boletim clg 4
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O Boletim CLG é um periódico do Comando Local de Greve da ADUFS com informações sobre o movimento grevista dos professores federais da UFS.TRANSCRIPT
A cada dia que passa,
a greve nas Institui-
ções Federais de Ensi-
no cresce. Não só pro-
fessores, mas tam-
bém estudantes estão
aderindo ao movimen-
to de greve que já é
considerado histórico
devido ao grande nú-
mero de adesões des-
de o dia de sua defla-
gração, em 17 de mai-
o. Mais de 80% da
base do sindicato está
participando da luta.
De acordo com infor-
mações do ANDES-
SN, as últimas institui-
ções a paralisarem
suas atividades foram
a Universidade Fede-
ral do ABC, a Universi-
dade de Integração
Latino Americana e o
Centro Federal de E-
ducação Tecnológica
do Rio de Janeiro. No
total, já são 51 institu-
ições federais em gre-
ve, o que mostra a
força da reivindicação
Greve 2012 tem adesão histórica de IFES Notícia
ESTUDANTES APOIAM A
GREVE DOS PROFESSORES
P.3
Artigo
A GREVE DOS PROFESSO-
RES DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS P.4 E 5
11 a 17 de junho de 2012 N° 4
A S S O C I A Ç Ã O D O S D O C E N T E S D A U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E S E R G I P E
Boletim CLG
No dia 5 de junho, o-
correu em Brasília um
dia de mobilização na-
cional. O Fórum Nacio-
nal das Entidades dos
Servidores Públicos
Federais (composto por
31 entidades) organi-
zou a Marcha na Espla-
nada dos Ministérios,
que contou com uma
participação de cerca
de 15 mil pessoas.
Caravanas com profes-
sores de instituições
Federais de Ensino em
greve participaram do
ato, que reuniu estu-
dantes e trabalhadores
federais de todo o Bra-
sil. Ela teve início na
Catedral e seguiu para
o Palácio do Planalto,
onde ocupou a praça
dos três Poderes e con-
centrou-se em frente
ao Ministério do Plane-
jamento.
Na mesma data ocor-
reu uma reunião do
CNG/ANDES-SN com o
Ministro da Educação,
devido à pressão pro-
vocada pela mobiliza-
ção nacional. Porém,
não houve avanço nas
negociações. O Minis-
tro Aloizio Mercadante,
informou que o gover-
no analisará a luta da
Marcha em Brasília e reunião com governo marcam dia 05/06
categoria a partir da
conjuntura da crise in-
ternacional, o que, pa-
ra o CNG/ANDES-SN, é
um argumento infun-
dado.
dos professores. Esti-
ma-se que a Universi-
dade Federal de San-
ta Catarina também
entre em greve.
Todos os dias, o Co-
mando Nacional de
Greve (CNG) recebe
moções de apoio ao
movimento, seja de
outras universidades
que estão se mobili-
zando para participar
da greve, seja de cate-
gorias de trabalhado-
res que reconhecem a
necessidade de mu-
danças para uma me-
lhor qualidade da edu-
cação superior públi-
ca.
Fon
te:
AD
UFC
G
Com mais de 15 mil ser-
vidores, de todos os can-
tos do país, a Marcha em
Brasília demonstrou a
unidade dos diferentes
setores do funcionalismo
público federal, prenunci-
ando uma das maiores
greves a ser realizada no
serviço público. Em ple-
nária ampliada na Espla-
nada dos Ministérios na
tarde do último dia 5 de
junho, mais de 800 re-
presentantes das 31 en-
tidades que compõem o
Fórum Nacional das Enti-
dades dos Servidores
Públicos Federais vota-
ram pela greve geral no
funcionalismo a partir de
11 de junho.
