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BELISA FRANGIONE VIEIRA DE SOUZA
A UTILIZAÇÃO DO FACEBOOK PELA IMPRENSA:
O JORNAL DO CARRO E A REVISTA O MECÂNICO
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu, Mestrado em Comunicação
na Contemporaneidade, na linha de
pesquisa “Produtos Midiáticos:
Jornalismo e Entretenimento”, da
Faculdade Cásper Líbero, como
exigência à obtenção do título de
mestre, sob a orientação do Prof. Dr.
Cláudio Novaes Pinto Coelho.
SÃO PAULO
2015
Souza, Belisa Frangione Vieira de.
A utilização do Facebook pela imprensa: o Jornal do Carro e a Revista O Mecânico /
Belisa Frangione Vieira de Souza - São Paulo, SP, 2015.
125 f.
Dissertação (Mestrado) – Faculdade Cásper Líbero. Mestrado em Comunicação, Linha
B – “Produtos Midiáticos, Jornalismo e Entretenimento”, 2015.
Orientador: Prof. Dr. Cláudio Novaes Pinto Coelho
1.Facebook. 2.Redes Sociais. 3.Comunicação Digital. 4.Imprensa Automotiva.
I. Coelho, Cláudio. II. Faculdade Cásper Líbero, Programa de Mestrado.
III. Título.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, a Deus, por sempre me guiar, me fazer acreditar nos
meus objetivos de vida e mostrar que, por maior que seja o meu sonho, o
sonho Dele é o melhor para mim.
À minha família, em especial meus pais Wilson Tadeu Vieira de Souza e
Rosacy Ignácio Bezerra, que sempre estiveram ao meu lado quando
precisei, na alegria e na tristeza, nos créditos positivos e nos puxões de
orelha.
Ao meu querido noivo Fábio Alessandro de Freitas, por seu amor e suporte
no cotidiano - e nas correções deste trabalho.
Aos meus bons amigos de longa data Gisele Tanus, Juliana Maciel
Granjeia da Silva e Ricardo Junqueira.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Cláudio Novaes Pinto Coelho, pela sua
sabedoria e paciência em me trilhar por este trabalho.
Ao coordenador do curso, Prof. Dr. Dimas Antônio Künsch, pela força e o
apoio dispensados quando achei que este momento não chegaria tão cedo.
Aos meus amados que me guiam de onde estiverem: mãe, avós e bisavó.
SOUZA, Belisa F.V. A utilização do Facebook pela imprensa: o Jornal
do Carro e a Revista O Mecânico. Dissertação (Mestrado em
Comunicação) – Faculdade Cásper Líbero. São Paulo, 2015.
RESUMO
A proposta deste trabalho é desenvolver uma reflexão a respeito das
relações entre as redes sociais, em especial o Facebook, e o jornalismo. A
base para esta reflexão serão estudos de caso sobre o Jornal do Carro,
caderno de automóveis do jornal O Estado de S. Paulo, e a Revista O
Mecânico. Mais do que simplesmente um site de relacionamentos, o
Facebook se tornou uma forma de pautar as nossas rotinas. Com a
imprensa, não poderia ser diferente. Nos dois veículos estudados,
desenhou-se no Facebook um complemento para os sites e uma forma à
parte de divulgar conteúdos frios. Curiosamente, os dois veículos
analisados também passaram pelas mesmas situações: um site que não era
colocado no ar no tempo previsto, uma página no Facebook criada na
mesma época e o objetivo inicial de fazer dessa rede social um
complemento para o conteúdo de suas edições impressas.Para o
desenvolvimento deste trabalho, foram analisados os principais momentos
das duas páginas com relação a posts mais curtidos, momentos de interação
com o leitor, críticas e celebrações dos veículos quando conquistavam um
número arredondado de fãs. Para os referenciais teóricos, tenho por base
desde autores mais clássicos, como Zygmunt Bauman e Vilém Flusser a
autores contemporâneos que se dedicam a investigar a influência das redes
sociais em nossas vidas, como Raquel Recuero, Inês Mendes Moreira
Aroso e Catarina Rodrigues.
Palavras-chaves: Facebook, comunicação digital, redes sociais, imprensa
SOUZA, Belisa F.V. The use of the Facebook by press: the Jornal do
Carro and O Mecânico magazine. Dissertation (Master’s in
Communication) – Faculdade Cásper Líbero. São Paulo, 2015.
ABSTRACT
The proposal of this work is to develop a reflection about the relationship
between social networks, in particular the Facebook, and the journalism.
The basis for this reflection will be case studies about Jornal do Carro,
book of cars that is a part of the newspaper O Estado de S. Paulo, and O
Mecânico magazine. More than a simply home page of relationships,
Facebook has become a way to govern our routines. With the press, it could
not be different. In both vehicles studied, it had been drew on Facebook a
complement to the home pages and a way to disseminate cold contents.
Curiously, these two vehicles analyzed also spent by the same situations: a
home page that was not placed in the air within the time allotted, a
Facebook page created at the same time and the initial objective of making
this social network a supplement to the content of their printed editions.
For the development of this work, we analyzed the main moments of the
two pages by the posts more tanned, moments of interaction with the
people, criticism and celebrations when they reached a rounded number of
fans. For the theoretical frameworks, I basis since classic authors like
Zygmunt Bauman and Vilém Flusser until contemporary authors who
dedicate themselves to investigate the influence of social networks in our
lives, as Raquel Recuero, Ines Mendes Moreira Aroso and Catarina
Rodrigues.
Keywords: Facebook, digital communication, social networking, press
SUMÁRIO
Introdução 1
Capítulo 1 – A internet e as redes sociais pioneiras: Orkut e Facebook,
comunidades e curtidas que sobressaíram 8
A internet 8
O surgimento das redes sociais 10
As redes sociais no mundo virtual 11
O Twitter e sua forma resumida de expressão 12
O Instagram e a popularização dos “selfies” 14
WhatsApp, a rede social que se transformou em negócio 17
Orkut e Facebook – Redes sociais à parte 19
Relações interpessoais no mundo virtual: a vida resumida em curtidas e
compartilhamentos 21
O Facebook fazendo a vez de investigador policial 23
O Facebook como banco de empregos 26
Você é aquilo que curte: as influências que grandes marcas nos obrigam a
seguir 27
Capítulo 2 – O jornalismo, a internet e as redes sociais 40
O mal-estar...Nas redes sociais: Episódios
Facebook: o caso extraconjugal de Tony Salles e Kamyla Simioni 51
Twitter: a briga de egos entre Andressa Urach e Bárbara Evans 53
Instagram: Ana Paula Siebert, a “tal” nova namorada de Roberto Justus 55
Capítulo 3 – Jornalismo e redes sociais no Jornal do Carro e na Revista O
Mecânico 59
O Jornal da Tarde e sua proposta de jornalismo 59
O Jornal do Carro e a atração de novos leitores 65
Um outro estudo de caso: a Revista O Mecânico 100
Considerações finais 114
Referências bibliográficas 121
1
INTRODUÇÃO
“A Utilização do Facebook pela Imprensa: o Jornal do Carro e a Revista O Mecânico”.
O tema foi escolhido algumas semanas antes do ingresso ao mestrado por três
inquietações notadas pelo jornal, pelo rádio e pela rotina profissional.
A primeira – e principal – era com o iminente surgimento do site do Jornal do Carro,
caderno de veículos do jornal O Estado de S. Paulo e que demandou um grande
investimento de tempo e dinheiro por parte do Grupo Estado.
A ideia de implantar um site existia há pelo menos dois anos, quando o suplemento
ainda era parte integrante do extinto Jornal da Tarde. O objetivo era que ele fosse um
suplemento à edição impressa, ou seja, traria os conteúdos que foram publicados nas
edições semanais, além de matérias exclusivas do portal.
Em março de 2012, por uma iniciativa da editora-assistente do Jornal do Carro, surgiu
uma página do caderno no Facebook, ação que uniria desde o útil, que era a divulgação
do conteúdo do blog do caderno que ficava hospedado no portal do Jornal da Tarde e,
posteriormente, do Estadão.Com, até o agradável, que era a interação com internautas e
a agregação de novos leitores.
O objetivo do perfil no Facebook era ser um “parceiro” do site, com postagens dos links
das reportagens. A página na rede social entrou no ar, mas a da internet não.
Por questões financeiras e pelos rumores de que o JT chegaria ao fim, a iniciativa foi
adiada para setembro de 2012, data em que o Jornal do Carro, em parceria com o ex-
piloto Emerson Fittipaldi, promoveriam a inédita 6 Horas de São Paulo, competição
automobilística inspirada na tradicional 24 Horas de Le Mans. O caderno reformulado
com novo projeto gráfico e o site seriam apresentados durante o evento.
Um mês antes da competição, o Grupo Estado atestou a inviabilização da implantação
do site a curto prazo, mas era necessário apresentar alguma iniciativa junto aos
patrocinadores do evento que divulgasse tanto a 6 Horas como o novo Jornal do Carro.
A solução mais simples foi recorrer ao Facebook.
No dia 27 de agosto de 2012, foi divulgada primeira dica, acompanhada de uma foto:
“Quer pilotar um supercarro de 565 cv e ainda conferir, como convidado VIP, a etapa
de uma corrida internacional no Autódromo de Interlagos? Fique de olho em nossa
página aqui no Facebook. Para celebrar nossos 30 anos, teremos um concurso cultural
que poderá dar a você, caro leitor, a chance de fazer tudo isso. E mais um pouco...”
O concurso consistia no envio de uma frase que tratasse do mundo automotivo. As mais
criativas ganhariam os prêmios citados. Nessa época, o Facebook do Jornal do Carro
tinha pouco mais de 3 mil seguidores.
Para atrair mais seguidores em um tempo mais curto, a equipe passou a incluir, em cada
post do blog, os dizeres “Confira a fan page do Jornal do Carro no
Facebook: http://www.facebook.com/JornaldoCarro”.
No dia 12/12/2013, a página alcançou a marca de 40 mil seguidores. Só no dia
21/11/2013, foram 571 novos “curtidores” inclusos. Ainda pouco perto de páginas
similares, como a da revista Autoesporte, que existe desde maio de 2011 e reúne mais
de um milhão de seguidores. Mas ainda há muitas chances de esse número aumentar, já
que no dia 25/9/2013 o novo site entrou no ar e tem correspondido relativamente às
expectativas de audiência.
Com uma visibilidade muito menor, tendo em vista que não há venda em bancas, a
Revista O Mecânico tem 30 anos de existência e é exclusivamente voltada para um
público ligado à manutenção automotiva. Seu perfil no Facebook, semelhantemente a
do Jornal do Carro, surgiu em 2012 e praticamente pelos mesmos motivos: o atraso na
entrega do site e a atração de mais leitores.
Mesmo uma delas sendo tão pouco conhecida, por algum tempo, a quantidade de
seguidores das duas páginas era praticamente o mesma, com a diferença de que o Jornal
do Carro, por sua exposição, conquista uma quantidade maior diariamente.
Quando estava prestes a alcançar a marca de 300 mil seguidores, a dupla de designers
da revista ficou a postos para preparar uma arte que agradecesse aos
leitores/seguidores/curtidores pelo feito. Uma demonstração de que o Facebook, além
de pautar, serve sim como medidor de audiência.
No início do curso, foi pensado que, assim como outras redes sociais e programas de
mensagem na internet, como ICQ e Orkut, tiveram vez e hora, o Facebook parecia estar
vivendo o seu melhor momento. Ou seria apenas o famoso auge por tempo limitado?
O Facebook foi criado por Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz, Chris Hughes e
Eduardo Saverin há quase dez anos, mas, no Brasil, sua ascensão começou em fevereiro
de 2011, quando a rede abriu um escritório no País, no bairro do Itaim Bibi, na zona sul
de São Paulo. Por aqui, já são mais de 75 milhões de usuários cadastrados.
O Facebook parecia ser uma rede social comum até o momento em que ele mostrou
outros propósitos muito além de um simples site de relacionamentos. Ele passou a ser
utilizado tanto para a divulgação de novos produtos por grandes empresas quanto para a
organização de manifestações que culminaram na renúncia do presidente do Egito,
Hosni Mubarak, em 2011.
Outra utilização frequente do Facebook parece ser a de agenda setting. A imprensa
passou a fazer dele uma edição à parte de muitas publicações e um banco de pautas em
diferentes vertentes. Um caso recente foi o do polêmico desabafo da blogueira
Giovanna Ferrarezi em sua página no site de relacionamentos. Ela relatou que foi
impedida de entrar em uma casa noturna sem pagar. Da publicação na íntegra do relato
da jovem até uma entrevista com a própria para explicar o ocorrido, veio a inspiração
para reportagens, artigos e surgimento de outros sites, em especial para debochar de
Giovanna. E é provável que todo o conteúdo produzido perca audiência e seja esquecido
muito em breve.
Após a conclusão da disciplina “Metodologia da Pesquisa Científica em Comunicação”,
o tema a que me levavam as pesquisas preliminares precisou ser – bastante –
delimitado. Obviamente, na dissertação, estão inclusos a história da internet, o
surgimento das primeiras redes sociais e a ascensão do Facebook. Mas, muita coisa já
foi dita sobre o assunto em si. Trabalhos de conclusão de curso, monografias,
dissertações e teses já contaram com a presença do Facebook como protagonista. Logo,
a solução discutida em sala de aula foi propor um estudo de caso sobre a página do
Jornal do Carro na rede social. A iniciativa, proposta pela redação do suplemento,
visava uma aproximação com os leitores do caderno – e outros conquistados nesse meio
tempo – enquanto o site do Jornal do Carro não entrava no ar.
Aproveitando esse “gancho”, o trabalho mostrará como o Facebook é utilizado por outra
empresa de comunicação, caso da Revista O Mecânico, que foi incluso nos “últimos
minutos da prorrogação da partida”.
O problema de pesquisa é responder se páginas no Facebook realmente angariam novos
leitores e até onde essa interação pode ser benéfica para a publicação. Ao mesmo tempo
que permite um contato maior com os que acompanham a rede social, pode provocar
também um afastamento deles da publicação impressa, já que o conteúdo estará
disponível na internet em alguns instantes.
Que as redes sociais revolucionaram a internet e o modo de ver o mundo já não é mais
nenhuma novidade. Mas parece que a revolução provocada pelo Facebook é mais
consistente.
Em 2010, quando Twitter e Orkut pareciam ser os únicos possuidores da chave do
sucesso, um ícone implantado em celulares androids e iPhones parecia mostrar que uma
outra forma de comunicação estava vindo para se juntar a eles – e ficar.
No Orkut havia a presença das comunidades, que visavam reunir apreciadores de um
mesmo produto ou assunto e geralmente gerenciadas por usuários comuns. Vez ou outra
um debate surgia. O Facebook veio com algo parecido, porém diferente. O “scrapbook”
virou “linha do tempo”. As “comunidades” viraram “páginas”, geralmente
administradas pelas próprias personalidades a quem são dirigidas.
Aproveitando essas mudanças, partidos políticos e meios de comunicação optaram por
fazer do Facebook uma extensão, respectivamente, de campanhas eleitorais e chamadas
das notícias. Por que isso há alguns meses e não há alguns anos por meio do Orkut? O
que, exatamente, o Facebook tem de tão especial?
Muitos meios de comunicação impressos, na atual onda das demissões em massa –
vulgo passaralhos – deixam claro que preferem investir nas plataformas digitais a
dedicar gastos exorbitantes para uma forma de comunicação que parece fadada à
aposentadoria por tempo de serviço.
O diretor de conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, ao anunciar o fim do Jornal
da Tarde no final de 2012, afirmou que o investimento necessário para modernizar o
antigo diário poderia ser mais bem aproveitado em plataformas digitais. Para ele,
compensava mais apostar no conteúdo do jornal O Estado de S. Paulo para tablets e
celulares e em profissionais voltados para o trabalho na web e em redes sociais. O
caderno Jornal do Carro, herança do Jornal da Tarde, mantém uma página no Facebook
há cerca de três anos, com pouco mais de 470 mil “curtidores”, e cujo objetivo principal
é ser não somente um complemento, mas um suplemento da edição impressa. Em
apenas quatro meses, a página conquistou mais de 30 mil novos membros no perfil.
A dissertação tentará mostrar que o Facebook consegue, muitas vezes, atrair mais
visualizações do que o próprio site da empresa/veículo de comunicação na internet. A
rede social ultrapassou os limites de ser apenas uma página de relacionamento entre
pessoas com interesse comuns para se tornar agenda setting, prestação de serviços,
defesa do consumidor e fonte de notícias.
Além da parte histórica baseada, em sua maior parte, em referências bibliográficas, o
trabalho de dissertação trará dois estudos de caso compostos por dados numéricos e
análises.
Nos dois perfis de Facebook envolvidos, serão levantados alguns momentos marcantes,
como a data de surgimento, datas em que conquistaram um número arredondado de
seguidores, posts mais curtidos e mais comentados, regimes e horários das postagens,
intervenções do administrador e regras internas de cada publicação.
Por fim, o trabalho de dissertação será composto por três capítulos:
Capítulo 1 – A internet e as redes sociais pioneiras: Orkut e Facebook,
comunidades e curtidas que sobressaíram – Neste capítulo, será tratado o surgimento
da internet, quais as mudanças na nossa realidade e a importância dela para a
diminuição das fronteiras. Será abordada também a questão referente às redes sociais
pioneiras, como elas começaram e transformaram a comunicação. Consideradas as
primeiras formas de redes sociais como as conhecemos, o Orkut e o Facebook
possibilitaram mais do que um simples bate-papo entre interessados por um mesmo
tema. Com eles foi possível reencontrar antigos colegas de escola, antecipar o
lançamento de produtos e até auxiliar as buscas por pessoas e animais de estimação
desaparecidos.
Capítulo 2 – O jornalismo, a internet e as redes sociais – Considerando que a internet
e, mais ainda, as redes sociais, proporcionaram intensas mudanças na realidade
contemporânea, o jornalismo não podia ficar de fora. Diversos veículos de comunicação
passaram a usar e abusar especialmente do Facebook para conquistar novos leitores,
antecipar as manchetes, coletar opiniões e ser sinônimo de visibilidade. Aqui será
discutido o que mudou em questão de linguagem, as características de uso e o que,
verdadeiramente, representam as “curtidas”.
Capítulo 3 – Jornalismo e redes sociais no Jornal do Carro e na Revista O
Mecânico – Neste capítulo, será abordada a história do Facebook do Jornal do Carro. O
suplemento, que faz parte do jornal O Estado de S. Paulo, foi uma das últimas
publicações a aderirem à rede social e em dois anos conquistou mais de 250 mil
seguidores. Com o novo site da publicação no ar, o Facebook passou a antecipar o que
seria publicado nas edições impressas e virtual e a ter um contato mais estreito com os
leitores. Um dos exemplos mais recentes foi um “selfie” da editora-assistente, Rafaela
Borges, ao lado de um ônibus espacial. Também será abordado o perfil no Facebook da
Revista O Mecânico, que preparou até sua equipe de artes para celebrar um número X
de seguidores.
