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NORMAS PARA A PRÁTICA DIDÁTICO-CIENTÍFICA DA VIVISSECÇÃO DE ANIMAIS BRASIL Lei 6638, de 08 de maio de 1979 Art. 1 – Fica permitida, em todo território nacional, a vivissecção de animais, nos termos desta Lei. Art. 2 – Os biotérios e os centros de experimentação e demonstrações com animais vivos deverão ser registrados em órgãos competentes e por ele autorizados a funcionar Art. 3 – A vivissecção não será permitida: I – sem o emprego de anestesia; II – em centros de pesquisa e estudos não registrados em órgão competente; III – sem supervisão de técnico especializado; IV – com animais que não tenham permanecido mais de 15 (quinze) dias em biotérios legalmente autorizados;V – em estabelecimento de ensino de 1º e 2º graus e em e em quaisquer locais freqüentados por menores de idade. Art. 4 – O animal só poderá ser submetido às intervenções recomendadas nos protocolos das experiências que constituem a pesquisa ou os programas de aprendizagem cirúrgico, quando, durante ou após a vivissecção, receber cuidados especiais. § 1 – Quando houver indicação, o animal poderá ser sacrificado sob estrita obediência às prescrições científicas; § 2 – Caso não sejam sacrificados, os animais utilizados em experiência ou demonstrações somente poderão sair do biotério 30 (trinta) dias após a intervenção, desde que destinados a pessoas ou entidades idôneas que por eles queiram responsabilizar-se. Art. 5 – Os infratores desta Lei estarão sujeitos: I – às penalidades cominadas no artigo 64, caput, do decreto – lei 3.688, de 03/10/41, no caso de ser a primeira infração; II – à interdição e cancelamento do registro do biotério ou do centro de pesquisas, no caso de reincidência. Art. 6 – O Poder Executivo, no prazo de 90 (noventa) dias, regulamentará a presente Lei, Especificando: I – o órgão competente para o registro e a expedição de autorização dos biotérios e centros de experiências e demonstrações com animais vivos; II – as condições gerais exigíveis para o registro e o funcionamento dos biotérios; III – órgão e autoridades competentes para a fiscalização dos biotérios e centros mencionados no inciso I. Art. 7 – Esta Lei entra em vigor na data da publicação. Art. 8 – Revogam-se as disposições em contrario. http://medicinal.terra.com.br/bioetica/

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NORMAS PARA A PRÁTICA DIDÁTICO-CIENTÍFICA DA VIVISSECÇÃO DE ANIMAIS

BRASILLei 6638, de 08 de maio de 1979Art. 1 – Fica permitida, em todo território nacional, a vivissecção de animais, nos termos desta Lei.Art. 2 – Os biotérios e os centros de experimentação e demonstrações com animais vivos deverão ser registrados em órgãos competentes e por ele autorizados a funcionarArt. 3 – A vivissecção não será permitida:I – sem o emprego de anestesia;II – em centros de pesquisa e estudos não registrados em órgão competente;III – sem supervisão de técnico especializado;IV – com animais que não tenham permanecido mais de 15 (quinze) dias em biotérios legalmente autorizados;V – em estabelecimento de ensino de 1º e 2º graus e em e em quaisquer locais freqüentados por menores de idade.Art. 4 – O animal só poderá ser submetido às intervenções recomendadas nos protocolos das experiências que constituem a pesquisa ou os programas de aprendizagem cirúrgico, quando, durante ou após a vivissecção, receber cuidados especiais.§ 1 – Quando houver indicação, o animal poderá ser sacrificado sob estrita obediência às prescrições científicas;§ 2 – Caso não sejam sacrificados, os animais utilizados em experiência ou demonstrações somente poderão sair do biotério 30 (trinta) dias após a intervenção, desde que destinados a pessoas ou entidades idôneas que por eles queiram responsabilizar-se.Art. 5 – Os infratores desta Lei estarão sujeitos:I – às penalidades cominadas no artigo 64, caput, do decreto – lei 3.688, de 03/10/41, no caso de ser a primeira infração;II – à interdição e cancelamento do registro do biotério ou do centro de pesquisas, no caso de reincidência.Art. 6 – O Poder Executivo, no prazo de 90 (noventa) dias, regulamentará a presente Lei, Especificando:I – o órgão competente para o registro e a expedição de autorização dos biotérios e centros de experiências e demonstrações com animais vivos;II – as condições gerais exigíveis para o registro e o funcionamento dos biotérios;III – órgão e autoridades competentes para a fiscalização dos biotérios e centros mencionados no inciso I.Art. 7 – Esta Lei entra em vigor na data da publicação.Art. 8 – Revogam-se as disposições em contrario.

http://medicinal.terra.com.br/bioetica/

Bioética é a disciplina que se preocupa em refletir sobre que conseqüências as ações de saúde têm sobre aqueles que estão sujeitos a elas. Um exemplo é a pesquisa: a Bioética quer saber se, de fato, os seres humanos se beneficiarão de certas pesquisas, ou se certos procedimentos que ainda não foram testados podem ou não causar algum malefício. Num site como o Medicinal, a Bioética é importante para que possamos refletir sobre que tipo de informação será levada até você. Em nenhum momento, por exemplo, a informação veiculada aqui pretende substituir o seu médico. Palavras importantes no conceito de Bioética são: ampla abrangência, pluralismo, abertura, interdisciplinariedade e incorporação crítica de novos conhecimentos.

http://www.portalmedico.org.br/revista/411996/index1.htm

Revista publicada pelo Conselho Federal de Medicina - Vol.4 N.1 - 1996

Distanásia: Até quando investir sem agredir?

Léo Pessini

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Este trabalho procura refletir sobre uma questão contemporânea sempre mais polêmica, qual seja, a distanásia (obstinação terapêutica). Iniciamos definindo o que se entende por distanásia, analisando a combinação

tecnociência e medicina. Avançamos identificando dois paradigmas básicos, o do curar e cuidar. Neste contexto, fazemos algumas pontualizações sobre alguns conceitos fundamentais no processo: vida - sacralidade e qualidade;

sofrimento: que sentido? ; filosofia dos cuidados paliativos. Finalizando, vemos o que a ética médica brasileira codificada diz a respeito da distanásia e sinalizamos para a árdua tarefa: de por um lado não matar: por de outro, não procrastinar ou adiar pura e simplesmente a morte. Ao não matar e ao não maltratar terapeuticamente, está o

amarás, o cuidar do sofrimento. A perspectiva proposta é a de morrer com dignidade. UNITERMOS - Distanásia, hospice, futilidade médica.

"É melhor a morte do que uma vida cruel, o repouso eterno do que uma doença constante" (Eclo 30,17)

Introdução

O termo "distanásia" é pouco conhecido e utilizado na área da saúde. Ao contrário do que ocorre com seu antônimo "eutanásia", freqüentemente discutido e estampado nas manchetes de noticiários e jornais, apesar de sem dúvida, ser opção bem menos praticada do que a "distanásia" em nossas instituições de saúde, notadamente nas unidades de terapia intensiva, as modernas catedrais do sofrimento humano. Isso tudo é no mínimo curioso e nos exige uma reflexão aprofundada que atinja as razões subjacentes , que vá além do simplismo ético de querer compreender e resolver questões tão difíceis e polêmicas quanto esta da distanásia, na base do reducionismo ético de ser a favor ou contra.O que entender por distanásia? O Dicionário Aurélio traz a seguinte conceituação: "Morte lenta, ansiosa e com muito sofrimento". Trata-se, assim, de um neologismo, uma palavra nova, de origem grega. O prefixo grego dis tem o significado de "afastamento", portanto a distanásia significa prolongamento exagerado da morte de um paciente. O termo também pode ser empregado como sinônimo de tratamento inútil. Trata-se da atitude médica que, visando salvar a vida do paciente terminal, submete-o a grande sofrimento. Nesta conduta não se prolonga a vida propriamente dita, mas o processo de morrer. No mundo europeu fala-se de "obstinação terapêutica", nos Estados Unidos de "futilidade médica" (medical futility). Em termos mais populares a questão seria colocada da seguinte forma: até que ponto se deve prolongar o processo do morrer quando não há mais esperança de reverter o quadro? Manter a pessoa "morta-viva" interessa a quem? A opinião pública mundial já discutiu amplamente os casos de pacientes famosos que foram mantidos "vivos" além dos limites naturais, tais como Truman, Franco, Tito, Hirohito e, no Brasil, Tancredo Neves, classificando estas situações como distanásicas.Na busca de precisão conceitual, existem muitos bioeticistas, entre os quais Gafo (Espanha), que utilizam o termo ortotanásia para falar da "morte no seu tempo certo". Como o prefixo grego orto significa "correto", ortotanásia tem o sentido de morte "no seu tempo", sem abreviação nem prolongamentos desproporcionados do processo de morrer. A ortotanásia, diferentemente da eutanásia, é sensível ao processo de humanização da morte e alívio das dores e não incorre em prolongamentos abusivos com a aplicação de meios desproporcionados que imporiam sofrimentos adicionais (1).A expressão "obstinação terapêutica" (l'acharnement thérapeutique) foi introduzida na linguagem médica francesa por Jean-Robert Debray, no início dos anos 50, e foi definida como sendo "o comportamento médico que consiste em utilizar processos terapêuticos cujo efeito é mais nocivo do que os efeitos do mal a curar, ou inútil, porque a cura é impossível e o benefício esperado, é menor que os inconvenientes previsíveis"(2).Num artigo publicado no Washington Post, em maio de 1991, intitulado "Escolhendo morte ou mamba em UTI", o Dr. John Hansen conta uma interessante história, que resumidamente apresentamos a seguir.Três missionários foram aprisionados por uma tribo de canibais, cujo chefe lhes ofereceu escolherem entre morte ou mamba (mamba é uma serpente africana peçonhenta. Sua picada inflige grande sofrimento antes da morte certa ou quase certa). Dois deles, sem saber do que se tratava, escolheram mamba e aprenderam da maneira mais cruel que mamba significava uma longa e torturante agonia, para só então morrer. Diante disso o terceiro missionário rogou pela morte logo, ao que o chefe respondeu-lhe: "Morte você terá, mas primeiro um pouquinho de mamba".

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Não seria isso o que vem ocorrendo nos hospitais da modernidade? Como o missionário não sabia o que era mamba, por sua vez o público em geral e os profissionais da saúde em particular, desconhecem a existência e o significado do termo distanásia, praxe nos hospitais de hoje. Quanto mais de ponta for a instituição de saúde, tanto mais possível e sofisticada pode ser a distanásia.Uma postura assim dita "mais humana", mais sensata, que não prescreva mamba para o paciente, pode ser cunhada pela sociedade e ou família como sendo uma prática de eutanásia, ou então confundida com omissão de socorro.É importante assinalar que nos hospitais dos países mais desenvolvidos existe uma consciência bem mais lúcida de limite, em nível de investimento tecnológico na fase final da vida. Na cabeceira dos leitos dos doentes irrecuperáveis constam indicações tais como DNR (do not ressuscitate), NTBR (not to be ressuscitated), no code, code 4, etc.Como vemos, a distanásia (obstinação terapêutica), tornou-se problema ético de primeira grandeza na medida em que o progresso técnico-científico passou a interferir de forma decisiva nas fases finais da vida humana. O que ontem era atribuído aos processos aleatórios da natureza ou a "Deus", hoje o ser humano assume essa responsabilidade e inicia o chamado "oitavo dia da criação". A presença da ciência e tecnologia começa a intervir decisivamente na vida humana, e essa novidade exige reflexão ética.Neste trabalho abordaremos, ainda que em nível introdutório, sete elementos fundamentais para a compreensão da problemática relacionada com a possibilidade de complicação terapêutica (= distanásia). Iniciamos com a inter-relação medicina com tecnociência e integração da morte como ponto final dos cuidados médicos; os paradigmas de curar e cuidar, o relacionamento médico-paciente; alguns apontamentos sobre o que entender por vida (sacralidade e qualidade), a questão da dor e sofrimento; a filosofia dos cuidados paliativos; e, finalmente, algumas indicações a respeito de como a ética médica brasileira codificada aborda distanásia.

1 - Medicina e tecnologia de mãos dadas

A primeira vista, poderíamos ingenuamente pensar que a morte nas mãos da moderna tecnologia médica seria um evento menos sofrido, mais benigno, enfim mais digno do que o foi na antigüidade. Podemos, então, fazer as seguintes perguntas:Não temos maior conhecimento biológico, que nos capacita a prognósticos precisos da morte? Não temos analgésicos poderosos, que aumentam a possibilidade de controlar a dor? Não temos máquinas mais sofisticadas, capazes de substituir e controlar órgãos que entram em disfuncionamento? Não temos maior conhecimento psicológico, que é um instrumental precioso no sentido de aliviar as ansiedades e sofrimento de uma morte antecipada? Não temos tudo nas mãos, exatamente o que necessitamos para tornar realidade a possibilidade de uma morte digna, em paz? A resposta para cada caso pode ser sim e não. Sim, temos muito mais conhecimento que tínhamos anteriormente. Mas não, este conhecimento não tornou a morte um evento digno. O conhecimento biológico e as destrezas tecnológicas serviram para tornar nosso morrer mais problemático; difícil de prever, mais difícil ainda de lidar, fonte de complicados dilemas éticos e escolhas dificílimas, geradoras de angústia, ambivalência e incertezas. Não se trata de cultivar uma postura contra a medicina tecnológica, o que seria uma ingenuidade. Questionamos sim a "tecnolatria", e o desafio emergente é refletir como o binômio tecnologia-medicina se relaciona com a mortalidade humana e como pode ajudar, em tornando realidade, o morrer em paz. É nesta perspectiva que Callaham propõe algo que a primeira vista pode até ser visto como estranho: deveria a morte ser integrada nos objetivos da medicina, como ponto final dos cuidados médicos e não ser considerada como uma falha da atuação médica?(3).Atualmente, a medicina trabalha com vistas ao futuro, procurando promover uma vida boa, saudável, aumentar o tempo de vida e sua qualidade. A morte é admitida com relutância no âmbito da medicina, como o limite para atingir tais objetivos. É sentida como falha...O que aconteceria se começássemos a perguntar como a medicina deveria se portar para promover uma vida saudável e uma morte digna, em paz? Se a medicina aceitasse a morte como um limite que não pode ser vencido e usasse esse limite como um ponto focal indispensável para pensar a respeito da doença? Caso isto ocorresse, a realidade da morte como parte de nossa vida biológica seria vista não como uma nota discordante na busca da saúde e bem-estar, mas como um ponto final previsível de sua atuação. Que tal se a medicina científica não fosse uma luta sem fim contra a morte e nos ajudasse a viver a vida mortal e não imortal? Sob este enfoque a morte não seria tratada somente como um mal necessário e uma falha científica a ser corrigida em questão de tempo. A aceitação e a compreensão da morte seriam parte integrante do objetivo principal da medicina: a busca da saúde. Se o objetivo primeiro da medicina é a preservação e restauração da saúde, a morte deveria ser entendida e esperada como o último resultado deste esforço, implícito e inerente desde o começo. Por outro lado, ressalte-se que o

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empenho da medicina em impedir ou retardar a morte é conseqüência lógica do seu legítimo esforço da medicina em lutar em favor da vida. A única questão a ser colocada é quando e como, e não se, vamos morrer. Se a morte é parte do ciclo da vida humana, então cuidar do corpo que está morrendo deve ser parte integral dos objetivos da medicina. A morte é o foco em torno do qual os cuidados médicos deveriam ser direcionados desde o início no caso de doença grave ou declínio das capaciddes físicas e mentais, como resultado da idade ou doença.Frente a cada doença grave - especialmente com idosos - uma questão deveria ser feita e uma possibilidade entrevista: esta doença é fatal, pode tornar-se fatal, deveríamos permitir que se torne fatal?. Nesta ótica uma estratégia diferente deveria entrar em ação, um esforço para trabalhar em direção a uma morte de paz antes que lutar pela cura. A medicina, hoje, elege como objetivo somente a busca da saúde, encarando a morte como umresultado acidental de doenças previstas como evitáveis e contingentes. A morte é o que acontece quando a medicina falha, e portanto está fora de seu escopo científico. Nesta perspectiva ocorrem deformações do processo do morrer.(3).É o que lucidamente se pergunta Horta :"A medicina e a sociedade brasileira têm hoje diante de si um desafio ético, ao qual é mister responder com urgência - o de humanizar a vida no seu ocaso, devolvendo-lhe a dignidade perdida. Centenas ou talvez milhares de doentes estão hoje jogados a um sofrimento sem perspectivas em hospitais, sobretudo nas suas UTIs e emergências. Não raramente, acham-se submetidos a uma parafernália tecnológica, que não só não consegue minorar-lhes a dor e o sofrer, como ainda os prolonga e os acrescenta inutilmente. Quando a vida física é considerada o bem supremo e absoluto, acima da liberdade e da dignidade, o amor natural pela vida se transforma em idolatria. A medicina promove implicitamente esse culto idólatra da vida, organizando a fase terminal como uma luta a todo custo contra a morte" (4).Uma compreensão mais aprofundada desta problemática torna-se interessante a partir da visão de dois paradigmas: o paradigma da cura e do cuidado.

2 - Os paradigmas de curar e cuidar

As ações de saúde são hoje sempre mais marcadas pelo "paradigma da cura", governado por uma inclinação em direção a cuidados críticos, medicina de alta tecnologia. A existência sempre mais numerosa de UTIs em nossos hospitais exemplifica essa realidade(5). É bom lembrar que a presença massiva da tecnologia é um fato necessário na medicina moderna. À medida que a prestação de serviço do sistema de saúde tornam-se sempre mais dependente da tecnologia, foram deixadas de lado práticas humanistas, tais como manifestação de apreço, preocupação e presença solidária com os doentes. O "cuidar" surge no mundo tecnológico da medicina moderna simplesmente como prêmio de consolação quando o conhecimento e as habilidades técnicas não vencem.O paradigma de curar facilmente torna-se prisioneiro do domínio tecnológico da medicina moderna. Se algo pode ser feito, logo deve ser feito. Também idolatra a vida física e alimenta a tendência de usar o poder da medicina para prolongar a vida em condições inaceitáveis. Esta idolatria da vida ganha forma na convicção de que a inabilidade para curar ou evitar a morte é uma falha da medicina moderna. A falácia desta lógica é que a responsabilidade de curar termina quando os tratamentos se esgotam. Um outro eixo de leitura e compreensão começa a ganhar força. É o paradigma do cuidado. Vejamos algumas de suas características.O crescente interesse público em torno da eutanásia e suicídio assistido chama nossa atenção para os limites de "curar" da medicina moderna. Cuidados de saúde, sob o paradigma do cuidar (caring), aceitam o declínio e a morte como parte da condição do ser humano, uma vez que todos sofremos de uma condição que não pode ser "curada", isto é, somos criaturas mortais.A medicina não pode afastar a morte indefinidamente. A morte finalmente acaba chegando e vencendo. Quando a terapia médica não consegue mais atingir os objetivos de preservar a saúde ou aliviar o sofrimento, novos tratamentos tornam-se uma futilidade ou peso. Surge então a obrigação moral de parar o que é medicamente inútil e intensificar os esforços no sentido de amenizar o desconforto do morrer.O paradigma do cuidar (care) nos permite realisticamente enfrentar os limites de nossa mortalidade e do poder médico com uma atitude de serenidade. A medicina orientada para o alívio do sofrimento estará mais preocupada com a pessoa doente do que com a doença da pessoa. Nesse sentido cuidar não é o prêmio de consolação pela cura não obtida, mas sim parte integral do estilo e projeto de tratamento da pessoa a partir de uma visão integral. A relação médico-paciente adquire, sob tal foco, grande importância.

3 - Relacionamento médico- paciente: terapia e benefício

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A situação limite experienciada na relação médico-paciente é aquela marcada pela impossibilidadede curar. Mas precisamente o que a situação terminal traz de novo é a relativização da função de curar e sua inserção numa visão mais global da interação médico-paciente. O limite da possibilidade terapêutica não significa o fim da relação médico-paciente. Esta situação traz à tona a essência da ética da relação. Childress e Ziegler, ao refletirem sobre o relacionamento médico-paciente, falam de uma medicina entre estranhos e de uma medicina entre próximos.No relacionamento com estranhos, as regras e os procedimentos tornam-se muito importantes, e o controle, antes que a confiança, domina. Os estranhos não se conhecem o suficiente para terem confiança mútua. Conseqüentemente, na falta de um conhecimento mais profundo ou de valores comuns, os estranhos se apóiam em regras e procedimentos para estabelecer controle. Por contraste, em relações entre próximos, todas as partes se conhecem muito bem e freqüentemente partilham valores ou pelo menos sabem quais são os valores que não são partilhados. Em tais relações, regras formais e procedimentos, apoiados por sanções, podem não ser necessários, e até ser prejudiciais para a relação.Perguntam-se Childress e Ziegler se muito do que se falou ultimamente de ética médica não foi a partir do modelo da prática com estranhos em que o controle, as normas legais e os procedimentos substituíram a confiança e a confidência que norteavam anteriormente o relacionamento médico (6).É verdade que os avanços tecnológicos na área da medicina tornam impreciso o limite das possibilidades terapêuticas. Criam-se possibilidades terapêuticas de retardar indefinidamente o momento em que se pode reconhecer o limite da ciência e da tecnologia na manutenção da vida. Assim sendo, o problema não é somente de diagnóstico e de prognóstico. O problema é muito mais amplo e envolve a própria definição de vida, para que se possa determinar o momento do seu término ou então a característica irreversível do processo de finalização da vida (7).Por sua pertinência e importância na discussão do tema em tela, teceremos a seguir algumas breves considerações a respeito do que entender por vida.

