boletim da anpege 2

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  • 8/19/2019 Boletim Da ANPEGE 2

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    Boletim Informativo

    ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EMGEOGRAFIA 

    Nº 2 JUNHO de 2007 

    . Editorial 

    Dia do Geógrafo: 29 de maio de 2007: Oportunidades para refletir sobre a

    gênese desta profissão e as aventuras de pesquisar questões geográficas: O

    que se pode apreender das pesquisas geográficas?

    A pesquisa geográfica costuma debater as transformações ou as possibilidades

    de mudanças espaciais e sociais: entender o passado, explicar o presente e

    projetar o futuro. 

    O processo de trabalho geográfico pode ser revelador de poucas certezas e de

    muitas errâncias, mas pode também ser capaz, na atualidade, de oferecer

    respostas originais e julgamentos teóricos e metodologicamente consistentes

    aos desafios (teóricos e empíricos) motivados pela intensificação de novas ou

    velhas relações entre sociedade e natureza, midiatizadas pelas técnicas.

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    A ANPEGE - Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia

    convida a todos a pensar e a comentar os dilemas (teóricos e empíricos) da

    pesquisa em torno dos diferentes processos de apropriações sociais ou das

    transformações sociais e espaciais, objetos da pesquisa geográfica. Envie seu

    texto para nós! Participe! 

    . Balanço das Inscrições no VII Encontro Nacional da ANPEGE 

    Segundo a companhia de evento - ITARGET por nós contratada, até a data

    de 30-05-07, havia um total de 858 trabalhos inscritos, sendo 167 para

    pôsteres e 791 para a apresentação oral. Estes trabalhos serão agora

    encaminhados para o comitê científico que os julgará quanto ao mér ito. 

    Dúvidas mais Comuns 

    Recebemos diferentes e-mails nos indagando sobre a possibilidade de

    participação do graduando em geografia com apresentação de trabalhos.

    Lembramos a todos que a ANPEGE - Associação Nacional de Pós-graduação

    e Pesquisa em Geografia visa a atender as demandas e necessidades da

    pós-graduação e que há outros fóruns igualmente respeitáveis destinadas à

    graduação. Historicamente, com seus eventos bienais a ANPEGE e os

    programas de pós-graduação em geografia (contando com pesquisadores com

    certo acúmulo de conhecimento e leitura), chamam a si a responsabilidade com

    a renovação crítica dos temas, conceitos, matrizes teóricas, métodos e fontes

    (primárias e secundárias) das pesquisas geográficas.

    Prepare-se para o VII Encontro Nacional da ANPEGE 

    O sucesso do evento depende de todos nós, de nosso empenho em preparar

    os textos e intervenções de forma crítica, teoricamente embasados e sem

    deixar de fazer conexões com o tema central que versará sobre as

    Espacialidades Contemporâneas: o Brasil, a América Latina e o Mundo e com

    os eixos norteadores do encontro.

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    Lembramos que os eixos temáticos vinculados ao seu tema central foram: 

    1)  Espacialidades no mundo contemporâneo: desafios teóricos eempíricos;

    2)  América Latina: temporalidades e territorialidades;

    3)  Brasil: espaço, identidades e projetos de nação;

    4)  Alterações nas relações entre natureza e sociedade no mundo e no

    Brasil.

    O evento será realizado no mês de setembro (de 24 a 27) de 2007, na

    Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói/RJ. 

    Não deixe de se preparar! Não improvise! Não refaça trabalhos disciplinares

    (são raros os casos que isto se justifica) ou já anteriormente apresentados! Não

    faça colagens! Faça citações corretas e com sabedoria, sem esquecer as

    aspas! 

    Se você ainda não leu, leia textos sobre espacialização como, entre outros, o

    livro indicado abaixo: 

    SOJA, E. W. Geografias Pós-Modernas: A Reafirmação do espaço na teoria

    social crítica. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. 

    . Geógrafa Premiada 

    A Professora Emérita da UFRJ, a Dra. Bertha K. Becker, receberá do

    Presidente Luís Inácio Lula da Silva o título de Comendadora, pelo prêmio daOrdem do Mérito Científico - fato já publicado no Diário Oficial. Parabéns para

    ela! Ficamos orgulhosos da nossa profissão. 

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    . Nossa Última Homenagem 

    Por Márcio Piñon de Oliveira.

    Presidente da ANPEGE. 

    O grande geógrafo Prof. Manoel Correia de Andrade, autor de inúmeros livros,

    dentre os quais, a famosa obra "A terra e o homem no Nordeste", classificada

    como uma das 100 obras selecionadas do século passado, faleceu em 22 de

     junho de 2007, em virtude de infarto. 

    Considerado grande referencia nacional e internacional da área de ciências

    sociais, este cientista morre com 84 anos, em plena vitalidade intelectual e

    produtiva. Pesquisador sênior do CNPq, bolsista ininterrupto ao longo de sua

    trajetória profissional, conseguiu imprimir um ritmo marcante pela profundidade

    e vanguardismo de suas idéias. 

    Após anos de pesquisa na Fundação Joaquim Nabuco, centenas de palestras,

    artigos publicados, livros, participação em bancas, centenas de orientações,

    pesquisador da SUDENE. Este incansável pesquisador continuava trabalhando

    todos os dias à frente da Cátedra Gilberto Freyre, na qual empreendeudiferentes e sistemáticas atividades, dentre elas, o seminário Redescobrindo o

    Brasil, no qual possibilitava através de convites a intelectuais proeminentes do

    Brasil, a discussão sobre as idéias e obras de grandes referências do

    pensamento nacional.

    O professor Manoel Correia estava vinculado ao Mestrado em Gestão e

    Políticas Ambientais, da UFPE, no qual ministrava disciplinas e orientava,

    dando seqüência ao trabalho iniciado por seu filho Joaquim Correa. No

    mestrado em Geografia, por ele criado, continuava colaborando e participando

    de bancas. A sua última participação em banca remete ao dia 30 de maio do

    corrente em uma defesa de mestrado em gestão e políticas ambientais. Dentre

    os seus futuros planos estava a organização de um curso sobre Pernambuco

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    para dar suporte científico ao programa de interiorização das IFES, em especial

    a UFPE e UFRPE com a criação de novos campi.  

