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Biossegurança em um Centro de Saúde da Família Biossegurança em um Centro de Saúde da Família: Conhecimento e prática dos auxiliares e/ou técnicos de enfermagem. Biosecurity in a Center of Family Health: Knowledge and practice of nursing team. Marilia de Lima Holanda 1 ; Neiva Francenely Cunha Vieira 2 ; Renata de Sousa Alves 3 1 Mestranda do Mestrado Profissional em Saúde da Família RENASF- FIOCRUZ Nucleadora Universidade Federal do Ceará. 2 Coordenadora do Mestrado Profissional em Saúde da Família RENASF- FIOCRUZ Nucleadora Universidade Federal do Ceará. 3 Vice-coordenadora do Mestrado Profissional em Saúde da Família RENASF- FIOCRUZ Nucleadora Universidade Federal do Ceará. Orientadora. Artigo elaborado a partir da proposta de dissertação de mestrado “Biossegurança em um Centro de Saúde da Família: Conhecimento e prática dos auxiliares e/ou técnicos de enfermagem” apresentada à banca de qualificação do Mestrado Profissional em Saúde da Família, nucleadora Universidade Federaldo Ceará,como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Saúde da Família. 2013. RESUMO Artigo desenvolvido a partir de uma proposta de dissertação de mestrado que teve como objetivo analisar o conhecimento e o uso das medidas de biossegurança pelos auxiliares e ou técnicos de enfermagem de um Centro de Saúde Família da Secretaria Executiva Regional III (SER III) do município de Fortaleza. Estudo de campo de natureza quantitativa, de caráter descritivo e exploratório. A amostra foi constituída por todos os auxiliares e/ou técnicos de enfermagem que exercem suas atividades em um CSF e que aceitaram participar do estudo piloto para validação do questionário a ser utilizado na pesquisa “Biossegurança em um Centro de Saúde da Família: Conhecimento e prática dos auxiliares e/ou técnicos de enfermagem”. Os dados foram coletados por meio de questionário. A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará sob o Nº de protocolo 153/12. Apesar dos profissionais estudados terem conhecimento das medidas de

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Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família: Conhecimento e prática dos

auxiliares e/ou técnicos de enfermagem.

Biosecurity in a Center of Family Health: Knowledge and practice of nursing team.

Marilia de Lima Holanda1; Neiva Francenely Cunha Vieira

2; Renata de Sousa Alves

3

1 Mestranda do Mestrado Profissional em Saúde da Família – RENASF- FIOCRUZ – Nucleadora Universidade Federal do Ceará.

2 Coordenadora do Mestrado Profissional em Saúde da Família – RENASF- FIOCRUZ – Nucleadora Universidade Federal do Ceará.

3 Vice-coordenadora do Mestrado Profissional em Saúde da Família – RENASF- FIOCRUZ – Nucleadora Universidade Federal do Ceará.

Orientadora.

Artigo elaborado a partir da proposta de dissertação de mestrado “Biossegurança em um

Centro de Saúde da Família: Conhecimento e prática dos auxiliares e/ou técnicos de

enfermagem” apresentada à banca de qualificação do Mestrado Profissional em Saúde da

Família, nucleadora Universidade Federaldo Ceará,como requisito parcial para obtenção do

Título de Mestre em Saúde da Família. 2013.

RESUMO

Artigo desenvolvido a partir de uma proposta de dissertação de mestrado que teve como

objetivo analisar o conhecimento e o uso das medidas de biossegurança pelos auxiliares e ou

técnicos de enfermagem de um Centro de Saúde Família da Secretaria Executiva Regional III

(SER III) do município de Fortaleza. Estudo de campo de natureza quantitativa, de caráter

descritivo e exploratório. A amostra foi constituída por todos os auxiliares e/ou técnicos de

enfermagem que exercem suas atividades em um CSF e que aceitaram participar do estudo

piloto para validação do questionário a ser utilizado na pesquisa “Biossegurança em um

Centro de Saúde da Família: Conhecimento e prática dos auxiliares e/ou técnicos de

enfermagem”. Os dados foram coletados por meio de questionário. A presente pesquisa foi

aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará sob o Nº de

protocolo 153/12. Apesar dos profissionais estudados terem conhecimento das medidas de

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

biossegurança e referenciarem boas práticas, a incidência de acidentes de trabalho envolvendo

material perfurocortante foi bastante significativa (80%).

Palavras-chave: Exposição a Agentes Biológicos; Saúde Pública; Atenção Primária à Saúde;

Saúde do Trabalhador; Equipe de Enfermagem.

1. INTRODUÇÃO

Diante da grande incidência de acidentes de trabalho com perfurocortante ou por

contato de secreções com mucosas, que são os agravos à saúde do trabalhador da área da

saúde mais documentados apesar da subnotificação, as doenças ocupacionais e os acidentes

de trabalho constituem-se em importantes questões de saúde pública que ainda precisam ser

mais bem discutidas1, 2

.