Grande parte do conteúdo deste trabalho e do desenvolvimento da pesquisa, por se tratar
da internet, das redes sociais e do jornalismo, teve como base páginas do Facebook e
reportagens que tinham as redes sociais como protagonistas ou coadjuvantes. Por dentro
desse mundo da utilização das redes pelo jornalismo, estão as seguintes obras e autores:
- Raquel Recuero, em seu artigo “Redes Sociais na Internet, Difusão de Informação e
Jornalismo: Elementos para discussão”, trata das redes sociais e da prática do
jornalismo. A autora cita como exemplo um protesto ocorrido em 2009, que defendia a
liberdade de expressão na internet, cujos debates começaram no Orkut e despertaram a
atenção da imprensa. Raquel define os usuários de redes sociais por “atores”, que
muitas vezes representam sua real personalidade – ou não;
- Catarina Rodrigues, em seu artigo “Redes sociais: novas regras para a prática
jornalística?”, fala das mudanças no jornalismo que se originaram pelas redes sociais,
como as novas formas de relacionamento com as fontes, os diferentes modos de
distribuição de conteúdos, as tentativas de captação/fidelização de leitores e a
velocidade informativa. Para a autora, as redes sociais contribuíram para alterar a
relação entre emissores e receptores. Catarina ainda aborda a questão de regras de
conduta para a utilização das redes sociais por parte de profissionais de imprensa e se
isso influencia na liberdade de expressão;
- Inês Mendes Moreira Aroso, com o artigo “As redes sociais como ferramentas de
jornalismo participativo nos meios de comunicação regionais: um estudo de caso”,
aborda a questão da participação do público no jornalismo através de comentários,
envio de fotografias, vídeos ou textos, práticas viabilizadas por meio das redes sociais.
A autora também visa explicar que, atualmente, as redes sociais são uma ferramenta
essencial do jornalismo, permitindo a colaboração do cidadão comum em todo o
processo jornalístico;
- Ana Sanchez, António Granado e Joana Lobo Antunes, no livro “Redes Sociais para
Cientistas”, abordam alguns preceitos da internet como a reputação na web, que os
autores julgam fundamental para controlar a informação que se espalha na rede, além da
história das principais redes sociais e profissionais do momento;
- Zygmunt Bauman e sua obra “O Mal-Estar da Pós-Modernidade”, explicam as aflições
do mundo contemporâneo tendo como base o livro “O Mal-Estar do Homem na
Civilização”, de Sigmund Freud. Para Bauman, o mundo hoje se baseia em uma relação
de perdas e ganhos: “você ganha alguma coisa mas, habitualmente, perde em troca
alguma coisa”. É a partir desses preceitos que podemos discutir a relação do jornalismo
com as redes sociais, comparando se a qualidade do primeiro acaba quando se faz muito
uso do segundo;
- Isleide de Arruda Fontenelle, com o seu “O Nome da Marca”, onde trata do domínio
que grandes marcas, como Mc Donald’s e Coca-Cola, exercem sobre todos nós.
Argumenta-se nesta dissertação que a mesma dedicação que grandes empresas devotam
à publicidade e a inúmeras outras formas de divulgação agora faz parte das redes
sociais. Em uma página de Facebook, elas dedicam um espaço tanto para um
lançamento quanto para comentários, críticas e sugestões. E é justamente por esse meio
que o contato se estreita e o boca a boca fica mais eficaz, para o bem ou para o mal.
Os estudos de caso desta dissertação trazem exemplos, em imagens, dos usos
jornalísticos que o Jornal do Carro e a Revista do Mecânico fazem das redes sociais,
permitindo comentários, sugestões, pedindo indicações de fontes e pautas e chamando o
público para conhecer as edições impressa e virtual.
Há quatro anos atrás, quando eu ainda trabalhava na editora Ciranda Cultural, havia
uma política talvez impensável para os meios de comunicação hoje em dia: o bloqueio
das redes sociais. Nada de Facebook, nada de Twitter e nada de MSN (atual Skype). Na
época, a editora de uma das revistas, Julliana Reis de Sá, entrou em contato com o RH
da empresa para pedir a liberação das redes sociais nos computadores da redação, pelo
menos da equipe de reportagem, que procurava fontes e fazia entrevistas para a Incluir,
publicação voltada para pessoas com deficiência e que, na maioria das vezes, trazia
matérias com personagens que não podiam se locomover ou falar.
Até 2013 pelo menos, o próprio editor do Jornal do Carro, Tião Oliveira, demonstrava
certo receio por entrevistas feitas por e-mail ou Facebook. Acreditava, talvez, que elas
fossem um tanto quanto impessoais e, não raro, quando outros veículos de comunicação
recorrem a essa prática, frisam que “tal fulano respondeu às perguntas de tal publicação
por e-mail ou Facebook”, como se isso tirasse alguma nobreza do trabalho ou
significasse uma falta de sucesso o suficiente na busca pela fonte.
Discussões à parte, algumas empresas de comunicação têm suas próprias regras para a
utilização das redes sociais. Outras fazem dessas redes uma forma de comunicação
interna e interação com a tecnologia e a atualidade. Não é possível afirmar qual delas é
certa ou errada, mas é viável dizer que as mudanças decorrentes do uso dessas redes
vieram para ficar.
CAPÍTULO 1 – A INTERNET E AS REDES SOCIAIS PIONEIRAS:
ORKUT E FACEBOOK, COMUNIDADES E CURTIDAS QUE
SOBRESSAÍRAM
A Internet
Se existe uma grande incerteza, ela se refere à data exata da origem da internet. A mais
“oficial”, por assim dizer, afirma que a rede mundial de computadores surgiu no final da
década de 1960, durante a Guerra Fria, por iniciativa do Departamento de Defesa
americano. O objetivo era manter as comunicações caso os ataques inimigos por parte
da União Soviética, incluindo os nucleares, danificassem ou destruíssem os meios de
telecomunicação convencionais.
O pesquisador Paul Baran idealizou uma espécie de conjunto com um sistema
descentralizado. Segundo Véronique Dumas, em reportagem da revista História Viva,
“ele pensou em uma rede tecida como uma teia de aranha (web, em inglês), na qual os
dados se movessem buscando a melhor trajetória possível, podendo ‘esperar’ caso as
vias estivessem obstruídas. Essa nova tecnologia, sobre a qual também se debruçaram
outros grupos de pesquisadores americanos, foi batizada de packet switching, ‘troca de
pacotes’”.
Em 1969, a Advanced Research Project Agency (ARPA), órgão ligado ao
Departamento de Defesa americano e criado pelo presidente Dwight Eisenhower em
1957, iniciou as operações da rede ARPAnet que, a princípio, conectou as universidades
de Stanford, Los Angeles, Santa Barbara e de Utah e passou a servir como um serviço
de troca de ideias e mensagens entre estudantes e professores universitários,
principalmente dos Estados Unidos.
Segundo Véronique Dumas, “em 1971, o engenheiro americano Ray Tomlinson criou o
correio eletrônico e, no ano seguinte, Lawrence G. Roberts desenvolveu um aplicativo
que permitia a utilização ordenada dos e-mails. As mensagens eletrônicas se tornaram o
instrumento mais utilizado da rede. A ARPAnet seguiu sua expansão durante os anos
1970 – a parte de comunicação militar da rede foi isolada e passou a se chamar
MILnet”.
Mas foi na década de 90 que a internet passou a mostrar a que veio e sua importância na
evolução. Tim Berners-Lee, pesquisador do Conselho Europeu para a Pesquisa Nuclear
em Genebra (Cern), criou o protocolo HTTP (Hyper Text Transfer Protocol) e a
linguagem HTML (Hyper Text Markup Language), que permitem navegar de um site a
outro, ou de uma página a outra.
De acordo com o portal SuaPesquisa.Com, “Berners-Lee ainda desenvolveu a World
Wide Web (WWW), possibilitando a utilização de uma interface gráfica e a criação de
sites mais dinâmicos e visualmente interessantes. Ainda na década de 1990, surgiram
vários navegadores (browsers) como, por exemplo, o Internet Explorer da Microsoft e o
Netscape Navigator”.
Nessa época, por não haver uma autoridade central para controlar a internet e sua
expansão, ficou-se acordado que esse controle seria feito pelo governo americano, que
financiou sua criação, em parceria com diversos órgãos que garantissem seu
crescimento.
Foi o caso da Internet Assigned Numbers Authority (IANA), responsável pela
gestão dos nomes dos domínios, o DNS (Domain Name System). Graças a ele,
os endereços IP, constituídos de uma série de códigos (o endereço numérico
atribuído a cada computador conectado à rede) são traduzidos em letras que
compõem nomes identificáveis e memorizáveis. Apesar de gerido pela IANA, o
DNS sempre esteve sob controle do Departamento de Comércio dos Estados
Unidos. Em 1998, sua gestão foi confiada a uma organização californiana de
direito privado, a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers
(Icann). Em 2009, os contratos que ligavam a Icann ao Departamento de
Comércio americano expiraram, e a empresa passou a ter mais autonomia. Sua
missão é assegurar, dos Estados Unidos, a coordenação técnica do sistema de
denominação. Deve promover também a concorrência e garantir a representação
global das comunidades na internet. Os interessados em política mundial da
rede podem participar de seus trabalhos, por meio de fóruns acessíveis em seu
site na web. (Verónique Dumas, edição virtual da revista História Viva, julho de
2011).
Ainda de acordo com a reportagem de História Viva, há pelo menos 11 anos, a
Organização das Nações Unidas (ONU) pleiteia o que define por uma gestão
“multilateral, transparente e democrática, com a plena participação dos Estados, do setor
privado, da sociedade civil e das organizações internacionais”. Devido a essa contenda,
em 2006 nasceu o Internet Governance Forum (IGF), estrutura de cooperação
internacional que tem apenas papel consultivo. “Ela deve, também, velar pela liberdade
de difusão das inovações tecnológicas e ideias”, cita Verónique
Em janeiro de 2007, o especialista francês Bernard Benhamou declarou que “a
capacidade de fragmentação da rede apresenta riscos em relação ao plano industrial e
político”, lembra a reportagem de Verónique. A afirmação de Benhamou levava em
consideração a China, país que tentou criar seu próprio sistema de endereçamento,
independente do DNS.
Estima-se que, no planeta, há mais de 2 bilhões de usuários da internet. Junto com esse
número, acompanhou a evolução a criação de novos serviços como as redes de banda
larga com fio (ADSL e fibra óptica), sem fio (wifi, Bluethooth e 3G) e da internet
móvel (WAP). A partir daí desenvolveram-se outras tecnologias e produtos da chamada
“web 2.0”, como blogs, wikis, sites de compartilhamento de fotos e vídeos ou redes
sociais, assunto que é o mote desse trabalho e será melhor especificado a seguir.
O surgimento das redes sociais
Assim como o da internet, é possível afirmar que o momento exato do surgimento das
redes sociais é um tanto quanto incerto. Ao se iniciar as buscas na internet, a maioria
dos resultados se refere às redes que têm origem, atual atividade e, em alguns casos, o
fim no mundo interativo. Mas o que já se sabe, até por pesquisas recentes, é que elas
surgiram muito antes do que se imaginava. Mais do que isso: embora a função de
interação continue a mesma, a forma como isso se dava ia muito além de visualizações,
compartilhamentos e “likes”.
Tom Standage, na obra Writing on the Wall – Social Media, The First 2,000 Years
(Escrevendo na parede – Mídia Social, os primeiros 2.000 anos, em português), afirma
que as redes sociais – não as que conhecemos atualmente, claro – foram uma criação
dos romanos e que teve início em 51 a.C.
Segundo Standage, tudo começou com o filósofo e político romano Marco Túlio Cícero,
que, com o auxílio de um escravo (que posteriormente virou um escriba), redigia
mensagens em rolos de papiro que eram enviados a vários contatos de diversas funções
e origens. Estes, por sua vez, copiavam essas mensagens, acrescentavam seus
comentários e repassavam adiante. Os textos, na maioria das vezes, tratavam das
movimentações políticas de Roma e opiniões de seus “atores”.
Além do papiro, os romanos também utilizavam outro tipo de “plataforma” para se
comunicar e compartilhar ideias: uma tábua de cera – que, de acordo com Standage,
tinha o tamanho de um tablet atual – onde eram escritos recados e os resumos da Acta
Diurna, uma espécie de jornal de Roma que trazia debates políticos, anúncios de
feriados, nascimentos e óbitos e informações oficiais. Como essas tábuas eram levadas
por um mensageiro até o destinatário, que por fim respondia no próprio “tablet”,
Standage compara a prática ao atual sistema de torpedos de celular.
Como o espaço da tábua de cera não era tão extenso assim, foi também patenteada uma
prática amplamente usada até hoje: a abreviação de palavras e expressões. Em Writing
on the Wall – Social Media, The First 2,000 Years, o autor coloca que entre essas
expressões mais comuns estavam “SPD” (envia muitos cumprimentos) e “S.V.B.E.E.V”
(Se você está bem, que bom. Eu estou bem.).
Um pouco mais para frente, no século 16, outra mostra do pioneirismo das redes sociais.
Ainda segundo Standage, na corte de Ana Bolena (esposa do rei da Inglaterra, Henrique
8º), havia uma espécie de Facebook onde os cortesãos se comunicavam e
compartilhavam poesias e até fofocas que circulavam pelos corredores do palácio. Essa
“rede social” era chamada de Manuscrito de Devonshire.
O uso político do Facebook também não é recente. Em 2011, no Egito, protestos
organizados pela famosa rede social criada por Mark Zuckerberg tinham como objetivo
derrubar o regime do presidente Hosni Mubarak. No século 16, panfletos criados pelo
teólogo alemão Martinho Lutero foram replicados (compartilhados, para usar um termo
atual) por toda a Europa por simpatizantes e culminaram na Reforma Protestante.
As redes sociais no mundo virtual
Versões e discussões à parte, é fato que as redes sociais tiveram um início também no
mundo virtual, onde se tornaram amplamente conhecidas.
Em 1995, surgia o Classmates, criado por Randy Conrads, com o objetivo de encontrar
antigos – e atuais – colegas de escola e faculdade. Sucesso nos Estados Unidos e no
Canadá, o serviço era pago. Chegou a ter pelo menos 50 milhões de usuários ativos e
existe até hoje como uma espécie de anuário escolar online.
Já segundo um artigo intitulado “Social Network Sites: Definition, History and
Scholarship”, publicado no Journal of Computer-Mediated Communication, em 2007, a
primeira rede social a surgir na internet foi a SixDegrees, em 1997.
Considerado uma pré-estreia do Orkut, o SixDegrees se baseava na criação de perfis e a
interação por meio de comunidades. Entre 2000 e 2001, pela falta de visibilidade, o site
encerrou as atividades. Mas seu fundador, Andrew Weinreich, sempre acreditou que o
verdadeiro motivo era que a rede social estava muito a frente do seu tempo. Já os
usuários da época julgavam o SixDegrees como um mero “aceitador de amizades com
estranhos”. Recentemente, o site foi reativado, mas só permitia o acesso de usuários
com contas cadastradas na época de seu auge.
Também com o propósito de aproximar antigos amigos e arranjar novos, surgiu na
Califórnia, nos Estados Unidos, em 2002 o Friendster, que chegou a ter mais de três
milhões de usuários ativos. O criador do site, Jonathan Abrams, chegou a receber uma
proposta de compra de US$ 30 milhões (aproximadamente R$ 66 milhões) do Google,
que foi recusada. Logo em seguida o site chegava ao fim por não suportar tantos acessos
e ser ultrapassado pelos recursos oferecidos pelos concorrentes.
A partir de 2003, começaram os nascimentos de redes sociais que existem até hoje. Uma
delas é o MySpace, cuja criação levou apenas dez dias e tinha como objetivo “enterrar
de vez” o Friendster. Além do encontro entre amigos, o site tinha um caráter multimídia
que incluía updates de músicas e fotos.
Também em 2003, surgiu uma outra rede social que segue crescendo a cada dia e que
tem um objetivo diferente: o LinkedIn. O site reúne contatos profissionais e, há pouco
tempo, passou a ser requisitado para o envio e seleção de currículos.
O Twitter e sua forma resumida de expressão
A história da “rede social do passarinho” começou, de verdade, em 2006, mas os sinais
de seu surgimento vieram dois anos antes.
Em 2004, Evan Williams havia criado o Blogger, programa para hospedar diários
virtuais (blogs), enquanto ainda era funcionário do Google. Um belo dia, ele convidou
um colega, Biz Stone, e fundaram a Odeo, uma empresa de podcasting que prometia ser
revolucionária, mas que não trouxe os resultados esperados. Até que dois anos depois, a
dupla e mais outro colega da área, Jack Dorsey, criaram um Twitter em paralelo com a
Odeo. A ideia inicial foi de Dorsey, que, em uma reunião do trio, deu a sugestão de uma
rede social que funcionasse como uma espécie de SMS.
O primeiro “tweet”, como as publicações no Twitter são chamadas, foi do próprio
Dorsey, em 21 de março de 2006, que escreveu “configurando agora meu Twitter”.
Para configurar o status de um SMS, os posts tinham o limite de 140 caracteres para a
mensagem a ser postada, mais 20 caracteres para adicionar um nome de usuário,
totalizando 160. O nome Twitter, em inglês, tem dois significados, conforme publicou o
portal TecMundo: “uma pequena explosão de informações inconsequentes” e “pios de
pássaros”.
Em outubro de 2006, Williams montou a Obvious Corp. e adquiriu os ativos da Odeo,
em especial o Twitter. Mas foi em março de 2007 que a rede social começou a alcançar
o estrelato. Durante a feira de tecnologia South by Southwest, no Texas, Estados
Unidos, telões mostravam tweets em tempo real, de diversas partes do mundo, o que
atraiu a atenção e a criação de perfis no site por blogueiros e geeks. Segundo
informações do jornal O Globo, “o número de tweets diários salta de 20 mil para 60
mil”. Pelo sucesso, um mês depois, Dorsey, Williams e Stone decidiram separar o
Twitter das outras empresas.
Já em 2008, o sucesso e o desgaste deram as caras. Em março, a rede social atingiu 1,3
milhão de usuários. Em outubro, Williams assumiu a diretoria executiva da nova
empresa, enquanto Dorsey virou presidente do conselho. Ele chegou a reclamar para a
imprensa americana que a troca de comandos foi para ele um “soco no estômago”.
Rusgas à parte, o negócio continuava indo bem, pois um mês depois o Facebook fez
uma oferta de US$ 500 milhões para comprar o Twitter, que já somava 6 milhões de
usuários, mas a proposta foi recusada.
Em 2009, o Twitter lançou a ferramenta Trending Topics, que reúne os assuntos mais
discutidos do momento e viu seu valor de mercado chegar a US$ 1 bilhão. Mesmo
assim, uma pesquisa realizada pela consultoria de mercado americana HubSpot
comprovou que “a taxa de crescimento havia caído para 3,5% em outubro do ano
passado”, segundo reportagem do portal TecMundo. Mas também se registrou um
aumento no número de usuários fora dos Estados Unidos. O Brasil passou a ocupar o
terceiro lugar, atrás apenas de Estados Unidos e Inglaterra.
Entre altos e baixos, inserção de publicidades e investimentos, o Twitter alcançou, em
dezembro de 2012, o número de 200 milhões de usuários mensais. No ano seguinte,
abriu seu capital e conquistou relativo sucesso na bolsa de valores, porém, nos últimos
dias de 2013, uma outra pesquisa realizada por uma outra empresa de consultoria
americana, a Pew Research Center, atestou que a rede social estava perdendo
popularidade em seu país de origem e ocupava apenas o quarto lugar na preferências
entre as redes sociais, atrás do Facebook, do LinkedIN e do Pinterest, rede social de
compartilhamento de fotos e muito popular nos Estados Unidos.