    A sua tenacidade e vitalidade reconhecida por todos, ficou presente mais uma

    vez, na sua última participação em eventos acadêmicos, ocorrido na mesma

    semana de seu falecimento. Ele se despediu no 8º Encontro Alagoano de

    Geografia, realizado em Maceió, no qual proferiu a palestra de abertura no dia

    18 de junho (segunda feira) desta mesma semana de seu falecimento. Não

    pode estar presente ao lançamento do seu mais novo livro chamado

    "Redescobrindo o Brasil 2", coletânea de artigos e de palestras realizados no

    evento, cujo título empresta o nome, e que o professor organizava a cada ano

    enquanto atividade da Cátedra Gilberto Freyre que coordenava há 6 anos. 

    Sem dúvida, foi uma inestimável perda! 

    Em nome da ANPEGE Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa

    em Geografia - gostaríamos de registrar o nosso imenso pesar pela perda do

    nosso colega e eminente geógrafo Manoel Correia de Andrade e prestar aqui a

    nossa última homenagem. 

    . XII Encontro da ANPUR - Avaliações Diversas 

    - Avaliação da Profa. Dra. Maria Célia Nunes Coelho: 

    O Encontro foi certamente um marco na história da ANPUR, não só

    pelos altos níveis da organização, mas também dos debates em torno de

    trabalhos apresentados com destaque para questões voltadas para a América

    do Sul , para as cidades, em geral, conflitos ambientais e questões de

    identidades e territórios. As mesas (compostas de três membros e de um

    coordenador), em sua maioria, respeitaram os tempos de apresentação e

    debate, viabilizando o confronto de idéias. 

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    A discussão em torno das supostas mudanças climáticas e o destino das matas

    amazônicas apareceu numa mesa-redonda que contou com a presença do

    Prof. Dr. Carlos Nobre do INPE. Todavia, faltaram geógrafos para ajudar os

    presentes a repensar a importância da escala de análise. Fica então o nosso

    convite para geógrafos debaterem esta questão. A palavra continua aqui emaberto. 

    - Avaliação da Profa. Dra. Elis Miranda e Luiz Jardim (mestrando da UFRJ): 

    O XII Encontro da ANPUR, sob o tema Integração Sul-Americana, Fronteiras e

    Desenvolvimento Urbano e Regional apresentou mostra de vídeos e

    exposições fotográficas produzidas, em sua maioria, em Belém. Mesmo que

    tenha acontecido como mostra paralela esta foi a oportunidade de um espaço

    de diálogo entre a produção cultural e o planejamento urbano e regional.  

    A veiculação de imagens, em muitos momentos, serviu para criar uma

    representação da cidade, destacando objetos e pessoas cuidadosamente

    selecionadas. Os filmes e as fotografias apresentados nas mostras de vídeos e

    exposições apresentam recortes espaço-temporais e de temáticas que

    discutem a realidade dos problemas contemporâneos a partir de um olhar

    analítico e relacional, que entende a Amazônia como uma região integrada aoBrasil, mas ao mesmo tempo, possui uma dinâmica sócio-cultural própria. 

    Os aspectos urbanos de Belém foram destacados no filme NAZA, de Silvio

    Figueiredo e na mostra fotográfica Cidades, de Roberto Menezes; o filme Maria

    das Castanhas, de Edna Castro, expõe os problemas agrários e do trabalho da

    economia extrativista. 

    O professor Maurício de Almeida Abreu nos ensinou que é possível reconstituir

    contextos espaço-temporais por meio de imagens. Assim, incluir as mostras de

    fotografias e de vídeos na programação oficial dos eventos científicos deve ser

    uma prática a ser seguida. A organização do XII Encontro ANPUR acertou ao

    agregar o Cinema Olympia como lugar para pensar o Planejamento Urbano e

    Regional.

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    . Diálogos atuais 

    Convidamos docentes e discentes dos Programas de Pós-Graduação filiados a

    ANPEGE a debater sobre estes ou outros temas veiculados recentemente pela

    Mídia. 

    . Febre do etanol, mudanças no mapa da cana e exploração do trabalho.

    Por Júlia Adão Bernardes1

    O acentuado interesse gerado pela questão energética nos últimos anos,

    principalmente pelo etanol combustível, vincula-se a percepções globais

    relacionadas com preocupações ecológicas, mas também a fortes motivações

    de ordem econômica, política e estratégica. Se nos Estados Unidos a febre do

    etanol alcança várias atividades, principalmente o cultivo de milho, no Brasil é o

    setor sucro-alcooleiro o mais atingido, cercado de perspectivas e desafios,

    revelando tendências de enorme expansão até 2012, significando a instalação

    de uma nova usina por mês.

    Na escala nacional, entre a safra 2003/04 e 2006/07 a quantidade de cana

    moída passou de 359.315 mil toneladas para 426.002, crescendo 18,56%,passando a produção de álcool de 14.809 bilhões de litros para 17.763,

    correspondendo a um aumento de 19,95%. Tal cenário vem incentivando o

    capital estrangeiro a participar do setor, a exemplo dos grupos franceses

    Tereos e Dreyfus, da Cargill e da Noble Group (sediada em Hong Kong),

    significando concentração dos negócios nas mãos de poucas pessoas.

    Segundo a revista Agroanalysis, os investimentos para o período 2007 a 2012

    referentes aos novos projetos de usinas de açúcar e álcool no país envolvem

    86 plantas, totalizando US$ 17 bilhões, dos quais US$ 14 bilhões serão

    destinados às novas unidades e US$ 3 bilhões às unidades já existentes2.

    Enquanto São Paulo detém a liderança no setor, detendo o maior número de

    unidades produtivas no país, 148 na safra 2006/07, produzindo 264 milhões de

    1 Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRJ e pesquisadora do CNPq. 