Desse modo, a greve dos
docentes das Instituições
Federais de Ensino Supe-
rior ganha uma nova di-
nâmica com a deflagra-
ção da greve dos servido-
res públicos federais. A
passagem de uma greve
específica para uma gre-
ve geral do serviço públi-
co federal implica em
novas atribuições ao Co-
mando Local de Greve,
especialmente impondo
uma articulação mais
decisiva dos Docentes
com outros setores do
funcionalismo público em
Sergipe. Para tanto, foi
deliberada a rearticula-
ção do Fórum em Defesa
do Serviço Público na
última Assembleia do dia
5 de junho, mas, como a
conjuntura favorece a
organização de um Co-
mando Estadual de Gre-
ve do Serviço Público,
pensamos que essa pro-
posta deva ser discutida
e construída com a incor-
poração dos novos seg-
mentos de funcionários
públicos federais em gre-
ve.
Mesmo que as entidades
tenham apontado dias
diferenciados para o mo-
mento da deflagração,
nessa semana temos
uma greve geral do setor
da educação (FASUBRA e
SINASEFE), o que nos
impõe também a necessi-
dade de criação de um
Comando Unificado de
Greve na Universidade
Federal de Sergipe. O
Diretório Central dos Es-
tudantes não tem cum-
prido a histórica bandeira
de defesa da Universida-
de Pública, Gratuita e de
Editorial
2
Boletim CLG
Qualidade, ao não convo-
car uma Assembleia Ge-
ral para que os estudan-
tes possam se incorporar
a cerca de 30 universida-
des que decretaram a
greve estudantil. Vive-
mos um momento histó-
rico e isto exige uma
grandeza de superar di-
vergências e construir
uma unidade da luta em
defesa da Universidade
contra o modelo hoje
existente de prestadora
de serviços.
É importante destacar
que a deflagração da
greve geral dos servido-
res soma forças à parali-
sação dos docentes e,
portanto, a greve dos
professores não se dilui
na do funcionalismo fe-
deral. É um momento de
fortalecimento da nossa
greve, mas também da
necessidade de ampliar-
mos o fortalecimento do
movimento paredista.
Por isso, conclamamos
todos os docentes para
se integrar às diversas
atividades que iremos
desenvolver ao longo da
semana, mas principal-
mente na construção de
um grande ato público no
próximo dia 19 de junho
no centro de Aracaju,
quando a Universidade
volta à rua.
CHARGE DA
SEMANA
EXPEDIENTE DIRETORIA 2010-2012—GESTÃO “A LUTA CONTINUA”
Presidente: Antônio Carlos Campos; Vice-Presidente: Marcos Antônio da Silva Pedroso; Secretária: Manuela Ramos da Silva; Diretor Administrativo e Financeiro: Júlio Cesar Gandarela Resende; Diretor Acadê-
mico e Cultural: Fernando de Araújo Sá. Suplentes: Sonia Cristina Pimentel de Santana e Carlos Dias da Silva Júnior
Boletim produzido pela ADUFS - Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe do Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Superior
Endereço: Av. Marechal Rondon, s/n, bairro Rosa Elze, São Cristóvão-SE
Jornalismo: Raquel Brabec (DRT- 1517)
O conteúdo dos artigos assinados é de responsabilidade dos autores e não corresponde necessariamente à opinião da diretoria da ADUFS
Contato ADUFS: Tel.: (79) 3259-2021 E-mail: [email protected] Site: http://www.adufs.org.br
3
N° 4
Greve dos professores recebe moções de apoio
"O Coletivo Nacional Barri-
cadas abrem Caminhos
vem por meio desta nota
se posicionar a favor da
greve dos professores fe-
derais, em especial os
professores da UFS, por
compreendermos que a
luta da reestruturação da
carreira e por melhorias
das condições de trabalho
é uma luta justa.
Entendemos que a educa-
ção brasileira passa por
um momento de reestrutu-
ração que só vem a con-
templar a lógica produtivis-
ta do capital, no qual os
grandes investidores da
educação privada são os
beneficiados. Basta lem-
brar que a educação supe-
rior privada ocupa a se-
gunda posição em investi-
mentos na bolsa de valo-
res. Esse fortalecimento
das IES privadas se deu
principalmente no governo
Lula (PT) com a criação do
PROUNI, onde são injeta-
dos grandes quantias de
dinheiro que deveriam ser
destinados às IES públi-
cas.