4 - A vida como um bem fundamental

É importante desde já detectar que tipo de discurso ético é utilizado para falar da vida. Podemos ter dois tipos de discursos éticos no âmbito da ética da vida: o parenético e o científico(8). Ao se falar de sacralidade da vida, utiliza-se a explicação parenética e ao se falar em qualidade de vida, o discurso científico.O discurso parenético exorta para algo que já é conhecido e intelectualmente claro. Pressupõe um acordo básico entre os que falam e discutem sobre a questão. Não busca justificar ou explicar um conteúdo mas visa a eficácia de sua concretização. Enfatiza, sobretudo, a responsabilidade pessoal e a ação coerente, antes que a coerência lógica do discurso.O discurso científico, por outro lado, visa explicar e justificar um conteúdo não claro. Busca proceder com rigor e método, almeja ser um discurso coerente e orgânico. E repensa continuamente seus conteúdos e afirmações à luz das experiências e conquistas humanas. A ética da sacralidade da vida utiliza um discurso parenético. A vida é considerada como propriedade de Deus, dada ao homem para administrá-la. É um valor absoluto que só a Deus pertence. O ser humano não tem nenhum direito sobre a vida própria e alheia. As exceções no respeito à vida são concessões de Deus. O princípio fundamental é a inviolabilidade da vida.O segundo tipo de ética da vida utiliza uma abordagem científica. A vida é um dom recebido, mas que fica à disposição daquele que o recebe, com a tarefa de valorizá-lo qualitativamente. O ser humano é protagonista e o princípio fundamental é o valor qualitativo da vida (9).Qual o discurso mais adequado para defender a vida na sua integralidade? No debate hodierno a questão se polarizou em dois campos ou seja,os que se definem como pró-vida (pro life), que defendem a sacralidade da vida e os pró-liberdade de escolha (pro choice), que empunham a bandeira da qualidade de vida.O processo da secularização levou a uma dessacralização da vida. A formulação da inviolabilidade da vida alude a uma visão sacral, em que a vida é vista como propriedade de Deus e o homem como seu mero administrador. Esta tese encerra um conceito tacanho de Deus e uma visão mesquinha e desconfiada do homem. É necessário superar a visão do ser humano como mero administrador e entendê-lo como protagonista da vida.O moderno pensamento teológico defende que o próprio Deus delega o governo da vida à autodeterminação do ser humano, e isto não fere e muito menos se traduz numa afronta à sua soberania. Dispor da vida humana e intervir

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nela não fere o senhorio de Deus, se esta ação não for arbitrária. A perspectiva é responsabilizar o ser humano de uma maneira mais forte diante da qualidade da vida.Facilmente o princípio da intangibilidade da vida pode ser ideologicamente utilizado na interpretação da vida de modo estático, centrado na dimensão biológico-fisicista pura e simplesmente. Prega-se sua intocabilidade sem se preocupar com as condições de sua vivência digna. Neste contexto "a luta terapêutica feita em nome do caráter sagrado da vida parece negar a própria vida humana naquilo que ela tem de melhor: um organismo biológico, mais que um ser humano, é às vezes prolongado"(10).Os partidários da sacralidade da vida acusam os que defendem a qualidade de usarem este argumento para atentar contra a vida. No mundo desenvolvido, o princípio da qualidade é usado para defender a bandeira de que uma vida sem qualidade não vale a pena ser vivida e isto é uma forte justificação para a eutanásia . É importante ressaltar que esta é uma perspectiva profundamente negativa da qualidade. A falta de qualidade pode levar a uma conclusão bem diferente. Em nossa realidade latino-americana, milhões de pessoas não têm as mínimas condições de viver uma vida dita digna, que tenha "qualidade", quer seja no início, no seu desenvolvimento ou mesmo no fim. Isto não nos leva a concluir que estas vidas não têm mais valor. A perspectiva positiva é de lutar para que estas vidas adquiram qualidade. Os defensores da sacralidade esquecem facilmente este importante aspecto. A interpretação vitalista do conceito de sacralidade de vida acaba não respeitando o sentido profundo e original - que é um sentido religioso.A sacralidade e a qualidade de vida não precisam ser dois princípios oponentes. A intangilibidade é um forte princípio na defesa da vida, mas não precisa opor-se ao princípio da autodeterminação do ser humano sobre a vida. É necessário conjugar as duas abordagens. Como muito bem se posiciona Doucet: "O caráter sagrado da vida não se opõe necessariamente à qualidade de vida. Na tradição judaico-cristã as duas dimensões se comunicam. Em nossas sociedades ocidentais, saídas dessa tradição, a preservação da vida humana é um valor fundamental mas não absoluto. A presunção em favor da vida deve ser temperada, se não o absolutismo do princípio poderia conduzir ao desrespeito de certos doentes"(11).A vida, por ser um bem fundamental, se apresenta como algo pré-moral. Tal assertiva justifica-se pela existência de conflitos entre a vida e outros bens ou valores. A possibilidade de a vida ser um valor moral absoluto só ocorreria se a vida nunca entrasse em conflito com outros bens e valores, e superasse sempre em valor a todo bem ou conjunto de bens que com ela conflitassem. Hoje, o princípio da sacralidade é postulada como sendo o equilíbrio entre os dois extremos: de um lado está o vitalismo físico, que defende o valor absoluto de manter a vida biológica, independentemente de outros valores, tais como a independência, a autonomia, a perda de dignidade, prevenção de dor ou economia de recursos. O vitalismo físico abre o caminho para tratamentos abusivos. De outro lado está o utilitarismo pessimista, que valoriza a vida a partir de seu uso social e defende seu término quando ela se torna frustrante, ou um peso. Este extremo pode levar ao abuso de não utilizar tratamentos, especialmente em situações de deficiências.Entre estes dois extremos, o principio da sacralidade da vida afirma que a vida física é um bem básico, fundamental, mas não absoluto, que deve ser preservado a todo custo. Sob este enfoque, ao lidarmos com pacientes terminais a "morte física" não é um mal absoluto e a vida física não é um "valor absoluto"(12). São realidades que precisam ser matizadas, principalmente neste contexto de final de vida, onde a presença da dor e sofrimento são uma constante.5 - Dor e sofrimento no contexto clínico

A cura da doença e o alivio do sofrimento são desde muito são aceitas como objetivos da medicina. A doença destroi a integridade do corpo, e a dor e o sofrimento podem destruir a integridade global da pessoa. Enquanto a medicina está relativamente bem equipada para combater a dor, em relação ao sofrimento estamos frente a uma categoria mais complexa, que pode, mas não necessariamente envolve a presença da dor. A distinção entre dor e sofrimento ganha sempre mais importância e até uma certa popularidade nos meios científicos que lidam com pacientes terminais. Resulta disso a necessidade de termos bem claras as definições e distinções necessárias, ao tratarmos da problemática. Em relação à dor, constata-se que a grande maioria dos profissionais da saúdenão sabem o que significa "dor" quando falam de dor(13). A dor tem duas características importantes: a primeira é que estamos frente a um fenômeno dual - de um lado a percepção da sensação e de outro a resposta emocional do paciente a ela. A segunda característica é que a dor pode ser experienciada como aguda, e portanto passageira, ou crônica, e conseqüentemente persistente. Dor aguda tem um momento definido de início, sinais físicos objetivos e subjetivos e atividade exagerada do sistema nervoso. A dor crônica, em contraste, continua além de um período de seis meses, com o sistema nervoso se adaptando a ela. Nos pacientes com dor crônica não existem sinais objetivos, mesmo quando eles apresentam mudanças visíveis em sua personalidade, estilo de vida e habilidade funcional. Uma tal dor exige uma abordagem que contemple não somente o tratamento de suas causas mas, também, tratamento das conseqüências psicológicas e sociais(14).

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Existem, pelo menos, mais duas definições de dor que valem a pena ser lembradas. Em 1979, a Associação Internacional de Estudo da Dor assim definiu a dor como: "uma experiência emocional e sensorial desagradável, associada com dano potencial ou atual de tecidos, descrita em termos de tais mudanças". Dame Cicely Saunders, a fundadora do moderno hospice, tomando esta descrição como base cunhou a expressão dor total, que inclui, além da dor física, a dor mental, social e espiritual. Deixar de em considerar esta apreciação mais abrangente de dor é uma das principais razões de os pacientes não receberem adequado alívio de sintomas dolorosos.Existe um momento na doença crônica, quando a impotência torna-se mais intolerável que a dor, em que aparece a diferença entre dor e sofrimento. Nem sempre quem está com dor sofre. O sofrimento é uma questão pessoal. Está ligado aos valores da pessoa. Por exemplo, duas pessoas podem ter a mesma condição física, mas somente uma delas pode estar sofrendo com isso. A palavra dor deve ser usada para a percepção de um estímulo doloroso na periferia ou no sistema nervoso central, associada a uma resposta efetiva.Daniel Callaham definiu sofrimento como sendo a experiência de impotência com o prospecto de dor não aliviada, situação de doença que leva a interpretar a vida vazia de sentido. Portanto, o sofrimento é mais global que a dor e, essencialmente, é sinônimo de qualidade de vida diminuída.A diferença entre dor e sofrimento tem um grande significado quando temos que lidar com a dor em pacientes terminais. Um dos principais perigos em negligenciar esta distinção no contexto clínico é a tendência dos tratamentos se concentrarem somente nos sintomas físicos, como se apenas estes fossem a única fonte de angústia para o paciente. Além disso, nos permite continuar agressivamente com tratamentos médicos fúteis, na crença de que enquanto o tratamento protege os pacientes da dor física igualmente os protege de todos os outros aspectos. Em outras palavras, a distinção nos obriga a perceber que a disponibilidade de tratamento da dor em si não justifica a continuação de cuidados médicos fúteis. A continuação de tais cuidados pode simplesmente impor mais sofrimentos para o paciente terminal.Ouvimos, com freqüência, confidências de pacientes terminais que não têm tanto medo de morrer, mas temem o sofrimento relacionado com o processo do morrer. Isto ocorre especialmente quando esta experiência é marcada pela dependência mutilante, impotência e dor não cuidados, que tão freqüentemente acompanham a doença terminal, ameaçando a integridade pessoal e cortando a perspectiva de um futuro (15). Um dos primeiros objetivos da medicina, ao cuidar dos que morrem, deveria ser o de aliviar a dor e sofrimento causados pela doença. Embora a dor física seja a fonte mais comum de sofrimento, a dor no processo do morrer vai além do físico, tendo conotações culturais, subjetivas, sociais, psíquicas e éticas, como vimos anteriormente. Portanto, lidar efetivamente com a dor em todas as suas formas é algo crítico para um cuidado digno dos que estão morrendo. A dor tem pelo menos quatro distintos componentes: físico, psíquico ou psicológico, social e espiritual. Passemos a algumas considerações a respeito de cada dimensão (5).

Dor físicaÉ a mais óbvia e a maior causadora de sofrimento. Surge de um ferimento, doença, ou da deterioração progressiva do corpo, no idoso e no doente terminal; impede o funcionamento físico e a interação social. No nível físico, a dor funciona como um alarme de que algo está errado no funcionamento do corpo. Como a dor afeta o todo da pessoa, ela pode facilmente ir além de sua função como sinal de alarme. Dor intensa pode levar a pessoa urgentemente a solicitar sua a própria morte.Dor psíquica Freqüentemente, surge do enfrentar a inevitabilidade da morte, perdendo controle sobre o processo de morrer, perda das esperanças e sonhos, ou ter que redefinir o mundo. Causa inevitável de humor.

Dor social É a dor do isolamento. A dificuldade de comunicação que se experimenta justamente quando o morrer cria o senso de solidão num momento em que desfrutar de uma companhia é muito importante. A perda do papel social familiar é também bastante dura. Por exemplo, um pai doente torna-se dependente dos filhos e aceita ser cuidado por eles.

Dor espiritual Surge da perda de significado, sentido e esperança. Apesar da aparente indiferença da sociedade em relação ao "mundo além deste", a dor espiritual está aí. Todos necessitamos de um sentido – uma razão para viver e uma razão para morrer. Em recentes pesquisas nos Estados Unidos, ficou evidenciado que o aconselhamento em questões espirituais situa-se entre as três necessidades mais solicitadas pelos que estão morrendo (e seus familiares).Estes aspectos da dor estão todos inter-relacionados e, por vezes, não é tão fácil distinguir um do outro. Se os esforços para lidar com a dor enfocam somente um aspecto e negligenciam os outros, o paciente não experimentará alivio da dor e sofrerá mais. Vale lembrar a Sauders, que afirma: "o sofrimento somente é intolerável se ninguém

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cuidar" (16). É na filosofia do hospice que vemos a viabilização de uma medicina paliativa, que honra a integralidade do ser humano. Vejamos, a seguir, algumas perspectivas deste enfoque.6 - Cuidados Paliativos Morrer em casa ou no hospital? Hoje se fala de hospices, de medicina (cuidados paliativos). Antes (ontem) se morria em casa. Era a morte domada. O ser humano sabe quando vai morrer pela presença de avisos, sinais ou convicções internas. A morte era esperada no leito, e era autorizada pela presença de parentes, vizinhos, amigos e até crianças. Havia uma aceitação dos ritos, que eram cumpridos sem dramatização. Era algo familiar, próximo. Hoje, praticamente a morte ocorre no hospital em (80% dos casos, nos Estados Unidos), é a chamada morte invertida. Ela é escondida, vergonhosa, como fora o sexo na era vitoriana. A boa morte atual é a que era mais temida na Antigüidade, a morte repentina.Há necessidade de uma compreensão filosófica do cuidado às pessoas nas fases finais de uma doença terminal. O hospice afirma a vida e encara o "estar morrendo"(dying) como um processo normal. Hospice enfatiza o controle da dor e dos sintomas objetivando melhorar a qualidade de vida, antes que tentar curar uma doença ou estender a"vida". O objetivo do hospice é permitir, aos pacientes e suas famílias, viver cada dia plena e confortavelmente tanto quanto possível ao lidar com o estresse causado pela doença, morte e dor da perda (grief). Nos cuidados de hospice utiliza-se uma abordagem multidisciplinar que enfoca as necessidades físicas, emocionais, espirituais e sociais dos pacientes e familiares. A equipe de saúde consiste de médicos, enfermeiras, assistentes sociais, voluntários treinados e conselheiros pastorais que articuladamente trabalham provendo coordenação e continuação dos cuidados envolvendo o paciente e sua família. Também fazem o seguimento (follow-up) da família e aconselhamento aos enlutados após a morte do ente querido.O movimento do hospice moderno começou em 1967, quando a Drª. Cicelly Saunders abriu o hoje famoso St. Christopher's Hospice, em Londres. O movimento hospice surge nos EUA em 1974, em New Haven, CT, e desse ano para cá cresceu bastante, contando, hoje, com quase dois mil programas. Não obstante isso, o hospice ainda não é muito conhecido e freqüentemente utilizado, em parte por causa do estigma social relacionado com a morte e pela percepção pública e profissional de que o hospice significa falha, ao entregar os pontos na luta para manter uma vida.Algumas implicações tornam-se evidentes. Cuidar dignamente de uma pessoa que está morrendo num contexto clínico significa respeitar a integridade da pessoa. Portanto, um cuidado clínico apropriado busca garantir, pelo menos: 1. Que o paciente seja mantido livre de dor tanto quanto possível, de modo que possa morrer confortavelmente e com dignidade. 2. Que o paciente receberá continuidade de cuidados e não será abandonado ou sofrerá perda de sua identidade pessoal. 3. Que o paciente terá tanto controle quanto possível no que se refere às decisões a respeito de seu cuidado e lhe será dada a possibilidade de recusar qualquer intervenção tecnológica prolongadora de "vida". 4. Que o paciente será ouvido como uma pessoa em seus medos, pensamentos, sentimentos, valores e esperanças. 5. Que o paciente será capaz de morrer onde queira morrer.Neste momento de nossa reflexão voltemos nosso olhar para o que os códigos brasileiros de ética médica dizem a respeito de nosso objeto de estudo, a distanásia.7 - Os códigos brasileiros de ética médica e a distanásia Uma das características marcantes da tradição da ética médica brasileira codificada é a de ser uma tradição secular, imbuída de valores humanitários, mas sem a preocupação de fundamentar os princípios éticos na religião (17).No universo secular, a própria morte e a dor são muitas vezes percebidas como sem sentido e, na medida em que escapam do seu controle, são vistas como fracasso pelo médico. A ênfase recai sobre a luta para garantir a máxima prolongação da vida, sobre a quantidade de vida, e há pouca preocupação com a qualidade desta vida prolongada. Uma conseqüência disso é o eclipse da solicitude pela boa morte cultivada e resistência à eutanásia provocada como derrota frente ao inimigo morte.A partir da publicação dos Códigos de Ética Médica 1984 e 1988 a abordagem dos direitos do paciente terminal a não ter seu tratamento complicado, ao alívio da dor e a não ser morto pelo médico, entra numa nova fase com o surgimento de novos elementos, em grande parte trazidos pelo progresso da tecnociência.No Código de 1984 percebe-se a existência das tensões inerentes à aliança entre a benignidade humanitária, o modelo científico-tecnológico e o medicocentrismo autoritário. Sua benignidade humanitária insiste sobre o "absoluto respeito pela vida humana", já exigido pelos Códigos de 1953 1965, e reforçado pelo princípio 9º do Código de 1984 com o seguinte acréscimo ao texto da frase: "desde a concepção até a morte". A dificuldade é que esta valorização da vida tende a se traduzirnuma preocupação com a máxima prolongação da quantidade de vida biológica e no desvio de atenção da questão da qualidade da vida prolongada.Como enfatiza Leonard Martin: "Com a ênfase sobre o biológico, o sofrimento, a dor e a própria morte se tornam problemas técnicos a serem resolvidos, mais do que experiências vividas por pessoas humanas. O preço que se paga pelo bom êxito da tecnologia é a despersonalização da dor e da morte nas unidades de terapia intensiva, com todo o

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seu maquinário impressionante. Consegue-se prolongar a vida, mas diante destas intervenções bem sucedidas começam a surgir novas indagações: quando se pode abandonar o uso de suportes vitais artificiais? Quando é que se morre mesmo? Pode-se falar de eutanásia ativa e de eutanásia passiva?".Há um passo rumo à recuperação da valorização da boa morte cultivada no artigo 6º do Código de 1988 que diz ser antiético para o médico utilizar "seus conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral". Mais significativo ainda, porém, é o art. 61, parágrafo 2º, que incentiva o médico a não abandonar seu paciente "por ser este portador de moléstia crônica ou incurável" e a "continuar a assisti-lo ainda que apenas para mitigar o sofrimento físico ou psíquico". Este cuidado em mitigar não apenas o sofrimento físico mas também o psíquico é sintomático de uma nova preocupação com integralidade da pessoa, que vai além da dor física. Este novo cuidado se reflete no reconhecimento do direito do paciente terminal a não ter seu tratamento complicado. Como no art. 23 do Código de 1984, há, no art. 60 do Código de 1988, a proibição de "complicar a terapêutica". Fica também claro no Código de 1988 a obrigação de o médico "utilizar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento a seu alcance", mas a medida do seu uso não é sua eficácia em resolver o problema técnico de como controlar o sofrimento e a morte, mas sim o benefício do paciente. Isto nos permite questionar se a gestão técnica do sofrimento e o adiar o momento do morrer são sempre do interesse do paciente, situação hoje muito freqüente na fase final da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).Um outro aspecto importante no Código de 1988, no que se refere ao direito do paciente de não ter seu tratamento complicado, é a preocupação em regulamentar pesquisas médicas em pacientes terminais. O art. 130 proíbe ao médico "Realizar experiências com novos tratamentos clínicos ou cirúrgicos em paciente com afecção incurável ou terminal sem que haja esperança razoável de utilidade para o mesmo, não lhe impondo sofrimentos adicionais". Aqui não se trata de uma rejeição da ciência e tecnologia, reconhece-se a legitimidade de recorrer a tratamentos experimentais, mas a partir de um critério bem definido: existência de uma esperança razoável de que o tratamento será útil para o próprio doente e que este não sofrerá desnecessariamente.8 - À guisa de conclusão O não enfrentamento da questão da distanásia faz com que convivamos com situações no mínimo contraditórias, em que se investe pesadamente em situações de pacientes terminais cujas perspectivas reais de recuperação são nulas. Os parcos recursos disponíveis poderiam muito bem ser utilizados em contextos de salvar vidas que têm chances de recuperação. Dificilmente podemos passar ao largo sem levantarmos sérios questionamentos em relação à utilização das UTIs, conscientização a respeito do conceito de morte cerebral, doação de órgãos, transplantes e investimentos de recursos na área. Hellegers, um dos fundadores do Instituto Kennedy de Bioética, a respeito de nossa questão em estudo afirma: "Perto do fim da vida, uma pretensa cura significa simplesmente a troca de uma maneira de morrer por outra... Cada vez mais, nossas tarefas serão de acrescentar vida aos anos a serem vividos e não acrescentar anos à nossa vida... mais atenção ao doente e menos à cura em si mesma ( ..). À medida que os ramos da medicina que versam sobre curas dominaram sobre os que se preocupavam mais com o doente, as virtudes judaico-cristãs perderam progressivamente seu interesse (...). Nossos doentes (e velhos) precisarão mais de uma mão caridosa do que um escalpelo prestativo. Não é o momento de pôr de lado estamedicina da atenção, que não exige muita tecnologia. (...) Nossos problemas serão cada vez mais éticos e menos técnicos" (18). Nesta circunstância convém sentar-se junto ao leito de um paciente terminal que, numa prolongada agonia, luta contra o sofrimento, na expressão dos olhos angustiadas que buscam, sem encontrar, um alívio libertador. Convém a todos - porém especialmente aos médicos, enfermeiros, assistentes religiosos, capelães, teólogos - refletir sobre o sofrimento que inutilmente, não poucas vezes, se acrescenta a uma agonia programada por uma terapêutica já inútil e somente utilizada para cumprir o dogma médico de "fazer tudo o que for possível para conservar a vida" - o qual, interiorizado de maneira acrítica por alguns, é aceito como princípio ético que não exige maior discussão e normatização. A questão da dor e sofrimento humano adquire uma relevância toda particular neste contexto de tecnologização do cuidado. É preciso prestar atenção, a dor física não é efetivamente tratada numa percentagem significativa de pacientes (os especialistas falam em torno de 75% dos casos). O que estamos fazendo para conhecer mais sobre a natureza da dor, suas múltiplas dimensões e sobre o uso de técnicas para lidar com ela? Sabendo que a dor é mais que física e inclui aspectos psicossócio-espirituais, que passos específicos estamos dando para apoiar relacionamentos entre pacientes e profissionais, entre pacientes e familiares, e entre pacientes e suas crenças e práticas religiosas visando ir ao encontro das necessidades de apoio emocional, sentir-se parte da comunidade e de significado? Como diz Ruben Alves, num intrigante texto sobre a morte como conselheira: "houve um tempo em que nosso poder perante a morte era muito pequeno, e de fato ela se apresentava elegantemente. E, por isso, os homens e as mulheres dedicavam-se a ouvir a sua voz e podiam tornar-se sábios na arte de viver. Hoje, nosso poder aumentou, a

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morte foi definida como a inimiga a ser derrotada, fomos possuídos pela fantasia onipotente de nos livrarmos de seu toque. O empreendimento tecnológico em grande parte nos seduz porque encarna hoje o sonho da imortalidade. Com isso, nós nos tornamos surdos às lições que ela pode nos ensinar. E nos encontramos diante do perigo de que, quanto mais poderosos formos perante ela (inutilmente, porque só podemos adiar...), mais tolos nos tornamos na arte de viver. E, quando isso acontece, a morte que poderia ser conselheira sábia transforma-se em inimiga que nos devora por detrás. Acho que, para recuperar um pouco da sabedoria de viver, seria preciso que nos tornássemos discípulos e não inimigos da morte. Mas, para isso, seria preciso abrir espaço em nossas vidas para ouvir a sua voz...A morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver. Quem não pensa, não reflete sobre a morte, acaba por esquecer da vida. Morre antes, sem perceber" (19). Não somos nem vítimas, nem doentes de morte. É saudável sermos peregrinos. Podemos ser, sim, curados de uma doença classificada como sendo mortal, mas não de nossa mortalidade. Quando esquecemos isso, acabamos caindo na tecnolatria e na absolutização da vida biológica pura e simplesmente. É a obstinação terapêutica adiando o inevitável, que acrescenta somente sofrimento e vida quantitativa, sacrificando a dignidade. Nasce uma sabedoria a partir da reflexão, aceitação e assimilação do cuidado da vida humana no sofrimento do adeus final. Entre dois limites opostos, de um lado a convicção profunda de não matar, de outro, a visão para não encompridar ou adiar pura e simplesmente a morte. Ao não matar e ao não maltratar terapeuticamente, está o amarás... Desafio difícil este de aprender a amar o paciente terminal sem exigir retorno, num contexto social em que tudo é medido pelo mérito, com a gratuidade com que se ama um bebê (20)! Concluimos com as palavras de Oliver ao falar da missão do médico, que é "curar às vezes, aliviar freqüentemente, confortar sempre".

Léo Pessini é Camiliano Diretor do Instituto de Pastoral da Saúde e Bioética, Vice-Diretor Geral das Faculdades Integradas São Camilo e Capelão no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Endereço para correspondência:Faculdades Integradas São Camilo

Av. Nazaré 1501Ipiranga

04263-200 São Paulo - SP

http://www.geocities.com/Petsburgh/8205/A FRENTE BRASILEIRA PARA ABOLIÇÃO DA VIVISSECÇÃO é uma organização

sem fins lucrativos que tem por objetivo promover a abolição TOTAL da experimentação animal. Lutamos pelo fim desta prática fraudulenta e

extremamente perigosa à saúde humana, divulgando e denunciando as barbáries e tragédias que esta prática tem causado ao longo destes anos. Tudo o que

divulgamos são frutos de estudos e informações de ex-pesquisadores e autoridades médicas mundiais que assim como nós lutam por uma ciência verdadeira e segura.

A nossa linha de pensamento segue os ensinamentos de Hans Ruesch (CIVIS) e Javier Burgos (SUPRESS), os quais a FBAV é eternamente grata pelos conselhos e

orientação.

PEQUENA LISTA DOS AVANÇOS MÉDICOS-CIENTÍFICOS SEM A EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL

1. Descoberta da relação entre colesterol e doenças cardíacas.2. Descoberta da relação entre o hábito de fumar e o câncer, e a nutrição e câncer.3. Descoberta da relação entre hipertensão e ataques cardíacos.4. Descoberta das causas de traumatismos e os meios de prevenção.5. Elucidação das muitas formas de doenças respiratórias.6. Isolamento do vírus da AIDS. 7. Descoberta dos mecanismos de transmissão da AIDS.8. Descoberta da penicilina e seus efeitos terapêuticos em várias doenças.9. Descoberta do Raio-X.10. Desenvolvimento de drogas anti-depressivas e anti-psicóticas.11. Desenvolvimento de vacinas, como a febre amarela.12. Descobrimento da relação entre exposição química e seus efeitos nocivos.13. Descoberta do Fator RH humano.14. Descoberta do mecanismo de proteína química nas células, incluindo substâncias nuclêicas.15. Desenvolvimento do tratamento hormonal para o câncer de próstata.16. Descoberta dos processos químicos e fisiológicos do olho.17. Interpretação do código genético e sua função na síntese de proteínas.18. Descoberta do mecanismo de ação dos hormônios.19. Entendimento da bioquímica do colesterol e "hipercolesterolemia" familiar.20. Produção de "humulina", cópia sintética da insulina humana, que causa menos reações alérgicas.21. Entendimento da anatomia e fisiologia humana.

( fonte: "Physicians Committee for Responsible Medicine" )

Há alternativas suficientes que substituem plenamente os testes com animais. Basta boa vontade para acabarmos definitivamente com a VIVISSECÇÃO.