    2 Revista Agroanalysis, caderno especial. vol.27 nº5 maio de 2007, Fundação Getúlio Vargas p. E2-E11. 

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    toneladas de cana, participando com 62,06% da produção nacional, os novos

    investimentos mostram que os estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul,

    Goiás e Paraná constituem áreas preferenciais.

    As fronteiras agrícolas emergentes, a exemplo da região Centro-Oeste, do

    cerrado do Triângulo Mineiro, do Tocantins, do Maranhão, do Pará e da Bahia,

    dotadas de amplas áreas de pastagem , disponibilidade de terra fértil, barata e

    plana, de temperatura, luminosidade e distribuição adequada de chuvas, com

    mão-de-obra abundante, incentivos fiscais e tributários, despontam como o

    caminho natural de expansão da produção sucro-alcooleira. As previsões

    apontam para a redução da participação de São Paulo na produção de cana

    entre as safras de 2006/07 e 2012/13, passando de 62,06% para 53,11%, ao

    passo que Minas Gerais deverá aumentar a mesma de 6,83% para 10,90%,Mato Grosso do Sul de 2,74% para 9,04% e Goiás de 3,79% para 7,85%. 

    Com base no cenário de intensa expansão da demanda por combustíveis

    renováveis no contexto internacional, o setor sucro-alcooleiro tende a passar

    por forte reestruturação, repensando a reformulação do modelo produtivo. Com

    vistas à obtenção de maior produtividade, o processamento da matéria-prima

    deverá estender-se aos 12 meses do ano, eliminando-se o período da

    entressafra. A valorização do ativo imobilizado, constituído pelo capital fixo

    industrial, exige quantidades crescentes de matéria-prima, levando a usina a

    controlar todo o processo produtivo, ajustando-se a força de trabalho que põe

    em movimento fábricas e canaviais a esse ritmo, através das estruturas e

    relações  vigentes. Ou seja, é o capital industrial que comanda e submete o

    capital agrário, ditando o nível de mudanças e o ritmo das atividades.

    Assim, o pagamento por produtividade leva os trabalhadores a um esforço

    excessivo para obtenção de maior salário e, tal esforço, ao que tudo indica,

    levou 17 bóias frias à morte em canaviais paulistas desde 2004 (Coissi, 2004)3

    .A Folha de São Paulo colocou em destaque o fato do trabalhador Juraci

    Barbosa morrer aos 39 anos em junho de 2006, depois de trabalhar 70 dias

    3 Publicado originalmente por Coissi, Juliana (2004) Entidade quer limitar trabalho no canavial artigopublicado na Folha de São Paulo de 24/03/07, caderno B9. 

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    sem folga, cortando quantidades superiores a 19 toneladas nos canaviais

    paulistas, chegando a alcançar 24,6 ton./dia.4

    A existência do salário por tarefa significa que, para alcançar a mesma renda,

    tendo que trabalhar mais horas, a responsabilidade de fazer o salário seja

    transferida ao trabalhador, supondo uma avaliação, por parte do mesmo, do

    trabalho a realizar. Não obstante, com a crescente alienação em relação à

    totalidade do processo produtivo, o trabalhador não tem como conhecer as

    condições desse trabalho, o que se converte em fonte de poder para o capital

    (Benetti, 1986).5

    Na medida que a eliminação do pagamento por produtividade é polêmico, a

    proposta da CONTAG é limitar o número de toneladas, possivelmente até 10,

    teto a ser definido de acordo com o tipo de cana e qualidade da lavoura.Atualmente, na principal região produtora do país, Ribeirão Preto, a média

    excede 12 ton./dia, não sendo nunca inferior a 10 toneladas (Coissi, op cit). O

    aumento da produtividade se vincula à seleção feita pelas usinas, uma vez que

    com o avanço da mecanização, as vagas recentes passam a ser ocupadas por

    bóias frias mais jovens.

    Além do pagamento por produtividade, outra situação a ser discutida é a

    condição de trabalhador temporário, no caso do bóia fria safrista. É importante

    notar a precária estabilidade do trabalho permanente e o aumento do trabalho

    temporário, não sendo computados os assalariados vinculados a empreiteiros,

    cuja importância no abastecimento de força de trabalho é crescente. Nessa

    direção, crescem as denúncias do Ministério Público em Mato Grosso do Sul,

    que incluem as condições degradantes de trabalho de indígenas no corte de

    cana, envolvendo entre 5.000 a 6.000 contratos por ano. 

    Em geral os cortadores de cana são aliciados por empreiteiros de mãos de

    obra de preferência em estados que têm tradição no plantio da cana, aexemplo de Alagoas, Bahia, Pernambuco, além dos estados do Maranhão,

    Piauí, Ceará, Pará e Minas Gerais, para trabalhar no interior paulista,

    estabelecendo-se em condições miseráveis, sem opção de retornar ao lugar de

    4 Folha de São Paulo de 18/05/07. 

    5 Benetti, Pablo. (1986). Unificação do mercado de trabalho rural/urbano . In: Acumulação e pobrezaem Campos: uma região em debate. Rio de Janeiro, Publipur/UFRJ. 

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    origem, constituindo verdadeiros bolsões de miséria na periferia dos centros

    urbanos. 

    Como a tendência atual é a intensificação da mecanização no corte de cana,

    implicando em enormes reduções de mão-de-obra, esta passa a ser admitida

    sob critérios mais rigorosos de seleção, dificultando as negociações salariais,

    aumentando o trabalho temporário, condicionando novas formas de

    organização do mercado de trabalho e das relações de produção, favorecendo

    a expansão das empresas de contratação de mão-de-obra, incrementando o

    trabalho por tarefa. 

    Como observa Gaudemar (1981),6 o trabalhador deve continuar a ser produtor

    de trabalho, porém abandona a sua função de vendedor de trabalho,

    relegando-a a outros. Ou seja, além da separação do produtor dos meios deprodução, cada vez mais se dá a separação do trabalhador de sua capacidade

    para negociar sua própria força de trabalho. 

