boca santa - o atormentado

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Livro da Coleção Boca Santa escrito por Luis Rafael Montero e ilustrado por Pedro Mattos.Saiba mais em:http://www.boca-santa.com/

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  • ! 7!

    *

    J FODI MELHOR. Mais. J fodi mais. Era pra dizer isso. Comear assim. Com essa palavra. Mais. No que eu saiba re-almente se que d pra saber realmente se eu realmente j fodi melhor. Nunca me fodi pra saber. At d. At j me fodi. Mas outra foda, outro tipo de coisa. Ou-tra histria. Mas sim, d. Pra saber. s olhar na cara. Da outra do outro de ou-trem. Depende do caso. Mas no esse o caso agora de quem a cara do outro da outra. De quem. No agora. O caso agora que era pra dizer e comear dizendo logo de cara pra chocar e chamar a aten-o ei Ateno minha filha no t escu-tando olha pra mim que agora estou falando te chamando escuta menina o que eu tinha pra dizer. E no tenho mais.

  • ! 8!

    Era pra dizer mais. Isso! Mais. J fodi mais. No sei se foi a farinha o cigarro a idade. Mas foi. Mas foram. E foi tanto fo-ram tantas que nem d pra contar. No d? E esqueci de me apresentar. Olha is-so. Olha que falta de tato. De educao. Desculpem a pressa em contar e sair contando e at errar as palavras. Sou Rui Sales. O ator de teatro viciado em coca-na com ataques de grandeza e diarreia. Boa noite.

  • let's spend the night together

  • ATAQUES DE GRANDEZA

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    *

    BOA NOITE. So sete da noite. Da noite? Sete horas noite j boa noite ainda boa tarde? No sei. So sete horas. Isso eu sei e que seja tarde, ento. Tarde da noite. Ir ao cinema tarde. Faz tempo que no fao. Nem noite. Pra qu? No sei quanto tempo. Mas sei que faz tempo que no fao coc. Seis dias. Cinema eu no fao no fiz e nem vou fazer. Sou a-tor de teatro. E se algum convidar, al-gum do cinema pedindo que eu faa, no fao: eu cago. No cago na verdade. Isso no fao. Faz tempo. Seis noites. Isso no posso. Cagar. E logo fao o que pos-so: ento logo peo desculpas: no posso levantar: no quero: e no vou. Ficarei aqui em meu trono, sentado esperando o que posso esperar. A merda. Ela vir. Se

  • ! 16!

    at ele voltou depois dos trs dias e ela no aparece faz logo seis, eu contei eu sei contar, hoje ou no stimo que seja uma hora qualquer que seja de dia de noite de tarde que seja ela h de voltar. Ela h. E sair de mim. Como um raio. E essa pa-lavra agora? No sei se foi a farinha o ci-garro a idade. Mas ela no vem no sai. Raio? Nem vento. Faz tempo. Seis dias seis noites. E eu preciso descansar. Se at ele descansou no final, s posso imaginar que descansou assim, como eu sentado no trono esperando pra ver a merda que isso tudo vai dar. Sentado. E esperando. E s. Puro um Rei.

    * Logo no primeiro encontro ela pergun-tou: o que eu queria com ela. No desse jeito. Ela perguntou: O que voc quer co-migo?, desse jeito. De verdade?, eu disse: Transar. No sei se foi essa a palavra, o verbo. E ela, Maria o nome dela: E de-pois? Depois, eu disse: Depende. E ela

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    no disse. Mas olhava pra mim. E eu: Sim, foi isso que eu disse. Desse jeito: de-pende. E ela nada. No disse nada. Outra vez. E depois? Depois fui pro banheiro. Cagar cheirar. No lembro do verbo ago-ra, a palavra. Sei l. Ela no disse.

    * Esperar Godot. Esperando o coc. Rui Sales, o visceral. Era assim que me cha-mavam no teatro. No teatro. No teatro me chamavam de vrias coisas. E por que o teatro perguntaria algum curioso com as perguntas de sempre. E ele, Rui Sales responderia visceralmente. Sou ator de teatro porque o teatro me completa. O teatro me chamou. Escolheu. O teatro quem sou meu respiro meu ar. meu. o primeiro tiro. O pico. um teco. O teatro, entenda, a lambida a primeira relada da lngua o primeiro trisco da pontinha molhada na ponta do pau do palco logo ali no primeiro momento em que as duas pontas se tocam se esbar-

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    ram se esbaldam o primeiro picmetro de contato entre os dois tatos os dois cor-pos as duas pontas, enfim, o primeiro ca-lafrio. Sou ator de teatro porque um amor um arrepio, eu amo o teatro, o tea-tro a prpria vida, a prpria vida, a mi-nha vida, minha vidaaaaaAHAHAHAHA. Vida! HA HA HA. Olha isso. Sou ator de teatro porque ator de teatro foi o que deu pra ser. Fui sendo. Fazendo. Talvez a maior cagada que fiz. Ningum mais convidou ningum chamou nem chama pra nada, pra fazer outra coisa. Qual-quer coisa. Cinema. Que seja. Que se fo-da. O teatro por isso. O resto cena.