Nas universidades públi-
cas, o governo Lula im-
plantou o Programa de
Reestruturação e Expan-
são das Universidades
(Reuni) e que foi imposto
pelo MEC com uma apa-
rência democrática, ocor-
rendo um aumento signifi-
cativo do número de estu-
dantes, porém o aumento
do número de salas, labo-
ratórios e professores não
aconteceu na mesma pro-
porção.
A UFS, por exemplo, sofre
com vários problemas es-
truturais que afetam a
formação dos estudantes
e o trabalho dos professo-
res e técnicos. As salas de
aulas lotadas e a insufici-
ência dos projetos de pes-
quisa e extensão são refle-
xos dessa precarização.
Com isso, a Universidade
deixa de exercer sua fun-
ção social baseada no
tripé ensino, pesquisa e
extensão, e os professores
passaram a ser pequenos
“gestores” de projetos e
captadores de recurso
para viabilizar o trabalho
acadêmico.
Por fim, entendemos que
ser a favor da greve é se
posicionar contra a atual
Reforma Universitária, que
sucateia nossas universi-
dades, precariza e privati-
za o ensino superior. Posi-
cionamo-nos contra o PLP
549/09 (que congela por
10 anos o salário dos ser-
vidores federais), o PL
1749/2011 (que privatiza
os Hospitais Universitários
Federais) e o atual modelo
de expansão que não pre-
vê a contratação propor-
cional de professores e
não destina verba suficien-
te às universidades, além
de não garantir infraestru-
tura para as demandas
impostas pelo governo
federal. Lutamos e nos
colocamos lado a lado
com a greve, defendendo
uma Educação pública,
gratuita, socialmente refe-
renciada e de qualidade
para todas e todos!"
"O Levante Popular da Ju-
ventude, movimento que
organiza jovens do campo
e da cidade e com inte-
grantes em várias Universi-
dades Federais no Brasil,
vem a público declarar
apoio à ADUFS e aos do-
centes da UFS em razão da
greve deflagrada.
Desde seu início de atua-
ção na UFS, o Levante colo-
cou-se ao lado das lutas
travadas em defesa da
educação pública, reafir-
mando o nosso compromis-
so com a luta por um proje-
to popular para a educação
brasileira. Algumas das
nossas principais constru-
ções foram: semana "Cotas
Sim!", marcha pela UFS no
Sertão, participação na
chapa "O Novo Sempre
Vem" para eleições do DCE,
além da atuação no CON-
SU e CONEPE. Rompendo
os muros da universidade,
também organizamos os
"escrachos" dos torturado-
res e apoiadores da ditadu-
ra civil-militar no Brasil e o
ato contra o racismo no
Shopping Jardins.
Entendemos serem justas
as reivindicações da cate-
goria, que tratam da rees-
truturação da carreira do-
cente com valorização do
piso salarial e incorporação
das gratificações, além das
lutas pela melhoria das
condições de trabalho nas
universidades. Compreen-
demos que estas reivindi-
cações são uma luta de
todo o povo brasileiro e
precisam ser atendidas
imediatamente pelo gover-
no federal.
Por isso, parabenizamos a
disposição e coragem dos
professores(as), que em
luta ousam defender uma
educação melhor para a
sociedade brasileira. Tam-
bém reafirmamos o nosso
total apoio à greve dos
docentes, nos colocando
sempre ao lado dos que
lutam e jamais perdem a
esperança de alcançar as
transformações necessá-
rias para a educação brasi-
leira. "A greve deve ser do
tamanho de nossa indigna-
ção!"
O Ministro da Educação, o
senhor Aloísio Mercadan-
te, se diz surpreso com a
deflagração da greve na-
cional dos professores
universitários federais. É
compreensível, primeiro
porque o MEC esteve au-
sente e omisso durante
todo o processo de negoci-
ação ocorrido durante o
ano passado e parece des-
considerar a real situação
dos professores e as dis-
torções da atual forma na
qual se estrutura a carrei-
ra docente. Vejamos por-
que para nós a greve não
só não surpreende como
se apresenta necessária.
