boletim carf - julho e agosto 2016

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CONTATOS Alex Moreira Jorge (sócio) [email protected] Humberto Lucas Marini (sócio) [email protected] Leonardo Rzezinski (sócio) [email protected] Renato Lopes da Rocha (sócio) [email protected] Rosana Gonzaga Jayme (sócia) [email protected] Guilherme Cezaroti [email protected] Marcelo Gustavo Silva Siqueira [email protected] Paulo Alexandre de Moraes Takafuji [email protected] Thiago Giglio Abrantes da Silva [email protected] Laura Kurth Marques Carvalho [email protected] Gabriel Mynssen da Fonseca Cardoso [email protected] Beatriz Biaggi Ferraz [email protected] Larissa Martins Torhacs B. dos Santos [email protected] BOLETIM CARF – Julho e Agosto 2016 Seleção de acórdãos publicados no CARF em julho e agosto de 2016 Prezados Clientes, O presente Boletim CARF consolida as decisões que consideramos mais relevantes publicadas nos meses de julho e agosto de 2016. CSRF (*) A Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF) é a última instância do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. - Firmas Interdependentes para fins de apuração de IPI O acórdão nº 9303-003.821 (DOU 10/08/2016), julgado pela 3ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, tratou do julgamento de Recurso Especial, interposto pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, contra decisão em recurso voluntário perante o antigo Conselho de Contribuintes (decisão de 03/07/2008), que reconheceu a inexistência de interdependência entre empresas por aquisição exclusiva de produtos ou por existência de contrato de participação ou ajuste semelhante entre as empresas. Não obstante o julgamento trate de período anterior ao atual Regulamento do IPI (Decreto nº 7.212 – RIPI/2010), as normas que tratam da interdependência de empresas por exclusividade na aquisição de produtos não foram alteradas e para melhor orientação faremos referência às normas atualmente em vigor, que têm como fundamento de validade o artigo 42 da Lei n° 4.502/64. A interdependência por exclusividade na aquisição de produtos está disciplinada pelos incisos IV e V do artigo 612 do RIPI/2010: TRIBUTÁRIO

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Page 1: Boletim CARF - Julho e Agosto 2016

CONTATOS Alex Moreira Jorge (sócio)

[email protected]

Humberto Lucas Marini (sócio)

[email protected]

Leonardo Rzezinski (sócio)

[email protected]

Renato Lopes da Rocha (sócio)

[email protected]

Rosana Gonzaga Jayme (sócia)

[email protected]

Guilherme Cezaroti

[email protected]

Marcelo Gustavo Silva Siqueira

[email protected]

Paulo Alexandre de Moraes Takafuji

[email protected]

Thiago Giglio Abrantes da Silva

[email protected]

Laura Kurth Marques Carvalho

[email protected]

Gabriel Mynssen da Fonseca Cardoso

[email protected]

Beatriz Biaggi Ferraz

[email protected]

Larissa Martins Torhacs B. dos Santos

[email protected]

BOLETIM CARF – Julho e Agosto 2016 Seleção de acórdãos publicados no CARF em julho e agosto de 2016

Prezados Clientes,

O presente Boletim CARF consolida as decisões que consideramos mais relevantes publicadas nos

meses de julho e agosto de 2016.

CSRF

(*) A Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF) é a última instância do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.

- Firmas Interdependentes para fins de apuração de IPI

O acórdão nº 9303-003.821 (DOU 10/08/2016), julgado pela 3ª Turma da Câmara Superior de

Recursos Fiscais, tratou do julgamento de Recurso Especial, interposto pela Procuradoria-Geral da

Fazenda Nacional, contra decisão em recurso voluntário perante o antigo Conselho de Contribuintes

(decisão de 03/07/2008), que reconheceu a inexistência de interdependência entre empresas por

aquisição exclusiva de produtos ou por existência de contrato de participação ou ajuste semelhante

entre as empresas.

Não obstante o julgamento trate de período anterior ao atual Regulamento do IPI (Decreto nº 7.212

– RIPI/2010), as normas que tratam da interdependência de empresas por exclusividade na

aquisição de produtos não foram alteradas e para melhor orientação faremos referência às normas

atualmente em vigor, que têm como fundamento de validade o artigo 42 da Lei n° 4.502/64.

A interdependência por exclusividade na aquisição de produtos está disciplinada pelos incisos IV e V

do artigo 612 do RIPI/2010:

TRIBUTÁRIO

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“Art. 612. Considerar-se-ão interdependentes duas firmas:

(...)

IV - quando uma delas, por qualquer forma ou título, for a única adquirente, de um ou de

mais de um dos produtos industrializados ou importados pela outra, ainda quando a

exclusividade se refira à padronagem, marca ou tipo do produto; ou

V - quando uma vender à outra, mediante contrato de participação ou ajuste semelhante,

produto tributado que tenha fabricado ou importado.”

A definição da interdependência existe na legislação para evitar a elisão do IPI. Tal norma busca

evitar que o fabricante pratique vendas com preço abaixo do mercado para diminuir sua base de

cálculo do IPI para empresa comercial interdependente, não contribuinte do IPI, que concentrará o

lucro da operação.