    *

    Maria o nome dela. Conheci quando ti-nha uns doze ou treze. E a conheci outra vez aos quinze aos dezessete. E depois s aos vinte e poucos. Nos palcos. Nos fun-dos. Na coxia. Nos encoxando. Maria fumaa que entra no peito. Que sai e

  • ! 19!

    deixa um cncer. O enfisema. Deixa a marca. A culpa. Deixa o lastro. Um ras-tro. O ranho. Me faz de sapato. Me a-lastra. Deixa o arranho na garganta. E arregaa. Me espanta. Esculacha. Deixa a rima. A minha sina. Sem dizer. Sem avi-so. Sem palavra. Sem cigarro nem fari-nha. Maria vai. E me deixa aqui. Toda vez. Esperando sentado.

    * Minha vontade deixar um coc bem ali no meio da sala. Bem na cara pra al-gum catar e limpar. O cachorro que s o cachorro faz. E vem algum e limpa e cata. Minha vontade fazer coc. E s. At o cachorro faz.

  • ! 21!

    * Foda essa dor. Essa situao essa po-sio. Seis dias sem cagar. Olha isso. Seis dias e seis noites. Essa a sexta. A sexta noite, digo, porque no sexta-feira ou e eu nem sei. E talvez at seja sexta noite e eu aqui. ou no pra ficar puto da cara? Puto do cu! E eu pergunto pra quem? Tem que olhar no cartaz. Isso. Rui Sales, o enfezado. De quinta a do-mingo no seu palco. Ento hoje de quinta a domingo e ento at pode ser sexta, no sei. Mas noite, porque es-tou em cartaz. Isso eu sei. Estou em cena. No palco. No vaso. No meu vaso, a cena minha o vaso meu e sou eu que estou sentado. Nessa posio. Sentado sexta-feira noite esperando. E esperando voc sabe muito bem o qu. No tenho que re-petir. E quem voc? Eu no sei. Com essa droga na cabea no d pra pensar e saber de muita coisa. Mas d pra saber um pouco. E do pouco que d pra saber eu s sei que faz seis dias, SEIS dias que

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    no cago. Que situao. Di tudo. As per-nas os braos a barriga o pescoo as pre-gas a cabea o ombro joelho e p joelho e p joelho e p tudo Senhor e o peito e at o corao. E corao j demais, vai. Es-tou h seis dias sem cagar estou aqui sentado esperando e esperando e com tu-do doendo. OK. Mas dor no corao j um pouco demais. Se ainda tivesse se eu ainda tivesse algum problema cardaco cardiolgico ou sei l o nome desses trens, v l. Dava at pra gente falar de morte, sei l. Pra eu falar de morte, no caso, e voc escutar. Mas disso eu no fa-lo no quero e se pra doer prefiro falar dela. Maria o nome dela. Ou falar de qualquer coisa. Que seja. Uma porra qualquer.

    * Que culpa tenho eu Senhor? Se tem sexo em tudo que penso e vejo. Se penso em sexo e vejo em tudo. S de estar aqui sentado j penso. Olha isso. E penso que

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    algum bem que poderia estar sentado a-qui, em mim. Agora. Melhor: estar sen-tando. No gerndio sim, que sempre melhor. ridculo. Eu sei. Mas assim. Uma coisa estar sentado assim como eu. Outra estarem sentados, assim co-mo vocs. E uma outra coisa bem dife-rente estarem sentando em mim, como ningum. No momento. Agora. Nesse ato. Deve ser isso. No como ningum nesse momento. No ato. Deve ser. E por isso eu penso e vejo sexo em tudo. Simples as-sim. Ou a idade. O cigarro. A farinha. Vai saber. E dependendo de onde a gente t sentado e sentando d pra ver cada coisa. Depende claro do ponto de vista. Do ngulo que se v. Da perspectiva de cada um porque cada um v a merda que quer, que pode. A merda que gosta. A prpria merda ou a de outro de outra, de outrem. Adoro essa: parece que estou em outra poca, dourada. Brilhando num trem. O Grande Outrem. E l estou eu.

  • ! 24!

    Sentado Senhor. Sen-ta-do na porra dum trem.

