíba, os campos de Sorocaba e dali as capitanias do sul,
o Vale do Tietê em direção ao Mato Grosso, as vilas que estavam no caminho às minas de
Goiás e, por fim, a região de povoamento mais recente em direção ao Sul de Minas.
Segundo essa interpretação, desde o período colonial São Paulo era o ponto
intermediário, isto é, a escala das comunicações entre o planalto e o litoral. Situação
privilegiada que, no sistema econômico da capitania, desempenhava o papel de centro natural
do planalto, enquanto Santos era o porto marítimo e ponto de articulação da capitania com o
mundo exterior, sendo ambas conectadas pelo “Caminho do Mar”, compondo um sistema que
era a base do organismo econômico da capitania: São Paulo – Caminho do Mar – Santos. 120
Quarenta e cinco anos mais tarde, na estatística da província de São Paulo preparada
por Daniel Pedro Müller, foi encartado um mapa viário de autoria de Hercules Florence
(1804-1879),121 no qual aparecem os itinerários das principais estradas provinciais. 122
119 Ibidem, p. 106.120 Ibidem, pp. 106-107.121
Segundo Rubens Borba de Moraes, este mapa não foi impresso, mas reproduzido através do método da“Poligrafia” , inventado por Hercules Florence. A presença deste mapa viário na estatística de Müller ajudou atorna-lo “um dos livros mais raros de quantos se publicaram no Brasil nesta época” , por ser este “o único
documento que resta desta f amosa invenção” de Hercules Florence. [Ver Rubens Borba de Moraes. O bibliófilo
aprendiz. 4ª ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005, p. 189].122
Cf. Hercules Florence. Itinerarios das principaes Estradas da Provincia. In: Ensaio d’um quadro estatístico d aProvíncia de São Paulo: Ordenado pelas leis provinciais de 11 de abril de 1836 e 10 de março de 1837 . 3ª ed.,fac-similada. São Paulo: Governo do Estado, 1978, p. 244a.
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Figura 2: Itinerários das principais estradas da província de São Paulo. Polygraphia de Hercules Florence.123
Neste mapa viário são representadas oito estradas principais, todas tendo como ponto
de partida a cidade de São Paulo, capital e centro administrativo da província. Praticamente,
tratam-se das mesmas rotas e caminhos descritos no mapa de Antônio Roiz Montezinho, de
1791-92, utilizadas no esquema preparado por Caio Prado Júnior. A centralidade da cidade de
São Paulo é um ponto importante a ser destacado nas representações das estradas provinciais
desde o período colonial e que pode ser verificado em cartas geográficas e corografias da
capitania desde o século XVIII. Assim, é um equívoco considerar que São Paulo “foi
transformada” em objeto central da política administrativa de grupos dirigentes locais após a
123 Idem.
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publicação do mapa de Daniel Pedro Müller. 124 Capital da província desde 1683, elevada à
categoria de Cidade em 1711, sede administrativa e núcleo urbano mais habitado da
província, São Paulo já era o centro da política administrativa das elites locais, pelo menos,
desde sua restauração, em 1765. 125
Logo após a abdicação de D. Pedro I, a instauração do poder provincial através do
assim chamado Ato Adicional de 1834, foi um dos momentos fundamentais do jogo político
que se estabeleceu à época. 126 Com ele, o governo do Rio de Janeiro conferia certo grau de
autonomia às elites regionais e, simultaneamente, vinculava sua ação política ao aparelho de
Estado. Através dessa iniciativa delegava-se à província parte do poder tributário, coercitivo e
legislativo a ser exercido pelo grupo dominante na região. 127
É, portanto, especialmente a partir da conquista desta autonomia tributária que as
elites de São Paulo tiveram a possibilidade de levar adiante uma política econômica orientada
para o desenvolvimento material da província, de modo que a necessidade de investir no
crescimento da agricultura de exportação materializou-se na forma do reinvestimento dos
recursos arrecadados com os impostos provinciais, na construção de estradas ligando o
interior da província à capital e esta, por sua vez, ao porto de Santos. 128
Portanto, embora a transformação da cidade de São Paulo em centro político-
administrativo regional seja um processo histórico que se desenrola desde o período colonial,
a instalação da Assembleia Legislativa Provincial na cidade de São Paulo deu novo impulso
nesse sentido, uma vez que o poder municipal foi centralizado na Assembleia Provincial,
como destacou Sérgio Buarque de Holanda ao lembrar as palavras do Visconde do Uruguai:
124 Para explicar a razão de a cidade de São Paulo aparecer como ponto de partida de todas as estradas
representadas no mapa viário de Hercules Florence, Airton José Cavenaghi considera que o autor do mapa teriautilizado a capital da província como ponto norteador para concretizar sua existência referencial,transformando a cidade em ponto central do processo de representação. Desta forma, a centralidade de SãoPaulo na representação de Florence deve-se a uma opção feita por este autor, em função de critérios
eminentemente políticos, que Cavenaghi explicaria mais adiante: “transformar a cidade de São Paulo emobjeto central da política administrativa das elites dirigentes do período é um dos pilares da nova organização
social, política e econômica pela qual passa a urbe após a publicação do mapa de Daniel Pedro Müller” . [VerAirton José Cavenaghi. Uma leitura cartográfica da história: a formação territorial da Província de São Paulodurante o século XIX. In: Projeto História, Revista do Programa de Estudos Pós Graduado em História do
Departamento de História da PUC . São Paulo, n. 26, (jan. - jun.), 2003, p. 293].125 Heloísa Bellotto descreve a trajetória da capitania de São Paulo no primeiro capítulo de sua importante obradedicada ao estudo da capitania durante o governo do Morgado de Mateus (1765-1775). [Ver Heloísa LiberalliBellotto. Autoridade e conflito no Brasil colonial: o governo do Morgado de Mateus em São Paulo (1765-1775).2ª ed. São Paulo: Alameda, 2007, pp. 9-44].126 Cf. Miriam Dolhnikoff. Caminhos da conciliação: o poder provincial paulista (1835-1850). São Paulo, 1993.145 f. Dissertação (Mestrado em História Econômica) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, p. 10.127 Idem.128 Ibidem, p. 95-96.
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“O Ato Adicional descentralizou o poder provincial do geral. (...) Centralizou -se o podermunicipal nas assembleias provinciais. O poder geral não trata dos negócios provinciais.O poder provincial trata dos provinciais e dos municipais. O poder chamado municipalnão é poder entre nós.”. 129
Deste modo, a instalação da Assembleia Provincial na capital reforça o papel
histórico da cidade de São Paulo como centro político-administrativo da província, uma vez
que, a partir desse momento, além de sede do poder executivo, a cidade também passa a ser
sede do poder legislativo provincial. É, portanto, a transformação política pela qual passou o
país em decorrência das reformas liberais, a partir de 1831, que fez com que, no âmbito
provincial, a cidade de São Paulo se mantivesse como objeto central de políticas
administrativas da elite política do período, e não, como afirma Airton Cavenaghi, se
transformasse em objeto central a partir do mapa de Daniel Pedro Müller. 130
O Gabinete Topográfico e a expansão da rede viária paulista (1835-1851).
Uma vez compreendida a centralidade da cidade de São Paulo nas representações da
rede viária provincial, pode-se voltar os olhos ao período recortado em busca de
compreender-se como e com que fim a elite política paulista criou uma escola de engenheiros
práticos construtores de estradas e se esta medida teve algum impacto na expansão da rede
viária paulista observada no período.
Justamente visando verificar o resultado da política econômica orientada para o
desenvolvimento material da província após a criação da Assembleia Legislativa Provincial,
comparou-se a rede de estradas provinciais de 1837, representadas no mapa viário de
Hercules Florence, com essa mesma rede de estradas, porém, conforme descrita no relatório
sobre o estado das obras públicas de 1851. O resultado desta operação revelou que vinte e
cinco estradas descritas neste último relatório, não constavam no mapa viário de Müller. 131
Embora tal desenvolvimento estivesse aquém da demanda, ele revela a existência de
uma quantidade de profissionais aptos a construir e conservar estradas na província. Neste
129 Cf. Sérgio Buarque de Holanda. A herança colonial – sua desagregação. In: ______. História Geral da
Civilização Brasileira. 2ª ed., tomo 2, vol. 1. São Paulo: Difel, 1965, pp. 23-25.130 Diferentemente do que afirma Cavenaghi, no momento em que a estatística e o mapa da Província de SãoPaulo foram concluídos por Müller (1837), o Império vivia um momento de descentralização política e a cidadede São Paulo, com seus 21.933 habitantes, era mais populosa do que Itu (6.689) e Campinas (11.146), segundoas estatísticas do próprio Müller. [Ver Airton José Cavenaghi. Op. Cit., p. 293-294].131
Cf. Miriam Dolhnikoff. Caminhos da conciliação: o poder provincial paulista (1835-1850). São Paulo, 1993.145 f. Dissertação (Mestrado em História Econômica) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,Universidade de São Paulo, pp. 95-96.
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período, sabe-se que o governo provincial contratou engenheiros civis e outros especialistas
da área no exterior, além de também ter solicitado ao Rio de Janeiro o envio desses
profissionais para que trabalhassem na construção e manutenção de estradas e demais obras
públicas. Contudo, a compreensão dessa expansão ficaria incompleta se não somássemos às
iniciativas já mencionadas, a criação e instalação do Gabinete Topográfico na capital paulista
entre os anos de 1836-1849.
Assim, ao reconstituir a trajetória de criação e funcionamento do Gabinete
Topográfico no período destacado, busca-se acrescentar um fator a mais que certamente
contribuiu com a expansão da rede viária de São Paulo, através da formação de engenheiros
práticos que passaram a coordenar a construção e manutenção de estradas em São Paulo a
partir da segunda metade do século XIX, como se verá a seguir.
A primeira fase do Gabinete Topográfico (1835-1838)
Após as Assembleias Provinciais terem sido instituídas pelo Ato Adicional de 1834,
as diversas províncias buscaram se organizar para coloca-las em funcionamento já no ano
seguinte. Em São Paulo, as eleições para a primeira legislatura deu-se aos 16 de dezembro de
1834 e, delas, saíram 36 deputados para ocuparem uma cadeira na nova Assembleia. No mês
seguinte, aos 30 de janeiro de 1835, em uma das salas do antigo palácio do Governo,
realizava-se a primeira sessão preparatória e dava-se início aos trabalhos da Assembleia
Legislativa da Província de São Paulo, conforme registrado nos anais da instituição. 132
Na segunda sessão preparatória, os deputados elegeram aquela que foi a primeira
mesa diretora da casa, formada por ninguém menos que Nicolau Pereira de Campos
Vergueiro, como presidente, Manoel Dias de Toledo, como primeiro secretário e Manoel
Joaquim do Amaral Gurgel, como segundo secretário. A partir da composição da mesa
diretora, a Assembleia passaria a realizar as sessões ordinárias nas quais seriam discutidas e
promulgadas as novas leis provinciais que determinariam, por exemplo, novos impostos
provinciais, bem como, o destino dos recursos arrecadados com eles.
132 Eugenio Egas e Oscar Mello reconstituíram os Anais da Assembleia Legislativa da Província de São Paulo noperíodo de 1835-1881 e, na esteira da comemoração pelo centenário da independência do Brasil, publicaram oresultado de laborioso trabalho em vários volumes que, doravante, serão referidos como Anais da ALPSP, juntamente com o ano referente ao volume consultado. [Ver Eugenio Egas; Oscar Motta Mello (orgs.). Annaes
da Assembléa Legislativa Provincial de São Paulo, reconstituição desde 1835-1881 . São Paulo: TypographiaPiratininga; Secção de Obras d’ “O Estado de S.Paulo”, 1923-1926. (Coleção de Obras da Assembleia Legislativade São Paulo), vol. 1835, pp. 30-34].
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Logo nos primeiros dias de trabalho, na 17ª Sessão Ordinária da Assembleia, aos 25
de fevereiro de 1835, o presidente da casa, Nicolau de Campos Vergueiro, apresentou a seus
pares o projeto nº 17, que previa a criação do Gabinete Topográfico. 133 Tendo o projeto sido
aprovado nas três discussões regimentais, dias mais tarde, na 32ª Sessão, que discutia o
orçamento para o ano, o deputado Francisco de Paula Souza e Mello, representante da
Comissão da Fazenda, determinou que para aquele ano de 1835, já fosse destinado o valor de
2:000$000 para a organização e instalação do Gabinete. 134
Assim, coube a Rafael Tobias de Aguiar, então presidente da província, sancionar a
lei número 10, de 24 de março de 1835, que previa a criação do Gabinete Topográfico. 135
Segundo o texto original da lei, o estabelecimento deveria conter um diretor; uma escola para
estradas; os instrumentos necessários para trabalhos geodésicos; a coleção de todos os
documentos topográficos da província e uma biblioteca análoga ao estabelecimento. 136
Portanto, não se pode pensar o Gabinete Topográfico apenas como uma escola de engenheiros
de estradas. Mais do que isso, ele foi pensado como uma repartição provincial de obras
públicas com uma escola anexa para o ensino das regras práticas de construção de estradas. 137
Não por acaso, no mesmo dia em que foi sancionada a lei que criou Gabinete
Topográfico, também foi sancionada a lei número 11, que criava barreiras nas estradas
existentes, ou nas que se abrissem atravessando a Serra do Mar ou seguindo para a província
do Rio de Janeiro. 138 Tal lei, fruto da nova autonomia tributária de que gozava a Assembleia,
visava levantar fundos para a abertura e conservação das respectivas estradas, mas
rapidamente tornou-se uma das principais receitas da província, criando os meios necessários
133 Anais da ALPSP, 1835, pp. 77-79.134
Ibidem, p. 127.135
SÃO PAULO. Lei n. 10, de 24 de março de 1835. Cria nesta capital um gabinete topográfico. In: Anais da
ALPSP, 1835, pp. 207-209.136 A íntegra do texto da lei n. 10 pode ser verificada no item 8c deste trabalho.137
O texto original do projeto de lei que previa a criação do Gabinete Topográfico era mais explícito em relaçãoa isso. Os artigos 1º e 2º diziam: “Haverá na Capital da Província um Gabinete Topographico bem provido dos
Instrumentos próprios para tirar plantas, e nivelamentos para estrada. N’elle se arquivarão todos os mappas,
observações e memorias Topographicas da Província e haverá mais uma Bibliotheca análoga ao
estabelecimento. Será anexa a este Gabinete uma eschola em que se ensinem as regras práticas e
indispensáveis para levantar plantas, tirar nivelamentos e construir estradas” . [Ver Anais da ALPSP, 1835, pp.77-78. Ver também: Eudes de Mello Campos Jr. Arquitetura paulistana sob o Império: aspectos da formação da
cultura burguesa em São Paulo. São Paulo, 1997. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,Universidade de São Paulo, vol. 1, p. 69].138
SÃO PAULO. Lei n. 11, de 24 de março de 1835. Determina o estabelecimento de barreiras em todas as
estradas existentes ou que de novo se abrirem, atravessando a Serra do Mar nesta Província, ou seguindo parao Rio de Janeiro, para cobrança da taxa que deverá ser aplicada às obras das mesmas estradas. In: Anais daALPSP, 1835, pp. 209-212.
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para a obtenção de recursos para a manutenção e crescimento de toda a rede viária, o que
também acabou beneficiando o próprio Gabinete Topográfico. 139
No encerramento dos trabalhos da Assembleia Legislativa para o ano de 1835, o
presidente da casa, Nicolau de Campos Vergueiro, fez o discurso congratulando seus pares
pelo trabalho que haviam feito. Ao resumir as leis mais importantes que haviam acabado de
aprovar, não deixa de mencionar a que previa a criação do Gabinete Topográfico e o fim que
os deputados esperavam para esse estabelecimento cumprisse: “para se executarem com
acerto os muitos trabalhos de estradas a emprehender, criou-se um Gabinete Topográfico,
onde se reunirão todas as observações, e se abra uma escola de instrucção prática”. 140
Após a promulgação da lei, foi necessário mais de um ano para que o Gabinete
Topográfico entrasse em funcionamento. Na abertura dos trabalhos do segundo ano da
primeira legislatura da Assembleia, em janeiro de 1836, como ainda não havia sido instalado,
o então presidente da província, José Cesário de Miranda Ribeiro (1835-1836), justificava em
seu discurso aos membros da Assembleia Legislativa que “o governo esperava instal lal-o
[Gabinete Topográfico] brevemente, e já não o fôra por falta de uma sala conveniente”. 141
Enquanto não se instalava, era importante que fosse nomeado o diretor do
estabelecimento, a fim de que este providenciasse a organização, instalação e funcionamento
do mesmo. Embora alguns trabalhos apontem Daniel Pedro Müller como tendo sido o
primeiro diretor do Gabinete Topográfico, 142 na verdade, o militar nomeado para este cargo
139 Dois anos após a criação das Barreiras, Daniel Pedro Müller já destacava a importância delas para asestradas provinciais e da relação de ambas com o Gabinete Topográfico: “Como actualmente já se pode contar
com os rendimentos das Barreiras que se destina a ser empregado tanto nas estradas que vão ser construídas
segundo todos os preceitos da arte como seja a da Serra do Cubatão, e outra para o interior (que julgo ser a de
Jundiahy como tronco de outras principaes) e se trata de engajar jornaleiros de que há tanta falta, e
Engenheiros para os dirigir, e igualmente se cuida em instruir pessoas n’esta matéria no Gabinete
Topographico; e assim também contar-se com as mencionadas rendas para auxiliar a conservação, e mais
perfeição nas existentes, e assim irem-se obtendo umas já perfeitas, e outras transitáveis”. [Ver Daniel Pedro
Müller. Op. Cit., pp. 103-104]. Importante trabalho sobre as Barreiras em São Paulo é a dissertação demestrado de Hernani Maia Costa, que traz um estudo bastante pormenorizado sobre elas. [Ver Hernani MaiaCosta. As barreiras de São Paulo: estudo histórico das barreiras paulistas no século XIX. São Paulo, 1984. 243 f.Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo].140 Cf. Anais da ALPSP, 1835, p. 194.141 Cf. Eugenio Egas. Galeria dos Presidentes de S. Paulo. Período Monarchico: 1822-1889. São Paulo: Secção deObras D’ O Estado de S. Paulo, 1926, p. 59.142
Este é o caso, por exemplo, dos trabalhos de Eudes de Mello Campos Jr. Arquitetura paulistana sob o
Império: aspectos da formação da cultura burguesa em São Paulo. 1997. Tese (Doutorado) – Faculdade deArquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997, vol. 1, p. 69. Airton José Cavenaghi. Oterritório paulista na iconografia oitocentista: mapas, desenhos e fotografias. Análise de uma herançacotidiana. In: Anais do Museu Paulista. São Paulo, v. 14, n.1, jan./jun. 2006, pp. 210; Ivone Salgado.
Profissionais das obras públicas na província de São Paulo na primeira metade do século XIX: atuação no campoda engenharia civil. In: Histórica – Revista Eletrônica do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Nº 41, Ano 6,abr. 2010, p. 5.
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foi o tenente coronel José Marcelino de Vasconcelos. Em ofício de 14 de julho de 1836 que
enviou ao presidente da província, o próprio Vasconcelos aceitava sua nomeação:
“Recebi a portaria datada ao 1º. do corrente, com que V. Exa. me honrou nomeando me Diretor do Gabinete Topographico criado em virtude da lei provincial de 14 de março doanno passado Nº. 13, e aceitando-a com satisfação, espero prehencher a expectação de V.
Exa. quanto as minhas fracas forças e meios permitirem”. 143
Certamente, pela formação e experiência de Daniel Pedro Müller, ele teria sido o
profissional mais indicado para dirigir o Gabinete Topográfico neste momento. Contudo,
entre os anos de 1836 e 1837, Müller estava completamente envolvido com as atividades de
direção e preparação dos quadros estatísticos provinciais, encomendados pela Assembleia
Legislativa, além da preparação do Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo, como
se verá nos próximos capítulos deste trabalho.Embora Daniel Pedro Müller não tenha sido nomeado o diretor para esta primeira
fase do Gabinete Topográfico (1836-1838), isso não significa que ele não desempenhou um
papel importante em sua organização. Ao contrário, ao se analisar alguns ofícios trocados
entre Müller, o recém-nomeado diretor do Gabinete, José Marcelino de Vasconcelos e o
presidente da província, Bernardo José Pinto Gavião Peixoto (1836-1838), logo se vê que
Müller teve papel destacado.
Em ofício de 09 de abril de 1836, por exemplo, Müller transmite ao presidente da
província a relação de instrumentos e livros que ele julgava necessários para o Gabinete
Topográfico, sugerindo, inclusive, que os instrumentos fossem comprados pelo Cel. João
Florêncio Prean, “conhecedor dos fins scientificos para os quaes se empregam”, e que a
resposta ao ofício deveria ser breve, pois Prean estava de partida em uma comissão para a
Filadélfia e outros países estrangeiros, onde poderia fazer a compra indicada. 144
Foram poucas as referências encontradas a respeito de José Marcelino de
Vasconcelos. 145 Nos Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo,
registra-se que ele sentou praça aos 20 de setembro de 1801 e foi promovido a Artífice de
143 APESP, SEGOF, Ofícios Diversos, cx. 78, pasta 1, doc., 179.144
APESP, SEGOF, Ofícios Diversos, cx. 78, pasta 1, doc., 46. Há outro ofício em que Müller informa aopresidente da província a quantia que dispunha para a compra dos instrumentos e livros indicados. [Ver APESP,SEGOF, Ofícios Diversos, cx 78, pasta 1, doc. 179].145 O dicionário biobibliográfico de Sacramento Blake traz um verbete sobre certo José Marcellino Pereira deVasconcellos, nascido na capital do Espírito Santo a 1º de outubro, contudo, não deve se tratar do mesmo
diretor do Gabinete Topográfico pela pouca idade que este teria quando da nomeação ao cargo de diretor dodito estabelecimento, em 1836. [Ver Augusto Victorino Alves Sacramento Blake. Diccionario Bibliographico
Brazileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1898, v. 5, p. 29].