A primeira novidade do Twitter para 2015 foi adicionar um recurso para upload de
vídeos em alta resolução, o que possibilita a adição de arquivos de até 10 minutos. A
ideia é poder concorrer de igual para igual com o Facebook, que em 2014 “tornou-se o
segundo maior em reprodução de vídeos na internet, perdendo apenas para o YouTube”,
segundo reportagem do portal Canaltech.
O Instagram e a popularização dos “selfies”
O Instagram é considerado uma das redes sociais mais recentes. Ele “nasceu” em 2010,
por iniciativa do brasileiro Mike Krieger e de Kevyn Systrom e foi batizado
inicialmente de “Burbn”. Ainda no mesmo ano, por motivos de “complicação”, segundo
os seus fundadores, o Burbn passou por reformulações e, nessa época, já tinha recebido
investimentos que ultrapassavam os US$ 500 mil.
Antes da mudança radical, o Burbn era praticamente uma rede social que não oferecia
nada de inédito. Por meio dele era possível fazer fotos e marcar compromissos com os
amigos. Após mudar de nome para Instagram, a rede ganhou o que hoje a diferencia: os
filtros para imagens e a possibilidade de compartilhá-las no Facebook e no Twitter.
Há quatro anos atrás, quando foi eleito pela Apple o "aplicativo do ano de 2011", ele já
somava 30 milhões de downloads. Aliás, nessa época, o Instagram era disponível apenas
para usuários de aparelhos da cobiçada marca da maçã.
Naquele mesmo ano, o Instagram anunciou outras revoluções ao aplicativo: a chegada
de quatro novos filtros (Amaro, Rise, Hudson e Valencia), o tamanho das fotos tiradas, que
aumentara de 612x612 pixels para 1936x1936 pixels e a criação de uma versão do aplicativo
compatível com o sistema Android, do Google. A explicação para essa última iniciativa, de
acordo com Systrom, era o número muito maior de usuários no mundo. “Nós não
começamos um negócio para não ganhar dinheiro”, disse na época.
Por fim, em 2012, Systrom anunciou que o aplicativo já conquistara 27 milhões de
usuários cadastrados, mas não revelou a quantidade de pessoas que utilizam o
Instagram diariamente. E foi ainda em 2012 que Mark Zuckerberg anunciou, em seu
perfil do Facebook a compra da “rede social imagética”. “Estou animado em
compartilhar a notícia de que concordamos em adquirir o Instagram e que a sua
talentosa equipe vai se juntar ao Facebook. Por anos, temos focado na construção de
uma melhor experiência para compartilhar fotos com seus amigos e familiares. Agora,
seremos capazes de trabalhar ainda mais estreitamente com a equipe do Instagram
para também oferecer as melhores experiências para compartilhar fotos de celulares
com pessoas do seu interesse”, afirmou na época.
Mas o que não se pode negar é que o Instagram, unido à tecnologia e aos recursos
supremos dos smartphones atuais, provocou a popularização do chamado “Selfie”,
termo que, em português, define a prática do autorretrato. Seja de frente para um
espelho ou simplesmente virando a câmera para si mesmo à procura do melhor ângulo,
ainda que imaginário. Com o uso das chamadas hashtags (termos antecedidos pelo
símbolo #), o compartilhamento de imagens ficou ainda mais instantâneo e global.
Em dezembro, a atriz Fernanda Montenegro, em uma conversa com jornalistas nos
bastidores do programa “Domingão do Faustão”, da Rede Globo, declarou que a onda
dos selfies era um absurdo e chegava a configurar uma invasão de privacidade pior do
que a causada por paparazzi.
“O selfie é um horror, um terror. É uma invasão insultuosa. Porque é em tal
número. É de tal maneira vulgar, invasora. Você tá correndo pra pegar um avião
vem três ou quatro pessoas pra pedir uma selfie… compreende? Aí eu pergunto, vai
fazer o que com isso? É pior que um paparazzo. São mais invasores. Às vezes ficam
muito danados, se você não para com o garfo de comer pra bater um selfie. Se
você tá saindo do banheiro, também no aeroporto, já tem alguém dentro do
banheiro batendo selfie…Até algum tempo atrás eu me submetia, mas não me
submeto mais. Às vezes vem fazendo chantagem com criança, dizendo que ele quer
tirar uma selfie. O garoto não quer tirar selfie nenhuma. É uma idiotice que
felizmente acho que deverão cansar. Acho que uma hora vão cansar. Espero que
seja uma fase”.
Uma história curiosa e polêmica, que começou em 2011 e só foi encerrada em 2014, foi
o do fotógrafo britânico David Slater, que entrou com uma ação contra a Fundação
Wikimedia após esta ter publicado uma imagem que o profissional alegou ser de sua
autoria. Há três anos atrás, durante uma viagem para a ilha de Sulawesi, na Indonésia,
Slater teve a câmera “roubada” por um macaco, que fez um autorretrato. Após correr o
processo, a justiça americana decidiu que os direitos autorais não pertenciam a
ninguém e que o arquivo era de domínio público. A imagem alvo de toda a confusão
está abaixo:
Já na reportagem “#vidaperfeita?”, publicada na edição 284, de novembro de 2014 da
revista Marie Claire, as jornalistas Rebecca Holman e Dolores Orosco, sem citarem a
fonte, relatam sobre uma pesquisa realizada pelo Instituto de Internet, da Universidade
de Oxford, na Inglaterra, atestando que o Instagram faz com que 11% dos usuários se
sintam insatisfeitos com a própria vida. “O segredo do sucesso no Instagram está na
suposta despretensão da foto. Além dessa busca constante pelo melhor ângulo, o
Instagram acaba sendo um meio de convencer a nós mesmos de que nossas vidas são
fabulosas”, diz a matéria na página 91.
WhatsApp, a rede social que se transformou em negócio
O termo “startup” existe há longa data, mas sua disseminação é mais ou menos
recente. Em termos básicos, startup significa um grupo de pessoas que coloca uma
ideia de empresa em funcionamento para se fazer dinheiro. E o WhatsApp é um dos
melhores exemplos.
A rede social foi criada em 2009 por Jan Koum e Brian Acton, depois que este, frustrado
pela reprovação em um processo seletivo para trabalhar no Facebook, resolveu que
buscaria mudanças: “O Facebook me reprovou. Foi uma grande oportunidade para
conectar com algumas pessoas fantásticas. Procurando a próxima aventura da
vida”, anunciou em seu Twitter, na época, antes da criação dessa aventura tão
conhecida nos celulares de hoje.
Em 2011, o simples programa passou a contar com o suporte da Sequoia Capital,
empresa de fundo de investimentos que aplicou US$ 8 milhões no aplicativo. Em
carta publicada no blog Start, do jornal O Estado de S. Paulo, Jim Goetz, investidor
do aplicativo, escreveu: “No momento em que abriram as portas do WhatsApp, Jan
e Brian queriam uma empresa diferente. Enquanto outros buscavam atenção, eles
se afastaram dos holofotes, se recusando até mesmo a colocar uma placa na porta
do escritório do WhatsApp, em Mountain View. Enquanto os competidores
promoveram games e correram para construir plataformas, Jan e Brian
permaneceram devotados a um serviço de comunicação limpo e que funcionasse
com perfeição” (Em http://blogs.estadao.com.br/start/whatsapp-e-uma-das-
maiores-aquisicoes-da-historia/. Acesso em janeiro de 2015).
De acordo com a Sequoia, um dos diferenciais do WhatsApp foi o fato de nunca ter
investido um centavo em marketing. Um bilhete que Koum mantém colado em sua
mesa de trabalho, escrito em letras maiúsculas, reforça que o ideal tem sido
cumprido à risca:
- Sem propagandas!
- Sem jogos!
- Sem truques!
Depois de ser recusado pelo Facebook, em 2014 o feitiço virou contra o feiticeiro. A
rede social de Zuckerberg adquiriu o WhatsApp, em um processo que levou
praticamente o ano todo e custou pelo menos US$ 22 bilhões.
O que Zuckerberg chegou a garantir na época da compra é que a filosofia do WhatsApp,
imposta por Koum e Acton, seria mantida. Como a aquisição é recente, não é possível
afirma, com certeza, se isso foi levado à risca. Um perfil de Koum, publicado pela
revista Época Negócios, em 2014, afirma que há dois limites que Zuckerberg e o
Facebook não podem ultrapassar. O primeiro, é o da privacidade. Nascido na Ucrânia,
“Koum, que teve sua infância e juventude marcados em um país onde se vasculhava
as comunicações dos cidadãos, se assegurou desde o início do WhatsApp há cinco
anos que o aplicativo recolha a menor quantidade possível de dados dos usuários,
que só precisam de seu número de celular para se identificar e ter acesso ao
serviço”, diz a reportagem. (Em
http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Vida/noticia/2014/02/historia-e-o-
estilo-de-jan-koum-criador-do-whatsapp.html. Acesso: janeiro de 2015).
A segunda, é a quantidade de propagandas. “Livrar os usuários da habitual
avalanche de anúncios publicitários de outras plataformas, como o próprio
Facebook, é outra das máximas deste empreendedor autodidata. Em virtude desta
filosofia, ele e Acton optaram por não "mercantilizar" o serviço de comunicação que
oferecem. Um desejo que o executivo-chefe e fundador de Facebook, Mark
Zuckerberg, já disse que respeitará, pelo menos a princípio, já que o objetivo
primordial não é incorporar anunciantes o mais rápido possível, mas captar novos
usuários”.
Orkut e Facebook – Redes sociais à parte
O ano de 2004 foi considerado o boom das redes sociais. Com a velocidade das
conexões e a Web 2.0, surgiram o Facebook e o Orkut.
O Orkut propagava os mesmos ideais de redes sociais precursoras: fazer novas amizades
e conservar as antigas. Criação de um engenheiro turco que trabalhava para o Google,
Orkut Büyükkökten, o site tinha como principal alvo o público norte-americano, mas
fez verdadeiro sucesso no Brasil e na Índia, países em que registrou mais de 30 milhões
de usuários ativos em determinado momento. A febre no país sul-americano fez,
inclusive, com que o Orkut transferisse suas operações da Califórnia para cá e ganhasse
uma versão totalmente em português em abril de 2005 e, três meses depois, surgiram as
versões em francês, italiano, alemão, castelhano, japonês, coreano, russo e chinês
(tradicional e simplificado).
No Orkut, não havia a opção “curtir”, mas o mais próximo disso eram as chamadas
comunidades, que reuniam pessoas de gostos em comum para discutir sobre
determinado assunto e sugerir idéias. Nelas, havia as funções de criador e mediador, que
se resumia em remover tópicos e eventos que julgassem inadequados.
Na rede social de Büyükkökten, o preenchimento do perfil do usuário era considerado
um tanto quanto minucioso já que, além das informações básicas, como nome, idade e
profissão, ele continha outros dados mais secundários como religião, preferência sexual,
cor dos olhos e dos cabelos e se era fumante ou não fumante.
Entre 2004 e 2008, anos dourados do Orkut, o site foi reformulado por diversas vezes.
Algumas mudanças, inclusive, não foram de todo agradáveis. Em 2006, por exemplo,
teve início uma ferramenta chamada “visualizações do seu perfil”, que denunciava
quem havia “fuçado” sua página na rede social. Alegando invasão de privacidade,
usuários entraram em contato com o Orkut, que solucionou o problema por meio de
outra ferramenta que possibilitava desativar essa opção.
O Orkut também era um tanto quanto limitador: era possível adicionar no máximo mil
amigos. Para organizar melhor a lista de contatos, era possível classifica-los em amigo,
melhor amigo, conhecido, familiar e desconhecido. O motivo da limitação seria evitar
abusos e bugs no sistema.
Segundo o portal Tech Tudo, outra inovação veio em 2007 quando, “ainda no auge, o
Orkut adicionou o mecanismo que permitia ao usuário adicionar vídeos do YouTube, o
recurso de envio de recados por SMS, criação de enquetes, busca interna de tópicos nas
comunidades e muito mais”. (Em
http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2014/07/historia-do-orkut.html. Acesso:
janeiro de 2015)
Em agosto de 2008, o site passou a ser de controle mundial do Google Brasil. Naquele
ano, pesquisas comprovaram que o País era o que dava maior audiência à rede,
passando dos 40 milhões de usuários que incorporaram scraps, depoimentos e
comunidades aos seus cotidianos. Neste mesmo ano, foi implementada uma ferramenta
que ainda hoje predomina no Facebook: a sugestão de novos amigos.
O Tech Tudo ainda lembra que “em 2009, a rede social recebeu uma nova versão com
um layout totalmente reformulado e até ganhou o nome de Novo Orkut. As novidades
estavam no feed de posts inexistente até o momento e a união dos scraps, mais
atualizações do perfil e adição de amigos na página inicial”.
Três anos depois, recebeu um novo logotipo após sete anos de existência. A rede social
ainda lançou o aplicativo para download nos sistemas iOS e Android de tablets e
celulares. Mas junto com todas essas novidades, começou também a queda da audiência
em virtude da popularização do Facebook.
Com um layout moderno, mais privacidade e menos limitações, o Facebook ultrapassou
o número de usuários do Orkut no início de 2012.
No dia 30 de junho de 2014, o Google anunciou que o Orkut seria desativado no dia 30
de setembro sem dar motivos concretos. O diretor de engenharia do Google, Paulo
Golgher, apenas esclareceu que a empresa preferiu focar no YouTube, no Blogger e no
Google+, rede social que ainda não deslanchou como o esperado.
O Facebook foi colocado no ar em fevereiro de 2004 com o domínio thefacebook.com.
Criação de Mark Zuckerberg, Chris Hughes, Eduardo Saverin e Dustin Moskovitz, a
rede social, que já se transformou em filmes e livros, teve como base o Facemash,
criado em outubro de 2003 como um site de amizades entre os alunos da Universidade
de Harvard – onde Zuckerberg estudava.
Na época de sua fundação, o Facebook era considerado arcaico. Destinado apenas a
universitários, o site contava apenas com uma espécie de mural para envio de
mensagens. Mas foi ainda em 2004 que ele conquistou mais de um milhão de usuários.
No ano seguinte, o Facebook disponibilizou o compartilhamento de imagens e a
utilização em outros países além dos Estados Unidos. Porém, apenas universitários
tinham acesso. Até que em setembro de 2006, o site permitiu o acesso de qualquer
pessoa e alcançou 12 milhões de usuários. Em 2007, esse número já tinha praticamente
quintuplicado.
Entre 2008 e 2009, Zuckerberg viu-se em uma briga com os irmãos gêmeos Cameron e
Tyler Winklevoss, que alegavam serem os verdadeiros criadores do Facebook e
exigiram, para encerrar o caso, US$ 20 milhões em dinheiro e US$ 45 milhões em
títulos da empresa. Em seguida, Zuckerberg promoveu uma série de mudanças na
página que lhe deu identidade própria – e totalizou mais de 360 milhões de usuários.
Desde então, apesar do crescimento e da visibilidade, o Facebook passou por alguns
obstáculos, tanto morais quanto financeiros. Suas ações chegaram a perder até US$ 40
bilhões em valor de mercado. A estabilidade veio em 2013, mas até quando, é
impossível dar alguma previsão. O que ficou comprovado é que redes sociais surgem a
cada momento e podem se tornar obsoletas na mesma velocidade. Alguém, em 2004,
imaginaria que em algum dia o Orkut teria fim?
RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO MUNDO VIRTUAL: A VIDA
RESUMIDA EM CURTIDAS E COMPARTILHAMENTOS
Que atire a primeira pedra a pessoa que nunca foi questionada por outra o porquê de não
ter curtido tal postagem ou foto. E atire outra pedra quem não convive com alguém que
passe o dia todo com os olhos fixos no celular. É inegável afirmar que o Facebook,
assim como outras redes sociais citadas têm sua parcela de vantagens, entre elas o
convívio diário com quem está longe e a retomada de contato com amigos que se
perderam no passado.
O que é possível afirmar, é que as redes sociais permitem de tudo um pouco. No caso do
Facebook, do que se trata este trabalho, há desde um comunicado de noivado, passando
por convites de aniversário e chegando até a tentativa de elucidação de crimes.
Na visão de Vilém Flusser, o universo das chamadas tecno-imagens pode ser repleto de
efemeridades, já que, com o acionamento de uma determinada tecla, a história toda da
humanidade aparece na tela e, se não gostar da história, basta apertar outra tecla. No
mundo virtual, não seria diferente.
Essa representação e alteração dos vários universos, por fascinante que seja,
todavia, não passa de fenômeno periférico do universo emergente. Posso, se
assim o quiser, fazer aparecer na minha tela situações doravante inconcebíveis e
imagináveis: basta que aperte teclas que apontam conceitos claros e distintos
inimagináveis ou imagens indistintas e confusas inconcebíveis; o aparelho
automático os traduzirá para mim em imagens claras e distintas. Essas imagens
do jamais visto e inaudito podem, por sua vez, ser manipuladas por mim. Crio.
(FLUSSER, 2008, p. 148).
Com a enxurrada de postagens vindas a todo instante e por várias pessoas ao mesmo
tempo, podemos crer que aí surge o que Flusser define por soma das informações.
Todos os acasos, não só os pouco prováveis, lotam o nosso mundo virtual e não são de
todo benéficos à comunicação humana. A probabilidade de se perder é maior que a de
interagir.
[...] O interessante na comunicação humana é o fato de os fios que religam os
vários “eus” transmitirem precisamente esses acasos pouco prováveis, esses
momentos de criatividade. Devido a essa circunstância a soma das informações
aumenta no curso da comunicação humana, em vez de diminuir, como o seria se
ocorresse “naturalmente”. O problema é este: qual o dispositivo que faz com
que apenas os acasos, indiscriminadamente? Se não houvesse discriminação, os
acasos pouco prováveis se perderiam na maré dos muito prováveis. Em outros
termos: como são distinguidos os acasos pouco prováveis dos demais acasos?
(FLUSSER, 2008, p. 117).
Mas também, como já citado, o Facebook pode não só servir para se fazer novos amigos
como pode ser o mantenedor de contatos mais antigos. Raquel Recuero opina em seu
Redes Sociais na Internet, citando Ellison, Steinfield e Lampe, que “um site de rede
social pode ser utilizado para auxiliar a manter laços sociais com quem está fisicamente
distante”. Porém, é preciso pesar o quão visível se deseja estar.
Os sites de redes sociais permitem aos atores sociais estar mais conectados. Isso
significa que há um aumento da visibilidade social desses nós. A visibilidade é
constituída enquanto um valor porque proporciona que os nós sejam mais
visíveis na rede. Com isso, um determinado nó pode amplificar os valores que
são obtidos através dessas conexões, tais como o suporte social e as
informações. Quanto mais conectado está o nó, maiores as chances de que ele
receba determinados tipos de informação que estão circulando na rede e de
obter suporte social quando solicitar. (RECUERO, 2009, p. 108).
O Facebook fazendo a vez de investigador policial
O menino João Rafael Kovalski, de dois anos, desapareceu em Adrianópolis, no Paraná,
no dia 24 de agosto de 2013. Ele brincava no quintal da casa do avô, junto com sua irmã
gêmea, quando resolveu ir até a casa de seus pais, que ficava separada apenas por um
portão, e nunca mais foi visto.