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PESQUISA CLÍNICA E EPIDEMIOLÓGICA São métodos de pesquisas simples, mas muito importantes. É o estudo das doenças humanas em indivíduos e em populações específicas. A pesquisa clínica usa voluntários humanos, estudo de casos clínicos, autópsia, análise estatística com observação clínica da doença. Para ajudar os seres humanos, é necessário estudar as doenças que afetam os humanos, e não doenças inoculadas artificialmente em animais. CULTURA CELULAR E TISSULAR Células isoladas de humanos e tecido animal (para uso na medicina veterinária), são cultivadas fora do corpo, após a separação de seu tecido original ou órgão. Com este procedimento, não há o problema de diferença de espécies. Estes testes são extremamente eficientes para testar toxidade e teste de irritação. As culturas orgânicas podem ser usadas na área de bioquímica, pesquisa de câncer, genética, imunologia, farmacologia, radiação, tóxologia, e pesquisas de vírus. TÉCNICAS DE IMAGENS NÃO INVASIVAS O desenvolvimento de técnicas não invasivas como:CAT - utiliza computadores na reconstrução de imagens tridimensionais do corpo humano através do Raio-X.MRI (Magnetic Resonance Imaging) - permite a visualização de imagens detalhadas do interior do corpo humano, sem injeção de substâncias radioativas. PET (Positron Emission Tomograph) e SPECT (Single Photon Emission Computerized Tomograph) - usados em estudos de doenças cérebrovasculares e distúrbios psiquiátricos.Estes métodos têm revolucionado a pesquisa clínica. São equipamentos que permitem a avaliação de doenças humanas nos pacientes. Por exemplo, estes equipamentos escaneadores têm validado o diagnóstico precoce e avaliação da doença de Alzheimer, doença de Huntington, tumores "musculoesqueletais", mal de Parkison, doenças "cérebrovasculares", e têm contribuindo no conhecimento do corpo em ciências básicas. TESTE "AMES" Criado pelo Dr. Bruce Ames, da Universidade da Califórnia em Bekerley, este teste "in vitro" checa substâncias cancerígenas usando a "bactéria salmonella", a qual produz câncer nos seres humanos e outros mamíferos. O teste dura cerca de 2-3 dias e o custo é muito menor que o custo com a utilização do modelo animal. PLACENTA A placenta humana, que geralmente é descartada após o nascimento de uma criança, pode ser usada na prática de cirurgia microvascular, e no teste de toxidade de químicas, drogas e poluentes. Não tem custo e o material é 100% humano. FARMACOLOGIA QUANTA É uma técnica computadorizada usada na química teorética do estudo da estrutura molecular de drogas e seus receptores no organismo. Usando o conhecimento existente é possível predizer através da estrutura da droga qual o efeito no órgão humano em epígrafe. EYETEX Em substituição ao "Draize Eye Irritancy Test" (feito nos olhos dos coelhos), é o uso de uma proteína líquida que imita a reação do olho humano. CROMATOGRAFIA E ESPECTROSCOPIA Para separar drogas no nível molecular para identificar suas propriedades, podendo detectar a trajetória de drogas e seus danos aos humanos. AUTOPSIAS E ESTUDOS "POST-MORTEM" A autopsia humana é o exame após a morte de tecidos e órgãos do corpo humano para determinar a causa da morte ou existência das condições patológicas. Estudo que tem sido responsável pela descoberta e descrição de muitas doenças. ESTUDOS MICROBIOLÓGICOS Microorganismos como bactéria, são apropriados para visualização de um grande número de toxinas, pois se reproduzem rapidamente. AUDIO-VISUAL Utilizado no treinamento de médicos de medicina humana e veterinária e também no ensino médio, em lugar da "dissecação". ADM (Agarose Diffusion Method) Criado em 1960 para determinar a toxidade de plásticos e outros materiais sintéticos usados na medicina em válvulas cardíacas, etc. CORROSITEX É um teste "in vitro" para avaliação do potencial de corrosividade dérmica de químicas diversas. Desenvolvido pelo "In Vitro International, Inc.", a técnica possibilita testar uma substância química ou várias (drogas) em uma barreira de pele artifical feita de colágeno. Abaixo daquela camada tem um líquido contendo um corrante indicador de PH que muda a cor quando entra em contato com a química a ser testada. A corrosividade da química é determinada pelo tempo que leva para penetrar na pele artificial e provocar a mudança de coloração. KITS DIVERSOS Dispomos de kits para todas as finalidades, como técnicas de sutura e laparoscopia, treinamento cirúrgico e dissecação (incluindo modelos anatômicos). Principalmente para dissecação, temos várias opções com modelos perfeitos de animais.

A VIVISSECÇÃO É UM CRIME CONTRA A HUMANIDADE

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A experimentação animal é diretamente responsável pelo aumento do câncer, doenças do coração, defeitos físicos, AIDS, etc... Estas doenças estão causando uma massiva e sistemática destruição da saúde humana. A razão fundamental é que: "hoje a pesquisa está baseada quase que totalmente na experimentação animal", a qual é uma fraude médica e científica. É impossível "re-criar" uma doença adquirida naturalmente por um animal , simplesmente por que desde que seja "re-criada", não é mais a doença original. O resultado do estudo em amimais artificialmente doentes é o de uma informação não aplicável aos seres humanos e, sendo assim, tragicamente enganador.

Após anos de intensa pesquisa com animais, laboratórios alemães e britânicos lançaram a Talidomida no mercado, com a clara afirmação de que "pode ser dado sem qualquer risco às mulheres grávidas, já que não causa nenhum efeito adverso na mãe ou na criança". A Talidomida foi então o primeiro grande desastre terapêutico demonstrando os efeitos da experimentação animal. Mas ao invés de abandonar estes falsos testes e argumentos, os fabricantes de drogas multiplicaram os investimentos na experimentação animal - resultando na má formação e multiplicação de outros desastres terapêuticos. Esta droga possui alto potencial de teratogenicidade e em muitos foi banida. Assim como a Talidomida, a DES também causa má formação física, câncer e morte quando usadas em humanos, e estas drogas foram seguramente defendidas pelos pesquisadores que as experimentaram extensivamente em animais.

A vivissecção continua em parte por que oferece prêmios lucrativos e perpetua a tradicional filosofia médica. E sabemos que péssimos profissionais se edificam na ignorância alheia. Experimentação animal é parte da indústria multi-milionária a qual inclui suprimentos diversos, gaiolas, fabricantes de equipamentos, criadores de animais, empresas de ração, imprensa especializada, e outros interessados. Outro fator é a falta de informação pública. Muitas pessoas não estão a par da crueldade que ocorre em pesquisas laboratoriais, ou são induzidas com a crença de que os experimentos são necessários para o avanço da ciência. Em verdade, os grandes avanços médico-científicos não são oriundos da experimentação animal ( vide "AVANÇOS MÉDICOS" ).

VIVISSECÇÃO = EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL E HUMANA

Animais são utilizados em testes laboratoriais (testes de drogas, cosméticos, produtos de limpeza e higiene), práticas médicas (treinamento cirúrgico, transplante de orgãos), experimentos na área depsicologia (privação materna, indução de estresse), experimentos armamentistas/militares (testes de armas químicas) , testes de toxidade alcoólica e tabaco, dissecação, e muitos outros.

Engana-se quem pensa que existe uma escolha entre HOMENS x ANIMAIS, pois para ciência qualquer ser vivo é um modelo experimental, e NÓS somos também VÍTIMAS !

As grandes catástrofes farmacológicas foram PREVIAMENTE testadas em animais, erros médicos gravíssimos e irreversíveis, uma infinidade de drogas inócuas e perigosas à saúde humana são encontradas sob rótulos demedicamentos, isso e muito mais são provas de que a experimentação animal é uma fraude médica e científica.

Testes IN VITRO com tecido humano têm oferecido resultados mais precisos que experimentos com animais. Phenylbutazone, Chloranphenicol, e Thalidomida, são exemplos de drogas, as quais os efeitos nocivos podem ser vistos em testes de cultura tissular, mas com efeito contrário utilizando o modelo animal.

Ao longo destes anos temos visto que o modelo animal continua sendo amplamente utilizado, mas ao contrário do que se pensa, temos um aumento de "antigas doenças" como cólera, peste pneumônica, tuberculose, febre amarela, malária,câncer, etc e "novas doenças" como dengue, rotavírus, hantavírus, ebola, AIDS, hepatitis G entre outras.

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A vivissecção é uma fraude médica e científica, simplesmente por que é uma PESQUISA EXPERIMENTAL. É óbvio que ninguém pode recriar uma doença expontânea em um corpo sadio, mas apenas alguns de seus sintomas, e a informação obtida não é válida, pois não oferece nenhuma segurança em seus resultados.

Logo, se a pesquisa experimental não pode trabalhar com seres humanos, é fácil imaginar que a fraude científica está conectada com a alegação de que uma doença expontânea humana pode ser reproduzida em animal. Esta simples premissa, destrói a base científica de toda pesquisa biomédica envolvendo animais, pois estes não desenvolvem doenças humanas.

Prof. Pietro Croce MD, do Instituto de Milão e autor de livros médicos e artigos científicos, faz uma interessante observação quando diz que todas as verdades seguem 3 estágios: 1º. é ridicularizada2º. é violentamente rejeitada e3º. finalmente aceita como evidente por si mesma.

A experimentação animal continua em parte pelos subsídios ($) lucrativos e perpetua a tradicional filosofia médico-científica, fraudando os verdadeiros resultados e tornando a população a verdadeira cobaia.

Animais não são "pequenos humanos", os modelos animais são desnecessários e perigosos pelos resultados contraditórios dos experimentos.

Os "vivissectores" e seus defensores costuman usar muitas vezes o seguinte argumento: "preferem experimentar em crianças do que em animais?" Mas em verdade, a vivissecção oferece informações enganosas e falhas, a verdadeira escolha não está entre animais e pessoas, mas entre uma boa e má ciência. Sem dúvida a vivissecção sempre custou muitas vidas animais e humanas, oferendo resultados imprecisos e enganosos.

Os experimentadores esperam que o público relacione a experimentação animal com o progresso médico-científico, mas um número cada vez maior de cientistas, ex-experimentadores e autoridades médicas têm criticado está prática medieval e cruel.

A atitude dos vivissectores com relação aos animais é claramente contraditória. O vivissector alega que:1) Animais são fundamentalmente similares aos seres humanos2) Animais são fundamentalmente diferentes dos seres humanos

De acordo com o que consideram conveniente para suas teses:1) Animais são similares aos seres humanos quando é conveniente alegar que podem obter através deles conhecimentos humanos (?)2) Animais são diferentes dos seres humanos quando é conveniente acreditar que eles não sofrem, não têm consciência, não pensam e sendo assim podem fazer qualquer coisa com eles.

Analisando a questão, a palavra "similar" usada como justificativa de experimentos no mundo da ciência , é totalmente sem sentido, Se alguém diz que em um quarto fechado não existe "oxigênio", mas um "gás muitosimilar", você entraria?! Se precisa de uma transfusão de sangue e o médico diz que não tem sangue humano disponível, mas uma substância "muito similar", você aceitaria?!

É possível algumas vezes recriar sintomas de uma doença, mas nunca a doença em si. Os vivissectores não podem infectar um animal com doenças humanas, por exemplo, a AIDS, embora os esforços massivos decriar um "modelo humano-animal" de AIDS. Um "modelo animal não humano" não pode ter doenças humanas, pois cada espécie é morfologicamente, fisicamente e bioquimicamente diferentes.

A medicina humana não pode em hipótese alguma ser baseada na medicina veterinária. Animais reagem diferentemente as drogas, vacinas e outras químicas não apenas dos seres humanos, mas entre eles mesmos.

A experimentação animal causa sérios danos à saúde humana, por ser uma fraude ocultando seus verdadeiros resultados, por ser uma verdadeira fábrica de doenças sem cura e disseminando vírus, por não aceitar que a

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verdadeira saída de qualquer mal é a prevenção, e por ser responsável por grandes catástrofes farmacológicas ao longo destes anos.

Médicos e cientistas têm ocultado ao público os malditos resultados de seus estudos e relatórios que provam os riscos de reações graves da experimentação animal, que são maiores do que o público é informado.

Como exemplo, qualquer farmaco ou produto de uso humano na área médica-farmacológica antes de lançado no mercado, segue exigências dos orgãos competentes (no Brasil, do Ministério da Saúde), e entre estasestá a "fase 1" que é o "teste com animais". Sendo assim, mesmo que um "pesquisador" obtenha um resultado de pesquisa satisfatório sem o modelo animal, a "fase 1" deve ser "encomendada", para que a suapesquisa tenha validade científica. Entretanto no Brasil, temos várias "drogas" banidas em seu país de origem e que aqui são comercializadas livremente sob vários rótulos diferentes ( vide "DROGAS E REMÉDIOS -PERIGO À SAÚDE HUMANA" )

Fotos 1 e 2: Esta é um típica (e altamente ilegal) "fazenda de cães" no interior da Coréia. Na cidade, as pessoas criam cães em pequeno número, como animais de estimação, e os vendem para negociantes de carne de cães. É fácil enganar os cães e ganhar sua confiança, para traí-los no final. Estas fotos foram obtidas com uma câmera escondida. Apesar de, pela lei, as fazendas de cães serem ilegais, o governo não toma nenhuma providência para fazer com que a lei seja cumprida.

Foto 3: Alguns comerciantes criam uns poucos cães por vez e podem vender todos em um único dia no mercado. A quantia arrecadada nestas operações ilegais é difícil ser determinada. Há freqüentemente alguns moradores na vizinhança que criam ou roubam cães, ou ainda envenenam cães de outras pessoas para obter lucro fácil.

Foto 4: Um São Bernardo roubado ou abandonado fica sozinho entre as jaulas abarrotadas com outros cães. O animal mostra sinais de maus tratos. Este é o Mercado Moran na cidade de Sungnam. É considerado o maior mercado de cães da Coréia. Existem os dias da semana que são considerados como "dias de cão", é quando você pode sentir a extensão deste comércio ilegal. Esta foto foi tirada com uma câmera escondida. Desde as Olimpíadas de Seul em 1988, foi espalhada a notícia de que grupos de proteção animal estavam fazendo campanhas contra estas indústrias, e os negociantes de carne de cães se tornaram hostis contra aqueles que os desaprovavam. De fato, você vai encontrar guardas bem vestidos, postados nos mercados para evitar a

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aproximação de estranhos.

Foto 5: Os cães são aprisionados de forma tão apertada nas jaulas que não há como serem alimentados ou tomarem água, como as leis de proteção e a dignidade exigem.

Foto 6: Os negociantes de cães geralmente transportam os animais de caminhão das "fazendas de cães" para os mercados da cidade. Note o aviso abaixo no caminhão. Anuncia gatos à venda. Entretanto, estes gatos não são de estimação. São gatos que serão massacrados e preparados em grandes panelas de pressão para elaboração de um elixir que supostamente cura reumatismo.

Foto7: Cães de grande porte e pelagem bege são considerados os melhores para a alimentação.

Fotos 8 e 9: Olhe atentamente. O cão na primeira foto está sendo vendido como alimento. Parece extraordinariamente com o cão na segunda foto, o "chindo gae". O chindo (ou jindo) é tido como "tesouro nacional", e é protegido por lei e não deveria ser usado como alimento. Enquanto os coreanos estão muito orgulhosos do chindo, na verdade, eles irão comê-lo também, assim como qualquer outro cão independentemente de pedigree. A imagem do chindo acima foi emprestada do website Docunet que pode ser acessado no endereço: http://www.docunet.org/magazin_1/jindo/photo/ep12.html.

Foto 10: Este cão não é definitivamente amarelado, da forma como os coreanos preferem. De fato não parece com qualquer outro cachorro típicamente criado para alimentação. Concluímos que este cão foi outro que infelizmente foi abandonado ou roubado. Não se amedrontou nem fugiu quando nos aproximamos. Nós pedimos suporte para

Foto 11: Aqui mais uma evidência de que os animais são vendidos como alimento. Parece um "Pug" nesta jaula (o da direita) e ainda está usando uma coleira. Foi persuadido a sair da jaula, seu crânio foi esmagado e seu pêlo foi queimado. Este é o procedimento padrão, apesar da negativa taxativa dos oficiais coreanos de que animais com pedigree nunca

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ajudar-nos a identificar esta raça e várias pessoas disseram se tratar de um "Pointer Purebred".

são comidos.

http://www.falabicho.org.br/experimentacao.htm

A VERDADEIRA FACE DA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL Desde 1995, um projeto sobre o uso científico de animais está nas mãos da Comissão do Meio Ambiente do Congresso, única tribuna possível para discussão do assunto, conforme a Constituição brasileira. Na mesma ocasião, nós, da Sociedade Educacional Fala Bicho, juntamente com a Frente Brasileira de Abolição da Vivissecção e a Liga de Prevenção Contra Crueldade aos Animais, entregamos ao deputado federal Fernando Gabeira um projeto de lei abolindo totalmente o uso de animais em pesquisas científicas, tendo por base, entre tantos argumentos, que: 1. A medicina humana não pode ser baseada em medicina veterinária. Isto porque animais são diferentes histológica, anatômica, genética, imunológica e fisiologicamente; 2. Animais e humanos reagem diferentemente a substâncias. Por exemplo, algumas drogas são cancerígenas em homens mas não em animais; e o arsênico pode ser aplicado em enormes doses em cabritos e não causariam nenhum mal a estes e, no entanto, no homem apenas uma gota o levaria à morte; 3. Doenças que ocorrem naturalmente e doenças artificialmente induzidas diferem com freqüência e substancialmente; 4. Noventa por ce?^^^^nto dos canceres no ser humano são devidos a medicamentos, pesticidas, aditivos alimentares, todos "testados com êxito" em animais; 5. Muitos vivissectores ainda afirmam que o que eles fazem ajuda a salvar vidas. Eles mentem. A verdade é que experimentos com animais matam pessoas, e pesquisadores que usam animais são responsáveis pela morte de milhares de homens, mulheres e crianças a cada ano; 6. As práticas experimentais como LD50, draize eye, de toxidade alcoólica e tabaco, experimentos armamentistas/militares, na área de psicologia, pesquisas dentárias, testes de colisão, dissecação, práticas médico-cirúrgicas e outros experimentos diversos podem ser prontamente abolidos, por métodos realmente seguros já são conhecidos, tais como simulador por computador, manipulação e estudos de modelos anatômicos, cultura-celular e tissular, autópsias e estudos post mortem, técnicas não invasivas como PET, CAT e MRI, técnicas de cromatografia e espectografia de massas, realidade virtual e inúmeras outras. As mais respeitadas entidades de proteção animal do mundo inteiro, aliadas a comunidades científicas contra o uso de animais em pesquisas, vêm alertando há anos sobre o mal que isto provoca à Humanidade. A Associação de Defesa dos Direitos do Animal (Adda), em janeiro de 1996, juntamente com a Buav - Campaining to End Animal Experiments, publicou uma revista totalmente dedicada ao perigo provocado pelo descontrole biotecnológico para os animais e os seres humanos. Achamos que, devido às grandes pressões das verdadeiras comunidades de cientistas e das sociedades européias, esta revelação da "clonagem" foi a última cartada jogada por estes "cientistas" para manterem seus postos de senhores do conhecimento. Mas parece que o tiro está saindo pela culatra, como é o grande desejo de pessoas conhecedoras do assunto mas que, por causa do grande marketing mobilizado pela indústria farmacológica, raramente conseguem espaço na mídia para conscientizar a população. Foi preciso que a Humanidade se sentisse instrumento nas mãos destes "loucos" para reconhecer que algo estaria errado. O Governo americano suspendeu o financiamento de tais pesquisas e na Europa são poucos os governos que ainda as estimulam. O nosso pedido de abolição da vivissecção no Brasil seria também uma maneira de não deixar nosso país ser invadido por estes "pseudocientistas", pois lá fora eles terão seu

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espaço significativamente fechado ou bem policiado. Para identificarmos estes, é fácil… São exatamente aqueles que perguntam à sociedade: o que é preferível, a experimentação animal ou um filho morto? A pergunta é tão ameaçadora que as pessoas não conseguem perceber que o que está em discussão é a boa e a má ciência, pois precisamos de informações sobre "doenças humanas" e não sobre "doenças humanas falsamente implantadas em animais". Em vídeo produzido pela Fundação Brigite Bardot, o Dr. Cristian Barnard alega que pesquisou durante nove anos, em macacos, o transplante de coração. Tal comentário foi feito com base em que somente após a primeira centena de transplantes em seres humanos foi possível chegar à técnica correta, completamente diferente daquela realizada em animais. A maior prova de nossa afirmativa está ao alcance de qualquer cidadão que quiser ler as bulas dos medicamentos vendidos livremente em nossas farmácias. Quem nunca se assustou com aquelas "contra-indicações, efeitos colaterais, precauções etc." ao ter que tomar uma droga receitada por um médico? Se foi testado incansavelmente em diversos tipos de cobaias, porque tantos efeitos colaterais? Será que é para continuar doente e então mais tarde vir a ser consumidor de outro medicamento do mesmo laboratório para curar o mal provocado pelo primeiro? Acorda, pacato cidadão, a informação está ao seu alcance. Como este pacato cidadão reagiria ao ver de perto um laboratório de "pesquisas científicas" com um carneiro com cabeça de cabra, com gatos contidos por aparelhos esperando cortarem seus rabos para testarem o novo lote de analgésico, com uma cadela parindo filhotes imediatamente retalhados somente para analisar se defenderia sua cria ou continuaria seu processo de parto, um chimpanzé que traz nos olhos o desespero dos inúmeros choques provocados pelas ferragens implantadas em seu cérebro apenas para medirem seus impulsos cerebrais… Nos falta estômago forte para narrar a quantidade de experimentação animal em nome do "bem-estar da Humanidade". Esta farsa/fraude precisa ser desmascarada e só precisamos de espaço na imprensa para que este teatro encenado nos palcos da incompetência/loucura desça para a realidade da platéia, que até agora não percebeu o engodo financeiro que tal espetáculo cobra para sua produção. A talidomida, nos anos 60, proporcionou a primeira grande prova de que a utilização da experimentação animal conduz a ciência a erros irreparáveis. Seus autores alegaram que era preciso mais experimentação animal para se obter o sucesso do medicamento. Eles jamais admitirão, embora seja a pura realidade, que as autênticas descobertas médicas não foram feitas através do uso da experiência com animais, como fartamente documentado nos livros "Massacre dos inocentes" e "Mil médicos contra a vivissecção", do historiador médico suíço Hans Reech, fundador da Civis, e "Holocausto", de Mily Shar Manzoli, doutora PhD em ciência, presidente da Cimav, jornalista científica que já recebeu a Medalha Albert Schweitzer por sua luta contra o uso de animais em pesquisas científicas. O massacre dos animais em laboratórios não acontece pelo bem-estar da Humanidade e sim para alimentar, com seus altos financiamentos, a carreira destes "pseudocientistas", a indústria química, as universidades, criações de animais, tráfico, indústria de aparelhos de contenção, alianças políticas e governamentais, marketing e a mídia.