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Fogo aos 6 de outubro daquele mesmo ano, tendo sido provido no cargo apenas em 1804. 146
Em 1805, José Marcelino de Vasconcelos consta na lista dos alunos do Curso de Artilharia
que foram examinados e aprovados no mês de março, tendo sido aprovado em primeiro lugar
como aluno do curso de cálculo, já sendo solicitada sua promoção para segundo tenente da
segunda artilharia a pé.147 Em dezembro de 1806, seu nome é mencionado em uma carta do
capitão-general Antônio José da Franca e Horta dirigida ao então Secretário de Estado dos
Negócios Estrangeiros e da Guerra, o Visconde de Anadia, solicitando uma vez mais sua
promoção de Sargento para 2º Tenente da 2ª Brigada de Artilharia da Legião de Voluntários
Reais da Cidade de São Paulo.148 Muitos anos mais tarde, em 1835, foi eleito deputado para a
primeira legislatura da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo (1835-1837) e, não
por acaso, fez parte da Comissão de Comércio, Indústria, Estradas e Obras Públicas nos três
anos que durou essa legislatura. 149 No último ano dessa legislatura, 1837, também participou,
junto com os deputados Carlos Carneiro de Campos e o Padre Manuel de Faria Dória, da
Comissão de Estatística que havia sido encomendada a Daniel Pedro Müller. 150
O Gabinete Topográfico começou a funcionar na capital em 1º de Agosto de 1836,
como revela o ofício de José Marcelino de Vasconcelos enviado ao presidente da província
nesta data. 151 Meses depois, o próprio presidente Gavião Peixoto reafirmaria esta informação
no discurso que abriu os trabalhos da Assembleia Legislativa, aos 7 de janeiro de 1837,
informando que o Gabinete Topográfico já estava em funcionamento “desde o dia 1º de
Agosto do anno passado [e] que tem sido frequentado por 14 alumnos a tres dos quaes
mandei contar gratificação”. 152
146 DOCUMENTOS INTERESSANTES para a História e Costumes de São Paulo. São Paulo: Unesp, vol. 95, 1990 – “Ofícios do General Horta aos Vice-Reis e Ministros 1802-1807”, pp. 42 e 127.147
Daniel Pedro Müller, então ajudante de ordens do capitão-general Antônio José da Franca e Horta, foi umdos que assinaram esse documento que foi enviado junto a ofício encaminhado a D. Luiz de Vasconcellos. [Ver
Documentos Interessantes..., Op. Cit., p. 319-320].148 Idem, p. 239.149
No primeiro ano da legislatura, 1835, essa comissão tinha o nome de Comissão de Comércio, Indústria eTrabalhos Públicos. Nos dois anos seguintes, seu nome foi alterado para Comissão de Comércio, Indústria,Estradas e Obras Públicas nos anos de 1836 e 1837. [Ver Anais da ALPSP, 1835, pp. 37-38; 1836, pp.278-281;1837, p. 6].150 Anais da ALPSP, 1837, p.6.151
APESP, SEGOF, Ofícios Diversos, cx. 78, pasta 1, doc., 181. Em seu ensaio estatístico, Daniel Pedro Müllerinforma equivocadamente que o Gabinete Topográfico estaria funcionando na capital desde 1º de outubro de1836, o que levou outros pesquisadores a incorrerem no mesmo erro ao utilizá-lo como fonte. [Ver Eudes deMello Campos Jr. Arquitetura paulistana sob o Império: aspectos da formação da cultura burguesa em São
Paulo. 1997. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo,
1997, vol. 1, p. 125].152 Cf. Eugenio Egas. Galeria dos Presidentes de S. Paulo. Período Monarchico: 1822-1889. São Paulo: Secção deObras D’ O Estado de S. Paulo, 1926, p. 64.
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Esses alunos aos quais se refere o presidente da província, aparecem relacionados por
José Marcelino de Vasconcelos em ofício de 1º de outubro de 1836:
# Nome Idade Gratificação Filho Naturalidade
1 José Porfirio de Lima 26 Não Joze da Silva M??? São Paulo
2Francisco Joaquim deBorja
26 Não Incógnitos São Paulo
3Joaquim Anacleto daFonseca
21 NãoCap. Joaquim Jozeda Fonseca
São Pedro doSul
4 Fortunato José da Silva 20 NãoJoze Marianod'Assunção Bastos
São Paulo
5José Homem GuedesPortilho
19 SimTen. Cel. JoãoAnastácio da Silva
Rio de Janeiro
6Francisco de Freitas Dias
Josnier19 Não Outro São Paulo
7 Augusto Cezar da Silva 18 SimTen. Cel. DomingosAnacleto da Silva
São Paulo
8Antonio Rodrigues deOliveira Neto
17 SimCel. Joze Rodriguesde Oliveira Neto
Rio de Janeiro
9João Carlos AugustoBordini
16 NãoMajor Antonio JozeBordini
São Paulo
10Carlos Maximiliano JulioBoulte?
16 NãoDiendonni BoulteDellon?
Nanci(França)
11Augusto Maria MachadoBueno
16 NãoMajor Diogo JoãoMachado
São Paulo
12 Paulo Antonio do Vale 14 Não Cap. Luis Antoniodo Vale
São Paulo
13 Eleutério José Moreira 14 SimCap. CandidoCaetano Moreira
São José doUruguay
14 Gabriel José Marques 13 NãoCap. Martinho JozeMarques
São Paulo
Quadro 5: Relação dos alunos matriculados no primeiro ano de funcionamentodo Gabinete Topográfico (1836). 153
Variando de 13 a 16 anos de idade, a maior parte dos alunos (9 de 14) eram filhos de
militares, sendo este mesmo número o total dos estudantes naturais de São Paulo.
A dotação destinada pelo governo provincial em 1836 para a organização, instalação
e funcionamento do Gabinete Topográfico foi de: 3:200$000. Sendo 600$000 para seu
diretor, 438$000 para a gratificação de seus alunos, 2:000$000 para a compra de livros e
instrumentos e mais 162$000 para seu expediente. 154
153 APESP, SEGOF, Ofícios Diversos, cx. 78, pasta 1, doc., 184.154 Em termos comparativos, em 1836, um lente proprietário da Academia de Direito de São Paulo recebia aremuneração de 1:200$000, enquanto um substituto recebia o valor de 800$000 anuais. [Ver Daniel Pedro
Müller. Op. Cit., pp. 256-261]. Já um lente efetivo da Academia Militar do Rio de Janeiro recebia, em 1835,remuneração de 1:000$000. [Ver Pedro Carlos da Silva Telles. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a
XIX . 2ª ed. Rio de Janeiro: Clavero, 1994, p. 102].
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Ano Rubrica do Orçamento Valor
1835Estação encarregada das Rendas
Provinciais e da exação das mesmas2:000$000
1836 Instrução Pública 3:200$000
1837 Instrução Pública 1:188$000
Quadro 6: Previsão orçamentária das despesas da Assembleia Legislativa da Província de São Paulocom o Gabinete Topográfico.155
Embora o Gabinete Topográfico tenha sido criado como uma repartição provincial de
obras públicas com uma escola de engenheiros práticos habilitados a construir estradas anexa
a ela, como já se disse anteriormente, não deixa de ser interessante observar no quadro acima
que, nos anos de 1836 e 1837, os valores do orçamento destinados pela Assembleia ao
Gabinete Topográfico foram previstos sob a rubrica Instrução Pública. Da mesma forma, nosdiscursos dos presidentes da província, o Gabinete sempre era relacionado quando o
presidente ia se referir às providências relacionadas à instrução pública. É somente na
segunda fase, por volta de 1844, que orçamentos provinciais e discursos dos presidentes
passam a relacioná-lo com as obras públicas da província.
Findada a primeira legislatura (1835-1837), logo no começo de 1838 a Assembleia
composta com novos deputados eleitos para a segunda legislatura (1838-1839), chama o
diretor José Marcelino de Vasconcelos para prestar esclarecimentos sobre os obstáculos queestariam, na opinião dos deputados, tornando infrutífero o estabelecimento, aventando, em
função disso, a possibilidade de suspender o funcionamento do Gabinete Topográfico.
Em resposta aos membros da Assembleia Legislativa, Vasconcelos enviou um ofício
de três páginas, datado de 20 de fevereiro de 1838, no qual discorda veementemente de que o
estabelecimento estivesse se tornando infrutífero e critica aquela legislatura que já estava
discutindo um projeto de lei para derrubar o Gabinete Topográfico. Fala da importância do
curso de engenheiros, em contraponto ao pouco valor que se dá a seus alunos e defende o
talento da mocidade de São Paulo, que havia sido criticada pelos membros da Assembleia
Legislativa. Conclui o ofício de modo a demonstrar toda sua insatisfação com a decisão da
Assembleia, mas informando que a acatará com a “obediência de um soldado velho”:
“(...) Com tudo se a Assemblea Provincial julgar em sua sabedoria (...) que esteestabelecimento já criado, e com que se tem feito já alguma despeza seja derribada antesde começar a produzir fructos; neste cazo, (...) com a obediência de um soldado velho,
feixarei a porta com a mesma satisfação com que a abri em Agosto de 1836; nemlastimarei ter perdido o meu tempo nos arranjos de compendios próprios – que foram
155 Planilha elaborada com base nos valores fixados nas leis que marcam a receita e fixam a despesa provincialnos anos de 1835-1837. [Ver Anais da ALPSP, 1835-1837].
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aprovados pelo meu Mestre o Exmo. Snr. Muller – para em dois anos conseguir o queoutros não podem em menos de cinco, nem lastimarei as quatro horas por dia queempregava em liçoens do Compendio e Desenho enquanto não tinha quem não me suprissenesta Aula – Desenho – parte essencialíssima para expressão e esclarecimento de qualqueridea ou projeto”. 156
A defesa feita por Vasconcelos, porém, parece não ter convencido os deputados. Na
45ª sessão ordinária da Assembleia, o deputado Fernando Pacheco Jordão apresentou para
votação um projeto suspendendo o Gabinete Topográfico. Na sessão seguinte, o projeto entra
em primeira discussão, na qual foram lidas aos deputados as informações prestadas pelo
diretor do Gabinete Topográfico. Mesmo assim, o projeto foi aprovado nas três discussões
regimentais, sendo que na terceira e última discussão do projeto, vendo que o mesmo ia ser
aprovado pelos colegas, os deputados Manoel Joaquim do Amaral Gurgel, Rafael Tobias de
Aguiar e Ildefonso Xavier Ferreira fizeram questão de ir até a mesa e declararam seus votos
contra a suspensão do Gabinete Topográfico, deixando-os registrados nos Anais. 157
Assim, em 1838, apenas dois anos após a instalação do Gabinete Topográfico, a
Assembleia Legislativa Provincial suspendeu as atividades daquele estabelecimento através
da lei nº 120, de 31 de março de 1838, que foi sancionada por Venâncio José Lisboa, o
presidente da província naquele ano. 158
No discurso de encerramento dos trabalhos da Assembleia Legislativa, proferido aos
7 de março de 1838, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, presidente daAssembleia, fez as seguintes considerações sobre a suspensão do Gabinete Topográfico:
“Tres estabelecimentos para a propagação das Luzes, Instrucção e Industria, aTypographia Provincial, a Fazenda Normal, ainda em sua infância, e o GabineteTopographico, davão certo verniz de adeantamento intellectual á Província, e haviãocreado, talvez erradamente no Povo Paulistano, hum nobre orgulho de superioridade, vósos encarastes, diversamente vistes-los como dispendiosos, julgastes-los impraticáveis, e
por tanto inúteis, ou pela natureza das Leis de suas creações, ou por circumstancias particulares á Província, que as tornavão inexequíveis; abolistes os dois primeiros e suspendestes o ultimo. Respeito a vossa decisão, não discuto a vossa competência e a
pureza de vossas intenções, como juízes. Comtudo em minha humilde opinião vossanomeada passaria mais segura á posteridade, se a não embaraçásseis em ruinas; e não proferísseis o exercício da força, que só basta para destruir aos esforços da intelligenciacreadora e reparadora, rival do grande Demiourgos”.159
Quanto aos instrumentos e livros de propriedade do Gabinete Topográfico, eles
deveriam ser guardados na mesma sala que serviu para as aulas do curso. Pouco antes da
suspensão do estabelecimento, em 14 de fevereiro de 1838, José Marcelino de Vasconcelos
156 APESP, SEGOF, Ofícios Diversos, cx. 81, pasta 1, doc., 114.157
Cf. Anais da ALPSP, 1838, pp. 146-155.158
SÃO PAULO (Província). Lei n. 120, de 31 de março de 1838. Suspende a execução da Lei de 24 de Março de1835, que criou o Gabinete Topográfico. In: Anais da ALPSP, 1838, pp. 193-194.159 Cf. Anais da ALPSP, 1838, pp. 164-165.
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enviou ofício ao presidente da província relacionando os instrumentos que estavam sob a
guarda do Gabinete Topográfico:
# Instrumento Qtd.
1 Cronômetro de caixa de prata N.2033 em caixa de madeira com uma chave 1
2 Barômetros centígrados em caixa de metal dentro de outra de madeira 1
3 Bússola com um trepico(?) e óculo acromático 1
4 Prancheta com um trepico, declinatório e óculo acromático 1
5 Bússola denom. compasso azimutal 1
6 Compasso de redução 1
7 Bússola solar com dois níveis em caixa de pele 1
8 Nível circular em caixa de madeira 1
9 Níveis de bolhas d'ar em latão 4
10 Termômetros centígrados 211 Horizonte artificial em caixa de madeira 1
12 Trenas de 6 e 7 braças 1
13 Trenas de 9 braças 2
14 Trenas de 12 braças 2
15 Estojos de matemática simples, sendo 3 com escalas de madeira e 3 de escalas de marfim 6
Quadro 7: Relação dos instrumentos pertencentes ao Gabinete Topográfico elaborada porJosé Marcelino de Vasconcelos (Fev. 1838). 160
Essa lista dos instrumentos, juntamente com a relação dos livros e de objetos de
expediente do Gabinete Topográfico, era parte de um inventário que foi enviado à AssembleiaLegislativa para que esses objetos não fossem extraviados e, eventualmente, pudessem ser
reaproveitados no futuro. Abaixo relaciona-se também a transcrição dos livros inventariados
por José Marcelino de Vasconcelos naquele mesmo ofício enviado ao presidente da província.
# Livro Autor Vols. Encadernação Observação
1 Dicionário tecnológico N/C 22 Encadernado em 8a. Estampas avulsas
2Dicionário francês da
Academia
N/C 3 Encadernado em 4a.
3 Faben(?) Berlin 3 Meia brochura em 8a.
4 Astronomia física Biel 3 Encadernado em 8a.
5 Geodesia Puissant 2 Encadernado em 4a.
6 Topografia Puissant 1 Encadernado em 4a.
7 Taboas logarítmicas Callet N/C Encadernado em 8a.
8 Arquitetura hidráulica Belidor 4 Encadernado em 4a.
9 Obras Magalhaens 1 Meia brochura em 4a.
10 Livro de construção G. M. Navier 1 Encadernado em 8a.
11 Taboas das cordas Baudusson 1 Encadernado em 16a.
160 APESP, SEGOF, Ofícios Diversos, Cx. 81, pasta 1, doc., 111.
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12 Arte de pintar a óleo Bendivel 1 Brochura em 16a.
13 N/C Perronet N/C N/CEmprestado aFábrica de Ferro S.João de Ipanema
14 N/C Rondelet N/C N/C
Emprestado a
Fábrica de Ferro S.João de Ipanema
15Tratado de mecânicaaplicado as artes
Borgnis N/C N/CLyceo de Taubatésolicita livro doextinto Gabinete
Quadro 8: Relação dos livros pertencentes ao Gabinete Topográfico, elaborada porJosé Marcelino de Vasconcelos (Fev. 1838). 161
Vale lembrar que, embora essa tenha sido a única listagem que se encontrou na
documentação relacionando os livros que compunham a biblioteca do Gabinete Topográfico,
acredita-se que esta deve ser uma relação parcial das obras utilizadas na formação dosengenheiros práticos de estradas. Tal como descrito na lei de criação do Gabinete
Topográfico, era prática comum nas instituições de ensino da época que os professores dos
cursos fizessem compêndios com traduções de textos de diversos autores e, até mesmo,
incluísse seus próprios textos para facilitar a transmissão dos conteúdos aos alunos que não
tivessem familiaridade com outros idiomas, especialmente o francês, no caso.
A segunda fase do Gabinete Topográfico (1840-1849)
Dois anos foram necessários até que o Gabinete Topográfico fosse restabelecido pela
lei nº 12, de 12 de março de 1840, sancionada pelo presidente da província, Manoel Machado
Nunes. 162 Legalmente restabelecido, demoraria ainda algum tempo até que o Gabinete
Topográfico entrasse em funcionamento novamente. Em janeiro de 1841, Rafael Tobias de
Aguiar informa aos deputados da Assembleia que o Gabinete ainda:
“[...] não pode principiar seus trabalhos apezar de haver já um director nomeado, o qual, por seus conhecimentos professionaes, e outras excellentes qualidades, é um seguro fiadordos bons resultados e progressos d’este estabellecimento. Pelo regulamento do 1º de
Agosto do mesmo anno, dado por meu antecessor, criavão-se mais dois empregos noGabinete, o de Ajudante do Director, e um Servente, com obrigações determinadas, e
gratificações pagas pelos cofres da Província; os quaes o Marechal Müller, directornomeado, julga indispensáveis para a regularidade dos trabalhos do Gabinete; econquanto eu esteja concorde sobre a necessidade de taes empregados, para que ainstituição possa chegar ao ponto de perfeição de que é susceptível, não me julguei
161 APESP, SEGOF, Ofícios Diversos, Cx. 81, pasta 1, doc., 111.
162
SÃO PAULO (Província). Lei n. 12, de 12 de março de 1840. Restabelece o Gabinete Topográfico. Disponívelem: <http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1840/lei%20n.12,%20de%2012.03.1840.htm>. Acessoem: 06 mar. 2013.
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habilitado para fazer observar n’esta parte o regulamento, visto que penso que o governonão pode criar novos empregos com gratificações não marcadas em lei. 163
Apesar de ainda não ter sido instalado em 1840, o Gabinete Topográfico já tinha um
diretor nomeado e era justamente Daniel Pedro Müller. Este, embora oficialmente nomeado
diretor do estabelecimento, jamais chegou a exercer a dita função, já que em 1º de Agosto de
1841, faleceu tragicamente em sua chácara no bairro de Pinheiros. 164
No entanto, antes de falecer Müller ainda trabalhava na reorganização do Gabinete
Topográfico. Em ofício datado de outubro de 1840, por exemplo, o marechal de campo
reformado dizia ao presidente da província ser impossível organizar o estabelecimento como
convém sem uma reforma na lei provincial que o havia restabelecido. Neste ofício, Müller
solicita uma conferência com o presidente da província, na qual apresentaria o que lhe parecia
conveniente adicionar na lei e no dito regulamento. Para Müller, a organização do GabineteTopográfico deveria seguir o exemplo da Escola dos Engenheiros Medidores de Niterói, pelo
fato desta haver correspondido na prática às expectativas que se tinha dela.165
A morte de Müller, em agosto de 1841, retardou o restabelecimento do Gabinete
Topográfico e, como na abertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa em 1842 o mesmo
ainda não estivesse restabelecido, o então presidente da província, Miguel de Souza Mello e
Alvim, faz questão de relembrar aos deputados da Assembleia a carência de engenheiros
trabalhando nas obras públicas e da necessidade de se restaurar o Gabinete Topográfico:
“Meo antecessor fez instantes representações ao Governo Imperial, pedindo a remessa dedois officiais Subalternos do Corpo d’Engenheiros para empregar na inspecção e direcçãodas obras públicas, e o Governo, appreciando devidamente as poderosas razões que forãoexpendidas em favor deste pedido, atenden-o logo, mandando para cá dois officiaes doreferido corpo, que achão-se actualmente em diversas, commissões; mas vós sabeis que
são tantas as obras públicas começadas, e as que ainda se necessitão emprehender, e emlugares tão distantes que é impossível que dois Engenheiros possão inspeccional-as, ou dar
planos adequados, por isso estou persuadido que não vos esquecereis de remediar essa falta, providenciando a restauração do Gabinete Topographico”. 166
163 Cf. Raphael Tobias de Aguiar. SÃO PAULO (Província). Discurso recitado pelo Exmo. Snr. Raphael Tobias de
Aguiar, no dia 07 de janeiro de 1841 por ocasião da abertura da Assembleia Legislativa Provincial. São Paulo:Typografia da Costa Silveira, 1841, pp. 6-7. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1083/000001.html>.Acesso em 02 de março de 2013.164 Para maiores detalhes sobre a biografia de Daniel Pedro Müller, ver o capítulo três.165 APESP, SEGOF, Ofícios Diversos, cx. 84, pasta 2, doc., 36.166
Cf. Miguel de Souza Mello e Alvim. SÃO PAULO (Província). Discurso recitado pelo Exmo. Presidente Miguel
de Souza Mello e Alvim no dia 7 de janeiro de 1842 por ocasião da abertura da Assembléa Legislativa daProvincia de São Paulo. São Paulo: Typographia Imparcial de Silva Sobral, 1842, pp. 6-7. Disponível em<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/976/>. Acessado em 02 mar. 2013.
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Pelo teor da justificativa do restabelecimento do Gabinete Topográfico expresso no
discurso do presidente da província, vê-se claramente o uso que o governo provincial
pretendia fazer dessa instituição.
Enquanto o Gabinete Topográfico não era restabelecido, um oficial engenheiro vindo
da corte, o então “2º Tenente do Imperial Corpo de Engenheiros (sic)”, José Jacques da Costa
Ourique (1815-1853), fora nomeado para substituí-lo no cargo de diretor. 167 Tão logo fora
nomeado diretor do Gabinete Topográfico, Ourique envia um ofício ao presidente da
província propondo alterações para a lei de criação daquele estabelecimento, expondo
algumas adaptações que julgava necessárias no plano de estudos do mesmo. 168 Abaixo segue
o plano de estudos elaborado por Ourique:
Quadro 9: Plano de Estudos para as aulas do Gabinete Topográfico elaborado porJosé Jacques da Costa Ourique (Mar. 1842). 169
Três dias após sugerir o novo plano de estudos, Ourique envia novo ofício
informando o arranjo que considera adequado para as novas matérias do Gabinete. 170 Este
arranjo privilegiava matérias teóricas que visavam formar “o pratico de Estradas”. A respeito
dos exercícios práticos que deveriam ser executados pelos alunos, Ourique sugeria:
“(...) nas férias os exercícios estabelleci um todos os dias uteis do anno inteiro para que pudesse encumbir os discípulos de vários pedaços, que reunidos deverião formar umexercício completo; para o que eu pedi então a V. Exa. que visto não haver quem cuide
167 Cf. Manoel Felisardo de Souza e Mello. SÃO PAULO (Província). Discurso recitado pelo Exmo. Presidente
Manoel Felisardo de Souza e Mello no dia 7 de janeiro de 1844 por ocasião da abertura da Assembléa
Legislativa da Provincia de São Paulo. São Paulo: Typographia do Governo, 1844, pp. 13-14. Disponível em<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/978/>. Acessado em 02 mar. 2013.168
APESP, SEGOF, Ofícios Diversos, cx. 88, pasta 1, doc., 32.169 APESP, SEGOF, Ofícios Diversos, cx. 88, pasta 1, doc., 32.170 APESP, SEGOF, Ofícios Diversos, cx. 88, pasta 1, doc., 31.