    Assim, o nível de desenvolvimento das forças produtivas determina que

    relações são ótimas para seu posterior desenvolvimento, caracterizando-se tais

    relações, no caso do mercado de trabalho no corte da cana, por instabilidade

    do emprego, alta rotatividade, fragilidade do vínculo trabalhista, baixos salários

    e burla dos compromissos trabalhistas. Sem dúvida, a intensa espoliação da

    força de trabalho é parte intrínseca do crescimento econômico, constituindo um

    exemplo de como relações arcaicas se articulam às novas, indicando que a

    dinâmica da modernização é menos de integração e mais de exclusão. Esse é

    o lado perverso da modernização. 

    Afinal, será que transformar cana em combustível ao custo da intensificação da

    exploração do trabalho é a resposta para reduzir as emissões de gases

    responsáveis pelo efeito estufa? 

    . Implicações Ecológicas e Políticas do Etanol - uma contribuição ao debate. 

    6 Gaudemar, J.P. (1977). Mobilidade do trabalho e acumulação do capital. Lisboa, Editora Estampa. 

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    Por Carlos Walter Porto Gonçalves7

    O complexo de poder industrial-tecnológico-científico-midiático que se estrutura

    em torno da matriz energética fossilista e que nos ameaça a todos com oaquecimento global parece ter descoberto uma nova panacéia o etanol. Para

    além do simplismo de achar que existe uma única solução para um problema

    de tamanha complexidade, o debate em torno do aquecimento global está nos

    metendo numa armadilha maniqueísta Etanol versus  Não-etanol. A questão,

    todavia, parece ser bem outra. Ainda que seja discutível o benefício ambiental

    efetivo da mudança de fonte de energia para algo diferente das fontes fósseis,

    são gravíssimas as implicações políticas do que está sendo urdido. A recente

    visita do ex-governador do Texas, Sr. Jeb Bush, não só por razões familiaresligadas ao complexo político-industrial-tecnológico-científico-midiático do

    petróleo, põe a nu as razões bem longe do hommo ecologicus com que estão

    procurando se recobrir os que defendem o etanol como solução para o

    aquecimento global. Jeb Bush faz parte de um bloco de poder que sabendo do

    significado estratégico da energia é capaz de fazer qualquer coisa, mas

    qualquer coisa mesmo, para estabelecer o controle das fontes de energia que o

    possa sustentar. Na atual configuração geopolítica não há país do mundo que

    tendo petróleo nas suas entranhas geológicas em proporções capazes de

    sustentar a matriz industrial hegemônica que não seja um país com

    instabilidade política ou sob permanente ameaça vide o Oriente Médio, a Ásia

    Centra e mais especificamente a Nigéria, a Colômbia, a Venezuela, a Bolívia. É

    esse mesmo setor constituído pelos Senhores da Guerra que hoje se

    apresenta como guardião da vida - os combustíveis sendo abençoados pelo

    prefixo Bio. Os exemplos invocados para dizer que o Brasil vai se tornar

    7 Doutor em Geografia e Professor do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade FederalFluminense. Membro do Grupo Hegemonia e Emancipações de Clacso. Ex-Presidente da Associação dosGeógrafos Brasileiros (1998-2000). Membro do Grupo de Assessores do Mestrado em EducaçãoAmbiental da Universidade Autônoma da Cidade do México. Ganhador do Prêmio Chico Mendes emCiência e Tecnologia em 2004. É autor de diversos artigos e livros publicados em revistas científicasnacionais e internacionais, em que se destacam: - Geo-grafías: movimientos sociales, nuevasterritorialidades y sustentablidad  , ed. Siglo XXI, México, 2001;  Amazônia, Amazônias , ed. Contexto,São Paulo, 2001; Geografando nos varadouros do mundo , edições Ibama, Brasília, 2004; O desafioambiental , Ed. Record, Rio de Janeiro, 2004;  A globalização da natureza e a natureza daglobalização , Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2006. 

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    importante na nova configuração geopolítica em curso no mundo a partir dessa

    nova fonte de energia - como dizer que o Brasil vai ser a nova Arábia Saudita -

    só faz reforçar nossas análises e preocupações. A Arábia Saudita é o país de

    Osama Bin Laden que também já foi aliado desse mesmo bloco de poder

    político-industrial-tecnológico-científico-midiático do petróleo e sabe que elenão tem amigos e, sim, interesses. A visita de Jeb Bush explicita uma aliança

    política de caráter estratégico das oligarquias dos agronegociantes brasileiros

    por meio da Associação Interamericana de Etanol que tem além do irmão do

    Presidente Bush entre seus dirigentes, o Sr. Roberto Rodrigues, ex-ministro da

    agricultura e presidente da Abag Associação Brasileira de Agrobusiness (o

    nome é assim mesmo, em inglês). Mesmo tendo os modernos latifundiários das

    monoculturas experimentado, em 2004 e 2005, o lado amargo do complexo

    financeiro-tecnológico-industrial-midiático do agronegócio, quando os preços

    das commoditties caíram no mercado internacional, mas não as suas dívidas

    contraídas na compra de insumos e equipamentos, cujos credores eram

    basicamente a Monsanto, a Syngenta, a Bunge, uma nova e perigosa cartada

    vem sendo jogada não só aliando-se politicamente a um setor tão estratégico

    para o capitalismo global, mas, o que é mais grave, atando a vida dos

    brasileiros a esse setor político que, historicamente, já deu mostras suficientes

    do que é capaz.