Por este motivo, no caso de interdependência, o artigo 195 do RIPI/2010 determina que o valor

tributável não seja inferior ao preço corrente no mercado atacadista da praça do remetente quando

o produto for destinado a outro estabelecimento do próprio remetente ou a estabelecimento de

firma com a qual mantenha relação de interdependência.

No caso concreto, a empresa autuada adquiriu mais de 99% da produção da empresa industrial de

determinada linha de produtos e há contrato de distribuição entre as partes, que a autoridade fiscal

entendeu caracterizar contrato de participação.

No entanto, entendeu a CSRF, por maioria de votos, que no caso não há nenhuma das duas

situações de interdependência. Isto porque, se a legislação caracteriza/presume a interdependência

por ‘aquisição exclusiva’, esta expressão deve ser interpretada literalmente, ou seja, deve haver a

aquisição de rigorosamente 100% da produção para caracterização de interdependência, o que não

ocorreu no caso em análise na CSRF.

Além disso, a CSRF também entendeu que o contrato formalizado entre as partes não caracteriza

contrato de participação ou ajuste semelhante. O contrato entre as partes determina que a

empresa autuada não pode comprar de outro fornecedor, mas não há previsão de que o vendedor

não possa vender para outra empresa que não seja a autuada.

Em decorrência de diligência fiscal, verificou-se que a empresa autuada financia a compra de

insumos pela empresa fabricante dos produtos, porém a fabricante abate o valor adiantado nas

vendas à empresa autuada, mesmo quando a produção é destinada para terceiros, o que afasta a

alegação fiscal de participação nos resultados ou na receita.

Por fim, o acórdão da CSRF ainda asseverou que a adoção de estrutura com tributação menos

onerosa para o contribuinte não pode ser qualificada de fraudulenta somente pelo fato de existir

outra com carga tributária mais elevada. Se o Fisco alega tratar-se de situação fraudulenta, então é

ônus da autoridade provar que o ato desconsiderado efetivamente visou dissimular o ato

verdadeiro.

A CSRF, por maioria de votos, negou provimento ao Recurso Especial da Fazenda Nacional.

- Diferimento da tributação do lucro em contratos com entes públicos

O acórdão nº 9101-002.371 (DOU 10/08/2016), julgado pela 1ª Turma da Câmara Superior de

Recursos Fiscais, tratou do julgamento de Recurso Especial, interposto pela Procuradoria-Geral da

Fazenda Nacional, contra decisão em recurso voluntário perante o antigo Conselho de Contribuintes

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(decisão de 05/07/2010), que afastou a tributação de postergação de receitas de notas fiscais

emitidas em 1996, relativas a serviços prestados em 1995.

O artigo 409 do RIR/1999, atualmente vigente, é aplicável no caso de empreitada ou fornecimento

contratado com pessoa jurídica de direito público, ou empresa sob seu controle, empresa pública,

sociedade de economia mista ou sua subsidiária, como contrato de produção em longo prazo do

artigo 407, ou contrato de produção em curto prazo, cujo resultado deva ser reconhecido à medida

da execução, na forma do artigo 408. Na época dos fatos, era aplicável o artigo 360 do RIR/1994,

com redação semelhante.

Este dispositivo determina que tais contribuintes poderão excluir do lucro líquido do período de

apuração, para efeito de determinar o lucro real, parcela do lucro da empreitada ou fornecimento

computado no resultado do período de apuração, proporcional à receita dessas operações

consideradas nesse resultado e não recebida até a data do balanço de encerramento do mesmo

período de apuração.

Posteriormente, a parcela excluída deverá ser computada na determinação do lucro real do período

de apuração em que a receita for recebida.

No caso julgado, ao fazer a apuração do ano de 1995, o contribuinte excluiu da base de cálculo as

receitas relativas a serviços de empreitada ou fornecimento contratados junto à pessoa jurídica de

direito público executados em 1995, mas pagos em 1996, com base no artigo 360 do RIR/1994

(artigo 409, caput, §§ 1º e 2º do RIR/1999).

No entanto, o contribuinte foi autuado, pois a Fiscalização entendeu que na apuração do lucro real

somente pode ser excluída a parcela do lucro do serviço prestado proporcional à receita das

operações ocorridas no resultado, mas que não foram recebidas no ano de sua ocorrência. Logo, de

acordo com o Fisco, não seria possível a exclusão da totalidade das receitas.

A CSRF entendeu que o contribuinte não poderia excluir as receitas da prestação de serviço da

apuração em 1995, mas deveria apurar o lucro do período, pelo regime de competência, para então

excluir do lucro líquido o lucro proporcional às receitas não recebidas no ano de apuração

decorrentes de contratos com entes públicos. Ainda de acordo com a CSRF, não poderia o

contribuinte contabilizar as despesas pelo regime de competência e as receitas pelo regime de

caixa, posto que a norma somente autoriza o diferimento do lucro, e não das receitas, inclusive sob

pena de afronta ao princípio de causa e efeito de despesas e receitas.

