biodigestÃo anaerÓbia dos dejetos de poedeiras … · com os dejetos coletados na granja, logo...
TRANSCRIPT
BIODIGESTÃO ANAERÓBIA DOS DEJETOS DE POEDEIRAS COLETADOS APÓS
DIFERENTES PERÍODOS DE ACÚMULO
Romildo Marques de Farias¹; Ana Carolina Amorim Orrico²; Arley Borges de Moraes
Oliveira3, Natália da Silva Sunada3; Marco Antonio Previdelli Orrico Junior4; Rodrigo
Garófallo Garcia2; Stanley Ribeiro Centurion5
1- Zootecnista e aluno especial do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da FCA/UFGD, Dourados – MS [email protected] Profª. Adj. Depto. de Zootecnia da FCA/UFGD, Dourados – MS. e-mail: [email protected] 3 Aluno do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da FCA/UFGD, Dourados - MS. 4 Aluno do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UNESP, Campus de Jaboticabal - SP. 5 Aluno do Curso de Zootecnia da FCA/UFGD, Dourados – MS.
RESUMO: O presente trabalho foi realizado com o objetivo de identificar a melhor época de
retirada de dejetos provenientes de sistemas convencionais de produção de ovos, com intuito
de otimizar a produção de biogás utilizando a biodigestão anaeróbia em sistema batelada
(durante o período de 73 dias de retenção). Foram utilizados 15 biodigestores experimentais
tipo batelada, instalados no Laboratório de Manejo de Dejetos da FCA-UFGD, os quais foram
abastecidos com dejetos coletados após 1, 8, 15, 22 e 29 dias e para cada tratamento, (tempo
de retirada da granja), foram preparados três repetições com 3 kg de afluente com
aproximadamente 3% de sólidos totais cada, empregando-se 10% do volume dos
biodigestores em inóculo. O potencial energético do ensaio de biodigestão anaeróbia foi
medido avaliando-se a produção de biogás. Considerando o teor de sólidos totais, sólidos
voláteis e a quantidade de dejeto utilizado em cada tratamento, observou-se que no tratamento
T1 a produção acumulada de biogás foi superior a do tratamento T2 que foi superior ao
tratamento T3 e assim por diante, obedecendo então a ordem dos tratamentos quanto ao
volume de biogás produzido. Com base nos resultados obtidos, conclui-se que a biodigestão
anaeróbia demonstra ser uma importante ferramenta de reciclagem energética dos dejetos nas
unidades produtoras de ovos, sobretudo quanto antes for promovida, visto que os resultados
de produções de biogás foram semelhantes para os dejetos coletados em um ou oito dias após
a excreção, mas superiores aos intervalos de 15,22 e 29 dias.
PALAVRAS-CHAVE: 1) Biogás 2) Biodigestores 3) Resíduos da avicultura de postura
INTRODUÇÃO
O Brasil conta com um plantel médio mensal de poedeiras de 78,3 milhões de aves,
com uma produção anual de 61,6 milhões de caixas de ovos com 30 dúzias cada (Relatório
Anual da UBA, 2009), ocupando assim o sétimo lugar no “ranking” mundial.
De acordo com Moreng e Evans (1990) e Ensminger (1992), citados por TADA
(2002), 100.000 galinhas poedeiras produzem cerca de 12 toneladas de esterco/dia (MN). Em
um trabalho, TIESENHAUSEN (1984) estimou que uma poedeira produz cerca de 10 a 12 kg
de esterco/ano (MS). Ambos os valores estão próximos, o que permite o cálculo de uma
produção média anual de aproximadamente 12kg de esterco por ave (MS). Caso esta média
fosse utilizada para estimativa da produção de dejeto, segundo o plantel de poedeiras alojadas
no Brasil no ano de 2009, que foi de 78.266.406 aves, seria encontrada uma produção de
dejeto da ordem de 939.197 toneladas no ano.
A biodigestão anaeróbia é uma ferramenta importante que pode ser usada no
tratamento de resíduos de aves sejam eles sólidos ou líquidos, promovendo a redução do
poder poluente dos dejetos, tendo como subproduto, o biogás com várias aplicações práticas
na propriedade rural (TOLEDO, 1996). Segundo AUGUSTO (2007), a biodigestão anaeróbia
é o processo biológico no qual a matéria orgânica é degradada, em condições anaeróbias e na
ausência de luz, até a forma de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). Essa mistura de
gases pode ser coletada e usada como energia em substituição aos combustíveis fósseis,
diminuindo o impacto ambiental causado tanto pela utilização dos combustíveis fósseis
quanto pela emissão do CH4 e CO2 na atmosfera.