Razões da greve
Há dois anos que os pro-
fessores negociam com o
governo seu projeto de
carreira docente e para
tanto o ANDES construiu a
partir de um amplo debate
com a categoria um ante-
projeto de lei no qual é
apresentada nossa pro-
posta de uma carreira do-
cente única com 13 níveis
remuneratórios baseado
no tempo de carreira, na
titulação e na avaliação
realizada com autonomia
e por critérios objetivos
definidos com fundamen-
tos acadêmicos.
A posição do ANDES, que
consideramos correta, é
que nossa discussão sala-
rial deveria ser feita com
base em um projeto de
carreira, ou seja, não nos
interessa a mera discus-
são de um índice de au-
mento salarial ou de recu-
peração de perdas se não
atacamos as raízes das
distorções que dividem
nossa carreira e geram
desigualdades injustificá-
veis entre professores. Por
exemplo, na concepção do
governo a carreira dos
docentes do ensino públi-
Boletim CLG
A GREVE DOS PROFESSORES DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS
4
co federal se divide em
ensino universitário e do
ensino básico, técnico e
tecnológico (que inclui os
professores dos Colégios
de Aplicação, ensino técni-
co de segundo grau, etc.)
Sabemos das especificida-
des destes setores, mas
segundo nossa visão são
diferenças de função e
não de profissão, somos
professores do ensino pú-
blico federal com diferen-
tes atribuições dentro de
uma mesma carreira.
Outra divisão, esta dentro
do mesmo campo do ensi-
no universitário, é aquela
que compõe nossa atual
carreira e que nos divide
em professores auxiliares,
adjuntos, assistentes e
titulares, esse último cons-
tituindo uma carreira à
parte que inclusive exige
novo concurso. Ora, essa
distinção se fundamenta
em um pressuposto quase
feudal, próprio de um mo-
delo universitário anacrô-
nico e autoritário em fron-
tal contradição com o mo-
delo de universidade e
sociedade que defende-
mos. Sua base é a concep-
ção de que existe um gru-
po de professores “donos”
de certa área ou disciplina
e que dão algumas aulas
durante o ano comunican-
do seus estudos e pesqui-
sas assim como seu acú-
mulo teórico sobre um
tema e são auxiliados por
professores que o circun-
dam como assistentes ou
adjuntos e estes por auxili-
ares numa hierarquia que
implica mais que uma divi-
são de trabalho: uma lógi-
ca de poder.
Isso não faz sentido na
realidade da universidade
brasileira que desde a
constituição de 1988 em
seu artigo 207 estipula a
articulação entre ensino,
pesquisa e extensão. Na
prática tal conformação
divide a categoria em fai-
xas remuneratórias que
funcionam como um funil
em que poucos podem
chegar ao final da carreira
e a salários maiores e a
maioria fica presa nas fai-
xas intermediárias. Segun-
do estudo promovido pela
ADUFRJ, por exemplo, na
UFRJ, mais de 80% se apo-
sentam como professor
adjunto 4.
A proposta inicial do gover-
no criava mais um pata-
mar que denominou de
Professor Sênior, hoje reti-
rada da proposta, extin-
guindo a carreira de pro-
fessor titular, que impunha
aos professores mais qua-
tro degraus até o final da
carreira e impunha crité-
rios que fechava ainda
mais a saída do funil.
Durante todo o ano de
2011, o ANDES acompa-
nhou uma longa e tortuosa
enrolação do MPOG que
supostamente deveria
debater as propostas apre-
sentadas sobre a carreira
buscando aproximações e
diferenças visando chegar
a uma proposta negocia-
da. Sob uma série de pre-
textos, o governo protelou
as reuniões, quando não
as desmarcou unilateral-
mente numa total falta de
respeito ao que havia sido
combinado. O fato que
chegamos ao final do ano
sem que um milímetro da
negociação sobre a carrei-
ra docente houvesse sido
acordado.