Quase três semanas após o desaparecimento da criança, seus familiares abriram, no
Facebook, a página “Todos Juntos por João Rafael Kovalski”, com pouco mais de 300
mil seguidores. De início, a intenção era apenas divulgar fotos do garoto, mas com o
tempo, uma das administradoras abriu para que outros pais com os filhos desaparecidos
pudessem postar imagens e outras informações na tentativa de encontra-los.
Outro caso recentemente divulgado foi de um perfil no Facebook criado para tentar
provar a inocência de Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, estudante de 13 anos acusado
de cometer uma chacina contra a própria família e se suicidado em seguida. Na página,
fotos de Marcelinho, como ele era chamado, e mensagens de defesa ao garoto.
Independentemente da opinião que se tenha a respeito dos casos e de qualquer
investigação policial aprofundada, a imagem de um garoto com sorriso angelical, no
caso de João Rafael, incentiva o compartilhamento. Já no caso de Marcelinho tenta já
esclarecer o crime por si só.
Somos testemunhas, colaboradores e vítimas de revolução cultural cujo âmbito
apenas adivinhamos. Um dos sintomas dessa revolução é a emergência das
imagens técnicas em nosso torno. Fotografias, filmes, imagens de TV, de vídeo
e dos terminais de computador assumem o papel de portadores de informação
outrora desempenhado por textos lineares. Não mais vivenciamos, conhecemos
e valorizamos o mundo graças a linhas escritas, mas agora graças a superfícies
imaginadas. Como a estrutura da mediação influi sobre a mensagem, há
mutação na nossa vivência, nosso conhecimento e nossos valores. O mundo não
se apresenta mais enquanto linha, processo, acontecimento, mas enquanto
plano, cena, contexto – como era o caso na pré-história e como ainda é o caso
para iletrados. (FLUSSER, 2008, p. 15).
O Facebook como banco de empregos
Foi-se o tempo em que programas de televisão e jornais de classificados fossem a
primeira opção na hora de procurar um trabalho. Hoje as redes sociais conseguem
cumprir essa tarefa com discrição e agilidade e um de seus propósitos é unir interesses
comuns seja para qual situação for. Vários especialistas em recrutamento e recursos
humanos já sinalizaram que é possível usar o Facebook, por exemplo, em seu próprio
favor. Mas ao mesmo tempo, o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Se um recrutador
não gosta do que vê no perfil de um futuro candidato, ele é automaticamente eliminado,
às vezes sem ter seu currículo visualizado até o fim. Nesses casos, o que uma pessoa
torna público em uma página pessoal, pode ofuscar seu lado profissional,
independentemente de quantos diplomas, cursos do exterior e idiomas fluentes ela
tenha. Para esses selecionadores, não existe uma separação dos dois lados.
Uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores
(pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou
laços sociais) (Wasserman e Faust,1994; Degenne e Forse, 1999). Uma rede,
assim, é uma metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social,
a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores. A abordagem de
rede tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os
atores sociais e nem suas conexões. (RECUERO, 2009, p. 24).
Parece cada vez mais provável que todas aquelas lições de posturas, formas de olhar e
tom de voz diante do recrutador em uma entrevista de emprego vão cair por terra. Hoje,
se vários perfis são selecionados por meio da rede social, a tendência é que o contato
olho-no-olho na hora de convencer seu futuro chefe de que você merece tal vaga,
resumir-se-á em um bate-papo via Facebook. Por lá, inclusive, até o português do
candidato pode ser avaliado sem que ele se dê conta.
Ainda não é possível avaliar se esse cenário tomará corpo e forma, mas parece que um
toque dos nossos dedos pode ser mesmo capaz de mudar o mundo, conforme adiantou
Flusser:
[...] Embora estejamos, há muito, habituados a manejar teclas, estamos longe de
captar a nossa maneira de estar-no-mundo, a nossa forma mentis, ao apertarmos
as teclas com as pontas dos nossos dedos. [...] Ao apertarmos teclas estamos
destruindo o famoso sandwich que estrutura o nosso mundo em três níveis: das
dimensões nucleares, das dimensões humanas e das dimensões cósmicas. As
pontas dos nossos dedos são feiticeiros que embaralham o universo.
(FLUSSER, 2008, p. 31).
VOCÊ É AQUILO QUE CURTE: AS INFLUÊNCIAS QUE
GRANDES MARCAS NOS OBRIGAM A SEGUIR
Em artigo entregue para a conclusão da disciplina “Comportamento, Subjetividade e
Cultura da Mídia”, ministrada pelo Prof. Dr. Dimas Antônio Künsch, havia citado
Zygmunt Bauman e afirmei que não era preciso ser um profundo conhecedor de sua
obra para entender um pouco de sua visão sobre o capitalismo e o consumo
desenfreado. Ele nos explica, basicamente, que o sentido da vida pode ser encontrado,
pelo menos em partes, em uma compra. Em seu livro Vida para Consumo, de 2008, ele
defende a ideia que o consumo começa com um desejo e termina com um preço.
[...] em todos os mercados valem as mesmas regras. Primeira: o destino final de
toda mercadoria colocada à venda é ser consumida por compradores. Segunda:
os compradores desejarão obter mercadorias para consumo se, e apenas se,
consumi-las for algo que prometia satisfazer seus desejos. Terceira: o preço que
o potencial consumidor em busca de satisfação está preparado para pagar pelas
mercadorias em oferta dependerá da credibilidade dessa promessa e da
identidade desses desejos. (BAUMAN, 2008, p. 18).
Grandes marcas que conhecemos hoje, e que nos consomem mais do que consumimos
seus produtos, entraram no mundo do Facebook cada uma ao seu tempo. Claro que a
maioria já fazia parte anteriormente do Orkut, mas a rede social do logo azul mostrou
que era possível ir muito além das velhas “comunidades”, que só oferecia um número X
de usuários que as integravam, mas com praticamente zero de interação. Como a
maioria dos membros do Orkut fazia parte de centenas delas, era muito raro alguém que
dedicasse grande parte de seu tempo para ver o que sua marca favorita havia postado. Já
com o Facebook não. Basta curtir uma vez que todas as novidades, lançamentos e
mensagens aparecem no nosso próprio perfil. Virou uma espécie de fetiche, como
define Bauman:
Como compradores, fomos adequadamente preparados pelos gerentes de
marketing e redatores publicitários a desempenhar o papel de sujeito – um faz-
de-conta que se experimenta como verdade viva; um papel desempenhado como
“vida real”, mas que com o passar do tempo afasta essa vida real, despindo-a,
nesse percurso, de todas as chances de retorno. E à medida que mais e mais
necessidades da vida, antes obtidas com dificuldade, sem o luxo do serviço de
intermediação proporcionado pelas redes de compras, tornam-se “comodizados”
(a privatização do fornecimento de água, por exemplo, levando invariavelmente
à água engarrafada nas prateleiras das lojas), as fundações do “fetichismo da
subjetividade” são ampliadas e consolidadas. Para completar a versão popular e
revista do cogito de Descartes, “Compro, logo sou...”, deveria ser acrescentado
“um sujeito”. E à medida que o tempo gasto em compras se torna mais longo
(fisicamente ou em pensamento, em carne e osso ou eletronicamente),
multiplicam-se as oportunidades para se fazer esse acréscimo. (BAUMAN,
2008, p. 26).
Mais do que atrair curtidores-consumidores, as marcas, desde sempre, visam ditar
estilos de vida e convencer que tudo fica melhor com elas por perto. Vide a famosa
campanha da Coca-Cola para TV, nos anos 1950, que pregava “em casa ou no trabalho,
reanime-se com a gostosa Coca-Cola. Isto faz um bem”.
E já que o assunto é a famosa marca de refrigerantes, seu Facebook tem mais de 90
milhões de curtidores. Mais do que a população habitacional de diversos países. E claro
que nem só de propaganda da bebida vive a página.
Permeada de mensagens positivas, a página da Coca-Cola nos brinda também com a
imposição de estilos de vida. Mais do que isso, possivelmente, a marca deve possuir
uma central de gerenciamento de mídias dedicada a responder o contato de seus milhões
de curtidores, haja vista que em praticamente TODOS os posts há uma resposta da
empresa. E quem é que não gosta, mesmo que superficialmente, de ser lembrado?
Uma empresa desse porte, com tantos seguidores, delegar parte do seu tempo para
responder a um simples “Humm”, como mostra a imagem acima, claramente segue uma
estratégia de marketing que se atualiza constantemente e prova que fazer parte
ativamente de uma rede social pode ser um ótimo negócio para qualquer marca. Além
de uma forma praticamente gratuita de se fazer propaganda, é uma aproximação muito
mais estreita com seus consumidores e uma maneira de convencê-los de que Coca-Cola
faz parte do cotidiano.
Na imagem acima, isso fica muito claro na resposta dada à curtidora/consumidora
Emyllaine Santos. Ela diz “Amo Coca-Cola”. E a marca responde “Nós também
amamos você, Emyllaine! Aproveite o sábado e compartilhe muita #EnergiaPositiva
com os amigos”.
Não é preciso pesquisar muito longe para saber os efeitos nada benéficos da Coca-Cola
e de todos os outros refrigerantes. Questões nutricionais e funcionais à parte, ser levado
pela beleza das imagens e pela confiança de uma informação sem checa-la não só nos
engana como nos “objetifica” se não tomarmos o devido cuidado.
O fetichismo da subjetividade, tal como, antes dele, o fetichismo da mercadoria,
baseia-se numa mentira, e assim é pela mesma razão de seu predecessor – ainda
que as duas variedades de fetichismo centralizem duas operações encobertas em
lados opostos da dialética sujeito-objeto entranhada na condição existencial
humana. Ambas as variações tropeçam e caem diante do mesmo obstáculo: a
teimosia do sujeito humano, que resiste bravamente às repetidas tentativas de
objetificá-lo. (BAUMAN, 2008, p. 30).
Outra grande marca, com pouco mais de 3,5 milhões de curtidores na página, é a Sadia.
Seu Facebook, assim como o da Coca-Cola, prega uma vida saudável, a economia de
tempo na cozinha para se dedicar aos amigos e à família e a interação entre
consumidores. Suas respostas aos comentários são quase que instantâneas e, mesmo
quando o motivo do contato é insatisfação, a marca parece ao menos mostrar que está
atrás de uma solução.
De acordo com o site Reclame Aqui, a Sadia tem uma ótima reputação, atende quase
100% das reclamações e resolve mais de 80% delas. Pode não parecer, mas é
fundamental para grandes marcas, que costumam ser referência no segmento, que não
só agradem ao consumidor como se aproximem deles com uma solução para os
problemas. Ainda segundo dados do mesmo portal, as principais queixas contra a
empresa se referem a alimentos estragados, informações nutricionais equivocadas e – a
mais chamativa - produtos que não condiziam com a imagem:
Para Isleide Arruda Fontenelle, no livro “O Nome da Marca: Mc Donald’s, Fetichismo e
Cultura Descartável”, a marca constrói sua imagem em cima de conceitos sociais.
Aquela “meramente ilustrativa” que vem na embalagem ou aquelas de divulgação que
permeiam o Facebook têm sua parte na atração de consumidores, mas não por inteiro.
[...] num dado momento, a marca usa elementos da realidade social para
construir a sua imagem; em um outro, é essa própria realidade social que se
refere à marca para definir a si mesma. Nesse sentido, a realidade se
“desmaterializa, se irrealiza” – para usar termos tão caros a Jean Baudrillard –
porque, “aparentemente”, só passa a ter existência concreta ao estar referida por
essas marcas. Mas esse processo tem sua gênese em um conceito mais antigo e
que já vem de uma longa história que culmina na “sociedade das imagens”
contemporânea: ele responde pelo nome de fetichismo. (FONTENELLE, 2002,
p. 280).
Mas como nem só da indústria alimentícia vive o Facebook, uma outra marca com plena
presença na rede social é a coreana Samsung. Embora rica em imagens e mensagens que
estimulam a compra, seus posts são quase sempre replicados por consumidores
insatisfeitos e sem solução de seus problemas. Eis o que diz o Reclame Aqui:
Com pouco mais de 2,5 milhões de curtidores, a Samsung tenta, como a Apple, mostrar
que seus produtos são mais do que simples bens de consumo, são estilos de vida. Com
propagandas futuristas, teaser, lojas em praticamente todos os shoppings e centrais de
assistência técnica em quase todas as regiões, a marca também promove ações em
diversos locais para fazer demonstrações a futuros clientes.
No mês de outubro, por meio do Facebook, a Samsung convidou seus fãs/curtidores
para o lançamento de um fone de ouvido wireless. A ação foi realizada simultaneamente
no Shopping Center Norte, em São Paulo, e no Parque D. Pedro Shopping, em
Campinas. Para promover a interação com possíveis consumidores e com participantes
dos dois eventos, foi divulgada a hashtag #SamsungLevelOver para se saber, em tempo
real, as impressões do produto. Com pouquíssimos compartilhamentos usando a
ferramenta, o que mais se viu foram reclamações do preço do tal fone e dezenas de
queixas referentes a outros produtos e reparos não efetuados.
Com uma reputação que deixa a desejar, com direito a produtos frágeis e assistência
técnica ineficiente, a Samsung parece, em partes, que cumpriu sua parte de despertar o
fetiche. Com imagens ricas em detalhes, ela promete que seus produtos se referem a
exatamente aquilo tudo. Uma máquina de lavar, mais do que lavar roupas, traz sossego.
Um celular, mais do que fazer e receber ligações, tira fotos em alta resolução para
nenhum detalhe da vida passar batido.
Talvez o que valha nos produtos Samsung seja mais a sedução do que sua
funcionalidade, na visão de Isleide.
É na própria noção da forma-mercadoria que vislumbramos o processo pelo
qual o valor se descola do próprio corpo das coisas tornadas mercadorias, na
medida em que o valor dessas coisas não terá qualquer relação com as
propriedades inerentes a elas. Com isso, surge a questão da percepção do valor:
por que e como a mercadoria torna-se um “objeto aurático sedutor”? No
momento histórico analisado por Marx, como se deu esse processo no qual uma
sociedade passou a valorizar os novos produtos que as fábricas começavam a
lançar? Não é por acaso, então, que Marx toma a mercadoria como ilustração:
ela era a ponta do iceberg da prática material que começara a se instituir com o
capitalismo industrial emergente no início do século, o objeto histórico através
do qual se poderia dizer algo sobre a sociedade industrial e os seus valores
sociais mais amplos, mediados, agora, pela troca mercantil. (FONTENELLE,
2002, p. 283).
CAPÍTULO 2 – O JORNALISMO, A INTERNET E AS REDES SOCIAIS
Não é de hoje que o chamado sensacionalismo permeia as várias formas de se fazer
jornalismo. Em alguns tipos, como as reportagens de cunho policial, ele se escancara
mais. Mas o que se verifica recentemente é que as redes sociais já são parte integrante e
quase que fundamental da imprensa. Seja em descobertas científicas, crimes e assuntos
políticos. E vice-versa. Um complementando o outro.
Uma reportagem publicada no jornal Folha de S. Paulo, em novembro de 2014, com o
título “Jornalismo profissional domina redes sociais”, mostrou um levantamento
realizado pela própria publicação em que se comprovou que “61% dos
compartilhamentos de links por usuários vieram de conteúdo publicado na mídia
profissional – em jornais, portais, TVs, rádios, sites de notícias locais ou imprensa
internacional”. (Em http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/11/1545424-jornalismo-
profissional-domina-redes-sociais.shtml. Acesso em dezembro de 2014).
A mesma reportagem ainda relata uma prática definida pela Folha pelo termo “telefone
sem fio”, ou seja, a difusão do uso de dispositivos móveis, especialmente smartphones,
para a leitura de informações. Como exemplo, citou os boatos sobre a suposta morte do
doleiro Alberto Youssef, que correu o WhatsApp às vésperas das eleições de outubro. E
finaliza: “Quando recebeu o boato da morte de Yousseff, às 11h05 da manhã do
domingo da eleição, um leitor o enviou ao WhatsApp da Folha. O jornal já sabia que era
mentira e preparava notícia. Ao ler a resposta de que o doleiro estava vivo, agradeceu:
‘Obrigado pela info. Muita fofoca na net’”.
Na visão de Catarina Rodrigues, autora do artigo “Redes sociais: novas regras para a
prática jornalística?”, é fato que Facebook, Twitter e companhia vieram para ficar e, por
isso, alteraram sim a interação entre meios de comunicação e leitores.
O número de utilizadores de redes como o Twitter e o Facebook permite
equacionar questões fundamentais no jornalismo como o relacionamento com as
fontes, a ampliação, valorização e distribuição de conteúdos, a fidelização dos
leitores e a velocidade informativa. A utilização do Facebook pelos media é um
dado adquirido, nomeadamente como agregador de notícias, como plataforma
de difusão de informação e até como uma forma de captar leitores.
(RODRIGUES, 2010, p. 1).
Já para Raquel Recuero, em seu artigo “Redes Sociais na Internet, Difusão de
Informação e Jornalismo: Elementos para discussão”, é preciso cautela nesse termo
“agregador de notícias” que Catarina cita, já que jornalismo e redes sociais se
diferenciam pela prática, pela teoria e até pela ética.
As pessoas têm motivações para difundir ou não difundir determinadas
informações, razões essas que são diretamente relacionadas com sua percepção
de capital social gerados. Assim, nem sempre as informações são circuladas
pelos atores com foco no bem comum ou no conhecimento coletivo, mas em
perspectivas de ganho puramente pessoal. É também nessa perspectiva em que
as redes sociais estão também diferenciadas do jornalismo. Enquanto as
informações difundidas pelas redes sociais não precisam, necessariamente, ter
um valor-notícia ou um compromisso social, como teoricamente, as jornalísticas
(ou aquelas produzidas pelos veículos) precisam. Uma informação que circula
em uma rede social, por exemplo, pode ter um forte caráter social. Assim, por
exemplo, é comum circular nesses grupos piadas, jogos, comentários e outras
informações que não são necessariamente enquadradas dentro dos valores
notícia característicos do texto jornalístico. Entretanto, essas redes podem atuar
de forma próxima ao jornalismo, complementando suas funções, filtrando
matérias relevantes, concedendo credibilidade e importância para as matérias
jornalísticas através das reverberações. Redes sociais, portanto, podem também
construir capital social para as matérias publicadas pelos veículos. (RECUERO,
2009, p.12).
Histórias envolvendo apurações jornalísticas e redes sociais surgem a todo instante. Só
entre os meses de dezembro de 2014 e janeiro de 2015, palavras como “Facebook”.
“Twitter” e “WhatsApp” predominaram nas principais manchetes e pelas mais curiosas
razões. Mas há quase três anos, um momento marcante para o Instagram foi a criação de
um perfil na rede social focada em imagens para a campanha de reeleição do presidente
americano Barack Obama.
Na época, a equipe de campanha chegou a justificar que a criação da conta, logo na
primeira semana de 2012, seria uma forma de a imprensa acompanhar mais facilmente
os compromissos do candidato e se utilizar de imagens oficiais. Nesse curto período,
foram registrados cerca de 14 mil seguidores. Para angariar ainda mais seguidores,
vulgo possíveis eleitores, criou-se, em cada postagem a hashtag #Obama2012.
Também à época, um blog oficial a respeito do aplicativo declarou que o espaço pode
ajudar “a dar as pessoas uma noção visual do que acontece no cotidiano do presidente
dos EUA”. Segundo a equipe do Instagram, a velocidade das informações a respeito da
campanha de Obama correria o mundo com facilidade, “graças a repórteres munidos de
iPhones acompanhando as prévias”. Claro que a disseminação de imagens se
concretizou conforme o esperado.