A transformação das macromoléculas orgânicas complexas do dejeto em CH4 e CO2
ocorre por várias reações seqüenciais e requer a mediação de diversos grupos de
microrganismos (STEIL, 2001), os quais desenvolvem metabolismos coordenados e
independentes, e contribuem para a estabilidade do sistema (CEZAR, 2001), encontrando,
como alimento, os sólidos voláteis dos dejetos.
Existe uma série de fatores que interferem no processo de biodigestão anaeróbia,
sendo a temperatura, disponibilidade de nutrientes e tempo de retenção hidráulica os
principais deles.
A temperatura é um fator de extrema importância na biodigestão anaeróbia, uma vez
que influi na velocidade do metabolismo bacteriano, no equilíbrio iônico e na solubilidade dos
substratos (FORESTI et al., 1999). Jamila citado por PRIMIANO (2002), trabalhando com
biodigestão anaeróbia de dejetos de aves em temperaturas entre 20 a 40°C conseguiu uma
produção de 0,2 a 0,4m3 de biogás por kg de sólidos voláteis (SV).
A disponibilidade de certos nutrientes é essencial para o crescimento e atividade
microbiana. O carbono, nitrogênio e fósforo são essenciais para todos os processos
biológicos. A quantidade de N e P necessária para a degradação da matéria orgânica presente
depende da eficiência dos microrganismos em obter energia para a síntese, a partir de reações
bioquímicas de oxidação do substrato orgânico (FORESTI et al.,1999).
Os benefícios trazidos com a biodigestão anaeróbia de dejetos ganham destaque a
partir do momento que o seu funcionamento não demanda consumo de energia elétrica, ao
contrário há a produção de metano, um gás de elevado teor calorífico, também exige baixa
demanda de área, reduzindo custos de implantação e com ela existe a possibilidade de
preservação das bactérias anaeróbias sem que haja a necessidade de abastecimento do reator,
ou seja, a colônia de bactérias entra em um estágio de endogenia, sendo reativada a partir de
novos abastecimentos.
Segundo CAETANO (1991) a biodigestão anaeróbia de estrume de galinhas de
postura em biodigestores batelada apresenta um potencial energético médio de 0,010m3/kg de
substrato, 0,216m3/kg ST adicionado, 0,336m3/kg SV adicionado, 0,549m3/kg SV reduzido e
0,109m3/kg de dejeto. Em um trabalho LUCAS JR & SANTOS (1998) avaliaram o
desempenho de biodigestores contínuos abastecidos com dejetos de galinhas de postura, sob
quatro TRH e verificaram que as produções de biogás podem atingir até 0,58m3/kg de SV
adicionados nos biodigestores em TRH de 30 dias.
Considerando esta possibilidade este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de
identificar a melhor época de retirada de dejetos provenientes de sistemas convencionais de
produção de ovos, com intuito de otimizar a produção de biogás utilizando a biodigestão
anaeróbia em sistema batelada (durante o período de 73 dias de retenção).
MATERIAL E MÉTODOS
Descrição do Local
O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Manejo de Dejetos do
Departamento de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias – FCA da Universidade
Federal da Grande Dourados - UFGD, tendo sido desenvolvido no período de 19 de Abril de
2010 a 12 de Julho de 2010, utilizando-se dejetos de aves de postura coletados em granja
experimental da própria universidade. As coordenadas geográficas da granja são: 22o11'50" S;
54o56'19" W e altitude média de 430 metros. O clima da região é tropical de altitude, de verões
brandos, sendo seco no inverno e tropical úmido no verão.
A granja tem como atividade principal a produção de ovos com o intuito de
realização de experimentos da FCA, atingindo a produção média de 1,7 caixas de 30 dúzias
ao dia, ou seja, 510 ovos, totalizando 15300 ovos ao mês. A alimentação é fornecida em calha
e os bebedouros são do tipo nipple com copo coletor.