    * Larguei tudo por causa dela. Maria o no-me dela. Eu estava por cima com o bun-do socado num trono e vendo tudo de cima, de l. No d pra enxergar muita coisa aqui do alto. De l. No d. No da-va. Os deuses no podem no querem parar e olhar a novela l em baixo. Em-baixo do piano tinha um copo de veneno mas no era embaixo mas era em cima o copo de piano fica em cima do veneno o piano fica embaixo do copo de veneno. Quem bebeu? No d pra me concentar com essa droga na cabea. Concentrao concentrao. O eco ecoando e riscando de branco tudo que memria e pensa-mento. Ecoa Maria. Morreu? No pensa-mento. Um tormento. Eu via tudo eu via pouco l de cima e quando realmente vi e notei j tinha largado tudo. Me larguei sentado socado na porra dum trono que

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    de to longe que de to alto no me dei-xava enxergar e de to longe e de to alto ningum me enxergava l de baixo. Nin-gum olhava pra mim. Rui Sales, o con-trolador de plateias. Era assim que me chamavam. Que me olhavam no teatro. Era assim antes de ela brilhar no meu fundo. No meu olho. Maria o nome dela. Bateu e brilhou. E eu podia ver o brilho na cara de toda aquela gente olhando pra mim. Eu estreava e eles largavam tudo. S pra ver e escutar o meu brilho. At l no fundo na ltima fileira na ltima cara do ltimo cara l na ltima fila, dava pra ver. O meu brilho. Uma tormenta. Um fu-raco. Um choque um xeque que mata um soco uma jorro no meio da cara. Um acidente. Daqueles que no d pra no olhar, pra virar a cara. Eu estava l em cima. Controlando. O controlador que no controla nada. No controla a dor. Nem a dor de barriga. Que di h seis di-as. Desde que ela chegou. Maria o nome dela. J disse? Talvez. Mas no d pra

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    controlar o que d pra falar o que j falei. S sai. E vai saindo pela boca. E bosta que bom, nada!

  • ! 28!

    * Era 1983 e eu devia ter a mesma idade que tenho hoje. E voc pode imaginar: eram os anos 80. At porque eu no pos-so imaginar. At posso. que no lem-bro. No sei se a farinha o cigarro a idade que fez esquecer. E o que sobrou, sobraram algumas paredes. Algumas lascas de memria. E s. Desgrudando. Branquinhas. Das paredes do meu nariz. Cinzas. Cinzas? As paredes so cinzas? As memrias so o qu? Um p. Sempre desgrudando. Cinzas e brancas. O claro e o escuro. De dentro pra fora. Eu e ela. Porque um contraste sempre bom. Vi-sualmente falando. O que tambm sem-pre bem interessante: falar visualmente falando. E falando assim, falando nisso. Lembrei. Cad meu cigarro? Lembrei que faz seis dias que estou nessa, chei-rando. Lembrei que quando a gente chei-ra muito a gente fuma muito e no sei por que estou falando assim a gente a gente a gente, se s tem eu aqui. Sem ci-

  • ! 29!

    garro. Sem farinha. Sem lembrar minha idade. Sem nadinha. E sem voc Maria. Mas com uma baita dor de barriga que no sai de mim. No sai Maria. Fica pelo menos essa vez.

    * sempre a mesma pessoa. Eu sou. No tem essa de outros personagens outras histrias e vozes de outrem. No tem na-da. sempre a mesma.

    * Essa de trem deve ser de uma pea que fiz que vi, no sei.

    * Porque uma conversa. Mas sou eu que falo. S eu. Voc, o outro a outra, at fa-la. At falam. Mas no falam falando. Nem voc. Por qu? Porque no d pra responder assim no ato falando com a voz na hora que o cara eu o ator o autor

  • ! 30!

    l em cima no palco diz e faz e grita uma merda qualquer e voc e o outro e a ou-tra ficam todos assim dizendo sem falar que no no que no nada disso que esse cara o ator no no nada disso que eu estou falando. No assim. S que nem voc nem o outro nem a outra nem ningum fala. At fala, um resmungo uma vaia se surgir a coragem que falta. Ou at o ato mximo de algum afron-tado, a afronta maior de algum como voc ou outro algum nessa mesma situ-ao de fala mas no fala e o que se po-de fazer ento se levantar com certa indignao nos olhos e nos passos e ir embora, sair firme e decidido, e at um pouco ofendido pra cena ficar completi-nha, visualmente falando. o que d pra voc falar. E fazer. Ir embora. como fe-char o livro. Foi exatamente isso que eu disse. Fechar o livro. E parar de escutar. Tanta merda. Fica s aquele silncio de sempre. Aquele silncio que voc faz toda vez que vai cagar. E s fica me olhando.

  • ! 31!

    Pra ver se tenho algo a dizer. Vai que sai alguma coisa que preste. Vai que sai al-guma coisa. melhor ficar. Sentado. Eu aqui. E vocs a. Esperando. Quem sabe ela chega. Quem sabe ela volta.

  • ! 33!