A equipe de enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem) é uma

das categorias da área da saúde que mais está exposta a riscos biológicos. Isso se deve ao fato

de estarem em maior número nos serviços e ao tipo de procedimentos que realizam, estando

expostos a materiais biológicos potencialmente contaminantes como sangue e secreções de

curativos e instrumentos perfurocortantes que utilizam nas práticas diárias como agulhas,

lancetas e lâminas de bisturi.

Diversas são as pesquisas sobre biossegurança realizadas no âmbito hospitalar,

entretanto não podemos esquecer que o ambiente das unidades básicas de saúde também

oferece riscos aos profissionais que ali atuam. Segundo Cardoso e Figueiredo3 estudos que

abordem esta temática em unidades daEstratégia Saúde da Família (ESF) são escassos.

Um amplo campo de atuação da enfermagem foi aberto com a implantação daESF no

Brasil. De acordo com dados do Ministério da Saúde4, hoje no Brasil contamos com cerca de

32.000equipes de saúde da família, em cada uma destas equipes contamos com um (a)

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

auxiliar/técnico de enfermagem, sem contar com os profissionais que atuam nos Centros de

Saúde da Família (CSF), mas não estão incluídos em equipes. Entende-se então que mais de

32.000 profissionais podem estar expostos a riscos.

Acreditamos que os profissionais de saúde conheçam os riscos aos quais estão

expostos durante suas rotinas de trabalho, mas diante da grande incidência de acidentes

ocupacionais já mencionada, supõe-se que este conhecimento ainda não seja suficiente para

gerar ações seguras de prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, o que indica a

necessidade de ações que venham a modificar esta situação. Daí a importância da educação

permanente nos serviços de saúde, através da qual o aprender e o ensinar se incorporam ao

cotidiano dos trabalhos, com possibilidade de transformar as práticas profissionais.

1.1 Justificando o objeto de estudo

A escolha desta temática para o presente estudo deveu-se ao interesse e preocupação

com os riscos ocupacionais a que estão sujeitos os auxiliares e/ou técnicos de enfermagem,

pois várias são as circunstâncias que podem propiciar o desenvolvimento de infecções

contraídas em seus ambientes de trabalho. Contudo, os riscos de contaminação ocupacional

podem ser minimizados através da utilização adequada das medidas universais de

biossegurança.

Entendemos que esta pesquisa poderá contribuir no sentido oferecer um espaço para

que os auxiliares e/ou técnicos de enfermagem reflitam sobre a biossegurança individual, bem

como para conhecer os saberes destes trabalhadores sobre o tema, para que se possam propor

medidas que diminuam os indicadores de adoecimento decorrentes de agravos relacionados.

Além disso, pretende-se contribuir para o desenvolvimento de uma estratégia educativa

integral orientada para a transformação do serviço de saúde e comprometida com o

desenvolvimento permanente de seus recursos humanos e para a elaboração de procedimentos

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

operacionais padrões para os procedimentos básicos de biossegurança para Centros de Saúde.

da Família.

2. OBJETIVO

Analisar o conhecimento e o uso das medidas de biossegurança pelos auxiliares

e/ou técnicos de enfermagem.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Norma Regulamentadora Nº 32 (NR32) - Segurança e Saúde no Trabalho nos

Estabelecimentos de Saúde.

Em resposta às várias solicitações de entidades representativas de diversas categorias

de trabalhadores da área da saúde, que se mostravam preocupadas com o crescente número de

acidentes de trabalho, de adoecimento e de absenteísmo entre seus profissionais, o Ministério

do Trabalho e Emprego (MTE) inseriu na legislação brasileira, no ano de 2005, a Norma

Regulamentadora Nº32 (NR32) – Segurança e Saúde no Trabalho nos Estabelecimentos de

Saúde5.

Esta Norma Regulamentadora (NR) tem como finalidade estabelecer diretrizes básicas

para implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos

serviços de saúde6. Dentre suas diretrizes podemos citar: a capacitação dos trabalhadores, a

imunização, a adequação do ambiente de trabalho, o fornecimento de equipamentos de

proteção individual (EPIs), a notificação dos acidentes e o tratamento do trabalhador, após a

exposição a material biológico.

A importância desta norma regulamentadora está no fato de que antes dela, no Brasil,

não havia legislação federal abordando as questões de segurança e saúde no setor da saúde5,7

.

As normatizações até então existentesencontravam-se esparsas, emdiversas outras normas e

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

resoluções, e não foram construídas, especificamente, para tratar de questões de segurança e

saúde no trabalhono setor da saúde.