Em resumo, o racional do entendimento da CSRF é o seguinte: ocorrendo a exclusão de apenas

parte do lucro líquido proporcional às receitas não recebidas naquele período de apuração, haverá a

regular tributação pelo IRPJ e CSLL da parcela remanescente. Ao excluir parte do lucro, há exclusão

proporcional de receitas e despesas, na medida em que ambos são utilizados para se apurar o IRPJ e

CSLL devidos.

No entanto, ao excluir apenas as receitas, sem qualquer exclusão proporcional das despesas, o

contribuinte reduziu desproporcionalmente o lucro líquido e consequentemente as bases de cálculo

do IRPJ e CSLL. Este procedimento representou a postergação de tributação de valores além do

permitido pela legislação, que no caso em questão ainda foram beneficiadas por alíquotas menores

dos tributos no ano de 1996.

A CSRF deu provimento, por unanimidade de votos, ao Recurso Especial da Fazenda Nacional.

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- Incidência de Contribuição Previdenciária sobre Hiring Bonus e requisitos da não tributação da

Participação nos Lucros ou Resultados (PLR)

Nos acórdãos nºs 2202-003.438 (DOU 18/07/2016) e 9202-004.308 (DOU 24/08/2016), a 2ª Turma

Ordinária da 2ª Câmara do CARF e a 2ª Turma da CSRF decidiram, respectivamente, pela incidência

de contribuição previdenciária sobre os valores pagos a título de hiring bonus.

Entretanto, as razões para este entendimento são diversas. O principal argumento utilizado pela 2ª

Turma Ordinária do CARF foi de que a possibilidade, no caso concreto, de devolução dos valores

pagos a título de hiring bonus em razão de um eventual descumprimento das regras estabelecidas

no contrato de trabalho desfiguraria seu caráter indenizatório e desvinculado.

A CSRF, por sua vez, decidiu pela incidência em razão da verba não ter natureza eventual, por não

estar relacionada a um caso fortuito. Ao contrário, a verba é esperada desde a contratação e resulta

do contrato de trabalho, razão pela qual integra o salário de contribuição. A decisão recorrida,

porém, tinha considerado que o hiring bonus, por ter sido pago uma única vez, não deveria compor

a base de cálculo das contribuições previdenciárias.

Ambos os acórdãos analisaram também o requisito temporal para a assinatura dos acordos

coletivos que deram origem aos planos de PLR, pois nos casos concretos os acordos foram assinados

perto do final do ano em que os planos seriam aplicáveis.

Entendeu-se que a assinatura deveria ser prévia ao período de cumprimento do plano, uma vez que,

caso contrário, não seria mais possível que os trabalhadores empreendessem esforços para cumprir

as condições do PLR, de maneira que não haveria estímulo a um esforço adicional, retirando das

verbas pagas uma de suas características essenciais, a recompensa pelo esforço conjunto entre o

capital e o trabalho para o alcance de metas. Não foram aceitas as alegações dos contribuintes de

que os acordos pouco mudaram ao longo dos anos ou que os critérios estavam estabelecidos em

sistemas internos, em razão de não serem uma garantia de que as regras não seriam modificadas

posteriormente.

Por outro lado, a 1ª Turma Ordinária da 3ª Câmara do CARF entendeu, por meio do acordão n°

2301-004.728 (DOU 21/07/2016), que a data da assinatura do acordo não é o pré-requisito legal e

sim o prévio conhecimento das metas por parte dos funcionários durante parte do período de

apuração. Embora a assinatura tenha ocorrido ao final do ano de apuração, o contribuinte já tinha

planos de PLR nos anos anteriores, cujas metas de produtividade dos empregados foram mantidas.

Dessa forma, não se considerou que a assinatura ao final tenha interferido na sua produtividade, eis

que as metas já estavam na sua esfera de conhecimento. Afirmou-se, então, que entendimento

contrário se afastaria do princípio da verdade material.

Os acórdãos nºs 2301-004.728 e 2202-003.438 abordaram também a possibilidade de coexistência

de planos de PLR, entendendo que não há vedação legal. Entretanto, não é possível o pagamento ao

mesmo funcionário de dois planos de PLR, devendo ocorrer uma “compensação” entre os planos,

nos casos em que um empregado fizer jus aos dois.

Convém mencionar que o acordão nº 2301-004.728, conjuntamente com os acórdãos nºs 2402-

005.346 (DOU 08/07/2016) e 9202-004.306 (DOU 24/08/2016), discorreram sobre a incidência de

contribuição previdenciária sobre os pagamentos de PLR para diretores e administradores. Em se

tratando de diretor empregado, entendeu-se que o fundamento utilizado pelo Fisco para afastar a

isenção tributária considerando o diretor empregado como se fosse contribuinte individual, e não

segurado empregado, não prospera, eis que a própria Lei n° 8.212/1991 prevê a possibilidade do

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diretor empregado ser considerado segurado da previdência.