    De um ponto de vista estritamente nacional, é preciso ter em conta que a

    principal contribuição o Brasil ao efeito estufa não é a queima de combustíveis

    fósseis e na medida em que o etanol já faz parte de nossa matriz energética,

    sobretudo no transporte individual, a onda atual em torno do tema em nada

    alterará a situação do país para o aquecimento climático. Assim, o Brasil

    considerado isoladamente não vai diminuir a sua contribuição ao aquecimento

    global. Entretanto, a ampliação de áreas destinadas ao cultivo de cana

    desencadeia processos que haveremos de levar em consideração como o

    aumento do preço da terra com conseqüências não só econômicas, como

    sociais, geográficas e ecológicas. Afinal, o aumento do preço da terra não se

    restringirá à terra destinada à lavoura da cana, ao contrário, se espraiará pelo

    mercado de terras em geral. Com certeza haverá implicações nos custos de

    produção, inclusive, nos preços dos alimentos. Além disso, o preço da terra

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    tende a ser maior nas áreas próximas aos grandes mercados ou de mais fácil

    acesso às vias de transporte e, assim, as atividades que tendem a exigir

    maiores extensões de terra tendem a buscar as regiões mais afastadas onde

    os preços são menores (lei de Von Thünen). No caso do México em que o

    etanol é obtido a partir do milho o resultado foi danoso para a população hajavista que a tortilla, base alimentar do povo mexicano, também é produzida a

    partir do milho. O mercado destinou o milho para a exportação para os Estados

    Unidos onde podia obter maiores lucros, como é da sua lógica, o que fez do

    país, historicamente auto-suficiente em milho, agora tenha que o importar e,

    assim, tenha visto os preços das tortillas dispararem até 40%, o que ensejou

    manifestações populares, inclusive com saques a supermercados. No Brasil,

    tentam nos tranqüilizar dizendo que a cana não se destina exclusivamente à

    alimentação e que o país dispõe de amplas extensões de terra o que faria ser

    perfeitamente compatível a expansão do seu cultivo sem maiores danos. Afora

    a permanência do mito fundador do em se plantando tudo dá e que temos

    terras em abundância, é preciso considerar o que já vem se desenhando na

    geografia social brasileira recentemente com o avanço da cana, sobretudo

    sobre áreas antes destinadas à pecuária, como já vem ocorrendo no estado de

    São Paulo nos últimos três anos, e que nos coloca diante do problema de para

    onde levar milhares e até milhões de cabeças de gado que haverão de ser

    deslocados (o Brasil detém o maior rebanho de gado bovino do mundo com

    200 milhões de cabeças). Nos cerrados, área para onde vêm se expandindo

    nas últimas duas décadas os modernos latifúndios monocultores de

    exportação, as únicas áreas disponíveis são as unidades de conservação

    ambiental, as áreas indígenas, além das áreas de comunidades

    remanescentes de quilombolas e camponesas. Com certeza essas áreas e as

    populações que as ocupam vão viver nos próximos anos o impacto dessa nova

    onda moderno-colonizadora. Tudo indica que a Amazônia vai continuarcumprindo o papel de válvula de escape de um modelo de desenvolvimento

    que se reproduz ampliadamente há 500 anos trazendo riqueza para alguns,

    pobreza para muitos e devastação ambiental para todos! Não nos esqueçamos

    que o Brasil nos séculos XVI e XVII não exportava matéria prima, como se

    costuma dizer, mas exportava o produto manufaturado de maior circulação no

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    mercado mundial de então, o açúcar. Os nossos engenhos de açúcar eram o

    que havia de mais moderno no mundo. Nós já somos modernos há 500 anos!

    Dados recentes revelam que o próprio governo, entre 2003 e 2005, realizou na

    Amazônia, a título de reforma agrária , 66,5% dos assentamentos rurais do

    país reproduzindo, assim, com políticas públicas a mesma lógica espontâneados grileiros, madeireiros, pecuaristas e agronegociantes de avançar sobre a

    fronteira agrícola. A produção de etanol tende, assim, a pressionar os

    processos que já vêm causando a devastação da Amazônia que,

    paradoxalmente, tem sido a maior contribuição do Brasil para o aquecimento

    global, para não falar da perda de diversidade biológica e cultural. O resultado

    da contribuição do Brasil com a expansão do etanol pode, assim, ser bem o

    contrário do que vem sendo propagado. 

    É preciso se levar em conta que a produção de cana de açúcar e de etanol

    consome combustíveis fósseis e, apesar de o balanço energético da cana ser

    melhor via a vis o milho, a soja, o girassol e outros, não devemos esquecer que

    o aumento de sua produção também aumenta o consumo de combustíveis

    fósseis, sobretudo quando avança sobre áreas antes destinadas à pecuária ou

    de florestas ou de cerrados ou savanas. A mistura de etanol à gasolina que

    poderia diminuir, por outro lado, a demanda de combustíveis fósseis e, assim,

    compensar o aumento que haveria com a expansão do cultivo da cana e dopróprio etanol, pode simplesmente ser anulada com um aumento

    correspondente da frota de automóveis, o que está no horizonte dos que

    continuam a confundir a melhoria do bem estar da população com o aumento

    do PIB.

    Se se quer fazer um debate sério sobre alternativas eficazes para combater o

    aquecimento global estamos mirando, com o etanol, na direção errada, ou seja,

    continuamos buscando respostas para uma demanda que em si mesma não é

    questionada. A pergunta é bem outra, qual seja, por que continuamos a

    associar progresso humano com aumento do consumo per capita de energia?

    Por que continuamos a buscar maior produção de energia e não melhor

    eficiência energética com aparelhos e máquinas que consumam menos

    energia, como as lâmpadas fluorescentes, o que por si só geraria melhor renda

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    para as famílias pobres, mesmo que elas continuassem com a mesma renda,

    simplesmente com a diminuição do consumo com equipamentos mais

    eficientes! É o que podemos ler no estudo realizado sob coordenação de

    pesquisadores da Universidade de Campinas e do International Energy

    Initiative  intitulado Agenda Elétrica Sustentável 2020 que, baseado empolíticas ambiciosas de conservação (economia) de eletricidade e de expansão

    nas novas fontes renováveis de energia (dos ventos, solar, da biomassa e das

    pequenas hidrelétricas), revela ser possível, até 2020, uma economia de R$ 33

    bilhões para os consumidores com a diminuição de até 38% na demanda de

    eletricidade do país, o que equivaleria a seis hidrelétricas de Itaipu, criando

    ainda oito milhões de empregos8.