A instalação possui 12 m de comprimento e 5 de largura, contendo 60 gaiolas com
capacidade para 600 aves no total, o telhado é de fibrocimento e o piso é de chão batido sob
as gaiolas, porém é cimentado no corredor para melhor circulação e trabalho do funcionário.
Há sombrite nas laterais para amenizar o calor.
As aves são da linhagem Isa Brown, e foram adquiridas com 15 semanas de idade,
chegando à granja no dia 06 de junho de 2009 e iniciando a postura no dia 25 do mesmo mês.
As poedeiras ainda não terminaram o ciclo de postura por isso até o momento não houve
descarte.
As aves em postura recebem ração balanceada adquirida da granja Baby Cook, em
uma refeição diária. O manejo diário compreende alimentação na primeira hora do dia,
limpeza dos bebedouros e recolhimento dos ovos.
Ensaio de Biodigestão Anaeróbia
O ensaio foi realizado com o intuito de avaliar a produção de biogás em
biodigestores abastecidos com dejetos gerados por aves de postura em um tempo de retenção
hidráulica de 73 dias. Para tanto foram utilizados 15 biodigestores tipo batelada, instalados no
Laboratório de Manejo de Dejetos da FCA-UFGD (Figura 1). Os biodigestores utilizados
apresentam capacidade útil de 3 litros de substrato em fermentação e fazem parte de uma
bateria de mini-biodigestores. Cada biodigestor foi constituído de duas garrafas plásticas de 2
litros conectados a um gasômetro de PVC, sendo as garrafas envoltas em papel alumínio para
evitar a incidência de luz no meio.
Figura 1. Biodigestores de bancada utilizados no experimento.
Os dejetos foram coletados em 5 diferentes tempos de acúmulo na granja de
postura: 01, 08, 15, 22 e 29 dias. Depois de cada coleta, segundo o tempo de armazenamento,
os dejetos foram colocados em refrigeração para congelamento onde permaneceram até o dia
da última coleta, quando foi realizada a diluição e o abastecimento de todos os biodigestores.
Na preparação do substrato utilizou-se como inóculo o efluente coletado em um
biodigestor continuo experimental, com capacidade de 40 litros de substrato em fermentação.
O biodigestor que forneceu o inóculo foi abastecido de dejeto de bovinos e água, e
posteriormente foi adicionado dejeto de galinhas poedeiras e água.
Os biodigestores foram abastecidos da seguinte forma: para cada tratamento
(tempo de retirada da granja) foram preparados três repetições com 3 kg de afluentes cada,
sendo que destes 10% foi preenchido com inóculo.
Preparo dos substratos
Teores de sólidos totais e voláteis
Na determinação de sólidos totais (ST) e sólidos voláteis (SV) as amostras dos
dejetos para o cálculo de abastecimento e dos afluentes após o abastecimento, foram
acondicionadas em bandejas de alumínio previamente taradas, pesadas em balança com
precisão de 0,001g para obtenção do peso úmido (Pu) do material e posteriormente, levados à
estufa com circulação forçada de ar, à temperatura de 55ºC até atingirem peso constante e
após o resfriamento natural, foram novamente pesadas na mesma balança, obtendo-se então o
peso seco (Ps). O teor de ST foi determinado segundo metodologia descrita por APHA
(2005).
Para a determinação dos SV, o material já seco em estufa, resultante da
determinação dos sólidos totais, foi moído, pesado 3g de cada amostra em cadinhos de
porcelana e levado à mufla onde foi mantido a uma temperatura de 500ºC por um período de
3 horas, em seguida, o material resultante foi pesado em balança analítica com precisão de
0,001g, obtendo-se o peso das cinzas ou matéria mineral. O teor de sólidos voláteis foi
determinado segundo metodologia descrita por APHA (2005).
Abastecimento dos biodigestores
Com os dejetos coletados na granja, logo após a última coleta foram preparados os
substratos destinados ao abastecimento dos biodigestores. Os dejetos apresentaram os
seguintes teores de ST (média das repetições): T1 - 4,78%; T2 - 4,78%; T3 - 4,95%; T4 -
3,70% e T5 - 3,97%. Para o abastecimento procurou-se obter os substratos com teor de ST em
torno de 3%, sendo que foram preparados conforme expressões citadas em LUCAS JR.