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imediatamente do arruamento, e calçamento da cidade commuta-la ao Gabinete. V. Exa.bem sente que os discípulos lucrarão bastante com esta pratica”. 171
Em tese de doutorado sobre a arquitetura paulistana durante o Império, Eudes
Campos analisa o plano de estudos proposto por Ourique e, com base nele, considera que o
curso do Gabinete Topográfico se tratava de um curso rápido e incapaz de habilitar o
profissional nele formado com a mesma aptidão de um engenheiro. Para Campos, após
formados, os alunos daquele estabelecimento estariam mais próximos dos “agrimensores”,
ou ainda, eram “engenheiros práticos” que no desenvolvimento de suas vidas profissionais,
deparavam-se com “todo tipo de trabalho ligado à engenharia, correspondendo às
expectativas na medida da capacidade de cada um para o autodidatismo”. 172
Quanto a estes alunos que frequentavam o Gabinete Topográfico, em 1843, em
discurso por ocasião da abertura da Assembleia Legislativa Provincial, o então presidente da província José Carlos Pereira d’Almeida Torres incluiu a relação dos estudantes, contendo
também o aproveitamento que tiveram do curso, o número de faltas e uma coluna que
informava se o aluno deveria ou não receber gratificação por aproveitamento.
171 Idem, ibidem.172 Cf. Eudes de Mello Campos Jr. Arquitetura paulistana sob o Império: aspectos da formação da cultura
burguesa em São Paulo. 1997. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de SãoPaulo, São Paulo, 1997, vol. 1, p. 73. Por outro lado, o Engenheiro Pedro Carlos da Silva Telles, considera que o
Gabinete Topográfico tratava-se de uma “verdadeira escola de engenharia” criada com “a modestadenominação de Gabinete T opográfico” . [Ver Pedro Carlos da Silva Telles. História da Engenharia no Brasil:
séculos XVI a XIX . 2ª ed. Rio de Janeiro: Clavero, 1994, p. 113].
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Quadro 10: Relação dos alunos do Gabinete Topográfico habilitados paraseguirem a aula de álgebra onde se acham. 173
Um ano mais tarde, em 1844, vinte e três alunos174 haviam se matriculado, “dos
quaes unicamente sete ficarão habilitados a fazer exames, sendo cinco approvados
plenamente e dous simplesmente”. 175
No relatório apresentado a Assembleia Legislativa por Manoel da Fonseca Lima e
Silva, foi anexada uma lista com o nome dos sete alunos aprovados nos exames do segundo
173
SÃO PAULO (Província). Mappa nº 7 . In: TORRES, José Carlos Pereira d’Almeida. Discurso recitado pelo Exmo.Presidente José Carlos Pereira d’Almeida Torres no dia 7 de janeiro de 1843 por ocasião da abertura da
Assembléa Legislativa da Provincia de São Paulo. São Paulo: Typographia do Governo, 1843. Disponível em<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/977/>. Acessado em 02 mar. 2013.174 Os novos alunos que não apareceram relacionados na listagem enviada pelo presidente anterior eram:Joaquim da Silva Cruz, Joaquim Roberto da Silva Marques, Francisco de Assis Carvalho, Antonio Mariano dosSantos, Francisco de Castro Moreira, Rafael Tobias de Oliveira e Pedro Ismendes Moreira. Ver SÃO PAULO(Província). Mappa Nº 10. In: Manoel Felisardo de Souza e Mello. Discurso recitado pelo Exmo. Presidente
Manoel Felisardo de Souza e Mello no dia 7 de janeiro de 1844 por ocasião da abertura da Assembléa
Legislativa da Provincia de São Paulo. São Paulo: Typographia do Governo, 1844, pp. 13-14. Disponível em<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/978/>. Acessado em 02 mar. 2013.175
Manoel Felisardo de Souza e Mello. Discurso recitado pelo Exmo. Presidente Manoel Felisardo de Souza e
Mello no dia 7 de janeiro de 1844 por ocasião da abertura da Assembléa Legislativa da Provincia de São Paulo. São Paulo: Typographia do Governo, 1844, pp. 13-14. Disponível em <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/978/>.Acessado em 02 mar. 2013.
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ano do Gabinete Topográfico e, desta forma, concluíram o curso de engenheiros de
estradas.176
Todos os alunos foram aprovados plenamente, sendo habilitados em: “ geometria
descritiva, estática, dinâmica hidráulica, pneumática, resistência das construções, máquinas,
noções gerais de química, desenho de perfis de estrada e desenho de construções em geral ”.
Os cinco primeiros possuíam muita habilidade e desenvolvimento para a ciência e disposição
para o desenho, enquanto os dois últimos, mais habilidade para o desenho.
Uma mudança na organização do Gabinete Topográfico veio ainda naquele ano de
1844, quando a Assembleia Legislativa aprovou uma lei que criava a Diretoria de Obras
Públicas. De acordo com o artigo 6º desta lei, a escola do Gabinete Topográfico foi
transformada em um anexo à diretoria de obras públicas. 177
Segundo Eudes Campos, a Diretoria de Obras Públicas foi uma repartição de
estrutura muito ambiciosa para a época e, por esta razão, teve duração efêmera. 178 Muito
numerosa, a diretoria acabou não sendo muito eficiente, pois mantinha seus engenheiros
concentrados na Capital. Em razão disso, a Assembleia resolveu, em 1845, aprovar uma lei
dividindo a província em quatro seções de obras públicas. No ano seguinte, aprovou outra lei
reduzindo a estrutura da diretoria e, além disso, decidiu que os alunos da escola não mais
receberiam gratificação ou sequer seriam aproveitados em trabalhos daquela diretoria, o que,
na prática, acabou por decretar o fim do Gabinete Topográfico. 179
Em 1846, anexo ao discurso do presidente da província à Assembleia, há uma lista
dos vinte e sete alunos que se matricularam no curso do Gabinete Topográfico. Não por
acaso, no final do ano letivo em que a Assembleia decidiu acabar com as gratificações aos
alunos, onze não concluíram o curso, dos quais cinco se retiraram ao curso da Academia
176 São eles: 1º Antônio Alexandrino dos Passos; 2º João José Soares; 3º Saturnino Francisco Villalva; 4º GilFlorindo de Moraes; 5º Antônio José Vaz; 6º Firmino Antônio de Campos Penteado e 7º Francisco Delfino deVasconcelos. [Ver: Manoel da Fonseca Lima e Silva. Relatório apresentado a Assembléa Legislativa Provincial de
São Paulo pelo Exmo. Presidente Manoel da Fonseca Lima e Silva no dia 07 de janeiro de 1845 por ocasião da
abertura da Assembléa Legislativa da Província de São Paulo. São Paulo: Typographia de Silva Sobral, 1845, pp.12-13. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/979/>. Acesso em: 02 mar. 2013].177
SÃO PAULO (Província). Lei n. 36, de 15 de março de 1844. Cria uma diretoria de obras públicas e autoriza o
presidente da província a fazer os regulamentos necessários. Disponível em:<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1844/lei%20n.36,%20de%2015.03.1844.pdf>. Acesso em:18 mar. 2013.178
Cf. Eudes de Mello Campos Jr. Arquitetura paulistana sob o Império: aspectos da formação da cultura
burguesa em São Paulo. 1997. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de SãoPaulo, São Paulo, 1997, vol. 1, pp. 70-71.179 Idem, ibidem.
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Jurídica. 180 Dois anos mais tarde, em 1848, na lista dos alunos matriculados havia apenas três
nomes: Francisco Gonsalves Gomide, Pedro Ismendes Moreira e Mathias Lex. Em relatório
apresentado a Vicente Pires da Motta por ocasião da entrega da presidência, Leite Ribeiro
explica por que o Gabinete Topográfico encontrava-se abandonado:
“Quanto as aulas da Capital só mencionarei as do Gabinete Topographico que é frequentada por tres alumnos unicamente: esta circunstancia que não pode ser attribuidanem a incapacidade do Lente, nem à inutilidade das matérias, nasce indubitavelmente doabandono, em que tem estado seos alumnos, desempregados, e forçados a procurar outrosmeios de vida. Felizmente a Assembléa acaba de atender à sua sorte: dous já se acham pormim empregados, e estou certo que V. Exa. procurará animar á esses moços, dando assimvida a um estabelecimento, que não pode deixar de ser vantajoso á uma Provincia, ondetantas obras públicas se acham em andamento”. 181
Ao contrário do que esperava Leite Ribeiro, o Gabinete Topográfico foi extinto
durante a presidência de Vicente Pires da Motta (1848-1851), pela lei nº 27, de 23 de abril de1849, em cujo artigo 24 pode se ler: “ Fica supprimido o gabinete topographico, revogada a
lei de sua creação”. 182 Quanto a José Jacques Ourique, o diretor, o artigo 18 da dita lei
determina que, se assim o quisesse, poderia lecionar na cadeira de geometria e mecânica do
liceu de Taubaté ou de Curitiba, ou ainda ser empregado na inspeção de obras públicas. 183
e) Atuação dos engenheiros formados pelo Gabinete Topográfico de São Paulo
Dos anos em que funcionou o Gabinete Topográfico em São Paulo, tanto na primeira
quanto na segunda fase, muitos alunos passaram por suas cadeiras, alguns dos quais chegaram
a se formar como engenheiros práticos e seus trabalhos contribuíram sobremaneira para o
desenvolvimento viário da província de São Paulo.
José Porfírio de Lima (c. 1810-1887), por exemplo, foi aluno da primeira fase do
Gabinete Topográfico (1836-1838). Após ter concluído o curso do Gabinete Topográfico, vê-
se que seu nome aparece em discussão na 44ª Sessão Ordinária da Assembleia Legislativa
180 Cf. Miguel de Souza Mello e Alvim. SÃO PAULO (Província). Discurso recitado pelo Exmo. Presidente Miguel
de Souza Mello e Alvim no dia 7 de janeiro de 1842 por ocasião da abertura da Assembléa Legislativa da
Provincia de São Paulo. São Paulo: Typographia Imparcial de Silva Sobral, 1842, pp. 6-7. Disponível em<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/976/>. Acessado em 02 mar. 2013.181
Cf. Domiciano Leite Ribeiro. SÃO PAULO (Província). Relatório apresentado ao Exm. e Rvm. Sr. Dr. Vicente
Pires da Motta pelo Exm. Sr. Dr. Domiciano Leite Ribeiro ao entregar a presidência. São Paulo: Typographia doGoverno, 1848, p. 6. Disponível em http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1085/>. Acesso em: 02 mar. 2013.182 SÃO PAULO (Província). Lei n. 27, de 23 de abril de 1849. Marca a receita e fixa a despesa provincial para o
ano financeiro de 1849 a 1850. Disponível em:
<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1849/lei%20n.27,%20de%2023.04.1849.pdf>. Acesso em:06 mar. 2013.183 Idem, ibidem.
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Provincial, que decidiria se os cofres provinciais arcariam com uma bolsa de 600$000 anuais
para que Porfírio de Lima pudesse cursar a Aula de Arquitetos Medidores na província do Rio
de Janeiro. 184 É curioso observar que, nessa sessão, o deputado Pimenta Bueno propôs uma
emenda no projeto original, estipulando regras e condições para a concessão da bolsa:
“O Presidente da Província é auctorisado a fazer abonar anualmente á José Porfírio de Lima, a quantia de 600$000 rs para que o mesmo vá frequentar no Rio de Janeiro a Aulade Architectos Medidores, e instruir-se nos estudos que ali se ensinão, devendo participaranualmente á Assembléa Provincial o aproveitamento do mesmo cidadão. Estaconsignação durará somente por um curso da dicta Aula e será verificada no princípio decada anno. Findo o estudo, o dicto cidadão é obrigado à apresentar-se ao Governo da
Província, e aceitar o emprego que este porventura lhe destine relativamente ás matériasque estudou, por seis annos, mediante gratificação igual á dicta quantia. Faltando áqualquer das disposições desta Lei, será obrigado a repor a quantia que tiver recebido”. 185
Aprovada nas três sessões regimentais, os deputados acabaram então aprovando o
projeto que foi sancionado como a Lei nº 143, de 10 de março de 1840. No discurso de
encerramento dos trabalhos legislativos em 1840, o presidente da Assembleia Legislativa,
Antônio Maria de Moura, lembrou com as seguintes palavras a aprovação dessa lei:
“animastes o talento con signando quantias sufficientes a um brasileiro de esperanças, para
que vá adquirir na Escola dos Architectos Medidores, creada na Capital da Província do Rio
de Janeiro [sic] , conhecimentos que possam ser úteis ao seu Paiz natal”.186
No ano seguinte os deputados voltariam a discutir sobre a bolsa concedida a José
Porfírio de Lima, uma vez que este acabou solicitando que dobrassem a quantia que lhe foi
assignada, pois os 600$00 rs anuais “não chegam para sua subsistência”. Tendo cursado o
primeiro ano e sido aprovado plenamente no curso, a comissão de fazenda deu parecer
favorável para que o valor fosse aumentado a 1:000$000 rs anuais. 187
Tendo regressado a São Paulo em 1843, já no ano seguinte a Lei do Orçamento
Provincial de 23 de março de 1844, destina 1:600$000 “ao architecto medidor José Porfírio
de Lima, enquanto servir d’Inspector de Obras Públicas ou d’Engenheiro da Província”. 188
Ainda nesse mesmo ano de 1844, Porfírio de Lima foi nomeado um dos diretores da recém-
instituída Diretoria de Obras Públicas e, como engenheiro, serviu a província por muitas
décadas. Em 1854, propôs projeto de pavimentação das ruas de São Paulo, tendo seu plano
negado pela câmara por esta se declarar desprovida de conhecimento técnico necessário para
184 Cf. Anais da ALPSP, 1840, p. 199. Trata-se da Aula dos Arquitetos Medidores de Niterói.185 Idem, ibidem.186 Cf. Anais da ALPSP, 1840, p. 232.187
Cf. Anais da ALPSP, 1841, pp. 341-342.188
Cf. Anais da ALPSP, 1844, p. 582. A título de comparação, a mesma Assembleia Legislativa Provincial, apenastrês anos antes, havia proposto a remuneração de 1:000$000 aos professores do Gabinete Topográfico e1:400$000 ao diretor desse estabelecimento. [Ver Anais da ALPSP, 1841, pp. 487-488].
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executá-la. 189 Muitos anos mais tarde, ainda exercia o cargo de engenheiro da Câmara da
Capital, no qual se aposentou apenas em 1879. 190
Da segunda fase do Gabinete Topográfico, mais longa, temos uma série de
engenheiros civis que passaram a trabalhar nas obras públicas da província. Francisco
Gonçalves Gomide, por exemplo, era membro do conselho de engenheiros chefes de seção de
obras públicas da província de São Paulo em 1852. Além disso, em 1858, substituiu o
engenheiro inglês William Elliot na direção da estrada mais importante da província, isto é,
aquela que ia da Capital a Santos. 191
Por volta dessa mesma época, outro aluno da segunda fase do Gabinete Topográfico,
Gil Florindo de Moraes, teve a seu cargo as estradas da Penha e também a de Jundiaí. Além
disso, este mesmo engenheiro fora mandado a Taubaté para verificar as condições para a
realização de obras em uma estrada em São Bento do Sapucaí Mirim que deveria substituir os
antigos caminhos que levavam a Tremembé e Quererim. Tendo dado o parecer de que tal obra
custaria aos cofres provinciais a importância de 40:000$000 rs, Moraes era favorável que se
reparasse estrada que passava pela capela de Tremembé. 192
Outros dois alunos premiados da segunda fase do Gabinete Topográfico, Antônio
Alexandrino dos Passos Ourique e João José Soares, foram contratados como primeiros
engenheiros municipais entre os anos de 1849 e 1853. 193 Soares, alguns anos mais tarde, foi
encarregado de examinar a estada Taubaté-Ubatuba para organizar o orçamento das despesas
prováveis para a construção de uma estrada de rodagem entre aquelas duas cidades. 194
Por fim, o engenheiro civil Antônio José Vaz, mais um aluno da segunda fase do
Gabinete Topográfico, fora encarregado, em 1858, dos reparos das pontes grande e pequena
no aterrado de Sant’Anna. 195 Além destas obras, em agosto deste mesmo ano, Vaz também
fora encarregado de examinar e averiguar o local mais apropriado para a construção de uma
ponte com cabeceiras de pedra sobre o rio Piracicaba na cidade de Constituição, tendo este
engenheiro escolhido o local, realizado o plano e orçado a obra em 18.614$670 rs. 196
189 Cf. Carlos Augusto Mattei Faggin. Arquitetos de São Paulo: dicionário de artífices, carpinteiros, mestres-de-
obras, engenheiros militares, engenheiros civis e arquitetos nos primeiros 350 anos contados da fundação da
cidade. São Paulo: FAUUSP, 2009, p. 117.190
Cf. Eudes de Mello Campos Jr. Op. Cit., p. 71.191 Eugenio Egas. Galeria dos Presidentes de S. Paulo. Período Monarchico: 1822-1889. São Paulo: Secção deObras D’ O Estado de S. Paulo, 1926, p. 265.192 Idem, ibidem.193
Cf. Eudes de Mello Campos Jr. Op. Cit., p. 79.194
Cf. Eugenio Egas. Op. Cit., p. 266.195 Idem, p. 269.196 Cf. Eugenio Egas. Op. Cit. p. 275.
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Muitos anos mais tarde, em 1894, na oração inaugural da Escola Politécnica, Antônio
Francisco de Paula e Souza, organizador e primeiro diretor da Escola, fez menção honrosa aos
criadores do Gabinete Topográfico:
“A Victoria hoje alcançada, foi em lucta porfianda; porque a Idea que hoje venceu não énova – Nossos avós já a tinham, tentaram realisal-a. – Elles bem avaliavam as grandesvantagens que a esta região adviria da divulgação de conhecimentos mathematicos – Crearam, por isso, uma escola de Engenheiros constructores de Estradas, quemodestamente denominaram “Gabinete Topographico”. 197
Em seu discurso saudosista, ao relembrar o Gabinete Topográfico como escola de
“engenheiros construtores de e stradas” , Paula Souza acaba o colocando como uma espécie
de precursor da Escola Politécnica. Se não se pode dizer, tal como Eudes Campos lembrou,
que a formação dos profissionais daquele estabelecimento era propriamente a de engenheiros,
mas sim a de agrimensores, ou no máximo, de engenheiros práticos, ainda assim, o Gabinete
Topográfico desempenhou papel importante no ensino de engenharia na província, tal como
evidenciam os alunos que dele saíram e acabaram exercendo posições quer na construção e
manutenção de estradas, quer em outras obras públicas provinciais.
Juntamente com outras iniciativas do governo provincial, tais como a contratação de
engenheiros do exterior, ou a solicitação desses profissionais do Rio de Janeiro, não cabe
exagero dizer que o Gabinete Topográfico, ao ter formado profissionais aptos a dirigirem a
construção e manutenção de estradas provinciais, contribuiu, sim, com o desenvolvimentoviário da província de São Paulo observado a partir da década de 1840.
Após reconstituir a trajetória do Gabinete Topográfico de São Paulo no âmbito da
criação das Assembleias Legislativas Provinciais, observou-se como, desde o último quartel
do século XVIII, a crescente necessidade de construir e conservar estradas para o escoamento
do açúcar até o porto de Santos foi uma das principais forças a demandar uma maior presença
de engenheiros em São Paulo. Embora o projeto de uma escola capaz de formar profissionais
aptos a construir estradas já fosse imaginado desde, pelo menos, 1806, a viabilização de talestabelecimento só se daria a partir da relativa autonomia legislativa e tributária conquistada
com a criação da Assembleia Legislativa da Província de São Paulo, em 1835.
Em um contexto de expansão da produção de açúcar e o começo do crescimento da
cultura do café, quanto mais essas lavouras se expandiam para o interior da província, maior
era a necessidade da ampliação da rede viária para o melhor escoamento da produção e,
consequentemente, maior a necessidade de pessoal apto a construir estradas. A criação de uma
repartição de obras públicas provinciais com uma escola de engenheiros anexa a ela, cujo197 Cf. Ernesto de Souza Campos. História da Universidade de São Paulo. São Paulo: Edusp, 2004, p. 7.
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principal objetivo era suprir a demanda por esse tipo de profissional na província, caracteriza
o uso deste estabelecimento como instrumento de governo a serviço da administração
provincial e das elites paulista.
Assim, entende-se que ao destacar brevemente a vida profissional de alguns dos
engenheiros práticos formados pelo Gabinete Topográfico, evidenciou-se como a própria
escola de engenheiros foi pensada pela elite política como um instrumento governativo, na
medida em que seu principal objetivo era fornecer quadros para a construção e conservação
de obras públicas na província, em especial, as tão reivindicadas estradas. Ainda que não
houvesse tido êxito na formação de tais engenheiros práticos – o que não foi o caso, como se
viu – , sua criação, instalação e funcionamento a partir de 1836 diz muito a respeito da
sociedade que a criou e, anos depois, a restabeleceu em pleno regresso conservador, em 1840.
Por fim, outro aspecto importante a se destacar, é o papel desempenhado pelo
Gabinete Topográfico como elo na transição da engenharia militar para a engenharia civil em
São Paulo. Antes de seu estabelecimento, praticamente todos os engenheiros a serviço na
província, excetuando-se os estrangeiros, eram oficiais militares. Após a formação dos
primeiros estudantes do Gabinete Topográfico, São Paulo também passaria a contar com seus
primeiros engenheiros civis formados na própria capital da província.
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CAPÍTULO 3: O Mappa Chorographico da Província de São Paulo (1835-1842)
a)
Biografia de um mapa: a trajetória do Mappa Chorographico da Província de SãoPaulo (1835-1842).
Ao utilizar mapas como fonte de pesquisa histórica é bastante comum que se inicie o
trabalho a partir do próprio mapa em si, isto é, fazendo uma análise minuciosa de cada detalhe
da carta analisada. No caso específico do Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo,
há um cartucho bastante rico em informações indicando, não apenas o título do mapa, mas
também seu autor e ocupação, Daniel Pedro Müller, Marechal reformado do corpo dos
Engenheiros; o ano em que foi desenhado, 1837 ; a quem foi dedicado, o Ilmo. e Exmo. Sr. Bernardo Jozé Pinto Gavião Peixoto, Presidente desta Província; e o local onde foi impresso,
nas oficinas de Alexis Orgiazzi, em Paris.
Figura 3: Detalhe do cartucho do Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo.
Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo.
No entanto, para além do cartucho, mais informações podem ser obtidas através de
uma observação mais detida de outras partes da carta, como por exemplo, qual projeção foi
utilizada por Müller, que escala adotou em seu mapa, qual foi o meridiano escolhido como
referência, ou ainda, como optou por fazer as representações hidrográficas, da rede viária e a
rede de freguesias, vilas e cidade da província. Pode-se também analisar aquilo que não foi
representado ou omitido em sua carta, como por exemplo, os aldeamentos indígenas próximosàs vilas e cidades, ou ainda, a grande população de grupos indígenas não aldeados que viviam
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esparsos pelo território da província de São Paulo. Assim, vê-se que um mapa fornece
excelentes indícios não apenas de si próprio, mas também do cartógrafo que o produziu e da
sociedade da época que aparece representada nas diferentes camadas de significados
impregnadas em sua folha. Como bem aponta o historiador britânico J. B. Harley, “todos los
mapas están relacionados com el orden social de un período y un lugar específicos”, isto é,
através de uma metodologia própria, deve-se buscar compreender o que o mapa significava
para a sociedade que o fez e o utilizou pela primeira vez. 198
O mapa e sua encomenda (1835)
De início, buscou-se compreender qual razão teria levado Müller intitular seu mapa
como Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo, isto é, o que o termo
“Chorographico” teria a dizer a respeito do mapa e qual razão fez com que seu autor
preferisse este termo ao invés de outros, como Mapa Geográfico ou simplesmente Mapa da
Província de São Paulo?
O Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico, architectonico..., publicado por
Rafael Bluteau entre os anos de 1712 a 1728, traz a seguinte definição para o termo
Corografia tal como este era compreendido na primeira metade do século XVIII.
“COROGRAFIA, Corografia, ou Topografia, que no primeyro vocábulo, Cora, em Grego,quer dizer Região, & no segundo, Topos, quer dizer Lugar, & em ambos, Graphi significa
Descripção. He pois Corographia, descripção de qualquer lugar, pays ou Região particular e nisto differe Corographia de Geografia, que assim como a pintura de umhomem, com todas as partes e proporçoens de membros, he differente da pintura de umbraço sómente, ou de qualquer outra parte separada. Assim, a geografia he como huma
pintura de toda a terra com suas partes, e demarcaçoens, & a Corographia trata somentede alguma terra em particular, sem ordem nem respeito às outras, empregando-se mais nosaccidentes, & qualidades da terra, como são portos, quintas, edifícios, &c”. 199
Outro dicionário, publicado em 1832, data mais aproximada da publicação do mapa de
Müller, reitera a definição que se encontrou em Bluteau: “Corographia – s.f. Descripção de
huma terra em particular”.200 Atualmente, Céurio Oliveira, em seu Dicionário Cartográfico
publicado em 1980, ainda apresenta uma definição semelhante para o vocábulo Corografia,
embora destaque que o termo tenha ficado “obsoleto por seu caráter apenas descritivo”.201
198 Cf. J. B. Harley. Op. Cit., p. 72.199 Cf. Raphael Bluteau. Vocabulario portuguez& latino: aulico, anatomico, architectonico... Coimbra: Collegiodas Artes da Companhia de Jesus, 1712 –1728, v.2, p.556.200
Cf. Luiz Maria da Silva Pinto. Diccionario da Lingua Brasileira por Luiz Maria da Silva Pinto, natural daProvincia de Goyaz. Ouro Preto: Typographia de Silva, 1832.201 Cf. Céurio Oliveira. Corografia. In: __________. Dicionário Cartográfico. Rio de Janeiro: IBGE, 1980, p. 89.
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Portanto, o Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo recebeu este nome, pois
o objetivo que se pretendia para ele era descrever uma região específica do Brasil,
nomeadamente, a província de São Paulo, e não o conjunto de todo o país.
Deste modo, após breve análise do mapa, alguns indícios permitiriam a verticalização
da pesquisa, tais como o marco temporal da produção (por volta de 1837), dois personagens
(Müller e Gavião Peixoto), a cidade de edição do mapa (Paris) e outras informações que
serviram de base para pesquisar detalhes sobre a encomenda do mapa em acervos históricos
de arquivos que mantém a documentação administrativa da Província de São Paulo.
Pesquisando tais acervos em busca de leis promulgadas a partir do ano de criação da
Assembleia Legislativa da Província de São Paulo, 1835, até o ano em que o mapa foi
desenhado, 1837, verificou-se que logo nos primeiros meses de funcionamento da
Assembleia, foi aprovada a lei n º 16, de 11 de abril de 1835 202, onde se decretava a
“redacção e impressão da estatística da provincia”.203
O texto da lei descrevia exatamente o que deveria constar na estatística a ser
levantada, muito embora não houvesse referência alguma a quem deveria redigi-la ou, ainda,
especificasse que junto com ela se deveria produzir um mapa provincial.
Contudo, o discurso de abertura das sessões ordinárias da Assembleia Provincial
proferido pelo então presidente da província, José Cesario de Miranda Ribeiro, aos sete de
janeiro de 1836, expunha aos deputados o estado dos trabalhos referentes à estatística que
havia sido encomendada pela lei do ano anterior:
“Era evidente o excellente resultado que havia de trazer ao governo a realização de umaestatística levantada de accôrdo com a lei provincial de 11 de abril de 1835. Foiincumbido deste serviço o marechal Daniel Pedro Müller, aguardando-se a conclusão dostrabalhos para serem presentes ao Poder Legislativo as informações seguras sobre muitose diversos ramos da pública administração”. 204
Constata-se aqui que já aparece o nome de Daniel Pedro Müller como responsável
pelo levantamento da estatística, ainda que sem nenhuma menção ao mapa. Mas dois anosdepois, aos sete de janeiro de 1838, no discurso de abertura das sessões ordinárias da
Assembleia Provincial, o então presidente da província, Bernardo José Pinto Gavião Peixoto,
dá a seguinte notícia aos deputados ao falar sobre a estatística:
“As memorias e quadros organizados pelo marechal Daniel Pedroso (sic) Müller, já seacham na typographia, e espero que cheguem a vossa presença no decurso da presente
202 Ver Anexo 1 deste trabalho contendo transcrição na íntegra da lei n. 16.
203
Cf. SÃO PAULO. Lei n. 16, de 11 de abril de 1835. Autoriza o governo a despender o que for necessário para aredação e impressão da estatística da província. In: Anais da ALPSP, 1835, pp. 216-219.204 Cf. Anais da ALPSP, 1836, p. 415.
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Sessão, menos o grande mappa Chorographico da Provincia porque o mandei lytographarem França, por não ser possível conseguir este trabalho com perfeição e preço rasoáveldentro do Império”. 205
Assim, embora a lei n º 16 que acabou por encomendar a redação e impressão da
estatística da província não faça menção alguma ao desenho de um mapa corográfico, é possível afirmar que tanto a confecção do mapa como a produção da estatística foram
encomendadas em conjunto pela lei n. 16. Mais que isso, o discurso do presidente Bernardo
José Pinto Gavião Peixoto revela que, o fato de o mapa ter sido enviado a Paris para ser
“lytographado”, foi o que determinou que o mesmo não se publicasse junto com a estatística
que, por sua vez, já estava na tipografia e acabaria sendo publicada ainda naquele mesmo ano
de 1838 com o título de Ensaio d’um quadro estatístico da provincia de S.Paulo. Segundo
Gavião Peixoto, o mapa havia sido mandado “litografar” na França por motivo técnico e
econômico. Mais adiante, na seção dedicada à impressão do mapa, se tratará com maior
detalhe as razões que levaram a Assembleia Legislativa e o presidente da província a mandar
imprimir a carta de Müller na França.
Esclarecidas as questões relacionadas à encomenda do mapa, isto é, quem o
encomendou, quando se deu a encomenda e a quem o desenho da carta havia sido
encomendado, cabe entender um pouco mais sobre quem é o autor do mapa e por que a
Assembleia Legislativa da Província de São Paulo decidiu encomendar a confecção desta
carta justamente a este engenheiro militar.
O marechal de campo reformado Daniel Pedro Müller (1785-1841)
“Daniel Pedro Müller, Marechal reformado do corpo dos engenheiros”, tal como
aparece descrito no cartucho do mapa, é um personagem cuja trajetória é difícil de ser traçada,
pois muitas informações contraditórias a respeito de sua vida e obra são encontradas nos
dicionários, enciclopédias, perfis biográficos e diversos trabalhos bibliográficos dedicados àtrajetória desse engenheiro militar.
Nascido em Oeiras, próximo a Lisboa, aos 26 de dezembro de 1785,206 era filho de
Ana Isabel Müller (1757-1797) e João Guilherme Cristiano Müller (1752-1814). Sua data e
local de nascimento foi motivo de grande controvérsia, havendo divergência significativa entre seus
205 Cf. Anais da ALPSP, 1838, p. 63.
206
AHM. Cx. 693, D-1-6-38, D1-7-45-48, D1-7-9-5. [Ver também: Francisco Vilardebó Loureiro. Relação dosprimeiros alunos do Colégio Militar em Lisboa. In: Raízes e Memórias. N°. 15, Outubro-1999, Lisboa: AssociaçãoPortuguesa de Genealogia, p. 157].
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biógrafos, que chegaram a registrar uma diferença de dezesseis anos entre a data mais recuada no
tempo (1769) e a mais recente (1785). 207
Em 1795, assentou praça como cadete do regimento de artilharia da corte, tendo
cursado as aulas da Real Academia de Marinha, da Real Academia de Fortificação, Artilharia
e Desenho até o ano de 1801.208 Ainda não havia completado dezessete anos quando, em
1802, foi enviado pela Coroa a capitania de São Paulo como capitão de infantaria agregado à
primeira plana da corte.209
Em São Paulo exerceu a função de ajudante de ordens do então governador e capitão
general, Antônio José da França Horta, até o ano de 1811, quando este governador foi
substituído por um governo triunvirato provisório. Em 1811, então, Müller passou ao Real
Corpo de Engenheiros por decreto de 24 de julho daquele ano.210
Entre 1811 e 1822, período que permaneceu em São Paulo, realizou diversas obras
como a estrada do Piques (atual Rua da Consolação), a ponte do Carmo e a pirâmide e
chafariz do Piques, em 1814 (atual Largo da Memória, no Anhangabaú). Além disso, também
destaca-se de sua obra “o magnífico aterrado, que vai de Santos a Cubatão em distância de
duas léguas, todo sobre um terreno de ambos os lados alagadiço” . 211 Na área da cartografia,
segundo Sousa Chichorro,212 somente no ano de 1815, Müller foi designado a levantar um
207 Affonso d’Escragnole Taunay, com base “em uns autos de justificação, em que ocorr e um depoimento de
Müller” , afirmou ter visto que no ano de 1814, Müller tinha 45 anos de idade e, portanto, teria nascido em1769. [Ver Affonso d’Escragnolle Taunay. Um Patriarcha da Estatística no Brasil. In: Boletim do Ministério do
Trabalho, Indústria e Commercio. Rio de Janeiro, Anno II, n°. 21, Mai. 1936, p. 356.] Por sua vez, SacramentoBlake, em seu famoso Dicionário Bibliograhico Brazileiro, dá o ano de 1785, embora não cite a fonte de ondetirou tal informação. [Ver Augusto Victorino Alves Sacramento Blake. Diccionario Bibliographico Brazileiro. Riode Janeiro: Imprensa Nacional, 1898, v. 2, p. 160.] Já Honório de Syllos, responsável pela introdução da terceiraedição do Ensaio d’um quadro estatístico da Província de São Paulo, julgou ser 1775 o ano mais provável emque nascera Daniel Pedro Müller. [Ver Honório de Syllos. In: Daniel Pedro Müller. Ensaio d’um quadro
estatístico da provincia de S.Paulo: ordenado pelas leis provinciaes de 11 de abril de 1836 e 10 de março de
1837. 3. ed. facsimilada. São Paulo: Governo do Estado, 1978, p. XV.]208 AHM, Processo do ex-aluno da Escola do Exército, maço nº 1, processo 58. Embora muitos biógrafos deMüller afirmem que ele cursou a cadeira de matemática no Real Colégio dos Nobres, tal informação não severificou após consulta realizada nos acervos portugueses que guardam a documentação referente a esteColégio, como o Arquivo Nacional da Torre do Tombo. [Ver também: João Bernardo Galvão-Telles. Relação dos
alunos do Colégio dos Nobres de Lisboa (1766-1837). In: Revista do Instituto de Genealogia e Heráldica da
Universidade Lusófona do Porto. N°. 1, Ano 1, Novembro de 2006, pp. 57-118].209
Cf. Cel. Horácio Madureira dos Santos. Catálogo dos decretos do extinto Conselho de Guerra na parte não
publicada pelo General Cláudio de Chaby. Separata do Boletim do Arquivo Histórico Militar, V volume (Reinadode D. Maria I (2ª Parte: janeiro de 1794 a dezembro de 1806). Lisboa: Arquivo Histórico Militar, 1965, p. 548.210 Cf. Coronel Laurênio Lago. Brigadeiros e Generais de D. João VI e D. Pedro I no Brasil: dados biográficos
(1808-1831). Rio de Janeiro: Imprensa Militar, 1938, p. 24.211
Cf. Thomaz José Pinto Serqueira. Elogio histórico dos membros do Instituto fallecidos no terceiro annosocial. In: Revista Trimensal de História e Geografia, v. 3, t. 3, 1841, p. 542.212 Cf. Manoel da Cunha de Azeredo Sousa Chichorro. Op. Cit., p. 208.
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mapa para a comarca de Curitiba e Campos de Guarapuava, além de uma carta geográfica e
estatística da capitania de São Paulo “a imitação do de Mr. Le Sage”. 213
Tendo sido aclamado pelo povo e tropa em 23 de junho de 1821, Daniel Pedro
Müller foi membro do governo provisório da Província de São Paulo. 214 Envolvido
diretamente nos episódios políticos que antecederam a Independência do Brasil, se opôs ao
grupo andradista na revolta que ficou conhecida como “Bernarda” de Francisco Inácio, tendo,
por sua participação, sofrido um processo de devassa e exilado para fora de São Paulo.215
Após sair de São Paulo, já como brigadeiro, em 1825 participou da guerra movida
pelo Império do Brasil contra Buenos Aires, tendo sido enviado a Montevidéu, onde atuou
como ajudante-general e comandante da praça.216 Tão logo a paz foi restabelecida, regressou
ao Brasil, onde assumiu o comando da Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro,
permanecendo nesta cidade até a obtenção de sua reforma do serviço militar. 217 Sua reforma
foi concedida após solicitação e veio através do decreto de 01 de junho de 1829, tendo se
reformado no posto de marechal de campo. 218
Tão logo obtém sua reforma, retorna a São Paulo, onde é bem recebido e a
administração provincial passa a lhe encomendar diversos trabalhos. Em 1835, recebe da
Assembleia Legislativa da Província de São Paulo, a encomenda de organizar uma estatística
e um mapa provincial. Em 1839, Müller foi convidado a se tornar sócio honorário do Instituto
213 Emmanuel-Augustin-Dieudonné-Joseph (1766-1842), primeiro Marquês, depois Conde de Las Casas, ou Mr.
Le Sage, foi um historiador e famoso autor de atlas francês. Em 1801, sob o pseudônimo Le Sage, publicou emLondres, a edição original de seu famoso Atlas, que somente em 1803-1804, ganharia a edição francesaintitulada Atlas historique, cronologique, géographique et génealogique . Seu Atlas fez tanto sucesso queganhou múltiplas edições em diferentes línguas entre 1804 e 1845. [Ver Walter Goffart. Historical Atlases: The
First Three Hundred Years (1570-1870). Chicago and London: The University of Chicago Press, 2005, pp. 305-314, 391-394]. Em 1826, por exemplo, a Librería Hispano-Francesa de Bossange Padre, publicou uma edição emespanhol que, recentemente, foi digitalizada pela Biblioteca Nacional da Colômbia. [Ver Emmanuel AugusteDieudonné-Joseph. Atlas Histórico, Genealógico, Cronológico, Geográfico y Estadistico de Lesage escrito por el
Conde de Las Casas, traducido, corregido y aumentado por un Español Americano. Paris: Librería Hispano-Francesa de Bossange Padre, 1826. Disponível em
<http://www.bibliotecanacional.gov.co/recursos_user/digitalizados/sala1a_15377.pdf >. Acessado em 15 deagosto de 2013].214
Daniel Pedro Müller aparece entre os vogais pelas Armas, ao lado do Coronel Antônio Leite Pereira daGama, tendo sido empossado em 21.6.1821, perante a Câmara, situada então no largo de São Gonçalo,atualmente Praça João Mendes. [Ver Honório de Syllos. In: MÜLLER, Daniel Pedro. Ensaio d’um quadro
estatístico da provincia de S.Paulo: ordenado pelas leis provinciaes de 11 de abril de 1836 e 10 de março de
1837. 3. ed. facsimilada. São Paulo: Governo do Estado, 1978, p. XIII].215
Na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro há um códice de 30 páginas contendo a narração dosacontecimentos políticos de São Paulo entre os anos de 1823-1824 por Manoel Joaquim de Amaral Gurgel. Napágina seis desse códice, há a informação de que Daniel Pedro Müller foi deportado para o Rio de Janeiro, em1822, por ter participado da “Bernarda” de Francisco Inácio. Em setembro de 1823, todos os envolvidos narevolta que haviam sido exilados, foram anistiados por D. Pedro I. [Ver BNRJ, manuscritos, Loc. 12, 2, 012].216
Cf. Thomaz José Pinto Serqueira. Op. Cit., pp. 542-543.217 Cf. Honório de Syllos. Op. Cit ., p. XIV.218 Cf. Coronel Laurênio Lago. Op. Cit., p. 24.
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Histórico e Geográfico Brasileiro. 219 Desde então, passou a enviar memórias e escrever
catecismos em diversos ramos do conhecimento, tais como: Princípios de Grammatica da
língua portugueza; Cathecismo da religião Christã; Cathecismo de Arithimetica; Cathecismo
de Geographia, Cathecismo de Mythologia e o Cathecismo de História Natural, os quais
oferecia ao Instituto Histórico. 220
A data de seu falecimento é motivo de alguma confusão até hoje. Em 1879, Azevedo
Marques publicou em seus apontamentos que o marechal Müller teria falecido em 01 de
agosto de 1842. 221 Por conta disso, muitos autores que basearam seus perfis biográficos nas
informações de Azevedo Marques, tais como Affonso Taunay, Eugenio Egas e Antônio
Barreto do Amaral, por exemplo, repetiram a informação de que Daniel Pedro Müller teria
morrido em 01 de agosto de 1842. 222
Para dirimir quaisquer dúvidas, verificou-se que em ofício datado de 08 de janeiro de
1842, o então presidente da província solicitava ao secretário da Assembleia que fosse
apresentado aos deputados o mapa desenhado por Müller:
“De or dem do Exmo. Sñr. presidente da Provincia tenho a honra de passar ás mãos de V.S., para que se digne apresentar á Assembléa Legislativa Provincial um exemplar do
Mappa Chorographico d’esta Provincia, desenhado pelo fallecido marechal Daniel Pedro Muller, e mandado gravar em Paris pelo Governo da Provincia. [...]”. 223
O trecho destacado do ofício dá conta de que, quando o mapa finalmente foi
apresentado aos deputados, em janeiro de 1842, Daniel Pedro Müller já havia falecido e,
portanto, a informação de Azevedo Marques – e todos os autores que seguiram em sua esteira
– estava equivocada. Importava, agora, identificar quando e como teria morrido Müller.
Na edição de número 193, de 30 de agosto de 1841 do Diário do Rio de Janeiro, foi
publicada a “Necrologia do Marechal de Campo Daniel Pedro Müller”, de onde destaca-se:
219 No acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, há uma carta de Daniel Pedro Müller, datada de 1ºde Abril de 1840, na qual o marechal apresenta uma memória dos Campos de Guarapuava. Nesta mesma carta,Müller reclama de não ter recebido resposta a um ofício enviado ao Instituto em julho de 1839, que diziarespeito ao convite o IHGB lhe havia feito para se tornar sócio honorário em 20 de junho daquele ano. [VerIHGB. Coleção Instituto Histórico, lata 141, pasta 69].220 Cf. Augusto Victorino Alves Sacramento Blake. Op. Cit., pp. 160-161.221
Cf. Manuel Eufrázio de Azevedo Marques. Apontamentos Históricos, Geográficos, Biográficos, Estatísticos e
Noticiosos da Província de São Paulo... 2ª ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1954, v. 1, p. 212-213.222 Até mesmo trabalhos recentes como a tese de doutorado de Airton José Cavenaghi incorrem nesteequívoco. [Ver Airton José Cavenaghi. Olhos do barão, boca do sertão: uma pequena história da fotografia e da
cartografia no noroeste do território paulista (da segunda metade do século XIX ao início do século XX). São
Paulo, 2004. 313 f. Tese (doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de SãoPaulo, p. 75].223 AH-ALESP, “Ofícios” , caixa 396, n.EE42.022.
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“(...) O Sr. Marechal Muller, cujo nome só por si se recommenda ao amor, respeito eveneração de todos os Brasileiros, e de muitos illustrados estrangeiros, já não existe! Ainexorável parca, ávida de optimos despojos, descarregou com o fatal gume sobre a teia detão preciosa vida o tremendo golpe!”
“Assim, uma vida toda consagrada ao serviço público por uma serie de factos honrosos,
uma existência toda de intelligencia e saber, eis quanto essa tyranna cortou sem piedade, sem esperança e sem retorno, no dia 1.º de agosto de 1841, pelas cinco horas da tarde nacidade d e S. Paulo”. 224
Mais do que a data, o necrológio informa o horário aproximado em que Müller teria
morrido. Portanto, segundo os documentos mencionados acima, Daniel Pedro Müller faleceu
em 01 de agosto de 1841, por volta das 17 horas.
A causa da morte de Daniel Pedro Müller, porém, ainda é um tanto nebulosa. Em
Aviso datado de 18 de agosto de 1841, José Clemente Pereira, então ministro da Guerra,
dirige-se ao presidente da Província de São Paulo da seguinte maneira ao tratar da morte deDaniel Pedro Müller:
Aviso de 18 de agosto de 1841, em resposta do ofício desta presidência sob nº 137 de 6 domesmo mês.
Ilmo. e Exmo. Sr. – Levei à Presença de Sua Magestade O Imperador o ofício sob nº 137,de 6 do corrente mês em que V. Exª. participa o lastimoso fim do Marechal de Camporeformado Daniel Pedro Müller; cuja perda, por uma maneira tão deplorável, muito
sensibilizou o Paternal Coração do Mesmo Augusto Senhor. E respondendo a outra partedo citado ofício, em que V. Exª pondera a falta que faz ao serviço público da Província deSão Paulo tão bom servidor do Estado; comunico a V. Exª,, que nesta data se expedem asconvenientes ordens para que o 1º Tenente de Engenheiros Manuel José de Araújo partaquanto antes, a apresentar-se a V. Exª – Deus Guarde a V. Exª – Palácio do Rio de
Janeiro, 18 de agosto de 1841 – José Clemente Pereira – Sr. Presidente da Província deSão Paulo”. 225
Outras obras e documentos, assinados por diferentes autores, quando mencionam a
causa da morte do marechal Müller, sempre acrescentam adjetivos como “trágica”,
“lastimosa”, ou “deplorável”. Tal incômodo, talvez, deva-se ao fato de Müller provavelmente
ter cometido suicídio por afogamento no rio Pinheiros, que corria junto à sua propriedade.
Sobre este assunto, verificou-se que, Antônio Barreto do Amaral, ao pesquisar asorigens do bairro de Pinheiros, encontrou uma informação de que Daniel Pedro Müller viveu
naquele bairro na primeira metade do século XIX, tendo sido proprietário de uma chácara que
“cobria mais de 400 mil metros quadrados, denominada Água Branca” . 226 Para obter tal
224 Cf. NECROLOGIA do Marechal de Campo Daniel Pedro Müller. Diário do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p. 2,30 ago. 1841.225 Aviso resgatado por Antônio Egydio Martins no Arquivo Público do Estado de São Paulo e publicadooriginalmente em 1912. [Ver Antônio Egydio Martins. São Paulo Antigo (1554-1910). São Paulo: Paz & Terra,
2003, pp. 478-479].226 Cf. Antonio Barreto do Amaral. O bairro de Pinheiros. 3ª ed. São Paulo: Secretaria de Educação e Cultura,1985, p. 60.