Entretanto, quando se trata de administradores ou diretores não empregados (estatutários),

entendeu-se pela incidência de contribuições previdenciárias sobre a verba paga a título de PLR, em

razão da natureza jurídica diversa da verba paga aos empregados. Afastou-se o argumento do

contribuinte de que a Lei das Sociedades por Ações (6.404/76) seria a lei específica para estes casos,

uma vez que a mesma não se destinou a regular a exceção da Lei n° 8.212. Assim, aplicar-se-ia a Lei

n° 10.101/00, que é restrita aos empregados.

Houve porém, declaração de voto no acórdão n° 9202-004.306, no sentido de que a PLR não se

confundiria com o pró-labore do administrador estatutário, esse com caráter contraprestacional,

habitual e periódico, cujo objetivo é remunerar a prestação de serviços e gestão da companhia.

Dessa forma, sendo a incidência das contribuições restrita aos rendimentos do trabalho, destacou a

impossibilidade de tratamento diferenciado aos administradores prestadores de serviço e

administradores não-empregados, entendendo ser caso de aplicação da Lei n° 6.404/1976 como lei

específica.

Por fim, o acórdão n° 2301-004.730 aduziu que o plano de PLR não pode adotar critérios que

intencionalmente restrinjam o pagamento a somente alguns empregados, apesar da liberdade dos

sindicatos ou comissões para fixarem os critérios do PLR.

Percebendo a autoridade fiscal a dissimulação de pagamento de salário com participação de lucros,

deverá aplicar o princípio da verdade material, considerando os valores pagos integrantes da base

de cálculo das contribuições previdenciárias. Na caso, entendeu-se que o pagamento ficava restrito

àqueles que teriam maiores salários e, desta forma, maior base de cálculo das contribuições

previdenciárias, o que seria contrário aos preceitos gerais da lei, quais sejam, a integração entre o

capital e o trabalho e o ganho de produtividade.

- Não incidência de multa e juros sobre o IRRF na remuneração indireta

No acórdão nº 9202-004.301 (DOU 17/08/2016), julgado pela 2ª Turma da Câmara Superior de

Recursos Fiscais, a Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial visando reconhecer a legalidade da

autuação que impôs a aplicação de multa isolada e juros pela ausência de retenção de imposto de

renda na remuneração indireta paga ao sócio da pessoa jurídica autuada.

No caso concreto, a pessoa jurídica autuada alegou que efetuou um mútuo ao sócio, quando, na

verdade, pagava suas despesas pessoais, tais como despesas com escolas e cursos de idiomas,

condomínio etc. A autuação foi mantida pelo CARF, que considerou o empréstimo como uma

remuneração indireta, com a aplicação do artigo 61 da Lei n° 8.981/95, que trata da incidência

exclusiva do IRRF, com alíquota de 35%, em pagamentos para beneficiários não identificados ou

quando não for comprovada a operação ou a sua causa.

A decisão da CSRF entendeu que a sistemática de cobrança de multa isolada e juros aplicados à

fonte pagadora é incompatível com a tributação dos rendimentos na pessoa física do beneficiário,

que também sofreu a lavratura de autuação fiscal.

A relatora acórdão indicou que o enquadramento utilizado pela Fiscalização fora equivocado, posto

que os rendimentos, remuneração indireta que são, não se submeteriam as regras aplicadas às

fontes pagadoras por meio de tributação exclusiva. Outrossim, o reajuste das bases de cálculo,

considerando rendimentos brutos como sendo líquidos, procedimento adotado apenas nos casos

em que a fonte pagadora assume o ônus do tributo, bem como o fato da fiscalização ter utilizado a

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tabela de alíquotas progressivas e apresentado a exigência em face da pessoa física, seria

incompatível com a legislação que prevê a remuneração indireta paga a sócios de empresas.

Dessa forma, como a tributação exclusiva na fonte não se harmoniza com a exigência de multa

isolada por ausência de retenção na sistemática de antecipação do imposto devido no ajuste anual,

o Recurso Especial da Fazenda Nacional teve provimento negado.

- Incidência da CIDE-tecnologia nas remessas para programadoras estrangeiras pela aquisição de

conteúdo e inclusão do IRRF na base de cálculo da CIDE-tecnologia

No acórdão nº 9303-004.149, a 3ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, por maioria de

votos, negou provimento ao Recurso Especial interposto pelo contribuinte, sob o entendimento de

que (i) haveria a incidência da CIDE-tecnologia nos pagamentos remetidos à programadoras

estrangeiras pela aquisição de conteúdo (‘direitos de transmissão de obras audiovisuais por meio de

sinais de televisão por assinatura’), bem como (ii) que o montante referente ao IRRF deveria ser

considerado na base para o cálculo da CIDE-tecnologia.

Em relação ao primeiro ponto, a Turma se posicionou no sentido de que os valores remetidos ao

exterior teriam natureza de royalties, de forma que haveria a incidência da mencionada

contribuição. Além disso, firmou-se o entendimento de que não haveria dupla tributação em razão

da incidência da CONDECINE, diante da destinação distinta de tais contribuições.