(1994), ou seja:
100 x S TE S
= E u ................................................. (I)
A+ E u = W ...................................................... (Il)
100W x K
= ( E S ) ................................................... (lll)
onde:
W = massa de substrato a ser colocado no biodigestor (kg);
ES = massa seca de estrume a ser adicionado em W (kg);
K = porcentagem de sólidos totais que se pretende em W;
ST = porcentagem de sólidos totais contidos no estrume fresco;
Eu = massa de estrume fresco para se obter W (kg);
A = massa de água a ser misturada com Eu para se obter W (kg).
No Quadro 1 estão apresentadas as quantidades utilizadas de dejeto, água e
inóculo para obtenção do substrato bem como os teores de ST e SV.
Depois de calculadas as quantidades descritas de água e dejetos, a mistura foi
homogeneizada com a utilização de um bastão, propiciando maiores condições de
fermentação no interior dos biodigestores.
QUADRO 1. Componentes de cada substrato, teores de sólidos totais (ST) e sólidos voláteis
(SV) no afluente para abastecimento de biodigestores com dejetos de aves de
postura.
Substrato Trat. 1 Trat. 2 Trat. 3 Trat. 4 Trat. 5Dejeto (kg) 2,167 2,167 2,092 2,799 2,609Àgua (kg) 0,833 0,833 0,908 0,201 0,391
Inóculo (kg) 0,300 0,300 0,300 0,300 0,300
ST(g/L) 29,3 32,0 33,3 43,3 35,0
SV(g/L) 2,32 24,2 25,0 31,3 24,3
Determinação do volume de biogás
Os volumes de biogás produzidos nos biodigestores abastecidos com os dejetos
gerados na granja experimental foram determinados medindo-se o deslocamento vertical dos
gasômetros e multiplicando-se pela área da seção transversal interna dos gasômetros, ou seja,
0,00785 m2. Após cada leitura os gasômetros foram zerados utilizando-se o registro de
descarga do biogás. A correção do volume de biogás para as condições de 1 atm e 20oC foi
efetuada seguindo a metodologia descrita por de CAETANO (1985), onde pelo fator de
compressibilidade (Z), o biogás apresenta comportamento próximo ao ideal. Conforme
descrito por SANTOS (2001), para a correção do volume de biogás, utilizou-se a expressão
resultante da combinação das leis de Boyle e Gay-Lussac, onde:
sendo que:
Vo = volume de biogás corrigido, m3;
Po = pressão corrigida do biogás, 10322,72mm de H2O;
To= temperatura corrigida do biogás, 293,15ºK;
V1 = volume do gás no gasômetro;
P1 = pressão do biogás no instante da leitura, 9652,10mm de H2O;
T1 = temperatura do biogás , em ºK, no instante da leitura.
1
11
TPV
TPV
o
oo =
Considerando-se a pressão atmosférica de Dourados igual a 9641,77mm de H2O e
pressão conferida pelos gasômetros de 10,33 mm de H2O, obtém-se como resultado a seguinte
expressão, para correção do volume de biogás:
84575,2731
1 xTVVo =
Em cada leitura mediu-se a temperatura em ºC, do ambiente, através da utilização
de termômetro digital.
Cálculo do potencial de produção de biogás
O potencial de produção de biogás foi calculado utilizando-se os dados de
produção diária e as quantidades de dejeto “in natura”, de substrato, de sólidos totais e de
sólidos voláteis adicionados nos biodigestores durante o processo de biodigestão anaeróbia.
Os valores são expressos em gramas por litro substrato, de dejeto ou de sólidos totais e
voláteis.
Digestão e quantificação de minerais
As amostras coletadas foram digeridas, utilizando-se do método da digestão ácida
Nitro-Perclórica, que promove a digestão total da matéria orgânica à base de ácido nítrico
(HNO3) e ácido perclórico (HClO4) levados ao bloco digestor, segundo metodologia descrita
por APHA (2005). Com este extrato foi possível determinar-se os teores de P e K, segundo
BATAGLIA et al. (1983).