No final do ano passado, o
governo apresenta uma
proposta emergencial,
diante do impasse na ne-
gociação, que consistia
basicamente em três pon-
tos: aumento emergencial
de 4% a ser pago seis me-
ses adiante (em março de
2012); incorporação de
uma das gratificações ao
v e n c i m e n t o b á s i c o
(GEMAS para ensino supe-
rior e GEDBT pra o ensino
básico, técnico e tecnológi-
co). Até maio deste ano o
governo não havia cumpri-
do sequer o acordo emer-
gencial.
O governo apresentou um
Projeto Lei que incluía os
termos acordados ao final
de 2011 e o transformou
em Medida provisória ago-
ra em maio (a MP 568).
Ocorre que junto com o
aumento de 4% e a incor-
poração das gratificações,
agrega inúmeras medidas
referente a várias categori-
as do funcionalismo que
não foram negociadas e
que pode gerar perdas
para os trabalhadores,
como é o caso da mudan-
ça do cálculo da insalubri-
dade que afeta diretamen-
te os médicos.
O acordo e seu injustificá-
vel atraso é insuficiente.
Neste sentido, a greve dos
professores não é apenas
pelo seu cumprimento,
mas pela imediata abertu-
ra de uma negociação sé-
ria sobre nossa carreira e
pelo enfrentamento das
causas que levam hoje à
precarização do trabalho
docente, das condições de
trabalho e das instalações
universitárias. Esse aspec-
“ATÉ MAIO DESTE
ANO, O
GOVERNO NÃO
CUMPRIU
SEQUER O
ACORDO
EMERGENCIAL”
N° 4
5
to está ligado diretamente
à expansão realizada pelo
governo que não veio a-
companhada dos recursos
necessários para sua im-
plementação, gerando
salas de aulas superlota-
das, pressões para um
aumento da carga horária
dos docentes em sala de
aula, prejudicando a rela-
ção entre ensino, pesquisa
e extensão, falta de pro-
fessores, precariedade de
instalações.
Na verdade, o sucatea-
mento da universidade
pública e a maneira como
o governo entende o setor
revela uma concepção de
Estado que está na base
do projeto de governo que
se implantou em nosso
país. O ensino público é
concebido como um servi-
ço oferecido que deve dis-
putar o mercado e seus
“clientes/consumidores”
com as demais empresas
do setor e para tanto deve
assumir uma lógica geren-
cial fundada na “eficácia”,
entendida como produzir o
serviço com os recursos
existentes e ter iniciativa
de captar os recursos adi-
cionais necessários. Daí as
Universidades são incita-
das a buscar recursos na
iniciativa privada, seja a-
través de projetos de par-
ceria, financiamento de
pesquisa e de desenvolvi-
mento tecnológico, através
de fundações ou outras
formas.
Além desta prática que-
brar a autonomia universi-
tária e o necessário finan-
ciamento público, gera
distorções e diferenças
não apenas entre unida-
des da Universidade, com
centros e unidades com
grandes somas de recurso
e outras com recursos
abaixo do mínimo neces-
sário, o que se reflete não
apenas nas instalações,
mas na própria capacida-
de de produção de pesqui-
sas, intercâmbios e visibili-
dade de sua produção
acadêmica e científica;
como, também, entre os
professores e sua remune-
ração.
A situação atual é produto
desta opção. Por isso se
explica o abandono de
uma política, não de valori-
zação dos salários, mas
mesmo de sua recomposi-
ção. Se considerarmos os
salários nominais entre
1998 e 2011 de categori-
as do serviço público fede-
ral que exigem a mesma
formação e que se com-
põe de atividades simila-
res, como por exemplo os
profissionais de Ciência e
Tecnologia e os pesquisa-
dores do IPEA, temos que
em 1998 os professores
universitários recebiam R$
3.388,31, os pesquisado-
res do IPEA R$ 3.128,20
e do MCT recebiam R$
2.6632,36. Em 2011 a
situação se inverte de for-
ma que os pesquisadores
do IPEA ganham R$
12.960,77, em segundo
lugar os profissionais do
MCT com R$ 10.350,68, e
os professores passaram
para a última posição com
R$ 7.333,67, sendo a pior
remuneração entre os fun-
cionários públicos com
este nível de formação
exigido.