    * Enquanto a gente espera a gente pode cozinhar. E isso foi ela que disse. Maria o nome dela. E dessa vez era a gente mes-mo porque a gente era eu e ela. Ns dois. Esperando pra variar. Foi isso que ela disse. Enquanto a gente espera a gente pode cozinhar. Cebola, alho e os Rolling Stones. Foi isso que ela disse. A gente tem tudo o que a gente precisa. E au-mentou o volume. Let's spend the night togheter. E picava a cebola. Now I need you more than ever. Vamos dar um tiro? Isso fui eu que disse. E ela picando. A gente precisa esperar. Don't you worry bout what's on your mind. I'm in no hurry I can take my time. J percebeu que a trilha sonora assim muito melhor, digo a trilha sonora da cocana. sempre melhor. O que foi que eu disse? Disse que a trilha sonora da cocana sempre me-lhor. J percebeu? Cada droga cada coisa tem a sua prpria trilha sonora. Perceba. O som que mais combina. Porque voc

  • ! 34!

    no vai me acender um baseado e botar a porra dum Sepultura ou uma merda dessas pra curtir a brisa. Vai fazer o qu? Viajar nos guturais. Voc t cho-rando? No. a cebola. Ela picava e fa-lava. Estou rindo. De voc. Viajando. I'm going red and my tongue's getting tied. I'm off my head and my mouth's getting dry. No! Se vai botar fogo na porra do mato mete um som mais viajado. Sei l. Uma banda qualquer dessas coloridas e alegrinhas. Essas msicas de parquinho. No sei. No costumo ouvir essas mer-das. Prefiro fumar em silncio. I'm high, but I try. Se for pra botar a porra dum som d logo um tiro de uma vez. A gente precisa esperar. Ela disse mais uma vez. New York Dolls, Ramones, Lou Reed, o Bowie, os Sonics, o Thunders, o Iggy, a porra dos Stones. Quer mais? Eu disse. s meter o nariz e socar o volume. No necessariamente nessa mesma ordem. Pode-se socar o nariz e meter o volume. POW. Vai direto pra cabea. I feel so

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    strong that I can't disguise. E pro co-rao. Isso foi ela que disse. D uma batedeira. Corta o alho pra mim. Ela con-tinuou. No quero esse cheiro nas mos. No quero cheirar alho. Cheiremos outra coisa ento. HA HA HA. Eu que disse, claro. E ela. A gente precisa esperar. Vai, corta o alho. But I just can't apologize, oh no. Pica pequenininho. Daquele jeito que voc sabe. S voc. Rui Sales, o picador. Foi assim que ela me chamou. Let's spend the night together. Picador. Pica a dor. Pica. Pica sim! Pica pra mim. Por que Senhor tem que ter sexo em tudo que penso e lembro? Tem que ter Senhor? A gente falava de alho de picar a gente no falava de pica da minha pica eu falava quem falava era eu ela estava l ainda estava mas s escutando nessa hora por-que nessa hora era eu que falava e falava e pensava nela naquelas mos no cheiro naquelas coisas que ela sempre dizia. Na voz. E eu falei bem que a gente podia dar um tiro. A gente precisa esperar. Forrar a

  • ! 36!

    barriga. O estmago. Isso foi ela que dis-se. Quem mais? Pra depois ter o que ca-gar. Ela disse assim. Pra gente ter o que cagar. E eu adoro mulheres que falam assim, cagando pra mim. Vai picando. E eu pensando. Foda esse cheiro. De alho nas mos. E ainda fica tudo grudando, . Dedos grudando grudentos de alho. A-cende um cigarro pra mim. Eu falei pe-dindo. Com esse cheiro e esse grude no d. Acende pra mim. Eu pedi assim. Don't hang me up and don't let me down, don't let me down. We could have fun just groovin around, around and around. Eu s pedi um cigarro. Mas o cigarro a-cabou. E sem cigarro numa hora dessas. No d. Let's spend the night together. Now I need you more than ever. Vou buscar. Ela disse. This doesn't happen to me everyday, oh my. No precisa. E isso eu disse s de charme, s de graa. No excuses offered anyway, oh my. No tem problema. Quero ir. I'll satisfy your every need, every need. And I now know you

  • ! 37!

    will satisfy me. Ela disse e ela foi. Com-prar cigarro. Foi e no voltou, claro. A mesma histria toda vez. Let's spend the nigth together. E deixou toda a cocana. Now I need you more than ever. E eu so-quei todo o volume. No mximo. E meti o nariz. Let's spend the nigth together. NOW. Direto no corao.

  • ! 39!

    * Olha isso. S hoje s agora percebi. Faz seis dias e seis noites que ela no vem. Que eu no cago. S agora? E percebi que desse tempo todo eu passei exata-mente seis dias e seis noites cheirando. E s agora que acabou que acabei de chei-rar que percebi que faz exatamente seis dias e seis noite que no cago. E ela no volta. Mas tambm no sei se esse exata-mente to exatamente assim e o tempo que faz que no cago j nem sei se exa-tamente o mesmo tempo que cheirei e fi-quei cheirando. E nem sei mais o tempo que faz que ela no vem e no volta. E nem sei porque estou contando isso tudo. E nem sei as horas agora. Que horas so? Essas coisas do tempo no d pra contar assim, exatamente.