Devido à escolha da digestão Nitro-Perclórica, houve a necessidade de uma
digestão exclusiva para a determinação do nitrogênio, uma vez que na digestão Nitro-
Perclórica a utilização do ácido nítrico poderia vir a mascarar o real teor de Nitrogênio nas
amostras. Por esse motivo, as mesmas amostras foram novamente digeridas no bloco digestor,
em seguida, o nitrogênio foi determinado através da utilização do destilador de micro-
Kjeldahl, cujo princípio baseia-se na transformação do nitrogênio amoniacal ((NH4)2SO4) em
amônia (NH3), a qual é fixada pelo ácido bórico e posteriormente titulada com H2SO4 até nova
formação de (NH4)2SO4, na presença do indicador ácido/base, conforme metodologia descrita
por SILVA (2002).
Exames microbiológicos
O número mais provável (NMP) de coliformes totais e termotolerantes foi
avaliado nos afluentes dos biodigestores batelada de bancada experimental, por meio da
técnica de tubos múltiplos, a partir de metodologia descrita pela APHA (2005).
Esta análise foi realizada em duas etapas (ensaio presuntivo e confirmativo). No
ensaio presuntivo foi semeado 1 mL de 6 diluições da amostra em séries de 3 tubos de caldo
lauryl triptose (CLT) simples para cada diluição. As diluições utilizadas foram 10-3 a 10-11
para os afluentes dos biodigestores alimentados com resíduos de aves de postura.
Os tubos foram incubados a 35ºC, durante 48 horas. Quando houve produção de
gás, transferiu-se cada cultura com resultado presuntivo positivo para caldo lactosado com
verde brilhante e bile a 2 % (CLVBB), sendo a incubação efetuada também a 35ºC, durante
48 horas. Quando, novamente, ocorreu a produção de gás, desta vez a partir da fermentação
da lactose neste meio, confirmou-se então a presença de bactérias do grupo coliforme.
As culturas com resultados presuntivos positivos nos ensaios de coliformes totais
foram transferidas para tubos contendo meio EC, que foram incubados durante 48 horas a
45,5°C em banho-maria. O resultado foi positivo quando houve produção de gás a partir da
fermentação da lactose contida no meio EC, desta forma se confirmou a presença de bactérias
do gênero Escherichia coli.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Teores de sólidos totais e voláteis e de minerais
Os teores médios de sólidos totais e voláteis, no início do processo de biodigestão
anaeróbia, quando se avaliou a produção de biogás, bem como os teores de matéria mineral,
são apresentados no Quadro 2.
Os números mais prováveis de coliformes totais e termotolerantes nos materiais
orgânicos no início do processo de biodigestão alcançaram valores que representam um alto
risco de poluição se dispostos no meio ambiente sem tratamento.
Os valores dos números mais prováveis de coliformes totais e termotolerantes da
matéria orgânica usada como afluente neste trabalho estão apresentada no Quadro 3.
QUADRO 2 - Teores de sólidos totais e voláteis, e teores de minerais encontrados nos
substratos preparados para os cinco tratamentos
ST (g/L) SV (g/L) MM (g/L) N (%) P (%) K (%)Trat. 1 29,3 23,2 6,1 2,86 5,30 1,60Trat. 2 32,0 24,2 7,8 2,48 5,34 1,62Trat. 3 33,3 25,0 8,3 2,32 5,37 1,52Trat. 4 43,3 31,3 12,0 2,22 5,33 1,85Trat. 5 35,0 24,3 10,7 2,67 5,40 1,93
QUADRO 3 - Números mais prováveis (por grama de material) de coliformes totais e
termotolerantes de dejetos (afluente) de galinhas poedeiras em diferentes
tempos de retirada da granja
Tratamento Coliformes Totais Coliformes TermotolerantesT1 2,4 x 108 2,4 x 108
T2 2,4 x 108 2,4 x 108
T3 4,6 x 108 1,5 x 108
T4 1,1 x 108 2,4 x 106
T5 1,1 x 108 1,1 x 108
Foi quantificada a produção de biogás a fim de verificar o potencial energético
dos dejetos de aves. Nas Figuras 2 e 3 estão representados a distribuição da produção e a
porcentagem acumulada de biogás em biodigestores, modelo batelada. Os valores de
produção de biogás, para os cinco tratamentos, estão apresentados em disposições semanais
no Quadro 4.