Até o momento da confecção deste trabalho, a última postagem no Instagram do
presidente americano foi em setembro de 2014. Mas nem por isso a família Obama
deixou de ser notícia. Em janeiro, uma suposta “selfie” tirada pela filha mais velha do
político, Malia Obama, de 16 anos, virou notícia na imprensa mundial. Aliás, não ficou
provado até agora se se trata mesmo da primogênita.
Primeira postagem de Obama no Instagram, em 3 de janeiro de 2012, referia-se a um
compromisso de campanha em Iowa. Total de curtidas: 9.553
Imagem de biscoitos e frutas utilizados “na reposição das energias” para a campanha,
em 19 de janeiro de 2012. Total de curtidas: 5.642
Suposto selfie de Malia Obama, publicada em 5 de janeiro de 2015 no perfil do grupo
de rap Pro Era. Total de curtidas: 3.009
Para Inês Mendes Moreira Aroso, Professora Auxiliar na Universidade de Trás-os-
Montes e Alto Douro e Investigadora do LabCom – Universidade da Beira Interior, de
Portugal, o jornalismo, nesse caso específico, talvez não tenha tomado partido de
Obama, e sim incrementado o que a estudiosa define por “jornalismo participativo”, ou
seja, aquela forma de comunicação que divulga informações amplamente, está menos
atrelada à ética e permite uma interação maior do público.
Algumas das potencialidades que são atribuídas ao jornalismo participativo são
as seguintes: fuga aos ditames das agendas políticas e dos media; antídoto para
os media controlados, concentrados e dominados por elites; visão diferente e
mais completa dos acontecimentos; aproximação entre os media e os seus
públicos; aumento da confiança da comunidade nos media. Outro papel
importante atribuído ao jornalismo participativo é “o processo de correção de
erros divulgados por veículos jornalísticos”. No entanto, “O jornalismo
participativo, apesar de anunciar algumas vantagens, como por exemplo fazer
ouvir novas vozes, apresentar um olhar fresco sobre os temas, preconizar
relações interessantes entre jornalistas e leitores, representa também algumas
fragilidades, uma vez que são necessárias cautelas redobradas como a
especulação, as fontes anónimas e a fiabilidade das informações transmitidas”
(AROSO, 2013, p.4).
É inegável que essa especulação citada por Aroso às vezes pode causar alguma confusão
entre fidelidade aos fatos e exposição desnecessária. E fica muito difícil limitar até onde vai a
curiosidade humana em busca da vida alheia.
No dia 27 de dezembro de 2014, o empresário Marcelo Müller (acionista e neto do fundador
da Companhia Müller de Bebidas, que produz a cachaça Pirassununga 51), sua esposa, a
advogada Lumara Rocha Passos Müller, e a filha do casal Geórgia, de dois anos, morreram
em um acidente de helicóptero em Bertioga, no litoral de São Paulo. Entre as diversas
imagens utilizadas para ilustrar as reportagens a respeito do caso, todas, exceto as dos
destroços da aeronave, foram retiradas dos perfis do Facebook do casal. Até algum tempo
atrás, possivelmente se conseguiria retratos das vítimas junto aos familiares. Mas o que
imperou nesse caso foi o crédito “Reprodução/Facebook”. Mais do que simplesmente salvar
a imagem, muitos veículos de comunicação optaram por dar um print screen das telas, o que
possibilitou encontrar, muito facilmente, a página pessoal de Müller, mesmo tendo milhares
de “Marcelo Müller” na rede social.
Com a imagem acima, publicada no Portal G1, foi fácil encontrar o perfil de Müller:
Disseminar tantas imagens de uma família jovem e feliz, vítima de uma tragédia, deixou
uma impressão de que todos conhecíamos Marcelo, Lumara e Geórgia. Ao encontrar os
perfis na rede social, fica a impressão do “poderia ter acontecido com algum parente
meu”. Na visão de Raquel Recuero, este é um fenômeno que pode ser caracterizado
como a “complexificação da interconexão entre os indivíduos”.
A Internet proporciona, assim, que as conexões das redes sociais sejam
ampliadas no espaço online. Assim, essas conexões podem ser de dois tipos
(Recuero, 2007): aquelas emergentes, que caracterizam laços construídos
através da conversação entre os atores (que vão gerar as redes emergentes) e
aquelas de filiação ou associação, caracterizadas pela manutenção da conexão
realizada pelo software ou site utilizados (que vão gerar as redes de filiação).
Enquanto as primeiras passam pelo processo de aprofundamento do laço social,
as segundas podem jamais ter qualquer interação, exceto no momento de
estabelecimento da conexão. (RECUERO, 2009, p.4).
Mas nessa relação entre jornalismo e redes sociais ainda há aquelas notícias
minimamente curiosas e que nos fazem discutir ideologias e o quão úteis essas formas
de comunicação podem ser. Em dezembro de 2014, o neozelandês Mark John Taylor,
que atua como combatente no Estado Islâmico e conhecido pelos seus nomes de guerra
Mohammad Daniel e Abu Abdul Rahman, de forma acidental, revelou sua localização
ao publicar mensagens no Twitter.
Taylor viajou para o Iraque em 2012 para se juntar a militantes jihadistas. Ele chegou a
anunciar a viagem pelo Twitter com a imagem de um passaporte queimado e postando
que seria “uma viagem só de ida”. Em seguida, ele passou a ser monitorado por uma
central de inteligência e chegou a apagar boa parte de seus tweets. Até que no ano
passado, um de seus posts denunciou que o combatente estava na Síria, mais
precisamente na cidade de al-Taqbah. O final da história foi a suspensão da conta de
Taylor e sua detenção.
Outro caso recentemente envolvendo redes sociais foi destaque na imprensa de São
Paulo. No dia 5 de janeiro, um casal de Santo André, no ABC paulista, foi rendido na
porta de casa por um grupo de sete assaltantes. Mantidos sob vigilância, uma parte do
bando levava os objetos roubados para o carro da família. Mas, por um descuido, a dona
da casa conseguiu pegar o celular e pediu socorro a um grupo do WhatsApp, que
acionou a polícia.
O saldo do crime foram dois assaltantes mortos, três feridos e o casal salvo sem
ferimentos. Porém, o que virou notícia, mais que o desfecho do caso, foi o papel da rede
social:
Catarina Rodrigues, citando Joaquim Fidalgo, explica que todo cuidado é pouco na hora
de se fazer jornalismo. Mesmo acreditando na veracidade de informações publicadas em
perfis pessoais, é necessário ainda assim checá-las.
Face à valorização crescente da instantaneidade da informação e à pluralidade
de opiniões e informações, a mediação, fundamental ao exercício do jornalismo,
é colocada em causa, e os jornalistas, tradicionais mediadores na produção de
conteúdos, têm visto o seu papel delido pela facilidade de qualquer pessoa
publicar e difundir informação. “A actividade de informação sobre a
actualidade, no âmbito da esfera pública, já não é uma actividade exclusiva dos
jornalistas e das empresas mediáticas nas quais a maior parte deles trabalha”.
(RODRIGUES, 2010, p.3).
Assim como o surgimento das redes sociais, é incerto precisar quando é que foi,
exatamente, que o jornalismo passou a fazer uso destas. O que se sabe, é que a
utilização tem ultrapassado alguns limites, em especial no chamado jornalismo de
celebridades.
Durante muitos anos, o foco desse tipo de “imprensa alternativa” sempre foram os
flagras, o ineditismo e principalmente algum furo que se relacionasse a nada referente
ao trabalho de atores e cantores, por exemplo, o novo namorado da atriz Marina Ruy
Barbosa, uma tentativa incessante de se conseguir um retrato do bebê recém-nascido da
cantora Sandy ou a traição do humorista Marcelo Adnet.
Em 2013, três casos ilustraram muito bem o quanto acompanhar a rede social de alguém
famoso pode render pautas. Na falta de um assunto mais interessante ou de um flagrante
mal-sucedido, o que passou a existir foi uma forma prática, rápida e confiável de
preencher espaço nos portais de fofocas, já que um perfil dito oficial de Facebook, de
Twitter ou de Instagram dificilmente virá com informações mentirosas. Quando não são
as próprias celebridades que administram essas páginas, são pessoas próximas ou até
assessores.
O mal-estar...Nas redes sociais: Episódios
Facebook: o caso extraconjugal de Tony Salles e Kamyla Simioni
O cantor Tony Salles casou-se com a dançarina Scheila Carvalho em abril de 2007. Sete
meses depois, o casal teve o primeiro filho, Brian, que morreu aos dois meses de idade
em decorrência de uma insuficiência renal. Após o episódio, Scheila e Salles receberam
diversas manifestações de apoio e de torcida pela vinda de uma nova criança. Até que
em junho de 2010, nasceu Giulia.
No ano passado, Scheila aceitou um convite para participar do reality show “A
Fazenda”, na Rede Record. Enquanto a esposa estava confinada em um sítio na cidade
de Itu, no interior de São Paulo, Salles seguia fazendo shows com seu grupo musical, o
Raghatoni, Brasil afora. E foi durante uma dessas turnês que surgiu Kamyla Simioni,
que nunca foi identificada como atriz, modelo, empresária. Apenas como “morena”.
O site EGO foi o primeiro a divulgar o relacionamento entre ambos, que já havia sido
anunciado no perfil de Kamyla no Facebook. Sem deixar algumas pitadas de
provocação de lado:
“Enquanto Scheila Carvalho está confinada em um reality show, sua vida
pessoal foi envolvida em polêmica.”
“A jovem Kamyla Simioni postou no Facebook uma imagem onde aparece aos
amassos com um homem que ela diz ser o cantor e provocou a ex-morena do Tchan: ‘se
eu fosse a Scheila Carvalho daria um jeito de sair rápido da Fazenda (risos).
#pegandoseumarido.’”
“Em outra foto, os dois aparecem grudadinhos em uma balada, sob a legenda:
‘chupa essa manga.’”
Com o Facebook de Kamyla tornado público e os esperados “compartilhamentos”, a
foto chegou aos portais de entretenimento e deu origem a uma série de “reportagens
especiais” que traziam desde análises sobre infidelidade até notícias semanais sobre o
dia-a-dia da jovem. Salles e Kamyla foram execrados nas redes sociais e em
comentários de reportagens a respeito do caso por fãs de Scheila, que lamentavam o fim
de um casamento de seis anos por um “deslize”, como o cantor definiu.
No capítulo “O sonho da pureza”, Bauman escreve que “grandes idéias quase nunca
podem ser abraçadas sem que os dentes se descubram e os punhais se agucem”.
(BAUMAN, 1997, p.13). Em outros tempos, Kamyla teria, quem sabe, procurado uma
revista, oferecido as fotos com exclusividade e recebido um dinheiro por isso. Mas ao
postar as imagens em uma rede social, já se sabia que sua intenção era alardear,
provocar, expor e que tudo ocorreria em tempo recorde por causa das opções “curtir” e
“compartilhar”. Ela postou, um amigo curtiu, uma amiga do amigo compartilhou e em
minutos o estrago estava feito. No Facebook, por si só, a repercussão já seria grande.
Mas por Salles ser uma pessoa pública, a postagem se transformou em notícia e
Kamyla, em uma “celebridade”.
Logo após a divulgação da notícia, Scheila foi eliminada do reality show e declarou,
durante uma entrevista à Rede Record, que perdoava Salles e que tomariam
providências quanto à invasão de privacidade e calúnias ditas por Kamyla, que
continuava com as provocações.
Assim como Salles, Scheila também recebeu diversas críticas e foi julgada pela opinião
pública por ter perdoado o marido. Mas claro que também isso virou pauta. Diversos
jornais e programas de televisão trouxeram reportagens sobre infidelidade e traição
tendo o casal como gancho. Ambos chegaram até a participar do programa “O Melhor
do Brasil” para falar sobre o assunto em tom de superação.
A ex-dançarina sempre declarou que “orava a Deus para recuperar seu marido” e queria
colocar a vida matrimonial em ordem. Bauman define ordem como “um meio regular e
estável para os nossos atos”. (BAUMAN, 1997, p. 15).
O caso extraconjugal de Tony Salles poderia ser um trecho de “O sonho da pureza”. O
perdão de Scheila, o anseio por ordem e uma fuga da realidade que permitisse esquecer
o que passou. Como disse Bauman, “o oposto da pureza – o sujo, o imundo, os ‘agentes
poluidores’ – são coisas fora do lugar. Cada modelo de pureza tem sua própria sujeira
que precisa ser varrida”, (BAUMAN, 1997, p.14). Até que o Facebook erga o tapete e
“compartilhe”, em outra oportunidade, a sujeira que estava escondida e ninguém
esquece.
Twitter: a briga de egos entre Andressa Urach e Bárbara Evans
Em um mundo e uma era em que celebridades surgem a cada instante, conhecemos
melhor as figuras de Bárbara Evans e Andressa Urach.
Bárbara Evans, de 22 anos, era “somente” uma filha modelo da atriz e apresentadora
Monique Evans quando, em 2008, ficou conhecida pelo romance com o ator global
Kayky Brito, rompido um ano depois.
Em 2010, o nome da jovem foi envolvido em uma polêmica. Ela alega que sofreu
bullying por parte dos colegas da Universidade Anhembi Morumbi, que chegaram a
pichar hostilidades contra Bárbara, então estudante do curso de nutrição, nos muros ao
redor do prédio da instituição. Em dezembro de 2011, aos 20 anos, seu auge da fama foi
alcançado com a capa da revista Playboy.
Andressa Urach tem 26 anos e é modelo. Foi dançarina do cantor Latino por algum
tempo quando decidiu se dedicar a projetos mais pessoais e concursos. Em 2011, ela,
que é gaúcha, foi a representante do clube de futebol Internacional no concurso “Musa
do Brasileirão”, promovido pelo programa “Globo Esporte”, da Rede Globo. Em 2012,
fez um ensaio sensual para o site Paparazzo. Naquele mesmo ano, participou de um
outro concurso, chamado “Miss Bumbum”, e conquistou o segundo lugar, o que lhe
rendeu a alcunha maldosa de “Vice Miss Bumbum”.
Mas não foi bem o concurso que trouxe o nome de Andressa à tona. Em abril de 2013,
ela declarou a um jornal britânico que havia passado uma noite com o jogador de
futebol português, Cristiano Ronaldo, e que teria sido humilhada por ele.
Os caminhos das duas moças de vinte e poucos anos se cruzaram no reality show “A
Fazenda”, a mesma edição da qual Scheila Carvalho participou. A relação entre ambas
foi de altos e baixos. Mas os baixos prevaleceram.
Logo nos primeiros dias, cada uma estava com um grupo diferente, porém, pouco tempo
depois, elas se aproximaram. Quando Bárbara engatou um romance com outro
participante do jogo, começaram as brigas entre as duas. Em seguida vieram o perdão e
mais uma série de conflitos que se perpetuaram até o final do programa, do qual Bárbara
foi a vencedora do prêmio.
Mas as brigas não ficaram restritas ao período em que conviviam diariamente. A troca
de farpas passou para a vida real, mais precisamente para o Twitter, e virou notícia até
em portais que não eram exclusivos ao “jornalismo de fofoca”, caso do Primeira
Edição, de Maceió (Alagoas):
No Twitter, Andressa publicou o número do telefone de Bárbara e irritou os seguidores
da vencedora do reality. Seus próprios seguidores a aplaudiram. A partir disso começou
uma “luta de classes” onde Bárbara ficou como uma “vítima”.
No capítulo “Arrivistas e párias: os heróis e as vítimas da modernidade”, em “O Mal-
Estar da Pós-Modernidade”, Zygmunt Bauman prega que “socialmente, a modernidade
trata de padrões, esperança e culpa”. (BAUMAN, 1997, p. 91). Nesse caso, não é
possível definir quais os padrões ideais e de qual das duas é a culpa. Mas Andressa usou
seu perfil em uma rede social, onde conta com mais de 140 mil seguidores, para
divulgar uma informação particular sobre uma pessoa pública e que nem adiantaria
tentar vender para uma publicação impressa, por exemplo. Tanto sua atitude quanto a
reação de Bárbara foram julgados em vários “tweets” de no máximo 140 caracteres e
que com o tempo, automaticamente, ficariam para trás. Talvez a única esperança
oferecida pela tecnologia moderna de esse episódio – e o tal número de telefone – cair
no esquecimento.
Afirmou Bauman: “Arrivista – alguém que lembra aos moradores mais antigos o
passado que querem esquecer e o futuro que antes desejariam longe. Pária – Nem por
um momento o herói deixou de ser uma vítima potencial. Herói hoje, vítima amanhã”.
(BAUMAN, 1997, p. 92). Ainda que seja em poucas palavras, uma rede social tem o
poder de alastrar e eternizar uma informação que, ainda que não seja do interesse da
maioria, chega aos nossos olhos e ouvidos até por meio de um print screen tirado pela
imprensa.
Instagram: Ana Paula Siebert, a “tal” nova namorada de Roberto Justus
O publicitário e apresentador Roberto Justus era um profissional bem sucedido desde a
década de 1980. Mas o que o tornou conhecido foi o casamento com a apresentadora
Adriane Galisteu, em 1998. A união durou apenas oito meses.
Dois meses após o fim do casamento, Justus assumiu o namoro com a apresentadora
Eliana, de quem chegou a ficar noivo. Mas o relacionamento terminou antes de
oficializarem a união.
Até 2006, Justus teve outros romances com mulheres de fora do meio artístico, quando
se casou, naquele ano, com a modelo e apresentadora Ticiane Pinheiro.
Em uma das seleções para o programa “O Aprendiz”, da Rede Record, que apresentava
desde 2004, Justus conheceu a candidata Ana Paula Siebert, que foi “demitida” por ele
na sexta edição do programa, em 2009, ano em que nasceu a filha de Justus com
Ticiane, Rafaella.
Justus e Ticiane sempre passaram uma pose de “família de comercial de margarina”.
Chegaram a mostrar a rotina e a cobertura onde moravam, na zona sul de São Paulo, em
pelo menos três programas de televisão. As festas de aniversário de Rafaella rendiam
longas reportagens em TVs e revistas. Mas em maio de 2013, repentinamente, o casal
anunciou a separação.
Em agosto, a assessoria de Justus confirmou que ele já estava com uma namorada nova
e que se tratava de Ana Paula. Desse anúncio para a imprensa descobrir o perfil da moça
no Instagram foi um pulo. As notícias sobre ela são praticamente diárias e a maioria se
trata de um print screen tirado da citada rede social. Nem precisa ser “seguidor” dela.
Todas as viagens, jantares, shows e até interrupções na dieta da “namorada de Justus”
chegam ao conhecimento do público por meio de reportagens em portais voltados para o
mundo das celebridades que nem precisam se preocupar em conseguir o nome do
fotógrafo que realizou as imagens para os devidos créditos. É sempre apenas
“Reprodução/Instagram”. Não há entrevistas, apenas ctrl c + ctrl v do que se escreveu.
O apresentador Otávio Mesquita, que é amigo de Justus e Ticiane, também usou o
Instagram para tirar um sarro do publicitário insinuando que ele estava de namorada
nova muito rápido.
Mas os comentários maliciosos não partiram apenas de Mesquita. Justus, que tem fama
de preferir mulheres loiras e jovens, foi alvo de críticas pesadas por uma parte da
sociedade que acompanha o jornalismo de celebridades. Ele foi acusado de abandonar a
esposa com uma filha pequena para viver “mais uma de suas aventuras com uma
garotinha”.