    * Ela daquelas que deixa a gente de pau duro s de olhar. Me deixa o pau meu e

  • ! 40!

    voc e os outros que se fodam se que voc e os outros esto a, em qualquer lu-gar. E ela foda-se o nome dela me deixa e me deixava de pau duro s de olhar a cena a filha da puta cutucando a boceta sangrando pra meter o OB l dentro com o rabo empinadinho com a porta do ba-nheiro convidando. E ela botando pra dentro. Foda-se o nome dela. A filha da puta ficava l no cutuco da boceta do sambinha siririca do OB molhadinho e o pior e o melhor na verdade o certo di-zer melhor porque era isso mesmo o me-lhor era que a filha da puta cutucava cutucava e me chamava pra ver. S pra olhar. Olha isso. Ela me chamava s pra ver e olhar meu pau ficar duro. O meu. Pra voc ver. E s pra voc.

    * Rui Sales, o atormentado. Era assim que deveriam me chamar. No teatro. Em qualquer lugar. Qualquer um de vocs.

  • ! 41!

    Mas ningum chama. Ningum me cha-ma de nada. ! *!Minha vontade fazer tudo isso essa coi-sa acabar. De uma vez. Botar o dedo so-cado bem fundo e mexer e mexendo cutucar at tudo sair e sair aquela coisa que s de olhar a gente sabe eu sei quem sabe sou eu e eu sei s de bater o olho que aquela coisa ali jogada cagada larga-da no fundo bem fundo do vaso ali em-baixo do palco a merda do fim. Sou eu. Mas agora falta coragem. Pra enfiar o dedo no cu cutucar e cagar logo o que tem. Socar de uma vez. O dedo. O supo-sitrio. A suposio. A superexposio. E a encenao. Supimpa o jeito que essa droga bate na cabea da gente. Na minha cabea. aqui que essa droga bate e ba-teu. E olha s o que ela faz. Essa droga

  • ! 42!

    faz a gente falar e falar, falar tudo que tem. Mas s eu falo. Voc escuta aplaude sei l, faz uma merda qualquer. A merda a merda. Olha isso. Sempre a merda na cabea. Na minha cabea. Maria. o que tem. O que tenho para falar. Essa droga. o dedo socado o supositrio a suposi-o o suspensrio o superclio a supersti-o e essa tua mania Maria de ir embora toda vez que eu comeo a te amar.

  • ! 44!

    * Com essa fumaa na cabea essa bagun-a no peito essa bolha aqui dentro. Aqui dentro de mim. o amor? Com essa dro-ga no d pra pensar. At d. Mas to rpido e j foi. O pensamento. O amor. Que vem que vai. E vem de dentro. De dentro do estmago. Do intestino. E de novo essa histria. Toda vez. As mesmas palavras at. Que so s palavras que saem. Estmago intestino cu tripa cora-o. Sai tudo do mesmo lugar. De dentro de mim. E voc Maria. Por que no sai de mim, mulher?

    * E cutucar o nariz? Uma das coisas que mais gosto botar o dedo l fundo, l dentro. E ficar e ficar cutucando. At o som bom: cu-tu-can-do. Eu cutuco. Tu cutucas. E j parece um sambinha besta. Escuta. Eu cutuco tu cutuca no cutuco do cu do Tuco vamos todos cutucando. E cu-

  • ! 45!

    tuco at o som acabar. Cu-tu-co-o-cu-do-tu-co. Sem parar. E j fiquei no cutuco uma vez por quinze minutos, por a. Cu-tucando o nariz, o meu. No o cu nem o Tuco e nem o cu do Tuco que eu nem sei quem . Cutuco o dedo pra dentro e cutu-ca a catota pra fora e cutucava o dedo l dentro buscando aquele resto aquele lti-mo suspiro da noite um gostinho uma casca uma lasca que seja um tiquinho do p nem que no adormea a gengiva que no venha a csquinha na lngua nem nada e que no bata que no faa o efei-to e nem sirva de nada eu cutuco e busco l no fundo l dentro aquele teco de gos-to a lembrana o restinho da coisa, que ainda fica, que insiste em ficar. Mais ou menos quinze minutos. Quinze minutos cutucando. No sei se pouco muito, en-fim. E no saiu nada.

    * Maria o nome dela. Conheci quando ti-nha uns doze ou treze. E a conheci outra

  • ! 46!

    vez aos quinze aos dezessete. E depois s aos vinte e poucos. E fui conhecendo. Ca-da vez mais fundo. A fundo. Nos fun-dos? Maria fumaa que entra no peito. Que sai e deixa um cncer. E essa merda de fala eu j falei. No falei? Depois vem a parte do enfisema da marca da culpa. No vem? E depois umas riminhas bes-tas. E mais depois ainda a parte falando da Maria que ela vai embora sem avisar sem palavra e blablabl. J falei sim. Eu lembro eu falei, eu lembrei. O que essa mulher faz com a cabea da gente. Com a minha ento. GENTE DO CU que von-tade de cagar.