A NR32 preconiza que as instituições de saúde devem implantar ações de promoção,

proteção e recuperação da saúde dos trabalhadores atuantes em todas as atividades destinadas

à prestação de assistência à saúde6.

Acreditamos que a NR32 é um instrumento de grande valia para a promoção e

proteção da saúde do trabalhador da área da saúde. O cumprimento de suas diretrizes por

todos os estabelecimentos de saúde, independente de sua complexidade, acarretará melhorias

na promoção da saúde dos trabalhadores e a redução do número de acidentes de trabalho, de

adoecimento e de absenteísmo entre os seus profissionais. Além disso, a NR32 também tem a

função de orientar os profissionais da saúde quanto às preconizações da norma para a adoção

de boas práticas nas suas rotinas de trabalho, despertando um olhar crítico dos trabalhadores

sobre as questões da saúde do trabalhador, entendendo que, como sujeitos ativos de sua

própria vida e saúde, eles precisam intervir e lutar pela promoção de sua própria qualidade de

vida no trabalho.

A seguir expusemos os conceitos de acidente, serviços de saúde e risco biológico

retirados da NR326.

Acidente:é um evento súbito e inesperado que interfere nas condições

normais de operação e que pode resultar em danos ao trabalhador, à

propriedade ou ao meio ambiente.(p.32)

Serviços de Saúde:Para fins de aplicação desta NR entende-se por

serviços de saúde qualquer edificação destinada à prestação de

assistência à saúde da população, e todas as ações de promoção,

recuperação, assistência, pesquisa e ensino em saúde em qualquer

nível de complexidade.(p.1)

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

Risco Biológico:Para fins de aplicação desta NR, considera-se Risco

Biológico a probabilidade da exposição ocupacional a agentes

biológicos.(p.1)

3.2 Higienização das Mãos em Serviços de Saúde

“As mãos são consideradas ferramentas principais dos profissionais que atuam nos

serviços de saúde, pois são as executoras das atividades realizadas. Assim, a

segurança do paciente nesses serviços depende da higienização cuidadosa e

frequente das mãos destes profissionais.”8(p.9)

O tema higienização das mãos tem sido tratado como assunto prioritário por

programas que enfocam a segurança dos pacientes, profissionais de saúde e demais usuários

dos serviços de saúde. Como exemplo de um desses movimentos, podemos citar a “Aliança

Mundial para a Segurança do Paciente”, iniciativa da Organização Mundial de Saúde (OMS)

com a participação de vários países desde 2004.

Ignaz Philip Semmelweis (1818-1865), um médico húngaro, reportou a redução no

número de mortes maternas por infecção puerperal após a implantação da prática de

higienização das mãos em um hospital em Viena, no ano de 18468. Desde então, a lavagem

das mãos por profissionais da saúde tem sido recomendada como medida primária no controle

da disseminação de agentesinfecciosos.

A legislação brasileira, por meio da portaria do Ministério da Saúde número 2.616, de

12 de maio de 1998, e da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA) número 50, de 21 de fevereiro 2002, estabelece,

respectivamente, as ações mínimas a serem desenvolvidas com vistas à redução da incidência

das infecções relacionadas à assistência à saúde e as normas e projetos físicos de

estabelecimentos assistenciais de saúde.Esses instrumentos normativos reforçam o papel da

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

higienização das mãos como ação mais importante na prevenção e controle das infecções em

serviços de saúde.

Apesar de a higienização das mãos ser considerada como a medida mais importante e

reconhecida para a prevenção e controle das infecções nos serviços de saúde há muitos anos,

ainda encontramos muitas dificuldades em colocá-la em prática. Alguns estudos

científicos9,10

,vêm evidenciando que a adesão dos profissionais à prática da higienização das

mãos ainda é baixa e a técnica utilizada é incorreta/incompleta.Diante do exposto, julgamos

ser necessária uma especial atenção de gestores públicos, administradores dos serviçosde

saúde, chefes de equipes e educadores para o incentivo e a sensibilização do profissional de

saúde,no sentido de contribuir com o aumento da adesão às boas práticas de higienização das

mãos.

A seguir, expusemos tópicos sobre higienização das mãos, que julgamos ser pertinente

ao trabalho. As informações contidas nestes tópicos foram retiradas do manual da ANVISA

“Higienização das Mãos em Serviços de Saúde”11

.

3.2.1 Higienização das Mãos

É uma medida individual simples e pouco dispendiosa para prevenir a propagação das

infecções relacionadas à assistência à saúde. Em uma publicação dos Centros de Controle e

Prevenção de Doenças (CDC, Centers for Disease Control and Prevention), o termo “lavagem

das mãos” foi substituído por “higienização das mãos” devido à maior abrangênciadeste

procedimento12

. O termo engloba:

Higienização simples - Higienizar as mãos com água e sabonete comum(não

associado a antisséptico).