Só desejamos que a deputada Vanessa Felipe, relatora do Projeto de Uso Científico de Animais, tenha a coragem do jovem político e a força da mulher para, definitivamente,

acabar com a possibilidade de estes loucos procurarem nosso país para continuar delirando. Os "nossos loucos", graças a Deus, por natureza até da índole de nosso povo, são mansos e

tentam evoluir… Exceto uns poucos. Nós vamos chegar lá.

http://www.internichebrasil.org/ LER

http://www.internichebrasil.org/literatura/caso_ufsc.htm

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As finalidades do uso didático de animais e as vantagens das alternativas

São várias as finalidades dos experimentos realizados com animais nas universidades brasileiras:- Observação de fenômenos fisiológicos e comportamentais a partir da administração de drogas e outras substâncias,- Estudos comportamentais de animais em cativeiro,- Conhecimento da anatomia interna,- Desenvolvimento de habilidades e técnicas cirúrgicas.Estes experimentos são comuns em cursos de Medicina Humana e Veterinária, Odontologia, Psicologia, Educação Física, Biologia, Química, Enfermagem, Farmácia e Bioquímica, e eventualmente em outras áreas das ciências biológicas e da saúde. Abaixo estão descrições breves de alguns dos experimentos mais encontrados nas universidades. 1. Miografia: um músculo esquelético, geralmente o zigomático, na perna, é retirado da rã, onde estuda-se a resposta fisiológica deste músculo à estímulos elétricos. As respostas são registradas em gráficos. O músculo é retirado da rã ainda viva, anestesiada com éter. 2. Sistema nervoso: uma rã é decapitada, e um instrumento pontiagudo é introduzido repetidamente na espinha dorsal do animal, observando-se o movimento dos músculos esqueléticos do restante do corpo. 3. Sistema cardiorespiratório: um cão é anestesiado, tem seu tórax aberto, e observa-se os movimentos pulmonares e cardíacos. Em seguida aplica-se drogas, como adrenalina e acetilcolina, para análise da resposta dos movimentos cardíacos. Outras diversas intervenções ainda podem ser realizadas. O experimento termina com a aplicação de uma dose elevada de anestésico, ou de acetilcolina (o que causará parada cardíaca). 4. Anatomia interna: diversos animais podem ser utilizados para tal finalidade. Geralmente os animais já estão mortos, ou são sacrificados como parte do exercício, com éter ou aplicação intravenosa de substâncias letais. 5. Estudos psicológicos: animais como ratos, porcos-da-índia, ou pequenos macacos, podem ser utilizados como instrumentos de estudo. São vários os experimentos que podem ser realizados: privação de alimentos ou água, para estudos diversos (caixa de Skinner, por exemplo); experimentos com cuidado materno, onde a prole é separada dos genitores; indução de estresse, utilizando-se métodos como choques elétricos, por exemplo; comportamento social em indivíduos artificialmente debilitados ou caracterizados. Alguns animais são mantidos durante toda sua vida em condições de experimentos, outros são sacrificados devido à condições extremas de estresse ou quando não podem mais ser reutilizados. 6. Habilidades cirúrgicas: muitos animais podem ser utilizados para estas práticas. Os animais geralmente estão vivos e anestesiados, enquanto as práticas se procedem. Os exercícios de técnica operatória são comuns em faculdades de medicina veterinária e humana, e exigem uma grande quantidade de animais. 7. Farmacologia: geralmente pequenos mamíferos, como ratos ou camundongos. Drogas são injetadas intravenosa, intramuscular ou diretamente no estômago (via trato digestivo por catéter, ou por meio de injeção). Os efeitos são visualizados e registrados. O “diabetes” também pode ser induzido em animais, de modo a verificar-se os efeitos de substâncias no organismos destes animais, como a glicose, por exemplo. A CríticaEstas práticas didáticas vem sendo severamente criticadas por muitos educadores e profissionais, onde argumentos de ordem ética e, em alguns casos, técnica, são levantados em favor de uma educação mais ética e responsável. A grande maioria destes experimentos podem ser substituídas por alternativas tecnológicas que envolvem simulações em computadores (CD Roms), modelos anatômicos e vídeos interativos. Existe um crescente número de artigos científicos que comprovam que estudantes que passaram por estas técnicas aprendem igualmente, e em alguns casos melhor, do que estudantes que passaram pelo uso tradicional da vivissecção. As vantagens destas alternativas são muitas: - Economizam tempo: gasta-se muito tempo com a preparação da experimentação animal. É comum que experimentos práticos com animais não dêem certo, ou dão margem à interpretações confusas de certos fenômenos biológicos. - Possibilitam melhor aprendizado: simulações interativas permitem que o estudante volte atrás em algum passo ou estágio do experimento, o que não é possível em muitos experimentos in vivo. Cada estudante pode, desta forma, aprender de acordo com seu ritmo, e repetir todo o experimento, se necessário. Além do que, esta tecnologia não cria a dependência do laboratório e de pessoal especializado para o estudo, permitindo que o estudo seja realizado até mesmo em casa. Outras muitas informações e recursos ainda podem ser acessados, dependendo da alternativa utilizada - São econômicas: ao contrário do que muita gente pensa, as alternativas são financeiramente viáveis. Isto porque o uso de animais implica em grandes gastos com manutenção (cuidados, alimentação, instalações, etc.) e pessoal

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especializado (técnicos e veterinários), e as alternativas possuem um tempo de vida muitas vezes indeterminado, não sendo descartáveis como os animais utilizados. - São éticas: o oferecimento de alternativas respeita os princípios éticos, morais ou religiosos de estudantes que se opõem ao uso de animais para estas finalidades. - São possíveis: muitas universidades de muitos países vêm substituindo o uso de animais nos currículos de diversos cursos e oferecendo alternativas para os estudantes. As experiências destas universidades comprovam que a aplicação de alternativas são possíveis e viáveis. Mais do que soluções hi-techNão podemos pensar nas alternativas apenas como recursos tecnológicos ou softwares. Muitas alternativas envolvem a experiência clínica real em clínicas e hospitais, onde estudam-se em pacientes reais, por exemplo, o efeito de drogas administradas clinicamente, e acompanha-se o tratamento destes pacientes até sua recuperação. Outra alternativa, neste caso para o estudo de anatomia e técnica operatória em animais, é o convênio de faculdades com fazendas ou clínicas veterinárias, onde animais mortos podem ser adquiridos para posterior estudo. No caso da técnica operatória humana, médicos cirurgiões e educadores questionam o uso de cães para o ensino de cirurgia. Os principais motivos que levam à este questionamento são as discrepâncias entre a anatomia humana e a canina, assim como a elasticidade da pele, o coeficiente de vazão sangüínea epidérmica e outras características que não se aplicam na cirurgia humana. Outro ponto importante que se salienta é a dessensibilização que os estudantes sofrem ao terem que passar por práticas que contrariam princípios médicos como o de salvar vidas. As alternativas para tais práticas são o acompanhamento de cirurgias humanas em hospitais e clínicas, primeiramente com observação, seguida de estágios de intervenções simples severamente supervisionadas por cirurgiões experientes, passando para intervenções sucessivamente mais complexas. Assim se aprende cirurgia em muitos países, como Inglaterra e Estados Unidos. As alternativas também possuem a vantagem de serem combinadas. As práticas e experiências clínicas podem ser acompanhadas de reforço por alternativas e metodologias diversas, aumentando a experiência do estudante, e contribuindo para formação de um profissional sensível e responsável.

Cadê o cachorro? Desde que entrei na biologia, temia pelas aulas práticas que necessitassem do sacrifício de animais. Sempre me posicionei contra a prática de tais metodologias dentro da biologia. Animais são mortos inutilmente, em práticas didáticas desnecessárias e anti-pedagógicas.O episódio aconteceu quando cursava a disciplina de Fisiologia Humana. Deveríamos anestesiar um cão, observar que seus pulmões são vermelhos e que realmente inflam e se esvaziam, e finalmente sacrificá-lo. Uma semana antes da aula de laboratório, levantei a discussão dentro da sala de aula. Muitos não queriam participar da prática, mas sempre tem aqueles que querem, pois consideram seu interesse em aprender (?) maior que o interesse do animal em viver. Bom, no final, a prática se procederia, e seria dado o direito de abstenção aqueles que não quisessem participar desta (que até então era obrigatória). O fato de termos conseguido a opção de participar ou não de tal prática não me satisfez, pois sabia que dentro de uma semana, um cão iria morrer inutilmente.Conversei com duas amigas, e combinamos de tirar o cachorro do laboratório. Era 17 de novembro de 1997, 10 horas da manhã. A aula seria neste horário. Enquanto as duas amigas olhavam por fora, entrei no laboratório e não encontrei ninguém, a não ser um cão preto e magro, que me olhava assustado e cabisbaixo. O que se procedeu foi algo que qualquer pessoa, com um mínimo de sensibilidade, um pouco de coragem e conhecimento do fim daquele cão, teria feito. Entrei correndo no laboratório, peguei a corrente do animal e saí "arrastando" o animal pelos corredores da fisiologia. Escutava alguns "ei, ei, ei" de funcionários, mas não olhei para trás. Estava desesperado, mas convicto do que estava fazendo. Levei o cão à um lugar seguro, onde pude acalmá-lo até que pudesse pegar o carro e levá-lo em casa.Na Universidade, a fisiologia chamou a polícia e fez um Boletim de Ocorrência. Acusação: "roubo de patrimônio público" e "invasão". A situação estava ficando ruim...Sem querer, levantamos uma polêmica que estava há muito tempo enterrada. A verdade é que a maioria dos estudantes de biologia não gostam de tais práticas. A maioria simpatizante com a ação. No semestre anterior, na mesma disciplina, uma aluna foi "puxada" para dentro da aula prática, pois estava se sentindo mal com os gritos do cachorro que acordara no meio do experimento, com seu tórax aberto. Um debate foi realizado, no sentido de avaliar tal metodologia dentro do currículo de biologia. Nunca um debate dentro da biologia, num final de semestre, conseguiu reunir tanta gente. Estudantes e professores de outros cursos apareceram.Na reunião de colegiado de curso, que iria definir a sentença à nós três, exigiam a devolução da corrente e do cão, em troca de uma punição menos severa. Prometemos devolver somente a corrente, mas o cão seria impossível. Tínhamos argumentos éticos bastante palpáveis para justificar nosso "crime". Questionávamos o termo

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"propriedade", "patrimônio público", "roubo", quando estes estavam sendo aplicados a um ser vivo. Aliás, um ser vivo que foi "sequestrado" das ruas, onde vivia livremente, para ser confinado em um biotério onde teria um fim, na pior das hipóteses, semelhante à infelicidade do cão do semestre anterior. A acusação de "invasão" era infundada, pois estava devidamente matriculado na disciplina, e entrei no laboratório em horário de aula.Fomos sentenciados em uma simples advertência, com a condição de promovermos, no semestre seguinte, mais três discussões acerca do tema. Conseguimos acabar com a utilização de animais na fisiologia destinados à biologia, que foram substituídos pela alta tecnologia de um vídeo! A disciplina de Zoologia de Vertebrados, que pratica a vivisecção em pombos e sapos, abandonou o uso deste último, mas persiste no pombo. Algumas disciplinas ainda insistem em tais práticas desnecessárias e ultrapassadas.Muitas vezes as leis existem injustamente, e se a transgressão à estas implica em mais benefícios do que prejuízos, elas devem ser desobedecidas. Isto se chama desobediência civil. Neste caso, a lei foi transgredida, e os frutos desta transgressão agora são colhidos. Muitos alunos não terão mais que passar por esta didática embrutecedora e insensibilizadora, e muitas vidas animais serão poupadas. Cabe aos estudantes exigir a substituição de tais práticas, uma vez ferido qualquer princípio moral ou ético. Alternativas existem, é tudo uma questão de força de vontade. É neste clima que a biologia deve seguir, respeitando a vida.Bom, o cão...ele se chama krieger, e está passando muito bem por aí.* Membro do Centro de Direitos Humanos da Grande Florianópolis, aluno do Laboratório de Ética Prática, na Filosofia.Artigo publicado no jornal AN Capital de 5.2.99

Medicina humana e o ensino de cirurgia com cães

A utilização de animais na medicina para o ensino de técnicas operatórias é comum em todas universidades brasileiras que ofereçam o curso de medicina humana ou veterinária. É tida, também, como uma prática comum e aceitável pela grande maioria dos professores, e que tem se perpetuado através da falta de debate e questionamentos acerca de tais práticas. A mudança deste aspecto educacional na medicina é uma mudança de paradigma, de um velho e arcaico modelo de medicina humana baseada na medicina veterinária, para um novo conceito de medicina baseado no respeito à vida, na prevenção, nas pesquisas clínicas e no bom senso. As práticas de vivissecção, como são conhecidas, são regulamentadas pela lei 6368 de 1979. Mas com a publicação da Nova Lei de Crimes Ambientais de 1998 (Art 32, § 2), toda prática de cunho científico ou educacional, que cause sofrimento ao animal, constitui crime caso existam alternativas. A pena é aumentada se o animal é morto ao final do experimento. Preocupações com o tratamento humano de animais de laboratório, o grande número de animais utilizados a cada ano nos programas de práticas cirúrgicas, e o custo elevado de manutenção destes animais levaram a muitas instituições a reavaliar seus métodos de ensino. A tendência é se diminuir o número de animais usados para propósitos de ensino e substituí-los por alternativas aceitáveis. Segundo Jane Smith, do Departamento de Ciência e Ética Biomédica da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, de acordo com os termos da lei de 1986, animais vivos não podem ser utilizados por cirurgiões ou outros para aprender ou aperfeiçoar suas técnicas. A única exceção para esta regra é a prática de microcirurgia, e esta só pode ser realizada por cirurgiões qualificados. Estudantes de medicina e veterinária devem aprender cirurgia através do aprendizado, trabalhando sob supervisão em pacientes animais (humanos ou não) que necessitem de tais procedimentos. O Prof. David B. Morton, do Head Centre for Biomedical Ethics, da University of Birmingham, afirma: “ todos cirurgiões britânicos aprendem cirurgia sem o uso de animais vivos.”Nos EUA, o treinamento em animais na graduação e pós graduação não é requerida, mas usualmente existe uma opção para aqueles que desejam realizá-la. Mesmo no treinamento cirúrgico, é uma opção estritamente de pesquisa orientada, e não é obrigatória. Apenas nas escolas de medicina das forças armadas existe a exigência de dissecção no currículo. Enfim, os estudantes não são exigidos na prática de dissecção em estágios mais avançados. Ainda segundo o cirurgião: “Os animais não somente são desnecessários e raramente usados na educação médica nos EUA, como a ausência da matança de indivíduos saudáveis propicia o ensino da compaixão e preocupação nos jovens médicos. Eu estive viajando pela Europa oriental, onde as técnicas não-animais são adotadas com entusiasmo, e novas simulações de computadores foram apreciadas. O uso de animais não-humanos para ensinar medicina humana é um conceito do passado, e está sendo substituído por alternativas mais eficazes e humanas.”

Direitos Estudantis

Os estudantes de medicina também são assegurados de direitos. Segundo a AMSA (American Medical Students Association - 1993), “o uso de animais na medicina é justificado se tal uso salvar ou beneficiar vidas humanas

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(1986), e reconhece o fato de que os avanços no conhecimento científico tem sido realizado através de métodos que não requerem o uso de animais (1993)”. Segue ainda: “Sobre a obrigatoriedade da participação em práticas de vivissecção: EXIGE que todas aulas e laboratórios que envolvam o uso de animais vivos sejam opcionais para os estudantes que, por razões morais ou pedagógicas, acreditam que tal uso é injustificado ou desnecessário(1993); CONDENA a prática de intimidação aos estudantes de medicina, forçando-os à aulas e laboratórios que utilizem animais vivos(1986); Sobre as alternativas à animais de laboratório: EXIGE que materiais educativos alternativos, como vídeos e simulações por computadores, sejam providas para os estudantes que não optem por aulas e laboratórios que utilizem animais vivos (1986); EXIGE a produção de um catálogo de tais materiais educacionais alternativos (1986); ENCORAJA a utilização de materiais e métodos didáticos que não requeiram a utilização de animais na educação médica (1993).” Muitos acreditam que a totalidade dos estudantes de medicina concordam com tais práticas. Porém, resultados de pesquisas mostram que os estudantes tendem a não expor seus questionamentos devido ao medo de repreensão, reprovação e humilhação por parte dos colegas e professores. O ambiente criado pelos professores muitas vezes não é aberto para preocupações éticas de estudantes em relação ao uso de animais para a educação. Parece haver um desestímulo ao estudante de expor abertamente suas objeções à um exercício que requeira o uso de animais. O que se espera de um estudante neste ambiente é que passe pela utilização de animais sem reclamar, mesmo que vá contra suas convicções éticas. O biólogo conceituado George Russell não acredita que a vivissecção possa tornar a pessoa mais capaz ou humana. A cada vez que ele mata um animal, este estudante se torna cada vez mais insensível. Tais práticas levam a danos sistemáticos e progressivos na capacidade de sensibilidade e produz mudanças de personalidade que, na sua opinião, são perceptíveis para quem tem conhecimento sobre psicologia e psiquiatria. Uma pessoa que pode inflingir sofrimento em seres indefesos pode fazer o mesmo com seres humanos. Segundo a médica veterinária alemã, Dra Corina Gericke, “os estudantes de tornam insensíveis e duros quando usam animais para seu estudo. Estudantes de medicina e doutores deveriam ter respeito pela vida, incluindo a vida de animais”. Tais procedimentos podem acarretar em danos psicológicos ao estudante. O simples fato do estudante se submeter à uma prática obrigatória que vai contra seus princípios morais (quando existentes) é algo de grande relevância. Muitos estudantes simplesmente não expressam seu desconforto ou oposição à tais procedimentos com medo de alguma repercussão ou repreensão acadêmica. Logicamente, comparado ao tédio de leituras em salas de aula, os estudantes gostam da oportunidade de estar no meio de equipamentos cirúrgicos e participam de tais práticas. Porém, eles podem obter tais oportunidades observando procedimentos necessários em salas de operações humanas. Os estudantes podem gostar de tais práticas em laboratórios, uma vez que são seus primeiros contatos com experiências médicas, mas eles podem experimentar esta excitação observando uma cirurgia humana. Um estudo recente feito nos Estados Unidos mostrou que aproximadamente 25% dos estudantes de medicina se opõem ao “cão de laboratório”, e que o número de estudantes descontentes com o uso de animais “tende a ser maior que o número de estudantes que expressam seus sentimentos”. Outra pesquisa mostrou que “apenas um pequeno número de estudantes inequivocadamente afirmaram não terem nenhum problema com a utilização de animais”. Através da vivissecção, muitas coisas são ensinadas além da técnica operatória em si. Valores pessoais do professor são transmitidos, além de uma carga pedagógica que cultiva a submissão, obediência e o não-questionamento. Valores estes que contribuem para a rigidez das condutas humanas (no sentido mais negativo possível) e para a estagnação de conceitos e idéias.

O Sacrifício

A morte dos animais ao final do experimento (por “eutanásia” – que significa morte sem sofrimento) pode ser o menos pior do que as práticas de “surgical survival”, onde os animais são observados após intervenções cirúrgicas para se observar a recuperação, que costumam ser dolorosas em agonizantes. Depoimentos de estudantes de medicina registram a superficialização dos animais durante os procedimentos cirúrgicos. O anestésico não tem uma ação constante no organismo do animal, e seu efeito vai passando com o tempo da experiência. A nova aplicação de anestésico deve ser realizada quando o animal começa a demonstrar este efeito, ou seja, quando começa a recobrir a consciência. Uma dose muito elevada de anestésico poderia matar o animal, como é feita ao final dos experimentos. Um dos depoimentos registra a “agonia” que a estudante sentia tendo que realizar os procedimentos cirúrgicos em animais que não paravam de gritar. Já o estudante cita como “tragicômica” a cena em que presenciou um animal se levantando ao meio do experimento, com seu abdômen aberto, mas dizendo que em seguida a situação fora contornada. A primeira experiência clínica de um paciente não deveria valorizar a vida? Lidar com pacientes envolve muito mais que apenas fisiologia, farmacologia e cirurgia. Envolve aconselhamentos, escutar as necessidades e, acima de tudo,

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ajudar ao invés de prejudicar. Estas são uma das razões do porque universidades médicas de ponta expõem o estudante em clínicas e salas de operação no seu treinamento, e eliminaram o uso de animais de laboratório. O famoso médico francês Dr. Albert Schweitzer, disse: “O homem pensante deve se opor a qualquer costume cruel, não importando o quanto esteja enraizado na tradição ou envolto em um halo... Precisamos de uma ética ilimitada em que se inclua os animais também”. A Justificativa A pergunta mais comum que se faz por parte dos defensores da vivissecção é a seguinte: “você preferiria utilizar um cão ou a sua mãe?”. Se quisermos manter a discussão num nível sério, tal pergunta não deve ser considerada. Ela remete mais a apelos sentimentalistas do que a fatos morais e científicos. É provável que muitas pessoas “não entregariam suas mães para serem operadas por um cirurgião treinado na realidade virtual”, mas parece muito mais ameaçador entregar a mãe, ou quem quer que seja, à um cirurgião que até então tinha em sua frente um cão. A anatomia dos cães diferem bastante da humana. Aspectos inumeráveis sobre o cão – da quantidade de pressão necessária para promover uma incisão na pele até o tamanho e localização dos órgãos internos - são diferentes em humanos. Certamente, menos cuidado é tomado na prevenção de efeitos colaterais em procedimentos feitos em cães do que seriam tomados em pacientes humanos. A medicina humana, baseada na medicina veterinária oferece uma série de riscos à saúde humana. Uma das considerações importantes que devem ser analisadas para se verificar o sucesso de uma intervenção cirúrgica é a recuperação do paciente. A técnica em si é importante, mas ela inevitavelmente depende da observação pós-operatória do paciente, que dirá se a técnica foi bem aplicada ou não. O que dizer dos animais que, após sofrerem intervenção na Técnica Operatória, são mortos? Como avaliar o sucesso da intervenção? Como avaliar o aprendizado do estudante.

O Objeto de Estudo

Como já foi dito antes, a medicina humana que se baseia na medicina veterinária é perigosa. Um dia será melhor irmos para um veterinário quando ficarmos doentes, pois os animais tem sido os principais modelos biomédicos para se compreender e combater as enfermidades humanas.Cada espécie de animal são entidades biomecânica e bioquimicamente diferentes. Cada espécie difere não somente dos humanos, mas também entre os indivíduos, anatomicamente, fisiologicamente, geneticamente e histologicamente. O cão é diferente do gato e o gato é diferente do rato. O rato também é diferente do camundongo. E todos são diferentes dos humanos.Cães tem uma disposição de órgãos diferente da encontrada nos humanos (obviamente), e a textura e elasticidade dos tecidos vivos são diferentes, assim como o coeficiente de vazão sanguínea. A dose de anestésico utilizada para manter os cães anestesiados também não é a mesma que para se manter humanos na mesma condição. Assim como não podemos aprender sobre anatomia felina utilizando cadáveres humanos, não podemos aprender anatomia humana utilizando cães saudáveis. O Conflito Como lidar com esta situação conflitante? Estudantes que estão se formando para que possam cuidar de pessoas doentes estão matando animais sadios. Segundo o sociólogo Arnold Arluke “eles são treinados para reduzir ou eliminar o sofrimento, promover a saúde, e cuidar dos doentes compassivamente, mas são exigidos à realizarem ações que questionam estes objetivos e desafiam suas identidades profissionais emergentes.” “Embora o cão de laboratório seja uma breve experiência na educação médica, ela pode servir como um poderoso lembrete de que habilidades técnicas podem ser aguçadas se se reprimir ou suspender questões morais. Embora seja verdade que muitos estudantes declarem algum conflito ético quando se encontram próximos às práticas, eles não são encorajados pelos instrutores a expressarem ou examinarem suas preocupações. Se morais ou emocionais, estas preocupações são definidas pela medicina institucional como questões pessoais para cada estudante lidar com elas e transcendê-las. Os poucos estudantes que articulam suas preocupações acabam vendo estas questões sendo facilmente resolvidas com a ajuda de definições “competitivas” oferecidas prontamente pela faculdade e amigos, de forma que não apresentam nenhum conflito sério ou causem reflexões prolongadas. Em resumo, eles aprendem que é aceitável, realmente necessário, suspender questões “fortes” de maneira a continuar com seu aprendizado “real”, que fazem mais com excitação e admiração do que temores morais. A fascinação e excitação dos estudantes de medicina são talvez um reflexo não somente de transformações na sua forma de ver os animais, mas em como eles vêem a si mesmos”. As Alternativas: Não existe uma alternativa milagrosa para que se substitua os animais no ensino de técnica operatória. Existe uma interação de alternativas, umas que atuarão como principais, e outras como auxiliares. Como principal, poder-se-ia afirmar que ela se daria da seguinte forma:

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O estudante de medicina tem um período de residência maior que o usual. Neste período, realizado em hospitais ou pronto-socorros, o estudante vai tendo contato com a realidade destes estabelecimentos e inicialmente observando as cirurgias feitas em pacientes que realmente necessitam de cirurgia. Com o tempo, este estudante vai realizando intervenções cirúrgicas simples e gradualmente, mais complexas. Tudo isso sob a condição de estar sendo supervisionado severamente por um cirurgião responsável, que o orientará cuidadosamente. Além de ensinar ao estudante a técnica de cirurgias gradativamente, e em pacientes reais, o estudante tem contato com o paciente humano, e aprende também a lidar com os sentimentos que envolvem qualquer intervenção cirúrgica, como medo, insegurança, desconforto. Tudo isso possibilita a sensibilização do estudante diante de todo o quadro clínico que cerceia uma cirurgia. Este método também possibilita a observação da recuperação do paciente, expondo o estudante aos seus estados psicológicos e fisiológicos, humanizando-o. É importante salientar que estes pacientes não são cobaias, como procuram se defender retoricamente os que defendem a utilização de animais. Todo este procedimento é realizado com respeito a vida, e procurando ajudar o paciente – isto não é anti-ético. Outra vantagem deste método é o essencial contato com o tecido vivo que o estudante deve ter – um tecido humano, e não de outro animal. Na Alemanha, segundo a médica veterinária Dra. Corina Gericke, “depois de 6 anos na universidade, os estudantes alemães de medicina devem fazer um ‘ano prático’, que é dividido em 3 partes: medicina interna, cirurgia e uma parte optativa. É aí que começa a se aprender cirurgia. Leva diversos anos de prática e experiência para se tornar um bom cirurgião. Não se espera aprender tudo isso em um curto período na universidade.” Segundo ela, “você não pode ser um bom cirurgião quando aprende com animais. ” Nos EUA, o cirurgião Dr. Jerry Vlasak também demonstra como é este período: “temos um período de 5 a 7 anos de residência em cirurgia nos EUA. Começando no primeiro ano, os residentes são conduzidos através de operações simples, como reparos de hérnia e biópsias de mama, com um cirurgião mais experiente supervisionando atentamente. Desta forma se ensina as técnicas de tecido corretamente, e é combinado com o ensino didático da sala de operação e enfermarias. A medida em que o período de residência avança, o residente vai tendo contato com operações cada vez mais complexas, sempre sob supervisão de um cirurgião experiente.” Todo este conhecimento é reforçado paralelamente com a utilização de métodos não-animais que chamarei de “auxiliares” de aprendizado, como a realidade virtual, microcirurgia em placentas, cultivo de tecidos e órgãos humanos, técnicas de imageamento não-invasivas, simulações em computadores, modelos matemáticos, maquetes humanas, estudos em cadáveres, etc. Muitos artigos publicados tem comprovado a eficiência de tais métodos alternativos, comprovando que muitas vezes ele poder ser mais eficiente do que as práticas tradicionais de vivissecção.