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informação, Amaral dá conta de que utilizou-se de um artigo de Francisco de Assis Carvalho
Franco, intitulado “Sobre o Marechal de Campo Daniel Pedro Müller” que, por sua vez,
contém nada menos do que a transcrição da íntegra do inventário de Müller. 227
Segundo este inventário, “Müller estava individado [sic] pelo facto da publicidade
das suas obras”. De acordo com apontamentos do próprio marechal neste documento, ele
devia 1:500$000 a Antônio da Silva Prado; 980$000 a um Sr. Antônio Barbosa; 190$000 ao
Sr. Francisco José de Azevedo e 600$000 ao Sr. Tobias. 228 Somente com os valores que
aparecem listados no inventário, constata-se que as dívidas de Müller perfaziam um total de
3:270$000. A título de comparação, os escravos arrolados no mesmo inventário (dezesseis ao
todo) foram avaliados entre 525$000 e 300$000 cada, para os adultos.
Como tentativa de levantar dinheiro para saldar suas dívidas, Müller adotou uma
estratégia que, como ele mesmo descreve, acabaria afundando-o ainda mais:
“Por ultimo convem notar que quando eu vi que devia ao Sr. Barbosa 400$000 e ao Sr.Tobias 600$000 foi quando me dei ao trabalho de fazer os meus trabalhos literários de quecontava lucro, pois nunca desejei empenhar-me, eis senão quando o Faria, sem calculo,vai mandando imprimir a obra, eu fiquei alcançadissimo, por falta de meios delle
procedentes, queria nisso obsequiar-me, é o que julgo, para depois de completo tudo para se indemnisar. (...) Eis ahi como ocorreu a minha desgraça, desejando fazer bem a minhacasa, fiz tanto mal!!!”. 229
Assim, a morte de Daniel Pedro Müller, designada pelo ministro da Guerra como
“lastimosa” e ocorrida “de maneira tão deplorável”, tendo “consternado” o coração de D.
Pedro II, teria se dado por afogamento, tendo o corpo sido encontrado junto à ponte rio
Pinheiros, tal como informa Nuto Sant’Anna. 230
Müller deixou seis filhos, sendo cinco mulheres e um homem, todos de seu primeiro
casamento, com Gertrudes Maria do Carmo. 231 Tendo contraído segundas núpcias com Maria
Fausta de Castro, viúva de Antônio Manuel de Melo Castro e Mendonça, ex-capitão general e
governador da capitania de São Paulo (1797-1802), Müller foi padrasto do conselheiro
Antônio Manuel de Melo (1802-1866), engenheiro militar que chegou a ocupar o posto deministro da guerra em duas ocasiões: em 1847 e em 1863.
227 Cf. Francisco de Assis Carvalho Franco. Sobre o Marechal de Campo Daniel Pedro Müller. In: Revista do
Instituto de Estudos Genealógicos. São Paulo, ano 3, n. 5, pp. 28-31, jan./jun. 1939.228 Ninguém menos que Rafael Tobias de Aguiar, presidente da província de agosto de 1840 a julho de 1841.[Ver Francisco de Assis Carvalho Franco. Op. Cit., p. 30].229
Cf. Francisco de Assis Carvalho Franco. Op. Cit., p. 30.230
Cf. Nuto Sant’Anna. O obelisco do Piques. In: Metrópole. (Vol. 2) São Paulo: Departamento de Cultura, 1952,pp. 66.231 Cf. Francisco de Assis Carvalho Franco. Op. Cit., p. 29.
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Necessidade de se imprimir novos mapas provinciais
Nos Anais da Assembleia Legislativa Paulista para o ano de 1835, foi registrada a
informação de que na 8ª sessão ordinária, realizada em 11 de fevereiro daquele mesmo ano,
foi lido o seguinte parecer:
“A Commissão de Commercio e Industria e Trabalhos Publicos á vista da representação doCap. João M. de Miranda Rezende em que indica os pontos de direccção que se deve tomar
para a abertura das estradas para Goyaz e Cuiabá não póde dar um parecer por falta de Mappa Provincial, por isso é de parecer se pessa ao Governo um Mappa da Provincia para avista delle fundar as suas razões de conveniência, e satisfazer com seu parecer”. 232
Portanto, uma representação enviada a campo para dar seu parecer sobre quais os
melhores pontos para a construção de estradas em direção a Goiás e Cuiabá, se diz
impossibilitada de fazê-lo por não possuir um “Mappa Provincial”. Para solucionar o problema, a representação solicita, por fim, que a Assembleia envie o referido mapa para que
se possa dar um parecer definitivo. Dias depois, aos 17 de fevereiro de 1835, durante a 11ª
sessão ordinária da Assembleia, o secretário lê um ofício enviado pela Secretaria de Governo
em resposta a esta solicitação:
Apresentei ao Exmo. Sr. presidente o officio de V. S. datado de 14 do corrente, em quecommunica haver a Assembléa Legislativa Provincial resolvido que se pedisse ao Governohum mappa da Provincia para á vista delle a Comissão de Industria, Commercio e Trabalhos
Publicos emittir a sua opinião sobre os negócios commettidos ao seu exame; e S. Exc.Ordenou que enviasse o único mappa que há na Secretaria deste Governo pedindo arestituição delle logo que for possível. 233
Entre os anos de 1835 a 1842, período recortado neste trabalho, há uma série de
ofícios e pareceres semelhantes a estes registrados nos Anais da Assembleia Legislativa de
São Paulo. Tais documentos revelam que os mapas provinciais tinham um uso bastante
prático, sendo enviados a campo para orientar representações de engenheiros e pessoal técnico
na construção e/ou manutenção de obras públicas, tais como estradas ou pontes. Além disso,
sabe-se que os mapas provinciais anteriores ao produzido por Müller, em 1837, eram todosmanuscritos e, como o documento acima deixa claro, o número de cópias era bastante
limitado, ficando estas guardadas nas secretarias do governo provincial. Havia, portanto, a
necessidade de se fazer um mapa impresso da província para que, através de sua matriz, fosse
possível fazer muitas cópias e, além disso, quando necessário, garantir futuras reimpressões.
O geógrafo francês Yves Lacoste considera a carta como a forma de representação
geográfica por excelência. Para este autor, tal formalização do espaço não é nem gratuita, nem
232 Cf. Anais da ALPSP, 1835, p. 54.233 Cf. Anais da ALPSP, 1835, p. 63.
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desinteressada, mas sim, um meio de dominação indispensável, de domínio do espaço, de
modo que a confecção de uma carta implica num certo domínio político e matemático do
espaço representado, e atua como um instrumento de poder sobre esse espaço e sobre as
pessoas que ali vivem. 234
Desta forma, um aspecto importante que colabora para a compreensão do por que a
Assembleia Legislativa estava encomendando a produção de um mapa provincial impresso, é
o próprio contexto político das Reformas Liberais ocorridas no Brasil logo após a abdicação
de D. Pedro I, em 1831, especialmente a relativa autonomia conferida às elites dirigentes
regionais pelo Ato Adicional de 1834. A criação das Assembleias Legislativas Provinciais
delegou às elites de cada província parte do poder tributário, coercitivo e legislativo a ser
exercido na região, transformando a natureza dos poderes locais em relação ao Rio de
Janeiro.235
Fazendo uma análise comparativa, em artigo no qual discorre sobre a construção do
Estado nacional espanhol no século XIX a partir de novos modos de governar o território, o
historiador espanhol Juan Pro Ruiz observa que tão logo a divisão provincial da Espanha foi
aprovada, em 1833, era imperativo que o novo aparelho estatal administrativo dispusesse de
mapas que lhe permitisse o conhecimento do território. 236 Era necessário criar uma
cartografia de Estado e foi nesse contexto que delegou-se ao chefe político – posto
equivalente ao de presidente da província no Brasil pós-Independência – a responsabilidade
de levantar o mapa de sua própria província. Para tal fim, fundou-se na Espanha, em 1835, a
Escola de Engenheiros Geógrafos com o objetivo de levantar um mapa topográfico nacional
conforme proposto pelo diretor nomeado para essa Escola, Domingos Fontán. 237
No caso de São Paulo, foi somente a partir da conquista da relativa autonomia
tributária que o então recém-constituído governo provincial teve a possibilidade de tocar uma
política econômica orientada para o desenvolvimento material da província, de modo que a
necessidade de investir no crescimento da agricultura de exportação pode se materializar naforma do reinvestimento dos recursos arrecadados em estradas que ligassem o interior da
234 Cf. Yves Lacoste. A Geografia – isso serve em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus, 1988 , p.23.235 Cf. Miriam Dolhnikoff. Caminhos da conciliação: o poder provincial paulista (1835-1850). São Paulo, 1993.145 f. Dissertação (Mestrado em História Econômica) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,Universidade de São Paulo, p. 10.236
Cf. Juan Pro Ruiz. A concepção política do território e a construção do Estado espanhol: cartografia, cadastro
e administração. In: ALMEIDA, Pedro Tavares de; BRANCO, Rui Miguel C. Burocracia, Estado e Território:Portugal e Espanha (séculos XIX e XX). Lisboa: Horizonte, pp. 183-185.237 Cf. Juan Pro Ruiz. Op. Cit., p. 189.
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província ao porto de Santos, com o claro objetivo de escoar a significativa produção
açucareira das vilas do interior.
Assim, de modo similar à cartografia de Estado espanhola, tal como descrito por Pro
Ruiz, tornava-se extremamente necessário à elite política de São Paulo o conhecimento
detalhado de sua província, especialmente quanto à sua capacidade tributária, para que, desta
forma, fosse possível planejar os investimentos e, desta maneira, exercer os novos poderes
com a relativa autonomia que acabavam de receber Governo central.
Não por acaso, além da lei que encomendou a confecção da estatística e do mapa
provincial, a Assembleia também aprovou no mesmo ano outras duas leis muito relevantes
neste contexto: a lei nº 10, que criava na capital o Gabinete Topográfico; e a lei nº 11, que
determinava a criação de barreiras em todas as estradas já existentes ou que se abrissem a
partir da promulgação da lei. Como se sabe, as barreiras estabeleciam taxas cujo valor seria
revertido à manutenção ou melhoria das mesmas estradas.
Desta maneira, não cabe exagero afirmar que além das necessidades práticas para
resolver problemas específicos na construção e manutenção de estradas e pontes no interior da
província, havia também motivações políticas, administrativas e econômicas por trás da
encomenda deste mapa. Nesse sentido, a decisão de se fazer um mapa impresso, e não
manuscrito, também passa pela necessidade de ampliar a circulação disponibilizar várias
cópias às diferentes secretarias e órgãos administrativos da província.
O desenho do mapa por Daniel Pedro Müller (1836-1837)
Depois que a Assembleia Legislativa da Província de São Paulo encomendou, em
1835, juntamente com a estatística provincial, uma carta corográfica da Província de São
Paulo, foram necessários dois anos para que Daniel Pedro Müller concluísse o desenho dessa
carta. Contudo, embora tivesse concluído o trabalho em 1837, por questões que serão
discutidas mais adiante, o mesmo ainda não pode ser impresso, o que acabou atrasando a
publicação da estatística que, a essa altura, também já havia sido concluída.
Procurando elucidar como se deu a elaboração do desenho desta carta, buscou-se por
trabalhos que dessem notícias quanto às diferentes fontes utilizadas por Müller na confecção
de sua carta, bem como considerações de estudiosos da cartografia quanto à acurácia e
qualidade do trabalho realizado por Müller.
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A preparação de uma carta como a de Müller exige, não apenas conhecimento
técnico específico, mas também uma boa experiência e uma vasta quantidade de informações
sobre o território vindas de diversas fontes. Na produção de mapas, era bastante comum que
os cartógrafos partissem de uma ou algumas boas cartas já existentes e seguissem
complementando ou corrigindo o que não estivesse de acordo com novas informações obtidas
em campo que eram enviadas ao cartógrafo. Este parece ter sido o caminho escolhido pelo
marechal para a confecção de seu mapa e, talvez por isso mesmo, o próprio Müller refira-se a
si mesmo como compositor do Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo na
dedicatória que escreveu a Bernardo José Pinto Gavião Peixoto no cartucho de sua carta, onde
se lê: “com reconhecimento de amizade do compozitor [sic]”. (Ver Figura 5).
Müller recolheu uma grande quantidade de notas pessoais e conhecia todas as
expedições e repertório cartográfico existente até 1837, como as de Antônio Rodrigues
Montezinho, João da Costa Ferreira, Rufino José Felizardo e Costa, Frederico Luiz Guilherme
de Varnhagen e José Joaquim de Abreu. 238 Além disso, quando esta carta foi composta,
Müller já tinha boa experiência no desenho cartográfico, pois àquela altura, como destacou-se
anteriormente, já fora designado a levantar uma carta geográfica e estatística da capitania de
São Paulo, “a imitação do de Mr. Le Sage”, em 1815, além de uma carta para a comarca de
Curitiba e Campos de Guarapuava, naquele mesmo ano, a qual destaca-se abaixo. 239
238 Cf. Affonso d’Escragnole Taunay. Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo. In: Museu Paulista.
Collectanea de Mappas da Cartographia Paulista Antiga.(Cartas de 1612 a 1837, acompanhadas de brevescomentários por Affonso D'Escragnolle Taunay). São Paulo: Cia Melhoramentos de São Paulo, 1922, p. 7239 Cf. Manoel da Cunha de Azeredo Sousa Chichorro. Op. Cit., p. 208
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Figura 4: Detalhe do Mappa do Campo de Guarapuav[a] e Territórios cor[...], por Daniel Pedro Müller [c. 1815].Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Assim, dada a experiência e a quantidade de informações que Müller havia
conseguido reunir sobre a província de São Paulo nos anos em que ali permaneceu, é possívelcompreender por que a Assembleia Provincial encomendou justamente a ele a confecção do
mapa provincial. Vale lembrar que, a esta altura, João da Costa Ferreira há muito já havia
falecido (1822). Certamente, em 1835, Müller era o engenheiro militar mais experiente e
preparado disponível na província de São Paulo para a execução daquela tarefa.
Quanto a acurácia do mapa desenhado por Müller, é também Taunay a fonte que
melhor tratou o assunto. Segundo o antigo diretor do Museu Paulista, o perfil da costa
desenhado por Müller, “tem muita cousa perfeitamente exacta, e muitas latitudes nelle
marcadas correspondem aos pontos certos”. Contudo, Taunay também reconhece muitas
lacunas no mapa, tal como a confluência dos rios Grande e Paraíba, que foram
equivocadamente situadas e chama atenção para a descrição do interior das terras, que é onde
se encontram os maiores equívocos da carta. Segundo Taunay: “não existe curso de rio que
corresponda à realidade de sua posição”. 240
240 Cf. Affonso d’Escragnole Taunay. Op. Cit., p. 7.
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A impressão do mapa em Paris (1841)
Em 1837, ano em que Daniel Pedro Müller concluiu seu mapa, não seria tarefa das
mais fáceis conseguir a impressão de uma carta nas proporções daquela desenhada por
Müller. No Brasil, a imprensa desembarcou junto com a transferência da Corte portuguesa ao
Rio de Janeiro, em 1808, passando a funcionar naquele mesmo ano, tendo publicado, dentre
outras obras, um livro de autoria de José da Silva Lisboa, futuro Visconde de Cairu, As
observações sobre o comércio franco...241 Em São Paulo, a imprensa era ainda mais recente e
sua instalação na capital está intimamente ligada à criação da Academia de Direito, instituída
por decreto de 11 de agosto de 1827.242 Segundo Rubens Borba de Moraes, a instalação da
Academia em São Paulo criou a necessidade de se imprimir ali manuais para os alunos.243
Não por acaso, um dos primeiros livros publicados na capital paulista foi um volume
impresso em 1836 na Tipografia de Costa Silveira, intitulado Questões sobre presas
marítimas, de José Maria de Avelar Brotero, primeiro lente da Academia de Direito. Dois
anos mais tarde, a mesma tipografia acabaria publicando o Ensaio d’um quadro estatístico da
Província de S. Paulo, de Daniel Pedro Müller. 244
241 Segundo Borba de Moraes, o Visconde de Cairu foi o autor que mais obras publicou na Impressão Régia.
[Ver Rubens Borba de Moraes. A Impressão Régia do Rio de Janeiro: origens e produção. In: Ana Maria deAlmeida Camargo; Rubens Borba de Moraes. Bibliografia da Impressão Régia do Rio de Janeiro. São Paulo:Edusp/Cosmos, 1993, pp. XVII-XXXII.]242
Cf. Cláudia Marino Semeraro. Início e desenvolvimento da tipografia no Brasil. In: MASP. História da
Tipografia no Brasil . São Paulo: Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia do Governo do Estado de São Paulo,1979, p. 18.243 Cf. Rubens Borba de Moraes. O bibliófilo aprendiz. Brasília/Rio de Janeiro: Briquet de Lemos/Casa daPalavra, 2005, p. 189.244
Segundo Borba de Moraes, a estatística de Müller impressa pela Tipografia de Costa Silveira foi considerado,equivocadamente, por muitos autores como o primeiro livro impresso na província. [Ver Rubens Borba deMoraes. Op. Cit., p. 189].
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Figura 5: Frontispícios das obras de José Maria de Avelar Brotero (1836) e Daniel Pedro Müller (1838),impressas pela Tipografia de Costa Silveira. Fonte: MASP. Histporia da Tipografia no Brasil, p. 211.
Desta forma, ao se investigar a razão de o mapa concluído por Müller em 1837 ter
sido enviado a Paris para ser impresso, encontrou-se um ofício bastante revelador no Arquivo
Público do Estado, datado de 24 de agosto de 1837, no qual o então secretário da Assembleia,
tenente coronel Joaquim Floriano de Toledo, acusa o recebimento de ofício enviado por
Bernardo José Pinto Gavião Peixoto, então presidente da província, encarregando-o de
litografar o mapa que Müller havia acabado de concluir. Porém, Toledo o informa que não
estava conseguindo litografar o mapa no Rio de Janeiro, por causa do tamanho deste, das
condições climáticas do país e do custo de se litografar um mapa nestas condições:
“(...) nem o Governo tem conseguido fazer lytografar um mappa (...) na officina, q por suaconta tem estabelecido, e uma particular que existe apenas senão para caricaturas, e q por
conseguinte impossível he lytografar um mappa em parte tão grande, como o do q se trata.Consultando por pessoas entendidas, ellas me dizem que quando fosse mesmo possível estearranjo em diferentes pedras, que se reunissem, se poderia tirar somente 34 exemplares com orisco de apparecer no meio do trabalho algumas manchas, ficando por isso perdido otrabalho, e a despesa, o q hé muito fácil e mesmo tem acontecido, em rasão do grande calor ehumidade do Pais, devendo de mais montar em grande soma a despesa. Ainda acresce que não
se poderia jamais tirar hua duplicação”.245
245 APESP, “Ofícios” , caixa 79, pasta 2, documento 67.
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Importante observar, portanto, que a ideia original do governo provincial era
litografar o mapa preparado por Müller, e não imprimi-lo. 246 Contudo, essa técnica não era
recomendada em função do tamanho do mapa, da exígua quantidade de cópias que se poderia
obter através desta técnica, da impossibilidade de duplicação uma vez concluída a operação e,
em função das condições climáticas do país, da pobreza da qualidade final que resultaria o
trabalho se, mesmo assim, se tentasse obter os mapas por este meio.
No mesmo ofício destacado acima, Floriano de Toledo revela como foi aconselhado
para que se obtivesse o mapa, justificando as vantagens de mandá-lo imprimir na França:
“(...) Julgam por tanto [pessoas entendidas sobre impressão consultadas por Floriano na Corte]de mais vantagem reduzir-se o Mappa a trés palmos de cumprimento, e dois e meio de largura,e então abrir-se hua chapa de cobre para tirar por meio delas quantas porções a quiserem,
sendo a chapa conduzida para a Provincia, pois q ainda quando houvesse chapa do tamanho
actual do Mappa, q não há nesta corte, viria a importar somente a abertura em 1600$, e em França, attenta a baratesa da mão de obra em 1200$. Preferem este expediente até por quehavendo grandes espaços em claro no Mappa correspondentes aos lugares e sertoensdesconhecidos, parece mais conveniente abrir-se a chapa de cobre por que a todo tempo se
pode emendar os erros, ou fazer acrescentamentos a proporção das descobertas deexplorações que se realizarem n’esses lugares”.247
Além de revelar os preços pagos para a impressão do mapa, o ofício dá conta de que
foi sugerido a Joaquim Floriano de Toledo a redução das dimensões originais da carta
desenhada por Müller. 248 Além disso, explica que por não haver chapa no tamanho atual
daquele mapa no Rio de Janeiro, além de ser mais barato prepara-la na França, já que a mãode obra para este serviço era bem mais barata em Paris do que na Corte, eram razões que
justificavam o envio da carta de Müller para ser impressa na França.
Também vale ressaltar a explicação apresentada no ofício pela preferência em se
abrir uma chapa de cobre em lugar da litografia. Segundo o texto, a abertura da chapa de
cobre seria a técnica mais indicada, pois esta permite que correções e acréscimos sejam feitos
posteriormente conforme as expedições e colonizações do interior da província forem sendo
246 Àquela época, a litografia era uma técnica bastante recente tanto no Brasil quanto na Europa. Segundo
Cláudia Marino Semeraro, o Brasil conheceu a litografia logo após esta ter sido definitivamente introduzida nospaíses europeus. Em 1817, chamado por D. João VI, o artista de Bordeaux, Arnaud Julie Palière (1783-1862),chegava ao Rio de Janeiro. Anos mais tarde, em 1822, Palière foi contratado como professor da AcademiaMilitar já com uma oficina de litógrafo. O material litográfico teria vindo da Europa por encomenda do diretordo Arquivo Militar ao basileano Johann Jacob Steinmann. [Ver Cláudia Marino Semeraro. Início e
desenvolvimento da tipografia no Brasil. In: MASP. História da Tipografia no Brasil . São Paulo: Secretaria deCultura, Ciência e Tecnologia do Governo do Estado de São Paulo, 1979, p. 10].247
APESP, “Ofícios” , caixa 79, pasta 2, documento 67.248
Se levarmos em conta que um palmo seria o equivalente a 22 cm, tal sugestão parece não ter sido atendida,haja vista o tamanho das cópias impressas do mapa que se encontram guardadas nos diferentes acervospesquisados. A cópia disponível na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, por exemplo, mede 104 x 152 cm.
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realizadas. Tal operação é ainda mais facilitada pelo fato de o mapa contar com grandes
espaços em branco nos assim chamados sertões desconhecidos.