Com base nos resultados obtidos e demonstrados na Figura 1 para a evolução da
produção de biogás e para a porcentagem acumulada ao longo do período, constata-se que os
tempos de armazenamento influenciaram a quantidade de biogás produzido tendo em vista
que as produções totais de biogás para os tratamentos (T1), (T2), (T3), (T4) e (T5) foram de
15,2; 15,1; 10,4; 12,9 e 9,5L de biogás, respectivamente. O tratamento T4 apresentou volume
total maior que o tratamento 3, provavelmente isso se deve ao fato do maior percentual de ST
no afluente do T4, que foi de 4,33%, ou seja, aproximadamente 30% a mais de ST na
composição em comparação com o T3.
FIGURA 2. Distribuição da produção de biogás em biodigestores abastecidos com dejetos de
poedeiras.
O tratamento T3 parou de produzir no 32º dia e retornou ao 38º dia, os
tratamentos T4 e T5 cessaram a produção no 18º e reiniciaram no 42º dia. Isso provavelmente
ocorreu devido as características dos dejetos associados às baixas temperaturas que foram
mais acentuadas nesses dias, partindo do princípio que a temperatura ambiente influenciou na
temperatura sobre a massa no interior dos biodigestores, o que provavelmente diminuiu a
atividade das bactérias metanogênicas no meio.
O tratamento T1 apresentou picos de produção de 0,580L/dia nos 48º e 49° dias,
para o tratamento T2 o pico de produção foi de 0,673L/dia ao 56° dia, para o tratamento T3 o
pico de produção foi de 0,468L/dia ao 72° e 73° dias, para o tratamento T4 o pico de
produção foi de 0,71L/dia ao 62° dia e para o tratamento T5 o pico de produção foi de
0,542L/dia ao 67° dia.
QUADRO 4 - Produções semanais (L) para biodigestores batelada abastecidos com dejetos de
galinhas poedeiras criadas em sistema de produção convencional.
SEMANAS T1 T2 T3 T4 T5
L1 1,25 1,02 1,13 0,71 0,61
2 0,58 0,39 0,52 0,26 0,07
3 0,36 0,29 0,39 0,06 0,10
4 0,50 0,20 0,09 0 0
5 0,56 0,22 0,08 0 0
6 1,21 0,52 0,01 0 0
7 3,18 1,98 0,28 0,27 0,15
8 3,53 3,60 1,54 2,17 1,35
9 2,36 3,81 2,23 4,38 2,86
10 1,29 2,45 3,03 3,99 3,36
11 0,38 0,58 1,11 1,17 0,99
TOTAL 15,20 15,05 10,41 12,97 9,48
FIGURA 3. Porcentagem acumulada de biogás produzido, para os biodigestores alimentados
com resíduos de aves de postura.
Os tratamentos 1 e 2 demonstraram disposições semelhantes de produção
acumulada de biogás, iniciando um aumento mais acelerado na produção por volta do dia 43 e
47 respectivamente de TRH. Os tratamentos 3, 4 e 5 tiveram disposições semelhantes entre si
um vez que apresentaram aceleração na produção de biogás somente a partir do 50° dia de
TRH.
Os potenciais médios de produção de biogás são apresentados no Quadro 5, em L
de biogás por quilograma de substrato, de sólidos totais adicionados, de sólidos voláteis
adicionados, e por quilograma de dejetos adicionados no abastecimento.
QUADRO 5. Potenciais médios de produção de biogás obtidos para os resíduos de aves de
postura.
TratamentoTotal acumulado
LPotenciais de produção de biogás (L.kg-1)
substrato ST adic SV adic dejetoTempo 1 15,20 1,69 168,92 220,33 2,34Tempo 8 15,05 1,67 156,79 206,19 2,32Tempo 15 10,41 1,16 104,11 138,81 1,66Tempo 22 12,97 1,44 99,78 137,99 1,54Tempo 29 9,48 1,05 90,30 129,89 1,21
Considerando o teor de sólidos totais, sólidos voláteis e a quantidade de dejeto
utilizado em cada tratamento, pode-se observar que no tratamento T1 a produção acumulada
de biogás foi superior a do tratamento T2 que foi superior ao tratamento T3 e assim por
diante, obedecendo então a ordem dos tratamentos quanto ao volume de biogás produzido.
Isso se deve ao fato que nos armazenamentos por períodos mais longos, sob as gaiolas, os
dejetos perdem água e nutrientes ou por evaporação, ou por degradação do material por
microorganismos aeróbicos, consumindo carbono, que é essencial na biodigestão anaeróbia.