Thales Trez, Biólogo e Coordenador InterNICHE (1999)

A Utilização de Cães como Recurso Didático na MedicinaDebate realizado no dia 18 de junho de 1999 o Auditório da Reitoria - UFSC

Palestrantes: - Joanésia Rothstein – Diretora do Biotério Central da UFSC - Sônia Felipe – Filósofa e professora de ética e filosofia política na UFSC - Armando d’Acâmpora – Cirurgião geral, professor da disciplina de Técnica Operatória no CCS - Paula Cals Brugger – Bióloga e doutora em Sociedade e Meio Ambiente - Rogério Gallego – Cirurgião e professor de Técnica Operatória no CCS - Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho – Etólogo e chefe de departamento de Zootecnia do CCA Sobre a mediação de João de Deus Medeiros, Diretor do Centro de Ciências Biológicas, o debate se iniciou. A fala inicial foi de Joanésia Rothstein, que falou sobre as atividades do Biotério Central, que é um laboratório de produção de modelos biológicos para a utilização de animais para o progresso da ciência. Os cães são recolhidos pela vigilância sanitária das prefeituras de Itapema e Curitiba, onde aguardam pela reclamação dos donos e depois ficam sob a custódia da prefeitura. Esses cães são então comprados pela UFSC – o Biotério Central não produz animais para fins didáticos. Os cães recebem uma alimentação balanceada e de qualidade e ficam sob observação para se detectar alguma zoonose. Estes cães são, então, disponibilizados ao ensino e a pesquisa. O Biotério segue os princípios éticos para animais de utilização ditados pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA). Falou que a legislação no Brasil é muito carente no que diz respeito a regulação de animais para usos científicos. Segundo ela, o Biotério tem se preocupado em querer reduzir os animais em experimentos, através de novas tecnologias, padronização de linhagens, instalações apropriadas e controle genético. Informou que menos de 5% dos animais utilizados estão relacionados com o progresso da ciência.Em seguida a filósofa Sônia Felipe seguiu denotando a importância deste tema que tem sido deixado em segundo plano nesta universidade, algo que desde 1930 vem sendo discutido exaustivamente em muitos países,

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principalmente no que diz respeito à critérios éticos da relação médico/paciente e aprendiz de medicina/“recursos didáticos”. Aqui, sequer estudamos as teorias éticas para que possamos orientar este tipo de prática. Temos seguido uma tradição ética racionalista antropocêntrica e, acrescenta, hierarquizante. Segundo a filósofa, o problema não se encontra tanto no caráter antropocêntrico da ética, no sentido de que ela só pode ser discutida entre seres humanos. A fundação atual contemporânea de uma das correntes mais adotadas no eixo anglo-saxão, o utilitarismo, com Jeremy Bentham que, há 300 anos atrás surpreendeu a corrente racionalista (a qual nos filiamos de modo a-crítico) com um parágrafo que diz que a razão e a linguagem não são critérios éticos para orientar nossas considerações éticas, e sim a capacidade de sofrer. A partir daí, a ciência volta seus esforços para a minimização da dor. Os hedonistas e epicurianos, antes de Bentham, também afirmavam que a busca da felicidade estava relacionada com a diminuição da dor e sofrimento. Peter Singer, um filósofo contemporâneo e neo-utilitarista, defende o princípio da “igual consideração de interesses”, quando estes são semelhantes. Estes interesses devem ser considerados igualmente entre as espécies que compartilham conosco uma característica em comum – a capacidade de sentir prazer ou sofrimento, independente da presença de razão ou linguagem. Kant, com o princípio do “imperativo categórico”, contribuiu com a reflexão que devemos fazer ao realizar ações que impliquem na perda da condição de dignidade de outros indivíduos, sendo estes tratados como meros meios para a satisfação de necessidades individuais. O princípio ético de Kant está baseado no conceito de dignidade, e no princípio da liberdade e autonomia moral, que nós não pretendemos estender aos animais. Mas ficamos ainda a responder, para conseguir aplicar este princípio neste momento da ciência, se as demais espécies animais realmente não possuem razão. Este preceito vem sendo abalado, e vamos observando que existem formas e formas de expressão da razão. Experiências confirmam que muitas espécies são capazes de cuidar de seus próprios interesses de sobrevivência muito bem, e melhor sem a nossa interferência. Os gregos fizeram uma distinção entre os seres viventes (zoo) e os que eram donos da vida (bio). Esta classificação não tinha qualquer finalidade ética. Aristóteles utiliza estes termos politicamente, na polis, uma vez que os animais (zoos) não podem fazer contratos políticos com o ser humano, pois estes não podem assumir responsabilidades conosco. A interpretação errônea destes fatos podem acarretar em consequências sérias, e é preciso ter cuidado. Citou também que muitas práticas didáticas foram abolidas em muitas universidades de vários países. Finalizou convidando o público presente a participarem da uma disciplina de ética que ela ministra (Ética III), onde este assunto é tratado com mais profundidade. O professor Armando d’Acâmpora, em uma breve exposição, citou os objetivos da disciplina de Técnica Operatória, dentre eles, o de ensinar ao aluno como se comportar frente a um paciente real antes, durante e após a cirurgia. Os alunos precisam ter este comportamento com ética e profissionalismo. Ensinar o manuseio de tecidos vivos é indispensável, pois apresentam situações adversas e inesperadas – principalmente ao cirurgião – no caso de lesões acidentais de veias e consequente sangramento intenso. Outro objetivo fundamental é ensinar método ao aluno, já que as cirurgias são metódicas e padronizadas, salvo condições excepcionais. A professora Paula Brugger iniciou em um enfoque ambiental, salientando a relação homem X animal como sendo muito importante, e fazendo parte da relação sociedade X meio ambiente. Em nossa cultura ocidental industrializada, o homem desenvolveu uma relação de objeto com a natureza e, consequentemente, com os animais. O termo recurso é utilizado, inclusive, para nós, seres humanos – sendo reforçado pela nova onda de globalização. Esse tipo de visão sobre a natureza é bastante pragmática. Paula faz uma crítica a ética conservacionista, uma vez que ela se preocupa apenas em salvar espécies em extinção, ou seja, bancos genéticos, se esquecendo de outras espécies. Não estaríamos preservando a vida pelo direito à vida. Essa visão pragmática e anti-ética faz parte da raiz do que se chama hoje de crise ambiental – que é uma crise de sociedade, da cultura cientificista e ocidental. Sobre a utilização de animais em específico, Paula acredita que é uma prática cruel e que envolve sofrimento. Por mais que se diga que se obedeça as normas do COBEA, o processo de sofrimento começa com a captura do animal, transporte, confinamento, etc. Sobre a pesquisa, ela acredita que os resultados provindos da utilização de animais podem ser extremamente enganosos quando extrapolados aos seres humanos. A experimentação animal é responsável pela produção de produtos tóxicos ao meio ambiente e a saúde humana, uma vez que poluem a biosfera e produzem não raramente efeitos colaterais sérios ao ser humano. Citou também como absurdo os testes realizados para produtos de limpeza e higiene. Mesmo com as objeções feitas à utilização de animais, milhões destes morrem em experimentos e, um absurdo, como excedente de pesquisa. Na opinião dela, deve-se investir em alternativas imediatamente, e não se acomodar com a situação. Citou a realidade virtual, que aumenta a precisão de acerto quando aplicada em animais e evita a morte desnecessária de milhares de animais.

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Afirma que a experimentação animal é uma faceta doentia da relação sociedade e meio ambiente, e que deve mudar. Numa reflexão sobre a ciência, Paula pergunta se tudo o que é científico é sempre o justo. Afirma que, como a ciência está atrelada a ganância que consome o planeta, e como ela é uma realidade construída pelos homens, ela não é neutra, tampouco boa em si. O paradigma mecanicista é muito presente na relação sociedade e meio ambiente, e representa o modelo mecanicista também adotado pela medicina alopática e cartesiana. A ciência não questionada se transforma em fundamentalismo, e devemos prestar muita atenção à isto. Finalizou salientado que muitas vezes criticamos outras culturas, dizendo que não refletem sobre sua realidade, e esquecemos de olhar para a nossa. O professor Luiz Carlos “Pinheirinho”, zootecnista e etólogo, fez uma exposição em cima de três questionamentos. A primeira é: os animais sofrem? Isso pode parecer óbvio em primeira instância, porém nem todos acreditam que sim. Se todos tivessem esta certeza, o uso de animais pela sociedade humana não seria da maneira como é utilizada hoje. Questionaríamos se é justo, por exemplo, que para que possamos comer um ovo a 10 centavos uma galinha viva durante toda sua vida num espaço de 360 cm2 (menos da metade de uma folha de papel A4). Primeiro é preciso definir o que é sofrimento. Segundo ele, é um desconforto físico e/ou psocológico agudo e continuado. Não há nenhuma evidência de que os animais não sintam a mesma dor que nós sentimos , e é exatamente por isso que o animal é utilizado em experimentação – é porque suas estruturas neurofisiológicas são exatamente as mesmas dos humanos, com a diferença de que nós possuímos um cérebro e um intelecto mais desenvolvido. Do ponto de vista psicológico, o animal sofre? A resposta é sim. O animal, considerado durante muito tempo como uma máquina viva, um objeto, hoje é considerado pela própria zootecnia moderna como um sujeito – uma entidade psicológica. Toma como exemplo 2 argumentos que revelam o sofrimento animal do ponto de vista psicológico. Um recente trabalho da revista Nature (17/6/99) compilou um estudo de 151 anos de observações de macacos e chimpanzés em vários locais do mundo. Este trabalho concluiu que estes animais tem cultura – algo como sendo característica exclusiva dos humanos. Um exemplo claro disso é o ato de lavar batatas em macacos japoneses (Macaca alouatta). Uma macaca jovem começou a lavar batatas e esse comportamento foi aprendido por todos os outros macacos, e é transmitido de geração à geração. Outro exemplo é o ato de comer nozes – a mãe ensina ao filho o complexo ato de quebrar e comer uma noz. Alguém poderia dizer que os macacos são animais mais desenvolvidos, mas qual será a linha que delimita a cultura nos animais e a inteligência animal? O professor citou o exemplo do cachorro que mora em sua casa. Ele colhe os abacates em determinado momento, agrupa-os em um local do jardim com sol, e come-os quando amadurecem. Do ponto de vista do racionalismo antropomórfico, os animais sentem dor e demonstram sofrimento tanto físico quanto psicológico. A segunda pergunta - O uso de animais implica em sofrimento? Depende do uso. O uso de animais é aceitável eticamente? Depende da moral e ética de cada indivíduo. Por exemplo – o uso de vacas leiteiras criados em campo para extração de leite basicamente não implica em sofrimento para o animal, acredita. Alguém que defende radicalmente os direitos animais pode dizer que nenhum ser humano tem o direito de usar qualquer animal em benefício próprio – o animal tem a sua vida e o direito de decidir sobre o seu destino independentemente. Alguém que sustente uma visão mais produtivista do assunto diria que o sofrimento animal não importa, confinando o animal e achando que produzirá mais leite (neste momento ele afirma que isso é um engano, pois ele não produzirá mais leite). O debate sobre o bem-estar animal começou de fora para dentro – não foi o cientista, o produtor de ovos e leite ou o médico que começaram com estes questionamentos, foi a sociedade. Estes questionamentos sempre vem de fora para dentro. Apresentou 3 teorias básicas, a saber: Produtivista – O resultado econômico é o que importa, e isso justifica o sofrimento ou a argumentação de que o animal não sofre. Utilitarianista – Os benefícios devem ser superiores aos prejuízos. O cuidado com o bem estar animal não pode resultar, por exemplo, em queda da lucratividade, e que o uso de animais e algum sofrimento é justificável se os benefícios são maiores que os danos. Direitos Animais – estes direitos devem ser análogos aos do homem. Esta teoria defende que os animais não podem ser utilizados como meios, pois eles tem o direito de decidir sobre suas próprias vidas. Geralmente que defende esta teoria é adepto ao vegetarianismo. A terceira pergunta é: é necessário o uso de animais? Ele afirma que a indução de dor desnecessária ou calculada é eticamente reprovável – não há justificativa para isso. Mas esta pergunta deve passar por reflexões O resultado da pesquisa médica com animais resulta num maior bem-estar humano?

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Ele cita os resultados da pesquisa com mapeamento genético, onde várias doenças (mal de Alzheimer, calvície, câncer de cérebro, asma, envelhecimento precoce, etc.) estão patenteadas por indústrias farmacêuticas, universidades, etc. Ou seja, existe um interesse maior por detrás de toda esta pesquisa. “Enquanto isso, triplica a fome no mundo e o número de pobres, segundo a ONU”, questiona. Ele reflete: “Assim como na experimentação animal, eu ouvia na agronomia que era preciso produzir para alimentar o mundo, e que isso justificava envenenar o meio ambiente, impor tecnologias que os agricultores acabavam por perder suas terras devido ao endividamento, e tudo isso para acabar com a fome no mundo!”. Segundo a FAU, de 1980 à 1995, a população humana no globo aumentou em 25%. No mesmo período, a produção de alimentos aumentou 30%. Ou seja, a produção de alimentos aumentou mais que a população humana e os resultados são estes – o aumento do número de pobres no mundo. Quem se beneficia com isso tudo? Provavelmente não é a maioria da sociedade humana. Apesar de tudo, nossa decisão pertence somente à nós,... além, é claro, da legislação, que é uma imposição da sociedade para quem faz pesquisa (ela vem de fora para dentro – não foram os cientistas que criaram a legislação). Conclui que não há neutralidade científica, que a adesão a princípios éticos não compromete o uso de métodos e critérios científicos rigorosos. Isso é uma falácia que tentaram nos impor aqueles que advogam uma a-criticidade com relação ao uso da ciência. Todo cientista, como qualquer ser-humano, tem uma responsabilidade social e ética com seu trabalho. “Quando a bomba explodiu, abrindo o universo e revelou a perspectiva do infinitamente extraordinário, também revelou o fato mais antigo, mais simples, mais comum, mais negligenciado e mais importante de que cada homem é eternamente acima de tudo responsável por sua própria alma”, cita de um cientista. Gilberto Galego cita que durante anos as pesquisas que se utilizaram de modelos animais não foram discutidas porque os resultados desta pesquisa tinham um alto impacto social. Exemplos: vacina rubéola, varicela, caxumba, etc. Quem de vocês até hoje não foi vacinado quando criança? A Comissão de Pesquisa e Ética em Saúde – credenciada junto ao Conselho Nacional de Ética na Pesquisa do Ministério da Saúde - foi criada objetivando estabelecer normas referentes à utilização de animais em projetos de pesquisa submetidos à apreciação desta mesma comissão, que dispõe de critérios. Por exemplo, “A utilização de animais em pesquisa científica deve ocorrer somente após ser provada sua relevância para o avanço do conhecimento científico – considerando-se a impossibilidade de métodos alternativos como modelos matemáticos, simulação computadorizada, sistemas biológicos in vitro ou outro modelo adequado. A espécie a ser utilizada e o cálculo do tamanho amostral devem ser adequados para a obtenção de resultados válidos. Deve ser oferecido alojamento, transporte, alimentação e cuidados adequados à espécie através de assistência qualificada. Procedimentos que possam causar dor ou angústia devem ser desenvolvidos com sedação, analgesia ou anestesia. Quando for necessário ao estudo, ou após o mesmo, se indicado que os animais devam ser sacrificados, esse procedimento deve ser realizado de forma rápida, indolor e irreversível”. O grupo de pesquisa do qual Gilberto faz parte segue estes critérios. Ele lamenta que os órgãos e tecidos são estruturas tão complexas e bem construídas que nenhum cientista conseguiu até hoje conseguiu inventar até hoje alguma máquina ou estrutura semelhante para que possamos fazer pesquisa ou até mesmo para que possamos fazer docência. Segundo Gilberto, sua equipe procura substituir os animais de experimentação para a docência para que possam treinar bem seus alunos para a prática cirúrgica, mas infelizmente não existe nenhum material não-vivo que possa substituir um tecido vivo, acredita. Eles tem aprovado pelo FUNGRAD um projeto para aquisição de modelos experimentais para a redução do número de animais que utilizam na docência. Infelizmente nem aqui nesta escola nem em qualquer outra do mundo, por mais desenvolvido que seja o país, se consegue ensinar cirurgia ou manuseio de tecidos vivos sem a presença destes. “Deus foi o único que conseguiu criar um tecido ou um órgão ou uma estrutura tão bem feita até hoje”, afirma. Ele teve a oportunidade de conhecer um padre reitor da Universidade de Paul e consultor para pesquisa junto à NASA, John Mainghi, que participou de um evento internacional de pesquisa e medicina, numa mesa exclusiva para o debate de ética em pesquisa. Nessa ocasião perguntou à ele o que ele pensava sobre a pesquisa com animais, e ele respondeu com 3 visões: como reitor ele deveria autorizar as pesquisas; como consultor, deveria viabilizar as pesquisas, e como padre, deveria vigiar as pesquisas. Ele finaliza lendo o artigo 2o do COBEA: “O experimentador é moralmente responsável por suas escolhas e por seus atos na experimentação animal”. Ele está ciente disso quando faz pesquisa ou quando utiliza animais para a docência. O debate seguiu com vários depoimentos, dos mais expositivos aos mais arrogantes, passando por momentos de emoção e raiva. Para quem tem interesse no assunto, vale a pena conferir a gravação em K7 deste debate – são 3 horas e 40 minutos! Quem quiser tê-lo na íntegra, e tiver a paciência de escutar tudo o que foi falado, entre em contato com a Rede. COMENTÁRIOS

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Gostaria de levantar algumas considerações sobre este tema que foram referidos no debate de forma que me pareceram inconclusivas e passíveis de contra-argumentação: 1) Uma das considerações importantes que devem ser analisadas para se verificar o sucesso de uma intervenção cirúrgica é a recuperação do paciente, levantada pelo professor Luiz Carlos Pinheiro Filho. A técnica em si é importante, mas ela inevitavelmente depende da observação pós-operatória do paciente, que dirá se a técnica foi bem aplicada ou não. O que dizer dos animais que, após sofrerem intervenção na Técnica Operatória, são mortos? Como avaliar o sucesso da intervenção? 2) O professor d’Acâmpora afirmou, em sua fala inicial, que um dos objetivos da técnica operatória era o de ensinar ao aluno como se comportar frente a um paciente real antes, durante e após a cirurgia. O detalhe é que o “paciente real”, na maioria das vezes, acaba morto. Na universidade de Miami, EUA, em 98 houve uma campanha que, por ironia do destino, se chamava “Save your First Patient” (Salve seu primeiro paciente) – parece bastante familiar, não? Hoje, a universidade de Miami não utiliza mais animais na educação médica. 3) Realmente o estudante deve ter contato com tecido vivo, e todas situações cirúrgicas que possam decorrer deste tipo de recurso. Muitos recursos didáticos alternativos a utilização de animais não oferecem este tipo de informação. Um depoimento de uma estudante de medicina sobre a carência de conhecimento prático observado em estudantes intercambistas também foi importante neste sentido. Mas é importante salientar algumas considerações sobre esses fatos: - Nas universidades em que as práticas com animais foram abolidas, foi devido majoritariamente a ação dos próprios estudantes de medicina, que não concordavam com este tipo de didática. Em outras universidades dos Estados Unidos, a utilização de animais se tornou optativa – a própria American Medical Student Association garante aos estudantes de medicina a não obrigatoriedade à estas práticas, e exige-se da universidade que se apliquem técnicas alternativas à estes alunos que se recusam a participar de tais aulas (ver anexo) - Os estudantes devem ter contato com material vivo, mas humano, e não animal. Estas universidades que optaram por não utilizarem animais na formação dos médicos, adotaram a seguinte alternativa. O estudante de medicina tem um período de residência maior que o usual. Neste período, realizado em hospitais ou pronto-socorros, o estudante vai tendo contato com a realidade destes estabelecimentos e inicialmente observando as cirurgias feitas em pacientes que realmente necessitam de cirurgia. Com o tempo, este estudante vai realizando intervenções cirúrgicas simples e gradualmente, mais complexas. Tudo isso sob a condição de estar sendo supervisionado severamente por um cirurgião responsável, que o orientará cuidadosamente. Além de ensinar ao estudante a técnica de cirurgias gradativamente, e em pacientes reais, o estudante tem contato com o paciente humano, e aprende também a lidar com os sentimentos que envolvem qualquer intervenção cirúrgica, como medo, insegurança, desconforto. Tudo isso possibilita a sensibilização do estudante diante de todo o quadro clínico que cerceia uma cirurgia. Este método, desenvolvido na universidade de Harvard, também possibilita a observação da recuperação do paciente. É importante salientar que estes pacientes não são cobaias, como procuram se defender retoricamente os que defendem a utilização de animais. Todo este procedimento é realizado com respeito a vida, e procurando ajudar o paciente – isto não é anti-ético. Todo este conhecimento é reforçado paralelamente com a utilização de métodos não-animais auxiliares de aprendizado, como a realidade virtual, microcirurgia em placentas, cultivo de tecidos e órgãos humanos, técnicas de imageamento não-invasivas, simulações em computadores, modelos matemáticos, maquetes humanas, estudos em cadáveres, etc. - Os entraves burocráticos não devem servir de pretexto para que a utilização de animais siga. O fato de que a Técnica Operatória é um pré-requisito para a residência em hospitais e pronto-socorros é um caso excepcional de universidades que acreditam que a utilização de animais é necessária. Tal situação pode ser facilmente contornada se chegar a conclusão de que estes métodos convencionais podem ser abandonados e substituídos. 4) A experimentação animal se dá em dois níveis – pesquisa e ensino. A intenção do debate não era discutir o papel da pesquisa para a medicina, e sim o papel da utilização de animais durante a formação do médico – um tema claro de educação. Porém, em muitas ocasiões, alguns estudantes de medicina, e mesmo os professores palestrantes, alegavam que a experimentação animal era importante para o progresso da medicina – citando exemplos para isso. Em paralelo à isso, houveram depoimentos e falações que também usavam exemplos de como a experimentação animal, à nível de pesquisa, não trazia benefícios à humanidade, causando sérios problemas à saúde humana. Atento que a utilização de animais na educação médica era o que estava sendo discutido – apesar de ser muito difícil não entrar nestes aspectos que acabam por complementar determinadas argumentações e levantar questionamentos acerca de determinada formas de pensamento. 5) Uma fala de uma estudante de Engenharia de Alimentos foi muito interessante e, com certa razão, apropriada. A condição social à que a maioria (a maioria!) dos estudantes de medicina estão sujeitos não propicia o questionamento. Isso é evidente e uma das características de pessoas provenientes destas posições sociais.

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6) Uma questão não foi respondida: como seria se os estudantes tivessem que levar os cães que moram em seus lares para aprenderem técnica cirúrgica? Essa questão é, na minha opinião, importante, uma vez que revela o caráter de propriedade e egoísmo que se tem diante da vida – valores que para um médico são contraditórios. 7) Muitos cirurgiões famosos passaram pela utilização de animais. Isso não significa necessariamente que cirurgiões que não passaram pela mesma didática não sejam um bons cirurgiões - isso é um fato, e não uma hipótese! 8) A questão do “currículo oculto” levantado pela professora Paula é muito importante. Através deste tipo de didática, muitas coisas são ensinadas além da técnica operatória em si. Valores pessoais do professor são transmitidos, além de uma carga pedagógica que cultiva a submissão, obediência e o não-questionamento. Valores estes que contribuem para a rigidez das condutas humanas (no sentido mais negativo possível) e para a estagnação de conceitos e idéias. Quem viu o vídeo contendo o depoimento dos estudantes de medicina também pode ter uma idéia do que se trata esta questão – a passividade e insensibilidade que determinadas ocasiões inesperadas são exigidas diante do sofrimento animal, quando este superficializa antes de uma dose de manutenção e fica de pé em uma mesa de cirurgia (relatado como “tragicômico” pelo estudante), ou quando os estudantes tem que ignorar os gritos de dor que este animal dá e continuar com a cirurgia (relatado como “angustiante” pela estudante). Bom, foram 4 longas horas de debate. Momentos de seriedade e emoção marcaram este debate através dos depoimentos oferecidos. Poder-se-ia dizer que o mais difícil tenha sido manter uma linearidade de argumentações, uma vez que o tema lida com aspectos inevitavelmente emocionais – afinal, tratam-se de vidas que sofrem, para aqueles(as) que defendem os direitos animais. Uma coisa fica clara: este é apenas o início. Esse foi o primeiro de uma série de debates que se sucederão. Das próximas vezes, espero que possamos contar com um número cada vez maior de pessoas preocupadas com este tipo de discussão. Thales Tréz

Vítimas da Ciência

Sacrifício de animais abre debate na Universidade

Por Elaine Tavares*

O envelope chegou sem eu saber como. Tinha o meu nome estampado.Dentro dele, um poema, fotos e uma denúncia: cachorros usados em aulas da medicina são mortos e viram lixo. As fotos revelavam os bichinhos, dentro de sacos pretos, jogados atrás do HU, junto com o lixo hospitalar. Um deles, com as patas e focinho amarrado, outro com a barriga cortada e suturada, outro, sujo de sangue, com uma expressão quase humana, na rigidez da morte. Junto das fotos a pergunta gritante: " Porque? Seres vivos viram lixo. Como tudo o que consumimos e descartamos. Queria entender como alguém consegue sair de uma aula assim, e almoçar, namorar. Isso me dá medo e me entristece. É como se fosse uma guerra covarde em que de um lado está o homem com suas máscaras, seus equipamentos, sua ciência e do outro seres indefesos, ora presos e vivos, ora mortos e lixo". Impossível ficar impassível diante das fotos. O melhor amigo do homem e sua doçura, seu companheirismo. O melhor amigo do homem que beija a mão de quem lhe bate e olha para o dono com olhos leais. Volta a cena uma briga nova: os direitos dos animais. Até onde o homem tem direito de dispor da vida de outro ser, ainda que diferente de si? Qual é o limite? Só o próprio humano pode estabelecer. Por isso é hora de discutir mais, refletir, encontrar caminhos. Chocada com as fotos fui onde deveria ir. Na sala da disciplina de Técnicas Operatório, aos fundos do HU. Lá, o professor Armando d'Acâmpora, responsável pela cadeira, conta que realmente a disciplina depende destes animais para acontecer. "Como vou treinar um cirurgião sem que ele aprenda a manusear tecidos vivos?", pergunta. Segundo ele é impossível ensinar o manejo do bisturi e todas as técnicas cirúrgicas através de realidade virtual ou programas de computador. "Tu entregarias a tua mãe para ser operada por um cirurgião treinado na realidade virtual?", provoca. o professor Armando explica que os alunos passam por várias etapas de treinamento. Primeiro com laranjas, luvas de borracha e só depois de muito treino, começam a trabalhar com animais. "Os erros técnicos não podem ser cometidos nos seres humanos. O treinamento tem que ser assim. Mas tudo é feito dentro de conceitos éticos universais. Nenhum animal passa por qualquer sofrimento. Eles são anestesiados e depois do trabalho são submetidos a eutanásia. Tudo sem sofrimento ou dor". Durante um semestre são aproximadamente 300 cachorros que passam pelas mãos dos alunos da medicina. São cães de rua da cidade de Curitiba, comprados especialmente para servirem de cobaias. Destes, 50% permanecem vivos, desde que estejam servindo a alguma experiência. Os demais viram lixo. "Mas eles vão acondicionados em sacos especiais, são lixo hospitalar", argumenta o professor. "Não temos condições de sepultar os animais. Se fosse assim, quando um médico amputa uma perna, também deveria sepultá-la?". Sobre manter vivos os cachorros, Armando diz ser impossível. "Pra teres uma idéia, qualquer pesquisa aqui tem que ser mantida com dinheiro do próprio