  • ! 48!

    * E a punhetinha nossa de cada dia como que fica? Minha caralho! A minha pu-nhetinha, como que fica? Ficar assim nessa posio nessa situao, v l. Mas sem punhetinha no d. No que esteja que eu esteja todo esse tempo os seis dias as seis noites assim sem me tocar. Fiquei pudico agora. Me tocar. Mais essa. Mas em verdade vos digo e digo para aqueles que tm ouvidos para ouvir e que ouam o que vou dizer e com todo esse papo es-se eco sagrado na minha cabea profana a cabea se engana se perde e se esquece do que ia dizer, a todos vs que aqui es-to. Reunidos em meu nome. Quem es-to? a cabea que ia dizer? voc? No d pra ver daqui de cima. Essa luz. No d pra saber. Brilha demais. E lem-brei. A cabea se perde se esquece e logo destrava e pega no tranco e lembrei. Lembrei dela. Maria o nome dela. Mais essa. Mas agora que na verdade em ver-dade era um pouco antes do que agora-

  • ! 49!

    agora e j foi e passou e o assunto mu-dou e o assunto era a punheta. Isso. Ficar sem ela no d. Porque normalmente de-pois de cheirar qualquer um e dessa vez estou falando de qualquer um mesmo porque normalmente quando algum ou qualquer um cheira tanto assim e nem sei se seis dias seis noites nem lembro se contei o quanto cheirei mas um tanto as-sim considervel tanto no que se rela-ciona quantidade de dias quanto ao que diz respeito quantidade de tiros. Resu-mindo para vs, nscios em assuntos pa-dzsticos do rol, normalmente cheira-se e caga-se. assim. Quase um passe de mgica. Um pozinho mgico e PIRLIM-PIMPIM. Mas a magia tem as suas tra-vessuras, amiguinhos mgicos. Imagi-nrios? Imaginem s que normalmente e concomitantemente ao cheira-se e ca- ga-se h tambm o iminente cheira-se e broxa-se. Os outros, diga-se. Os outros broxam. Eu digo. E os outros que se bro-xem. E estou dizendo e digo porque nor-

  • ! 50!

    malmente qualquer um e nesse caso o um assim mesmo no masculino porque normalmente so os masculinos que chei-ram e pronto. D nisso. A varinha de condo no sobe mais. A dos outros. Por-que agora e estou falando agora desde a-quela hora h seis dias e seis noites quando eu parei de cagar mas no parei de me masturbar. Claro que no fiquei nem ficaria todo esse tempo sem tocar o instrumento. Estamos falando de Rui Sa-les, o rei da punheta. Eu estou falando. Eu mesmo me chamava assim. O rei. Nos tempos de moleque, e at hoje. Toda pu-nheta quase toda v l era assim nessa posio sentado no trono no vaso e batia uma e espera um pouquinho eu esperava um pouquinho e logo dava aquela vonta-de de cagar. E cagava. Eu cagava mais de uma vez. Olha isso, que mgico. s vezes quase todas as vezes v l batia mais de uma. Depois de cagar. Isso! Quem sabe funciona. Quem? Pensa comi-go. Bato umazinha sentado no trono o rei

  • ! 51!

    empossado enfezado socando uma a jato bem rpido quem sabe o rei goza eu gozo bem rpido e depois d aquela vontade de cagar. Quem sabe? Pensa comigo. s pensar s eu pensar e me tocar e chega de tanto verbo e vamos ao e l vou eu agarra o pescoo do frango estica essa porra e pensa no que voc mais gos-ta no que eu mais gosto pensa no rabo jogado pra cima na cara da louca levan-do por trs lembra e eu lembro dos pei-tos pequenos pingando dos bicos suor e suspiros a boca bufando cuspindo mor-dendo vermelha rasgando e pensa na-quela boceta que enxarca tua cama lavando teu saco engolindo o que resta de ti lembra e pensa naquela rebolada e no nariz arrebitado com os olhinhos vi-drando quando queimava teu pau com as pontas dos dentes e o fundo da garganta lembra da engasgada toda vez que tua bomba explodia e escorria lembra que ela limpava o canto da porra com a ln-gua e levantava sem te olhar lembra e

  • ! 52!

    pensa naquela bunda indo embora lem-bra quando o barulho da porta abrindo e fechando te acordou e lembra que ela nunca mais voltou. Lembra? Porra! Era s uma punhetinha e no essa coisa essa crise essa viagem essa voz na cabea sei l. E essa histria de segunda pessoa? Tu tu tu toda hora. Enfia no cu! Isso. Enfia a segunda pessoa no cu. No teu. E chega dessa merda. Porque agora tem mais es-sa. Porque agora alm dessa merda tem tambm essa porra que no sai. E tem esse pau mole. Rui Sales, o broxador. Agora no falta mais nada. S falta ela. E falta cagar. Lembra disso, porra!