Pode-se observar que esses valores são inferiores aos encontrados por STEIL
(2001) e também aos encontrados por Caetano (1991) citado por LUCAS JR. & SANTOS
(2000). Os autores encontraram potenciais de produção variando de 0,241 a 0,336 m3 de
biogás por quilograma de ST em biodigestores batelada em condições semelhantes de estudo.
Os resultados obtidos neste trabalho também foram inferiores aos encontrados por
CARVALHO (1999) que abastecendo biodigestores contínuos com dejetos de galinhas
poedeiras sob TRH de 30 dias, obteve 0,029m3/kg de substrato, 0,360m3/kg ST adicionado,
0,580m3/kg SV adicionado e 0,093m3/kg de dejeto. Em trabalho semelhante LUCAS JR &
SANTOS (1998) avaliando o desempenho de biodigestores contínuos abastecidos com dejetos
de poedeiras em quatro diferentes TRH; 20, 25, 30 e 40 dias, obteve potenciais de produção
de biogás sob TRH de 20 dias, como no presente trabalho, de 0,0212m3/kg de substrato,
0,2475m3/kg ST adicionado, 0,3961m3/kg SV adicionado e 0,0676m3/kg de dejeto.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos, conclui-se que a biodigestão anaeróbia
demonstra ser uma importante ferramenta de reciclagem energética dos dejetos nas unidades
produtoras de ovos, sobretudo quanto antes for promovida a coleta dos resíduos das aves do
interior das instalações. Ainda, com base nos valores obtidos, recomenda-se que seja efetuado
o intervalo de oito dias a cada coleta, visto que os resultados de produções de biogás foram
semelhantes para os dejetos coletados em um ou oito dias após a excreção, mas superiores aos
intervalos de 15,22 e 29 dias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APHA. AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for examination of water and wastewater. 21th ed. Washington: American Water Works Association, 2005. 1.368 p.
AMORIM, A.C., Caracterização dos dejetos de caprinos: reciclagem energética e de nutrientes. 2002. 113 p. Dissertação (Mestrado em Produção Animal) – Universidade Estadual Paulista / Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Campus de Jaboticabal, São Paulo, 2002.
AUGUSTO K. V. Z., Caracterização Quantitativa e Qualitativa dos Resíduos em Sistema de Produção de Ovos: Compostagem e Biodigestão Anaeróbio. 2007. 131 p. Dissertação (Mestrado em Produção Animal) – Universidade Estadual Paulista / Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Campus de Jaboticabal, São Paulo, 2007.
BATAGLIA, O. G. et.al. Métodos de análises químicas de plantas. Campinas: Instituto Agronômico, 1983. 48p. (Boletim Técnico)
CAETANO, L. Metodologia para estimativa da produção contínua de biogás em biodigestores modelo indiano. 1991. 112 f. Tese (Doutorado em Energia na Agricultura) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 1991.
CAETANO, L. Proposição de um sistema modificado para quantificação de biogás. 1985. 75f. Dissertação (Mestrado em Energia na Agricultura) - Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 1985.
CARVALHO, S. M. R. Balanço energético e potencial de produção de biogás em granja de postura comercial, na região de Marília, SP. 1999. 89f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 1999.
CEZAR, V. R. S. Efeito da biodigestão anaeróbia sobre a solubilização e a eficiência agronômica de diferentes fontes de fósforo. 2001. 91f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2001.
FORESTI, E.; FLORÊNCIO, L.; VAN HAANDEL, A.; ZAIAT, M.; CAVALCANTI, P. F. F. Fundamentos do tratamento anaeróbio. In: CAMPOS, J. R. (Coord.). Tratamento de esgotos sanitários por processo anaeróbio e disposição controlada no solo. Rio de Janeiro: ABES, 1999. Cap. 2, p. 29-52.
LUCAS JR. J, Estudo comparativo de biodigestores modelo indiano e chinês, 1987. 114f. Tese (Doutorado em energia na agricultura) Faculdade de Ciências Agronômicas. UNESP, Botucatu, 1987.
LUCAS JR., J.; SANTOS, T. M. B. Biodigestão anaeróbia de dejetos de aves de postura, considerando quatro tempos de retenção hidráulica. In: BALBUENA, et al. (Ed.). Ingenieria Rural y Mecanizacion en el Âmbito Latinoamericano La Plata: UNLP, 1998, p. 346-351.