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pesquisador. Não há dinheiro para cuidar destes animais. Para tê-los já gastamos 500 reais por animal. Mantê-los seria inviável". O estudante Huang Hee Lee, da 11º fase, acredita que as pessoas não devem olhar radicalmente para um lado só. Há que ver os dois lados. Para ele, o trabalho com os animais é uma maneira de garantir uma ação mais eficaz no trato com o humano. Huang Lee não acha que este tipo de prática torne o médico mais frio diante da vida, ao contrário, "dá mais equilíbrio". Ele defende o uso dos animais porque "não há outro jeito e usá-los como experimentação faz com que a probabilidade de erro num corpo humano seja bem menor". A professora do Departamento de Ecologia e Zoologia , Paula Brugger, diz que não tem dúvida de que todos os procedimentos éticos são utilizados no trato com os animais dentro da UFSC. Mas para ela, é necessário transcender a esta ética. "O que acontece é que a nossa cultura legitimou separar o homem da natureza, considerando os demais seres vivos como objetos a seu serviço, meros recursos, prontos para o uso. Isso tem que mudar. Se a gente se horrorizar diante destas práticas, as alternativas surgem", argumenta. Ela lembra que existem culturas chamadas de primitivas que vêm os animais como seres sagrados, tão sagrados como a vida humana. "E eles são os primitivos", ironiza.A questão talvez seja abrir o debate, mudar a visão de mundo. Encontrar um ser humano integrado à natureza, que entenda que não só é parte da natureza, como é a própria natureza. Um só corpo, vibrando. Planeta Terra, Universo, uma coisa só. Olhar o mun do assim nos faz ínfimos, insignificantes e, ao mesmo tempo, sagrados, tal qual qualquer outra forma de vida. Que venha um tempo em que a vida não seja mais lixo. Que venha... * Elaine Tavares é jornalista da Agecom/UFSCArtigo Publicado no Jornal UniversitárioSaiba mais pelo link: www.geocities.com/RainForest/Vines/5011/vivisseccao.html

UFSC pode alterar uso de animais em pesquisa Procurador da Republica recomenda a normalização na pratica da vivissecção

MARCO AURÉLIO SILVA - Diário CatarinenseFLORIANÓPOLIS

O procurador da Republica Marco Aurélio Dutra Aydos encaminhou a reitoria Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) uma recomendação para que seja normatizada a prática da vivissecção, a utilização de animais em experiências cientificas.Depois de ter ouvido os responsáveis pelo procedimento na UFSC, Aydos determinou que a própria universidade deve controlar a vivissecção, estabelecendo normas que não firam as leis queversam sobre o assunto. Uma das recomendações e a não utilização de animais domésticos nas experiências. A disciplina de Técnica Operatória da Medicina utiliza cachorros na simulação decirurgias.

O procurador entendeu a posição do professor Armando d'Acâmpora, do Laboratório de Técnica Cirúrgica da UFSC, que considera imprescindível a utilização dos animais na formação dosfuturos médicos. Mas entende que a concepção, em que o mundo e um objeto para uso e disposição do homem, na busca pelo progresso da ciência, faz parte do século 19. "O homem não e mais dono e senhor de todas as formas de vida. Privilegia-se agora uma concepção de convivência harmonica entre as espécies habitantes do planeta", acredita Aydos. Os casos de sacrifício do animal, depois do processo de vivissecção, como acontece na UFSC, devem se tornar a exceção e não a regra.

Baseado na situação que encontrou na universidade Marco Aurélio Dutra Aydos encaminhou ao reitor Rodolfo Pinto da Luz uma serie de recomendações para que, em 90 dias, providenciassejam tomadas sobre a pratica da vivissecção. A universidade deverá proibir que os animais utilizados na pesquisa não venham de prefeituras, já que está se vinculando o ensino as medidas de ordem sanitária para a redução de animais nas ruas. Os 200 cães utilizados em cada semestre na Medicina são comprados das prefeituras de Curitiba (PR) e Itapema, no litoral Norte catarinense, possuidoras do sistema da carrocinha. Outras determinações são a proibição da vivissecção com animais domésticos, como cães e gatos, que possuem convívio maior com a espécie humana e, assim como o homem, não tem como finalidade servir de alimento e não são predadores, sujeitos a extermínio por medidas sanitárias.

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A utilização de cães só devera ser mantida em algumas raças que têm semelhança fisiológica com o homem, em casos restritos. Mesmo assim, os animais utilizados serão criados pelo Bioterio Central da UFSC, que tem agora 180 dias para se adaptar as novas exigências. As aulas em que a vivissecção e praticada devera ser acompanhada por medico veterinário que vai garantir os preceitos da legislação. E, ao final dos procedimentos, deverão ser esgotadas todas as possibilidades de restauração da vida do animal. Ou seja, o sacrifício será permitido apenas em ultimo caso e sob o aval de um técnico responsável.

http://www.arcabrasil.org.br/uso_animais.htm

CAMPANHA ENSINO SEM DOR Materiais AlternativosPerda da Qualidade de Ensino?Resistência ao NovoRelação entre o custo e o benefício dos métodos alternativosFinanciamento para PesquisaLegislação Brasileira e Objeção de ConsciênciaQuestionário Medicina VeterináriaQuestionário BiologiaNo Brasil, os cursos de medicina, medicina veterinária, biologia, psicologia, odontologia, dentre outros possuem aulas práticas onde são utilizados animais vivos (vivissecção) - ou mortos especificamente para fins didáticos. Na Europa e Estados Unidos da América, muitas faculdades não utilizam animais, nem mesmo nas matérias prática como técnica cirúrgica e cirurgia, oferecendo substitutivos em todos os setores. Somente nos EUA, mais de 100 escolas de medicina (quase 70%) incluindo Harvard, Columbia, Standford e Yale, não mais utilizam animais. Na prestigiada Harvard Medical School, de acordo com o Dr. Michael D’Ambra, anestesiologista cardíaco que dirige o programa de Harvard, onde não mais se utiliza cães ou quaisquer animais, "A única coisa que um estudante pode fazer num cão de laboratório e que nós não ensinamos como fazer numa sala de cirurgia é matar o cão". Em toda a Inglaterra e Alemanha, a utilização de animais na educação médica foi abolida. Também o está sendo em países da América Latina, como a Argentina. Em março de 2001, a Western University of Health Sciences na Califórnia, anunciou a aprovação da construção de sua primeira escola de medicina veterinária onde não serão utilizados animais nas aulas (será a primeira nova escola de medicina veterinária dos EUA nos últimos 20 anos). No Brasil, a Faculdade de Medicina Veterinária da USP já não utiliza animais vivos em suas aulas de técnica cirúrgica. Em vez disso, utiliza cadáveres, especialmente preparados, de animais que tiveram morte natural em clínicas e hospitais veterinários. E os alunos também praticam cirurgias de castração em cães e gatos levados pelos proprietários. De 2000 a 2001, mais de um terço da universidades italianas abandonaram a utilização de animais para fins didáticos. Professores de faculdades de farmácia, como a de Pavia, e de veterinária, como as de Pisa, Parma, Messina, Milano, Padova e Teramo, já declararam a validade ou mesmo a possibilidade de utilizarem métodos alternativos no ensino. Mais e mais estudantes, em todo o mundo, estão alegando "objeção de consciência" e muitos dele já se formam sem utilizar a vivissecção; ao invés disso, aprendem auxiliando cirurgiões experientes. Na Grã-Bretanha, é contra a lei estudantes de medicina praticarem cirurgia em animais, e médicos britânicos são tão competentes quanto aqueles educados em qualquer outro lugar.Materiais AlternativosHoje, já há milhares de recursos que substituem o uso didático de animais nas salas de aula. Para as matérias básicas de fisiologia, farmacologia e toxicologia existem substitutivos para todos os temas não sendo necessária a utilização de animais. Os recursos substitutivos envolvem modelos e manequins simuladores, filmes e videotapes interativos, simulação computadorizada e realidade virtual; auto-experimentação e estudo em humanos; uso responsável de animais; estudos in vitro e experimentos com plantas e observação e estudo em campo. Os cadáveres de animais que morrem naturalmente nos hospitais universitários, abrigos ou clínicas veterinárias e são utilizados em aulas de anatomia, patologia, parasitologia, técnica cirúrgica entre outras, são exemplos de recursos didáticos substitutivos, bem como a prática cirúrgica de castração em cães e gatos de entidades de proteção animal que são posteriormente doados.Perda da Qualidade de Ensino?Existem dados comprovando que os alunos que aprendem farmacologia, fisiologia e toxicologia sem ferir animais, têm desempenho tão bom nas clínicas e nas provas quanto os alunos que aprendem com o uso de animais. As vantagens pedagógicas específicas no uso dessas alternativas são muitas: elas são práticas, permitem que os alunos as utilizem no seu próprio ritmo sem o estresse do exercício com os animais vivos. Os alunos podem treinar fora das

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aulas, não precisam ficar presos naquela aula específica, podem fazer mais repetições e variações, o que não é possível nas aulas tradicionais. Os alunos podem se concentrar nos princípios que estão tentando aprender. No ensino que envolve habilidades manipulativas ou psicomotoras, há muitas alternativas como por exemplo a venopunção e cateterização em modelos, pranchas para treinar a realização de nós e suturas que podem ser realizadas nas aulas práticas e nas horas vagas dos alunos. Procedimentos ortopédicos também podem ser ensinados sem utilizar animais vivos por meio de diferentes modelos de osso ou ossos artificiais. Simuladores podem ser usados para o ensino de entubação e ressuscitação cardiopulmonar sem causar dor ao animal. Os alunos aprendem sua primeira intervenção cirúrgica em cadáveres, abordagem e técnicas e depois disso podem aplicar as técnicas em animais vivos que irão sobreviver à cirurgia.Há alguns estudos que foram feitos avaliando a eficácia de métodos tradicionais e métodos alternativos e nesses estudos foi demonstrado que em todos os casos, os alunos que estudaram cirurgia em métodos alternativos tornaram-se tão competentes e hábeis quanto aqueles que aprenderam em métodos tradicionais. Resistência ao NovoA resistência existe não só por parte dos professores como também dos alunos. Porém, os alunos se inspiram e sofrem influência do sistema de ensino ao qual estão inseridos e de onde recebem o conhecimento. Logo, uma atitude coerente e firme dos professores e diretores irá influenciar esses alunos.Entretanto, o desenvolvimento de alternativas para o uso de animais, ligado ao bem-estar animal, tanto no ensino como na experimentação, já faz parte da realidade brasileira. Basta tomar como exemplo o último Exame Nacional de Cursos (Provão) que incluiu em seu programa de prova, para os alunos das faculdades de medicina veterinária do país, o assunto Bem-Estar Animal. No exame, houve uma questão sobre bem-estar animal (experimentação) e o assunto foi mencionado em outra (produção animal). Isso significa que o MEC vem reconhecendo a importância do assunto.Relação entre o custo e o benefício dos métodos alternativosDefende-se a utilização de animais no ensino baseando-se nas vantagens econômicas do seu custo sobre as alternativas. Ao contrário, o uso de animais implica gastos com alimentação, medicação, instalações, pessoal especializado (técnicos e veterinários) ao mesmo tempo que a maior parte dos materiais alternativos possuem um tempo de vida indeterminado. Há, atualmente, alternativas com os preços mais variáveis, algumas praticamente sem custo ou com custo bem baixo. Outras, como alguns programas de computador para as aulas de fisiologia, toxicologia e farmacologia e que já são utilizados há alguns anos em algumas faculdades do Brasil, possuem um preço acessível. Quanto às alternativas mais caras, como alguns manequins importados, podem tornar-se mais baratos à medida que forem fabricados por empresas brasileiras. Além disso, muitos outros aspectos da substituição são economicamente vantajosos, como por exemplo, quando utiliza-se cadáveres no ensino, doados com consentimento por clínicas veterinárias sem os riscos das zoonoses.Financiamento para a pesquisaDe modo crescente, os institutos de apoio à pesquisa analisam ou levam em consideração a existência de comitês de ética e a maneira como os animais são utilizados.Legislação Brasileira e Objeção de ConsciênciaMais e mais estudantes, em todo o mundo, estão alegando "objeção de consciência" e muitos deles já se formam sem utilizar a vivissecção. No Brasil, também já existem estudantes que se recusam a praticar a vivissecção alegando objeção de consciência, protegidos pela Constituição do Brasil, na parte dos Direitos e Garantias Fundamentais – cap. I Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, art. 5o, II, III, VI, respectivamente (Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei, -- Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; - É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias). E na lei 6.638, de 8 de maio de 1979 – Estabelece normas para a prática didático – científica da vivissecção de animais e determina outras providências. Complementada pela lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Meio ambiente e ecologia) – Dos crimes contra o meio ambiente – Seção I – Dos crimes contra a fauna art. 32 parágrafo 1o e 2o , principalmente em seu parágrafo 1o que diz: Incorre nas mesmas penas ( detenção de 3 meses a um ano, e multa) quem realiza experiências dolorosas ou cruéis em animais vivos, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. Os alunos das áreas de medicina, medicina veterinária, biologia, dentre outras, podem se informar no início de cada ano / semestre, sobre o conteúdo das aulas práticas / demonstrativas e quais utilizarão animais. Tanto professores como alunos podem, juntos, redesenhar as aulas sem prejudicar o aprendizado e a formação profissional, utilizando métodos alternativos.

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MALTRATAR ANIMAIS É CRIME !!!!!!Este cão foi "pintado" com piche, quente naturalmente, e abandonado numa rodovia próxima a Porto Alegre.Quando encontrado, estava quase completamente sem movimentos e já apresentava outros comprometimentos físicos e fisiológicos graves. Confiado ao IMEPA, conseguimos recuperá-lo. Hoje, apesar de ter ficado com sequelas, leva vida normal. Como, em razão das sequelas, não pode ser oferecido à adoção, é o mascote do Instituto. Chama-se EDU. Esta foto foi tirada logo após seu recolhimento e bem revela o sofrimento do animal e a perversidade de quem o agrediu .

MAUS TRATOS E CRUELDADE CONTRA ANIMAIS NOS CENTROS DE CONTROLE DE ZOONOSES: ASPECTOS JURÍDICOS E LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PUBLICO PARA PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA Luciano Rocha Santana Promotor de Justiça do Meio Ambiente Marcone Rodrigues Marques Estagiário do Ministério Público Este artigo originou-se no Inquérito Civil nº 025/98, instaurado pelo Ministério Público do Estado da Bahia, através da Primeira Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Salvador, para apurar denúncia das associações protetoras dos animais a respeito dos maus tratos e sacrifício sistemático e indiscriminado de cães realizado pelo Centro de Controle de Zoonoses da Secretaria de Saúde do Município do Salvador – CCZ/SMS, veiculada pelos periódicos A Tarde e Tribuna da Bahia. I. Introdução Um problema atual que vem requisitando a atenção dos operadores do Direito faz referência aos milhares de animais sacrificados todos os anos no mundo, sob a justificativa de erradicar determinadas zoonoses, doenças como a raiva, a sarna, a leishmaniose, a leptospirose etc. No Brasil, em particular, as autoridades sanitárias estão alarmadas com o crescente número de animais abandonados, em especial, os cães que perambulam nas ruas das grandes cidades. O Centro de Controle de Zoonoses de Salvador, por exemplo, promove por mês milhares de apreensões de cães e gatos. Segundo estimativa da Secretaria Municipal de Saúde, a população canina que circula solta pelas ruas desse município e que pode transmitir doenças, deve chegar ao expressivo número de trinta mil animais somente nessa Capital. Estes números crescem no período do Natal e das férias escolares, quando muitos animais são simplesmente abandonados ou entregues por seus proprietários diretamente ao órgão municipal responsável pelo controle de zoonoses. Este fenômeno da procriação desordenada, com aumento do número de animais abandonados, é conseqüência da ignorância e falta de responsabilidade da população em relação ao problema, da omissão das autoridades e má distribuição dos recursos públicos necessários ao tratamento específico dos animais, além da verticalização da cidade, pois a grande maioria dos condomínios de apartamentos não permite a presença de cães e gatos. Esse quadro se agrava a cada dia, pois são milhares de cadelas e gatas parindo, aproximadamente, a cada três meses de gestação, dificultando o controle, porquanto o aumento da procriação, na população abandonada destes animais, é grande e acelerado, situação esta que se agrava com a ausência de uma política pública adequada para a administração do problema, vez que, atualmente, o Poder Público gasta consideráveis somas de recursos para sacrificar cães e gatos errantes, que, soltos nas vias públicas, estão sujeitos a contrair doenças, serem atropelados ou invariavelmente estão expostos a maus tratos. De igual sorte, se observa, com o surgimento dos movimentos pró meio ambiente, principalmente nas últimas décadas do século passado, a consolidação do entendimento de que os animais devem ser protegidos. Essa tomada de consciência permitiu o surgimento, no campo da Ciência do Direito, de uma legislação específica, no sentido de coibir maus tratos aos animais. A Declaração Universal dos Direitos dos Animais, da UNESCO, celebrada na Bélgica em 1978, e subscrita pelo Brasil, é um exemplo, a qual elenca entre os direitos dos animais o de ”não ser submetido a sofrimentos físicos ou comportamentos antinaturais". Nesse sentido, a Humanidade tem se sensibilizado contra ações que importem em maus tratos e crueldade contra os animais, procurando, em diversas partes do mundo, promulgar e implementar normas que garantam o respeito à vida, ao bem estar e à dignidade destes seres vivos, com a proibição de atos que impinjam aos animais desnecessários sofrimentos.

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Movimentos, campanhas e até ações judiciais com a ampla repercussão da temática ambiental na mídia como um todo e o trabalho de educação ambiental promovido por diversas entidades ambientalistas, políticas e jurídicas, dentre elas o Ministério Público, acompanharam essa conscientização ambiental. No entanto, o problema dos maus tratos contra os animais persiste e, mais, em nosso país, tal violência se encontra institucionalizada, haja vista a política de saúde ultrapassada e não humanitária amplamente adotada pelo Poder Público para conter a população de animais errantes, através de seu sacrifício sistemático e indiscriminado, política pública esta cruel e que não se mostra eficaz sequer ao seu motivo justificador que seria o de controlar as zoonoses.

II. Os Centros de Controle de Zoonoses – CCZ’s 1. A Realidade nos CCZ’s Os grandes centros urbanos vivem hoje as conseqüências da superpopulação de animais errantes e é nessa conjuntura que surgem os Centros de Controle de Zoonoses – CCZ’s, com os seus métodos, na maioria das vezes, “nazi-fascistas” de captura, confinamento e extermínio de cães e gatos, após dias de constrangimento em irritantes e exacerbadas situações de cativeiro em cubículos fétidos e imundos, sem comida e sem qualquer avaliação médico-sanitária, sofrendo maus tratos, violando a lei natural – física, química, biológica e psíquica -, da qual o animal é portador. Esses métodos de extermínio são divididos em físicos, como, por exemplo, tiro de pistola com êmbolo cativo, eletrocussão (causa a morte imediata por depressão do sistema nervoso central), câmara de descompressão rápida (câmara hermeticamente fechada em que o ar é retirado rapidamente, provocando a morte do animal) e químicos – aqueles onde se usam drogas inalantes ou não inalantes, como, por exemplo, monóxido de carbono produzido por motor a explosão de gasolina e filtrado em tanque de água, éter e clorofórmio em câmara de vapor, dióxido de carbono, nitrogênio (estes inalantes), pentobarbital sódico (provoca parada cardíaca e respiratória), thionembutal (via endovenosa), acepromazina (produz narcose), cloreto de Potássio, sulfato de magnésio (estes não inalantes). É também, nesse contexto, que a sociedade questiona, em nome do direito à vida e ao bem estar dos animais e em favor da decência humana e do respeito entre todas as espécies, a razão do sacrifício sistemático e indiscriminado de cães errantes nos CCZ’s e sua real eficácia em relação ao controle das zoonoses, e qual deve ser o papel desempenhado pelo Ministério Público nessa conjuntura. Os CCZ’s deveriam fiscalizar e garantir a saúde e o bem estar dos animais e estimular a fiel aplicação dos preceitos constitucionais e legais que preconizam a posse responsável destes seres vivos por seus proprietários, contudo, são os primeiros a violarem a norma legal e darem maus exemplos, estimulando a impunidade e a barbárie, ao pôr em prática, em relação aos animais que captura, mantém em confinamento e extermina, procedimentos e atitudes que afrontam diversos diplomas normativos, a Constituição da República e a legislação infraconstitucional. Em verdade, os CCZ’s, responsáveis pela captura de animais soltos nas ruas, atualmente, em virtude das políticas administrativas adotadas, não possuem infra-estrutura nem pessoal qualificado suficiente sequer para atender as solicitações da comunidade; não existem, por exemplo, como no Município do Salvador, critérios para separação dos animais apreendidos, pois cães sadios são confinados com doentes, animais grandes com pequenos, cães de guarda com cães de companhia, sendo que o único critério adotado para a separação dos cães é o local da cidade (ou bairro) onde foram apreendidos. Tal modus operandi, em vez de conter os casos de zoonoses, acabam por transformar estes centros em verdadeiros difusores destas doenças. O sacrifício sistemático de cães e gatos, por meio de injeções letais, câmara de gás, câmara de compressão a vácuo, espancamentos etc. - métodos considerados não humanitários -, ocorre há mais de 20 (vinte) anos nos CCZ’s das grandes cidades. Enquanto não se enfrentar as reais causas da superpopulação animal, oriunda de uma procriação descontrolada de cães e gatos, a Administração Pública continuará matando diariamente milhares de animais, que são entregues pelos próprios proprietários ou apreendidos pela carrocinha. Nota-se o descaso da Administração Pública, no que tange à situação dos animais de rua, não havendo demonstração de interesse político na solução deste grave problema. Pelo contrário, constata-se a elaboração e implementação efetiva de métodos cruéis e desumanos de controle de zoonoses, através da eliminação sistemática e indiscriminada de animais errantes e mesmo domiciliados, sendo a sua grande maioria cães. Talvez, esse descaso das autoridades se justifique pelo fato de que a maioria dos cães apreendida pertence a comunidades carentes. Não se pode deixar de constatar que se trata de um problema de natureza nitidamente social e cultural. Voltando à realidade atroz do CCZ de Salvador, em relatórios por ele apresentados, verifica-se a enorme quantidade de animais sacrificados no curto período de apenas 03 (três) anos, perfazendo um total aproximado de 7.484 (sete