No capítulo “Turistas e vagabundos: os heróis e as vítimas da pós-modernidade”,
Zygmunt Bauman escreve que “homens e mulheres recém-modernos, ‘supermodernos’
ou pós-modernos têm de imputar a eles tal visão de mundo, quando quer que desejemos
dar sentido ao que sabemos de suas vidas e tentar compreender a espécie de experiência
que tornou essa vida possível, enquanto estava sendo tornada possível por ela”.
(BAUMAN, 1997, p. 111). No caso do Instagram, uma rede social que se faz
exclusivamente por imagens, pouco se pode saber da vida de outra pessoa para dizer
que acompanha sua rotina 24 horas por dia ou para fazer qualquer julgamento de valor.
Mas com todas as fotos de um perfil privado tornadas públicas, vêm à tona, junto com
comentários contra ou a favor do relacionamento entre ambos, uma série de suposições,
nem sempre verdadeiras.
Na visão do grande público consumidor de informações sobre celebridades, Justus vive
mais um de seus romances que em breve terminará e Ana Paula é uma mulher que se
aproveita da fama e do dinheiro do namorado para alavancar a carreira de modelo e
alcançar seu próprio estrelato.
O que ocorre entre ambos e qual interesse há entre eles, somente eles podem dizer.
Justus já afirmou, em outras ocasiões, que sua vida pessoal não diz respeito a ninguém e
talvez por isso ele não conquiste uma simpatia em massa. Na visão de Bauman, “a
metade turística da sociedade pós-moderna vacila na medida em que se interessa pela
outra metade, a do vagabundo. Este zomba do estilo turístico, e zombar significa
ridículo”. Ainda que não seja da vontade de Ana Paula tornar o seu perfil no Instagram
tão divulgado, seus auto-retratos seguirão preenchendo o espaço vazio de portais que
não têm nada de muito “quente” para publicar. E o consumo de informações que se
referem ao cuidado com a vida alheia sempre terá adeptos.
CAPÍTULO 3 – JORNALISMO E REDES SOCIAIS NO JORNAL DO CARRO E
NA REVISTA O MECÂNICO
O Jornal da Tarde e sua proposta de jornalismo
O Jornal da Tarde, ou JT, como ficou conhecido, circulou pela primeira vez em 4 de
janeiro de 1966. Pertencente ao Grupo Estado, que já publicava O Estado de S. Paulo, o
JT nasceu com o propósito de “informar sem complicar”. No site do Estadão, eis o que
se diz sobre a publicação:
4 de janeiro - Começa a circular o Jornal da Tarde, marco de uma revolução gráfica e editorial no jornalismo brasileiro,
com reportagens de qualidade e irreverência de estilo. O jornal, sob a direção de Ruy Mesquita, inovou a imprensa brasileira pela
apresentação gráfica e pela exclusividade de suas reportagens. A primeira
edição do Jornal da Tarde saiu às ruas com um furo. “Pelé casa no carnaval”,
dizia sua manchete. No pé da página, outra informação nada desprezível:
“Garrincha para o Corinthians”. (Em http://acervo.estadao.com.br/historia-do-
grupo/decada_1960.shtm. Acesso em janeiro de 2015).
À frente da equipe comandada por Ruy Mesquita, falecido em 21 de maio de 2013,
estava o diretor Mino Carta, que recebeu a missão, segundo o próprio, de “criar um
diário capaz de atingir o público jovem, a se supor ainda não alcançado pelo Estadão”.
O jornal começou como uma publicação vespertina que chegava às bancas por volta
das 15 horas. Seu destaque era a linguagem um pouco mais despojada do que a vista
em O Estado de S. Paulo, além de fotos muito maiores e mais expressivas. O visual era
cuidadosamente comandado pelo redator-chefe Murilo Felisberto, que chegou a
substituir Mino Carta em 1968. A dupla tinha o objetivo de fazer do JT uma
representação do chamado New Journalism no Brasil, com a utilização de técnicas
literárias nas reportagens.
Da primeira edição, o destaque foi um furo sobre o casamento do jogador Pelé e uma
notícia sobre o cantor Roberto Carlos, que foi processado pelo verdadeiro dono do
famoso “calhambeque” com uma linguagem nada rebuscada. “O cantor Roberto
Carlos fêz bibi com o calhambeque dos outros e agora está tendo um caso com a
justiça”.
Abaixo, a primeira capa do JT:
Além da maneira mais literária de transmitir as informações, a especialidade do JT eram
as imagens e as grandes reportagens. Ricardo Setti em artigo publicado no portal Veja
Online em novembro de 2012, assim definiu essas exclusividades:
Algumas vezes, as imagens falavam por si sós, sem a necessidade de vir
seguidas de manchetes (uma das clássicas, publicada em 1982, após a derrota da
seleção brasileira para a da Itália na Copa da Espanha, continha apenas o
registro da cena do choro contido de um garoto com a camisa do escrete e a data
da tragédia futebolística).
Os autores das coberturas especiais, não raro, passavam meses debruçados
sobre alguns temas antes de transformá-los em séries de reportagens para o
jornal, batucando nas antigas máquinas de escrever. “Os mesmos artigos eram
reescritos dez, vinte, trinta vezes… As latas de lixo ficavam lotadas de papéis
descartados”, lembra Alberto Helena Jr., que fez parte daquele time entre 1970
e 1982.
Tanto em termos estéticos quanto na linguagem, a publicação reproduzia o
espírito inquieto da época na metrópole, quando se destacavam a poesia
concretista de Décio Pignatari e o som dos tropicalistas, entre outras coisas.
A capa com o garoto chorando a qual Setti se refere é esta abaixo:
Setti também lembra a cobertura sobre o primeiro transplante de coração no Brasil, que
ocorreu em 1968, no Hospital das Clínicas, pela equipe do cirurgião Euryclides Zerbini.
Sob a manchete “Coração trocado vai bem”, a edição chegou às bancas quatro
horas depois de o coração de um homem “atropelado por um Volks azul na
Estrada de Cotia” começar a bater no peito do boiadeiro João Ferreira da
Cunha. Numa apuração que envolveu quase toda a redação, sob o comando do
lendário repórter Ewaldo Dantas Ferreira, os jornalistas viajaram para Mato
Grosso a fim de conhecer a família do paciente e estiveram na África do Sul, a
nação pioneira no procedimento. Escreveram poucas páginas, quando tinham
material para um livro.
Ao longo de sua trajetória, o Jornal da Tarde sempre optou por focar o noticiário local,
deixando pouco espaço para editorias como economia, política e internacional. Sua
editoria de polícia, que chegou a contar com os nomes de Josmar Jozino, Percival de
Souza e Marinês Campos foi uma das mais destacadas. Mas o JT se destacou também
por vários suplementos que fizeram história. Um deles foi o “Entenda Economia”, de
1981, que circulava às segundas-feiras com dicas de planejamento financeiro dadas por
Celso Ming. O nome do caderno mudou logo em seguida para “Seu Dinheiro” e, em
2008, para “Seu Bolso”. Vieram também o Divirta-se, com dicas culturais e de
programas para o fim de semana; o Caderno de Sábado, com ensaios e textos; o Edição
de Esportes, sobre o mundo esportivo e o Jornal da Carro, que será detalhado mais
adiante.
Mesmo com toda a ousadia do projeto, o JT nunca trouxe ao Grupo Estado o retorno
almejado. Logo nos primeiros anos, quando bradava o início da circulação às 15h, o
jornal se viu junto com o crescimento desenfreado da cidade e do trânsito, tendo que
antecipar o fechamento para meio-dia. Além disso, em matéria de anúncios e
publicidade, a publicação também não trazia resultados satisfatórios.
Rumores sobre o fim do Jornal da Tarde vira e mexe surgiam. Pelo menos desde o meu
primeiro contato com o Grupo Estado, em 2008. Em setembro de 2011, quando comecei
a trabalhar no local, iniciaram-se as reformulações de projeto gráfico, as tentativas de
implantação de um novo site, mudanças de cargos – e extinção de outros -, corte de
gastos por meio de demissões (ou passaralhos, termo que, no meio jornalístico, define
demissões em massa nos veículos de comunicação), entre outros.
Em 2012, os comentários de que o jornal seria extinto passaram a ser cada vez mais
frequentes. Geralmente, quem iniciava o assunto eram jornalistas com mais tempo de
casa. Porém, em todas as ocasiões em que editores intervieram pela redação, a diretoria
sempre negou, categoricamente, as especulações e reforçava que se a intenção fosse
acabar com o JT, não teriam investido em mudanças. Havia quem reforçasse que a
publicação só não teria fim porque Ruy Mesquita jamais permitiria. Mesmo debilitado,
o diretor do Grupo Estado comparecia frequentemente ao famoso prédio da Avenida
Engenheiro Caetano Álvares. Ainda no primeiro semestre, o ex-diretor-presidente do
Grupo Estado, Sílvio Genesini, anunciou um novo projeto gráfico para o jornal, que
passaria a ser publicado no formato tablóide e não mais no formato standard, além de
mudanças no perfil editorial, para aproximar a publicação da chamada “nova classe C”,
que queria as informações resumidas como em um portal da internet, mas que não abria
mão de um veículo impresso e barato.
O primeiro sinal concreto de que os incômodos – e persistentes – rumores poderiam se
realizar, ocorreu no dia 16 de outubro daquele ano. Uma reportagem publicada no portal
Meio & Mensagem, por volta das 18h, anunciava: “JT pode acabar no dia de Finados”.
A matéria citava que a informação foi confirmada com três diferentes fontes, mas que o
Grupo Estado negava o encerramento das operações. Assim que a matéria começou a
publicar, jornalistas foram atrás de satisfações com o diretor de conteúdo, Ricardo
Gandour, que ao longo da semana, reuniu-se com funcionários e com membros do
Sindicato dos Jornalistas. Com a insistência das negativas e a falta de uma garantia e de
um acordo, os profissionais optaram por entrar em estado de greve.
No dia 29 de outubro, um e-mail com a assinatura de Gandour convocava os
funcionários para um esclarecimento geral sobre a situação do Jornal da Tarde, às
14h30, no auditório do Grupo Estado. Segundo o repórter do Jornal do Carro, Marcelo
Fenerich, que contava até então 15 anos de casa, somente uma parte dos profissionais da
redação recebeu o comunicado. Quem não havia recebido, já podia considerar a
demissão como certa.
Já no auditório, jornalistas olhavam para todos os lados para avistar se tal colega estava
lá ou não. Se o encontrava, era nítida a expressão de alívio.
No horário combinado, Gandour iniciou a reunião e não falou nada de divergente do
que já havia sido publicado no Meio&Mensagem. Agradeceu a dedicação de todos os
funcionários, explicou que todas as tentativas de salvar o Jornal da Tarde de uma crise
foram em vão e que o foco do Grupo Estado a partir daquele momento seria investir em
seu principal produto, o Estadão, e em projetos multiplataforma. Anunciou ainda que
alguns profissionais seriam realocados em outras editorias e que o Jornal do Carro
passaria a ser publicado dentro de O Estado de S. Paulo.
Jornalistas que permaneceriam na casa deixaram o auditório e se preparavam para
auxiliar no fechamento da edição de despedida, que seria publicada não no dia de
finados, conforme apurou o Meio&Mensagem, mas no dia das bruxas, 31 de outubro. E
por volta das 16h desse dia, sob aplausos e lágrimas, o Jornal da Tarde encerrava sua
trajetória.
Abaixo, o artigo escrito por Mino Carta e publicado no portal Café na Política, justifica
o fim do JT “como uma prova da decadência que assola o jornalismo brasileiro”.
A morte de um jornal sempre é dolorosa para praticantes do jornalismo
impresso, para profissionais da imprensa, usado o termo na sua acepção correta.
Mais dolorosa para mim, que dirigi a equipe fundadora do Jornal da Tarde. O
qual, aliás, teve este nome porque, em meio ao debate travado sob a batuta de
Ruy Mesquita em busca do “cabeço” mais preciso para definir o vespertino
do Estadão, arrisquei: “Que tal Jornal da Tarde?”
O projeto da casa era criar um diário capaz de atingir o público jovem, a se
supor ainda não alcançado pelo Estadão, e não hesito em sublinhar que minha
presença à testa da redação foi decisiva. Não me refiro à minha competência:
não passava de um aprendiz de 31 anos quando a equipe começou a ser formada
em meados de 1965 para uma curta temporada de ensaios. Ocorre que a família
Mesquita guardava de meu pai, Giannino, uma lembrança excepcionalmente
saudosa. Já falecido à época, ele havia trabalhado no jornal por 17 anos e Ruy
Mesquita o considerava seu mestre. A família Mesquita viu em mim um digno
herdeiro daquele pai talentoso e leal e foi por isso, bem sei, que me conferiu
uma autonomia de voo extraordinária.
Explica-se assim a revolução operada pelo JT no quinto andar do prédio da Rua
Major Quedinho, o corte profundo nas tradições da casa, o sismo que eruptou
do entusiasmo juvenil da equipe um pico ousado, de forma a conteúdos
inesperados. Pudemos acreditar à vontade que o texto pode e deve ter qualidade
literária e que as páginas de um jornal podem e devem ser esteticamente
impecáveis. Os Mesquita em peso aprovavam sem titubear e sem se verem
obrigados a recomendar a coincidência com a linha ideológica do Estadão. Ruy
Mesquita, de resto, cuidava pessoalmente da página dos editoriais.
As visões da vida e do mundo dos proprietários não batiam com as minhas, mas
estas eu soube guardá-las para mim. Creio não ter desmerecido a confiança da
família, por ter trabalhado com lealdade e empenho. Contava com uma equipe
excelente, de Murilo Felisberto, redator-chefe, profissional de gosto refinado, a
Ulysses Alves de Souza, o “sargentão” dos repórteres, de Ivan Angelo a Sergio
Pompeu, de Fernando Mitre a Rolf Kuntz, de Carmo Chagas a Tão Gomes
Pinto, de Hamilton de Almeida a José Roberto Guzzo. E muitos outros.
Lançado com uma campanha que anunciava a sua saída para as 3 da tarde, o
vespertino teve logo de recuar o fechamento para o meio-dia, em uma São
Paulo de 3 milhões de habitantes, cujo centro fervia na hora do almoço,
entregue à folga do pessoal dos escritórios. Algumas reportagens memoráveis,
escritas com fervor, bom estilo e riqueza de informações produziram saltos
progressivos na tiragem. De todo modo, o jornal atingiu seu ponto de fervura,
na minha opinião, quando eu já o deixara, no começo de 1968, chamado pela
Editora Abril para dirigir Veja. Enxergo a melhor fase entre 1969 e sua
transformação em matutino em meados da década seguinte.
Mudança inevitável, imposta tanto pelo avanço tecnológico quanto pelo
crescimento desvairado de São Paulo. Creio que naquele momento o JT perdeu
bastante, de alguma forma a sua própria razão de ser. Toda a imprensa brasileira
decaiu, mas a morte do jornal há de ser vista como consequência fatal da
decadência do jornalismo impresso, cercado por forças novas, encaradas com
perplexidade por este velho profissional, incapaz de imaginar o desfecho disso
tudo. (Em http://www.cafenapolitica.com/a-morte-de-um-jornal/. Acesso
em janeiro de 2015).
O Jornal do Carro e a atração de novos leitores
A primeira edição do caderno de veículos do Jornal da Tarde foi publicada no dia 4 de
agosto de 1982. O nome permaneceu o mesmo de uma coluna sobre automóveis que era
publicada no JT desde o seu início. A iniciativa para a criação do caderno foi de Luís
Nassif, que já estava a frente da coluna de economia “Seu Bolso”.
O suplemento automotivo, inicialmente, tinha apenas 16 páginas, mas o que o destacava
de verdade era a tabela de preços de automóveis usados, com pouco mais de 30 carros e
seis motocicletas.
Em seus 33 anos de existência, passaram pela redação do Jornal do Carro grandes
nomes do jornalismo automotivo, como Nivaldo Nottoli, Sílvio Nascimento, Luiz
Carlos Secco, Marcus Vinícius Gasques e Lúcia Camargo Nunes. O atual editor, Tião
Oliveira, já está em sua segunda passagem pelo Grupo Estado.
Quando ainda era novato e raso, o Jornal do Carro era publicado de quinze em quinze
dias. Nos anos 1990, passou a ser semanal, circulando às quartas-feiras, e no ano 2000,
começou a ser publicado aos sábados.
Até o momento em que incorporou o Jornal do Carro, O Estado de S. Paulo não contava
com um caderno automotivo diferenciado e se limitava a publicar novamente as
principais matérias já veiculadas pelo Jornal da Tarde, às vezes com uma ou outra
atualização da semana, como a divulgação de feirões de venda de veículos.
Mesmo com os rumores do fim do Jornal da Tarde, a equipe do Jornal do Carro,
especificamente, sabia que o caderno não teria o mesmo fim do periódico que o
encartava. Todos dentro das redações dos dois jornais ressaltavam que o tradicional
caderno de veículos e os cadernos de viagem e gastronomia atraíam publicidade e, se
não traziam o lucro esperado, ao menos não davam prejuízo.
Com o passar dos anos e a evolução da internet, a tabela de preços de novos e usados do
Jornal do Carro não era o principal chamariz de leitores. Mas ao contrário do que os
editores e repórteres do caderno imaginavam, não eram as avaliações de automóveis
esportivos a unanimidade em preferência.
Menos de um mês depois do fim do JT, fui designada para ir a algumas bancas
selecionadas pelo Grupo Estado para checar se as vendas de O Estado de S. Paulo com a
publicação do Jornal do Carro alavancaram. E na conversa com os leitores, uma parte
revelou gostar mais das matérias sobre os comparativos entre automóveis da mesma
configuração (como por exemplo, Volkswagen Gol e Fiat Palio). Outra parte, muito
maior, disse preferir a seção “Defenda-Se”, que trata do relato de consumidores que
tiveram problemas com alguma montadora em especial.
Eis a reportagem:
‘Jornal do Carro’ eleva venda do ‘Estado’ em bancas – 19/11/2012
Estimativa inicial é de que procura pelo ‘Estadão’ nas bancas às quartas-feiras,
quando circula o caderno, cresceu cerca de 400%
Desde o início do mês, o ‘Jornal do Carro’ passou a fazer parte do ‘Estadão’. Para
marcar a estreia, o caderno ganhou visual mais moderno e passou a trazer novas
seções, sem perder de foco a essência que o transformou em uma das mais respeitadas
publicações de veículos do País. O sucesso da edição das quartas-feiras, que tem
formato tabloide – a de domingo permanece standard, em linha com os demais
cadernos de classificados do ‘Estadão’ -, vem sendo comemorado pelos jornaleiros da
capital e confirmado pelos leitores.
Segundo Daniel Madrid, que trabalha em uma das maiores e mais antigas bancas de
jornais e revistas da Avenida Paulista, na região central da cidade, desde a estreia do
JC, o Estadão está sumindo rapidamente da prateleira às quartas-feiras.
“Praticamente não sobra”, afirma ele.
Nélio de Barros, que é dono de uma banca no bairro do Tatuapé, zona leste, também
celebra os bons resultados e a repercussão positiva gerada pelo novo caderno. “Desde
que o Jornal do Carro passou a fazer parte do Estadão, minhas vendas cresceram entre
cinco e oito vezes”, diz. Ele conta que tem percebido mudanças no comportamento até
de quem não costumava ler o jornal com frequência. “Muitos leitores migraram para o
Estadão por causa do caderno”.