LUCAS JR., J. Algumas considerações sobre o uso do estrume de suínos como substrato para três sistemas de biodigestores anaeróbios. Jaboticabal, 1994. 137p. Tese (Livre-Docência Construções Rurais) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista.
LUCAS JR. J, SANTOS T.M.B., Aproveitamento de resíduos da indústria avícola para produção de biogás. In: Simpósio sobre Resíduos da Produção Avícola, Concórdia - SC, 2000.
LUCAS JR., J.; SANTOS, T. M. B. Aproveitamento de resíduos da indústria avícola para produção de biogás. In: SIMPÓSIO SOBRE RESÍDUOS DA PRODUÇÃO AVÍCOLA, 2000, Concórdia, SC. Anais... Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2000. p. 27-43.
LUCAS JR., J.; SANTOS, T. M. B. Biodigestão anaeróbia de dejetos de aves de postura, considerando quatro tempos de retenção hidráulica. In: BALBUENA, et al. (Ed.). Ingenieria Rural y Mecanizacion en el Âmbito Latinoamericano La Plata: UNLP, 1998, p. 346-351.
MALAVOLTA, E. et al. Micronutrientes, uma visão geral. In: FERREIRA, M.E., CRUZ, M. C., da Micronutrientes na Agricultura. Piracicaba. POTAFOS / CNPq. 1991. p. 1-33.
OLIVEIRA, M. D. L. Efeito do tempo de estocagem sobre a composição bromatológica das fezes de galinhas poedeiras. Pesq. agropec. bras, Brasília, v.30, n.7, p. 999-1002, 1994a.
OLIVEIRA, M.D.S., VIEIRA, P.F., SAMPAIO, A.A.M. Efeito do tempo de estocagem sobre a composição bromatológica da cama de frango. Rev. Soc. Bras. Zoot., Viçosa, v.17, n.2, p.115-119, 1995.
OLIVEIRA-MDS-DE; VIEIRA-P-DE-F. Digestibilidade in vitro das dejecoes de galinhas poedeiras em diferentes tempos de estocagem. Pesq Agropec Bras, v.29, n.8, p.1299-1302, 1994b.
ORTOLANI, A. F.; LUCAS JR., J.; GALBIATI, J. A.; LOPES, L. R.; ARAÚJO, J. A. C.; BENINCASA, M.; BEDUSCHI, L. C.; COAN, O.; PAVANI, L. C.; MILANI, A. P.; DANIL, L. A.; LATANZE, R. J. Bateria de mini-biodigestores: Estudo, projeto, construção e desempenho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 15, 1986, São Paulo. Anais... Botucatu: FCA/UNESP, 1986. p. 229-239.
PRIMIANO, I. P. Biodigestão anaeróbia de dejetos da avicultura de postura: uso de inóculo em biodigestores batelada. 2002. 51f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista. Jaboticabal, 2002.
SANTOS, T. M. B. Balanço energético e adequação do uso de biodigestores em galpões de frangos de corte. 2001. 167f. Tese (Doutorado em Produção Animal) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2001.
SANTOS, T. M. B. Caracterização química, microbiológica e potencial de produção de biogás a partir de três tipos de cama, considerando dois ciclos de criação de frangos de corte. 1997. 95f. Dissertação (Mestrado em Produção Animal) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 1997.
SILVA, D.J. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. Viçosa: UFV, 2002. 235p.
STEIL L. Avaliação do uso de inóculos na biodigestão anaeróbia de resíduos de aves de postura, frangos de corte e suínos. 2001 108f. Dissertação (Mestrado em Biotecnologia), - Instituto de Química, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2001.
TADA D. M., Planejamento da Utilização dos Resíduos Gerados em Granjas de Produção de Ovos Localizada em Guatapará – São Paulo. 2002. 36 p. Dissertação (Mestrado em Produção Animal) – Universidade Estadual Paulista / Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Campus de Jaboticabal, São Paulo, 2002.
TIESENHAUSEN, I. M. E. V. Resíduos avícolas na alimentação dos ruminantes. Inf. Agrop., Belo Horizonte, v. 10, p. 52-55, 1984.
UBA. União Brasileira de Avicultura. Ultimos Números da Avicultura Brasileira 2009 Disponível em: <http://www.uba.org.br/index.htm>. Acesso em: 03 de julho de 2010.