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mil, quatrocentos e oitenta e quatro) cães e gatos, contudo, sem que a raiva deixe de ser uma realidade nesta cidade, demonstrando o criminoso equívoco desta “política de saúde pública” e a péssima atuação do órgão municipal encarregado de executá-la. Segundo laudo técnico da Fundação José Silveira, requerido pelo Ministério Público do Estado da Bahia, o sacrifício sistemático e indiscriminado dos animais, posto em prática pelo CCZ, é feito com sofrimento e dor física destes seres vivos, pois o cloridrato de xylasina, utilizado por ocasião do sacrifício dos animais, não tem qualquer efeito anestésico, deixando o animal consciente por ocasião da aplicação da injeção letal de cloreto de potássio. Agregue-se a esta política equivocada de extermínio, as denúncias comprovadas de maus tratos e abusos praticados no CCZ por ocasião da captura e do confinamento destes animais. Os responsáveis pelo CCZ da Cidade do Salvador justificam o sacrifício sistemático de cães errantes no artigo 192, parágrafo 6º, da Lei Municipal 5.504, de 1º de março de 1999, que preceitua que “os animais apreendidos e não sacrificados como medida de prevenção e controle de zoonoses, poderão ser resgatados ou doados se, a critério da Autoridade Sanitária Municipal, não apresentarem perigo à saúde humana ou à de outros animais” (omissis) “§ 6º - a doação a terceiros só poderá ocorrer quando a raiva estiver devidamente controlada no Município do Salvador, ficando a regulamentação deste ato a critério da Secretaria Municipal de Saúde”. Todavia, este único dispositivo legal, invocado pelo CCZ para justificar o sacrifício de animais, mostra-se eivado de vício, pois, contraria a Constituição Federal e a outros dispositivos legais, além das recentes recomendações técnicas da Organização Mundial de Saúde - OMS. Ademais, evidencia-se a flagrante inconstitucionalidade deste dispositivo da Lei Municipal 5.504/99. Neste caso, o Município do Salvador legislou como se constituinte fosse, descaracterizando um preceito constitucional, pois a própria Carta Magna restringe à competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal legislar sobre a fauna; assim, o artigo 24 e o respectivo inciso VI, afirmam: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar sobre” (artigo 24): “florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição” (inciso VI). O escopo essencial e basilar de uma Constituição é a manutenção do Estado de Direito. De modo que, apenas e somente a Carta Maior distribui poderes e competências, sendo certo que todos os poderes são limitados, expressa ou implicitamente, pelas normas positivas da lei fundamental. Portanto, somente as leis que se conformarem com a Constituição Federal terão validade. Não justificando os métodos ora empregados pelos CCZ. 2. Ineficácia da Política de Extermínio. A política de captura e eliminação de animais errantes adotada pelos CCZ’s até os dias atuais, além de não controlar a população de cães e gatos, não é econômica, racional ou humanitária. Levando-se em consideração que uma fêmea canina pode gerar em alguns poucos anos milhares de descendentes, não é necessário um grande esforço intelectual para concluir que matar não oferece solução ao problema da superpopulação animal. O extermínio sistemático adotado pelos CCZ’s é irracional, cruel e indigno da condição de seres racionais, não sendo mais este método considerado eficaz ao controle das zoonoses. A meta principal e prioritária dos CCZ’s é erradicar as doenças infecciosas transmissíveis naturalmente entre animais vertebrados – zoonoses. Para alcançar esse fim, utilizam uma maneira simplista e nada humanitária, eliminando todo e qualquer animal encontrado nas ruas não reclamado por seu dono. Encontram-se, ainda, vinculados ao 6º Informe Técnico da Organização Mundial de Saúde – OMS, de 1973, em desuso na maior parte do mundo pela crueldade e falta de resultados satisfatórios; em síntese, esse informe determinava que os animais de ruas apreendidos e não reclamados em curto prazo de tempo deveriam ser sacrificados, buscando-se com tal medida erradicar algumas zoonoses. Além do informe citado, existe uma outra justificativa utilizada pelos CCZ’s para sacrificar animais sadios, afirmam, através de seu corpo técnico, que é impossível saber se um determinado animal está ou não infectado pelo vírus rábico, pois, no caso da raiva, não há possibilidade de diagnóstico em animais vivos, vez que o vírus rábico só é identificado após a morte do animal, por encontrar-se instalado dentro do cérebro, no encéfalo, mais precisamente, no Corno de Amon; assim, os CCZ’s racionalizam o sofrimento e o sacrifício de milhares de animais sadios. Terminam, destarte, por ignorar as novas recomendações feitas pela OMS, através do seu 8º Informe Técnico, no sentido de minimizar os danos e maus tratos aos cães errantes e/ou doentes, o qual aponta como o mais eficaz método de domínio das zoonoses o controle da reprodução dos animais, seja através de injeções de hormônios ou esterilização, seja através da restrição da liberdade de movimento das cadelas no cio, de modo que a captura e eliminação sistemática e indiscriminada de animais não são mais consideradas como métodos eficazes. Segundo este informe técnico, ainda que se possa obter apenas benefícios indiretos através da eliminação seletiva de cães não vacinados, que não estejam em conformidade com as normas de controle e costumam se amontoar nos restos de mercados, matadouros e fábricas de alimentos, a eliminação desses animais deve ser considerada somente se puder impedir que outros cães ocupem seu lugar ecológico

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Relatos de experiências similares em áreas de foco no México e Colômbia indicaram que a apreensão e eliminação de animais não preveniram novos focos da doença (raiva). Neste sentido, existem estudos científicos da Organização Mundial de Saúde que comprovam a ineficácia dos métodos arcaicos de sacrifício sistemático dos animais, pois estes não foram aptos a controlar a superpopulação de cães nem, por conseguinte, eliminaram a propagação da raiva, de forma definitiva, além dos enormes gastos que proporcionaram aos Estados. Em relação à prevenção da raiva, particularmente, a OMS recomenda o controle de natalidade de cães e gatos, controle ambiental e educação da comunidade. Por esse motivo, alguns países, como a França e a Itália, e cidades como a de Buenos Aires e Rosário, na Argentina, condenaram o sacrifício de animais errantes como política pública de saúde e passaram a adotar o método de controle da reprodução dos animais.

III. O Direito Comparado A Itália, através da Lei 281/1991, trouxe grande inovação à política de controle da população errante de animais domésticos ao abolir o triste e funesto serviço do "accalappiacani" (agente do serviço municipal encarregado da apreensão e extermínio de cães e gatos). Desde a promulgação dessa lei, não é mais permitido, em território italiano, a morte dos cães e gatos errantes. Com efeito, diz essa lei, em seu artigo 2°, § 2°, que os cães vagantes descobertos, capturados e abrigados nos canis municipais não poderão ser mortos; o § 3° afirma que os cães capturados ou provenientes dos canis municipais não podem ser destinados à experimentação, proibindo o envio dos animais abandonados à vivissecção. Ainda, o parágrafo § 5° do aludido artigo 2º da referida lei aduz que os cães de rua não tatuados capturados devem ser tatuados, assim como os cães recolhidos nos canis municipais e nos refúgios para cães; se não reclamados no prazo de sessenta dias, poderão ser cedidos a particulares (adoção) que dêem garantia de bom tratamento ou a associações protetoras, depois de prévio tratamento profilático contra a raiva, a equinococose e outras doenças transmissíveis. Percebe-se que o sacrifício sistemático de animais como método de controle de zoonoses foi erradicado desse país. A única forma admitida pela lei italiana para sacrifício de cães recolhidos nos canis municipais e nos refúgios para cães é através da eutanásia, por intervenção de médicos veterinários, e somente se os animais estiverem gravemente doentes, acometidos por doença incurável ou de comprovada periculosidade (artigo 2º, § 6º, da Lei 281/1991). Em relação à população errante de gatos, a lei italiana é ainda mais específica, vez que, em seu artigo 2º, § 7º, proíbe a quem quer que seja maltratar os gatos que vivem em liberdade e, segundo o seu parágrafo 8º, os gatos que vivem em liberdade, depois de serem esterilizados pela autoridade sanitária competente do local, serão readmitidos em seu grupo, somente sendo sacrificados quando acometidos por doença grave ou incurável (artigo 2º, § 9°). A lei francesa de n° 99-5, de 5 de janeiro de 1999, em seu artigo 8º, prevê de igual modo, a esterilização de animais, além de permitir expressamente a existência dos "gatos livres" ("chats libres"). De acordo com o referido artigo, o Prefeito pode, por meio de decisão de sua iniciativa ou por requisição de uma associação de proteção dos animais, proceder à captura de gatos não identificados, sem proprietário ou guardião, que vivam em grupo nos lugares públicos do município, a fim de providenciar sua esterilização e sua identificação, antes de os devolver aos mesmos lugares em que foram encontrados. Dessa forma, nesses países, a captura dos cães e gatos errantes é feita, não com o intuito de exterminá-los. Os cães capturados passam por um programa de esterilização e ficam esperando o resgate ou a adoção em canis municipais ou nos denominados refúgios para cães. A nível internacional, ainda podemos citar a experiência bem sucedida do Instituto de Salud Animal (IMUSA) da cidade de Rosário na Argentina, demonstrando que o atual posicionamento da OMS – controle da reprodução - é o mais viável ao controle das zoonoses transmitidas por animais domésticos. A adoção da esterilização e a educação comunitária permitiu que há mais de dezesseis anos não exista registros de nenhum caso de raiva na cidade de Rosário, além de permitir o controle da população de animais de rua e permitir o equilíbrio do meio ambiente, com respeito ao direito à vida e ao bem-estar do animal. O mesmo se pode dizer da recente promulgação da Ordenança 8876, de 12 de dezembro de 2000, do Município de Quilmes, Província de Buenos Aires, que, em seu artigo 1º, determina o seguinte: “Transfórmase la División Centro Antirrábico Municipal en Instituto Municipal de Sanidad Animal”. A referida ordenança pontifica, ainda, em seu artigo 2º, que o Município de Quilmes deve proteger a vida dos animais domésticos e prevenir atos de crueldade e maus tratos contra estes animais. Muda, assim, radicalmente o conceito do que se deve entender por política pública de promoção da saúde dos animais e de prevenção das zoonoses, ao prever como missões do referido instituto a esterilização em massa e a assistência médica integral dos animais domésticos, a implementação de campanhas

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educativas a toda população da necessidade da castração cirúrgica, do estímulo à adoção dos animais abandonados e do cuidado sanitário com seus animais domésticos (artigo 3º), ao tempo que promove a posse responsável, ao estabelecer penas de multa para os responsáveis por abandono, maus tratos e crueldade contra os animais domésticos (artigo 4º). Importantes iniciativas neste sentido também estão ocorrendo no Brasil, nos Municípios do Rio de Janeiro e em Guarujá – São Paulo. Ressalva-se a importância dessas experiências pelo fato de estarem acontecendo em países do cone sul americano, do dito bloco do terceiro mundo.

IV. O Direito Nacional 1. Tendência Legislativa Atualmente a evolução da legislação protetiva dos animais domésticos tem sido em relação à esterilização e à posse responsável. Tem-se a Constituição Federal, em seu artigo 225, § 1º, VII, tratando do meio ambiente; o Código Civil, em seus arts. 47 (por interpretação), 588, § 2º, 594 a 598, 1.416 a 1.423 e 1.527; o Decreto Federal 24.645, de 10 de julho de 1934, estabelecendo medidas de proteção aos animais; a Lei 5.197, de 3 de janeiro de 1967, alterada pela Lei 7.653, de 12 de fevereiro de 1988 - Lei de Proteção à Fauna; a Lei 6.638, de 8 de maio de 1979 - Lei da Vivissecção; a Lei 7.173, de 14 de dezembro de 1983 - Lei dos Zoológicos; a Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 - Lei de Crimes Ambientais. A Constituição da República prevê, expressamente, que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e as futuras gerações” (artigo 225), dando a incumbência, entre outros, ao Poder Público, de “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade” (inciso VII). Portanto, dentre a variegada gama de interesses relativos ao meio ambiente, destaca-se a defesa da fauna, que abrange, inclusive, os animais domésticos ou domesticados. O meio ambiente “tendo em vista o seu uso coletivo, deve ser protegido e assegurado, pois, trata-se de um patrimônio público” (artigo 2º, inciso I, da Lei Federal 6.938, de 31 de agosto de 1981). É, assim, que o artigo 3º, inciso V, da supracitada lei, considera como bens necessariamente integrantes do meio ambiente a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a flora e a fauna. De modo que toda vida animal de uma determinada área, sem levar em conta sua categoria – silvestre, exótica, migratória ou doméstica, além dos microorganismos -, fazem parte do meio ambiente, seja sob o enfoque cientifico ou legal. Tal Lei Federal 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação -, estabelece, ainda, em seu artigo 3º, incisos I a IV, os conceitos de meio ambiente e poluição, como a seguir descritos: “Artigo 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação ambiental: a alteração adversa das características do meio ambiente; (...) IV - poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”. Tomando em consideração as características e destinação naturais dos cães e gatos capturados pelos Centros de Controle de Zoonoses, verifica-se as alterações adversas de ordem física, psíquica e moral, decorrentes do tratamento cruel a que são submetidos tais animais nos procedimentos de captura, confinamento e sacrifício, configurando, deste modo, a crueldade e maus tratos tipificados como crime ambiental. 2. A Crueldade Contra os Animais nos CCZ’s É, como dito, a prática da crueldade uma forma grave de degradação ambiental. Antônio Houaiss e Mauro Sales Vilar afirmam que crueldade em sentido jurídico é “todo ato bárbaro praticado pelo agente que produza padecimentos físicos e impiedosos” (In Dicionário Houaiss da Literatura Portuguesa, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2001, pág.879). Segundo Nelson Hungria “é o meio bárbaro, martirizante, denotando, da parte do agente, ausência de elementar sentimento de piedade. Matar com crueldade é matar a moda de Calígula. São as sevícias reiteradas, o impedimento do sono, a privação de alimento ou água” (In Comentários ao Código Penal – Volume V, artigos 121 a 136, Revista Forense, Rio de Janeiro, 1942). Heleno Fragoso a descreve como sendo todo ato “que acarreta padecimentos desnecessários para a vítima, ou como se diz na exposição dos motivos do CP, brutalidade fora do comum ou em contraste com o mais elementar sentimento de piedade”(In Direito Penal - Parte Especial, artigos 121 a 160, 6ª edição, Forense: Rio de Janeiro, 1981).

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Desta maneira, pode ser definida como toda ação ou omissão dolosa ou culposa, desumana, despiedosa, nociva, prejudicial, que produz padecimento inútil, mais grave do que o necessário, contrário à justiça e à razão, à virtude e ao dever, de quem se compraz em ver ou causar sofrimento, afligir ou torturar. Assim, é a matança pela caça nociva, por desmatamento ou incêndios criminosos, por poluição ambiental ou mediante dolorosas experiências diversas que venham a causar aflição ou dor, os abates atrozes, os castigos violentos e tiranos, os adestramentos por meio de instrumentos torturantes e perversos, ou quaisquer outras condutas impiedosas, resultantes em maus tratos contra animais vivos submetidos a injustificáveis e inadmissíveis angústias, dores, torturas, dentre outros atrozes sofrimentos causadores de danosas lesões corporais de invalidez, de excessiva fadiga ou exaustão que venham agravar as dores, os efeitos ou as lesões, até a morte desumana da vítima animal. Ante o quadro apresentado pelos CCZ’s, os conceitos expostos e visando uma conduta ética e humanitária com relação aos demais seres vivos e em respeito à Lei dos Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98), no seu artigo 32, faz-se necessária a mudança de paradigma dos CCZ’s, transformando-os em centros de promoção da saúde e bem estar dos animais, com a implantação de um programa humanitário e eficiente de controle de zoonoses. No caso de Salvador, mostra-se, destarte, paradoxal que seja justamente a Pública Administração Municipal, através de seus agentes encarregados de executar a política de saúde pública e de promover a defesa da saúde e do bem estar dos animais - “contribuir para prevenir, reduzir ou eliminar as causas de sofrimento dos animais” (artigo 177, inciso IV, da Lei Municipal 5.504/99) e “impedir maus tratos aos animais ou permitir que estes sejam mantidos com sua saúde comprometida sem a atenção profissional adequada” (artigo 177, inciso VIII, da Lei Municipal 5.504/99) -, a responsável pelo elenco infindável de atrocidades contra os animais postos em prática no seu Centro de Controle de Zoonoses, conforme reiteradamente noticiado e provado nos autos do aludido inquérito civil. Por esses motivos, o Ministério Público, através da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Salvador, vem propondo à reestruturação do CCZ, com o objetivo de promover mudanças efetivas na política de controle populacional de cães e gatos nos grandes centros urbanos, tais como: a) a afirmação do direito à vida dos animais, com a proibição de morte daqueles que não estejam em fase de doença terminal que lhes imponha desnecessários sofrimentos ou de comprovada periculosidade (eutanásia humanitária); b) proibição de eutanásia de animais através de qualquer meio que lhes possa causar demora ou sofrimento; c) implantação de campanhas periódicas, informando a população a respeito da necessidade da posse responsável de animais, da adoção, de vacinação periódica e controle de zoonoses através de castração; d) implantação de serviço de identificação e registro de animais; e) implementação de programas de adoção; e) higienização de ambientes, celas e veículos dos CCZ; f) treinamento de todos os funcionários do CCZ, de forma didática, para que adquiram técnica e conhecimento adequado ao exercício de suas funções, de modo a evitar a prática de crimes de maus tratos e prevenir a ocorrência de sofrimento desnecessário a animais apreendidos e sob a sua guarda, entre outras tantas medidas que visam adequar a atuação deste órgão municipal, transformando-o em verdadeiro centro de saúde e bem estar e não em fonte de sofrimentos desnecessários aos animais, de difusão de doenças e incitador da violência gratuita. Principalmente, efetuar o controle da superpopulação canina e felina do município através de implantação de programas de controle da reprodução animal - esterilizar é hoje a bandeira das entidades de proteção animal e das secretarias de saúde no mundo inteiro. 2. A Legislação Protetiva Brasileira e o Crime de Maus Tratos Contra os Animais Diante da preocupante realidade e da tendência crescente de práticas causadoras de um padecimento físico inútil e mais grave do que o necessário para o controle da população canina, em particular, praticada pelos CCZ's, agravadas pela ausência de elementar sentimento de piedade da parte dos seus agentes, com a adoção de meios bárbaros e martirizantes, tornou-se inevitável a reação contra tal fenômeno por parte da sociedade. A legislação brasileira infraconstitucional é farta ao proibir a utilização de métodos cruéis que causem sofrimentos atrozes e desnecessários a qualquer espécie animal. Em consonância com o já citado artigo 225, da Constituição Federal, as atrocidades cometidas contra os animais nos CCZ’s, dotadas de notável selvajaria humana, incidem em norma penal incriminadora, pelo que devem responder os infratores a título de dolo. Vê-se, portanto, que a lei erigiu à categoria de crime as práticas abusivas em relação aos animais, punindo qualquer conduta que implique em maus tratos, lesão ou mutilação. Com efeito, recentemente, foi promulgada a Lei Federal 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências e que prevê, no capítulo V, destinado aos “Crimes Contra o Meio Ambiente”, em sua Seção I, que define os “Crimes Contra a Fauna”, o artigo 32, que tipifica: “Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa” (grifo nosso). “Maus tratos, em qualquer de suas modalidades, é crime de perigo: necessário e suficiente para a sua existência é o perigo de dano a incolumidade da vítima” (In Comentários ao Código Penal – Volume V, artigos 121 a 136, Revista

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Forense, Rio de Janeiro, 1942, p. 408 e 409). É, também, crime de conteúdo variável, porque são várias as condutas tipicamente previstas - golpear, ferir ou mutilar, voluntariamente, qualquer órgão ou tecido de economia, realizar ou promover lutas entre animais da mesma espécie ou espécie diferente, touradas e simulação de touradas, ainda mesmo em lugar privado. Pode ser cometido por várias modalidades de ações. Consiste em por em perigo a vida ou a saúde da vítima, através de uma das formas indicadas na lei. São considerados maus tratos a privação de alimentação ou cuidados indispensáveis e os abusos dos meios de correção ou disciplina. O elemento subjetivo ou dolo específico do crime em questão é a vontade consciente de maltratar o sujeito passivo de modo a expor-lhe a perigo a vida ou a saúde. O dolo, quanto ao conteúdo de perigo, pode ser direto ou eventual, consumando-se quando da realização das condutas, não se admitindo tentativa, exceto na modalidade comissiva. Nesse sentido, sob a égide da legislação anterior, “crueldade contra animais – exposição da saúde do animal a perigo direto – desnecessidade de prova de lesão – caracterização – “no mero fato de arremessar animal ao ar, assim, provocando queda de altura perigosa – vale dizer, pondo em risco sua integridade corporal – estampa-se por inteiro voluntário ato de crueldade, que a civilidade repele e os bons costumes (bem jurídico tutelado) proscrevem; sendo que a manifestação de crueldade é por si só punível, significando dizer que a configuração do ilícito contravencional em exame não exige a efetiva produção de lesão” (TACRIM-SP – AC 867.557-1 – Rel. Corrêa de Moraes – RDA 3/383). 3. O Decreto Federal 24.645/34 Ainda que revogado em parte, merece referência, por sua grande importância histórica, o Decreto Federal 24.645/34, onde vê-se assegurada a tutela aos mais variados representantes da fauna brasileira, entre eles cães e gatos. Trata o decreto das medidas de proteção aos animais, coibindo a banalização e a comercialização da brutalidade e da tortura, em respeito a todas as formas de vida. Dispunha o referido decreto que “todos os animais existentes no país são tutelados pelo Estado” (artigo 1º) e que “aquele que, em lugar público ou privado, aplicar maus tratos aos animais, incorrerá em multa de $ 20,00 a $ 500,00 e na pena de prisão celular de 2 a 15 dias, quer o delinqüente seja ou não o respectivo proprietário, sem prejuízo da ação civil que possa caber” (artigo 2º). Em seu artigo 2º, parágrafo terceiro, este Decreto aduz que “os animais serão assistidos em juízo pelos representantes do Ministério Público, seus substitutos legais e pelos membros das sociedades protetoras de animais”. Assim considera maus tratos (artigo 3.º): “I - Praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer animal; II - Manter animais em lugares anti-higiênicos ou que lhes impeçam a respiração, o movimento ou o descanso, ou os privem de ar ou de luz; (omissis) IV – golpear, ferir ou mutilar, voluntariamente, qualquer órgão ou tecido de economia, exceto de castração, só para animais domésticos, ou operações outras praticadas em benefício exclusivo do animal e as exigidas para defesa do homem, ou no interesse da ciência; V – abandonar animal doente, ferido, extenuado ou mutilado, bem como deixar de ministrar-lhe tudo o que humanitariamente lhe possa prover, inclusive assistência veterinária; VI – Não dar morte rápida, livre de sofrimentos desnecessários a todo animal cujo sacrifício seja necessário para consumo ou não; (omissis) XXII – ter animais encerrados juntamente com outros que os aterrorizem ou molestem”. O mesmo decreto enuncia que “a palavra animal, da presente lei, compreende todo ser irracional, quadrúpede ou bípede, doméstico ou selvagem, exceto os daninhos” (artigo 17). Reitere-se, ainda, que o Decreto Federal 24.645/34, que ainda está em vigor quanto ao que se pode considerar maltratar, elenca nos artigos 3º e 8º os atos assim considerados. Existe, ainda, legislação específica que disciplina a utilização de animais em experiências científicas, e que o direito ambiental é regido, entre outros princípios, pelo da precaução, sendo certo que a todos, e ao poder público especialmente, compete prever e prevenir condutas que sejam lesivas ao meio ambiente, bem como atuar no sentido de ser reparado o dano eventualmente causado. Pois bem, na medida em que este atuar puder ser considerado eficiente e eficaz, estará o Poder Público, por suas entidades, órgãos e agentes, cumprindo o princípio constitucional inserido através da Emenda Constitucional 19, de 04 de junho de 1998. Com efeito, lê-se no caput do artigo 37: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)”. Partindo então desses princípios - precaução em matéria ambiental e eficiência da administração -, deve o legislador e o administrador público pátrio pautar sua conduta pela otimização, ou seja, legislar e agir, buscando atingir, em cada caso, a escolha da opção ótima, isto é, daquela que realize superiormente o interesse público, o que, pelo que se pode constatar, não está a ocorrer no tocante à implementação da política pública de promoção da saúde e bem estar do animal e controle de zoonoses. 4. A Declaração Universal dos Direitos dos Animais Em apoio às leis já analisadas, vale mencionar que o Brasil é subscritor da "Declaração Universal dos Direitos dos Animais", que conferiu a todos os bichos o mesmo direito à vida e à existência, o direito à consideração, à cura e à proteção do homem e o direito ao respeito. Declara o repúdio à tortura para com os animais, impedindo a destruição ou violação da integridade de um ser vivo. Vale destacar, aqui, algumas disposições importantes: “Todos os animais