    * O ator sentado. Ela me chamava assim. Dizia que ficava que eu ficava tempo de-mais sentado, esperando. Falando de-mais. E mais nada. Maria o nome dela. Pelo menos era assim que a chamava. Que eu a chamava.

  • ! 53!

    * Foda essa dor. Essa situao essa po-sio. Essa dor de lembrar. E ah! que chatice isso e para logo de reclamar e falar e falar e levanta da e faz logo algu-ma coisa meu filho. Que coisa! Qu isso Senhor? Parece at algum levantando e todo levantado no meio da plateia do p-blico no meio dos aplaudidores com a co-ragem toda na voz e na cara emburrada e nos ps firmes pisantes pisando firme-mente no caminho at a sada. A sada desse teatro. Dessa merda! E antes de sair ainda um ltimo grito no dedo esti-cado. T com dor de ficar a sentado es-perando?, v deitar ento. Ela no vem mais. Acabou-se. Acabou a espera meu filho. No percebeu? E aquela voz foi e ficou a pergunta. Vou deitar ento? Mas quem falou? No percebi. No d pra ver daqui. E nem importa e s importa o que falou. Ela no vem? E falou isso aquela voz falou pra eu levantar e sair e deitar e sei l e fazer outra coisa qualquer e aca-

  • ! 54!

    bou-se. Assim. Num pirlimpimpum e fim. Mas a eu pergunto. Agora sou eu que pergunto ento. E se vou e se saio le-vanto e esqueo deixo tudo pra l deixo tudo aqui dentro e desisto de esperar e vou pra l pra outro lugar pra outra his-tria que seja outra cena enfim e se paro de contar e se a luz apaga e ningum aplaudir? Merda! O que se pode fazer? Eu pergunto. Pra quem? Pra mim. E res-pondo, assim. Se eu saio daqui e deito ento e vou pra cama descansar e esque-cer da dor e fico l todo deitado esque-cendo esquecendo e bem nessa hora que ser exatamente o agora daquele momento ser bem naquela hora em que assim do nada num peido de mgica que eu no segurei e nem vou segurar e ser bem nessa hora exatamente a hora em que vou enfim cagar. J imaginou? Eu saio e levanto depois de todo esse tempo fecho minha boca fecho os olhinhos e pronto. T feita a merda. E eu fico todo cagado. Nas calas na cama nas pernas.

  • ! 55!

    isso? pra acabar assim. Todo caga-do? Depois de tudo? Nada disso. Prefi- ro esperar. Sentado. E no se fala mais nisso. No falo. ! *!Se no fumo porque no tem cigarro. No tenho. Achei que certas coisas no teria que explicar. Mas tenho. Nscios.

    *

    E essa mania de conversar e falar com algum? Essa minha, eu digo. E de quem? Estou sozinho. Sentando espe-rando o qu. No tem ningum pra es-perar comigo. Nem Didi nem Gogo. Nem outrem. Nem ela. Sou s eu e ningum nem um moleque pra avisar que o Se-nhor Coc j vem. sempre assim. sempre a mesma pessoa. Eu sou. Sou eu. Um monlogo. Um montono. No tem essa de outros personagens outras hist-rias e vozes de outros. No tem nada.

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    Nem ningum. Eu j disse. No lembra? No tem ningum. Tenho que repetir to-da vez? sempre a mesma coisa. sem-pre o mesmo eu. S eu. Nesse solilquio. Que pra usar a palavra. E s. Rui Sales, aquele que esperou sentado. Era assim que deveriam me chamar. engraado. Mas grande demais. Isso! Rui Sales, o grande. Assim melhor. Podem me cha-mar assim. Todos vocs. Ouviram?

  • ! 58!

    * Realmente eu tenho um humor peculi- ar. No acham? Peculiarmente falando. Pe-cu-li-ar. Parece cabelo de cu. No acham? E s falar e imaginar. Silabica-mente. Rui Sales est sentado em seu trono sanitrio a espera de que seus ca-belos pe-cu-li-a-res fiquem melados e co-bertos de bosta da merda daquela que insiste em no vir e deixa toda a penu-gem pe-cu-li-ar de Rui Sales assim inta-cta quase intacta no fosse o suor e o cheiro de cu que aquele e que esse cu e que todos os outros cus dessa porra toda tm. E o meu cu tambm. Peculiar falar assim. No acham?