Higienização antisséptica - Higienizar as mãos com água e sabonete associado

à agente antisséptico.

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

Fricção antisséptica - Aplicar preparação de base alcoólica para fricção em

todas as superfícies das mãos para reduzir o número de microrganismos

presentes.

Antissepsia cirúrgica - Procedimento realizado pela equipe cirúrgica, para

eliminar a microbiota transitória e reduzir a microbiota residente das mãos.

3.2.2 Por que e para que higienizar as mãos

As mãos constituem a principal via de transmissão de microrganismos durante a

assistência prestada aos pacientes, pois a pele é um possível reservatório de diversos

microrganismos, que podem se transferir de uma superfície para outra, por meio decontato

direto (pele com pele), ou indireto, através do contato com objetos e superfícies

contaminados. A pele das mãos alberga, principalmente, duas populações de microrganismos:

ospertencentes à microbiota residente e à microbiota transitória.

A microbiota residente é constituída por microrganismos de baixa virulência, pouco

associados às infecções veiculadas pelas mãos. É mais difícil de ser removida pela

higienização das mãos com água e sabão, uma vez que coloniza as camadas mais internas da

pele. A microbiota transitória coloniza a camada mais superficial da pele, o que permite sua

remoção mecânica pela higienização das mãos com água e sabão, sendo eliminada com mais

facilidade quando se utiliza uma solução antisséptica.

A higienização das mãos apresenta as seguintes finalidades:

Remoção de sujidade, suor, oleosidade, pêlos, células descamativas e da

microbiota da pele, interrompendo a transmissão de infecções veiculadas ao

contato.

Prevenção e redução das infecções causadas pelas transmissões cruzadas.

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

Todos os profissionais que trabalham em serviços de saúde, que mantém contato

direto ou indireto com os pacientes, que atuam na manipulação de medicamentos, alimentos e

material estéril ou contaminado devem higienizar as mãos.

As mãos dos profissionais que atuam em serviços de saúde podem ser higienizadas

utilizando-se: água e sabão, preparação alcoólica e antisséptico.

3.3 Equipamentos de Proteção Individual

Existem duas formas de prevenção dos acidentes, as medidas pré e pós-exposição13

.

Neste capítulo iremos falar dos equipamentos de proteção individual (EPI) que fazem parte

das medidas de precaução-padrão (MPP), pré-exposição.

As medidas de precaução-padrão (MPP) são um conjunto de medidas que devem ser

adotadas em todos os procedimentos realizados por profissionais de saúde com a finalidade de

reduzir os riscos aos quais estes profissionais estão expostos durante o trabalho, dentre elas

podemos citar: a higienização das mãos, o uso de equipamentos de proteção individual (EPI),

o uso de equipamentos de proteção coletiva (EPC), o manejo adequado dos resíduos dos

serviços de saúde e a imunização dos trabalhadores.

No Brasil, a legislação básica sobre EPI é a Norma Regulamentadora nº 6

(Equipamento de proteção individual), aprovada pela Portaria GM n.º 3.214, de 08 de junho

de 1978 06/07/78. De acordo com esta norma, Equipamento de Proteção Individual é todo

dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelotrabalhador, destinado à proteção de

riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. Ainda de acordo com esta

norma, toda empresa tem por obrigação fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI

adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento e aos funcionários

cabe a responsabilidade de utilizá-los e conserva-los14

.

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

Os riscos aos quais os profissionais da equipe de enfermagem mais estão expostos

durante o exercício de suas atividades são os riscos biológicos. Abaixo expusemos os EPI que

devem ser utilizados por estes profissionais com o intuito de reduzir estes riscos com sua

indicação de uso (Quadro 01):

Quadro 01: EPI utilizados pela equipe de enfermagem e suas indicações de uso.

Máscara

Deve ser utilizada sempre que houver risco de contaminação da face por sangue,

gotículas, fluidos corpóreos, secreções e excretas Deve ser escolhida de modo a

permitir proteção adequada.Portanto, use apenas máscara de tripla proteção. E

quando do atendimento de pacientes com infecção ativa, particularmente

tuberculose, use máscaras especiais.

Luva

Deve ser usada para prevenir contato da pele das mãos eantebraços com sangue,

secreções ou mucosas, durante a prestação de cuidados; e para manipular

instrumentos e superfícies.

Avental

ou

Jaleco

Deve ser utilizado sempre que houver risco de contaminação das roupas por

sangue, fluidos corpóreos, secreções e excretas (exceto lágrimas), no manuseio de

pacientes, bem como, no manuseio de materiais e equipamentos que possam levar

a esta contaminação.

Óculos

Deve ser utilizado sempre que houver risco de contaminação dos olhos e/ou face

por sangue, fluidos corpóreos, secreções e excretas Têm por finalidade proteger a

mucosa ocular de contaminantes e acidente ocupacional.