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nascem iguais diante da vida e tem o mesmo direito a existência” (artigo 1º); “Cada animal tem o direito a respeito“ (artigo 2º-A); “O homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de exterminar os outros animais ou explorá-los, violando esse direito. Ele tem o dever de colocar sua consciência a serviço dos outros animais” (artigo 2º-B); “Cada animal tem o direito à consideração, à cura e à proteção do homem” (artigo 2º-C) ; “Nenhum animal será submetido a maus tratos e a atos cruéis” (artigo 3°-A); “Se a morte de um animal for necessária, deve ser instantânea, sem dor nem angústia” (artigo 3°-B); “Cada animal pertencente a uma espécie que vive habitualmente no ambiente do homem, tem direito de viver e crescer segundo o ritmo e as condições de vida e de liberdade que são próprios de sua espécie” (artigo 5°-A); “Toda modificação deste ritmo e dessas condições, imposta pelo homem para fins mercantis, é contrário a esse direito” (artigo 5°-B); “Nenhum animal deve ser usado para divertimento do homem. A exibição dos animais e os espetáculos que utilizam animais são incompatíveis com a dignidade do animal” (artigo 10); “o animal morto deve ser tratado com respeito” (artigo 13-A); “As cenas de violência de que os animais são vítimas devem ser proibidas no cinema e na televisão, a menos que tenham como fim mostrar um atentado aos direitos do animal” (artigo 13-B); “os direitos do animal devem ser defendidos por leis, como os direitos do homem” (artigo 14-B). V. O Papel Institucional do Ministério Público O artigo 127 da CF define o Ministério Público como instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. O dispositivo constitucional supra, combinado com o artigo 129, caput, inciso III, da CF, confere ao Parquet, na condição de substituto processual da sociedade, a função institucional de promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Assim é função do Ministério Público a proteção a fauna e, conseqüentemente, dos animais abandonados, apreendidos e sacrificados pelos CCZ’s. Na composição do Estado, foi pensado o Ministério Público como uma instituição que não se inclui entre nenhum dos três poderes, mas que, ao lado destes, se constitui no defensor da lei e sua participação é irrenunciável. No caso in comento, particularmente, tem-se o Ministério Público, como provável signatário da inicial de uma ação civil pública, cujo poder - dever à propositura lhe advém da própria Carta Magna, in verbis: “São funções institucionais do Ministério Público” (artigo 129): “promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos” (inciso III); Vale, também, registrar que cabe privativamente ao Ministério Público promover, privativamente, a ação penal pública (artigo 129, inciso I, da Constituição Federal). Como enfatizado, a Lei Maior, em seu Capítulo VI – Do Meio Ambiente, artigo 225, caput, e parágrafo 1.º, inciso VII – já mencionados, em especial seu parágrafo 3º, estabelece que “todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (artigo225, caput); “Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público (§ 1º): proteger a fauna e a flora, vedadas na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade” (inciso VII) e que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos” (§ 3º). A Lei Federal 7.804, de 18 de junho de 1989, introduziu, no inciso V do artigo 3º da Lei Federal 6.938/81, a fauna como recurso ambiental, ipsis litteris: “(omissis) entende-se por: (omissis) recursos ambientais: (omissis) a fauna e a flora”. Esta mesma lei considera “o meio ambiente como patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo” (artigo 2º, inciso I). E define que “O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente” (artigo 14, § 1º). Destarte, tem o Ministério Público legitimidade para propor as ações civis e penais públicas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental. E o Código de Processo Civil: – “Compete ao Ministério Público intervir” (artigo 82): “em todas as demais causas em que há interesse público, evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte” (inciso III). Desta forma, diante da gravidade e extensão das atividades perpetradas de forma ilegal pelos responsáveis por muitos Centros de Controle de Zoonoses, configurando ilícito civil - além de penal e administrativo - indispensável se torna que seja obstada esta atividade ilícita contra o ordenamento jurídico, a sociedade e os animais. In casu, Caracterizado encontra-se o interesse difuso, indisponível, público e social, a exigir a firme e adequada atuação do Ministério Público, pois, como demonstrado, ele está presente todas as vezes que o meio ambiente e os entes que o integram forem atingidos ilegal e injustamente, sempre que valores básicos, fundamentais da sociedade, permanentes, superiores, sofrerem lesão ou ameaça de lesão, como, hodiernamente, está a ocorrer em muitos

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Centros de Controle de Zoonoses deste país, que continuam a praticar maus tratos e crueldades contra os animais apreendidos. VI. Conclusão Com essas considerações conclui-se que: 1. Os estudos científicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) comprovaram que o método de sacrifício sistemático e indiscriminado de cães e gatos errantes é ineficaz ao controle da superpopulação destes animais, por conseguinte, inapto ao controle das zoonoses; 2. Hodiernamente, o método mais simples e mais amplamente empregado para o controle da população errante de cães e gatos, por recomendação da OMS, insculpida no seu 8º Informe Técnico, consiste no controle da natalidade, através da restrição da liberdade de movimento ou do confinamento das cadelas no cio, injeções de hormônios e esterilização, complementado com a educação ambiental e participação da comunidade, com estímulo à posse responsável. 3. No Direito Comparado, países como a França e a Itália, e cidades como as de Rosário e Buenos Aires, na Argentina, passaram a adotar, no plano legislativo e administrativo, os novos métodos de erradicação de zoonoses através do controle populacional de cães e gatos errantes que não importam no sacrifício sistemático e indiscriminado de animais, em consonância com as novas recomendações da OMS. 4. A Constituição Federal e a legislação infraconstitucional, em harmonia com as normas do Direito Internacional Ambiental, dentre as quais se destaca a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, vedam quaisquer atos que importem em maus tratos contra os animais, estando tal conduta tipificada como crime de perigo e de conteúdo variável, comissivo, plurissubsistente, material e de ação múltipla. É crime doloso que consiste em expor a perigo a vida ou a saúde da vítima. 5. O Ministério Público tem legitimidade para instaurar inquérito civil e propor a respectiva ação civil pública, assim como para promover a responsabilização penal das pessoas físicas e jurídicas causadoras de maus tratos contra os animais, em especial, na hipótese de captura, confinamento e sacrifício sistemático e indiscriminado de cães e gatos sadios errantes pelos CCZ’s, por aí encontrar-se sobejamente caracterizada a lesão a interesse difuso, indisponível, público e social.

http://www.freezone.co.uk/vivabsurd/menu.html

http://apasfa.org/quem/estudan.html

Estudantes de Veterinária e Bio-Médicas

1) Na Faculdade onde estudo tenho presenciado diversos abusos por parte dos professores no tratamento com animais. Alguns cães acordam no meio da cirurgia, uivando de dor e eles não dão bola, nem mesmo uma injeção de analgésico! Vocês podem me ajudar? O que eu faço?

2) Estudo psicologia e na Universidade tem um laboratório onde os animais ficam em gaiolas pequenas, nunca tomam sol e o pessoal que fica lá não tem o menor cuidado. Isso pode ser denunciado? Laboratório é assim mesmo?

3) Na Universidade onde estudo, os animais que são usados nas aulas são recolhidos das ruas pelos próprios funcionários de lá. Eles nem verificam se  os bichinhos têm dono! Isso está de acordo com a Lei?

4) Sou estudante de medicina e fico indignada com a quantidade de cães que são usados em aulas práticas. Eles usam e depois sacrificam, mesmo quando é alguma coisa de fácil recuperação.Existem recursos alternativos para a vivissecção?

5) O biotério da faculdade onde estudo é um horror! Sujo, os animais tremem de frio no inverno, às vezes ficam sem comida e quando há pós operatório nem sempre dão analgésicos. O que eu faço? Morro de pena, mas tenho medo de ser perseguida se denunciar e não poder terminar meu curso.

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A nova Lei de Crimes de Ambientais, a Lei Federal 9.605/98 prevê penas de multa e detenção para quem maltratar animais Médicos e universidades não estão imunes à Lei! Negar anestesia e remédios para a dor aos animais que estão sendo usados em aulas é inadmissível.

Diz a Lei :

"Art.32. Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:Pena - detenção de três meses a um ano e multa.

§ Primeiro - Incorre nas mesmas penas quem  realiza experiência dolorosa ou cruel em animais vivos, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. 

§ Segundo - pena é aumentada de um terço a um sexto, se ocorre morte do animal."

Sabemos que a grande maioria das universidades está agindo fora da Lei e o que é pior, formando indivíduos sem princípios básicos de ética e humanitarismo. Vejam, por exemplo, como era a  UFSC, no link abaixo. Isso mesmo, ERA, pois graças à coragem de um aluno, que denunciou e agüentou firme a perseguição até mesmo de alguns colegas, o Promotor de Justiça Marco Aurélio Dutra Aydos, do Ministério Público Federal, entrou com uma ação impedindo a utilização de animais na UFSC, está sendo substituída por métodos alternativos.

Publico abaixo a opinião de um médico-veterinário sobre o assunto:

"Gostaria de manifestar um profundo ar de lamento quanto à essa questão. Que tentasse buscar uma alternativa em relação ao fim da aula, que é o sacrifício, ou melhor, um nome bem mais bonito e menos cruel, a eutanásia, mas que tem o mesmo peso, o final de uma vida! Porque eutanásia? Porque não deixar o animal vivo e libertá-lo depois ou enviá-lo à um abrigo? Será que o que foi feito na aula é incompatível com a vida depois? Quais os procedimentos na aula? Retirada de órgãos? Se os animais são anestesiados e "operados", porque MATÁ-LOS? São VIDAS !!! Isso não é aula. É tortura seguida de morte !!! É crime ! Se não tiver outro jeito de dar aulas, que ao menos deixem vivos os cães !! Mas não deixem com amputações, nem com sequelas ! Pelo que sei, um paciente tem que estar vivo e bem no final de uma cirurgia, e não ser sacrificado, ou melhor, ser feita a EUTANÁSIA...para ficar mais bonitinho... É melhor deixá-los nas ruas soltos que matá-los. Contra a vida não há argumento !! A eutanásia é coisa do século passado...é pura falta de inteligência e interesse.  Dr. Victor de Oliveira - CRMV/RJ 5007 "

http://www.ib.usp.br/etica/artigo.ab43.1992.html

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Textos Selecionados

LINHAS BÁSICAS PARA A UTILIZAÇÃO DE ANIMAIS EM PESQUISA

Cynthia Schuck-PaimDepartamento de Ecologia/ IB/USP

espaçoEste é um texto que foi traduzido a partir do periódico Animal Behaviour 43: 185-188, 1992. Representa não apenas um esforço no sentido da criação de diretrizes que direcionem as decisões éticas relativas à utilização de animais em pesquisas científicas, mas também reflete a tendência crescente adotada pelos periódicos científicos de considerar os procedimentos éticos utilizados nos trabalhos submetidos.

ÍNDICE

Introdução

Legislação

Escolha da Espécie

Número de Indivíduos

Dor ou Desconforto

Espécies Ameaçadas

Obtenção dos Animais

Manutenção e Cuidado Animal

Disposição Final

Referências

Introdução

espaçoA utilização de animais em pesquisa levanta uma série de importantes questões éticas. Estudos em ambiente de laboratório envolvem necessariamente a manutenção dos animais em tanques, aquários e gaiolas. Procedimentos manipulativos e cirúrgicos podem ser necessários para se atingir o objetivo da pesquisa. A observação dos animais em condição de liberdade pode resultar em perturbação, principalmente se faz-se necessária sua alimentação, captura ou marcação. Enquanto o avanço do conhecimento científico é um objetivo legítimo - e pode por si

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próprio contribuir para a conscientização da responsabilidade humana sobre a vida animal - o pesquisador deve sempre pesar qualquer potencial ganho em conhecimento contra as conseqüências adversas para os animais utilizados como objetos de estudo, e adicionalmente para outros animais no caso de estudos de campo. Com o objetivo de ajudar seus membros a fazer o que são algumas vezes julgamentos éticos complicados, a Associação para o Estudo do Comportamento Animal (Association for the Study of Animal Behaviour) e a Sociedade de Comportamento Animal (Animal Behaviour Society) criaram os comitês de Ética e de Cuidado Animal, respectivamente. Conjuntamente, estes comitês formularam as seguintes linhas básicas para o uso de todos aqueles que estejam planejando e conduzindo estudos sobre o comportamento animal. Tais diretrizes serão usadas pelos Editores do periódico Animal Behaviour. Os artigos submetidos os quais violarem a essência destas linhas básicas serão indicados à um dos comitês mencionados, e a avaliação do comitê será utilizada pelo Editor na decisão da aceitação do artigo.

Legislação

espaçoOs pesquisadores devem cumprir o espírito bem como as diretrizes da legislação pertinente. Para aqueles residentes na Inglaterra, as referências às leis dirigidas à proteção animal são encontradas no livro da Universities’ Federation for Animal Welfare (UFAW, 1987). Nos Estados Unidos, tanto a legislação federal como a Estadual se aplicam: orientação pode ser obtida a partir do Code of Federal Regulations (1979) e do National Research Council (1985). No Canadá, orientação pode ser obtida a partir das publicações "Guide do the Care and Use of Experimental Animals, Vols 1 e 2" do Canadian Council on Animal Care (1980-1984). Pesquisadores de outras regiões devem se familiarizar com os requerimentos locais.

Escolha da Espécie

espaçoA espécie escolhida para o estudo deve ser apropriada para responder as questões formuladas. Quando a pesquisa envolver o uso de procedimentos que provavelmente causarão dor inevitável ou desconforto ao animal, e quando espécies alternativas puderem ser utilizadas, o pesquisador deve utilizar espécies as quais, na sua própria opinião e na opinião de colegas qualificados, são menos prováveis de sofrer. A escolha da espécie apropriada geralmente requer o conhecimento de sua história natural e sua complexidade. O conhecimento da experiência prévia do animal (por exemplo, saber se ele passou a vida em cativeiro), também pode ser de profunda importância. Embora geralmente não sejam apropriadas para estudos de comportamento, alternativas para experimentos com animais algumas vezes podem ser possíveis (Smyth, 1978).

Número de Indivíduos

espaçoEm estudos de campo ou laboratório os quais envolvam manipulações potencialmente detrimentais para o animal ou para a população, o pesquisador deve utilizar o menor número de animais possível e suficiente para se atingir os objetivos da pesquisa. O número de animais usados em um experimento freqüentemente pode ser drasticamente reduzido pela realização de um bom delineamento experimental e pelo uso de testes estatísticos que permitam examinar vários fatores de uma só vez. Still (1982) e Hunt (1980) discutem formas de reduzir o número de animais utilizados em um experimento através de delineamentos alternativos. Referências úteis podem ser encontradas em Cox (1958) e Cochram & Cox (1966).

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Dor ou Desconforto

espaçoSe os procedimentos utilizados na pesquisa envolvem dor ou desconforto, o pesquisador deve ponderar se o conhecimento que possivelmente seja adquirido justifique o stress e dor provocados nos animais. De forma geral, é extremamente necessário que os pesquisadores considerem procedimentos alternativos previamente ao emprego de técnicas que causem dor ou desconforto psicológico ao animal. Dor ou desconforto, mesmo quando inevitáveis, devem ser minimizados o máximo possível sob os requerimentos do delineamento experimental. Também deve ser dispensada atenção para os cuidados pré e pós-operatórios de forma a minimizar o stress preparatório e os efeitos residuais. A menos que rigorosamente contra-indicados em função do delineamento experimental, os procedimentos prováveis de causar dor ou desconforto devem ser empregados apenas nos animais que tenham sido adequadamente anestesiados. Adicionalmente, os pesquisadores devem fomentar discussões com os colegas sobre o valor científico dos propósitos de suas pesquisas bem como possíveis considerações éticas. É provável que os colegas de áreas distintas sejam especialmente úteis dado que podem possuir perspectivas diferentes das do pesquisador. Os pontos seguintes, mais específicos, podem ser úteis.

(a) Trabalho de Campo. A observação dos animais em condição de liberdade pode resultar em perturbação, principalmente se faz-se necessária sua alimentação, captura ou marcação. Enquanto os estudos de campo podem contribuir para o avanço do conhecimento científico e para a conscientização da responsabilidade humana sobre a vida animal, o pesquisador deve sempre pesar qualquer potencial ganho em conhecimento contra as conseqüências adversas de perturbação para os animais utilizados como objetos de estudo, e adicionalmente para outros animais e plantas do ecossistema. Duas fontes úteis de informação são os livros editados por Stonehouse (1978) e por Amlaner & Macdonald (1980).

(b) Agressão, predação e morte intra-específica. O fato de o agente causador de injúrias poder ser outro animal não isenta o pesquisador das obrigações normais com os animais do experimento. Huntingford (1984) discute as questões éticas envolvidas e recomenda que, sempre que possível, estudos de campo com encontros naturais devem ser preferidos à encontros induzidos. Quando estes últimos forem necessários, deve ser considerado o uso de modelos ou delineamentos experimentais alternativos, o número de indivíduos deve ser mantido no menor nível possível para que sejam atingidos os objetivos do experimento e os experimentos devem ser tão curtos quanto possível.

(c) Estímulo aversivo e deprivação. Tais procedimentos podem causar dor e stress aos animais. Para minimizar o possível sofrimento do animal, o pesquisador deve estar certo de que não existe forma alternativa de motivar o animal, e que os níveis de deprivação e estímulo aversivo utilizados não são maiores do que o necessário para se atingir os objetivos do experimento. Alternativas para a deprivação incluem o uso de comidas altamente preferidas e outros ganhos que podem estimular mesmo os animais mais saciados. O uso de níveis mínimos requer o conhecimento da literatura técnica da área relevante: estudos quantitativos sobre estimulação aversiva são revistos por Church (1971) e o comportamento de animais saciados é considerado por Morgan (1974). Comentários adicionais para a redução do stress proveniente de procedimentos motivacionais podem ser encontrados em Lea (1979) e Moran (1975).

(d) Deprivação social, isolamento e aglomeração. Os delineamentos experimentais nos quais é necessária a manutenção de animais em condições de elevada densidade, ou os quais envolvam

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deprivação social ou isolamento, devem ser extremamente estressantes para os animais. Dado que o grau de stress varia consideravelmente com a espécie, sexo, condição reprodutiva e status social dos indivíduos, a biologia dos animais e sua experiência social prévia devem ser consideradas, e situações de stress devem ser evitadas tanto quanto possível.

(e) Condições Deletérias. Estudos objetivando a indução de condições deletérias nos animais são muitas vezes direcionados à aquisição de conhecimento científicos de valores associados à problemas humanos. Entretanto, o tratamento aos animais envolvidos na pesquisa deve ainda ser considerado pelo pesquisador. Modelos de animais podem ser apropriados para o problema investigado. Quando viável, estudos que induzam condições deletérias nos animais devem também o possível tratamento, prevenção e alívio de tal condição. Adicionalmente, se os objetivos da pesquisa permitirem, o pesquisador deve considerar a utilização de instâncias de ocorrência natural de tais condições em animal em liberdade ou populações domésticas como uma alternativa à indução das condições deletérias.

Espécies Ameaçadas

espaçoOs membros de espécies ameaçadas ou localmente raras não devem ser coletados ou manipulados em campo a não ser em caso de ações sérias ligadas à conservação. Informações sobre as espécies ameaçadas podem ser encontradas no International Union for the Conservation of Nature, Species Conservation Monitoring Unit, 219C Huntingdon road, Cambridge CB3 0DL, U.K. Nos Estados Unidos, as regras e regulamentos pertencentes ao Endangered Species Act de 1973 podem ser encontradas no Code of Federal Regulations (1973). Listas de espécies ameaçadas podem ser obtidas escrevendo para o Office for Endangered Species, U.S. Department of Interior, Fish and Wildlife Service, Washington D.C. 20240, ou para o Committee on the Status of Endangered Wildlife no Canada, Ontario, K1A 0E7. Pesquisadores de outras regiões devem se familiarizar com a informação local sobre espécies ameaçadas.

Obtenção dos Animais

espaçoOs animais devem ser obtidos apenas de fontes confiáveis. Para aqueles que trabalham no Reino Unido, uma consulta pode ser obtida no Laboratory Animals Breeders Association, Charles River (U.K.) Ltd., Manston Research Centre, Manston road, Margate, Kent CT9 4LP. Nos Estados Unidos, informações sobre comerciantes licenciados de animais podem ser obtidas a partir do escritório local do U.S. Department of Agriculture (U.S.D.A.). Tanto quanto seja possível, o pesquisador deve garantir que o responsável pelo manejo do animal, até que este esteja disponível para a pesquisa, proporcione comida adequada, água, ventilação e espaço, e que não imponha tais itens sob condição de stress. Se os animais forem capturados e mortos em campo, isto deve ser feito da maneira menos dolorosa possível.

Manutenção e Cuidado Animal

espaçoA responsabilidade do pesquisador se estende também às condições sob as quais o animal é mantido quando não em uso. As condições dos tanques, terrários, aquários e gaiolas devem cumprir requerimentos mínimos recomendados. Orientação pode ser obtida a partir do livro da UFAW (1987) do guia do National Research Council (1985) e do "Guide do the Care and Use of Experimental Animals, Vols 1 e 2" do Canadian Council on Animal Care (1980-1984). Embora estas publicações contenham linhas gerais sobre o que pode ser aplicado à animais silvestres,

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atenção especial deve ser dispensada para aumentar o conforto e segurança das espécies. A manutenção normal deve incorporar, tanto quanto seja possível, aspectos das condições naturais de vida considerados importantes para o bem-estar e sobrevivência dos animais. Atenção deve ser dispensada de forma a proporcionar aos animais características como materiais naturais, refúgios, puleiros, umidade e bacias d’água. A freqüência de limpeza do local onde se encontram os animais deve representar um compromisso entre o nível de limpeza necessário para prevenir doenças e a quantidade de stress resultante do frequente manejo e exposição dos animais à ambientes e odores não familiares.

Disposição Final

espaçoSempre que possível, os pesquisadores devem procurar distribuir seus animais para colegas para estudos adicionais. Entretanto, se os animais forem distribuídos para a utilização em experimentos adicionais, deve-se tomar cuidado para que os mesmos animais não sejam usados de forma repetida em experimentos que envolvam procedimentos cirúrgicos ou outros tratamentos que possam ser estressantes ou dolorosos. Exceto se proibido por leis nacionais, federais, estaduais, provinciais ou locais, os pesquisadores devem libertar os animais capturados em campo se isto for viável e auxiliar os esforços de conservação. Entretanto, o pesquisador deve considerar que a libertação em campo pode ser detrimental para as populações existentes na área, e que os animais devem ser libertados apenas no mesmo local onde foram capturados (a menos que as diretrizes conservacionistas providenciem outra orientação) e apenas se a habilidade de sobrevivência na natureza não tenha sido prejudicada. Se houver necessidade de sacrifício dos animais subseqüentemente ao estudo, isto deve ser feito da forma menos doloroso e mais humana possível; a morte dos animais deve ser confirmada previamente à liberação dos corpos. Estas linhas básicas suplementam mas não suplantam os requerimentos legais no país e/ou estado ou província na qual o trabalho é conduzido. Elas não devem ser consideradas como uma imposição sobre a liberdade científica dos pesquisadores, mas como um auxílio e uma referência ética sobre a qual cada pesquisador poderá se basear para tomar decisões relacionadas com o bem-estar animal.

Referências

AMLANER, C.L.J. & MACDONALD, D.Q. 1980. A Handbook on Biotelemetry and Radio Tracking. Oxford: Pergamon.

CANADIAN COUNCIL ON ANIMAL CARE. 1980-1984. Guide do the Care and Use of Experimental Animals. Vols. 1 espaçoand 2. Ottawa, Ontario: Canadian Council on Animal Care.

CHURCH, R.M. 1972. Aversive behaviour. In Woodworth and Schleosberg’s Experimental Psychology. 3rd edn. (Ed. By espaçoJ.W. Kling & L.A. Riggs), pp. 703-741. London: Methuen.

COCHRAN, W.G. & COX, G.M. 1966. Experimental Designs. 2nd edn. New York: John Wiley.

CODE OF FEDERAL REGULATIONS 1973. Wildlife and Fisheries (Title 50) Chapter 1 (Bureau of Sports Fisheries & espaçoWildlife Service, Fish & Wildlife Service, Department of Interior), Washington D.C.: U.S. Government Printing Office.

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CODE OF FEDERAL REGULATIONS 1979. Animals and Animal Products (Title 9), Subchapter A: Animal Welfare, Parts espaço1, 2 and 3. Washington D.C.: U.S. Government Printing Office. COX, D.R. 1958. Planning of Experiments. New espaçoYork: John Wiley.

HUNT, P. 1980. Experimental Choice. In: The Reduction And Prevention f Suffering In Animal Experiments. Horsham, espaçoSussex: Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals.

HUNTINGFORD, F. 1984. Some ethical issues raised by studies of predation and aggression. Anim.Behav. 32, 210-215.

LEA, S.E.G. 1979. Alternatives to the use of painful stimuli in physiological psychology and the study of behavior. espaçoAltern.Lab.Anim.Abstr. 7, 20-21.

MORAN, G. 1975. Severe food deprivation: some thoughts regarding its exclusive use. Psychol. Bull. 82, 543-557.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL 1985. Guide do the Care and Use of Experimental Animals. A Report of the Institute espaçoof Laboratory Animal Resource Committee on the Care and Use of Laboratory Animals. NIH Publication no. 85-23. espaçoWashington D.C.: U.S. Department of Health and Human Services.

SMYTH, D.H.J. 1978. Alternatives to Animal Experiments. London: Scolar Press, Research Defense Society.

STILL, A. W. 1982. On the number of subjects used in animal behaviour experiments. Anim. Behav. 30, 873-880.

STONEHOUSE, B. 1978 (Ed.) Animal Marking: Recognition Marking of Animals in Research. London: Macmillan.

UNIVERSITIES’ FEDERATION FOR ANIMAL WELFARE 1987. The UFAW Handbook on the Care and Management espaçoof Laboratory Animals. 6th ed. Edinburgh: Churchill.

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Última atualização em 27/11/97 Cynthia Schuck-Paim

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COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE MATERIAL BIOLÓGICO EM PESQUISA CIENTÍFICA

Uma proposta para o IBUSP

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Abrimos aqui um espaço para discussão dessa questão importante e atual, que é a criação de mecanismos adequados para o debate sobre ética em pesquisa científica e o acompanhamento do trabalho dos pesquisadores. Essa discussão foi iniciada há algum tempo, inclusive no âmbito federal, com a elaboração de proposta de regulamentação do trabalho científico norteada por parâmetros éticos (atualmente parada), e certamente levará à formação de comitês de ética em diferentes âmbitos, a exemplo da iniciativa recente do ICB. Cabe-nos, portanto, iniciar esse processo, de modo que conclamamos os colegas a expor aqui suas opiniões acerca de diversos aspectos, como a própria pertinência da criação de um comitê dessa natureza no IB, sua composição (p. ex., somente membros do IB versus membros de fora) e atribuições, assim como a abrangência do foco de tal comitê (p. ex., apenas trabalho de laboratório com organismos vivos ou incluindo trabalho de campo com coletas).

Notamos que a questão do uso de seres humanos em pesquisa implica em problemas éticos especiais, de tal modo que têm sido propostos comitês separados para humanos e não-humanos. Seguindo essa tendência, o IB abre um outro espaço para a discussão referente a um comitê específico para pesquisa científica envolvendo seres humanos.

Eleonora [email protected]

09 Dec 1997