    Além disso, por que não apoiar com incentivos e isenções fiscais os produtosque tenham uma longevidade maior do que os já existentes, o que implicaria

    menos consumo de matérias primas e energia? Aliás, a durabilidade deveria

    ser a condição sine qua non para que qualquer produto pudesse ter o selo de

    ecológico. 

    Enfim, o insucesso das políticas estadunidenses para controlar as fontes

    fósseis de energia no mundo é que está levando a que estes mesmos setores

    busquem uma alternativa que lhes dê maior segurança energética. Toda a

    questão passa a ser se essa segurança energética significa segurança e bem

    estar para a população dos países que voluntária ou involuntariamente se

    vêem envolvidos nesse complexo de poder. Que Bagdá ou Cabul não seja o

    nosso destino. 

    . Migrações Internacionais

    - Comentários do texto Desemprego estrutural no Brasil e a anomalia da fuga

    de cérebros de Márcio Pochmann.

    8 Ver o documento em http://assets.wwf.org.br/downloads/wwf_energia_ebook.pdf .

    http://assets.wwf.org.br/downloads/wwf_energia_ebook.pdf

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    Por Maria Célia Nunes Coelho9

    Professor do Instituto de Economia (IE) e pesquisador de Estudos Sindicais e

    da Economia do Trabalho (CESIT) da UNICAMP diz que há fugas de cérebrosno Brasil. De acordo com dados apresentados pelo pesquisador, o fenômeno

    da emigração de cérebros para os países do centro do capitalismo atingiu o

    Brasil, nas duas últimas décadas. Somos surpreendidos por tal anomalia (?!)

    numa economia que continua sendo, em muitos sentidos, primário-exportadora,

    de crescimento econômico apoiado basicamente na exportação de minérios,

    madeira e produtos agrícolas (grãos) in-natura ou semibeneficiados? A

    educação, básica e superior, deixam, assim de atrair os que nela viam

    possibilidades de mudança, ou até mesmo de reprodução de posição socialdos indivíduos na sociedade brasileira. O desemprego estrutural é, certamente,

    a nossa maior violência: assunto polêmico que divide o país.  

    O autor fundamentado na assertiva de que o Brasil tende a se especializar na

    produção e comercialização de bens de baixo valor agregado, contido

    conteúdo tecnológico e dependente de reduzido custo da mão-de-obra , aborda

    a questão do desemprego estrutural no Brasil (que não mais fica restrito aos

    grupos tradicionalmente mais vulneráveis jovens, mulheres, negros todos

    geralmente de reduzida escolaridade) e do fenômeno da fuga de cérebros. 

    Para o autor inegavelmente, a presença de baixo crescimento econômico no

    país, acompanhada das políticas neoliberais e da inserção passiva e

    subordinada do Brasil na economia mundial, constituíram o novo quadro do

    desemprego massivo e estrutural . Assim, segundo seus dados nesta primeira

    metade da década do século XXI, estima-se que entre 140 a 160 mil brasileiros

    a cada ano emigram , muitos dos quais tendo sido beneficiados por

    consideráveis investimentos intelectuais, incluindo treinamento no campo dapesquisa científica.

    9 Doutora em Geografia e Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade

    Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Pesquisadora do CNPq. Membro da Diretoria da ANPEGESecretária. 

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    Leia o artigo completo Desemprego estrutural no Brasil e a anomalia da fuga

    de cérebros

    Marcio Pochmann em http://www.social.org.br/ (No Link: Relatórios ) Assista

    O filme O Corte de Costa Gavras

    . Perspectivas da Pós-Graduação em Geografia: pontos para debate.

    Por Gisela Aquino Pires do Rio10 

    O VII Encontro da ANPEGE que se realizará em Niterói, Rio de Janeiro,

    consiste em excelente oportunidade para debater as perspectivas da pós-

    graduação em Geografia. 

    Desde sua criação, em 1993, até hoje muitas foram as mudanças ocorridas. 

    Primeiro a ampliação do número de programas. Atualmente trinta e sete

    programas integram a ANPEGE. Esse crescimento representa um inegável

    aprimoramento dos respectivos cursos de graduação que estão na origem dos

    diversos programas bem como a formação mais qualificada do corpo docente.

    Segundo, a abertura do leque de questões associada a uma constante

    renovação da Geografia traduzida nas respectivas linhas de pesquisa dos

    programas. Um exemplo dessa diversidade pode ser constatado nos dois

    exemplares do Panorama da Geografia no Brasil, publicação que reúne

    trabalhos apresentados no VI Encontro, realizado em Fortaleza em 2005. 

    Resta, todavia, nos indagarmos que institucionalidade desejamos para a Pós-

    Graduação? Como percebemos o contexto que vivemos e que projeções

    fazemos para o futuro? Que projetos mobilizadores estão sendo pensados?

    Como estabelecer parâmetros que reconheçam os esforços de cada programae as diferenças entre eles? Não se trata aqui de reduzir tudo a esquemas

    simplificados de pontuação, mas ao contrário de buscarmos a essência da

    formação em nível de pós-graduação. 

    10 Geógrafa e Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ) e Pesquisadora do CNPq. 

    http://www.social.org.br/

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    . Resenhas Chamada 

    O que estamos lendo? Encaminhe resenhas (duas laudas, no máximo) para

    nós! 