Gorro

Deve ser utilizado pela equipe de saúde para a proteção dos cabelos da

contaminação por aerossóis, impedindo que o profissional leve para outros locais

os microrganismos que colonizaram seus cabelos.

Fonte: Adaptada do Manual de condutas: controle de infecção e práticas odontológicas, 200015

.

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

3.4 Conduta a ser adotada pós-exposição ocupacional com material biológico

A notificação de acidentes com material perfurocortante é de suma importância, pois a

exposição ocupacional a material biológico é considerada uma emergência médica, uma vez

que temos pouco tempo para avaliar e proceder algumas condutas como medicamentos e

profilaxias em geral.Todos os acidentes com material perfurocortante devem ser notificados e

cabe ao médico especialista avaliar a necessidade de realização de exames laboratoriais e o

tratamento preventivo com antirretrovirais. A notificação é um recurso que assegura ao

trabalhador acidentado o direito de receber avaliação médica especializada, tratamento

adequado e benefícios trabalhistas16

.

Apesar da obrigatoriedade legal, a notificação dosacidentes de trabalho está sujeita a

subnotificação. Dentre os motivos referidos por profissionais acidentados que não notificaram

o seu acidente encontramos: a falta de conhecimento sobre o risco de contaminação, a falta de

informações sobre a necessidade ou forma de registro e o medo de demissão ou repreensão

pela chefia16

.

Já foi relatada transmissão decerca de 60 agentes diferentes associados a este tipo de

acidente, masos vírus da AIDS, hepatite B e C têmassumido grande interesse após exposição

ocupacional. Dentre os três tipos de infecção, a única que tem prevenção imunológica é o da

hepatite B. No Brasil, a vacinação contra a hepatite B é recomendada e oferecida

gratuitamente a todos os profissionais da saúde17

.

Recomendam-se como primeira conduta, após a exposição a material biológico, os

cuidados imediatos com a área atingida. Essas medidas incluem a lavagem exaustiva do local

exposto com água e sabão nos casos de exposições percutâneas ou cutâneas. Nas exposições

de mucosas, deve-se lavar exaustivamente com água ou com solução salina fisiológica17

.Não

há nenhum estudo que justifique a realização de expressão do local exposto como forma de

facilitar o sangramento espontâneo, hoje tal medida é desaconselhada pelo fato da expressão

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

poder abrir novos vasos e aumentar a área de exposição ao material biológico fonte de

contaminação.

O profissional acidentado deve também procurar atendimento especializado

imediatamente. Caso o paciente-fonte do acidente seja conhecido, o profissional ouseu

superior devem conversar com oele para que o mesmo autorize a realização de exames

sorológicos(HIV, hepatite B e C), pois se estes resultados forem negativos, o médico

ouserviço que acompanhará este profissional estará autorizado a dar alta doseguimento

ambulatorial17

.

A conduta ambulatorial é direcionada para o risco detransmissão de HIV e vírus das

hepatites B e C. Esta conduta médica vai depender do tipo de acidente (percutâneoou

exposição de mucosa), da gravidadedo mesmo (profundo ou não, no caso deacidente

percutâneo) e da fonte (se positiva para um dos vírus, dois ou os três deles).

O acompanhamento sorológico ambulatorial dependerá: se o paciente-fonte for

conhecido ou não e se foremconhecidos os exames sorológicos deste paciente. Se este

paciente-fonte fordesconhecido, o profissional será seguido por seis meses, colhendo-se os

examesno dia da primeira consulta, após 6 semanas,após 12 semanas eapós 24 semanas. Seos

exames sorológicos do profissional acidentado forem negativos, ele receberá alta sem

soroconversão17

.

Se os resultados para HIV e hepatites B e C do paciente-fonte forem negativos, o

profissional acidentado receberá alta assim que o profissional doambulatório verificar os

resultados. Nocaso de paciente-fonte com resultadosdesconhecidos ou no caso de positividade

para um dos vírus, o seguimento também será por seis meses. O seguimento seráfeito por 12

meses apenas no caso depaciente fonte positivo para HIV e parahepatite C ao mesmo tempo17

.

Não énecessário afastamento do trabalho doprofissional exposto a material biológico

após um acidente perfurocortante. Porém, em algumas situações esse afastamento se faz

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

necessário, como nos casos de uso de antirretrovirais e ocorrência de efeitos colaterais

associados aos medicamentos e por distúrbios de ordem psicológica.

Em um estudo realizado em 200813

,encontrou-se como resultado da pesquisa que a

maioria dos sujeitos reconhece como primeira conduta após o acidente com material biológico

a lavagem da região afetada com água e sabão, porém poucos relataram a realização de

exames sorológicos, a procura de atendimento médico, especializado ou não, e a notificação

do acidente.