- Decisões em casos considerados como de ágio interno

Foram julgados desfavoravelmente aos contribuintes alguns casos considerados como ágio interno

e sem o desembolso de recursos na aquisição da empresa alvo (acórdãos nºs 9101-002.391 e 9101-

002.392 da CSRF e acórdãos nºs 1402-002.204 e 1402-002.203 do CARF).

O ágio interno ocorre quando a operação de aquisição de participação societária de empresa com

ágio por rentabilidade futura ocorre dentro do mesmo grupo econômico e, em geral, sem o

pagamento em dinheiro por tal participação, com a integralização da participação societária sendo

preferida.

O CARF mantém a posição de não permitir a amortização do ágio resultante dessas operações.

CARF

- Incidência do PIS/COFINS sobre receitas decorrentes de venda de participações societárias em

razão de sua reclassificação para o ativo circulante

No acórdão n° 3401-003.113 (DOU 03/08/2016), a 1ª Turma Ordinária da Quarta Câmara da

Terceira Seção de Julgamento do CARF, pelo voto de qualidade, negou provimento ao Recurso

Voluntário, por meio do qual se pretendia que as receitas decorrentes da venda de participações

societárias adquiridas há mais de 12 (doze) meses não integrassem a base para o cálculo das

contribuições ao PIS e COFINS, por se tratarem de receitas não operacionais.

A questão central diz respeito ao fato do contribuinte ter realizado a transferência contábil dos

investimentos do ativo permanente (denominação da época) para o circulante pouco tempo antes

de sua alienação.

No caso, ficou vencido o relator e prevaleceu o entendimento de que somente poderiam ser

excluídas da base de cálculo de tais contribuições as receitas de vendas de participações societárias

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classificadas no ativo permanente no momento de sua alienação, na medida em que, a partir do

momento em que houve tal reclassificação contábil, teria ocorrido ‘mudança na natureza do ativo,

para fins de classificação patrimonial’, perdendo seu caráter permanente e se transformando ‘em

um ativo de venda, de receita operacional.’

Além disso, o voto vencedor aponta que o objeto social do contribuinte engloba a administração de

carteira de valores mobiliários, próprios e de terceiros, a realização de aquisição e venda de valores

mobiliários no mercado secundário, o que fortaleceria o entendimento de que as participações

societárias adquiridas são classificadas no ativo circulante e sua venda integra a receita bruta de

vendas da entidade.

- CARF volta a julgar casos de stock option

No mês de julho a 2ª Turma Ordinária do CARF teve a oportunidade de debater mais alguns

processos que versavam sobre stock option. A equivalência dos julgados correspondem a ocorrência

de fato gerador para fins de incidência do Imposto de Renda, a definição da base de cálculo e a

manutenção da necessidade de se analisar os planos de stock option de cada empresa.

Nos acórdãos n°s 2402-005.346, 2202-003.437 e 2202-003.436, destacou-se que a natureza jurídica

das stock option é remuneratória, isto porque as vantagens econômicas oferecidas aos empregados

na aquisição de lotes de ações da empresa, quando comparadas com o efetivo valor de mercado

dessas mesmas ações, configuram-se ganho patrimonial do empregado decorrente, exclusivamente,

do trabalho, ou seja, da relação de emprego mantida com a empresa.

Quanto o aspecto temporal do fato gerador do imposto de renda, houve prolação de voto vencido

no acórdão n° 2402-005.346 (DOU 08/07/2016). O relator proferiu voto no sentido de que tão logo

seja cumprida a condição suspensiva do plano (período de carência), o beneficiário deterá a

propriedade sobre um ativo, a opção, podendo converter em ações e, posteriormente, em pecúnia,

o que caracterizaria o aspecto material para incidência do IR. No entanto, o entendimento vencedor

é no sentido de que somente haverá a ocorrência de fato gerador do imposto na data do efetivo

exercício da opção pelo beneficiário.

Outro aspecto do fato gerador posto em voga foi o quantitativo. Os conselheiros chegaram ao

consenso de que a base de cálculo a ser adotada deverá corresponder a diferença entre o valor

pago para aquisição das ações (valor previsto nos contratos) e o valor de mercado destas ações na

data da liquidação financeira, ou seja, do exercício da opção de compra. Dessa forma, a base de

cálculo deverá corresponder ao ganho patrimonial do beneficiário.

Conforme informamos no Boletim CARF anterior, os novos precedentes continuam a determinar a

necessidade de análise das peculiaridades de cada modelo de plano de stock option, para avaliar se

houve ou não o desvirtuamento do instituto, de modo a mensurar as consequências tributárias

decorrentes de cada plano de opção de compra de ações.

- Decisões do CARF a respeito dos lucros apurados no exterior

Recente decisão da 1ª Turma da Câmara Superior do CARF afastou a aplicação de acordo contra a

bitributação da renda envolvendo lucros de controladas de empresa brasileira situadas nas Holanda,

para afirmar a tributação dos lucros auferidos no exterior pelo IRPJ e CSLL, prevalecendo a tese do

Fisco de que a tributação brasileira alcança a receita de empresa brasileira, e não o lucro da

controlada no exterior (acórdãos n°s 9101-002.330 e 9101-002.331).