    - Comentários ou resenhas sobre Vídeo: 

    . Com Poesia na Luta pela Terra

    Por Luiz Jardim M. Wanderley (mestrando do PPGG/UFRJ) 

    O documentário Expedito: em busca de outros nortes (2006) do professor

    Roberto Novaes faz parte das quase vinte obras de áudio-visual realizadas por

    esse doutor em economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde

    1978. Indo na contramão dos pesquisadores em geral, Novaes vem apostando

    em outros tipos de produções do conhecimento para promover as discussões

    entorno da questão agrária brasileira. Dentre seus projetos de extensão de

    cunho científico-pedagógico podemos citar Califórnia à brasileira (1991) e

    Quadra Fechada (2006) dentre os vários que abordam a problemática do

    trabalho da cana e ainda Conversas de Crianças (2001) e Meninas Mulheres

    (1999) sobre trabalho infantil. Entretanto, o filme Expedito funda uma nova fasedo diretor-professor devido a alta qualidade dos recursos técnicos (imagens,

    som, desenhos gráficos etc.). Expedito Ribeiro dos Santos, agricultor rural e

    poeta, rumou, como muitos, com esperança de uma vida melhor, para

    longinqua e desconhecida terra sem homens da Amazônia , na década de

    1970. Instalado no povoado de Santa Maria, Sul do Pará, Expedito passou a

    lutar por um lote de terra, tornando-se sindicalista rural, apoiados pela

    Comissão Pastoral da Terra. No fim dos anos 1980, com a retomada dos

    debates sobre a Reforma Agrária, intensificaram-se as lutas pela terra, osconflitos e as mortes no campo brasileiro. Em 1991, mesmo com sua morte

    anunciada, Expedito se tornou mais um vítima dos fazendeiros da região, como

    muitos dos seus companheiros de luta. Seus assassinos foram presos, mas já

    se encontram em liberdade. Esse filme, repleto de emoção e poesia, retrata a

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    história de injustiça, tragédia e esperança que marcou e marca as lutas sociais

    no Brasil. 

    - Comentários ou resenhas sobre Livro:MARCOVITCH, Jacques. (2005) Pioneiros & Empreendedores. A Saga do

    Desenvolvimento no Brasil São Paulo: Edusp. 

    2 Volumes: 

    Volume 1: Pioneiros & Empreendedores 1. 

    Volume 2: Pioneiros & Empreendedores 2. 

    Por Maria Célia Nunes Coelho  leia mais: 

    Os dois volumes reúnem perfis e trajetórias de personagens (os Prados, Nami

    Jafet, Francisco Matarazzo - o Conde Francisco Matarazzo -, Ramos de

    Azevedo, Jorge Street, Roberto Simonsen, Julio Mesquita, Leon Feffer, Irineu

    Evangelista de Souza o Visconde de Mauá - Luiz de Queiroz, Attilio Fontana,

    Valentin Diniz, Guilherme Guinle, Wolf Klabin, Horácio Lafer, José Ermínio de

    Moraes, João Gerdau e Curt Johannpeter) da história empresarial brasileira,

    referente aos ramos mais diversos. Os empresários - exportadores de café e

    recursos naturais, comerciantes, importadores, industriais, banqueiros e etc. -

    objetos da descrição são tidos como empreendedores a lá Joseph

    Schumpeter, e não como componentes de uma burguesia nascente. Foram

    reapresentados como heróis ou self-made men pelo autor, que traz à tona os

    mitos dos pioneiros e de empreendedores.

    O raciocínio do autor é simplista e ingênuo (e isto é o mínimo que se pode dizer

    dos dois volumes). Indagamos: Havia um projeto que não fosse de exaltarpersonalidades, uma aplicação acrítica do conceito de empreendedor de J.

    Schumpter, ou de colecionar e destacar tipos inesquecíveis ou lendários de

    empresários? O autor não dialoga com a obra de Fernando Henrique Cardoso

    (1967 e 1971), Warren Dean (1971 obra utilizada apenas para confirmar

    aspectos dos perfis traçados de determinados personagens, como é o caso de

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    o empresário Francisco Matarazzo), de José de Souza Martins (1974), de

    Sérgio Silva (1976) que, entre tantos outros (Caio Prado Jr., Florestan

    Fernandes, Nelson Werneck Sodré, Jacob Gorender, José Murilo de Carvalho,

    Rui Mauro Marini, Luciano Martins, Wilson Cano, Fernando Motta, Octávio

    Ianni, Luiz Carlos Bresser Perreira, Eli Diniz, e etc., para citar mais alguns, poisexistem muito mais. - Estamos, certamente, cometendo inúmeras injustiças,

    pois a bibliografia é farta e rica nestes assuntos!), criticaram as visões do

    empresariado brasileiro como self-made men, destrindo lendas, mitos e clichês

    a cerca da história do empresariado ou da burguesia brasileira de diferentes

    períodos.

    O autor relata de forma descritiva indivíduos inteligentes, aventureiros,

    excêntricos pertencentes às épocas diversas: do Brasil Colônia à última décadado século XX, privilegiando uma visão positiva e ufanista dos personagens

    descritos. Não os classifica, não os compara. O tempo não é diferenciado ou

    dividido. Assim, o autor perde a oportunidade de identificar, distinguir e analisar

    condições materiais, instituições, relações, regras e normas que estes próprios

    personagens,  na maioria das vezes, ajudaram ou criaram em benefícios

    próprios ou corporativistas. As qualidades e naturezas das relações

    interpessoais de uma dada sociedade (redes de amizade, de contatos

    pessoais, de parentesco, etc.) num determinado período histórico sãoapresentadas como normais, ou quase naturais.

    Seus dois livros não foram, portanto, reveladores das velhas estruturas de

    funcionamento das empresas, ou mesmo improvisadas estratégias de

    organização de empresa (não confrontadas com as contemporâneas) e antigas

    relação ou gestão de trabalhos que garantiam um determinado regime de

    acumulação e de analisar as mentalidades empresariais de diferentes épocas.

    O mérito do autor (se há algum) foi apenas de reunir fragmentos informativos,

    contribuindo precária e equivocadamente para se compreender a formação

    econômica empresarial brasileira, ou a gênese do empresariado brasileiro, em

    momentos específicos da história mundial, em geral, e brasileira, em particular.

    Os personagens objeto da descrição foram retratados como construtores de

    uma tendência nacional que tem tudo para desdobrar-se mais ainda e ganhar

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    maior número de seguidores no século XXI (dizeres que constam da contra-

    capa do Primeiro Volume) como se as eras descritas ainda existissem. Omite,

    assim, que o momento hoje é outro, não é mais do investimento produtivo, mas

    dominantemente do capitalismo financeiro.