4. MÉTODO

4.1 Tipo de estudo

Trata-se de um estudo de natureza quantitativa,de caráter descritivo e exploratório.

Descritivo, pois, segundo Bervian e Cervo18

, procura conhecer as diversas situações e

relações que ocorrem na vida social e demais aspectos do conhecimento humano, tanto do

indivíduo tomado isoladamente como de grupos e comunidades maiores. Exploratório, pois

não elabora hipóteses a serem testadas, tendo como intuito apenas a formulação de objetivos e

a aquisição de maiores informações acerca de determinado assunto, na presente pesquisa,

sobre o conhecimento e prática das auxiliares de enfermagem em relaçãoà biossegurança.

4.2 Contexto do estudo

A população alvo deste estudo foi os auxiliares e/ou técnicos de enfermagem que

trabalham no Centro de Saúde da Família Santa Liduína, localizado na cidade de Fortaleza-

Ceará-Brasil, no bairro Rodolfo Teófilo.

Neste CSF os auxiliares e/ou técnicos de enfermagem diariamente estão envolvidos no

atendimento de pessoas com diversas patologias e condições de saúde: hipertensos;

diabéticos; portadores de hanseníase, tuberculose, vírus da imunodeficiência humana

adquirida (HIV); infecções respiratórias e infecções dermatológicas; gestantes; idosos;

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

adultos; crianças, etc. O atendimento se dá nos turnos manhã e tarde, de segunda a sexta-feira,

com grande demanda de pessoas.

São diversos os procedimentos de enfermagem realizados, entre eles: vacinas;

curativos; retirada de pontos; administração de medicações injetáveis, orais e em aerossóis;

punções venosas; coleta de material (sangue, urina, fezes e escarros) para exames.

Procedimentos estes que expõem constantemente a saúde dos profissionais a vários riscos,

principalmente os biológicos. Daí a importância de conhecer, aplicar e obedecer às normas e

rotinas de biossegurança.

A área de abrangência deste estudo foi selecionada a partir da sua disponibilidade em

servir como campo de pesquisa, além da acessibilidade da pesquisadora ao campo.

4.3 Sujeitos do estudo

Esta pesquisa foi realizada com auxiliares e/ou técnicos de enfermagem que, para

participarem do presente estudo, tiveram que obedecer aos critérios que seguem descritos

abaixo:

Concordância em participar do estudo e

Exercer suas atividades no CSF Santa Liduína;

4.4 Instrumentos e procedimentos para a coleta de dados

A coleta de dados se deu através de um questionário sobre conhecimentos e práticas

relacionados à biossegurança no local de trabalho, que foi respondido porcada participante. O

questionário conteveperguntas abertas e fechadas que serviram para a caracterização dos

participantes do estudo e para a análise do conhecimento prévio dos mesmos.

Não foi empregada nenhumatécnica que prejudicasse os sujeitos da pesquisa ou que

apresentasse riscos para os mesmos.

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

A escolha da técnica de coleta de dados é uma etapa fundamental da pesquisa

científica. A técnica escolhida deve ser capaz de oferecer informações úteis e de qualidades.

A qualidade se refere ao grau de fidedignidade e de validade, ou seja, a exatidão das

informações fornecidas e a possibilidade de elas atingirem o objetivo proposto19

.

O questionário é uma técnica de coleta de dados que pode ser administrada durante a

interação pessoal ou ser auto aplicada. Geralmente, é formado por um conjunto de questões,

abertas ou fechadas, dicotômicas ou de múltipla escolha ou, ainda, da combinação de todas

elas. Os questionários são úteis para analisar opinião, interesse, conhecimento e aspectos da

personalidade do informante. O número de questões será determinado pelos objetivos do

trabalho, mas a literatura recomenda que não seja muito extenso, não ultrapassando a trinta

questões20

.

4.5 Organização e análise dos dados

Os dados estão apresentados de forma descritiva e em tabelas e foram analisados a luz

da literatura referente ao assunto.

4.6 Questões éticas da pesquisa

Durante a realização da pesquisa obedecemos ao que consta na Resolução 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde / Ministério da Saúde21

que dispõe sobre pesquisa com seres

humanos.

Os participantes foram informados quanto aos objetivos da pesquisa e foi solicitado

um consentimento por escrito de forma que nos autorizasse a utilizar os dados coletados para

uso de pesquisa e divulgação, através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Através desse documento e seguindo as normas da resolução acima citada os participantes

souberam que suas informações pessoais seriam mantidas em sigilo, sendo utilizadas somente

para fins científicos e que, mesmo depois de assinado o termo de consentimento, poderiam

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

desistir da pesquisa a qualquer momento que acharem necessário, sem que tal decisão lhes

cause qualquer malefício.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A apresentação e a discussão dos dados procuraramatender os objetivos do estudo. Os

dados foram analisados a luz da literatura e estãoagrupados em duas categorias, sendo elas:

Caracterização dos participantes do estudo e Conhecimento e prática dos participantes acerca

de medidas de biossegurança.