É o caso do bancário Guilherme Linn, que tinha o hábito de ler o Estadão só nos fins
de semana. Na semana passada, ele levou uma edição por causa do JC. “Vi a
propaganda do novo Jornal do Carro na TV e fiquei curioso para conferir como ficou”.
Ele afirma ser o leitor do caderno há muitos anos. “E conheço a credibilidade do
Grupo Estado”.
Assim como Linn, outros leitores antigos da publicação também acompanharam a
mudança e migraram para o Estadão. O corretor de seguros João Campos é um bom
exemplo. Ele afirma que costumava comprar o Jornal da Tarde às quartas-feiras, por
causa do JC, havia mais de uma década.
Na opinião de Campos, as mudanças fizeram bem ao caderno. “Gostei muito do novo
formato. Ficou mais agradável de ler”. Ele conta que as reportagens de que mais gosta
são as avaliações de carros novos, que estão chegando ao mercado brasileiro. “E
também dos comparativos”.
História. O Jornal do Carro foi criado em 1982, já com formato tablóide, a partir de
uma coluna publicada no Jornal da Tarde. Desde a primeira edição, um dos destaques
do caderno era a pesquisa de preços de automóveis usados, que se tornou referência no
mercado. O número de modelos contemplados era de pouco mais de 30 carros e 6
motocicletas. Atualmente, fazem parte da pesquisa semanal 1.420 modelos e quase 5
mil cotações. Com a transferência para o Estadão, a abrangência e a circulação do JC
aumentaram significativamente. A distribuição é feita na Grande São Paulo, na região
de Campinas e na Baixada Santista.
A percepção dos jornaleiros sobre o sucesso do caderno é traduzida pelos números
apurados pelo Grupo Estado. Segundo o gerente da área de Venda Avulsa da empresa,
Lindberg Fernandes de Lima, o crescimento da procura pelo Estadão às quartas-feiras
foi de cerca de 400%. “Esses dados ainda são preliminares, mas os números
consolidados não deverão ser muito diferentes”.
Em breve haverá mais novidades. No começo do ano, a marca Jornal do Carro vai se
transformar em uma plataforma digital multimídia de alcance nacional. (Em
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,jornal-do-carro-eleva-venda-do-estado-
em-bancas-imp-,962026. Acesso em janeiro de 2015).
O comercial ao que o leitor Guilherme Linn se referia foi produzido pela agência de
publicidade WMcCann e começou a ser veiculado logo após o fim do Jornal da Tarde.
Ficou no ar por pelo menos um mês e era transmitido ao longo do dia, em especial no
horário nobre, como por exemplo, nos intervalos do “Jornal Nacional” e da então novela
das 21h, “Salve Jorge”, ambos da Rede Globo.
O texto do comercial era o seguinte:
“Ele sempre foi o mais respeitado, o mais completo e agora ele mudou. Vai ganhar
mais força, mais alcance. Com vocês, a novidade do ano. Jornal do Carro: toda quarta,
agora, no Estadão.
As reportagens sobre os segredos da indústria automotiva, tabela de preços que é
referência no mercado e classificados com milhares de ofertas, toda semana, no melhor
jornal do País. Jornal do Carro. Toda quarta, agora, no Estadão.
Já a plataforma digital multimídia de alcance nacional que a reportagem citou se tratava
do site próprio do Jornal do Carro e não apenas uma editoria hospedada dentro do portal
Estadão. Com, um projeto que já fazia parte dos planos do Grupo Estado antes de o
Jornal da Tarde acabar. A entrada do site no ar já havia sido adiada pelo provável fim do
JT e adiado mais uma vez no começo do ano, quando era previsto entrar no ar, por falta
de acertos e contas com a empresa responsável pelo projeto.
Mas muito antes dessas idas e vindas, rumores do fim do Jornal da Tarde e iminente site
novo no ar, em março de 2012, a editora-assistente do Jornal do Carro, Rafaela Borges,
que sempre foi muito ligada às redes sociais e ao jornalismo de internet, sugeriu que o
suplemento tivesse uma página própria no Facebook, além da página de O Estado de S.
Paulo, algo que a maioria dos suplementos e revistas automotivos já possuía.
Eis a primeira postagem do Jornal do Carro no Facebook:
De início, apenas Rafaela era responsável pelo conteúdo da página, que publicava, de
maneira geral, imagens de lançamentos, mudanças de gestão em entidades automotivas
e novidades do mundo das montadoras.
A atração de novos curtidores – ou possíveis novos leitores da edição impressa –
também sempre foi uma das intenções da página. Para isso, Rafaela utilizava uma
linguagem como que chamando na primeira pessoa e avisando que se quisessem mais
detalhes do que estava sendo postado, bastava comprar o Jornal da Tarde (que até então
publicava o Jornal do Carro).
Com o passar dos dias, Rafaela passou a dividir a tarefa de “alimentar” o Facebook para
os outros repórteres do Jornal do Carro, chamados então, no linguajar da rede social, de
“administradores da página”. E o conteúdo passou a trazer também a chamada para
matérias publicadas no blog do suplemento, que fazia parte do site do JT.
Cada repórter administrador da página tinha a liberdade para sugerir e publicar no
Facebook. Quem, por exemplo, estivesse em posse de um veículo bacana para fazer
uma reportagem publicava a foto e chamava o leitor/curtidor para conferir a avaliação
na edição impressa.
Na semana seguinte, a novidade ficou por conta da divulgação, um dia antes de chegar
às bancas, da capa da edição impressa. O designer do Jornal da Tarde, José Eduardo
Tababez, passava a arte e imediatamente algum dos repórteres publicava.
Também no Facebook do Jornal do Carro, eram publicadas notas geradas por meio de
releases que não rendiam pauta ao jornal impresso ou ao blog.
Mas o grande destaque do Facebook do Jornal do Carro em 2012 e que ajudou a
praticamente triplicar o número de curtidores foram os anúncios da edição
comemorativa de 30 anos do caderno, seguidos da promoção “Minha Paixão por
Carro”.
A promoção “Minha Paixão por Carro” surgiu após o Grupo Estado firmar uma parceria
com o ex-piloto Emerson Fittipaldi, que promovia o evento 6 Horas de São Paulo,
inspirado no modelo de corrida endurance 24 Horas de Le Mans. A competição, que
ocorreria em setembro, serviria para apresentar o novo projeto gráfico do Jornal do
Carro – que aconteceu durante as tentativas de o Jornal da Tarde se salvar – e o novo
site independente. O tabloide redesenhado ficou pronto a tempo, mas o portal não. A
promoção, que seria divulgada em partes no site, em partes na edição impressa e apenas
de forma complementar no Facebook, passou a ser alardeada quase que exclusivamente
pela rede social. Havia um link que indicava por onde enviar a frase, que era o objetivo
do concurso, mas todas as regras estavam em www.facebook.com/JornaldoCarro.
Sabendo que o site não entraria no ar a tempo de terminar o evento, toda a etapa dele foi
divulgada por meio do Facebook e do velho blog hospedado no site do JT.
O que também ajudou a atrair mais leitores/curtidores era a proximidade do Salão
Internacional do Automóvel de São Paulo. E claro que, mais leitores, mais critérios,
mais elogios e mais críticas, muitas delas nas postagens em que a redação mais interagia
com a técnica de chamar na primeira pessoa, como nos exemplos abaixo:
Mas nem só de críticas dos leitores o Facebook do Jornal do Carro se mantém. Em
algumas postagens, para se aproximar ainda mais dos curtidores, foram publicadas
imagens tanto dos repórteres quanto dos próprios editores, tanto em reportagens
externas quanto na própria redação.
No livro Redes Sociais para Cientistas, os autores Ana Sanchez, António Granado e
Joana Lobo Antunes explicam a chamada reputação na Web. Para eles, a imagem e o
conteúdo divulgado são de total responsabilidade não só de seus autores como da
própria organização e que esse contato direto pode ser extremamente benéfico.
A manutenção da reputação na Web é uma tarefa da responsabilidade de cada
cientista e da organização a que pertence. Manter a reputação na Web significa,
principalmente, controlar a informação pessoal espalhada pela Internet, criando
alguma coerência na sua apresentação.
É evidente que a reputação na Web começa fora dela e, por isso, é crucial que o
investigador se preocupe em primeiro lugar com as actividades que na vida real,
pois são elas que ajudam a construir a sua imagem enquanto membro da
comunidade académica.
Num mundo cada vez mais dependente das tecnologias da informação é muito
importante que os investigadores possam ser facilmente encontrados on-line e aí
promovam actividades que contribuam para a sua maior visibilidade dentro do
campo de actividade que escolheram prosseguir.
Cuidar da reputação na Internet é muito mais do que um exercício de vaidade
ou ostentação, é um trabalho que pode contribuir para a sobrevivência da
investigação científica, ajudando a sociedade como um todo a perceber melhor
o papel dos cientistas enquanto agentes de mudança e inovação. (SANCHEZ,
GRANADO E ANTUNES, 2014, p. 6).
O editor Tião Oliveira, durante uma viagem ao Japão em pauta pela Toyota
A redação do Jornal do Carro
O Facebook também foi adotado pelo Jornal do Carro como uma forma de angariar
pautas e fontes. A tradicional receita de pegar o telefone ou ir às ruas atrás de um
entrevistado ou de uma boa história para contar deu lugar à tríade “postar-curtir-
compartilhar”. Talvez quem lesse a postagem pudesse não ajudar, mas bastava um
compartilhamento para que outras dezenas de pessoas ficassem a par.
De uma forma ou de outra, essa prática só se mostrou benéfica. A agilidade em
encontrar personagens ficou maior e a conquista de curtidores também.
Inês Aroso, citando João Canavilhas, afirma que a presença e interação por meio das
redes sociais atrai leitores e fortalece a audiência.
Idealmente, as consequências da presença meios de comunicação nas redes
sociais serão o aumento da audiência e o fortalecimento dos vínculos com esta,
já que transformam audiências em comunidades. Aliás, “podemos decir que el
uso de las redes sociales en la distribución de noticias aumenta el número de
lectores” (CANAVILHAS 2011). João Canavilhas acrescenta que “las redes
sociales facilitan un cambio en la forma como los usuarios se relacionan con los
medios de comunicación, fortaleciendo los vínculos. Este enfoque mejora la
transformación de las audiencias en las comunidades, situación que tiende a
generar lealtad de los consumidores por el desarrollo de sentimientos de
pertenencia a uma comunidad”. (CANAVILHAS, 2011, in. AROSO, 2014,
p.6).
O repórter Thiago Lasco, à procura de um personagem que acompanhasse a trajetória do
Jornal do Carro desde o seu início
O repórter Ícaro Bedani, fantasiado de Papai Noel, e a postagem pedindo que os
leitores/curtidores votassem em qual modelo que seria gravado o próximo vídeo
Em setembro de 2013, finalmente entrou no ar o site do Jornal do Carro, além de um
perfil no Instagram. Ambas as novidades mereceram posts no Facebook, assim como os
feitos em números de fãs e audiência.
Até o dia 26 de janeiro de 2015, o Facebook do Jornal do Carro reunia 472.684
curtidores. A página na rede social é administrada pelos repórteres e editores da casa,
que têm liberdade para sugerir e postar conteúdo, desde que o foco e dedicação
permaneçam, na maior parte do tempo, no site.
Diego Ortiz, repórter do Jornal do Carro e editor do site, acabou sendo incumbido da
tarefa de editar comentários dos leitores que julgassem ofensivos.
Recentemente, ao final de cada vídeo publicado, a equipe de redação passou a narrar a
seguinte frase: “Quer saber tudo sobre o mundo dos automóveis? Acesse o site do
Jornal do Carro, curta nossa página no Facebook e siga-nos no Instagram”.
Um outro estudo de caso: a Revista O Mecânico
A Revista O Mecânico faz parte do ramo do jornalismo conhecido como imprensa
segmentada. A publicação não é vendida em bancas e seu conteúdo é voltado
exclusivamente para o ramo de reparação automotiva. A distribuição é feita
principalmente em oficinas mecânicas, lojas de autopeças e montadoras.
Em seu site, a história da publicação é a seguinte:
A Revista O Mecânico, primeira mídia do segmento de reparação veicular, com 27
anos de história, é uma publicação técnica dirigida para o profissional da reparação
veicular, o mecânico, e outros prestadores de serviços envolvidos no segmento
automotivo. Tem circulação nacional de 70 mil exemplares, auditados pela PWC -
PriceWaterhouseCooper, e distribuição feita por meio de assinatura e cortesia para o
público especializado.
Com circulação nacional, a publicação é distribuída em oficinas mecânicas, de
funilaria/pintura e eletricidade, centros automotivos, postos de serviços, retificas,
frotistas, concessionárias, distribuidores, fabricantes de autopeças e montadoras.
Também é distribuída em cooperação com lojas de autopeças "ROD" (Rede Oficial de
Distribuidores da Revista O Mecânico).
O conteúdo editorial abrange informações sobre reparação de veículos leves e pesados,
como serviços mecânicos, dicas de fabricantes, novas tecnologias, equipamentos e
ferramentas, além das últimas notícias sobre a indústria de veículos e autopeças. Os
destaques de cada edição são as matérias técnicas de passo-a-passo, do tipo
fotonovela, com texto explicativo de procedimentos para diagnostico, desmontagem,
instalação e reparo automotivo.
Outros temas como lançamentos de veículos e de equipamentos, combustível,
lubrificantes e aditivos, administração/gestão e marketing são inseridos no contexto
para completar a formação dos profissionais.
Há sete anos a Revista o Mecânico foi adquirida pela GG Editora de Publicações
Técnicas, que publica as revistas O Carreteiro e O Carreteiro Racing, além do Anuário
O Carreteiro Racing (produtos específicos da Fórmula Truck) e o Guia O Carreteiro.
Na realidade, o texto acima é datado de 2011. Em 2014, a Revista O Mecânico
completou 30 anos de história e há menos de um ano na época, a publicação passou a
fazer parte da Infini Editora, editora aberta por um dos gerentes de longa data da revista,
Fabio Antunes de Figueiredo, com sua mãe, Deyde.
A redação da Revista O Mecânico havia se localizado em diversos bairros de São Paulo.
Passou, em seus últimos momentos de GG Editora, pela Barra Funda e pelo Jabaquara.
Mas em fevereiro de 2014, Figueiredo se mudou com a publicação para a Avenida dos
Autonomistas, em Osasco, em um conjunto empresarial que alugava galpões. O
objetivo de um espaço infinitamente maior era por conta de um novo negócio, o
Mercado do Mecânico, focado na venda de autopeças online, semelhante ao portal Loja
do Mecânico. Em um galpão anexo à redação, ficavam as estantes gigantes para a
acomodação das peças, compradas em parcerias com anunciantes, e um estúdio
adaptado próprio para a realização das imagens dos produtos e vídeos do
Mecâniconline, que divulgava passo a passo de reparos em parceria com o SENAI em
um canal exclusivo da publicação no YouTube.
Também da geração dos 30 anos e voltada para o mundo automotivo, a Revista O
Mecânico possuía outras duas semelhanças com o Jornal do Carro: um site que estava
para entrar no ar, mas cujo projeto se atrasava em virtude de desavenças, e uma página
no Facebook criada em março de 2012 com a primeira postagem:
Ao contrário do Jornal do Carro, porém, a Revista O Mecânico dedica sua página no
Facebook à divulgação do conteúdo que está no site, seja ele vindo da revista, do
Mecâniconline ou de releases.
A publicação mantém uma parceria com o SENAI tanto para a revisão de reportagens
técnicas como para a gravação dos vídeos passo a passo do Mecâniconline. Então, todos
os cursos promovidos pela instituição como as matérias em que era fonte eram
divulgados no Facebook.
Apesar de o conteúdo do Facebook da Revista O Mecânico ser muito mais restrito e
exclusivo que o do Jornal do Carro, havia regras para a utilização da rede social,
impostas por Figueiredo em acordo com a editora, Carolina Vilanova (que ficou a frente
da publicação por 10 anos, mas se desligou em 2014), e com o departamento comercial
e de anúncios, formado por Vanessa Ramires, Rosa Souza e Helena de Castro.
A principal delas, que servia também para os conteúdos editoriais, estipulava que usar
linguagem técnica sim, mas rebuscada não. “Precisamos entender que nosso público
leitor, muitas vezes, não tem total domínio da escrita e da leitura”, justificavam.
Outra norma a ser seguida era evitar divulgar com destaque lançamentos de veículos. O
foco da revista era a reparação automotiva e notícias que diziam respeito aos
anunciantes. Lançamentos só seriam divulgados quando não houvesse realmente
nenhuma outra novidade a respeito do tema principal ou quando, no release do tal
lançamento, viesse uma imagem do motor.
Por fim, havia orientações também quanto à ordem de importância e horário. Todos os
dias, na parte da manhã, era feita uma seleção dos releases de anunciantes recebidos,
que eram publicados por ordem de importância, tanto do tema quanto do prestígio junto
à publicação. Divulgação de cursos do SENAI, por exemplo, eram colocados sempre
em primeiro lugar. No total, eram quatro notas publicadas por dia. Após a publicação
das notas no site, elas eram divulgadas no Facebook com um intervalo de 20 minutos
entre cada uma.
Curiosamente, a técnica de postar fotos de motor angariava muitas curtidas, tendo em
vista que o atual total de curtidores está em 339.620. Posts patrocinados com ofertas e
promoções também faziam sucesso:
O designer da publicação, Alexandre Amaral Villela, sempre foi muito criterioso quanto
ao tamanho exato das imagens para não ficar em baixa resolução. Se Figueiredo
percebesse que a qualidade das fotos não estava de acordo, entrava em contato com
Villela imediatamente ou com o repórter Fernando Lalli.
Considerando o pensamento das equipes editorial e comercial, de que com profissionais
do ramo de reparação a linguagem tem que ser clara e objetiva, as imagens também
seguiam a mesma regra. Eram sempre a foto de um produto, de um processo ou algo
acompanhado com o personagem símbolo da revista, Abílio, em especial quando se
tratava de algum acontecimento importante.
Também era com agradecimentos do Abílio que a Revista O Mecânico celebrava os
feitos de curtidas alcançadas. Quando estava prestes a atingir os 300 mil fãs, Villela e a
outra designer da redação, Paula Scaquetti, prepararam, com a devida aprovação de
Figueiredo, uma arte que ressaltasse o novo número e agradecesse os leitores por isso.
No dia 10 de setembro de 2014, na hora do almoço, a página reunia cerca de 299.980
curtidores. Iniciou-se então uma espécie de contagem regressiva e ninguém saiu da
redação enquanto a marca não foi atingida, ainda que o horário de expediente já
estivesse encerrado.
Figueiredo, empolgado, inclusive chegou a fazer uma comparação com o Facebook do
Jornal do Carro, dizendo que a dimensão da revista era infinitamente menor se
comparado com um suplemento do Grupo Estado e, portanto, ter apenas 100 mil
curtidores a menos era uma honra.