    * Foda esse cheiro. Falar de cu d nisso. Eu falo. Eu falei. E deu nisso. Nesse chei-ro que chega e confunde porque no se sabe eu no sei se esse cheiro de merda o cheiro avisando que a merda j vem ou

  • ! 59!

    s mais um peido um sopro que no serve de nada. S pra feder. Esse cheiro me confunde. E confundo o cheiro esse cheiro que vem de dentro de mim com cheiro de qu. o amor? Essa bolha es-ses gases essa dor aqui dentro doendo assim. E esse cheiro. s merda chegan-do ou a merda do cheiro do amor? Esse fedor. No sei. Me confunde. Essa droga foda. Isso aqui t fedendo. Falar de amor d nisso. S de pensar comea a feder. Falei de amor, deu nisso. Fica esse cheiro. S pra foder. Sente s. ! *!Maria. voc? ! !

  • E DIARREIA

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    *

    CAGAR OU NO CAGAR eis a questo. No dava pra deixar essa pra l. No acham? Mas a questo no essa. A questo que no h questo: cagar ou no cagar: no depende de mim. Se de-pendesse viria e j teria vindo h tempos seis dias sete sei l e teria vindo e viria como uma diarreia. Tudo de uma vez. Foi exatamente isso que eu disse. Como uma diarreia. Eu disse. E ficou nojento agora que escutei. Tudo o que eu disse. E nojento assim mesmo. aquela cagada molhada escorrida aguada melando tu-|do que peculiaridade rasgando at um pouquinho que seja aquela ardida nas pregas. Aquela coisa espalhada que no d pra limpar e catar direito. Todo mun-do sabe como . E assim que a coisa .

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    A diarreia. Que deveria ser. O amor? Mas no . No pra mim. Nunca foi. Na ver-dade e bom que se diga que eu diga a verdade e a verdade que nesse caso foi, sim. Ela foi. Foi-se e sumiu. Passou num passe de mgica, ligeiro. Uma foice. Foi-ando tudo que merda que tem pela frente. Fodendo tudo o que tem aqui dentro. Essa merda que ficou. Essa droga que no sai de mim. Onde foi o ltimo tiro quando foi o ltimo teco o teco um teco teco um teco. S mais um teco SE-NHOR. E esse eco essa droga na cabea agora. Maria! Que merda. Vai de uma vez. Fica Maria. S mais uma vez. Faz essa por mim. S mais uma coisa Maria. Me d mais um tiro. S um. S essa vez. D um tiro Maria. E acaba com isso logo de vez. Acaba comigo Maria. Um tiro. Pra bater bem aqui. Na cabea. Na mi-nha cabea. No meio do peito. Como uma diarreia. Essa droga escorrendo pingan-do. S um tiro Maria. O ltimo. E acaba-se. E se der merda a merda que der e

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    ficar algum limpa e cata depois. Pode deixar bem no meio. Bem aqui em cima. O cachorro tambm faz. Isso Maria. S um tiro. Deixa. Algum sempre limpa. Algum cata depois. E depois? O que fa-zemos o que fazer? Pergunta voc. Ora, esperamos o coc. Responde ele. Rui Sa-les, e s. E daqui a pouco aparece um moleque gritando que a merda j vem s esperar. Ela sempre volta. Senta a. T cedo. Que horas so? !! !***!!!

  • Para Paulo de Moraes e Patricia Selonk.

    E aos amigos do Armazm.

  • *Pra no falar que eu no disse: a ep-grafe e as citaes entre as pginas 33 e 37 so trechos de Let's Spend The Night Together, msica escrita por Mick Jagger e Keith The Fucking Richards.

  • Luis Rafael Montero escreveu o Eu Cnico, publicado em 2011 pela Edith, e no parou mais de fazer ca-gada. A ltima a Boca Santa. Pedro Mattos aprendeu a pensar, fotografar e desenhar para que os outros ouam o que ele no fala. Durante o dia trabalha para ganhar o po e pela noite sacia-se libidinosa-mente com suas elegantes garatujas.

  • O ATORMENTADO Carniceria Livros A Oficina do Santo texto: Luis Rafael Montero ilustraes: Pedro Mattos edio: Luis Rafael Montero projeto grfico: Carniceria Livros Joo Gabriel Monteiro reviso: Carniceria Livros

  • BOCA SANTA idealizao: Luis Rafael Montero realizao: Carniceria Livros A Oficina do Santo design: Juneco Martineli Joo Gabriel Monteiro fotos e vdeos: Joo Gabriel Monteiro Felipe Schrmann A Oficina do Santo programao do site: Guilherme "Nabo" artistas: Juliana Amato, Rafael Castro, der Chapolla, Patricia Chmielewski, Mariana Coan, Raphael Gancz, Fernanda Grigolin, Isadora Krieger, Lobot, Bruno Maron, Pedro Mattos, Daniel Minchoni, Joo Gabriel Monteiro, Luis Rafael Montero, Mario Neto, Nelson Provazi, Maria Ribeiro, Haydee Uekubo, Felipe Valrio.