Três anos mais tarde, em 1840, encontrou-se um ofício de Bernardo José Pinto
Gavião Peixoto enviado a Manuel Machado Nunes, então presidente da Província, prestando
contas de suas atividades quando era presidente da província para a impressão do mapa:
“(...) sobre a encommenda do Mappa Corografico desta Provincia , cumpre-me participar a V. Exa. que em 20 de Março de 1837 tendo dedicado me o Sñr marechal Daniel Pedro Muller para a commemoração de nossa antiga amizade, o Mappa referido e considerando enquantoera interessante na tal requisição para a Provincia recommendei ao Sñr. tenente coronelToledo, que se achava no Rio de Janeiro, para o fazer lytografar ou naquela Corte, ou em
França, cujo conseguimento foi paralisado pelos motivos mencionados nas ditas declaraçõesás quais inteiramente me refiro. (...) Finalmente tomei sobre mim não só a remessa do Mappanovamente para a França afim de ser gravado em chapa de cobre, mas também o acréscimoda despesa ali, visto ter-se conhecido que a quantia de 600$00 consignada pela Fasenda
Provincial era insufficiente, esperando ter a satisfação de entregar ao Governo oitenta ou cemexemplares do Mappa, justamente com a respectiva chapa para extrahirem-se as mais queconvier (...)”.249
Datado de 25 de junho de 1840, o ofício revela a data exata em que Daniel Pedro
Müller concluiu o desenho da carta, 20 de março de 1837. Mais que isso, informa o valor
designado pela Assembleia Legislativa para o pagamento de sua impressão, 600$000, valor
este insuficiente para a contratação do serviço, uma vez que o presidente teve que
complementar, ele mesmo, o dito valor para dar conta da impressão do mapa. Por fim,
também fica conhecida a quantidade aproximada de cópias que seriam entregues aAssembleia assim que os mapas retornassem da França, de 80 a 100 cópias do mapa,
juntamente com a chapa de cobre.
Ainda sobre a impressão do Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo, uma
peculiaridade observada nas cópias disponíveis nos diferentes acervos pesquisados, sugere
que a chapa de cobre tenha passado por uma correção no Brasil após ter chegado de Paris.
O acervo cartográfico da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro possui três cópias do
mapa de Müller. Nelas observa-se que o cartucho do mapa possui a seguinte configuração:
249 APESP, “Ofícios” , caixa 85, pasta 3, documento 10.
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Figura 6: Detalhe do cartucho do Mappa Chorographico da Provincia de San Paulo, de Daniel Pedro Müller. Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Observe que no título desta cópia do mapa a província foi nomeada como SAN
PAULO e, em sua dedicatória, o nome do então presidente da província foi grafado como
JOZÉ PINTO XAVIÃO PEIXOTO.
Já nos cartuchos dos mapas guardados nos acervos do Arquivo do Estado de São
Paulo e da Huntington Library, nos Estados Unidos, verificou-se a seguinte configuração:
Figura 7: Detalhe do cartucho do Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo , de Daniel Pedro Müller.Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo.
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Como se pode observar, as mesmas informações destacadas anteriormente aparecem
grafadas de maneira distinta, respectivamente como SÃO PAULO e GAVIÃO.
A constatação de tais diferenças sugere que a placa de cobre original, vinda de Paris
juntamente com as cem cópias do mapa, passou por uma correção ortográfica já no Brasil,
uma vez que tanto o nome da província como o de seu presidente, a quem o mapa foi
dedicado, foram grafados equivocadamente pelo gravador francês, Alexis Orgiazzi. Destarte,
não cabe exagero afirmar que, além das cem cópias impressas na França, o Mappa
Chorographico da Provincia de São Paulo, teve um novo número de cópias impressas,
provavelmente no Brasil, a partir da matriz antiga, mas com as informações do cartucho já
corrigidas. Infelizmente não foi possível localizar documento algum que fizesse referência,
quer à correção do mapa, quer a esta reimpressão, o que impossibilita saber exatamente local,
data e número de cópias da nova impressão. Além disso, não se pode precisar a quantidade de
cópias do mapa colocadas em circulação. Pelo que acaba de ser exposto, sabe-se apenas que
são mais do que as cem cópias originais vindas da França.
Apresentação do mapa aos deputados da Assembleia Legislativa Provincial (1842)
Um ofício datado dos primeiros dias de 1842, quase cinco anos após Müller ter
concluído o desenho de seu mapa, e sete após o mesmo ter sido encomendado pela
Assembleia Provincial, revela que o então presidente da província solicitava ao secretário da
Assembleia que finalmente se apresentasse aos deputados o mapa feito pelo marechal Müller:
“De ordem do Exmo. Sñr. presidente da Provincia tenho a honra de passar ás mãos de V.S., para que se digne apresentar á Assembléa Legislativa Provincial um exemplar do
Mappa Chorographico d’esta Provincia, desenhado pelo fallecido marechal Daniel Pedro Muller, e mandado gravar em Paris pelo Governo da Provincia. Vierão cem exemplares
acompanhados da chapa em que foi aberto o mappa, e muitas pessoas tem queridocomprar, mas sua Exa. não tem querido mandar vender, sem que a Assembléa tenharesolvido sobre o destino que devem ter ; por isso, V. S. terá a bondade de communicar mequalquer resolução que a mesma Assembléa tomar a respeito para conhecimento e direçãodo Governo”.250
O ofício confirma a informação passada previamente por Gavião Peixoto ao
presidente da província em 1840, de que viriam da França, além da chapa de cobre, de 80 a
100 cópias do mapa.
250 AH-ALESP. “Ofícios” , caixa 396, número EE42.022.
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Logo após ter sido apresentado aos deputados, os parlamentares tiveram que decidir,
tal como solicitava o presidente da província, o destino a ser dado às cópias que haviam
acabado de chegar da França. Assim, um parecer da Assembleia Provincial, datado de 03 de
março de 1843, informa que:
“As comissões reunidas de Fazenda e Estatística, tendo em c onsideração o ofício do governo, acompanhando um exemplar do mappa chorographico desta Provínciadesenhado pelo falecido marechal Müller, mandado gravar em Paris, declarando o mesmo
governo que vierão cem exemplares, bem assim a chapa em q forão abertos, q muitas pessoas as tem querido comprar, porém que não se julgando para isso habilitado pede portanto a essa Assembléa que delibere a este respeito o que mais convier. São por issoalgumas comissões do parecer - que tirados tantos exemplares qto sejão necessários para
ficar com 2 na secretaria do mesmo governo, 1 na secretaria do thesouro provincial, 3 na secretaria desta Assembléa, mais 7 para serem remettidos aos juises de direito das settecomarcas. [ilegível] os demais [ilegível] fazer vender, por preço rasoável, qtos possãorestar”.251
Portanto, os deputados da Assembleia distribuíram alguns exemplares do mapa entre
as Secretarias e Comarcas. Embora esta parte do parecer seja de difícil leitura por causa das
rasuras do documento, identificou-se que foi autorizada a venda, “por preço razoável”, dos
mapas que restassem após a distribuição indicada pela Assembleia. Infelizmente, o parecer
não informa quanto seria o preço razoável ou a quem se poderia vender essas cópias.
Embora tivessem sido encomendados juntos, pela lei nº. 16 de 11 de abril de 1835,
verificou-se que entre a impressão da estatística, em 1838, e a do mapa, em 1841, houve uma
diferença de pouco mais de três anos. Normalmente encarados como peças complementares
por intelectuais e políticos da época, o fato desta carta não ter sido impressa junto com a
estatística com a qual foi encomendada, acabou determinando com que ambos viessem a ter
“vidas próprias” após suas respectivas impressões, não só circulando separadamente por
órgãos administrativos, coleções e bibliotecas, mas também sendo frequentemente tratados e
analisados por pesquisadores como peças separadas, sem nenhuma conexão uma com a outra
a não ser a autoria de Daniel Pedro Müller.
A análise separada desses objetos diminuiu a importância do contexto político que
envolve a produção de ambos, especialmente quando se leva em conta apenas a data de
impressão de estatística e mapa separadamente, e não a data da encomenda, meses após a
abertura da Assembleia Legislativa Provincial, em 1835. Como se buscou demonstrar, esses
artefatos devem ser considerados produtos de uma sociedade marcada politicamente pela
conquista de uma relativa autonomia administrativa e tributária, ambos com fim de aumentar
251 AH-ALESP, “Pareceres” , caixa 396, número EE43.014
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o conhecimento que a elite política tinha da província que passariam a administrar a partir das
novas condições determinadas pelo Ato Adicional, de 1834.
Circulação
Logo após a distribuição do mapa tal como os deputados da Assembleia Provincial
haviam decidido em 1843, encontrou-se pouca informação referente à circulação do mesmo,
quer entre os órgãos administrativos provinciais, quer em coleções e bibliotecas ao redor do
Brasil e também no exterior.
No entanto, das primeiras cópias do mapa de Müller a circular, antes mesmo de ele
ter sido apresentado aos deputados paulistas, foi uma oferecida ao Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro pelo então presidente da província de São Paulo, Miguel de Sousa
Mello e Alvim. Segundo ofício datado de 05 de outubro de 1841, e destinado ao secretário
perpétuo do IHGB, Cônego Januário da Cunha Barbosa (1780-1846):
“Chegando a pouco de Pariz, um mappa chorographico desta província desenhado pelo falecido marechal Daniel Pedro Müller, e mandado gravar por um de meus antecessores, econsiderando-a eu o mais exacto dos que até o presente se tem feito, lembrei-me que seriaagradável ao Instituto Historico e Geografico Brasileiro, do qual me honro de ser membro,
possuir um exemplar do referido mappa, e em consequência resolvi enviar a V. Sª para fazer presente ao Instituto o exemplar que a este acompanha em uma lata feixada elacrada”.252
Vale lembrar que o cônego Januário da Cunha Barbosa, a partir de novembro de
1839, acumulou sua função de secretário perpétuo do IHGB, com a de bibliotecário da
Biblioteca Pública da Corte, que anos mais tarde passou a se chamar Biblioteca Nacional. Tal
fato talvez explique a razão pela qual atualmente o acervo do IHGB não disponha desta cópia,
que lhe foi oferecida ainda em 1841, enquanto a Biblioteca Nacional tenha em seu acervo
cartográfico três cópias disponíveis para consulta.
Além da cópia oferecida ao IHGB, também foi possível identificar outro exemplar
que pertenceu a Antônio Moreira de Barros (1841-1896), ex-ministro das relações exteriores
do Império do Brasil entre os anos de 1879-1880. Décadas após a impressão do mapa, Barros
presenteou o exemplar que dispunha em sua coleção pessoal a ninguém menos que Sir
Richard Francis Burton, para que este pudesse realizar melhor sua viagem ao interior da
província paulista. Atualmente, esta cópia foi localizada na coleção de obras raras da
Biblioteca Huntington, nos Estados Unidos, na qual consta no verso uma dedicatória de
252 BNRJ, “Manuscritos” , Coleção José Carlos Rodrigues, I-3, 11, 27.
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Moreira de Barros a Burton, que informa a data exata em que o mapa foi presenteado a este
último: 14 de fevereiro de 1866. 253
Este exemplar do mapa de Müller é único, pois está repleto de anotações pessoais do
próprio punho de Sir Richard Francis Burton, incluindo uma série de correções de cursos e
nomes de rios, acréscimos de fazendas, taperas e povoados, além da atualização de nomes e
posições de estradas pelas quais, conforme o ilustre viajante ia atravessando, verificava a
informação no mapa, e ia apontando as correções diretamente em sua cópia da carta.
Abaixo destaca-se um trecho deste exemplar bastante especial do mapa de Müller, no
qual é possível observar claramente as anotações de Richard Burton, em especial, as correções
de cursos de rios que, como Taunay destacara, não correspondiam com a realidade.
Figura 8: Detalhe do Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo , de Daniel Pedro Müller, com anotaçõesde Sir Richard Francis Burton. Fonte: Huntington Library, Califórnia, EUA.
Além das cópias mencionadas, o Catálogo da Exposição de História do Brasil ,
coligido por Ramiz Galvão em 1881, traz uma referência de que o mapa de Daniel Pedro
Müller foi exibido nessa exposição. Ali, na seção intitulada Chartas geographicas,
hydrographicas e topographicas, o mapa aparece referido da seguinte maneira:
“19460 – Mappa chorographico da provincia de São Paulo des. por Daniel Pedro Müller,... segundo as suas observações e esclarecimentos que lhe tem sido transmittidos. Anno de1837 & Grave par Alexis Orgiazzi (sic) &. Exp. Barão Homem de Mello”. 254
253 Cf. Daniel Pedro Müller. Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo. Paris: Alexis Orgiazzi, [1841]. 1mapa: 105 x 157 cm. Huntington Rare Books, Sir Richard Francis Burton Map Collection. Huntington Library,
California, EUA. 254 Cf. Ramiz Galvão (org.). Catálogo da exposição de História do Brasil. Brasília: Universidade de Brasília, 1981.Tomo III, p. 1634
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No ano de 1900, no quinto volume da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de
São Paulo, há uma sessão que dá conta do catálogo de livros impressos, manuscritos, mapas e
jornais recebidos pelo dito Instituto durante o ano de 1900. Nessa relação, foi encontrada uma
referência ao “ Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo, pelo marechal Daniel
Pedro Müller – 1837”. 255 Atualmente esta cópia encontra-se disponível no acervo do
Arquivo Público do Estado de São Paulo, uma vez que nesta cópia pode se verificar um
carimbo do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
É interessante observar que em 1922, portanto, oitenta anos após o mapa ter sido
impresso, Affonso d’Escragnole Taunay publica o mapa de Müller em sua já mencionada
Collectanea de Mappas da Cartographia Paulista Antiga. Nela, Taunay informa que àquela
altura, o Mappa Chorographico... já se tratava de “uma carta rara”, tendo o Museu Paulista
obtido uma cópia através de permuta com a Biblioteca Nacional. 256
Ao se pesquisar os Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, verificou-se que
no ano de 1920 aparece registrada a permuta entre a Biblioteca Nacional e o Museu Paulista,
tal como informara Taunay, tendo esta última instituição recebido uma cópia do Mappa
Chorographico da Provincia de São Paulo, em troca de um códice contendo o “Registro de
Requerimentos, nomeações e diversos papéis desde 15 de novembro de 1776 até 9 de julho de
1783 pertencentes à Companhia de Commércio e Navegação de Pernambuco e Parahyba”.257
Seguramente esta é a cópia que se encontra atualmente no acervo do Museu Paulista.
Portanto, além da réplica em fac-símile do mapa, encartado na Collectanea
organizada por Taunay, localizou-se algumas instituições que ainda mantém exemplares do
mapa original em seus acervos. Em São Paulo, uma cópia encontra-se no Arquivo Público do
Estado de São Paulo e outra no Museu Paulista da Universidade de São Paulo. Já no Rio de
Janeiro, identificaram-se três cópias, todas disponíveis na Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. Fora do Brasil, localizou-se apenas uma cópia do mapa na coleção de obras raras da
Biblioteca Huntington, sediada na cidade de San Marino, Califórnia.Desta forma, conclui-se a biografia do Mappa Chorographico da Provincia de São
Paulo, de Daniel Pedro Müller. Tendo partido da análise do próprio mapa em si, em conjunto
com informações provindas da pesquisa de outras fontes documentais, reconstituiu-se toda
trajetória desta carta, desde o momento em que foi encomendada, passando por detalhes de
255 Cf. REVISTA do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.Vol. V, 1899-1900. São Paulo: Typografia do“Diário Oficial”, 1901, p. 388. 256
Cf. Afonso d’Escragnole Taunay. Op. Cit., p. 7.257 Cf. BIBLIOTECA Nacional do Rio de Janeiro. Annaes: 1919-20. Vol. 61-62, Rio de Janeiro: Oficinas Graphicasda Bibliotheca Nacional, 1925, pp. 315-316.
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sua produção, impressão e distribuição, culminando com alguns destaques de sua circulação.
Mais adiante, no capítulo 9 desse relatório, apresenta-se os resultados parciais e considerações
finais sobre a trajetória do Mappa Chorographico da Província de São Paulo.
Em obra clássica que busca analisar a função social da geografia, Yves Lacoste
estabelece como ponto de partida que a geografia serve, em primeiro lugar, para fazer a
guerra. Contudo, logo em seguida adiciona que ela serve também para organizar os territórios,
isto é, para melhor controlar os homens sobre os quais o aparelho de Estado exerce sua
autoridade.258 Assim, a geografia é, para Yves Lacoste, um saber estratégico estreitamente
ligado a um conjunto de práticas políticas e militares que exigem o conjunto articulado de
informações extremamente variadas. Tais práticas estratégicas são, para este autor, o que
fazem com que a geografia se torne necessária àqueles que são os “donos dos aparelhos do
Estado”. De modo que, deve-se tomar consciência de que a articulação dos conhecimentos
relativos ao espaço é um saber estratégico, um poder. 259
Sob esta perspectiva, o conjunto de representações cartográficas e conhecimentos
bastante variados, visto em sua relação com o espaço terrestre e nas diferentes formas de
práticas do poder, forma um saber percebido como estratégico por uma minoria dirigente, que
passará a utilizá-la como instrumento de poder. 260
Assim, se no decorrer do século XVIII a cartografia produzida sobre a capitania de
São Paulo foi profundamente marcada pelo interesse político da Coroa portuguesa em garantir
sua possessão territorial em relação às colônias espanholas localizadas, principalmente, na
região do Rio da Prata – à época, fronteiriça com São Paulo – a reconstituição do processo de
produção do mapa de Müller tem demonstrado que as alterações no contexto político do
Brasil e de São Paulo, especialmente após a Independência do país, determinaram algumas
mudanças nos desígnios da produção cartográfica da região.
Concluído em 1837, período em que o Brasil vivia relativa paz com as novas
repúblicas surgidas após os processos de Independência da América espanhola, a questão da posse do território em relação a essas últimas não estava colocada naquele momento (ao
menos em relação a São Paulo). Assim, o principal objetivo da elite política que assumia
novos poderes através da recém-instituída Assembleia Legislativa Provincial, era conhecer a
província para melhor administrá-la segundo seus interesses. Não por acaso, conforme foi
258
Cf. Yves Lacoste. Op. Cit., pp. 22-23.259 Idem, p. 23.260 Idem, p. 26.
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apontado, tão logo passou a funcionar, em 1835, a Assembleia encomendou a produção de
estatística e mapa provincial, além de ordenar a criação do Gabinete Topográfico.
Através desses instrumentos, os dirigentes paulistas passaram, então, a ter
informação mais atualizada para o planejamento e administração provincial, tais como o
número de habitantes que havia na província, o que e quanto se produzia nela, quais valores
seriam arrecadados pelos novos impostos provinciais, qual o tamanho de sua força coercitiva,
o estado da infraestrutura viária e, até mesmo, os limites conhecidos e disputados da província
com relação às vizinhas Minas Gerais e Rio de Janeiro, ou os limites ditos “desconhecidos”,
na região noroeste do mapa que recebeu a famosa legenda “Sertão Desconhecido”.
Desse modo, no desenho do mapa, mais além do que apontar a localização de vilas e
povoados nas regiões de fronteira e registrar a localização dos fortes na costa e no interior da
capitania – preocupações recorrentes das cartas produzidas no período colonial – esse trabalho
aponta alguns detalhes presentes na obra de Müller que revelam uma preocupação da elite
política paulista com a ocupação do território, seu contingente populacional, o
desenvolvimento da infraestrutura viária e comunicação com o porto de Santos, a produção
agrícola do interior e a capacidade de expansão da ocupação do território no sentido oeste.
Assim, entende-se que não cabe exagero afirmar que tanto a estatística e carta
desenhada por Müller, bem como o Gabinete Topográfico, serviram à elite política paulista
como instrumentos de governo que permitiram a consolidação de um projeto de
autonomização e afirmação dos interesses da economia açucareira e da crescente lavoura
cafeeira, a partir de 1835.
b) A representação do oeste paulista como “Sertão Desconhecido” no Mappa
Chorographico da Província de São Paulo.
Ao tratar da acurácia do Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo, Afonsod’Escragnole Taunay comenta que o perfil da costa desenhado por Müller, “tem muita cousa
perfeitamente exacta, e muitas latitudes nelle marcadas correspondem aos pontos certos”.
Contudo, o antigo diretor do Museu Paulista reconhece a existência de muitas lacunas no
mapa, tal como a confluência dos rios Grande e Paraíba, que foram equivocadamente situadas
e chama atenção para a descrição do interior das terras, que é onde se encontram os maiores
equívocos da carta. Segundo Taunay: “não existe curso de rio que corresponda à realidade
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de sua posição”. 261 No entanto, mais do que as incorreções apontadas, nota-se, também, a
incrível escassez de informações geográficas sobre o interior da província, que aparece
representado no mapa em uma grande área identificada com a legenda “Sertão
Desconhecido” , conforme ilustrado na figura abaixo.
Figura 9: Detalhe da representação do oeste paulista no Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo. Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo.
“Sertão” era o nome que, no período colonial, dava-se às áreas localizadas no interiordo continente, isto é, afastadas do mar, tal como pode ser verificado no dicionário de Rafael
Bluteau, publicado entre os anos 1712-1728: “Sertão. Região, apartada do mar, & por todas
as partes, metida entre terras. Mediterranea Regio. Cit.”.262
Ao contrário do que alguns trabalhos afirmam,263 embora o termo “Sertão
Desconhecido” apareça com grande destaque no mapa de Müller, tal expressão não foi
introduzida ou sequer criada por ele nas representações cartográficas. Tal termo já havia sido
utilizado em mapas anteriores datados do século XVIII e XIX como, por exemplo, nessa carta
261 Cf. Affonso d’Escragnole Taunay. Op. Cit., p. 7.
262 Cf. Raphael Bluteau. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico, architectonico... Coimbra: Collegiodas Artes da Companhia de Jesus, 1712 –1728, v.7, p.613.263 Em sua tese de doutorado, Airton José Cavenaghi afirma que Müller teria introduzido ou criado o termoSertão Desconhecido na cartografia. [Ver Airton José Cavenaghi. Olhos do barão, boca do sertão: uma pequena
história da fotografia e da cartografia no noroeste do território paulista (da segunda metade do século XIX aoinício do século XX). São Paulo, 2004. 313 f. Tese (doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e CiênciasHumanas, Universidade de São Paulo , pp. 80-81].
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manuscrita intitulada Mappa da Capitania de São Paulo, copiado pelo Barão de Eschwege do
original do tenente coronel de engenheiros João da Costa Ferreira, datado de 1811. 264
Figura 10: Mappa da Capitania de São Paulo copiada pelo Barão de Eschwege do original do tenente-coronel deengenheiros João da Costa Ferreira, de 1811. Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Nesta carta, o termo “Sertão Desconhecido” aparece não apenas uma, mas duasvezes: uma a oeste do rio Paraná e ao norte do rio Paranapanema (à direita na Figura 2); e
outra a leste do rio Paraná, limitado pela “Serra de Amambaya”, que então servia de limite
natural com a capitania de Mato Grosso (à esquerda na Figura 2).
Figura 11: Detalhe da representação do oeste paulista como "Certão Desconhecido" no Mappa da Capitania deSão Paulo copiado pelo Barão de Eschwege do original de João da Costa Ferreira, de 1811.
Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo.
264
Cf. Guilherme Eschwege. Mappa da Capitania de São Paulo ligeiramente copiado do original feito peloCoronel Engenheiro Snr. João da Costa Ferreira em o anno de 1811, para o uso próprio do Tenente Coronel de Engº Guilherme, Barão de Eschwege. 1817. 1 mapa, ms. Arquivo Público do Estado de São Paulo, São Paulo.
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Para se compreender melhor a razão que levava cartógrafos a denominarem grandes
áreas de seus mapas com a legenda “Sertão Desconhecido”, é necessário entender a dinâmica
de ocupação do território brasileiro e sua representação nos mapas manuscritos durante o
período colonial, uma vez que tal lógica e prática, como se viu no mapa desenhado por
Müller, foi mantida mesmo após a Independência do Brasil.
Em livro intitulado Território e História do Brasil , Antônio Carlos Robert Moraes faz
uma breve caracterização geográfica da colônia para, em seguida, definir a categoria “ fundos
territoriais” como uma das unidades formadoras do território colonial. Segundo Moraes, o
processo de colonização avança a partir de “ zonas de difusão”, isto é, núcleos de
assentamento original que funcionam como base para os movimentos expansivos posteriores.
De modo que, a consolidação desses núcleos em uma rede, com o estabelecimento de um
povoamento contínuo de seus entornos e a definição de caminhos regulares entre eles cria o
que denominou de “região colonial”. 265 Além desses conjuntos regionais, o autor ainda
destaca que o território colonial também é composto por áreas de trânsito sem ocupação
perene, lugares recém-ocupados sem colonização consolidada e, por fim, dos fundos
territoriais. Estes últimos seriam constituídos por:
“(...) áreas ainda não devassadas pelo colonizador, de conhecimento incerto e, muitasvezes, apenas genericamente assinaladas na cartografia da época. Trata- se dos ‘sertões’,das ‘fronteiras’, dos lugares ainda sob domínio da natureza ou dos ‘naturais’. Na ót ica dacolonização, são os estoques de espaços de apropriação futura, os lugares de realizaçãoda possibilidade de expansão da colônia”. 266
Embora ao definir a categoria “fundos territoriais” Moraes esteja referindo-se ao
processo de ocupação do espaço colonial, entende-se que, mesmo após os processos de
independência das colônias americanas, é possível pensar a ocupação do interior dos novos
Estados nacionais a partir daquela antiga dinâmica, inclusive através dos mesmos conjuntos
regionais formadores do território, agora não mais colonial, mas sim, nacional.Ilmar Rohloff de Mattos chama atenção para o fato de os construtores do Estado
imperial, herdeiros de um vasto território unificado e contíguo, terem introduzido uma nova
concepção de Império que se distinguia da anterior por estar referida a um Estado-nação.
“ Nesta outra concepção, na qual um Império = um Estado = uma Nação, o território recebia
uma nova significação, ele era imaginado, agora, como um território nacional”. 267 Esta
265 Cf. Antonio Carlos Robert Moraes. Op. Cit., p. 69.
266
Idem. Ibidem.267 Cf. Ilmar Rohloff de Mattos. Entre a casa e o Estado. Nação, território e projetos políticos na construção do
Estado imperial brasileiro. In: CARBÓ, Eulalia Ribeira; VARGAS, Héctor Mendoza; MARTÍN, Pere Sunyer. La
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operação de transmutação de território colonial para território nacional por parte dos
construtores do Estado imperial levou Mattos a concluir que o novo Império do Brasil deveria
conformar-se ao território que herdara o que, por sua vez, pressupunha uma expansão
diferente. “U ma expansão para dentro, em direção aos brasileiros – o conteúdo de um vasto
continente, o território nacional do Império do Brasil”. 268
Assim, se no período colonial a metrópole e seus agentes na colônia eram um dos
núcleos irradiadores de um dinamismo que impulsionava o avanço do movimento
colonizador,269 após a Independência, o próprio Estado nacional, recém-nascido, também se
responsabilizará por impulsionar a ocupação dos vastos sertões. No Império do Brasil,
delegou-se a cada província o planejamento e ocupação do interior de seus respectivos
territórios, bem como a responsabilidade de fiscalizar e negociar seus limites territoriais com
as províncias vizinhas.270 Diante de vastos espaços a ocupar e colonizar, as províncias fizeram
integración del território em uma idea de Estado, México y Brasil, 1821-1946. México: Instituto de GeografíaUNAM, 2007, p. 594.268
Idem. Ibidem.269 Sérgio Buarque de Holanda destaca o papel do Morgado de Mateus, capitão-general e governador dacapitania de São Paulo entre 1765-1775, e suas “tentativas artificiosas” de expansão povoadora que
“frutificaram amplamente, uma vez criada as condições, principalmente econômicas, que as façam possíveis” .[Ver Sérgio Buarque de Holanda. Movimentos da população em São Paulo no século XVIII. Revista do IEB, SãoPaulo, n.1, 1964, pp. 62]; Nestor Goulart Reis Filho fala de uma política urbanizadora da Coroa portuguesa no
Brasil até meados do século XVII, que consistia na fundação de cidades com funções específicas e no incentivode formação de vilas por conta dos donatários. [Ver Nestor Goulart Reis Filho. Contribuição ao estudo da
evolução urbana do Brasil (1500-1720). São Paulo: Pioneira, 1968, pp. 66-77]; Robert Moraes, ao fazer umacaracterização geográfica da colônia, dá destaque ao avanço do processo de colonização a partir de zonas de
difusão, que são os núcleos de assentamento original que servem de base para os movimentos expansivosposteriores. [Ver Antônio Carlos Robert Moraes. Território e História no Brasil. São Paulo: Annablume, 2005,pp. 63-73]; Bellotto faz referência a uma política de urbanização, e não de povoamento, na São Pauloadministrada pelo Morgado de Mateus a partir da restauração da capitania, em 1765. Ao fim, conclui tal comoSérgio Buarque de Holanda, que a política de urbanização encetada pelo Morgado de Mateus era “artificiosa” ,sim, mas que frutificaram assim que foram criadas as condições econômicas que as tornaram viáveis. [VerHeloísa Liberalli Bellotto. Autoridade e conflito no Brasil colonial: Morgado de Mateus em São Paulo (1765-
1775). 2ª edição revista. São Paulo: Alameda, 2007, pp. 147-172]; Beatriz Bueno segue na linha de uma política
urbanizadora que conjugou os esforços oficiais da Coroa e extraoficiais, dos particulares em combinação comos índios: “os diversos contornos assumidos pelo atual estado de São Paulo oscilaram ao sabor de interesses
oficiais e extraoficiais, materializando-se numa intrincada rede urbana, viária e fluvial, viabilizada graças à
sábia simbiose com os indígenas” . [Ver Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno. Dilatação dos confins: caminhos, vilas
e cidades na formação da Capitania de São Paulo (1532-1822). In: Anais do Museu Paulista. São Paulo, v. 17,n.2, jul./dez. 2009, pp. 253].270 Os relatórios apresentados por Bernardo José Pinto Gavião Peixoto, presidente da província, a AssembleiaLegislativa, nos anos de 1837 e 1838, por exemplo, davam conta de que estava sendo organizada pelomarechal Daniel Pedro Müller a estatística da província de São Paulo e de como seria, para este fim,“conveniente estabelecer -se um systema regular de serviço para os necessários exames e observações em
certos pontos da província. O resultado serviria para se corrigirem os erros que existissem nos mappas
[estatísticos] e quadros já feitos. Estes trabalhos estatísticos muito poderiam concorrer para aplainar as
difficuldades que se tem encontrado sempre que se trata de fixar os limites entre a província de S. Paulo, MinasGeraes e Rio de Janeiro” . [Ver Eugenio Egas. Galeria dos Presidentes de S. Paulo. Período Monarchico: 1822-
1889. São Paulo: Secção de Obras D’ O Estado de S. Paulo, 1926, p. 67].
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uso de uma dinâmica similar àquela observada durante o período colonial, na qual novos
povoamentos surgiam a partir de um núcleo anterior e, posteriormente, iam se consolidando
em uma rede através do estabelecimento de outros povoamentos em seus entornos e a
comunicação entre si por meio de caminhos regulares, tal como descrito nos já referidos
trabalhos de Robert Moraes e Beatriz Bueno.
Portanto, ao se construir sobre as estruturas econômicas, políticas e culturais herdadas
do período colonial, o Estado nacional surgido após o processo de Independência passou a
regulamentar ele mesmo a ocupação do seu território a partir de práticas que já vinham sendo
utilizadas desde o período colonial.
Em um contexto político marcado pela relativa autonomia que as províncias passaram
a gozar a partir do Ato Adicional de 1834, a representação cartográfica de um vasto território
denominado como “Sertão Desconhecido” demonstra como as elites paulista do período pós-
colonial – tal como faziam os antigos agentes da Coroa na América Portuguesa – seguem
olhando para o vasto território que herdaram do período colonial como “estoques de espaços
de apropriação futura, os lugares de realização da possibilidade de expansão”.271 Contudo,
vale observar, estoques de espaço não mais de uma colônia para a exploração da metrópole,
mas sim de uma província com relativa autonomia política, tributária e coercitiva, dentro de
um Estado nacional recém-nascido: o Império do Brasil. E não uma expansão imperialista, em
direção às novas repúblicas da América hispânica, como observou Rohloff de Mattos, mas
uma expansão diferente: “uma expansão para dentro, em direção aos brasileiros”. 272
c) Os aldeamentos indígenas paulista na representação cartográfica de Daniel PedroMüller.
Esta seção do terceiro capítulo será desenvolvida no período de pesquisa
imediatamente após o exame de qualificação.
271 Cf. Antônio Carlos Robert Moraes. Op. Cit., p. 69.272 Cf. Ilmar Rohloff de Mattos. Op. Cit., p. 594.
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6. ANEXOS
a)
Relação dos deputados eleitos e suplentes que assumiram cadeiras na
Assembleia Legislativa da Província de São Paulo entre 1835-1849.
# Nome do Deputado Nº de Legislaturas
1 Anacleto Ferreira Pinto 1
2 Antônio Barbosa da Silva 1
3 Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva 4
4 Antônio Clemente dos Santos 4
5 Antônio de Queiroz Teles 1
6 Antônio Dias de Toledo 1
7 Antônio Francisco de Azevedo 28 Antônio Francisco de Paula Souza 1
9 Antônio Joaquim da Silva Cutrim 1
10 Antônio Joaquim de Sampaio Peixoto 1
11 Antônio José de Araújo 1
12 Antônio José Nogueira 2
13 Antônio Leite Pereira da Gama Lobo 2
14 Antônio Manoel de Campos Melo 4
15 Antônio Manoel Teixeira 2
16 Antônio Maria de Moura 2
17 Antônio Mariano de Azevedo Marques 3
18 Antônio Martins dos Santos 1
19 Antônio Moreira da Costa Guimarães 2
20 Antônio Paes de Barros 3
21 Antônio Pereira Pinto 1
22 Antônio Rodrigues de Campos Leite 3
23 Balduino de Almeida Taques 1
24 Bento José Xavier da Silva 1
25 Bernardo José Pinto Gavião Peixoto 4
26 Cândido Gonçalves Gomide 327 Cândido Marcondes Ribas 1
28 Carlos Antônio de Bulhões Ribeiro 1
29 Carlos Carneiro de Campos 5
30 Carlos Ilidio da Silva 1
31 Cláudio Joaquim Justiniano de Souza 1
32 Clemente Falcão de Souza 1
33 Constâncio de Almeida Faria 1
34 Delfino Pinheiro de Ulhôa Cintra 2
35 Diogo Antônio Feijó 2
36 Diogo de Mendonça Pinto 137 Estevam Ribeiro de Souza Rezende (Marquês de Valença) 1
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38 Felício Pinto Coelho de Mendonça e Castro 2
39 Felippe Xavier da Rocha 1
40 Fernando Pacheco Jordão 4
41 Flamínio Antônio do Nascimento Lessa 1
42 Francisco Álvares Machado de Vasconcelos 4
43 Francisco Antônio de Almeida Melo 2
44 Francisco Antônio de Souza Queiroz (Barão de Souza Queiroz) 6
45 Francisco Antônio Machado de Vasconcelos 1
46 Francisco da Silva Ribeiro 1
47 Francisco de Assis Peixoto Gomide 1
48 Francisco de Paula Machado 1
49 Francisco de Paula Souza e Melo 4
50 Francisco Garcia Ferreira 1
51 Francisco José Corrêa 1
52 Francisco José de Azevedo Júnior 353 Francisco José de Lima 3
54 Francisco Lopes Chaves 2
55 Francisco Lopes de Oliveira 1
56 Francisco Lourenço de Freitas 1
57 Gabriel José Rodrigues dos Santos 3
58 Gabriel José Roiz dos Santos 1
59 Hildefonso Xavier Ferreira 1
60 Hipólito José Soares de Souza 1
61 Honório Manoel José de Melo 1
62 Ignácio Marcondes de Oliveira Cabral 3
63 Ildefonso Xavier Ferreira 3
64 Jacinto José Ferraz de Araújo 2
65 João Carlos da Silva Teles 2
66 João Chrisóstomo de Oliveira Salgado Bueno 2
67 João Chrispiniano Soares 4
68 João da bney de Avelar Brotero 1
69 João da Silva Carrão 3
70 João da Silva Machado (Barão de Antonina) 3
71 João Evangelista de Negreiros Sayão Lobato (Visconde de Sabará) 272 João José Rodrigues 1
73 João José Vieira Ramalho 2
74 João Lopes da Silva 1
75 João Marcelino de Souza Gonzaga 1
76 João Silva Machado 1
77 João Theodoro Xavier 3
78 João Viegas Jort Muniz 1
79 Joaquim Antônio Pinto Júnior 3
80 Joaquim Fernando da Fonseca 1
81 Joaquim Firmino Pereira Jorge 382 Joaquim Floriano de Araújo Cintra 1
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108
83 Joaquim Floriano de Toledo 4
84 Joaquim Ignácio Ramalho 1
85 Joaquim José de Moraes e Abreu 2
86 Joaquim José dos Santos Silva (Barão de Itapetininga) 2
87 Joaquim José Pacheco 3
88 Joaquim José Pinto Bandeira 2
89 Joaquim Manoel Gonçalves de Andrade 3
90 Joaquim Octávio Nébias 3
91 Joaquim Pereira de Barros 1
92 Joaquim Pinto Porto 1
93 Joaquim Silvério de Castro e Souza Medronho 1
94 José Alves dos Santos 2
95 José Alves Leite 1
96 José Antônio Pimenta Bueno 2
97 José Augusto Gomes de Menezes 198 José Caetano de Oliveira 1
99 José da Costa Carvalho (Marquês de Monte Alegre) 2
100 José de Almeida Leite 1
101 José de Almeida Leme 3
102 José do Amaral Gurgel 1
103 José Elias Pacheco Jordão 1
104 José Gaspar dos Santos Lima 1
105 José Ignácio Alves Alvim 1
106 José Ignácio Silveira da Motta 1
107 José Inocêncio Alves Alvim 3
108 José Joaquim Lacerda 1
109 José Joaquim Machado de Oliveira 2
110 José Joaquim Pacheco 1
111 José Manoel da Fonseca 3
112 José Manoel da Luz 2
113 José Manoel da Silva (Barão de Tietê) 4
114 José Manoel de França 5
115 José Marcelino de Vasconcelos 1
116 José Mathias Ferreira de Abreu 1117 José Pimenta Bueno 1
118 José Rodrigues Leite 1
119 Leandro José da Costa 2
120 Lourenço de Melo Franco 1
121 Luiz Mariano Tolosa 1
122 Manoel Bento Guedes de Carvalho 1
123 Manoel de Aguiar Valim 1
124 Manoel de Almeida Freire 1
125 Manoel de Faria Dória 4
126 Manoel Dias de Toledo 5127 Manoel Eufrásio de Azevedo Marques 2
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128 Manoel Eufrásio de Oliveira 2
129 Manoel Francisco Corrêa Júnior 1
130 Manoel Gonçalves Andrade 1
131 Manoel Joaquim do Amaral Gurgel 6
132 Manoel Joaquim Gonçalves 2
133 Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade 2
134 Manoel José Chaves 1
135 Manoel José de França 2
136 Manoel José de Melo 1
137 Manoel Rodrigues Vilares 2
138 Manoel Theotônio da Costa 1
139 Manoel Theotônio de Castro 1
140 Mariano Rodrigues de Souza e Mello 1
141 Martim Francisco Ribeiro de Andrada 4
142 Nicolau Pereira de Campos Vergueiro 5143 Paulino Ayres de Aguirra 1
144 Rafael de Araújo Ribeiro 1
145 Rafael Tobias de Aguiar 5
146 Rodrigo Antônio Monteiro de Barros 4
147 Rodrigo de Oliveira Bueno Godoy Moreira 2
148 Tristão de Abreu Rangel 3
149 Valêncio de Alvarenga Ferreira 1
150 Vicente Pires da Motta 3
151 Victoriano dos Santos Dias 1Quadro 11: Deputados eleitos e suplentes que assumiram cadeiras na
Assembleia Legislativa da Província de São Paulo (1835-1849).273
273 Quadro elaborado a partir das relações de nomes dos deputados e suplentes eleitos em todas as legislaturasda Assembleia Legislativa Provincial. Estas informações encontram-se disponíveis em uma base de dadosacessível através do portal da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo na Internet. [Ver Acervo Histórico
da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Deputados do período imperial . Disponível em:<http://www.al.sp.gov.br/web/acervo2/base_de_dados/imperio/imperio_deputados.html>. Acessado em:15/08/2013]
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b) Relação dos presidentes da província de São Paulo nomeados entre os anos de 1831 a 1851.
# Nome do PresidenteData de
NascimentoLocal de Nascimento Período de Presidência
Duração
(Meses)
Idade na
Presidência
Principal
Ocupação
Data de
Falecimento
1 Rafael Tobias de Aguiar 04/10/1795 Sorocaba Nov. 1831 - Mai. 1835 43 36 Militar 01/10/1857
2 José Cesário de Miranda Ribeiro 1792 Ouro Preto Nov. 1835 - Abr. 1836 6 43 Magistrado 07/05/1856
3 Bernardo José Pinto Gavião Peixoto 17/05/1791 São Paulo Ago. 1836 - Mar. 1838 20 45 Militar 15/06/1859
4 Venâncio José Lisboa 07/03/1810 N/d Mar. 1838 - Jul. 1839 17 29 Magistrado 24/05/1880
5 Manoel Machado Nunes 1799 Rio de Janeiro Jul. 1839 - Ago. 1840 14 40 Magistrado 11/04/18766 Rafael Tobias de Aguiar 04/10/1795 Sorocaba Ago. 1840 - Jul. 1841 12 45 Militar 01/10/1857
7 Miguel de Souza Mello e Alvim 09/03/1784 Ourém (Portugal) Jul. 1841 - Jan. 1842 7 57 Militar 08/10/1866
8 José da Costa Carvalho 07/02/1796 Salvador Jan. 1842 - Ago. 1842 8 46 Comerciante 18/09/1860
9 José Carlos Pereira de Almeida Torres 1799 Salvador Ago. 1842 - Jan. 1843 6 43 Magistrado 25/04/1850
10 Joaquim José Luiz de Souza N/d N/d Jan. 1843 - Nov. 1843 11 N/d Militar 1848
11 Manoel Felizardo de Souza e Mello 08/12/1805 Campo Grande (RJ) Nov. 1843 - Abr. 1844 6 38 Militar 16/08/1866
12 Manoel da Fonseca Lima e Silva 10/06/1793 Rio de Janeiro Jun. 1844 - Nov. 1847 42 51 Militar 01/04/1869
13 Domiciano Leite Ribeiro 23/04/1812 São João d'El Rei Mai. 1848 - Out. 1848 6 36 Magistrado 13/06/1881
14 Vicente Pires da Mota 01/09/1799 São Paulo Out. 1848 - Ago. 1851 35 49 Padre 30/10/1882
Quadro 12: Presidentes da Província de São Paulo (1831-1851). 274
274 Eugenio Egas. Galeria dos Presidentes de S. Paulo. Período Monarchico: 1822-1899. São Paulo: Secção de Obras d’ O Estado de S. Paulo , 1926. Para os dados biográficos
também foi consultado o Dicionário de História de São Paulo. [Ver Antônio Barreto do Amaral. Dicionário de História de São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.(Coleção Paulística, vol. XIX)].
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c)
Lei n. 10, de 24 de março de 1835, cria nesta capital um GabineteTopográfico.
Rafael Tobias de Aguiar, presidente etc.
Art. 1º. Haverá na capital da província um gabinete topografico, contendo:
1º Um director.
2º Uma escola para estradas.
3º Os instrumentos necessarios para trabalhos geodesicos.
4º A collecção de todos os documentos topograficos da província, que se puder obter.
5º Uma bibliotheca analoga ao estabellecimento.
Art. 2º. O director será de livre nomeação e demissão do presidente da província; e
vencerá mensalmente a gratificação de 50$ rs.Art. 3º. As attribuições do director são:
1º. Fazer inventariar, e sucessivamente lançar no inventário todos os instrumentos,
livros, mappas e mais papéis do gabinete, conserval-os em boa ordem, e guarda.
2º. Fazer extrahir as copias necessárias, não deixando sahir do gabinete os originaes
por motivo algum.
3º. Vedar a sahida dos instrumentos e das copias, sem que o recebedor assigne o
recebimento com declaração do motivo, e ordem, ou requisição.4º. Ensinar cuidadosamente aos alumnos, que concorrerem as regras praticas, e
indispensáveis para levantar plantas de terrenos, e construir estradas; fazendo para esse fim
quanto antes um compendio.
5º. Empregar-se com os alumnos no serviço, a que o ensino destes é destinado.
6º. Combinar todos os trabalhos topograficos para acomodal-os ao plano geral das
estradas, que deve formar.
7º. Passar cartas de engenheiros de estradas aos alumnos, que o merecerem.Art. 4º. Dentre os alumnos, que concorrerem, poderá o Presidente da província
arbitrar, e mandar pagar a seis uma gratificação módica. Todos, e especialmente estes, são
obrigados a todo o serviço do gabinete, ao estudo da escola, e aos exercícios práticos, até
obterem a approvação e a carta do director.
Art. 5º. Os engenheiros de estradas serão empregados pelo governo no levantamento
de plantas, abertura, e concerto de estradas, com ordenado convencionado, podendo ser
despedidos, quando não servirem bem, e podendo elles retirar-se do serviço, contanto que
participem ao governo sua intenção tres mezes antes. Os que porem tiverem recebido
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gratificação, quando alumnos, são obrigados a servir dobrado tempo, recebendo o ordenado
arbitrado na falta de convenção.
Art. 6º. Os engenheiros de estrada serão empregados com preferência, como pilotos
nas medições de terras.
Art. 7º. Ficão revogadas todas as disposições legislativas que se oppozerem a
presente.