5.1 Caracterização dos participantes do estudo

Tratou-se de uma amostra exclusivamente feminina e a idade das participantes variou

entre a faixa etária de 49 a 60 anos. Dentre as participantes, 60% eram técnicas em

enfermagem e 40% auxiliares de enfermagem. O tempo de profissão variou de 04 a 30 anos.

Os dados sobre a caracterização das participantes do estudo foram agrupados e estão expostos

na tabela a seguir (Tabela 1):

Tabela 1 – Caracterização dos auxiliares e/ou técnicos de enfermagem segundo sexo, idade e

tempo na função.

Variáveis (%)

Sexo

Masculino

Feminino

00

100

Faixa etária

49 anos

50 anos

51 anos

60 anos

20

40

20

20

Categoria profissional

Auxiliar de enfermagem

Técnico de enfermagem

40

60

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

Tempo na função

04 anos

18 anos

21 anos

30 anos

20

20

20

40

O predomínio do sexo feminino já era esperado, visto que os participantes fazem parte

da equipe de enfermagem que é uma profissão predominante feminina, devido ao seu

contexto histórico. Embora nos tempos atuais a profissão venha apresentando um crescente

número de profissionais do sexo masculino22

, tal fato não foi verificado no presente estudo.

5.2 Conhecimento e prática dos participantes acerca de medidas de biossegurança

Quando questionadas em quais momentos de sua rotina de trabalho realizavam a

higienização das mãos, todas as participantes referiram higienizar as mãos antes de realizarem

procedimentos, apenas uma participante referiu higienizar antes e após o procedimento. Tal

dado demonstra que a higienização das mãos ainda está aquém do preconizado pela

Organização Mundial da Saúde (OMS)23

que determina os cinco momentos em que as mãos

devem ser higienizadas (antes de contato com paciente; antes de procedimento asséptico;

depois de contato com paciente; depois de contato com fluidos corporais e depois de contato

com o ambiente do paciente).

Apesar de a higienização das mãos ser considerada como a medida mais importante e

reconhecida para a prevenção e controle das infecções nos serviços de saúde há muitos anos,

ainda encontramos muitas dificuldades em colocá-la em prática de forma correta/completa.

Quando solicitadas a citar os momentos em que utilizavam cada um dos EPI todas

mostraram conhecimento sobre quando, como e onde eles devem ser utilizados. As

participantes referiram utilizar de forma correta todos os EPI durante sua rotina de trabalho e

não foi citada nenhuma dificuldade para a utilização dos EPI.

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

Todas as participantes demonstraram conhecer a forma correta de descarte de material

perfurocortante e negaram práticas errada como o reencape de agulhas utilizadas.

Sugerimos a realização de estudos complementares para verificar como o

procedimento de higienização das mãos está sendo realizado, se a técnica correta está sendo

seguida, se de fato os EPI estão sendo utilizados de forma correta e se as precauções padrões

estão sendo seguidas.

A grande maioria dos pesquisados referiu ter participado de algum treinamento

sobre biossegurança em seu local de trabalho (apenas uma participante relatou não ter

participado de nenhum treinamento). A educação continuada é um dispositivo frequentemente

utilizado pelas instituições de saúde no desempenho do seu papel educativo na prevenção de

agravos ocupacionais e está de acordo com a recomendação da NR 326.

Acidentes de trabalho envolvendo contato de secreção de pacientes com as mucosas

do profissional não foram referenciados, porém acidentes de trabalho envolvendo material

perfurocortante foram muito prevalentes na amostra estudada, apenas uma participante referiu

nunca ter se acidentado. Todos os acidentes referenciados acometeram as mãos ou dedos dos

profissionais. Todos os profissionais envolvidos em acidentes relataram terem realizado a

profilaxia pós-exposição.

A negativa acerca de acidentes envolvendo contatos de secreções com a mucosa do

profissional pode ser devido a não importância que é dada a este tipo de acidente pelo

desconhecimento dos danos que um acidente deste pode causar ao profissional.

Apesar dos profissionais estudados referenciarem a utilização dos EPI corretamente; o

descarte dos perfurocortantes em local adequado; a participação em treinamentos sobre

biossegurança e a consciência do risco ao qual estão expostos durante suas atividadeslaborais,

a incidência de acidentes de trabalho envolvendo material perfurocortante foi bastante

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significativa (80%). Os dados mostram que, neste serviço, o conhecimento dos profissionais

não evitou a ocorrência de acidente. Daí a importância de avaliar se a adesão às precauções

universais realmente está acontecendo ou se estamos diante de uma situação onde o discurso

está longe da prática.