Isso considerando a cate-
goria como um todo, pois
as divisões as quais nos
referíamos no interior da
carreira existente e que
permanecem na proposta
do governo, fazem com
que os aumentos ofereci-
dos concentrem-se no alto
da pirâmide e se diluam
nas categorias intermediá-
rias e na base. O secretá-
rio de relações do trabalho
do MPOG, Sérgio Mendon-
ça, por exemplo, alega que
considerada no conjunto
os professores tiveram
reposta a inflação do perí-
odo relativo aos governos
de Lula e Dilma (57,1 %).
No entanto, considerando
as diferenças, os extratos
superiores da carreira,
como professores titulares
e assistentes 3 e 4, tive-
ram em media seus salá-
rios ajustados em torno de
15% acima da inflação,
enquanto os adjuntos,
faixa na qual se encontra
a maior parte dos profes-
sores inclusive os aposen-
tados, amargam uma defa-
sagem que chega à 40%
abaixo da inflação do perí-
odo.
Para o governo esse não é
um problema da educa-
ção, de uma política para
universidade brasileira,
mas um problema de ges-
tão, não é por acaso que o
principal negociador du-
rante todo esse tempo não
foi o MEC, um ilustre au-
sente e omisso nesse de-
bate, seja com Haddad,
seja agora com Mercadan-
te, um político que traz no
nome a marca de seu
compromisso, mas o Mi-
nistério de Planejamento.
Os professores universitá-
rios são vistos como uma
categoria privilegiada que
trabalha pouco e ganha
altos salários, e a universi-
dade um antro de maus
gestores e de desperdício
do dinheiro público, justifi-
cando o controle que rou-
ba a autonomia universitá-
ria, uma limitação de re-
cursos e o destino de com-
pletá-los no mercado e das
parcerias, condenando a
universidade a se transfor-
mar em uma central de
serviços. Nesse cenário,
os professores tornam-se
mascates de projetos e
que têm, se quiser cumprir
os requisitos para ascen-
der na carreira, que dar
aulas (muitas aulas), parti-
cipar de projetos de exten-
são, da pesquisa, da pós-
graduação, além de parti-
cipar dos espaços coleti-
vos de gestão da vida uni-
versitária que se tornam
cada vez mais homologa-
tórios e formais. O resulta-
do disso é o adoecimento
dos professores e a inse-
gurança na carreira, que é
cada vez mais preterida.
Por tudo isso, os professo-
res estão em greve, a mai-
or greve do último período.
Devemos isso ao país,
porque precisamos de
uma universidade pública
de qualidade, ainda que
lutemos por mais que isso,
para que esta universida-
de pública também reflita
os interesses dos trabalha-
dores e da maioria da po-
pulação lutando por aquilo
que chamamos da luta por
uma Universidade Popular.
Devemos isso, também, a
nós mesmos, os professo-
res, porque merecemos
respeito e precisamos res-
gatar nossa dignidade;
mas, principalmente, deve-
mos isso aos nossos queri-
dos alunos que merecem
uma educação de qualida-
de e uma verdadeira aula.
Nós não podemos impedir
que os exploradores se
comportem como tal. Mas,
podemos e devemos deci-
dir não ser seus cúmplices
e dizer em alto e bom tom:
se quiserem destruir a
Universidade Pública terão
que fazer sem nosso con-
sentimento, sem nossa
omissão, terão que fazê-lo
contra nós e isso não se
dará sem luta.
Mauro Iasi, professor ad-
junto da Escola de Serviço
Social da UFRJ e presiden-
te da ADUFRJ. Artigo publi-
cado em Brasil de Fato
04/06/12
Boletim CLG
Confira agenda de atividades do Comando Local de Greve
Uma greve em defesa da universidade pública: pela carreira docente, por salários e
por melhores condições de trabalho.