O voto do conselheiro relator acatou os argumentos do contribuinte de que o art. 7º do acordo

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contra a bitributação celebrado entre o Brasil e a Holanda impediria a imposição fiscal com base na

legislação interna, por ser a tributação dos lucros de competência exclusiva do país de domicílio (no

caso, a Holanda). Este voto também citou o precedente favorável do Superior Tribunal de Justiça

aos contribuintes no Recurso Especial nº 1.325.709/RS e indicou que a possível aplicação do artigo

10 dos Tratados configuraria burla ao Tratado, pois dividendo pressupõe ato voluntário de

disponibilização de qualquer lucro, o que não ocorreu no caso concreto.

No entanto, por voto de qualidade, prevaleceu a tese fazendária, segundo a qual o que se tributa no

Brasil não são os lucros da empresa controlada no exterior, mas tão somente a “receita” da

empresa brasileira, na proporção da sua participação na controlada estrangeira, ainda que não haja

efetiva disponibilização e remessa de valores. Assim, a imposição não estaria impedida pelo art. 7º

do tratado internacional.

O voto vencedor indica que a jurisprudência mais recente do CARF é no sentido de admitir a

tributação dos resultados auferidos no exterior mesmo quando haja acordo de bitributação com o

país onde está situado a controlada da empresa brasileira, indicando os acórdãos n°s 140-001.619

(decidido em 04 de maio de 2016, relativo ao acordo Brasil-Portugal), 1401-001.526 (decidido em 2

de fevereiro de 2016, Brasil-Espanha), 1302-001.629 (decidido em 3 de fevereiro de 2015, Brasil-

Holanda), 1301-001.651 (decidido em 23 de setembro de 2014, Brasil-Portugal e Brasil-Equador),

1201-001.024 (decidido em 6 de maio de 2014, Brasil-Chile), 1402-¬00.391 (decidido em 27 de

janeiro de 2011, Brasil-Hungria).

Como o voto vencedor entende que o acordo de bitributação e o art. 74 da MP nº 2.158-35/2001

são aplicáveis de forma concomitante, sem qualquer confronto, entendeu que não seria necessária

a análise da questão sob o foco do art. 98 do Código Tributário Nacional, que trata da delimitação

da competência tributária brasileira quando há celebração de acordo de bitributação.

Ainda de acordo com o voto vencedor, se o objetivo do acordo Brasil-Holanda fosse impedir a

tributação, pelo Brasil, dos lucros ainda não distribuídos na Holanda, este último país teria

celebrado um acordo nos moldes do Brasil com Eslováquia, República Tcheca, Noruega e

Dinamarca, que têm previsão expressa neste sentido.

Em outro processo julgado na mesma data, que além da controlada situada na Holanda envolvia

uma controlada situada nas Ilhas Cayman (acórdão n° 9101-002.332), a questão era a legitimidade

da compensação de prejuízos fiscais apurados em exercícios anteriores pela controlada no exterior

com os seus próprios lucros, apurados no período de apuração objeto do lançamento de ofício,

conforme autoriza o parágrafo 2º do art. 4º da IN SRF n° 213/2002.

No caso, o contribuinte comprovou a escrituração dos prejuízos fiscais de sua controlada no

exterior, bem como a sua compensação com lucros auferidos pela própria controlada no exterior,

razão pela qual o recurso do contribuinte foi provido por unanimidade de votos nesta parte.

A última decisão, proferida por uma das câmaras ordinárias (acórdão n° 1302-001.947), diz respeito

a um contribuinte que deixou de adicionar na base de cálculo do IRPJ e da CSLL os lucros auferidos

por controlada direta em Gibraltar e por controladas indiretas estabelecidas no Uruguai, que eram

controladas diretas de outras empresas do mesmo grupo estabelecidas na Bahamas e na Espanha.

O contribuinte também foi autuado porque deixou de adicionar ao lucro líquido, para a apuração do

lucro real, os juros mínimos obrigatórios relativos a empréstimos concedidos a controlada direta

estabelecida nas Bahamas.

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A decisão de 1ª instância havia afastado parcialmente a autuação em relação aos lucros auferidos

pela empresa uruguaia, cuja controladora tinha sede nas Bahamas, que por sua vez é 100%

controlada pela autuada, porque a fiscalização deixou de observar o disposto no parágrafo 6º do

art. 1º da IN/SRF nº 213/2002, segundo o qual os resultados auferidos por intermédio de outra

pessoa jurídica, na qual a controlada no exterior mantenha participação societária, devam ser

consolidados no balanço da filial, sucursal, controlada ou coligada para efeito de determinação do

lucro real e da base de cálculo da CSLL da beneficiária no Brasil.