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113
d)
Lei n. 16, de 11 de abril de 1835. Autoriza o governo a despender o que
for necessário para a redação e impressão da estatística da província.
Rafael Tobias de Aguiar, presidente etc.
Art. 1º. O Governo fica autorizado a despender o que for necessário para a redacção
e impressão da estatística da província, a qual deve conter o seguinte:
1º Numero total de habitantes da província com as especificações abaixo declaradas.
2º Numero de municípios, freguezias e capellas curadas; distancia dos limites de
cada um; numero de habitantes livres e escravos de cada um, com a especificação de homens
e mulheres, classificados segundo suas idades em secções de dez annos, e segundo seu estado
de cazado, viúvo e solteiro, declarando-se quanto aos últimos os maiores de 30 annos, e
menores desta idade; igualmente seu numero de fogos, e de extrangeiros naturalisados, ou nãonaturalisados, e das pessoas que sabendo ler e escrever, e tendo meios de honesta subsistência
possão ser empregadas em cada um deles nos differentes cargos, que nos mesmos se faz
necessario.
3º Numero de comarcas; extensão de cada uma; que teremos comprehende; e cada
termo quantas villas, e freguesias contem; qual a distancia das villas entre si, e as suas
freguesias, e capelas, calculada pelas estradas e trajecto por agoa; o numero de causas cíveis
de quaesquer juízos que dá cada uma delas, igualmente os crimes perpetrados no ultimo annoem cada comarca, designando-se sua qualidade, quantidade, e numero de acusados,
especificando-se destes, quanto os homens ou mulheres, livres ou escravos, absolvidos ou
dondemnados.
4º Numero de nascimentos e óbitos em cada comarca no ultimo anno, designando-se
o sexo, e se são pessoas livres ou escravas; igualmente o de cazamentos de cada um destes.
5º Numero de districtos de paz e quarteirões de cada villa, e da cidade, sua extensão,
quantas pessoas livres e escravas comprehende; os logares determinados para as reuniões das junctas de paz, e quantos districtos comprehende cada juncta.
6º Numero de batalhões, esquadrões, companhias, e secções de guardas nacionais;
força numérica de cada um; as villas, freguesias, e capelas curadas que os comprehendem.
7º Numero de guardas municipaes; sua actual organisação, e vencimentos; e o
emprego em que se occupão.
8º Numero de guardas policiaes de cada villa e freguesia, sua actual organisação e
emprego.
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9º Numero de soldados e officiaes de primeira linha empregados na província, e em
que parte dela.
10º Numero de conventos, confrarias, recolhimentos, capelas, e quaesquer bens
vinculados, seminários, collegios, e outros estabelecimentos de caridade e instrucção; numero
de pessoas que residem em cada um deles; seus rendimentos provenientes de ordenados,
fundos públicos, ou particulares, ou esmolas.
11º Numero de escolas primarias, e de quaesquer outras aulas, com declaração das
que são á custa do thesouro, e dos particulares; dos lugares em que estão colocadas; e do
numero de alumnos de cada uma.
12º Numero do clero secular; emprego de cada um; logar em que reside; ordenados,
pensões, pagas, ou esmolas que por qualquer titulo receba em razão do seu estado.
13º O estado das fabricas e administração de todas as igrejas, seu rendimento, com
declaração especificada dos objetos sobre que recahem a despeza que se faz e por ordem de
quem.
14º Numero de fazendas de café e assucar, e quaesquer outros estabelecimentos de
cultura e criação; numero de empregados em cada um delles e seu rendimento em objetos de
sua producção.
15º Exportação e importação da província, declarando-se em que consiste uma e
outra; qualidade e quantidade dos gêneros respectivos, e valor dos mesmos em reis.
16º Meios de conducção usados na província, declarando-se o numero de animaes de
carga, carros e sua construção, bois nelles empregados, e o preço medio dos transportes.
17º Rendas provinciaes e municipaes; a quanto monta cada uma e quaes as
administradas e arrecadadas.
18º Estradas geraes da província, quantas, onde começão e terminão, seu
comprimento em legoas, que rios ou ribeirões atravessão, aquellas em que existem barreiras,
declarando-se quaes as suas ramificações.19º Pontes em todas aquellas estradas, sua situação, construcção, e estado, e
igualmente quaesquer outros meios de passagem.
20º Canaes da província, sua direção, dimensão, estado, e embarcações que nelle se
empregão.
Art. 2º. Quando não seja possível, ou seja summamente difícil fazer-se a estatística
abrangendo todos os objetos acima declarados, poderá fazer-se, contendo tão somente os mais
importantes, e todos os indispensáveis.
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Art. 3º. As pessoas que não quizerem satisfazer as exigências feitas para o
desempenho desta lei, serão processadas como desobedientes; e se forem empregados, além
disto serão suspensos de seus empregos, e vencimentos até os satisfazerem.
Art. 4º. O Governo remetterá para a secretaria da assembléa provincial 40
exemplares da estatística assim organizada; e igualmente 5 á câmara dos senadores, 10 á dos
deputados da nação, 2 ao governo central, e 1 a cada uma das assembléas provinciaes do
imperio.
Art. 5º. Ficão revogadas todas as disposições legislativas em contrario.
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e)
Relação de todos os estudantes do Gabinete Topográfico.
# Nome Idade Gratificação Filho Naturalidade Fase
1José Porfirio de
Lima
26 Não Joze da Silva M??? São Paulo Primeira
2Francisco Joaquimde Borja
26 Não Incógnitos São Paulo Primeira
3Joaquim Anacletoda Fonseca
21 NãoCap. Joaquim Joze daFonseca
São Pedro doSul
Primeira
4Fortunato José daSilva
20 NãoJoze Marianod'Assunção Bastos
São Paulo Primeira
5José HomemGuedes Portilho
19 SimTen. Cel. JoãoAnastácio da Silva
Rio deJaneiro
Primeira
6Francisco de FreitasDias Josnier
19 Não Outro São Paulo Primeira
7 Augusto Cezar daSilva
18 Sim Ten. Cel. DomingosAnacleto da Silva
São Paulo Primeira
8Antonio Rodriguesde Oliveira Neto
17 SimCel. Joze Rodrigues deOliveira Neto
Rio deJaneiro
Primeira
9João Carlos AugustoBordini
16 NãoMajor Antonio JozeBordini
São Paulo Primeira
10Carlos MaximilianoJulio Boulte?
16 NãoDiendonni BoulteDellon?
Nanci(França)
Primeira
11Augusto MariaMachado Bueno
16 NãoMajor Diogo JoãoMachado
São Paulo Primeira
12
Paulo Antonio do
Vale 14 Não
Cap. Luis Antonio do
Vale São Paulo Primeira
13Eleutério JoséMoreira
14 SimCap. Candido CaetanoMoreira
São José doUruguay
Primeira
14Gabriel JoséMarques
13 NãoCap. Martinho JozeMarques
São Paulo Primeira
15Joaquim AntonioCorreia
N/C Sim N/C N/C Primeira
16AntonioAlexandrino dosPassos Ourique
N/C Sim N/C N/C Segunda
17 João José Soares N/C Sim N/C São Paulo Segunda
18Saturnino Franciscode Freitas Villa'Alva
N/C Sim N/C São Paulo Segunda
19Gil Florindo deMoraes
N/C Sim N/C São Paulo Segunda
20 Hygino José Xavier N/C Sim N/C N/C Segunda
21Antonio FranciscoLenher
N/C Não N/C N/C Segunda
22Joaquim MariaCoelho
N/C Não N/C N/C Segunda
23 Antonio José Vaz N/C Não N/C São Paulo Segunda
24 Firmino Antonio deCampos Penteado
N/C Não N/C São Paulo Segunda
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25Francisco Delphinode VasconcelosMacedo
N/C Não N/C N/C Segunda
26 Manoel José Vaz N/C Não N/C São Paulo Segunda
27 João Baptista Borba N/C Não N/C N/C Segunda
28 Joaquim Roberto daSilva Marques
N/C Não N/C N/C Segunda
29Francisco de AssisRodrigues
N/C Não N/C N/C Segunda
30Francisco de AssisCarvalho
N/C Não N/C N/C Segunda
31Antonio Marianodos Santos
N/C Não N/C N/C Segunda
32Antonio doTriumpho e Campos
N/C Não N/C N/C Segunda
33
Francisco de Castro
Moreira N/C Não N/C N/C Segunda
34Luiz Ferreira deAbreu
N/C Não N/C N/C Segunda
35Rafael Tobias deOliveira
N/C Não N/C N/c Segunda
36Joaquim MariaGomide
N/C Não N/C N/C Segunda
37Joaquim da SilvaCruz
N/C Não N/C N/C Segunda
38Francisco GonçalvesGomide
25 Não N/C São Paulo Segunda
39Candido CrispimBorba
N/C Não N/C N/C Segunda
40 Mathias Lex 20 Não N/C Berlim Segunda
41Manoel Eufrazio deAzevedo Marques
N/C Não N/C N/C Segunda
42João Antono deOliveira Campos
N/C Não N/C N/C Segunda
43Modesto AntonioCoelho de OliveiraPlada
N/C Não N/C N/C Segunda
44Carlos CanutoMalheiro N/C Não N/C N/C Segunda
45Francisco ErnestoMalheiro
N/C Não N/C N/C Segunda
46Jeronymo José deAndrade
N/C Não N/C N/C Segunda
47José Maria deAndrade
N/C Não N/C N/C Segunda
48Antonio Rodriguesda Cunha
N/C Não N/C N/C Segunda
49Antonio Joaquim de
Lima
N/C Não N/C N/C Segunda
50 Manoel de Castro N/C Não N/C N/C Segunda
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Moreira
51Joaquim JoséVillalva
N/C Não N/C N/C Segunda
52Pedro EsmendesMoreira
22 Não N/C Brasil Segunda
53 Paulo Delfino daFonseca
N/C Não N/C N/C Segunda
54Francisco de PaulaRibeiro
N/C Não N/C N/C Segunda
55 Dionizio Amor N/C Não N/C N/C Segunda
56Sebastião Pinto deCarvalho
N/C Não N/C N/C Segunda
57Nicoláo Tolentinoda Silva
N/C Não N/C N/C Segunda
58Pedro Taques deAlmeida e Alvim
Filho
N/C Não N/C N/C Segunda
59Antonio Carlos dosSantos Pinto
N/C Não N/C N/C Segunda
Quadro 13: Relação dos alunos do Gabinete Topográfico (1835-1849). Fontes: Arquivo Público do Estado deSão Paulo e Discursos e Relatórios dos presidentes da província de São Paulo.
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f) Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo (1841).
Figura 12: Daniel Pedro Müller. Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo. Paris: Alexis Orgiazzi, [1841]. 1 mapa: 148 x 140 cm. Arquivo Público do Estado de SãoPaulo, São Paulo.
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7. LISTA DE ABREVIATURAS
BRASIL
AH-ALESP – Acervo Histórico - Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
AHEx – Arquivo Histórico do Exército, RJ.
ALPSP – Assembleia Legislativa da Província de São Paulo.
ANRJ – Arquivo Nacional do Rio de Janeiro
APESP – Arquivo Público do Estado de São Paulo.
BNRJ – Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
IEB-USP – Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.
IHGB – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, RJ.
MP/USP – Museu Paulista da Universidade de São Paulo.
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
HL – Huntington Library, Califórnia.
PORTUGAL
ACL – Academia Real de Ciências de Lisboa.
ACM – Arquivo Central da Marinha, Lisboa.
AHM – Arquivo Histórico Militar, Lisboa.
AHU – Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa.
ANTT – Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa.
BNL – Biblioteca Nacional de Lisboa.
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8. MAPAS
a)
Mapas Manuscritos
[COLUMBINA, Tosi]. Mapa dos sertões que se comprehendem de mar a mar entre ascapitanias de S. Paulo, Goyazes, Cuyabá, Mato Grosso, e Pará. [17--]. 1 mapa, ms: 62x 50 cm. Coleção Morgado de Mateus. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
MULLER, Daniel Pedro. Mappa do Campo de Guarapuav[a] e Territórios cor[...]. [c.1815]. 1 mapa, ms: 42,5 x 49 cm. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
FERREIRA, João da Costa. [Litoral do Brasil entre as Ilhas S. Sebastião, em São Paulo, e Santa Catarina, no estado do mesmo nome]. [179-]. 1 mapa, ms: 72,5 x 56 cm.Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
ESCHWEGE, Guilherme. Mappa da Capitania de São Paulo ligeiramente copiado dooriginal feito pelo Coronel Engenheiro Snr. João da Costa Ferreira em o anno de 1811,
para o uso próprio do Tenente Coronel de Engº Guilherme, Barão de Eschwege. 1817.1 mapa, ms. Arquivo Público do Estado de São Paulo, São Paulo.
b)
Mapas Impressos
MÜLLER, Daniel Pedro. Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo. Paris:
Alexis Orgiazzi, [1841]. 1 mapa: 148 x 140 cm. Arquivo Público do Estado de SãoPaulo, São Paulo.
__________. Mappa Chorographico da Provincia de San Paulo. Paris: Alexis Orgiazzi,[1841]. 1 mapa: 104 x 152 cm. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
__________. Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo. Paris: Alexis Orgiazzi,[1841]. 1 mapa: 105 x 157 cm. Huntington Rare Books, Sir Richard Francis BurtonMap Collection. Huntington Library, California, EUA.
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9. FONTES
a)
Fontes Manuscritas
ACERVO Histórico da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Série:Legislação, Ofícios e Pareceres.
ARQUIVO do Estado de São Paulo. Fundo: Segov – Série: Ofícios Diversos.
ARQUIVO Histórico Militar de Lisboa. Processo do ex-aluno da Escola do Exército, Daniel Pedro Müller . Maço nº 1, processo 58.
ARQUIVO Histórico Militar de Lisboa. Cx. 693, D-1-6-38, D1-7-45-48, D1-7-9-5.
BIBLIOTECA Nacional do Rio de Janeiro. “Manuscritos”, Coleção José CarlosRodrigues.
b)
Fontes Impressas
AGUIAR, Raphael Tobias de. Discurso recitado pelo Exmo. Snr. Raphael Tobias de Aguiar, no dia 07 de janeiro de 1841 por ocasião da abertura da Assembleia Legislativa Provincial. São Paulo: Typografia da Costa Silveira, 1841, pp. 6-7.Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1083/000001.html>. Acesso em 02 de
março de 2013.
CABRAL, José Antônio Teixeira. A Estatística da Imperial Província de São Paulo:com várias anotações do tenente-coronel José Antônio Teixeira Cabral, membro damesma estatística. Tomo I, 1827. São Paulo: Edusp, 2009.
CHICHORRO, Manoel da Cunha de Azeredo Sousa. Memoria em que se mostra oestado econômico, militar e politico da capitania geral de S. Paulo, quando do seugoverno tomou posse a 8 de dezembro de 1814 o Ilm. e Exm. Sr. D. Francisco de AssisMascarenhas, conde de Palma do Conselho de S. A. Real e do de sua real fazenda. In:
Revista Trimensal do Instituto Histórico, Geographico e Etnographico do Brasil , t. 36, parte 1, 1873, pp. 197-267.
DOCUMENTOS Interessantes para a História e costumes de S. Paulo. São Paulo: CasaEclética, vol. 31, 1901 – “Diversos”.
DOCUMENTOS Interessantes para a História e costumes de S. Paulo. São Paulo: CasaEclética, vol. 55, 1937 – “Correspondência oficial do Capitão General Antonio José da
Franca e Horta (1802-1804)”.
DOCUMENTOS Interessantes para a História e costumes de S. Paulo. São Paulo:
Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo, vol. 56, 1937 – “Correspondência oficialdo Capitão General Antonio José da Franca e Horta (1804-1806)”.
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DOCUMENTOS Interessantes para a História e costumes de S. Paulo. São Paulo:Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo, vol. 57, 1937 – “Correspondência oficial
do Capitão General Antonio José da Franca e Horta (1806-1810)”.
DOCUMENTOS Interessantes para a História e costumes de S. Paulo. São Paulo:Arquivo do Estado de São Paulo, vol. 93, 1980 – “Parte III – Ofícios do GeneralAntonio Manoel de Mello Castro e Mendonça (1802)”.
DOCUMENTOS Interessantes para a História e costumes de São Paulo. São Paulo:Unesp, vol. 95, 1990 – “Ofícios do General Horta aos Vice-Reis e Ministros 1802-1807”.
EGAS, Eugenio; MELLO, Oscar Motta (orgs.). Annaes da Assembléa Legislativa Provincial de São Paulo, reconstituição desde 1835-1881. São Paulo: TypographiaPiratininga; Secção de Obras d’ “O Estado de S.Paulo”, 1923-1926.
LIMA E SILVA, Manoel da Fonseca. Relatório apresentado a Assembléa Legislativa Provincial de São Paulo pelo Exmo. Presidente Manoel da Fonseca Lima e Silva no dia07 de janeiro de 1845 por ocasião da abertura da Assembléa Legislativa da Provínciade São Paulo. São Paulo: Typographia de Silva Sobral, 1845, pp. 12-13. Disponível em:<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/979/>. Acesso em: 02 mar. 2013.
MÜLLER, Daniel Pedro. Ensaio d’um quadro estatístico da provincia de S.Paulo:ordenado pelas leis provinciaes de 11 de abril de 1836 e 10 de março de 1837 .R eedição litteral. São Paulo: secção de obras d’ “O Estado de S.Paulo”, 1923 (1838).
MUSEU PAULISTA. Collectanea de Mappas da Cartographia Paulista Antiga.(Cartas de 1612 a 1837, acompanhadas de breves comentários por Affonso
D'Escragnolle Taunay). São Paulo: Cia Melhoramentos de São Paulo, 1922.
NECROLOGIA do Marechal de Campo Daniel Pedro Müller. In: Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, p. 2, 30 ago. 1841.
RENDON, José Arouche de Toledo. “Memória sobre as aldeias de índios da provínciade São Paulo, segundo as observações feitas no ano de 1798”. In: Revista do Instituto
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Ignacio da Silva, 1863 [1842], pp. 295-317.RIBEIRO, Domiciano Leite. Relatório apresentado ao Exm. e Rvm. Sr. Dr. Vicente
Pires da Motta pelo Exm. Sr. Dr. Domiciano Leite Ribeiro ao entregar a presidência. São Paulo: Typographia do Governo, 1848, p. 6. Disponível emhttp://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1085/>. Acesso em: 02 mar. 2013.
SÃO PAULO (Província). Lei n. 10, de 24 de março de 1835. Cria nesta capital um gabinete topográfico. Disponível em:<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1835/lei%20n.10,%20de%2024.03.1835.pdf>. Acesso em: 01 fev. 2012.
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SÃO PAULO (Província). Lei n. 16, de 11 de abril de 1835. Autoriza o governo adespender o que for necessário para a redação e impressão da estatística da província .Disponível em:<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1835/lei%20n.16,%20de%2011.04.1835.pdf>. Acesso em: 01 fev. 2012.
SÃO PAULO (Província). Lei n. 29, de 31 de março de 1838. Suspende a execução da Lei de 24 de Março de 1835, que criou o Gabinete Topográfico. Disponível em:<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1838/lei%20n.29,%20de%2031.03.1838.htm>. Acesso em: 6 de março de 2013.
SÃO PAULO (Província). Lei n. 12, de 12 de março de 1840. Restabelece o GabineteTopográfico. Disponível em:<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1840/lei%20n.12,%20de%2012.03.1840.htm>. Acesso em: 06 mar. 2013.
SÃO PAULO (Província). Mappa nº 7 . In: TORRES, José Carlos Pereira d’Almeida. Discurso recitado pelo Exmo. Presidente José Carlos Pereira d’Almeida Torres no dia7 de janeiro de 1843 por ocasião da abertura da Assembléa Legislativa da Provincia deSão Paulo. São Paulo: Typographia do Governo, 1843. Disponível em<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/977/>. Acessado em 02 mar. 2013.
SÃO PAULO (Província). Lei n. 36, de 15 de março de 1844. Cria uma diretoria deobras públicas e autoriza o presidente da província a fazer os regulamentosnecessários. Disponível em:<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1844/lei%20n.36,%20de%2015.03.1844.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2013.
SÃO PAULO (Província). Mappa n. 7 . In: LIMA E SILVA. Manoel da Fonseca. Relatorio apresentado á Assembléa Legislativa Provincial de São Paulo pelo exmo presidente da mesma provincia, Manoel da Fonseca Lima e Silva, no dia 7 de janeirode 1846 . São Paulo: Typographia de Silva Sobral, 1846. Disponível em<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/980/>. Acessado em 02 mar. 2013.
SÃO PAULO (Província). Lei n. 27, de 23 de abril de 1849. Marca a receita e fixa adespesa provincial para o ano financeiro de 1849 a 1850. Disponível em:<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1849/lei%20n.27,%20de%2023.04.1
849.pdf>. Acesso em: 06 mar. 2013.SILVA, José Bonifácio de Andrada e. Apontamentos para a civilização dos índiosbravos do Império do Brazil . In: CUNHA, Manuela Carneiro da (org.) Legislaçãoindigenista no século XIX. Uma compilação (1808-1889). São Paulo: Edusp, 1992, pp.347-360.
SOUZA E MELLO, Manoel Felisardo de. Discurso recitado pelo Exmo. Presidente Manoel Felisardo de Souza e Mello no dia 7 de janeiro de 1844 por ocasião daabertura da Assembléa Legislativa da Provincia de São Paulo . São Paulo: Typographiado Governo, 1844, pp. 13-14. Disponível em <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/978/>.
Acessado em: 02 mar. 2013.
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125
O VERDADEIRO Progressista. Correspondência. Jornal do Commercio. Rio deJaneiro, 24 jan. 1837.
c)
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__________. Documentos manuscritos avulsos da Capitania de São Paulo: catálogo 2(1618-1823). Bauru: Edusc; São Paulo: FAPESP: Imprensa Oficial do Estado, 2000.
BIBLIOTECA Nacional do Rio de Janeiro. Annaes: 1919-20. Vol. 61-62, Rio deJaneiro: Oficinas Graphicas da Bibliotheca Nacional, 1925, pp. 315-316.
BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico,architectonico ...Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1712 - 1728. 8v.
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EGAS, Eugenio. Galeria dos Presidentes de S. Paulo. Período Monarchico: 1822-1889. São Paulo: Secção de Obras D’ O Estado de S. Paulo, 1926.
FAGGIN, Carlos Augusto Mattei. Arquitetos de São Paulo: dicionário de artífices,carpinteiros, mestres-de-obras, engenheiros militares, engenheiros civis e arquitetosnos primeiros 350 anos contados da fundação da cidade. São Paulo: FAUUSP, 2009.
GALVÃO, Ramiz (org.). Catálogo da exposição de História do Brasil . Brasília:Universidade de Brasília, 1981. Tomo III, p. 1634.
GALVÃO-TELLES, João Bernardo. Relação dos alunos do Colégio dos Nobres deLisboa (1766-1837). In: Revista do Instituto de Genealogia e Heráldica daUniversidade Lusófona do Porto. N°. 1, Ano 1, Novembro de 2006, pp. 57-118.
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Brazileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1898, v. 2.
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