Sanchez, Granado e Antunes, em “Redes Sociais para Cientistas”, na página 11,
enumeram seis conselhos para a utilização do Facebook que parecem estar sendo
plenamente seguidos pelo Jornal do Carro e a Revista O Mecânico:
Conselhos para uma boa utilização
1. Os posts com imagem têm normalmente mais interacções
2. Os posts podem ser grandes ou pequenos; têm é de ser interessantes e bem escritos
3. Há horas melhores que outras para publicar e precisamos conhecer quais são
4. Colocar on-line demasiados posts pode irritar os amigos/seguidores, especialmente
quando são repetitivos
5. Interagir com os que nos lêem é essencial para manter o interesse no que dizemos
6. Criar uma página institucional e não ter uma pessoa/equipa que faça a sua gestão é
suicídio
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É inegável que há uma transformação na comunicação pelas redes sociais,
independentemente de qual seja. Geralmente, é a rede de sucesso no momento que dita
regras e vira assunto nas rodas de conversa. Em 2004 foi o Orkut, em 2008 foi o Twitter
e desde 2011 temos visto o Facebook e o Instagram como os protagonistas de
computadores e smartphones.
Ainda é passível de muita discussão se há alguma norma de conduta para a utilização
das redes sociais. Muitos limites do bom senso acabam sendo ultrapassados. Hoje é
muito fácil saber cada passo de uma pessoa que posta de tudo e faz check-in de todos os
lugares. Da vida pessoal então, nem se fala.
Esta autora, por exemplo, ficou sabendo de três divórcios, de dois amigos e de um
primo, antes de eles contarem qualquer coisa. Como? As fotos com as esposas foram
apagadas, o status de relacionamento passou para “solteiro” e as ex-esposas atualizaram
seus perfis sem os sobrenomes dos maridos.
Essa facilidade de saber da vida dos outros que as redes sociais proporcionam acabou,
de certa forma, sendo um comodismo para a forma de se fazer jornalismo. Há desde os
casos em que basta digitar “Facebook”, “Twitter” ou “Instagram” no Google para se ter
alguma notícia atualizada e plantar alguma nota sobre determinado assunto, seja ele
sobre política, turismo ou celebridades.
Com a internet a todo vapor, a exigência por informações instantâneas ficou muito
maior. Não é possível e nem necessário comprar uma revista de “fofoca”, terminar de
lê-la e só ter notícias sobre seu artista favorito na edição seguinte, uma semana depois.
Pouco antes de as redes sociais terem a força de hoje, o jornalismo de celebridades era
feito, em sua maior parte, com a ajuda dos chamados “paparazzi”, fotógrafos que
ficavam de plantão em frente à casa de uma figura importante ou próximo a um
restaurante onde o cantor do momento estivesse almoçando com a família. Mas hoje
isso não é mais preciso. Curtir, seguir ou adicionar o perfil de uma personalidade já é
considerado por alguns editores uma forma segura de se ter uma notícia sobre ela. Sem
precisar correr atrás dela para checar se é verdade ou ligar para agendar uma fotografia.
No meio disso tudo também perdeu um pouco do espaço a clássica seção chamada
“carta do leitor”. Raramente alguém se dedica a escrever uma carta ou enviar um e-mail
para uma publicação e dar sua opinião acerca de algum assunto. Hoje basta descer um
pouco mais a tela do computador, encontrar o espaço para comentários e dizer o que
pensa, correndo um risco praticamente nulo de não ser publicado. Neste mesmo espaço
é possível sugerir, opinar e principalmente criticar, defender e julgar.
Com um jornalismo feito de “Print Screen” e “Ctrl C + Ctrl V” dos perfis de famosos
nas redes sociais, ficou fácil até para o próprio leitor acessar o
Facebook/Twitter/Instagram e curtir/seguir/adicionar seu artista favorito, saber para
onde ele viaja, quais lugares frequenta e até as marcas de roupa que ele usa. O contato
entre ambos os lados se estreitou. O problema é que daí para a invasão de privacidade, a
fronteira é muito tênue. E como disse Bauman em “O Mal-Estar da Pós-Modernidade”,
“você ganha alguma coisa, mas, habitualmente, perde em troca alguma coisa”.
Provavelmente, os casos citados neste artigo não teriam a mesma repercussão em uma
época em que a internet não era o forte. Todas essas “notícias” foram prolongadas pelo
acompanhamento em tempo real dos devidos perfis nas redes sociais dos personagens
envolvidos.
Bauman afirmou que “a beleza, a pureza e a ordem são ganhos que não devem ser
desprezados e que, certamente, se abandonados, irão provocar indignação, resistência e
lamentação”. (BAUMAN, 1997, p.20). E ressaltando que todo e qualquer julgamento na
forma de “comentários”, “seguidas” ou “curtidas” é como a flecha do famoso provérbio
chinês, que depois de lançada, não há como voltar atrás.
Na questão da impessoalidade, os rumos de uma rede social são praticamente
impossíveis de serem previstos. Ninguém poderia adivinhar que um dia o ICQ acabaria
e que em pleno 2014 voltaria a todo vapor. Nem o mais pessimista dos geeks iria supor
que o Orkut anunciaria seu fim depois de praticamente virar uma “cidade virtual
fantasma” tamanha sua perda de usuários para Facebook, Google+, Twitter e MySpace.
Porém, uma certeza que temos, é que independentemente de outras redes que surjam e
sumam, elas mudaram para sempre nossos conceitos de relacionamento.
O Facebook não se contentou em ser apenas uma rede social. Ele virou um ícone fixo de
telefones celulares, transformou-se em olhares fixos para telas de smartphones e tablets
e se consolidou como a maneira mais fácil e rápida de se dizer o que sente, manter
contatos e divulgar informações. Mas até que ponto isso é bom ou ruim? Na visão de
Raquel Recuero, somos nada menos que atores partes de um sistema.
Os atores são o primeiro elemento da rede social, representados pelos nós (ou
nodos). Trata-se das pessoas envolvidas na rede que se analisa. Como partes do
sistema, os atores atuam de forma a moldar as estruturas sociais, através da
interação e da constituição de laços sociais.
Quando se trabalha com redes sociais na Internet, no entanto, os atores são
constituídos de maneira um pouco diferenciada. Por causa do distanciamento
entre os envolvidos na interação social, principal característica da comunicação
mediada por computador, os atores não são imediatamente discerníveis. Assim,
neste caso, trabalha-se com representações dos atores sociais, ou com
construções identitárias do ciberespaço. Um ator, assim, pode ser representado
por um weblog, por um fotolog, por um twitter ou mesmo por um perfil no
Orkut. E, mesmo assim, essas ferramentas podem apresentar um único nó
(como um weblog, por exemplo), que é mantido por vários atores (um grupo de
autores do mesmo blog coletivo). (RECUERO, 2009, p. 25).
Como atores que somos, também interpretamos uma realidade que não existe ou
fingimos uma felicidade. Exercemos, permanentemente, a busca pelo melhor ângulo.
Temos que estar sempre perfeitos e tomar cuidados para que nenhuma história ou
imagem manche nossa reputação, afinal, o que é postado na rede, pode se eternizar.
Mesmo se deletamos, alguém pode ter visualizado, curtido, comentado e compartilhado.
As imagens aparecem como relâmpago e como relâmpago desaparecem. No
entanto, são “eternas”, porque guardadas em memórias, e também recuperáveis
“imediatamente”. Logo, não há mais “o” espaço: todos estamos aqui juntos, não
importa onde estejamos. Logo, não há mais “o” tempo: tudo está comigo agora,
não importa quando tenha acontecido. Não se supera apenas a geografia e a
história, anula-se também o “eu” limitado: posso estar “imediatamente” onde
quero e quando quero – e não apenas “estar”, mas igualmente “agir”. Tal
ubiquidade do “eu” junto com todos os outros não é derramar-se, pelo contrário,
tudo se dá, e eu estou aqui e agora. Tal espaço encolhido em “aqui”, tal tempo
encolhido em “agora”, tal “eu” encolhido em “nós”, tal “nós” encolhido em
“eu”, é precisamente o que torna concreto o meu universo: um universo do aqui
e do agora, um universo concretizado sobre um único ponto. (FLUSSER, 2008,
p. 149).
Já com relação a marcas e ao consumo desenfreado, é correto dizer que a necessidade de
consumo mudou tanto quanto as formas de estimulá-lo. O pequeno espaço no jornal de
antigamente se transformou em enormes informes publicitários. A curta propaganda na
televisão, anunciando apenas os preços de alguns produtos, ficou mais longa e com
muito mais dizeres que praticamente convencem o consumidor de que aquela
mercadoria é essencial na vida dele e ele ainda não se deu conta disso.
Como se tudo isso não bastasse, agora há as redes sociais para colocar mais lenha nessa
fogueira. Curtidas no Facebook, posts no Twitter e riqueza de imagens no Instagram nos
bombardeiam a todo instante com uma necessidade que não existe, mas que fazemos
questão de arranjá-la dentro de nós.
Para Bauman, manter-se nessa sociedade de consumo de hoje é um esforço interminável
e difícil. “Os mercados de consumo são ávidos por tirar vantagem desse medo, e as
empresas que produzem bens de consumo competem pelo status de guia e auxiliar mais
confiável no esforço interminável de seus clientes para enfrentar esse desafio”, diz.
Já para Isleide, esse problema tem uma raiz muito mais profunda. A autora acredita que
os consumidores se deixam levar mais pelas imagens do que pelas coisas em si. O
fetiche já é a máxima das relações de consumo.
A importância da marca publicitária pode ser inserida no debate contemporâneo
sobre o “fetichismo das imagens” – termo que conotaria um desdobramento do
“fetichismo da mercadoria”. Neste último, a problemática central visa apreender
a perversão das relações humanas que passaram, num sistema de produção
social mercantilizada, a ocorrer através da relação entre “coisas”. Acontece que
hoje são as próprias coisas – no caso, os produtos – que se referem às marcas
para ganhar identidade própria. Ou seja, não basta tomar refrigerante, tem de ser
Coca-Cola. [...] Desse ponto de vista, a marca parece perverter o próprio fetiche
– uma espécie de “fetichização do fetiche”: as pessoas deixam de se referir às
coisas e passam a se referir às imagens sobre as quais essas próprias coisas se
constroem. (FONTENELLE, 2002, p. 284).
Nos tempos de Orkut, as famosas comunidades se limitavam a angariar cada vez mais
seguidores e, na maioria das vezes, nem eram comandadas e atualizadas pelas marcas e
sim pelos “donos”, vulgo fãs/curtidores/consumidores. Os posts se restringiam à
interação entre outros apreciadores. O Facebook, além de cumprir esse papel, vai mais
além: ele uniu as características de todas as outras redes sociais, permitindo posts
curtos, como o Twitter, e riqueza de imagens, como o Instagram.
Em uma rede social, como o Facebook, que permite a interação entre diferentes
culturas, classes sociais e econômicas, é complicado saber quem fala a verdade ou não,
o que cada um pensa ou almeja conquistar. O que se sabe é que essa rede permite
ultrapassar os limites dos desejos infundados por falar e transmitir muito mais que um
anúncio de jornal ou comercial de TV. Se a pessoa não consegue ir ao shopping ou ao
mercado, a página da marca é praticamente uma vitrine virtual, que te faz pensar se tal
mercadoria é ou não imprescindível. Se você apenas achou legal, curta. Se gostou e
recomenda, compartilha, ações geralmente feitas sem muito titubear. Citando o ensaísta
e filósofo Günther Anders, Bauman reforça que a tendência é piorar:
Parece correto dizer que nada nos define melhor, como seres humanos do
presente, do que nossa incapacidade de permanecer mentalmente “atualizado”
no que se refere ao progresso de nossos produtos, ou seja, controlar o ritmo de
nossa própria criação e reaver no futuro (que chamamos nosso “presente”) os
instrumentos que tomaram conta de nós...não é totalmente impossível que nós,
que fabricamos esses produtos, estejamos a ponto de criar um mundo cuja
velocidade não possamos acompanhar e que vai exceder por completo nosso
poder de “compreensão”, nossa imaginação e nossa resistência emocional,
assim como estará além da capacidade de nossa responsabilidade. (BAUMAN,
2008, p. 189 e 190).
Fato é que permanecer conectado ao Facebook o dia inteiro já é uma realidade possível
com o sistema e a conexão cada vez mais velozes dos celulares. Possível também se
tornou a fusão entre publicidade e cultura que a rede social, ainda que sem querer,
promove incansavelmente.
Grandes marcas parecem não desistir dessa possibilidade tão fácil e tão atual de
divulgar lançamentos ou mesmo produtos que são o seu foco. As propagandas de
televisão de antigamente focava em uma espécie de manual de instruções do produto,
explicando seu uso e suas vantagens. Hoje, esse papel ficou por conta do Facebook, já
que os anúncios publicitários de hoje focam no espetáculo, em imagens futuristas.
Como define Isleide, “as imagens, nesses casos, são voltadas para o consumo e
vinculadas ao propósito da distração. Nossa atenção é mantida sem esforço,
basicamente descontínua, superficial e difusa, em oposição ao que seria uma recepção
ótica, contemplativa, atenta e polarizada”.
É nesse nível, aliás, que podemos retomar o paradoxo da marca como tendo de
veicular imagens que se deslocam continuamente – em função da concorrência
e das mudanças de gostos e estilos – e, ao mesmo tempo, insistir no seu
consumo, no padrão, que é o nome da marca: algo se fixa e permanece – o
nome – enquanto as imagens podem se suceder e se referir umas às outras
ininterruptamente, como “uma cadeia metonímica que não pára” e que ilustra o
“movimento incansável e excessivamente imaginoso do próprio capitalismo,
sua inexorável dissolução das formas e fusão das identidades, confundindo
todas as qualidades específicas num único processo indeterminado e puramente
quantitativo”, norteado pelo dinheiro, o significante por excelência que
“subverte qualquer representação estável”. (FONTENELLE, 2002, p. 286).
Nos casos do Jornal do Carro e da Revista O Mecânico, o Facebook surgiu como
emergência para um site que não entrou no ar a tempo, como um complemento para as
edições impressas e para conquistar leitores/curtidores. A cada época em que a página
estava para alcançar um número arredondado de fãs, havia toda uma preparação para
celebrar o feito e agradecer os responsáveis por isso. Imediatamente as equipes de arte
preparavam uma imagem que fizesse alusão à marca atingida e ao produto. Por pelo
menos alguns instantes, essa “audiência” tinha muito mais importância que o número de
exemplares vendidos ou distribuídos.
Outra necessidade vista pelos dois veículos não era a de apenas conquistar leitores, mas
a de se aproximar deles. Falar diretamente na linguagem do público-alvo de cada um,
enriquecer a página com imagens, até mesmo da própria equipe, e convidá-los a dar
palpites e entrar em contato para elogios, críticas e sugestões.
Surgidas no mesmo ano, as páginas do Jornal do Carro e da Revista O Mecânico no
Facebook foram criadas não só em caráter emergencial ou de suplemento de conteúdo,
mas como uma forma de esses veículos se manterem “antenados” com uma nova forma
de comunicação e de se fazer jornalismo que dali surgia. É comprovado que as redes
sociais gratuitas atraem todos os tipos de públicos, da classe média alta à baixa, dos
doutores aos estudantes do ensino supletivo e todos os representantes de cada uma
acessam essas páginas igualmente. Portanto, falar com todos da mesma forma pode até
ser uma tarefa complexa, mas parece que Facebook, Twitter e companhia falam uma
língua universal. É fácil se entender com alguém tão diferente quando se possui pelo
menos um gosto em comum. Nesses casos estudados, o mundo automotivo.
Cada um com suas regras à parte, Jornal do Carro e Revista O Mecânico julgam que o
Facebook é um complemento em algumas horas e um suplemento em outras no que se
refere ao conteúdo editorial. Mas em todos os momentos, foi a forma mais, digamos,
atual, de se manter online e alerta aos acontecimentos, às novidades e até mesmo às
necessidades de leitores/curtidores.
Para Catarina Rodrigues, o atual modelo de comunicação, onde as redes sociais
passaram a fazer parte do jornalismo, chega a confundir as esferas pessoal e
profissional.
As novas formas de relacionamento com as fontes, os diferentes modos de
distribuição de conteúdos, as tentativas de captação/fidelização de leitores, a
velocidade informativa e as dificuldades económicas são alguns elementos que
podem caracterizar a actividade dos media no actual modelo comunicacional em
rede. A relação entre emissores e receptores tem vindo a ser alterada e para isso
tem contribuído a utilização das redes sociais. Os media traçam novos caminhos
para ir ao encontro do público e os jornalistas ganham uma nova exposição
onde o domínio profissional, por vezes, se dilui com o pessoal. (RODRIGUES,
2010, p.1).
Não é possível tirar conclusões se essas mudanças vieram para ficar ou se permanecem
pelo menos até a próxima rede social do momento que surgir. Raquel Recuero afirma
que o jornalismo e as redes sociais mantêm três tipos de relação.
A primeira e mais óbvia contribuição das redes sociais para o jornalismo é o uso
das redes sociais estabelecidas na Internet como fontes. A segunda relação das
redes sociais no ciberespaço para com o jornalismo é a atuação dessas através
da filtragem de informações. Neste caso, as redes sociais vão atuar de forma a
coletar e republicar as informações obtidas através de veículos informativos ou
mesmo de forma a coletar e a republicar informações observadas dentro da
própria rede. A terceira contribuição está relacionada também com o fato de que
as redes sociais são espaços de circulação de informações. Com isso, tornam-se
também espaços de discussão dessas informações, onde as notícias, por
exemplo, são reverberadas. (RECUERO, 2009, p.7).
Recuero, Rodrigues e diversos autores da área citam a velha filosofia do gatekeeping
como uma vertente das redes sociais, já que é muito comum ver nelas curtidas
desenfreadas e compartilhadas de um assunto sem saber do que ele realmente se trata,
mas que como está “bombando” na rede é porque é sinal de uma verdade absoluta. Essa
filosofia não acabou, mas foi redesenhada. O fundamental, porém, é saber, ainda que
temporariamente, como ela influencia a nossa atual forma de se comunicar.
Talvez seja exagerado falar do fim do gatekeeping, mas efectivamente ele
ganhou novos contornos, nomeadamente pela desintermediação do jornalista
que obriga a repensar elementos básicos desta actividade profissional. Face à
crescente fragmentação do espaço público, importa repensar a profundidade dos
temas e o esforço que implica contar uma boa história. Todas as possibilidades
de publicação e difusão da informação, bem como a importância crescente das
redes sociais, lançam desafios ao jornalista e evocam a necessidade de algumas
cautelas que permitam salvaguardar critérios como a imparcialidade e
credibilidade. (RODRIGUES, 2010, p.5).
Como foi insistentemente citado nesse trabalho, não é possível medir ou garantir o sucesso ou o
quão perpétua é uma rede social. Muitas surgem, outras se extinguem e há várias formas de
utilização de cada uma. Não é viável enaltecer que esse uso das redes pelo jornalismo é
completamente saudável nem condenar que limites são ultrapassados diariamente.
Hoje em dia, há muitos manuais de redação, imprensa e poucos são seguidos à risca. O que se
dizer então de uma forma de se fazer jornalismo em que não há regras? Corrigindo, regras até
existem, mas cada veículo de comunicação tem as suas. Em suma, não há certo ou errado.
Talvez seja válido dizer que enquanto essa forma de jornalismo significar, além de divulgação
de conteúdo, uma prestação de serviços com imparcialidade e aproximação com os leitores, que
seja infinito enquanto dure, como disse Vinícius de Moraes, e que isso sirva para qualquer rede
social que esteja por nascer.
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