Em relação a outra controlada indireta uruguaia, cuja controladora direta estava sediada na

Espanha, a decisão de 1ª instância afastou a autuação não só porque o resultado auferido pela

controlada indireta não poderia ser lançado diretamente no resultado da controladora brasileira,

mas também porque a fiscalização não comprovou a alegação de que haveria abuso na utilização de

tratado (treaty shopping), pois não foi apresentada qualquer evidência de que a empresa espanhola

fora criada unicamente para aproveitamento do benefício fiscal, conforme trecho abaixo do voto:

“A fiscalização fala que a Jalua é um mero conector para aproveitamento dos benefícios

tributários, que sua direção de fato é no Brasil e que não tem caráter imediatamente

produtivo. Contudo, não diz porque ela é um mero conector, nem porque não possui caráter

produtivo ou que as atividades declaradas em seus atos constitutivos não estejam sendo

exercidas. Também não explicita porque chegou à conclusão de que a direção da espanhola

Jalua é de fato no Brasil, o que poderia descaracterizá-la como estabelecimento permanente

na Espanha e, consequentemente afastar a isenção de seus rendimentos no Brasil prevista

no Tratado para Evitar a Dupla Tributação celebrado entre o Brasil e a Espanha, promulgado

pelo Decreto n 76.975, de 02 de janeiro de 1976.”

A autuação foi mantida no que diz respeito à disponibilização ficta dos lucros prevista no art. 74 da

Medida Provisória nº 2.158-35/2001 e a aplicação da legislação sobre preços de transferência no

cálculo dos juros entre empresas do mesmo grupo.

Houve recurso voluntário do contribuinte e recurso de ofício ao CARF em razão do valor da parte do

auto que foi cancelada.

A decisão da turma ordinária do CARF manteve o cancelamento do lançamento em relação aos

lucros auferidos pela empresa uruguaia, cuja controladora tinha sede nas Bahamas, ressaltando

ainda que o resultado positivo auferido pela empresa uruguaia estava devidamente consolidado nas

demonstrações financeiras da empresa com sede nas Bahamas e que fora inteiramente absorvido

por resultados negativos auferidos por esta em exercícios anteriores.

Em relação a controlada indireta uruguaia controlada por controlada direta espanhola, a decisão de

2ª instância observou que esta última obedecia às Normas Internacionais de Informações

Financeiras (NIIF), que não obrigava as empresas espanholas a contabilizar os ativos mobiliários,

razão pela qual não estava obrigada a consolidar o resultado de sua controlada uruguaia por meio

da equivalência patrimonial, mantendo assim o cancelamento do auto de infração.

Sobre a legitimidade da distribuição ficta de resultados prevista no art. 74 da MP nº 2.158-35/2001,

a decisão de 2ª instância aplicou o entendimento do STF na ADI n° 2.588/DF, que reconheceu a sua

constitucionalidade em relação às controladas em paraíso fiscal e a decisão do Recurso

Extraordinário nº 541.090/SC, que reconheceu a constitucionalidade em relação às controladas

situadas fora de paraíso fiscal.

Acerca do aproveitamento do crédito relativo ao imposto de renda pago pela controlada direta nas

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Bahamas, a decisão de 2ª instância considerou que não houve prova do efetivo pagamento do

imposto, em razão do contribuinte ter apresentado apenas as planilhas de sua apuração, mantendo

assim o lançamento de ofício, o mesmo ocorrendo em relação a aplicação da legislação de preços

de transferência no cálculo dos juros entre empresas do mesmo grupo, uma vez que a instância

administrativa não pode deixar de aplicar a norma sob o fundamento de sua ilegalidade ou

inconstitucionalidade.

- Decisões do CARF sobre o uso de empresa veículo em operações envolvendo a amortização de

ágio

No acórdão nº 1201-001.438 (DOU 08/07/2016), a 1ª Turma Ordinária da Segunda Câmara da

Primeira Seção do CARF admitiu a amortização do ágio, por maioria de votos, em caso envolvendo a

constituição de empresa veículo para a aquisição da participação societária na empresa alvo.

Todavia, no acórdão nº 1402-002.207 (DOU 25/07/2016), a 2ª Turma Ordinária da Quarta Câmara

da Primeira Seção do CARF decidiu pela impossibilidade de amortização do ágio no caso

contextualizado abaixo:

a) o investidor estrangeiro interessado na aquisição de uma empresa alvo brasileira constituiu

uma empresa veículo no país e integralizou nessa empresa os recursos necessários para a

aquisição da empresa alvo.

b) a empresa veículo adquiriu ações da empresa alvo com ágio fundamentado em

rentabilidade futura.

c) por fim, a empresa alvo incorporou a empresa veículo e passou a amortizar o ágio.

Toda a operação foi realizada no período de um mês e foi desconsiderada diante do investidor

estrangeiro ter sido considerado o real adquirente, além da curta duração entre a aquisição pela

empresa veículo e a sua posterior incorporação pela empresa alvo.

A substância da empresa veículo continua sendo uma questão relevante em casos envolvendo ágio,

assim como o lapso temporal entre a aquisição da empresa alvo e a incorporação para a

amortização do ágio.