Essa alta prevalência de profissionais que sofreram acidentes com material

perfurocortantes também vêm ao encontro dos resultados da pesquisa de Sarquis e Felli24

na

qual encontraram alta frequência de acidentede trabalho entre os trabalhadores de

enfermagem, apontando a não-aderência ao uso de equipamento de proteção individual e

constatando a grande exposição aos riscos biológicos e às graves doenças como, por exemplo,

a AIDS e a hepatite B.

Todas as participantes referiram estar com o esquema de vacinação contra o vírus da

hepatite B completo, 60% delas realizaram exame sorológico para confirmar se estavam

imunes após completarem o esquema.

Outro aspecto importante quanto à proteção dos trabalhadores é a adesão à vacinação

contra o vírus da hepatite B. Na presente pesquisa, assim como na pesquisa realizada com

trabalhadores da coleta de Resíduos de Serviços de Saúde de Goiânia25

, todas as participantes

referiram ter o esquema de vacinação completo. A vacinação é a principal medida de

prevenção contra o vírus da hepatite B26

, devendo ser obrigatória e gratuita para os

profissionais de saúde. Além do esquema vacinal, é necessária a realização do teste

sorológico para confirmação da resposta vacinal(para verificar a eficácia do esquema de

vacinação). Neste estudo apenas 60% das trabalhadoras referiram terem realizado o teste

sorológico, entretanto a incidência dos acidentes (80%) reforça a necessidade da realização

deste. Em estudo realizado com acadêmicos de Odontologia e Enfermagem da Universidade

de Pernambuco22

, também foi verificado que a observação de soroconversão ainda não foi o

desejável, pois apenas uma pequena parcela dos alunos afirmou ter sido submetida ao teste.

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Considerando ser este um grupo de risco para a exposição a material biológico, entendemos,

assim como Barros et al25

, que o conhecimento da imunidade para hepatite B é uma medida

protetora importante que deve ser adotada.

Assim como no estudo de Gallas e Fontana2, verificamos que os profissionais têm

consciência dos perigos aos quais estão submetidos por consequência de suas atividades

laborais, todas as participantes da presente pesquisa se percebem em risco de adquirir alguma

patologia em seu ambiente de trabalho. Esse “perceber-se em risco” pode ser o grande

motivador para que utilizem os equipamentos de proteção individual corretamente em sua

rotina de trabalho. Diferente do que foi achado na pesquisa acima citada2, não verificamos a

negligência do profissional quanto ao não uso de EPI. Todas as participantes referiram usar os

EPI na rotina de trabalho e não foi relatada nenhuma dificuldade para o uso dos mesmos, o

que sugere que os EPI estão disponíveis para o uso conforme estabelece a NR 326.

A seguir apresentamos uma tabela (Tabela 2) com as medidasa serem adotadas ao

sofrer um acidente de trabalho envolvendo material perfurocortante ou contato de secreção de

pacientes com mucosas do profissional citadas pelas participantes do estudo:

Tabela 2 – Medidas pós-exposição acidental com material biológico citadas pelas

participantes do estudo.

Medida (%)

Lavagem da área afetada

Procura por consulta especializada ou não

Realização de exames laboratoriais

Conhecer a situação sorológica do paciente-fonte

Notificação do caso

60

100

60

20

20

Um dado importante foi a observação que a maioria dos participantes reconhece as

condutas apropriadas após o acidente biológico, pois relatou a lavagem da região afetada com

água e sabão como primeira conduta; a procura de atendimento médico especializado ou não e

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a realização de exames sorológicos para detecção de doenças infectocontagiosas. Porém,

poucos relataram a notificação do acidente biológico.Um dado que nos chama a atenção é o

desconhecimento por parte dos profissionais do estudo da necessidade de se notificar o

acidente de trabalho que envolve material biológico. Apenas 20% dos profissionais

pesquisados indicaram a notificação do caso como medida a ser adotada após a ocorrência do

acidente.Esta situação impede que haja o conhecimento real da prevalência de acidentes de

trabalho entre os profissionais de saúde. Outros estudos também salientaram esta

subnotificação2,27,28,29

. A NR 326determina que os trabalhadores devem comunicar

imediatamente todo acidente ou incidente, com possível exposição a agentes biológicos, ao

responsável pelolocal de trabalho e, quando houver, ao serviço de segurança e saúde

dotrabalho e à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA).

A falta da notificação do acidente dificulta o conhecimento por parte das autoridades

competentes da real prevalência dos acidentes de trabalho com material biológico. O

conhecimento destes números auxiliará na busca dos fatores causais e na criação de políticas

de prevenção e promoção da saúde do trabalhador2.

Biossegurança em um Centro de Saúde da Família

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