    A visão do autor não contribui (sendo mesmo um retrocesso) para

    entendermos os problemas históricos de nossa economia ainda primária

    exportadora ou comercial e industrial periférica. Muitos dos casos por ele

    analisados se encaixam no contexto de sociedades paternalistas e estados

    patrimonialistas de acordo com os quais o público se confundia comumente

    com o privado. Tudo que não gostaríamos de ver perpetuado. 

    CARDOSO, Fernando Henrique (1967) Des elites: les entrepreneurs

    d Amérique. In: Sociologie du Travail, nº 3.

    CARDOSO, Fernando Henrique (1971) Empresário industrial e

    Desenvolvimento Econômico no Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro ,

    2ª Edição 

    DEAN, Warren (1971) A industrialização de São Paulo (188-1945). São Paulo:

    Difusão Européia do Livro. 

    SILVA, Sérgio (1976) Expansão Cafeeira e Origens da Indústria no Brasil. São

    Paulo Editora Alfa-Omega. 1ª Edição. 

    MARTINS, José de Souza (1974) Empresário e empresa na biografia do Conde

    Matarazzo. Rio de janeiro: Instituto de Ciências. Reeditado pela Hucitec (São

    Paulo).

    . Premiação da Melhor Dissertação e Tese 

    Continua aberto o Edital para premiação da melhor tese de doutoramento e da

    melhor dissertação de mestrado em Geografia do País. As inscrições vão até

    01 de agosto de 2007. Cada programa de Pós-Graduação deverá selecionar e

    encaminhar a ANPEGE uma única tese de doutoramento e uma única

    dissertação de mestrado, defendidas no período de setembro de 2005 a julho

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    de 2007. A Comissão julgadora, instituída pela Coordenação da ANPEGE, é

    inteiramente autônoma para criar regras, critérios e restrições que regularão

    suas escolhas. Os resultados avaliados serão divulgados e as premiações

    conferidas durante a realização do nosso VII Encontro. 

    . Revista da ANPEGE: Chamada de Trabalhos

    Convidamos docentes e discentes dos Programas de Pós-Graduação filiados à

    ANPEGE a enviar textos a serem submetidos ao corpo Editorial da Revista da

    ANPEGE Nº 3/2007 até o prazo de 01 de julho para o site da ANPEGE

    www.anpege.org.br/anpege7Favor enviar cópia digital e uma cópia em papel para o endereço. Nosso intuito

    é dar continuidade à publicação de nossa revista a ser lançada durante o VII

    Encontro Nacional da ANPEGE. 

    A REVISTA DA ANPEGE é um periódico especializado em Geografia de

    publicação anual da ANPEGE Associação Nacional de Pesquisa e Pós-

    Graduação em Geografia do Brasil, aberto a contribuições da comunidade

    geográfica pós-graduada ou em processo de pós-graduação. 

    Os trabalhos submetidos serão encaminhados pela diretoria atual da ANPEGE

    para pelo menos dois revisores (membros do Conselho Editorial), em

    procedimento sigiloso quanto à identidade do(s) autor(es) e revisores. 

    A REVISTA DA ANPEGE publica artigos inéditos que sejam considerados

    fortes, em pelo menos, um dos 4 (quatro) critérios que são: 

    a) enfoque ou problematização inovadora do tema tratado; 

    b) procedimentos metodológicos criativos, consistentes e renovares; 

    c) arcabouço teórico rico e de apropriação consistente;

    d) no caso de revisão teórica ou temática, que seja contribuição nova ao

    campo. 

    http://www.anpege.org.br/anpege7

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    Para serem analisados pelo Conselho Editorial as contribuições científicas

    deverão obedecer aos seguintes critérios: 

    1.  Os textos devem ser inéditos e redigidos em português ou espanhol;  2.  Os artigos devem ser enviados em base digital e uma cópia impressa

    em A4, para o endereço atual da ANPEGE; 

    3.  Os originais devem ser apresentados no seguinte padrão: 

    conter no máximo 30 (trinta) e no mínimo 20 (vinte) laudas com 30 (trinta)

    linhas, incluindo ilustrações (tabelas, quadros, gráficos e figuras); 

    - o texto deve ser editado no editor Word, em espaço 1,5 com margens de 2,5

    cm, configuradas para impressão em papel A4; 

    - texto deve precedido de título, nome de todos os autores por extenso,

    indicando a filiação e endereço eletrônico de cada um; 

    - O título deve vir em negrito e os sub-subtítulos em letras iniciais maiúsculas e

    demais minúsculas em itálico; 

    - as ilustrações, tabelas e gráficos (Excel ou Power Point), vinculados ao Word,

    devem ter fonte Times New Roman e corpo 10 e devem fazer parte do corpo

    do texto. A exemplo do resumo expandido e pelo mesmo motivo, os nomes do

    autor e do co-autor não devem constar de nenhuma parte do trabalho

    completo. Além disso, deve-se observar os seguintes pontos: a) não serão

    aceitas notas de rodapé; b) todas as notas deverão estar incluídas como notas

    de final de texto, antes das referências bibliográficas. 

    - não serão aceitos trabalhos com tamanho de arquivo superior a 2 megabytes,

    assim como trabalhos que requeiram softwares não contidos no Microsoft

    Office para sua completa visualização; - somente serão aceitos trabalhos com redação e ortografia adequadas, pois a

    versão enviada, caso aprovada, será definitiva, não podendo haver alterações

    posteriores.

    - os artigos deverão ter resumo no idioma original e em inglês, de 100 a 200

    palavras. Destacar no mínimo três palavras-chave; 

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    - todas as citações devem constar da lista de referências; 

    - os artigos deverão ser formatados nos termos da ABNT.

    Qualquer dúvida sobre citações, bibliografia, etc. consultar a ABNT (edição

    mais recente).

    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~