- Aplicação do princípio da estrita legalidade na permuta de valores mobiliários

No acórdão nº 2201-003.203 (DOU 18/07/2016), a 1ª Turma Ordinária da Segunda Câmara do CARF

analisou a seguinte controvérsia: aplicação do princípio da proporcionalidade na cisão e permuta

realizada com valores mobiliários.

Em relação ao princípio da proporcionalidade o entendimento até então esposado pelo CARF era no

sentido de que a parcela do patrimônio de determinada companhia cindida era atribuída ao

respectivo acionista proporcionalmente ao valor do patrimônio cindido. Com a alteração promovida

pela Lei nº 9.457/1997, (art. 229, § 5°, da Lei nº 6.404), o princípio da proporcionalidade passou a

ser relativizado.

Isto porque, com a nova redação dada ao artigo mencionado, o CARF entendeu no referido acórdão

que, desde que houvesse aprovação de todos os titulares, poderiam haver parcelas do patrimônio

conferidas a titulares em outros valores, tais como valores de mercado, ou econômicos estimados.

Caso, entretanto, não houvesse a aprovação de todos os titulares, as ações ou quotas deveriam ser

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atribuídas na proporcionalidade das que os acionistas ou sócios anteriormente possuíam no

patrimônio líquido da sociedade cindida.

Portanto, como no caso restou comprovado que houve discordância dos acionistas em atribuir

proporções diferentes as ações ou quotas, o contribuinte teve seu recurso negado neste quesito.

Já em relação a questão da permuta de valores mobiliários, o recurso do contribuinte também teve

provimento negado, sob o fundamento de que quando a transmissão de bens resultar em variação

positiva entre o valor do bem transmitido e o custo de aquisição do outro bem, para a legislação

tributária, haverá ganho de capital e, consequentemente, incidirá o imposto.

Para as transações imobiliárias, especificamente, a legislação tributária prevê que será considerado

ganho de capital somente a parcela complementar em dinheiro resultante da eventual diferença do

bem transmitido e do adquirido. Por outro lado, no caso de valores mobiliários, a permuta reger-se-

á pela norma geral, constante do artigo 3º, § 3º, da Lei nº 7.713/1998, qual seja, de que em toda a

operação que se possa extrair os efeitos de uma alienação, se apurará o ganho de capital.

Diante de tal interpretação, o CARF entendeu que no caso concreto houve elementos suficientes

para quantificar o preço efetivo da operação, considerado o próprio preço da alienação, razão pela

qual apurou que o valor de toda a transação mobiliária do contribuinte seria ganho de capital

sujeito ao imposto de renda.

- Incidência de CIDE-tecnologia sobre remessas pela remuneração de direito de imagem e

impossibilidade de reajustamento da base de cálculo para inclusão do ISS

No acórdão nº 3402-003.109 (DOU 14/07/2016), a 2ª Turma Ordinária da Quarta Câmara da

Terceira Seção de Julgamento do CARF entendeu, por maioria de votos, (i) ser legítima a incidência

de CIDE-tecnologia sobre as remessas de valores a título de remuneração do direito de imagem e,

por unanimidade de votos, (ii) ser improcedente o reajustamento da base para o cálculo da CIDE-

tecnologia para a inclusão do montante referente ao ISS.

Inicialmente, o contribuinte alegou que, embora o artigo 22, ‘d’, da Lei nº 4.506/64 tenha

classificado como royalties os rendimentos de qualquer espécie decorrentes do uso, fruição ou

exploração dos direitos autorais, os direitos de imagem são vinculados aos direitos da personalidade

e não aos autorais, de forma que não estariam sujeitos à CIDE-tecnologia.

Além disso, sustentou que a exigência fiscal seria indevida, pois tais tipos de contratos (relativos ao

direito de imagem) não constariam do artigo 10 do Decreto nº 4.195/02, que seria taxativo e cujos

objetos dariam ensejo à cobrança da CIDE.

Entretanto, em resumo, a Turma se posicionou pela incidência da CIDE-tecnologia, sob os

fundamentos de que (i) segundo o artigo 90, § 2º, da Lei n º 9.610/98, o direito de imagem seria

conexo aos direitos autorais, bem como de que (ii) o rol estabelecido pelo Decreto nº 4.195/02 não

seria taxativo, pois a Lei nº 11.452/2007 teria esclarecido que, a partir de janeiro de 2006, a

contribuição só poderia incidir sobre as remessas a título de remuneração pelo uso de software

quando houvesse transferência de tecnologia, ainda que tal tipo de contrato não estivesse prevista

no Decreto nº 4.195/02.

Por fim, em relação ao segundo ponto, apesar do contribuinte do ISS ser o beneficiário da remessa e

o responsável pela retenção ter assumido o seu ônus, o colegiado entendeu que a inclusão do ISS na

base de cálculo da CIDE-tecnologia requer expressa disposição legal em tal sentido (como ocorreu

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no caso da inclusão do IRRF na sua própria base – artigo 5º da Lei nº 4.154/62), o que não é previsto

na legislação.

No caso de dúvidas, por favor, não hesitem em nos contatar.

Atenciosamente,

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